organizaÇÃo da informaÇÃo em repositÓrios … · lógica estrutural do texto, ... ranking...

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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO GRAZIELA MARTINS DE MEDEIROS ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM REPOSITÓRIOS DIGITAIS: IMPLICAÇÕES DO AUTO-ARQUIVAMENTO NA REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO Florianópolis 2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CINCIAS DA EDUCAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO

    GRAZIELA MARTINS DE MEDEIROS

    ORGANIZAO DA INFORMAO EM REPOSITRIOS DIGITAIS: IMPLICAES DO AUTO-ARQUIVAMENTO NA

    REPRESENTAO DA INFORMAO

    Florianpolis 2010

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    GRAZIELA MARTINS DE MEDEIROS

    ORGANIZAO DA INFORMAO EM REPOSITRIOS DIGITAIS: IMPLICAES DO AUTO-ARQUIVAMENTO NA REPRESENTAO DA

    INFORMAO

    Dissertao apresentada Banca Examinadora do Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao do Centro de Cincias da Educao da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Informao, rea de concentrao Gesto da Informao, linha de pesquisa Fluxos de Informao.

    Orientadora: Dra. Lgia Maria Arruda Caf.

    Florianpolis

    2010

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    M488o Medeiros, Graziela Martins de, 1985 - Organizao da informao em repositrios digitais :

    implicaes do auto-arquivamento na representao da informao / Graziela Martins de Medeiros. 2010. 273 f.

    Orientadora: Lgia Maria Arruda Caf.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, 2010.

    1. Organizao da informao. 2. Peridico cientfico. 3. Indexao. 4. Resumo. I. Caf, Lgia Maria Arruda. II. Ttulo.

    CDD (22. ed.) 025.4

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    GRAZIELA MARTINS DE MEDEIROS

    ORGANIZAO DA INFORMAO EM REPOSITRIOS DIGITAIS: IMPLICAES DO AUTO-ARQUIVAMENTO NA REPRESENTAO DA

    INFORMAO

    Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao do Centro de Cincias da Educao da Universidade Federal de Santa Catarina em cumprimento a requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Informao.

    APROVADA PELA COMISSO EXAMINADORA

    FLORIANPOLIS, 15 DE OUTUBRO DE 2010

    Profa. Lgia Maria Arruda Caf, Dra.

    Coordenadora do Curso

    Profa. Dra. Nair Yumiko Kobashi PPGCI/USP (Examinadora)

    Profa. Dra. Miriam Vieira da Cunha PPGCIN/UFSC (Examinadora)

    Profa. Dra. Lgia Maria Arruda Caf PPGCIN/UFSC (Orientadora)

    Prof. Dr. Angel Freddy Godoy Vieira PPGCIN/UFSC (Suplente)

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    AGRADECIMENTOS Agradeo a todos que contriburam direta ou indiretamente na realizao dessa dissertao de

    mestrado, em especial:

    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pelo ensino gratuito e de qualidade.

    Fundao de Apoio Pesquisa Cientfica e Tecnolgica do Estado de Santa Catarina

    (FAPESC), pelo financiamento da pesquisa.

    orientadora, profa. Dra. Lgia Maria Arruda Caf, pela dedicao e orientao.

    A todos os professores do Departamento de Cincia da Informao da UFSC.

    Aos familiares e amigos.

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    RESUMO MEDEIROS, G. M. Organizao da informao em repositrios digitais: implicaes do auto-arquivamento na representao da informao. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2010. Esta dissertao trata da organizao da informao em repositrios digitais. O trabalho prope a discusso e avaliao da representao da informao utilizada em peridicos cientficos brasileiros disponibilizados no Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas (SEER), por meio da anlise do contedo preenchido nos metadados por autores de artigos cientficos atravs do processo de auto-arquivamento. O objetivo foi verificar as implicaes do auto-arquivamento na representao da informao. Com o auto-arquivamento, os autores, alm de produzirem seus artigos, o representam para serem publicados em peridicos ou repositrios digitais e recuperados pela comunidade de cientistas de uma rea. Essa representao deve contemplar a noo de sistema de informao e ser elaborada conforme a comunidade cientfica da rea a utiliza. As solues tecnolgicas adotadas reforam a agilidade na disponibilizao da informao, mas no resolvem todos os problemas inerentes representao e recuperao da informao. A pesquisa caracteriza-se como qualitativa, exploratria e documental. Nesta realizou-se uma anlise de peridicos cientficos brasileiros da rea de Cincia da Informao publicados on-line que utilizam a plataforma SEER/OJS, apresentam Qualis B1, B2 e B3 na rea de Cincias Sociais Aplicadas e que possuem cinco anos de existncia on-line. A amostra de artigos composta por artigos publicados no perodo de 1998-2008 que fazem parte dos temas Organizao da Informao, Organizao do Conhecimento, Recuperao da Informao e possuem os metadados resumo e palavras-chave. A anlise de dados se baseia na anlise de contedo de Bardin (1994). A anlise do metadado assunto tem base na Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT) de Cabr (1993), considerando os aspectos de sinonmia e polissemia. A anlise do metadado resumo deu-se com base na metodologia de Kobashi (1994), considerando o aspecto da superestrutura textual. Os resultados da anlise do metadado assunto mostram que os diferentes casos de sinonmia e de polissemia identificados na representao da informao podem resultar em baixa revocao e baixa preciso na recuperao da informao. Os resultados da anlise do metadado resumo mostram que a superestrutura possibilita a no descaracterizao da unidade lgica estrutural do texto, facilitando a identificao dos elementos do resumo na sua elaborao, tornando a recuperao da informao mais eficaz. Conclui que necessria a adoo de alguma forma de padronizao na representao e na recuperao da informao. Palavras-chave: Organizao da informao. Peridico cientfico. Indexao. Resumo.

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    ABSTRACT

    MEDEIROS, G. M. Organizao da informao em repositrios digitais: implicaes do auto-arquivamento na representao da informao. Dissertao (Mestrado em Cincia a Informao) Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2010. This dissertation is about the organization of information in digital repositories. The study proposes to discuss and evaluate the representation of information used in Brazilian scientific journals available in Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas (SEER) by analyzing the contents filled in the metadata by authors of scientific articles through the process of self-archiving. The objective was to verify implications of self-archiving in the representation of information. With self-archiving, apart from producing their articles, the authors represent them to be published in journals or digital repositories and retrieved by the community of scientists from a specific field. This representation should include the notion of information system and be elaborated according to the way scientific community use it. The technological solutions adopted strengthen agility in the delivery of information, but do not solve all the problems inherent in representation and information retrieval. The research is characterized as qualitative, exploratory and documentary. It was made an analysis of Brazilian scientific journals published on-line from the field of Information Science which use the platform SEER/OJS, present Qualis B1, B2 and B3 in the area of Applied Social Sciences and have five years of existence on-line. The sample of articles contains the ones published between 1998-2008 that are part of the themes Information Organization, Knowledge Organization, Information Retrieval and have the abstract metadata and keywords. The data analysis is based on content analysis of Bardin (1994). The analysis of the subject metadata is based on the Communicative Theory of Terminology (TCT) of Cabr (1993), considering the aspects of synonymy and polysemy. The analysis of abstract metadata is given based on the methodology of Kobashi (1994), considering the aspect of textual superstructure. Results of the Analysis show that the different cases of synonymy and polysemy identified in the information representation can result in low recall and low precision in information retrieval. The results analysis of abstract metadata show that the superstructure allows non-distortion of the unit structural logic of the text, facilitating the identification of the elements of the abstract in its elaboration, making information retrieval more effective. It was concluded that it is necessary to adopt some form of standardization of representation and information retrieval. Key-words: Information organization. Scientific jounal. Indexing. Abstract.

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    RESUMEN

    MEDEIROS, G. M. Organizao da informao em repositrios digitais: implicaes do auto-arquivamento na representao da informao. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2010. Esta disertacin trata sobre la organizacin de la informacin en repositorios digitales. El documento propone la discusin y evaluacin de la representacin de la informacin utilizada en Revistas cientficas brasileas disponibles en el Sistema Electrnico de Edicin de Revistas (SEER), mediante el anlisis de los contenidos completados en los metadatos por los autores de artculos cientficos, a travs de un proceso de archivamiento automtico. El objetivo era estudiar las consecuencias del archivamiento automtico en la representacin de la informacin. Con el archivamiento automtico, los autores, adems de producir sus artculos, los representan para ser publicados en revistas o repositorios digitales y recuperados por la comunidad cientfica en un rea determinada. Esa representacin debe contemplar el concepto de sistema de la informacin, y debe estar preparada de acuerdo a la comunidad cientfica correspondiente. Las soluciones tecnolgicas adoptadas refuerzan la agilidad en la entrega de la informacin, pero no resuelven todos los problemas inherentes a la representacin y recuperacin de la informacin. La bsqueda se caracteriza por ser cualitativa, exploratoria, y documental. En esta investigacin, se realiz un anlisis de revistas cientficas brasileas publicadas on-line en el campo de la Ciencia de la Informacin, que utilizan la plataforma SEER/OJS, que presentan Qualis B1, B2 y B3 en el rea de Ciencias Sociales Aplicadas y que tienen cinco aos de existencia on-line. La muestra de artculos contiene los artculos publicados entre 1998-2008, que son parte de los temas Organizacin de la Informacin, Organizacin del Conocimiento, Recuperacin de la Informacin, y que contienen metadatos resumen y palabras clave. El anlisis de datos se basa en el anlisis del contenido de Bardin (1994). El anlisis del metadato asunto se basa en la Teora Comunicativa de la Terminologa (TCT) de Cabr (1993), considerando los aspectos de la sinonimia y la polisemia. El anlisis del metadato resumen es otorgado en base a la metodologa de Kobashi (1994), teniendo en cuenta el aspecto de la superestructura textual. Los resultados del anlisis del metadato asunto muestran que los diferentes casos de sinonimia y polisemia identificados en la representacin de la informacin pueden resultar en baja revocacin y baja precisin en la recuperacin de la informacin. Los resultados del anlisis del metadato resumen indican que la superestructura no permite la des-caracterizacin de la unidad lgica estructural del texto, facilitando la identificacin de los elementos del resumen en su elaboracin, tornando la recuperacin de la informacin ms eficaz. En conclusin, es necesaria la adopcin de algn tipo de normalizacin en la representacin y recuperacin de la informacin. Palabras-claves: Organizacin de la informacin. Revista cientfica. indexacin. Resumen.

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Modelos de comunicao cientfica ........................................................................25 Quadro 2: Princpios da indexao...........................................................................................50 Quadro 3: Fatores que influenciam a indexao ......................................................................51 Quadro 4: Aspectos que diferenciam o resumo da indexao..................................................58 Quadro 5: Instrues de normas de resumo..............................................................................59 Quadro 6: Texto tipo 1: cientfico ............................................................................................62 Quadro 7: Texto tipo 2: argumentativo ....................................................................................63 Quadro 8: Texto tipo 3: expositivo...........................................................................................63 Quadro 9: Equivalncias entre as categorias ............................................................................63 Quadro 10: Metodologia de resumos: texto tipo 1 ...................................................................65 Quadro 11: Metodologia de resumos: texto tipo 2 ...................................................................65 Quadro 12: Metodologia de resumos: texto tipo 3 ...................................................................66 Quadro 13: Peridicos selecionados para a pesquisa ...............................................................83 Quadro 14: Informaes sobre os peridicos selecionados......................................................86 Quadro 15: Representao da anlise da sinonmia para os temas OI, OC, RI......................100 Quadro 16: Representao da anlise da polissemia para os temas OI, OC e RI...................103 Quadro 17: Sinonmia entre termos no singular e plural........................................................111 Quadro 18: Sinonmia entre termos de diferentes idiomas.....................................................112 Quadro 19: Outros casos de sinonmia...................................................................................113 Quadro 20: Polissemia por generalidade................................................................................114 Quadro 21: Polissemia por multiplicidade de sentidos ..........................................................115 Quadro 22: Ranking texto tipo 1 cientfico .......................................................................116 Quadro 23: Ranking texto tipo 2 argumentativo .................................................................117 Quadro 24: Ranking texto tipo 3 expositivo........................................................................117 Quadro 25: Ranking texto cientfico conforme Kobashi (1994) ............................................118 Quadro 26: Ranking texto argumentativo conforme Kobashi (1994) ....................................118 Quadro 27: Ranking texto expositivo conforme Kobashi (1994) ..........................................119

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Nmero de artigos selecionados ...............................................................................92 Tabela 2: Nmero de artigos por edio...................................................................................92 Tabela 3: Idioma dos artigos ....................................................................................................93 Tabela 4: Nmero de termos da amostra de OI ........................................................................93 Tabela 5: Termos mais incidentes da amostra de OI................................................................94 Tabela 6: Nmero de termos da amostra de OC.......................................................................95 Tabela 7: Termos mais incidentes da amostra de OC ..............................................................95 Tabela 8: Nmero de termos da amostra de RI ........................................................................96 Tabela 9: Termos mais incidentes da amostra de RI ................................................................96 Tabela 10: Tipologia dos textos da anlise.............................................................................105 Tabela 11: Tipologia dos resumos da anlise.........................................................................105 Tabela 12: Extenso dos resumos da anlise..........................................................................106 Tabela 13: Anlise resumo de texto cientfico OI ...............................................................107 Tabela 14: Anlise resumo de texto cientfico OC..............................................................107 Tabela 15: Anlise resumo de texto cientfico RI ...............................................................108 Tabela 16: Anlise resumo de texto argumentativo OI .......................................................108 Tabela 17: Anlise resumo de texto argumentativo OC......................................................108 Tabela 18: Anlise resumo de texto argumentativo RI .......................................................109 Tabela 19: Anlise resumo de texto expositivo OI .............................................................109 Tabela 20: Anlise resumo de texto expositivo OC ............................................................110

  • 10

    LISTA FIGURAS

    Figura 1: Estrutura open archives para mltiplas comunidades...............................................32 Figura 2: OC/RC, OI/REP. INF. ..............................................................................................44 Figura 3: Operaes para elaborao de resumos ....................................................................64 Figura 4: Tringulo Semitico..................................................................................................68

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas AD Anlise documentria CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior DC Dublin Core DCMI Dublin Core Metadata Initiative IBICT Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia ISO International Organization for Standardization LD Linguagem Documentria

    OA Open Archives OAI Open Archives Initiative OAI-PMH Open Archives Initiative Protocol of Metadata Harvesting OC Organizao do conhecimento OI Organizao da Informao OJS Open Journal Systems RC Representao do Conhecimento RI Recuperao da Informao SEER Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas SI Sistema de Informao SRI Sistema de Recuperao da Informao TCT Teoria Comunicativa da Terminologia TGT Teoria Geral da Terminologia

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    SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................................................ 13

    1.1 PROBLEMA ................................................................................................................................... 18 1.2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................................ 20 1.3 OBJETIVOS.................................................................................................................................... 21 1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................ 21 1.3.2 Objetivos Especficos.................................................................................................................. 21 1.4 ORGANIZAO DA DISSERTAO......................................................................................... 21

    2 REFERENCIAL TERICO........................................................................................................... 24

    2.1 COMUNICAO CIENTFICA.................................................................................................... 24 2.1.1 Open Archives ............................................................................................................................ 29 2.1.2 Open Archives Initiative............................................................................................................ 30 2.1.3 Auto-arquivamento .................................................................................................................... 32 2.1.4 Open Journal Systems ............................................................................................................... 34 2.2 ORGANIZAO DA INFORMAO ......................................................................................... 36 2.2.1 Ciclo da Informao................................................................................................................... 36 2.2.2 Origens e contexto digital .......................................................................................................... 40 2.2.3 Indexao .................................................................................................................................... 47 2.2.4 Resumos ...................................................................................................................................... 56 2.2.4.1 Metodologia de Elaborao de Resumos .................................................................................. 60 2.3 TERMINOLOGIA .......................................................................................................................... 67 2.3.1 Teoria Geral da Terminologia .................................................................................................. 70 2.3.2 Teoria Comunicativa da Terminologia .................................................................................... 71 2.4 RECUPERAO DA INFORMAO ......................................................................................... 73 2.4.1 Metadados................................................................................................................................... 76 2.4.2 Padro de Metadados Dublin Core .......................................................................................... 78

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS .................................................................................. 81

    3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA .......................................................................................... 81 3.2 CORPUS DA PESQUISA............................................................................................................... 82 3.3 ANLISE DE DADOS ................................................................................................................... 88 3.3.1 Metadado assunto....................................................................................................................... 89 3.3.2 Metadado resumo....................................................................................................................... 90 3.4 LIMITAES DA PESQUISA ...................................................................................................... 91

    4 RESULTADOS DA ANLISE ....................................................................................................... 92

    4.1 ANLISE DO METADADO ASSUNTO ...................................................................................... 93 4.2 ANLISE DO METADADO RESUMO ...................................................................................... 104 4.3 DISCUSSO E IMPLICAES DO AUTO-ARQUIVAMENTO NA REPRESENTAO DA INFORMAO.................................................................................................................................. 110 4.3.1 Implicaes relativas ao metadado assunto ........................................................................... 110 4.3.2 Implicaes relativas ao metadado resumo............................................................................ 116

    5 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................ 120

    REFERNCIAS ................................................................................................................................ 123

    APNDICE A - LISTA DE ARTIGOS DA ANLISE ................................................................. 138

    APNDICE B ANLISE DO METADADO ASSUNTO........................................................... 150

    APNDICE C ANLISE DO METADADO RESUMO ............................................................ 215

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    1 INTRODUO

    A emergncia das tcnicas de informao e comunicao provocou uma verdadeira

    revoluo na histria da humanidade. A evoluo dos meios de transporte, das

    telecomunicaes, tais como o telgrafo e o telefone, alm dos meios de comunicao de

    massa como a televiso e o rdio, para citar alguns, diminuiu largamente as distncias entre os

    seres humanos e facilitou a comunicao e a transmisso de informao.

    A revoluo nas comunicaes tornou-se mais acentuada com o passar da sociedade

    moderna para a ps-moderna. Na primeira, em sentido amplo, tinha-se o foco nas mquinas e

    na produo industrial, alm da nfase na posse da informao e no em sua disseminao e

    uso. J na sociedade ps-moderna, ps-industrial, tambm denominada de sociedade da

    informao ou ainda era da informao, a informao tornou-se crucial para o

    desenvolvimento de diferentes esferas, tais como a poltica, a econmica e a social. O foco

    hoje a informao e sua disseminao, acesso e uso.

    A emergncia tecnolgica uma das principais caractersticas dessa nova sociedade.

    Dentre os instrumentos que contriburam para essa revoluo, destaca-se o computador, que

    possibilitou a digitalizao da informao. Em conseqncia, cita-se a Internet, que

    impulsionou ainda mais a troca de informaes e a diminuio de distncias por meio da

    interconexo entre computadores permitindo a comunicao entre pessoas localizadas em

    qualquer parte do globo.

    A influncia tecnolgica tambm visvel no tratamento, organizao e

    disseminao da informao, que tem sofrido alteraes significativas. Nesse sentido, para

    descrever a repercusso das mudanas contemporneas no campo da Informao, faz-se

    necessrio caracteriz-las. Em funo disso, algumas mutaes da sociedade sero descritas a

    seguir.

    A exploso tecnolgica e a mudana no papel da informao, apresentada como

    fator de desenvolvimento poltico, econmico e social, so caractersticas da sociedade da

    informao. O referido tema vem sendo enfatizado na literatura cientfica, inclusive na rea de

    Cincia da Informao (CI), alm de ser pensado por governos de diferentes pases em todo o

    mundo como estratgia para o desenvolvimento das naes.

    Com base na obra de Mattelart (1999), em que relatada a Histria da Sociedade da

    Informao, pode-se observar que a sociedade sempre esteve dividida em eras. A nfase

    dada pelo autor na era da infomao, que deu origem denominada sociedade da

    informao. De acordo com o autor, a idia de uma sociedade ser regida pela informao

  • 14

    surge com a Matemtica e essencialmente com a Estatstica, j que orginalmente a informao

    era tratada como algo mensurvel, na forma de nmeros.

    Dessa maneira, a evoluo da histria da sociedade da informao e seu

    desenvolvimento ocorre, de incio, paralela histria das disciplinas acima citadas. Em

    funo disso, os clculos, ao longo dos anos, tiveram que se tornar cada vez mais avanados

    para privilegiar, dentre outras coisas, as navegaes martimas e a construo de navios.

    Em relao mensurao da informao, um dos principais marcos o surgimento

    da Ciberntica, uma disciplina cientfica ligada lgica que tem como fundador Gottifried

    Wilhelm Leibniz. Sua obra principal foi publicada por Norbert Wiener e marca a

    manifestao do pensamento por meio de mquina. Leibniz um nome notrio no que

    concerne matematizao da informao, j que pioneiro em estudos sobre a automatizao

    do pensamento (MATTELART, 1999).

    A cincia, ento, era pensada e conduzida em bases matemticas. Destaca-se, nesse

    sentido, que por volta de 1660 surge o clculo das probabilidades com Pascal e Huighens.

    Surgem, um sculo mais tarde, por volta de 1725, as sondagens aleatrias e a idia de

    contagem populacional, principalmente na Inglaterra. A estatstica molda-se como cincia do

    Estado, utilizada para organizar territrios e est relacionada com a racionalidade comercial.

    Assim, observa-se com Mattelart (1999), que a forma de se pensar e organizar territrios era

    sempre direcionada para ser medida. Isso ocorria tanto com territrios, quanto em relao s

    estratgias militares para as novas construes ou criaes.

    Outro aspecto a se observar o surgimento do termo rede. Foi Vauban que

    comeou a pensar em um sistema de ramificaes, no mbito do desenvolvimento militar.

    Em conseqncia, o termo rede comeou a ser utilizado entre os militares a partir do sculo

    XVIII. Entende-se que esse termo e seu significado esto associados unio dos povos que

    esto distantes por meio da comunicao, considerando a existncia de uma exigncia coletiva

    como pressuposto (MATTELART, 1999; MATTELART, A., MATTELART, M., 2003).

    Sob a tica dessa exigncia coletiva, uma das invenes a serem destacadas o

    telgrafo, que servia para comunicao a grandes distncias. Alm desse instrumento, surgem,

    de forma gradativa, novos meios de comunicao, tais como o telgrafo tico e a

    radioteleviso. Comea-se ento a pensar em redes de comunicao. Em decorrncia disso,

    a idia de descentralizao do poder passa a tomar fora, inicialmente pensada em relao

    democracia e posteriormete s prprias redes (MATTELART, 1999).

    Assim, ao longo da histria, diminuem as distncias geogrficas e surgem as noes

    de espao fsico e espao prtico. Esse ltimo uma espcie de espao relativo, pois se

  • 15

    compararmos a distncia entre uma cidade e outra, no ser a mesma hoje em funo do

    desenvolvimento da evoluo dos transportes. Conforme afirma Lvy (2003, p. 188) cada

    dispositivo de transporte e de comunicao modifica o espao prtico, isto , as proximidades

    efetivas.

    A globalizao, que na esfera econmica tem suas origens no processo de

    industrializao, pode ser considerada um conceito essencial para que entendamos as

    mutaes histricas na sociedade (SANTOS, 2004). Com Saint-Simon, segundo Mattelart

    (1999), comea-se a tratar a sociedade como uma grande indstria e h mudanas nas formas

    de administrao/gesto que comeam a ser mais voltadas para o pensamento e no mais

    para as coisas. a mudana da sociedade feudal e teolgica para a industrial e cientfica,

    que tem como pano de fundo a filosofia do positivismo.

    Dessa maneira, a era global, sociedade global, ou ainda sociedade da informao,

    como chama Mattelart (1999), surge na sociedade ps-moderna em decorrncia das

    tecnologias e das mquinas inteligentes da Segunda Guerra Mundial. Uma das estratgias

    centrais para se pensar em uma sociedade regida pela informao foi o uso da inteligncia no

    sistema de armas, alm da criao de um reservatrio de idias, fundado pela fora area

    americana. Nesse reservatrio, especialistas de diferentes reas do conhecimento, como das

    cincias sociais, matemticos, engenheiros e economistas, partilhavam conhecimento.

    Todas essas denominaes que possam ser dadas a essa sociedade remetem para um

    mesmo fundamento: os recursos do conhecimento vo controlando, transformando e

    substituindo, em ritmo crescente, todos os demais recursos, sejam materiais ou energticos.

    Em sua recproca converso, matria e energia vo sendo progressiva e aceleradamente

    substitudas pelos poderes do conhecimento (CARNEIRO LEO, 2003).

    Takahashi (2000, p. 5) assevera que a sociedade da informao no um modismo.

    Esta representa uma profunda mudana na organizao da sociedade e da economia, havendo

    quem a considere um novo paradigma tcnico-econmico. Nesse sentido, na dcada de 70 do

    sculo XX, esse novo paradigma tecnolgico, organizado com base na tecnologia da

    informao, veio a surgir, principalmente nos Estados Unidos. Foi um segmento especfico da

    sociedade norte-americana que, em interao com a economia global e a geopoltica mundial,

    concretizou o novo estilo de produo, comunicao, gerenciamento e vida (CASTELLS,

    1999).

    Foi, ento, a partir dessa dcada que ocorreu um crescimento em papel e em

    importncia dos produtos e servios de informao e dos mercados para a informao, e,

    consequentemente, de modelos de usurios. A dcada de 80 foi propcia emergncia de

  • 16

    novos temas e abordagens sociolgicas e antropolgicas; j na dcada de 90, intensifica-se a

    relao entre informao e conhecimento. Um dos fatos mais importantes a criao do

    Programa Sociedade da Informao no Brasil, no sculo XX (CASTELLS, 1999;

    GONZLEZ DE GMEZ, 2003).

    Miranda (2003) afirma que o cenrio em que a sociedade da informao opera

    apresenta trs tendncias inter-relacionadas: integrao vertical; globalizao do mercado da

    produo intelectual; e privatizao, caracterizada pela predominncia de interesses privados.

    Os dois primeiros tpicos referem-se globalizao dos mercados, desde corporaes

    internacionais at empresas locais, marcados por esse crescente carter internacional das

    relaes mercantis. J o terceiro refere-se privatizao em detrimento do interesse pblico.

    Em relao ao que se apresentou acima, Takahashi (2000, p. 3) enftico ao afirmar

    que

    a sociedade da informao um fenmeno global, com elevado potencial transformador das atividades sociais e econmicas, uma vez que a estrutura e a dinmica dessas atividades inevitavelmente sero, em alguma medida, afetadas pela infra-estrutura de informaes disponvel.

    Miranda (2003) sintetiza que a idia de uma sociedade da informao ou do

    conhecimento um conceito antigo e constantemente renovado no desenvolvimento da

    humanidade. Essa corrida em busca do conhecimento e da informao ocorre desde o tempo

    em que se buscava fazer a smula dos conhecimentos na coleo da Biblioteca de Alexandria,

    passando pelos mentores do Renascimento e pela criao de universidades no fim da Idade

    Mdia, continuando nos ideais democratizantes e racionalistas dos Enciclopedistas at a

    chegada da Internet e da Web.

    Com base nos autores supracitados, pode-se afirmar que o cerne do desenvolvimento

    e concepo da sociedade da informao, alm da prpria informao, so as tecnologias, que

    subsidiam o desenvolvimento intelectual humano e permitem uma grande revoluo nas

    comunicaes. Sob essa tica, e em meio revoluo da tecnologia e ao surgimento de

    diversas tcnicas, destacam-se o computador e a Internet.

    A Internet surgiu como um importante recurso inovador e como um dos principais

    mecanismos utilizados para possibilitar tal revoluo. Entretanto, o grande salto tecnolgico

    deu-se a partir dos anos de 1990 com a utilizao da grande rede mundial, a World Wide Web

    (CASTELLS, 1999).

    Em virtude dessa revoluo, das novas tecnologias e, sobretudo, da Internet, reas

    ligadas informao sofreram modificaes, dentre as quais se destaca a rea de Cincia da

  • 17

    Informao. Com a digitalizao da informao e o surgimento de novas tecnologias, meios e

    suportes para a informao, foi preciso desenvolver novas formas de trat-la, organiz-la e,

    principalmente, dissemin-la.

    Com esse advento, vrios recursos informacionais e de comunicao, bem como a

    prpria comunicao cientfica e seus canais de disseminao sofreram modificaes. Oliveira

    e Noronha (2005, p. 1) complementam que a comunicao cientfica, como parte inerente do

    desenvolvimento da cincia, tambm foi afetada por essas transformaes, principalmente

    atravs da Internet e de sua interface grfica, a Web.

    Com a comunicao cientfica em meio eletrnico comea-se a utilizar os peridicos

    cientficos eletrnicos ou on-line, como tambm citado na literatura. Alm disso, criou-se

    um ambiente propcio para que se desenvolvessem as iniciativas de Arquivos Abertos (Open

    archives) e o Movimento de Acesso Livre Informao Cientfica. Esse movimento contou

    com vrios manifestos, dentre eles o Manifesto Brasileiro que representado pelo Instituto

    Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia (IBICT) (TARGINO, 1999; BIOJONE,

    2003; SARMENTO E SOUZA, VIDOTTI, FORESTI, 2004; FACHIN, HILLEISHEIM,

    2006; KURAMOTO, 2006 a).

    Em sntese, pode-se afirmar que a Open Archives Initiative (OAI) uma iniciativa

    para se disponibilizar o contedo de publicaes cientficas na Web, de forma on-line e

    gratuita. A grande preocupao, desde o incio, foi diminuir os custos das publicaes

    impressas e manter a qualidade exigida pela comunidade cientfica. Um dos acordos dessa

    iniciativa a utilizao do Open archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting, o

    protocolo OAI-PMH (WEITZEL, 2005).

    Dessa maneira, a edio e editorao dos peridicos cientficos tambm se

    modificam. Com a utilizao da plataforma Open Journal System (OJS) no Brasil, que foi

    adaptada e denominada Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas (SEER), pelo IBICT,

    todo o fluxo do processo editorial, desde o envio do artigo, passando pela avaliao pelos

    pares (peer review) at o momento da publicao, ocorre de forma on-line e sistematizada.

    Alm disso, no mbito dos open archives surge um novo conceito de publicao que

    trouxe mudanas na organizao e na recuperao da informao. A mudana mais marcante

    foi o auto-arquivamento, que permite a submisso de um artigo pelo autor com a

    representao do documento por meio do preenchimento de metadados.

    Esse procedimento exige conhecimento sobre o artigo e sobre mtodos e tcnicas de

    organizao da informao, tendo em vista que a representao efetuada servir de base para a

  • 18

    recuperao do artigo. Neste sentido, essa novidade trouxe benefcios como a rpida

    divulgao do conhecimento cientfico. Por outro lado, trouxe alguns problemas.

    Essa dissertao prope a discusso e a avaliao da organizao da informao

    utilizada em peridicos cientficos brasileiros disponibilizados no SEER, por meio da anlise

    do contedo preenchido nos metadados por autores de artigos cientficos atravs do processo

    de auto-arquivamento. A pesquisa proposta de carter qualitativo por meio de amostra de

    artigos da rea de Cincia da Informao. A seguir so apresentados o problema, a

    justificativa e os objetivos para a realizao da pesquisa.

    1.1 PROBLEMA

    Nos arquivos abertos, com a utilizao do auto-arquivamento, os autores no apenas

    produzem seus artigos, como sempre ocorreu no sistema de publicaes, mas o representam

    para serem publicados em peridicos ou em repositrios digitais e posteriormente recuperados

    por usurios desses sistemas, no caso o SEER1.

    Ressalta-se que no se pode desconsiderar as vantagens advindas do auto-

    arquivamento, que permite ampla divulgao do conhecimento cientfico de uma dada rea do

    conhecimento, conferindo maior visibilidade para os trabalhos de autores e rpida

    disseminao do conhecimento cientfico. Porm, apesar desse contexto mais amplo dos

    arquivos abertos, dos benefcios inegveis da OAI e do acesso livre para a comunicao

    cientfica, h alguns fatores a serem observados.

    Por um lado, o auto-arquivamento traz vantagens para a informao cientfica e

    tecnolgica, tendo em vista que permite maior rapidez na publicao e sua recuperao, alm

    de ser mais econmico, j que o acesso livre. Por outro lado, a agilidade atribuda ao auto-

    arquivamento pode no garantir necessariamente a qualidade da representao efetuada nos

    campos de metadados pelos autores, no momento da submisso de seus artigos.

    Neste sentido, a qualidade do contedo dos metadados pode repercutir na

    recuperao da informao, j que a representao realizada pelos autores deve contemplar a

    noo de sistema de informao (SI) e de fluxo da informao. Ou seja, um SI, no mbito da

    CI, deve ser alimentado visando recuperao da informao por uma comunidade cientfica

    1 O SEER caracterizado como um sistema de editorao de peridicos cientficos inserido no sistema de arquivos abertos, que resulta em um repositrio digital.

  • 19

    de uma rea de estudos. Dessa maneira, a informao deve ser representada conforme a

    comunidade da rea a utiliza, com a terminologia prpria dessa rea.

    O fato que a representao realizada pelo autor em um artigo cientfico servir de

    base fundamental para que autores de toda a comunidade cientfica de uma rea de estudo

    recuperem esse documento, e no apenas o autor que o representou. Alm disso, assim como

    as informaes no SI, o conhecimento cientfico, registrado em um artigo de peridico,

    objetiva ser comunicado. Nesse sentido, a representao feita pelo autor servir para a

    comunidade cientfica de uma rea de estudos recuperar a informao e isso favorece a

    comunicao cientfica que inicia com a produo (artigo), passando pela disseminao,

    recuperao e uso. Sendo assim, essa representao deve contemplar a noo de SI e ser

    representada como a comunidade cientfica da rea a conhece ou utiliza, observando aspectos

    da ambiguidade lingustica, caso existam.

    Alm disso, no que tange representao de artigos pelo autor, as solues

    tecnolgicas adotadas, dentre as quais se destaca a utilizao do padro de metadados Dublin

    Core no OJS, e conseqentemente no SEER, reforam a agilidade na disponibilizao do

    sistema de informao, mas no resolvem todos os problemas inerentes representao e

    recuperao da informao. O contedo atribudo nesses metadados, a terminologia adotada

    pelos autores e a semntica so fundamentais para o sucesso de um sistema de informao e

    no dependem apenas da forma e da estrutura do sistema.

    Assim, observa-se que o sistema de arquivos abertos representado por meio do SEER

    possui a padronizao do formato dos metadados, porm, no h padronizao do seu

    contedo, ou seja, padronizao semntica. Isso pode interferir num dos principais objetivos

    da padronizao de metadados e da adoo de protocolos em sistemas digitais, que a

    interoperabilidade semntica. Fundamentando-se em Caf (2006), afirma-se que a

    interoperabilidade semntica alcanada pelo uso de instrumentos documentrios que

    auxiliam na descrio do contedo e na demanda informacional dos usurios.

    No auto-arquivamento, o autor preenche os metadados, um dos recursos mais

    utlizados para a organizao de bibliotecas digitais, mas pode no conhecer as tcnicas

    documentrias de tratamento da informao. Assim, partiu-se do pressuposto que o auto-

    arquivamento em sistemas abertos de informao cientfica poder interferir negativamente na

    qualidade da representao temtica e na recuperao da informao.

    Com base nessa perspectiva que se levantam alguns questionamentos. A natureza

    aberta do sistema e o auto-arquivamento comprometem a consistncia dos dados na

    representao e na recuperao da informao? Os autores contemplam na descrio dos

  • 20

    metadados a noo de sistema de informao? Quais as implicaes do auto-arquivamento em

    peridicos cientficos disponibilizados no SEER para a organizao, representao e

    recuperao da informao?

    1.2 JUSTIFICATIVA

    A importncia da pesquisa decorre, em mbito geral, das mudanas presenciadas na

    sociedade atual, em virtude da expanso das tecnologias de informao, da Internet e das

    mutaes ocorridas no sistema de comunicao cientfica. Neste sentido, uma das principais

    justificativas para a realizao da investigao proposta nesta dissertao o fato de a

    representao de artigos cientficos, efetuada por autores em metadados por meio do auto-

    arquivamento, no caso o SEER, ocorrer de forma livre, despadronizada e sem considerar as

    noes de fluxo da informao, de sistema de informao e de prticas documentrias.

    importante ressaltar que o fluxo da informao cientfica se inicia com a gerao

    do conhecimento (escrita do artigo cientfico) e se encerra com a disseminao e a utilizao

    da informao cientfica, que servir de base para a criao de novos conhecimentos. Nesse

    sentido, a recuperao de documentos teis para o desenvolvimento de novas pesquisas

    essencial e depende, dentre outras coisas, da representao realizada pelos autores por meio

    do auto-arquivamento.

    Dessa maneira, a informao cientfica passvel de tratamento e organizao

    adequados para que no interfira negativamente em sua recuperao, sob o ponto de vista da

    organizao da informao. Complementa-se que a estrutura da informao em cincia e

    tecnologia tambm essencial para a realizao de estudos bibliomtricos que permitem

    analisar a produo cientfica em reas de estudo. Nesse sentido, a dissertao prope-se a

    analisar a representao da informao em metadados DC, no cenrio especificado, alm de

    contribuir para a reflexo da comunidade cientfica acerca de um novo aspecto no mbito dos

    peridicos cientficos, o auto-arquivamento, ainda pouco enfatizado na literatura da rea.

    Para tanto, a pesquisa ir expor a situao atual da representao dos peridicos

    cientficos da rea de Cincia da Informao do SEER. Alm disso, a investigao mostrar

    as implicaes do auto-arquivamento na representao da informao. Assim, a anlise

    proposta e a sistematizao dos resultados permitiro compor recomendaes para a

    representao e a recuperao da informao de peridicos cientficos do SEER, sob o ponto

    de vista do auto-arquivamento, sobretudo para peridicos cientficos, tidos como um dos

    principais canais de divulgao do conhecimento cientfico. Dessa maneira, baseando-se na

  • 21

    rea de Cincia da Informao, possveis contribuies para a comunidade cientfica nacional

    podero ser feitas no sentido de incentivar a reflexo sobre melhorias no sistema OJS, a

    exemplo do SEER.

    1.3 OBJETIVOS

    Face ao problema apresentado e considerando a importncia dos metadados atribudos

    por autores de artigos cientficos por meio do auto-arquivamento para a recuperao da

    informao, delineou-se o objetivo geral e os objetivos especficos da pesquisa, descritos a

    seguir.

    1.3.1 Objetivo Geral

    Verificar as implicaes do auto-arquivamento na organizao e representao da

    informao em peridicos cientficos disponibilizados em Open Journal Systems por meio da

    anlise do contedo dos metadados de artigos cientficos da rea de Cincia da Informao.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    a) analisar o contedo das palavras-chave utilizadas no metadado assunto, em artigos

    cientficos da rea de Cincia da Informao com base na Teoria Comunicativa da

    Terminologia (TCT), observando os aspectos de sinonmia e polissemia;

    b) verificar na literatura da rea as sinonmias e as polissemias identificadas na anlise dos

    artigos;

    c) analisar o contedo do metadado resumo, com base na metodologia proposta por

    Kobashi (1994);

    d) dissertar, com base na anlise realizada, acerca das implicaes do auto-arquivamento na

    organizao e representao da informao em peridicos cientficos no SEER.

    1.4 ORGANIZAO DA DISSERTAO

    A descrio da organizao da dissertao tem como objetivo introduzir as sees e

    subsees que sero apresentadas, destacando as principais questes abordadas e a relao

    entre elas. De modo geral, a dissertao composta por referencial terico com quatro

  • 22

    subsees, seguido dos procedimentos metodolgicos, resultados e discusso, condideraes

    finais e apndices.

    O captulo sobre o referencial terico traz em sua primeira seo (2.1) aspectos sobre

    repositrios digitais, que se referem aos repositrios de perididicos cientficos. Sendo

    assim, so abordadas noes sobre a comunicao cientfica e peridicos cientficos,

    destacando suas caractersticas e a mudana do sistema tradicional para o atual sistema

    (2.1.1). Essas mudanas foram protagonizadas pelo movimento acesso livre, os arquivos

    abertos (OA) e a iniciativa de arquivos abertos (OAI), tratados nas subcesses 2.1.2, 2.1.3 e

    2.1.4, respectivamente. O auto-arquivamento, um dos princpios essenciais dos OA, e os

    softwares OJS e SEER so tratados nas sees 2.1.5 e 2.1.6.

    A segunda seo do referencial aborda a organizao da informao (OI) (2.2),

    apresentando sua definio, funes e objetivos. O texto mostra mudanas ocorridas com o

    fluxo da informao (2.2.1) e relaciona a OI no formato tradicional com o digital, destacando

    as principais modificaes (2.2.2). Em seguinda, a seo subdividida em duas subsees,

    que dizem respeito aos principais processos da OI: Indexao (2.2.3) e Resumos (2.2.4). A

    primeira trata da indexao com nfase no surgimento, definio e propriedades. J a segunda

    apresenta a definio de resumos e sua funo nos sistemas de recuperao da informao,

    alm das tcnicas e prticas para sua elaborao.

    Na sequncia, trata-se da Terminologia (2.3), apresentando-se duas subsees:

    Teoria Geral da Terminologia (TGT) (2.3.1) e Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT)

    (2.3.2). As referidas subsees foram desenvolvidas para mostrar as diferenas entre as teorias

    e justificar a escolha da TCT, alm de definir e mostrar as funes de cada uma.

    A prxima seo abordada trata da Recuperao da Informao (2.4), tendo em vista

    que um dos principais objetivos da organizao da informao a recuperao da mesma. So

    apresentadas duas subsees que abordam questes sobre metadados (2.4.1) e padro de

    metadados Dublin Core (2.4.2).

    Aps o referencial terico, apresentam-se os procedimentos metodolgicos (3) que

    foram utilizados para o desenvolvimento da pesquisa, descrevendo-se a caracterizao da

    pesquisa (3.1), o corpus da pesquisa (3.2), a anlise de dados (3.3) e as limitaes da pesquisa

    (3.4).

    Com base nos procedimentos metodolgicos, analisou-se os dados do corpus da

    pesquisa e elaborou-se os resultados, conforme a seo 4 entitulada Resultados da anlise.

    Esta seo est estruturada em: anlise do metadado assunto (4.1) e anlise do metadado

  • 23

    resumo (4.2). Aps a anlise dos metadados, o tpico 4.3 sintetiza os resultados encontrados e

    disserta acerca das implicaes do auto-arquivamento na representao da informao.

    Por fim, apresentam-se as consideraes finais da pesquisa (5), com as

    recomendaes e sugestes para trabalhos futuros, seguidas das referncias e apndices.

  • 24

    2 REFERENCIAL TERICO

    Nesta seo, apresenta-se o referencial terico que subsidiar a realizao da

    pesquisa. A seo est subdividida em quatro subsees, a saber: repositrios digitais,

    organizao da informao, terminologia e recuperao da informao. Na primeira, disserta-

    se sobre comunicao cientfica, peridicos cientficos, acesso livre e arquivos abertos. Na

    segunda, trata-se da organizao da informaco com definio e funes e de seus processos

    de indexao e resumos. Na terceira, aborda-se as definies de lngua, lingstica, lngua

    natural, lngua de especialidade, terminologia e teorias terminolgicas. A ltima seo trata da

    recuperao da informao, metadados e padro de metadados Dublin Core.

    2.1 COMUNICAO CIENTFICA

    Considerando-se que essa pesquisa trata da organizao da informao no mbito dos

    peridicos cientficos, natural que se resgate a origem e evoluo destes peridicos, cujo

    desenvolvimento, potencializado pelo avano tecnolgico, culminou na utilizao do auto-

    arquivamento, aspecto aqui investigado. Mas para chegar ao estgio atual de

    desenvolvimento, um longo caminho foi percorrido, que ser abreviado neste trabalho e

    servir de embasamento terico para a argumentao proposta e, logo, para o entendimento

    dos tpicos subsequentes. De incio, importante situar o peridico cientfico em seu

    contexto mais amplo, caracterizando-o como integrante de um sistema, denominado

    comunicao cientfica.

    A comunicao cientfica remonta antiguidade. Esse processo teve incio com o uso

    das correspondncias pessoais e posteriormente das atas ou memrias, consideradas os

    primeiros meios utilizados para a divulgao dos experimentos cientficos. Esses meios eram

    utilizados pelos participantes dos colgios invisveis os quais serviram de base para a criao

    das sociedades e academias cientficas (STUMPF, 1996).

    Para Weisman (1972, p. 23 apud WEITZEL 2006, p. 83) o sistema de informao

    cientfica sempre existiu, at mesmo antes de Arquimedes. Logo, talvez seja correto afirmar

    que a comunicao cientfica remonta ao perodo da antiguidade, quando os filsofos

    estabeleciam amplos debates sobre suas idias na chamada Academia.

    Ao dissertar acerca das origens da comunicao cientfica, Weitzel (2006, p. 89) destaca trs

    perodos que influenciaram esse processo: gerao, disseminao e uso. Para representar o

  • 25

    estudo dos modelos de comunicao cientfica por perodo, a autora props um quadro

    reproduzido a seguir.

    Processo Perodo Autores Gerao Sculo XVII/XX Bacon, Boyle, Oldemburg,

    Merton Disseminao Sculo XX Bernal, Garvey Uso Sculo XX/XXI GInsparg, Harnard

    Quadro 1: Modelos de comunicao cientfica Fonte: Weitzel (2006, p. 89)

    Com base no quadro 1, observa-se que o processo de gerao ocorreu entre os

    sculos XVII e XX, o da disseminao no sculo XX e do uso nos sculos XX e XXI. Por

    meio de uma anlise mais aprofundada, percebe-se que esse modelo sofreu modificaes, j

    que o momento atual de transio do modelo da disseminao para o uso, tendo em vista a

    passagem do modelo de comunicao cientfica tradicional para o atual, caracterizado pelos

    open archives e movimento de acesso livre informao cientfica, sendo, portanto, focados

    no acesso e uso.

    Desde os primrdios, o principal objetivo desse processo era a comunicao do

    conhecimento, que hoje ocorre com a divulgao dos resultados de pesquisas. Acerca disso,

    Meadows (1999, p. 7) afirma que a comunicao situa-se no prprio corao da cincia.

    para ela to vital quanto a prpria pesquisa, pois a esta no cabe reivindicar com legitimidade

    este nome enquanto no houver sido analisada e aceita pelos pares. Isto exige,

    necessariamente que seja comunicada.

    O cumprimento da principal caracterstica da comunicao cientfica, a disseminao

    do conhecimento para uma comunidade cientfica, se d por meio de algum mecanismo de

    disseminao. Assim, esse processo est diretamente integrado com a pesquisa cientfica.

    Ningum pode afirmar quando se comeou a fazer pesquisa cientfica e, por conseguinte,

    quando, pela primeira vez, houve comunicao cientfica. A resposta a essa pergunta depende

    principalmente da definio do que seja pesquisa (MEADOWS, 1999, p. 3).

    Em publicao recente, Ferreira (2008, p. 114), alinhada com os modelos de

    comunicao cientfica apresentados por Weitzel (2006, p. 83), afirma que

    a preocupao com a disseminao dos resultados de pesquisas tem um apelo fundamental tanto para a cincia como para o cientista. Para a cincia, garante maior visibilidade, possibilidade e uso de aplicaes, impacto e, consequentemente, o progresso da pesquisa e a melhoria social da humanidade, entre outras vantagens. Para os cientistas, significa, alm da visibilidade de sua produo e da consequente maximizao dos resultados,

  • 26

    chance do aumento de subveno para os prximos trabalhos de pesquisa, reconhecimento entre os pares, ampliao de sua rede social e, decerto, satisfao e motivao pessoal.

    Weitzel (2006) elenca alguns fatores que favorecem a expanso e a acumulao do

    conhecimento e que certamente marcaram a histria da comunicao cientfica: a laicizao

    do conhecimento com o fim do monoplio do saber controlado pela igreja catlica bem como

    o domnio da tecnologia da imprensa e do papel; o desenvolvimento do mtodo cientfico e

    das descobertas cientficas; o surgimento das sociedades cientficas, notadamente a Royal

    Society (1662) e a Acadmie Royale des Sciences (1666), como instituies organizadoras do

    saber; o surgimento da primeira revista cientfica, Philosophical Transactions (1665).

    Conforme o exposto, a comunicao cientfica alimentada pela publicao, acesso e

    uso do conhecimento cientfico e tem como principal veculo de comunicao os peridicos

    cientficos, que desde seu surgimento, em 1665, foram precursores do modelo atual de

    comunicao cientfica.

    Nessa perspectiva, impossvel tratar da comunicao cientfica sem enfatizar o seu

    principal veculo, o peridico cientfico. Embora o livro ainda se constitua em importante

    elemento de algumas reas das cincias sociais e humanas, a revista cientfica tornou-se o

    principal marco da constituio da estrutura da comunicao cientfica, pois surgiu da

    necessidade de trocas de experincias cientficas dos tempos modernos (WEITZEL, 2006, p.

    84).

    fato, entretanto, que a evoluo da comunicao cientifica ocorre paralelamente

    evoluo dos peridicos. A despeito disso acrescenta-se que [...] a consolidao da revista

    cientfica ao longo desses ltimos quatro sculos foi acompanhada pela institucionalizao da

    cincia, pela especializao dos saberes e pela autonomizao do campo cientfico

    (WEITZEL, 2006, p. 84).

    No entanto, para se tratar de comunicao cientfica e para que se compreenda o seu

    estado atual, resgata-se o que abordado acerca disso. Desde seu surgimento, a comunicao

    cientfica passa por transformaes, influenciadas pela sociedade a qual est inserida e pela

    evoluo tecnolgica. A respeito disso, Mueller (2006) destaca que a comunidade cientfica,

    por ser um dos grupos sociais que compem a sociedade contempornea, est sujeita s foras

    presentes nessa sociedade, sendo subordinada aos interesses das instituies de pesquisa,

    incluindo universidades, que detm o prestgio e disponibilizam financiamento de acordo com

    interesses nacionais, polticos e econmicos, indo ao encontro, inclusive, de interesses

    pessoais dos prprios pesquisadores.

  • 27

    Neste sentido, o sistema tradicional de comunicao cientfica, entendido como

    aquele existente antes da insero do meio eletrnico nesse processo, possui hierarquias entre

    os autores, os veculos (peridicos, livros, anais de congressos, etc.), os peridicos que tm os

    ttulos mais prestigiosos (os peridicos que esto no topo tem como avaliadores e editores os

    pesquisadores que mais se destacam em cada rea) e entre as editoras (graus de prestgio

    diferentes) (MUELLER, 2006).

    Neste sentido, o Estado faz parte do processo de comunicao cientfica, desde a

    formao do cientista iniciante, sua formao em nveis mais altos, passando pela divulgao

    do trabalho em publicaes e congressos at a insero do trabalho em bibliotecas, ou seja, a

    aquisio feita por estas instituies recai novamente ao Estado. Alm disso, ao abordar o

    papel das editoras, Mueller (2006) destaca que essas instituies continuam buscando lucro

    com os sistemas de publicao. Para as editoras vale o retorno financeiro, para os autores o

    que importa so recuperao e reconhecimento.

    Dessa maneira, o sistema tradicional de publicaes cientficas apresenta algumas

    questes a serem observadas. Kuramoto (2006a) afirma que os pesquisadores tendem a

    publicar em revistas indexadas nos ndices de citao, a exemplo do Science Citation Index

    (SCI). Os autores que publicam nessas revistas passam a ter mais reconhecimento pelas

    instituies de ensino e pesquisa. As agncias de fomento, por sua vez, valorizam mais os

    autores que publicam nessas revistas, tendo em vista que a pontuao que apresentam mais

    elevada. Por outro lado, os editores, ao perceberem a valorizao, promovem alta nos preos

    das assinaturas. Assim, as bibliotecas de todo o mundo e os prprios pesquisadores encontram

    dificuldades na manuteno de sua coleo de peridicos e tm menos acesso a esse insumo

    para o desenvolvimento de suas pesquisas.

    Na situao apresentada, referente ao contexto tradicional da comunicao cientfica,

    o fator predominante so os altos custos das assinaturas dos peridicos cientficos, fato que

    levou crise dos peridicos verificada na dcada de 90. Para explicar essa situao, Kuramoto

    (2006a), citando King e Tenopir (1998), confirma serem os altos custos que promovem lucros

    menores aos editores e custos maiores aos autores, indivduos, bibliotecas e usurios.

    Salientando-se que o dinheiro do Estado pblico e, portanto, pago pela populao,

    esses fatores, e principalmente os altos custos, geram uma situao paradoxal, pois o Estado

    paga para utilizar aquilo que ele mesmo pagou para ser produzido, por meio do financiamento

    da pesquisa. Para piorar a situao, o autor, muitas vezes, paga para ver seus trabalhos

    publicados.

  • 28

    Percebe-se, com base no exposto, que os maiores beneficirios, no modelo

    tradicional, so os editores de revistas cientficas, suportadas pelos pesquisadores e pelo

    Estado, que mantm as assinaturas dessas revistas e exige que seus pesquisadores tenham a

    notoriedade por publicar em trabalhos nelas.

    Caf e Lage (2002) comparam a comunicao impressa com a eletrnica (tradicional

    versus on-line). As autoras confirmam as dificuldades encontradas ainda hoje no sistema de

    publicaes, devido a fatores econmicos ou problemas de distribuio. Prevalecem os

    interesses das editoras comerciais e os custos elevados so barreiras para pesquisadores,

    bibliotecas, instituies de ensino e pesquisa.

    Em funo das dificuldades apresentadas na comunicao cientfica e considerando

    que o acesso e disseminao do conhecimento cientfico fundamental para o

    desenvolvimento da cincia, esses fatores tiveram infuncia nas mudanas do sistema

    tradicional de comunicao cientfica.

    A crise dos peridicos teve grande influncia nas transformaes desse sistema. Para

    Mueller (2006), a crise ocorreu em meados da dcada de 80, mas j se anunciava desde a

    dcada de 70. O gatilho da crise foi o fato de as bibliotecas universitrias nos Estados Unidos

    no conseguirem manter as assinaturas com as editoras e responder demanda dos usurios,

    fazendo com que esta crise afetasse as universidades norte-americanas. Com isto, buscaram-se

    novas alternativas que ganharam espao nas disciplinas acadmicas na dcada de 80 e incio

    da dcada de 90.

    A partir da dcada de 90, surgem as publicaes eletrnicas e a esperana de uma

    mudana radical no sistema tradicional. Alm disso, a publicao local passa a ter mais

    visibilidade e penetrao internacional. Duas iniciativas devem ser destacadas neste contexto:

    a Iniciativa dos Arquivos Abertos, que concretizou essas possibilidades que hoje esto

    inseridas em contextos de debates mais amplos levantando bandeiras para acesso pblico e

    gratuito, e o Movimento de Acesso livre, em que instituies como a American Researsh

    Libraries (ARL), Open Society e Max Planck Society lideram a militncia do acesso pblico e

    gratuito (MUELLER, 2006; WEITZEL, 2006).

    Conforme complementa Ferreira (2008), diante do panorama do modelo tradicional

    de revistas cientficas, que impunha limites ao acesso e divulgao do conhecimento,

    cientistas do mundo inteiro se preocuparam em incrementar a visibilidade e a acessibilidade

    da produo cientfica e maximizar o progresso em C&T.

  • 29

    2.1.1 Open Archives

    diante das questes apresentadas na seo anterior, acerca do modelo tradicional de

    informao cientfica, que surgem algumas aes [...] com o intuito de incentivar o acesso e

    a divulgao dos trabalhos produzidos. A comunidade cientfica vem tentando retomar o

    controle de suas publicaes, criando mecanismos para possibilitar o acesso livre e gratuito

    (CAF, LAGE, 2002, p. 4).

    O movimento de acesso livre informao cientfica baseia-se no princpio de que

    todos os resultados de pesquisa financiados com dinheiro pblico devem ser de livre acesso.

    Kuaramoto (2006a, p. 93) salienta que esse movimento vem ganhando adeptos em todo o

    mundo, por meio de declaraes e manifestos como o de Bethesda, de Budapeste, de Berlim e

    o manifesto brasileiro, lanado pelo Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e

    Tecnologia (IBICT).

    Com o manifesto brasileiro, o IBICT inicia o desenho de uma poltica nacional de

    acesso livre informao cientfica. Essa poltica cria um conjunto de ferramentas para

    promover o registro e a disseminao da produo cientfica brasileira. O objetivo foi

    implantar a referida poltica por meio da promoo e da construo de repositrios

    institucionais e temticos e de repositrios para publicaes peridicas eletrnicas

    (KURAMOTO, 2006a).

    A publicao em acesso livre obedece a duas condies: a) autores e detentores de

    direitos autorais concedem aos usurios o acesso livre; b) uma verso integral do trabalho

    deve ser disponibilizada aps a publicao em repositrios (KURAMOTO, 2006a).

    O movimento de acesso livre se d por meio do modelo de arquivos abertos, do

    ingls Open archives (OA). O modelo adotado prev padres com vistas a proporcionar a

    interoperabilidade entre repositrios digitais (KURAMOTO, 2006a). Assim, o movimento de

    acesso livre ganha consistncia diante do desenvolvimento dos OA.

    O modelo de OA originou-se das experincias do Laboratrio Nacional de Los

    Alamos nos EUA, o qual, na dcada de 90, desenvolveu e implantou um repositrio digital

    chamado arXiv. Esse repositrio foi criado em funo do grande aumento de custos editoriais

    e porque os resultados nem sempre eram publicados no tempo devido, atrasando as

    publicaes (KURAMOTO, 2006a).

    Para Triska e Caf (2001, p. 92), a iniciativa do IBICT para a implantao dos

    arquivos abertos contou com as seguintes motivaes: ampliar a visibilidade nacional e

  • 30

    internacional da produo intelectual brasileira em C&T; melhorar o fluxo de comunicao

    cientfica e tecnolgica; e incrementar o ciclo de gerao de novos conhecimentos.

    2.1.2 Open Archives Initiative

    A iniciativa de arquivos abertos, ou Open Archives Initiative (OAI), teve incio

    quando Paul Ginspard, Rick Luce e Herbert Van de Sompel fizeram uma chamada para

    participao em uma reunio para explorar a cooperao entre arquivos de e-prints. Essa

    iniciativa props aspectos tcnicos e organizacionais de uma estrutura para publicao

    cientfica, na qual as camadas livres e comerciais podem ser estabelecidas. Isso foi possvel

    devido aos ideais e conceitos estabelecidos pela OAI e sintetizados como uso do software

    livre, tambm chamado open source, auto-arquivamento, criao de repositrios de livre

    acesso, tanto institucionais quanto temticos, e uso de padres de preservao de objetos

    digitais (KURAMOTO, 2005, p. 148).

    Weitzel (2006) busca diferenciar OAI e Movimento de Acesso Livre. Nesse sentido,

    ela explica que a OAI uma iniciativa que surgiu com a conveno de Santa F, em 1999. O

    Movimento de Acesso Livre, por sua vez, surgiu com a conveno de Budapest, em 2001.

    Para a autora, possvel que a OAI tenha contribudo para a organizao do Movimento de

    Acesso Livre. Mas, apesar de serem dois movimentos distintos, ambos desejam o acesso livre,

    e por isso esto inseridos no modelo OA de comunicao cientfica.

    As origens da OAI residem no crescente interesse em propor alternativas para o

    paradigma da tradicional publicao cientfica. Inmeros fatores motivaram essa mudana,

    dentre eles o aumento do nmero de disciplinas acadmicas, principalmente aquelas

    conhecidas como cincias duras (ex.: Fsica, Cincias da Computao, Cincia da Vida),

    que tem produzido resultados em um ritmo cada vez mais rpido (LAGOZE, VAN DE

    SOMPEL, 2001).

    A meta da OAI contribuir de forma concentrada para a transformao da

    comunicao cientfica. Alm disso, ela buscou definir os aspetos tcnicos e de suporte

    organizacional de uma estrutura de publicaes cientficas aberta, de modo que a camada

    comercial e a livre pudessem se estabelecer (KURAMOTO, 2006a).

    O nome Open Archives Initiative reflete a origem da OAI na comunidade de e-prints,

    na qual o termo Archive geralmente aceito como sinnimo de repositrio ou artigos

    cientficos. A OAI usa esse termo em um sentido mais amplo, como um repositrio para

    armazenar informao. J o termo Open utilizado na perspectiva da arquitetura, no sentido

  • 31

    de definir e promover interfaces de mquina para promover a disponibilidade de contedos

    (LAGOZE, VAN DE SOMPEL, 2001).

    Em outubro de 1999, um encontro foi realizado em Santa F com o intuito de discutir

    os mecanismos a serem utilizados para incentivar o desenvolvimento de solues para os

    repositrios de e-prints. O to conhecido repositrio de Fsica executado por Paul Ginsparg,

    no Laboratrio Nacional de Los Alamos, tem mudado radicalmente o paradigma da

    publicao nessa respectiva rea. Esforos similares foram planejados, ou j esto em curso,

    com a promessa de estender essas mudanas para outros domnios (LAGOZE, VAN DE

    SOMPEL, 2001).

    As especificaes tcnicas e os princpios administrativos necessrios para a

    interoperabilidade entre repositrios definidos pela conveno foram os seguintes: mecanismo

    de submisso, sistema de armazenamento a longo prazo, poltica de gesto e interface aberta.

    Essa ltima configura-se como elemento essencial para fornecer servios com valor agregado

    (KURAMOTO, 2006a).

    Alm disso, a OAI estabeleceu o Open Archives Initiative Protocol for Metadata

    Harvesting (OAI-PMH), um protocolo de comunicao que possibilita a coleta de metadado a

    partir de determinados provedores de dados. O provedor de servios deve utilizar o programa

    Harvester (mecanismo de colheita), que dialoga com a programao desse provedor que ir

    expor metadados para colheita (KURAMOTO, 2006a).

    Esse protocolo, junto com um padro de metadados, gera alto nvel de

    interoperabilidade entre os repositrios. Os metadados tambm so apresentados em um

    padro. Normalmente utilizado o Dublin Core (DC). Porm, a OAI permite adotar outros

    padres de metadados (KURAMOTO, 2006a).

    Para Ferreira (2008, p. 114), os movimentos de OA e OAI

    [...] perpetuam os trs princpios clssicos referendados pela comunidade cientfica: a) o princpio da disseminao, referente visibilidade dos resultados de modo que possam ser colocados em uso pela comunidade cientfica; b) o princpio da fidedignidade, alusivo reviso pelos pares com o intuito de conferir validade e qualidade ao contedo; c) princpio da acessibilidade, concernente organizao, permanncia e acesso ao contedo cientfico pela comunidade cientfica.

    O foco original nos e-prints foi ampliado para abranger provedores de contedos em

    muitos domnios (com nfase sobre o que poderia ser classificado como publicao

    acadmica). Uma refinada e extensiva estrutura tcnica tem sido desenvolvida e uma estrutura

    organizacional para apoiar a iniciativa OAI tem sido estabelecida (LAGOZE, VAN DE

    SOMPEL, 2001).

  • 32

    Conforme afirmado pelos autores, a OAI teve incio com os repositrios de e-prints,

    mas se expandiu para outras comunidades. De acordo com Lagoze e Van de Sompel (2001),

    logo depois da disseminao da Conveno de Santa F, em fevereiro de 2000, tornou-se

    claro que havia interesse em estender a OAI para outras comunidades, que estavam intrigadas

    com a barreira da baixa interoperabilidade e visualizaram a coleta de metadados como um

    meio para esse fim. A figura 1 representa essa expanso.

    Figura 1: Estrutura open archives para mltiplas comunidades Fonte: Lagoze, Van de Sompel (2001)

    Como se pode observar na figura 1, os autores desenvolveram uma espcie de

    guarda-chuva como uma metfora para mostrar a expanso dos e-prints para outras

    comunidades. Ou seja, a idia inicial era criar repositrios de e-prints e iniciou-se com o

    primeiro repositrio, o de Fsica (Arxiv, de Paul Ginsparg). No entanto, surgiu a necessidade

    de ampliar a iniciativa para outras comunidades, como a dos bibliotecrios de referncia e das

    editoras. Essa expanso inter-comunidades impulsionou a ampliao tambm para outros

    tipos de canais de comunicao, como os peridicos cientficos, que so caracterizados como

    publicao primria e tambm aderiram ao movimento.

    Nessa perspectiva, essa expanso atingiu tambm um dos princpios fundamentais da

    OA, o auto-arquivamento, que teve incio com os e-prints e se expandiu para os peridicos

    cientficos.

    2.1.3 Auto-arquivamento

    A filosofia da comunidade OAI envolve vrios princpios e conceitos, dentre os quais

    o auto-arquivamento um dos principais. Como definio, conforme o site Eprints.org

  • 33

    (2008), o auto-arquivamento, do Ingls Self-archive, o depsito de um documento digital em

    um website de acesso pblico, preferencialmente um repositrio de e-print que esteja em

    conformidade com o modelo OAI. O depsito envolve uma simples interface Web em que o

    depositrio reproduz pastas nos metadados contendo informaes como data, nome do

    autor, ttulo, nome do peridico, etc., e, em seguida, a verso completa do documento.

    O propsito do auto-arquivamento tornar o texto completo da revista cientfica

    revisada por pares visvel, acessvel, pesquisvel e utilizvel por qualquer potencial utilizador

    com acesso Internet. O objetivo maximizar o acesso pblico aos resultados de pesquisa

    on-line e aumentar a visibilidade, uso e impacto da pesquisa cientfica (E-PRINTS.ORG,

    2008).

    O auto-arquivamento utilizado em repositrios de acesso aberto tanto de e-prints

    quanto de peridicos cientficos. No segundo caso, os autores de artigos cientficos remetem

    seus artigos por repositrios, os descrevem em metadados padronizados e os submetem,

    assim, reviso de pares. Em relao a isso, Caf e Lage (2002, p. 6) afirmam que o auto-

    arquivamento no restringe o ato de depositar um documento exclusivamente ao autor do

    texto eletrnico, mas admite igualmente a submisso por terceiros, desde que autorizada pelo

    autor.

    Uma das grandes preocupaes dos cientistas no que se refere ao auto-arquivamento

    consiste na qualidade dos trabalhos submetidos ao repositrio. importante salientar que a

    reviso pelos pares continua a ocupar seu papel essencial no controle do material publicado

    (CAF, LAGE, 2002, p. 7). Em relao a essa questo, na comunicao cientfica no mbito

    dos peridicos, somente o que foi revisado pelos pares pode ser considerado como publicao,

    j que a qualidade desta ser mantida. Quando no h avaliao, a publicao no pode ser

    considerada oficial (formal), j que em repositrios tem-se observado o uso de diferentes tipos

    de material.

    Conforme mencionado por Caf e Lage (2002), o auto-arquivamento no significa o

    depsito de trabalhos que no sejam certificados por pares. O auto-arquivamento pode

    significar o depsito de pr-prints ou de ps-prints. Nesse sentido, podem ser inseridos

    peridicos cientficos.

    Com a OAI e o auto-arquivamento, vrios pacotes de software foram desenvolvidos,

    dentre os quais se destaca o SEER, do Brasil, originado do OJS, que ser estudado na

    pesquisa aqui proposta.

  • 34

    2.1.4 Open Journal Systems

    O Open Journal Systems (OJS) (http://pkp.sfu.ca/ojs) foi desenvolvido pela Bristish

    Columbia University (Canad), com o Public Knowledge Project (PKP) e utilizado por

    peridicos do mundo todo. No Brasil, esse software foi traduzido e customizado pelo IBICT e

    foi denominado de Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas (SEER). O software foi

    desenvolvido para a construo e gesto de publicaes peridicas eletrnicas alm de

    contemplar aes essenciais automao das atividades de editorao de peridicos

    cientficos (VAN DE SOMPEL, LAGOZE, 2000; IBICT, 2008).

    A meta central do OJS, de acordo com o site do IBICT, prestar assistncia aos

    editores cientficos em cada uma das etapas do processo de editorao, desde a avaliao

    pelos consultores at a publicao on-line e indexao. Alm disso, o software apresenta

    inmeras vantagens para o gerenciamento de peridicos eletrnicos e a divulgao de artigos,

    j que permite autonomia na tomada de decises sobre o fluxo editorial, a publicao e o

    acesso por parte do editor.

    O diferencial do sistema OJS em relao a outros sistemas de auto-arquivamento

    que ele oferece suporte a todo o fluxo de trabalho do processo editorial em peridicos digitais.

    o editor quem define as etapas do processo editorial, seguindo a poltica definida pela

    revista. No que se refere ao autor, o OJS possibilita espao para a comunicao com o editor e

    tambm permite o acompanhamento da avaliao e editorao do seu trabalho. O SEER o

    nico software brasileiro de editorao eletrnica que possui o protocolo OAI para

    intercmbio de dados (metadados) e mecanismos para a preservao de seu contedo

    juntamente com o projeto de preservao digital Lots of Copies Keep Safe (LOCKSS):

    .

    Dentre as vantagens apresentadas pela plataforma SEER, possvel mencionar a sua

    disponibilizao na comunidade de editores de publicaes eletrnicas, subsidiando a

    melhoria do padro editorial de peridicos nacionais e incrementando o fator de impacto da

    produo cientfica nacional (MRDERO ARELLANO, FERREIRA, CAREGNATO, 2005).

    Alm disso, esta plataforma permite a integrao de vrias revistas com o mesmo padro de

    interface, o que facilita a busca e localizao das informaes. Isso ocorre em virtude da

    interface padronizada facilitar o aprendizado do usurio quanto ao uso dos recursos do

    sistema e submisso de seus trabalhos, alm de permitir a interao do leitor com outras

    revistas.

  • 35

    Ressalta-se que o SEER diferencia os usurios por roles (papis): administrador,

    editor gerente da revista, editor, editor de sesso, avaliador, autor e leitor do peridico. Essas

    diferentes funes determinam os nveis de acesso que os diversos tipos de usurios tm ao

    sistema. Por exemplo, o autor, uma vez cadastrado, pode enviar originais, preencher os

    metadados, acompanhar a situao da sua submisso, contatar com o editor, entre outros.

    Destaca-se que para o role autor, no momento da submisso de originais, deve-se

    preencher as seguintes categorias2: 1- incio, 2- incluso de metadados, 3- transferncia do

    manuscrito, 4- transferncia de documentos suplementares, 5- confirmao. Na segunda

    categoria, incluso de metadados, so inseridos os metadados que esto no formato Dublin

    Core.

    Os campos para preenchimento de metadados esto divididos em quatro categorias3:

    Autores (dados cadastrais), Ttulo e Resumo, Indexao e Agncias de fomento. Em Ttulo e

    resumo, existe um campo para preenchimento do ttulo em idioma original, ttulo em ingls

    ou em espanhol, e resumo (em dois idiomas). Na categoria Indexao, pode existir um

    campo para cada um destes itens: rea e sub-rea do conhecimento acadmico, palavras-

    chave, cobertura cronolgica ou histrica, caractersticas da amostra da pesquisa, tipo, mtodo

    ou ponto de vista e idioma. Dentre os campos citados, so obrigatrios: prenome, sobrenome,

    e-mail dos autores e ttulo.

    J para os leitores ou usurios do peridico, permite-se apenas navegao no site,

    consulta e pesquisa nas edies publicadas. Nos artigos cientficos aparecem os campos:

    ttulo, autor, resumo e palavras-chave. No processo de recuperao da informao so

    disponibilizadas a interface de busca simples e a interface de busca avanada. Na primeira,

    esto disponveis: autor, ttulo, resumo, termos indexados, texto completo (busca em todos os

    campos de metadados). Na busca avanada4, os seguintes campos so disponibilizados:

    categorias de pesquisa (autor, ttulo, texto completo, documentos suplementares); datas

    (perodo de publicao do artigo); e termos indexados (rea do conhecimento, assunto, tipo,

    cobertura).

    2 Essas categorias so adotadas no SEER e esto presentes em todos os peridicos que sero analisados na pesquisa proposta, conforme seo Procedimentos Metodolgicos. 3 As categorias dos metadados descritas nessa pesquisa correspondem a todas as opes possveis no sistema SEER. Cada peridico pode adotar ou no esses campos conforme seu escopo, objetivos e interesses. 4 As categorias da busca avanada variam conforme os campos que foram adotados pelo peridico na etapa incluso de metadados.

  • 36

    2.2 ORGANIZAO DA INFORMAO

    Conforme visto, a comunicao cientfica e seus principais canais de disseminao

    sofreram modificaes influenciadas pelos avanos tecnolgicos e por problemas observados

    no modelo tradicional de comunicao cientfica. Essas transformaes repercutiram na

    organizao da informao (OI) e na rea de Cincia da Informao (CI), que tambm foi

    atingida por essas mudanas. Neste sentido, considerando-se o contexto da sociedade da

    informao, conforme dissertado anteriormente (Introduo), faz-se necessrio destacar as

    mudanas ocorridas no papel da informao e de que forma isso interfere na OI.

    2.2.1 Ciclo da Informao

    O novo papel da informao repercutiu em toda a sociedade e na rea de Cincia da

    Informao, cujo objeto de estudo a informao. Para Gonzlez de Gmez (1995), que trata

    sobre as aes de informao, a sociedade moderna, tambm denominada sociedade do

    conhecimento, caracterizou-se por ser grande produtora e usuria de informaes, podendo

    ser caracterizada como aquela que produz e consome meta-informao, ou seja, informao

    acerca das informaes.

    Com as mudanas da sociedade e o novo papel atribudo informao, aliada

    exploso tecnolgica que se segue segunda Guerra Mundial, a nfase no est mais nos

    estoques de informao e sim no fluxo desta. Barreto (2000) afirma que os estoques de

    informao representam um conjunto de itens de informao organizados (ou no) segundo

    um critrio tcnico estabelecido de acordo com os instrumentos de gesto da informao e

    com contedo que seja de interesse de uma comunidade de receptores.

    Na citao acima est refletida uma das principais contribuies da Cincia da

    Informao frente s novas mudanas. Em relao a isso, Gonzlez de Gmez (1995, p. 1)

    afirma que:

    a Cincia da Informao surge aps a constituio e expanso de um novo campo de interesses e investimento social ao qual pertence essa dobra que diferencia as informaes do que seja a informao sobre as informaes e que tambm levou a considerar o conhecimento, a comunicao, os sistemas e usos da linguagem como objetos de pesquisa cientfica e tecnolgica. No recorte que lhe particular, se o conhecimento focalizado desde a comunicao, a comunicao do conhecimento colocada no contexto da ao, das prticas sociais.

  • 37

    No entanto, a transmisso da informao como se concebe hoje, no bojo da

    revoluo tecnolgica e comunicacional, reflexo de uma cincia pensada em bases

    matemticas e estatsticas, conforme mencionado anteriormente. Sendo assim, para tratar das

    mudanas advindas da sociedade da informao, faz-se necessrio abordar as mudanas no

    fluxo da informao e no modelo da Teoria da Informao ou Teoria Matemtica da

    Comunicao, como tambm denominada.

    Para que se entenda essa teoria e suas contribuies para o que hoje se compreende

    como informao, preciso diferenciar informao de conhecimento. Entretanto, encontrar

    um conceito de informao realmente difcil. Em princpio, informao designa tanto o

    processo de comunicar fatos, notcias, quanto o que se comunica (FERNNDEZ-MOLINA,

    1994). Com base na citao do autor, entende-se que a dificuldade de elaborar um conceito

    para esta palavra se deve s diferentes reas e disciplinas em que a informao est presente.

    Quanto informao, pode-se afirmar que algo que necessitamos quando nos

    deparamos com uma escolha. Qualquer que seja seu contedo, a quantidade de informao

    necessria depende da complexidade da escolha (MCGARRY, 1999). Burke (2003, p.19), ao

    dissertar sobre informao e conhecimento, afirma que essa diferena uma questo clssica

    no que concerne cincia. Para o autor, o conhecimento utilizado [...] para denotar o que

    foi cozido, processado, ou sistematizado pelo pensamento.

    Fogl (1979) tambm busca diferenciar informao de conhecimento. Para o autor, a

    informao existe por meio de um suporte fsico. O conhecimento, por sua vez, o contedo

    da informao. Esta, segundo o autor, compreende uma unidade de trs elementos:

    (1) conhecimento (contedo da informao);

    (2) linguagem (um instrumento de expresso de itens de informao);

    (3) suporte (objetos materiais ou energia).

    Robredo (2003) enfatiza que a converso da informao em conhecimento um ato

    individual, que independe da tecnologia e requer o conhecimento prvio dos cdigos de

    representao dos dados e dos conceitos transmitidos num processo de comunicao ou

    gravados num suporte material. Alm disso, no h consenso sobre onde termina a

    informao e comea o conhecimento. Cada indivduo organiza o mundo de um modo

    diferente, o que torna muito difcil organizar o conhecimento pblico em estruturas aceitveis

    para todos.

    Em sntese, a Teoria da Informao, originada da Ciberntica, surgiu em 1948 com

    Claude Elwood Shannon, que prope um esquema de sistema geral de comunicao. O

    objetivo deste esquema permitir a comunicao entre emissor (codificador) e receptor

  • 38

    (decodificador), para que a mensagem possa ser entregue ao destinatrio. Essa teoria,

    idealizada por Norbert Wiener, possui carter linear. Em funo disso, a informao passa a

    ser um processo estocstico, j que o emissor escolhe a mensagem que ser recebida por um

    receptor. Alm disso, por ser linear, esta teoria considera apenas os aspectos objetivos da

    informao, sem se preocupar com os aspectos humanos, semnticos ou pragmticos dos

    processos de informao (MATTELART, A., MATTELART, M., 1999).

    No entanto, Le Coadic (2004), ao apresentar a modelizao social da informao,

    afirma que a mesma substitui a modelizao da comunicao de massa que caracterizada

    pelos componentes informador e informado. Alm disso, ela substitui o modelo linear

    proposto pela teoria de Shannon. O modelo social a que o autor se refere composto por trs

    processos: construo, comunicao e uso da informao.

    Essa modelizao construda na forma de um ciclo, chamado de ciclo da

    informao. Dessa maneira, para que se faa o processo de uso da informao necessrio

    que se conhea as necessidades de informao do indivduo que a utilizar. Alm disso,

    necessrio que a informao seja comunicada em uma linguagem comum, para que possa ser

    utilizada.

    Assim, com base na Teoria citada por Le Coadic (2004) possvel fazer uma

    analogia entre as mutaes na forma de tratar a informao e a comunicao contempornea

    em virtude da transformao do meio impresso para o eletrnico ou on-line. Barreto (1998)

    afirm