ordem para privatizar

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O agregador da advocacia 14 Julho de 2011 www.advocatus.pt O PSD já declarou ter intenções de privatizar a RTP e parece querer avançar com um programa alargado de privatizações, por forma a permitir a arrecadação durante a próxima legislatura (2011-2015) de um valor estimado de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB) “o acordo político entre PSD e CDS-PP resolve apenas uma parte do problema. outro dos grandes desafios com que o novo governo se irá defrontar é o curtíssimo prazo (até ao final de 2011) para a privatização das três primeiras empresas (tAP, eDP e Ren)” “outra fonte de preocupações para o novo governo será saber como lidar com os elevados passivos e pesadas estruturas de custos das empresas a privatizar. tornar a empresa atractiva para privatização significa possibilitar ao adquirente reestruturar a empresa” Alberto galhardo Simões Sócio da Miranda Correia Amendoeira & Associados. Licenciou-se em 1990 pela Universidade Católica de Lisboa. Em 1998, e por cinco anos, integrou o departamento jurídico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington Ordem para privatizar Agora é que já não há volta a dar. O sector empresarial do Estado Português vai ter de encolher, e de forma drástica e acelerada. A par de muitas outras medidas previstas no vulgarmente conhe- cido “Memorando da Troika” (Me- morando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica), um dos reflexos des- ta decisão será a necessidade de executar um programa de priva- tizações que irá abranger um nú- mero considerável de empresas de grande dimensão. Parece ser certo que as empresas que têm a sua privatização agen- dada até 2013 serão abrangidas por esta nova vaga, aqui se incluin- do a Aeroportos de Portugal, TAP, CP Carga, Galp, EDP, REN, Cor- reios de Portugal, Caixa Seguros e ainda outras classificadas como de menor dimensão. De entre es- tas, foram assumidos ainda os compromissos de que a TAP, EDP e REN estarão totalmente privatiza- das até ao final de 2011 (desde que as condições de mercado assim o permitam) e de que duas outras grandes empresas seriam identifi- cadas pelo governo para privatiza- ção até ao final de 2012. Muito menos certo é saber se a RTP também será privatizada e, no caso da REN, qual o modelo a implementar. Neste âmbito, os dois partidos que sustentam o novo go- verno têm posições diferentes. Por um lado, o PSD já declarou ter in- tenções de privatizar a RTP e pare- ce querer avançar com um progra- ma alargado de privatizações, por forma a permitir a arrecadação du- rante a próxima legislatura (2011- 2015) de um valor estimado de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Por outro, o CDS-PP tam- bém apoia o programa acelerado de privatizações, mas manifestou sérias reservas à privatização da RTP por razões de interesse na- cional e alertou para os riscos as- sociados à situação de monopólio natural da REN e ao interesse em manter a separação entre a infraes- trutura (REN) e a distribuição (EDP). Independentemente das dúvidas ainda existentes à data da elabo- ração deste artigo, é expectável a adopção de uma posição conjunta relativamente a este tema. Mas o acordo político entre PSD e CDS-PP resolve apenas uma parte do problema. Outro dos grandes desafios com que o novo gover - no se irá defrontar é o curtíssimo prazo (até ao final de 2011) para a privatização das três primeiras empresas (TAP, EDP e REN). Neste âmbito, a já antiga Lei-Quadro das Privatizações é convenientemente incipiente e dá grande margem de manobra ao governo na condução do processo de privatização, o que é manifestamente útil no momen- to actual, em que se pretende agir com celeridade. Contudo, também peca por uma ausência de contro- lo ou de fiscalização na condução destes processos. Outra fonte de preocupações para o novo governo será saber como lidar com os elevados passivos e pesadas estruturas de custos das empresas a privatizar. Tornar a em- presa atractiva para privatização significa possibilitar ao adquirente reestruturar a empresa, nomeada- mente alterando processos de tra- balho e cortando custos, com os inerentes riscos associados a uma quase inevitável contestação social que isso implicará. Mesmo saben- do-se que será sempre necessário encontrar um equilíbrio entre os interesses económicos e financei- ros e as preocupações sociais, o certo é que o momento actual não parece ser dos mais favoráveis ao segundo termo da equação. Seja como for, adivinha-se um iní- cio de funções muito animado para o governo e todos aqueles que, directa ou indirectamente, pos- sam estar associados à execução do programa de privatizações, os quais terão que trabalhar de forma acelerada para poder cumprir com os compromissos assumidos com a troika. Na linha da frente estará certamen- te a prestação de serviços jurídi- cos. Numa época de quase total paralisia económica, com uma redução drástica da actividade no que respeita a grandes transac- ções, a execução acelerada do programa de privatizações não pode também deixar de ser olhada como uma grande oportunidade para estimular o apático mercado português da assessoria jurídica na área da fusões e aquisições. Privatizações

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Ordem para privatizar

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O agregador da advocacia14 Julho de 2011

www.advocatus.pt

O PSD já declarou ter intenções de privatizar a RTP e parece querer avançar com um programa alargado de privatizações, por forma a permitir a arrecadação durante a próxima legislatura (2011-2015) de um valor estimado de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB)

“o acordo político entre PSD e CDS-PP resolve apenas uma parte do problema. outro dos

grandes desafios com que o novo governo se irá defrontar é o

curtíssimo prazo (até ao final de 2011) para

a privatização das três primeiras empresas (tAP, eDP e Ren)”

“outra fonte de preocupações para o novo governo será

saber como lidar com os elevados passivos e pesadas estruturas de custos das empresas

a privatizar. tornar a empresa atractiva

para privatização significa possibilitar

ao adquirente reestruturar a empresa”

Alberto galhardo Simões

Sócio da Miranda Correia Amendoeira & Associados. Licenciou-se em 1990

pela Universidade Católica de Lisboa. Em 1998, e por cinco anos, integrou

o departamento jurídico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

em Washington

Ordem para privatizar

Agora é que já não há volta a dar. O sector empresarial do Estado Português vai ter de encolher, e de forma drástica e acelerada. A par de muitas outras medidas previstas no vulgarmente conhe-cido “Memorando da Troika” (Me-morando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica), um dos reflexos des-ta decisão será a necessidade de executar um programa de priva-tizações que irá abranger um nú-mero considerável de empresas de grande dimensão. Parece ser certo que as empresas que têm a sua privatização agen-dada até 2013 serão abrangidas por esta nova vaga, aqui se incluin-do a Aeroportos de Portugal, TAP, CP Carga, Galp, EDP, REN, Cor-reios de Portugal, Caixa Seguros e ainda outras classificadas como de menor dimensão. De entre es-tas, foram assumidos ainda os compromissos de que a TAP, EDP e REN estarão totalmente privatiza-das até ao final de 2011 (desde que as condições de mercado assim o permitam) e de que duas outras grandes empresas seriam identifi-cadas pelo governo para privatiza-ção até ao final de 2012. Muito menos certo é saber se a RTP também será privatizada e, no caso da REN, qual o modelo a implementar. Neste âmbito, os dois partidos que sustentam o novo go-verno têm posições diferentes. Por um lado, o PSD já declarou ter in-tenções de privatizar a RTP e pare-ce querer avançar com um progra-ma alargado de privatizações, por forma a permitir a arrecadação du-rante a próxima legislatura (2011-2015) de um valor estimado de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Por outro, o CDS-PP tam-

bém apoia o programa acelerado de privatizações, mas manifestou sérias reservas à privatização da RTP por razões de interesse na-cional e alertou para os riscos as-sociados à situação de monopólio natural da REN e ao interesse em manter a separação entre a infraes-trutura (REN) e a distribuição (EDP). Independentemente das dúvidas ainda existentes à data da elabo-ração deste artigo, é expectável a adopção de uma posição conjunta relativamente a este tema. Mas o acordo político entre PSD e CDS-PP resolve apenas uma parte do problema. Outro dos grandes desafios com que o novo gover-no se irá defrontar é o curtíssimo prazo (até ao final de 2011) para a privatização das três primeiras empresas (TAP, EDP e REN). Neste âmbito, a já antiga Lei-Quadro das Privatizações é convenientemente incipiente e dá grande margem de manobra ao governo na condução do processo de privatização, o que é manifestamente útil no momen-to actual, em que se pretende agir com celeridade. Contudo, também peca por uma ausência de contro-lo ou de fiscalização na condução destes processos. Outra fonte de preocupações para o novo governo será saber como lidar com os elevados passivos e pesadas estruturas de custos das empresas a privatizar. Tornar a em-presa atractiva para privatização significa possibilitar ao adquirente reestruturar a empresa, nomeada-mente alterando processos de tra-balho e cortando custos, com os inerentes riscos associados a uma quase inevitável contestação social que isso implicará. Mesmo saben-do-se que será sempre necessário encontrar um equilíbrio entre os

interesses económicos e financei-ros e as preocupações sociais, o certo é que o momento actual não parece ser dos mais favoráveis ao segundo termo da equação. Seja como for, adivinha-se um iní-cio de funções muito animado para o governo e todos aqueles que, directa ou indirectamente, pos-sam estar associados à execução do programa de privatizações, os quais terão que trabalhar de forma acelerada para poder cumprir com os compromissos assumidos com a troika. Na linha da frente estará certamen-te a prestação de serviços jurídi-cos. Numa época de quase total paralisia económica, com uma redução drástica da actividade no que respeita a grandes transac-ções, a execução acelerada do programa de privatizações não pode também deixar de ser olhada como uma grande oportunidade para estimular o apático mercado português da assessoria jurídica na área da fusões e aquisições.

Privatizações