oratÓria ao alcance de todos - perse.com.br€¦ · É comum ouvir relatos sobre ansiedades ou...
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ORATÓRIA AO
ALCANCE DE
TODOS
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“O líder não deve ir muito adiante dos seus
liderados, sob pena de levar um tiro pelas costas”.
Joseph S. Clark
“Devemos descobrir para onde as pessoas
querem ir e depois dar um jeito de nos colocarmos na
frente da multidão”.
James S. Kilpatrick
“A mente humana é como pára-quedas:
funciona melhor quando está aberta”.
Cole
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Altair Savoldi
1.ª Edição
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2012
1.ª edição
Impresso no Brasil
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
É proibida a reprodução total ou parcial,
por qualquer meio ou forma.
Impressão:
PerSe
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Apresentação
Esta publicação é destinada a todas as pessoas que se
interessam pela arte de falar em público ou que necessitam de
orientação em função de suas atividades. Muitas pessoas são tomadas
de verdadeiro pavor e até entram em pânico quando chamadas a se
manifestarem perante uma plateia.
Encaixam-se aí dirigentes de entidades, políticos, líderes
comunitários, empresários, profissionais liberais, estudantes de
direito, e estes, que no futuro irão enfrentar os tribunais e qualquer
erro poderá ser fatal para suas carreiras. Enfim, não escapa ninguém.
Desde que não estejam preparados.
Não sabem o que fazer, por onde começar e o que mais
atrapalha neste momento são as mãos. Não encontram “lugar” para
colocá-las...
Poderíamos divagar pela história, relembrando nomes
que se destacaram pela eloqüência verbal. Da Grécia antiga e de
Roma, então, poderíamos escrever muitas páginas citando nomes e
seus feitos na arte de falar em público. De lá, saíram grandes oradores
que ditaram rumos para tantos outros. Mas, sem dúvida, para melhor
entendermos o contexto, é preciso conhecer um pouco de História. E
este livro vai oportunizar essa viagem através do tempo.
No Brasil, Rui Barbosa, apesar de franzino, marcou
época com sua capacidade de usar a palavra com sabedoria e poder de
convencimento, que deixava a todos extasiados. Quando os senadores
Jarbas Passarinho (CE) e Paulo Brossard (RS) subiam na tribuna para
discursar, todos paravam para escutá-los, tal a beleza e consistência de
seus discursos.
Não queremos que os leitores cheguem a tanto, mas
pelo menos que aproveitem o máximo, de forma que, ao utilizarem o
dom da palavra que Deus nos deu, que o façam com sabedoria,
errando o mínimo possível. A persistência, no entanto, poderá
transformá-los em grandes oradores. É só tentar.
O autor.
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1 A COMUNICAÇÃO VERBAL
De todos os meios de comunicação – o escrito, o
verbal, a fotografia ou uma combinação de fotografias e
escritos – quem sabe nenhum seja mais eficaz como o
verbal.
Segundo Bordenave, comunicação é o ato pelas
quais as pessoas se relacionam transformando-se
mutuamente a realidade que os rodeia.
Para haver comunicação, deve haver um emissor
que é quem envia a mensagem e um receptor, que é quem
recebe. O receptor é o alvo, é ele quem decifra.
Está provado em inúmeras ocasiões que um
discurso devidamente preparado e apresentado pode
transmitir idéias e mudar atitudes como nenhum outro
meio de comunicação.
Todos sabem que a comunicação é importante,
sempre foi e sempre será. É através da comunicação
verbal que mantemos um número maior de contatos
diários: palestras, cursos, reuniões, recados, bate-papo,
ordens, contraordens, etc. Os ambientes também são
diversos: profissionalmente, em família e/ou entre amigos.
Muitas pessoas são peritas em seus ramos de
trabalho, algumas possuem especializações, como
mestrado ou doutorado, mas quando necessitam expor
seus conhecimentos, agem com tanta timidez e
insegurança, que o público ouvinte fica literalmente
decepcionado.
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Muitos pensam que o falar é fácil, muitos dizem
que é só abrirmos a boca e "soltarmos o verbo", mas não é
bem assim.
Para alguns até pode ser mais fácil falar em
público, mas para a grande maioria não é. Muitos se
comunicam razoavelmente bem entre um e dois
companheiros, mas quando é necessário falar
oficialmente, com seriedade e em pé para um público
maior, seja ele conhecido ou não, o orador termina.
Todos gostariam de ser grandes oradores, como
foram Quintiliano, Cícero, Demóstenes, Aristóteles,
Abraham Lincoln, Rui Barbosa e outros que veremos
adiante.
Mas tem muita gente que tem medo de começar
um discurso, chegando a 95% dos oradores profissionais.
Não seria diferente com você, que poderia incluir-se nesse
percentual. Isso mesmo: 95% dos políticos, apresentadores
de rádio e TV, artistas e executivos de sucesso sentem
dificuldade e medo antes de iniciar um discurso ou uma
fala.
O jornal inglês Sunday Times realizou, em 2003,
uma pesquisa junto a três mil americanos para descobrir o
que lhes causava maior medo. Em primeiro lugar não
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estava o medo da morte, de doenças, de problemas
financeiros ou de altura - embora todos tenham sido muito
bem votados. Para 41% dos entrevistados, a situação que
provoca maior pavor é algo até certo ponto comum - e
muitas vezes necessário no dia-a-dia dos profissionais:
falar em público, ficando em primeiro lugar. Em segundo
lugar, o medo de altura. Em terceiro lugar, o medo de
insetos/financeiros/águas profundas. E em quarto lugar,
ficou a morte.
Quem já sentiu o coração disparar, as mãos
suarem, as pernas ficarem bambas e as palavras sumirem
ao enfrentar uma plateia sabe bem o que isso significa. É
um temor muitas vezes sem uma explicação racional e
difícil de ser controlado. Há boas e más notícias a esse
respeito. A má é que o medo de falar em público pode
comprometer o desempenho e a imagem do profissional -
afinal, passar uma mensagem com segurança é um
requisito essencial para obter credibilidade. A boa notícia
é que algumas técnicas e dicas podem ajudar na hora de
encarar o público e mandar o seu recado com eficiência.
Este estudo não pretende fornecer um texto
completo sobre oratória. Foi preparado, pesquisado e
compilado com o propósito de ajudar aqueles que não
contam com um treinamento e nem experiência
necessários para falar em público.
Fico todo
congelo cada
vez que tenho
que falar em
público!
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Muitas pessoas procuram fazer curso de
expressão verbal. É muito interessante, porém, tendo boa
vontade, dedicando-se e lendo muito, além de praticar, é
claro, muito se aprenderá. Porém existem alguns
mandamentos que ajudam as pessoas a falar em público.
Basta segui-los e aplicar um pouco de boa vontade.
1.1 Dificuldades e bloqueios
O medo é a manifestação de defesa que nós,
homens de hoje, herdamos dos nossos antepassados.
Constitui-se em enorme dificuldade para as pessoas
enfrentarem uma plateia. Apesar de ser uma condição de
“defesa”, nos traz condições desfavoráveis para “aprender
a falar bem”.
Nos primórdios da história, o homem fugia,
quando sentia perigo; esse mecanismo natural
aperfeiçoou-se e se adaptou para tornar a fuga mais
eficiente.
Ao sentir medo de um animal, por exemplo, o
organismo passou a liberar mais adrenalina para a corrente
sanguínea, aumentando a pressão arterial. Esse processo
prepara os músculos para fuga mais rapidamente.
A "defesa" que manifesta, equivale à fuga mais
eficaz, que provoca: desconforto na região estomacal,
coração descompassado, tremor nas pernas e suar das
mãos, voz hesitante trêmula, boca seca ou insalivada,
desconcentração, riso nervoso, muito falar, movimentos
descontrolados, calafrio e fala desordenada (rápida ou
trocada).
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Normalmente sentimos medo de algo que
imaginamos possa nos prejudicar quando não sabemos ou
não temos certeza do que ocorrerá.
A simples comparação de situações novas com
outras anteriores não favoráveis faz com que o sistema de
defesa entre imediatamente em ação.
1.2 Que tipo de oradores somos
Qualquer indivíduo possui estes dois oradores
dentro de si: o orador real, é aquele que o público vê
quando falamos e o orador imaginário, é aquele que
imagina que a plateia vê, quando falamos.
Quem somos? Como somos? Como é a nossa
voz? Como reage nossa fisionomia quando deparamos
com auditório hostil? Indiferente? Amistoso?
Sem o autoconhecimento e com a ideia destorcida
do que somos como orador, não nos deixará tranqüilos e
seguros no momento da nossa apresentação.
Sempre imaginamos que somos muito pior do
que realmente somos, pois tudo que marcou nossas vidas
pode aflorar justamente na hora de tornarmo-nos oradores.
Acontecem com a voz (feia, fraca,
incompreensível, despersonalizada), postura incorreta
(gestos artificiais inadequados), olhar (perdido, tímido ou
amedrontado), vocabulário (hesitante, fraco, insuficiente,
impróprio), erros gramaticais ou dúvidas quanto a
aplicação das regras, pronúncia incorreta e dificuldade
para ordenar as idéias.
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É impressionante observar pessoas experientes,
grande capacidade, boa formação escolar, cultas, que ao
falar em público, comportam-se como se não tivessem
todo esse potencial. Ao invés de falar bem, com calma,
fluidez, técnica e naturalidade, as manifestações mais
comuns são ansiedades, medo, nervosismo, pavor, pânico.
Essas situações se expressam através de reações
físicas como gagueira, tremedeira, sudorese, "branco",
taquicardia, rubor, vontade de ir ao banheiro e, na maioria
dos casos, uma grande vontade de sair correndo daquela
terrível situação, causando uma impressão ruim na
audiência.
O curioso é que esse panorama é comum. De um
modo geral, todas as pessoas, em maior ou menor grau,
sentem essa ansiedade e algumas dessas manifestações no
corpo. Mesmo as mais experientes, como artistas ou
palestrantes.
É comum ouvir relatos sobre ansiedades ou
medos na hora em que se levantam e posicionam-se diante
de outras pessoas para falar.
O que ocorre é que, quando uma pessoa se
levanta para falar, fica em evidência e, a partir daí, corre
um grande risco de ser mal interpretada, que suas ideias
não sejam aceitas, ou que não consiga impressionar ou
agradar os ouvintes. Isso gera uma ansiedade tão grande,
fazendo com que o próprio corpo se encarregue de
expressar essas tensões.
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1.3 Causas geradoras do medo
As causas mais comuns geradoras do medo ou
"horror" de falar em público poderiam ser enumeradas da
forma que segue:
1.3.1 Educação rígida demais
Essa tem sido a causa mais comum, que tem
gerado muitas frustrações quando uma pessoa torna-se
adulta. Pais excessivamente castradores, impedindo o
desenvolvimento natural da criança, os muitos "nãos"
recebidos, ameaças, castigos, o impacto gerado por uma
crítica severa, como por exemplo, "Você não serve para
nada mesmo...", "Você não faz nada direito...", "Você não
presta...", "Não faça isso..." ou "Cale a boca...".
No decorrer do tempo, aparentemente, esses
estímulos negativos são até esquecidos e nem os próprios
pais, professores, avós, irmãos mais velhos ou até
religiosos tiveram a intenção de deixar essas marcas tão
negativas ou profundas.
Só que o impacto que isso pode gerar na cabeça
de uma criança livre de defesas tem um efeito devastador
e altamente destrutivo. Muitas sequelas desse tipo de
educação castradora aparecem na vida adulta, através do
medo de desagradar ou medo da crítica, impedindo uma
apresentação espontânea e natural.
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1.3.2 Educação ou formação excessivamente
protetora
A família em que a criança é protegida e
amparada excessivamente pode, num primeiro momento,
nos soar como a ideal. Afinal, vive em um mundo
complicado, cheio de maldades, violência e desrespeito. O
que ocorre é que essa criança é colocada em uma redoma
de vidro, ou seja, é afastada de todas as informações que
possam gerar algum tipo de risco.
Só que chega um momento em que ela tem que
estudar, conviver com outras crianças e é nesse processo
de socialização que começam também os problemas,
continuando na adolescência e na vida adulta, onde a
pessoa tem de ir à luta, trabalhar, viver a sua própria vida.
O problema nesse caso, é que ela não foi forjada para a
luta, para ter coragem de enfrentar e combater as
adversidades, para dizer não. Sem dúvida, esse é um caso
gerador de timidez ou fobias sociais.
1.3.3 Experiências malsucedidas
Qual a pessoa que não teve de se expor em algum
momento da vida, diante de outras pessoas? Pode ser que
tenha sido na escola, na incumbência da apresentação de
um simples trabalho, junto com amigos ao expor um
pensamento ou até mesmo contando uma simples piada ou
dando uma aula.
Em alguns casos, a experiência é tão negativa
que, muito embora a pessoa estruture seu conteúdo, não se
prepara para sentir aquela tremedeira, aquela ansiedade,
aquele momento tão complicado. Isso gera, em muitas
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situações, um verdadeiro trauma que pode ser perpetuado
pelo resto da vida. É óbvio que todas às vezes que essa
pessoa tiver de falar em público, ela irá reviver essas
sensações negativas e irá escolher fugir do que enfrentar,
acomodando-se nas famosas "zonas de conforto" e
encontrando desculpas esfarrapadas para justificar o seu
insucesso ou o seu fracasso.
1.3.4 Falta de experiência
É natural, quando temos uma primeira
experiência na vida, não conseguirmos o melhor resultado
desejado. Não é na sua primeira apresentação que um
orador conseguirá o seu melhor desempenho. Não é na
primeira aula que o professor conseguirá envolver melhor
os alunos. Também é natural que as primeiras experiências
gerem medo e ansiedade, mas tratando-se de uma pessoa
normal, sadia, ela sabe que isso faz parte de um processo
de aprendizagem e, como em uma escada, que se sobe um
degrau de cada vez e, assim, irá naturalmente se
desenvolver, acrescentando novos conhecimentos e
experiências, de maneira consciente e gradativa aos
conhecimentos e experiências existentes.
1.3.5 Perfeccionismo
O mais aterrador para uma pessoa perfeccionista
é descobrir que vive em um mundo imperfeito. Talvez sua
maior frustração na vida seja saber que é imperfeita ou
pior ainda, além de tantos defeitos é também
perfeccionista!
Quando uma pessoa tida como normal, e isso é
dito no sentido mais simples da palavra, alguém que tem