operações estabelecedoras
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Fundamentos Teóricos em Psicologia II - ComportamentalismoAula 8
Operações estabelecedorasP R O F. D R . C A I O M A X I M I N O
C M A X I M I N O @ U N I F E S S PA . E D U . B R
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Objetivos
1. Conceituar privação e saciação
2. Contextualizar historicamente o conceito de operação estabelecedora
3. Diferenciar operação estabelecedora e discriminação
4. Analisar os conceitos de “necessidade”, “instinto” e “impulso” sob a ótica da AEC
5. Discorrer sobre o tempo como variável nas operações estabelecedoras
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Saber e querer• “É comum falarmos na diferença entre o ‘saber’ e o ‘querer’ quando nos referimos a aprendizagem e motivação, respectivamente” (Miguel, 2000)
•Na AEC, os problemas da motivação costumam ser explicados a partir da função reforçadora dos estímulos• “O problema do ‘querer’ (não querer fazer algo) muitas vezes tem suas raízes na falta de reforçamento
disponível para que o comportamento ocorra” (Miguel, 2000)
•Dado que o reforço é arbitrário, como podemos usar esse conceito para explicar a motivação?• “Muitas vezes o problema não está na falta de consequências para o comportamento, mas na ineficácia
de tais consequências” (Miguel, 2000)
•“(...) a probabilidade de beber toma-se muito alta sob severa privação de água e muito baixa sob saciação excessiva(... ). O significado biológico da mudança na probabilidade é óbvio (...). Em sentido evolucionário, isso “explica” por que a privação fortalece todos os comportamentos condicionados e incondicionados relacionados com a ingestão de água”. (CCH, pp. 155-156)
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Impulsos
•Em CCH, Skinner usará o termo Drive (“impulso”) para identificar operações de privação e saciação
•Skinner (1938): cada impulso possui suas próprias operações definidoras; no caso da “fome” (como impulso), a operação definidora seria a privação de alimento
•Essas operações são necessárias para explicar a manutenção do comportamento, porque só o histórico de reforçamento não é capaz de fazê-lo.
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Necessidades e impulsos
“Tradicionalmente um organismo bebe porque precisa de água, dá um passeio porque precisa de exercicio, respira mais rapida e profundamente porque carece de ar, e come vorazmente porque tem muita fome. Necessidades, impulsos, desejos e apetites são bons exemplos das causas interiores (...)” (CCH, p. 157)
“Necessidades e desejos tendem a ser entendidos mais como psíquicos ou mentais, enquanto apetites e impulsos tendem a ser concebidos mais como fisiológicos. Mas são termos usados livremente quando nenhuma dessas dimensões foi observada” (idem)
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Necessidades e impulsos como variáveis intervenientes
•CCH, p. 157: dizemos que alguém “está sedento” quando não bebeu água durante vários dias, e afirmamos que provavelmente irá beber quando tiver oportunidade explicação disposicional, estado interno inferido a partir da operação
•“Por outro lado, a operação é inferida do próprio comportamento – quando observamos alguém bebendo grandes quantidades de água e afirmamos sem hesitar que está com muita sede” (pp. 157-158) inferência a partir do comportamento, estado interno atribuído à história de privação
•Em ambos os casos, o estado inferido é desnecessário para explicar o comportamento (MESMO QUANDO INFERIMOS UM ESTADO FISIOLÓGICO [p. 159])
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Privação e saciação
•Se, em 1938, Skinner qualifica os impulsos por suas próprias operações definidoras, em CCH a ideia de que as operações de privação e saciação são suficientes para explicar todo o comportamento motivado está amadurecida
•Privação: Redução na disponibilidade de um reforçador.
•Saciação: Apresentação continuada ou disponibilidade de um reforçador que reduz sua efetividade
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O que não é um impulso•“Impulso não é um estímulo” o comportamento associado à operação de privação continua mesmo quando a privação se encerra, e não é necessariamente motivado pelo estado extremo• A operação distingue-se dos efeitos discriminativos e eliciadores do S• Crítica à etologia (estímulo-sinal) e à psicanálise (pulsão)
•“Impulso não é um estado fisiológico” “Na medida em que, da história de privação inferirmos o estado ou o gerarmos criando essa história, o estado não terá valor algum ao nos dispensar desta história.” (CCH, p. 159)• Crítica da fisiologia da motivação (Cannon)
•“Impulso não é um estado psíquico” Eventos privados são de difícil acesso, e, se a privação afetar o comportamento, esses eventos não são úteis para a previsão• Crítica ao neobehaviorismo (Hull/Tolman)
•“Impulso não é simplesmente um estado de frequência” Fazer referência somente à alta frequência ou probabilidade do comportamento sem referir-se à história é falho, dado que outras variáveis (p. ex., esquema de reforçamento) podem aumentar a probabilidade sem mexer na privação
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Questões básicas em relação aos impulsos
•A literatura motivacional levanta diversas perguntas sobre os impulsos:•Quantos são?•Qual a força relativa deles?•Saciar um impulso reduz outro?•Todos os impulsos podem ser reduzidos a um específico?
•Redução inter-teórica – i.e., recolocar as questões em termos de privação e saciação (CCH, pp. 163-170)
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Quantos são os impulsos?
•Duas traduções possíveis:
•“Quando inferimos impulsos partindo de histórias de privação, podemos perguntar de quantos modos um organismo pode ser privado” (CCH, p. 163)
•Outra tradução possível é “quantas espécies de comportamento variam em freqüência independentemente uns dos outros? Com esta base podemos distinguir entre comer, beber, comportamento sexual, e assim por diante, do mesmo modo que entre subdivisões de cada um desses campos” (CCH, p. 164)
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Os impulsos são respostas condicionadas?
•As operações estabelecedoras sempre estão relacionadas com o reforço operante; “para um organismo faminto o alimento é tanto reforçador quanto saciador” (CCH, p. 164)
•Essa relação é especialmente importante no caso dos reforçadores condicionados e das respostas encadeadas, nos quais as respostas são evocadas por um processo de privação e saciação do reforçador primário
•Os reforçadores generalizados (p. ex., dinheiro) são “eficazes sob inúmeras privações, alguma das quais estará provavelmente presente em um dado momento qualquer” (CCH, p. 166)
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Os impulsos se inter-relacionam?
•A afirmação freudiana de que toda atividade “é de natureza essencialmente sexual” pode ser traduzida em termos de OEs: “a probabilidade de um ato, do qual se afirma ser sexual em sua natureza, muda com a privação ou saciação sexual? Se mudar, o ato pode ser encarado como sexual, mesmo que topograficamente não se assemelhe ao comportamento obviamente sexual” (CCH, p. 169).
•Crítica semelhante ao “impulso de dominação” (Bassett, Adler, MacDougall, Allport); além disso, via de regra privar alguém de dominação automaticamente o priva de outros reforçadores, o que sugere que é um reforçador condicionado
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Conclusão: é possível realizarmos a redução inter-teórica entre OEs e conceitos motivacionais
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Comportamento evocado
•O estímulo antecedente pode ter função•eliciadora, quando sua apresentação produz fidedignamente uma resposta
•discriminativa, quando sua apresentação está correlacionada com um reforço
•reforçadora, quando aumentam a probabilidade de uma resposta por associação com outro reforçador
•evocadora, quando estabelece o valor reforçador da consequência
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Exemplo (Michael, 1982)
•Uma pessoa está propensa a tomar um refrigerante e ao localizar uma máquina de venda automática, procura na bolsa por uma moeda• A máquina é um SD, porque estabelece a ocasião na qual é possível
obter o refrigerante•Mas, EM RELAÇÃO À MOEDA, a máquina é um evento estabelecedor:
ela torna a moeda importante!
•Por isso, Skinner diz que “impulso não é um estímulo” (sensuetologia), dado que • não produz fidedignamente a resposta (i.e., não a elicia)• não sinaliza consequência
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O conceito de operação estabelecedora
•Michael (1982): “Nossa forma de falar sobre o controle de estímulos operante parece incluir mas falha em distinguir entre duas formas bastante diferente de controle” (p. 149)
•Eventos como os de privação/saciação e estimulação aversiva possuem características em comum1. Alteram momentaneamente a efetividade reforçadora de
outros eventos2. Alteram a frequência de ocorrência de todo o
comportamento que foi reforçador por esses eventos
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Efeitos da privação• Keller e Schoenfeld (1950): (1) mudança momentânea de um grupo de R (evocação) e (2)
tornar o reforçamento possível (estabelecimento da consequência como reforçadora)
• Efeito estabelecedor ou de abolição: Uma OE estabelece a efetividade reforçadora atual de algum S, objeto, ou evento
• A PRIVAÇÃO DE ÁGUA AUMENTA (E A INGESTA DE ÁGUA DIMINUI) O VALOR REFORÇADOR DA ÁGUA
• UM AUMENTO DE DOR CAUSA UM AUMENTO DE (E UMA DIMINUIÇÃO DA DOR DIMINUI) A EFETIVIDADE REFORÇADORA DA REDUÇÃO DA DOR
• Efeito evocativo ou ablativo: Uma EO evoca qualquer comportamento que foi reforçado pelo mesmo S cuja efetividade reforçadora é alterada
• A PRIVAÇÃO DE ÁGUA AUMENTA A FREQUÊNCIA ATUAL DE QUALQUER COMPORTAMENTO REFORÇADO POR ALIMENTO
• UM AUMENTO DA DOR CAUSA UM AUMENTO NA FREQUÊNCIA ATUAL DE QUALQUER COMPORTAMENTO REFORÇADO PELA REDUÇÃO DA DOR
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Michael (1993)
Efeito estabelecedor de reforçamento: Alteração momentânea da efetividade reforçadora/punidora de um S
Efeito evocativo/supressivo da OE: Alteração imediata de comportamentos que, no passado, produziram o S+
Efeito evocativo/supressivo do SD: Alteração da efetividade de todos os SDs correlacionados com S+
Efeito sobre o reforço/punição condicionado: Alteração da efetividade reforçadora/punidora de qualquer consequência condicionada
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Exemplo: Cadeia comportamental
•“(...) não dizemos que há impulsos especiais associados com as primeiras respostas da seqüência pois não há operações paralelas de privação. Termos tradicionais, como ‘desejo’, ‘vontade’, e assim por diante, reconhecem os passos subsidiários. Por exemplo, poderíamos dizer que um homem primeiro quer um táxi, depois quer que o motorista o leve à Lapa, então quer achar um determinado restaurante, depois quer abrir a porta, e ainda queruma mesa, o cardápio, um filé. Mas como não há um processo de saciação e privação envolvido neste caso, exceto no último item, não há razão para se pensar em impulsos correspondentes.” (CCH, p. 165-166)
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Estímulos estabelecedores (SE)
•Existem algumas situações nas quais a mudança de S estabelece outra condição como reforçadora sem alterar a efetividade do reforçador primário relevante
•Ex.: Um rato em uma caixa de Skinner pressiona uma barra na presença de um SD (luz) e recebe água como consequência; a ausência da luz (S) sinaliza EXT• A privação de água funciona como OE (altera valor reforçador da água)• A luz funciona como SD, que passa a ocasionar R• A luz funcionaria também como SE, dado que altera o valor da R como
uma forma de reforçamento condicionado (a presença da barra é condição necessária para respostas de olhar ou aproximar-se da barra)
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Operações estabelecedoras condicionadas•CCH: Muitos dos exemplos que, na literatura motivacional, remetem a impulsos específicos podem ser explicados por reforçadores condicionados e sua relação com as OEs
•Michael (1988): Divisão entre operações estabelecedoras incondicionadas (OEIs) e operações estabelecedoras condicionadas (OECs)
•OEIs: Envolvem operações que têm efeitos de estabelecimento sobre os reforçadores, independente de qualquer aprendizagem (p. ex., privação, estimulação aversiva, ingestão de sal, mudança de temperatura, &c)
•OECs: Inclui OEs cujo efeito de estabelecimento do reforçador é aprendido
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Um exemplo
•Um eletricista precisa, para desparafusar um parafuso, de uma chave-de-fenda
•A visão do parafuso evocaria o comportamento verbal de solicitar a chave de fenda a um ajudante
•Isso é um SD ou uma OEC?
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OEs na análise aplicada do comportamento•Smith e Iwata (1997): Para o diagnóstico e tratamento de transtornos, é preciso estabelecer (além das respostas e das consequências que as mantém) as condições que estabelecem a forma de reforçamento que mantém o comportamento
•Durand e Crimmins (1988), O’Reilly (1999) – comportamentos-problema mantido por atenção têm maior probabilidade de ocorrer em ambientes pobres em contatos sociais
•Cameron, Ainsleigh e Bird (1992) – reduziram comportamentos agressivos mantidos por reforçamento negativo através da manipulação da tarefa que supostamente evocava tais comportamentos (sabonete em barra vs sabonete líquido)