oÓ desnutrir a pedra/viagem a andara oo livro invisível vicente franz cecim

8/22/2019 o Desnutrir a pedra/Viagem a Andara oO livro invisvel Vicente Franz Cecim

1/117

o: Desnutrir a pedra

Vicente Franz Cecim

Ser neblina


2/117

1

o: Desnutrir a pedraVicente Franz Cecim

Viagem a Andara oO livro invisvel

Ser neblina


3/117

2


4/117

3

lervendo ouvisses: orao Silncio

aPai

Xode

Bach

e em ti, qual Orao?


5/117

4


6/117

5

eu tinha um filho de nvoa

eu tinha em mim um filho de nvoa

E uma noite, para que adormecesse, lia em seu Ouvido oLivro de Ezequiel


7/117

6

aquele Ezequiel dizendo essas Palavras que lhe houvesse dito

:

e tirarei da vossa carne o corao de pedra, e vos darei umcorao de carne


8/117

7

aquele Ezequiel dizendo,

ouve, filho:

Veio sobre mim a mo de , e me levou no Esprito do , eme ps no meio do vale que estava cheio de ossos

e me fez andar ao redor deles. E eis que eram muitonumerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequssimos.

me perguntou: Filho do homem, podero viver estes ossos?Respondi: , tu o sabes.

Ento me disse: Profetiza sobre estes ossos, e diz a eles:Ossos secos, ouvi a Palavra de .

Assim diz a estes ossos: Eis que vou fazer entrar em vs oflego da vida, e vivereis.

E porei nervos sobre vs, e farei crescer carne sobre vs, esobre vos estenderei pele, e porei em vs o flego da vida, e vivereis.Ento sabereis que eu sou o .

Profetizei, pois, como me deu ordem. Ora, enquanto euprofetizava, houve um rudo: e eis que se fez um rebulio, e os ossos seachegaram, osso ao seu osso.


9/117

8

E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne,e estendeu-se a pele sobre eles por cima, mas no havia neles flego.

Ento me disse: Profetiza ao flego da vida, profetiza,

filho do homem, e dize ao flego da vida: Assim diz : Vem dosquatro ventos, flego da vida, e sopra sobre estes mortos, para quevivam.

Profetizei, pois, como me ordenara: ento o flego da vidaentrou neles e viveram, e se puseram em p, e era um exrcito imenso


10/117

9

Serneblina,

filho de nvoas

j dormes, Ezequiel?

Pois esse era tambm o seu nome o daquele filho Tnue queem mim eu tinha

Mas vendo em seus olhos as Chamas, e ainda ardendo


11/117

10

queres que eu te conte ento uma histria?

Lhe perguntei.

filho de nervos, queres?


12/117

11

eu te conte, eu te contasse

para que adormecesses, em mim

ainda mais uma histria. De Andara, Sime de onde mais?aps a histriadaquele outro Ezequiel, assim de ossos retornando a Ela: a

que se recusa ao p

Mas uma histria ainda mais sem histria, ainda mais sem oAmparo de uma histria, eu contaria

queres?Eu perguntei ao meu filho de nvoas, se recusando s Brumas

Pois no adormecia, no adormecia

e de nvoas ainda no iam se cobrindo os seus olhos pois asChamas,

neles, elas se recusavam s Cinzas


13/117

12

ento vem mais a mim, eu lhe dizia

e repousa tua a fronte, a

tua aurora de Noites semeadas por mos vazias no meu colo turvo,a tua escassez de Musgos

filho de neblina


14/117

13

Sabes?

Eu lhe dizendo:

ters primeiro que adormecerpara s depois despertarem em ti os sonhos: e quem sabe um

Sonho que pudssemos sonhar juntos, Ser na Neblina

se quisesses ouvir ainda mais uma histria sem histria de Andara

filho turvo


15/117

14

ah, to cansados de nos contarmos noites aps noites histrias dehomenssem asas

no ests cansado disso ainda? Pai de Nvoas

eu me perguntei

NoSim?

Eu te contasse ento,

mas o que? filho ser Pai, em mim des sendo

Ah


16/117

15

ah

Uma histria de pedra que andasse, e que em Andara fosse

Como aqueles Ossos foram, se foram: exrcito imenso

e tirarei da vossa carne o corao de pedra

Lembras, filho,o que disse aquele Outro Ezequiel e no adormeceste ainda?

Queres,uma histria de pedra aps essa histria de ossos? filho Nada?

eu te contasse, eu te contaria


17/117

16

Em Andara, era uma vez uma Pedra

oh,

esses lbios que se entreabrem em ns contando histrias

Depois: j fssemos somente os nossos Lbios de nos contar:Um Corpo s lbios

e os nossos Ouvidos de nos ouvire os nossos Olhos de nos olhar? E onde?

Por onde andaremos quando j houveres dado o Passo sem volta,

e eu, j sem remdio para os teus ouvidoshouver iniciado a histria no histria


18/117

17

quisesse ela uma Lgrima de Amparo para humanizar suas AreiasQuisesse ela, essa Pedra

como aqueles Ossos, tambm ela,um Caminho

para ir alm do seu caminho

de pedra

oh, vs?

j comecei, Serneblina,

Filho de Nvoas

J comecei mais uma histria no histria


19/117

18

que eu te conte logo

Enquanto ainda posso falar

e antes que acontea comigo o que aconteceu quele outroJeremias um aquele lembras que em suas Lamentaes contou o queum dia lhe fez

:

Quebrou com pedrinhas de areias os meus dentes


20/117

19

Adormecido em mim, ests ouvindo? J ests ouvindo

Abre os teus olhos de Espanto, oh

ser neblina, tambm tus Ser na Nvoa de Ser Ser neblina de ser


21/117

20

e j estamos indo, na Neblina, j estamos indo Canta, filho

comigo, em teu Sono, canta:

Ns somos os Filhos da Neblina em Andara indo ns vamos indo parano sermos mais nsns vamosns vamos, atravs da NeblinaNs vamosCantemos assim, em coro de estar na Nvoa, tu Filho Nvoa, eu PaiNeblina

Contigo na nvoa eu vou, comigo na nvoa tu vais, e ns indo vamosNeblina neblina e Nvoa

sermos: no-: ser na Neblina: Serneblina

pois como aquele agora tu, em Andara, seja esse o teu

Nome:

Serneblina


22/117

21

Ezequiel, se me escutas ainda ou j nos perdendo o Sono


23/117

22

ah, to cansados

aps noites e noites histrias de homens

e sem Asas

to cansados

ah,

assim cansados

eu adormecesse antes de ti,em ti,

tu, em mime nos contandofssemos ento a Voz de um nico Sonho nos contando isso


24/117

23

a Pedra falante

em ns, falasse

e Ouvimos: era uma vez

adormecendo

ouvimos


25/117

24


26/117

25

dizer orepetir


27/117

26


28/117

27

o

eu


29/117

28

eu vivia


30/117

29


31/117

30

eu vivia ali


32/117

31

eu vivia ali pensando


33/117

32


34/117

33

eu vivia ali pensando em d


35/117

34

eu vivia ali pensando em deus, quando de repente deus veio eme disse para desnutrir a pedra.


36/117

35


37/117

36


38/117

37


39/117

38

Ah, o humano: um corao de pedra


40/117

39


41/117

40

eu desnutri a pedraeu desnutriE tive na mo a centelha de luz.


42/117

41

Depois vieram os Sis, centenas deles, me fazendo recordaros mortos.

Tudo eram cinzas, no mesmo?Ento, por que lamentar?Nada havia para lamentar


43/117

42


44/117

43

Eu desnutri as pedras.


45/117

44

Uma a uma, indo pelos caminhos, ia desnutrindo uma a umaas pedras, dia e noitee

entopodia

compreender as Montanhas, as areias tambm.Tudo depende.Da solido.


46/117

45


47/117

46

Dos pais que no se teve, nem j se ter


48/117

47


49/117

48

dos sonhos que se tem, de Pedra e Sono


50/117

49

Desnutrir as pedras bem

poderia seruma atividadepara me ocuparpelo resto davida. Em vezde ficarolhando o dianascer,


51/117

50

todo dia o sol nasce todo dia


52/117

51

ou ficar testemunhando a morte de um dia se acabando aomesmo tempo nos olhos de algum, uma pessoa, dessas que lanam umolharde adeus to sozinhas para ns no ltimo momento,s vezes bemna hora do crepsculo.

Quando tudo seapaga. Ou tudo se acende. Isso desnutrir a pedra, talvez.

Tambm

Eagora esse passo aindamais um a ser dado

E

para onde


53/117

52

e vindo aquela voz, a

o ir sem Ir


54/117

53

se deixou ficar em solido serenae em estado de imperturbabilidade,sem se desviar com sua essnciapara nenhum lugar nem girarem torno de si mesmo,mas em repouso absolutoe convertido em repouso


55/117

54

ainda mais um passo

Para dentro daquela Pedra l. TalvezEnto, pois nunca havia visto uma como aquela. Com todos

os seus rudos sua Msica de P por dentro dela, que mal conseguia semanter inteira, pedra,

de maneira que se pudesse dizer sem a menor dvida: umapedra.

Pois se via tanto os seus gros, que no se podia confiar quefosseuma coisa s, pedra pedra. Poderia ser vrias construes terrveis,humilhantes. Pirmides por exemplo. Pudessem ser


56/117

55

Tudo era como se uma simulao de existncia homognea,inteira,pretendendo enganar como forma de coisa para sempre.

Mas falsa.Como fosse falso este corpo que eu, no para sempre, sei

Um caminhar de pedra: ah, o umanoh


57/117

56

no eram duas coisas,mas o vidente era um scom o visto


58/117

57

Desnutri tambm essa pedra, e segui adiante, cada vez mais emenoseu mesmo intacto,

pois pensava: se ela no tem pedra em si,por que haveria de ter eu homem em mimE assim, me suspeitando, caminhava


59/117

58

caminhava e caminhava e caminhava


60/117

59

todo dia o sol nasce todo dia


61/117

60


62/117

61

caminhava e caminhava: a pedra, em Andara


63/117

62

dia e noite desnutrindo pedras


64/117

63

pedra que andara

querendo a cada passo me por de p, enfim por de p em mimum homem.

Mesmo que fosse como um lagarto


65/117

64

oh,

o Nutridor de Serpentes, em Andaraobscuro prodgio. Que avana atravs do Mal

filho nvoa, adormecidos o teu sono de pedraouves? Quantas vozes em nsse fosse tua a voz no mais a minha contando Mundo

escuro e por que outro nome esse Ser evocado assim de Trevas toespessas? Qual Nome que no se diz fosse o Seu nome


66/117

65

em Andara

oH, o NutriDor, as Serpentes

Serneblina

E onde a aSa?


67/117

66

o umano: Pedra desnutrida

ah


68/117

67

mesmo que fosse como um lagarto, para s depois ser um homem. Paras depois


69/117

68

em ns quantos Gros quantas vozes em ns


70/117

69

eu seguia

O importante,

Aquilo em mim pensava,

olhando as caudas, que elas, as Serpentes, as outras pedras,olham para mimcomo se eu existisse. E me confirmam humano,

mesmo que coberto por esses panos Negros,por essas rasgadas lonas de velas de naves submersas: e

ouvisse tambm as linfas em mim se associando em coro submersos ervas do Fundo: msica aqUtica, agora, e seguindo


71/117

70

tona,

um vento forte s vezes vindo me soprar para mais longe dosCaminhos


72/117

71

via a poeira de Ossos, l sumindo no Horizonte


73/117

72

e aquela voz que voltava


74/117

73

ele prprio era uma s coisasem ter em si diversidade algumanem para consigo mesmonem para com outras coisas,porque nenhum movimentohavia nele


75/117

74

para mais longe do caminho por onde no momento eu trafegavaUm vento vindo

j me soprar,

e cardumes de guelras


76/117

75

para me desnutrir. E submergir tambm


77/117

76


78/117

77


79/117

78


80/117

79


81/117

80

e a voz que vindo diz:

chegar, sim,

em sua descida,at o mal


82/117

81

tambm ouves, o filho pai em Sonhos?

antes que esta Noite sem manh anoitea

ouves


83/117

82


84/117

83

mas percorrendoo caminho inverso


85/117

84


86/117

85

e se partindode si mesmo como imagem

regressa Fonte de todas as imagens,


87/117

86

ento alcanasse a metada sua peregrinao


88/117

87


89/117

88


90/117

89

o humano o umano h

ah

aPedra

deser

o

umano


91/117

90

X


92/117

91

Filho Pai?

ouviste

a Pedrade Ser em Sonhos?


93/117

92

Por ela ora o Silncio

e em ns, qual Orao?

Pai des sendo

O Sonho sido

filho nvoa


94/117

93

tu


95/117

94

se

agora vagas escuro no Vale,

ou retornaste Fonte?

E se na Fonte, no te perguntas mais

onde o meu V?


96/117

95

Tu

Que, se no Vale, vagando ainda entre outras Sombras te perguntas

onde o meu Pai onde o meu guia onde o meu V

ir

g

lio?


97/117

96


98/117

97

tu

ouves?

Toda feita de Ossos em Chamas

se erguer no Vale de Sonhos a voz sem Lbios, que vem

e diz:

Dos Sonhos breves das Sombras longas daqueles que antespassam, se ainda a Voz, seus Gros seuEco

no ficarS

nem sombra


99/117

98

o Vale dos Sonhos, ah

agora o deserto

O:

vazio


100/117

99


101/117

100


102/117

101

nem sombra de Ossos nos dias passando nus, sem vestes de carnes


103/117

102


104/117

103

filho nvoas, filhos nvoa


105/117

104

: tu :

que irs te perguntar, fechando as pginas de ossos dAquela que serecusa ao p:

onde a

aV

e

que voou para fora do Livro?


106/117

105


107/117

106

dizer orepetir


108/117

107


109/117

108


110/117

109


111/117

110

dizer sem voz


112/117

111

,

oo no


113/117

112

antes que esta Noite sem manh em ns anoitea


114/117

113

Fim de o: Desnutrir a pedra

A viagem a Andara no tem fim


115/117

114

Iconondice

por um Retorno Fonte das Palavras,ei-los,

os cones aqui se dando Iconescritura:

O Nutridor de Serpentes:Contaminaes do Autor sobre Imagem arcaica

As Pedras de Ser:de Calanish andaram at Andara,

as Caladas

As Pedras de No-ser.Por a,

jogadas

e onde a aVeque voou do Livro?

A voz que fala sob as Imagens de Plotino: Enadas,s vezes contaminada pela voz do Autor

e a que no fim semFim tudo vindo dissolver at as sombras,

de Quem?


116/117

115

Isso, o Aquilo, o Sem Nome, O

O que faz a rvore, o que faz o vento, o que faz eu meperguntar essas coisas?

- L.

V: aquela rvore, l, se movendo.

Vs, vendo?Parece coisa de sonho, no ? Aquela rvore longe, no

horizonte se movendo.O que move a rvore?Para isso a gente tem uma resposta humana na ponta da

lngua: o vento. Outro Verbo.Mas, ah, o que sopra o vento?Para isso, eu no tenho a resposta.Tu tens?

Ningum tem, te digo. o Isso, o Aquilo, o Sem Nome,e de onde vindo ningum sabe, pois s sabemos que ao

chegar aqui vai logo se escondendo de ns sob muitas formas, asVrias: aves, estrelas, insetos, peixes, e de vento vento

Pois se at sob a forma humana se esconde, em ns.E se aquela rvore, l, parar de se mover?Para onde ter ido?

Diz-se disso: o vento sopra em toda parte, o vento: oVento.


117/117

Da minha boca, agora mesmo ele est soprando para ti soba forma destas palavras, onde tambm est e se mantm, escondido.Abro a boca, sopro um pensamento, e eis: ele aparece, masdesaparecido, pois s percebes as palavras.

Ouve, assim, com a tua mo roando a minha boca. a voz do vento das palavras.Sentes?Ah, olha: agora a rvore parou de se mover.Vs? No-vendoEle ter ido embora dela, ou se mantm l, nela, at a

prxima brisa, ventania, sopro disso que nos sopra? EscondidoSo muitas as perguntas que nos fazemos s de olhar as

coisas, no ?Ento, essa que eu me fao agora: esse vento que sopra

pela minha boca sob a forma das palavras com que estou teperguntando isto: ele o mesmo vento que, antes, soprava l aquelarvore, longe, no horizonte, e agora veio soprar em mim, atravsde Mim?

Pudesse, pois se Isso sopra os ventos um s, sedispersando em vrios istos, vrios ventos, peixes, homens

Ou ser que depois que deixa de ser o Isso ele , em cadaisto, um Isto que no se compara a nenhum outro?

Ento, so muitas as perguntas que fazemos a elas, ss,olhando as coisas

As Coisas.Elas, de L, nos olhando.Aqui.E aqui: um tU e um eU. Peixes homensAh somos mesmo dois homens conversando ou s um? O

oÓ desnutrir a pedra/viagem a andara oo livro invisível vicente franz cecim

Documents