"onde eu coloquei?"

1
SALVADOR, SÁBADO, 26 DE OUTUBRO DE 2013 4e5 ONDE EU COLOQUEI? PAULA MORAIS odos os dias o aeroporto internacional de Salvador recebe muitas pessoas. Só em 2012, foram quase nove milhões, segundo a Infraero, empresa que administra os aeroportos do país. Salvador precisaria ser triplicada para caber tanta gente de uma vez só. Nessas idas e vindas, os passageiros carregam roupas, saudade, alegria ou diversão na mala. O problema é quando esquecem dela. Diariamente, no aeroporto, são perdidos de 16 a 20 objetos nos embarques de Salvador. São mais de sete mil por ano, contou o gerente de operações de aeroportos, Carlos Antônio. Perdeu. Será que achou? A Infraero criou em 1992 o setor de “achados e perdidos” para atender os esquecidinhos e encontrou foi coisa. “Já encontramos bengala, muleta e até duas malas cheias da mesma pessoa”, disse Carlos Antônio. Não é difícil ter o pertence de volta. O gerente explicou que é só você ir ao balcão de informações e dizer tudo sobre o objeto perdido. Só não vale esquecer como ele é. Vê se não esquece Não dá para perder a cabeça quando não lembrar onde colocou algo. O neurologista Leandro Telles disse para ter calma. Ele explicou que a falta de atenção é o que faz esquecer algo e achar que perdeu. “A dica é falar o que vai fazer em voz alta para o cérebro guardar aquela informação”. O cérebro separa o que é ou não importante. Se você fizer duas ações ao mesmo tempo, ele vai separar quais devem ser lembradas e perdidas. “É mais fácil ele guardar as informações emocionais, uma alegria ou tristeza forte do que se lembrar que você colocou a caneta atrás da orelha”, disse o neurologista. Pedir para achar Cada pessoa tem uma forma de achar o que perdeu. Uma delas é recorrer a São Longuinho e seus três pulinhos. O historiador e folclorista Carlos Carvalho contou que não há registros sobre o santo. A história é a de que se chamava Longuinus e era um soldado de Roma com problemas de visão. “Um dia ele foi mandado para castigar Jesus. Quando enfiou a lança, o sangue de Jesus espirrou nos olhos doentes e eles ficaram bons”, explicou Carlos Carvalho. O milagre fez com que Longuinus se arrependesse e mudasse o nome. Ele passou a ajudar as pessoas a achar os objetos em troca do reconhecimento dele como santo. Lado bom Ninguém gosta de perder, mas nem sempre isso é ruim. Perder o medo é algo positivo, por exemplo. Reginaldo Aguiar é psicólogo e disse que a perda pode se transformar em um ganho. “Às vezes, a gente perde, mas algo novo vem no lugar. Quando o dente cai, vem um que dura mais”. Achou o perdido O que você faria se achasse algo que não é seu? Na dúvida, o psicólogo Reginaldo Aguiar dá uma dica. “Se coloque no lugar do outro”. Ele falou que não há motivo para ficar com o objeto, caso seja possível identificar quem é o dono. “Você tem que pensar que quem perdeu pode estar infeliz por isso. E se fosse você?”. Caso você tenha ido atrás e não achou o esquecido, o psicólogo falou que não tem problema em ficar com o objeto. Mas não esqueça: nem sempre quem perde algo é uma pessoa desastrada. Todo mundo já perdeu alguma coisa na escola, no ônibus ou até dentro de casa. Mas nem sempre perder é ruim T

Upload: paula-morais

Post on 09-Mar-2016

223 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Publicação no suplemento infantil A Tardinha - Jornal A Tarde

TRANSCRIPT

Page 1: "Onde eu coloquei?"

SALVADOR, SÁBADO,26 DE OUTUBRO DE 2013 4e5

ONDE EUCOLOQUEI?

PAULA MORAIS

odos os dias o aeroporto internacional deSalvador recebe muitas pessoas. Só em 2012,foram quase nove milhões, segundo a Infraero,

empresa que administra os aeroportos do país.Salvador precisaria ser triplicada para caber tantagente de uma vez só.

Nessas idas e vindas, os passageiros carregamroupas, saudade, alegria ou diversão na mala. Oproblema é quando esquecem dela.

Diariamente, no aeroporto, são perdidos de 16 a 20objetos nos embarques de Salvador. São mais de setemil por ano, contou o gerente de operações deaeroportos, Carlos Antônio.

Perdeu. Será que achou?A Infraero criou em 1992 o setor de “achados eperdidos” para atender os esquecidinhos eencontrou foi coisa. “Já encontramos bengala,muleta e até duas malas cheias da mesma pessoa”,disse Carlos Antônio.

Não é difícil ter o pertence de volta. O gerenteexplicou que é só você ir ao balcão de informações edizer tudo sobre o objeto perdido. Só não valeesquecer como ele é.

Vê se não esqueceNão dá para perder a cabeça quando não lembraronde colocou algo. O neurologista Leandro Tellesdisse para ter calma.

Ele explicou que a falta de atenção é o que fazesquecer algo e achar que perdeu. “A dica é falar oque vai fazer em voz alta para o cérebro guardaraquela informação”.

O cérebro separa o que é ou não importante. Sevocê fizer duas ações ao mesmo tempo, ele vaiseparar quais devem ser lembradas e perdidas.

“É mais fácil ele guardar as informaçõesemocionais, uma alegria ou tristeza forte do que selembrar que você colocou a caneta atrás da orelha”,disse o neurologista.

Pedir para acharCada pessoa tem uma forma deachar o que perdeu. Uma delas érecorrer a São Longuinho e seustrês pulinhos.

O historiador e folclorista CarlosCarvalho contou que não háregistros sobre o santo. A históriaé a de que se chamava Longuinuse era um soldado de Roma comproblemas de visão.

“Um dia ele foi mandado paracastigar Jesus. Quando enfiou alança, o sangue de Jesus espirrounos olhos doentes e eles ficarambons”, explicou Carlos Carvalho.

O milagre fez com queLonguinus se arrependesse emudasse o nome. Ele passou aajudar as pessoas a achar osobjetos em troca doreconhecimento dele como santo.

Lado bomNinguém gosta de perder,mas nem sempre isso éruim. Perder o medo éalgo positivo, por exemplo.

Reginaldo Aguiar épsicólogo e disse que aperda pode se transformarem um ganho. “Às vezes, agente perde, mas algonovo vem no lugar.Quando o dente cai, vemum que dura mais”.

Achou o perdidoO que você faria se achasse algo que não é seu? Nadúvida, o psicólogo Reginaldo Aguiar dá uma dica. “Secoloque no lugar do outro”.

Ele falou que não há motivo para ficar com o objeto,caso seja possível identificar quem é o dono. “Vocêtem que pensar que quem perdeu pode estar infelizpor isso. E se fosse você?”.

Caso você tenha ido atrás e não achou o esquecido,o psicólogo falou que não tem problema em ficar como objeto. Mas não esqueça: nem sempre quem perdealgo é uma pessoa desastrada.

Todo mundo já perdeu alguma coisa naescola, no ônibus ou até dentro de casa.Mas nem sempre perder é ruim

T