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ano 2 – número 4 – março 2006 SADE Os desafios para promover o bem-estar físico, mental e social da juventude brasileira

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Os desafi os para promover o bem-estar físico, mental e social da juventude brasileira ano 2 – número 4 – março 2006 12% dos estudantes adolescentes já usaram algum tipo de droga Em 2004, foram registrados 2.668 casos de infecção por HIV entre jovens no Brasil sonar

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número 4 – m

arço 2006

SAÚDE

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa. Os desafi os para promover o bem-estar físico,

mental e social da juventude brasileira

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sonar

Em 2004, foram registrados 2.668 casos

12% dos estudantes adolescentes já usaram algum tipo de droga

22% dos jovens de 15 a 24 anos têm filhos

A TAXA DE HOMICÍDIOS NA POPULAÇÃO JOVEM É MAIS QUE O DOBRO

DA TAXA DA POPULAÇÃO GERAL

de infecção por HIV entre jovens no Brasil

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UMA ASSOCIAÇÃO NO RIO GRANDE DO

Jovens esportistas investem na formação de novos atletas

no Rio de Janeiropág. 8

No interior de São Paulo, moças em situação de risco descobrem a

maternidade responsável pág. 18Um projeto em Minas Gerais diminui os

índices de homicídios entre os jovens pág. 22

SUL APÓIA JOVENS PORTADORES DE HIV

pág. 46

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âncoras

“Saúde é o estado de completo bem-estar físico, psíquico e social, e não apenas a ausência de doenças.”

Conceito da Organização Mundial de Saúde

“É complicado falar em riscos para a saúde para quem simplesmente viver já é um risco.”

I. J,

21 anos, um dos coordenadores do Programa H, que discute o machismo com rapazes cariocas

“Cabe ao governo adotar políticas de saúde com mecanismos especiais, realizando um atendimento adequado aos jovens, dentro das suas especifi cidades e necessidades, com respeito e privacidade.”

Ana Paula Sciammarella,

24 anos, advogada, integrante da Rede Jovens Brasil – Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos

“Estou certo de que o esporte tem um poder transformador. Aconteceu comigo. Antes do meu envolvimento com o esporte, sentia que tinha poucas perspectivas.”

Rodrigo Borges da Silva,

praticante de jiu-jitsu e monitor no Instituto Reação, no Rio de Janeiro

“Aprendi que o pai deve sempre estar presente e apoiar a companheira para que ela se sinta mais forte e segura.”

Edmilson Pires da Silva,

de 19 anos, de Pernambuco, participou de reuniões do Instituto Papai durante a gravidez de sua namorada

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“Uma coisa que aprendi é que a saúde é a alegria do corpo, e a alegria é a saúde da alma!”

Fábio Anderson Rodrigues Pena,

25 anos, coordenador da rede Mocoronga de Comunicação Popular do projeto Saúde e Alegria, no Pará

“Qual jovem de baixa renda tem condições de se sentir saudável diante dos modelos de saúde e de vida apresentados pela TV?”

Paula Cristina Lima Silva,

20 anos, educadora social da ONG Amazona, em João Pessoa (PB)

“A saúde e o adoecimento das pessoas têm a ver com sua condição de vida, com hábitos e comportamentos possíveis nesta construção pessoal, que é condicionada socialmente.”

Gabriela Calazans,

psicóloga, especialista em Saúde Coletiva, mestre em Psicologia Social

“Defendo que parte do lucro da indústria do armamento seja taxada para reverter para projetos de saúde, de tratamentos pós-lesão, e também de educação.”

Marcelo Yuka,

músico, integrante do Conselho Nacional de Juventude

“Com a doença, aprendi que é possível ter uma vida normal e até mais saudável.”

Natália Bellin, de 16 anos, estudante paulista, tem diabetes

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ano 2 - número 4março/junho 2006

Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim

Projeto editorial e realizaçãoFátima Falcão e Marcelo NonatoOlhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humanowww.olharcidadao.com.br

Direção editorialJosiane Lopes – MTb 2913/12/13

Secretaria editorialLélia Chacon

Projeto gráfi coArtur Lescher e Ricardo van Steen(Tempo Design)

Colaboradorestexto: Albertina Duarte, Annette Schwartsman, Aydano André Motta, Beatriz Seara, Cecília Dourado, Cristiane Ballerini, Daniela Rocha, Eloísa Grossman, Flávia Oliveira, Gabriela Calazans, Jane Soares, Karina Yamamoto, Leusa Araujo, Luis David Castiel, Rosely Sayão, Yuri Vasconcelos

foto: Andréa Graiz, Beatriz Assumpção, Bru no Garcia, Carlos Cavalcante, Davilym Dourado, Deise Lane Lima/Viva Favela, Edson Queiroz, Francisco Andrade Neto, Francisco Campos,

Francisco Valdean / Imagens do Povo, Gustavo Lourenção, Henk Nieman, Jonas Oliveira, Levi Silva, Marcelo Alvarenga, Renato Nunes / Imagens do Povo, Ricardo Ayres, Ricardo Mega, Rodrigues Moura/Viva Favela, Stanley Talião, Tom Cabral

ilustração: Anderson Rei, Marcelo Pitel, Rodolfo Herrera

Capa: jovem se exercitando fotografado por Henk Nieman

Apoio editorial: Vinicius Precioso(Instituto Votorantim)

Revisão: Eugênio Vinci de Moraes

DiagramaçãoÉrico Martins e Silvina Gattone Liutkevicius(D’Lippi Editorial)

Fotolito D’Lippi Editorial

ImpressãoSAG

Como entrar em contato com Onda Jovem:E-mail [email protected]ço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403,São Paulo, CEP 04111-001Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

As três primeiras edições da Onda Jovem, já esgotadas na versão impressa, continuam disponíveis ao público no site da revista – www.ondajovem.com.br. O leitor dispõe de duas opções para consultas. No acesso “Edição xx”, estão arquivados os conteúdos da edição tal como ela foi publicada no site. Além de reproduzir os principais textos daquele número, o material inclui os conteúdos produzidos exclusivamente para a internet, como os Planos de Aula elaborados por pedagogos; as notícias veiculadas na seção Tempo Real, e as galerias de trabalhos artísticos dos jovens colaboradores, nos espaços Navegando e Talentos de Onda Jovem. Já no acesso “Edições Anteriores”, estão as versões integrais da revista impressa, no formato PDF, o que facilita o seu uso para fi ns didáticos. Nos números anteriores, a revista abordou os temas Projeto de Vida (primeira edição), Trabalho (se-gunda edição) e Arte & Cultura (terceira edição). O serviço de arquivamento gradativo das edições e sua disponibilização integral fazem parte da estra-tégia do projeto Onda Jovem de ampliar o acesso do público à revista por meio da internet.

SITE REÚNE EDIÇÕES DE ONDA JOVEM

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8 - NavegantesComo os jovens encaram a questão da saúde

14 - MestresA contribuição de três educadores à saúde juvenil

18 - Caminho das PedrasOs esforços da Associação Lua Nova para intervir na realidade social brasileira

22 - Banco de PráticasQuatro experiências em busca de saúde integral

26 - Horizonte GlobalUma entrevista com a costarriquenha Dina Krauskopf sobre juventude e saúde na América Latina

28 - SextanteOs riscos do mundo contemporâneo

30 - 90 GrausSaúde e Escola: há um desencontro entre este par, que deveria andar afi nado

34 - 180 GrausSaúde e Juventude: as difíceis condições de vida proporcionadas aos jovens brasileiros

38 - 270 GrausSaúde e Atendimento: os profi ssionais da área poderiam atender melhor aos jovens

42 - 360 GrausSaúde e autocuidado: como a construção de um projeto de vida contribui para o processo de autonomia dos jovens

46 - Sem BússolaOs índices negativos da saúde dos jovens refl etem as complexidades sociais e culturais do Brasil

52 - O Sujeito da Frase“A arma que muda é o livro”, diz Marcelo Yuka, músico que integra o Conselho Nacional da Juventude

56 - LunetaAs difi culdades para lidar com as questões que envolvem a saúde mental juvenil

60 - .Gov.comA nova política de atenção à saúde do jovem promete incluir um segmento quase sempre ignorado

64 - CiênciaNovidade: os hormônios não são os protagonistas da revolução orgânica dos jovens para se tornar adultos

68 - Chat de RevistaQuatro jovens discutem o que é vida saudável

Sonar 02

Pistas do todo e de algumas

partes da situação do jovem

Âncoras 04

Alguns conceitos e

comentários sobre saúde

Links 72

Notícias sobre juventude

e terceiro setor

Fato Positivo 74

As questões das pessoas com

defi ciência estão mais visíveis

Cartas 76

As mensagens dos leitores

Navegando 78

O desenho de

Nivaldo Guimarães Jr.

26é o número de projetos

com jovens que você verá nesta edição

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Os estudantes cearenses Erika Mavignier de Vas-concelos, de 20 anos, e José Augusto de Castro, o Guto, de 24 anos, namoram há quase dois anos. Eles se conheceram na faculdade – ela faz Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Ceará e ele está no 3º ano de Comunicação Social – e estão sempre juntos. Curtem a vida, estão antenados com o futuro, mas, admitem, não se preocupam muito com a saúde. “Acho até que sou um pouquinho desleixada”, diz Erika. “Sou sedentária, não cuido da alimentação e odeio verduras. Gosto mesmo é de sanduíches, sorvete e pizza. Mas fi z uns exames há algum tempo e eles mostraram que sou super-saudável”, diz ela. O namorado Guto pensa parecido. “Não ‘encano’ muito com a saúde, não. Nem com o que como. Mas também não sou completamente sedentário. Gosto de esportes e toda semana bato uma bola com a galera da faculdade”, diz.

COMO ENFRENTAM POUCAS DOENÇAS ORGÂNICAS, OS JOVENS TENDEM A NÃO SE PREOCUPAR COM O ASSUNTO, EMBORA NEM SEMPRE TENHAM HÁBITOS E CONDIÇÕES DE VIDA SAUDÁVEIS

Por_Yuri Vasconcelos

SAÚDE

EDMILSON PIRES DA SILVA,

de 19 anos, participou de um programa para jovens

pais em Pernambuco

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navegantes

MUITAS DAS OCORRÊNCIAS QUE AFETAM OS JOVENS NÃO SÃO DOENÇAS, MAS ESTÃO RELACIONADAS AO CONCEITO DE SAÚDE COMO UM ESTADO DE PLENO BEM-ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL

precoce, DSTs e Aids, além do uso e abuso de substâncias lícitas, como cigarro e álcool, e ilícitas, entre elas maconha, cocaína, ecstasy e he-roína”, diz Marcondes. Além disso, há os chamados agravos de saúde decorrentes de “causas externas”, que incluem quedas, afogamentos, acidentes de trânsito, homicídios e suicídios, entre outros.

Mas, como do ponto de vista clínico quase não há “doenças” no horizonte, a maior parte dos jovens nem se dá conta de que muitas ocorrências que afetam sua faixa etária estão relacio-nadas com o conceito de saúde pre-conizado pela Organização Mundial de Saúde: um estado de bem-estar físico, psíquico e social, e não só a ausência de moléstias.

Força transformadoraA idéia de saúde integral, porém,

não é totalmente desconhecida entre os jovens. Se os especialistas indicam as atividades físicas como elemento para a promoção da saúde nos anos de juventude, o carioca Rodrigo Borges da Silva, de 24 anos, vai além. “Ao praticar um esporte, o jovem começa a perceber seu corpo de uma maneira diferente. Ele passa a se cuidar melhor, presta atenção na alimentação e dá as costas para as drogas”, diz. Morador da favela da Rocinha, Rodrigo trabalha no Instituto Reação, uma associação idealizada pelo judoca olímpico Flávio Canto, que utiliza o esporte como ferramenta de inclusão social. “Estou certo de que o esporte tem um poder transfor-mador. Aconteceu comigo. Pratico jiu-jitsu desde pequeno e há quatro anos sou monitor no Instituto. Antes do meu envolvimento com o esporte, sentia que tinha poucas perspectivas. Agora, meu objetivo é me formar em Educação Física. Quero ampliar cada vez mais o trabalho com garotos da minha comunidade para que eles tenham chance de melhorar de vida”, diz Rodrigo.

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NTE A despreocupação de Erika e Guto pode

ser encarada como um retrato da forma como a maioria dos jovens e adolescentes se relaciona com a própria saúde. Esse não é um tema que consiga tirar o sono deles. E é fácil entender por quê. “Diferentemente das crianças, dos adultos e dos idosos, os jovens não têm doenças típicas. Essa faixa

etária é originalmente saudável e não há um predomínio de doenças físicas. Mas há

ocorrências preocupantes, sociais e comportamentais”, diz o para-

naense Walter Marcondes Filho, médico hebiatra (especializado no atendimento de adolescen-tes) e presidente da Associa-ção Brasileira de Adolescência (www.asbrabr.com.br).

“Além dos transtornos mentais, notadamente a de-pressão, os jovens enfrentam problemas relacionados à sexualidade, como gravidez

Os estudantes cearenses Erika Mavignier, de 20 anos,

e José Augusto de Castro, o Guto, de 24 anos, não se

preocupam muito com a saúde e se sentem saudáveis

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O PAULISTA GUILHERME DA ROCHA LEITE, de 20 anos, fundou um movimento pela acessibilidade para as pessoas com defi ciência

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PROJETO JOVENS EDUCADORES EM SAÚDE INTEGRAL DO CENTRO NORDESTINO DE MEDICINA POPULARÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE (PE).PROPOSTA FORMAR EDUCADORES PARA ATUAR COMO MULTIPLICADORES DE INFORMAÇÕES E EXPERIÊNCIAS SOBRE SAÚDE INTEGRAL EM SEIS ESCOLAS PÚBLICAS DE OLINDA, JABOATÃO DOS GUARARAPES E SÃO LOURENÇO DA MATA, BENEFICIANDO 30 TURMAS COM CERCA DE 900 ADOLESCENTES.JOVENS ATENDIDOS 60.APOIO FUNDO DE PEQUENOS PROJETOS DA EMBAIXADA BRITÂNICA NO BRASIL.CONTATO RUA CLETO CAMPELO, 255 – BAIRRO NOVO – 53030-150 – OLINDA (PE) – TEL. 81/3439-5215 – FAX 81/3429-3517 – WWW.CNMP.ORG.BR – E-MAIL COMUNICAÇÃ[email protected].

FABIANA VIEGAS RAIMUNDO, de 20 anos, cursa a faculdade de Nutrição no Rio Grande do Sul

A universitária Fabiana Viegas Raimundo, de 20 anos, também tem uma atenção especial com a saúde, com ênfase na alimentação. “Tento cuidar bem da minha saúde”, diz a gaúcha, que cursa nutrição na Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul. “Na faculdade, aprendi muitas coisas e mudei alguns hábitos alimentares. Sou mais cuidadosa e evito alimen-tos com agrotóxico e alguns tipos de gordura que fazem mal ao nosso organismo”, diz ela.

Mas pesquisas do Ministério da Saúde detectaram mudanças para pior nos hábitos alimentares dos brasileiros nos últimos 30 anos. O consumo de feijão, por exemplo, caiu cerca de 30%, enquanto o de refrige-rantes quadruplicou e o de embutidos triplicou. Paralelamente, aumentam entre os jovens os chamados trans-tornos alimentares, como obesidade, anorexia (deixar de ingerir alimentos) e bulimia (ingestão de alimento segui-da de vômito). “O culto ao corpo nessa fase da vida é muito intenso. A mídia vende uma imagem do corpo perfeito e há muitas cobranças da socieda-

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de”, diz a nutricionista paulista Janice Chencinski. Ela explica que, na fase entre os 15 e os 24 anos, é muito importante se ter uma alimentação equilibrada, pois, assim, fazemos uma reserva de nutrientes que será valiosa na idade adulta. “Os maus hábitos alimentares, aliados ao sedentarismo, são responsáveis por um aumento de problemas que, antes, eram próprios de adultos, como diabetes tipo 2, pressão alta e doenças cardiovasculares”, diz Janice.

Além do corpo “Acho que a maioria dos jovens não tem noção sobre

os cuidados com a própria saúde”, diz a pernambucana Rafaela Gomes Vieira de Paula, de 19 anos, que concluiu o ensino médio e o curso Jovens Educadores em Saúde Integral do Centro Nordestino de Medicina Popular, uma organização não-governamental focada na questão da saúde (leia mais sobre Rafaela no box O futuro é agora). “Com esse curso, tentamos mostrar aos jovens que o

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“Sempre tive atenção com a minha saúde. Acho que me cuido bem. Não faço extravagâncias e tento estar bem física, mental e espiritualmente. Acho que foi isso que fez com que eu me aproximasse do Centro Nordestino de Medicina Popular, uma organização não-governamental, com sede em Recife, que luta pela efetivação das polí-ticas públicas de saúde. No ano passado, terminei com outros 59 colegas o projeto Jovens Educadores em Saúde Integral. O curso foi uma continuidade da minha vivência com juventude e saúde. Em seguida, fomos atuar como multiplicadores de informações sobre saúde integral em seis escolas públicas da região metropolitana de Recife. Conversamos com os alunos sobre diversos temas, como gravidez, sexualidade, violência e drogas. Para mim, o consumo de drogas é um dos problemas mais sérios da juventude. Acho que a maioria dos jovens não entende o conceito de saúde integral, que considera as várias dimensões do ser humano. Para sermos saudáveis, além de não estarmos doentes, é importante que estejamos em harmonia também com as pessoas, tanto as da nossa rua quanto nossos familiares. Essas relações são importantes e também contribuem para o nosso bem-estar e para a manutenção da nossa saúde.”

INSTITUTO REAÇÃOREGIÃO DE ATUAÇÃO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.PROPOSTA PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS DE COMUNIDADES DE BAIXA RENDA POR MEIO DO ESTÍMULO À PRÁTICA DE ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO.JOVENS ATENDIDOS 980.APOIO PREFEITURA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, SPORTV, UNIVERSIDADE GAMA FILHO, REDE GLOBO, BISCOITOS PIRAQUÊ, ENTRE OUTROS.CONTATO CENTRO DE CIDADANIA RINALDO DE LAMARE, AV. NIEMEYER 776 – SÃO CONRADO – 22451-260 – RIO DE JANEIRO (RJ) – TEL. 21/3111-1146 – WWW.INSTITUTORACAO.ORG.BR – E-MAIL [email protected].

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RAFAELA GOMES VIEIRA DA CUNHA, 19 ANOS,

participa dos projetos do Centro Nordestino de

Medicina Popular, em Pernambuco

conceito de saúde vai além dos cui-dados com o próprio corpo. Abrange também os cuidados com o coletivo. É um conceito ampliado que envolve mais conhecimento e aceitação de nós mesmos, o estabelecimento de rela-ções mais solidárias e tolerantes com os outros, e o extremo respeito com o meio ambiente”, diz Nilsa Barbosa de Lira Casé, educadora do projeto.

Uma das principais temáticas do curso foi a gravidez na adolescência. A preocupação é justificada. “Nos últimos anos, houve um aumento da incidência de gravidez entre meninas de 10 a 14 anos, um leve declínio entre adolescentes entre 15 e 19 anos e uma redução um pouco mais acentua-da entre jovens de 19 a 25 anos”, diz o hebiatra Walter Marcondes Filho.

Vários programas funcionam em todo país para pres-tar atendimento a essas jovens. Mas em Pernambuco, um projeto pioneiro desenvolvido pelo Instituto Papai tem como alvo os jovens pais. “Nossa maior preocu-pação é a paternidade na adolescência. Fazemos um trabalho de acolhimento e, ao mesmo tempo, informa-tivo. Queremos transmitir referências positivas do que é ser pai”, diz o psicólogo pernambucano Jorge Lyra, coordenador do Instituto Papai.

Os jovens que participam do programa são “fi sgados” na sala de espera do serviço de pré-natal e puericultura da Maternidade da Encruzilhada, do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, da Universidade Estadual de Pernambuco, em Recife. As reuniões são semanais e o tema de discussão é escolhido no dia pelos par-ticipantes. O pernambucano Edmilson Pires da Silva, de 19 anos, participou de quatro reuniões durante a gravidez de sua namorada. “Para mim, foi muito bom, pois me deu mais segurança para enfrentar aquele momento. A gravidez me deixou muito abalado e, ao

mesmo tempo, feliz. Sempre quis ter um fi lho”, diz ele. “Nos encontros, tirei muitas dúvidas e aprendi que o pai deve sempre estar presente e apoiar a companheira para que ela se sinta mais forte e segura.”

Ultrapassando obstáculosForça e segurança são necessários

sempre que surgem desafi os. A ba-talha por uma vida normal faz parte do cotidiano do estudante paulista Guilherme da Rocha Leite, de 20 anos. Há quatro anos ele sofreu um acidente e fi cou tetraplégico. “Estava brincando na piscina do prédio de um amigo. Quando mergulhei, bati a cabeça no fundo. Na hora, perdi o movimento das pernas e dos braços”, diz ele. Lesões na medula decorren-tes de mergulhos em piscina ou mar são mais comuns do que se possa pensar e vitimam centenas de jovens todos os anos.

“No início, tudo fi cou muito con-fuso. Fiquei muito chateado, mas não me deixei abater. Depois de um mês, já estava saindo de novo pra

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A ESTUDANTE PAULISTA NATÁLIA BELLIN,de 16 anos, aprendeu a conviver com o diabetes

PROGRAMA DE APOIO AO JOVEM PAI DO INSTITUTO PAPAIÁREA DE ATUAÇÃO PERNAMBUCO.PROPOSTA DESENVOLVER AÇÕES EDUCATIVAS, INFORMATIVAS E POLÍTICAS JUNTO A HOMENS JOVENS EM SITUAÇÃO DE POBREZA, ASSIM COMO ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE MASCULINIDADE A PARTIR DA PERSPECTIVA FEMINISTA E DE GÊNERO.JOVENS ATENDIDOS 69 EM 2004 E 80 EM 2005.APOIO MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO FORD, FUNDAÇÃO MACARTHUR, OXFAM, SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, FNUAP, PROGRAMA NACIONAL DE DST/AIDS E SAVE THE CHILDREN.CONTATO RUA MARDÔNIO DE A. NASCIMENTO, 119 L – VÁRZEA – 50741380 – RECIFE (PE) – TELEFAX: 81/3271- 4804 – WWW.PAPAI.ORG.BR – E-MAIL [email protected].

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ASSOCIAÇÃO DE DIABETES JUVENILÁREA DE ATUAÇÃO BRASIL.PROPOSTA PROMOVER EDUCAÇÃO EM DIABETES PARA SEUS PORTADORES, FAMILIARES, PROFISSIONAIS DE SAÚDE E COMUNIDADE, FAVORECENDO A QUALIDADE DE VIDA.JOVENS ATENDIDOS 1.500 POR MÊS.APOIO ABBOTT MEDSENSE, BD-BOM DIA, SANOFI AVENTIS, DOCE MUNDO DIET, DOCES HUÉ, HOTMA, JOHNSON&JOHNSON, MERCK E ROCHE, ENTRE OUTROS.CONTATO: RUA PADRE ANTONIO TOMAS, 213 – ÁGUA BRANCA – 05003-010 – SÃO PAULO (SP) – TELS. 11/3675-3266 0800-100627 – WWW.ADJ.ORG.BR – E-MAIL [email protected].

O CARIOCA RODRIGO BORGES DA SILVA, de 24 anos, pratica jiu-jitsu desde pequeno e é monitor do esporte

balada com os amigos. Com o tempo, aprendi a conviver com minha nova condição”, conta. No ano passado, Guilherme criou com dois amigos – Willian Coelho, também defi ciente, e Luka – o Movimento Superação (www.movimentosuperacao.com.br), uma associação que luta pelos direi-tos dos portadores de necessidades especiais. “O foco da nossa batalha é a acessibilidade em lugares públicos e privados. Queremos simplesmente usufruir do direito básico de ir e vir. Hoje, esse direito é uma lenda”, diz Guilherme.

Mais livre se sente agora a estu-dante paulista Natália Bellin, de 16 anos. Portadora de diabetes do tipo 1, ela precisa fazer aplicações diá-rias de insulina. “Descobri que tinha diabetes em 2001. Meu mundo caiu. Só pensava que nunca mais poderia comer doce e que teria que tomar injeções todos os dias. Também me preocupava com que os outros iam achar ou pensar de mim”, conta. “Com o tempo, descobri que não era nada disso. Comecei a freqüentar a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ),

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em São Paulo, e vi que muitos outros jovens tinham o mesmo problema. Passei a encarar de outro jeito. Não apenas como uma doença chata, mas como uma responsabilidade. Se eu não me cuidar, o prejuízo será todo meu”, diz Natália, que hoje trabalha na ADJ tiran-do dúvidas e prestando esclarecimentos pelo serviço telefônico da entidade. “O mais importante para quem tem diabetes é ser consciente de seus limites. Com a doença, aprendi que é possível ter uma vida normal e até mais saudável do que outros colegas que não têm nenhum problema.”

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mestresmestres

ENSINANDO QUALIDADE DE VIDA

Chamar João de Paula, Marizélia Ribeiro e Maria Antônia do Prado de profes-sores, simplesmente, transformou-se – para sorte de muita gente – numa meia verdade. Os três fi zeram das próprias vidas uma aula permanente de como contri-buir para o bem-estar geral das comunidades nas quais atuam: eles se entregam a mudar o destino de jovens brasileiros com menos chances de acesso a uma vida de melhor qualidade, seja no atendimento médico, no compartilhamento de uma forma de expressão artística ou na melhoria do ambiente escolar. O trabalho deste trio de mestres é a maior de todas as lições.

Pela saúde, não pela doença

Quando Marizélia Ribeiro formou-se pediatra, 20 anos atrás, sonhava trabalhar numa unidade de terapia intensiva. “Bonito era atender o grave, trabalhar com a doença, com o diferente”, recorda a médica, que se espantava em ver os pacien-tes, especialmente as crianças, voltarem sempre com os mesmos problemas. Daí nasceu o questionamento. “Eu me perguntei se estava somente aliviando doenças, e não melhorando vidas.”

por _Aydano André Motta

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AS ATIVIDADES QUE PROPORCIONAM MAIOR BEM-ESTAR AOS JOVENS SÃO A MAIOR LIÇÃO DE TRÊS PROFESSORES

Um dia, de férias, ela foi conhecer um programa de saúde escolar no interior do Maranhão, onde nasceu e trabalha. O passeio estendeu-se por três anos e mudou para sempre a vida da médica, que passava a semana inteira nas escolas das pequenas cidades do estado, ministrando cur-sos de prevenção, conscientização e atendimento ambulatorial.

Faltava, porém, continuidade. “Não era exatamente o que a população precisava”, diz Marizélia, que fez da saúde escolar tema de sua disser-tação de mestrado. Foi o início dos projetos Jovens de Bem com a Vida

e Adolescentro, que já benefi ciaram 10 mil jovens na Vila Embratel, subúrbio pobre de São Luís, próximo à Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Em 1999, a Unicef deu fi nanciamento à iniciativa, vol-tada para adolescentes grávidas. Foi o ponto de partida para a materialização de parcerias que mantiveram e ampliaram o programa. Hoje, professora da Faculdade de Medicina da UFMA, Marizélia faz das ações sociais também um instrumento de ensino acadêmico – um grupo de universitários aprende a teoria na prática, atendendo a população do bairro. “Valorizamos o ensino no ambiente comunitário, para conhecer a situação das pessoas por inteiro”, diz. “Não adianta vir para o lugar pobre, atender e ir embora. É preciso melhorar a educa-ção, a convivência familiar, o acesso à informação, dar condições para geração de trabalho e renda.”

O programa acompanha jovens gestantes, ensina a prevenir a gravidez e as doenças sexualmente trans-missíveis, além de prever visitas também da família das adolescentes, com direito a atendimento para as crianças e contato permanente com psicólogos, tudo no Adolescentro, um centro de atendimento de jovens.

“Não precisa começar grande, importante é começar, fazer alguma coisa. A satisfação de quem faz e de quem recebe é a maior recompensa”, diz ela, que lamenta a falta de política de planejamento familiar no Brasil – “Recebo 1.200 preservativos por mês, dá apenas para 120 jovens, é muito pouco” –, mas felicita-se por sua opção. “Penso a medicina pelo lado da saúde, não da doença. É bom ser médico para melhorar vidas, e melhorar a sociedade também.”

Contra os estereótiposPara João de Paula, a batalha

começou 38 anos atrás, ao nascer cego. A necessidade de superação o acompanha desde a maternidade, e foi aprimorada com a ajuda da fi loso-fi a e da música. “A fi losofi a me ajuda a entender a sociedade”, explica ele, paulista que vive em Florianópolis. “Percebia um mundo que não era pensado para pessoas como eu, o que gerava em mim um confl ito e uma enorme sensação de impotência.”

Para combater a idéia de incapaci-dade que vem atrelada à defi ciência, João de Paula tornou-se professor, que junta fi losofi a e música para aju-dar seus alunos a mudar essa idéia. “Se usamos recursos específicos para as pessoas cegas, elas terão o mesmo desenvolvimento de quem não tem a defi ciência”, prega ele. E prova que a igualdade é viável. Graças a adaptações pedagógicas basea das no método braile, os alunos com deficiência conseguem resultados semelhantes aos demais.

Na Escola Básica Presidente Roose-velt, em Coqueiros, periferia da capital catarinense, onde João de Paula leciona, ele ensina música a estudantes sem defi ciência. “Há defi ciências sociais mais comprometedoras do que a físi-ca”, constata, referindo-se aos alunos do ensino fundamental e médio, que recebem aulas de música fora do tur-no normal. “Eles voltam para a escola e fi cam longe da rua, da convivência com o perigo e a violência.”

Outro trabalho voluntário de João de Paula, realizado pela Associação de Atendimento à Criança Defi ciente Visu-al, benefi cia alunos da Escola Tradição, no bairro Trindade, em Florianópolis. As

Maria Antônia do Prado implantou um programa de cidadania, ética e saúde social na Escola Estadual Prof. José Josende, em Mogi das Cruzes (SP)

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aulas de música (violão, sobretudo) e fi losofi a juntam estudantes com defi -ciência e os que têm visão normal. “O estudante cego não é desanimado. Ele depende dos estímulos que recebe, em casa e na escola”, diz.

O professor lembra que o mundo é organizado para os que enxergam e as informações precisam ser leva-das também às pessoas cegas. “O esforço é para oferecer estímulos que levem o aluno com defi ciência a entender o mundo”, acrescenta, explicando que o sucesso depende do processo de habilitação, que pas-sa por família, amigos e escola. “Só professor não resolve”, avisa.

Sua luta permanente é contra o estereótipo. “A deficiência virou incapacidade no imaginário popular. Para ganharmos espaço e força, precisamos de oportunidades. É o

que busco dar a meus alunos, todos eles”, diz João de Paula, que por seu trabalho recebeu o Prêmio Exemplo Voluntário 2005, do Instituto Voluntários em Ação, de Florianópolis.

O bom, o bem e o belo

O estereótipo de diretora da escola como a gerente de uma instituição que zela por ordem e boas notas não cabe, nem de longe, em Maria Antônia do Prado. Há qua-tro anos no comando da Escola Estadual Professor José Josende, em Mogi das Cruzes (SP), ela implantou uma proposta pedagógica que mudou por completo a vida de

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JOVENS DE BEM COM A VIDAÁREA DE ATUAÇÃO VILA EMBRATEL, EM SÃO LUÍS (MA).PROPOSTA ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR, COM AJUDA À COMUNIDADE, AULAS PROFISSIONALIZANTES DE COMPUTAÇÃO, ATENDIMENTO MÉDICO E PREVENÇÃO A DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS.JOVENS ATENDIDOS 3.500 PESSOAS POR ANO.APOIO SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO LUÍS, POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO E FUNDAÇÃO MUNICIPAL DA CRIANÇA E ASSISTÊNCIA SOCIAL (FUNCAS).CONTATO AVENIDA SARNEY FILHO, S/N° – VILA EMBRATEL – 65043-840 – SÃO LUÍS (MA) – TEL: 98/32282634 - E-MAIL: [email protected].

João de Paula é professor regular de FilosoÞ a e dá aulas de música e violão a alunos com e sem deÞ ciência, em Florianópolis (SC)

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ASSOCIAÇÃO DE ATENDIMENTO E INTEGRAÇÃO À CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL MANOELLA BASTOS SILVAÁREA DE ATUAÇÃO TRINDADE, EM FLORIANÓPOLIS (SC).PROPOSTA ATENDIMENTO A CRIANÇAS DEFICIENTES VISUAIS E FAMILIARES, PARA INTEGRÁ-LOS À SOCIEDADE, DE FORMA SISTEMÁTICA, COM ATIVIDADES PSICOLÓGICAS, DE RECUPERAÇÃO DA AUTO-ESTIMA, E AÇÕES SOCIAIS.JOVENS ATENDIDOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL DE 0 A 12 ANOS E SEUS FAMILIARES.APOIO COLÉGIO TRADIÇÃO.CONTATO RUA CÔNEGO BERNARDO, 327 – TRINDADE – 88036-570 – FLORIANÓPOLIS (SC) – TELS: 48/32342253 OU 48/32346321 – E-MAIL: [email protected].

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MOBILIZAÇÃO PARA VALERÁREA DE ATUAÇÃO BAIRRO JARDIM AEROPORTO 3, MOGI MIRIM (SP).PROPOSTA PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE ATENDIMENTO A ALUNOS E A SUAS FAMÍLIAS, PARA LEVAR ÉTICA E CIDADANIA E MELHORAR A AUTO-ESTIMA, POR MEIO DE AÇÕES COMUNITÁRIAS, ATENDIMENTO MÉDICO PREVENTIVO, PALESTRAS E ATIVIDADES DE INTEGRAÇÃO.JOVENS ATENDIDOS 1.000 ALUNOS POR ANO.APOIO UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE, UNIVERSIDADE BRÁS CUBAS, GENERAL MOTORS, PIZZARIA JAPÃO E COMÉRCIO DE FRUTAS SHIBATA.CONTATO RUA SALGADO FILHO, 4 – JARDIM AEROPORTO 3 – 08761-260 – MOGI DAS CRUZES (SP) – TELS: 11/47249101 OU 11/47216116 – E-MAIL: [email protected].

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estudantes e suas famílias. Chamada 3B – de Bom, Bem e Belo, traduções para aprendizado, comportamento ético e melhoria do ambiente –, a proposta desembocou no programa Mobilização pra Valer, que benefi cia mil estudantes por ano.

Os resultados são evidentes. Em 2002, o resultado da escola no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado) era de 32,6%. A média da última aferição chegou a 69,7%. “Hoje eles não são alunos, são jovens protagonistas”, orgulha-se a professora, feliz diante do ganho de auto-estima de estudantes e suas famílias, moradores de uma região muito pobre.

No início dessa jornada social, foram os alunos que mergulharam primeiro na idéia, vista a princípio com hesitação por alguns dos 45 professores da escola. “Trabalhamos a ética e a cidadania, mas não podía-mos falar disso sem envolver a saúde pública”, diz Maria Antônia, referindo-se à parceria com o posto de saúde do município, que rendeu palestras de profissionais. Os temas foram doenças sexualmente transmissíveis e planejamento familiar, além de for-necimento de medicamentos básicos e até encaminhamento clínicos.

A pedagogia dos projetos incluía aulas de música clássica, dança e va-lorização das habilidades dos jovens, o que acabou por contaminar a todos. Houve ainda a introdução de peque-

A médica e professora universitária Marizélia Ribeiro coordena o programa Jovens de Bem com a Vida e o Adolescentro na Vila Embratel, em São Luís (MA)

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nas mudanças de comportamento, às vezes singelos gestos de cordialidade, como ter sempre chá e biscoitos para servir aos pais dos alunos que visitavam a escola. “Quando recebemos alguém importante, preparamos alguma coisa. Adotamos esse princípio até hoje, sempre no almoço comunitário”, conta Maria Antônia.

Ano passado, uma nova parceria, com a General Motors, rendeu um curso de empreendedorismo para 35 alunos. E três deles ganharam bolsas de estudo na Universidade Brás Cubas, de Mogi das Cruzes. Além disso, 13 alunos venceram o concurso Jovens Protagonistas do Estado de São Paulo, com projetos de gestão ambiental e solidariedade, dentro do Game SuperAção Jovem, desenvolvido pelo Instituto Ayrton Senna e adotado no Programa Escola da Família.

É assim que as vitórias vão chegando a uma comuni-dade que a ação pelo bem-estar físico, psíquico e social tirou do caminho das derrotas.

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caminho das pedras

A psicóloga Raquel Barros sempre quis usar seus conhecimentos em prol das pessoas em situação de risco social. Com esse propósito, embarcou para a Itália em 1992 para estudar a rede de bem-estar social dos países europeus. Foi trabalhar em Veneza, na Comunidade Terapêutica Villa Renata, instituição dedicada ao atendimento de jovens usuários de drogas. Lá, a brasileira participou da implantação, em 1996, da Casa Aurora, que abriga as mulheres com dependência química e seus fi lhos. No lar comunitário, elas recebem tratamento psicoterápico e são estimuladas a se rela-cionar com seus bebês. Raquel passou sete anos na Itália. Quando voltou, trouxe na bagagem a semente que germinou a Lua Nova.

NO INTERIOR PAULISTA, A ASSOCIAÇÃO LUA NOVA APÓIA JOVENS MÃES EM SITUAÇÃO DE RISCO NA DESCOBERTA DA MATERNIDADE

LIÇÃO MATERNAL

Por_Flávia OliveiraFotos _Gustavo Lourenção

Resumida assim, a constituição da Lua Nova parece simples. Não foi. Renata desembarcou em São Paulo casada havia três anos com um italiano. Ao mesmo tempo em que mergulhava nas questões da maternidade, por conta de seu trabalho na Casa Aurora, descobriu que não poderia ser mãe. Em vez de desistir, dobrou a aposta no desafi o de aproximar mães e fi lhos, fazendo com que esta relação as tirassem do tortuoso caminho das drogas.

Nos primeiros anos de volta ao Brasil, Raquel colaborou com proje-tos ligados também a meninas em situação de risco. Mas a experiência com a Villa Renata ainda a comovia

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– e a motivava. Não tardou a ter a idéia de repetir aqui o modelo a que fora apresentada na Europa. Só que numa escala muito mais complexa do que uma nação desenvolvida oferece: “Queríamos reproduzir a experiência no Brasil, onde o risco social está mais relacionado à po-breza do que às drogas. De imediato, percebi o contraste entre a estrutura de investimento social italiana e a brasileira. Para fi car num exemplo simples: lá, na hora de decorar um quarto, nós escolhíamos a cor das paredes e dos móveis, de modo a criar um ambiente confortável, acolhedor para os bebês. Aqui, agradecemos o sofá usado que nos foi doado”.

Nem tudo é drogaFosse somente isso, seria fácil. Raquel conseguiu

uma chácara na pequena Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo, e pensou em abrigar na casa 25 mães e 25 crianças. Planejou os pares sem se dar conta de que, diferentemente da Itália, as jovens aqui, em geral, têm mais de um fi lho. Lá, a atividade mais intensa era a psicoterapia, para livrar as mulheres do vício. Aqui, elas nem sempre têm problemas de drogas. O grave mesmo é a pobreza, a alimentação defi ciente, a falta de moradia, de vínculos familiares.

São moças como M. A. F. S., de 23 anos, criada pela avó materna e uma tia, junto com dois irmãos mais velhos, no interior de Pernambuco. A jovem sofreu maus tratos na infância, perdeu o contato com a irmã mais velha, que fugiu de casa, e aos 11 anos foi apresentada às drogas.

Aos 19 anos, M. concordou em se internar numa clínica de reabilitação de dependentes químicos em

Salvador, capital baiana. Ao fi m do tratamento, mudou-se para Diade-ma (SP), onde foi morar com um tio. Nove meses depois, engravidou e foi expulsa de casa: “Para eles, além de drogada, eu era motivo de vergonha, por ser mãe solteira”, diz.

Sem o apoio familiar, M. voltou às drogas. Acumulou dívidas com tra-fi cantes e foi torturada com o fi lho, de apenas 2 meses. O corpo, ainda hoje, exibe marcas. Com medo, fugiu para um convento na Paraíba, de onde foi encaminhada à Associação Lua Nova. Chegou em agosto de 2002 e se espantou com as regras da casa – jamais tinha se submetido à disciplina. De tão exausta física e

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emocionalmente, decidiu ficar no programa. “A diferença fundamental foi me sentir valorizada na comu-nidade. Passei boa parte da minha vida ouvindo que eu era imprestável, inútil, incapaz, que só fazia coisas erradas. De repente, estava com pessoas que acreditavam em mim, se preocupavam comigo e me tratavam com carinho e respeito”, conta.

Foi nesse universo de exclusão social e de baixa auto-estima que Raquel Barros mergulhou para pôr de pé a Lua Nova. Diante da realidade brasileira, o modelo italia-no acabou servindo basicamente como inspiração: “No Brasil, é muito mais simples entender o problema, que normalmente tem a ver com questões de sobrevivência. Difícil é dar conta de toda essa necessidade”, resume a fundadora da Lua Nova, batizada com o nome de uma das quatro fases do satélite, que simbolicamente se relaciona com emoções femininas, maternidade e transformação.

Esforço reconhecidoNos cinco anos de funcionamento, a Lua Nova já é

reconhecida como uma das mais efi cientes organiza-ções da sociedade civil no país. Recebeu em 2002 o Prêmio Criança Abrinq, na categoria convivência familiar e comunitária. Em 2005, seu projeto Empreiteira-Escola, de construção civil, ganhou o Prêmio Empreendedor

Social, da McKinsey. Hoje, a Lua Nova abriga 22 mães e 37 crianças. Oferece às participantes, além da proposta original de fortalecer o vínculo entre mães e fi lhos, abrigo e alimentação; atendimento sociopedagógico e psi-coterápico; e qualifi cação profi ssional para permitir que as mulheres, ao saírem de lá, tenham condições de se manter e aos fi lhos. Há cursos de silk screen, costura, brindes, confecção de bonecas, produção de cosméticos, medicamentos e alimentos fi toterápi-cos e, o mais recente, fabricação de tijolos e técnicas de construção civil. As atividades beneficiam também famílias não abrigadas na Lua Nova.

M. participou do projeto Criando Arte e hoje trabalha com adolescentes no grupo de redução dos danos do uso do álcool e de drogas. Coordena um grupo de teatro que se apresenta em bairros de Sorocaba, onde vive com o fi lho desde que saiu do acolhimento – o período médio de permanência na casa é de nove meses, que pode ser prorrogado de acordo com a idade e

ASSOCIAÇÃO LUA NOVAÁREA DE ATUAÇÃO INTERIOR DE SÃO PAULO.PROPOSTA ACOLHER MÃES E FILHOS EM SITUAÇÃO DE RISCO, OFERECENDO ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO INDIVIDUAL E EM GRUPO, ASSISTÊNCIA À SAÚDE, EDUCAÇÃO, REFORÇO ESCOLAR, NOÇÕES ESTÉTICAS, MOMENTOS LÚDICOS E CULTURAIS, PROFISSIONALIZAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA, ALÉM DAS ATIVIDADES DE CUIDADOS COM A CASA E COM AS CRIANÇAS.JOVENS ATENDIDAS 22 JOVENS E 37 CRIANÇAS.APOIO SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO E COOPERATIVA VILLA RENATA.CONTATO RUA JOSÉ BATISTA MARTINS, 170 – MIRANTES DE IPANEMA – 18190-000 – ARAÇOIABA DA SERRA – TEL : 15/3297-7303 – WWW.LUANOVA.ORG.BR.

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as necessidades das meninas. “Muitas moças”, explica Raquel, “são menores e, sem família, teriam de voltar às ruas, se deixassem a casa.”

A jovem mãe já representou a Lua Nova num se-minário internacional e é autora de um livro, em que conta sua história de vida e fala sobre a experiência na associação. Ela confessa que chegou a pensar em entregar o fi lho para a adoção, mas hoje vibra com a maternidade: “Ficar com ele foi a melhor e a mais ma-ravilhosa decisão de minha vida. Aprendi que não basta dar banho, alimentar, vestir. É preciso dar carinho, coisa que nunca recebi”.

Alegria maternaA proximidade com os fi lhos também é a razão da

alegria de P. O. S., de 18 anos, mãe de um casal, de 1 e 3 anos. Ela não conheceu os pais e cresceu num abrigo, no Guarujá, litoral de São Paulo. Ficou na Lua Nova por quase dois anos e, neste início de ano, se preparava para mudar com os dois fi lhos para a casa alugada que vai dividir com a amiga S., também abrigada na Lua Nova com dois fi lhos. No abrigo, elas recebem uma bolsa de R$ 100. Ao sair, continuarão trabalhando na Empreiteira Escola, recebendo, cada uma, um salário mensal. “Com esse dinheiro, vai dar para pagarmos o aluguel até as nossas casas fi carem prontas. Nós mesmas estamos construindo. Esse projeto foi a minha salvação”, diz.

No projeto de construção civil, as mulheres (abrigadas ou não) aprendem a fazer tijolos ecológicos e a construir uma casa, incluindo a instalação elétrica, ao custo de R$ 9 mil. Na primeira fase do projeto, 12 jovens (duas internas) da Lua Nova estão sendo capacitadas. O passo seguinte é vender os tijolos e ensinar as comunidades vizinhas a construir suas próprias casas e, a partir daí, multiplicar o projeto, especialidade de Raquel Barros.

Ela começou sua jornada sozinha, num país estrangeiro. Importou a semente e adaptou-as às condições brasileiras. Viu a semente fl orescer e, agora, assiste à multiplicação de sua ONG e de sua família. Ela, que nunca temeu um desafio, hoje é mãe de gêmeas, de 3 anos.

INSPIRADA EM UM MODELO ITALIANO, A LUA NOVA TEVE DE SE ADAPTAR AO PADRÃO BRASILEIRO DE INVESTIMENTO SOCIAL E APRENDER A LIDAR COM JOVENS MÃES CUJOS MAIORES PROBLEMAS COSTUMAM SER A POBREZA E A FALTA DE VÍNCULOS

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No alto, jovens embalam os biscoitos feitos na cozinha da associação; acima, o quarto dos bebês; à direita, o trabalho na olaria para a construção de casas próprias; na página oposta, uma sessão de atividade com as crianças

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banco de práticas

por_Leusa Araujo

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CONDIÇÕES DE BEM-ESTAR

Em relação à saúde, mais do que garantir o acesso aos serviços hospitalares e médicos para as situações de doença, é preciso avançar na obtenção de condições de vida que proporcionem um bem-estar integral. Com essa perspectiva, ONGs e instituições públicas acreditam que a melhoria da saúde dos jovens depende da articulação de várias ações educativas. Por isso apostam numa série de intervenções que pretendem promover o esporte não só como preparação física de atletas, mas como diversão e integração no mundo. Isso vale também para divulgar o prazer do sexo seguro e a gravidez planejada. E vale ainda para assegurar a liberdade de ir e vir numa sociedade menos violenta.

A receita do Projeto Kuratomoto, um programa de edu-cação pelo esporte no Mato Grosso, envolve a alegria e a criatividade – e não só a preparação física do atleta, como é mais comum. Aprender brincando, por meio de jogos e modalidades esportivas, cura muitos males: adolescentes oriundos de famílias de baixa renda, do município de Cá-ceres, por exemplo, vêem seus índices de aproveitamento escolar crescer e se fortalecer – assim como os próprios músculos e a capacidade de viver em grupo.

Sexo seguro também é saúde. Não é uma prescrição fácil quando se trata de convencer meninos que se prostituem nas ruas de uma metrópole, como o Rio de Janeiro. O Projeto Programa está há mais de 13 anos fazendo este corpo-a-corpo: alertá-los sobre o risco de doenças e violência a que estão submetidos.

Prazer sim, mas com planejamento – é o que repetem aos quatro cantos de Olinda as iniciativas de orientação para jovens do CAIS do Parto, num trabalho de prevenção e assistência à gravidez precoce. Esta é responsável, hoje, pela evasão escolar de 25% das meninas entre 15 e 17 anos.

Mas que boa saúde resiste ao medo e à possibilidade de se tornar vítima da violência? O Programa Fica Vivo!, de Minas Gerais, toca na questão e receita diversão, arte e educação, e integração entre jovens e forças policiais.

A seguir, saiba mais sobre esses projetos:

PROJETOS VISAM A PROMOÇÃO DA SAÚDE INTEGRAL

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Por mais de uma década o Projeto Programa vem concentrando seu trabalho junto a uma população pouco visada por ações educativas e de saúde: a dos garotos envolvidos com a prostituição. O alvo são jovens que têm na prostituição uma fonte eventual de renda, mas não se enquadram no perfi l do profi ssional do sexo, explica um dos coordenadores, o psicólogo Roberto Pereira, lembrando que a ação é necessária em ambos os casos, mas com diferentes abordagens. O jovem

Rio de Janeiro (RJ)

Projeto ProgramaInstituto IBISS

Ofi cinas de esporte, lazer, arte, cultura e comunica-ção oferecidas pelo programa Fica Vivo! são as portas de entrada para que outras práticas sociais solidárias sejam desenvolvidas por jovens vulneráveis à violência. “Tudo é feito em parceria com as comunidades e com temas levantados pelos próprios jovens”, diz Ludmila Faria, diretora do programa, reconhecido pela ONU como modelo de intervenção em áreas violentas. As ofi cinas oferecem teatro, dança de rua, grafi te, per-cussão, além de programas de capacitação visando a

Olinda (PE)

Ligeiramente Grávida,programa da CAIS do Parto

Esporte e saúde jogam no mesmo time no Projeto Kuratomoto, implementado pela Universidade do Es-tado do Mato Grosso (Unemat) com tecnologia social desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna, e que tem a chancela da Unesco. “O esporte é um dos eixos deste programa interdisciplinar, que também promove ati-vidades artísticas e ações de apoio à escolarização, orienta e faz prevenção de saúde”, diz a coordenadora Orozina Cândida de Freitas. Com a prática esportiva foi possível, por exemplo, fazer exames laboratoriais para

Cáceres (MT)

Projeto Kuratomotode educação pelo esporte

Há mais de 14 anos dedicada à causa da humanização do parto, treinando e organizando parteiras tradicionais em todo o país, era natural que o CAIS do Parto (Centro Ativo de Integração do Ser) atuasse também na edu-cação sexual de adolescentes e jovens, tanto no apoio a outras ONGs e às escolas municipais como por meio do projeto Ligeiramente Grávida, criado em 2004 para atender jovens grávidas de Olinda. Segundo a diretora Marla Carvalho, a gravidez precoce é abordada com um pré-natal psicológico, feito por meio de grupos de auto-

Belo Horizonte e interior

Programa Fica Vivo!, da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais

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redução da verminose, responsável pela fadiga durante os exercícios físicos. Ainda que o foco do projeto não seja a formação de atletas, nada impede que um Kuratomoto se torne campeão. E nas modalidades mais inusitadas, como o futvendavol, uma fusão do futebol com cabra-cega, em que socialização e cooperação con-

ajuda. O enfoque recai sobre os direi-tos reprodutivos e as condições bio-lógicas e psicológicas que envolvem a gravidez, o parto e o nascimento das crianças. Ao contrário do que se pensa, a primeira gravidez da menina freqüentemente é desejada, como forma de escapar de condições de vida muito desfavoráveis: “Ela cuida

inserção produtiva de 5 mil jovens. Ao mesmo tempo, o policiamento é feito pelo Gepar (Grupamento Espe-cializado em Policiamento em Áreas de Risco) – uma polícia comunitária. Assim, promove-se a melhoria das relações da população com a polícia, fundamental para a mediação dos confl itos. Com isso, os jovens vão, aos

atingido pelo Projeto Programa está na faixa de 15 a 18 anos, é de baixa renda, com escolaridade de 5ª a 8ª série e, em geral, está desempregado. Quase nunca admite que está praticando um ato de prostituição: “Ele acredita que fazer um programa para obter alguma renda não o coloca na condição do profi ssional do sexo”, diz Pereira. Um dos objetivos do

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PROJETO PROGRAMA, DO INSTITUTO BRASILEIRO DE INOVAÇÕES EM SAÚDE SOCIAL (IBISS).ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO, NAS ÁREAS DA CENTRAL DO BRASIL, CAMPO DE SANTANA, CINELÂNDIA E CASTELO.PROPOSTA INTERVENÇÃO COMPORTAMENTAL JUNTO A JOVENS DO SEXO MASCULINO, ENVOLVIDOS NA PROSTITUIÇÃO DE RUA, VISANDO DESENVOLVER A PERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE, PROMOVER A ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE SEXO MAIS SEGURAS EM RELAÇÃO ÀS DST/AIDS E PROMOVER A REFLEXÃO SOBRE CIDADANIA.JOVENS ATENDIDOS 150 A 200 JOVENS, POR SEMANA.APOIO RECURSOS PRÓPRIOS DO IBISS. CONTATO IBISS – INSTITUTO BRASILEIRO DE INOVAÇÕES EM SAÚDE SOCIAL. AV. MAL. CÂMARA, 350/ 807 – CASTELO – RIO DE JANEIRO, RJ – WWW.IBISS.COM.BR.

principal benefi ciado pelo projeto”, diz Orozina. As ofi cinas são desenvolvidas por universitários bolsistas, de segun-da a quinta-feira: nas comunidades, para os pequenos, e no campus da Unemat, para os adolescentes. O pro-jeto servirá ainda de laboratório para o curso de Educação Física recém-criado na Universidade.

da casa e dos problemas domésticos. Prefere, então, morar com o marido e cuidar do seu próprio canto”, diz Marla. Mais tarde, entretanto, quando resolve retomar a vida de outra forma, acaba delegando a criação dos fi lhos para avós, tias etc. O Ligeiramente Grávida prepara a menina para o parto hospitalar (nessa faixa etária

poucos, rompendo com a estrutura de “guetos” e circulando com mais liberdade pelas regiões onde vivem. Resultado de uma parceria entre a iniciativa privada e o Crisp (Centro de Estudos de Criminalidade e Seguran-ça Pública, da Universidade Federal de Minas Gerais, responsável pela metodologia), o Fica Vivo! se tornou,

projeto é chamar a atenção para o fato de que ele está igualmente sujeito a infectar-se com doenças sexualmente transmissíveis e sofrer violências. Em vez de apenas entregar preservativos e cartilhas, agentes de saúde treinados e supervisionados por psicólogos ten-tam estabelecer vínculos de confi ança com os jovens. Algumas estratégias

tam mais pontos do que dribles e gols. Mas há lugar para o karatê, a capoeira e o jogo do bastão indígena. Aliás, essa diversidade do programa se expressa no próprio nome: kura é “povo” na língua dos índios bakairi e tomo quer dizer “amigo”, em japonês. “O ‘povo amigo de todos’ traduz bem a mis-tura étnica do município de Cáceres,

a legislação não permite parto domi-ciliar), acompanha a amamentação, a adaptação ao bebê, e introduz a discussão sobre o planejamento familiar, com acesso aos métodos anticonceptivos. Ao mesmo tempo, as meninas são treinadas como agentes multiplicadoras, que repassam as informações para a comunidade.

em 2003, uma política pública, coorde-nada pela Secretaria de Defesa Social, por intermédio da Superintendência de Prevenção à Criminalidade de Minas Gerais. No primeiro semestre de 2005, os índices de criminalidade no estado caíram 12% em relação ao mesmo período de 2004, chegando a 22% nas áreas de ação do Fica Vivo!.

sempre acabam atraindo a atenção dos adolescentes: futebol na praia de madrugada; notas falsas de 50 reais com dicas sobre sexo seguro no verso. “O vínculo é condição para que outras ações educativas possam acontecer, como acesso aos serviços de saúde na rede pública, obtenção de documentos etc.”, diz Pereira.

PROJETO KURATOMOTO ÁREA DE ATUAÇÃO BAIRROS CAVALHADA I, II E III, NA VILA IRENE, EM CÁCERES (MT). PROPOSTA EDUCAÇÃO PELO ESPORTE, ALIADO À ARTE, À SAÚDE E APOIO À ESCOLARIZAÇÃO, EM ATIVIDADE DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ORIUNDOS DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA E DE ESCOLAS PÚBLICAS.JOVENS ATENDIDOS 60 ALUNOS DA 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO.APOIO: INSTITUTO AYRTON SENNA, UNIVERSIDADE DO ESTADO DO MATO GROSSO (UNEMAT), E ENTIDADES PRIVADAS E CLUBES DE SERVIÇOS LOCAIS.CONTATO ADMINISTRAÇÃO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO –TEL.: 65/3223-3995; PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA – TEL. 65/3221-0046 – E-MAIL: [email protected].

LIGEIRAMENTE GRÁVIDA, PROJETO DO CAIS DO PARTO (CENTRO ATIVO DE INTEGRAÇÃO DO SER)ÁREA DE ATUAÇÃO OLINDA (PE) E MUNICÍPIOS VIZINHOS. PROPOSTA ACOMPANHAMENTO DE JOVENS GRÁVIDAS PARA ORIENTAÇÃO SOBRE OS DIREITOS REPRODUTIVOS E AS CONDIÇÕES BIOLÓGICAS E PSICOLÓGICAS QUE ENVOLVEM A GRAVIDEZ, O PARTO E O NASCIMENTODAS CRIANÇAS.JOVENS ATENDIDOS 15 JOVENS DE 16 E 17 ANOS. CONTATO RUA MARIA RAMOS, 1212 – BAIRRO NOVO – OLINDA (PE) – TEL.: 081/3429-8661.

PROGRAMA DE REDUÇÃO DE HOMICÍDIOS FICA VIVO!, DA SUPERINTENDÊNCIA DE PREVENÇÃO À CRIMINALIDADE, DA SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL DE MINAS GERAISÁREA DE ATUAÇÃO 15 NÚCLEOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE E NO INTERIOR (UBERLÂNDIA, IPATINGA, MONTES CLAROS, GOVERNADOR VALADARES).PROPOSTA ORGANIZAÇÃO DE UMA REDE COMUNITÁRIA DE PROTEÇÃO SOCIAL COM A PARTICIPAÇÃO DE INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS E NÃO-GOVERNAMENTAIS E DA COMUNIDADE LOCAL, PARA INTERVIR NA REALIDADE SOCIAL, DIMINUINDO OS ÍNDICES DE HOMICÍDIOS E MELHORANDO A QUALIDADE DE VIDA DAS COMUNIDADES. JOVENS ATENDIDOS 5 MIL JOVENS DE 14 A 24 ANOS.APOIO: POLÍCIA MILITAR, POLÍCIA CIVIL, MINISTÉRIO PÚBLICO, PREFEITURAS MUNICIPAIS, E ENTIDADES NÃO-GOVERNAMENTAIS.CONTATOS RUA RIO DE JANEIRO, 471 – CENTRO – BELO HORIZONTE (MG) – TEL.: 31/ 2129-9620.

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horizonte global

por_Annette Schwartsmanilustração_Rodolfo Herrera

No momento em que o Brasil cria a sua Secretaria Nacional da Juventude e discute o Plano Nacional da Juventude, uma espécie de estatuto do jovem, a discussão sobre a saúde nesta fase da vida ganha ainda maior importância. Com esse debate, a psicóloga costarriquenha Dina Krauskopf tem muito a contribuir. Professora emérita da Universidade da Costa Rica, seu currículo inclui participação na rede de especialistas em políticas da juventude da Organização Ibero-Americana da Juventude, consultoria internacional de juventude de agências das Nações Unidas e diretoria do Instituto de Investigações Sociais de seu país. Nome importante na pesquisa sobre políticas públicas para a juventude na América Latina, ela considera fundamental que a sociedade aprenda a contar com seus jovens: “A fase juvenil tornou-se um período cronológico sufi cientemen-te amplo para adquirir sentido em si mesmo e não ser vista apenas como uma transição para a vida adulta. A juventude incorpora a imprevisibilidade e a inovação, absorve o ritmo dos tempos, administra a incerteza. As sociedades necessitam contar com os jovens, com sua capacidade de aprender a aprender e reciclar com fl exibilidade suas competências e atitudes, sua alegria criativa e energia vital”. A seguir, os principais trechos de sua entrevista.

CENÁRIO

Onda Jovem: Qual é o cenário atual das políticas pú-blicas para juventude na América Latina?Dina Krauskopf: Hoje, na América Latina, existe um cená-rio muito favorável ao desenvolvimento de políticas para a juventude. Para isso, contribuem principalmente três fatores: a globalização do enfoque de direitos, o avanço das políticas de atores estratégicos – e não apenas de setores – e a consolidação de identidades juvenis.

E em relação às políticas de saúde: elas são sufi cientes? Estão atuali-zadas?

Há várias iniciativas importantes: a OPS (Organização Pan-americana de Saúde, órgão regional da OMS, Organização Mundial de Saúde) im-pulsionou os programas de atenção integral à adolescência. O Fundo de População das Nações Unidas de-senvolve programas de saúde sexual e reprodutiva. A Unicef também con-tribuiu em relação aos direitos juvenis e sua regulamentação. O enfoque de direitos, de participação e de gênero

FAVORÁVEL

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A PESQUISADORA DINA KRAUSKOPF, DA COSTA RICA, DIZ QUE A AMÉRICA LATINA ESTÁ AVANÇANDO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DA JUVENTUDE, INCLUSIVE NA ÁREA DE SAÚDE

foi um marco importante e as iniciati-vas se potencializaram e propiciaram alianças valiosas, boas experiências e lições úteis. No entanto, o foco de to-das essas políticas foi a adolescência, já que a juventude não recebeu uma atenção específi ca. E as tendências mais conservadoras ainda comba-tem as abordagens mais liberais e o acesso dos jovens aos serviços de sexualidade e saúde reprodutiva.

Quais são os maiores obstáculos ao desenvolvimento de políticas efi cazes?

Um deles é que não há uma dife-renciação precisa entre o que são políticas e o que são planos de ação, e há sempre o risco de que as ações não se traduzam em programas pal-páveis e planejados em parceria com os setores responsáveis. Mesmo que exista um fortalecimento paulatino das instâncias de juventude encarre-gadas de tornar essas políticas reais, faltam, em muitos dos organismos responsáveis por elas, os aportes necessários do conhecimento das realidades juvenis e a capacidade técnica fundamental para exercer sua coordenação. Finalmente, mas não menos importante, as plataformas de participação juvenil avançaram notavelmente, mas ainda resta um caminho a ser percorrido até que se constitua um sistema de juventude sustentável, articulado e estável.

Quais são os avanços mais signifi ca-tivos e as tendências mais recentes na área?

Creio que o avanço mais signifi cati-vo foi a mudança de paradigma. Hoje, o conceito de saúde como “ausência de doença” foi substituído pelo con-ceito de saúde como “direito, desen-volvimento e construção social”.

Quais países têm se destacado na implementação de políticas de saúde para jovens e com quais programas?

Em muitos países da América Latina existem valiosas experiências em relação à saúde na adolescência. A Argentina tem iniciativas impor-tantes, entre as quais o programa amplamente participativo que se

desenvolve na região da Patagônia, onde se integram forças juvenis, universitários, educadores e o governo local, além de apoio internacional, sob a liderança da dra. Monica Borile. Há também um programa de âmbito clínico em Buenos Aires, sob a liderança das doutoras Dina Pasqualini e Maria do Carmen Hiebra, que, associado à Universidade de Buenos Aires, forma profi ssionais de qualidade em cursos à distância.

Como tem sido a experiência da Costa Rica?A Costa Rica é um dos países pioneiros no desen-

volvimento de programas de atendimento integral à adolescência. Há um programa nacional inserido em seu sistema único de saúde, a Caixa Costarriquense de Seguro Social. Esse programa tem uma abordagem integral, um forte desenvolvimento na promoção da saúde e do atendimento preventivo, assim como na participação dos jovens de ambos os sexos nos di-versos níveis de ação. Entre suas difi culdades, está o fato de a capacitação dos funcionários ser afetada pela rotatividade que eles experimentam dentro do próprio sistema. A participação juvenil se mantém forte, consolidada numa rede de adolescentes que se incorporaram à Coligação de Jovens na luta contra a Aids.

Como a sra. vê a situação brasileira?De forma favorável, já que existe um forte compro-

misso e agentes capacitados para dar continuidade às políticas de juventude, com uma abordagem participa-tiva e avançada.

O que o Brasil e a Costa Rica podem aprender um com o outro?

Creio que o primeiro passo seria aprender a trocar informação e a compartilhar as lições e os avanços assimilados. Lamentavelmente, na América Latina exis-tem poucas oportunidades para conhecer publicações, experiências e propostas dos diversos países.

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SEXTANTESEXTANTE

É inegável que discutir temas como saúde, contemporaneidade e juven-tude, não signifi ca navegar em águas tranqüilas e cristalinas. Além da va-riabilidade dos próprios conceitos de saúde e de adolescência, também a noção de “contemporaneidade” é múl-tipla. Mas, sobre ela, muitos parecem concordar em relação aos seguintes aspectos: que os efeitos da globali-zação, da aceleração e da primazia do mercado nas trocas econômicas são especialmente o individualismo e as questões da problemática de constru-ção da identidade e da confi guração da subjetividade das pessoas.

Poucos devem discordar das afi r-mações de que estes tempos são especialmente cheios de excessos e aspectos instáveis. Então, os jovens também são obrigados a lidar com essa grande quantidade de elemen-tos que invadem a todos nós, com conseqüências especiais em relação às questões de formação da chamada “identidade” – no sentido de descrição do EU, da auto-identidade. Ou, dito de outra forma, da idéia construída pela pessoa a respeito de si-mesma em sua própria existência.

Vivemos tempos de tecnicismo, individualismo e consumismo – e estes aspectos atingem a todos, espe-cialmente à juventude. Sentimentos de desenraizamento se manifestam a partir das transformações sociais e econômicas. O atual embaralhamento e a redução das percepções das pessoas em relação à familiaridade com seu local de viver e com a duração do tempo para realizar suas atividades aumentam os antagonismos e a competição.

O excesso, antes encarado como descontrole, que con-duzia ao desperdício e devia ser evitado, agora é desejado como “norma”, signifi cando a ampliação quase ilimitada de possibilidades, para além dos controles, encarados como limites indesejáveis.

Por outro lado, há elementos na vida moderna que aumentam a sensação de que o presente vivido se tornou muito pesado. Viver o cotidiano pode ser uma experiência desgastante, atordoante e exaustiva, inclusive porque há um exagerado aumento de escolhas possíveis nas ativi-dades diárias. Para os que não desfrutam de condições de vida aceitáveis, a luta literal pela sobrevivência pode adquirir feições muito duras e, por vezes, indignas.

Ambivalências do riscoNa atualidade, a relação do ser humano com o seu

futuro em termos de destino ainda pode levar em conta pontos de vista místicos e religiosos, tradicionais ou não. Mas a noção científi ca de risco vai se tornando uma perspectiva cada vez mais vigorosa. Confi gura a importância de posturas e práticas calculistas que visam ao controle das diversas situações de vida em termos de custos e benefícios.

O risco se constitui numa forma presente de descre-ver o futuro, sob o pressuposto de que se decide qual o futuro desejável e qual a ação neste sentido. Esse modo de pensar o futuro traz uma grande preocupação com o adiamento da morte. E, para isso, no dito senso comum, a fuga dos riscos se tornou sinônimo de estilo de vida sadio, com administração ponderada dos comportamen-

tos arriscados, quando não puderem ser eliminados.

Ao mesmo tempo, há incentivos a assumir e correr riscos, sob o ponto de vista da “aventura”. A “busca da adrenalina” surge como uma sensação desejada. Obviamente, tais propostas se dirigem aos agentes de consumo. Nessa perspectiva, o adolescente sofre pressões vigorosas para consumir, constituindo-se em alvo da publicidade e das ofertas no mercado.

O medo permanenteCabe lembrar que as discussões

sobre risco vão além das abordagens estritamente científicas. A noção “risco” aparece em muitas e distintas formas e envolve aspectos econômi-cos (desemprego, miséria), ambientais (diversos tipos de poluição), relativos a condutas pessoais (maneiras “indevi-das” de relacionar-se com a comida, bebida, exercícios físicos), dimensões interpessoais (formas de estabelecer/manter relações amorosas/sexuais), “criminais” (eventos vinculados à violência urbana). Todos esses riscos “fermentam”, misturam-se e transbor-dam para o ambiente sociocultural. Em síntese, a “experiência” de risco partici-

Luis David Castiel é médico, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública � Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro

TRAVESSIA ARRISCADAPor_Luis David Castiel

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pa da confi guração das identidades e da formação de subjetividades.

É inegável que as defi nições téc-nico-científi cas proporcionadas pela epidemiologia procuram estipular precisamente o que é risco. Mais relevante aqui, porém, é a constitui-ção do conceito de risco como uma entidade “virtual”, no sentido de que não existe de fato, mas que pode se materializar, dependendo de certas condições. Essa possibilidade traz uma dimensão curiosamente “concreta”: o risco passa a ter substância para nós. Assim, ele pode ser objetivado e explicado em termos de possíveis

causas que, por sua vez, conforme as circunstâncias, podem ser decompostas em fatores de risco. Operação estatística que permitiria respectivas quantifi cações e tentativas de estabelecimento de relações de causa e efeito para que seja possível intervir.

Uma tarefa trabalhosa e complexa de pais e edu-cadores é justamente administrar a noção de risco nas atividades nas quais se engajam os jovens no seudia-a-dia, sobretudo nas práticas de lazer. Sempre pode se instalar um “clima” de prevenção aparentemente excessiva ao se explicitar repetitivamente a “presença” de riscos no cotidiano. Algo percebido pelos jovens como limitante e desagradável e fonte de atritos constantes com a família.

O que é desconcertante, como já dissemos, é jus-tamente a dimensão virtual do risco. Ou seja, algo que ao mesmo tempo “existe” e “não existe”. Assim, ao se tratar tão somente de probabilidades futuras, baseadas em experiências e impressões anteriores, estas podem não se realizar. Mas, também, infelizmente, podem se

fazer presentes. Esse quadro refl ete uma atmosfera de medo e ameaça constante – uma mistura, em parce-las indefi níveis, de imaginação e de realidade.

Por mais incômodo e utópico que possa parecer, é preciso enfrentar dis-cursos ingênuos ou conservadores so-bre os riscos que afetam a fase juvenil da vida. Essa é uma forma de assumir as difi culdades do contexto que afeta a todos nós. Somente assim pode-se criar uma outra atmosfera para além do espírito conformista que parece prevalecer nos nossos tempos. Até no sentido de superá-lo em busca de algo que os jovens são mestres em apontar em sua maneira crítica e sadiamente inconformista. Com eles como aliados, podemos estar todos atentos para en-frentar propostas empobrecedoras do espírito humano que chegam até nós sem pedir licença, sem pudor.

MUITAS DAS CONDIÇÕES VIVIDAS PELOS JOVENS NÃO SÃO TÍPICAS DA JUVENTUDE, SÃO TÍPICAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

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SOBRA MORALISMO E FALTA SENSO CRÍTICO E REFLEXIVO NAS AÇÕES DA ESCOLA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE

por_ Rosely Sayão

SAÚDE E EDUCAÇÃO

90º

Saúde e escola dariam um bom en-contro e formariam um belo par. Afi -nal, é na escola que crianças e jovens passam boa parte de seu tempo, é na escola que eles aprendem a construir relações interpessoais no espaço pú-blico e a contextualizar a vida coletiva, é na escola que eles estabelecem a relação formal com o conhecimento humano sistematizado – e a saúde é um tema abordado por várias disci-plinas do conhecimento. Entretanto constatamos, na vida como ela é, que a escola não tem facilitado esse encontro. Na verdade, a escola tem se desencontrado com a saúde e um dos motivos é sua incapacidade em conseguir escapar da visão fragmen-tada, medicalizada e moralizadora de saúde e de qualidade de vida que o mundo contemporâneo nos oferece, e dela tem sido prisioneira. E isso só para começar.

O conceito de saúde é bem com-plexo e não se restringe a noções de higiene, alimentação e doenças. E costuma ser por esses eixos que a escola aborda o tema, todos eles as-sociados ao enfoque assistencialista e terrorista, este chamado ingenua-mente, na escola, de prevenção. Ve-jamos, por exemplo, como é tratada a saúde sexual, tema tão caro aos jovens e a seus educadores.

Em primeiro lugar, promover a saú-de sexual costuma ser um objetivo equivocadamente identifi cado, pelos professores, ao de ensinar o sexo saudável. Isso resulta em estratégias bem conhecidas por todos os que se

DUPLA

relacionam com a escola. Aulas e mais aulas de biologia para ensinar aos jovens alunos o funcionamento do aparelho reprodutivo, sua anatomia e fi siologia etc. são programadas; para que aprendam a evitar as doenças sexualmente transmissíveis, os alunos são apresenta-dos a visões terríveis de órgãos sexuais deformados ou purulentos; para que evitem a gravidez indesejada, são ameaçados com a idéia de uma vida de prazeres e de-sobrigada de compromissos interrompida pela vinda de um fi lho; para que não ousem utilizar o recurso do aborto, são obrigados a assistirem a vídeos fi ccionais – de terror, se fossem adequadamente qualifi cados – em que um feto relata seu calvário até a interrupção da gravidez. Algumas escolas, mais atualizadas com a vida dos jovens, chegam a distribuir camisinhas a seus alunos em meio a aulas de “educação sexual”, nas quais per-guntas de todos os tipos são prontamente respondidas pelos (des)preparados mestres. Nessas estratégias de ação escolar, reconhecemos com clareza a prioridade que a escola dá à doença, à informação que prioriza o indivíduo e a natureza assistencialista a que se propõe. Isso sem falar do tom descaradamente moralizante de suas lições, é claro.

Rosely Sayão é psicóloga, consultora educacional,

autora de livros, entre os quais �Como Educar meu

Filho?�, e colunista do jornal �Folha de S. Paulo� FO

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DESENCONTRADA

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90º

Outro exemplo rico em equívocos é a maneira como é tratado pela escola o tema das drogas, lícitas ou não. Aos jovens, uma única coisa é ensinada: que usar drogas não é saudável e é perigoso. Entretanto, essa informação vem desvinculada da transversalidade – fato esse já previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais – e descontextualizada de nossa realidade. A idéia de que vivemos em uma sociedade que faz a apologia das drogas na medicina, na agricultura, na vida em geral, é desprezada como se não tivesse relação alguma com o tema. Do mesmo modo, a cultura social que prega que se evite quase que por encanto o sofrimento tanto quanto o estímulo ao consumo de tudo o que é ofertado no mercado não são asso-ciados ao tema. Como no exemplo da sexualidade, sobra moralismo e falta senso crítico e refl exivo nas ações que a escola empreende buscando promover a saúde.

Apesar de tantos desencontros, a escola é o espaço ideal e real para que a idéia de saúde seja estimulada, principalmente junto aos jovens. Para tanto é preciso, antes de tudo, que o conceito de saúde seja considerado em seu aspecto global. Assim, as condições ambientais, econômicas, políticas e socioculturais devem ser levadas em conta na construção da idéia de saúde ou bem-estar tanto quanto as condições psicológicas e comportamentais. O conceito de qualidade de vida, tão em moda nos tempos atuais, precisa ser visto e revisado, já que a saúde se expressa de forma diferente nos sujeitos com estilos de vida diversos.

É no Projeto Político Pedagógico (PPP) que o coletivo profi ssional da escola deve explicitar sua intenção de trabalhar a saúde. Como o caráter

da escola é público, é no coletivo que essa construção deve ser realizada a fi m de que a escola como um todo se aproprie do plano de educação para a saúde. Mas só esse trabalho inaugural em equipe não garante que o conceito de saúde que será exercitado naquela uni-dade escolar, com identidade própria e uma relação de pertencimento com uma comunidade, seja apropriado e realizado por todos, mas ele é condição fundamental para que a educação seja praticada de forma coerente com a intenção expressa. Neste momento, vale uma um parêntese refl exivo a respeito do PPP.

Em grande parte das escolas esse instrumento trans-formou-se em peça de fi cção, que nada tem a ver com a educação efetivamente praticada no espaço escolar. Para que esse instrumento seja real, é necessário o compro-misso ético e social dos profi ssionais da educação que trabalham na unidade escolar de que realizem, de fato, as ações educativas necessárias para que a escola cumpra seus propósitos explicitados no PPP. A partir de então, é preciso apenas honrar o compromisso fi rmado, levando-se em consideração alguns pontos fundamentais.

Um deles é o de que deve ser priorizado na escola o caráter da saúde pública, ou seja, da coletividade, sem, entretanto, se desprezar o aspecto pessoal dela, princi-

A ESCOLA TEM CONFUNDIDO PREVENÇÃO COM UMA ABORDAGEM ASSISTENCIALISTA E TERRORISTA DA SAÚDE SEXUAL E DO USO DE DROGAS

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“É preciso integrar a educação e a saúde. O

profi ssional de saúde tem de estar na escola

e o educador no centro de saúde. Comecei a

perceber a importância dessa aproximação

para a formação dos jovens ao participar

de ofi cinas de saúde promovidas por um

médico na escola estadual em que fi z o

ensino médio, no Butantã, Zona Oeste de

São Paulo. Era um programa que buscava

reduzir a vulnerabilidade dos jovens em

relação às DST/Aids e eu me tornei uma

multiplicadora desse aprendizado entre

os estudantes. A partir dessa experiência,

passei a integrar o projeto Jovem Inventivo,

criado para ampliar a discussão sobre

saúde nas escolas da região. Promovemos

uma instalação de arte itinerante, a

barraca “Sexo, Libido e Manifestação”,

para sensibilizar outras escolas e jovens.

Também desenvolvemos o projeto Bate-

Papo, de aproximação com os profi ssionais

de saúde para levantar a situação do

atendimento aos jovens nos serviços de

saúde. Com essas atividades, percebemos

que esses serviços não atraem o jovem

porque estão mais focados na doença do

que na promoção da saúde geral. A escola

também não atende o jovem nessa questão.

Até promove palestras informativas, mas

que não tocam o jovem. Porque não adianta

falar do uso de camisinha apenas sob o

enfoque da prevenção da gravidez. Os

serviços de saúde e as escolas têm de se unir

para preparar o jovem para a vida, passar

informação que tenha sentido para a vida

dele, que o leve a refl etir sobre suas escolhas

e projetos de vida.”

DAV

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DO

URA

DO

CAMILA SILVA TAVARES, 20 ANOS,

integrante do projeto Jovem Inventivo, criado pelo médico Haraldo Cesar Saletti Filho,

coordenador do Programa de Atenção à Saúde do Adolescente,

do Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa, da Faculdade

de Medicina da USP

O assistencialismo ao jovem deve ser substituído pela idéia de autocuidado e este não existe sem autonomia, que precisa ser construída junto com a prática da liberdade, inclusive para fazer escolhas

palmente quando se trabalha com jovens. Isso signifi ca abdicar por completo da atitude assistencialis-ta e assumir como meta a idéia do autocuidado. Esta não existe sem a autonomia, que deve ser igualmen-te construída, encorajada e exigida já que é a contar da heteronomia que ela se origina.

Outro fator igualmente impor-tante é o trabalho de estabeleci-mento e manutenção de relações interpessoais justas, solidárias e respeitosas entre todos os inte-grantes do processo educativo; o clima democrático e participativo da comunidade escolar é condição para que a saúde, em sua com-preensão global, seja promovida no cotidiano escolar.

Finalmente, o compromisso da escola com a liberdade é funda-mental para que a saúde seja um conceito possível de ser apropriado

pelos jovens. Liberdade é sempre liberdade de escolha, e as escolhas efetuadas por eles devem ser respeitadas, estejam ou não em conformidade com os preceitos ensinados na escola. Felizmente, contamos hoje com a política de redução de danos que pode fundamentar vários tipos de trabalho na promoção da saúde possível à maioria dos jovens de nosso país.

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180ºSAÚDE E JUVENTUDE

por_Gabriela CalazansHá dois grandes desafi os a serem enfrentados na análise e na ação sobre a saúde de adolescentes e jovens. O primeiro deles é o de esca-par de uma concepção que podemos chamar “naturalizante”. O que vem a ser isso? A juventude tem como um de seus marcadores os processos de transformação corporal experimen-tados na puberdade. Assim, não só nessa perspectiva do senso comum, como também aos olhos de muitos profi ssionais, especialistas e teóri-cos, ela é compreendida somente como um processo “natural” calca-do no amadurecimento hormonal associado ao desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. O “poder dos hormônios” tem justifi ca-do a relevância da ação educativa de profi ssionais de saúde que trabalham com adolescentes e jovens em todo o país. No entanto, parece-nos que há argumentos mais interessantes para justifi car tal trabalho.

Inúmeros estudos e a experiência de trabalho têm nos mostrado que a saúde e o adoecimento das pessoas têm a ver com sua condição de vida e decorrem de seus modos de viver a vida, dos espaços sociais de que dispõem em busca de sua realização pessoal, dos sentidos que orientam sua procura pela felicidade, dos há-bitos e comportamentos possíveis nesta construção pessoal, que é condicionada socialmente.

O segundo grande desafi o a ser enfrentado é o de resgatar essa discussão do campo do “problema”. Essa é uma das principais represen-tações do discurso sobre os jovens,

POR HORIZONTES

seja na abordagem da imprensa, da universidade, das políticas públicas ou do terceiro setor. As estatísticas produzidas pela saúde pública, tanto no campo da se-xualidade e saúde reprodutiva, do uso de álcool e outras drogas, quanto no campo da mortalidade de jovens por causas violentas, têm servido à representação da juventude como um problema social. Esses índices têm alimentado diversos discursos, justifi cando propostas de ação na perspectiva de correção e controle dos rumos experimentados pelos jovens, entendidos como problemáticos.

Mas será que é verdade que jovens, por serem des-preparados, imaturos ou irresponsáveis, “escolhem” mal seus caminhos e agravam sua saúde? Entendo que para compreender melhor as interfaces entre saúde e juventude, precisamos começar a conversa discutindo melhor o que é a condição juvenil e quais os seus sen-tidos na sociedade brasileira atual.

Condição juvenilÉ inegável que há uma singularidade nos sentidos da

juventude. Período intermediário entre a dependência infantil e a completa autonomia que, em tese, caracte-riza a vida adulta, a juventude pode ser compreendida como um momento em que esta busca de autonomia se torna central na construção da identidade, pessoal e coletiva. Neste processo de construir-se como autô-nomo, a atitude de experimentação do jovem se faz presente. É um momento em que se concentram muitas das “primeiras vezes”, especialmente de comporta-mentos identifi cados como adultos. O primeiro beijo, o/a primeiro/a namorado/a, o primeiro gole, a primeira transa, o primeiro emprego...

No entanto, a pesquisa Perfi l da Juventude Brasileira (Projeto Juventude, 2005) revela que os interesses e as preocupações dos jovens voltam-se predomi-nantemente às temáticas do emprego e do mercado FO

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MAIS SAUDÁVEISÉ PRECISO REPENSAR A

PROMOÇÃO DA SAÚDE CONSIDERANDO QUE OS MODOS DE VIDA

PROPORCIONADOS À JUVENTUDE BRASILEIRA

CONTRIBUEM PARA A SUA MORTALIDADE

de trabalho, segurança, violência, cultura e educação, mostrando-nos o pano de fundo de suas condições de vida e de saúde. Indica pontos de afunilamento dos horizontes destes jovens, gargalos que ameaçam a sua realização pessoal e a construção de seu projeto de vida.

O relatório de conclusão do Projeto Juventude ajudou a compreender que os jovens estão entre as principais vítimas da forma de desenvolvimento econômico e social adotado pelo Bra-sil nas últimas décadas: representam 47% do total de desempregados do país; 50% deste contingente popula-cional estava fora da escola em 2001 e somente 42% da população de 15 a 24 anos chegou ao ensino médio. Além disso, a taxa de homicídios na população jovem é de 54,5 para cada 100 mil, ante 21,7 para a população geral. Tais condições de vida tornam muitos jovens mais vulneráveis aos diversos determinantes dos agravos em saúde.

Importante salientar, porém, que as condições de vida de adolescentes e jovens não são homogêneas. Eles não dispõem de condições igualitárias de acesso às políticas e aos direitos sociais, nem são igualmente afetados pela violência. Jovens também não podem ser exclusivamente respon-sabilizados pelos rumos tomados na organização das prioridades de nossa sociedade. No entanto, estão submetidos a uma forma de inserção no mundo social que determina a adoção de práticas cotidianas que os diferenciam de outros grupos etários. Obstáculos enfrentados em suas

Gabriela Calazans é psicóloga, especialista em Saúde Coletiva, mestre em Psicologia Social. É responsável pelas ações de prevenção voltadas a jovens no Programa Estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

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180º

vidas provocam comportamentos que muitas vezes correspondem a estratégias de resistência, num contexto adverso, que podem de-sembocar em situações de risco e vulnerabilidade. É neste âmbito que precisamos compreender a saúde de adolescentes e jovens.

Saúde da juventudeA adolescência e a juventude são

momentos do ciclo de vida particu-larmente saudáveis. Apesar da área da saúde ter tradição de produção de informações e dados, há poucos números sobre jovens. Chamam a atenção, no entanto, as estatísticas relativas à mortalidade e à saúde sexual e reprodutiva desse segmento. Jovens morrem proporcionalmente muito no Brasil, e suas mortes são, em sua maior parte, categorizadas como originadas por causas externas. Tendo em vista serem saudáveis, em sua maioria não morrem vitimados por doenças, mas por acidentes, homicídios e suicídios. Se tais causas são externas aos organismos dos jo-vens, não são externas às suas vidas. Os modos de vida proporcionados à juventude em nossa sociedade oca-sionam sua alta mortalidade.

Os dados da área de saúde também nos ensinam que as mulheres adoles-centes e jovens são responsáveis por cerca de 20% dos partos ocorridos na rede pública. Há maior proporção de adolescentes grávidas nas regiões mais pobres do país e nas periferias das regiões com maior desenvolvi-mento social, apesar de não ser um

“Tenho uma visão comunitária da saúde,

no sentido de que todos têm de aprender

a se cuidar e não fi car dependendo

somente de médico. Em comunidades

como Carariaca, onde nasci, às margens

do rio Amazonas, a mais de duas horas

de barco de Santarém, no Pará, esse é um

aprendizado necessário. E é a visão que

procuro transmitir como coordenador

da Rede Mocoronga, um programa

de educação, cultura e comunicação,

braço jovem do projeto Saúde e Alegria.

Entrei no projeto aos 14, 15 anos como

monitor mirim, participando de ofi cinas

de arte-educação para transmitir noções

de higiene e educação para a cidadania.

Mais tarde, em um projeto juvenil de

comunicação comunitária, passamos a

divulgar soluções que as comunidades

encontravam para este ou aquele

problema de saúde. Daí surgiram as

comissões locais integradas de saúde.

Todos os segmentos da comunidade

têm representantes e acompanham as

atividades, com a idéia de que saúde é um

estado de bem-estar individual e coletivo,

em que todos dependem de todos. Na

rede Mocoronga, tentamos mobilizar os

jovens com atividades de seu interesse.

Numa olimpíada esportiva, por exemplo,

trabalhamos a prevenção contra as DST/

Aids. Cada time tinha de apresentar um

número artístico, como música ou teatro,

sobre o tema. Geramos assim muita

informação para o jovem aprender a se

cuidar. Não adianta cuidar da saúde sem

cuidar da educação. Uma coisa

que aprendi no Saúde e Alegria é que a

saúde é a alegria do corpo, e a alegria é a

saúde da alma!.”

FÁBIO ANDERSON RODRIGUES PENA, 25 ANOS,

coordenador da rede Mocoronga de Comunicação Popular do projeto Saúde

e Alegria, que atua desde 1987 em comunidades ribeirinhas da região oeste

do Pará (www.saudeealegria.org.br)

AS AÇÕES DE SAÚDE BEM-SUCEDIDAS ALARGAM A COMPREENSÃO DA CONDIÇÃO JUVENIL, SEM SE LIMITAR À PREVENÇÃO DE COMPORTAMENTOS DE RISCO

EDSO

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fenômeno exclusivo da pobreza. É um fenômeno predominantemente feminino. Na pesquisa Perfi l da Ju-ventude Brasileira, 22% dos jovens de 15 a 24 anos tinham fi lhos. Na faixa etária de 15 a 17 anos, 1% dos rapazes tinham fi lhos, contra 7% das moças. Dos 18 aos 20 anos, 6% dos rapazes eram pais, enquanto 29% das moças eram mães. Contrariamente ao senso comum, no entanto, 40% dos jovens de 15 a 24 anos decla-raram ter planejado seus primeiros fi lhos. Diferentemente também da propagada irresponsabilidade juvenil, os estudos recentes sobre compor-tamento sexual mostram que esse é o grupo populacional que mais usa preservativos no país.

Aprendizados e propostasTemos observado que as ações

bem-sucedidas na área de saúde são as que têm conseguido alargar a compreensão dos contextos da vida juvenil, sem se limitar ao caráter preventivo contra eventuais compor-

tamentos de risco. Aprendemos que a abertura dos novos horizontes da promoção da saúde tem podido ofertar suporte social à realização dos projetos de vida de adolescentes e jovens. Neste sentido, um dos focos prioritários de ação deve ser o trabalho intersetorial, tendo por base o território local. Uma das estratégias para a efetivação desta proposta seria a constituição de redes de compromisso em relação aos jovens, arti-culando agentes de diversos setores: saúde, educação, trabalho, cultura, esportes, justiça, segurança etc.

Outra possibilidade de ação é a instalação de equipa-mentos múltiplos, como os centros de juventude, como espaços para encontro e convivência dos jovens entre si e com os agentes públicos, por intermédio dos quais informações podem ser disseminadas e partilhadas e as propostas de ação podem ser formuladas, debatidas e programadas.

Com relação às demandas específi cas por políticas públicas, uma das ações mais urgentes refere-se à mudança da “cara” dos serviços de saúde, vistos como não acolhedores aos jovens. Esses serviços precisam abrir-se a esse público, dispondo-se a acolhê-los. Para tanto, impõe-se também a necessidade do reconhe-cimento dos jovens como sujeitos autônomos com os quais se pode e se deve dialogar diretamente e não somente por meio da mediação dos pais ou responsá-veis legais. Com isso, não se pretende excluir as famílias da interlocução.

Outro ponto importante é a incorporação e a am-pliação da estratégia de educação por pares, ou seja, o desenvolvimento de ações de educação que privilegiam a abordagem de jovens por outros jovens. Isso vale também para as ações assistenciais, em especial na recepção de outros jovens nos serviços de saúde e na discussão das demandas junto às equipes profi ssio-nais. Tal incorporação poderia ser ainda instrumento para formação profi ssional e iniciação ao trabalho para jovens.

Ainda temos muito a aprender neste campo, mas a direção está dada. O convite está feito e há muito a ser feito. Vamos?!

No Brasil, os jovens morrem principalmente

por acidentes, homicídios e suicídios.

Se tais causas são externas aos

organismos dos jovens, não são externas às

suas vidas

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270ºSAÚDE E ATENDIMENTO

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por_Eloisa Grossmanfotos_Henk Nieman

Ao examinar a interface saúde, doença, adolescentes, jovens e profi ssionais de saúde, apresento algumas certezas e muitas dúvidas que têm sido importantes para mim, não só como médica de adolescentes há quase vinte anos, mas também como professora de uma faculdade de Medicina, responsável, portanto, por uma fatia da formação de futuros médicos. Embutida nessa decisão, a primeira grande certeza: distanciar-me de uma engessada transmissão de normas.

As pessoas que padecem de sofrimento, em geral, procuram um alívio. Inicialmente em suas famílias, amigos e, posteriormente, buscam aqueles que, em seu entender, detêm um conhecimento específi co – os profi ssionais de saúde.

Aqui, lanço a primeira pergunta. Será que nós, pro-fi ssionais de saúde, estamos preparados e preparando novos profi ssionais para receber os adolescentes e jovens que nos procuram?

Nas últimas décadas, a preocupação com a capaci-tação dos profi ssionais de saúde é uma realidade. As modifi cações no perfi l de doenças e causas da mortali-dade, bem como a avalanche de novas informações, em velocidade jamais vista anteriormente, têm posto esta temática sob profunda refl exão. A ênfase da formação

EM TROCA DE CUIDADOOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE PRECISAM

ESTAR ATENTOS AO PROCESSO DE AMADURECIMENTO MAS TAMBÉM AOS

RELATOS PESSOAIS QUE LHES SÃO OFERECIDOS PELOS JOVENS

médica, por exemplo, passou a estar centrada na interpretação de exames cada vez mais complexos e na pres-crição de drogas potentes.

Por outro lado, os adolescentes e jovens que nos procuram oferecem seus relatos pessoais em troca de cui-dado; não estão apenas procurando a abordagem de seus sintomas e um lugar seguro para o tratamento; que-rem, além disso, entender e dar signi-fi cado às suas próprias histórias.

Em caminho paralelo, nos nossos dias, não há como negar a importân-cia da prevenção dos agravos à saúde. Poucas áreas da ciência causaram impacto tão profundo na sociedade nos últimos 20 anos quanto à mani-pulação genética e a possibilidade de desvendar destinos!

Entretanto, mesmo assumindo como incontestável a relevância da prevenção, não se deve esquecer que adolescentes e jovens não podem ser qualifi cados como seres intrinseca-mente saudáveis, cujo adoecimento sempre se relacionaria ao meio am-biente ou às vulnerabilidades próprias de seu “turbilhão hormonal”.

Seus corpos são, também, compos-tos de células, órgãos e sistemas su-jeitos aos desequilíbrios e padecimen-tos. Não estão imunes às bactérias, vírus, protozoários e demais agentes infecciosos. Não estão protegidos da agressividade destrutiva desenca-deada pelo fato de seus organismos

Eloisa Grossman é professora da disciplina de Medicina de Adolescentes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; médica do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA/UERJ), e coordenadora do Curso de Educação à Distância � Introdução à Saúde Integral dos Adolescentes e Jovens

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270º

considerarem como estranho um de seus tecidos, desencadeando um “mal-entendido interno”, como em vários casos de doenças da tireóide, enfermidades renais, doenças do colágeno, entre tantas outras. Não estão livres das doenças congênitas. Enfim, adolescentes e jovens são pessoas sujeitas a todos os desvios, perigos e cruzamentos inerentes à própria condição de viver.

Essas observações realçam a idéia de que seria necessário e fundamen-tal que o profi ssional de saúde que atendesse esta clientela específi ca estivesse atento ao processo de maturação e aos fatos a ele corre-lacionados, bem como aos possíveis sinais e sintomas dos agravos à saú-de prevalentes neste grupo.

Alguns pontos aparentemente óbvios também merecem destaque.

Os adolescentes e jovens constituem um grupo hetero-gêneo, com diferenças individuais, de idade, de gênero, de meio familiar, de escolaridade, dentre tantas outras. Portanto, modelos de atendimento pré-formatados e de aplicação universal distanciar-se-iam completamente de suas reais necessidades.

Perfi l e práticaNeste momento, uma segunda indagação: seria

prudente e aconselhável lançar mão de algumas orien-tações àqueles que se dispõem a assistir esta clientela nos serviços de saúde? Parece-me que algumas suges-tões poderão nos auxiliar na prática cotidiana: conhecer a história do paciente, em vez de estar restrito ao motivo focal da consulta; procurar entender como ele está se sentindo em relação às mudanças (corporais, emocionais e sociais); conhecer o seu relacionamento com a família, com os amigos, na escola; apreciar as suas expectativas em relação à consulta e os seus pro-jetos futuros. Assim, de forma independente da razão principal que motivou o adolescente/jovem a procurar o profi ssional, cada visita oferece a oportunidade de

detectar e auxiliar na resolução de outras questões. Além disso, cabe ressaltar que a entrevista é um exer-cício de comunicação interpessoal, que engloba a comunicação verbal e a não verbal. Para além das palavras, deve-se estar atento às emoções, aos gestos, ao tom de voz e à expressão do paciente.

Uma terceira questão instiga algu-mas refl exões. Para mim, é inques-tionável a premissa de que não existe um perfi l profi ssional ideal para assistir adolescentes e jovens no que tange aos cuidados de saúde. Por outro lado, algumas características devem ser ressaltadas como muito importantes: estar disponível para atender o pacien-te e sua família sem autoritarismos; estar atento ao adolescente/jovem e ter a capacidade de formular pergun-tas que auxiliem a conversação, bus-cando compreender sua perspectiva; não ser preconceituoso, evitando fazer julgamentos, especialmente no que diz respeito a determinadas temáticas como sexualidade e uso de drogas; buscar, de forma contínua, atualização técnica na área específi ca de atuação profi ssional.

Outro ponto que incita um aprofun-damento é a prática multidisciplinar. Quando o adolescente/jovem é aten-dido por profi ssionais de diferentes disciplinas, é aconselhável que haja uma interação entre eles, por meio de discussões conjuntas, quando as deci-sões serão compartilhadas e adotadas nas diferentes perspectivas, resultan-do em uma proposta terapêutica mais efi caz. Essa atitude, aparentemente simples, encontra barreiras evidentes

O adoecimento do jovem nem sempre se relaciona ao meio ambiente ou às vulnerabilidades próprias de seu �turbilhão hormonal�

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na cultura pós-moderna, que segue na direção da fragmentação e dispersão dos saberes.

Agravando ainda mais o panorama, é fato incontestável que muitos dos problemas de saúde têm fatores causais fora do alcance resolutivo das políticas e ações de saúde. As conseqüências da violência, dos aci-dentes de trânsito, da desnutrição são exemplos desta dura realidade. Assim, os profi ssionais de saúde, em seu cotidiano de trabalho, têm como tarefa adicional a articulação com outras áreas.

Em relação às questões éticas envolvidas no atendimento de adoles-centes e jovens, cabe ressaltar neste espaço de refl exão as controvérsias sobre o direito do adolescente e do jovem à privacidade e à confi dencia-lidade. A confi dencialidade é direito do adolescente, apoiado no artigo 103 do Código de Ética Médica. A quebra do sigilo, também prevista no mesmo artigo, deverá ser realizada com o conhecimento do adolescente, mesmo que sem sua anuência, espe-cialmente nas situações em que a sua segurança esteja ameaçada.

Para concluir, trago a lembrança de um documentário – “Camelos também choram” –, que conta a his-tória, passada na Mongólia, do parto difícil de um camelo. A mãe o rejeita e ele, muito fraco, mal se sustentando sobre as pernas, é rechaçado quando vai mamar. O professor de música, chamado para resolver esta situação emergencial, viaja com seu instru-mento para tentar resolver a questão. A vibração das cordas se traduz em suave música que parece reordenar os sentidos e as emoções. A mãe, então, inicia um movimento de afagar o fi lhote e aos poucos vai acolhendo-o e dando-lhe de mamar.

Este retrato de uma das facetas da sabedoria milenar nos leva a refl etir sobre coisas simples e essenciais. Quem sabe nós, profissionais de saúde, possamos contribuir positi-vamente para a qualidade de vida de nossos adolescentes e jovens, cultivando a aproximação, a escuta e a atenção particular?

ADOLESCENTES E JOVENS SÃO PESSOAS SUJEITAS A TODOS OS DESVIOS, PERIGOS E CRUZAMENTOS INERENTES À PRÓPRIA CONDIÇÃO DE VIVER

“Há 5 anos trabalho como

multiplicador de informações na

ONG Transformarte, que atua na

comunidade da Rocinha, no Rio de

Janeiro. Por meio das artes, como

teatro, discutimos com os jovens

questões de cidadania e saúde. Esse

é único jeito de o jovem aprender

a se cuidar, de ter informação e

orientação, porque ele não tem

isso na escola e muito menos nos

serviços de saúde, que são muito

ruins. Só falam de DST e Aids

no Carnaval, quando deveriam

educar o ano inteiro. É por isso que

as pessoas só procuram o médico

quando estão doentes, na pior.

Queremos que a comunidade veja

no médico um orientador para

uma vida saudável, mas muitos

têm preconceitos, vergonhas e

medos, além das difi culdades de

acesso aos serviços. Ninguém vai

procurar médico só para conversar

e pedir uma orientação, quando é

preciso chegar às 5 da manhã para

uma consulta. O governo tinha de

investir muito mais na estrutura

dos serviços de saúde para que

eles pudessem cuidar não apenas

da doença mas da educação e

prevenção.”

CARLOS FRANCISCO DA CONCEIÇÃO, 18 ANOS,

agente multiplicador de informaçõesna ONG carioca Transformarte

(www.transformarte.org.br)

FRA

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360ºSAÚDE E AUTOCUIDADO

Adolescência e juventude são re-conhecidas como uma travessia do mundo infantil para o adulto, em que riscos e desafi os contribuem para a intensa vulnerabilidade. Essa fase vulnerável pode ser acentuada por comportamentos de risco, pois se caracteriza também pela busca de auto-afi rmação, vivências de novas experiências, contestação, magia e onipotência.

Nessa fase, podemos observar a perda da identidade infantil, in-cluindo a visão que se tem dos pais

APOIO PARA VOARADOLESCENTES E JOVENS ENFRENTAM MUITAS TURBULÊNCIAS E CABE À SOCIEDADE AJUDÁ-LOS A DESENVOLVER A PRÓPRIA AUTONOMIA

por_ Albertina Duarte Takiuti

e do mundo na infância, e a busca de identifi cações longe das instituições e das autoridades constituídas, como família e escola. Isso faz parte do trânsito a ser percorrido pelo adolescente e pelo jovem, que tende a assumir atitudes quase sempre diferentes ou contrárias aos padrões já estabelecidos.

Observamos também a despedida do corpo infantil e a construção da nova imagem corporal. A cultura narcísi-ca, do “eu sou mais eu”, tem sido apontada como fonte geradora de difi culdades para lidar com as diferenças em relação ao outro. Para ser admirado, o adolescente deve ter boa aparência, obter marcas de desempenho e competitividade máximas em tudo que faz, não deve mostrar medos e fraquezas. O padrão eugênico de bele-za, constituído de atletas musculosos, tem estimulado o império do corpo vencedor. Adolescentes e jovens vivem hoje uma exploração cada vez maior em relação aos as-pectos físicos, e a pressão da mídia, dos amigos, de uma atitude consumista em relação aos trajes, aumentam a insegurança e a necessidade de aprovação. Poucos adolescentes têm noção do tempo de crescimento da face, dos braços, do tronco, da altura, da distribuição da gordura, o que os leva muitas vezes a fazer exercícios exagerados na busca do corpo ideal.

Com a mudança da atitude em relação aos pais e adultos, que até então eram idealizados e começam a ser questionados, os adultos próximos do adolescente

Os jovens necessitam de mecanismos facilitadores para que compreendam o que está ocorrendo com eles

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Albertina Duarte Takiuti é médica ginecologista, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

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e do jovem passam a sofrer, com difi culdade para en-tender os novos papéis, para dialogar e para escutar. Pois é nesse momento – em que a comunicação entre o jovem e o mundo dos mais velhos não é boa – que ele mais necessita de tempo, apoio, estímulo, para poder compreender o que está ocorrendo consigo mesmo.

É preciso saber também que o cotidiano do adoles-cente e do jovem constrói-se num mundo em que pre-valecem o imaginário, as expectativas, as esperanças. É bom sonhar com estrelas inalcançáveis. O imaginário parece tão concreto quanto tudo aquilo que o jovem toca. Não se trata de uma fase de sonhos inúteis e sim de uma travessia em que moças e rapazes recorrem às fantasias para fugir de incompreensões, responsa-bilidades e exigências do cotidiano.

Ser adolescente e jovem, hoje, é viver o amor no tempo da Aids; da violência que faz do homicídio a maior causa de morte juvenil; do tráfi co de drogas que se torna mercado de trabalho, e do uso abu-sivo de drogas transformado em combustível de ilusões e de falsas sensações de liberdade. É correr o risco de uma gravidez, conseqüência de uma relação de pouco tempo (3 meses, 6 meses), ainda sem vínculos e que, nas relações desiguais dos gêneros, será assumida pela mulher e sua família.

Aprendizes da esperançaO que fazer para que os jovens

não corram riscos? O que fazer para que mantenham a energia e tenham forças para resistir e enfrentar os desafios? Como contribuir para que se mantenham aprendizes da esperança?

Os adolescentes e jovens neces-sitam de mecanismos facilitadores para que compreendam o que está ocorrendo com eles. É preciso com-pensá-los com ganhos para facilitar o necessário exercício do convívio com frustrações, para que busquem atividades que favoreçam estilos de vida saudáveis, com formação ple-na como ser humano, auto-estima individual e coletiva, e sentimentos de solidariedade.

A busca de relações democráticas nas práticas institucionais governa-mentais ou não-governamentais que

“Os jovens precisam assumir a

discussão sobre sua saúde. Essa

é a tecla em que estou sempre

batendo no trabalho com jovens

em Fortaleza, como coordenadora

de programas no Instituto da

Juventude Contemporânea (IJC). A

gente leva informação e formação

sobre questões de saúde para dentro

das escolas. Discutimos a prevenção

das DST/Aids, a gravidez não

planejada, a higiene pessoal, a

responsabilidade dos cuidados com

o corpo, as atitudes, o futuro etc.,

tudo dentro de um contexto maior

de educação, de projeto de uma

vida saudável. O trabalho dura

cerca de um ano, mas o jovem não

encontra muita vezes continuidade

dessa proposta em seu meio. A

jovem que engravida é aconselhada

a deixar os estudos para cuidar do

bebê. O jovem pai é aconselhado a

deixar os estudos para trabalhar. O

jovem ou a jovem que vão ao posto

de saúde pedir um preservativo

ouvem da atendente que eles ‘não

têm idade para isso’. Os professores

também não sabem como orientar,

não querem assumir essa tarefa.

Compreendendo esta situação

acredito que o jovem precisa

assumir a necessidade de se educar

e educar outros jovens. Só assim a

gente pode ter esperança de forçar

a mudança dessas posturas na

família, no posto de saúde

e na escola.”

CAMILA BRANDÃO, 24 ANOS,

estudante de Ciências Sociais e coordenadora de programas

do Instituto da Juventude Contemporânea (www.ijc.org.br)

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envolvem adultos, adolescentes e jovens, deve pressupor a qualidade participativa juvenil – como protago-nista – na discussão e na resolução dos seus problemas, a partir de suas necessidades, dos seus desejos e de sua capacidade transformadora.

Por meio de discussões, eles trazem à luz seus variados perfis socioeconômicos, suas diferentes experiências, suas típicas e atípicas vivências em histórias e culturas diversifi cadas. Ouvir o jovem é um instrumental de conhecimento de seu estilo de vida, do retrato do seu mundo, dos caminhos que percorre, dos pacotes de sonhos que se abrem, dos projetos a se realizarem e um benefício valioso aos estudiosos e interessados em seu universo.

O desafi o do autocuidadoA construção do autocuidado

juvenil é um dos grandes desafi os sociais. A sexualidade continua sen-do um dos maiores mistérios a ser desvendado nessa nova fase da vida. Os adolescentes são surpreendidos

por um emaranhado de idéias, reações e condutas que invadem suas vidas.

As experiências dos serviços existentes têm de-monstrado que tanto o despertar da sexualidade como seu exercício continuam impregnados por mitos e possibilidade de intercorrências, como a atividade sexual precoce sem proteção, a gravidez não esperada, o aborto, as DSTs e a Aids.

Esses males do amor são gerados pela falta de diálogos entre o mundo adulto e os jovens e entre os próprios jovens. Por isso, há necessidade de muitos espaços educativos, desprovidos de juízes e censores. O jovem com uma imagem negativa, com auto-estima negativa, sem projetos para o futuro, passa a negociar com a vida, com o parceiro e com os amigos, em con-dições de insegurança e risco. A construção do auto-cuidado não é uma tarefa individual do adolescente e do jovem, e sim uma ação coletiva da sociedade.

Os adolescentes e jovens cada vez mais conhecem os métodos anticonceptivos, sabem da importância do uso de preservativos, mas para transformar esse uso em prova de carinho para com ele mesmo e com o parceiro é preciso que tenham segurança, e não medo de dialogar, interiorizando a importância do seu autocuidado para a sua proteção.

Pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde, observou que a garota, nas relações sexuais,

A CONSTRUÇÃO DO AUTOCUIDADO NÃO É UMA TAREFA INDIVIDUAL DO ADOLESCENTE E DO JOVEM, E SIM UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA

tem medo de não agradar, e o rapaz tem medo de falhar. Conclusão: a insegurança ainda infl uencia os rela-cionamentos.

As características da adolescência e da juventude e as relações de gênero estão diretamente envolvidas com a negociação e a prevenção, nos riscos da sexualidade. Com a ocorrência, cada vez mais precoce, da primeira relação sexual (média entre 14 e 17 anos), maior é a insegurança e o medo de ambos os sexos.

Mas o debate vai além: “Os adoles-centes conhecem ou não os métodos anticoncepcionais?”. As pesquisas mostram que 90% conhecem os métodos tradicionais e os últimos lançamentos. Isto, porém, não ga-rante o uso na primeira relação nem a disciplina na continuidade. A literatura mostra que eles utilizam pouco ou de forma descontínua os métodos anticoncepcionais. E os da-dos apontam difi culdade na mudança de comportamento em curto espaço de tempo.

O autocuidado é uma conseqüência de ações integrais e intersetoriais. A experiência de 19 anos do Programa do Adolescente da Secretaria de Saú-de do Estado de São Paulo constatou que o conhecimento e a informação sobre os riscos não bastam para mu-dar o comportamento. O caminho en -contrado foi estimular o diálogo, rea-lizar ofi cinas de sentimentos e aten-dimento integral. Grupos nos quais o adolescente possa falar e ouvir têm mostrado resultados. Falta, porém, fazer muito mais: buscar cada vez mais parcerias e intersetorialidade.

Desejamos constituir políticas pú-blicas para adolescentes e jovens no sentido de contribuir para que este período transcorra de forma a impe-dir ou minimizar escorregões para a transgressão. O fundamental é que a passagem pelo período seja sentida pelo jovem como um crescimento. É preciso incentivar a multiplicação de espaços de convivência e de equipamentos sociais que acolham desabafos e combatam fatores de riscos que possam comprometer o desenvolvimento e os projetos de futuro da juventude.

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sem bússola

VIDAS EM PERIGO

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A juventude brasileira enfrenta muitos riscos. Ex-posta a um complexo quadro de condições de vida, que inclui os efeitos da desigualdade social e gera poucas perspectivas de futuro, uma grande parcela tem sucumbido aos perigos que enfrenta: o envolvimento com a violência; a gravidez precoce, desejada ou não; o contágio por doenças sexualmente transmissíveis; o uso de drogas, do cigarro e álcool aos solventes. Mas muitos jovens também têm resistido, fazendo de suas histórias exemplos de superação das adversidades em busca de um futuro melhor. Muitas vezes, a inspiração para a mudança de rota vem de ações que levam em conta a vida juvenil de um ponto de vista integral.

A morte por armas de fogo é a principal causa de mortalidade entre os homens jovens no Brasil. Estudo divulgado pela Unesco mostrou que dos 550 mil brasi-leiros mortos por elas entre 1979 e 2003, 206 mil eram rapazes entre 15 e 24 anos. A taxa de mortalidade por causas violentas na população brasileira é de 48,15 casos para 100 mil habitantes. Entre a moçada, salta para 74,42 casos para 100 mil habitantes.

O sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que o envolvimento dos garotos com a vio-lência é um fenômeno mundial. “Mas o Brasil chama a atenção porque as taxas são extremamente altas”, diz. As explicações somam muitos fatores: a falta de con-dições mínimas de sobrevivência digna nas periferias das grandes cidades, o alto índice de desemprego nessa faixa etária, o elevado número de armas de fogo nas mãos da população, a violência policial, a impunidade, entre outros.

Há ainda um fator relacionado a um traço forte da cultura brasileira: o comportamento machista. Em fase de afi rmação de identidade, idéias distorcidas sobre o poder da masculinidade podem aumentar vulnerabi-lidades, com refl exos na mortalidade e na saúde dos rapazes e de suas companheiras. Incluem-se aí os acidentes de trânsito, as doenças sexualmente trans-missíveis (DSTs/Aids), a ocorrência de gravidez precoce, o uso de drogas.

OS ÍNDICES DE SAÚDE DOS JOVENS

BRASILEIROS REFLETEM A

COMPLEXIDADE SOCIAL E CULTURAL

DO PAÍS por _ Jane Soares

No Rio de Janeiro, o Instituto Pro-mundo vem se empenhando na dis-cussão do tema e, em parceria com outras três instituições, desenvolveu o Projeto H. “A intenção é questionar os papéis tradicionais relacionados à masculinidade, e com isso reduzir os comportamentos de risco e incentivar relacionamentos mais eqüitativos”, diz o diretor executivo Gary Barker. Uma das ações – o programa e a cam-panha “Hora H”, estimulando o uso de preservativos – foi desenvolvida em três comunidades: Bangu, Maré e Morro dos Macacos, com jovens entre 14 e 25 anos. Pesquisas antes e depois da realização das ofi cinas indicaram queda no aparecimento de sintomas de DSTs e aumento no uso de camisinhas nas relações com parceiras fi xas, por exemplo. “Mudan-ças de comportamento, como ajudar a cuidar dos fi lhos, também foram detectadas”, diz Marcos Nascimento, coordenador do Programa H.

Levar os jovens a discutir o machis-mo e convencê-los a usar preservativo não é tarefa simples, segundo I. J., 21 anos, um dos coordenadores do Pro-grama H na Maré. “É complicado falar em riscos para a saúde para quem simplesmente viver já é um risco”, diz. “Mesmo assim, alguns jovens repensaram e mudaram de compor-tamento em relação à violência contra as parceiras e no dia-a-dia. Passaram a discutir e a se preocupar com a sa-tisfação sexual delas, aprenderam a negociar o uso da camisinha.”

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Dentro de casaDurante boa parte de sua vida, C. V,

17 anos, uma estudante do ensino médio, viu a mãe ser espancada pelo pai. Depois, morando com a tia e uma prima “linda”, a garota se sentia “muito mal”. Na Curumim, de Recife (PE), aprendeu a se cuidar, a não se sentir inferior a ninguém, a perceber a violência doméstica como uma aberração. Com o cultivo da auto-estima, se soltou. Hoje representa a ONG em encontros e debates pú-blicos e coordena o grupo de jovens. “Tenho prazer em repassar o que aprendi”, diz.

A violência doméstica inclui tam-bém o abuso sexual, um problema de enormes proporções. Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que 27% das mulheres de São Paulo foram vítimas de violência em casa, e 10% foram obrigadas a man-ter relações sexuais. Na Zona da Mata Pernambucana, os índices chegaram a 34% e 14%, respectivamente. O estudo conclui que a brasileira corre mais riscos dentro de casa do que nas ruas.

Sueli Valongueiro, presidente da Curumim, reclama da falta de po-líticas para amenizar o problema. A psicóloga Nelma Pereira da Silva, da coordenação da Associação Na-cional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Ancef), reforça a queixa. “A violência sexual intrafamiliar é um problema antigo, atinge todas as faixas etárias e todas as classes sociais”, diz. Em 2000, foi elaborado o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual. Quase tudo fi cou só no papel.

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Teatro contra AidsPara jovens sem informação e sem outras motiva-

ções, a sexualidade consentida também pode embutir riscos. Com diferentes abordagens, a redução de danos em relação às DSTs/Aids é o móvel de dezenas de instituições. O Instituto Cultural Barong, de São Paulo, usa um trailer, sobre o qual foi colocado um preservativo infl ável de cinco metros de altura, para

falar da necessidade de prevenção, nas ruas, escolas, empresas. A equipe usa técnicas de teatro para atrair o público. “Protegidas pelo anonimato, as pessoas sentem-se à vontade para esclarecer dúvidas, falar sobre suas experiências”, diz a presidente, Marta McBritton.

A Associação de Solidariedade e Prevenção à Aids (Aspa) de São Leo-poldo (RS) atua tanto na prevenção quanto na assistência aos portadores do vírus HIV, na tentativa de melhorar a qualidade de vida e informá-los so-bre seus direitos e o tratamento. “O trabalho de prevenção é realizado em escolas, empresas, presídios, alber-gues, com a distribuição de folhetos, preservativos, palestras e atividades culturais”, diz Jorge Ubirajara de Sou-za, coordenador do projeto Acolhida.

S. M. S., 25 anos, é portadora do vírus. “Quando descobri que estava infectada, depois da morte de meu companheiro, entrei em depressão”, conta. Ingressou em um grupo de apoio da Aspa e começou o tratamen-to. Está casada há mais de dois anos

Idéias distorcidas sobre o poder da masculinidade podem aumentar ainda mais a vulnerabilidade de rapazes e suas parceiras

APOIO, SOLIDARIEDADE E PREVENÇÃO À AIDS (ASPA)ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGREPROPOSTA A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E A REDUÇÃO DA VULNERABILIDADE SOCIAL, PROMOVENDO A PREVENÇÃO E A REDUÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV E OUTRAS DST.JOVENS ATENDIDOS 9 MIL.APOIO: FNDE/MEC, GESTOR MUNICIPAL, GESTOR ESTADUAL, CAPTAÇÃO DE RECURSOS ENTRE ASSOCIADOS, DOAÇÕES DE PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS.CONTATO: RUA SÃO CAETANO, 965 – CENTRO – 93010-090 – SÃO LEOPOLDO (RS) – TEL. 51/3590-1505 – E-MAIL [email protected].

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GRUPO CURUMIM – GESTAÇÃO E PARTO ÁREA DE ATUAÇÃO RECIFE, PAULISTA, ABREU E LIMA, PAUDALHO, TIMBAÚBA, NAZARÉ DA MATA, ITAQUITINGA, CARPINA (PE).PROPOSTA CRIAR CONDIÇÕES TÉCNICAS E POLÍTICAS PARA A ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL E A HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO DE MULHERES, ADOLESCENTES E JOVENS. JOVENS ATENDIDOS 200 POR ANO.APOIO INTERNATIONAL WOMEN HEALTH COALITION, GLOBAL FOND, SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES, COMISSÃO DE CIDADANIA E REPRODUÇÃO, MINISTÉRIO DA SAÚDE, CERIS E PACIFIC INSTITUTE WOMEN HEALTH.CONTATO RUA SÃO FELIX, 70 – CAMPO GRANDE – CEP – RECIFE (PE) – TEL. 81/3427-2023 – E-MAIL: [email protected].

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APOIO, SOLIDARIEDADE E PREVENÇÃO À AIDS (ASPA)ÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE.PROPOSTA A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E A REDUÇÃO DA VULNERABILIDADE SOCIAL, PROMOVENDO A PREVENÇÃO E A REDUÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV E OUTRAS DST.JOVENS ATENDIDOS 9 MIL.APOIO FNDE/MEC, GESTOR MUNICIPAL, GESTOR ESTADUAL, CAPTAÇÃO DE RECURSOS ENTRE ASSOCIADOS, DOAÇÕES DE PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS.CONTATO RUA SÃO CAETANO, 965 – CENTRO – 93010-090 – SÃO LEOPOLDO (RS) – TEL. 51/3590-1505 – E-MAIL [email protected].

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INSTITUTO CULTURAL BARONGÁREA DE ATUAÇÃO SÃO PAULO.PROPOSTA DIMINUIR A INCIDÊNCIA DE DST/AIDS E HEPATITES, PROMOVENDO A RESPONSABILIDADE SEXUAL, POR MEIO DE AÇÕES DESENVOLVIDAS NAS RUAS, ESCOLAS, EMPRESAS.JOVENS ATENDIDOS SEM ESTIMATIVA.APOIO COORDENAÇÃO NACIONAL DE AIDS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA AIDS DAS SECRETARIAS ESTADUAL DE SÃO PAULO E MUNICIPAL DE SÃO PAULO, LABORATÓRIOS BRISTOL (PRESERVATIVOS PROSEX), PRESERVATIVOS STUDEX, CONJUNTO NACIONAL.CONTATO RUA ANTONIO BICUDO, 75 – PINHEIROS – 05418-010 – SÃO PAULO (SP) – TEL. 11/3083-5492 – SITE: WWW.BARONG.ORG.BR.

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VIDA DE REPÓRTER

“Não tive uma infância feliz. Filha

de pais separados em uma época em

que isso era um estigma, cresci meio

ao ‘deus dará’. Meu pai, dedicado

à nova família, me esqueceu.

Minha mãe não disfarçava que

me considerava responsável pelo

abandono do marido. Com a saída

do ‘provedor’ da casa, nos tornamos

muito pobres. Como no bairro só

havia grupos escolares, fi z o antigo

ginásio e o curso normal em uma

escola particular com bolsas de

estudos. Sem irmãos, primos ou

outros familiares, era uma criança

solitária. Mas essas difi culdades

nem de longe se comparam às

tristes experiências relatadas pelos

entrevistados. Conversas por telefone

recheadas de silêncio, tragédias não

contadas e inferidas por eventuais

frases soltas. Resultado: uma

profunda admiração por esses jovens

que conseguiram reescrever novas

histórias para suas vidas e pelos

profi ssionais que os ajudaram. E

uma profunda tristeza pelos que

se perderam pelo caminho por não

conseguir vislumbrar nem um réstia

de esperança.”

JANE MARIA SOARES DE FREITAS, 56 ANOS,

nascida em Souza (PB), é jornalistahá 32 anos

com um homem que não é soropositivo. “Só lembro da doença quando tenho de fazer os exames de controle, a cada seis meses”, diz.

Embora a incidência da Aids no Brasil esteja se estabilizando, a doença tem crescido entre negros e mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, em 2004 ocorreram 17,2 casos por 100 mil habitantes ante os 17,5 de 1998. Entre os rapazes de 20 a 24 anos, a taxa passou de 19,1 para 11,8, mas cresceu entre as mulheres, de todas as idades, porque elas não exigem o uso de preservativo dos companheiros estáveis, fato que contribui também para a ocorrência da gravidez precoce. Foi o que aconteceu com a carioca C. P. O, de 17 anos, que engravidou do noivo. “A gente usava cami-

sinha só de vez em quando”, diz. Dados do IBGE mostram também

que a ocorrência da gravidez juvenil diminuiu em 2004, com exceção da Região Nordeste. “Para prevenir a gravidez precoce e as DSTs/Aids não basta dar informação e preservativos, porque algumas meninas querem engravidar”, diz a pediatra especia-lizada em sexologia Bettina Grajcer, do Projeto Quixote, de São Paulo. “É preciso alertá-las sobre as conse-qüências de ter um fi lho, fortalecer a auto-estima, ensiná-las a negociar o uso do preservativo com o parceiro.” Segundo Bettina, as meninas engra-vidam menos quando desenvolvem novos projetos de vida.

Drogas mais cedoOutros problemas que afetam a

saúde dos jovens ganharam novas proporções. O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotró-picas (Cebrid) divulgou levantamento nas 27 capitais brasileiras sobre o uso de drogas entre estudantes do ensino fundamental (a partir da 5ª série) e do ensino médio da rede pública. Foram ouvidos 50 mil adolescentes.

Constatou-se que eles entram em contato com as drogas já entre 10 e 12 anos e mais de 12% usaram algum tipo delas. O álcool é a droga mais usada, embora tenha ocorrido uma ligeira redução em todas as capitais e faixas etárias. Em seguida, vem o tabaco e depois o solvente, com 15,4% de usuários. “O uso de drogas entre jo-vens tornou-se um problema de saúde pública e os pais têm difi culdades em discutir o assunto com os fi lhos”, diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, diretor do Grupo de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O educador Sérgio de Cássio Souza Nascimento, presidente da Organiza-ção Atitude, de Ceilândia, no Distrito Federal, conhece a dificuldade de abordagem. “Esses garotos não co-nhecem nenhum ‘salvador da pátria’. Convivem com gangues, profi ssionais do sexo, jovens em confl ito com a lei”, diz. A Atitude usa a arte e a cultura para mostrar ser possível criar outras histórias de vida. “É um trabalho difícil.

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A VIOLÊNCIA É A MAIOR CAUSA DE

MORTALIDADE JUVENIL. A

AIDS ESTÁ SE ESTABILIZANDO,

MAS É MAIS ELEVADA ENTRE

NEGROS E MULHERES. A

GRAVIDEZ ANTES DOS 20 COMEÇA

A RECUAR

INSTITUTO PROMUNDOÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL.PROPOSTA CONTRIBUIR PARA A IGUALDADE SOCIAL POR MEIO DE AÇÕES E PESQUISAS VOLTADAS PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE CRIANÇAS E JOVENS NO BRASIL E NO MUNDO, INCENTIVANDO A SUA PARTICIPAÇÃO NESSE PROCESSO.JOVENS ATENDIDOS SEM ESTIMATIVA.APOIO: BANCO MUNDIAL, BERNARD VAN LEER FOUNDATION, CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA), SERVIÇO ALEMÃO DE COOPERAÇÃO (DED BRASIL), SSL INTERNATIONAL – DUREX, FORD FOUNDATION, INSTITUTO C&A, ISPCAN, IPPF/WHR, MAC ARTHUR FOUNDATION, OMS, OPAS, OXFAM, MINISTÉRIO DA SAÚDE, SAVE THE CHILDREN (SUÉCIA), SECRETARIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES, SUMMIT FOUNDATION, UNESCO.CONTATO RUA MÉXICO, 31, BLOCO D, SALA 15 – RIO DE JANEIRO (RJ) – TEL. 021/2544-3114 – WWW.PROMUNDO.ORG.BR.PA

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ORGANIZAÇÃO ATITUDEÁREA DE ATUAÇÃO CEILÂNDIA (DF).PROPOSTA A MOBILIZAÇÃO SOCIAL DOS JOVENS PARA O DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PARA MELHORAR A VIDA COLETIVA.JOVENS ATENDIDOS 250.APOIO INSTITUTO C&A, EMBAIXADA DA NOVA ZELÂNDIA, MINISTÉRIO DA CULTURA.CONTATO KMM9, CONJUNTO E, CASA 32 – CEP – CEILÂNDIA SUL (DF) – TEL. (61) 3371-6055 – E-MAIL: ATITUDEORG@IBEST,COM.BR.

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De 100 jovens atendidos, cerca de dez passam por um processo con-creto de mudança.”

E cada um deles vale a pena. Brigão, machista, cheio de precon-ceitos, como ele mesmo diz que era, R. R. S., de 17 anos, afi rma que sua cabeça “abriu” depois de freqüentar a Atitude. Participante de um grupo de teatro, elegeu-se presidente do grêmio de sua escola. Já arrecadou dinheiro para reformar a quadra de esportes, fez mutirão para consertar as carteiras, quer organizar palestras sobre sexualidade e machismo. Sexo com a namorada, só com camisinha. “Ainda não estamos preparados para ter um fi lho”, refl ete.

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o sujeito da frase

Suas letras mexem com os jovens brasileiros, sejam eles da periferia ou dos bairros ricos. Afi nal, Marcelo Yuka tem, sim, “a alma armada e apontada para a cara do sossego”. Baterista, ex-integrante de O Rappa, foi atingido por três tiros durante um assalto em novembro de 2000 e fi cou paraplégico. Passou quase um ano e meio em depressão, mas nos últimos tempos fez de tudo, menos fi car parado. Fundou uma nova ban-da – um termo restrito para rotular a sua Frente Urbana de Trabalhos Organizados, mais conhecida pela sigla FURTO. Ele prefere dizer que é um projeto criado para promover atividades sociais. Yuka, 40 anos, foi também militante da causa do desarmamento. A derrota no refe-rendo, porém, não o desanima. Ele continua defendendo a exigência de contrapartidas da indústria bélica – uma espécie de taxação dos lucros revertida para projetos de saúde, para fi nanciar os tratamentos pós-lesão. Entre sessões de fi sioterapia e de música no estúdio que mantém em casa, na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, entre palestras e

“A ARMA QUE

shows que faz Brasil afora, Yuka se dedica ainda ao Conselho Nacional da Juventude, criado no ano passado. Conta que o Conselho tem discutido a questão da saúde juvenil do ponto de vista social também, e não só físico. E acredita que as mudanças desejadas só virão com novas formas de participação social, sem partidarização. “A melhor coisa que pode sair desse projeto é a gente entender que é preciso pensar na juventude como um todo”, diz. A seguir, trechos de sua entrevista.

Onda Jovem: Você diz que FURTO não é só uma banda, é o braço musical de uma série de ações sociais. Você foi nomeado integrante do Conselho Nacional da Juven-tude por causa dessa atuação fora dos palcos?Marcelo Yuka: Acho que não foi só pelo trabalho que eu faço fora do palco, mas também pelo direcionamento que eu dou à minha própria carreira. Minha poesia sem-pre teve um certo comprometimento e eu sempre usei isso. Ela é um espelho da sociedade. Mas, com certeza, o uso que eu faço da minha carreira fora do palco também foi lembrado na hora de me escolherem.

Você acredita que o trabalho do Conselho vá desembo-car em políticas públicas voltadas para os jovens?

Eu espero que o Conselho não se divida em questões políticas, nas diversas representações que ali estão. Que possa ter um propósito único. Teoricamente, ele é um conselho apartidário e deve ser a representação não de várias causas, mas de uma causa única, que é a juventude deste país. E representar isso é uma enorme responsabilidade. E acho que a gente deve fazer isso usando até uma linguagem diferente da linguagem política convencional.por_Berenice Seara

MUDA É O LIVRO”

Ex-integrante do Rappa, Yuka foi baleado em 2000, ao cruzar

um assalto, no Rio. Paraplégico, superou a depressão e montou a banda FURTO, que chama de

braço musical de ações sociais

Existe alguma outra experiência com essa abrangência que possa servir como modelo?

Não, esse Conselho é uma iniciativa inédita, única. Por isso a gente tam-bém vai aprendendo com o desenrolar da história. Mas acho que desde já é preciso ter algumas preocupações, como a de tentar buscar mais as afi nidades do que as diferenças. Eu presumo que a melhor coisa que pode sair desse projeto é a gente entender que é preciso pensar na juventude como um todo. Principal-mente naqueles que estão em maior difi culdade. Hoje, é a juventude que mais sofre com o desemprego, com a baixa escolaridade, que é a maior vítima de assassinatos...

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Um dos músicos mais politizados de sua geração e integrante do conselho nacional da juventude. Marcelo Yuka diz que a organização civil é o meio para a melhoria da qualidade de vida

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E vive com as seqüelas da violência. Você sabe como ninguém o que é isso. E quanto aos jovens que pas-sam por uma situação semelhante a sua e não têm acesso aos mesmos recursos?

Eu venho defendendo uma propos-ta há tempos: que parte do lucro da indústria do armamento seja taxada para reverter para projetos de saúde, de tratamentos pós-lesão, e também de educação. Como na Europa, onde as empresas poluentes têm de inves-tir em programas de meio ambiente. Não é uma multa. Você vende ou produz armas, então você paga. Ah, mas vai abalar o comércio? Dane-se. Esse custo deve estar incluído na sua decisão de produzir artigos desse gê-nero. Outra coisa: essa taxa poderia ser cobrada também dos fabricantes de armas que são encontradas aqui

ilegalmente. Porque, de alguma maneira, eles têm de ser responsáveis também por onde aquilo que produ-ziram vai parar. Nos Estados Unidos, já foram ganhas algumas ações dessa maneira. Uma pessoa foi morta com uma arma americana lá na Suíça. A família entrou com um processo e ganhou. Seria aplicar contra eles um castigo – não tão forte quanto o que a gente sofre aqui em decorrência das armas. É um tipo de retaliação.

E há também o comprometimento da saúde, não só a física, mas a saúde emocional, o bem-estar social...

Essa é uma das maiores preocupações que o Con-selho tem. Nós somos um país campeão mundial de desigualdade social. É claro que a grande mudança virá se a gente conseguir reverter esse quadro, mas isso real-mente leva algum tempo. Eu não acredito que a única opção de melhoria da qualidade de vida da maioria de nós, que é pobre, seja esperar uma mudança econômica que possa trazer mais justiça social. Até porque a elite desse país já se mostrou burra e decadente e não vai abrir mão de nada. Não tenho pretensões políticas, acho que a organização civil ainda é a melhor opção. Não ape-nas pressionando, mas dobrando as mangas e fazendo. Isso não é tirar a responsabilidade do Estado. Várias pessoas já entenderam que é preciso dar sua melhor metade não só para o perímetro da sua casa, para a sua própria família. Eu ainda confi o nas pessoas.

E qual o papel da escola neste processo? Ela foi impor-tante para você?

Foi fundamental. Eu sempre estudei em colégio públi-co e até hoje eu preciso de uma referência de mestres. Se hoje já não tenho professores, eu procuro essas referências em pessoas que estão fazendo trabalhos sociais há mais tempo ou na literatura. Agora, a escola deve ser um espaço mais aberto e tem de se renovar. Entender a linguagem da criança, do adolescente e do jovem para, por meio de outros artifícios, fazer com que

eles possam ter o prazer de assistir à aula e ocupar o colégio. Por exemplo, eu fui alfabetizado aos 6 anos, mas só aprendi a ler, ou seja, só me interessei realmente pela literatura, empurrado pela raiva que eu sentia, aos 16 anos de idade. Eu tinha raiva da “dura” po-licial, eu tinha raiva de não ser aceito na minha adolescência. E comecei a ver que a leitura me dava um outro vocabulário e me abria os olhos. E ficava tudo diferente. A maneira como eu falava, como eu entendia historicamente o que estava acon-tecendo ali, o fato de eu saber dos meus direitos numa “dura” policial, mudava completamente a minha posição naquela hora.

Então, a literatura mudou a sua história?

Veja bem, hoje o hip hop está muito popular. Mas eles têm vários ídolos, que são da cultura negra americana, que agora querem representar o po-der por meio do cordão de ouro, de carros caros, que só falam de poder, de drogas, de violência. Mas lá atrás, quando o hip hop se formou, os gran-des cérebros da música americana mudaram o estereótipo, conquista-ram realmente um poder, um lugar diferenciado na sociedade, por meio dos livros. E isso o brasileiro ainda não entendeu. Que a arma que realmente mudou a condição deles foi o livro. E aqui quase não existe alguém dentro do hip hop falando sobre isso.

Yuka defende que parte dos lucros da indústria

armamentista seja taxada e revertida para

projetos de saúde e tratamentos pós-lesão

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�Não acredito que a única opção de melhoria da qualidade de vida seja esperar uma mudança econômica que traga mais justiça social. É preciso dobrar as mangas e fazer. Eu ainda conÞ o nas pessoas�

É uma estratégia errada? É. Outra coisa que se fala muito

nos projetos sociais é que a mudan-ça vem de tirar o garoto do tráfi co, de mexer com a auto-estima. Estou montando um trabalho com Fábio Ema, que é artista e educador, e a gente quer mostrar que agora não é só fazer um projeto educacional diferenciado, mas é ter uma preten-são maior ainda: é saber que algumas daquelas pessoas vão conquistar um lugar que vai provocar a sociedade. Por meio do grafi te, que é uma arte plástica de rua, pode sair um artista negro, nordestino ou favelado, que pode chegar num nível tal que vai perturbar. É como levar um negro a ser juiz, médico.

E há algo sendo feito no âmbito do Conselho Nacional da Juventude que vá nesse caminho?

A gente apóia, e ao mesmo tempo questiona, o Pró-Jovem, um projeto voltado para a educação, para a cidadania, para a profi ssionalização, que o governo vem implantando nos lugares mais carentes. Eu acho que a idéia é boa, mas é preciso ainda amadurecer. Ele é muito vinculado aos municípios. E pode não ter uma qualidade uniforme, porque vai depender das prioridades e das condições fi nanceiras de cada mu-nicípio. Ou seja, o projeto ainda está em teste. Mas é muito interessante acompanhar, poder analisar os pon-tos válidos e os não válidos.

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luneta

NUMA FASE DE EMOÇÕES INTENSAS E OSCILANTES, A OCORRÊNCIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS PODE SER FONTE DE EQUÍVOCOS E PRECONCEITOS

Juventude rebelde, agressiva, deprimida, hiperativa, desafi adora. Essa visão que alguns setores ainda cultivam sobre a fase juvenil, percebi-da como doença, como um problema em si, que ameaça a ordem, parece ter distorcido também a perspectiva de muitos daqueles que deveriam acolher os jovens e suas questões. Quando o assunto é saúde mental, médicos, psicanalistas e educadores são unânimes em alertar para essa abordagem preconceituosa, que crava uma interrogação no destino dos 7 milhões de jovens brasileiros que, estima-se, sofrem de algum transtorno psiquiátrico.

A questão é ainda mais delicada exatamente porque um dos maiores desafios dos jovens é inventar e construir um projeto de vida a partir de si e para si mesmo. E essa nova inserção no mundo, longe da proteção familiar, não se dá sem dores e osci-lações. “Por isso, é preciso cuidado na análise dos casos. Quando se tem uma visão ‘patologizada’ dos jovens, existe o risco de se tomar uma crise existencial como sinal de doença. A timidez pode ser taxada como fobia social ou o medo visto como pânico”, diz Cristina Vicentin, professora de Psicologia Social da Pontifícia Univer-sidade Católica de São Paulo e autora do livro “A Vida em Rebelião - Jovens em Confl ito com a Lei”.

FOME DE SENTIDO

por_Cristiane Balleriniilustração_Marcelo Pitel

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Um equívoco neste tipo de diagnóstico pode levar ao uso desnecessário de medicamentos. Algumas drogas podem induzir à passividade excessiva, funcionando como “tampões” das verdadeiras razões para as inquie-tações do jovem. Outras, usadas como tranqüilizantes, podem viciar. “É claro que medicamentos são úteis e necessários em várias situações, mas seu uso não pode ser banalizado como vem ocorrendo. Isso é reduzir a complexidade do ser humano a uma questão bioquímica”, diz a psicanalista Cleusa Pavan, do Departamento de Psi-canálise do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.

Inibições e estardalhaçosOs médicos defi nem transtorno mental como um

padrão comportamental ou psicológico associado com sofrimento e incapacitação. Para pais, professores e orientadores, pode ser difícil diferenciar as situações. Mas a constância dos comportamentos é um dos sinais principais. As variações de humor, por exemplo, são bas-tante comuns na adolescência e juventude. As emoções fl utuam intensamente e, às vezes, o jovem pode se encontrar em um estado depressivo passageiro. “Mas aquele que sofre de depressão não apresenta oscilação. A visão negativa, a tristeza sem razão ou despropor-cional aos acontecimentos são uma constante”, diz a psiquiatra Sandra Scivoletto, do Hospital das Clínicas de São Paulo, co-autora do livro “A Saúde Mental do Jovem Brasileiro”.

Outro aspecto importante é o grau de limitação que essas “dores” impõem ao jovem. Se ele fi ca impos-sibilitado de realizar tarefas e circular pelos locais que costuma freqüentar, é aconselhável buscar orientação rapidamente.

Para a psicanalista Cleusa Pavan, a ocorrência dos transtornos psíquicos juvenis se relaciona com os poucos recursos que a sociedade disponibili-za às novas gerações para dar senti-do às próprias vidas: “A manifestação de sintomas são uma reação e os jovens podem reagir com ‘inibição’ ou com ‘estardalhaço’”. Entre as “inibições” estão as depressões, as fobias, as obsessões, as melancolias, as psicoses, a anorexia, a bulimia, as toxicomanias. No campo dos “es-tardalhaços” fi guram a violência, a delinqüência, as manias e o suicídio. Atualmente, as ocorrências mais freqüentes são a depressão e as dependências de diferentes espécies de objetos: drogas lícitas ou ilícitas e psicofármacos, mas também muscu-lação, sexo, uso de grifes.

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Impulso fatalO mais dramático dos transtornos mentais é o que

leva ao suicídio, e na juventude ele ganha contornos ain-da mais incompreensíveis. Por causa da subnotifi cação, o número de jovens brasileiros que tiram a própria vida não é conhecido. O que se sabe é que o suicídio nessa idade é marcado pela impulsividade. Muitas vezes, o que jovem deseja, aparentemente, não é a própria morte, mas sim marcar uma posição em defesa de algo ou deixar culpados aqueles com quem convivia.

O sofrimento intenso também é um mecanismo liga-do à prática suicida nesta fase. O rompimento de um namoro, por exemplo, pode levar a atos desesperados, já que nessa idade a vivência do tempo faz com que as angústias pareçam eternas. Em geral, as meninas tentam contra a própria vida mais vezes, possivelmente com o intuito de chamar a atenção dos adultos. Já os rapazes concluem o ato suicida em maior número do que as garotas.

OS TRANSTORNOS PSÍQUICOS JUVENIS SE RELACIONAM TAMBÉM COM OS POUCOS RECURSOS QUE A SOCIEDADE DISPONIBILIZA ÀS NOVAS GERAÇÕES PARA DAR SENTIDO ÀS SUAS VIDAS

Existem ainda, nesta faixa etária, ocorrências mais raras, como a es-quizofrenia e o transtorno bipolar, e que por sua gravidade e poder de incapacitar devem ser tratados com a máxima atenção e urgência. Mas os próprios especialistas podem levar algum tempo para fechar o diagnós-tico, já que são muitos os aspectos a serem analisados.

A arquiteta I. A. recebeu o diagnós-tico de esquizofrenia do fi lho de 18 anos recentemente. É uma notícia que nenhum pai quer ouvir. E esse desejo pode contribuir para adiar a busca por ajuda. “Eu queria justifi car tudo: o comportamento dele era ‘culpa’ da mi-nha separação, da maconha, das más companhias”, diz I. A. Durante uma crise delirante, que incluiu ameaças à mãe, a família aceitou a necessidade de hospitalização temporária. Após um período curto de internação, o tra-tamento – com medicamentos, aten-dimento psiquiátrico e psicanalítico – já começa dar resultados: “Estamos conseguindo ter boas conversas e ele parece mais contente na faculdade”, diz a mãe.

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A bala e o gatilho O potencial da herança genética

no aparecimento das doenças men-tais ainda está em discussão. Com relação à depressão, por exemplo, um histórico na família aumenta os riscos de aparecimento da doença, mas o fator desencadeante para os quadros depressivos está no ambiente. Situações estressantes, instabilidades, privações constantes, espaços de convivência hostis e vio-lentos podem fazer surgir o problema. “A característica genética é a bala dentro do revólver. Mas é o ambiente que puxa o gatilho para a ocorrência de transtornos mentais”, diz Sandra Scivoletto.

Várias pesquisas indicam que as ocorrências são maiores entre as camadas mais pobres. Com acesso restrito ao mercado de trabalho e à

renda, também mais jovens pobres vêem suas aspira-ções e desejos se perderem. “Sem realizações, fi ca-se tomado por ressentimento, mágoa, desespero. Perde-se a saúde mental e a física”, diz Cleusa Pavan.

Mas a psicanalista Simone André, responsável pela área de Juventude e Educação Complementar do Insti-tuto Ayrton Senna – que realiza projetos com cerca de 200 mil jovens em todo o país – lembra que a “fome de sentido” está em jovens de todas as classes sociais: “Se aos meninos das comunidades pobres faltam opor-tunidades”, diz ela, “aos fi lhos da elite está tudo dado, o mundo está pronto e eles sentem que não podem mudá-lo”. Diariamente, ressalta, milhões de jovens enfrentam e superam as difi culdades de suas vidas.

Sem atendimentoA falta de investimento em pesquisas faz com que

pouca coisa se saiba – cientifi camente – sobre a saúde mental da juventude brasileira. Mas é fato que faltam especialistas e serviços específi cos. “Os jovens acabam sendo encaixados em programas para adultos e isso não dá certo. Então, abandonam o tratamento. Muitas

vezes, nem mesmo chegam a um pro-fi ssional. Ficam sem atendimento”, diz Sandra Scivoletto.

No hospital dos Servidores do Esta-do, mantido pelo Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, médicos de diversas especialidades se mobilizaram para criar um serviço de atendimento multidisciplinar ao jovem. “Por conta dos poucos recursos”, conta Ana Bentes, única psiquiatra especialis-ta do hospital, “os adolescentes e jovens entravam de forma acidental na engrenagem do hospital e saíam sem cuidados adequados. Criamos, então, uma proposta de atendimento integral, visando também a saúde mental.”

Profi ssionais como ginecologistas, endocrinologistas e nutricionistas in-tegram a equipe. “É um atendimento individual, que percebe as demandas médicas e, ao mesmo tempo, recebe e trabalha as angústias e os sonhos desses rapazes e moças”, diz Ana Bentes. Para além dos muros do hos-pital, o grupo estabeleceu parcerias com várias organizações, na tentativa de dar lugar também às necessida-des de expressão e realização dos pacientes. É o caso da Spectaculu, que usa a arte para incluir jovens de comunidades pobres no mercado de trabalho.

Uma das maiores recompensas para os envolvidos na iniciativa é o vínculo de confiança que os mais de 300 jovens atendidos por mês têm com o serviço, diz Ana Bentes. “Ou-tro dia, nós ouvimos de um jovem: ‘vocês são nosso plano de saúde’”, conta sorrindo.

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A POLÍTICA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO

ADOLESCENTE E DO JOVEM

PROMETE INCLUIR UM PÚBLICO

QUASE SEMPRE IGNORADO

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por_Daniela Rocha

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Proporcionar atendimento qualifi cado ao adolescente e ao jovem é uma das prioridades da política de saúde pública atual. A afi rmação é de Thereza de Lamare, coor-denadora da Área de Saúde do Adolescente e do Jovem, do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde. “Quando se fala em saúde pú-blica, imediatamente se pensa em atenção à criança e à mulher, mas nunca em um atendimento especial ao adolescente e ao jovem. Este público é invisível para o sistema de saúde e é isso que queremos mudar, prin-cipalmente porque ele é estratégico em sua condição peculiar de desenvolvimento”, diz Lamare.

Se o Programa de Saúde do Adolescente que vigorava anteriormente tinha por base a criação de centros de referência para o atendimento, com a recém-elabo-rada Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, o objetivo passa a ser capacitar as equipes dos centros para um atendimento que con-temple três linhas de ação: a primeira diz respeito ao crescimento e desenvolvimento saudáveis; a segunda, à saúde sexual e reprodutiva; e a terceira, à redução da morbi-mortalidade por violências e acidentes.

“É uma política que enfatiza a prevenção às doenças e amplia o conceito de saúde. A questão não é apenas tratar doenças, mas, sobretudo, ter qualidade de vida, acesso à educação e à informação, ao lazer e exercer

o direito à participação”, diz Lamare. Para isso, os centros de saúde devem atuar de forma integrada à realidade da sua região – o que requer diálogo com escolas, empresas e lideranças comunitárias locais e capacitação de toda a equipe, para um atendi-mento acolhedor. De acordo com a política, não é preciso ser um hebiatra – médico especializado em saúde do adolescente –, para atender um jovem de forma qualifi cada. No caso de um pediatra, ele poderá atender jovens até 19 anos, adequando a consulta à idade do paciente.

“Quem tem interesse em trabalhar com adolescente vai naturalmente buscar informação. A qualificação ajuda a conduzir os processos”, diz o médico Ivan Lisboa Fialho Júnior, coordenador do Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção In-tegral à Adolescência, o Adolescentro, uma proposta pioneira no atendimen-to ao adolescente e jovem que existe em Brasília desde 1998. Iniciativa de três médicos hebiatras, duas psicó-logas e uma assistente social, é um espaço que funciona em um centro de saúde convencional com foco na atenção ao adolescente e ao jovem.

ATENDIMENTO INTEGRAL

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Processo de emancipaçãoA estratégia do Ministério da Saú-

de é válida, segundo o médico José Ricardo Ayres, professor do Departa-mento de Medicina Preventiva da Uni-versidade de São Paulo e especialista em saúde do adolescente e do jovem. “A saúde da criança é mediada pelos pais. A adolescência é o momento em que se constrói a autonomia como sujeito e como cidadão. A polí-tica de saúde tem de pensar nisso e levar em conta que são pessoas em processo de emancipação”, diz. Para ele, é importante uma abordagem interdisciplinar que reúna saúde, educação e cultura e que dê alterna-tivas para adolescentes crescerem e se tornarem pessoas autônomas, independentes e felizes.

“Como esse período é marcado também pelo início da atividade se-xual, isso gera demandas específi cas e considero que é preciso ampliar a compreensão sobre as questões que atingem essa faixa etária. Às vezes, a gravidez precoce é uma alternativa para o crescimento individual, por-que cria uma situação que viabiliza a menina sair de sua casa, onde o ambiente pode ser hostil ou violento, e abre uma via para que ela cuide da sua saúde”, diz o médico.

Em outras palavras, sobretudo quando se trata de adolescente e jovens, é importante estar despro-vido de preconceitos. O primeiro a ser derrubado, segundo Thereza de Lamare, é a idéia de que adoles-cente é “pessoa-problema”. Para o médico Ricardo Ayres, o jovem bem informado adota uma atitude de au-tocuidado de modo mais efi caz que o adulto bem informado. Prova disso é que uma pesquisa do Ministério da Saúde de 2004 sobre comportamen-to sexual do brasileiro demonstrou que, na faixa etária de 15 a 24 anos, a maioria utilizou preservativo na última relação sexual. “Percebemos que as faixas mais velhas têm mais práticas de risco que as mais novas.” Porém, alerta o médico, esse não é um processo mecânico: exige infor-mação, mas também envolvimento do jovem nas discussões.

Para especialistas, a proposta do Ministério da Saúde é válida, mas as políticas públicas precisam ser mais

criativas para atingir também os jovens fora da escola, nas ruas, no trabalho, os privados de liberdade, por meio de

ações comunitárias de lazer e cultura

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Linhas estratégicasNa nova política de atenção à saúde

de adolescentes e jovens, as ações voltadas ao crescimento e desen-volvimento saudáveis, por exemplo, prevêem o credenciamento dos adolescentes de 10 a 15 anos para que se assegure um atendimento sistemático ao menos uma vez ao ano. Já na questão de saúde sexual e reprodutiva, a idéia é contribuir para postergar ou evitar uma segunda gravidez e facilitar a integração so-cial de pais e mães adolescentes. O projeto inclui ainda ações de pro-moção da cultura da paz, prevenção de violências e assistência a jovens vítimas de agressões.

Para o atendimento qualificado, serão distribuídos cartões do adoles-cente, em versão masculina e femi-nina. Os cartões, que mais parecem livretos de bolso, foram elaborados com a Universidade de Brasília. Além do histórico de saúde, gráfico de peso e altura e controle de vacinação, incluem informações sobre sexo seguro, saúde bucal, alimentação, aspectos da legislação (em especial o

Estatuto da Criança e do Adolescente) com relação aos direitos e fi naliza com uma página para se refl etir sobre projeto de vida. A receptividade ao cartão será testada em oito municípios, antes da sua distribuição nacional. “Mas apenas distribuir o cartão não resolve. É neces-sário que ele seja de fato utilizado e que o adolescente passe a valorizar questões como prevenção de doenças e melhoria na sua qualidade de vida e quebrar o mito de que jovem não adoece ou não precisa de atenção especial na saúde”, diz Thereza de Lamare.

Articulação nacional O desafi o é grande, pois a proposta federal depende

da adesão das secretarias de saúde municipais. Toda a sua aplicação será acompanhada por um Conselho Gestor, que inclui representantes do governo municipal, estadual e federal. Além disso, para a política funcionar em âmbito local, é preciso integração das equipes de saúde, parcerias com a sociedade civil, estímulo à par-ticipação juvenil e ações intersetoriais complementares que envolvem áreas de educação, esporte e lazer e são a chave do sucesso dessa proposta ambiciosa, porém exeqüível, na opinião de Thereza de Lamare.

Em um tema delicado, como o de Doenças Sexual-mente Transmissíveis (DSTs) e Aids, a política prevê articulação com o Ministério da Educação para a am-pliação do programa Saúde e Prevenção nas Escolas, com jovens promotores de saúde, um projeto que já existe em parceria com a Unesco.

“As pessoas devem ter acesso livre e verdadeiro às informações na medida em que tenham necessidade. Estou convicto que se deve discutir sexualidade já no ensino fundamental e tratar do tema da prevenção às DSTs aos 12, 13 anos, com uma perspectiva adequada à idade”, diz o dr. Ricardo Ayres. Mas, para ele, a política de saú-de deveria ser mais criativa em termos de estratégia, para atingir os jovens também fora da escola, incluindo os que vivem na rua, os privados de liberdade e os que estão no trabalho, com ações desenvolvidas em centros comunitários e de lazer para a promo-ção da saúde e não apenas sob ponto de vista de prevenção à doença.

A NOVA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE

ADOLESCENTES E JOVENS VISA AO CRESCIMENTO

E DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEIS, À SAÚDE

SEXUAL E REPRODUTIVA E À REDUÇÃO DA

MORTALIDADE PELA VIOLÊNCIA E ACIDENTES

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ciência

POR SI MESMOPARA TORNAR-SE AUTÔNOMO, CAPAZ DE SE CUIDAR, O JOVEM ENFRENTA UMA REVOLUÇÃO ORGÂNICA. A NOVIDADE É QUE OS HORMÔNIOS NÃO SÃO OS PROTAGONISTAS DESTA HISTÓRIA

por_Karina Yamamoto

ilustrações_Anderson Rei

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Durante a segunda década da vida, além das visíveis mudanças no corpo que evidenciam o sexo, uma outra revolução acontece dentro da nossa cabeça. Tanto no sentido fi gurado quanto no literal. O cérebro passa por uma série de transformações, cujo objetivo é adquirir as competências necessárias para amadurecer como adulto, incluindo tomar conta de si mesmo. Uma parte desses eventos fi siológicos ajuda a explicar o gosto que muitos jovens demonstram pelo risco, por que são impulsivos, valorizam tanto a turma e estão sem-pre dispostos a questionar a autoridade. Ou seja, o mesmo processo que permite aos jovens se tornarem mais cuidadosos em relação a sua integridade também abre brechas para atitudes que podem, eventualmente, contribuir para prejudicar sua saúde.

A neurociência já começa a entender o que acontece nesse período. Com essas informações, os adultos podem compreender melhor o processo e interagir de forma mais positiva com os jovens, dando-lhes o necessário suporte para que tomem suas decisões. Porque é disso que se trata: tomar decisões. E algumas orientações antigas, antes baseadas apenas no senso comum, agora se comprovam efi cazes: fazer esporte

nessa fase, por exemplo, é mesmo uma ótima solução para os confl itos do corpo – e do cérebro também. Afi nal, para a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, autora do livro “O Cérebro em Transformação”, este órgão é quem comanda. “É preciso acabar com essa besteirada de que são os hormônios e pronto”, diz Suzana, professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em seu livro, Suzana afi rma que a fase juvenil é, numa visão biológica mais crua, também o período em

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O PROCESSO DE AMADURECIMENTO CEREBRAL, QUE PERMITE AOS JOVENS SE TORNAREM MAIS CUIDADOSOS EM

RELAÇÃO A SI MESMOS, TAMBÉM EXPLICA ALGUNS COMPORTAMENTOS DE RISCO

que o cérebro se torna capaz de lidar com as competências reprodutivas adquiridas na puberdade e suas conseqüências. Ou seja, depois de incorporados os interesses pelo sexo, é hora de aprender a enxergar a vida levando em conta mais essa nuan-ce. O que nem sempre é fácil. Até porque, ao mesmo tempo, é preciso reaprender a lidar com o novo corpo. Ao fi nal do estirão de crescimento, o córtex parietal, que é responsável pelas informações sensoriais, passa por uma faxina de ligações sinápticas. Assim, as conexões pouco utilizadas entre uma célula do cérebro e outra são eliminadas. Provavelmente, vão para o beleléu aquelas que represen-tavam o esquema corporal antigo.

O que pode ajudar nessa fase? A primeira solução é olhar-se bastante no espelho. A segunda é um bom e ve-lho hábito: praticar esportes. As duas estratégias ajudam a enviar repetida-mente sinais de como é esse “novo” corpo, facilitando sua percepção e o convívio com ele. “A preocupação com a imagem do corpo leva o adolescente para a academia, o que é muito bom porque além da satisfação que a práti-ca de exercícios proporciona, melhora a auto-estima e há espelhos por todo lado”, diz Suzana. Desde que não haja exageros, é claro.

Em busca do prazerDo ponto de vista do cérebro, há

ainda outra vantagem na prática regular de exercícios ou esportes. Quando se exercita, o organismo libera substâncias que nos dão sen-sação de bem-estar – o que é mais que bem-vindo no caso dos jovens. É que, nessa fase, o cérebro perde um terço dos receptores de dopami-na, uma das principais substâncias responsáveis pelo nosso prazer. Isso acontece numa região (núcleo acumbente) que faz parte do nosso sistema de recompensa, um grupo de

estruturas responsáveis por literalmente recompensar atitudes úteis (ou, ao menos, interessantes para nossa sobrevivência). Como conseqüência dessa perda, fi ca mais difícil agradar a esse sistema.

Receber um afago dos pais ou ganhar uma sobreme-sa – mimos que fazem a felicidade de uma criança – não provocam nem cócegas no sistema de recompensa de rapazes e moças. Sob esse aspecto, fi ca mais fácil entender dois males de que padecem muitos jovens: o tédio e a preguiça. Se o sistema de recompensa está meio para baixo, é compreensível também a ânsia dos jovens por novidades e situações de risco. Eles precisam de estímulos mais intensos e com maior freqüência para se sentirem bem.

Outro setor cerebral em franca mudança é o córtex pré-frontal – uma área que se localiza bem atrás da testa. Ela é responsável pelo que os adultos chamam de “juízo”. A capaci-dade de se colocar no lugar do outro e de prever as conseqüências de um ato e até conseguir articular todas as informações recebidas em prol das duas primeiras atitudes são tarefas dessa região. Nesse período da vida, ela também elimina as ligações entre as células cerebrais que são pouco usadas, como no córtex parietal, já

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citado. Ao mesmo tempo, os neurô-nios estão passando por uma trans-formação que aumenta a velocidade dos impulsos elétricos que os une, trazendo mais agilidade mental.

Às vezes, pode ser difícil conciliar um sistema de recompensa ávido por emoções intensas com um córtex pré-frontal ainda em maturação. O primeiro quer aventuras e o segundo ainda nem sempre é capaz de sinalizar o real perigo da situação. Começam os confl itos: os adultos, investidos ou não de autoridade, tentam impor limites e os jovens reagem com rebeldia ou re-volta. Proibir, nessa fase, acaba tendo o mesmo efeito de um incentivo. O melhor, recomendam os especialistas, é procurar ajudar o jovem a tomar a melhor decisão possível.

“Grande parte dos confl itos se deve ao fato de um lado querer decidir pelo outro – aí se apela para o poder”, ava-lia Suzana Herculano-Houzel. Aconte-ce que, mesmo sem estar completa-mente maduro para escolhas, o jovem precisa treinar essa capacidade e, de preferência, com a retaguarda dos adultos à sua volta. “O que a gente

pode fazer é ajudar e torcer para que ele se decida pelo melhor, mas a decisão é dele”, completa Suzana. Como ajudar? Apresentando opções, muitas mesmo, o maior número possível delas. “Não se trata de educar para a adolescência, mas de explorar, de apreender o processo em curso nesse período da vida”, acrescenta o psicanalista André Gilles, da Universidade Estadual de São Paulo, em Bauru. “A adolescência é um momento que não deve ser encurtado nem controlado.”

Novas experiênciasTomar decisões é mesmo o aprendizado crucial nessa

etapa, marcada por muitas novidades. “Várias primeiras experiências que acontecem nessa fase de vida trazem riscos à saúde: a primeira dose de álcool, de fumo ou drogas, além da iniciação sexual, que pode abrir as portas para as doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a Aids, e para a gravidez precoce”, diz o mé-dico Mauro Fisberg, coordenador clínico do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo.

E se não há uma preocupação com doenças típicas dessa fase, isso não signifi ca relaxar a atenção. “É nessa idade que se iniciam as doenças de gente idosa”, diz o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Consumir álcool não mata o jovem, mas, depois de 30 anos, uma cirrose pode tirar sua vida”, diz. Muita informação e diálogo sobre os perigos para a saúde e sobre que cuidados tomar com o corpo são a melhor

prevenção contra problemas no futuro. Ainda valem as mesmas regras de ouro para a vida toda: comer bem, dormir bem e se exercitar.

E se divertir, é claro. A alegria é um remédio poderoso, que gera uma dis-posição positiva para o funcionamento de todo o organismo. Os palhaços dos Doutores da Alegria, ONG que leva diversão a crianças e jovens hospita-lizados, obtêm resultados concretos – como a diminuição do tempo de internação – nos locais onde atuam. E sabem que o jovem exige uma co-municação peculiar. “Os palhaços têm de buscar um canal específi co para a interação e, na relação com os jovens, o lúdico fica bem menos explícito que com as crianças”, diz a psicóloga Morgana Massetti, coordenadora do Centro de Pesquisa e Desenvol-vimento dos Doutores. Rir, explica Morgana, transforma a realidade da doença. “Os Doutores estão atrás da parte saudável dos pacientes”, diz a psicóloga. Então, se a conversa com o jovem azedar, lembre-se do potencial de mudança que uma bela gargalhada pode produzir.

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chat de revista

Ter saúde é desfrutar um estado de bem-estar físico, emocional e social. Os ambientes físico e social – a fa-mília, a escola, os amigos, os meios de comunicação, o lugar em que se mora e se trabalha – podem favorecer ou prejudicar essa condição de vida saudável, princi-palmente entre os jovens. Em fase de elaboração de projetos de vida, eles estão mais expostos aos apelos que os rodeiam, muitos de risco, como o uso de drogas ou a preocupação exagerada com a aparência, fatores que podem comprometer a saúde gerando doenças e até a morte. Nessa direção caminhou a conversa na sala de bate-papo de Onda Jovem, com quatro convidados: Paula Cristina Lima Silva, 20 anos, educadora social da ONG Amazona, em João Pessoa (PB), uma associação de prevenção à Aids que trabalha pela formação integral do jovem levando informações a comunidades de baixa renda; o curitibano Enéias Germano Pereira, 23 anos,

formado em Serviço Social, que atua na ONG Grupo Dignidade, com ações educativas para a comunidade de gays, lésbicas e transgêneros; a cario-ca Ana Paula Sciammarella, 24 anos, advogada atuante na área de direitos humanos e integrante da Rede Jovens Brasil – Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; e o estudante de Edu-cação Física, Augusto Dias Douto, 24 anos, de Porto Alegre (RS), envolvido em um projeto social com esportes para jovens na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Onda Jovem fez as perguntas iniciais e os jovens prosseguiram a troca de idéias. A seguir, nosso “chat de revista”.

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AUGUSTO DIAS DOUTO, 24Estudante de Educação Física na Unisinos (RS),

atua em projeto social de esportes para jovens

ANA PAULA SCIAMMARELLA, 24

PAULA CRISTINA LIMA SILVA, 24É educadora social do projeto Fala Garotada, em João Pessoa (PB)

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QUATRO JOVENS DEBATEM AS DIMENSÕES DA VIDA SAUDÁVELOnda Jovem: O que é ter saúde para você?

ENÉIAS: Não é só estar sem doenças ou enfermidades. Ter saúde é estar se sentindo bem nas dimensões bio-lógica, psíquica e social. Signifi ca es-tar interagindo com plena consciência no meio em que estou inserido, sem colocar em risco a qualidade de vida. Corpo e mente têm de estar atendi-dos num contexto geral e aí uma das questões fortemente ligadas à saúde é a dos direitos sexuais, pois a sexua-lidade também determina nossa for-ma de interagir e estar integrado de forma saudável ao ambiente.

ANA PAULA: Eu concordo. Ter saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social. Para mim, é viver num meio ambiente saudável, e isso signifi ca ter acesso a informa-ções e meios adequados para uma vida saudável nos seus diferentes aspectos.

PAULA CRISTINA: Ter saúde para mim é principalmente poder ter uma boa alimentação, praticar esportes, fazer caminhadas ou algo que nos

deixe relaxado, benefi ciando não só nossa saúde física como a emocional.

AUGUSTO: A saúde diz respeito a se ter condições físicas e psicológicas para realizar as tarefas diárias, assim como ter disposição e condição de manter mo-mentos de lazer, de prática de esportes, programas culturais etc.

O ambiente que o rodeia (a família, a escola, os ami-gos, os meios de comunicação, o lugar em que mora) favorece ou prejudica sua saúde?

ENÉIAS: Acho que o favorecer ou prejudicar tem a ver com a forma como me relaciono nesses espaços. Se a relação que eu construo nesses ambientes é saudável, vai favorecer minha saúde integral, minha qualidade de vida.

AUGUSTO: O ponto principal é exatamente esse. No momento em que a gente mantém relações saudáveis com a família, amigos e colegas, e tem prazer em estar nos lugares onde ocorrem essas relações, a saúde com certeza é favorecida. Acredito ser impossível uma pes-soa se dizer saudável vivendo em um ambiente onde se sente desconfortável, como pessoas que odeiam seu trabalho, por exemplo, ou estudam uma coisa de que não gostam. As sensações de bem-estar e de alegria são fatores essenciais para uma vida saudável, e esses sentimentos são bem mais fáceis de serem alcançados quando se está em um ambiente favorável.

ENÉIAS GERMANO PEREIRA, 23Formado em Serviço Social, promove ações educativas para a comunidade de gays, lésbicas e transgêneros em Curitiba (PR)

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ANA PAULA SCIAMMARELLA, 24Advogada carioca, milita pelos direitos sexuais e reprodutivos em rede de jovens

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PACTO COM A VIDA/GRUPO DIGNIDADEÁREA DE ATUAÇÃO CURITIBA (PR).PROPOSTA CONTRIBUIR COM A REDUÇÃO DA INCIDÊNCIA DA CONTAMINAÇÃO DO HIV AIDS JUNTO A JOVENS GAYS, POR MEIO DE ABORDAGENS DE PREVENÇÃO NAS CASAS NOTURNAS DE FREQÜÊNCIA GAY NA CIDADE. JOVENS ATENDIDOS 140 JOVENS ABORDADOS. APOIO PACT BRASIL, PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. CONTATO RUA MARECHAL FLORIANO PEIXOTO, 366 SL 47 – CENTRO – CURITIBA (PR) – TEL.: 41/3222-3999 – E-MAIL: [email protected] OU [email protected].

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PAULA CRISTINA: O ambiente tanto pode favorecer como prejudicar a saúde. Na escola pública, por exemplo, você pode ter informações corretas sobre saúde, mas ela não oferece boa alimentação aos alunos, prejudicando então a saúde. Na família, principalmente as de baixa renda, pode ocorrer a mesma coisa. Mas acho que os meios de comunicação são os que mais prejudicam, ao divulgar padrões de saúde que nada têm a ver com a realidade. Qual jovem de baixa renda tem condições de se sentir saudável diante dos modelos de saúde e de vida apresen-tados, por exemplo, pela TV?

ANA PAULA: Sem dúvida o ambiente pode prejudicar a saúde, se você não tem uma escola de qualidade que possibilite acesso à informação, se você mora em uma região mais pobre, sem saneamento básico, com alto índice de violência ou onde não existam hos-pitais próximos. Certamente a sua saúde será prejudicada. Quanto aos meios de comunica-ção, em geral eles tendem a favorecer a saúde quando veiculam notícias de caráter informativo e imparcial. Porém, esses mesmos meios de comunicação, muitas vezes, são os que fazem a publicidade de produtos prejudiciais à saúde.

Você se sente pressionado, nos ambientes que freqüenta, a adotar atitudes de risco, como beber, fumar, fazer sexo inseguro, fazer dietas, se automedicar? Como reage?

PAULA CRISTINA: Sim, e acho injusto. Recen-temente, por exemplo, recebi uma proposta para fazer desfi les de moda. Mas, se eu quiser me candidatar a esse trabalho, tenho de aten-der às condições de cortar os meus cabelos e emagrecer três quilos. Por necessidade fi nan-ceira, talvez tenha de me submeter a essas exigências.

ENÉIAS: As atitudes de risco que assumimos ao longo de nossas vidas são construídas pelas relações que mantemos. Se essas relações podem comprometer a saúde, então é tempo de avaliar e tomar outra conduta. Cada um deve ter ciência de seus limites.

AUGUSTO: Cada vez mais a mídia e os modis-mos ditam os hábitos das pessoas. Em deter-minados grupos sociais a pressão para adotar certas atitudes é muito grande. Pessoalmente,

nunca me senti pressionado a um comportamento e acredito que, neste ponto, na tomada de certas atitudes que podem acarretar risco, saber quem você é, ter personalidade, é fundamental.

ANA PAULA: Não me sinto, nem nunca me senti pressionada a adotar alguma atitude ou comportamento por causa do grupo. Em geral, respeito as escolhas alheias, mas posso, ou não, compartilhar delas. É fato que, quando você está em um ambiente onde as pessoas adotam determinados comportamentos, você se sente mais à vontade para realizar aquela conduta também, mas isso não quer dizer que eu me sinta “obrigada” ou infl uenciada a fazer alguma coisa. Quer dizer, apenas, que ali eu tenho liberdade para me comportar da maneira que melhor me convier.

Que aspecto da saúde mais o preocupa, qual está mais presente no seu dia-a-dia?

ENÉIAS: Por conta de minha atuação no Grupo Dignidade, os temas mais presentes no meu cotidiano, no debate com amigos, são o contágio pelo HIV/Aids, as hepatites virais, a importância do uso de preservativos, a questão do uso abusivo de drogas.

AUGUSTO: Atividade física, alimentação, qualidade de vida são temas que fazem parte de minha rotina de trabalho e de vida. Porque entre os principais objetivos de um educador físico está a conscientização do público por ele atendido. Para isso, é necessário que o profi ssional seja coerente com seus hábitos.

�Bem-estar e alegria são essenciais para a vida saudável�

AUGUSTO DOUTO

FALA GAROTADA, PROJETO DA AMAZONA – ASSOCIAÇÃO DE PREVENÇÃO À AIDSÁREA DE ATUAÇÃO: JOÃO PESSOA (PB).PROPOSTA A DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO LEVANDO INFORMAÇÃO, FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO CIDADÃ A COMUNIDADES DE BAIXA RENDA. JOVENS COMUNICADORES PRODUZEM PROGRAMAS DE PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS EM RÁDIOS COMUNITÁRIAS DO MUNICÍPIO.JOVENS ATENDIDOS 30 A 50 ADOLESCENTES E JOVENS.CONTATO RUA JOÃO AMORIM, 342 – CENTRO – 58013-310 – JOÃO PESSOA (PB) – TEL: 83/3241-6020 – E-MAIL: [email protected] OU WWW.AMAZONA.ORG.BR.

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PAULA CRISTINA: Em João Pessoa, o tema da Aids e dasdoenças sexualmente transmissíveis é o que mais preocupa as pessoas. O assunto é ainda mais importante entre as pes-soas de baixa renda, sem acesso à informação e a serviços de saúde de qualidade. Em relação a essas questões, preocupa a moda do “fi car”. As pessoas sentem vontade e simplesmente fi cam, sem compromisso, sem se conhecerem direito, sem avaliarem os riscos. Como educadora social, estou sempre conversando com os jovens sobre a necessidade de se cui-darem. Afi nal, digo, quem vê cara não vê Aids...

As políticas governamentais podem ter infl uência sobre a sua saúde física e emo-cional? De que forma?

ENÉIAS: Sem dúvida. O governo pode aprovar leis ou adotar posicionamentos contrários àquilo que acredito ser fundamental para vivenciar no dia-a-dia a minha saúde, e isso poderá me afetar.

PAULA CRISTINA: O governo afeta a qualidade da minha saúde quando desvia o dinheiro que era para ser investido nessa área, prejudicando o atendimento em postos de saúde, a distribuição de remédios etc.

AUGUSTO: Creio ser bem complicado que políticas de cunho assis-tencialista, como vem se caracterizando a maioria das ações dos últimos governos, contribuam para uma melhoria signifi cativa da saúde. Essas políticas atingem uma parcela baixíssima da popula-ção e por um tempo também limitado. Com certeza, se existissem políticas coerentes com as necessidades do país, isso infl uenciaria pelo menos o lado emocional, que fi caria menos abalado com certas realidades vistas diariamente.

PROGRAMA ESCOLINHAS INTEGRADASÁREA DE ATUAÇÃO SÃO LEOPOLDO (RS).PROPOSTA TRABALHAR O ESPORTE COMO MOTIVADOR DA AÇÃO EDUCATIVA, DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS COGNITIVAS, PESSOAIS, SOCIAIS E PRODUTIVAS.JOVENS ATENDIDOS 380, ENTRE CRIANÇAS, PRÉ-ADOLESCENTES E ADOLESCENTES.APOIO UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS (UNISINOS) E INSTITUTO AYRTON SENNA, POR MEIO DO PROGRAMA EDUCAÇÃO PELO ESPORTE. CONTATO: AV. UNISINOS, 950 – BAIRRO CRISTO REI – 93.022-00 – SÃO LEOPOLDO (RS) – TEL.: 51/3590-8789 – E-MAIL: [email protected].

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REDE JOVENS BRASIL – DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOSÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL, EM REDE.PROPOSTA A REDE TRABALHA COM TEMAS COMO SAÚDE E DIREITO NOS ASPECTOS SEXUAL E REPRODUTIVO, E JUVENTUDE, GARANTINDO QUE NESSAS DISCUSSÕES SEJAM RESPEITADAS AS DIVERSIDADES PROVENIENTES DOS RECORTES DE GÊNERO, RAÇA/ETNIA, CLASSE SOCIAL, ORIENTAÇÃO SEXUAL E GERAÇÃO/IDADE. APOIO REDE NACIONAL FEMINISTA DE SAÚDE – DIREITOS SEXUAIS E DIREITOS REPRODUTIVOS; ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE DA MULHER – MINISTÉRIO DA SAÚDE/ GOVERNO FEDERAL; PACIFIC INSTITUTE FOR WOMEN´S HEALTH, FUNDAÇÃO FORD – BRASIL, IWHC (INTERNATIONAL WOMEN’S HEALTH COALITION); REDE SAÚDE DAS MULHERES LATINO-AMERICANAS E DO CARIBE (RSMLAC); FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNFPA).CONTATO ANA ADEVE, UNIÃO DE MULHERES, RUA CORAÇÃO DA EUROPA, 1395 – BELA VISTA – 01314 000 – SÃO PAULO (SP) – TEL: 11/3106-2367 – E-MAIL: [email protected]; WWW.REDEJOVENSBRASIL.ORG.BR.PA

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ANA PAULA: Acredito que as políticas governamen-tais são fundamentais para a saúde tanto física quanto mental. Cabe ao governo adotar políticas de saúde com mecanismos especiais, respeitando as diferenças que existem na vida real. Realizan-do, por exemplo, um atendimento adequado aos jovens, dentro das suas especifi cidades e neces-sidades especiais, com respeito e privacidade. Sem dúvida um atendimento adequado traria um refl exo positivo para nossa saúde.

Vocês acreditam que a saúde integral dos jovens vem sendo atendida?

ANA PAULA: Acredito que ainda não. Apesar de alguns signifi cativos avanços, como a participa-ção dos jovens na política de direitos sexuais e direitos reprodutivos, ainda não existem serviços de saúde para atender, especifi camente, à juven-tude e às necessidades próprias dessa idade.

PAULA CRISTINA: Acho que não, e isso não acon-tece só com os jovens. Os adultos, crianças e idosos também estão expostos à falta de serviços de saúde de qualidade.

AUGUSTO: Penso que os serviços de saúde prio-rizam mais o tratamento do que a prevenção. As ações voltadas à prevenção são pouco efetivas, pois fi cam restritas a campanhas com comerciais e cartazes que não alcançam toda a população e, na sua maioria, não têm continuidade. Seriam mais efi cazes se fossem baseadas em programas realizados nas comunidades com participação efetiva do público a ser atingido. Programas que utilizam o esporte como meio de transmissão de informações vêm se mostrando uma alternativa efi caz. Acredito muito na contribuição do esporte para a saúde integral dos jovens.

ANA PAULA: Eu concordo. O esporte é muito im-portante para a saúde do jovem, pois trabalha o físico, o mental e o social de maneira integrada. A atividade física, o convívio com outros jovens, o aumento da auto-estima – coisas que o esporte proporciona – resultam, certamente, em uma vida mais saudável.

ENÉIAS: A questão da saúde está ligada positiva-mente à prática do esporte desde que a atividade física seja exercida dentro de limites; não pode se tornar um vício capaz de comprometer o bem-estar geral, a qualidade de vida.

PAULA CRISTINA: A atividade física é um investi-mento no futuro. Quem pratica exercícios desde cedo vai ter vida mais saudável na velhice.

AUGUSTO

PAULA CRISTINA

�O governo afeta a qualidade da minha saúde�

PAULA CRISTINA LIMA

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PELA SAÚDE DO MEIO AMBIENTELi

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NO UNIVERSO DAS DROGAS

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Jovens de todo o Brasil estão con-tribuindo para a formação de uma sociedade voltada para o desenvol-vimento sustentável, estimulando ações e o debate sobre a preser-vação e a conservação ambientais. Eles estão reunidos no projeto Geo Juvenil Brasil, executado por uma organização juvenil, o Grupo Inte-ragir, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os ministérios da Educação e do Meio Ambiente, a

Secretaria Nacional da Juventude, além de organizações como a União dos Escoteiros do Brasil. O Geo Juvenil Brasil “quer dar visibilidade a ações socioambientais que já estejam sendo desenvolvidas, propiciar a replicação dessas experiências e principalmente conscientizar o jovem, que será um tomador de decisões no futuro, de que ele pode fazer a diferença na saúde ambiental do Brasil”, diz Carla Hirata, da secretaria executiva do projeto. Iniciado em 2005, o Geo Brasil vem mobilizando a juventude para os desafi os ambientais por meio da ação de cerca de 60 jovens integrantes de organiza-ções ambientalistas em todo o Brasil. Eles promovem debates em suas comunidades e também fomentam

A relação que os jovens estabelecem com as drogas é o tema da última cole-tânea da série Jovens e Juventude: Contribuições, publicada pelo projeto Redes e Juventudes que, desde 2003, contribui para as discussões sobre juventude no país. O Redes e Juventudes reúne cerca de 24 entidades governamentais e não-governamentais dedicadas ao trabalho com jovens, sediadas em sua maioria no Nordeste do Brasil. De autoria do professor chileno Felipe Ghiardo, a coletânea, intitulada "Aproximando-nos ao sentido do uso de drogas e da prevenção a par-tir dos jovens", revela os dados de uma pesquisa quantitativa feita com jovens chilenos usuários e não usuários de substâncias entorpecentes. O estudo indica que as campanhas educativas que apostam na divulgação dos efeitos negativos das drogas não conseguem sensibilizar o público juvenil. Para os jovens entrevis-tados, as campanhas deveriam provocar mais refl exão sobre o tema. O trabalho de Felipe Ghiardo é o quarto da série "Jovens e Juventude: Contribuições". As publicações anteriores abordaram temas como participação e organização juvenis; a experiência do Conselho da Juventude em Medellín (Colômbia) e o mercado

a troca de informações no site do projeto (www.geojuvenil.org.br), um instrumento para reunir depoimentos e impressões dos jovens, incluindo criações artísticas como vídeo, mú-sica ou poesia relacionadas ao tema. “Essas manifestações, assim como as experiências de projetos, dados e análises sobre o meio ambiente serão reunidas em um livro e um CD, a serem lançados em 5 de junho, dia nacional do meio ambiente”, informa Carla. O material (3 mil livros e 5 mil CDs) será distribuído para organi-zações ambientalistas, bibliotecas públicas e salas verdes (pontos de ação e debate ambiental de projeto do Ministério do Meio Ambiente).

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Milhares de crianças e jovens de baixa renda estão recebendo tratamento odontológico gratuito pela ação voluntária de dentistas que se uniram à Fundação Abrinq no programa Adotei um Sorriso. O projeto come-çou em 1996, por iniciativa de 15 dentistas, e acabou envolvendo outras sete categorias profi ssionais, entre elas fonoaudiólogos, pediatras e nutricionistas. "Hoje são 4.252 profi ssionais voluntários, 90% deles den-tistas, atendendo em todo o Brasil", conta a socióloga Denise Cesário, coordenadora do programa. Dentistas que adotam um sorriso atendem em seu consultório uma criança ou adolescente encaminhado por uma organização social parceira do programa. Eles se com-prometem a garantir a saúde bucal do paciente até os 18 anos. Também promovem pa-lestras e outras ações educativas nas instituições. "Mais de 5 mil crianças e jovens são benefi cia-dos diretamente pela ação clínica e outros 56 mil pelas ações insti-tucionais. O programa já chegou a 23 estados, 159 municípios e envolve 210 organizações sociais", diz Denise. "O serviço público não dá conta da saúde bucal da população. Colocar fl úor

A sexualidade e a saúde reprodutiva estão entre os aspectos que mais preocupam aqueles que vivem e atuam com jovens especiais. Como qualquer jovem, eles têm desejos e também o sonho de formar uma família. Pais, familiares e professores nem sempre estão preparados para orientar essas manifestações. A fi m de apoiá-los e sensibilizá-los para essas questões, o projeto PIPA – Prevenção Especial – e a Associação de Prevenção e Tratamento da Aids (APTA) lançaram recen-temente um vídeo e um manual de suporte pedagógico. É o kit Pipas no Ar, "uma referência simbólica ao direito que esses jovens têm de expressar sua sexualidade e voar com seus sonhos", diz a psicóloga Fernanda So-delli, uma das idealizadoras do projeto. "O jovem com necessidades especiais quer se conhecer, namorar e sonhar como todo jovem", diz. O vídeo, dirigido por Paulo Barouk e com músicas cedidas pelo compositor

EM VÔO LIVRE E SAUDÁVEL

Lenine, exibe ofi cinas realizadas com jovens da Associação Carpe Diem que foi parceira no projeto por atuar com educação complementar a portadores de síndrome de Down e defi ciência mental. "Foram dez ofi cinas, de qua-tro horas cada uma, em que os jovens foram estimulados a falar de suas ha-bilidades, desejos e projetos de vida. Pais e professores também partici-param de rodas de conversa e todos puderam ver de uma nova perspectiva os jovens exercendo sua autonomia", conta Fernanda, lembrando, como exemplo marcante, da participação de uma jovem com síndrome de Down, que falava sobre o seu direito de ter fi lhos. Ela dizia ouvir que não podia ter fi lhos porque a criança poderia nascer com a síndrome. "Falam isso como se uma pessoa como eu não pudesse existir. Mas eu estou aqui, eu existo", argumentou a garota. O Pipas no Ar,

VOLUNTÁRIOS ADOTAM SORRISO4

resume Fernanda, procura derrubar preconceitos que envolvem a sexua-lidade e os direitos reprodutivos de jovens com necessidades especiais, informando também sobre temas como prevenção contra a Aids e abuso sexual. O material, cuja produção teve o apoio da Unesco, é distribuído pela APTA ao custo de R$ 30,00. Conta-tos pelo telefone 11/3266-3345 ou [email protected].

na água funciona. Vários estudos já comprovaram que essa medida levou à diminuição da incidência de cáries, mas ela precisa estar associada a medidas educativas, como uma ali-mentação com menos ingestão de açúcar e higiene bucal freqüente", diz a dentista Edilene Rosani Kiss, voluntária do Adotei um Sorriso, que atende oito crianças e jovens. Para participar como profi ssional voluntário do Adotei um Sorriso basta acessar o site www.fundabrinq.org.br/adotei e preencher a fi cha cadastral.

de trabalho para os jovens. Segundo Elisângela Nunes, uma das jovens coordenadoras do Redes e Juven-tudes, de Recife, o tema trabalho e juventude deverá se repetir na pró-xima publicação da série e também a questão das relações educativas entre jovens e ONGs poderá vir a se constituir num novo número. "O objetivo será sempre contribuir para o debate e para as ações voltadas para os jovens", diz a coordenadora. Todas as publicações da coletânea Jovens e Juventude: Contribuições estão disponíveis gratuitamente em PDF no site www.redesejuventudes.org.br. Quem se interessar em receber um exemplar deve enviar um e-mail para [email protected].

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Um cidadão com direitos e deveres e que não depende da autoridade institucional ou familiar. Dono do seu próprio nariz. Essa é a visão sobre pessoas com defi ciência que se deseja consolidar atualmente no Brasil. "Os jovens com defi ciência hoje fazem parte de uma sociedade que, se ainda mostra despreparo e desinformação, começa a ter espaços mais acolhedores e atentos à diversidade de seus componentes", diz Ana Maria Barbosa, supervisora de comunicação da SACI (Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação), uma rede eletrônica criada há seis anos para difundir informações sobre defi ciência em âmbito nacional. Se ainda há muito para evoluir, é verdade também que nunca se discutiu e se refl etiu tanto sobre a questão, que já chegou à novela das oito e é tema, neste ano, da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

OS JOVENS COM DEFICIÊNCIA AINDA ENFRENTAM MUITOS PROBLEMAS, MAS O BRASIL NUNCA DISCUTIU TANTO A QUESTÃO

por_Cecília Dourado

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REDE SACI (SOLIDARIEDADE, APOIO, COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO)ÁREA DE ATUAÇÃO TODO O BRASIL, PRINCIPALMENTE SÃO PAULO (COM USUÁRIOS DA REDE TAMBÉM ESPALHADOS POR PAÍSES DA AMÉRICA LATINA, ESPANHA E PORTUGAL).PROPOSTA ESTIMULAR A INCLUSÃO SOCIAL, A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. SUAS PRINCIPAIS FERRAMENTAS DE TRABALHO SÃO A INTERNET E OS CENTROS DE INFORMAÇÃO E CONVIVÊNCIA (CICS). JOVENS ATENDIDOS 1750 CADASTRADOS, ALÉM DE FREQÜENTADORES NÃO-CADASTRADOS.APOIO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (PRINCIPAL PARCEIRA), FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, VITAE, FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, IBM, INEXO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, REDE NACIONAL DE PESQUISA, ENTRE OUTROS.CONTATO WWW.SACI.ORG.BR.

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so Não é raro que banheiros adequados a pessoas com defi ciência fi quem no

alto de uma escada em hotéis e restaurantes. Muitas rampas para cadeiras

de rodas são inclinadas demais, inviabilizando seu uso. "Difi culdades como

essas se multiplicam nos transportes, escolas, locais de trabalho e lazer", diz

Ana Maria Barbosa, da Rede SACI. Existem ainda as barreiras invisíveis.

No caso do jovem, por exemplo, raramente são reconhecidos os seus anseios

e necessidades como jovem: sexo, baladas etc. Contra as barreiras visíveis,

é preciso estabelecer normas e garantir o seu cumprimento, desenvolver

tecnologias e adotar políticas públicas adequadas. No caso das barreiras

invisíveis, é imprescindível o empenho de todos e do poder público. Para

Helcio Rizzi, assessor técnico da Coordenadoria Nacional para Integração

da Pessoa Portadora de Defi ciência (Corde), as leis podem ajudar a garantir

maior acessibilidade, derrubando barreiras físicas; podem combater a

discriminação, penalizando-a, mas não bastam para derrubar o preconceito.

"Informação, educação e a própria convivência com as pessoas com

defi ciência são as principais armas contra o preconceito", diz.

Com isso, embora ainda haja tanto para avançar, é cada vez maior o número de jovens com defi ciência que buscam ocupar o seu espaço na sociedade, freqüentando univer-sidades, trabalhando e saindo de casa para se divertir. Neste aspecto, a internet é uma grande aliada e a rede SACI está desenvolvendo o site SACI Jovem, para tratar de sexo, vestibular, baladas, com informações dos próprios jovens.

"Houve sem dúvida um avanço constante nas relações entre as pessoas com defi ciência e a socie-dade como um todo", diz o assessor da Federação Nacional das APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Ex-cepcionais), Josué Tobias. A primeira APAE, uma das pioneiras no atendi-mento voltado para a socialização das pessoas com defi ciência mental no Brasil, foi fundada no Rio de Janeiro em 1954.

Integração e inclusãoNaquela época, a pessoa com

defi ciência era afastada do convívio social, diz Ana Maria. Em meados do século 20, surgiu o conceito da inte-gração social, segundo o qual alguns poderiam ser "inseridos" na socie-dade, desde que se adaptassem. O movimento evoluiu, por iniciativa das próprias pessoas com defi ciências, para a busca do reconhecimento de sua cidadania, com direito à independência, ao poder sobre a sua própria vida e à equiparação de oportunidades, sem paternalismo ou autoritarismo. O termo integração foi substituído por inclusão social, conceito que pressupõe a pessoa

com defi ciência como cidadã plena, ativa, e uma sociedade que se modifi ca para recebê-la, derrubando barreiras físicas e comportamentais.

Os avanços tecnológicos e da medicina contribuíram para esse processo. Um dos exemplos mais expressivos é o aumento da expectativa de vida das pessoas com síndrome de Down, que na década de 40 era de 12 a 15 anos, e que hoje está por volta de 60 anos. Com a perspectiva de sobreviverem aos pais, é cada vez maior o número desses jovens que se preparam para se tornar autônomos, e vários já chegaram à universidade.

Segundo Ana Maria, a legislação refl ete e consolida essa evolução, com leis que ajudam a garantir o direito de ir e vir da pessoa com defi ciência, não só do ponto de vista físico, mas também do acesso à comunicação, educação, mercado de trabalho, lazer. Desde 1988, quando o tema passou a integrar as normas constitucionais brasileiras, foram aprovadas leis que estabelecem critérios para a promoção do acesso em todos os ambientes e a obrigatoriedade de reserva de postos a pessoas com defi ciências, inclusive bolsas de estudo em universidades privadas.

"Pelos movimentos das pessoas com defi ciência e por força da lei, a sociedade em geral se vê forçada a se modifi car para acolher esses cidadãos, que chegam cada vez em maior número às salas de aula, empresas, aos parques e cinemas", diz Ana Maria. Isso também benefi cia a sociedade, que aprende a acolher a diversidade e aceitar a participação ativa não só de pessoas com defi ciência, mas também de outros segmentos vítimas de preconceito e segregação.

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FAÇA CONTATOEnvie cartas ou e-mails para esta

seção com nome completo, endereço

e telefone. ONDA JOVEM se reserva

o direito de resumir e editar os

textos. Endereço: Rua Dr. Neto de

Araújo, 320, conjunto 403, CEP

04111-001, São Paulo, SP. E-mail:

[email protected].

FERRAMENTA ÚTILRecebemos a revista Onda

Jovem e gostaríamos de parabe-nizá-los pela iniciativa e agradecer pelo envio. Muito interessantes as matérias elaboradas, os projetos e os jovens entrevistados e escolhi-dos para as matérias. Acreditamos que este material é de grande inte-resse para ser compartilhado com os grupos de jovens e projetos e ONGs que apoiamos.

Lis Hirano WittkamperFundação W. K. Kellogg

Agradecemos pelo recebimento de Onda Jovem, que está sendo bastan-te utilizada por nossa equipe!

Kátia InuiCoordenadora do Programa Preparação Para o Trabalho

Ação ComunitáriaSão Paulo, SP

Faço parte de uma ONG que trabalha com jovens da zona rural no interior do Rio Grande do Sul. Onda Jovem me interessou muito por tratar de temas referentes ao nosso público alvo.

Adriana Boer

Achamos Onda Jovem extrema-mente qualifi cada, com assuntos interessantes, edição gráfi ca refi -nada e entrevistados excelentes. O conteúdo vai nos subsidiar com informações importantes para nosso trabalho junto aos jovens.

Secretaria da JuventudePrefeitura Municipal de

Sorocaba, SP

Somos da Fundação de Ação Social de Curitiba e fazemos o ge-renciamento de unidades de Abri-gamento para Jovens em situação de Risco Social e Pessoal em nossa Cidade. Onda Jovem, além de ser muito interessante, poderá auxiliar nossos educadores na formação dos jovens atendidos.

Adriano Mario Guzzoni FAS, Curitiba, PR

O Consórcio Social da Juventude do DF e Entorno vem parabenizá-los pelo trabalho desenvolvido e divulgado pela revista Onda Jovem.

Sidiclei Patricio e equipe

RECURSO DIDÁTICORecebemos Onda Jovem e o interesse foi enorme, dos

professores da Escola Estadual Maria de Lourdes Vieira, em conhecer as reportagens ali contidas. Ficaremos gratos em continuar recebendo a revista.

E. E. Maria de Lourdes Vieira São Miguel Paulista, SP

Parabéns pela Onda Jovem! Sou educador social e por intermédio da galera do Bloco do Beco do Jardim Ibirapuera, de São Paulo, tive acesso à revista.

Ela é uma ótima ferramenta, que oferece orienta-ção àqueles que estão preocupados com um mundo melhor e que muita das vezes não têm condições de adquirir ou comprar livros com este tipo de conteúdo. As informações são de extrema relevância e o material é de referência importante para a proposição e o acom-panhamento de projetos para os jovens, especialmente de nossas periferias.

Camilo A. Arias Z.São Paulo, SP

Vocês estão de parabéns! A revista Onda Jovem, além de ser bonita, abre um importante espaço para que a so-ciedade tenha acesso à cultura juvenil. Sou professora e gostaria de utilizar as edições em sala de aula.

Adriana Torres Máximo Monteiro, Professora do curso de Psicologia da Pucminas

Trabalho como educadora na Associação Cristã de Moços, na CDC Leide das Neves, uma unidade de atendi-mento social da ACM de São Paulo. Nosso trabalho está voltado para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social da região do Jabaquara. Gostamos de Onda Jovem, já que ela vai ao encontro daquilo em que acreditamos.

Shirley Nunes São Paulo, SP

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O Projeto Aeroportos Solidários, de-senvolvido pela Infraero Campo Grande, tem na sua programação aulas de cida-dania, e por isso nos interessamos pelo conteúdo da revista Onda Jovem.

Aziz Eduardo Calzolaio Professor de Cidadania

Campo Grande, MS

NA WEBRealmente, estou encantada com

tantos artigos e informações suma-mente importantes que vocês apre-sentam neste site. Quanto ao artigo Arte, Cultura e a Juventude (edição número 3), nós aqui, na fronteira com o Uruguai, vimos atuando de forma sistemática e incansável, para justamente lembrar às pessoas que o resgate da cidadania também passa pelo fazer o que se gosta. Nós, como organização não-governamental, a duras penas trabalhamos no sentido de gestionar conhecimento entre profi ssionais em arte e comunidade, principalmente a escolar. Parabéns a todos pela coragem de acreditar em seus sonhos e seguir em frente.

Marta PujolProfessora de Teatro e Literatura

Gostaria de parabenizá-los pelo site e pela revista. Informamos que em uma edição do nosso Boletim divulgamos o site desenvolvido por vocês na seção "Para saber mais". Para conhecer nosso Boletim veja: www.ilanud.org.br.

Henrique ParraIlanud – Instituto Latino-

Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento

do Delinqüente

O Onda Jovem é um site que tem tudo a ver com a minha realidade. Tenho 19 anos e sou Técnico em Redes de Comu-nicação e Processamento de Dados.

Thales FaggianoSão Paulo, SP

Parabéns pelo portal, pelo boletim e a abordagem dos conteúdos.

Luiz Guilherme GomesOfi cina de Imagens

Faço parte de uma OSCIP sociocultural de Ilhabela, que atende 300 crianças e jovens, e oferece à comu-nidade uma extensa programação de eventos. Por isso, queremos ser cadastrados no site Onda Jovem. Conheçam nosso site www.pesnochao.org.br.

Inês Bianchi, Ilhabela, SP

Tenho 15 anos. Um amigo me falou sobre a Onda Jovem e eu decidi pesquisar na internet. Gostaria de parabenizá-los pelo projeto!

Erick DinizSão Paulo, SP

OBRA DE REFERÊNCIAO Instituto Bae Ti Ba atua com projetos de edu-

comunicação (rádio, vídeo e fotografi a), por meio do incentivo à leitura e da idealização de uma biblioteca comunitária atendendo adolescentes e crianças, e temos interesse na revista Onda Jovem para integrar o acervo da nossa biblioteca.

Rogério ChristovãoSão José dos Campos, SP

Parabéns pela iniciativa e pela revista Onda Jovem, que queremos disponibilizar em nossa biblioteca e no Departamento de Educação de nossa cidade.

Alex LimaDepartamento de Cultura de Matão, SP

Conheci a revista Onda Jovem e gostaria de incluí-la nas nossas bibliotecas das obras sociais maristas.

Marcio Augusto de Souza TeixeiraBibliotecário do Centro Social Marista Irmão Lourenço

São Paulo, SP

JOVENS LEITORESSou um jovem correspondente do Ybnews e quero

parabenizá-los pela iniciativa da revista e pelo enfoque na temática da inclusão. Também gostaria de me colo-car à disposição da revista Onda Jovem naquilo que eu poder contribuir.

Gilmar Freitas

Tive o enorme prazer de conhecer a revista Onda Jovem em uma ONG em Fortaleza e gostei muito dos artigos voltados para os assuntos ligados à juventude. Estou sempre buscando conhecimento e esta revista me despertou para o lado social.

Marcos Antonio SilvaFortaleza, CE

Sou estudante de Ciências Sociais e atuo em movimentos de inclusão e participação juvenil. Tenho 24 anos, sou membro do Movimento Escoteiro há 13 e atuo com jovens de 15 a 18 anos. O conteúdo da revista mostrou-se muito interessante para os jovens por ter uma linguagem dinâmica e propostas de ação e também por termos, dentro desse grupo, um in-teresse especial por cultura e formas de expressão.

Murillo M. dos SantosPiracicaba, SP

Tenho 17 anos e moro no interior de São Paulo. Trabalho desde os 12 anos de idade, mas nunca desisti de lutar pela minha vida, da minha família e pela vida de quem precisa. Participo do projeto Game Supe-ração, do Instituto Ayrton Senna e Programa Escola da Família. Sou líder de um grupo com 17 jovens e juntos lutamos pela solidariedade.

Carlos Eduardo PereiraAlto Alegre, SP

FALTOU DIZEROs grafi tes na capa de Onda Jovem

número 3 são de Celso Gitahy e Donato.

O da página 35 é de participantes do

programa Trilhas Urbanas 2005. As

pichações que aparecem na página

48 são dos grafi teiros Nego e Eymard.

Todos os trabalhos resultaram de ini-

ciativas da Associação Cidade Escola

Aprendiz, em São Paulo.

A foto da página 44 é de Viviane

Pereira e não de César Ciqueira.

Estão trocados os créditos de Gus-

tavo Lourenção e Augusto Pessoa, na

página 18.

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do

VIAGEM IMAGINÁRIA

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“Desenhar para mim não é só passatempo, desenhar me ajuda na vida”, diz Nivaldo Ferreira Guimarães Júnior, de 16 anos, o autor dos desenhos que ilustram estas páginas. Freqüentador da Ofi cina de Criatividade do Hospital Psiquiá-trico São Pedro, em Porto Alegre, ele é um exemplo de que a arteterapia desenvolvida com jovens que precisam de ajuda psicoterápica não é apenas um recurso efi caz no tratamento, mas também um espaço de expressão artística. A Ofi cina foi instalada em 1990, sob inspiração do trabalho pioneiro da psiquiatra Nise da Silveira, que fundou no Rio de Janeiro o Museu de Imagens do Inconsciente. Em 1999, a Ofi cina incluiu atividades especialmente dedicadas à expressão de adolescentes e jovens, com produção de artes plásticas, mú-sica e literatura. Para Nivaldo, é uma experiência essencial, que dá vazão a sua criatividade: “Tudo o que eu não tenho, desenhando eu posso ter. Aonde eu não fui, desenhando eu posso ir. Desenhar pra mim é uma coisa muito simples, mas tem uma importância enorme. Se eu não soubesse desenhar, pior eu seria”.

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número 4 – m

arço 2006

SAÚDE

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa. Os desafi os para promover o bem-estar físico,

mental e social da juventude brasileira

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