onda jovem #11

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www.ondajovem.com.br PROFESSORES DVD: um presente para Educadores nesta edição

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Educ ador es nest a ediç ão DVD: um pres ente para www.ondajovem.com.br APENAS 48,2% DOS JOVENSENTRE 15 E 17 ANOS ESTÃO MATRICULADOS NO ENSINO MÉDIO Enem completa 10 anos como política pública, com 3,7 milhões de inscritos em 2007 sonar Jovens querem professores competentes e respeitosos pág. 8 Políticas federais e estaduais tentam fortalecer nível médio pág. 44

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www.ondajovem.com.br

PROFESSORES

DVD: um presente para

Educadores nesta edição

sonar

50% dos professores do ensino básico priorizam relação com aluno

Enem completa 10 anos como política pública, com 3,7 milhões de inscritos em 2007

82% dos educadores acreditam que ser professor é uma vocação

APENAS 48,2% DOS JOVENS ENTRE 15 E 17 ANOS

ESTÃO MATRICULADOS NO ENSINO MÉDIO

Políticas federais e estaduais

Jovens querem professores competentes e respeitosos pág. 8

PROFESSORES E PAIS somam esforços pela educação pág. 16

PROJETOS INSPIRAM PRÁTICASDOS PROFESSORES pág. 20

tentam fortalecer nível médio pág. 44

âncoras

“O grande drama dos meninos e meninas é a perspectiva de emprego, o que cria um duplo desafio: dar a eles horizonte e melhorar a qualidade do ensino.”

Maria Auxiliadora Resende,

secretária de Educação do Tocantins e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação

“Jovem gosta muito de conversar, de expor suas opiniões; o professor tem de canalizar essas habilidades para que ele fale sobre o assunto da aula.”

Erick Willen Pacheco Lima,

estudante do terceiro ano do ensino médio público em Manaus, AM

“Como entender a cabeça desse jovem, para estar próximo dele? Se existe alguma metodologia, eu desconheço.”

professor do ensino médio público na cidade de São Paulo, na pesquisa Onda Jovem na Escola

“Para conquistar o respeito e a atenção dos alunos, o professor deve tratar de assuntos que os interessem na aula.”

Vinícius da Rocha Martins,

17 anos, estudante do ensino médio em Sapucaia do Sul, RS

“O que funciona é o professor não ver o aluno apenas como alguém que ocupa uma cadeira, mas como uma pessoa, que tem a sua vida e é capaz de exercer suas funções.”

Zilza Thayane Matos,

17 anos, aluna do terceiro ano do ensino médio em Santarém, PA

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“Faltam ferramentas para que os professores possam recuperar os alunos com baixo rendimento.”

Beatriz Lurgão,

professora do ensino médio público no Rio de Janeiro

“Professores elegem como prioritárias para seu trabalho a dimensão afetiva e a dimensão moral.”

Yves de La Taille,

professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

“Começamos a usar as técnicas que eles dominam, de produção de imagem pelo celular e computador, por exemplo, para produzir material sobre assuntos que dizem respeito aos jovens e a sua visão de mundo.”

Maria Olímpia da Silva,

professora do ensino médio público em Brasília

“O papel do professor é transmitir o conhecimento, mas também passar para os alunos uma postura correta diante da vida.”

Luísa Lima Castro,

estudante de medicina, foi a primeira colocada no Enem 2007

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“Se entender que tem mais possibilidades, o aluno vai se dedicar mais.”

Ismael Cardoso,

presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas

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ondA JoVeM 11

ano 4número 11junho / agosto 2008

um projeto de comunicação apoiado pelo instituto Votorantim

projeto editorial e realizaçãoFátima Falcão e Marcelo nonatoolhar cidadão - estratégias para o desenvolvimento humanowww.olharcidadao.com.br

direção editorialJosiane lopes

secretaria editoriallélia chacon

projeto gráficoArtur lescher e ricardo van steen(tempo design)

colaboradores

texto: Aydano André Motta, cristiane Balerini, carla linhares Maia, Frances Jones, haraldo césar saletti Filho, karina yamamoto, simone Barreto, yuri Vasconcelos, yves de la taille

foto: Andrea Graiz, Antonio lima, charles campos, deise lane lima, eduardo Medeiros, Felipe Barra, Gladyston rodrigues, Gustavo lourenção, kid Júnior, luiz Antônio Fernandes, Marcelo Mendonça, Márcia zoet, raquel porangaba, tom cabral

ilustração: Marcellus Willian Janes, Guilherme Almeida

capa: professor Gilmar da silva com turma da escola estadual Getúlio lima, em Bezerros (pe), fotografados por tom cabral

Apoio editorial instituto Votorantim

revisão: Moira de Andrade

diagramaçãod´lippi editorial

impressãoipsis

tiragem11,5 mil exemplares

como entrar em contato com onda Jovem:e-mail: [email protected]ço: r. dr. neto de Araújo, 320 – conj. 403,são paulo, cep 04111 001tel.: 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

8 – naVeGantesestudantes do ensino médio de todas as regiões comentam a relação entre alunos e professores

16 – edUcadoresprofessores de Brasília e pernambuco e uma mãe cearense têm em comum os esforços em prol da educação

20 – Banco de Práticasiniciativas em rede, uso da biblioteca e da informática e ensino profissionalizante propõem respostas a desafios da educação juvenil

24 – ÂnGULo 1yves de la taille reflete sobre pesquisas que apontam a diferença de expectativas entre alunos jovens e professores

28 – ÂnGULo 2carla linhares Maia escreve sobre a percepção da escola como um território de vivências e também de saberes juvenis

32 – ÂnGULo 3haraldo saletti Filho defende a parceria de educadores e profissionais de saúde na abordagem de temas como drogas e sexualidade juvenil

36 – o sUJeito da fraseMirtes de Fátima Machado, diretora da escola campeã no sistema de avaliação de são paulo, diz que sucesso não é milagre, mas trabalho cotidiano

40 – LUnetaA abertura de espaço ao diálogo e ao debate dos conflitos dos jovens é essencial na complexa questão da disciplina

44 – .GoV.comdiferentes políticas públicas buscam fortalecer e dar novo sentido ao enfraquecido ensino médio

48 – ciÊnciacom estímulos adequados, a energia característica da juventude pode ser canalizada para o aprendizado 52 – cHat da reVistacomo a relação com os professores influencia o aprendizado é o tema de debate entre quatro estudantes

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Indicadores e tendências do universo escolar

Âncoras 04

Comentários sobre educadores e estudantes

cartas 56

As mensagens dos leitores

naVeGando 58

A função do professor no traço do estudante Guilherme de Almeida

As reportagens e os artigos desta edição foram inspirados nas questões levantadas pela pesquisa ONDA JOVEM NA ESCOLA, cujo relatório está disponível no site www.ondajovem.com.br. A pesquisa, qualitativa, foi realizada em novembro de 2007, com grupos de professores, coordenadores e diretores da rede pública de ensino médio do centro e da periferia da cidade de São Paulo.

navegantes

CORAÇÃO DE

Os alunos de ensino médio querem professores competentes e respeitosos, mas admitem as dificuldades de manter essa delicada relação

ESTUDANTE

por _ Frances Jones

Respeito e competência. Quando se conversa com jovens do ensino médio sobre o que admiram e es-peram de um professor, é difícil escapar dessas duas palavras. Mais do que “amizade”, os estudantes querem possibilidade de diálogo – mesmo quando suas atitu-des parecem dizer exatamente o contrário. No lugar da severidade e autoritarismo, esperam que o adulto à frente deles na sala de aula saiba impor o seu lugar sem se esquecer de que ali há pessoas, cada uma delas com sua particularidade, atravessando um período de desafios e descobertas.

Não que os professores ignorem isso. A pesquisa Onda Jovem na Escola – realizada pelo Instituto Estimar em novembro de 2007, com discussões com grupos de professores, coordenadores e diretores de ensino médio da rede pública da capital paulista e cujo relatório está disponível no site www.ondajovem.com.br – indica que os profissionais do ensino distinguem claramente as condições que envolvem a juventude, desde as mudan-ças físicas ao ganho de autonomia que acompanham a passagem do ensino fundamental para o médio. Perce-bem também que devem se colocar como o adulto que estabelece limites e compromissos, assim como aquele que apresenta uma proposta clara dos conteúdos.

Mas em meio aos desafios impostos pelos próprios alunos – com vivências muito diversificadas – e pelas condições profissionais e sociais, dentro da escola e perante a sociedade, encontrar o tom certo dessas relações todo o tempo é tarefa difícil. Conforme sugere o resultado da pesquisa, isso significa criar condições para que a escola exerça sua missão primordial como espaço de educação e, ao mesmo tempo, como espaço de socialização da juventude.

Os jovens – sejam estudantes da rede pública ou particular, sejam moradores de grandes centros ou de cidade interioranas – reconhe-cem que nem sempre é fácil manter o controle da situação, tanto pelas características de contestação e de afirmação inerentes à fase que estão vivendo, como pela falta de apoio da escola e da sociedade ao professor. E se frustram quando aqueles com quem deveriam aprender coisas so-bre o mundo sucumbem ao descaso, à agressividade e ao desequilíbrio.

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Erick WillEn PachEcO lima

cursa o terceiro ano do ensino médio em uma escola pública de Manaus: melhorias no prédio se refletiram no desempenho geral

Erick WillEn PachEcO lima

cursa o terceiro ano do ensino médio em uma escola pública de Manaus: melhorias no prédio se refletiram no desempenho geral

quem está interessado não consegue se concentrar quando o professor ignora problemas de disciplina na sala. “Alguns jovens acham que são os donos da verdade e querem se mostrar para os outros”, afirma. “Falam no celular, ouvem MP3 com som alto, ficam levantando do lugar e fazendo gracinha.”

Em sua opinião, o professor deve tirar o aluno da sala no “primeiro momento”, depois ter uma conversa séria e, caso não resolva, chamar os pais. Ela considera essencial, no entanto, que o professor “saiba conversar” e “se comunicar” com os alunos, sem chegar apenas cobrando. “Fica bem mais agra-dável e ele consegue passar melhor a matéria.”

Aluna do primeiro ano do ensino médio em um renomado colégio particular em Salvador, o Institu-to Social da Bahia, Alice de Assis Saes, de 15 anos, também acha que, em casos de indisciplina, o melhor é tirar o aluno da sala. “Não precisa ficar retrucando nem provocar, porque só gera mais confusão”, avalia. Ela diz, no entanto, que no seu colégio em geral “rola um respeito pela figura do professor”. “O professor deve mostrar que está ali para te ajudar, que não é seu inimigo; mas também não precisa forçar uma relação de amizade nem ficar falando gíria.”

Desprestígio da escolaNa faixa etária dos 14 anos até cerca de 18, 19

anos, dependendo do caso, os alunos do ensino médio encontram-se numa fase de experimentação intensa,

a omissão do professor diante dos desafios em sala é percebida pelo jovem como descaso e frustra sua expectativa de aprendizagem das coisas do mundo

O Paulista tiagO JEsuínO,

no primeiro ano do ensino médio em Mococa: grandes

mudanças em relação ao ensino fundamental

“Um professor histérico, que grita muito, acaba não impondo lei nenhuma: a pessoa vai querer tratar da mesma forma e fica uma bagunça”, opina Tiago Jesuíno, de 15 anos, no primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Barão de Monte Santo, em Mococa, no interior de São Paulo. Tiago conta ter estranhado muito a mudança do clima em sala de aula quando passou do ensino fundamental para o ensino médio. “Na 8a série, todos respeitavam uns aos outros. Agora, as pessoas só pensam em si.”

Entre as situações que já presen-ciou, Tiago cita desacato para com o professor e desrespeito entre colegas, com brigas e mesmo uso de palavras e gestos obscenos. “O professor muito ruim é aquele que vê tudo aquilo acontecendo e não faz nada, finge que nada vê.”

Silmara Neves de Oliveira, de 17 anos, estudante do segundo ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Antônio José Leite, em Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte da capital paulista, conta que mesmo

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com os hormônios se assentando, após a transformação radical da puberdade, e o enorme desafio de entrar na vida social portando uma identidade nova, diferente daquela que tinham na infância.

Além dos desafios inerentes ao período pelo qual passam os alu-nos, porém, os educadores de hoje enfrentam novos complicadores, segundo Jorge Claudio Ribeiro, pro-

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alicE dE assis saEs,aluna do primeiro ano do ensino médio de colégio particular em Salvador: professor não precisa falar gíria

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fessor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP, especialista em educação e jovens. Primeiro, a “linguagem de dispersão e fragmentação” promovida pela te-levisão, pelo computador e mesmo pelo rádio. “O cérebro do jovem está domesticado para assistir a seg-mentos de 5, 10 minutos; depois, ele quer intervalo comercial, que não tem na sala de aula.”

Outro fator agravante, diz, é que a escola já não ocupa o mesmo lugar de antes na sociedade. “Hoje, em termos de prestígio, a escola é uma sombra do que ela foi, uma espécie de ruína de um antigo palácio”, afirma. “Exige-se a mesma coisa, mas as condições não são as mesmas.”

Novos aresO aluno do terceiro ano do ensino médio Erick

Willen Pacheco Lima, de 16 anos, conta que, quan-do saiu de uma escola particular para estudar na

Escola Estadual Deputado Josué Cláudio de Souza, no bairro de Co-roado, na Zona Leste de Manaus, na sexta série, tinha até medo de ser assaltado. “A escola tinha uma fama terrível; mas não era tão ruim assim, e melhorou bastante depois de 2002.” Acompanhando as mudanças geradas por uma re-formulação na diretoria, observou que mesmo os alunos adotaram um

silmara nEvEs dE OlivEira, no segundo ano do ensino médio na capital paulista: se o professor ignora problemas, prejudica todosm

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O respeito que os alunos apontam como atitude adequada do professor não se confunde com amizade, embora eles defendam a cordialidade nas relações

comportamento mais favorável, estimulados pelas transformações que incluíram reformas físicas no prédio da escola. “Ela não é perfeita, mas se destaca em meio a muitas”, avalia.

Ele cita o Fórum de Biologia, um tipo de feira de Ciências realizado anualmente com a mobilização de toda a escola, como uma atividade que promove a boa integração entre todos. Além disso, afirma que a maioria dos professores não costuma faltar muito e os mais admirados são os que “dominam o conteúdo e fazem de tudo para que a aula não seja monótona, usando métodos novos e exemplos de nossa realidade. O jovem gosta muito de conversar, de expor suas opiniões; o professor tem de canalizar essas habilidades para que ele fale sobre o assunto da aula”, diz ele.

O educador Marcos Pires Leodoro, professor do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), considera que traba-lhar o lado contestatório do jovem, potencializando sua capacidade imaginativa para pensar novas possibilidades de mundo, pode ser uma forma para incrementar a relação aluno/professor. “No entanto o grande desafio do professor é contextualizar o ideal a partir do possível e, assim, fazer com que os jovens possam intervir de fato na realidade, vivenciando a sua densidade.”

Compromisso realJorge Ribeiro, da PUC-SP, perce-

be como fundamental na relação aluno/professor a capacidade que o professor tem de formar vínculos com os alunos. “Dou a isso o nome de amorosidade, ou seja, é ele estar aberto a uma relação que não seja fria, distante nem anônima, se dispor a ser gostado pelos alunos e manifes-tar compromisso.” Apresentar aulas preparadas e corrigir exercícios a tempo, não falar ao celular na sala de aula, e chegar pontualmente são exemplos desse compromisso que os jovens esperam dos mestres.

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“O que funciona é o professor não ver o aluno apenas como al-guém que ocupa uma cadeira, mas vê-lo como uma pessoa, que tem a sua vida e é capaz de exercer suas funções”, diz Zilza Thayane Matos, de 17 anos, no terceiro ano da Esco-la Estadual Frei Ambrósio, no centro da cidade de Santarém, no Pará. “O professor deve procurar se lembrar do que sentia quando estava na cadeira do aluno, da pressão que ele sofria, das dúvidas.” Para ela, a relação aluno/professor é tensa

porque o adolescente “está naquela fase de ter que decidir a sua vida para os próximos 50 anos”.

Em casos de indisciplina, afirma Leodoro, a pri-meira coisa a considerar é se ela não responde a um possível autoritarismo do professor ou da escola. “Descartada essa possibilidade, o professor pode se encontrar diante de uma situação complexa do ponto de vista social. Uma escola que não dialoga abertamente com a sociedade e a comunidade tende a enfrentar maiores problemas na resolução dos conflitos. O professor pode fazer pouco se tenta agir individualmente, sem a colaboração de seus pares, dos pais e dos outros alunos.”

A experiência, muitas vezes, pode ser um fator positivo nesse jogo. Herman Messina, de 18 anos, no terceiro ano da Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista, no interior de Minas Gerais, diz que o relacionamento entre alunos e professores costu-ma ser tranqüilo ali – mais ainda com os professores antigos. “O professor mais novo sofre um pouquinho, o pessoal acha que ele não tem aquela competência toda e às vezes toma as rédeas”, afirma. O pior, na sua opinião, é quando o professor “xinga” o aluno indisciplinado na frente da turma. “Mas normalmente eles procuram mostrar o caminho mais pelo diálogo, o que acho bem legal.”

Casos de indisciplina não são nada familiares a Tiago Tavares Flórido, de 16 anos, desde a primeira

ZilZa thayanE matOsfaz o terceiro ano em uma escola pública de Santarém: professor deve lembrar que aluno está sob pressão

O minEirO hErman mEssinacursa o terceiro ano de uma escola agrotécnica: maior convivência com professores facilita relações

O cariOca tiagO tavarEs FlOridOfaz a terceira série do ensino médio no Colégio de São Bento, campeão do Enem: somente para meninos e disciplina rígida

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A professorA MAriA olíMpiA dA silvA:

projeto para tornar integral a Educação Juvenil

interesses comuns

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Todos os dias, milhares de pro-fessores se deparam com um de-safio: como aumentar o interesse por suas aulas e torná-las verda-deiramente úteis para os alunos? O professor de Matemática Gilmar, que ensina Física em Bezerros, a 110 km de Recife, e a professora Maria Olímpia, que leciona Artes em Brasília, criaram projetos especiais e conseguiram aumentar a audi-ência e o aproveitamento de suas aulas. Mas, às vezes, para uma edu-cação de qualidade falta até mesmo o básico: a escola e os professores. Então os cidadãos precisam lutar para garantir esse direito. Foi o que fez Ana Aline, artesã e moradora da comunidade Praia do Futuro, em Fortaleza. Empenhada em conse-guir escola para os próprios filhos e outros 140 jovens, ela mobilizou todo o bairro e foi bater na porta da Secretaria de Educação.

Gilmar, Maria Olímpia e Ana Aline provam que uma dose extra de disposição e ousadia pode, sim, transformar a educação, o que interessa a todos.

Direito garantidoQuando percorre as ruas do bairro

Caça e Pesca, na Praia do Futuro, periferia de Fortaleza, Ana Aline dos Santos é parada a cada esquina. A conversa com gente da comuni-dade interessada em garantir boa educação para os filhos e melhorias de infra-estrutura no bairro parece não ter fim. Tudo começou há 17 anos, quando Ana Aline se mudou para lá com a família. O lugar, que já foi habitado por posseiros, é pri-vilegiado pela natureza – ponto de encontro entre rio e mar e cercado por dunas. Apesar das belas paisa-gens, o Caça e Pesca estava longe de ser o paraíso.

“Quando cheguei aqui com meu marido e a filha de três anos, não sabíamos como sobreviver. Não tinha escola ou posto de saúde. O transporte público demorava horas. Para levar os filhos pequenos pra escola, as mães tinham de passar o dia fora. Esperavam até o fim das aulas para voltar para casa com os

DOIS PROFESSORES E UMA CIDADÃ COLHEM OS FRUTOS DOS ESFORÇOS PELA EDUCAÇÃO JUVENIL

Por _ Cristiane Ballerini

meninos porque o dinheiro não dava para ir e vir quatro vezes”, conta Ana Aline.

Das conversas nas esquinas, surgiu a Associação de Moradores. E, logo, Ana Aline estava à frente do movimento pela instalação de uma escola. Uma pes-quisa de porta em porta e um abaixo-assinado foram suas primeiras providências, com o apoio da popu-lação. A maior dificuldade foi levar a reivindicação adiante, até o lugar certo. “Não conhecíamos como funcionava a gestão pública. Fomos tentando de um lado, de outro e conseguimos chegar à secretária municipal de Educação.” Foram quase cinco anos de batalha até que, finalmente, em 1995, a prefeitura inaugurou a escola Frei Tito de Alencar Lima.

Uma mudança radical na vida das muitas famílias da região, a instalação da escola fez com que Aline ganhasse a confiança dos pais e passasse a repre-sentar a comunidade informalmente junto à direção da nova escola. Em 1997, com a criação dos Conse-lhos Escolares, ela foi eleita oficialmente presidente do conselho e gerou polêmica entre os profissionais de educação: “Muitos pensavam que, pelo fato de não ser professora, eu não teria condições de acompanhar as reuniões ou participar da área pe-dagógica”. Disposta a continuar aprendendo, Aline, que já foi cozinheira de barraca de praia e, nas horas vagas, aumenta a renda familiar fazendo artesanato em palha, não se intimidou. Começou acompanhan-do as contas e a destinação dos recursos, mas, em pouco tempo, já estava envolvida com a criação de vários projetos pedagógicos, promovendo reuniões no bairro e enfrentando novos desafios.

Em 2001, como a quantidade de crianças aumentou, foi necessário ampliar a escola. A reforma foi feita com os recursos do município e a intensa participação de voluntários. Em 2007, foi a vez de lutar pela instalação de salas do ensino mé-dio. Muita gente do bairro entrava no primeiro ano do ensino médio e acabava abandonando os estudos. E motivos não faltavam. A escola mais próxima ficava a seis quilô-metros, e nem sempre era seguro se locomover à noite pela região, por conta da venda de drogas e de furtos. O levantamento coordenado por Ana Aline na comunidade de-tectou uma demanda de 140 vagas para o ensino médio.

De posse de uma boa idéia – estabelecer uma parceria entre as secretarias municipal e estadual de Educação – Aline e um grupo de pais chegaram numa comitiva à Secretaria de Educação do Estado. “Levamos mães, alunos e nossas pesquisas. Diante de tantos bons argumentos, um dos assessores bateu na mesa e sentenciou: ‘É impossível dizer não a vocês’. E foi assim que, apenas 15 dias depois, conseguimos a instalação de quatro salas de ensino médio na escola municipal Frei Tito”, lembra Ana Aline. Hoje, além dos jovens, mui-tos adultos voltaram aos bancos escolares.

Mesmo sendo filha de um pes-cador que nunca teve a chance de estudar, Ana Aline conta que aprendeu com os pais a lição de que a educação pode transformar a vida. E, pelo jeito, não esqueceu. Depois de tanto trabalhar pela edu-cação na comunidade, ela resolveu investir na própria formação: está no segundo ano da faculdade de Pedagogia. “Quero aprofundar meus conhecimentos e, em breve, prestar concurso para lutar pela educação de dentro da escola”, sonha Ana Aline. Um exemplo para Gustavo Henrique, seu filho de 15 anos, que está na 9ª série e, em breve, vai estudar em uma das salas construídas com o esforço da mãe e de toda a comunidade.

Física acessível Quem é professor da área de

Ciências Exatas sabe: um bom nú-mero de alunos tem “preconceito” contra Física e Matemática – as consideram complicadas e inúteis. Cansado de se deparar com provas em branco e o desinteresse durante as aulas, o jovem professor Gilmar Gonçalves da Silva, que leciona Física na Escola Estadual Getúlio de Andrade e Lima, em Bezerros, resolveu encarar a questão de frente. “Os alunos chegavam a dizer que as aulas eram chatas e, quando não dormiam ou conversavam em sala, faltavam. Eu não podia me conformar com isso”, conta Gilmar, que se sentia desafiado pelo pés-simo aproveitamento dos alunos na matéria. Em 2006, ele deu aulas para cerca de 500 jovens do ensi-no médio. Apenas 60% obtiveram aprovação. Era o retrato do próprio desempenho dos estudantes do Nordeste na disciplina, que ajuda a desequilibrar, para baixo, as médias da região no Enem.

Para literalmente “despertar” as turmas, Gilmar pesquisou recursos tecnológicos e resolveu montar um programa de computador que simulasse os movimentos descritos pela Física. Se na teoria ficava difícil entender a diferença entre o movi-

mento retilíneo e uma queda livre, por exemplo, com o Simulador de Movimentos, que ilustra uma aula sobre o capítulo Movimentos, a visualização tornou tudo mais simples e interessante.

O equipamento, que utiliza um raio laser e um anteparo material para demonstrar cada um dos tipos de movimentos, é comandado por um software desenvolvido por Gilmar, com a ajuda dos alunos Ri-naldo Luís e Paulo Fernando que, ao contrário de boa parte dos colegas, eram fissurados em Física.

Mas, se é raro no Brasil encontrar estratégias como essa de motivação dos alunos para o estudo, mais escasso ainda é o número de professores qualificados para algumas disciplinas, como reitera a pesquisa Onda Jovem na Escola, ao identificar profissionais dando conta de várias matérias ao mesmo tempo. Dados do INEP revelam a carência de cerca de 235 mil professores no ensino médio, particularmente nas disciplinas de Física, Química, Matemática e Biologia. Precisa-se, por exemplo, de 55 mil professores de Física e, no entanto, das licen-ciaturas de Física só saíram dos bancos universitários 7.216 professores entre 1990 e 2001. A histórica falta de planejamento estratégico e o desestímulo para a carreira de magistério provoca outros efeitos colaterais: há um número cada vez menor de jovens dispostos a segui-la.

Por isso, é tão especial a iniciativa de Gilmar, que, além de inspirar jovens estudantes, também soube articular e improvisar soluções: buscou a ajuda do professor Pedro Santos, da Universidade Federal de Pernambuco, parceiro na elaboração do software do equipamento; trouxe seu próprio computador para a escola; e fez adaptações com os recursos disponí-veis, como o motor de uma serra elétrica.

Resultado: o uso do simulador de movimentos atraiu a atenção de muitos alunos, além dos dois “fissurados em Física”. Agora eles participam mais ativamente das aulas e o aproveitamento subiu para inéditos 89% de aprovação. O sucesso não parou aí. A equipe foi convidada a expor na última Febra-ce, Feira Brasileira de Ciência e En-genharia, em São Paulo. O evento, coordenado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, conta com o apoio do Instituto Votoran-tim e reúne projetos nas áreas de Ciências e Engenharia de alunos de todo o País.

Gilmar, que chegou a se preo-cupar com uma possível reação negativa dos alunos com relação à participação de colegas no pro-jeto, se surpreendeu. “Aconteceu justamente o contrário. Eles foram bem recebidos e a participação de quem estava do outro lado na sala de aula foi fundamental para desen-volvermos um método que fizesse sucesso entre os alunos”, conta o professor. “Foi uma vitória para nós. Sempre gostei de desafios, e o próximo é adaptar o equipamento para ficar permanentemente fun-cionando em uma área da escola onde possa ser utilizado por outras disciplinas”, diz Gilmar.

GilMAr GonçAlves dA silvA:Física compreensível gera maior aprovação de alunos

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Sonho de meninaDar aulas em uma escola rural, na

pequena São Gonçalo do Abaeté, in-terior de Minas Gerais, foi o primeiro desafio de Maria Olímpia Barbacena da Silva como educadora. Ela tinha apenas 15 anos e mal tinha comple-tado a quinta série quando assumiu a responsabilidade de alfabetizar as crianças da região. “Minha experiência anterior era ter alfabetizado meus ir-mãos mais novos. Em sala de aula, fui descobrindo tudo na prática mesmo”, conta Maria Olímpia.

Depois de cinco anos ensinando as “primeiras letras” nas cidades vizinhas a São Gonçalo, Maria Olímpia partiu para realizar seu sonho. Filha de uma família tradicional, ela praticamente “fugiu” de casa para completar os es-tudos em Brasília e se tornar professo-ra de Educação Artística. Para financiar os estudos, trabalhou como caixa de supermercado e digitadora. Finalmen-te formada, foi diretora e lecionou Artes em várias escolas. Trinta e cinco anos se passaram, mas Maria Olímpia ainda guarda a mesma inquietação e ousadia que a fizeram perseguir o sonho de se tornar professora.

“Tantos anos ensinando me mos-traram que o ensino tradicional deixa lacunas importantes. Tudo é dividido em gavetas: Português, Matemática, História. E não são trabalhados valo-res fundamentais para a formação

A universitáriA AnA Aline:

mobilização para levar educação a crianças e jovens

para fazer contatoPROFESSOR GILMAR GONÇALVES DA SILVAPROJETO: SIMULADOR DE MOVIMENTOTEL: 81/3728-1317; 81/8810 9867

ANA ALINE DOS SANTOSTEL: 85/3262-1545 (TELEFONE COMUNITáRIO); 85/3265-1739 (ESCOLA FREI TITO)

PROFESSORA MARIA OLíMPIA BARBACENA DA SILVAPROJETO: SAIR DO PAPEL - CIDADANIA EM CONSTRUÇÃOTEL. 61/3901-6865

do aluno como ser humano. Eu queria integrar mais as matérias, ensinar cidadania e falar de coisas importantes para os alunos, especialmente os jovens que ficam tão dispersos em sala de aula”, conta Maria Olímpia que leciona no Centro de Ensino Médio 9, em Brasília.

A professora trabalha com desenho, formas, cores e movimentos artísticos e buscou apoio em uma série de vídeos produzida pelo Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância, para criar uma rotina de trabalho nas salas de ensino médio. O material, que estava “esquecido” nos arquivos da diretoria, é parte do projeto “Sair do Papel: Cidadania em Construção”. Ele inclui vídeos, clipes e material impresso sobre temas como projeto de vida, a importância dos jovens para a sociedade e o respeito às diferenças. “Os vídeos eram ótimos para esquentar as discussões em torno desses temas, no primeiro ano do ensino médio. A partir daí, começamos a usar as técnicas que eles dominam, de produção de imagem pelo celular e computador, por exemplo, para produzirmos material sobre assuntos que dizem respeito aos jovens e sua visão de mundo. Foi uma maneira de fazer com que os alunos experi-mentassem suas várias competências”, conta Maria Olímpia. O projeto da professora levou até mesmo a

uma ação social prática: vários gru-pos de alunos “adotaram” creches e asilos para o desenvolvimento de projetos permanentes de assistência. Uma prova de que o cultivo da solida-riedade floresceu.

Durante três anos, o projeto aju-dou muitos jovens a se conhecerem melhor e estabeleceu um vínculo de confiança ainda maior entre a escola e os alunos. O sonho de Maria Olímpia é que, um dia, toda a escola esteja participando de projetos como esse. Hoje, ela já não dá aulas para o primeiro ano, mas continua pensando em como ir além do simples currículo escolar. “Projetos como esse ajudam a dar o norte na vida dos alunos. Muitos que passaram por nossa escola e partici-param já estão na faculdade. Tenho certeza de que colaboramos, um pouquinho que seja, para incentivá-los a buscarem seus sonhos”, conclui Maria Olímpia.

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QUATRO PROJETOS INDICAM CAMINHOS PARA ESTIMULAR O INTERESSE DOS JOVENS PELO ESTUDO

APOIO estrAtégIcO

Por_Lélia Chacon

Quando se trata de educação, a melhor parceria é aquela que se estabelece entre o professor e o aluno na escola. É também a que pode levar os maiores desafios ao educador, principalmente quando o aluno é jovem e tem na escola o principal território, fora de casa, para vivenciar a diversidade de experiên-cias que vão ajudá-lo a construir sua identidade. Nesse contexto, o apren-dizado costuma ficar em segundo plano, e fazer o jovem se interessar pelos estudos torna-se a tarefa que mais aflige os educadores, segundo aponta a pesquisa Onda Jovem na Escola (www.ondajovem.com.br), que inspira a pauta desta edição.

“Em geral, o jovem gosta da escola, mas não se interessa pelos estudos”, afirmam os professores. Para eles, esse desinteresse tem várias causas, desde condições complexas, como a falta de orientação vocacional dos estudantes, que desconhecem suas próprias potencialidades e as opções

do mercado de trabalho – o que os impediria de ver relação entre o que estudam e a vida profissional futura –, até situações operacionais, como o mau funciona-mento das bibliotecas, que dificulta o acesso à leitura, ainda que já não faltem livros na maioria das escolas. Embora se sintam solitários em suas empreitadas, muitos professores têm procurado falar na mesma sintonia que os jovens, lançando mão, por exemplo, de recursos tecnológicos.

E há iniciativas em diversas direções que podem inspirar educadores com experiências semelhantes. Compartilhar as dificuldades e trocar informações com outros professores em salas de bate-papo ou fóruns virtuais pode ser um bom começo. No portal EducaRede, especializado em ações para aprimorar o uso educativo da Internet na rede pública de ensino, educadores podem criar uma Comunidade Virtual de Aprendizagem.

Em uma escola pública de ensino médio em Inhumas, Goiás, a dinamização da biblioteca por meio do projeto Minutos de Leitura disseminou a leitura como meio de lazer e cultura e, também, estratégia para aproximar os alunos dos estudos. Já o projeto Tonomundo aposta no melhor uso da tecnologia em projetos educacionais, como um rali virtual pela Amazônia, compartilhado por estudantes de diferentes regiões do Brasil, a partir de comunidades virtuais de escolas.

Por fim, no programa E-Tec, recém-criado pelo go-verno federal, a escola é capacitada a encaminhar a profissionalização de estudantes de ensino médio por meio de um curso a distância, aproximando o jovem aluno do universo das profissões. Conheça, a seguir, mais detalhes desses projetos.

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Educação de qualidade e capacitação profissional estão entre as principais demandas dos jovens brasileiros nas pesquisas recentes sobre juventude. Sem essa dupla qualificação, é cada vez mais difícil para as novas gera-ções fazer frente às exigências do mercado de trabalho. É nesse contexto que se insere a Escola Tecnológica Aberta do Brasil – E-Tec, programa recém-iniciado pelo governo federal para levar ensino profissionalizante ao estudante do ensino médio. O programa é feito na modalidade de cur-

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Escola Tecnológica Aberta do Brasil (E-Tec)

O Tonomundo vai além de um projeto de inclusão digital baseado na instalação de laboratórios de infor-mática em escolas parceiras. A iniciativa busca realizar o sonho de todo professor: seduzir o jovem aluno com um projeto educacional estimulante, a partir do melhor uso da tecnologia. Criando comunidades virtuais de escolas, o Tonomundo integra a instituição de ensino, a família e a comunidade em projetos de saber colaborativos. O professor recebe capacitação no uso pedagógico das ferramentas tecnológicas e se torna um agente formador.

Inhumas, GO

Projeto Minutos de Leitura, da biblioteca do Centro de Ensino Médio Manoel Vilaverde

“Umas das principais características da Internet é o trabalho em rede e, quando se trabalha em rede, a aprendizagem é potencializada”, diz a editora do portal EducaRede, Jaciara de Sá Carvalho, justificando o es-tímulo estratégico dado pelo portal à criação de redes com o projeto Comunidade Virtual de Aprendizagem, criado em 2004. “O Comunidade é uma das ações do programa EducaRede, iniciativa social da Telefônica presente em vários países. No Brasil, o principal foco do portal é o desenvolvimento de projetos para aprimorar e

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Comunidade Virtual de Aprendizagem do Portal EducaRede

No fim de 2001, por meio de um programa estadual de incentivo à leitura, o Colégio Estadual Manoel Vilaverde (CEM), escola de ensino médio em Inhumas (GO), ganhou para a sua biblioteca, a Domingos Garcia Filho (BDGF), mais de 1.300 obras e, também, mobiliário novo. Foi o cenário perfeito para a bibliotecária Maria Aparecida Rodrigues de Souza, que assumia a unidade naquele ano, dinamizar o uso da biblioteca com vários projetos, entre eles o Minutos de Leitura, desenvolvido em parceria com os professores de todas as disciplinas. “O objetivo é promover a inter-

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Projeto Tonomundo

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expandir o uso pedagógico da Internet na rede pública de ensino”, explica Jaciara. No espaço virtual, voltado a professores e alunos do ensino funda-mental e médio, há várias ferramentas interativas, como fóruns, salas de bate-papo e oficinas, também presentes nas comunidades virtuais de aprendi-zagem. São hoje 35 comunidades no

disciplinaridade escolar e, ao mesmo tempo, disseminar a leitura como meio de lazer e cultura”, explica Cida Rodrigues. As atividades incluem bate-papo com escritores, oficinas literárias, apresentações teatrais, recitação de poesia e contação de histórias, painéis de resenhas de livros recomendados por professores e pelos melhores lei-

O jovem é o centro de todo o proces-so. “Porque ele aprende pelo olhar de outro jovem”, diz Samara Werner, diretora de educação do Instituto Oi Futuro, que desenvolve o projeto em parceria com a Escola do Futuro do Núcleo de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Exemplos? Numa atividade recente do projeto, o Rali da

so a distância, uma opção para tentar responder ao desafio de universalizar o atendimento. “Queremos repetir o sucesso do Universidade Aberta (fotos)com os alunos do nível médio”, diz um dos coordenadores do programa, professor Helio Chaves Filho, diretor do departamento de Políticas de Educação a Distância da Secretaria de Educação

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Silvana, encontrou na comunidade do EducaRede o ambiente ideal para dar prosseguimento às trocas profissionais, aprendizados e relações sociais. “A ini-ciativa estimulou a formação de outras comunidades, como a de coordenadoras pedagógicas que atuam em escolas públicas e também de professores que trabalham com crianças”, diz Silvana.

tores do bimestre. “Na hora do recreio, a gente faz exposição de títulos da biblioteca, de leitura rápida, como gibis e revistas. Esse minuto de leitura serve de aperitivo, depois os alunos vão para a biblioteca ler mais”, conta Cida, que também fez com alunos um projeto de jornal escolar. “Eles já fizeram 23 edições do Cemsura (www.cemsura.

Amazônia, jovens estudantes amazo-nenses ensinaram a alunos de outros estados o que é a Amazônia. “Num ambiente virtual, eles criaram um jipe que ia passeando pela região”, conta Samara. Em uma cidade da Paraíba, alunos participantes do projeto pes-quisaram a cultura do maracujá e criaram um programa de aprendizado

a Distância do Ministério da Educação. “Com o curso a distância, podemos co-brir as periferias das grandes cidades”, diz o coordenador. O curso tem duração de um ano e meio a dois anos, e a ca-pacitação profissional varia de acordo com os arranjos produtivos locais. Um primeiro edital do programa já foi lan-çado, gerando dois grupos de pólos de

portal, como a “Avisa Lá Comunidade de Formadores”, criada no início deste ano. “É nosso espaço para integração profissional e socialização. Trocamos informações, vídeos e outros materiais de uso educativo”, diz uma das educa-doras integrantes da rede, Silvana Au-gusto. O grupo se originou num centro de formação de professores e, segundo

zip.net)”, conta Cida, que saiu da escola este ano, mas fez propostas para a continuidade do projeto. “Os cadastros da biblioteca subiram de 300 para 800, além da aproximação dos alunos com os professores. E o primeiro passo foi simples: bastou tirarmos as portas das estantes para o aluno ver, manusear e conhecer os livros”.

para os agricultores locais, que cultivam a fruta. E jovens brasileiros e canaden-ses, participantes da atividade Fire & Ice, também trocaram informações sobre a vida num ambiente quente e num ambiente frio. “Agora, o Tonomundo está chegando a Moçambique, cujos estudantes poderão interagir com bra-sileiros”, diz Samara.

atendimento para atingir 50 mil alunos em 2008. Um grupo começou a funcio-nar em março, o outro passará a ofertar o curso a distância a partir de agosto. “A meta é colocar em funcionamento, a cada ano, 250 pólos para atender 50 mil alunos. Até 2010, queremos ter 250 escolas ofertando o programa por ano”, diz Helio Chaves Filho.

COMUNIDADE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM DO PORTAL EDUCAREDEÁREA DE ATUAÇÃO NACIONALPROPOSTA Colocar educadores e alunos em ambientecolaborativo, ou rede, como forma de aprimorar e expandir ouso pedagógico da internet na escola pública. As comunidadesdispõem das mesmas ferrramentas do portal: fórum (que podefuncionar como atividade extraclasse para o debate de temas),bate-papo e oficina de criação.ATENDIMENTO 35 comunidades, algumas autônomas e outrasem que se inserem projetos do portal EducaRede.APOIO Fundação Telefônica, Centro de Estudos e Pesquisas emEducação, Cultura e Ação Comunitária - Cenpec (gestor executivodo Programa EducaRede) e parcerias com secretarias estaduaise municipais de educação.CONTATO Rua Dante Carraro, 68, CEP 05422-060, Pinheiros, SãoPaulo – SP, tel.: 11/2132-9008, e-mail: [email protected],site: www.educarede.org.br

PROJETO MINUTOS DE LEITURA DO COLÉGIO ESTADUAL MANOEL VILAVERDEÁREA DE ATUAÇÃO INHUMAS, GOIÁSPROPOSTA Incentivar a leitura por meio de atividadesde dinamização do uso da biblioteca, como bate-papocom escritores, oficinas literárias, apresentações teatrais, recitação de poesia e contação de histórias, painéis de resenhas de livros.ATENDIMENTO De 2001 a 2007, 1600 alunos e 37 professores beneficiados na escola. APOIO Programas federais e estaduais de incentivo à leitura,doações da comunidade, direção, professores e alunos daEscola Estadual Manoel Vilaverde.CONTATO Rua Goiás S/N, Vila Lucimar, Inhumas, Goiás, CEP75400-000, tel.: 62/3511-1853 (escola); Maria AparecidaRodrigues de Souza, pelo e-mail: [email protected]

PROJETO TONOMUNDOÁREA DE ATUAÇÃO NACIONALPROPOSTA Envolver educadores, alunos, família e comunidade em projetos de saber colaborativos, com base na instalação de laboratórios de informática em escolas parceiras, transformando-os em um centro irradiador de projetos comunitários para melhorar a realidade local.ATENDIMENTO De 2000 a 2007, 515 mil alunos e 7.276 professores em 437 escolas do País.APOIO Instituto Oi Futuro, Escola do Futuro do Núcleo de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP).CONTATO Rua Dois de Dezembro, 63, CEP 220040, Flamengo, Rio de Janeiro – RJ, tel.: 21/3131-3060, e-mail: [email protected], site: www.oifuturo.org.br

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bre ESCOLA TÉCNICA ABERTA DO BRASIL – E-TEC

ÁREA DE ATUAÇÃO NACIONALPROPOSTA Expansão do ensino técnico público, oferecendo capacitação profissional ao estudante do ensino médio, por meio de curso na modalidade a distância, o que possibilita levar o programa a regiões distantes das institutições de ensino técnico e para a periferia das grandes cidades brasileiras.ATENDIMENTO A meta do projeto é ter, a cada ano, 250 escolas oferecendo o programa a 50 mil estudantes.APOIO Secretaria de Educação a Distância e Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, escolas municipais e estaduais, universidades e centros de educação tecnológica.CONTATO Esplanada dos Ministérios, Bloco L - Anexos I e II, 4º andar – CEP 70047-900, Brasília - DF, Brasil, tel.: 61/2104-8224, e-mail: [email protected], site: www.mec.gov.br

Elizabeth Harkot-de-La-Taille e eu realizamos, em 2005, uma ampla pesquisa sobre valores de jovens. Alguns itens referiam-se à escola e aos professores. Os resultados são de deixar qualquer educador feliz!

Com efeito, os jovens, alunos do ensino médio da Grande São Paulo (de escolas particulares e públicas) julgam, na sua ampla maioria (71%), que os professores são agentes importantes para o progresso da sociedade. A maioria (78%) também acredita que, na escola, adquirem saberes que podem ser úteis para compreender e resolver problemas sociais. Há mais: a quase totalidade dos sujeitos pesquisados pensa que o que se ensina na escola é importante tanto para o desenvolvimento da sociedade quanto para o desenvolvi-mento pessoal de cada aluno. Final-mente, 71% afirmam que a escola é instituição digna de confiança e 67%

UM DIÁLOGO TRUNCADO?

Por _ Yves de La Taille

pensam que os professores exercem influência sobre seus próprios valores.

Dois anos mais tarde, Maria Thereza Perez Soares coordenou uma pesquisa, também sobre valores, mas dessa vez com professores de vários estados brasilei-ros. Foram pesquisados 1.584 sujeitos, do ensino fun-damental e médio. O relatório da pesquisa, cujo título é “As Emoções e os Valores dos Professores Brasileiros”, pode ser consultado no site www.edicoessm.com.br. Alguns dos dados mostram educadores navegando em ‘céu de brigadeiro’, pois 60% se dizem contentes com suas condições de trabalho, 77% satisfeitos em serem professores e 66% afirmam que não mudariam de emprego mesmo se aparecesse outro que atendesse às suas necessidades. E a quase totalidade deles (82%) pensa que ser professor corresponde a uma vocação.

Porém duas nuvens carregadas parecem estragar a tranqüila viagem profissional. Uma delas é atinente à relação com os alunos: 53% avaliam que o que mais lhes causa insatisfação é a falta de respeito por parte destes. Coerentemente, 32% dos professores pensam que a indisciplina é o aspecto da educação que mais suscita dificuldades, e 34% pensam que é a educação de valores. A outra nuvem é a falta de reconhecimento

PROFESSORES E JOVENSÂNgulO 1

profissional: 79% julgam que a socie-dade não os valoriza.

Cotejando as duas investigações, saltam aos olhos duas oposições entre os juízos discentes e docen-tes. A primeira: por que será que os professores se queixam de falta de valorização social se as pessoas com as quais lidam diariamente – os alunos – pensam serem eles agen-tes sociais importantes, serem eles portadores de conhecimentos úteis para resolver problemas sociais e para o progresso social e individual? A segunda: por que será que os pro-fessores se queixam de desrespeito, de indisciplina, de dificuldades em educação de valores, se os alunos os vêem como pessoas dignas de con-fiança – e, portanto, de respeito – e influentes justamente no que tange a seus próprios valores?

Não há razões para se duvidar da boa fé dos sujeitos de ambas as pesquisas e equivaleria a cair numa ‘cilada empírica’ pensar que somente uma investigação, ou outra, apresen-ta dados confiáveis. Mas uma coisa é clara: os alunos mostram ter uma opinião positiva da escola e de seus professores, mas estes últimos não somente parecem desconhecer o fato como interpretam as atitudes de seus alunos como prova de des-valorização e desrespeito.

Parece haver, portanto, um mal-entendido entre as partes, uma falta de comunicação. Parece haver um diálogo truncado.

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PESQUISAS INDICAM QUE ALUNOS E PROFESSORES

VALORIZAM ASPECTOS

DIFERENTES DA EDUCAÇÃO,

PRODUZINDO INCOMPREENSÃO E

FRUSTRAÇÃO

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Entre as várias causas que podem ser atribuídas a esse fenômeno, eu gostaria de sublinhar uma possível, que reflexões e outros dados su-gerem.

Há dois dados interessantes (e inquietantes) coletados por Maria Tereza Perez Soares. Ambos dizem respeito ao conhecimento. Pergun-tados sobre qual é a principal virtude em seu trabalho com os alunos, apenas 14% dos professores optam pela alternativa ‘tenho conhecimen-tos atualizados’, mas somam 50% aqueles que julgam ser sua virtude máxima ‘ter boas relações com os alunos’ e ‘se preocupar com todos eles’. E quando perguntados sobre o que eles pensam que os alunos mais valorizam no trabalho dos professores, a dimensão do conhe-cimento novamente aparece com porcentagem mínima: apenas 13% pensam que os alunos mais valorizam

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Rafaela StRobach, 16 anoS,estudante do 3º ano do ensino médio no Colégio Positivo, em Curitiba (PR), é uma das autoras da pesquisa A Relação entre Professores e Estu-dantes de Ensino Médio: Uma Comparação entre Escolas Públicas e Privadas.

ÂNgulO 1

nas pesquisas, alunos mostram ter uma opinião positiva da escola e de seus professores, mas estes últimos não somente parecem desconhecer o fato, como também interpretam as atitudes de seus alunos como prova de desvalorização e desrespeito

de ambos. Esse é, talvez, o ponto mais importante para uma boa relação na escola. O aluno quer uma aula interessante, dinâmica, criativa. Quando tem isso, ele aprende mais; quando aprende mais, pergunta mais; e assim estimula o professor a dar mais. Essa cadeia gera o principal: o diálogo necessário para ampliar o aprendizado e a relação de respeito e amizade.

os ‘conhecimentos dos professores’, enquanto 19% optam pelo ‘carinho que dedicam aos alunos’, 23% pela ‘dinâmica agradável das aulas’ e 29% pela ‘valorização que manifestam pelos seus alunos’.

Em suma, os dados levam a crer que a maioria dos professores elege como dimensão mais importante de seu trabalho a relação com os alunos, que devem ser por eles valorizados, que devem ser objeto de carinho, de dedicação, e merecedores de aulas agradáveis. Porém o conhecimento, cuja socialização é, por um lado, ta-refa primeira da escola e, por outro, a mediação da relação professor/aluno, o conhecimento, dizia eu, fica em se-gundo plano. Coerentemente, quando perguntados sobre o que mais lhes dá satisfação no seu trabalho com os jovens, chegam a 30% os docentes que optam pela ‘boa relação com os alunos’. Em poucas palavras, os professores elegem como prioritária para seu trabalho a dimensão afetiva e a dimensão moral.

Ora, cabe nos perguntarmos ago-ra se, reciprocamente, os próprios alunos dão tanta importância à sua relação com os professores. Embora os dados das pesquisas citadas não incidam sobre essa questão, creio ser possível inferir que a resposta é, pelo menos em parte, negativa. Digo ‘pelos menos em parte’ porque é claro que, como qualquer ser huma-no, os alunos apreciam uma relação social agradável e respeitosa e, logo, gostariam que tal acontecesse com seus professores. No entanto não vamos esquecer que, nessa faixa etária, a relação aluno/aluno é a mais importante para eles. É nessa relação que eles constroem suas identida-des, é nela que aprendem a resolver conflitos, é nela que investem seus sentimentos, seus amores e seus ódios. É a relação aluno/aluno que lhes traz as maiores satisfações e

“De uma conversa com colegas do colégio sobre preferências sobre um ou outro professor, surgiu a idéia de pesquisar a relação entre professores e alunos. Nós queríamos participar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, a Febrace, com um trabalho e, até apresentar a idéia para nosso professor, não tínhamos idéia de que o assunto era tão atraente. Um dos objetivos era checar a idéia veiculada pela mídia de que escola pública é ruim e escola particular é boa. Resolvemos abordar o tema examinando aspectos como se gostar do professor faz o aluno render mais na matéria, o que atrai mais o aluno na prática pedagógica, em que se baseia o vínculo entre estudantes e docentes. Entrevistamos 60 professores e 360 alunos. O resultado foi muito interessante, a começar pelo fato de que a relação entre os jovens e os professores, que eles afirmam envolver respeito e até amizade, é mais intensa na escola pública, porque o professor representa uma referência de educação que muitas vezes o aluno não tem na família. Na escola particular, o vínculo do estudante é maior com seus colegas e a relação com o professor às vezes é autoritária: ele é visto como empregado do aluno, que paga por seus serviços. O que interessa é que quando o aluno gosta do professor, há mais respeito e melhor desempenho

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também os maiores medos, como o atesta o fenômeno chamado bullying. Eles querem, é claro, uma boa relação com seus professores, mas, antes, desejam e precisam de uma boa relação entre pares.

Mas, então, o que querem eles de seus professores? Ora, se, como vimos, eles julgam que a escola é a instituição na qual se encontram conhecimentos importantes para se resolverem problemas sociais, se eles acreditam que tais conhe-cimentos podem participar do de-senvolvimento social e se pensam que os professores são agentes institucionais relevantes para o pro-gresso da sociedade, eles querem professores que, de fato, encarnem essa função social, professores que possuam e valorizem os referidos conhecimentos e que façam da sua socialização seu papel mais relevante. Mas, como também acabamos de vê-lo, não parece ser esse o papel com o qual os próprios professores se identificam, tanto é verdade que apenas 14% pensam ser virtude do-cente reciclar seus conhecimentos, e mínimos 13% julgam ser valorizados, pelos alunos, pelos saberes que já possuem. E quando os alunos dizem que seus professores são pessoas capazes de influenciar seus valores, eles, os professores, parecem relutar em fazê-lo, pois, em outro item da pesquisa de Perez Soares, ficamos sabendo que 63% pensam que não devem expressar suas posições po-

Yves de la taille é professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, autor de livros como Moral e Ética: dimensões intelectuais e afetivas (artmed), cujo anexo traz o relatório da pesquisa sobre valores de jovens, realizada com 5.160 sujeitos, financiada pela Fundação SM.

líticas em sala de aula. Tal relutância em se posicionar politicamente pode ser atribuída a um legítimo receio de fazer proselitismo. Porém, como dizer o que se pensa não implica querer convencer, o silêncio professoral sobre ‘as coisas da vida’ pode frustrar os alunos, que querem ter, na frente deles, não apenas uma pessoa generosa e atenciosa, mas também um agente social que se assume como tal.

Em suma, o ‘diálogo truncado’ entre professores e alunos talvez se deva, por um lado, ao fato de os primei-ros valorizarem aspectos internos à educação (como relacionamento, valorização dos alunos, respeito, etc.), e os segundos prezarem aspectos que a transcendam: pensar o mundo afora, o porvir da humanidade, o sen-tido da vida etc. Os alunos sabem que os professores podem cumprir essa função e se frustram quando verificam que não a desempenham a contento, pois relegam a ‘matéria-prima’ de sua profissão, o conheci-mento, a um plano valorativo inferior. Todavia, por outro lado, os alunos, ao desprezarem a generosa atenção que muitos professores sinceramente lhes dedicam, ignoram uma dimensão fundamental das relações humanas, a dimensão moral.

Então a relação professor/aluno torna-se tensa, desagradável, conflituosa, como costuma acontecer com toda relação humana não mediada por algo que a transcende, com toda relação humana não fundada num contrato claro e compartilhado pelas partes.

Professores tendem a valorizar

aspectos internos à educação, como o relacionamento,

e alunos priorizam aspectos que a

transcendem, como pensar o mundo,

o porvir e o sentido da vida

TERRITÓRIODO SABER

JUVENTUDE E ESCOLAÂNGULO 2

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mostraram como importantes terri-tórios de socialização, aprendizagens e construções identitárias juvenis.

Guardando as devidas diferenças entre escola e grupo, à medida que pesquisava, percebia que a capoeira era boa para pensar a escola, a relação entre educadores e educandos, mes-tres e aprendizes e, também, sobre os jovens e suas relações com os saberes, valores e espaços educativos, como a escola e os grupos culturais.

Nos treinos, batizados, eventos e rodas, percebia a riqueza e a va-riedade de saberes que circulavam nestes espaços, onde os jovens eram constantemente postos em relação a eles. Esta relação era ativa, dinâmica e também variada. Envolvia saberes ligados diretamente à prática da ca-poeira, como golpes, alongamentos, cuidados com postura, rituais da roda de capoeira, ou tocar instrumentos

como atabaque, berimbaus, pandeiros e xique-xique, canto, dança, expressão corporal, distribuição espacial, lateralidade; mas também relacionados aos códigos de inserção no grupo, seja a forma de falar, de vestir, do trançar e enfeitar os cabelos, das hierarquias, etc; sa-beres relacionados às trocas de experiências pessoais; valores como união, respeito, sinceridade, tolerância, amizade, franqueza; posicionamento diante do mundo, disciplina; estudos da história do Brasil, da história da capoeira, da cultura afro-brasileira; e saberes relativos à organização de eventos, trabalho comunitário, exercício de cidadania, entre outros.

Assim, a pesquisa permitiu pensar que a escola pode oferecer mais do que tem oferecido aos jovens, se abrindo para o diálogo com os estudantes, suas expres-sões e grupos culturais. Para superar o que no discurso docente se expressava pelos termos “abismo cultural” e “cisão” entre “os mundos do jovem” e o “mundo da escola”, foi proposto como caminho a construção de canais de comunicação mais eficazes entre gestores e educadores e outros espaços de socialização, for-mação identitária e também construção e circulação de saberes juvenis.

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as mudanças nos tempos e espaços de socialização interferem diretamente nas formas como os jovens vivenciam o seu estatuto como alunos, e os professores já não podem mais contar tanto com a sua experiência anterior como referência para lidar com os jovens atuais

ÂNgulO 2

O ponto central deste argumento é a compreensão de que a escola e os educadores precisam transpor os muros escolares, mapear e reco-nhecer a existência desses espaços e se colocarem em relação e diálogo com os mesmos, para construírem projetos mais significativos e que levem em consideração os modos específicos dos diferentes jovens se relacionarem com os espaços e, tam-bém, com os saberes escolares.

ExtramurosA chave para esse caminho é o

argumento posto por autores como Marília Spósito e Juarez Dayrell pelo qual a escola contemporânea, que acolhe e educa adolescentes e jo-vens, não pode mais viver fechada, ensimesmada, desconhecendo os outros espaços sociais por onde os seus estudantes circulam, produ-zem e apreendem hábitos, valores, visões de mundo e saberes – cultura – que trazem consigo para a escola, interferindo nas relações entre edu-cadores e educandos, educandos e cultura escolar e entre os próprios educandos.

Já podemos considerar, por dados de diferentes pesquisas, que este tem sido um caminho fecundo, mes-mo que não isento de riscos e com limites, para desatar um dos “nós” da relação professor-aluno posto em alguns discursos docentes. A saber: os professores reconhecem que a es-cola é vivenciada como espaço privile-giado de socialização juvenil, mas se ressentem de os estudantes jovens não se interessarem por estudar e se envolver com as atividades “pro-priamente” escolares. A escola seria apenas lugar de encontros, namoros, amizades, para a maioria dos jovens, mas os aprendizados escolares não seriam significativos para a atual geração de jovens estudantes.

Dayrell (2006) propõe, para a com-preensão da relação juventude e escola, a necessidade de romper com visões apocalípticas, com educadores e estudantes jovens responsabili-zando-se mutuamente pela crise da escola. Ou, então, visões simplistas, reduzindo a explicação da tensão na

NATÁLIA ROMANA GOMES DA SILVA, 15 ANOS,

Carla Linhares Maia é graduada em História, doutoranda em Educação e membro do Observatórioda Juventude na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais

pARCERIAS SAUDÁvEIS

por_Haraldo Cesar Saletti Filho

O diálogo entre educadores e médi-cos enseja renovados desafios para o cuidado de saúde dos jovens.

Nas escolas, dá-se a socialização juvenil e o alargamento de fronteiras (da família para a comunidade local e desta para a sociedade, com suas regras, barreiras e recompensas, nem sempre acessíveis a todos). Nos serviços de saúde, há encontros clínico-assistenciais, quando pode haver privacidade e sigilo. Os jovens ficam frente a frente com enfermei-ros, psicólogos, dentistas, médicos e outros profissionais.

Atualmente, as equipes do progra-ma Saúde da Família, com agentes comunitários de saúde, muitos deles jovens, atuam integrando a assistên-cia médica às diferentes dimensões de escuta e de cuidado em saúde. Eles chamam a atenção dos técnicos da saúde para a realidade de vida dos jovens. E muitos estabelecem

parcerias com escolas. Os gestores de saúde também têm destacado a horizontalidade do cuidado, ou seja, a necessidade de acompanhamento das pessoas para a construção da saúde. Isso é algo que caracteriza a ação do educador nas escolas.

Sexo e drogasOs profissionais de saúde e os educadores precisam

ser sensíveis ao cotidiano, às aberturas e às barreiras para a formulação de projetos para a vida, e às dife-rentes vulnerabilidades juvenis.

Quero dizer que o trabalho cooperado entre edu-cadores e médicos, além dos demais profissionais de saúde, abarca questões como identidade sexual, uso e abuso de drogas etc. Há vivências em questão e redes sociais onde se dão trocas simbólicas e materiais. O trânsito interdisciplinar é uma ferramenta para nossa capacitação, desde o fortalecimento do olhar para dimensões ainda pouco reconhecidas, relativas a inte-resses, motivações e sofrimentos que acompanham as incursões juvenis no mundo e na vida, até a condução objetiva de projetos para a redução de vulnerabilida-des, pela sensibilização da comunidade escolar e pela formulação de parcerias intersetoriais.

EduCAçãO E SAúdE iNtEgRAlÂNgulO 3

É necessário preparo profissional (seja na saúde, seja na educação) para uma efetiva provisão de meios direcionados aos direitos sexuais e reprodutivos, o que nos remete ao exercício de uma sexualidade com autonomia e respeito interpessoal, que não ignore ou moralize as di-versidades sexuais, reconhecendo dúvidas e interesses sobre métodos contraceptivos, DST e Aids, concep-ção, maternidade e paternidade, transformações físicas e psíquicas, além dos papéis sociais de garotos e garotas que vivem sua adolescência e juventude na sociedade brasileira.

Outra tarefa para uma resposta social que envolva escola, bairros, Centros de Saúde e famílias é a redu-ção de danos, cuidando-se da saúde de pessoas que utilizam drogas. Para isso, baseando-se na diferença entre uso (experimentação), abuso (episódios de consumo excessivo, expondo a pessoa e outros a riscos) e dependência (necessidade física de se manter o uso da droga) de subs-tâncias psicoativas, de forma prática, provêem-se o acesso de jovens a serviços de saúde e o seu acolhi-mento por famílias, assim como se trabalham coletivamente os desafios das vulnerabilidades juvenis.

Educação integralUma dimensão de trabalho com a

vulnerabilidade é a programática, ou seja, escolas freqüentadas por jovens que tematizam o uso de drogas, que abordam a sexualidade, não só pela biologia, mas também inserida em perspectivas atentas à cultura contemporânea e local, escolas que reflitam sobre os sentidos e significa-dos dos relacionamentos amorosos e sexuais, escolas que sensibilizem pais e alunos para questões prementes da

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A COLABORAÇÃO ENTRE EDUCADORES E AGENTES DE

SAÚDE PODE FORTALECER A PROMOÇÃO DOS DIREITOS

JUVENIS, INCLUINDO OS SEXUAIS E OS DE REDUÇÃO DE DANOS

CAUSADOS PELAS DROGAS ISTO

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FELIPE ÁQUILLA, 18 ANOS,

Haraldo Cesar Saletti Filho é médico sanitarista com especialização em Medicina Preventiva e mestre em Ciências. Foi coordenador do Programa de Atenção à Saúde do Adolescente, do Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atua como médico de família e comunidade pela Associação Saúde da Família na UBS Prof. Marcus Wolosker, Belenzinho, São Paulo. E-mail: [email protected].

o sujeito da frase

Diretora da escola de ensino médio mais bem avaliada na rede paulista, Mirtes Machado diz que resultado não tem segredo, mas trabalho no dia-a-dia

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“NÃO HÁ IDÉIA MILAGROSA”Por _ Yuri VaconcelosFotos _ Gustavo Lourenção

Quem passa em frente à Escola Estadual Papa Paulo VI, localizada em um bairro de periferia de Santo André, na Grande São Paulo, custa a acreditar que ali estão os melhores alunos do ensino médio paulista, segundo os resultados do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Edu-cação do Estado de São Paulo), um indicador criado em 2008 pelo governo estadual para avaliar as condições da qualidade do ensino na rede que administra.

Inspirado no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Edu-cação Básica), que vale para todas as escolas do Brasil, o Idesp leva em conta dois dados: o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) e a taxa de alunos que estudam em séries indicadas para a sua idade – e que podem sofrer variação, caso haja repetência e evasão.

A escola de Santo André obteve um índice de 6,21, superando em muito a média estadual no ensino médio, que foi de apenas 1,41, numa escala de 0 a 10. Mas não é pela aparência que ela se distingue. Isso porque o pré-dio não difere em nada dos milhares de escolas públicas existentes em todo o País. É antigo, o portão de ferro está enferrujado, a pintura dos muros é gasta e ele carece de uma boa manutenção. Para piorar, desde o ano passado, mais da metade da área foi interditada pela Defesa Civil, pois corria o risco de desmoronar.

Mas, como diz o ditado, “as aparências enganam”. Lutando contra as dificuldades, o corpo diretivo e os professores conseguiram implantar um projeto pedagógico consistente e agora colhem os frutos do trabalho. “O resultado do Saresp é fruto do trabalho do dia-a-dia”, diz a historiadora e pedagoga Mirtes de Fátima Machado, diretora da escola, que faz questão de destacar a importância dos professores para a qualida-

de de ensino da escola. “São pessoas extremamente sérias e dedicadas.” Dos seus 30 professores, 90% são titulares. A maioria mora na própria região, muitos estão lá há vários anos e boa parte foi professor dos irmãos mais velhos de seus atuais alunos.

Com apenas 783 alunos, o colégio Papa Paulo VI é uma escola pequena para os padrões da Grande São Paulo. São vinte turmas da 5ª série do ensi-no fundamental ao 3º ano do ensino médio. No último Saresp, os alunos do 3º ano do ensino médio obtiveram as melhores notas tanto em Matemática quanto em Português, as duas disci-plinas constantes do exame. Na pri-meira, alcançaram a média de 382,2 pontos, enquanto a média estadual foi de 263,7, e o nível adequado fica entre 350 e 400 pontos. Em portu-guês, atingiram 338,3 pontos, sendo que a média estadual ficou em 263,3, e o nível adequado está entre 300 e 375 pontos. O desempenho no Enem – Exame Nacional do Ensino Médio –, que avalia alunos em nível nacional, também foi satisfatório, com uma pontuação de 53,98 (acima da mé-dia estadual de 52,70 e da média nacional de 51,27), embora ainda bem abaixo dos 79,63 obtidos pelos alunos da escola pública mais bem classificada nesse ranking.

Para atingir essa posição, a escola não descuida de nenhuma disciplina desde a quinta série, investindo em estratégias de aprendizagem que contextualizem os conteúdos e façam sentido para o jovem, conforme revelou a diretora em entrevista concedida a Onda Jovem. Acompanhe a seguir seus principais trechos.

Mirtes de Fátima Machado, diretora da Escola Estadual Papa Paulo VI, em Santo André, no ABC paulista, aposta na qualificação dos professores e nos vínculos com alunos e famílias

Onda Jovem: Qual o segredo da escola para tirar o primeiro lugar no Saresp, tanto em Português quanto em Matemática?

Mirtes de Fátima Machado: Não há segredo nem idéia milagrosa. É o trabalho do dia-a-dia. Temos um grupo de professores e profissionais extremamente sérios e dedicados. São pessoas maravilhosas, que estão conosco há muito tempo. Até eu che-gar aqui, há quase cinco anos, a troca na direção da escola era muito grande. Com isso, não havia um direcionamen-to nem uma proposta consistente e contínua. Eu gosto de criar raízes e vim como titular de cargo. Apresentei uma proposta pedagógica e contei com a confiança da equipe, formada, também, em sua grande maioria, por professores titulares. Com isso, não há troca [de professores] todo ano.

Qual é a vantagem de os professo-res serem titulares e ensinarem na escola há algum tempo?

São várias, mas eu queria citar espe-cificamente uma: o fortalecimento do vínculo com os alunos. Quase todos os professores são da região e conhecem a realidade local. Como estão aqui há mais tempo, eles também já foram professores dos irmãos mais velhos dos alunos e conhecem suas famílias.

partir para o concreto, elaborando problemas de Matemática com as-suntos da vida do aluno. Isso facilita a aprendizagem. Outro instrumento válido é recorrer a jogos. Mas uma coisa deve ficar clara: a gente não está ali para brincar. O jogo é legal, mas é também um instrumento de ensino e aprendizagem. Os alunos têm bem claro o que cada jogo lhes possibilita. São coisas pequenas, mas que surtem um grande resultado.

E qual é o segredo para atrair os jo-vens do ensino médio para o estudo? O fato de eles serem jovens inspira alguma estratégia específica?

O trabalho desenvolvido com os alunos do ensino médio se preocupa principalmente em estabelecer estra-tégias de aprendizagem que contextu-alizem os conteúdos e façam sentido para o jovem, já que o mundo moderno oferece infinitas possibilidades de interação com o conhecimento. Cabe à escola, portanto, estabelecer uma ponte que dê uma direção aos alunos e abra-lhes perspectivas para o mer-cado de trabalho e o efetivo exercício da cidadania.

E como vocês lidam com a falta de colaboração da família no processo educacional dos alunos?

Esse é um problema sério. Nossos alunos são, muitas vezes, filhos de analfabetos ou de pais sem con-dições de dar apoio. Mas muitos poderiam estar mais presentes e não estão. Alguns até reclamam que a escola dá muita lição de casa, o que os obriga a estar ali do lado. Para eles, isso é obrigação nossa. É uma situação conhecida da maioria das escolas. Para tentar resolvê-la, criamos horários mais flexíveis para atender os pais. Se ele não pode vir no dia da reunião, então que venha outro dia. Também abrimos espaço para eles nas HTPCs, que são horários de trabalho pedagógico com os pro-fessores. Por fim, criamos um espaço de palestras e cursos sobre assuntos diversos – violência, droga, sexo etc – para os pais. Queremos fechar o cerco para que eles não tenham desculpas de não vir à escola.

DIRETORA CREDITA DESEMPENHO AOS PROFESSORES, QUASE TODOS TITULARES, HÁ MUITOS ANOS NA ESCOLA, VÁRIOS COM MESTRADO OU SE ESPECIALIZANDO

Isso cria vínculo, compromisso, responsabilidade e mais segurança, por conhecer a situação local. É bom lembrar que estamos num bairro de periferia, cercado por três favelas, com algum nível de violência.

Muitas escolas públicas convivem com faltas freqüen-tes de seus professores. Isso acontece aqui?

Não. A cada ano, as faltas diminuem. Elas aconteciam mais com os professores que não eram titulares, mas que hoje são apenas 10% do total. Atualmente, os pro-fessores não tiram nem as seis faltas abonadas no ano, às quais todo servidor público estadual tem direito. Este ano [até o começo de abril], só tivemos três faltas. Mas não foram três dias – apenas três aulas. Queria destacar também a formação do nosso quadro docente. Todos os professores têm graduação – algo que não é comum em muitas outras escolas públicas – e dois têm título de mestre. Outros três estão fazendo mestrado, com bolsa de estudo do estado. E a grande maioria faz cursos de aperfeiçoamento freqüentemente.

Apesar dos bons resultados do Saresp, vocês devem enfrentar dificuldades comuns à maioria das escolas públicas do País.

Sim, as dificuldades são muitas. Reclamações dos professores contra o baixo salário, prédio em mau estado de conservação, carteiras quebradas, falta de recursos... Um dos que acho mais grave diz respeito ao fato de não termos na escola os primeiros anos do ensino fundamen-tal – as crianças entram aqui para fazer a 5ª. série do fundamental. Recebemos um número razoável de alunos de outras escolas públicas, e também particulares, que são analfabetos. Não sabem ler nem escrever. Esse é um problema sério.

Como vocês lidam com isso?Primeiro, fazemos um diagnóstico para identificar

a situação de cada novo aluno, já que não recebemos relatório sobre sua vida escolar pregressa. Em seguida, tentamos uma aproximação com a família daqueles que apresentam mais dificuldades. Muitos pais atendem aos nossos chamados, mas outros, não. O professor, então, faz um trabalho de recuperação continuada em sala de aula. Nós contamos também com um recurso a nosso favor, disponível na rede pública estadual de São Paulo, que é a recuperação paralela. São mais duas aulas de reforço que podem ser dadas por professores diferentes, fora do horário das aulas.

Essa mesma deficiência detectada em relação ao ensino de Português acontece com a Matemática?

Sim. Muitos novos alunos chegam sem dominar as quatro operações e sem raciocínio lógico.

E o que vocês fazem?Apostamos na parte concreta. Não adianta ficar pondo

exercício na lousa, nem muito blá-blá-blá. Temos que

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Vocês têm problemas com alunos que usam drogas na escola?

Até bem pouco tempo atrás, tive-mos sérios problemas com álcool, que muitos não consideram uma droga. Encontrávamos garrafas nas mochilas e alguns alunos já chegavam de manhã bêbados. O que fi zemos? Fomos a todos os mercadinhos, bares e vendas em volta da escola e pedimos aos donos para evitar vender aos alu-nos. Depois, procuramos as famílias, para que elas também assumissem a responsabilidade, pois muitos alunos traziam a bebida de casa. Falamos para os pais que o mínimo que eles deviam fazer era escondê-la dos fi lhos. Os professores, por sua vez, passaram a abordar a questão das drogas em sala de aula. E adotamos uma rígida fi scalização, com ajuda da ronda escolar. Foi uma ação intensa que deu resultado. Em um ano e meio, o problema foi superado.

Quando entrei na escola, reparei em algumas estantes com livros no corredor. Vocês não têm biblioteca?

Tínhamos. No ano passado, a De-fesa Civil detectou um problema na estrutura física da escola, e uma área de 60% do prédio precisou ser isolada. Nesta área funcionava não apenas a biblioteca, mas também a quadra esportiva, a horta, a sala de Educação Física, o pátio coberto, o laboratório de Informática e o auditório para as apresentações do nosso grupo de teatro. Diante dessa adversidade, ti-vemos que ser criativos. Com algumas estantes, criamos cantinhos de leitura

A diretora Mirtes Machado, com as professoras do ensino

médio Regina Célia Ribeiro Correa (Matemática) e Rosimar

Joris de Paula (Português): contextualização de conteúdos

para os jovens

espalhados pelos corredores e outros locais da escola. A coisa está funcionando tão bem que pretendemos manter os cantinhos mesmo quando a biblioteca rea-brir. Além disso, elaboramos kits de leitura com caixas de plástico, que o professor leva para a sala de aula. A leitura é o coração da escola.

Com a interdição de parte da escola, os alunos per-deram boa parte de seu espaço de lazer?

Sim. E, com isso, passamos a enfrentar outro proble-ma. Com a redução do espaço, os alunos naturalmente se aproximaram e percebemos que as brigas e confl itos po-deriam se potencializar. Para evitar que isso acontecesse, compramos alguns jogos para os alunos brincarem no intervalo. Dama, palavras cruzadas, dominó, xadrez, pingue-pongue... Adquirimos também instrumentos musicais. Para isso, tivemos que fazer um planejamento austero, pois os recursos da escola são limitados e têm de ser usados com muito critério.

Qual o papel da coordenação aqui na escola?O coordenador atua na questão disciplinar, faz a ponte

entre os professores e a direção da escola e participa também na área pedagógica. É um mediador, respon-sável pela condução das reuniões semanais com os pro-fessores. Usamos esse período para fazer planejamento, tirar dúvidas e, fundamentalmente, estudar e reciclar os professores. Estudamos mesmo, muito seriamente.

As reuniões semanais são usadas para o planejamento

e o estudo. “Estudamos mesmo, muito seriamente”,

diz Mirtes Machado

A sra. poderia apontar um diferen-cial importante da escola?

Não sei se é um diferencial, mas é uma coisa que valorizamos muito: as atividades extraclasse. Levamos os nossos alunos para ver peças de tea-tro, visitar o Masp, o Museu da Língua Portuguesa, conhecer o festival de folclore de São Bernardo do Campo, conhecer Paranapiacaba [distrito de Santo André com uma das estações de trem mais antigas de São Paulo]... Mas, além de levar os estudantes, estimulamos os professores a irem também em seus horários de lazer. Como é que queremos mostrar aos alunos a importância dessas mani-festações culturais e de visitar esses lugares se os próprios professores não os valorizam?

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ORDEM NA CABEÇA

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ENTRELAÇADA A FATORES QUE VÃO DA CULTURA EDUCACIONAL À PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA, A DISCIPLINA JUVENIL REQUER ESPAÇO PARA O DIÁLOGO E O ENTENDIMENTO DOS CONFLITOS

por _ Simone Barreto

Reprovação na berlindaO debate sobre a indisciplina é tão

amplo quanto o tema é antigo. Não é de hoje que professores são desa-fi ados a descobrir novos meios para lidar com alunos que desrespeitam as regras. No entanto, quando os educadores analisam o desinteresse dos estudantes em sala, novos ques-tionamentos surgem e alimentam a discussão. Um deles é a questão da aprovação. A implantação no ensino fundamental, a partir de meados da década de 1990, do sistema de ciclos de aprendizagem, conhecido como progressão continuada e sob o qual foram formadas as gerações que estão agora no ensino médio, teve grande repercussão sobre a cultura escolar. Embora não se trate de uma aprovação automática, é assim que parte da comunidade escolar – incluindo docentes e es-tudantes – entende o processo, que teria condenado defi nitivamente a reprovação como opção pedagógica, em todos os níveis. “O professor foi muito desgastado com esta história da progressão continuada, perdeu-se IS

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Há 23 anos a professora Maria Beatriz Lurgão leciona no Centro Integrado de Ensino Público Pablo Neruda, no município de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro. Seus alunos de ensino médio representam grande parte de sua vida. E ela sabe o que representa na vida de seus alunos: “Ser professor é ser um meio para entrega de conhecimento e formação de cidadãos”, diz. E se o professor é a referência para os jovens no mundo adulto, ele é também desafi ado a lidar com a questão disciplinar, no sentido mais amplo, de estabelecer con-dições de boa convivência e organizar procedimentos de estudo. Cabe ao professor a tarefa de pôr ordem na sala de aula e, muitas vezes, nas cabeças dos pró-prios alunos, abrindo caminhos para o diálogo e para o entendimento dos confl itos desses jovens estudantes que buscam seu lugar no mundo adulto.

“O espaço de debate é fundamental para que os alu-nos apresentem suas inquietações e propostas”, afi rma a professora. Entre 1992 e 2006, Beatriz testemunhou o efeito que o diálogo entre educadores e alunos pode alcançar: “Durante quinze anos trabalhamos o Con-selho de Classe Participativo, que reunia, a cada dois meses, professores, funcionários, equipe pedagógica e representantes de classes de alunos. Na pauta dos encontros, o grupo discutia as questões pedagógicas, acompanhava o desenvolvimento escolar, assim como dava voz aos próprios estudantes, para que buscásse-mos juntos soluções para suas difi culdades”. Por uma série de motivos, o conselho não se reuniu ao longo de 2007. “Foi um ano difícil. No lugar de um canal de diá-logo, mais enfrentamento entre alunos e professores, mais depredações na escola, uma busca de expressão da insatisfação que só levou ao crescimento dos atos de indisciplina”, diz Beatriz.

A pesquisa Onda Jovem na Escola consultou pro-fissionais da área de Educação que apontaram a questão disciplinar como um dos grandes desafi os a ser enfrentado junto aos jovens do ensino médio. Para esses educadores, muitos são os fatores envolvidos na questão da indisciplina, entre eles: a ausência de instrumentos de controle; o papel dos coordenadores; e a relação entre família e escola.

CABE AOS EDUCADORES CRIAR ESPAÇOS PARA O DIÁLOGO E O DEBATE DAS INQUIETAÇÕES DOS JOVENS ESTUDANTES E BUSCAR ATRAIR A FAMÍLIA, CUJA PARTICIPAÇÃO É ESSENCIAL NO PROCESSO

o respeito, o aluno sabe que vai pas-sar”, argumenta um dos consultados. “Este ano o coordenador já falou para o corpo docente que não era para reprovar aluno. Se a gente reprova, nossa escola fica mal vista e tem menos recursos.”

“A rede pública está carente de recursos. Há superlotação das clas-ses, faltam ferramentas para que os professores possam recuperar os alunos com baixo rendimento. Em tais condições, essa política faz com que o aluno desestimulado trate a escola como um local de passagem, não desenvolvendo seu potencial criativo”, concorda Beatriz Lurgão, que também acumula o cargo de uma das coordenações do Sindicato Estadual de Profissionais de Educa-ção do Rio de Janeiro. Enfrentar a

indisciplina em salas de aula é tão massacrante que uma das principais doenças da categoria apontada pelo sindicato é justamente o estresse de professores que lidam com esses casos.

Para Bertha de Borja Reis do Valle, doutora em Edu-cação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma boa escola é aquela que ensina, e não a que reprova: “Se os alunos não aprenderam determinado conteúdo, é porque não houve ensino adequado àquela turma”. Entre as causas listadas para o baixo rendimento estão a falta de conteúdos anteriores – que serviriam como fundamento para a aprendizagem –, o pouco tempo para assimilação das matérias e condições desfavoráveis do espaço escolar. Bertha analisa a pro-gressão continuada com o olhar de quem pesquisa a política educacional e já passou pela experiência como professora e diretora de escola pública. “Compete ao professor motivar seus alunos, procurar dar suas au-las de forma lúdica, prazerosa para todos. A avaliação da aprendizagem é o reflexo do que foi ensinado nas aulas. E a progressão continuada é a forma correta de se trabalhar o conhecimento, sendo necessário o acompanhamento constante do professor e das famílias”, acrescenta a pesquisadora. Segundo ela, “o Brasil desenvolveu uma ‘cultura da repetência’ há várias gerações, que está demorando a ser superada. O aluno se desinteressa dos estudos porque as aulas são, muitas vezes, monótonas, repetitivas, não sendo claro para o aluno a importância daquele conhecimento que o professor está transmitindo”.

Campos de atuação“Motivar os alunos deve ser uma

proposta constante do professor. O desafio é ter voz ativa numa turma de até 60 alunos, quando o ideal se-ria termos a metade desse número em classe”, pondera Beatriz Lurgão. Para ela, com as dificuldades da rede pública, faltam coordenadores que contribuiriam para a discussão e o direcionamento dos recursos pedagógicos adequados a cada estrutura escolar.

O papel da coordenação é outro fator que integra a discussão sobre a questão disciplinar dentro da escola. Para os consultados pela pesquisa Onda Jovem, a coordenadoria deve subsidiar pedagogicamente os pro-fessores e funcionar como elo entre docentes e direção. Mas tanto profes-sores como coordenadores entrevis-tados afirmam que a maior parte do tempo da coordenação é dedicada ao atendimento de alunos. “O problema indisciplina é um problema pedagó-gico, a gente tem que ver o que está gerando a indisciplina, mas atender o aluno porque foi indisciplinado não é função do coordenador. A minha sala vive lotada de aluno”, afirma um dos coordenadores ouvidos. A falta de clareza sobre campos de atuação acaba num impasse: “Se houver al-gum problema com um aluno, a gente tem de resolver, porque às vezes você passa para o coordenador e ele julga que a culpa é sua, argumentando: você precisa rever seus conceitos pedagógicos”, diz um professor.

No Instituto Dom Barreto, escola privada de Teresina, no Piauí, que ficou com a melhor média do País no Exame Nacional do Ensino Médio em 2006 (74,17) e entre as 20 melhores em 2007 (79,13), a coordenadora Bernadete Rangel prefere pensar o conjunto. Na busca do equilíbrio para o relacionamento entre alunos e professores, também pesa na balança a fundamental parceria com as famílias. “Esta é uma escola de pais, que trabalha junto com as famílias. Uma escola de educandos e de professores”, diz Bernadete, que vem, ela própria, de uma família de professores.

O Instituto Dom Barreto é uma escola particular, mas não é uma ilha de educação, segundo a coordena-dora: “Só alcançamos bons resulta-dos pelo conjunto do trabalho. Nós nos preocupamos com a formação constante de nossos professores, com o estímulo do pensamento crítico de nossos alunos e com a manutenção do diálogo com os pais, tanto no Dom Barreto como na escola popular Madre Maria Villac, mantida pelo instituto, na periferia de Tere-sina, para famílias carentes. Todos podem e devem ter o mesmo direito à educação”. E direito ao respeito mútuo. Problemas de indisciplina são ocasionais nas escolas, já que coordenadores divididos por área e psicólogos trabalham juntos e fazem acompanhamento individualizado, quando há necessidade. As famílias são envolvidas pelas instituições para entendimento e acompanhamento do que acontece no dia-a-dia dos alunos. E todos ganham.

“Acho que a maior questão é a do compromisso. Dos professores com a escola, da escola com seus profissionais, estudantes e famílias”, completa Bernadete. E também se vê o compromisso do aluno com a instituição de ensino, que abre para o jovem um fórum permanente para comunicação e satisfação de suas dúvidas e necessidades. Em troca, no lugar de indisciplina, o respeito pela escola e pelos professores e o bom desempenho escolar.

Família presenteFormação de parcerias nem sempre é tarefa fácil,

como bem sabe Antônio Rogério Dias Guimarães, membro da Associação de Pais do Loyola, colégio jesuíta de Belo Horizonte. “Depende de confiança mú-tua, respeito, abertura para o diálogo, compromisso. Acompanhamento dos filhos nas propostas escolares, comparecimento às reuniões convocadas, procura de esclarecimentos quando for o caso, formação de um grupo de pais da mesma turma, da mesma série, ou mesmo uma Associação de Pais, podem representar facilitadores na formação e manutenção da parceria”, diz Rogério.

É da falta desse apoio também disciplinar que mui-tos professores da rede pública se ressentem, como aponta a pesquisa Onda Jovem na Escola. Para alguns, a família chega a ser vista como elemento dificultador do processo educacional, seja pela sua ausência pura e simples, seja pela presença equivocada, que às vezes mais complica do que fortalece a relação entre profes-sores e alunos. “Os pais se irritam com a lição de casa”, diz um professor. “Os pais reclamam: ‘mas meu filho, coitado, tem de ler?’”, diz outro entrevistado.

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“Se os papéis da família e da escola não são bem compreendidos, se falta acompanhamento consciente e crítico do que é proposto e executado pela escola e se não se edifica a parceria entre as instituições, percebe-se a falha na formação dos indivíduos”, diz Rogério. “Em alguns casos, e não muito raramente, pode-se verificar que as famílias deixam de colaborar, não exatamente com as escolas, mas com um todo que é a educação global de seus filhos”.

A identificação do problema não sig-nifica que os educadores desistiram de lidar com ele. Na pesquisa, destacam-se também os esforços para levar a família para dentro da escola, em um processo construtivo. “Este ano, uma coisa que eu procurei valorizar foi a participação dos pais na escola (...) Eu fiz bastante convite, mães que eram enfermeiras vieram fazer palestras de saúde para os alunos, avaliamos o trabalho delas junto com eles. Vamos continuar tra-balhando com drogas, sexualidade”, diz um entrevistado.

Enfim, “estudar não é fácil; bom é aprender”, gosta de dizer Bernadete Rangel, relembrando a frase de seu irmão, Marcílio Rangel, diretor do Ins-tituto Dom Barreto. E o aluno que vê seu direito a uma educação plena res-peitado retribui também com respei-to e ainda com vontade de aprender e participar. Se a escola é um conjunto que reúne educadores, alunos e seus pais, a indisciplina é uma questão que diz respeito a todos.

.gov.com

elo frágil

Os desafios da educação pública no Brasil estão chegando a novos patamares. Depois dos esforços para a universalização do ensino fundamental, da primeira à nona série, resta ainda sua necessária qualificação, mas é hora também de adequar às novas demandas o ensino médio. À espera, sentados nas carteiras às vezes literalmente pequenas para seu tamanho, estão mais de 8 milhões de jovens, que duelam com adversários variados para sustentar o interesse e a freqüência na sala de aula. Sem esquecer os jovens que nem mesmo encaram o duelo, deixando a escola ainda nas séries finais do ensino fundamental, baixando as taxas de matrícula no nível médio, nos anos mais recentes.

O despreparo das redes públicas para atender a uma demanda que mais do que dobrou ao longo da década de 1990, com a afluência de estudantes muito pouco

qualificados, além de uma histórica dificuldade da sociedade brasileira para determinar suas finalidades, contribuíram para transformar o en-sino médio “no elo mais frágil da edu-cação”, conforme declarou, em março passado, o ministro da Educação, Fernando Haddad. Fortalecê-lo é um desafio de todos: da sociedade; do governo federal, que determina suas diretrizes; dos governos estaduais, que o gerenciam, e dos educadores, que o implementam diretamente nas salas de aula.

Abrindo horizontesNo âmbito federal, alguns pro-

gramas vêm ajudando a encurtar o caminho até a universidade, olimpo reservado à elite dos colégios parti-culares, hoje um pouco mais próximo dos estudantes da rede pública por meio de ações como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio, proposta para substituir o vestibular, mas IS

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ENTRE A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL E A ELITE DO NÍVEL

SUPERIOR, O ENSINO MÉDIO SE FRAGILIZA NO ATENDIMENTO À JUVENTUDE

Por _ Aydano André Motta

ainda longe disso), o Prouni (Programa Universidade para Todos) e o Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).

Ainda há muito por fazer, além de abrir horizontes – e o ensino médio segue como tijolo mais fraco da obra em execução permanente. O ministro da Educação defende um maior envolvimento da União no problema, com a federalização de uma parte maior do que o atual 1% das matrículas. “Nosso objetivo é chegar a alguma coisa entre 8% e 10% das matrículas”, declarou ele, em março deste ano. “Se tivermos um instituto federal em cada microrregião, não precisaremos federalizar 100%. Poderemos ter uma rede bastante robusta, para vertebrar o ensino médio nos estados, que precisam de apoio técnico, mais do que financeiro”.

Para o ministro que enxerga no nível médio o elo mais frágil do setor no Brasil, com indicadores de qualidade que pioram desde 1995, “a escola que temos é melhor do que sair da escola, mas nossas unidades de ensino, como estão organizadas, ainda fazem pouca diferença na vida dos alunos. Há apenas três anos, os alunos não contavam nem com livro didático”, diz ele, defensor também da inclusão de jovens de 16 e 17 anos no programa Bolsa Família.

Haddad observa que, apesar da grande expansão conseqüente ao Reuni, apenas um sexto dos adoles-centes chegará à universidade. “Logo, se o jovem não sair do ensino médio preparado para o mercado de trabalho, terá pouco interesse de continuar indo às aulas”, analisa.

45Na lanterna

Uma olhada nos resultados do Enem – transformado no principal aferidor do desempenho dos estu-dantes de ensino médio brasileiro, embora careça de maior uniformiza-ção nacional, já que suas provas são opcionais – revela a contundente desigualdade que domina o próprio setor público. Os alunos das redes convencionais amargam médias baixíssimas, enquanto os da elite das escolas técnicas, federais e es-taduais, superam até os dos colégios particulares no desempenho.

Na vida real das escolas estadu-ais convencionais, a realidade se apresenta bem mais difícil. Por isso a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Con-sed), a professora Maria Auxiliadora Resende, secretária de Educação de Tocantins, defende a gestão centrada no ensino médio, para combater suas

Diferentemente do fundamental, no nível médio é a qualificação do ensino que poderá atrair e fixar os estudantes

o abandono”, diz a presidente do Consed. “O jovem enfrenta, no ensino médio, o atraso escolar. Há uma de-manda por tecnologia difícil de ser atendida”. Aumenta o desafio para os professores, que precisam manter-se atualizados, diante de alunos que muitas vezes sabem mais, especialmente em temas como Informática. “Eles freqüentam ‘lan houses’ e aprendem sozinhos a montar sites, por exemplo. O desafio é modificar a escola para atendê-los. O professor clássico, o da aula de giz e cuspe, é chato!”, diz.

Há sete anos no cargo, Maria Auxiliadora critica ainda a pouca efetividade do Enem como substituto ou mesmo complemento ao desempenho dos alu-nos no vestibular – “Não é uma realidade em todo o Brasil”. Sobre o Prouni, ela defende que, “para ser significativo, tem de ter mais vagas e mais instituições envolvidas”. “No meu estado são apenas 200 bolsas. Fica difícil para o aluno acreditar no programa, tê-lo como incentivo para ir à escola todo dia, se não conhe-ce nenhum beneficiado. Ele precisa de um exemplo para se mirar”. No âmbito estadual, Tocantins oferece 5 mil bolsas de ensino superior aos estudantes da rede pública.

Estratégia etáriaCarlos Artexes Simões, diretor de Desenvolvimento

Educacional do Ministério da Educação, aponta uma conjunção de fatores para explicar as mazelas do ensino médio: esgotamento de uma massificação da educação básica, sem o devido cuidado com o efetivo aprendizado do estudante; mudança de estratégia de um grande número de jovens em relação à escolariza-ção; e falta de significado da proposta curricular para quem procura a escola. “Persiste ainda a necessidade do trabalho na faixa etária do ensino médio. A gravidez precoce é significativa nas mulheres que estão fora da escola: atinge 28% das jovens na faixa etária de 15 a 17 anos que deixaram de estudar. São fatores que não podem ser desconsiderados”.

Mas, para ele, a questão do não-aprendizado, em um cenário de crescente complexidade social, é uma das maiores causas da redução das matrículas. “Temos de fazer uma inversão nas políticas públicas: investir na

qualidade e na aprendizagem para promover a universalização do aces-so e permanência no ensino médio. A qualidade vai definir o avanço na quantidade de matrículas”, prevê.

Do outro lado da sala de aula, o sentimento é o mesmo. Presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas, Ismael Cardoso de-tecta uma melhoria na qualidade do ensino, mas em ritmo lento demais. Ele cita o incentivo ao transporte escolar e a distribuição de livros didáticos – obrigatória –, pelo Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado pelo Ministério da Educação – como progressos interessantes. Também saúda o Prouni e o Enem por combaterem a falta de horizonte, mas reivindica mais vagas nas univer-sidades públicas. “Se entender que tem mais possibilidades, o aluno vai se dedicar mais”, argumenta.

deficiências e necessidades com mais força. “O grande drama dos meninos e meninas é a perspectiva de emprego, o que cria um duplo de-safio: dar a eles horizonte e melhorar a qualidade do ensino”, analisa ela, responsável por 548 escolas e 23 mil professores em toda a rede, que tem 80 mil alunos no ensino médio. “Na questão do emprego, temos um programa de monitoria remunerada, com bolsa de R$ 150 mensais para 10 mil jovens, e investimos em grêmios estudantis e rádios comunitárias”. Em seis anos, a evasão escolar no estado caiu de 28% para 6%.

Muitos estados têm investido em planos específicos para o fortale-cimento do ensino médio. Em Per-nambuco, por exemplo, o Procentro – Programa de Desenvolvimento dos Centros de Estudo Experimental oferece aos jovens escola em tem-po integral, em razão de parcerias locais. Estados como Acre, Paraná e Minas Gerais também atuam na reorganização e consolidação de suas redes médias. Em São Paulo, o projeto Faz Escola estabelece guias curriculares específicos para o ensino médio, buscando influir diretamente sobre os conteúdos ministrados em sala de aula.

Mas a luta em todo o País conti-nua. “Nem o Bolsa Família reprimirá

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POLÍTICAS COMO ENEM E PROUNI AMPLIAM HORIZONTES, MAS SÃO TÍMIDAS DIANTE DO CONTIGENTE DE JOVENS NO ENSINO MÉDIO

Ismael lamenta ainda a falta de incentivo ao investimento em tec-nologia, mas espera que a educação não acentue, em nome de aumentar as chances de emprego, um perfil tecnicista, abrindo mão de formar o cidadão por inteiro. Daí, sua defesa do que define como “estágio saudável”, sem prejuízo ao ensino. “O governo precisa incentivar, impor regras claras e fiscalizar a aplicação de recursos e programas”, diz o estudante. Abrir horizontes profissionais e garantir o aprendizado em toda a sua plenitude – um dilema que mobiliza todos os interessados num país com educação de qualidade.

Esforços premiadosAqui e ali, pipocam exemplos de

que, mesmo sem o abrigo seguro das verbas federais, nem o guarda-chuva da ligação com a universidade, que distingue as escolas técnicas, há o que fazer, como evoluir. A Paraíba tem exemplos a oferecer. Há três anos, o estado ganha o Prêmio Ciências do Ensino Médio, promovido pelo Mi-nistério da Educação para estimular práticas de investigação científica na rede pública, destacando iniciativas e experiências inovadoras e bem-sucedidas que ajudam na formação científica dos alunos, nas diferentes áreas do conhecimento (Ciências da

Natureza, Matemática, Ciências Humanas e Lingua-gens). Em 2005, venceu a Escola Monsenhor Vicente Freitas, de Pombal; em 2006, foi a Peonas da Cunha Cavalcanti, de Jurupiranga; no ano passado, ganhou a Escola Professor Lordão, de Picuí.

Funcionando em três turnos, com 40 professores qualificados e 888 alunos (770 no ensino médio), a campeã de 2007 apresentou o programa Repensando Picuí, projeto pedagógico que tratou da história da região onde está localizada a cidade, no interior do estado. Há outras iniciativas bem-sucedidas, como o Xadrez na Escola, que leva a comunidade a freqüentar a unidade nos fins de semana; o cursinho pré-vestibular que, atrelado ao Prouni, garantiu a aprovação de 28 alunos em 2007; e olimpíadas de Matemática e Língua Portuguesa.

A Professor Lordão também possui kit tecnológico, com TV, vídeo, DVD e aparelhagem de som, e laboratório de Informática, com 10 computadores. Mas ainda fal-tam espaços semelhantes para os estudos de Química, Biologia e Física. “Como estamos numa cidade pequena, parte dos alunos tem uma ocupação além dos estudos. Assim, direcionamos para estágios nas poucas empre-sas que atuam no município, a exemplo do Banco do Brasil”, explica a professora Adriana Mary de Carvalho Azevedo, ex-aluna e hoje diretora da escola. Jamais por acaso, os 40,42 alcançados pela Professor Lordão no Enem ficaram acima da média do estado (37,92) e do País (39,76). A evasão escolar caiu de 21%, em 2004, para 11%, em 2006.

Também no Nordeste, o Liceu de Maracanaú, cidade de 200 mil habitantes na Grande Fortaleza, promoveu uma pequena revolução em 2005, ao alterar o regime de aulas de trimestral para semestral – mas numa di-visão por disciplina. Na primeira metade do ano letivo,

Matemática, Física, Química e Biolo-gia; na segunda, Português, História, Geografia, Inglês e Filosofia. Foi um choque no primeiro momento, com grande resistência dos professores, relembra o diretor da escola, Plácido José Souza Cavalcanti. “Houve uma concentração na carga horária. Os professores passaram a ficar mais tempo com os alunos e, por isso, pre-cisaram de uma preparação melhor”, conta ele.

Com 1.500 estudantes, todos no ensino médio, o Liceu apresenta resultados interessantes, no bojo da mudança. A evasão escolar está em 4,5%, menos da metade dos 12% do Ceará. A média no Enem é das mais altas da rede pública estadual: 4,6. “Mas não ficamos orgulhosos, queremos ultrapassar o 5”, projeta Cavalcanti.

O Liceu venceu o Prêmio Escola Destaque, dado pelo governo do es-tado, em 2007, e o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, do Consed, Unesco e Fundação Roberto Marinho. Além disso, Cavalcanti re-cebeu, em Puebla, no México, a titu-lação de referência internacional em Ciências. “Nossos projetos privilegiam o ensino e a pesquisa, mas sem per-der o foco na questão do emprego. Temos 100 alunos num projeto de estágio com a prefeitura de Maraca-naú”, contabiliza ele. “Existe, entre os alunos, a angústia de começar a trabalhar”, constata, “o que leva muitos a escolher o Liceu. Mas os que têm a felicidade de não precisar, são incentivados a se concentrar nos estudos”.

A obra prossegue para dar mais firmeza ao tijolo, ainda vacilante, chamado ensino médio. “As verbas aumentaram, a reformulação educa-cional atingiu o setor e sinalizou um envolvimento maior do governo fede-ral”, aponta Daniel Iliescu, presidente da União Estadual dos Estudantes do Rio, com uma conclusão que resume, não a Educação, mas o Brasil: “Mas falta mais perspectiva e esperança para as camadas mais pobres da população. Esta é a grande batalha”, inserida na construção de uma edu-cação mais sólida.

ciência

Envolver o aluno no processo da aprendizagem – essa é uma das tarefas mais complexas atribuídas aos professores. Algumas situações podem ser mais favoráveis – por exemplo, quando os estudantes per-cebem a necessidade de se preparar para o competitivo mundo do traba-lho, ou, ainda, quando a curiosidade pelo novo está aguçada. Ambas são situações vividas pelos jovens do ensino médio. No entanto, o cenário da educação não é tão animador. A comparação entre a taxa de ma-trícula no ensino fundamental e no ensino médio revela um verdadeiro fosso. Enquanto a taxa de matrícula no ensino fundamental é de 95% entre crianças de 7 e 14 anos que estão cursando a etapa adequada de escolarização (PNAD 2006), apenas 48,2% dos jovens entre 15 e 17 anos estão matriculados no ensino mé-dio. Isso significa que 51,8% estão fora da escola, ou atrasados, ainda cursando o ensino fundamental. A conclusão é que uma parcela signi-ficativa dos jovens, embora esteja estudando, enfrenta o problema da defasagem escolar.

Dos que chegam ao ensino médio, estima-se que 15% deixem os bancos escolares sem completá-lo, seja pela necessidade de trabalhar, seja por fal-ta de interesse em estudar, segundo

energia própria

A CAPACIDADE DE MOBILIZAÇÃO DOS JOVENS PODE SER POSTA A SERVIÇO DA APRENDIZAGEM

Por _ Karina YamamotoIlustração _ Marcellus Wallian Janes

dados do Censo Escolar 2006, o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Para agravar o qua-dro, há uma percepção generalizada dos professores de que os alunos que permanecem em sala não se interessam muito pelo que podem aprender ali.

Pode-se imaginar que essa atitude indiferente corresponda a uma forma geral de ser da juventude contemporânea, que muitos consideram alienada e desinteressada do que quer que esteja além do seu próprio umbigo. Outro engano. A pesquisa Adolescentes e Jovens do Brasil: Participação Social e Política, rea-lizada pela Unicef, em parceria com os institutos Itaú Social e Ayrton Senna, indica que a juventude brasileira está atenta à realidade, tem uma visão crítica do País, demonstra uma forte preocupação com questões co-letivas, muito mais do que com problemas individuais, e está aberta para colaborar na busca de soluções.

É um enorme potencial, quase nunca posto a serviço da educação. E quem trabalha com jovens sabe: uma vez que eles se empolguem com um projeto, a energia que dispendem é impressionante. Por isso mesmo, há quem veja nesta combinação – potencial mobilizador e

educação – um binômio indispensável para o desenvolvimento dos jovens. Compreender as bases da motivação juvenil, desde seus componentes fisio-lógicos até o modo como ele vivencia a realidade que o envolve, é o ponto de partida. A estratégia adequada para que os conteúdos pedagógicos fiquem mais atraentes é uma descoberta a ser feita em conjunto.

“Já acompanhei muitos trabalhos e não acredito que exista uma única receita”, diz a educadora Kátia Regina Roseiro Coutinho, professora de Psi-cologia da Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Assis, SP. “Mas há duas características sempre presentes: professor entu-siasmado e preocupação não apenas com o estudante, mas também com o contexto em que vive.”

“Cada jovem é um laboratório de soluções. Precisamos desmontar a

A CAPACIDADE DE MOBILIZAÇÃO DOS JOVENS PODE SER POSTA A SERVIÇO DA APRENDIZAGEM

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A JUVENTUDE TEM UMA VISÃO

CRÍTICA DA REALIDADE,

PREOCUPA-SE COM OS

PROBLEMAS SOCIAIS E qUER

AJUDAR A BUSCAR SOLUÇÕES. ESSE POTENCIAL NÃO

DEVERIA SER IGNORADO

PELOS EDUCADORES

zona de conflito que se cria quando o jovem é visto como parte do problema”, afirma Simone André, co-ordenadora da área de Juventude do Instituto Ayrton Senna, que desenvolve o SuperAção Jovem, exemplo bem-sucedido da combinação mobilização-educação. O projeto acontece nas escolas, onde os grupos de es-tudantes – com cerca de dez integrantes – se reúnem nos fins de semana com educadores preparados para tal tarefa e propõem, executam e avaliam projetos de melhoria da sua própria educação.

A proposta é inaugurar uma nova pedagogia de traba-lho com a juventude, em que a participação dos rapazes e moças seja autêntica e em que eles possam encontrar soluções criativas e concretas para melhorar sua apren-dizagem, sua escola e sua comunidade. Para Simone, o grande desafio da educação formal é preparar o cidadão do século 21 – um indivíduo crítico e solucionador de problemas. E, para aprender, eles têm de colocar a mão na massa, sempre refletindo sobre a prática. “É preciso permitir que eles errem, inclusive”, diz a educadora. “De-vemos colocar o mundo nas mãos dos jovens enquanto ainda podemos ensinar sobre os acertos.”

Motivação x tédio Para começar, quem trabalha com jovens precisa ter

em mente as transformações pelas quais eles estão passando. É justamente nesse período da vida que a ânsia pelo novo toma conta dos pensamentos – é a Natureza chamando-os para a vida adulta. Em termos fisiológicos, o processo pode ser explicado pelo embo-tamento do sistema de recompensa do cérebro – que é um “conjunto de estruturas que nos premiam com uma sensação de prazer e nos fazem querer mais de tudo o que é bom ou dá certo”, explica a neurocien-

tista Suzana Herculano-Houzel no livro “O Cérebro em Transformação” (Editora Objetiva).

Nessa fase, os antigos prazeres, como jogar bola ou brincar de correr, não são mais suficientes para ativar essa área, que tem como principais jogadores duas regiões do cérebro – a área tegmentar ventral e o núcleo acumbente, ambas localizadas no terreno central do órgão. A primeira recebe informações dos sentidos sobre o que está acontecendo com o corpo, e do córtex pré-frontal (que fica bem atrás da testa), as intenções que guiaram esse comportamento. Se a avaliação é de que “sim, o que acaba de acontecer é interessante!”, a área tegmentar central derrama dopamina sobre o núcleo acumbente. A sensação de bem-estar que de-corre dessa situação pode vir tanto da quantidade de dopamina, uma substância responsável pela comu-nicação entre neurônios, quanto pela atividade do núcleo acumbente.

Mas, justamente nessa fase da vida, os seres humanos sofrem uma baixa das substâncias químicas cerebrais que recebem a dopamina. Durante a adolescência, o núcleo acumbente perde um terço dos seus receptores. Ou seja, é preciso produzir um estímulo muito mais gratificante – para que se despejem quantidades generosas de dopamina –, para conseguir um resultado, que em termos de bem-estar e prazer ainda é menos intenso do que as brin-cadeiras de pega-pega das crianças. Por isso, os jovens valorizam tanto as novidades – uma vez que os antigos estímulos não surtem mais efeito, o cérebro procura nas novas situações outras possibilidades de satisfação.

Existe aí, então, uma pista para trazer a juventude para perto dos pro-jetos pedagógicos – oferecer novas oportunidades de aprendizado.

Bom clima escolar Apesar de as peculiaridades ce-

rebrais ajudarem na compreensão do tédio adolescente, uma análise fisiológica não explica tudo. O am-biente escolar influencia bastante no engajamento dos estudantes no

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NA JUVENTUDE, A MAIOR NECESSIDADE DE ESTÍMULO PARA SE TER PRAZER TORNA MAIS ATRAENTES AS OPORTUNIDADES DE PROPOR E REALIZAR. A BUSCA DE SOLUÇÕES PODE SER DIRECIONADA PARA A EDUCAÇÃO

projeto pedagógico. “E, hoje, a escola pública tem tido dificuldades de se adaptar às mudanças que a inter-net e outras tecnologias trouxeram para a vida do jovem”, analisa Kátia Coutinho, da UNESP. Para ela, houve um distanciamento entre o que a escola traz e os estabelecimentos tipo lan house oferecem que precisa ser revertido.

Mas, segundo Kátia, não é apenas uma questão de o ensino se moderni-zar. É preciso resgatar o vínculo entre mestres e pupilos. Se o aluno não se sente minimamente à vontade, ele não vai perguntar, não vai tirar suas dúvidas. De fato, segundo relatório do Banco Mundial sobre educação,

“ressalta-se que, mais que a diversidade da compo-sição da escola ou de uma sala de aula, seria o clima escolar desses espaços – se cooperativo, competitivo ou mesmo hostil – o fator que mais colaboraria para a motivação e o desempenho escolar”.

Mas como criar esse ambiente favorável? “Há muitas estratégias – alguns professores usam apenas lousa e giz. O que é preciso mesmo é possibilitar o aprendizado. Como diz a psicopedagoga argentina Alicia Fernandez, não aprende quem não quer aprender, e aí voltamos à relação aluno e professor, porque este deveria ser o disparador da condição de aprender”, diz Kátia.

No mesmo relatório, o Banco Mundial chama a aten-ção ainda para as capacidades a serem desenvolvidas dentro do contexto escolar. E a principal habilidade é saber tomar as melhores decisões – o que significa capacitá-los para, inclusive, optar por boas oportuni-dades de aprendizagem.

Os esforços do SuperAção Jovem – que atinge quase um milhão de estudantes em São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal – estão em sinto-nia com essas premissas, como mostram os resultados do seu projeto de leitura. “Trabalhamos a leitura em quatro dimensões: para ser, para conviver, para apren-der e para produzir”, explica Simone André. Com essa ferramenta – a capacidade de adquirir informações e articulá-las –, o jovem adquire espírito crítico.

Assim, o projeto se iniciou com uma pesquisa com 133.143 jovens sobre leitura e participação na escola. A maioria deles afirmou que não escolhe livremente os livros que lê, não costuma ler no tempo livre, não freqüenta a biblioteca. Depois do diagnóstico, esses mesmo jovens se organizaram e propuseram projetos para reverter essa situação. Eles consegui-ram mobilizar 23.292 professores para conhecê-los melhor como leitores e apresentarem os resultados da pesquisa. E quase 50% desse grupo docente se engajou em projetos efetivos para melhorar a leitura nas escolas. “Quando digo que é possível, falo de uma posição que é de quem tem o otimismo da prática”, conclui Simone André.

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Vinícius da Rocha MaRtins, 17 anos, estudante de sapucaia do sul (Rs)

PaloMa toRRes Magalhães, 17 anos, estudante em são Paulo

leon VebeR, 18 anos, estuda em Piracaia (sP)

luisa liMa castRo, 18 anos, estudante mineira campeã do eneM 2007

logia. Já para a mineira Luísa Lima Castro, 18 anos, o futuro bate à porta de modo muito promissor. Depois de ter concluído o ensino médio em uma escola pública de Contagem, onde reside, e conquistado o título de campeã nacional do Enem 2007, ela foi aprovada para o curso de Medicina no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. “Gosto muito de ler, principalmente romances e ficções, mas o livro que considero mais importante é a Bíblia”, diz Luísa. A seguir, os principais trechos do de-bate entre os jovens estudantes.

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ONDA JOVEM: Para você, qual deve ser o papel do professor?

Vinícius: Acho que é ensinar. Independente-mente das dificuldades dos alunos, eles devem ter paciência para ensinar. As explicações de uma matéria para mim são 70% de uma aula, pois não adianta copiar toda a matéria e não prestar atenção na explicação. Da parte dos professores, não adianta copiar um livro inteiro e depois não realizar uma boa explicação ou não dar um bom exemplo. Tem professores que passam três matérias, uma atrás da outra, depois tocam terror com uma prova. Isso não ajuda o aluno, confunde.

Paloma: O papel do professor sempre foi ensinar, não vejo outro papel para ele. Mas eles podiam ensinar em uma linguagem mais nossa, porque ficaria bem mais fácil e mais divertido de aprender.

Luísa: O professor deve ensinar o conteúdo proposto, sem se esquecer de que seu exemplo em sala de aula, ou fora dela, pode influenciar muito os alunos. Ele deve transmitir o co-nhecimento científico, mas também procurar passar para os alunos uma postura correta diante da vida.

Leon: O professor é o profissional que se preparou para transmitir conhecimentos por meio de aulas. Ele tem de se preocupar em orientar o aluno da maneira mais clara possível, utilizando o método pedagógico que desperte o maior interesse e, assim, beneficie o rendi-mento do estudante.

Você acha que os professores de hoje estão mais próximos dos alunos? O que caracteriza essa proximidade?

Paloma: Observando no geral, não acredito. Muitos professores entram na sala de aula

como se estivessem muito acima dos alu-nos e, para eles, se aprendemos ou não é um problema nosso, � eles explicam uma vez só e acabou. Isso os deixa muito mais longe dos a lunos . Achar que é mais que alguém deixa qualquer

pessoa distante de outra.Leon: Sim, com certeza. Atualmente, a re-

lação professor-aluno tem se tornado mais forte. Antes, os professores não tinham muita convivência com os alunos e eram a autoridade maior. Os tempos mudaram, e professores e alunos estão mesmo mais próximos, principal-

mente nas pequenas escolas, onde você tem em média 20 alunos em uma sala de aula, e o estudante não se sente um número. Hoje, os professores passaram a ser mais amigos e companheiros, mas também perderam a autoridade, o que muitas vezes gera falta de respeito dos alunos com eles.

Luisa: Acredito que sim. Se comparada a décadas passadas, a relação aluno-professor tem se flexibilizado cada vez mais. A proximidade se dá a partir do momento em que o profissional se deixa conhecer e busca conhecer seus alunos. Por exemplo, o simples fato de um professor relatar que “seu cachorro morreu”, ou que “o trânsito estava muito pesado hoje” serve para quebrar a máscara de alguém intocável e transferi-lo para o “nível” do aluno, que enfrenta as mesmas situações comuns do dia-a-dia. Outro exemplo seria o professor se interessar em saber o motivo pelo qual um bom aluno estaria apresentando fraco desempenho nas atividades propostas.

Vinícius: Sim, os professores estão ensinando de uma outra forma , não como antigamente, procuram falar nossa gíria. Hoje alguns professores provocam a curiosidade e a vontade do saber. No meu colégio, sei que, se eu tiver alguma dúvida, tenho professores amigos aos quais recorrer.

PALOMA

ViNÍcius

“os estudantes não são santos. Fazem pirraça, bagunça...”

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como o professor deve agir para ter o respeito e a atenção de seus alunos?Paloma: Basta ele não achar que é melhor que o aluno, pois todos acabam

aprendendo um com o outro. Além disso, ser simpático e não um grosso, ter calma e ser sincero, que é uma forma de respeito tanto na escola quanto fora dela.

Vinícius: Acho que para conquistar o respeito e a atenção dos alunos, o profes-sor deve tratar de assuntos que os interessem na aula, fugindo de formalidades. Por exemplo, propondo trabalhos que envolvam músicas, que é uma coisa que faz parte da maioria da vida dos alunos. Os professores podem também apresentar livros de todos os tipos para aqueles alunos que gostam de praticar leitura. Assim também estimulariam a leitura em quem não tem esse costume.

Leon: Concordo. Todo aluno gosta de ter um professor que seja brincalhão, amigo, conselheiro e companheiro, mas isso nunca será suficiente. O bom professor é aquele que é admirado pelo aluno, aquele que transmite segurança naquilo que está tentando ensinar e aquele que deixa bem claro a hora certa e errada da bagunça. Acho que, como educadores, os professores têm responsa-bilidade de estar sempre melhorando sua prática. Não dá mais para ser apenas transmissor de informações, é preciso inovar e buscar novas formas de ensinar para despertar o interesse e a vontade de aprender dos alunos.

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tar atenção quando um professor quiser falar. Os estudantes conver-sam muito entre si; eu faço isso e percebo o quanto o professor fica nervoso e chateado nessa situação.

Leon: Para que haja uma melhor relação, acho que o estudante precisa se conscientizar de que o professor está ali para lhe ensinar. O professor já tem muitos anos de estudo, é uma questão de hierarquia.

O espaço físico de uma escola pode influen-ciar a motivação do aluno?

Paloma: Na verdade, não acho. Se um profes-sor mudasse a estratégia de dar aula seria muito melhor. Isso, sim, influenciaria a motivação de um aluno.

Luisa: Com certeza. Se o ambiente for or-ganizado, limpo, arejado, bem-iluminado, com baixa exposição a ruídos e com boa acústica, contribuirá de forma decisiva para o rendimento do estudante. Além de promover bem-estar físico, um ambiente agradável estimula o aluno, que, vendo-se em um cenário organizado e bem elaborado, empenha-se por realizar de forma mais aprimorada as tarefas propostas.

O que poderia ser feito para aumentar a mo-tivação dos professores da rede pública?

Leon: Primeiramente, os professores pode-riam ser mais bem remunerados. Depois, seria importante que o governo diminuísse o número de alunos dentro das salas de aula e também que oferecesse cursos de capacitação para os professores melhorarem suas performances.

Paloma: O principal é o respeito, porque se um professor for respeitado, ele vai se sentir mais motivado.

“não dá para o professor ser apenas transmissor de informações, é preciso buscar novas formas de ensinar”

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Luisa: Acho que o respeito é conquistado a partir do momento em que o pro-fessor oferece bom exemplo moral e ético, tanto como profissional quanto como pessoa. Já para cativar a atenção dos alunos, é importante gostar daquilo que fazem. Um professor que tem satisfação em estar em sala de aula, sem dúvida é um profissional que conquista seus educandos.

como deveria ser o relacionamento entre professor e aluno: baseado na amizade ou mais focado na transmissão do conhecimento pelo professor?

Paloma: Acho que tem como você ser amigo de um professor, mas nem sempre isso acontece, então suponho que seja melhor o relacionamento se basear na transmissão do conhecimento, pois às vezes nem todos sabem separar a amizade do profissionalismo, e isso acaba prejudicando ambas as partes.

Vinícius: Na minha opinião, um pouco de cada. O professor deve ser amigo, sim! Pois deve ajudar o aluno nas suas dificuldades. Mas não só isso: tanto o professor como o aluno devem separar um pouco a amizade do aprendizado, para não acabar levando as coisas para o lado pessoal.

Leon: Creio que deve haver uma inter-relação entre as duas propostas. O pro-fessor deve, sim, ser amigo e mostrar que se importa com o aluno, mas não deixar que essa amizade acabe com suas aulas. Muitos alunos confundem a amizade que têm com os professores com as aulas que esses são obrigados a dar, gerando um desrespeito.

Luisa: A marca do profissional bem-sucedido do século 21 é a sua capacidade de trabalhar em equipe. Penso que isso também se aplica ao professor. Dessa forma, ele não será bem visto pelos alunos se for do tipo que só sabe mandar, não buscando uma convivência mais pessoal com os estudantes. Essa pessoalidade é extremamente relativa, o que significa, por exemplo, que, se um profissional acha que não tem a mínima habilidade para aconselhar um jovem que tenha problemas com a família, não deve se sentir obrigado a fazer isso. Nesse caso, ele poderia tomar parte do problema e encaminhá-lo para alguém mais capacitado a ajudar.

E os estudantes, como agem com os professores? como podem contribuir para uma relação mais harmoniosa?

Vinícius: Uma das coisas não recomendáveis é fazer pegadinhas se o profes-sor for novo. Esse é um péssimo jeito de começar uma possível amizade com o professor.

Luisa: Os alunos devem colaborar para o bom andamento da aula, o que significa participação. Uma turma que presta atenção ao que está sendo exposto e se propõe a envolver-se com aquilo, por meio de discussões e questionamentos, serve de moti-vação para o profissional, o que reflete positivamente no seu relacionamento com a turma.

Paloma: Na verdade, os estudantes não são santos e todos sabem disso. Eles agem de um jeito bem jovem, fazendo pirraça, bagunçando e, às vezes, nem prestam atenção na aula do professor só para provocar. E para ter uma relação mais harmoniosa, nem sei se vai chegar nisso, mas sempre é bom ter o respeito, ficar quieto, pres-LuisA

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FAçA cONtAtOEnvie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, cEP 04111-001, são Paulo, sP. E-mail: [email protected].

JUVENTUDES

Sou funcionária da prefeitura municipal de Novo Hamburgo/RS, da Diretoria de Políticas Pú-blicas de Juventude. Recebi um exemplar de Onda Jovem e gos-taria de receber mais, para auxi-liar nosso trabalho com jovens – um universo de 400 jovens e um grupo de 20 educadores sociais. Marilene Alves Lemes,

Novo Hamburgo, RS

Sou agente social na Associa-ção Cristã de Moços de São Pau-lo – CDC Enturmando Vila Ré, que é um projeto social em par-ceria com o Governo do Estado de São Paulo. Trabalhamos com crianças, adolescentes, jovens e adultos. Estamos iniciando um projeto com as famílias e vimos no portal Onda Jovem reporta-gens sobre diversas ONGs que trabalham com a família. Temos interesse em receber a revista impressa sobre o tema, que saiu em março de 2008.Adriana Mathias Basso Pessoa,

São Paulo, SP

Trabalho diretamente com as juventudes através da Pastoral da Juventude em minha diocese. A revista Onda Jovem pode me ajudar bastante, pois trata de assuntos muito bons.

Dianefer Berté Schwendler, Santa Cruz do Sul, RS

Como secretário e gestor de juventude no município de Boa Esperança, quero parabenizar a revista Onda Jo-vem por trazer textos importantes para a construção da cultura de paz e a organização de politícas públicas para a juventude, com projetos importantes que realmente podem trazer benefícios a toda sociedade.

Irlei José de Souza Fonseca, Boa Esperança, MG

Conheci Onda Jovem por meio do Conselho Municipal de Educação de Minas Gerais. Sou relações públicas do Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação da UEMG, que tem um público de 1.500 alunos, e gostaríamos de ter exemplares da revista para compartilhar este conhecimento valioso das publicações.

Juliana Almeida,Belo Horizonte, MG

Somos do Cedejor - Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural, Centro-sul do Paraná. Gostaríamos de receber as edições da revista Onda Jovem.

Eliana,Guamiranga, PR

Faço parte da Pastoral da Juventude do Regional Norte II (Estados do Pará e Amapá), que atende aproximadamen-te 1.800 grupos de jovens. Temos interesse em receber Onda Jovem pelo seu conteúdo, que pode se somar a outros instrumentos de formação para as nossas lide-ranças de coordenação e assessoria.

Denny Jr. Cabral Ferreira,Ananindeua, PA

PORTAL ONDA JOVEM

Achei muito interessante o Projeto Integrando Gerações – Informática na Terceira Idade, de Campo Grande (MS), di-vulgado na seção Banco de Práticas do portal Onda Jovem. Penso há muito tempo em realizar um trabalho assim em escolas de Porto Alegre (RS). Sou jornalista, trabalho na

área de Informática e, como voluntária na Cruz Vermelha, atuo em grupos de famílias de dependentes químicos e alcoólicos, onde há grande número de idosos. Gostaria muito de ajudar colo-cando meu conhecimento à disposição, pois vejo que a Internet tomou conta dos lares, criando uma distância entre familiares jovens e adultos de mais idade, que se constrangem por não conhecerem esta nova tecnologia e, inibidos, se retraem.

Laura Souto,Porto Alegre, RS

Sou associada do IBDFAM e recebi,

pelo boletim on-line de Onda Jovem, a comunicação acerca da edição da revista que trata da relação jovens e suas famílias. Fiquei muito interessada e gostaria de receber um exemplar.

Jônica Queiroz Vieira,Fortaleza, CE

Acompanho o trabalho de vocês

no portal Onda Jovem desde 2006. Trabalho na Secretaria de Educação, no município de Atibaia, SP, integrando uma comissão que promove políticas públicas de, com e para a juventude. Acho que Onda Jovem é de muita valia quando precisamos propor ações para a juventude. O conteúdo das revistas impressas também é muito bom e gostaria de recebê-las para fazerem parte de nosso acervo.

Regina Spacek,Atibaia, SP

Por meio do site Onda Jovem, to-

mamos conhecimento da edição da revista que trata do tema juventude e família. Na Rádio Macuri, temos um programa focado na família e gosta-ríamos de receber mais informações sobre o tema.

Albanato Gomes de Sousa,Macuri, MG

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ADOLESCENTES E FAMÍLIA

Sou estudante de Serviço Social e funcionária da Promotoria de Justi-ça da Infância e Juventude em Belo Horizonte. Tive acesso à revista Onda Jovem, que achei muito interessante por trazer reportagens importantes, de grande contribuição para mim.

Renata Evangelista,Belo Horizonte, MG

Sou voluntária e membro fundadora da Associação Arayara de Educação e Cultura, e também realizo um trabalho de assessoria em projetos socioam-bientais da Itaipu Binacional em Foz, sendo um deles a Rede de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente na tríplice fronteira. Nós recebemos na Arayara a revista Onda Jovem, que é maravilhosa, e eu gostaria de obter alguns exemplares da edição que traz o tema família para levar a um encon-tro de instituições sociais.

Marcia Maina, por e-mail

Assistente social judicial no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, trabalho com adolescentes autores de ato infracional ou vítimas de maus tratos e suas famílias, assessorando os Conselhos Tutelares e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente de toda a Comarca. Gostaria de re-ceber a edição de Onda Jovem sobre juventude e família.

Teresa Carvalho,Andrelândia, MG

Trabalho como assistente social do Tribunal de Justiça de Minas Gerais há 14 anos, na área da família, infância e juventude, acompanhando adolescentes com prática de ato infracional e suas famílias. Gostaria de receber as edições de Onda Jovem que, com certeza, poderão enriquecer minha prática profissional.

Márcia Lopes de Araújo,Cataguases, MG

Advogo na área de direito de família desde 2001 e sou presidente da 107ª Subseção da OAB/MG de Paragua-çu. Entre outras atividades, dou palestras em escolas de primeiro e segundo graus de minha cidade, envol-vendo temas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Gostaria de receber Onda Jovem.

Lucas Valério de Castilho Paraguaçu, MG

Sou advogada da área de família e cível, e ainda desenvolvo algumas atividades com jovens em uma instituição espírita, ajudando na evangelização infantil e juvenil. Tenho interesse em receber Onda Jovem.

Cristina Spode Flores,Cascavel, PR

Tenho 21 anos, sou estudante do 7º período de Di-reito, e faço parte de um grupo de serviços voluntários: o Rotaract, que promove palestras, oficinas, projetos e outros eventos principalmente com jovens, nosso maior público. Amigos comentaram sobre a revista Onda Jovem e gostaria de receber as edições.

Nicole Teixeira Goretti,Juiz de Fora, MG

Trabalho como assistente social com adolescentes em conflito com a lei. No contato que tive com uma das revistas, pude perceber o quanto as matérias são perti-nentes à realidade vivenciada pelos jovens que atendo, além do suporte técnico que elas oferecem para o desenvolvimento do meu trabalho, em todas as suas interfaces.

Solange Foglietto,São Paulo, SP

Estou muito entusiasmado com a revista sensacional que acabo de receber. Parabéns! Sigam avante. É um grande subsídio para nós que trabalhamos com quase dois mil adolescentes e crianças em alta vulnerabili-dade social.

Plinio Possobom, por e-mail

PARCERIAS

Faço um convite para iniciarmos uma feliz parceria: agregar a revista Onda Jovem ao kit multidisciplinar do projeto Orquestra do Estado de Mato Grosso – Educação, que envolve alu-nos e educadores de 40 escolas. Para-benizo o excelente trabalho e impacto social, cultural e democrático que exercem por meio de Onda Jovem.

Paula Naves, Cuiabá, MT

Sou presidente da Associação Brasileira de Adolescencia e da Confe-deración de Adolescencia y Juventud de Iberoamérica y Caribe – CODAJIC. Gostaríamos de divulgar as edições de Onda Jovem, via Sociedade Espanhola de Medicina da Adolescência.

Dr. Walter Marcondes Filho,por e-mail

Sou integrante do Grupo de Pesqui-sa sobre Práticas de Socialização no Mundo Contemporâneo, na Univer-sidade de São Paulo – USP. Gostaria de receber todas as edições de Onda Jovem. A revista é uma ferramenta de consulta para minhas pesquisas e, além disso, pela diversidade de práticas realizadas com jovens que apresenta e pelas discussões interes-santes que aborda, será proveitosa no curso que estou ministrando sobre o perfil da juventude contemporânea.

Elias Gomes, São Paulo, SP

É do interesse da Associação “O Adolescer para a Vida” receber as edições da revista Onda Jovem, as antigas e as novas. A Associação pro-move o desenvolvimento da criança e do adolescente por meio de ações nas áreas de saúde, meio ambiente, socioeducativas, culturais, esportivas, de lazer e geração de renda.

Rodrigo G. Almeida FélixItabirito, MG

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porTaS aBerTaS“As partes em preto e branco são realmente eu e os meus colegas. Estamos no 2 º

ano do ensino médio e cada um carrega consigo seus próprios grilos, mas muitos são comuns: o que serei, o que estudar, onde trabalhar? São tantas perguntas. Usei materiais simples, com efeitos em preto e em cores, para destacar as questões do pensamento”. Assim Guilherme de Almeida, 15 anos, explica sua inspiração para criar o desenho desta seção. Ele diz ainda que seu professor de Química apresenta a matéria de uma forma tão gostosa que passou a desejar ser um químico. Isso se o talento o artístico não o levar de vez por outros caminhos. Paris, por exemplo, já está em seu roteiro, com uma viagem de 10 dias como prêmio pelo primeiro lugar no projeto Museu de Arte Jovem, cujo tema era a biodiversidade brasileira. Guilherme participou por intermédio da Escola Estadual Porphyrio da Paz, em Paulínia (SP), onde estuda. “Apesar dos medos e sonhos, sinto que é na escola, por meio da educação, da arte e da força de vontade, que teremos um futuro melhor. Acredito que escrevemos nossa história e, seja qual for a porta que escolha, o caminho para chegar lá é pela escola”.

porTaS aBerTaS“As partes em preto e branco são realmente eu e os meus colegas. Estamos no 2 º

ano do ensino médio e cada um carrega consigo seus próprios grilos, mas muitos são comuns: o que serei, o que estudar, onde trabalhar? São tantas perguntas. Usei materiais simples, com efeitos em preto e em cores, para destacar as questões do pensamento”. Assim Guilherme de Almeida, 15 anos, explica sua inspiração para criar o desenho desta seção. Ele diz ainda que seu professor de Química apresenta a matéria de uma forma tão gostosa que passou a desejar ser um químico. Isso se o talento o artístico não o levar de vez por outros caminhos. Paris, por exemplo, já está em seu roteiro, com uma viagem de 10 dias como prêmio pelo primeiro lugar no projeto Museu de Arte Jovem, cujo tema era a biodiversidade brasileira. Guilherme participou por intermédio da Escola Estadual Porphyrio da Paz, em Paulínia (SP), onde estuda. “Apesar dos medos e sonhos, sinto que é na escola, por meio da educação, da arte e da força de vontade, que teremos um futuro melhor. Acredito que escrevemos nossa história e, seja qual for a porta que escolha, o caminho para chegar lá é pela escola”.

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O Programa de Democratização Cultural Votorantim investe nas platéias brasileiras,

beneficia a juventude e promove o acesso à cultura. Do erudito ao popular, de norte a sul do País.

Participe! E compartilhe também essa

informação na sua rede para promover o exercício

dos direitos culturais da juventude.

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Votorantim apóia dezenas de projetos

culturais voltados para os jovens

brasileiros?

O Programa de Democratização

Cultural Votorantim está com a seleçãopública aberta até 8 de agosto. O regulamento e o

formulário deinscrição estão disponíveis em

Respeitável público!

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www.institutovotorantim.org.br/democratizacaocultural

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Com esta iniciativa, o Instituto Votorantim promove o conhecimento como forma de estimular quem trabalha pelo desenvolvimento de milhares de jovens brasileiros.

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O Instituto

Votorantim traz

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Nota 10, uma

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Futura, com o apoio

de OndaJovem, os episódios“O jovem

por trás do aluno”,

“Projeto de vida” e “O jovem

e a causa ambiental” abordam temas atuais, por meio de experiências e conteúdo leve e dinâmico.