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BRASÍLIA: 50 ANOS DE QUÊ? BRASÍLIA-DF, ABRIL DE 2010 - 2ª EDIÇÃO | www.miraculoso.com.br | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Arte: Fernando Aquino Os índios do Setor Noroeste e a Marcha da civilização por Aílton Fagundes p. 02 ENTREVISTA DO MÊS Vladimir Carvalho Poesias e contos brasilienses UnB 50 anos: os caminhões da nova capital por Eudásio Gaio de Sousa p. 10 p. 12 e 13 p. 03 Brasília e o Misticismo Egípcio por Andrés Sugasti p. 17 Movimento Fora Arruda e toda máfia por Solano Teodoro p. 09

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UnB 50 anos: BRASÍLIA-DF, ABRIL DE 2010 - 2ª EDIÇÃO | www.miraculoso.com.br | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA p. 09 p. 02 p. 03 p. 17 Os índios do Setor Noroeste e a Marcha da civilização os caminhões da nova capital Arte: Fernando Aquino por Solano Teodoro por Eudásio Gaio de Sousa por Andrés Sugasti ENTREVISTA DO MÊS por Aílton Fagundes 2 miraculoso.com.br Parabéns Brasília? Ailton Fagundes é historiador Adonai Rocha

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BRASÍLIA:50 ANOS DE QUÊ?

BRASÍLIA-DF, ABRIL DE 2010 - 2ª EDIÇÃO | www.miraculoso.com.br | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Arte: Fernando Aquino

Os índios do Setor Noroeste e a Marcha da civilização

por Aílton Fagundes p. 02

ENTREVISTA DO MÊS

Vladimir CarvalhoPoesias e contos brasilienses

UnB 50 anos:os caminhões da nova capital

por Eudásio Gaio de Sousa

p. 10 p. 12 e 13

p. 03

Brasília e o Misticismo Egípciopor Andrés Sugasti p. 17

Movimento Fora Arruda e toda máfiapor Solano Teodoro p. 09

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Editorial

Sabe-se que os primeiros bandeirantes pau-listas a adentrarem o interior goiano ainda o fizeram durante o século XVI (1590-93), conta-bilizando assim mais de 400 anos de constantes conflitos entre os avanços da ocupação branca e a resistência indígena. As bandeiras penetravam na região hoje correspondente ao estado de Goi-ás pelos rios Tietê e Paraná, alcançavam o sertão de Paracatu e vinham basicamente para a cap-tura do índio bravio que alimentaria o mercado de escravos. No planalto central brasileiro, onde predomina a matriz indígena Jê, os grupos que mais resistiram foram os Kayapós, os Guaicurus e os Paiaguás.

Apartir de 1722 com a descoberta de ouro nas margens do rio vermelho (pelo bandeirante Anhanguera) acelerou o processo de desapare-cimento de diversas etnias indígenas e a multi-plicação de arraiais de exploração aurífera, com sensível aumento da população branca. As ex-pedições para erradicação de tribos indesejadas eram frequentes, o aliciamento de índios como remadores, como batedores de trilha ou destina-dos à escravidão, uma prática cotidiana. Com a decadência progressiva da exploração do ouro al-gumas tribos começaram a se reestabelecer, mas uma invasão muito mais agressiva estava ainda por vir: a dos criadores de gado. Os garimpeiros, uma vez esgotado o vil metal, logo se tranferiam para outras regiões; diferentemente, os pecua-ristas chegavam para se apossar da terra, fixando residência definitiva. Usavam métodos de exter-mínio indígena variados, sendo o envenenamento das águas com estricnina e a disseminação de do-

enças virais os mais comuns. Seguiu-se à pecuária a agricultura de monocultura extensiva e sempre que um grupo indígena se interpunha aos avan-ços da civilização era duramente exterminado a mando das próprias autoridades. O pai do nosso primeiro imperador, D.João VI, também fez en-viar algumas missões de extermínio indígena para a região de Goiás e do futuro Distrito Federal.

Marcada por farsas, a teoria da assimilação in-dígena ou da integração pacífica dos índios à civi-lização brasileira acaba por encobrir que muitos foram os grupos que não se aculturaram ou se juntaram à cultura nacional e mesmo reduzidos a poucas dezenas de indivíduos optaram por lu-tar até o último homem! A tentativa agressiva de expulsar os índios do setor noroeste em Brasília objetivando a construção de mais uma área resi-dencial (eufemisticamente chamada de ecologi-camente correta) vem a ratificar que a marcha da civilização branca continua a entoar os velhos refrões do colonizador. As formas de intimidação contra esse pequeno grupo de índios são numero-sas, e, atolados nesta vasta rede de interesses, os grandes grupos midiáticos permanecem silen-ciosos.

Comemoramos 50 anos de aceleramento do avanço civilizacional branco no centro-oeste!

Menos cerrado e mais condomínios, menos ín-dios e mais 100 mil carros, eis o progresso.

Parabéns Brasília?

Ailton Fagundes é historiador

OS ÍNDIOS DO SETOR NOROESTE E A MARCHA DA CIVILIZAÇÃO

AILTON FAGUNDES

HISTÓRIA

miraculoso.com.br2

Adonai Rocha

Achou que O MIRACULOSO era passageiro? Enganou-se. O MIRACULOSO é passageiro, cobrador, motorista, ambulante, estudante, candango; enfim, ele representa todos aque-les que sentiam falta de um jornal que abor-de a cultura de forma diferente e inovadora em nossa cidade. O MIRACULOSO é, acima de tudo, um jornal que se propõe a ser uma for-ma alternativa de comunicação, abrangendo o local, o nacional e o universal e convergin-do os mais distintos olhares sobre os mais va-riados temas. Por isso você está em posse da 2ª Edição desse jornal diferente, resultado do esforço coletivo de uma equipe que acredita na cultura como um mecanismo de transfor-mação social. Nesse sentido, esta 2ª edição foi à luta, puxando a tromba do elefante da burocracia, da corrupção e da incompetência implantadas na nossa capital, alimentando a reflexão sobre o que deve ser feito para que os próximos 50 anos sejam muito melhores do que os que se passaram. Assim como na 1ª, na qual O MIRACULOSO desceu da árvore para puxar o rabo da onça que ronda à solta, im-pedindo que nos organizemos, ao nos manter assustados e desinformados.

Ao longo das próximas edições, O MIRACU-LOSO deixará ainda mais claro a que veio, mas podemos adiantar: O MIRACULOSO não concorda com o Plano Diretor de Ordenamen-to Territorial (PDOT), não aceita a construção do Setor Noroeste, comemora cada dia que Arruda e seus comparsas passam na cadeia. É a favor da prisão e da expropriação dos bens de todos os envolvidos em casos de corrup-ção, bem como exige a divulgação imediata de todos os vídeos e clama pela intervenção federal com eleições diretas.

Apreciem, participem, contribuam, divul-guem e miraculem conosco!

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Para Yvonne Jean, em memória

“A pedra celeste angular miraculo-sa, miraculosa.

Estabelecida por toda eternidade, maravilhosa, maravilhosa.

Que comanda e reina convoscoQue comanda e reina convosco

Meu Deus, todo poderoso...”(Jorge Ben Jor)

Da miraculosa construção de Brasília, sonho combatido por al-guns e construído por muitos, fala-se pouquíssimo de sua primogênita filha, a Universidade de Brasília. Ela, a nova universidade, também prestes a fazer seus 50 anos, me-rece nossas mais sinceras conside-rações.

Erguida para romper com as instituições federais vigentes no ensino superior da época, a UnB nasceu de uma orquestração que - sem sombra de dúvida - teve em Darcy Ribeiro a figura de articula-dor maior. Por outro lado, se tornou costume deixar no esquecimento outros personagens fundamentais à construção desta universidade. E fundamentais nas característi-cas que um dia esta universidade teve de genuína e genial. Porque é preciso que se saiba e se diga: falamos da “ex-UnB”, de uma UnB muito distante disso que está aí colocado como UnB por comissões e comemorações.

Entre os esquecidos da maio-ria (e, o que é pior, da maioria do corpo docente e autoridades universitárias) está Rubens Borba de Moraes, bibliógrafo, bibliófilo, bibliotecário de uma estirpe que nunca mais existiu neste campus. Salvo uma ou outra avis rara. Foi Borba de Moraes um dos criadores desta que se convencionou chamar de Biblioteca Central dos Estudan-tes-BCE.

Nascida no início dos anos de 1970, esta tal biblioteca, a biblio-toca contral - nome que indicava a pichação agora apagada pelas “reformas” do campus - a nossa biblioteca tem sim muito de toca. Bibliotoca que guarda muita me-mória escondida e velada. Histó-rias que um dia se encaminharão para seu próprio jubileu. Está para ser escrita, por exemplo, a histó-ria da coleção de emergência que constituía o acervo da UnB. Remi-niscências de uma época em que tanto os cursos de emergência, quanto o acervo da nova universi-dade, se localizavam na Esplanada dos Ministérios, mais precisamente no Bloco I, local onde se situava o Ministério da Educação e Cultura.

Em pouco tempo, as aulas se normalizaram num campus que era só obra pra todo lado. A biblio-teca foi se encaminhando para o SG-12, antigo local que hospedava um acervo que foi crescendo mira-culosamente.

Já no ano de 1962, outras biblio-tecas setoriais/especializadas fo-ram se formando na universidade recém fundada. Entre tais biblio-tecas, inesquecíveis, destacam-se os esplêndidos acervos reunidos nas bibliotecas do Centro de Es-tudos Clássicos (CEC) e do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses (CBEP). Ali, Eudoro de Sousa e Agos-tinho da Silva fizeram o que nunca mais se fez por áreas temáticas e que, desde então, simplesmente hibernam e minguam espalhadas por departamentos medianos. An-tes fossem mediúnicos.

Rapidamente, essa coleção de emergência não deu conta da ex-celência que a UnB passou a exer-cer. Em 1963, bibliotecas parti-culares de grande valor foram compradas para engrandecer o

patrimônio da UnB, quer dizer, da-quela “ex-UnB”. Entre os miracu-losos acervos, estavam as coleções de Oswaldo Carvalho, Hildebrando Accioly, Homero Pires, Pedro Mou-ra, entre outras.

À guisa de esclarecimento, é impossível não registrar aqui que Homero Pires era colecionador de livros raríssimos, bibliófilo baiano refinado, detentor de uma das mais importantes coleções de livros de/sobre Rui Barbosa, a renoma-da ruiana de Homero Pires. Pires também colecionava castroalvina, camiliana, machadiana etc. Muito do que se lê hoje nas humanidades foi de Homero Pires. Já Pedro de Almeida Moura, exímio germanista e professor paulista, foi coleciona-dor de livros de/sobre Goethe. A goethiana de Pedro Moura chegou a ter 10.000 volumes. Tudo isso

chegou para nós, quer dizer, para eles, em 1963. Muito do que ainda se lê sobre Alemanha e Goethe na UnB de hoje foi resultado dos estu-dos e pesquisas de Moura.

Daí a coisa cresceu rápido. Como crescem as bibliotecas, que são organismos vivos. Em meados da década de 60, depois do Gol-pe, pouco tempo depois da morte de John F. Kennedy, ofereceu-se à UnB, por iniciativa da Embaixada

POLÍTICAdos Estados Unidos, um acervo em memória de Kennedy. A cerimônia foi um desastre. Estavam lá Hones-tino Guimarães, entre outros, para vaiar o bibliotecário e professor Ed-son Nery da Fonseca, que dedicou seu belo discurso a puxar o saco do embaixador John W. Tuthill. Cenas que não se contam pelo campus. A crítica, que envolvia a situação da UnB após 1964, se voltava também contra a guerra do Vietnã. Os li-vros da coleção Kennedy levariam a pior e foram estigmatizados por alguns. Alguns. Porque a maioria, claro, não liga para estes detalhes. Deveria?

Fato é que, com a centralização do acervo, ou seja, quando os li-vros (após rápida estada na Sala Papiros) descem do SG – 12 para o atual prédio da biblioteca central, foi fácil arrumar um lugar para co-locar os milhares de volumes dos extintos centros (CEC e CBEP) fe-chados pela ditadura. O prédio construído por Galbinski, entre outros renomados arquitetos, se tornou um grande copo d’água em que a derradeira gota derra-mou não em cima, mas na base. Aos poucos foram descendo para o depósito da biblioteca milhares de obras, tudo aquilo que era mal visto, indesejado, incompreendido pelas autoridades, pelos leitores e pelos especialistas de plantão da biblioteca.

Mas não durante a década de 70. É preciso dar a César o que é de César. Ninguém fez mais por uma biblioteca do que um certo capi-tão de mar e guerra que era PHD em Física Nuclear. Até a vigência do regime militar, os livros ainda valiam de alguma coisa no campus Darcy Ribeiro. O próprio setor de obras raras da bibliotoca, dizem, foi criação de Azevedo. Se ele não tivesse partido dessa para uma melhor, há alguns meses, poderia confirmar (ou não) estas poucas li-nhas.

A primeira biblioteca a descer para a toca, aparentemente, foi a de Carlos Lacerda. Seu acervo chega na UnB em 1979. Pobre La-cerda! Lacerda que era tão contra a UnB e Brasília, teve por fim que ver seu acervo parar em depósito

UnB 50 anos:os caminhões da nova capital

EUDÁSIO GAIO DE SOUSA

“...em 2007, durante a última greve que durou quase três

meses, toneladas de obras foram jogadas no lixo. Ouçam!”

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sujo e mofado, encostado em mo-lhadas paredes. Apenas em 1999 alguém resolveu retirar das caixas documentos que se tornaram o Ar-quivo Carlos Lacerda, menina dos olhos do setor de obras raras da UnB cinquentenária.

Antes dos livros de Lacerda che-garem para inaugurar o depósito de nossa bibliotoca, só havia ali livros reunidos por um também bi-bliófilo, colecionador de renome e leitor voraz, dono de editora etc, o “Piauí”. Trata-se de um piauiense que trabalhava com marcenaria. Com a morte de Piauí, o depósito ficou à mercê do descaso. Os mili-tares sabiam que o terreno onde a bibliotoca foi construída era cheio d’água, uma mina de água. Mas os pseudo democratas que foram aos poucos tomando conta do cam-pus ignoraram o fato, entulhando o segundo subsolo da biblioteca com tudo quanto é coleção. Das mais raras. Daquelas que ninguém quer/saber ler. Não só a plebe é rude e ignorante.

Para o mesmo saco foram os li-vros de Homero Pires, a goethiana de Pedro Moura, obras que foram conseguidas pelo próprio Darcy, muitos dos livros de Lacerda. Não era difícil encontrar lá, até um dia desses, livros da coleção de Eudoro de Sousa, livros sobre Por-tugal adquiridos por Agostinho da Silva junto à Fundação Calouste Gulbekian. Enfim, um mar sem fim, um mar de livros em baixo de

água, mofo e sujeira. Por pouco os livros de Cassiano Nunes não foram parar também ali, no bueiro que já conta três décadas, por baixo.

Como se não bastasse esse en-costo sem fundamento, descaso que sempre terá suas razões biblio-teconômicas, arquitetônicas, blá

blá blá, fenômeno comum em mui-tas outras bibliotecas deste país; como se não bastasse a ignorância de certos bibliotecários que foram tomando o poder durante a déca-da de 80; como se não bastasse a conivência e passividade de certos professores; em 2007, durante a última greve que durou quase três meses, toneladas de obras foram jogadas no lixo. Ouçam!

O evento ficou conhecido como a devassa de 2007. Também nome-ado como “mutirão de limpeza”, o procedimento se passou em 2007, quando simplesmente se pegou

tudo que havia no depósito, qua-se-quase-tudo, espólio destes an-tigos acervos, livros raros, livros para restauro, livros esquecidos, alguns livros sobre Trotsky, enfim, livros de uma universidade como a UnB, tudo para o lixo que ficava escondidinho atrás da copa da bi-

bliotoca. Bem na frente do Setor de Conservação.

Caminhões de uma empresa recicladora pegava o material e picava,no mesmo dia, compran-do tudo da biblioteca no peso: 24 centavos/kg. Eis o destino de boa parte do acervo mais importan-te que já existiu na Nova Capital. Acervo importante porque conta a história bibliográfica (e política) da UnB. Histórias e anti-histórias.

Aos poucos a comunidade uni-versitária foi se esquecendo de que ali não se podia colocar livros. Aos poucos foram se esquecendo

dos livros que lá estavam. Na últi-ma greve, se esqueceu que aquilo tudo tinha importância.

A completa desconexão entre o Centro de Documentação (CE-DOC), o Departamento de Ciência da Informação e Documentação (CID) e as recentes diretorias da nossa bibliotoca, permitiram que isso acontecesse. Durante 15 dias da greve de 2007, se deu nos po-rões da UnB um bibliocídio sem ta-manho, memoricídio que o próprio Magnífico, àquela altura recém empossado, acabou por esconder. Afinal, é uma bomba miserável para um nobre reitor dedicado his-toricamente aos direitos humanos e coisa e tal.

O ilustre e atual reitor termi-nou por esconder o caso. Foi mais conveniente colocar na direção da toca uma bibliotecária, coisa que não acontecia há vinte anos. Ele próprio escondeu por 20 anos a biblioteca que herdou de Roberto Lyra Filho, biblioteca que também ficou isolada e inacessível nos po-rões da bibliotoca, pegando umi-dade em grau altíssimo e mofo descomunal.

É pouco para os nossos 50 anos? Não é miraculoso o fado de nos-

so patrimônio?Dizem que os caminhões para-

ram de sair da bibliotoca, quinze-nalmente, repletos de livros. Di-zem. Vejamos como serão nossos próximos 50 anos.

“...nomeado como ‘mutirão de limpeza’ [...] simplesmen-te se pegou tudo que havia no depósito, quase-tudo, espólio destes antigos acervos, livros raros, livros para restauro, livros esquecidos, alguns livros sobre Trotsky, enfim, livros de uma universidade como a UnB, tudo para o lixo que ficava escondidinho atrás da copa da

bibliotoca. Bem na frente do Setor de Conservação”

POLÍTICA

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O povo do Distrito Federal perdeu sua autonomia. Nos poderes legisla-tivo e executivo tomam assento pes-soas que nada representam. Alguns foram eleitos para o legislativo e as-sumem o executivo. Suplentes de su-plentes de suplentes se ajeitam, to-talmente sem jeito, nas cadeiras do poder, para decidir rumos que deve-riam ser traçados pelo povo. Outros, eleitos para o executivo, tomam a estrada ou as celas das prisões. Mui-tos, não eleitos, não sufragados nas urnas, se escondem nos porões dos palácios, escrevendo o roteiro de uma nova peça teatral indesejada pelo povo.

Alguns desses ratos dos porões pa-lacianos, roedores que não fugiram do navio afundado, tecem uma teia de invasão alienígena global, para tentar entorpecer a população can-danga na festa dos 50 anos.

No cenário dos poderes constituí-dos estamos à mercê de um elenco que se divide em quatro categorias: atores-de-filmes-exibidos; atores-dos-bastidores; atores-dublês e ato-res-de-filmes-inéditos.

Os atores-de-filmes-exibidos vêm

sendo pouco a pouco banidos do ce-nário: alguns renunciando, outros sendo expulsos ou presos, todos se recolhendo aos camarins, mudan-do a maquiagem e esperando que o tempo lhes dê nova oportunidade. Os atores-dos-bastidores são lenta-mente desmascarados. Estes são os que, esperta e indecentemente, fi-zeram uso de atores-dublês que atu-aram em filmes já exibidos. Alguns

dos já desmascarados se aproveitam da crença popular referente a São Tomé: o povo quer ver para crer. Nenhum filme, com o protagonista corrupto sendo flagrado, foi exibido. Portanto, ainda é possível enganar o povo.

Os atores-dos-bastidores e os ato-

res-de-filmes-inéditos são os mais perigosos no momento. São os que rechaçam veementemente a inter-venção federal no DF. Eles, deses-peradamente, esperneiam, gritam, escrevem artigos, dão declarações à imprensa, repudiando aquilo que o povo do DF deseja: a intervenção federal.

Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos. A faculdade de se governar por si mesmo é valor fundamental do povo do Distrito Federal. Essa facul-dade, a que chamamos autonomia, não está sendo exercida.

A soberania popular vem sendo achincalhada de modo repugnante. A unidade federativa adoece, com um cancro se desenvolvendo na sua célu-la principal: a capital da República.

A cirurgia e o expurgo precisam ser urgentemente promovidos, para que no Distrito Federal seja dado espaço à soberania popular. Só a intervenção federal pode realizar a desejada limpeza, para que, recomeçando do zero, possam ser promo-vidas novas eleições ime-diatamente.

Alguns pensam que a vaidade política é o sen-timento que move alguns daqueles que, ainda in-crustados no poder, con-denam a proposta da in-tervenção. Nada disso. O que move a maioria dos anti-intervenção é o medo que têm do apro-fundamento da apuração

dos crimes.O grande jurista David de Araújo

prega: “o Estado Federal deve conter um dispositivo de segurança, neces-sário à sua sobrevivência. Esse dis-positivo constitui, na realidade, uma forma de mantença do federalismo diante de graves ameaças. Trata-se da intervenção federal.”

Num achincalhe gritante para com o povo, Deputados Distritais imple-mentam eleição indireta para que tenhamos um governador-tampão. Para as gerações que, em 1984, de-ram suor e sangue pela eleições dire-tas para a presidência da República, é um soco no estômago a prática de uma eleição indireta. Aqui, agora, o grupo envolvido com o esquema Ar-ruda e que coloca a pizza no forno se autoproclama colégio eleitoral.

Jorge Antunes é maestro e professor titular da UnB

Povo semautonomia

“A soberania popular vem sendo achincalhada de

modo repugnante”

JORGE ANTUNES

POLÍTICA

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Adonai Rocha

(61) 3347-0904

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A terceirização no serviço público é a porta de entrada para a corrupçãoNo Brasil, a terceirização teve origem

em 7 de setembro de 1822, quando o Reino de Portugal terceirizou o Brasil a Dom Pedro I. Ou seja, a população da época trabalhava para a coroa portugue-sa, enviando para aquele país todas as nossas riquezas.

Nas duas últimas décadas a terceiri-zação se intensificou no serviço público brasileiro, sua formatação atual foi feita ainda na ditadura militar e se limitava aos serviços de limpeza e segurança privada. Na década de oitenta, muitos militares eram donos de empresas de prestação de serviço na área de vigilância, e se ele não era o dono, era no mínimo o capataz que colocava a empresa para funcionar em regime de quartel.

Então viram que a terceirização era muito boa para o enriquecimento de em-presários amigos ou laranjas de políticos e também uma excelente forma de criar os esquemas de caixa 2. A situação então explodiu e o serviço público não está to-talmente terceirizado por conta da luta dos sindicatos e centrais sindicais.

A recente crise em Brasília, que de-flagrou a Operação Caixa de Pandora, é a prova cabal dos malefícios da ter-ceirização no GDF. O fruto das propinas entregue aos mais diversos e variados personagens com cargos no executivo,

no legislativo e até no judiciário, incluin-do aí o ex-governador Arruda e seu vice, teve origem em empresas terceirizadas que, em troca de contratos milionários, abasteciam uma polpuda caixa dois.

Ao mesmo tempo em que os contratos terceirizados se intensificam no GDF, há uma crescente queda na qualidade dos serviços prestados à população. Isto por-que o que gere o contrato é tão somente o lucro, não há qualquer compromisso com as necessidades da população. O re-sultado é serviço ruim, além de trabalha-dor com direitos precarizados, pois esta é a dura realidade daqueles trabalhadores contratados nesse regime. Aí você soma tudo: baixos salários, serviços ruins, lici-tações suspeitas, população insatisfeita, políticos e empresários rindo a toa. O

nome para essa soma é a corrupção. A terceirização é um dos maiores ralos de desvio de recursos públicos no Brasil e no DF. É o dinheiro da saúde, da educa-ção, do transporte público e da segurança que estão indo para bolsos, meias, bolsas alheias, sacolas e sacos de papel.

Por isso, combater a terceirização é defender serviço público de qualidade para a população, é gerar emprego para os nossos filhos, amigos, parentes e vizi-nhos, através de concursos públicos em todas as áreas, é defender um Brasil e uma Brasília socialmente mais justos.

Esta é uma luta da qual o SINDSER não abre mão. Pelo fim da terceirização para acabar com a corrupção.

Evandro MachadoPresidente do SINDSER-DF

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Vagas no serviço público devem ser preenchidas por concursados

Evandro Machado, presidente do SINDSER, defende que a qualidade do serviço

público só é possível através de trabalhadores concursados.

Desde a sua fundação, o SINDSER-DF defende o preenchimento das va-gas no serviço público por concursa-dos, defende também o fortalecimento de empresas públicas e todos os de-mais órgãos do executivo, legislativo e judiciário.

O Governo do Distrito Federal tem adotado a nefasta prática de realizar concursos públicos para o preenchi-mento de um determinado número de vagas, chama um número reduzido de pessoas e os demais aprovados fi-cam lutando durante anos para serem convocados. Enquanto isso, os tercei-rizados estão no governo ocupando a vaga de um cidadão que estudou, se qualificou, passou no concurso e não é chamado.

Aqui no DF já existe até uma asso-ciação dos aprovados em concurso público, que tem todo o apoio do SIN-DSER, para brigar em todas as ins-tâncias, inclusive com atos públicos, audiências, reuniões, para a imediata contratação dos aprovados.

Temos insistentemente cobrado do GDF a realização de concurso público e temos também cobrado a contrata-ção dos aprovados nas vagas previs-tas no edital que convocou o concurso. É o caso dos companheiros e compa-nheiras que fizeram concurso para o DER, os aprovados estão junto com o SINDSER lutando para serem contra-tados imediatamente.

Depois de muitos anos de luta, o SINDSER também conseguiu uma resposta do GDF quanto à realização de concurso público para preenchi-mento de vagas na NOVACAP, uma empresa da maior importância na construção da Capital da República e uma das maiores vítimas de serviços terceirizados. Chegou-se ao ponto de

o ex-governador Arruda tentar acabar com a NOVACAP. A intenção não foi para frente porque contou com a firme resistência do Sindicato e dos traba-lhadores.

Em levantamento feito pelo SIN-DSER, no final do ano passado, foi constado que no GDF existem 28 mil vagas a serem preenchidas através de concurso público. Em contraparti-da, constatamos também que existem 17 mil comissionados ocupando vagas que pertencem ao povo do Distrito Fe-deral que estuda e faz concurso.

Essa relação promíscua entre se-tor público e setor privado foi sentida durante constatação feita pelo SIND-SER de que todo o maquinário da NO-VACAP, um patrimônio da população, estava emprestado para uma empresa privada que prestava serviços terceiri-zados para a NOVACAP. Ora, além de ganhar um contrato milionário, ainda usava os equipamentos da empresa pública? O SINDSER não deixou por menos, resgatou os equipamentos e fez uma denúncia à população sobre o mau gerenciamento do GDF com a coisa pública.

É fácil de notar que as principais mazelas verificadas no serviço público como corrupção, mau uso das verbas públicas e péssima qualidade dos ser-viços prestados só terão solução com o fim da terceirização e o preenchi-mento das vagas por concursados.

O Estado deve garantir que a popu-lação seja bem assistida, em contra-partida aos altos impostos que paga, com acesso à saúde, à educação, à moradia, à cultura, ao transporte, ao lazer, à segurança públicos e de qua-lidade, através de profissionais quali-ficados, competentes e concursados. Estado forte, população bem atendida.

Entre as tarefas do SINDSER está a fiscaliza-ção das condições de trabalho da categoria

A mobilização permanente das categorias da base do SINDSER é essencial para melhorar a

qualidade de vida dos trabalhadores

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A trajetória do movimen-to sindical no Distrito Federal está inserida na história desse mo-

vimento no Brasil e diretamente as-sociada às transformações políticas, sociais e, sobretudo econômicas ocorridas no País. Na medida em que o País caminhava para a urbanização e a industrialização, a organização dos trabalhadores acompanhava e se estruturava de forma mais orgânica. Aqui como em todo o Brasil o mo-vimento sindical sofreu um grande revés com o golpe militar e as lutas sindicais foram duramente reprimi-das e permaneceram “escondidas” por alguns anos, Poucas as catego-rias que ousaram resistir à repres-são, mas era latente e crescente a insatisfação popular e o sindicato

sempre foi espaço de organização e de canalização da indignação e num processo irreversível conseguimos nos libertar do assistencialismo e da colaboração de classes que impera-va nos sindicatos organizando oposi-ções sindicais e fundando sindicatos cujas direções forram e são compro-metidas com um sindicalismo clas-sista, combativo e plural.

Desde a construção de nossa ci-dade que o movimento sindical tem feito lutas específicas e gerais que produziram avanços para a popu-lação do DF. Não existe democra-cia sem a participação popular e os sindicatos são a prova de que a história do DF é também feita por trabalhadores e trabalhadoras que nunca abdicaram dos seus direitos. Em vários momentos da vida da Ca-pital Federal a participação do mo-vimento sindical e dos movimentos populares foi fundamental. A funda-ção da Central Única dos Trabalha-dores, a maior e mais representativa central no Brasil e no DF, foi impor-tante passo para a organização dos trabalhadores e trabalhadoras, des-de 1984 participamos dos momentos decisivos do Distrito Federal.

O movimento sindical é prota-gonista das mudanças, faz grandes greves, dá suporte e mobiliza a mas-sa em favor das diretas-já, contra o arrocho salarial, pede uma Cons-tituinte, luta pelo fim da censura da Lei de Segurança Nacional, pede o fim do entulho autoritário e exi-ge democracia e participação, luta

pela representação política no Dis-trito Federal, organiza um ato con-tra a carístia, luta contra a inflação

e o congelamento dos salários, atua fortemente nas eleições gerais, é protagonista no impeachment de Collor de Melo, luta contra a política neoliberal do governo de Fernando Henrique Cardoso, realiza a marcha dos cem mil, atua contra a reforma da previdência, unifica-se na luta pelo reajuste do salário mínimo e a correção da tabela do imposto de renda, pelo reajuste dos salários dos aposentados, pela reforma agrária, pela redução da jornada de traba-lho sem redução dos salários e nos últimos dias consegue a aprovação pelo Congresso Nacional da Conven-ção 151 da OIT que estabelece a ne-gociação coletiva para os servidores públicos combinando mobilização com disputa institucional, ocupando

espaços e elegendo alguns de seus representantes para a Assembléia Legislativa e Câmara e Senado Fe-deral.

Não se pode esquecer que os ho-mens e mulheres que construíram e constroem o DF, são parte importan-te do nosso patrimônio e que esses são trabalhadores e trabalhadoras que aqui construíram suas vidas e por isso não lutamos apenas pelos nossos direitos; Lutamos pela cida-dania e por melhores condições de vida para todos e todas.

Construir uma cidade, organizar sua vida cultural, política e social não é simples e nem tarefa apenas para governantes, é necessário que toda a sociedade participe e seja sujeita das decisões e nós do movi-mento sindical, como parte da so-ciedade, sempre assumimos o nosso papel lutando, resistindo, conquis-tando.

Hoje vivemos uma conjuntura triste e vergonhosa para a popula-ção do DF, com o escândalo chama-do de operação caixa de pandora. A corrupção, o descaso com a coisa pública além a falta de compromisso de inúmeros governos fizeram mui-tos estragos em nossa capital. Mas é necessário resistir e buscar alterna-tivas que realmente sejam capazes de colocar a cidade num caminho democrático, de credibilidade com desenvolvimento, empregos para todos e todas, respeito às diversida-des e controle social.

Nossa história continua, estamos apenas iniciando o caminho e certa-mente teremos muitas lutas e vitó-rias.

Rejane PitangaPresidenta da CUT-DF

50 anos do movimento sindical no Distrito Federal

“Hoje vivemos uma conjuntura triste e vergonhosa para a

população do DF, com o escândalo chamado de operação caixa de pandora. A corrupção, o descaso com a coisa

pública além a falta de compromisso de inúmeros governos

fizeram muitos estragos em nossa capital”

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Fora Arruda e toda máfiaSOLANO TEODORO

Do sonho encomendado de Dom Bosco e do empreendedoris-mo exagerado de JK surgiu nossa maravilhosa cidade, diferenciada pela diversidade étnica estabele-cida aqui ao longo dos anos e pela gritante desigualdade social. Um dos últimos resquícios da área de-sapropriada para a construção de Brasília, a antiga Fazenda Bananal, é uma área situada entre o Parque Nacional de Brasília e a Asa Norte. Nela, no ano de 1957, os indígenas Antônio Inácio Severo, José Ribei-ro, José Carlos Veríssimo e Eloi Lú-cio, todos da etnia Fulni-ô, “vieram trabalhar na construção civil e aos finais de semana e feriados saiam dos canteiros de obras para rezar nas matas do cerrado”, segundo Frederico Magalhães, assessor téc-nico da Funai, em sua monografia para o Centro de Desenvolvimento Sustentável – CDS da Unb. Outra testemunha da relação dos Fulni-ôs com aquele resto de cerrado é Carlos Magalhães, arquiteto que trabalhou com Oscar Niemayer e Lúcio Costa, além de ocupar diver-sos cargos em governos passados. Ele afirma ter conhecido o indíge-na Juscelino ou Cacique Zumba, que utilizava a área verde para o seu natural contato com o sagrado. Para eles e seus descendentes os 50 anos já passaram, porém, não há muito que comemorar.

Fica cada vez mais difícil para os/as indígenas fugir do meio ur-bano. Já são milhares deles espa-lhados pelas cidades, na maioria das vezes não reconhecidos como tais. Muitos buscam preservar sua identidade/tradicionalidade mes-

Especulação imobiliária ou Santuário Sagrado: o que queremos para o DF?ANTONIO FRANCISCO

mo que a sociedade em geral tente por meio da modernidade transfor-mar nossa raiz em meros miserá-veis, pobres ou subempregados, que somente tem direito a seguir o status quo cada vez mais esquizo-frênico. Um exemplo desta prática de extermínio acontece nestes úl-timos anos aqui no DF.

Os Fulni-ôs ocupam a Terra Indí-gena Bananal/Santuário dos Pajés na mesma área onde seus paren-tes costumavam rezar na época da construção. Várias atividades são desenvolvidas ali como o Her-bário Fitoterápico dos Pajés, a Es-cola Tribal que ensina a língua dos Fulni-ôs, o Yathsalé, e celebrações espirituais e festivas como o Toré do Milho. O Santuário recebe cons-tantes visitas de outras etnias indí-genas e também moram próximas a ele comunidades indígenas das etnias *Kariri-Xocó e Tuxá. A área próxima ao Santuário já está sen-do devastada pelos tratores finan-ciados pelo corrupto Governo do Distrito Federal-GDF, que tem seu líder, José Roberto Arruda, preso há dois meses e outras dezenas da máfia rezando para não fazer com-panhia ao Big Boss.

Apesar de diversas tentativas legais, manifestações da socieda-de civil, denúncias e alertas de especialistas para travar este pro-cesso, mais de 200 mil árvores , lar de vários animais, vem abaixo para dar espaço para a maior hipocrisia governante desde a construção da 3ª Ponte. O nome da farsa é Setor Noroeste, bairro destinado a classe altíssima da cidade, ridiculamente chamado de ecovila, onde o metro

quadrado varia entre 8 e 12 mil re-ais. A explicação para entender a ainda existência deste projeto é o fato de que quem faz e julga as leis querem morar neste local, além de empresários, jornalistas e funcio-nários públicos abastados que têm compromisso exclusivo com suas contas bancárias. Só pode ser isso. Porque motivos há de sobra para a não construção desta estupidez.

O primeiro é o “Brasília Revisi-tada”. Este é o principal argumen-to do GDF, uma revisão de Lúcio Costa sobre o plano original de Brasília. Nele, o urbanista prevê a construção de novos bairros caso houvesse necessidade. E com cer-teza não há. Além do Plano Piloto, que poderia ter novas quadras, há uma imensidão de moradias para esta demanda, como Águas Claras, Setor Sudoeste e os condomínios do Lago Sul. Lúcio, em 1985, su-geriu a localidade para outros mo-radores: “A ocupação deve prever quadras econômicas para atender à população de menor renda”. Mas, ao contrário, atende interes-ses de uma especulação imobiliá-ria que não se limita com pouco. A entrada no mercado brasiliense de corporações imobiliárias como a BRASIL BROKERS e a ROSSI assus-ta. Em parceria com esta última, a empresa do próprio ex-vice-go-vernador renunciado, Paulo Octá-vio, utiliza uma área na 209 norte, onde deveria-se criar um clube de vizinhança, para vender os prédios de sua empresa no Setor Noroeste. Paulo Octávio tem obras espalha-das por toda cidade e “utilizava” a máquina pública para atender aos

interesses de sua empresa e par-ceiros. O próprio projeto do Setor Noroeste foi um presente de 6 mi-lhões da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário do DF- ADE-MI, quando P.O. era presidente. Não há como separá-lo de Arruda, portanto ele também merece o xi-lindró.

Outro motivo para o embargo imediato das obras do Setor Noro-este é o fraudulento processo de consolidação do Plano Diretor do DF. No inquérito do Superior Tri-bunal de Justiça constata-se que cada deputado da base aliada do GDF ganhou 420 mil para aprovar o PDOT. Esse fato já deveria paralisar todas as obras previstas no plano. A construtora JC Gontijo, que com-prou dois terrenos no local, tam-bém está envolvida nas ilicitudes da Caixa de Pandora. Mesmo assim continua-se a destruir o cerrado. O licenciamento ambiental além de não resolver diversas pendências, principalmente em relação ao es-goto, não poderia ser emitido com a comunidade indígena estabeleci-da no centro da poligonal do proje-to. Isso mostra o cuidado que a Su-perintendência do “Imbroma” do DF tem. A Universidade de Brasília também é cúmplice desta farsa, já que o projeto é do professor apo-sentado, Paulo Zimbres, também autor de Águas Claras, bairro mais cinza do DF.

Não é somente dever dos indí-genas proteger esta área de cerra-do nativo. Apesar de muito agredi-da ela tem importância para todos os moradores do DF. Além de ser área tampão do Parque Nacional

POLÍTICA

9miraculoso.com.br

de Brasília, serve para amortecer as águas pluviais que vão para o Lago Paranoá, sendo vital para um dos braços do lago, o Ribeirão Ba-nanal. Ou seja, com o bairro tere-mos um lago mais poluído, cenas como a que vimos no dia 2 de abril, quando um muro de um condomí-nio na 911 Norte caiu pela força da chuva, e perderemos milhares de plantas e animais que dispensam comentários sobre suas riquezas. Com o Setor Noroeste, os morado-res da Asa Norte podem esperar o pior em relação ao bem-estar. Mais trânsito, mais violência e mais de-sigualdade.

Os indígenas permanecem fir-mes na resistência e já conse-guiram iniciar o processo para a demarcação definitiva do local. A luta destes guerreiros/as se torna essencial para a emancipação do consciente coletivo do DF em res-peito não só aos povos originários, mas, aos que mantém esta cidade de pé e são deixados de lado dian-te da elitização que ainda reina aqui. Os próximos 50 anos de Bra-sília devem ser de uma luta pela paz na qual a especulação imobi-liária perde espaço para o convívio digno dos cidadãos. Para os próxi-mos meses devemos organizar um plebiscito para discutir e decidir o que queremos para a cidade: Setor Noroeste ou Cerrado Vivo Indígena?

(*) - Estas etnias entraram com outro processo judicial para ga-rantir a terra, o que rompeu os la-ços com os Fulni-ôs.

*Antonio Francisco é jornalista Independente

Os últimos acontecimentos na política local do Distrito Federal ensejaram muitas mudanças de opinião. Os que acreditavam na certeza da impunidade para os corruptos vivenciam uma dura realidade: os corruptos e corruptores podem sim ser presos, mesmo antes de julgados. Geraldo Naves, o algoz dos bandidos em geral, defensor de penas severas para todos os tipos de crime, quem diria, está preso na papuda! O ex-governador Arruda, que dispensa apresentações, está preso na Polícia Federal há mais de dois meses, incomunicável, comendo quentinha e pedindo autorização para ir ao banheiro, entre outras tantas res-trições.

Por outro lado, muitos apregoavam que o movimento es-tudantil estava morto e dizia respeito apenas aos livros de história, contudo o Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia provou o contrário: existe sim um movimento estudantil e popular, autônomo, independente e revolucionário, que deu concretude aos anseios da maioria dos habitantes de Brasília, que fez o que todos apóiam e aprovam (salvo os arrudistas), mas não tem coragem de fazer. Por meio da ação direta e através da unidade de ação com os mais di-versos segmentos da esquerda, logrou fazer uma séria de ações vitoriosas e históricas que contribuíram efetivamen-

te para o – ainda incipiente – processo de moralização pelo qual Brasília vem passando.

O Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia veio para trans-formar as realidades sociais não só da Capital – que se es-tenda a todo o país. A corrupção presente no entorno de Brasília, em cidades como Valparaíso, por exemplo, mere-cem a atenção do movimento, que adquiriu responsabili-dades que vão muito além do âmbito local. O movimento deve se fortalecer e seguir na luta, pois não resta dúvida que, devido à repercussão nacional obtida pela prisão de Arruda, diversos oprimidos e silenciados provavelmente agora clamam: Movimento Fora Arruda e Toda a Máfia olhai por nós!

Voltando ao âmbito local, onde a luta, sem dúvida, con-tinua, deparamo-nos com um cenário em que os quarenta ladrões, que julgaram Ali Babá, se preparam para eleger seu novo chefe, por meio de eleição direta, para a qual o Movimento fora Arruda já lançou candidatura: Tony Pane-tone e a Bezerra Dourada. Já que o povo não pode decidir e a intervenção não chega, são de longe as melhores opções!

*Solano Teodoro é Coordenador Geral do Sindicato dos Metroviários.

NANInanihumor.blogspot.com

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“O Arruda é cria de Casa do Roriz”

VLADIMIRCARVALHO

O MIRACULOSO: Fale um pouco do Bra-sil antes da Ditadura de 1964 e do que passou a ser o Brasil com o início do Golpe Militar?

Vladmir Carvalho: Antes do golpe, se viveu a experiência do governo Jango, com o Brasil consciente das reformas. Vivenciei o nascedouro do movimento das Ligas Camponesas . Eu sentia que havia um interesse na transformação da sociedade, entre estudantes, traba-lhadores e intelectuais especialmente. Eu via que para a salvação do Nordeste não tinha outra saída a não ser fazer a Reforma Agrária, além da Reforma Ur-bana de moradia e Reforma Universitá-ria, e, por sinal, a UnB estava nascendo e se constituindo como, o que é hoje, uma universidade super importante no panorama do ensino superior do Brasil.Vi a movimentação sindical intensifi-

cada nos anos de 1950 e 1960 quando eclodiu uma radical mudança, que na-turalmente mobilizava também o outro lado, o dos setores mais reacionários, aliançados com os latifundiários e inclu-sive com o apoio dos militares. O que gerou a violência mais brutal no campo, com o fuzilamento do líder João Pedro Teixeira na Paraíba, resultando no filme “Cabra Marcado Para Morrer”, dirigido por Eduardo Coutinho, que visibilizou e sensibilizou todo o movimento dos cam-poneses para fazer a Reforma Agrária e buscar melhores condições de vida. Por sorte participei da realização deste tra-balho, vi de perto tudo acontecer, isso me marcou bastante, inclusive porque do dia 31 de março ao dia 1º de abril de 64 nós fomos surpreendidos em ple-no trabalho do documentário. Filmáva-mos as cenas noturnas de acordo com o plano de produção. Contudo, nós fo-

mos avisados quando ainda estávamos dormindo na manhã do dia primeiro de abril. As pessoas que nos conheciam ba-teram no nosso QG avisando que havia um movimento revolucionário deflagra-do naquele momento. Pensamos que era o nosso movimento e acordamos todos estonteados pelo sono. Nos mobilizamos para encontrar os camponeses afim de organizá-los. Assim foi como me inseri nessa coisa mais ampla, nas decisões de nosso coletivo. No caminho fomos ou-vindo o rádio, então foi aquela desilu-são, aquele choque em saber que não era o que estávamos pensando. Eram as forças mais reacionárias, mais à direita do Brasil, que desciam de Minas, era o Exército que vinha para tomar o poder e tirar o Jango do governo. A princípio, o Golpe Militar veio mascarado, mas foi um período de exceção que continuou piorando com o AI-5, já em 68/69, pren-dendo, batendo e torturando. A ditadu-ra tirou a máscara.

O MIRACULOSO: Como foi a sua che-gada na capital no contexto de 1969?

Vladimir Carvalho: Depois do Golpe eu fiquei no Rio de Janeiro até 1970. Vim para o festival de cinema em Bra-sília em 1969 e não conhecia Brasília, reencontrei o diretor de fotografia do “Cabra Marcado”, Fernando Duarte, um dos grandes diretores de fotografia do Brasil. No festival de Brasília onde meu filme estava em competição, o Fernan-do me perguntou o que eu estava fazen-do, me convidou então a participar e estruturar um núcleo de documentário na Universidade de Brasília. Mas acabei voltando pro Rio. No entanto, Fernando continuou insistido e decidi voltar para Brasília pensando que ficaria no máxi-mo 3 meses. Acabei ficando até hoje. Comecei dando uma aula na UnB após o Fernando ter insistido dizendo que os alunos estavam interessados na minha experiência, nos filmes que eu fiz. No outro dia ele me disse que os estudan-tes queriam mais uma conversa. Ele me aprontou um contra-to de professor em acordo com a Rei-toria. E eu não tinha como recusar porque era tão vantajoso em relação ao meu salá-rio de jornalista no Rio de Janeiro que pensei que poderia experimentar. Me adaptei demais a Brasília, adotei Bra-sília. Estou em Brasília a 40 anos e fui adotado. Depois do Golpe, quando 225 professores pediram demissão volunta-riamente, o cinema foi praticamente

extinto da UnB. Convencemos a Reitoria a implantar um curso regular de cine-ma que durou até 1972, quando o Reitor José Carlos Azevedo resolveu novamen-te extinguir o curso.

O MIRACULOSO: Como foi ser professor da UnB com todo o clima da repressão, retratado anos mais tarde no seu docu-mentário “Barra 68”, e sucessivos Rei-tores Interventores Militares?

Vladimir Carvalho: Como eu sempre fui militante, vi que havia outros pro-fessores que agiam e pensavam da mes-ma forma, a gente criou um grupo de resistência especialmente à figura de José Carlos Azevedo, capitão de mar e guerra, que foi um interventor militar na universidade, com um poder que ex-cedia sua qualidade de Vice-Reitor. Em 68 houve uma ocupação da universidade por tropas militares que durou um mês, aparentemente ele não tinha nada ha-ver com isso. Foi quando os estudantes declararam o campus da universidade território livre, resistindo no embate com a polícia e com o exército. E no fim, quem estava sentado no trono era o Azevedo, o Interventor, que durou por volta de uns 17 anos. Apesar disso nós do Instituto de Artes sentíamos a tare-fa de resistir aos desmandos da gestão arbitrária do Azevedo. Em 77, eu assisti ao movimento dos estudantes em que deflagrou-se o Dia Nacional de Lutas, reivindicando o restabelecimento do di-reito de eleger seus representantes, ter direito a assento nos conselhos da uni-versidade e pela liberdade dos presos políticos. Só em 85 conseguimos fazer eleição direta com os três seguimen-tos e elegemos, não se pode esquecer jamais, Cristóvão Buarque. Dávamos aula com os policiais andando na uni-versidade e percebíamos que não eram estudantes. Víamos também estudantes sendo presos e levados para camburões. Em 78 deflagramos um movimento de apoio à manifestação dos estudantes, que entraram em greve porque Azevedo

fez tudo para deses-tabilizar o movimen-to da Anistia. Que só foi ter resultado positivo quando ti-ramos o Azevedo e elegemos o Cristo-

vam como Reitor. Tudo mudou a partir da deflagração do dia Nacional de Lutas em 77.

O MIRACULOSO: Seu filme “O País de São Saruê” foi censurado pela ditadu-ra durante 9 anos e somente em 1979

ENTREVISTA

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Vladimir Carvalho é cineasta e documentarista brasileiro de origem paraibana e morador de Brasília há 40 anos. Formado em Filosofia pela UFBA, foi professor da UnB por 24 anos e possui uma vasta filmografia. O MIRACULOSO, nessa edição especial dos 50 anos da Capital teve a honra de entrevistar esse que é um dos ícones do cinema nacional, profundo leitor da alma do povo brasileiro.

POR DIOGO RAMALHO, FERNANDO AQUINO,MAÍRA MARINS, PALOMA AMORIM

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com a Anistia política pôde vir à tona. Como foi o início do fim da ditadura?

Vladimir Carvalho: Quando eu vim para Brasília com “São Saruê” eu ainda não o tinha terminado, terminei o filme aqui. Para exibir o filme você tinha que obter um certificado, entregue pelo departa-mento de censura federal. Os censores assistiam ao filme e somente se eles quisessem o filme seria aprovado. Fui submetido a essa espécie de censura. O filme foi inteiramente interditado e só foi liberado em 1979 quando aconteceu a Anistia. Entretanto, mesmo censura-do, inscrevi o filme no Festival de Ci-nema de Brasília e ele foi aceito pela comissão de seleção, o que foi um rolo terrível. Faltando dois dias para o festi-val começar “São Saruê” foi substituí-do pelo filme “Brasil bom de bola”, um longa metragem que falava sobre a con-quista do tri campeonato mundial. Com a retirada do meu filme, os adeptos do Festival geraram uma confusão. Para piorar a situação do Festival a comissão de premiação denunciou o filme “Ne-nem bandalho” como sendo favorável ao uso de drogas, e este também teve sanções; o resultado foi que o Festival parou por 4 anos.

O MIRACULOSO: Quais influências con-sidera fundamentais na sua formação política e cultural?

Vladimir Carvalho: A literatura marxis-ta leninista. Meu pai era um leitor assí-duo de romances. Li a coleção romance do povo quase inteira. Meu pai era um artista, apesar de não ter ido a faculda-de. Era escultor, desenhava muito bem, era jornalista e pertencia ao Partido Comunista, assim como eu fui durante um tempo. Hoje sigo apenas a minha in-tuição, meu instinto, me identifico com as forças vivas da sociedade e vejo por onde seguir e participar.

O MIRACULOSO: De que forma a cidade de Brasília, esse amálgama de identi-dades e culturas sempre por se definir, influenciou e influencia em sua obra?

Vladimir Carvalho: A partir dos meus próprios projetos. Quando vim para Bra-sília, como nordestino comecei a olhar em volta, ver o que a cidade apresen-tava , para fazer o meu trabalho como documentarista. Queria encontrar os nordestinos que trabalharam na cons-trução de Brasília. Fui à invasão do IAPI cheio de barracos com uma feira no meio. Fui lá assuntar se tinha carne de

sol ou algum cantador. Eu tava cabelu-do e parei no barbeiro, um barraco que tinha no meio da feira. Nessa barbearia ouvi falar em um massacre de operários da construtora Pacheco Fernandes. Fui pra casa pensando naquilo, nunca mais parei de pensar. Quando ouvi a história, a primeira impressão foi violenta. Tive um choque por conta de ser a cidade de Oscar Niemyer e Lucio Costa, uma cidade no auge desenvolvimentista. Eu fiz uma listagem de pessoas e ia per-guntando sobre o massacre da Pache-co. Perguntava ao caseiro, ao taxista, a uma pessoa que via que tinha mais idade. Como tinha ditadura eu só ano-tava. Fui juntando depoimentos e ma-peando as pessoas e filmando durante 19 anos. Por exemplo, filmei o início da Ceilândia, subi na caixa d’água e filmei a feira de cima. Filmei a chegada dos tricampeões em 1970, filmei a chegada do Papa.

O MIRACULOSO: Em 2010 o filme “Conterrâneos Velhos de Guerra” faz 20 anos. O que mudou na alma desta cidade ainda em construção?

Vladimir Carvalho: Quando cheguei, Brasília tinha cerca de 300 mil habitan-tes, o Plano Piloto era uma tranqüilida-de, uma população muito pequena para a capital da república. Se dizia naquela época que somente nos anos 2000 Bra-sília ia atingir 500 mil habitantes. O que eu assisti foi quase como uma vertigem: primeiro veio um cara e tombou o nú-cleo da cidade, esse grande palco que é o centro do Plano Piloto, a Esplanada, a Catedral. Mas logo no primeiro gover-no Roriz teve a doação de terras públi-cas com o objetivo de se formar currais eleitorais. Joaquim Roriz loteou as ter-ras públicas em benefício próprio, em benefício eleitoral, e pra mim isso é um divisor de águas na história de Brasília. É como se você dormisse com a utopia e acordasse com a explosão demográfica da periferia de Brasília, sem ter os equi-pamentos humanos que fizessem face a isso. Contudo, temos um hiato com a gestão Cristovam. Apesar das quatro gestões com o Joaquim Roriz, é impor-tante você olhar para esses momentos como a preparação do que aconteceu mais recentemente na gestão Arruda. O Arruda é cria de casa do Roriz. Não é a toa que Arruda levou a sede de seu governo para Taguatinga. Ele desfigurou o desenho simbólico não para fazer um benefício a periferia, o que seria louvá-vel, mas pra dar continuidade, substi-tuir e se confrontar com seu hoje adver-

sário Joaquim Roriz, para tirar proveito político e eleitoral.

O MIRACULOSO: Como enxerga a atual crise institucional e política do Distri-to Federal?

Vladimir Carvalho: Eu vejo como a possibilidade, como um chamamento a assumir posições. Estranhamente a co-munidade de Brasília, até agora, não se posicionou na rua - como quando veio o Papa, os tricampeões, quando da pos-se do Lula - eu pessoalmente não vi, a não ser pífias manifestações que parti-ram de um único movimento que foi dos estudantes da UnB, como quando ocu-param a Câmara Legislativa Distrital. A comunidade não participou, mas homo-logou a posição dos estudantes. Faz fal-ta ainda a mobilização das forças vivas da sociedade: sindicatos, associação de moradores, juntamente com a limpeza do Legislativo local. Eu acho muito con-

fuso quando você tem em curso uma In-tervenção Federal, em apreciação por parte dos tribunais superiores, e uma Câmara, que não tem credenciais para realizar uma eleição, insistir em eleger um governador. E se for decretada uma Intervenção antes, para que no dia 17 eleger um governador? O quadro ainda é muito nebuloso embora surjam possibi-lidades de abrirmos caminhos para a so-lução dos problemas de Brasília. É o fim de um ciclo e o começo de outro para melhoria do povo e das instituições.

O MIRACULOSO: O que podemos come-morar nestes 50 anos dessa que é uma das mais jovens capitais do mundo?

Vladimir Carvalho: Podemos comemo-rar, por exemplo , a integração dos es-tados brasileiros, em que o Rio Grande do Sul está muito mais próximo do Ama-zonas a partir da transferência da capi-tal para o Planalto Central, com enorme influência em todos os setores da viada brasileira. Mas não podemos comemorar a degradação dos costumes políticos.

Devemos lutar por uma mobilização da população de Brasília para, nesse dia do aniversário da cidade, bater o martelo e dizer “nós queremos a mudança, a lim-peza, a assepsia desse quadro político que foi criado com o governo de José Roberto Arruda”. Não tenho a fórmula pra isso, é a minha opinião como cida-dão. Mas se isso acontecesse entraría-mos para a história do país a partir desse dia 21. Porque especulações e manifestações que não tenham esse significado pouco vão contribuir. Isso é o que deveríamos fazer: nos darmos as mãos e fazermos uma corrente de toda a coletividade e mobilizar a cidade numa mega manifestação, com a parti-cipação de todas as lideranças. Se isso é possível eu não sei, nem sei o caminho. Mas estou pronto para marchar como um cidadão daqui.

O MIRACULOSO: Quais as grandes ca-rências e objetivos que a capital ainda não alcançou, e as perspectivas para os próximos 50 anos?

Vladimir Carvalho: Podia-se estudar uma forma de fazer um acoplamento entre a Carta Magna - a constituição brasileira - e a lei orgânica do DF, isto no bojo de uma reforma política geral. Eu vejo no Congresso a figura de Pedro Simon com uma aura simbólica, que diz que não podemos esperar mais nada do Congresso brasileiro da forma como está estruturado. Pois o Congresso não tem como modificar estruturas que estão ca-ducas, a começar pela Constituição de 88 que tem que ser reformada. E não há como ser diferente, porque o cotidiano no Parlamento brasileiro degradou-se em si mesmo, não prospera, de forma que todos estão desencantados da prá-tica política. Será a decadência do Le-gislativo brasileiro, senão houver a re-forma política. Temos um vasto elenco de problemas pela frente, assim faz-se necessário essa reforma.

O MIRACULOSO agradece a entrevista que para nós foi simbólica, miraculo-sa. Não temos palavras para expres-sarmos e satisfação de poder tê-lo como entrevistado dessa segunda edi-ção especial.

Vladimir Carvalho: Não tenho conside-rações a fazer. A não ser saudar a che-gada desse jornal no processo da polí-tica do Distrito Federal, atuando como porta-voz daqueles que não tiveram voz ou a suficiente mobilização para se ex-pressar.

ENTREVISTA

11miraculoso.com.br

“Joaquim Roriz loteou as terras públicas em benefício

próprio, em benefício eleitoral, e pra mim isso é um divisor de águas na

história de Brasília”

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CAPÍTULO VDo Distrito Federal e dos Territórios

SEÇÃO IDo Distrito Federal

Art. 28º Enquanto o capital prevalecer, enquanto a poesia não imperar, é vedado querer por querer registrar por registrar o nome na história desta nação e, assim, resolver por resolver transferir por transferir a capital de região.

§ 1º A vedação deste artigo tem como premissa a seguinte argumentação:I – onde governa o capital, criar qual cidade futurista e desenvolver o interior do

país é promover o empreendedor que condiz com o sistema capitalista; II – onde quase tudo é comprado, pedir emprestado para quem já roubava de

quem já não tinha surpreende até o larápio que empresta com juros e ainda mor-rinha;

III – onde o lucro permanece em vigília, endividar a família e deixar a dívida à mercê merece o veto dos filhos, dos netos e de quem mais interceder;

IV – onde a igualdade não faz parte dos planos, fazer em cinco anos o que se faria em cinqüenta só é bom para quem ordena e a própria fama fomenta;

V – onde morar não é certo, ser alojado por perto para adiantar o batente e de-pois despejado ao longe para tornar-se um ausente é ser traído em meio à ilusão, ainda mais se o alojamento for chamado, em campanha, de invasão;

VI – onde a regra é oprimir, construir e ser proibido de usufruir é simplesmente humilhante;

§ 2º Quando o capital não puder, quando a poesia reinar, a intenção de querer mudar a capital de lugar poderá ser discutida por todos que tiverem interesse no assunto.

(Fábio Carvalho)

Vem tilintando lá do fundo. E con-forme o barulhinho agudo e fino apa-rece, outros se atrelam a ele, mais densos; redondos, quadrados e de diversas cores. Marcham em minha direção.

É uma parábola. Minha parábola. Sai de mim, segue longe. Flutua,

corre, gira, dança e faz uma curva para retornar aos meus ouvidos.

O barulho e os estalidos são ex-ternos, mas a maneira característica como eles chegam a mim me fazem pertencê-los, de certo modo. Nascem separadamente, cada um em sua in-cubadora, em algum local perto da minha nuca, e se lançam para a vida, passando pelo meu martelo e bigor-na. Eclodem no mundo, voando pelo ar todos de mãos dadas. Em uma sin-fonia orgânica e barulhenta, aonde os ruídos dominam. O ritmo é quase inexistente, são muitas camadas de sons acontecendo simultaneamente. Difícil de sincopar.

Eu vou despertando. Esses sons me tiram gradativamente do sono pesado no qual eu me encontrava instantes atrás e vão me compelindo ao estado de vigília. Junto com eles vem mais cores, e elas vão se tornando mais claras e luminosas. O filtro brumoso que encobria meus olhos vai caindo, dando lugar às outras sensações. Ain-da estou com as pálpebras cerradas, e dessa maneira acentuo a experiência que é escutar essa música colorida.

Somente após alguns vários ins-tantes, consigo trazer índices racio-

LITERATURA

Manhãnalizados para o que entra pelos meus ouvidos.

Marretas, cinzéis, picaretas, furadei-ras.

Em primeiro plano.A construção ao lado do quarto.Outros sons se sobrepõem a esses, em

planos menos específicos.Carros, buzinas, cachorros, conversas

e até ruídos de crianças aproveitando a clara manhã que insiste em entrar sorrateira pelas frestas da persiana de ferro acoplada à janela. A luz é leitosa e densa. Parece carregar todo o calor abafado que fazem minhas têmporas suarem.

Finalmente ao abrir os olhos, vejo a gentil silhueta que se liga ao meu lado, junto a mim.

É você. E assim esse ciclo de sensações de-

ságuam em uma mais forte e quase su-focante. É a felicidade de te ter junto a mim, e poder perceber e efetivar isso cotidianamente.

Pelo menos era assim, já que agora tudo mudou.

Mas aí, sabe lá o que pensa ou sente?Mas aí, sabe lá, é sempre amor.Pelo menos pra mim.Desde então eu durmo. Por opção.Já que não posso mais ter as cores

me invadindo, juntamente com os sen-timentos bons, escolho acovardar-me nos tons frios e acinzentados do sono cotidiano. Aquele que perpetramos de olhos abertos.

(Moisés Crivelaro)

PlanaltoO mar é um grande pulso que lateja.O planalto é um mar de vagas imobilizadas na diástole,e o pulso anula-se na tensão áspera da pele.

Gritos mineralizados. O tempolapida os cristais fendidos do silêncio.E das fissuras mana (imperceptível)uma saudade marinha.

Esmagado espanto vegetal. Pássarosnadam entre as algas. Seresestranhosdeslizam no fundo. Restos.

O Homem, navegador crispado,vem sulcar estas águascoaguladas. Decifra na facedo planalto (memóriade mar petrificada)seu arcano, e semeia-lhearquipélagos.

Sobre as vagas imóveisum vivo mar agita-se.

(Anderson Braga Horta)

Litogravura | Bia Medeiros

Pintura | Camila Soato

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CigarrasCigarras soturnassibilamcintilamsimulamsob sol setembro

Cigarras singelassolenessozinhassilenciamsob céu cidade

cigarras sincerasse soltamsoletramsuspiram

Cigarras são seressinistrossensatossedentes

Cigarras sonorassossegamsussurramsaciam

Cigarras são santassinaissilentessilvestres

Cigarras sinfônicasseus essessssssszzzzzzzzzzz

(Isolda Marinho)

*

Rumo à nova BrasíliaA pseudo-República trouxe consigoNa primeira da histórica coleçãoUm artigo que já incluíaA transferência da capitalPara a futura Brasília.

Nasceu então, em papel constituinteE para ela abriu a MissãoAos ares da incerteza, pôs-se a seguirA possível interiorização.

Já mapeada e demarcadaA área ainda ouvia pazAté chegar o massacre da especulaçãoPara o Brasil, trouxe dívidaDa mata, tirou-lhe a vidaE aumentou a aridez do sertão

Depressa! Há um Plano MetaO povo precisa vir, dar início à construçãoE fazer de Brasília, uma mescla de raças

Culturalmente diversificada, sendo única ao possuirUma parte de cada região

Ergueu-se a Ermida, primeira missaAbre BR, ferrovia, estradaJK, Lucio Costa e NiemeyerPõe concreto, mais concreto à vida tirada

Cidade ladroeira do lago artificialA ganância te consome, politicagemArrancam-lhe o verde, fatalidadePerseguem índio, inadmissívelAlto índice de violência e desigualdade social

A quem recorrer? À desordem do PDOT?Gerador da corrupção!À justiça em sua lentidão?Aos 50 anos, ela deseja mudançaDo caos à transformaçãoPresentear Brasília, num ato de cidadaniaÉ unir forças, resistir à repressão

Expressar a arte com luta e criatividadePara o mundo e a naçãoTem que ser agora venha que há tempoO futuro da capital encontra-se em nossas mãos!

(Déborah Gomes)

*

ando pela L2 como num desertoum deserto de rostos irreconhecíveisnovas máscarasdesfiguradas que sempre quis evitartodos os rostos são repulsivoso meu mais que todosreflete um rosto vazio de magritte

por baixo de um pano azul de nuvens: versos brancos como estecorre a sortetudo de que corro

(Hugo Crema)

Tantas vezes ao passar pude sentir a graçade tua jovem beleza, coberta de flores rosadastrazendo uma boa lembrança, um novo alento.

Quando nas tardes ásperas do prolongado estioés sombra acolhedora pra abrigo dos viventes:pássaros, bichos, insetos, relva, gente.

Quando tuas lágrimas caem no chão deste vale,misteriosamente, amenizando os rigores da secae tuas sementes curativas espalhas pelo vento.

Teu corpo rugoso e claro, de crescimento tão lento,ao longe me chama e seduz por seu movimento de ramosespalhados, gentis, firmes, bons de menino subire folhas bem pequenas, redondas e rendadas.

Hoje lanço meu lamento por estares assim feridaà beira da estrada, no limite deste triste assentamento.

O golpe de machado de um homem sem raizestúpido, rasteiro, inconseqüente,atingiu o fluxo, o cerne de teu troncoe a alegria, a generosidade, a vida plenaque semeavas estancou-se, gentil amiga.

Quando é que nossa genteque depende tanto dessas árvoresterá gratidão por elas, terá olhos pra percebertoda esta nobreza, de tanta doaçãodefenderá a vida, a saúde, o encanto.que esses seres milenares propagam?

Quero todas as sucupiras vivas !

(Romulo Pintoandrade)

Cidade que não existeaté que exista um sonhoque não existe.A cidade cresce,Estranhamente esquecedo sonho que engendra.A cidade acontece...E sua natureza engana os olhos,encanta e faz medo.Grita e emudece a cada instante,pulsa entre a vida e a morteque seus vazios representam,onde encenamos o teatro verdeda crueldade. A cidade, esta cidade,é mesmo um palco sofisticado:torna todos atores de um texto construídona intermitência e no pesoda propriedade – que novamente engana: parece ser de todos.Seu abraço comunista sufoca,E o céu comunica um domínio vastoque nunca navegamos além do horizonte.Placas mil fazem entender que o sentidoÉ mesmo insano – equilibramos desejosnuma retidão torta.

[às vezes empilhamos,às vezes esquecemos]

Não é o dinheiro nem o poder que te oblitera;é tua forma simpática de dizer que o limitenão tem traço.Que o resto que está de fora é mesmo resto,e o que importa em ti está além de qualquer gesto,de qualquer norma.Os prédios que atravessamos só têm forma.Dão um jeito de dizer que sua generosidade está restritaao ir e vir democrático de ter acesso a qualquer ladode algo que está acima, intocado, castelo modernizado,utopia envelhecida,piada.

Tua obra de arte não poderia ser diferente?

(Leonardo Menezes)

LITERATURA

Pintoandrade

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Brasília 50 anos de quê?

Se você está lendo esse texto nesse momento, talvez uma das ra-zões para tal, seja o fato de que a pergunta que O MIRACULOSO faz, também o tenha deixado inquieto: BRASÍLIA 50 ANOS DE QUÊ?

Que Brasília é essa que completa 50 anos em 2010?

Durante os últimos 4 anos estive envolvido em um projeto de reali-zação de um documentário sobre o universo do transporte alternativo: as vans. O nome é “FILME PIRATA”, possuindo 52 minutos de duração e sua estréia está prevista para abril, durante as comemorações do ani-versário de Brasilia. Será exibido na mostra de filmes BRASILIA OUTROS 50, que acontecerá na FUNARTE. É curioso como o cinquentenário da cidade está mobilizando tanta gen-te!

Taguatinga, a cidade em que nas-ci e vivi por mais de 36 anos na mes-ma casa, e onde até hoje vive Dona Graça, minha mãe, tive a oportuni-dade de presenciar uma discussão interessante que aconteceu em um bar de esquina. O dono, Seu João Carlos, se tornou meu conhecido porque era motorista de van no pe-

ríodo em que realizávamos o filme. Contudo, com o fim do transporte alternativo, ele havia se tornado dono de bar.

A discussão a que me refiro é exatamente sobre o aniversário de Brasília. O assunto era que pouco importavam seus 50 anos, pois Ta-

guatinga já ia para os 52 e ninguém tinha dado a mínima para o seu cin-quentenário, e que também pouco importava se Brasília mais parecia um bairro chique inventado para re-presentar a nova capital no centro do país, enquanto Ceilândia, Para-noá, Samambaia, Planaltina, Recan-to, Riacho Fundo, São Sebastião e todas as outras satélites eram tão importantes quanto e em alguns ca-

sos mais vivas e calorosas com suas feiras agitadas e com a molecada na rua. Não fosse o descaso dos ad-ministradores, essas cidades seriam muito mais humanizadas que o Plano Piloto, que está dentro de Brasília, que está dentro do Distrito Federal como estão todas as cidades-saté-lite. E o Distrito Federal, quantos anos tem? Qual será sua idade? O que temos para comemorar?

Na discussão que se seguiu todos concordavam com essas questões. Mas foi então que Seu João Car-los se manifestou dizendo que em 2010 tínhamos muito a comemorar, e ninguém entendeu porque Seu Joao falou aquilo. Foi então que ele completou – “apesar de toda essa roubalheira sem vergonha que acaba com nossos hospitais, nossas esco-las, que deixou as pistas do DF como veias abertas com a terra vermelha misturada com o ferro e o concreto, que construiu uma fonte cibernéti-ca que toca “Kenny G” na Praça do Relógio em Taguatinga, que deixou o transporte público na mão dos empresários que cobram caro pelo péssimo serviço, que acabou com o transporte alternativo deixando sem as vans milhares de pessoas que não tinham e não tem ônibus, que constrõem o Setor Noroeste, bairro só para gente rica; apesar de tudo isso temos que comemorar um fato, uma coisa que ficou muito clara: empresários não sabem admi-nistrar as cidades, e quando empre-sários viram políticos, são eles que vão administrar as cidades e fazem isso como o fazem com uma em-presa. Porém, uma cidade é muito diferente de uma empresa. A lógica empresarial não serve aos cidadãos

WILLIAM ALVES

“E o DF, quantos anos tem? Qual

será sua idade? O que temos para comemorar?”

que precisam viver nas cidades. O que está por trás da péssima admi-nistração do DF, diretamente ligada a roubalheira de bilhões de reais, são os empresários, os políticos e os empresários políticos que estão corrompendo as cidades” – uma gar-galhada gigantesca interrompeu Seu João e perguntou: “E quem é que vai administrar a cidade então?” E no embalo da pergunta, já respon-deu perguntando: “Nós?” Depois de um longo silêncio a conversa tomou esse rumo e só parou no fim da tar-de, quando todos foram embora do bar.

Para mim, talvez Seu João tenha razão em pelo menos podermos co-memorar a clareza que alguns fatos nos trazem. Mas fiquei pensando na gargalhada e na questão levantada. Sim, talvez a comemoração maior virá quando nós, cidadãos, realmen-te estivermos colaborando de forma mais direta na administração das ci-dades. Enquanto isso não acontecer, ficaremos sujeitados a empresários, a empresários políticos e a políticos empresários; e ficaremos sujeitos a administradores com compromisso apenas com a lógica empresarial de acúmulo e enriquecimento, e não com a cidade e o bem estar do ci-dadão.

Assim como Seu João e a garga-lhada sem nome e assim como eu, espero que você que chegou até aqui possa, num futuro próximo, ter razões de sobra para comemorar o aniversário de sua cidade.

William Alves é taguatinguense, realizador de filmes e integrante do coletivo Faísca Cultural.

CULTURA

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Adonai Rocha

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tância, mas virá um outro, concreto, de cimento. A explosão vai destruir o muro. 6 – Vamos ver crescer o sentimento nativista do bra-siliense e participar de manifestações pela transfe-

rência da Capital. “Todos os eleitos vêm prá cá! / Mas nós já estamos aqui!”). Quando deixar de ser Capital em 2.166 nossa cidade se chamará Braxília (com “x” mesmo).

1 – Vamos virar uma metrópole. Ou já viramos? Brasília definitivamente deixa de ser uma idéia mo-dernista e se transforma em uma cidade orgânica. A humanização constante e progressiva da maquete. 2 – Vamos sair fortalecidos da crise polí-tica pela qual estamos passando. Vamos escolher melhor nossos representantes, vigiá-los mais de perto. O aperfeiçoa-mento da democracia. 3 – Vamos assistir ao secamento do Lago Paranoá. Por que? Porque só os ribeirões do Torto e Bananal (que nas-cem no Parque Nacional de Brasília) e os ribeirões do Gama e Cabeça de Veado (que nascem na Fazenda Água Limpa, da UnB, e no Jardim Botânico) tem garanti-da a sua vazão. Os outros cursos d’água que abastecem o Paranoá estão amea-çados pela expansão urbana e agrícola. Mas fique tranqüilo: uma canalização de água do Lago Corumbá não vai deixar que o Paranoá seque.4 – Vamos ver o deslocamento (que já começou) do eixo econômico do DF para Taguatinga, Águas Claras, Ceilândia e Samambaia, formando uma mega-cidade: Táguasceibaia. 5 – Vamos assistir a explosão da panela-de-pressão que é o entorno do DF. Por enquanto o muro é a dis-

CULTURA

Se vivo, Renato Russo completaria em 27 de março de 2010, 50 anos de vida. Todos enaltecem sua obra e pipocam homenagens mais do que merecidas. Eu mesmo dei umas 3 entrevistas para falar dessa data.

Só que aqui não quero fazer como todos e relembrar suas passagens e seu repertório. Quero falar de duas coisas que me vem logo à cabeça quando se fala em Renato Russo: personalidade e criatividade.

Personalidade e criatividade é o que há muito faz falta ao rock brasileiro e era o que sobrava na geração de Rena-to: Plebe Rude, Capital Inicial, Escola de Escândalo, Elite Sofisticada, Diaman-te Cor-de-Rosa, Titãs, Ira!, Barão Ver-melho, Paralamas, Camisa de Vênus, Engenheiros, Ultraje, Cólera.... Coloco todas essas bandas brasileiras para não ficar apenas na capital. Essas são só al-gumas, mas eu poderia continuar a lista com Smack, Mercenárias, De Falla, Sexo Explícito, Akira S... vai longe. Eram tempos em que ainda estavam por vir muitas novidades. A MTV (americana)

era uma delas. Renato Russo amava o que fazia. Era

roqueiro convicto. Conhecia e muito so-bre a história do rock de Fats Domino a Nirvana. Era daqueles que escutava disco com a capa e o encarte na mão, “estudando” cada nome escrito na ficha técnica, cada frase de cada letra. Sa-bia até quem tinha criado a capa e o motivo da posição de cada faixa no vi-nil. De cultura pop lia tudo o que estava em seu alcance: New Musical Express,

Rolling Stone, Geração Pop, Som Três, muitos livros e biografias.

Todo esse amor e toda essa informa-ção foram se acumulando até um dia ele explodir e falar: “vou formar minha

banda e viver de música”. Quando se sabe usar a informação que se obtém, um abraço, ninguém te segura. E foi isso que aconteceu com Renato Russo. Foi isso que aconteceu com sua gera-ção. Analise, por exemplo, toda obra lançada pelo Titãs nos anos 1980. Que coisa incrível! Analise a obra de Legião Urbana.

Quando todas as gravadoras costuma-vam lançar compactos para analisar se valia a pena um LP, Renato tanto bateu o pé que a Legião lançou LP sem com-pacto.

Era prazeroso ler ou ver uma entre-vista com ele. Sempre se aprendia algo. Os shows eram aventuras porque não se sabia o que podia acontecer. Vi shows da Legião desde que Renato ainda toca-va baixo e cantava, e eles nunca foram iguais. A forma de tocar, o repertório, os discursos entre as músicas, ele con-seguia deixar próxima à relação entre palco e público. A sensação era de que seu irmão, seu melhor amigo era quem estava ali cantando. Isso valia muito mais quando a banda era um quarteto.

Geração Renato RussoPAULO MARCHETTI

7 – Vamos assistir ao estrangulamento das reservas ambientais do DF e desistir de vez na implantação de corredores ecológicos entre

as áreas protegidas. Teremos três gran-des “ilhas”(Parque Nacional, Águas Emendadas e Complexo Jardim Botânico-UnB-IBGE ) mas sem contato entresi, levando à extinção de plantas e ani-mais, por falta de trocas genéticas. 8 – Vamos assistir ao bucólico fim da es-cala bucólica de Brasília. As áreas verdes tomadas por enormes estacionamentos e a vista para o Lago Paranoá obstruída por blocos de superquadras disfarçadas de apart-hoteis. SQL. 9 – Vamos assistir ao rodízio de carros, como se faz hoje em São Paulo. Medi-da paliativa. Será o começo do fim da cidade-autorama. 10 – Vamos ver iniciativas burocráticas e nada ousadas de tentar resolver o pro-blema da falta de um transporte públi-

co. Mais viadutos, mais pistas para os carros, mais carros. Gasolina no extintor de incêndio.

Nicolas Behr é poeta e ecologista

Depois da saída do Negrete, a Legião ao vivo, junto com a Legião de músicos de apoio, pra mim perdeu a graça, mas mesmo assim saíam bons shows.

Renato Russo era formador de opi-nião. Não era apenas um rosto boniti-nho, alias, muito pelo contrário. E essa sua personalidade e criatividade acaba-ram por conquistar muita gente além dos jovens amantes de rock brasileiro. Muitos pais, tios e avós acabaram tam-bém o admirando.

Suas canções de amor não são simples canções de amor. As músicas de protes-to são as melhores dessa geração. Seu texto tinha começo, meio e fim. Sabia como ninguém usar a língua portuguesa coloquial num rock completamente in-fluenciado pelos americanos e ingleses.

Não parei no tempo. Escuto coisas boas que surgiram nos anos 1990 e nos anos 2000, mas não é a mesma coisa. Aliás, sendo bem radical, não sei pensar em outro formador de opinião pós-RR que não seja Chico Science. Um nome em duas décadas.

Viva Renato Russo! Que surjam mais ídolos formadores de opinião e criati-vos.

Paulo Marchetti é diretor artístico, roteirista e pesquisador musical

www.rockbrasiliadesde64.blogspot.com

OUTROS CINQUENTANICOLAS BEHR

Fotografia com lata | José Rosa

“As músicas de protesto são as melhores dessa

geração. Seu texto tinha começo, meio e fim”

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miraculoso.com.br16

BRASÍLIA OUTROS 50INFORME PUBLICITÁRIO

A partir da meia-noite do dia 20 até o dia 25 de abril, no Complexo Cultural Funarte, a cidade recebe-rá 50 horas de arte e cultura. Tudo para celebrar o cinquentenário da capital de todos os brasileiros com diversidade cultural por meio do Brasília Outros 50 Anos. Organizado pelo Fórum de Cultura do DF, pa-trocinado pela Funarte, Ministérios da Cultura e do Turismo, o evento é dividido em música, samba, ar-tes plásticas, cultura popular, hip hop, circo e teatro, danças, cine-ma, artes plásticas e artesanato. Um dos coordenadores e membros da entidade responsável pelo even-to, o maestro Rênio Quintas, es-pera com grande expectativa pela comemoração do aniversário da ci-dade. Afinal, Quintas é um dos no-mes que também luta pela cultura local e sempre declara seu amor à cidade. “Não disputaremos públi-co com a festa que acontecerá na Esplanada dos Ministérios. Somos mais uma opção para quem pre-tende vir comemorar o aniversá-rio de Brasília”, afirma o maestro.

Federal - O assessor especial do Ministério da Cultura (Minc), um dos patrocinadores do evento, Fred Maia, diz que os artistas do Fórum de Cultura da cidade propuseram ao órgão apoio ao projeto. “E, o que nós pedimos na hora de selar a parceria é que, os territórios e as linguagens fossem contemplados. Brasília tem o Plano Piloto e as 30

outras regiões administrativas, com pouco acesso a cultura. Acredito que esse evento vai ser um exem-plo de ativismo cultural e de cida-dania. Uma tarefa que os artistas resolveram encarar, que irá com-provar na prática, que Brasília tem atividade e inteligência cultural. Para o Minc, é uma ótima oportuni-dade construir esse processo e fazer essa troca. É uma parceria que visa também uma continuidade, a partir dos grupos mapeados”, revelou..

A cadência do Samba - “Vamos misturar escola, choro, samba, pagode, será uma grande festa”, promete o coordenador da área de Samba do evento, Kaoka. En-tre as atrações confirmadas estão os grupos Amor Maior, Os Criollos, Dinho da Cor do Samba, e uma das musas do samba da capital, Rena-ta Jambeiro. “Será a verdadeira capital do samba”, finaliza Kaoka.

Hip Hop na área, tá ligado?- Para uma das coordenadoras da área de hip hop do evento, Jaqueline Fer-nandes, da Griô Produções, a fal-ta de política cultural nos últimos anos inviabilizou a vida de muitos artistas da cidade, sobretudo os das periferias. “A intenção é dizer: estamos aqui, continuamos muito vivos e vivas e nos empoderamos juntas e juntos para fazer a nossa própria celebração junto da so-ciedade e dos movimentos sociais

como um todo. Para a cultura hip hop, a festa tem uma importância impagável, por exemplo. Pela pri-meira vez este movimento, que representa a maior parte das vo-zes jovens das periferias, terá vez nas comemorações do aniversá-rio de Brasília como protagonista, com espaço e dignidade. Cinquenta atrações passarão pelo palco hip hop nos dias 21 e 22 de abril. Esse palco tem a mesma estrutura e condições técnicas que os demais, sem a velha história do palco prin-cipal. Um dos momentos muito es-perados é a oficina de capacitação para o Prêmio Cultura Hip Hop. O Ministério da Cultura lançou o edi-tal Prêmio Cultura Hip Hop, Edição Preto Ghoez, que premiará 135 iniciativas no país todo. A oficina será ministrada pelo Instituto Em-

preender com a presença do Secre-tário, Américo Córdula, do Minc.

Prazer de pintura - Brasília é ao mesmo tempo, tela e personagem, e inspira a artistas plásticos das mais variados escolas e estilos. E eles também participarão do Brasí-lia Outros 50 anos. Para tanto será realizada uma reunião dos artistas pintores de Brasília para celebrar os 50 anos da cidade fora do circui-to oficial: a mostra Brasília Prazer de Pintura, na Galeria Fayga Ostro-

wer da Funarte / MinC, aberta dia 20 de abril, às 20h. O curador da mostra, Bené Fonteles, explica que “ pelo seu espaço amplo de cerrado e sob um céu quase mar, em meio as suas águas ainda cristalinas, a cidade modernista posta a toda prova nesta bela solitude do pla-nalto central, Brasília foi, e é, fon-te e suporte de inspiração pictórica para os artistas que aqui chegaram entre o quase nada dos anos 50 e 60: Athos Bulcão, Rubem Valentim, Glênio Bianchetti, Douglas Mar-ques de Sá, Lêda Watson, Babinski e muitos outros pioneiros/candan-gos”, explica. Uma lista respeitável de artistas da cidade abrilhantará o evento. O curador da mostra afirma que Brasília tem algo a mais. “Para-fraseando Tom Jobim, um dos pri-meiros que aqui veio e criou músi-ca para a cidade nascente: Brasília não é para principiantes”, finaliza.

Seminários - Diversos seminários, intitulados diálogos, discutirão a produção cultural local, coorde-nados pela musicista e professora de música da UnB, Beatriz Salles.

Música nacional – Artistas que tem uma ligação forte com a cidade como Sandra de Sá, Paulinho Pedra Azul, Frejat, Falcão (de O Rappa), Marcelo Yuka, além das bandas bra-silienses Móveis Coloniais de Acaju, Alexandre (Natiruts) e Marceleza (Maskavo) também marcarão pre-sença e apresentarão os grandes sucessos que embalam platéias de todo o país. “Brasília Outros 50 anos mostra como os artistas de Brasília querem ser tratados nos próximos 50 anos, com espaço, res-peito e qualidade. As pessoas que passarem por lá vão ouvir DJ’s, MPB, samba, rock, blues, hip hop. Serão 50 horas de música com todo mundo tocando e se divertindo”, finaliza Rênio Quintas, que coor-dena a área de música do evento.

“Brasília Outros 50 anos mostra como os artistas de Brasília querem ser tratados nos próximos 50 anos, com espaço,

respeito e qualidade. As pessoas que passarem por lá vão ouvir DJ’s,

MPB, samba, rock, blues, hip hop”

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Você sabia que existem inúmeras se-melhanças entre Brasília e uma antiga capital do Egito, chamada “Akhenaton”, que existiu há mais de 3500 anos? Por que será que mesmo existindo muitas vo-zes mostrando essa realidade, esse fato ainda é muito pouco conhecido?

Vejamos uma das vozes mais contun-dentes que analisa esse fato e com a qual este artigo dialoga, é o livro “Brasí-lia Secreta – Enigma do Antigo Egito” (de Iara Kern e Ernani Figueiras Pimentel, Editora Pórtico), baseado em uma tese acadêmica da autora, com o título “De Akhenaton a J.K. – Das pirâmides a Bra-sília”. No livro citado, aparece a idéia de que as semelhanças existentes en-tre Brasília e Akhenaton são tão fortes e explícitas que não podem ser apenas “coincidências”. Vejamos algumas das principais delas:

O lugar escolhido para a construção de Akhenaton foi o centro geográfico do Egito. Assim como Brasília. A cidade egípcia foi totalmente planejada e di-vidida em setores. Brasília também! A capital do Egito na época foi idealizada para ser a capital administrativa e reli-giosa do Egito. Brasília, para ser a capi-tal administrativa e política do Brasil!! Akhenaton representou um marco im-portante na engenharia e arquitetura da época, por ter sido construída em menos de quatro anos. Até então, os faraós le-vavam em média de 50 a 60 anos para construir uma única pirâmide, ao pas-so que o faraó Akhenaton (isso mesmo, a cidade egípcia levava o nome do seu fundador – ainda bem que Brasília não se chama JK!) conseguiu construir toda uma cidade em menos de 4 anos. A cida-de de Brasília, com inúmeros edifícios, foi construída em menos de 4 anos (por mais incrível que pareça, o novo prédio da Câmara Legislativa do DF levou o do-bro desse tempo para ser entregue...)!!! O formato da cidade egípcia corresponde a de um pássaro com suas asas levemen-te curvadas apontando para o norte e o sul, sugerindo uma grande ave voando em direção leste e a envergadura das

asas da cidade era de 16 quilômetros. Meu Deus, até isso...?!?! Calma, o melhor está por vir: devido ao intenso calor e baixa umidade do ar, no local foi constru-ído o lago Moeris, primeiro lago artificial do mundo, que banhava a cidade faraô-nica!!! Muitos de seus prédios, em forma de pirâmide, possuíam entradas por um corredor escuro no subsolo, através das quais se chegava a uma grande nave ilu-minada por uma luz solar intensa. Isso é justamente o que ocorre no Templo da Boa Vontade e na Catedral Metropolita-na de Brasília, que só para registrar, em seu projeto original tinha todos os vidros da estrutura transparentes, tendo sido substituídos por azuis posteriormente. Todos os edifícios em Akhenaton eram baixos e havia muito espaço entre eles para que a luz do sol iluminasse toda a cidade.

Além disso tudo, de maneira geral, inúmeras construções de Brasília reme-tem à simbologia e ao misticismo egíp-cio e a uma das formas geométricas mais utilizadas pelos egípcios em suas edifi-cações: o triângulo ou pirâmide. Como exemplos mais marcantes temos o Teatro Nacional, com suas 78 espécies de for-mas piramidais egípcias, a depender do ponto em que se observa, sendo esse o maior monumento piramidal de Brasília, comparado à pirâmide de Kéops; e o pré-dio da sede da CEB (Central Energética de Brasília), na 601 Norte, que possui uma forma piramidal escalonada muito semelhante à pirâmide de Sakara, que também possui degraus e vértice trunca-do (ou seja, sem ponta), e que, em Akhe-naton, era responsável pelo controle da energia cósmica e vital do antigo Egito, enquanto que a CEB é a responsável pelo controle da energia elétrica (e atual-mente vital para nós!) de Brasília, com o detalhe de que ambas têm exatamente a mesma altura: 61 metros!!!!!

E não podemos esquecer que muitas outras construções em forma de pirâmi-de, ou de pirâmide estilizada se desta-cam na arquitetura brasiliense, como a sede da Ordem Rosa Cruz, a do Grande

Oriente do Brasil, a Igreja Messiânica, a Igreja Rainha da Paz, a Torre de TV, a Ermida Dom Bosco e o próprio Memorial JK, dentre outras.

Outras “coincidências” com a simbo-logia e o tarô egípcios e a cabala hebrai-ca dizem respeito à farta utilização de triângulos de vértices opostos nos edifí-cios da nossa capital, como na Catedral Metropolitana e nas colunas do Palácio da Alvorada, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Aliáis, a própria disposição dos três poderes na Praça dos Três Poderes também forma um triângulo, assim como ocorre entre o Centro de Convenções, o Palácio do Buriti e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Também a Rodovi-ária se enquadra nessa simbologia: vista do alto, tem a forma de um “H” deitado que se repete em três níveis (subsolo, térreo e primeiro andar), representan-do o homem mortal em seus três planos psíquicos: o ID, o Ego e o Superego. Ten-do como par o Congresso Nacional, em forma de “H” em pé, representando o homem imortal, espiritual e que possui duas conchas, a côncava e a convexa, que tem a finalidade de captar energia cósmica e telúrica, respectivamente.

Outro paralelo interessante é o que pode ser traçado entre Juscelino Kubits-chek, presidente brasileiro responsável pela construção de Brasília, e o faraó Akhenaton, que construiu a cidade egíp-cia que levou seu nome: ambos não ti-veram filhos varões e conseguiram a fa-çanha considerada por muitos impossível de construir toda uma cidade em menos

de 4 anos. Como o faraó, Juscelino tam-bém construiu a nossa capital em menos de 4 anos, e morreu tragicamente 16 anos após a conclusão da obra (em um acidente misterioso na via Dutra, próxi-mo a Resende/RJ), da mesma forma que Akhenaton, que morreu de forma tam-bém misteriosa e trágica dezesseis anos após construir a cidade que levava seu nome.

Assim, daqui por diante, quando pas-searmos por Brasília e pensarmos na sua história, não nos esqueçamos destes fa-tos, pois mesmo sendo tão evidentes, parece não haver interesse em que eles sejam divulgados. Por que será?

E só para aguçar ainda mais a curiosi-dade, não esqueçamos que o dia 21 de abril é o único dia do ano em que o sol nasce exatamente alinhado entre os dois prédios do Congresso Nacional e também o único dia em que a luz do sol entra no Mausoléu do Memorial JK. Confira, é bem no aniversário da cidade. Mas... Por que nessa data? Brasília não poderia ter sido inaugurada no dia 22, ou talvez no dia 20? Claro que poderia, mas será que essa data não foi escolhida justamente por ser uma data super importante para a maçonaria...?

Bom, mas isso já é assunto para mira-culações futuras...

Aguardem!

Para ir mais longe, acesse www.miracu-loso.com.br

*Andrés Sugasti é formado em Letras espanhol/português pela UnB e morador

de Brasília há mais de 20 anos.

Brasília e o Misticismo EgípcioCURIOSIDADES MIRACULOSASCURIOSIDADE MIRACULOSA

17miraculoso.com.br

Teatro Nacional - Andrés Sugasti

ANDRÉS SUGASTI

Sede da CEB - Andrés Sugasti Templo da LBV - www.tbv.com.br

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educacional. Começou a sur-gir ali um novo conceito de escola pública. Nomes como escola-classe, escola-par-que, centro de ensino subs-tituíram a simples denomi-nação de escola, mas o mais importante era o conceito que sustentava essa inova-ção: a educação em tempo integral. Na escola-classe o aluno estudava as discipli-

nas curriculares. No contra-turno, na escola-parque, o aluno participava de oficinas de arte, teatro, praticava esportes, enfim, exercitava o seu lado criativo e lúdico, essencial para a formação de um cidadão integral. A escola-classe e a escola-

miraculoso.com.br18

“Numa democracia, ne-nhuma obra supera a de educação. Haverá, talvez, outras aparentemente mais urgentes ou imediatas, mas estas mesmas pressupõem, se estivermos numa demo-cracia, a educação. Todas as demais funções do es-tado democrático pressu-põem a educação. Somen-te esta não é conseqüência da democracia, mas a sua base, o seu fundamento, a condição mesmo para a sua existência.” (Anísio Teixei-ra)

Muita gente não sabe, mas enquanto os operários construíam Brasília, er-guendo com seu trabalho uma cidade modernista no meio do planalto central do país, intelectuais do porte de Anísio Teixeira, também eram convocados a pensar um plano de educação ino-vador para nova capital.Essa incumbência lhe foi dada em 1957 por outro grande nome da história de Brasília, o médico Ernesto Silva, que chefiava o De-partamento de Educação.

A ideia era tornar a cida-de uma referência na área

parque ainda sobrevive não exatamente como idealiza-das no Plano Piloto, mas ain-da é uma realidade distante das cidades-satélites.

É realmente desanimador ver em que estado está a educação no DF.A qualifica-ção dos professores é uma das maiores do país, a maior parte tem curso superior e muitos mestrado e doutora-

do, mas as condições para o exercício da profissão não são as ideais. A gestão da Educação há muito desres-peita a democracia e a parti-cipação de todos na constru-ção do projeto pedagógico de cada escola.

O Sindicato dos Professo-

res, muito antes de estourar o escândalo da Caixa de Pan-dora, já denunciava a cons-tante dispensa de licitação para aquisição de equipa-mentos e serviços pela Secre-taria de Educação. A entida-de denunciou por exemplo, a compra de assinaturas do Correio Braziliense para as escolas, o contrato milioná-rio com a Fundação Sangari para implantação do projeto chamado Ciência em Foco. Projetos feitos de cima para baixo, sem conversa com os educadores, e até o momen-to sem resultados mensurá-veis.

No entendimento do Sin-dicato dos Professores, para resgatar a ideia de Anísio Teixeira, de uma educação pública de qualidade e aces-sível a todos, é preciso lutar pela transparência na ges-tão da Educação, garantir a gestão democrática e a par-ticipação de todos os atores na discussão da educação que se quer para Brasília nos próximos 50 anos. E aí sim, resgatar a essência da utopia de tornar nossa cidade uma referência na Educação.

Brasília e a educação, 50 anos depois

INFORME PUBLICITÁRIO

“...para resgatar a ideia de Anísio Teixeira, de uma edu-cação pública de qualidade e acessível a todos, é preciso lutar pela transparência na

gestão da Educação”

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Fotografias Gigapan | Adonai Rocha | www.brasilias.com.br

MÚSICABRASILEIRAMENTEDia 14/04, às 21h.Sala Martins Pena do Teatro Nacio-nal Cláudio Santoro. Entrada fran-ca.

TEATROA hORA E A VEz DE AUGUSTO MA-TRAGADia 16 e 17 de abril, às 21h.Dia 18 de abril, às 20h.Sala Martins Pena do Teatro Nacio-nal.

DANÇA“SEMANA D”De 21 a 29 de abril no Teatro Na-cional, com entrada franca.

CINEMAENQUANTO O SOL NÃO VEMAté 19 de abril, às 19h. Comédia. Francês. 12 Anos.PARISAté 19 de abril, às 21h e de 21 a 30 de abril, às 19h. Drama. Francês. 12 anos.PROjETO MOVIOLA20 de abril, às 19h, no Cine Brasí-lia, EQS 106/107 Sul.

EXPOSIÇÕESSEMICÍRCULOMuseu Nacional do Conjunto Cultu-ral da República.Até 26 de abril, das 9h às 18h30. REFLEXOS DA CAPITALExposição de Hosana Bezerra, no Espaço Cultural do Aeroporto. Até 15 de abril.EXPOSIÇÃO D’OSGEMEOS VERTI-GEMAté 16 de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil, das 9h às 21h.

ALTERNATIVA CULTURAL Espaço dos Leitores - 1ª edição - março 2010EXPOSIÇÃO DE ARTE AFRICANAFundação Cultural Palmares – Se-tor Bancário Sul – Ed. Elcy Meire-les – até 29 de abril, exposição de Acácio Videira. CASA hISTóRICA DE PLANALTINAAté 13 de junho, no Museu Históri-co e Artístico de Planaltina. Praça Salviano Guimarães, Quadra 55, Planaltina. Dias e horário de visitação: todos os dias da semana, das 9h às 17h.

EVENTOSMOSTRA CARAVANA SEU ESTRELO17 de abril - Sede do grupo Seu Es-trelo (813 sul)17h – Roda de Prosa20h – Apresentação do Seu Estrelo e o Fuá do TerreiroBIBLIOTECA DEMONSTRATIVA CO-MEMORA O MêS DO LIVROAv. W3 Sul EQ 506/507Dias 14, 15 e 16 de abril.

OFICINASCONTATO IMPROVISAÇÃO: DISSE-MINAÇÃO COM TATO18 de abril, realização da ofici-na Contato Improvisação (Contact Jam), com Fernanda Carvalho Lei-te (Porto Alegre), Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul, das 15h às 18h.25 de abril, realização da ofici-na Contato Improvisação, com Terry Agerkop/Camillo Vacalebre (Brasília) na Sala Multiuso do Espa-ço Cultural Renato Russo 508 Sul, das 15h às 18h.

Agenda completa da Alternativa Cultural no portal www.miraculo-so.com.br

“Utopia. Ella está en el horizonte. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. ¿Para qué sirve la utopía? Para eso sirve: para caminar” - Eduardo Galeano

19miraculoso.com.br

Parabéns: que venha a luz e trevas...03 de abril de 2010

Prezados do Miraculoso (Diogo, Paloma, Maíra, Fernando, Victor, Solano, Andrés).

Parabéns pela inciativa, logo cedo ganhei um exemplar e fiquei muito feliz com a pro-posta de vcs. Sucesso, e vou ser um que vai divulgar com muito empenho.

José Hélio Guilherme da Silva

*24 de março de 2010

Olá, meu nome é Juliana, sou estudante de Comunicação no UniCEUB. Estou escre-vendo para elogiar o jornal de vocês, gostei bastante do formato, das matérias e, princi-palmente, da proposta.

Juliana

Das profundezas e das trevas24 de março de 2010

Meu Deus! levei um susto grande com a palavra MIRACULOSO – que diabo é isso – parece-me um jornal, coisa feia, afrontosa, mal gosto, cruel, anti-prazeroso. Tenho 45 anos de profissão e nunca vi título tão esca-broso e deprimente. Millor Fernandes dizia que todo jornal ruim não passa de quinta edição, pois, a próxima é a cesta.

E o que mais me irritou é a equipe de editoração, sinceramente, não dar para acreditar que essa turma seja de fato gaba-ritada. Outra coisa o jornal não tem diagra-mação, não tem formação e nenhum artifí-cio gráfico.

Eta jornalzinho ruim da porra, é feio do princípio ao fim

Cícinho Filisteu

Coordenador Executivo e Editor Político: Diogo Ramalho

Redatoras Chefe:Paloma Amorim Maíra Marins

Coordenador de Arte e Diagramação: Fernando Aquino

Revisor: Andrés Sugasti

Colaboradores:Victor NunnesSolano TeodoroApoio:Jardel Santana

Publique n’O [email protected] n’O [email protected]

Tiragem: 50.000 exemplaresCNPJ: 04811 396/0001-08Caixa Postal 743 agência de cor-reios do Lago NorteCEP: 71510-000

EXPEDIENTE Pontos de DistribuiçãoCULT - 107 N, 204-210-215 SDom Bosco - 307 NSebinho - 406 NDCE Bar - 406 NOscarito - 406Livraria técnica - 102 SUnBUniCEUBFaculdade AlvoradaUniEuroUCBIESBRodoviáriaALUBCEAMsBiblioteca NacionalMinistériosCongresso Nacional

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Céu de candango é ilhacéu de candango é atocéu de candango é milhacéu de candango é matocéu de candango é chatoCéu de candango é trilhacéu de candango é tratocéu de candango é filhacéu de candango é fatocéu de candango é natoCéu de candango é secacéu de candango é boatocéu de candango é eitacéu de candango é jatocéu de candango é pratoCéu de candango é estradacéu de candango é fartocéu de candango é esplanadacéu de candango é partocéu de candango é ingratocandango tem céu de tesourinhaCéu de candango é céucéu de candango é retocéu de candango é véucéu de candango é tetocéu de candango é abrilcéu de candango é cerradocéu de candango é anilcéu de candango é quadradocéu de candango é pisadoCéu de candango é samba

céu de candango é eixãocéu de candango é bombacéu de candango é aviãocéu de candango é peãoCandango tem céu de tropeirocandango tem céu de nordestecandango tem céu de mineirocandango tem céu de oestecéu de candango é vesteCéu de candango é nortecéu de candango é sudestecéu de candango é sortecéu de candango é centro-oestecéu de candango é agresteCéu de candango é rêscéu de candango é boiscéu de candango é W3céu de candango é L2candango tem céu de maiscandango tem céu de menoscandango tem céu de levacandango tem céu de trásCéu de candango é Ceilândiacéu de candango é Varjãocéu de candango é Brazlândiacéu de candango é São Sebastiãocandango tem céu de mapacandango tem céu de feiracandango tem céu de atacandango tem céu de beiracéu de candango é cachoeiraCéu de candango é lucrocéu de candango é torrecéu de candango é trucocéu de candango é correcéu de candango é porre

céu de candango é mitocéu de candango é abertocéu de candango é arcéu de candango é desertocéu de candango é barcéu de candango é marcandango tem céu de SQNcéu de candango é coragemcandango tem céu de QNScéu de candango é linguagemcéu de candango é vargemCéu de candango é margemcéu de candango é satélitecéu de candango é vantagemcéu de candango é estressecéu de candango é maioneseCéu de candango é gostosocéu de candango é pagãocéu de candango é miraculoso

céu de candango é sertãocéu de candango é coraçãocéu de candango é aquáriocéu de candango é Paranácéu de candango é hiláriocéu de candango é Amapácéu de candango é CearáCéu de candango é Gerais

Mestre-de-obras do céu ou Cacaso candangocéu de candango é Bahiacéu de candango é GoiásCéu de candango é Mariacéu de candango é Brasília.

(Fernando Aquino)