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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO LABORATÓRIO DE INVESTIGAÇÕES BAKHTINIANAS RELACIONADAS À

CULTURA E INFORMAÇÃO - LIBRE-CI

Recife e Olinda, 05 à 09 de novembro de 2016

Copyright © dos autores

Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida ou arquivada, desde que levados em conta os direitos dos autores.

Laboratório de Investigações Bakhtinianas Relacionadas à Cultura e Informação LIBRE-CI

VI CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana: literatura, cidade e cultura popular. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. 1343 p.

ISBN 978-85-7993-361-5

1. Bakhtin. 2. Rodas de Conversa Bakhtiniana. 3. Literatura. 4. Cidade. 5. Cultura Popular. 6. Organizador. 7. Autores. I. Título.

CDD 410

Capa e Diagramação: Hélio Pajeú

Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito.

Conselho Científico

Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil); Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil); Rogério Drago (UFES/Brasil).

www.pedroejoaoeditores.com.br Rua Tadão Kamikado, 296

Parque Belvedere – São Carlos – SP CEP: 13568-878

2016

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Prof. Dr. Alexandre Costa (UFG) Prof. Dr. Augusto Ponzio (UB, Itália) Prof. Dr. Clécio Buzen (UFPE) Prof. Dr. Geraldo Tadeu de Souza (UFSCar) Prof. Dr. Guilherme do Val Toledo Prado (UNICAMP) Prof. Dr. Hélio Pajeú (UFPE) Prof. Dr. João Vianney Cavalcanti Nuto (UNB) Prof. Dr. João Wanderley Geraldi (UNICAMP) Prof. Dr. José Cezinaldo Rocha Bessa (UERN) Prof. Dr. José Kuiava (UNIOESTE) Prof. Dr. Luciano Novaes Vidon (UFES) Prof. Dr. Moacir Lopes de Camargos (UNIPAMPA) Prof. Dr. Ricardo Scherma (UFFS) Prof. Dr. Valdemir Miotello (UFSCar) Profa. Dra. Adriane Melo De Castro Menezes (UFRR) Profa. Dra. Aline Manfrim (UNIFRAN) Profa. Dra. Ana Beatriz Dias (UFFS) Profa. Dra. Camila Caracelli Scherma (UFFS) Profa. Dra. Celly de Brito Lima (UFPE) Profa. Dra. Geyza Rosa Oliveria Novais Vidon (UFES) Profa. Dra. Inez Helena Muniz Garcia (UFF) Profa. Dra. Liana Arrais Serodio (UNICAMP) Profa. Dra. Luciane de Paula (UNESP) Profa. Dra. Maria Bernadete Fernandes de Oliveira (UFRN) Profa. Dra. Maria da Penha Casado Alve (UFRN) Profa. Dra. Maria Isabel de Moura (UFSCar) Profa. Dra. Maria Tereza de Assunção Freitas (UFJF) Profa. Dra. Marisol Barenco de Mello (UFF) Profa. Dra. Nanci Moreira Branco (UFSCar) Profa. Dra. Nara Caetano Rodrigues (UFSC) Profa. Dra. Rosa Maria de Souza Brasil (UFPA) Profa. Dra. Rosana Novaes (UNICAMP) Profa. Dra. Rosangela Ferreira de Carvalho Borges (UFSCar) Profa. Dra. Susan Petrilli (UB, Itália)

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Ana Rosa da Silva Beatriz Santana Carlos Fillipe Lins de Araujo Celly de Brito Lima David Oliveira Edilene Vieira Battistella Elinildo Marinho de Lima Elton Carlos do Nascimento Filipe Roberto Souza de Farias Georgia Lira Geovani Sales de Oliveira Hélio Márcio Pajeú Isis Trindade Istênio Gomes de Albuquerque Ribeiro Joice Dias Costa Manoela Antunes Chagas de Souza Marcycleis Maria Cavalcanti Naara Oliveira Góes Rinaldo Ribeiro de Melo Sandra Rafaela Batista da Silva Sheilane Karla Martins De Oliveira Werleson Alexandre de Lima Santos

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Caros amigos de Bakhtin, nossos amigos,

CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana teve sua primeira edição em novembro de 2008 e surgiu com intento de comemorar o aniversário de nascimento de Mikhail Bakhtin e para discutir os

postulados desenvolvidos pelo Círculo, seus temas, suas filosofias, suas teorias, suas preocupações, trazendo à baila a atualidade dos Estudos Bakhtinianos no Brasil. O conceito inicial foi arquitetar um evento diferente, que se fundamentasse, sobretudo, na dialogia bakhtiniana, que estabelece um modo do fazer acadêmico menos hierárquico, no que diz respeito às relações de poder entre aqueles que “detêm” o conhecimento e aqueles que querem “adquiri-lo”, propondo a construção do conhecimento científico como re-construção, como colaboração, produzido em diálogo, em rodas de conversa, e que essas conversas fossem bakhtinianas, no sentido de haver tanto respeito ao ato de escutar (se “ex-por” ao outro que fala) como ao ato de falar.

Esse evento é fruto de uma vontade do Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso (GEGe/UFSCar) de promover um encontro cuja atividade principal fosse o ato de conversar. Por isso, a ideia da sua arquitetônica em Rodas de Conversa em que a hierarquia não predomine, para que todos os seus participantes – de áreas e níveis de formação diversos – exerçam seu ato de fala e de escuta se constituindo como conversadores.

Ao longo desses anos, em todas as edições foi-se formando um grupo de sujeitos que vêm de diferentes partes do Brasil, e até de outros países, para dizerem as suas palavras e para se colocarem à escuta das outras vozes que, nas rodas, dialogam com Bakhtin e com o Círculo. O intento de colocar a palavra para circular foi se fortalecendo ao longo dos anos em que o CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana aconteceu e a partir de 2011, além desse evento, o Encontro de Estudos Bakhtinianos (EEBA), criado também pelo GEGe, entrou em jogo para circular entre as diferentes universidades do país, possibilitando que o CÍRCULO se constituísse desde então bianual. Atualmente, esses dois eventos vão se revezando em diferentes cidades do Brasil, alargando as distintas possibilidades de diálogo para aqueles que querem dizer sua palavra com Bakhtin.

Em 2016 o VII Círculo – Rodas de Conversa Bakhtiniana começou a circular pelo Brasil, saindo do aconchego de São Carlos para aportar nas terras quentes de Pernambuco, nas cidades de Recife e Olinda, no período de 05 a 09 de novembro, sediado no Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Essa edição, carinhosamente, organizada pelo Laboratório de

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Investigações Bakhtinianas Relacionadas à Cultura e Informação (LIBRE-CI/DCI/UFPE) em parceria com o Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso (GEGe/DL/UFSCar) teve como tema centrala: LITERATURA, CIDADE E CULTURA POPULAR, esmiuçado nas Arenas Dialógicas e nas Rodas de Conversa nos seguintes eixos:

1. A literatura na estética do cotidiano (ARENA); 2. O orbe estético como materialização da ética (RODA); 3. A cidade como lugar de constituição de atos dialógicos (ARENA); 4. Os espaços públicos na produção de sentidos e lutas ideológicas (RODA); 5. As festas populares de renovação da vida (RODA); e 6. A cultura popular singularizada na concretude do existir (ARENA)

A escolha da temática se deu mediante ao contexto local em que ele será

organizado, isto é, em duas cidades que se constituem dialógicas na salvaguarda das suas manifestações literárias e da cultura popular. O objetivo geral é convidar especialistas nas temáticas, mesmo que não se constituam estudiosos de Bakhtin, para discutir com os participantes (que têm um ótima leitura dos pensamentos desse filósofo) em 5 Arenas Dialógicas e 3 Rodas de Conversa (total de 18 Rodas). Nesse ano como se pode ver, o número de grandes arenas foi aumentado. Ainda nessa edição, teremos uma Roda de Trabalho que encerrará as atividades do evento para discussão e proposição de um Programa de Pós-Graduação Interinstitucional de Estudos Bakhtinianos (PPGIEBA).

Em 2016, o aspecto inovador em relação ao demais anos, é que será promovido no seio do evento o I LITERO-RODAS, um concurso literário no qual os participantes poderão dar asas aos seus devaneios literários e materializá-los em forma de poesias, contos e crônicas. Cada conversador pôde se inscrever com um texto em uma das categorias e todos, de modo dialógico, foram jurados por meio de uma votação popular que aconteceu de junho a setembro de 2015 no site do evento. Os foram publicados em um belo livro de literatura patrocinado pela Pedro & João Editores.

Outra grande mudança é que o evento que, tradicionalmente, acontecia aos finais de semana, neste ano terá sua abertura na tarde de segunda-feira, dia 07, e se encerrará no final da tarde de quarta-feira, dia 09. Já que será sediado em duas cidades turísticas, haverá dois passeios, no final de semana que antecede sua abertura: um a Porto de Galinhas para os conversadores que já estiverem pela região irem esquentando as conversas em um ambiente de lazer; e outro ao Sítio Histórico de Olinda, para apresentar um pouco da história, da beleza e das lutas da mais antiga cidade brasileira tombada como patrimônio histórico da humanidade.

As inscrições online para o evento, como de costume, aconteceram das 08h00 da manhã do dia 07/09/2016 às 23h59 do dia 10/09/2016 e tivemos 200 inscritos de

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todas as regiões do país entre alunos de graduação, alunos de pós-graducação e profissionais que estarão conversando e interagindo nesse período.

Sobre o formato do evento, tanto o GEGe, quanto o LIBRE-CI, bem como todos os seus participantes das Rodas em todas as suas edições anteriores, entendem que, por ser o primeiro evento neste formato, garantiu-se, desde o início, uma maturidade de conversas que contribuíram significativamente para o aprofundamento das discussões nos mais variados estudos bakhtinianos, em que conceitos e reflexões consolidadas – como se espera de quem estuda o pensador há vários anos, sob o viés de suas especificidades – entraram em choque ou consonância para fomentar novos rumos para o pensamento bakhtiniano no país. O CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana propõe um evento em que o pensamento científico se constrói de modo dialógico, e que de suas conversas resultem as reflexões mais acabadas que aparecerão materializadas em dissertações, teses, artigos e livros com maior densidade e profundidade.

A qualidade de nossas reflexões sempre foi arquitetada pelo coletivo, no acabamento dialógico, recheado pelas muitas vozes de todos os conversadores presentes. As várias vozes, competentes, são sempre bem-vindas e todos os que vêm ao CÍRCULO, vêm para conversar. O aparente “improviso” da conversa, como método de trabalho, esconde temas bem organizados, falas preparadas, leituras ricas e extensas da obra bakhtiniana e pesquisas desenvolvidas pelos participantes ano a ano. Assim, esperamos encontrar todos os amigos bakhtinianos para arquitetar ótimas conversas em 2016.

Sejam tod@s bem vind@s à Pernambuco.

Hélio Pajeú Laboratório de Investigações Bakhtinianas

Relacionadas à Cultura e Informação (LIBRE-CI/DCI/UFPE)L

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VISOGRAFIA: uma proposta de grafia para as línguas de sinais

Claudio Alves BENASSI41 Anderson Simão DUARTE42

Sebastiana Almeida SOUZA43 Simone de Jesus PADILHA44

RESUMO

Este texto tem como objetivo apresentar uma proposta de um novo sistema de Escrita da Língua de Sinais (ELS) criado pelo professor Claudio Alves Benassi da Universidade Federal de Mato Grosso. O sistema está sendo chamado de Visografia e se constitui de um conjunto de grafemas usados para representar os visemas (fonemas) das Línguas de Sinais (LS). A constituição da Visografia está baseada nos sistemas de ELS Sign Writing e Escrita das Línguas de Sinais (ELiS) e é norteada pela Alteridade com os sujeitos visuais e sua frágil relação com a escrita da Língua Portuguesa (LP) sua Segunda Língua (L2). Outro conceito que aparece no processo de constituição dessa ELS é o de Exotopia e Plurivocidade. Por meio da escrita de sinais, pequenos textos e pela leitura de sinais por profissionais da Libras que não conhecem ou tiveram uma pequena iniciação a ELS, a viabilidade dessa ELS está sendo testada. Os resultados apontam que o sistema está pronto para ser aplicado no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Visografia. Escrita da língua de sinais. Libras.

41 Mestre em Estudos Interdisciplinares de Cultura Contemporânea. Departamento de Letras. Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá. E-mail: [email protected] 42 Doutor em Educação. Departamento de Letras. Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected] 43 Mestre em Estudos de Linguagens. Departamento de Letras. Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected] 44 Doutora em Linguística aplicada. Departamento de Letras. Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

ELS apesar de sua notória importância na alfabetização dos visuais45 (surdos) de acordo com os estudos de Stumpf (2011), Barreto e Barreto (2012) e Barros (2015), ainda não está presente na alfabetização e na vida

acadêmica dos mesmos. Benassi, Duarte e Padilha (2016) afirma que no curso de graduação em Letras-libras – Licenciatura da Universidade Federal de Mato Grosso, de 2014 (início do curso), até o momento, nenhum dos ingressantes possuíam conhecimentos satisfatório da ELS ou mesmo sabia ler e escrever sinais da Libras.

Esse problema é decorrente da falta de conhecimentos dos profissionais da Libras que atuam junto ao visual em seu processo de ensino-aprendizagem. Segundo Benassi e Duarte,

Nos primeiros anos de vida, o ser humano “adquire” a linguagem. O ouvinte, a oral, e o surdo, a língua de sinais. No momento da estruturação dessa linguagem, abre-se uma grande lacuna na aprendizagem do surdo. Isso porque o ouvinte aprende a falar e se comunica por meio da fala e, posteriormente, aprende a escrita dessa língua; o surdo, no entanto, sinaliza e se expressa por meio da língua de sinais, mas aprende a escrita da língua oralizada (BENASSI; DUARTE, 2014, p. 93).

Esse processo de alfabetização se reflete ao longo da vida do visual, uma vez que o mesmo, forma em seu desenvolvimento cognitivo inúmeras lacunas que segundo Stumpf (2011), dificilmente será preenchida. Segundo Stumpf (2009) e Barreto e Barreto (2012) a ELS contribui para o desenvolvimento pleno do sujeito visual e também, auxilia-o na aquisição da Língua Oral (LO) escrita.

Ainda, segundo Barreto e Barreto (2012, p. 49), a ELS permite que visual escreva com fluência, distanciando-se da limitação imposta pela escrita da L2 (língua que pouco compreende) e também colabora para o aumento do status social da LS quando o sujeito visual mostra que tem uma escrita própria.

Assim, conforme os pensamentos bakhtinianos “A situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e, por assim dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da enunciação” . (BAKHTIN, 2010, p. 117 [1929])

Existem muitos sistemas de ELS no mundo. O primeiro foi desenvolvido pelo educador francês Roch-Ambroise Aguste Bébian (1739-1839). Bébian acreditava que uma ELS contribuiria para o desenvolvimento cognitivo do visual. Desenvolveu a Écrire les signes ou notação Mimographie (BENASSI, 2016, p. 25); (STUMPF, 2011).

45 Termo conceitual, em substituição ao termo SURDO, delineado pelo pesquisador Anderson Simão Duarte (UFMT), para designar a pessoa que emite e capta mensagens linguísticas por meio do canal visual, levando em consideração que não se separa o sujeito da língua que o constitui ideologicamente. Assim sendo, o ouvinte é caracterizado pela língua oral/auditiva e o visual pela língua espaço/visual e não pela ausência da audição (DUARTE; BENASSI; PADILHA, 2016).

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Conforme afirmam Barreto e Barreto (2012), posteriormente, outros sistemas de ELS foram desenvolvimento.

Figura 01. A esquerda: Bébian; ao centro: grafia das Configurações de Mão (CM) e; a direita: capa do livro Écrire

les signes (Marc Renard).

Fonte: Disponível em http://www.usm67.fr/sourds-historiques.html. Consulta em 19 de set. 2014.

No Brasil são correntes três sistemas de ELS. O Sign Writing (SW),

desenvolvido pela bailarina Valerie Sutton em 1974, baseado na escrita da dança – Dancing Writing; a Escrita das línguas de sinais (ELiS), desenvolvida em 1998 pela professora Mariângela Estelita Barros (UFG)46 ambos não aceitos pela comunidade visual e que motivaram a criação da Visografia. O Sistema de escrita de língua de sinais (SEL) desenvolvida em 2011 pela professora Adriana Lessa-de-Oliveira (UESB)47.

Figura 02. Sinal VER escritos pelo SW, ELiS, SEL e Visografia, respectivamente

Fonte: acervo particular do autor

1. O PROBLEMA DA ELS E A MOTIVAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DE UM NOVO SISTEMA

A sala de aula no curso de Letras-libras – Licenciatura é um espaço que se

constitui como uma arena de poder. Espaço este onde são travadas intensas batalhas ideológicas em que o visual frente se coloca em relação de empoderamento de sua língua (LS), que tem ganhado espaço frente a LP, considerada hegemónica. No entanto, ainda encontra dificuldades na legitimação de sua língua e direitos, haja vista que, ainda é dependente da L2 em sua modalidade escrita.

46 Universidade Federal de Goiás. 47 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

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Segundo Benassi, Duarte e Padilha (2016) o professor Claudio Alves Benassi (UFMT) é responsável pela disciplina de Escrita de Sinais do curso de Graduação em Letras-libras – Licenciatura da UFMT. Desde a criação do curso em 2014 até o momento, nenhum dos ingressastes tinham conhecimentos de escrita e leitura de ELS satisfatórios, vale ressaltar que nenhum dos demais professores têm, até o presente momento, conhecimento na docência para assumir a respectiva cadeira.

Benassi, Duarte e Padilha (2016, p. 35) afirmam que dos acadêmicos que cursaram a disciplina de Escrita de Sinais, apenas um continuou os estudos da ELiS. Afirmam ainda que um curso de extensão ofertado a comunidade interna e externa foi cancelado, motivado pela baixa procura. “Segundo o público alvo, a ELiS é um sistema muito abstrato” (op. cit. p. 35).

Os autores questionam o motivo da recusa desse sistema de escrita, considerando que o mesmo, tal qual o SW, tem seus aspectos simples e visuais, além dos complexos e abstratos. E finalizam considerando que ambos os sistemas não se fixam na área da Libras e emitem um outro questionamento: poderiam os aspectos simples e visuais de ambos os sistemas serem relidos em um novo sistema de ELS?

O professor Benassi é músico de formação, hábil leitor de partituras, escritor e leitor fluente da ELiS, isso lhe basta. No entanto, como educador e pesquisador, sendo constituído por múltiplas vozes, portanto um ser plurívoco, segundo a ideia de plurivocidade em Bakhtin (2014), segundo professor Benassi “ não posso ficar indiferente a alteridade com o sujeito visual, ante a dificuldade dos alunos visuais em apreender os sistemas de ELS correntes”. Essas vozes ecoaram e inquietaram seu ser, fazendo com que o mesmo se desvelasse na arquitetura de um novo sistema de ELS.

Nesse percurso, além da colaboração direta dos acadêmicos que fazem parte do Círculo de Estudos de Escrita Visogramada (CEEVis), contamos com a participação direta da Professora Doutora Simone de Jesus Padilha na orientação, do Professor Doutor Anderson Simão Duarte na seleção de caracteres e da Professora Mestre Sebastiana Almeida Souza na colaboração e aplicação da Visografia.

2. AS BASES QUE INSPIRARAM A CRIAÇÃO DA VISOGRAFIA

Se constituir com os visuais no processo de ensino-aprendizagem, coloca-nos

constantemente inquietos, quer seja pela dificuldade dos mesmos em escrever sua L2 quer seja pela falta de conhecimentos a respeito das ELS. Como apontado anteriormente, existem no Brasil três sistema de ELS correntes, no entanto, nenhum deles tem se fixado na pratica diária dos sujeitos visuais.

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Figura 03. Texto em SW: “Olá, eu sou Sávio. Eu vim aqui, mas, não tem apoio para idosos com idade de 80 anos. Há 2 anos atrás, a mãe comprou um cachorro pastor alemão e entregou para o idoso. O cachorro é esperto. No

passado o idoso caminhou com o cachorro. Duas crianças andavam felizes de bicicleta...”

!

Figura 03. Texto em ELS SignWrinting. Fonte: Barreto e Barreto (2012). “Olá, eu sou Sávio. Eu vim

aqui, mas, não tem apoio para idosos com idade de 80 anos. Há 2 anos atrás, a mãe comprou um cachorro pastor alemão e entregou para o idoso. O cachorro é esperto. No passado o idoso caminhou

com o cachorro. Duas crianças andavam felizes de bicicleta...”

A Escrita SEL é um sistema de ELS linear criado pela Professora Doutora

Lessa-de-Oliveira da UESB, por meio de um projeto financiado pelo CNPq, testado

em caráter experimental por um grupo de 5 surdos e 1 ouvinte. Os resultados foram

qualificados pelo site3 que divulga a Escrita SEL como sendo excelentes.

O sistema foi desenvolvido no ano de 2009. No ano de 2011, chegou-se a

uma versão satisfatória da escrita, como informa o site. Já no ano de 2012, o mesmo

foi aperfeiçoado com o objetivo de aprimorar os processos de escrita e leitura da

mesma. O sistema da Escrita SEL leva em consideração as unidades mão, locação e

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3 http://sel-libras.blogspot.com.br/

SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO 2014: MODOS DE “ LER-ESCREVER” EM MEIO À VIDA

GT 22 - ESCRILEITURAS - COMUNICAÇÃO ORAL

Fonte: Benassi (2014)

O SW não se fixa pelo excesso de caracteres. Por se tratar de um sistema de

ELS não linear, escrito verticalmente da esquerda para a direita e, por grafar a mão no todo, considerando três orientações de palma (para frente, para trás e para a medial) nos planos horizontais e verticais, o SW só de configurações de mão têm 666 caracteres, se levarmos em conta o inventário de configuração de mão de Barreto e Barreto (2012).

Além disso, a construção de sentidos dos visuais a respeito do SW é de que o mesmo se trata de uma LS que os Estados Unidos quer implantar no Brasil, suplantando assim a Língua Brasileira de Sinais (Libras). O SW é ainda considerado denso e pesado não só pelo excesso de caracteres, como também pelo exacerbado detalhamento da escrita.

Já a ELiS apresenta um visograma (alfabeto) com, apenas, 95 visografemas (letras). Por ser um sistema de ELS linear e grafar separadamente os visemas (fonemas) das LS, o processo de aprendizagem é rápido, a grafia é eficaz, sendo

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portanto, qualificada como uma ELS leve e prática por grafar o essencial para o registro da informação, além de demandar pouco espaço para a grafia e contar um uma fonte instalável no software Word, o que facilita o uso. Ao contrário do SW que demanda acesso a internet para a edição de textos.

Figura 04. Mesmo texto da figura 1, porém escrito pela ELiS.

Fonte: Benassi (2014).

Conhecedor de ambos os sistemas, o professor Benassi, propôs uma releitura

desses dois sistema, fundindo os elementos mais simples do SW com os mais simples da ELiS, dando assim origem a um terceiro sistema de ELS, cujo procedimento de escrita e leitura se mostrou muito acessível nos testes já realizados. Por meio da escrita de sinais isolados, pequenos textos e de sinais escritos em outras LS, provou-se a viabilidade da escrita das LS por meio da Visografia.

Sinais e pequenos textos foram expostos para acadêmicos e profissionais da Libras que não possuem conhecimento na ELiS, ou mesmo que foram iniciados. Estes conseguiram (alguns apresentaram demanda de breve explicações) ler os as informações escritas em LS, o que prova a viabilidade da leitura da Visografia.

3. O VISOGRAMA DA VISOGRAFIA

Um sinal ao qual não estamos suficientemente habituados ou uma forma de uma

língua que conhecemos mal. Não; o essencial na tarefa de descodificação não consiste em reconhecer a forma utilizada, mas compreendê-la num contexto concreto preciso, compreender sua significação numa enunciação particular. (BAKHTIN, 2010, p. 96 [1929]).

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Figura 05. Quadro de visografemas da Visografia.

Fonte: acervo particular dos autores.

A Visografia nasce com apenas 64 caracteres, conforme Bakhtin (2010) há a

necessidade da característica facilitadora de compreensão no enunciado. Escrita de base alfabética pois grafa a LS visematicamente, ou seja, grafa as mínimas partes, os parâmetros das LS. Esses parâmetros são a configuração de mão; a orientação de

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palma; a locação e os movimentos. A configuração de mão é o formato que a mão adquire na seleção de dedos e está dividida em configuração de dedos.

Figura 06. Quadro de visografemas da Visografia.

Fonte: acervo particular dos autores.

A orientação da palma é a direção que a palma da mão assume na articulação

de um sinal. São seis: 1) para frente; 2) para trás; 3) para medial; 4) para distal; 5) para cima e; 6) para baixo. A locação são os lugares no corpo ou no espaço, em que a mão é posicionada na articulação de um sinal.

Os movimentos compreendem um conjunto complexo de movimentos que podem ou não acompanhar a articulação de um sinal. Se dividem em movimentos

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do braço, de punho e dedos, e movimentos faciais e corporais. Esse último se divide em movimentos faciais e corporais intensificadores (gramaticais) e movimentos faciais e corporais entoativos.

Temos então o visografema da Visografia com os visografemas assim distribuídos: 1a) Configuração de dedo (CD) – Polegar; 1b) CD – Demais dedos; 2) OP; 3) Locação; 4) Movimento.

Figura 07. Quadro com o visograma da Visografia.

Fonte: acervo particular dos autores.

4. SINAIS E TEXTO ESCRITO EM VISOGRAFIA

Abaixo, exibiremos uma série de sinais e um texto em Libras grafados pela

Visografia, para demostrar na prática o que delineamos teoricamente.

Tabela 01. Sinais escritos pela Visografia.

Sinal com fechamento dos dedos pelas pontas articulado na frente do

rosto Domingo

Sinal com junção de dedos articulado no espaço neutro em frente ao tórax

Hoje

Sinal com EPM ou OPD para trás escrito articulado no tórax

Eu

Sinal com Locação na lateral da cabeça

Quinta feira

Sinal articulado ao lado esquerdo do tórax

Amar muito

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Sinal articulado na frente do abdômen

Novo(a)

Sinal com Loc no braço

Aluno

Sinal articulado no espaço neutro a frente do tórax

Nome/Nomear

Sinal articulado na frente da Locação

Laranja/Sábado

Sinal com Movimento repetitivos iguais

Fevereiro

Sinal com Movimento repetitivos alternados

Trabalhar/Trabalho

Sinal com diacrítico de Movimento para completar a ideia do movimento

Feliz/Felicidade/Felicitar

“Bom sábado, feliz domingo! Que Deus

abençoe a nova semana que começa amanha!”

Fonte: acervo particular dos autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sala de aula, neste trabalho, é entendida como um espaço público de

produção de sentidos e um ambiente de lutas ideológicas do sujeito visual. Primeiro na empoderação da LS, segundo na busca por seus direitos, principalmente, o de ter uma educação potencializadora e significativa em sua língua, a LS.

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Ideologicamente, a escrita seja ela da L2 ou da Primeira Língua (L1) não é aceita pelo visual, haja vista o agenciamento discursivo das identidades surdas48 que preconizam o afastamento do visual da cultura escrita. Tal pressuposto faz com que o mesmo não se movimente, confortavelmente, no mundo oralizado e ainda, faz com que o mesmo não ascenda ao centro da sociedade pela ausência da escrita em um mundo essencialmente grafocêntrico, pois “A enunciação é de natureza social” (Bakhtin, 2010, p. 113 [1929]) sendo assim, entendido a necessidade da compreensão, participação, envolvimento e desenvolvimento social das pessoas envolvidas no processo de aprendizagem das ELS, sendo estes, ouvintes e visuais.

Dada as dificuldades que sentimos na interação com os visuais, colocando-nos em seu lugar (um extra local para nós), não podemos ficar indiferentes a essa problemática. Assim sendo, apresentamos uma outra possibilidade de ELS que surge unindo os elementos mais simples de outros dois sistemas de ELS.

Essa pesquisa está em fase de implantação. Acreditamos que com a efetivação do uso da Visografia o número de caracteres poderá ser reduzido. Esperamos que essa ELS possa se tornar um recurso viável na alfabetização do sujeito visual, eliminando assim os prejuízos que os mesmos vem sofrendo ao longo dos tempos pelo acesso prioritário a modalidade escrita da LO.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. M. O plurilinguismo no romance. In.: BAKHTIN, Mikhail. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 7ª edição. São Paulo: Hucitec, 2014. p. 107-133.

BAKHTIN, M. M.; VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 2010.

BARRETO, M.; BARRETO, R. Escrita de sinais sem mistérios. Belo Horizonte: ed. do autor, 2012.

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48 Consultar os textos “As diferentes identidades surdas” (PERLIN, 2002) e “Entre dois mundos: a busca pela (des)identidade por meio do social e da linguagem” (No prelo).