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Trecho do livro Oliver Twist

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CAPÍTULO 1

Sobre o lugar e as circunstâncias do nascimento de Oliver Twist

Entre os prédios públicos de determinada cidade havia um abrigo, uma casa de cuidados onde nasceu o ser cujo nome se encontra no título deste capítulo.

Por muito tempo depois de ter chegado a este mundo pelas mãos do médico da paróquia, permaneceu a dúvida se a criança iria sobreviver, pois houve dificuldade para indu-zir Oliver Twist a respirar por si mesmo. Mas Oliver acabou respirando, espirrando e alertando para o fato de que um

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novo fardo estava se impondo à paróquia ao chorar mais alto do que seria esperado de um bebê.

Então o rosto pálido de uma jovem mulher ergueu-se com dificuldade do travesseiro, e uma voz fraca articulou com dificuldade: “Deixe-me ver a criança e morrer”.

– Ah, você não deve falar sobre morte – disse o médico.– Santo Deus, não! – completou a enfermeira.O médico colocou a criança em seus braços. A moça to-

cou seus lábios frios na testa do bebê, acariciou sua face, es-tremeceu e caiu para trás, morta. Eles massagearam seu peito, mãos e têmporas, mas o sangue estava parado para sempre.

– Está acabado, Sra. Thingummy! Era uma garota bo-nita, de onde veio?

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– Foi trazida ontem à noite – respondeu a velha. – En-contraram-na caída na rua. Deve ter andado muito, porque seus sapatos estavam em pedaços, mas, de onde veio, nin-guém sabe.

O médico se inclinou sobre o corpo e ergueu a mão esquerda.

– A velha história – disse, balançando a cabeça. – Sem aliança de casamento. Boa noite!

O cavalheiro saiu para jantar, e a enfermeira, depois de dar um gole numa garrafa verde, sentou-se numa cadeira baixa em frente ao fogo e começou a vestir a criança.

Embrulhado no cobertor, Oliver poderia ser o filho de um nobre ou de um mendigo. Mas, agora que estava ves-tido com roupas de chita amareladas pelo uso, marcadas e etiquetadas, fora colocado de vez em seu lugar: um órfão de um abrigo a ser maltratado pelo mundo.

Oliver chorou com força. Se soubesse que era um órfão deixado à mercê dos curadores da igreja, talvez tivesse cho-rado com mais força ainda.

CAPÍTULO 2

Sobre a infância, educação e alimentação de Oliver Twist

Oito ou dez meses depois, as autoridades paroquiais resolveram que Oliver Twist deveria ser despachado para uma sucursal do abrigo a umas três milhas de distância, onde ficaria sob a custódia de uma mulher que recebia as crianças em troca de sete pence 1 e meio por semana por cabeça. Esse valor semanal representa uma boa alimenta-ção para uma criança.

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Mas a senhora era uma mulher de sabedoria, então apropriava-se da maior parte da contribuição em benef í-cio próprio, e fazia as crianças subsistirem com a menor porção possível da comida mais rala imaginável. E, a cada oito entre dez casos, adoeciam de fome e frio, ou caíam no fogo por fraqueza.

Em seu nono aniversário, Oliver Twist estava pálido e magro, mas fez uma pequena festa no depósito de carvão com outros dois jovens onde haviam sido trancados pela Sra. Mann, após uma terrível surra. Entretanto, a boa se-nhora foi surpreendida pela aparição do Sr. Bumble, o bedel.

– Santo Deus! É o Sr. Bumble? – disse a Sra. Mann, colocando a cabeça para fora da janela com uma falsa ex-pressão de alegria. – Que satisfação!

O Sr. Bumble era um homem gordo e mal-humorado.– Sra. Mann – falou –, venho a trabalho.A Sra. Mann levou o bedel até uma pequena saleta,

ofereceu-lhe assento e, com uma atitude serviçal, colocou seu chapéu de três pontas e bengala sobre a mesa em frente.

– O senhor fez uma longa caminhada, não precisa de algo para beber, Sr. Bumble? – falou a Sra. Mann docemen-te. – Apenas um gole, com um pouco de água gelada e um torrão de açúcar.

– O que é isso?– É algo que dou aos queridos meninos quando não

estão bem, Sr. Bumble – ela respondeu. – É gim. – A senhora dá gim às crianças? – questionou o homem.– Ah, louvado seja Deus, dou, sim – respondeu a en-

fermeira. – Não poderia vê-los sofrendo, o senhor sabe.– É uma mulher humanitária, Sra. Mann... Vou men-

cionar isso ao conselho na primeira oportunidade. A se-nhora parece uma mãe. – Ele mexeu o gim com água e

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engoliu metade. – E agora ao trabalho. O garoto Oliver Twist completa nove anos de idade hoje. E, apesar da ofer-ta de recompensa de dez libras – falou o Sr. Bumble –, nunca conseguimos descobrir quem é o seu pai, a origem, o nome ou a condição de sua mãe.

A Sra. Mann levantou as mãos com surpresa, mas acrescentou, após um momento de reflexão:

– Como pode então ter um nome?– Eu inventei. Damos nomes aos nossos órfãos em or-

dem alfabética. O último tinha sido um S, dei-lhe o nome de Swubble. E então era o T, de Twist. Eu escolhi o nome dele.

– O senhor é tão letrado, Sr. Bumble! – comentou a Sra. Mann.

– Bem – replicou, satisfeito com o elogio –, talvez eu seja. – E acrescentou. – Sendo Oliver agora muito velho para permanecer aqui, o conselho determinou que deve voltar à casa. Vim para levá-lo.

– Vou buscar o menino – disse a mulher saindo. Tendo Oliver já conseguido remover o máximo possí-

vel da sujeira que estava incrustada em sua face e mãos, foi levado para a sala.

– Irá comigo, Oliver? – disse o Sr. Bumble, com voz majestosa.

Oliver estava pronto a dizer que iria com qualquer um, quando viu o punho da enfermeira balançando furiosa-mente. Entendeu a ameaça, pois aquele punho tinha mui-tas vezes deixado impressões em seu corpo.

– Ela vai? – perguntou o pobre Oliver.– Não, ela não pode – respondeu o Sr. Bumble. – Mas

irá visitá-lo quando puder.Isso não era um grande consolo para a criança, mas

teve bom-senso suficiente para se fingir triste por partir.

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Não foi dif ícil ao garoto provocar lágrimas em seus pró-prios olhos. A fome e os maus-tratos eram de grande utili-dade quando se quer chorar. A Sra. Mann deu-lhe milhares de abraços e um pedaço de pão com manteiga para não pa-recer tão faminto quando chegasse ao abrigo. E o menino foi levado pelo Sr. Bumble para longe daquela casa miserá-vel, onde nunca ouviu uma palavra amiga ou um olhar bon-doso. Desolado por deixar para trás seus pequenos com-panheiros de miséria, um sentimento de solidão encheu o coração da criança pela primeira vez.

Oliver estava dentro dos muros do abrigo não havia nem um quarto de hora e já tinha devorado completamen-te a segunda fatia de pão, quando o Sr. Bumble disse que era noite do conselho e que queriam vê-lo imediatamente.

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Não tendo uma noção do que seria o tal conselho, Oli-ver foi sem saber se deveria rir ou chorar. O Sr. Bumble conduziu-o para uma sala grande e branca, onde oito ou dez cavalheiros gordos estavam sentados ao redor de uma mesa. Na ponta, em uma cadeira mais alta que as outras, havia um homem com um rosto muito redondo e vermelho.

– Incline-se para o conselho – disse Bumble. Oliver limpou duas ou três lágrimas que estavam quase caindo de seus olhos e se curvou.

– Qual o seu nome, garoto? – disse o cavalheiro da cadeira mais alta.

Oliver estava amedrontado com tantos cavalheiros e respondeu com a voz muito baixa e hesitante, o que motivou um cavalheiro de colete branco a dizer que ele era um tolo.

– Garoto – começou o homem da cadeira mais alta –, escute. Você sabe que é um órfão?

– O que é isso, senhor? – perguntou o pobre Oliver.– Sabe que não tem pai nem mãe e que foi trazido para

cá pela paróquia, não é?

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– Sim, senhor – respondeu, chorando. – Por que está chorando? – perguntou o homem de

colete branco. – Espero que ore todas as noites pelas pes-soas que o alimentam e cuidam de você.

– Sim, senhor – gaguejou o menino. – Bem, você veio para cá para ser educado e aprender

uma profissão útil – disse o homem de rosto vermelho da cadeira mais alta.

– Então, vai começar a desfiar estopa amanhã de ma-nhã, às seis horas – acrescentou o mal-humorado de colete branco.

E pelas bênçãos de um simples processo de desfiar es-topa, Oliver fez reverência em agradecimento e foi levado para uma grande ala, onde, numa cama dura, chorou até dormir.

Pobre Oliver! Mal sabia que naquele mesmo dia o con-selho tomara uma decisão que iria exercer grande influên-cia material em todo o seu futuro. E foi assim.

Os membros desse conselho eram homens sábios e des-cobriram que os pobres gostavam do abrigo! Era um lugar de entretenimento: não pagavam pelas refeições durante todo o ano, um paraíso onde tudo era diversão e nenhum trabalho.

– Oh! – disse o presidente do conselho. – Somos nós que devemos acabar com isso rapidamente. – Então de-terminaram a regra de que todos os pobres deveriam ter a opção de entrar em um processo gradativo de fome dentro da casa, ou em um rápido processo fora dela. Firmaram contrato para o fornecimento ilimitado de água e para o suprimento periódico de pequenas quantidades de farinha de aveia; fornecendo três refeições diárias de mingau ralo, com uma cebola duas vezes por semana e meio pãozinho aos domingos.

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Durante os seis primeiros meses o sistema funcionou plenamente. O número de pessoas que procuravam o abri-go diminuiu, e o conselho ficou radiante.

A sala em que os garotos comiam era grande e de pe-dra, com um caldeirão de cobre em uma ponta, de onde o cozinheiro distribuía o mingau na hora das refeições com a ajuda de uma ou duas mulheres. Cada menino ti-nha direito a uma tigela e nada mais, exceto em ocasiões de festividades, quando recebiam pouco mais de setenta gramas de pão.

Geralmente garotos têm um excelente apetite. Oliver Twist e seus companheiros sofreram a tortura da lenta ina-nição por três meses. Finalmente se reuniram e tiraram na sorte quem deveria ir até o cozinheiro após o jantar daque-la noite e pedir mais comida. E Oliver Twist foi o escolhido.

Criança que era, desesperado de fome, ele levantou, avançou até o cozinheiro, tigela e colher nas mãos, e disse, assustado com sua própria ousadia:

– Por favor, senhor, eu quero mais.O cozinheiro era um homem gordo e saudável, mas

ficou pálido. Olhou perplexo para o pequeno rebelde. As assistentes estavam paralisadas de surpresa; os garotos, de pavor.

– O quê? – indagou o cozinheiro, finalmente, com a voz fraca.

– Por favor, senhor – respondeu Oliver. – Eu quero mais.O cozinheiro deu uma pancada na cabeça de Oliver com

a concha, agarrou-o pelo braço e gritou pelo bedel.O conselho estava reunido quando o Sr. Bumble en-

trou apressadamente na sala e se dirigiu ao cavalheiro da cadeira alta:

– Sr. Limbkins, Oliver Twist pediu mais comida.

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Todos ficaram assustados.– Ele pediu por mais depois de recebido o jantar? – res-

pondeu o Sr. Limbkins.– Sim, senhor – confirmou Bumble.– Aquele menino ainda será enforcado – comentou o

cavalheiro de colete branco. – Tenho certeza de que será.Oliver foi enviado para confinamento imediato, e na

manhã seguinte uma nota foi colocada no portão, ofere-cendo cinco libras a qualquer um que levasse Oliver Twist como aprendiz para qualquer tipo de serviço.

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