oliveira martins - (1873) portugal e o socialismo

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PORTUGAL E O SOCIALISMO H HU: U D .. \ SOCIED.\DE PORTUiilEZA E SUA REORGniS.\Ç10 PElO SOCIALISl!O POR J. P. OLIVEIRA MARTINS

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  • PORTUGAL E O

    SOCIALISMO H HU: CO~STITUCIO~ U D .. \ SOCIED.\DE PORTUiilEZA

    E SUA REORGniS.\10 PElO SOCIALISl!O

    POR

    J. P. OLIVEIRA MARTINS

  • I-/L 3 q 2_ 057

    -

    impren:Yes-rna da At::I;Ji;!, ,;:;

  • PORTUG1~L E O SOCIALISjiQ

    Este livro o complemento natural e neces-sario da 1/teo'ria do Socialismo. Sem uma de-finio precisa do caracter da Revolnc;rio dentro do movimento evolutivo das sociedades, n theo-ria ficmia incompleta; c sem a verificac;Zlo pra-til'a do modo rcnl c cffectiY

  • 6 POfiTLJG.\L E O SOCIALIS:\10

    x~to. "Gm primeiro acto pdc ser expontaneo, a repctirw de um mesmo acto prov{m de uma ordem da conscicncia livre. l>'esta forma a lexi-cologia nos d:i a chave da definio psycologica e social.

    Revoluo o exerccio da liberdade huma-na. l\Ias como a liberdade humana uma serie do grande todo, do universo substancial, a Re-voluo encontra o limite natural da sua acti-vidade normal, nos limites mttlJraes que deter-minam a liberdade e autonomia da consciencia individuaL D'esta forma se estabelece o jogo har-monico da liberdade da consciencia, com a fa-talidade da natureza, da qual a primeira o mais elevado dos aspectos. Objectivamente, por-tanto, Evoluo e Revoluo querem dizer, nas suas relaes, a primeira o movimento fatal da~ leis da naturezn, c a segunda a comprehens~io, a as::;imilato d'esse movimento pela eonscien-cia.

    Exterior e phenomenalmente, a Revoluo pois a aeo do homem, com o instincto ou com a conseiencia, scntimentnl ou scientificamcnte, sobre a fatalidade natlual. Quando dizemos com o instincto ou com a consciencia, sentimental ou scicntificamentc, damos, soh outro aspecto, his-toricamente, n. detinirio de Revoluo.

    s~)' i;"'J,.wnte~ nnfi!!'. Revolu:lc ,...,,!. dize1 o

  • INTHODUClO 7

    modo porque a Evoluo obtem uma realidade positiva; pois que o vehiculo, por meio do qual as epochas do Progres~o passam do terreno lo-gico para o terreno positiYo, no pckle ser ou-tro alm da raso humana, mater di-vinm !J1'a-tia>.

    Concebida assim a Revoluo, determinado o seu caracter metaphisico, psycologico, histo-rico e social, scr-nos-ha facil aficrir qunl a aco que o Progresso tem sobre as revolues. Conhecida a esphera propria da liLPrdnde imli-vidual deutro tlo todo, i~to , dentro das leis fatacs da natureza, reconheceremos desde logo que o Progresso na Htvoln-o, como cm tudo, o processo de classificaf,'~tO, de systcmatisa-o, pelo qual os phcnomonos reac:-;, apparente-mcnte oppostos, se coortlenam, se classificam, auh)nomos cm. si, mts snhordinados fra de si s leis da felcraf,'o universal.

    A aec;o da civilisat,::lo sohrc o phcnomcno moral c soeial das n'voln~cs, vPrifiea-sc pois comparantlo o gd.o

  • 8 PORTUGAL E O SOCIALIS:\10

    isto , como phenomenos que so de liLerdade humana, exorbitam da esphcra normal da sua aco, pretendendo transtornar o innnutaYel, o fatal, a Evolufio irresistivel das foras da na-tureza. O homem, ignorante, desconhece o mun-do fra de si proprio, do scu mumlo interior de sentimentos e de paixes. A imagina~o faz d'elle um vate, um creador. Cr portanto que lhe licito reformar o m1mdo e as cousas ~i imagem e similhana do nmndo e das cousas do seu es-prito. D'este estado resulta a Reaco. Da falta de coordena;:Lo, de dassifieao, da cathegoria ela liLcnlacle imliYidual, resulta, alm da He-voluo, cuja efficacia occasional inclestructi-vel, uma conf'truco inorganica, um estado de cahos, do qual a sociedade s:ie ou appellando para a tradio, ou yegetmulo sobre f~1lsos ali-cerces, cnja rnina exigir:i revolues novas. I-li:;-toricamente, pois, Hcvoluo e R.eae~o so dois aspectos de um mcsmo phenomcno. A reyolu-o fr:-~.nceza trazendo apoz si a restaurao da monarchia tradicional um exemplo da reac-o; a revoluo libeml (18:30) trazendo apuz si a reconstituio, soh outra forma menos legi-tima, menos moral, dos antigos privilcgios, o exemplo de outra classe do reaco. Se em 17!)3, se em lti30 podesse ter haYido a somma necesf'aria do comprchenso scientifica ua He-

  • JNTRODCCO 9

    voluo, nem uma nem outra das reaces po-derimn ter tido logar. ~e em vez de concebe-rem a liberdade individual como nlJsolnta, estes dois movinl

  • 10 PORTUG.\L E O SOCI.\LIS~lO

    }.las quer dizer isto que a icla de Revoluo, em si, independentemente das circumstancias exteriores que se combinam com ella para pro-duzirem os phenomenos historicos, que a idLa de Revoh1c:~w importe em si, digo, a ida de Hea~o? Quer isto dizer, prrra uos exprimir-mos por meio de uma comparafio vulgar, qne sem-pre que carregarmos os pratos de uma balan-a tenha de sncceder a este acto uma serie de oscillaes oppostas at r1ue se determine o equilihrio, a relac:fio normal dos dois volumes que comparamos 'I N~o, ele forma alguma! Ten-de expereneia e arte, e sabereis approximar, com a simples vista, a relao dos pesos e di-minuir portanto as oscillaes; tende sciencia e alma c podcrC'is alterar as ~argas de cada um dos pratos da lJalana social, mantendo immo-vel o fiel, sywlJolo da harmonia, da orclem e da vi(fa!

    De forma que a polaridade phcnomenal dos movimentos humanos, Revolnfio-Reaco, anta-gonismo historico, these e anthitese, se resolve n'um termo superior que ambos domina, invol-ve e absorve em si, Iteforma. Reforma a Re-voluo adquirindo cunsciencia propria, gover-nando-se, dirigindo-se em nome ela sua liberda-de ra~ional, contra as revolues a quem o sen-timento, as paixes, os instinctos, as foras mo-

  • l~TRODUCO 1l

    raes humanas no perodo inorganico arrnstaru, dominam, e comprometem.

    A Uevolu?w, pois, adquirindo consciencia de ~i propria, no mais do que o movimento nor-mal evolutivo das sociedades humanas, livre no s dos momentos sublimes da imagina

  • 12 POfiTUGAL E O SOCJ..\LJS.\10

    que para se tornar cffeetiva tem de actuar no terreno extra-moral, no terreno positivo das so-ciedades, eeonomico, politieo, religioso ete., no basta portanto que saibamos o cpw em si a Revoluo; definida, quamlo enc-aramos a socie-dade, occorre logo esta pergunta: o que , co-mo se caracterisa a nceessidade de revoluo?

    A resposta, que necessariamente se dt'duz da doutrina expendida, a seguinte: :Xecessidade de Revoluo o sentimento que a sociedade experimenta quando se tU um dc:m.eeortlo entre a epoclnt do esta,lo da con~ciencia e a epoclza do estado social. A conscieneia, inic-iadora, ca-minha ~rmpre vante, e medida que d:. um passo no terreno da formao das idt'as, tem de realisal-o no terreno da constitnio dos fa-ctos. O momento (ple precede C:':'a realisa~io aquelle em que existe 'necessidade de rel.:olutiv.

    Isto que affirmmnos SC'lTC a mostrar quanto a nossa dontriua dift(re da dontrina historic-a-mente conhecida pelo nome de conse'rvadora, a. qual, desconhecendo o papel activo da Revolu-

    o~ pretende entregar o rnovimento das socieda-des ao domnio exelusivo das foras coustitl-das, fataes c inconscientes, que se rennern todas sob esta denominao commum, Tradio.

    Pois que sabcrnos, portanto, o (1nc a Revolu-o , o ohjccto do novo estudo em qe nnnos

  • INTnonuco 13

    entrar em companhia mais uma vez tu leitor e cu, a comlmJvat;o da necessidade de Revo-luo no seculo XIX, c a determinao funccio-nal da consciencia hiuuana, na epoclut de educa-o cm que a possniHws, solJrc a sociedmle, na epoclw de organi:-:a;o em

  • 14 l'ORTi.jQ_-\I. E O ~OCL\I.l5:1IO

    eieneia humana pde affirmar-se que repugnam J~i os horrores de crime e sangue de que os mo-vimentos soeiaes do !Jassado apparecem imepa-raveis. Evitar portanto a alliana monstruosa Ja. TI.evoluo e do Crime, tal o primeiro man-tlamc>nto que a conseiencia impe ao homem ju~to; encaminhar a sociedade na estrada do futu-ro, fugimlo :is attraces phantnsticas do ideal, e :; intoxica-es do intercs~e irnmohilif-:ador. tal o primeiro artigo da lei que rege a vida. rlo cidado.

    ~cjamos poir, re\olucionario:;, tu leitor e eu, revolucionarios com a Justia e com a Scicneia, e tiraremos uma lico util elos f~lCtos que o pre-sente vae discnrollar perante o nosso entendi-mento.

  • CAPITULO 1

    A SOCIEDADE E O ESTADO

    Da nct"CIIIHidnclc ele ne,olu~iio no s

  • 16 PORTUGAL E O SOClALIS!\10

    raso philosophica de exi:.;tencia e tarn:.;mente possuem o caracter de syrnbolos tradicionaes rna-terialisados ;-contra as classes que, constitui-das corno tal em nome das idt.'~as que as viram nascer, pretendem consen.:ar, explorando ~m proveito proprio institui-ue~ a rplC falta um ali-cerce moral e que por isso smente se mantm pela colligao dos interesses egostas;

    Para 'Jlle a perturbao social, a que essa de-sorganisao constjtucional, econornica e politi-cn, d~ lugar, deixe de enterrar no vicio os in-felizes pela ignorancia e pela pobreza, e os fe-lizes llelo sensualismo e pela riquesa; e de erguer sobre a terra o culto elo bezerro de ouro, cujo sa-cCIclote para uns a cubia: para outros a avareza.

    Ora creio eu que estas affirmaues entram lla cathegoria dos factos indiscutveis. indis-cutvel que as constituies religiosas, desde os panthei!'mos primitivos at s religies philo-

    ::~ophico-moraes da actualidade, em si e nas crca-t;es que emanam d'clla~, arte, direito, fam-lia, politiea, chegarmn ao momento em que a capacidade metaphisica elo seu principio, a trans-l'endencia, se esgotou; restando apenas, se olhar-mos para o :tmmclo europeo-christo, da gran-de Ida que foi, uma somma de facto mudos, estereis, de snnbnlo~ matrialisaclos e immoraes.

    tamLen~ indi~cutivl que os sacerdotes d'es-

  • POHTUG.\L E O SOC!.>.LIS~IO 17

    sa I

  • 18 POilTGAL E O SOCI.\LIS:\10

    l\Ias, acrescentam, complicar o problema com a Economia, no, porcrne:

    1. 0 n'clla no ha innovaes, ella constan-te, immutR\el, statica, uma e a mesma em to-dos os tempos;

    2.0 e juntar ao termo Liberdade, que onde vem a parar o movimento de constituio aut-noma do homem, o termo Egualdade, um cri-me contra a natureza, porque os homens so de-seguaes em si, por qualidade propria e -reme-diavel.

    contra estas duas affirmaes que se levanta o Socialismo dizendo:

    1. 0 Que a consciencia humana nos seus movi-mentos evoluti'\os domina no s o Direito, mas tambcm a Economia;

    2. 0 porque ella a fonte original do conheci-mento de ns mesmos, e n~io pde por isso admit-tir-se que um s dos phenomenos humanos cm momento algum a contradiga; l 3.0 porque a doutrina co~1 que se pretende

    ata~ar a da inter\eno na Economia ::.:ob outra forma a mesma com que se pretendeo cm vo na historia atacar as revolues da politica;

    4. 0 porque, se effecti\amente a Economia tem uma statica, da mesma forma que_ tudo quanto compe o universo, tem tamhem egualmentc nma ~namica; c se nos l)henomenos phisicm;

  • POnTUGAL E O SOCL\LIS:IIO 19

    da prorluciio, a consciencia humana quizesse intervir, exorbitando, encontrnria nas conse-qnencias do acto o ca~tigo proprio; no inter-vindo porm nos phenomenos socines ela di:stri-lmitio, -que v(;:;, economistas, eonfuncls com aqnellcs na mesma cathegoria de fatali~fnue phi-::;ica,-a consciencia humana encontrnrin, como encontra, no remo1so que affii~e os so:; espri-tos, a enndemnnr;o da negligencin;

    5. 0 que a E;:~;ualclatle a fonte da Liberda-de; sem aqnclla no p{,de existir esta; que os homens, ao contrario de deseguaes, so e~uaes em si prn fiualid:ule propria. c irrPmediavel, pois que a Forn, a l\[ateria, a Organi::w.~o que os frma s2to iclenticas. Dcseguaos s:lo sim os as-pectos, os phcnnmcnos que essa :fi)n;a, essa ma-tmia, essa organisa-o apresentam; tornando-se d'osta f~}rma a egualdade a normn, e a des-egualdm1o o accidento.

    Ora ns somos socialistas porque no encon-tramos rc~po~ta a cf:.tes nrgumontos; o assim pois tomos como indiscutivol que o para qu; da Revolur;o no sC'enlo XIX ccunomieo, o C'CO-nomico porqu a cnusa da I:cvohu:o moral.

    Um bocado a .. polemiea. interrompco a nna-lyse qno ia1110S fa.zmH1o das provns da n('ecssi-tbclo fl( rcvolu~:o no scculo XIX; prosig-amns.

    Como 1:1.ra mim qnf' c.::-;tnvo, c c:-:pro (lHI' j

  • 20 POfiTUGAL E O SOCIALIS~IO

    o seja para ti, quem quer que me Jl.s, a dis-tribui~o da riqueza o que constitue a dyna-mica economica, e est

  • PORTUG.-\L E O SOCL-\LIS)IO 21

    manuteno minha c de minha famlia; leva-ram-me GOO ris, mnito em hora! J\Ias, manh, porque me (Me a eahea, no posso fazer mais do que 600 ris de cscripta e d'esses no venho a recel>cr mais do qnc 200 ris, exactamente metade do c1nc me indispensavcl; conscquen-cia: peo esmola.

    Esta a situao economica da Europa: por ahi cerca de uma tera parte da populailo to-tal que pede esmola a cousa de uwa oitava par-te que est[t no caso de a dar; que a d(t ou no conformP lhe parece, mas cp.w, pela se.da parte do rl'w] iliumfo ele que finc, governa, m;mtcnclfl iu:->titni';C's c doutrim:.s c impedindo c1uc outra:-; doutrinas c instituies diffl'rcnte:; as snhstituam. Diante (l'cstas eifras tTH('is

  • C)-"} PORTUGAL E O SOCIALJS:\10

    de salariados, 500 mil trabalhadores nndeiros, 750 mil proprietarios e capitalistas e 250 mil funccionarios civis e militares, medicos, advo-gados etc.

    Um tal estado de distribuio economica, e ~t opposio consequente de interesses e de classes, eis o earacter proeminente que a necessidade Je

    Rcvoln~io torna no scculo XIX. D'dle resulta que o oLjedo da vitla. economica do individuo nli.o trabalhar, c consumir na propor~io do seu trabalho; { ao contrario aceumular, cum 'ltma escolha menos dijficil dus 1neios, como obvio, para por meio tla accunmlao se isemptar do trabalho e entrar na classe, tornar-se solidario rlos interesses, dos que Yivem , custa dos erros da distrihui:to.

    Y olt::mdo finalmente ao nosso ponto de parti-da, no devemos esquecer que isto succcde, l)Or-que, C'sgotados os ideaes historicos, e f:n-orccen-do as clontrinas domin:mtes (naturali~mo f:Cnsua-lista, individuali::-;mo na politica) o di::;envoh-i-mento das tencleneias animaes do homem ~ custa das suas faculdades superiores e morms, a ]J1'0-durtlo c o consumo so o jiJn para que se vive, no o mudo 1wlo qual se mantm a existcncia. A parte animal da vida humana, o por qu, usur-pa o lugar do 1mra qu; e cm vez da f~unilia, tlo srntimento, da arte, do Ideal n'uma palavra,

  • POHTUG.\L E O SOCI.\LISl!O 23

    das grandes cousas do nosso esprito que so o santo objecto da no~sa vla, restringimos a nos-sa actividade activitlade cconomica, o rico cn-thesourando, o pobre cuhiando, e, tornados ani-macs productores e commmidorcs e na!la mais, camos no modo de viver das bestas mais ou me-nos delie~ul:unente rcalisado.

    A neces~idatlc de Hcvoluo no scculo XIX, necessillallc> indiscutinl, con~istc n\uu vicio mo-ral que, d:ulo o mundo contemporaneo, se dei-xa vcr mais apparcntemente n'uma perver::5o CCOllOIUlCa.

    Totla a Hevolm;o L' ncces~ariamente moral, politica e economiea, simultan

  • POHTUGAL E O SOCI.\LIS~!O

    ~J 0 como chegamos l)Or ella ~i Revolu~o em si. movimento geral de todas as provncias ela actividade hmnana;

    3. 0 qual o modo proprio, natmal ela nos5a fpocha, de chegar at essa TieYolu~lo.

    :K'cstas questes em que se ventila o que ha ele mais sa;rado no homem, a 5Ua crena e o seu bem-estar, mister estabelecer as doutri-nas, definir os processos, delinenr os caminhos, com a maxima franqueza c boa-f. L"sar de ou-tro modo tornar-se ro do peior dos erimes.

    Y amos ao primeiro dos pontos: Caracterisftmos a neeessidade de Revolm;o

    como um \cio moral d'ondc resulta uma per-verso, econorniea principalmente. Contra este e:.:tado propomo!':, n{,s !':ocialistas, uma Revolu-:Z!oeconomica. Parecer eontradico. mas no ~- Dir-:.:e-hia flue, se o Yicio mmal a causa, o economico o dfeito, cumpriria atacar o mal pela raiz. Explif1ucmos pois o BO!':SO pensamento.

    Tomemos um exemplo: Um trem de caminho de ferro marcha a grande Yelocidacle descendo uma ramra; n \elocidade o effeito da fora do yapor qlw a cau:::a principal. Mas, n'um certo momenL:, a n~loeidade adquirida consti-tue-se como fora imlepende11te, como serie, e o

    ~rem~ cm hora o cmnhio de direco do 'apor ( Pparclho Lecbatelier), embora os freios, foge,

  • PORTUGAL E O SOCI.\LI~:'olO 25

    desce, sobe rampas, corre no eho plano, at tuc, se no cneontrou no meio da sua marcha ph::mtastiea obstaculo que o dostruissc, p:ra. A velocidade, que alm era effcito, tornou-se cm ean:-;a. Aetuar sobre o vapor, em scntillo po,:iti-vo, sohre a eausa primaria tal eomo

  • 26 PORTUGAL E O SOCI.-\LlS.\10

    Edadc media e aos imposfus do perodo monar-ehico . .Assim, portanto. 6 conf1a-vapur e o freio, contra a fu!Ja, contra a velocidade phantas-tica com que vamos andando no caminho de um precipieio medonho, velocidade que ar-rastou numa at aos ps ele Attila, I e que pde lm-ar-nos no sabemos onde, o contra-vapor a organi:-:a;'lo do credito. O juro a pedra angular ele tudas as peiTerses economi-cas; por clle, no regmen de deso1 ganisao em que funceiona, que se constituc, em nome da libcnlade, a mais tyrmma das oligarchias e a mai:-; hypocrita; por clle e com elle que a Li-berdade, defeituosamente defin.1a, servio a for-mar o feo1lalismo contemporaneo. Organisar pois o credito, aproximando o juro da norma que zeru; fundar em principio a gratuitidade do cre-dito; tal a idea ne da lleYolu?"w economica. Promlhon dizia uma vez a Ba:.:tiat: A pedra fun-damental do meu sy~tema a gratuitidade do cretlito; se me engano, o ~ocialismo um puro sonho. 2

    Por estas pala \Tas de Proudhon chegamos ao segumlo dos pontos da nossa thcsc: O que o

    'A ci,ili:.:ao romana caio victima de nru vicio cconomi-co. 1\lomm:.:rn.

    2 "!\o Cap. 3.0 A Revoluro e o Crcrlilo SP di:.:envolvcr a tlleo;ia do Ca[Hlal e da gratuitidade do credito.

  • PORTCG.-\L E O SUCI \LIS::\10

    Socialismo? o systema da gratuitidade do cre-dito conforme a concebia como systema o pam-phletario de 18-!8? Por forma alguma: se fosse isso, se a sua doutrina podc:::se reduzir-se aos termos preci!'os, definidos, estreito~, de um sys-t.mna pessoal, ento seria verdadeiramente um puro ~onlw. Para dizermos duas palavras sobre Proudhon: o Sociali!'mo, os alicerces da so-ciologia, estam na Justirt 1ut Revolutw e na. E[ji'(ja, na Crea(io cht 01'dem. na lwmrmulade, nas Contradices economicas, no estam por forma alguma no prn:-:pccto do Banco-do-povo.

    O fptc o Soeialismo? E' a Idea moderna ap-plicada sociolog-ia; c, como resultado (_r essa ap-plicao, o reconhecimento de um vicio econoruico nas sociedades contcmporancas romanisadas, c a descoberta oLYia c natural, concreta c abstra-cta, }JOr forma alguma pessoal nem systemati-ca, da r-na eorreeo.

    Mas 'luamlo di7.emos: applicao da Ideamo-derna, muito licito 'luc cm Portugal se per-g-unte, o '[111.' t., em 'llH' eonsi:.;tc es~a ldea mo-derna. I )ig:mws pois pfJr mcudus o que signiti-cmn estas tluas palavras:

    ldea moclern't a

  • 28 POitfUG.-\L E O SOt.:L-\LIS~IO

    dhon, eml\Iiclwlet, cm Herbert ~penem, cm Va-cherot, etc.

    Idea moderna o movimento de soluo f;yn-thetica com que a segumla metade do scculo XIX absorve em si, domina e define, a these c a an-thitese, o to bc anrl not to ve, da contrmlico heg(liana. O sceulo xnn tle um lado c a pri-uwira metade tlo scculo XIX elo outro, resumin-do completanwnte os dois aspPctos elo movimen-to evolutivo ela thcse c ela antithcsP, podem

  • POR'lTGAL E O SOCIALIS::\10

    e dar

  • 30 POfiTUG.-\L E O SOCL-\LIS)IO

    _cada nao um todo, autnomo absolut:nnente, opposto mesmo s dl'mais naes; o estrangeiro outra \ez hostis como na Roma primitiva.-Cor-relativmnente, no seculo :xnn o ahbade S. Pier-re, Fendon, Daheuf, interpretam os sentimentos geraes imaginando uma Ch:itns sol is (Campanel-la) pela egual repartio elos bens, theocratica, monarchica ~m democratica; as idas do tempo levavam a isso. o homem era uma abstraco lo-gica de uma massa total e real que uns (Rous-seau) Yiam por um pri~rna pleheo, outros por um prisma patrcio; no primeiro caso olhaya-se para uma ~parta, no se3undo para uma Roma de Angu~to.

    Yeio a Restmuao, 181C), necessidades no-yas. grandes licuc~, noyos homens: e eis que da realidade se apaga a palavra Humanidade, eis que se nega a raso collectiva. eis que a so-ciedade apparcce como uma formao atomistica de ind.ividualillades independentes. absolutamen-te autc'momas: Clwcun clwz soi. clwcun pour soi. Xo s o estrangciro, at o visinho hosl1"s, inimigo. Para o seculo XYIII a Humanidade era o real, o Homem uma abstraco logica: these. Vem 1830 c diz: o Homem a realidade, aqui est~, vejo-o, palpo-o; essa Humanidade de que fallaes pura aL~traco, uma fico do esp-rito, que me digam onde 1nra para lhe deixar

  • PORTUG.-\L E O SJI:l.\LIS::\10 31

    o meu ~ilhete de visita: antithcse.-- Qual a synthcse? A realitlade, racional e positiva a um tempo, da Hnmanitlade e do H!nnem, e corre-lativamentea da llmnanidm1ce tlaXao. Como? pela illa federativa que emana da no~o de serie; pela dassificailo analoga dos planetas em sy:-;temas autnomoR em si, subon1inados fra de si ~i.s leis da scrie superior, analoga {L da zoologia, da Lotaniea, :i da geologia, tma e a mesma em toda a crca:lo; pela autonomia do Homem, individuo aL~olutamente livre na csphera da sua aetividadc nurmal; pela au-tonomia da Nao como seric superior onde a raso eollectiva dos nace. romantico;

  • 32 I'OHTCGAL E O SOCIALIS:\10

    produz Eurico, Fausto, Claudio Frollo; cRere-ve com "\\'alter-Scott, com l\Ianzoni, com Schil-ler. -:~\Iuito lJcm! Balzac, verdadeiro percur-sor, nem classico, nem 'l"Omanfico; a poe-sia conpenetra-sc do sentimento da realidade, observa, e define o Ideal, corno a conereo lo-gica de todas a~ realidades: eis ahi a Idca nova. Ponde de um lado :Montesquieu, elo outro 'I'hier-ry, c cl'essa thcse c antithese vereis sair a Idca moderna na Historia, 1t[iclulet.

    rl) Economicamente: O sccnlo xnu, cdade aurca das mmutrchias, tomava nma nao Peo-nomica cmno um todo, opposto, inimig-o, do~ outros tudus nacionacs; prvtc:tia a industria~ fixava os preo~, regulava os alimentos c os vcs-tuarius; a nao era de facto uma commmlida-de prmlndora c consmnidor:t; devia impurtrw menos do que e.lporfar, para que o lmlahu f(nmasse a ric1ueza; no pt1a deixar sair o numcr:trio; congrcgava por elasscs ns offi-

    cio:-;~ os misteres; as profisses.- Com ] 7~~~ eao tndo isso por t{'rra; u capital c n juro ~am livres, livres u tralJalho c o s:tlario; livre :! importao, a f'Xporta~o, a sai1la das moPtlas: '[lW se vista c eoma eada um como (1uizer! na troca, :ts na-es smn solidarias, solidarios os ho-mcn~ f'ntrc si; o livrc-cmnl,io t :t ra:-;onra pe-rante a c1ual caem pela raiz dcsegualdadcs, pri-

  • PORTUGAL E O SOCI.\LIS:\10 33

    vilegios, oppresscs! Liberdade, liberdade, liber-dade! Q.ue o EsuhJ abandone o mundo eeono-mico ao movimento expontaneo das sn:1s foras! Laissez fai-re, laissez passer!-Eisahi a these e a antithese correllativas da Economia, as quaes a Itla moderna absorve em si, confirman-do-as como momentos logicos, c dedusindo cr e l-las a synthese prou(Thoniana: liberdade economi-ca, individual na Cf;phera da actiYidade imli-vidual, naeional na da nao, universal na da humanidade;- lil,enlade ao Individuo para comprar, vcmlcr, ('mprestar, trocar, fixar o prt>

  • POnTUGAL E O SOCL-\.LIS:\10

    e da ::mtithe~e individualista do seeulo XIX. Ba-tir neuj~ eis a phrase consagrada do radicalis-mo francez; deitnws tudo abai.-co, eis as pala-vras que rue dizia a mim o mais nobre dos in-dividualistas 1ortuguezes de 1833. Ora o :--;ocia-lismo nem quer edificar de novo, nem destruir por systema. A lleYolu~o chama-se Reforma. Reforma. substituio, aproximao, transforma-o, eis os proeessos da natureza, non facit sal-tum. J:.i no l' pos::;ivel, dizia Jouftioy, uma re-Yoluo filha do instincto popular, da phanta::;t de um revelador, de uma Yolta :.s tradies; j. no possiyel uma revoluo seno pela philo-sophia. Tudo quanto podiam dar o enthusiasmo da liberdade, o sentimento religioso ou patrio-tico e as tradies republicanas esht esgotado. A um problema complicado, cujos ns fiJram da-dos pelo e11trclaamento das instituies, ne-eessario uma soluuo racional, um principio su-perior, flue o scnso-cnmmmn ou o instincto ra-pido das massas n?io lJastmn j:.i para descubrir, e que s poile oLter-se reflectimlo nas fontes pro-fundas da philosophia.

    O primeiro passo da Revoluo definil-a, na sua theoria, nos seus earacteres, nos seus meios, nos seus acto:-;. Discutil-a, ensinai-a, de-pois, :.s claras, como um ol~jecto de scicncia abstracta; fugir ~~s tradi~cs italianas, das sur-

  • PORTUGAL E O SOCL\LIS)IO 35

    }Jrezas, aas conspiraes, dos golpes de Estado. Levar na mJ.o a Lei, fallar em nome d' dia; se quizerem cortar-nos com ferro a lngua, cortar-lhes com ferro a cabea; emqmmto no exorbi-tarem da esphera da sua liberdade, no exor-bitarmos ns da nossa; lavrar fundo o rego do arado, lanar sementes com abundancia, e ella, a Revoluo, fan da, si!

    No momento actual, salvo um incidente ele oppresso lou

  • 3G PORTCGAL E O SOCI.\LJSliO

    senso de ouvir o que te vou dizendo, e de ir fa-zendo, tu que governas nas crtes e principal-mente nos bancos, nas fabricas e nos campos, aquillo que ns teremos de chegar a fazer, se o no fizeres tu.

    Isso q no ns faremos por nossas mos, ou tu pelas tuas se tiveres juizo para tanto, no nada de theatral, de difficil, de radical. Ainda que estejamo:; a legoas, quando tratamos cl'esta or-dem de idas, tahez na pratica nos encontre-mos mais proximos do que julgas, se tens co-rao e honra. A Revoluo no faz nada; a Re-voluo determina o principio, e encaminha as collsas, dirige-as, lent-as a tenda para um ideal que s o tempo capaz de realisar. A Revoluo, como n

  • POfiTUli.\L E O SOCIALIS)JO 37

    3 o ..

    thhtiouomla poiUlco-social da nu;lo poatu:;ncz~t

    Dentro da Emopa, Portugal talvez a nao onde o sentimento das i

  • 38 PORTUG.

    quando nos comparamos {L ll!lgica e aos sem; 500 coutos do oramento do instruco prima-ria;

  • PORTUG.\L E O SOCIALIS~IO 39

    indispensavel, e assim mesmo precariamente subsidiado, absurdamente or~anisado, sem prin-cipio, sem systema;-que a instruco secun-daria, constituda como esh. c engrenada no sys-tema geral dus estudos, produz estes dois resul-tados: 1. 0 atrophiar as f~1culdades intellcctnaes das creanas pelo ahuso do exerci cio da memoria; 2.0 matcriali:::ar-lhcs a intelligcneia e affastal-a do cshulo pelo processo mccanico e ea:teriur de ensinar buscando sempre as formula~, as datas, os nomes, as (kfiniilc~, em Vf'Z 1le procurar a raso do ser de tudo i~so; su"L4ituindo ~t scien-cia a sua technologia, da mesHut fi',rma que na religio se snLstituio {t icla o symholo frio e deificado; H. 0 con:(krar o cstn1lo, no como um fim, m~tcs como um meio; c;-;tnclar, no para aprender, mas sim para j'aze1 exrr.me; resultan-do finalnlC'ntc (l'esta s

  • 40 PORTUGAL E O 1'0CIALIS:IIO

    por um nome que d'uma casta: o bacha-rel.

    Taes so as causas principaes da falta pro-funda tlo illustrao da sociedade portugueza; taes so os motivos porque por este lado, no povo e na classe media, Portugal se acha t:'!c distante da atmo~phera moral em que se vive na Emopa.

    O mlmdo dos intcres~es por sua natureza mais cosmopolita e por isso, bancaria, indus-trial e commcrcialmcnte, Portugal acompanhou o movimento livre-cambista e a sua phisionomia no diffl're e~sendalmente da das na-es euro-peo-latinas. Eo esh. portanto n'isso a causa de auscncia de cspirito rcvoluciunario; esh sim no caracter agrieola da sua vida economica. Sem ter soffrido, como a Fran-a, uma democratisa-o rmolucionaria da proprietlade, convergindo ao contrario a legislao e a politica para o fim de crcar de novo os lat ifzmd ia burguczes em substitui~o dos lailfundia monacal'S e misto-cra tico:-:, este movimento economico afr~1staria. por scculos, combinado com a i~;11orancia popu-lar, o perigo de uma rcnOV

  • PORTUGAL E O SOCIALIS:\10 41

    os constitucionaes crearam com a proteco (dando assim sem o advinhareru c01da. para se enfo:rcar, como diz o poYo), tem por i~so entre ns uma vida at certo ponto faeticia e pouco importante, relativamente; a ac~o moral que p de exercer so Lre as popula~s ruraos pois pequena em si.-A segunda das consideraes que a economia social portugucza nos oft'erece, e por isso que ainda por este lado fizemos descenuer inuncdiatamente o estado actual do perodo das Dcscuhertas, a explora~o do Bra-sil. A explorao de regies virgens um phe-nomcno que desde o scculo XVI Yeio complicar profundamente a vida economica da Europa, e da no distinco d'es~as eomplieac;es tem nas-cido graves erros, comparando a vida dos paizcs oxtra-curopcos ,, d'aquelles que so s

  • PORTUGAL E O SOCL-\LIS)IO

    Fallamos do facto de ser o Brasil o maior dos nossos mercados consmnidores, com o qual permutamos grande parte da nossa produc-o agricula; de ser o El dorado para onde as populaes do ~linho e dos Aores emi-gram, considerando-o justamente como uma se-gunda mc-patria pela lngua, pelos costumes, pela facilidallc relativa com que se enriquece; de ser o grande cam110 de operaes finan-ceiras do thesomo, o granlle comprallor da di-vida; de snpprir com as economias indiv-i-duacs, que todos os dia:; im11ortamos em valores metallicos ou tidueiarios, grande parte dos de-ficits economieos ocear-;ionados pda distribuio viciosa da riqueza na Emopa.-0 Brasil por-tanto para ns o nwio extra-nahual, pdo qual mantemos uma po:;:i~o cconomica anormal, e affastamos a immincncia do perigo social. Com-parando-nos com a Europa, achamo-nos at cer-to ponto cm condies similhantcs ~s da Ingla-terra c da Ilollamla; completamente distinctas das da Frana e da Delgica, onde os saldos da explorao de unut outra sociedade no podem corrigir em parte os defeitos da distribuio; das da Alie manha e da Suissa, onde a economia seguiu caminho dif!'erentc, menos perigoso, e por elle c pelos costumes, pelo genio da raa etc. se no ob::;crvam muitos dos vicios economicos

  • PORTUGAL E O SOC1AL18)10 43

    das sociedades latinas. Se esta opinio minha da influcneia do Brasil na nossa economia so-cial, coneorrendo para manter o statu, q_uo, pa-recer infundada peo ao l(itor que se lcmLre de janeiro de 1868, da agitao cconomica do paiz, do movimento das economias, da proximidade da bancarota etc. e compare essa data com a da guerra do Paraguay, que, paralysando oBra-sil, emlJaraou consideravelmente as nossas re-laes com clle.

    Resumindo pois o que fica cscripto, l)ergun-tar-te-hei a ti, leitor, que dcs(:jas a cunservao, no a conserva

  • PORTUGAL E O SOCIALISMO

    e) auseneia de industria pela pobreza natu-ral mineralogica;

    f) formao da classe brasileiro, (to hedion-da, no :Minho principalmente!) manuteno da emigrao de trabalhadores, de raparigas que o prostibulo espera alm-mar etc., pela explo-rao do Brasil.

    Querrrs tu, conservar ainda, leitor? quere-rs conservar esta engrenagem horrenda em que Re enlaam em ltarnwnia intima, como as voltas de uma ba enorme, a ignorancia, a mi-seria intcllectual e moral, o parasitismo, a agio-tagem, a grande-propriedade, os brasileiros, os bachareis, os agiotas, e as prostitutas? No po-des querer, ou no vales mais, tu, do que todos estes.

    l\Ias se eu t~ no pmule convencer ainda, lei-tor amigo, dize-me, tu que te offcndes e a quem irritam a sensibilidade e a moral as successi-vas miserias da politica e da. finana, os con-tractos escandalosos, os privilegias U.ados de mo-beijada, a corrupo aJministrativa, a mi-seria dos parlamentos, a immoralidade dos go-vernos ;-tu que querias evitar todas essas des-graas, sem reconhecer que ellas so nada em si, isto , qne so apenas um resultado exterior de um vicio fundo e organico; tu, dize-me esta serie de caracteres morbidos (a-f) que des-

  • PORTUO.\L E O SOCI\LJS:\10

    enrollei, como a traduzirias por uma palavra s? qual o estado correlativo elo organismo humano? Os medicos te respondero que se cha-ma comatoso.

    Estado comatoso o de um adormecimento em que o doente c~.e desde que cleixa ele soffrer as excitaes vitaes. Essas cxcitaocs na socie-dade so o amor publico e o amor privado; o primeiro traduzindo-se pelos senti111C1ltos da pa-tria, da humanidade. que se reflectem na poli-tica; e o segundo pelos de liblnladc e ele tra-balho que se reflectem na famlia. O coma dia-gnostica-se ex per i mentalmente n \una sociedade pelos princpios praticos sobre que dia a~senta, princpios que a toda a hora ou vinis, leitor, e que nem j1 te ehocam, t?lo communs smn. Para que heide tomar sobre os homhros o peso da fami-lia se o gre1nio, o cnjir c o prosti~ulo me sub-stituem vant:~josanH'ntc, o salo, a casa-de-jan-tar e o quarto-de-dormir? Para que hei de ma-tar-me a trallfdhra, ~:~e um cmprPgo se sou mo-desto, a politiea se possuo o IJ.ltid, ou a agiota-gem lt

  • 46 PORTUGAL E O SOt.:L\.LlS)IO

    sociedade. Esse estado que a~. com ella nas mos dos condottieri da politica e da agiotagem o nosso. N'esse estado todas as revolues so pos-sveis e faceis. Os princpios do-os, no direi j a fora Lruta, porque essa epocha passou, mas sim uma cousa superficial e facticia, que se faz, se laL01a, alta noute nos conciliabulos das redaces e que se chama cynicamente opi-nio puLlica. Opinio do que dorme ! Se ma-nh o movimento reaccionario-jesuita, o repu-blicano individuali:;ta, o connmmista mesmo, adquirissem entre ns uma certa prcponderan-eia, crs tu, lcitor, flue verias emigr~r a flr dos nossos homcns puLlicos ?

    No; o politico um typo extranho socie-dade, que tornou de empreitada governal-a, e a quem so indiffcrcnte~ opinies e princpios; cor-responde exactamente ao que lho chamei: con-dott iere. Que durmas, povo ! o seu desejo ; fazer-te dormir o scn empenho; do tcu sornno vive. Se acordares, a sua existencia periga. Elle tem por si hoje uma psendo-classe, a Lur-guezia bancaria., com a qual casou, repartindo, por carta de metade, o que tu ganhas com as bagas do teu suor. Se acordares e sou Leres isem-ptar-te da se1Tido que te impem, a divida, o

    .. militarismo, a Lmcaucracia, os 1Jancos ; se dis-seres aos ernpresarios da politica que a pea

  • PORTUGAL E O SOCIALIS!\!0 47

    acabou, e bnrguczia fjUO cm duas ou tres ge. raes est mais degenerada do que a nobreza no fim do scculo passado ( .1llichelet) ; n'cssa ho-ra o perigo ser grande, toda a prmleneia pouca.

    Que seja monarehica ou repuLlicana a fi)rma do gonTno, que se chame aristocnltica ou de-mocratiea, isso importa, com effeito, pouco classe dominante, porque isso no traduz para ella absolutamente ida alguma. Ao lado de qual-quer fi'nma apparcntc e exterior de governo ella pdc eonstitnir-se corno intimo e verdadeiro go-verno; no dwgou a sd-o ainda na Edadc-me-dia? n:lo o foi dcpois com as monarchias? no o t' hf~jc? I' ara wjs tamLem relativamen-te indiffl'r

  • 48 POilTUG.-\L E O SUCI.;LI:mo

    retire das m~tos as armas do seu predomnio, isso importar, tuclo Lurguezia politico-banca-ria portugueza.

    Que far elht n'esse dia? eis ahi o perigo. Ir, talvez, aos campos ct~a propriedade

    sua, conL"itar as plebes clc servos que ahi aram com o suor do seu rosto a gleba fertil? ir con-vocar as hordas s(mi-sclYagens que habitam as serras, alimt.ntadas de po negro? Seria esse o momento critico, c se essas plebes barbaras, mtm-do de chaos humano, que em si contem sim, mas latente, o g(rnwn da futura harmonia, cais-se sobre as cidades, como Alarico sobre Roma, a sua victoria seria para Portugal a primeira epocha de uma vida morta como a da Grecia moderna, como a da America hespanhola, uma vida de bandidismo systematico.

    l\Ias o meio milho de trabalhadores agrco-las pde desconfim. A desconfiana o senti-mento instinctiYo que precede a curiosidade e pelo qual o esprito chega investigao e

  • l'Ull n.:G.\L E O ~UCIALI~lJO 49

    au mundo. E quando o camponez n;'io desconfie, sero to cegas as cla~ses cmsuvadoras que lan-cem mo de mna arma fpte, dPstrnindo o futu-ro, as destruid, tmnhou a cllas "! :Ko seria um facto novo; as rqmblicas italianas, por exem-plo, do-nos a prova dos .:\Iedicis; mas quero tl\ .. 'r que s

  • 50 PORTUGAL E O SOCB.LIS~IO

    4.o

    Phllosopbla t1a id-a de Estado

    J n'este mesmo capitulo se indicou a natu-reza que as relaucs do Estado e do Individuo adquirem perante a eritica do Socialismo. Syn-these de uma opposio logica. da hil'toria, o di-reito puLlico, nas suas conclu:-cs superiores, absorve em si o indiYidualismo atomil'tico natu-ralista, e o pan-soeialismo gm-ernamental, com-mmli:..;ta e idPalista. Determinar pois a funccio-nalidade real elo Estado, a sua philosophia, e por ella implicitamente a do Individuo, o que nos cumpre n'este momento intimo da parte da questo de que tratamos.

    X a Tlzeo1ia do Socialismo 1 deixmos patente a historia da ida de auctoridadc, o que equivale a dizer da ida de Estado, e c>ncontdmos corno ultimo termo politico das duas correntes scien-tificas, desde a renoyao de Grutius, o natu-ralismo individualista dos sa:s:onios e o idealis-mo auctoritario dos germanos. Primeiro, uma theoria atoltlistica peJa qual o Estado, sem rea-lidade positiva, no mais do que a sornrna das realidades individuaes: d:ahi a doutrina. do nu-

    ~ Liv. prim. cap. 11 e III.

  • PORTUGAL E O SOCIALIS:\10 51

    mero e o systema das maiorias ; -segundo, uma thcoria transcendente pela qual o Estado a rea-Iisao positiva do eu absoluto: d'ahi o impe-rialismo hegeliano.

    Escusamos de demorar-nos !'obre esta segun-da doutrina, j: examinada c classificada na sua serie philosophica e historie a, t porque, soh o pon-to de vista pratico (JUC ngora nos dirige, esta thcoria no importa ao mundo cnropco neo-latino que sob outros nomes passou j:i por clla no pe-rodo chri~?lo.

    A dPtinio nnturali~ta dt Estado 2 port'm artuella que pr

  • 52 POR fCLiAL E O SOCI.\LIS)JO

    Auctoridade, 1orquc a domina logicanll'nte. E' d'esta itla de Est

  • POltTUu.\L E O SOt:I.\LI:mO 53

    chamado mat,rialismo: a mabria a cundir)"io necessaria da producc;ao do pensamento, f' o in-dividuo (gualmcntc a condic;ao nece~saria da produc

  • 54 PORTUGAL E O SOCIALISJIO

    subordinada fra de si serie de homens que constituem a sociedade, livre, antnoma7 real tam-bem em si;-encontraremos a ehave cl'este pro-blema na constituio federativa, dentro da qual a serie natural aeha o seu molde real, a liber-dade do Individuo a sua garantia, a liberdade do Estado egnalmente a sua.

    Na politiea, as idt'as de Estado e Individuo traduzem-se pelas palavTas Governo e Lihcnla-de. Suppondo que d'urna soeiedade abstrahisse-mos de qualquer cl"estes dois pt',Ios antithctiem:~ contradic-es npparcntes qne se resoh-em n'uma

    ~:r-n these lo~ica, cs:e;a socieda!lP di:;;npparec('ria. )Iantl'mlo os indiviflnos c ns suas liberdades, tf'-riamos o inorgani:::mo sl'lvagem, ineapaz de so-eiedade, embora l'Ontluha em si latente a con-,ntiu necessarict do tsenvoh-imente da raso colll'etiva: por is:-:o a Iogica arrastou Tioussean a def

  • PORTt'GAL E O SOCIALIS!\10 55

    logicos do problen1 a7 a authoridade do Estado, Java por isso lugar a tamanhas perverses que occasionaram o movimento rcvolucionario euro-peo do fim do seculo passado; o individualismo representativo, ou governo liberal, rcalisando corrclativamcnte o tt~rmo logico opposto, a in-dcpendtncia do Individuo, d:i lugar da mesma forma a perverses de natureza, opposta no seu caracter exterior, mas cssencialnwnte idcntica. Sob a formula absoluta, do mesmo modo que sob a fonnul(t liblral, a natureza incompleta do principio social consentia c1nc ~i sombra da dou-trina se mantivesse a cr('a:'to cxpontanca das foras cpw a constituic;o, por dd'lituosa, no pOllia suhmetter ao eriterio da norma racional.

    Ns, socil'dadcs latinas do sceulo XIX, vive-mos ha CC'Ill annos dcn tro da atmo:-;phcra que nos ereou a revoluc;o frane

  • 56 POHTL"G.>.L E O SOGI.\LJS)IO

    poern a alterar o modo con:;titucional positi\o das naes latinas, a fonte immediata do estado em que nos achamos. Revoluo profun-da que percorreu todos os termos da sua serie, que comeou, cum Turgot, uma 1ejorma, da re-forma pa-=sou 1econstituitio com ::\liraLeau, d'esta cmda,cia, destrui2i.o e renovao, com Danton, e da auclacia ao idealismo mystico do te1To1 com Robespierre, para d' ahi ca r na mi-seria de thermiclur e na mo11strno:-;idade de Xa-poleo ;-revoln?'w enja alma pas::;rie de crc>aes illogicas, incom-pletas, immoraes e ab:;:olutamc>nte falsas soLn que tcm assent:ulo a vida eontemporanea das so-ciedacles latinas. c flllC' tem feito ll'es:;a vida uma Ppopea de vidori~s e de ruinas, victorincia, runas principalmente da moral.

    t i;-;to o que knt a dizer aos allcmaens que as raas latinas esto mortas. Que quc>r dizer 7JWJtas ! ... A .. .\.llenumha, ni'to fallamlo na feLre de patrioti~mo exdn:;:ivo flue a ega desde 1813, e pelo r1ual,

  • PORTUG.\L E O SOCIALIS::IIO 57

    alcanar a unidade; a Allem:-tnha r('cebe o ca-racter flue a eleva c distingue na ci,-ili:mo mo-derna (lp uma faculdade natural qw po~:me n'um gr{w superior, a facuhlade meta.phisica. Unin-do-a ao SPntimento de rdi2;io:;;idadc my:;;tica c, for-mando um homem, tcrmnnR um allemo. O c~pirito de indcpendcnc:ia, lc libPnla,le, nacional e so-cial, a c:ritica, o scntillwnto da realidacle, uma per-sonalidade 1;ositiva, ci::; o fjtW nos caractcrisa, a nc)s ccltn-latinos, em contraposi(~o ~i perRonali-daclc myRtiea dos gt'rmanns. Dentro (l'cstes dois p,',los se llll',vc a civilisa~o moderna dcsclo a Hc-nasccm;a; c lo conmwreio rcc:iproc:o tlas duas ra-as naRCPram os mais hcllos fructos cla nature-za lnun:tna; ello {o prinei}'io fla ci,ili~a:u, mo-d

  • 58 PORTUGAL E O SOCIALIS~IO

    por(m a mostrar-nos a razo de ser do caracter peculiar que as iclea::; e as esdwlas politicas tem na ... \..llemanha; e como 1780, se um facto da historia elos latinm~, no -no seu caracter so-cial e politico- um facto da hi~toria dos ger-manos; como, portanto, capital para ns, no para elles, intimo para n~, exterior para- elles .

    .A revoluo franceza resulta, na sua fatali-dade hi:"torica, do periOllo, da epcha sucial, a que as sociedades latinas (com a mouarehia, com u direito chil, com a critica) tinham chegado politica, economica, religiosamente;-e, no seu caracter mural, da iwlole peculiar aos povos la-tinos, liberdade racional e animal, persunaliJa-,{e positiva, e:o-;pirito lugico. Ora a Allemanha, cuja civilisa~o comc~

  • POH'l'I.JGAL E O SOCIALIS)IO

    no })artilha ainda das victorias do esprito re-"oiueionario, no softh~ tamlJem muita::; das sua~:; ruinas que, como eu disse, so principalmente mo-raes. O sentimento da raso colleetiva vive alli como n~o ,ive entre ns; o processo de refor-ma, a trausformao da tradio o rnodu pra-tieo de evolu~o social, ao coutrario do not:so, revolues, reae'Jes, destruir, etlifiear, teia de Penelope em que levamos gasto mn sceulo sem tahez conseguirmos adiantar um pat:so!

    Ponhamos pois a Allcmanha de parte; a re-voluo frauecza um faeto nu~so, um fado eonsmnmado, que se impe com o pc;:;o inven-eivcl da rcali

  • 60 PORTUGAL E O SOCIALI:':IIO

    ao tempo, nem ao espao, nem historia, nem sociedade.

    Estas idas, que uma vez propostas tinham de desenvolver-se e attingir a sua mais elevada expresso, encontraram-na cm Fran

  • PORTUii.-\L E O SOCIALIS\10 61

    Se de um larlo todo o sangue-frio, toda a boa-f e toda a scicncia, a raso e o caracter nos seus termos mais elevados, so indispcnsavcis para a soluo do problema que agita as socie-dades contcmpormwas; do outro ncccssario ser completamente de::;tituido de raso c de ca-racter para desconhecer que as naes enropeas se encontram a lnaos com uma questo que o statu quo, o laissez fa,ire do liberalismo in-capaz de rc:;olv('r.

    do r~"conhecim::mto d'este f~teto que nascem as contr~ulices sem nmnPrn, 'lnc C'ntrc si dis-tingtwm e caractcri:mm os lihcracs, rctluzindo o lcmma d'esta esclwla a um termo ct~ja defini-o prcei:m seria impo*.:inl. Temos primeiro o rcpnhlieanismo r:ulical rlc ~tnart ~Iili, de La-boulayc como puhlieista:-:, (l Gambctta cm Fran-a, de Zorilla

  • 62 PORTUGAL E O SOCIALIS.\10

    comtigo que fallo meu leitor e meu amigo; que classe de individualismo esta que consen-te a concorrencia do Estado?-Temos depois o liberalismo monarchico-conservador, de Lave. leye, de Guisot, do sr. Herculano, iclentico em si, embora as nuances pessoaes, e o qual man-tm governos cm Inglaterra, em Frana (no obstante chamar-se rl'publica), na Italia, em Portugal; no rl'petirl'mos o que j

  • PORTUGAL E O SOCIALISl\10 63

    poder brilhante, sem univer~idales senas nem fortes institui -~s ~ci:mtificas, falta-lhe distinc-o e gmndcza; no pd ser original nPm na arte nem na scieneia. >> (Ref. 1."ntell.) No so estas palavras profnndamPnte sentidas, c em certo ponto exactas? O que , seno isto, a socicJaJe norte-americana, sociedade muda e sem esprito, que t_., no obstante, o ideal do li-beralismo individualista? 1\Ias demos isso de harato; demos que, com effeito, o fim de uma Rocicdafl

  • PORTUGAL E O SOCL\LJS)IO

    Ora deixaremos em paz a historia, sem lhe perguntarmos se tinha ou n?io ideal rcligoso, significao superior, a dcmoerncia albm da Reforma que deu tle si n Suissa, etc. l\Ias in-felizmente necessario dizer que o Sociali:-:mo no a Cuhin, por'1uo a Justia. Qual ele ns, proletarios, cuja adi Yidm1e nnturnl encaminha para este cmnpo do propngno das idas, que no p0l1in satisfazer muito mais e melhor a CuLi-a, se fosse movido por clla, entrando no num-do constitudo ela mereanea politiea't U Socia-lismo, repitamol-o ainda e sempre, nma revo-luo moral, da Justia, da LiLcrdade e da Egualaadc. Se faz accentnnr o carncter econo-mico cl'esta reYolno, por'1ue ns sociedades chegnrmn nos nossos dins :i pocha scientifica, na qual, se no licito desconhecer a influencia reflexa dos phPnomenos phisicos sobre os mo-raes, no pdo tamhcm sel-o desconhecer a dos economicos sobre os politicos ...

    A soluo estaria n'uma Yolta ao direito his-torico, u'uma rcconf:tituio hicrnrchica da so-ciedade, no cm nome dos nlhos titnlos ccde-siasticos c militares, mas sim cm nome dos no-vos titulos scientificos, litternrios etc. Esta so-luo politica cm-rc~pontle :i elos cconomi~tas que propcm1 para a crise opcraria, a reconstituio do systema heneficiario, o patrona to industriaL.

  • PORTUli.\L E O SUCI.\LIS~IO ()5

    Eis-aLi um tredw de ~Iiehelct ( Le peUJJle) que rcspowlc eaLaluwnte a c~ta phantasia: patrouato antigo e feotlal n?io voltar:i, nem deve vo!tar. Sentimo-nos tolos cguaes . ..Altm d'iss o carader e a originalitlade teriam mui-to a ~ofi'rer com essas relalll, em fJUe se tornava a sua sombra, a sua triste eopia. A eomprida lllesa eolllnnun a que o bar?w prcsitlia c que pelo ea-pello, p, sobre qualquPr tralJalho, solm; qnalc1ncr snlH'r, in-eompatiYd eom o di::;cmohiuwnto que' a eivili-:-;ao tcm dmlo ao sentimC'nto iwlqwlHltnte da Eg-ualdwlc, (omo p01ltr:i imaginar algtwm rc-com;titnir a hicrarehia sol11e os proprin:; l'll'nwn-t.us qnt a ('ivilil:iao tem tliminado? X' esta l.llJs

  • 66 PORTUGAL E O SOCIALIS!\10

    de ~Iaistre, a Bonalcl, a l\Ianterola, a Nocedal, Nao, ao Unive'rs, Espe1anza, a Napoleo III.

    Diremos uma. palavra s

  • (jj

    uma dassc ~ontra a;:; outras dasses; no pde ser um verbo do destruio c lwta, porq uc a luz da sciencia e da paz; no pt',dc ser o pre-domnio das elasses fabris, mas sim o cnncur~o fcrtil, dos opcrarios e dos eamponczcs, conta pe-quena burguesia, logistas, foreiros, rendeiros,

    p~quenos proprietarios agrcolas, industriat~, com os operarios da, scicneia, medico:-;, legista:-::, economistas, mathcmaticos, architcctos, cngc-Hheiros, pulJlicista~, etc;-com o fim de cortar o n de alliana apertado entre o Estado c o Capital, do anniquilar a oligarchia banco-hureau-cratica, de dcmittir os condottieri da politica, do delimitar, legislar, organisar as func

  • l'OfiTlfliAL E O SOCI.\LIS!-10

    motivos jnstof.:, mas qnc no bastam. A repn1li-ca unitaria deu de f:i dictadura~, sois pela buis-sa, pPlo federalismo! l\Ias attendei que hojl~, eomo as cousas suo, o federalismo seria o ver-cbdciro feodalismo, a eleva

  • CAPITULO II

    A REVOLUO E A INDUSTRIA

    Os OIJl"l'nrio~

    As descuhertas scientificas do principio d'este seculo v-ieram dar-lhe um caracter seu proprio fJUe o induf'trialismo; e a applicao do vapor ~i. industria determinou, centralisando-a, a f~rmao de uma clos.

  • 70 POnTUG.\L E O SOCIALIS:MO

    ao Socialismo que cumpre indicai-os antes de ninguem.

    Esses perigos consistem na seric de Hentimen-tos c1ne o mudo organico-social da grande indus-tria tz nascer na mente de popnlaes infeli-zes, polJIcs c ig1wrantes.

    A comparat;?lo flnotidiana de um luxo imbe-cil e provocante, dn uma ostentao van e ma-terialista da rifluesa, com as rpwtitlianas mise-rias tla vida do pobre, a comparao de uma ociosidatle estcril cum as penas do tra1Jalho cons-tante, S

  • PORTUti.\L E O SOCL\LIS~IO 71

    as dores c se aproximem as fortunas, o que, n'este caso, f?rpvalente. ~uccede porm que os homens originacs, iniciadores, da classe ope-raria, um Owen, um Fourier, um :Jiarx, (pon-do agora de parte o gro potencial das e:;;pccu-

    la~cs de cada um) e me~mo os pensadores sados de fra do mundo opcrario, um Cabet, um Dbnc, etc., vendo na ca,erna, na vida collectiva da offi('ina, na C'gnaldarlc relativa do salario, na ni-vellao ckmo('ratiea das pessoas pelo trabalho, no 'mil itnrismo industrial, o caracter adquirido '-la societlmle falnil, apoiam as suas cspC'cula-\cs RQLre c~ta hase tam:-;c)nwntc transitoria t ltisto1ica, c, llando o valor de um principio ao fado natural da as~oeiac;o, a importancia dt uma ki ao accidente da collectividadc tlo tra-lmllw, pnrtC'm (l'ahi l'nra um:t conc

  • PORTUGAL E O SOCIALIS:\10

    imaginao e o sentimento podem larga rea-lisar idealmente as sublimes a~piraes da alma. Este earader, como que religioso ou poctico, c1ue taes

  • POHTUG.\L E O SUCL\LIS~IO 73

    te que fa~o para que mantenhas o teu sangue-frio, para que invoques o teu Lom espirito, agora que vaes entrar-sPm Yirgilio-n'um inferno, no triste iuterno da mi::;eria e do crime da Com.-media humana no seculo XIX.

    A proteco commereial, chamada sysfema, '!nercantil, fUra, df'sde Carlos-)Iagno, um dos meios, por flllC as monarehias modernas preten-deram regular os phPnomcnos de distrilmio de riquc:-:a. Com a ltcvolno fianccza apparc-cco mn print(iro fn:-:ain de livrc-eamhio eom-mercial, mas logo as comlics politicas do rei-nado cle NapolPo abafaram c:-:l'-:a tentativa, quer intra, fpter extra-naeionalm(~nte, qncr nas rela-es de procluctor-commmillor, 'lllPr nas rl'laes de povo a povo p(rmutadores. Depois d'iHso o industriali:;mo fahrilmodcrno, f{llC nasce uo pe-rodo naprJleOJtico, lc~vanton mn:t somma tal dt prohlfmas, tom a [1-.rma

  • 74 PORTUGAL E O SOCIALIS!IIO

    Inglaterra e Bastiat em Fraua prlgam o livre-cambio, este ultimo dc~enha em quatro traos o erro do industrialismo portuguez: Se Portu-gal quer a toda a fora fabricar lenos e barro-tes de dormir, seguramente se engana, se no reparar que empobrece a cultura da vinha e da laranjeira, e que se priva dus meios de melho-rar o leito e arrotear as margens elo Tejo. 20 ou 30:UOO homens, com eft"l,ito, (1ue o systerna protector lalH;ou para as ca;;crnas de Lisboa e do Porto, teriam produzido o que no tem, se em vez de fundirem ferro, tivessem plantado vi-nhas. O facto (~ porem que 20 ou 30 mil homens fundem h~ie ferro e fazem meias, que indis-

    pensan~l contar com clles, que o livre-cambio no pude dizer-lltPS hcdP pela Locca dos estadis-tas: l\leus p:ws foram pda proteco, ns no somos, soffrei vs as consequencias do seu erro, dcixae a caserna e ide fazer outnt cousa. No pode, porque o~ 20 ou 00:0UU responderiam: Se o erro fui de yo:;sos paes, n~o dos nossos, como quereis que lhe sofframos as consequencias? alem de que no nos dizeis que uutrct cousa fa-remos~ c succetle que aprende11WS a fundir fer-ro e ni:lo pudemus Cl[f1'a i, aprender a pudar vinhas.>>

    o~ operarios falJlis, portanto, a 110\a classe com as suas Yirtucles e os seus vcios, esse novo

  • PORTUGAL E O SOCIALISMO 75

    modo de ser humano com todas as suas conse-quencias desgra-adas, uma amostra de paupe-rismo industrial, eis o que o proteccionismo trou-xe a Portugal.

    ~Ias trouxe e existe, innegavel na socieda-de portugueza, temos de contar com clle. En-tretanto, como um resultado, no da natureza, mas sim das leis, um elemento relativmnente transitorio, ~:omparativamente menor. por isso que Portugal, rocle dizer-se, ntio tem pauperis-mo; por isso c1ue e11tre 111'>s no se leYantaram ainda, nem se levantaro j, Kc1sons ou :-;y,hH'Y Smiths para dizer, ~:omo em Inglaterra: a pohrPza infallle! >> por iF:so que a cldini\rw in-p;leza da falnica: manufactura de al[Juclo e po-bres, no pode S(rvir-Ho::;. O nilu attingirmos po-rem Ulll termo tam

  • 76 PORTUGAL E O SOCIALIS:UO

    sultam, mantem uma proteco anachronica, com as alfandegas, eom a divida e com o imposto, pro-teco (1ue, Tecaimlo afinal toda no consumo, vem ainda pciorar as condices do trabalha-dor pela elevao dos preos das cousas.

    Se o modo de ser do mundo industrial dos nossos dias, leitor, produz os deploraveis resul-tados r1ne tu conheces, necessario que no con-sideres a pobreza como o pcior dos males; por-que, acima da perverso economica, devemos pr a pervers1o moral. No nosso pequeno mundo in-dustrial de Li:;lJOa no contaste nunca, aos sab-lJados, o numcrn de brios que pova as viellas escuras e nausealnmdas, onde crapula vem juntar-se a orgia das mulheres perdidas? onde o prostibulo estA cm frente da taberna, ao lado o bilhar, e entre o 1Jilhar, o prostibnlo e a ta-berna se funde a feria? Perguntas-me enfada-elo: r1u,' est c e que cel(t prouve 'J qnid indi? Celn prouve que a desordem e a immoralidade sam contra a natureza; cela prouve que, se esses ho-mens no f()sscm pobres, sf'riam melhores; cela prouve que, se n~io tivessem de trabalhar dozP horas para comer, saberiam ler; cela pro zwe q uf', se tivessem po c liberdade, seriam paes de t:'l-milia.

    Olhae as mulheres c as crcan~as, entrac n' essa casa, e vereis c salwrcis, se qnizcres, como que

  • PORTUGAL E O SOCJ..\LISliO 77

    as sociedades se corrompem~ dividindo-se em duas famlias oppostas: dos ricos c dos poLrcs. Quan-to ganha o par? "Cm cruzado ...

    Termo medio a famlia tem quatro pessoas; termo medio o salario de 400 ris. Que far o trabalhador a quem a natureza impe o coi-to? Primeiro c principalmente recorrer ao ce-libato e ~i prostituio; ao celibato depois ainda e s rdac;es illicitas, d'onde resultam os infanti-cdios (tam frPftnentc>s em l,ortngal como na China!) e a roda dos expoHto~. Quando um ho-mem foi agarrado por esta engrenagem de ao, morrcu.-)[as ha muito~,ar1nem uma certa ener-gia do caractfr ou uma constituio artstica e sentimental, kvaram ao ea~anwnto e ~i famlia: ento quo se encontram (tnatro pessoas com quatro tostes por dia. ~\. iwlnf'ltria otferccc uma tentao diaholiea: augnwntar o salario,dcstruin-do a famlia . .K'essc> mouwnto a esposa c os fi-lhos entram na fa1nica... No vi~tc aiJHla, lei-tor meu, uma tarde, cm (ptalftner dos tlois ex-ttcmos da cidade, cm . \l~antara ou na :\ladre-de-Ocos, ao to!UC do sol-pof'lto, uma omb ani-mal qtt ohscouid:.dcs, d-'!"composta no gc~to, c::;-farrapatla w'~ tla.~cs, sem ddicatlcza nem di-gnidal, P qn} a~ rn:H olJ:-:e,tra:i c> tortno:;as de um hoe:ulo 1lt' citLHlc tlo ( )ritntc ah:-:orvem, c que

  • 78 PORTUGAL E O SOCIALISMO

    em casas infectas e tristes vae dormir um somno, brutal pelo canasso, e agitado pelas pro,Tocaes dos homens das ruas? Pois sam as esposas e as filhas (l'esse operario qne no tinha que lhes dar de comer.

    Uns annos depois voltae ao mesmo sitio; que d'ellas ? sam outras caras as que passam, no-vas victimas; das r1ue vi:-;te n'outro tempo, umas suicidaram-se, outras entisieararn e morreram em S. Jos, outras finalmente, as mais talvez, chamam-te desavergonhadamente, quando pas-sas por aca:;:o em algum Lecco immundo!. ..

    No me irrites, leitor, chamamlo a isto re-thorica e perigosa rethorica ! Acredita que no ; podia, em vez d'estas palavras, ter-te mostra-do cifras mais elot1uentes; pareceo-me porem que a tua alma no teria penlido ainda a fa-culdade superior de ouvir as cousas com o co-rao! Que, se qn

  • PORTUGAL E O SOCIALIS:.\10 79

    Quid ind ~ Quid zd~ (i.uc ha pobres e ri-cos? A natureza ~ assim, harmonica; la'issez f"azre, laissez pa,sser.

    No! no! no! Laissez faire, laissez passer, uma monstruosidade que nem tu proferes, lei-tor ! Laisse1 passer o qu? a fataliJade da pros-tituio? o morticnio de treze quatorze vos da populao ?-Ento qu?

    PROTEGEU; proteger, no com as alfande-gas, nem com a divida, nem com o imposto; proteger, no com a protec:lo anachronica do direito divino c da Jn:;tia distl'iLutiva, mas sim com o direito humano, com a Justia coummta-tiva, com o E::;tatlo real, expresso lla moral c da idea collccti,a, orgfio da Justia. Proteger o opcrario contra o patro, o patro contra o opcrario, o operario contra si pruprio, o patro contra si proprio tamLcm ! Proger cgualmcn-tc, rcalisar o pacto de verdaleira solidariedade, ct~ja natureza complexa, cujas faces sam mul-tifornws.

    l)rot

  • 80 POnTUG.\L E O SOCIALIS:\10

    micilio e o tlas creanas antes da eclade legal; Organisar o ensino profissional, c a aprcndi-

    sagem; Fiscalisar as officinas e regular as condi-es

    do trabalho sob o ponto tlc vista ela moralida-de, ela higiene, do dinito e da segurana;

    Constituir e presidir aos tribunaes arhitraes para a decisrto das ptndcncias entre patres e operarios, e evitar assim os prejuisos que tra-zem comigo a5 [Jtetes do capital e as do traba-lho.

    Isto s); mula mais. Executar o seu papel tle fiscal do direito, da ordem~ da segurana, sem atacar a libenlade c autonomia do foro imlivi-dual. pouco? conforme. Se a Revoluo sere-dusisse ao mundo da grande indu~tria fabril, como o julgam muitos opcrarios, no seria pouco, seria nada. "Lmas palavras mais nas leis, umas mentiras mais nos factos. )Ias como a Revolu-o, para que seja, tem de sel-o completamente, este pouco transformar-se-ha em muito, em tudo!

    2.o

    Dn &rntathnl'l de recou ... tituliio das d&l'll'lel'l Ofternins

    Diante do prolJlema temvel que pde levar as sociedachs Clll'llpPas {t, vida crrsanguentatla

  • PORTUGAL E O SOCI.-\LIS:\10 81

    das repul,Iicas italianas da Eclaclc-mcclia; c isto no seria ainda o pcior, porque pcior, muito peior do que isso, seria este clcscar lento, cons-tante, fatal, das idcas, dos co:.;tumes, elos tem-peramentos, para um estado carthagincz ou ba-bilonico ou romano do baixo-Impcrio; diante do prolJlcma tcmiYcl do proletariado opcrario, a boa c a m~i f tem posto em pratica um sem nume-ro de institniucs, cuja sucec:-:~o constitue j uma serie na historia do sccnlo XIX:: so os meios com (1uc de j1a do prulJlema se tem querido atenuai-o, resuhcl-o at. Como no mun-do romano da dccadcncia, a caridade o motu de todas essas institui

  • 82 POnTUG.-\L E O SOCI.\LISMO

    (1uasi a libPrd::vle civil e uma tal ou qual liber-dade politica. Logo, porm, o r('gimcn do sala-riato e da gramlc industria vcin aggravar os vcios de distribuio, que a liberdade tornava felizmente Pvidentes. D'ahi o movimento de re-constituio das dnsscs operarias, j, pela inter-VPno official, j, pela creao expontanea, e cuja serie a seguinte:

    a) Caridade pnlJlica, asylos, hospitaes, alber-gues, etc., ou mantidos pelo Estado ou por sub-scripes particulares;

    b) Caridade pri,-ada, soccorros domiciliarios, com ou sem suhsirlio do Estado, ou simultanea-mente officiaes e indiYiduncs;

    c) Soccorros mutuo:.;, monte-pios de da~se para a fnlta de trabalho, pnra as doen

  • POR'ITG.\L E O SOCI.-\LrS~IO 83

    organicamcntc, se apresPnta no eampo do livre-cambio c da cuncoiTI~Heia economica com as

    j) ~oeicdadcs de rcsishncia corporativas e naciona('S (trwle' s 1.mions) para a organisac;o da grve, nw,

    Us monte-pios pnrtngtwzcs r.;am uma das ins-titni;cs, euja monngTaphia havia de rPvebr euriosida1lcs cxtranha!'; o gr:mde soecorri.lo p(lo mollt

  • 84 POH~UGAL E O SOCIALISJ\10

    si a socie

  • POnTUGAL E O SOCI.\Llg:\-10

    o da taxa do juro. (~ual seria o resultado: Que, ou animada de uma i

  • f,(j PORTUGAL E O SOCIALISliO

    o fl.mclo da Caa applicado a emprestirnos, cujos juros formam os lucres dos depositantes; e como, ou porque o governo 111amle, ou porque de toda a classe analoga de operaes a mais segura o emprestimo ao thesOluo, a economia do trabalhador serve a alimentar lllll dos maio-res propulsores da servido a que pretende fu-gir. K a Suissa, a C(cixa-econmnica chega at a emprestar sobre hypotheca! Risum teneatis!

    Antes que entremos no ultimo termo da serie do movimento de constituio da classe opera-ria, fnllemos do uma ordem de tentativas que, filhas da boa-f de muitos capitalistas manufa-ctureiros, nem por isso tem maior valor econo-mico-social, embora o tenham e muito alto como symptoma e esperana: a associao entre pa-tres c operarios .... \.ssociao fictic.ia, porque as-sociao importa as condes de egualcladc, t~ um pacto bilateral c synalagmatico, no qual as duas partes t

  • PORTUGAL E O SOCIALIS~IO 87

    Os factores oppostos lucro c perda, que, feita a conta solidaria de todas as transaces nacio-naes, se resolvem um no outro, porque, para que um ganhe, outro hade perder e viee-versa, sam quem determina a funccionalidade do capital na. prouueo t como garantia. do 'risco. A coope-rao mutualista do productor e do consumidor elimina naturalmente este factor: eis ahi o prin-cipio da Hevoluo na Industria.

    Comprehendcl-o, aproximar-se d'elle, tanto quanto as condies moraes, eommereiaes, po-liticas, o pcrmittem, a soluo do problema oporario, para a. qual as classes trabnlhadoras, e ninguem mais, clla~, pela sua iniciativa, pPla comprchcnso c sentimento do seu interesse, de-vem caminhar com o ardor e a f que h,an-tam montanhas. Elias e ningucm mais, porqm o Estado n:lo pde intervir na esplwra da acti-vidade individual, sob pena do commnni~mo ou ele proteccionismo monarehico e authoritario, o que dam uma c a mesma cousa.

    Ao Estmlo, como expresso da vontade e ra-8o colleetivas, cumpre, na csph(lra da sua acti-vidade, nlrar corrdatiyamenh', em vez do l'lll-harac;ar c reagir contra a corrente impduosa rla realitl:uh, como infilizmLnte succede! E, por

    1 \', Theoria, pag. 36~~7.

  • 88 PORTUG.\L E O SOCIALIS:liO

    isso, em todos os tempos foi, e naturalmente seni necessario ainda no nosso, cortar com ferro esse n gordio ...

    Sem o refutarem, porque da natureza. de certas verdade:; o no admittirPm contestao, o:; economistas naturalistas tem feito o possvel por llirigircm o movimcn to coopera ti v o n \un sentido, em que perca o seu grande, o seu prin-l'pal caracter, o mutualismo. Entretanto, ainda :1. c:xpericncia tem provado contra elles, porr1ue a::l cooperativas, organisadas soL o principio da. capitalisao dos lucros e juros do capital, tem dado invariavelmente esta consequencia fatal, a. liquidao: l.o Porque absurdo que eu esteja. pagando os generos, que compro, 1 O por 100 mais caros, para receber afinal es~cs 10 por 100 sol, rma de juro:; do capital; :!. 0 Porque, eomo o snla riu ~e regula pelo preo dus alimentos, n:o admitte sobra~, ao eontrario, traz sempre deficits, 110 momento em que a capitnlisao, tf:.ita A minha custa, me ur~ente n'nma crise, retiro o fundo, e sio.-~e olharmos a~ coo1}erntiva:: rlc prudu(_;~o, veremos o mesmo: o mutnalif'-mo dar-lhes vida, u capitalismo desviai-a~ immerliat:uneute do prineipio rla instituio. EodHlale o exemplo vulgar. lJm grupo ele operarios constituiu-~c cm ~ociednde indu~tria1. eapita!i-;ou o:3 lucros; pouco dC'poi~ a primitiYa

  • PORTUGAL E O SOCIALIS:IIO 89

    sociedade operaria era uma sociedade capita-lista, dona de uma fabrica na qual trabalhaYam operarios salariados.

    Dados os primeiros passos segmos no cami-nho da constituio da industria, determinada a linha de conducta economica da sociedade moderna, apercebeu-se a classe operaria (Ou;en) de que (ra um elemento 'real, no conjuncto de foras cconomieas que produzem, e, como ele-mento real de coneorrcneia, no podia admittir-sP que o alngner d'essa flna, o salario, se de-terminasse por uma lei que lhe (ra e_xtranha, a das Sttsistcncias. Yin que, se as cousas se daYam

    ~u;sim, era porf1ue Pila no tinha eonseicncia de si propria~ lll'Pparou-se pois para a concorren-cia, afim de fplC o preo do trabalho fosse de-

    ft~rminmlo, rl(t mesma fr)rma f_j1le o preo doca-zn"tal, pela concorrencia de Jorr;as conscientes f' autnomas. E, buscando o ponto de apoio in-

    clispcns~.:nl, que para o capital rcsidfl na fora adquiritla. (ncontrou-o no monopolio natural pda soliclarierl:tth.

    Eis al1i a tmd(/s union, nsnlt:ulo iiwvitayp} da COJlcornneia c elo liYrt-c:nnhismo, cptc st' o rleploranl atraso 'la da:5SO operaria flz eom '!uc no :tpparccesse ao mesmo t"mpo que a gra111lP imlu~tria mockrna.

    1\Ias, naseidas com um earaetfr nacional~ as

  • 90 PORTUGAL E O SOCIALIS~IO

    tradls unions clpressa encontraram na con~ correncia eshangeira mn perigo quasi mortal. J era tarde porm, para morrerem. A illustrao tinha ensinado, havia mtto, burguezia que o capital no conhece fronteiras; e os operarios sabiam jc.. bastante para, em lugar de capital, escreverem na maxima: trabalho. Eis a lnter nacional.

    O caracter da Internacional, realmente, em si, no mais do que isto: constituio do pro-letariado operario como classe economica, pela capitalisao da fora chamada solidariedade.

    Que os operarios inglezes, belgas, francezes, onde a grande industria tem mn papel proemi-nente, imaginem que a resistencia e a grhe podem trazr comsigo a soluo Jo problema social, como talvez muitos imaginam, isso um facto secundario, que a experiencia vae redu-zindo aos seus limites exactos, com a organisao funccional normal das relaes entre operarios e patres, de que principalmente a Inglaterra nos chi j muitos exemp1os.

    Que os operarios francezes, italianos, russos, hespanhoes, sonhem um cornmunismo idealista, que um momento a sua influencia ardente ca-racterise e:x:t('riormente o movimento realista dos operarios europeos (Congresso de Basilea), deixae, leitor, isso ao bom-senso dos operarios

  • PORTUGAL E O SOCIALISMO 91

    e a mais ningnem; clles proprios tiveram o cui-dado de expulsar de si, como clctsse, os mysti-cos apostulus do socialismo _lJhantastico. (Con-gresso da llaya).

    IProtel'iio e liberdade, produeiio e tlistrilmiiio

    Desde que, pela propagao da lntenwcio-nal e pela generalisao do systcma das gri.. ves, os problemas que scrv~m de titulo a este vol-taram :i tla da discusso, ouvimos todos os dias repetir a mesma srio de argumentos, que a Frana e a Inglaterra ouviram ha vinte an-nos, quando fui a campanha do livre-cwnbio. Pareceria que com cffeito ni'o hal:ia nada, de novo a uizer, que o terreno da discusso esta-va esgotado, e que vinte annos de expcricncia e de pcnsamento no tinham daJo mna unica descoberta; mas ao mcsmo tempo os prul,lemas avresentam-se7 m:mtem-sc, avultam lllCl'lllO cada lia. mais, emlJora o 'l.:erl1o novo, o lilJtralismo, ad,prillllo f,',ros ele ortodoxia na sciencia, ga-nhasse batalhas todos os annos no terreno po-sitivo da politica.

    Que significa. esta app:mnto euntratlicot

  • POflTUGAL E O SOCULIS!\10

    Qu(rcd. dizer que o liberalismo economico, a rdigi~w da cu11corrcncia, purame11tc um erro

  • PORTUGAL E O SOCIALIS:.\10 93

    Ora succede-e

  • 94 PORTUGAL E O SOCIALISl\IO

    constituindo-se em sciencia mathematica, an-tithese. 1\o primeiro termo suhordinayam-sc as suas especulaes utilidade pnlJlica, tal como a politica a entendia: era uma collPco de re-ceitas para bem gon'rnar um Estado. No se-glmdo perioJo subordina a si a Politica, impe-lhe os seus dogmas, as suas definies abstra-ctas. Ora, depois dos trabalhos de Comte, de Littr e de Spencer sobre a definio e classi-ficao das sciencias, no licito admittir, nem que a Economia politica seja uma receita para !]Ol'enw1 nm;es, nem que s

  • PORTUGAL E O SOCI-\LISMO 95

    tas, eontradictorias, com o Direito, com a 1\lo-ral, com a Politica. t

    Ora uma vez quo tu, leitor, conheces j~i o cri-terio que hade guiar-nos, vamos a examinar e a resolver a scrie de contradicucs a que d lu-gar a prod uco:

    a) no ThalJalho b) na Troca c) na Distribuio.

    a) No neccssario tornar a desenhar agora o caracter industrial do sy . .,fema mercantil. 2 Espe-cie de COlllnHmi~:nno monarehico, o seu fim e o seu processo eram: erear industrias para cm-pregar braos, e levantar os direitos aduaneiros tanto quanto hastasso para eobrir a differena de custo entro o proa neto nacional e o extran-geiro. Entre n,)s, omhora os passos dados no sentido do livre-cambio, vivem aindn por este meio artificial os oporarios das industrias textis e do ferro principalmente. Tal era o meio por-que se buscava trabalho para os prolctarios, e porque se }1rdcndia elevar a taxa dos salarios, pois diziam: uma vez fPW o pr

  • 9G POfiTUGAL E O SOCIALIS:\10

    A este ponto de vistn, pnrmncnte socinl, op-pozeram os line-cmnhistas a sua doutrina alJl;;-tracta: A }Jroteco no augnwnta a procura de trabalhadores, nem eleva realmente a taxa dos Ralarios; um perigoso equivoco. Porque, a taxa dos salarios depende da relao da offerta e da procura. Ora de quem depende a uffcrta de bra-os? Do numero que existe, c sobre es-te pri-mell.o demento impotfnte a proteco. De quem depende a procura ele brao!';? Do eapitnl clisponivcl. ]\Ias a protecc;?w egnalmente im-potente para erear capital; apenas pde de~dol'al-o. ccApresenta-se com orgulho tal ou tal fa-hrica: fundou-se, porventura, e mantm-se com l'apitars cados do co? Nilo; foi necessario ti-ral-os agricultura, mwcgao, ou viticul-cultura.f.

    Eis ahi os dois termos, a these c a antithcse rlo problema. Refutar o systemct mercantil, cujas deduces logicas levam ao comtmmismo, ocio-so: fizeram-no eompleta, cabalmente, os livre-cambistas. l\Ias estes, confundimlo a proteco eom o systema, c, pretendendo submetter aSo-ciologia Economia, por desconhecerem a parte eoncrcta e dynamica cl'esta ultima que se re-rlolYe n' aquella, cairam cm no menores aber-raes.

    1 Bastiat, Soph. eon. I p. 7G.

  • PORTUGAL E O SOCIALISliO 97

    Porqnf', se uma verdade ph/sic(t r1ue o pre-';O do trabalho se determina pela lei da offerta. e da procura, tambem uma ver(lafle sadal (d(} economia concreta, (lynamica) flno a oflerta e a proeura, livres e individnac:-, no tem re-gulado, no regulam, n~io po{leriam regular por si ss a taxa normrtl do salario. Inferir-se-hia d'aqui mna contradieo entre a sciencia no seu termo abstracto c apropria sciencia no seu ter-mo concreto ( Seria erro; porque, ao contrario, esta confirnw, aquella, quando apresenta como norma, criterio, pelo qual se afiere, e para. a qual se dirige, a evoluo positiva dos elemen-tos rcaes, cujo conenrso produz a vida ccono-mica. das sociedades.

    A oflerta. e a proeura, livre c imlividualmeJI-to pratic~ulas, deram scmprL', dito, o t

  • 98 PORTUGAL E O SOCIALISMO

    opprimido, servo, ignorando-se, os homens essen-cialmente diseguaes, formam tamhem o estado social primitivo, ponto de partida das associa-es humanas;

    2. Que entre o ponto de partida e o ponto de chegada ha mna serie de termos, que se de-duzem uns dos outros, dominio transcendente e 8ervido, domnio natmal e salariato, etc., e pelos quaes se chega at formao do imlivi-duo;

    3.0 Que estas suecessivas e fataes proteces historicas, abstractamente illogicas, adquirem realidade da nattueza do homem, que no um ser abstracto, mas uma personalidade viva que o tempo, a educao, transformam progressiva-mente.

    Eis ahi a philosophia da proteco, que re-futa a concorrencia dos livre-cambistas, embora os seus attaques ao systenut-mercantil fossem justamente dir!gidos, pois que o systema-mer-rantil, e a )lonarchia seu auctor, eram duas fr-mas da proteco, economica e politica, que j no encontravam raso de ser na edade do ho-mem.

    Perdoa-me tu, leitor, esta divagao na selca apparentemente OSCll'ra da philosophia; entra: corre pelo meio dos juncos, mira o bambolear rlos ramos, apoia-te aos troncos nodosos, escuta

  • PORTUGAL E O SOCIALIS~IO 99

    o sussurrar do vento, ouve o cair das folhas, e a selva illuminar-se-a com uma luz grande, cheia, doslumLrante!. ..

    b) Ora o systenw,-nw1cantil, encarando em massa as naes dizia : para assegurar a inde-pcndencia politica, nceessaria a indcpendeneia commercial; indcpendcncia comrnercial signifi-ca: vendermos o mais possvel, comprarmos o menos que podermos, para que no 1)aguemos a differcna em dinheiro (balana do commercio); -e produzirmos portanto tudo cm caza, promo-ver as nossas imlustrias, todas as industrias, para no sermos avassalados pelas naes mais adiantadas ou mais favorecidas:

    Ao que vieram os livre-camListas oLjcctar:

    1. 0 que o dinheiro entro ou saia exactamente iudiffcrcntc; cllo rPprescnta smcntc o valor quo circula; ealcular pelo seu movimPnto o rcsulta(lo das operaes eommerciacs leva aos maiores aLsurdos; 1

    :! . 0 se imaginaC's cgualar as condies de pro-duec;o por meio (h um clircito protedor, daes uma locuo falsa por vehiculo a um PITO. No exaeto que um (lirC'ito de Pntrada l'Cl_Ui

    1 \". Bastiat I. c. p. :i5.

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    pare as condic~es de produco; o que po-dcni talvez equiparar sam as condicues da. venda.!

    ;J. 0 a libenlade no p{)(le trazer com sigo a vas-salagem do paiz menos fa-vorecido ao que o mais, porque cmnbio a troca de vnlores; (] tendo a concorrcncia reduzido o valor unica-mente sonuna do tral.Jalho empregado para. obter o producto, cmnbio a permutao a .. trabalhos eguaes; a parte, com que a naturc-za collaborou no producto, troca-se gratuita-mente, d'onde se conclue rigorosamente que a

    permuta~(o feita com os paizes mais favoreci-dos sempre a mais Yantajosa.2 Caindo estas duas doutrinas sob a. mesma eri-

    tica anteriormente feita, no a repetimos. A questo a mesma, o mesmo u erro, l'guaf'S a:-; suas causa~: trabalhar com uma sciencia. incom-pleta, com uma ferramenta por acabar. Proee-deremos pois de outra frma: tiraremos ns eon-duses :i doutrina livre-cambista, depois dP a analysarmos.

    Supponde uma nao rieamente dotada twla wttunza, a llespanha ou Portugal, por

  • PORTUGAL E O SOCL\LlS)IO 101

    que geralmente exacto,-que sobre essa re-gio, ricamente dotada, haLitmn indiYiduos in-dolentes, pouco industriosos, c menos perspica-ses cm matcria de industria, CO}MO ns somos c os cspanhoes c os peruanos. Um proteccionista diria: guardemos para ns estes dons naturaes e faamul-os pagar aos cxtranhos, contra os pro-duetos ua sua imlu::;tria; a extraco c mais tra-baihos custam 10, marr1uemos o preo de 20, c exijamos :?0 pelo mercurio, pda pyrita, pl'lo g-uano, aos in6lezcs que necessitam d'elles c qu(:' no po

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    cJ.mbista. Proximamente, o que nos succede, a nc':; portuguezcs, ingenuos imitadores de tudo, 'l uando, dando de graa as riquesas naturaes que possumos, somos substituidos no exerccio Lio trabr.lho pelos que tem mais aptidilo elo que m}:3, c no nos resta seno emigrar, fugir, diante fla invaso de urna raa mais especialmente do-tada. Parece-me no ser necessario comprovar :3to eom os exemplos evidentes que nos dam as minas, os c:1minhos-de-ferro, a na-\ega:o.

    \)ra assente este exemplo, entre mil, e sendo . ; ireito protector o modo ele resolver o proble-ma. fica por outra frma provado corno a pro-teco, quer para as relaes indivieluaes, quer para as nacionaes, un1 acto de applicao na-tural, necessario, scientifico, da Economia: em-:JOra o systema-mncantil proteccionista oeYa e0111pletamente car, corno systerna.

    Porque? porque liberdade e ccncorrencia, lnis.~e1 fa?.re. laisser passer, presuppem uma .Egualdade e uma Solidariedade entre as naes

    n::. homens, que s

  • POfiTUG.\L E O SOCIALIS)IO 103

    ductora da luunaniuacle, com as machinas prin-cipalmente, adquiriu no seculo XIX uma inten-sidade demasiada perante a capacidauc consu-midora dos homens; que, portanto, necessario corrigir esse vicio; c que os meios consistem f'lll limitar a imporh1.iTo com os direitos aduanei-ros, cm manter com as dividas publicas um como que banco de capitalisac;o nncional, e com o imposto aproximar da norma o fid da halan:a, colhendo muito de alguns para distrilmir sobre todos a chuva de ouro do auxilio official: quan-do mesmo as crises tomam propores capazes de produzir um pauperismo, orgnnisar a cmida-de publica, da qual o mais perfeito exemplar a poor-tax inglcza.

    A tudo isto rctorqnirmn os livrc-cmnbistas: t absurdo snppor r1ue limitar a prodnco possn nunca melhorar a distribuio; seria fazer a apo-logia da fome c concluir por dizPr que, quanto me-nos trigo houver, mais barato scrtt o po. A facul-b.dc consumidora da lmmanidad(' indefinida c corrcf:pondPnte semprP sua fuculdade prn-tluctora. A protf'C(,:o, levantando artificialmentP o:-; preos das cousa~, quem limit~, contra a na-tureza, a faeultl:uln eonsumidora dos homf'ns. Almndaneia f[llCr clizer barateza., prOtlnzir por-tanto de\(~ sf'r o proposito commmn. Como, clP que ma1wira: dl' rp1ahptC'r modo; lai::sc;; fai:c.

  • 101 PORTUG.\L E O SOCIALJS)!O

    a concorrencia, tornando real a harmonia econo-mica, regular(t a distribuio. P1otluco, abun-dancia, barateza, eis tudo; se uns enriquecem outros no, no accuseis por isso a liberdade: a natureza fez deseguaes os homens; lemLrae-vos smente d'isto, que a riquesa de Pedro no pro-vm da pobreza de Paulo, que Pedro no 1ico porque Paulo pobre, no. rico porque assim o predestinou a natureza, da mesma frnm que predestinou para pobre a Paulo. l\Ias a riquesa de Pedro n2o smTe seno a melhorar a triste sorte de Paulo, Laix:anclo-lhe o preo elas cou-sas com que clle tem de alimentar-se e vestir-se.-No accuseis tamLem portanto, nem o Ca-pital nem a l\Iachina, por multiplicar o5i meios de produco; c no cligacs que as machinal:' roubam n trabalho aos braos prolctarios. Ainda quando a cx:pericncia no tivesse demonstrado jft que a machina sempre fonte de novos tra-

    balho~, que, cm vez de limitar a procura, a augmenta;-eonsiderae que s ha producto onde ha utilidad, que a utilidade se comve ele ya.lor ou trabalho e de dom natural gratuito, que a machina, trazendo sempre uma conquista. uma melhor apropriao dos dons da natureza, serve a Laratenr sempre a utilid:ule, diminuindo o valor das couf.:as por augmf'ntar na sua pro-dt!e;fi.o o factor wtfurr:::a.-Con:-:iflC'ramlo isto

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    tudo, yereis finalmente quanto absnrdo pre-tender fazer melhor do quo Dcos, imaginar dis-tribuir melhor a riquesa, do que a distribue a harmonia preestabelecida, por meio d'umas creacs phantasticas, divida, imposto, etc., quo acarrctmn comsigo o sem-numero de priYilcgios odiosos do mundo politico.

    Parcc

  • 106 PORTCGAL E O SOCI.\LISliO

    estado social, n'um momento hstorico imper-feito~ imaginando que um facto social ptle nas-cer do capricho, do interesse, dos preconcei-tos de uma classe, vs, livre-cambistas, attaeaes o S!JSfema-mcrcanti?, e tambern ns, socialistas, o fazemos. Smente vs imaginacs que podeis !Jattr ne1~t~ que os vo::sos homens abstractos

    ~e harnde reger pelas vossas formulas; e ns, tacteawlo a renlidade, entendendo comvosco que a frma historie-a ultimamente tornatla pela pro-teco, anachronica e portanto immoral, que-remos substituil-a por urna outra frma de pro-teco, que se coadune com as necessidades po-:;itivas dos homens e das na-es, que possa ga-rantir-lhes o gr::i.o ele Liberdade e de Egualdade a que d~r direito a sua epocha de coustituio moral.

    incontestavel, nem os livre-cambistas o ne-;;am, flue concorrendo um perante o outro A e B, se A, altm Ja forn propria, tiver nas suas mos a fora adquirida (capital) de x, vencer infalli-vdmente a D. _-\qui, porm, dizem os livre-cam-Listas: d'cssa vietoria n2:.o resulta seno ben{'-fi.cio, porque, uma vez que D s potlia produ-zir por x, e A realisava o 1111.csmo resultndo por ,c-1, o interesse do consumidor que seja A e n}o ll O flUe se encarregue d'esse trabalho. B far outra cousa, para que rnP-lhor sirva e na

  • PORT(;'GAL E O SOCIALISliO

    qual vena A; a~ isto tudo no resultan't seno abundancia, barateza e portanto augmento de bem-estar para o consumidor, c como consumi-dores devemos olhar-nos.

    Ora esta a doutrina que o Socialismo re-futa, no j~'t como immoral, mas como scienti-ticamente erronea: Porque, ponJo de parte a questo de individualidades diseguaes c em com-bate ou concorrencia, resta ainda a questo da fora mlquiriJa. Essa fora accumulada, o ca-pital, ct~a. phi~iologia faremos no cap. subse-quente, adquirP assim o furo Jc uma cathegoria, no j~L simplesmente individual, mas sim collc-ctiva c d.e portanto sob a alada do Direito.

    Exactamente analoga ao capital, nas socieda-des constitudas, nas sociedades cahoticas a fora. muscular, propriedade c1uc ninguem dir

  • 108 PORTUGAL E O SOCIALIS'IO

    Dizem que os vcios ela distribuio provm dos monopolios historicos, da proteeo, das constituies dos governos, das administraes das finanas publicas, elos cxercitos etc. e con-eluem: acalme tudo isso e \ereis como a Liber-dade normali:5a as relaes! D'accordo que nor-l!Ialise; normalisar:. segundo a rela~o das for-as individuaes e indiviclualisaclas, no segun-do a relao moral que a nossa. consciencia re-clama; normali;-:;ar:. rccon:;;tituindo todos essel; vcios, sob qualquer forma, porque, ou tereis de dizer que n'um facto historico no ha uma raso de ser soeial, ou tereis de convir em que, se o facto existe, destruil-o para implantar a li-herdade, somente tralJalhar cm vo: elle re-nascer

  • PORTUGAL E O SOCL\LISliO

    que:-a, e no nada se se trata do educao ( qual do vs aprovaria amanhan uma lei de liber-dade do ensino? nenhum, porque vs, liberaes, tl'meis, na Liberdade, a tri:-;tc realidade de um povo que tah-ez ainda abrisse ouvidos aos sinis-tros apostolos do passado, c vos deixasse por el-les! Nos que a:S:-;im tm o scutimlnto humano, P-st..'t incousrqucncia redime, pelo que revela, to-elos os erros de que r.

    )[a.~ dizem os livrc-c:unbistas: Produzir abun-dantemente baratl'ar o producto, tornar ac-C~:5sivel ao pohre uma somma ele hcm-estar que d"outra finma no hria. J;i, mo~tl".mos como, ao l'ontrario, F:to levaya ~i franea oppoF:i~o de for-f;as pdo problema da c~tpacidaclc productora ad-quirida (o capital), eltia ndole e:s:muinarcmos mais tarde. l\la:; clemos qnc no lP-vC'; a(hnitta-

    mo~ pot um momento a rcalicladc da doutrina livrr-camhista, e cstudmnos a som11m ele Lem-eRtar qw~ proporciona.

    ~o anno de 187i~, C o~ ~am dois inclividuos ta::;ados, eom filhos, elos qn:ws o prim0iro tNn o capital ffllC rfJncscntart'lllOs por 1 c o segun-do no tem mais do que O. Trabalharam C'gual-mcutc, proclm:iram amlJos fLU:mto { po=--~ivcJ pro-duzir; ao comearem a vida a r0lao rronomi-c:a tl'cstas du:ts indivi.luali,bcks rr:t

  • ttO POTITIJGAL E O SOCIALIS:\10

    ao c0ncluil-a, depois de 40 annos de exerccio~ a relao que deixaram aos filhos era j de

    porque em 40 rumos o capital de C quadrupli-~ra consumindo ambos, C c S, o salario do seu tralJalho. Os filhos, ao transmittirem aos neto!' :1. herana, legaram a I\.Jao de

    C+ lG: S

    e a,;sim suecessivamente. Ora demos que, n'este momento, qnaudo ao

    individuo C accrcsce a fora adquirida de J fi, na gerao seguinte tle G.J: etc., no htlja reflexo ._Lt fora economica sobre a importanca ~ocinl. o llllC seria absurdo conceder, mas nHo vem ao ca.:;o. O facto que C e ~ produziram tanto quanto mandam os livrc-camhist~l:~, c es~a rro-

    dnc~(o trouxe uma barateza prr.gns~i,a: (~ ' ~' os avs, n:i.o podiam com o salario ycstir geno de br.il"hc, ao passo que C c S, os netos, vestem de vclhlLlo, anam de carruagem, etc.

    Ora,, nf.o ob;;;t[lnte i::;so tudo, o facto ,., c1uc S

  • POfiTUGAL E O SOCIALIS:\10 lll

    tm terceira gerao 11mao mais polJre do que o ora na primeira, p01Yuc,- sem entrarmos na moral,- riquesa bcm-estar, c bcm-estar a impresso que obtemos do modo porcrne vive-mos, perante o modo porque os outros vivem, do que temos, p

  • li~ PORTUGAL E O SOCIALIS.\10

    4.o

    O llwro do operarlo

    CARTA _.\ D:\I :MI:SISTRO D_\ EiUUSTRI.\ E:M PORTUG\L

    Tomando muito a s~rio as maximas do libe-ralismo contemporaneo, acredita-va eu, muito a serio tambem, que o constitucionalismo portu-g'Uf'Z era. liberal, e acreditava }10l'que, de::de qnt> vio a. lnz, ~Pmpre se chamou a si proprio com (';o:so nome. Disseram-me que, com pffeito~ libP-ra.l nunca fora e q ne, ao contrario, mantinha o s.!lstt>ma mrrcantil, a religio (l'Estado, a

  • PORTUGAL E O SOCIALIS)IO 113

    por nome no perca; - nno podia deixar de convencer-me de que todas essas opinies domes-mo Dauby tinham sido adoptaclas pelo governo portuguez, eram opinies suas; c corno um go-verno no tem opinies privadas, formavam um corpo de direito puLlico, ct~o author, Dauby, se substitura no parlamento; c como um go-verno liberal no tem opinies religiosas, phi-Iosophicas, mmaes, qnc o governo portuguez -diante do perigo-rasg[{ra a sotaina, picr..ra as amarras, e francamente, decididamente, ex-dam{tra Swn qui sum ... e v fava o libcrali~mo!

    rorqm, de teimar cm dizer-se liberal, podia advir o p,rigo de o parlamento, consultado ama-nhan, opinar em eontrario

  • ..

    114 PORTUGAL E O SOCIALISMO

    triste figura 1101que fez passar o governo amar-rado s opinies do sr. Dauby.

    N'estas circumstancias, sr. ministro, tomo a liberdade de lhe dirigir esta rnissi\a, afim de que os attaques parlamentares o no pilhem de improviso, e de que possa, com conhecimento de causa, retorquir com a perspicacia que natu-ral de um minisho.

    Entencle o sr. Dauby que o trabalho para todos os homens uma necessidade, mas que pa-ra o operario um cleYer imperioso; entretanto o facto de ser imperioso torna-o muito mais sua-ve de cumprir. O sr. Dauby tem um modo ori-ginal de pensar c o gonrno, sr. ministro, j se -v que pensa tam originalmente pelo menos co-mo ellc. Como pensar o parlamento? Se man-tiver o me:::mo grci.o de originaliuade, acompa-nhado da. eleYao doutrinal que lhe compete, veremos erguer-se de noyo a fama litteraria ela nossa terra, peb descuberta lrcste principio que ce1tamonte reYolucionar

  • PORTUGAL E O SOCIALISl\10 1l5

    paga, custa do thesouro, mas at a pratica, arranjando por meio dos pues os votos dos filhos, na hora solcmnc das elei-es. 1\'estcs negocios de famlia no creio cu I]_Ue o parlamento lhe toque, mas, francamente creio, sr. ministro, que os taes filhos, 11ara quem o sr. DauLy cscrev~, o governo portuguez imprime, dar~o por mal applicado o dinheiro d'ellcs gasto em propagar essas inepcias, porque esses filhos, sr. ministro, no os conhece, j:i tm burLas na cara.

    Alem d'isso de opinio o sr. Duuby que, para com a patria, a grande olJrigao amal-a muito! tambem cu! tambcm tu! tamhcm todos!

    :Mas, quando se chega . politica, sr. ministro, i quo eu no sei ']_UC rcspo:.;ta dar:i um governo liberal a um parlamento lihcralissimo ... cm to-elos os sentido:;. Porque o sr. Dauhy falia como

    ~- Thoms, c parece-me que uo exactamente Pstc o pulJlicista quo os liLcracs seguem. Ora oua: 'Xasccu o homem 11ara vin:r cm socie-tb.cle, ora a socicl:u_lc no pc)dt cxi~tir sem um

    ~onrno qualquer, assim como a officina no po-deria suhsistir sem uma lirC'c?to ou um mestre,

    ~ a familia uo se manteria sem nrn chefe. Aliquod 'regitivum, dizia cm latim S. Thom:is, eonfurmo o ~ov

  • 116 PORTCG.-\L E O SOCL\Ll5)10

    embebedem, que se lavem, que eduquem os :filhos e amem as ~ogras etc., etc., tudo isso o sr. Dau-by e o go\erno portugncz indicam como util ao opcrario. Tudo creio e:s:cellente, sr. ministro, e se temo o parlamento, por sua causa, por-que eu, no lugar d'ellc, exigiria que