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12 Física na Escola, v. 1, n. 1, 2000 C omo tornar a disciplina de física mais atrativa para alunos do ensino médio? Como despertar nestes alunos a vontade de aprender mais sobre física? Para estimular nos estudantes o in- teresse pela ciência, e particularmente pela física, motivando-os junto com seus professores ao estudo e à apren- dizagem da física, a Sociedade Brasi- leira de Física (SBF) criou, em 1998, a Olimpíada Brasileira de Física (OBF). O projeto teve sua primeira realização oficial em 1999 e já na primeira vez envolveu na fase estadual mais de 13 mil estudantes em diversas unidades da Federação. Com a Olimpíada, a SBF pretende estimular os estudantes a enfrentar desafios intelectuais de or- dem científica; contribuir para o aper- feiçoamento dos currículos escolares do ensino médio e fundamental na área das ciências; proporcionar o de- senvolvimento de novas metodologias de ensino, tanto na área experimen- tal como na área de simulações, e na análise e resolução de problemas; obter informações sobre os limites de conhecimento dos estudantes nas suas respectivas faixas etárias, níveis de escolaridade e sobre o processo de aprendizagem da física de maneira geral. Aproximando universidades, pro- fessores e estudan- tes das escolas de ensino médio, e identificando alunos talentosos em física para estimulá-los a seguir carreiras científicas e tecnológicas, a Olimpíada Brasileira de Física tem merecido atenção da SBF como pro- jeto permanente. Para seus orga- nizadores, o ensino de física é uma atividade que precisa de grande pre- paro e afinco do professor e muito interesse e autodisciplina do aluno, habilidades que exigem motivação. “A realização de um evento nos moldes de uma Olimpíada é uma forma que tem se mostrado, onde aplicada, de custo comparativamente reduzido para estimular alunos e professores. Esses aspectos são particularmente importantes num universo de mais de 20 mil professores e 8 milhões de estudantes do ensino médio, distri- buídos em mais de 15 mil estabele- cimentos de ensino, em um país de dimensões continentais, como o Brasil”, declara o professor José David Vianna, presidente da Comissão da Olimpíada Brasileira de Física. Evento Bem-Sucedido Como um dos objetivos da OBF é contribuir para o aperfeiçoamento dos currículos escolares no tocante ao ensino de ciências, a SBF aplicou no primeiro ano do evento um ques- tionário destinado a todos os participantes no qual foram solici- tadas informações sobre itens como: número de aulas de física que os alunos têm por semana e dificuldades encon- tradas na resolução das questões, entre outros. Como resultado da consulta, os organizadores constataram que 71% dos estudantes da rede pública têm so- Neste artigo acompanharemos um pouco da história de uma atividade que envolve mais de 13 mil estudantes em todo o país. Sociedade Brasileira de Física desenvolve projeto de Olimpíada para alunos do Ensino Médio A sociedade Brasileira de Física criou a Olimpíada Brasileira de Física, que teve sua primeira realização oficial em 1.999 e envolveu na fase estadual mais de 13 mil estudantes em diversas unidades da Federação Olimpíadas de Física

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Page 1: Olimpíadas de física - sbfisica.org.br · projeto de Olimpíada para alunos do Ensino Médio A sociedade Brasileira de Física criou a Olimpíada Brasileira de Física, que teve

12 Física na Escola, v. 1, n. 1, 2000

Como tornar a disciplina defísica mais atrativa paraalunos do ensino médio?

Como despertar nestes alunos avontade de aprender mais sobre física?Para estimular nos estudantes o in-teresse pela ciência, e particularmentepela física, motivando-os junto comseus professores ao estudo e à apren-dizagem da física, a Sociedade Brasi-leira de Física (SBF) criou, em 1998, aOlimpíada Brasileira de Física (OBF).O projeto teve sua primeira realizaçãooficial em 1999 e já na primeira vezenvolveu na fase estadual mais de 13mil estudantes em diversas unidadesda Federação. Com a Olimpíada, a SBFpretende estimular os estudantes aenfrentar desafios intelectuais de or-dem científica; contribuir para o aper-feiçoamento dos currículos escolaresdo ensino médio e fundamental naárea das ciências; proporcionar o de-senvolvimento de novas metodologiasde ensino, tanto na área experimen-tal como na área de simulações, e naanálise e resolução de problemas;obter informações sobre os limites deconhecimento dos estudantes nassuas respectivas faixas etárias, níveisde escolaridade esobre o processo deaprendizagem dafísica de maneirageral.

Aproximandouniversidades, pro-fessores e estudan-tes das escolas deensino médio, eidentificando alunos talentosos emfísica para estimulá-los a seguircarreiras científicas e tecnológicas, aOlimpíada Brasileira de Física tem

merecido atenção da SBF como pro-jeto permanente. Para seus orga-nizadores, o ensino de física é umaatividade que precisa de grande pre-paro e afinco do professor e muitointeresse e autodisciplina do aluno,habilidades que exigem motivação. “Arealização de um evento nos moldesde uma Olimpíada é uma forma quetem se mostrado, onde aplicada, decusto comparativamente reduzidopara estimular alunos e professores.Esses aspectos são particularmenteimportantes num universo de maisde 20 mil professores e 8 milhões deestudantes do ensino médio, distri-buídos em mais de 15 mil estabele-cimentos de ensino, em um país dedimensões continentais, como oBrasil”, declara o professor José DavidVianna, presidente da Comissão daOlimpíada Brasileira de Física.

Evento Bem-SucedidoComo um dos objetivos da OBF

é contribuir para o aperfeiçoamentodos currículos escolares no tocante aoensino de ciências, a SBF aplicou noprimeiro ano do evento um ques-tionário destinado a todos os

participantes noqual foram solici-tadas informaçõessobre itens como:número de aulas defísica que os alunostêm por semana edificuldades encon-tradas na resoluçãodas questões, entre

outros.Como resultado da consulta, os

organizadores constataram que 71%dos estudantes da rede pública têm so-

Neste artigo acompanharemos um pouco dahistória de uma atividade que envolve mais de13 mil estudantes em todo o país.

Sociedade Brasileirade Física desenvolveprojeto deOlimpíada paraalunos do EnsinoMédio

A sociedade Brasileira deFísica criou a Olimpíada

Brasileira de Física, que tevesua primeira realização

oficial em 1.999 e envolveuna fase estadual mais de 13mil estudantes em diversas

unidades da Federação

Olimpíadas de Física

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13Física na Escola, v. 1, n. 1, 2000

mente duas aulas de física por sema-na, enquanto na rede particular ape-nas 6% têm esta carga horária; 20%dos estudantes da rede pública têmtrês ou quatro aulas de física por se-mana, enquanto na rede particular osalunos com esta carga horária atin-gem 72%; 19% dos alunos da redeparticular possuem cinco ou seis ho-ras semanais de aulas de física, paraapenas 2% dos alunos da rede públicacom esta carga horária. “Esta dife-rença, com certeza, é uma das causasdo pequeno número de estudantes darede pública entre os vencedores daOBF”, considera Vianna.

Características da OBFA Olimpíada Brasileira de Física

é organizada por uma comissão na-cional denominada Comissão daOlimpíada Brasileira de Física (COBF),com sede na SBF, que está situada naCidade Universitária da USP, em SãoPaulo. Os trabalhos da OBF são pro-movidos em cada estado por umacoordenação estadual, cuja sede en-contra-se, em geral, numa universi-dade federal ou estadual.

A Olimpíada Brasileira de Físicaé constituída de provas de conteúdo,conhecimento e interpretação de fenô-menos físicos, destinadas a alunosregularmente matriculados no ensinomédio. É dividida em três fases: umaclassificatória (1a fase), realizada nasescolas; uma estadual (2a fase), rea-lizada nas sedes estaduais e regionais;e uma nacional (3a fase), tambémrealizada nas sedes estaduais. Os estu-dantes melhor classificados de cadafase são inscritos para a fase seguinte.

Uma das diferenças entre a se-gunda e a terceira fase é a correçãodas provas: na segunda fase, asprovas são cor-rigidas nos estadospor comissões de-terminadas pelosrespectivos co-ordenadores, en-quanto que asprovas da terceira fase são corrigidaspor uma comissão designada pela SBFe sediada em São Paulo. Em con-seqüência, na segunda fase há clas-sificações estaduais e na terceira, umaclassificação nacional.

As provas da OBF para as trêsfases são elaboradas por uma comis-são designada pela COBF e cuja identi-dade é preservada para garantir a lisu-ra de todo o processo. A aplicação dasprovas ocorre num mesmo dia e horá-rio em todas os estados onde há coor-denações da OBF e com a supervisãodo coordenador estadual.

Da OBF 1999 participaram dafase classificatória cerca de 60 mil alu-nos; da fase estadual, outros cerca de13 mil estudantes; na fase nacional(terceira fase) participaram mais de500 estudantes.

São considerados vencedores daOBF os dez melho-res classificados decada série na tercei-ra fase, que são pre-miados em seusestados recebendocertificados da SBFcom a respectiva classificação, omesmo ocorrendo com seusprofessores. Em cada série, oscinco melhores estudantes daescola pública recebem men-ções honrosas. Os 40 alunosda primeira série com melhorclassificação nacional poderãoparticipar de uma EscolaPreparatória, da qual sairãoos estudantes que irãocompor as equipes brasileiraspara as Olimpíadas Interna-cionais.

AceitaçãoA Olimpíada Brasileira

de Física vem recebendodemonstrações de grandeaceitação pela comunidadeuniversitária, pelas esco-las de ensino médio, pelos

estudantes e porprofessores, poden-do se tornar grandefonte de informa-ções sobre o apren-dizado e ensino defísica no país, co-

laborando para a divulgação da físicanas escolas e na comunidade, bemcomo disseminando outros projetosvoltados para essa área, desenvolvidosnas universidades. “O sucesso da OBF,entretanto, dependerá do apoio

financeiro que se possa obter junto aórgãos governamentais de finan-ciamento, como o Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico (CNPq)ou a Fundação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (Capes) ou,ainda, junto a fundações e agênciasligadas ao desenvolvimento deprojetos relativos ao ensino e apren-dizagem”, declara o presidente daCOBF.

Como Tudo ComeçouAs primeiras Olimpíadas de Físi-

ca no Brasil ocorreram em âmbito re-gional, no Estado de São Paulo, nos

anos de 1985 a1987. Estas Olim-píadas foram orga-nizadas pelo profes-sor Shigueo Wata-nabe, então diretorexecutivo da Aca-demia de Ciências do

Estado de SãoPaulo (ACIESP).Em 1986, poriniciativa dop r o f e s s o rVicente RobertoDumke, da Uni-

versidade Federaldo Paraná (UFPA),

realizou-se a Olim-píada Paranaense de

Física. No período de 1987a 1995, por falta de apoio

institucional, ambas deixaram deser realizadas.

Em 1995, o Centro de Divulga-ção Científica e Cultural (CDCC) doInstituto de Física de São Carlos(IFSC), da Universidade de São Paulo(USP), sob a direção do professorDietrich Schiel, retomou a realizaçãodas Olimpíadas. Em 1998, os estadosda Bahia, Goiás, Pará, Pernambuco eRio de Janeiro participaram, de formaexperimental, da Olimpíada organi-zada pelo CDCC-USP. De forma inde-pendente, outros estados, como Cearáe Paraíba (desde 1993) e Minas Gerais(desde 1994) vinham realizandoOlimpíadas de Física, em âmbito re-gional.

No âmbito mundial, as Olimpía-das de Física são atualmente realizadasem quase 100 países. “Não há registro

Da OBF 1.999 participaramda fase classificatória cercade 60 mil alunos e mais de500 estudantes chegaram à

fase nacional

No âmbito mundial asOlimpíadas de física são

atualmente realizadas emquase 100 países

Olimpíadas de Física

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14 Física na Escola, v. 1, n. 1, 2000

de quando ocorreram as primeirasOlimpíadas referentes à física, mas émuito provável que tenham sido naEuropa”. Sabe-se que na década de 60,três professores de física (C. Scislows-ki, da Polônia; R. Kostial, da entãoTchescolováquia; e R. Kunfalvi, daHungria) decidiram organizar umacompetição acadêmica entre os me-lhores estudantes de física de seus paí-ses. Surgiu, então, a primeira Olim-píada Internacional de Física (OIF),que ocorreu em Varsóvia, na Polônia,em 1962. Em julho de 2000, a OIFfoi realizada em Leicester, na Ingla-terra, pela trigésima primeira vez. Aparticipação dos países na OIF é reali-zada com uma equipe de até cincoestudantes que devem estar cursandonecessariamente, na época da Olim-

píada, o ensino médio (antigo segundograu). O Brasil participa das Olim-píadas Internacionais de Física comequipes formadas por alunos melhorclassificados na Olimpíada Brasileirade Física realizada dois anos antes daocorrência da OIF, uma vez que énecessário prepará-los de acordo como programa internacional. Neste ano,a equipe brasileira formou-se com osmelhores alunos da Olimpíada queocorreu em 1998, que naquele anocursavam a primeira série do ensinofundamental.

Saiba mais...Para saber mais sobre o assunto,

consulte um dos membros da Comis-são da Olimpíada Brasileira de Física:

Dr. José David M. Vianna -

Presidente. E-mail: [email protected]. Sandra Sampaio Vianna -

Vice-Presidente. E-mail: [email protected]

Dr. Adalberto Fazzio - Tesourei-ro. E-mail: [email protected]

Dr. Mauricio Pietrocola - Secre-tário. E-mail: [email protected]

MSc. Ozimar S. Pereira - Secre-tário Executivo. E-mail: [email protected]

Outras informações tambémpodem ser obtidas junto à SociedadeBrasileira de Física (SBF), com SueliMori Almeida. E-mail: [email protected]

Visite a página da OlimpíadaBrasileira de Física no site da SBF. Oendereço é: www.sbf1.if.usp.br/olimpiadas/

http://www.labvirt.if.usp.br/institucional.asp

O Laboratório Didático Virtualé uma iniciativa do Centro de Ensinoe Pesquisa Aplicada do Instituto deFísica da USP. Aqui você pergunta ediscute questões de física e navega emvários experimentos construídos emJava. Os ‘applets’ permitem umainteração direta entre o usuário e aanimação. Há neste site seções comoFórum, Consulte um Físico, links paraoutros sites interessantes, artigos sele-cionados e notícias atuais e interes-santes. Uma excelente referência paraapoio didático.

http://www.aventuradasparticulas.ift.unesp.br

Este precioso site é a versão oficialem português de um dos siteseducacionais de Física mais visitados nomundo: http://www.particleadventure.org/. O site contém uma introdução à

física de partículas e é voltadopara estudantes do segundograu e universitários. Elepossui uma grande quan-tidade de informação sobre aárea, podendo ser lido comoum livro ou utilizado comoum guia de referências. A‘Aventura das Partículas’ éuma iniciativa em constante

evolução do projeto educacionalpatrocinado pelo Particle Data Group, doLaboratório Nacional Lawrence de Ber-keley (LBNL). A atualização de setembrode 1999 do site original deu um novoformato e um conteúdo revisado. Hápromessa de atualizar o conteúdo totaldurante os próximos meses.

http://www.Colorado.EDU/physics/2000/index.pl

Este deslumbrante site possibilitauma jornada através da física mo-derna. Aí é possível aprender tópicosda ciência do século 20 e dispositivosde alta tecnologia gerados a partir doconhecimento adquirido. Através dediálogos curtos e diretos é possívelinteragir/modificar alguns experi-mentos on line com o auxílio domouse.

Atualmente, pode-se navegarpor três grandes seções:

1: Como as idéias de Einstein

revolucionaram a física e permitiramo desenvolvimento de lasers, fornosde microondas, dentre outros apare-lhos conhecidos;

2: O laboratório atômico, mos-trando resultados surpreendentes dafísica atual;

3: Abordagem de princípios bási-cos de ondas e mecânica quântica eoutros que podem ser usados peloprofessor em sala de aula.

http://physicsweb.org/TIPTOP/VLAB

Este é um laboratório virtualbaseado quase que integralmente em‘applets’ Java que podem ser usados,na sua maioria, gratuitamente. Háuma lista com mais de uma centenade experimentos abordando mecânica,dinâmica, acústica, termodinâmica,eletromagnetismo, luz e ótica. Háexperimentos curiosos sobre caos ecomo localizar um avião viajandocom a velocidade do som. Para cadaexperimento, há uma pequena des-crição do que voce irá encontrar. É umsite interativo que permite a inclusãode experimentos por parte do usuário.

Para sugerir sites, por favor en-tre em contato com José Pedro Rino([email protected]).

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