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13 O Choque do Futuro Acadêmico Iphis T. Campbell J á lá se vão 40 anos quando cheguei a Brasília para tra- balhar em dois hospitais recém-inaugurados, cheirando a novos – o Hospital das Forças Armadas – HFA, idealizado, construído e posto a funcionar nos moldes de seu homônimo americano, uma instituição médica de grande prestígio. O outro – o Hospital dos Servidores da União – HSU, hoje HUB – Hospi- tal Universitário de Brasília – também idealizado e posto a fun- cionar como o HSE – Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, igualmente muito conceituado à época. Paralelamente ao exercício da Medicina, passei a desen- volver também atividades administrativas e associativas, tendo exercido, depois de alguns poucos anos, o posto de Diretor de Hospital, Conselheiro do CRM e Presidente da Sociedade Brasi- leira de Dermatologia – entidade que congrega, hoje, mais de seis mil associados –, entre outros. A passagem pelos mais altos cargos dessas instituições e associações foi de grande aprendi- zado, especialmente a direção do hospital, pois nessa função, além de todas as agruras por que passa um diretor de hospital público, implantei e coordenei um programa docente assisten- cial que integrava os docentes da UnB com médicos assistentes para exercerem suas funções no hospital. Como executor desse programa, juntamente com o diretor de Faculdade de Medicina,

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O Choque do Futuro Acadêmico Iphis T. Campbell 13 14 ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

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O Choque do Futuro

Acadêmico Iphis T. Campbell

Já lá se vão 40 anos quando cheguei a Brasília para tra-balhar em dois hospitais recém-inaugurados, cheirando

a novos – o Hospital das Forças Armadas – HFA, idealizado, construído e posto a funcionar nos moldes de seu homônimo americano, uma instituição médica de grande prestígio. O outro – o Hospital dos Servidores da União – HSU, hoje HUB – Hospi-tal Universitário de Brasília – também idealizado e posto a fun-cionar como o HSE – Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, igualmente muito conceituado à época.

Paralelamente ao exercício da Medicina, passei a desen-volver também atividades administrativas e associativas, tendo exercido, depois de alguns poucos anos, o posto de Diretor de Hospital, Conselheiro do CRM e Presidente da Sociedade Brasi-leira de Dermatologia – entidade que congrega, hoje, mais de seis mil associados –, entre outros. A passagem pelos mais altos cargos dessas instituições e associações foi de grande aprendi-zado, especialmente a direção do hospital, pois nessa função, além de todas as agruras por que passa um diretor de hospital público, implantei e coordenei um programa docente assisten-cial que integrava os docentes da UnB com médicos assistentes para exercerem suas funções no hospital. Como executor desse programa, juntamente com o diretor de Faculdade de Medicina,

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ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA

atuei como mediador de disputas por espaço e poder e aprendi a lidar com frustrações e vaidades.

Atuando no centro desses conflitos, eu me sentia lite-ralmente no chamado olho do furacão. Felizmente, muito me ajudou no entendimento dessa situação a leitura anterior de O Choque do Futuro, o livro de Alvin Tofller, que havia sido lan-çado no Brasil no início dos anos 1970. Reconheci nas pessoas envolvidas naquele processo de integração um estado psico-biológico que poderia ser descrito e diagnosticado em termos médicos: era o choque do futuro! Afinal, “o homem tem uma capacidade limitada para mudança e quando essa capacidade é ultrapassada, ele entra em choque com o futuro.”

Ao chegar à Academia de Medicina de Brasília – AMeB en-contrei, logo nas primeiras reuniões, um clima de efervescência que me lembrou imediatamente aquele vivido nas reuniões do programa de integração docente assistencial. Não tive dúvidas, estava diante de um novo “choque do futuro”! Felizmente, re-cém-chegado e instalado confortavelmente numa poltrona do auditório, não cabia a mim, desta vez, mediar os conflitos.

Percebi que a mudança que provocou o choque do futuro na AMeB foi a transformação pela qual passa uma instituição que atua paralelamente à AMB, ao SindMédico e ao CRM como mais uma entidade representativa da classe médica e, portanto, com responsabilidades como discutir e emitir opinião sobre saú-de e bem-estar da população, políticas públicas de assistência médica e seus temas correlatos.

Como quase sempre os choques do futuro implicam trans-formações mais bem adaptadas à atualidade, sinto-me confiante que os confrades da AMeB, dentro de um ambiente de convívio fraterno, saberão, com suas opiniões, discussões e conclusões, contribuir para a melhoria das condições de vida da população do Distrito Federal.