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OCEANOGRAFIA Navegar e preciso. Estudar tambem e. Marla Isabel Iorio Sonelnl - FUNBEC-

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OCEANOGRAFIANavegar e preciso. Estudar tambem e.

Marla Isabel Iorio Sonelnl- FUNBEC-

A Revista de Ensino de Ciencias entrevistou 0 Dr. ValdenirVeronese Furtado, ge610go ocean6grafo, Dr. Rolf

Roland Weber, qufmico ocean6grafo, Dr. Luiz B. de Miranda,ffsico ocean6grafo, e os bl610gos ocean6grafos,

Dr. CI6vis Teixeira, Dr. Yasunobu Matsuura e Dr. AlfredoMartins Paiva Filho, pesquisadores do Instltuto

Oceanografico da Universidade de Sio Paulo. Contamos, ainda,com a presenc;a do Dr. Lulz Roberto Tommasi, vice-

diretor desse Instituto.Ao falarem sobre Oceanografia, esses profissionais

mostram que 0 conhecimento do fascinante amblente marinhoit tarefa que requer muito estudo e multo trabalho.

REC - A Oceanografla e, por excel~ncla, uma Ci6nclainterdlsclpllnar. Que areas do conhecimento compoemesta Cl6ncla?Alfredo - Podemos considerar a Biologia, a Fisica,a QUlmica e a Geologia como areas basicas. Noentanto ha outras areas do conhecimento extrema-mente importantes como, por exemplo, a Matema-tica e a Meteorologia. A primeira fornece um impor-tante instrumento para as demais areas e a segun-da nos permite estudar as rela90es marlar, funda-mentais para 0 conhecimento dos oceanos, pois atroca de materiais entre esses ambientes a muitointensa e permanente.

REC - Podemos dizer que 0 ocean6grafo e um Indlv/-duo preocupado com 0 conhecimento do mar, enquan-to ecosslstema?Alfredo - Eu creio que esta seria a coloca9ao maiscorreta. Embora, muitas vezes, na pratica, se estu-dem separadamente determinadas facetas destaCi€lncia, 0 ocean6grafo deve faze-Io pensando noambiente marinho como um todo, no ecossistemamarinho.

REC - Sabemos que os oceanos possuem varlos ml-croamblentes. 0 ocean6grafo consldera, para fins deestudo, 0 oceano como um unlco ecosslstema ou cad amlcroamblente constltul um ecosslstema?CI6vls - Quanto ao ecossistema marinho, pode-mos considerar como tal os oceanos como umtodo, ou entao, considerar determinados microam-bientes dentro de cada oceano e neste caso tere-mos um ecossistema costeiro, um ecossistema la-gunar. etc.

REC - Se a Oceanografla envolve a Intera~ao devarlas areas do conhecimento, de que maneira cada

area contrlbul para 0 desenvolvlmento desta CI~ncla?Como e 0 trabalho do ocean6grafo de cada uma des-sas areas?Lulz - Sob 0 ponto de vista fisico, pretendemosdeterminar as propriedades flsicas da agua do mar.Dentre elas, temos as variaveis chamadas indepen-dentes, como temperatura, salinidade e pressao. Apartir destas variaveis, podemos inferir uma sariede propriedades ditas dependentes, tais como: cor-rentes oceanicas, densidade da agua do mar, velo-cidade de propaga9ao do som, dentre outras.

Nosso trabalho consiste, basicamente, em de-terminar 0 clima oceanica onde vive uma determi-nada comunidade biol6gica, e estudar os movi-mentos oceanicos sob a a9ao das diferentes for9asgeradoras. Quando executamos um certo cruzeirooceanogratico, a comum sairmos da embarca9aocom toda as medidas, ou quase todas computadas,ao contrario dos especialistas de outras areas que,em geral, tem que manipular uma serie de informa-geos no laboratorio da sede do Instituto.

Uma vez coletadas as informageos basicas,elas serao submetidas a redu9ao e analise. Enten-demos por redu9ao certas corre90es que devemser feitas nas medidas obtidas. Toda leitura demedidas a passlvel de erros. pela imperfei9ao dosaparelhos, bem como do experimentador. Sendoassim, de posse das medidas, fazemos uma sariede calculos que nos asseguram uma pequena mar-gem de erro e, portanto, nos permitem maior certe-za nas medidas obtidas. Analisamos e processa-mos os dados obtidos e representamos essas infor-ma90es em graficos, de tal forma a caracterizar,nestes graticos, 0 ambiente marinho.Valdenlr - A oceanografia geol6gica estuda 0recipiente marinho, isto a, 0 fundo marinho e asintera90es desse recipiente com a camada de aguasubjacente e com suas bordas, ou seja, com a areacontinental adjacente, composta pelas areas detransi9ao, em geral. Para n6s, as areas de transi9ao(mangues) sac parte integrante tanto do ambientemarinho quanta do ambiente continental. Ha umaintera9ao muito intensa entre esses ambientes. Enecessario que tenhamos conhecimento do queacontece no continente para entendermos 0 queocorre no mar, em termos de geologia. 0 continen-te a 0 grande "contribuidor geol6gico" do mar.

Um outro aspecto e a evolu9ao desse reci-piente que, embora pare9a estatico para 0 observa-dor, e extremamente dinamico ao longo do tempogeol6gico. Os oceanos, de forma geral, tem poucaidade em rela9ao a Terra. Enquanto nosso planetaconta com aproximadamente 5 bilhoes de anos, osoceanos tem cerca de 150 milhOes de anos.

~ necessarlo 0 entendimento de todo essecomplexo evolutivo, ao longo do tempo: a forma-<;:aodo arcabou<;:odos fundos oceanicos, 0 proces-so de modelagem que esses fundos sofrem e asconsequ€mcias desse processo refletidas no am-biente como um todo.

Desta forma, as movimenta<;:eesde agua, on-das, correntes e mares sac fenomenos importantespara a compreensao do comportamento geologicodo ambiente marinho. 0 conhecimento do fundodo mar, por sua vez, e fundamental para a oceano-grafia biologica, preocupada em estudar os orga-nismos marinhos no meio em que vivem.

Em relayao ao nosso trabalho, podemos iden-tificar,basicamente, duas fases distintas: 0 trabalhode bordo eo de laboratorio, em terra. 0 trabalho debordo diz respeito a coleta de dados chamadosgeoffsicos, como a propagayao do som na agua enos sedimentos. Ainda a bordo, procedemos a co-leta de sedimentos de fundo e subfundo. Paraexemplificar a explorayao de subfundo marinho,podemos citar 0 processo de sondagem de pe-troleo.

Todo material coletado a levado para 0 labo-ratorio do Instituto e analisado. 0 resultado final aapresentado na forma de mapas, onde esta expres-sa a area estudada, e de perfis, em que se observa aprofundidade da area explorada.

Rolf - Aproveitando a feliz colocayao do Val-denir, eu diria que, se a oceanografia geologicaestuda 0 recipiente, 0 qufmico oceanografo preo-cupa-se com 0 conteudo desse recipiente. Interes-sa a oceanografia qufmica a composi<;:ao da aguado mar. Mas, mais importante que saber a compo-si<;:aoda agua do mar, a conhecer os fatores quelevam a altera<;:aodessa composi<;:aoe que podemser naturais ou provocados, como a 0 caso dapolui<;:ao.

Entao 0 que faz 0 qufmico oceanografo? Esteprofissional, no navio, coleta amostras de agua domar e, muitas vezes, amostras de sedimentos eorganismos tambam. Algumas analises desse ma-terial, as mais simples, podem ser feitas a bordo,como a concentra<;:ao de oxigenio dissolvido e amedida do pH da agua do mar. Agora, analisesmais sofisticadas e que constituem a maior partedo trabalho sac feitas em terra, envolvendo umlaboratorio qufmico convencional, com equipa-mentos modernos.

Vejamos agora a rela<;:aoda oceanografia qui-mica com outras areas da Oceanografia, como aFisica por"'exemplo. Certos elementos quimicos

podem ser usados como tra<;:adoresde circulayao,isto a, indicam como determinada massa de aguase movimenta no oceano, ao longo do tempo; a 0caso do oxigenio, tradicionalmente usado comotra<;:adorde massas de agua. Mais modernamenteusam-se isotopos, como 0 trftio e 0 casio 137. Esteultimo passou a ser usado apos as multiplas explo-sees nucleares ocorridas no Pacifico. Exemplifi-cando, podemos citar que uma das maneiras de seinferir a velocidade de mistura nos oceanos a atra-vas do estudo da dispersao dos elementos radioati-vos, como 0 trftio e 0 casio 137.

Se estamos estudando a produtividade prima-ria do mar, isto a, a quantidade de carbona fixadona fotossintese pelas algas do plancton precisa-mos conhecer 0 conteudo de nitrogenio, fosforo,silicio, oxigenio, clorofila, deste ambiente. Vemosaqui, claramente, a intera<;:aoda oceanografia qui-mica com a biologica.

A oceanografia quimica tambam se relacionadiretamente com a geologica. Os sedimentos cole-tados dos fundos oceanicos sac submetidos a ana-lise quimica, pois a composiyao desses sedimentosinflui na composi<;:ao da agua do mar.

Outra area do conhecimento que interage in-tensamente com a oceanografia quimica a a me-teorologia. As interfaces oceano/atmosfera sacmuito importantes para 0 quimico, em termos detransporte de material. Certos componentes daagua do mar saem para a atmosfera, enquantooutros passam da atmosfera para a agua. Chumboe pesticidas, por exemplo, sac transportados daatmofesra para 0 oceano. Em escala global, estaquantidade supera a despejada diretamente pelosrios nos oceanos.

Em oceanografia quimica, voce pode fazerdesde uma pesquisa bem basica - por e :emplo,como se alterou a composi<;:aoda agua do nar nosultimos 150 milhees de anos - ou v()..;e podededicar-se a estudos aplicados como, por exemplo,os diretamente ligados a poluiyao dos oceanos. 0quimico oceanografo precisa ter, portanto, umaforma<;:aodiversificada, necessita ter boa formayaonuma sarie de ciencias do ambiente, porque umacoisa a realizar um experimento qufmico no labora-torio, outra coisa a estudar 0 ambiente natural eseus processos quimicos.

Matsuura - Para fins de estudo, dividimos a ocea-nografia biologica em tres subareas: planctonica,nectonica e bentonica.

Entendemos por plancton os organismos, ani-mais e vegetais, que vivem na superficie, flutuando

no mar, ou logo abaixo da superficie. 0 necton ecomposto por organismos com grande capacidadede locom09ao, como os peixes e mamiferos quehabitam 0 mar. Os organismos que vivem sobre 0fundo oceanica compoem 0 bentos. Cada umadessas subareas possui um metoda de estudo e,portanto, vamos tratar de cada uma delas em sepa-rado.

CI6vls - No meu entender, 0 plancton constitui 0elemento mais importante da oceanografia biol6gi-ca, pois e 0 responsavel direto pela transforma9aoda energia solar em energia quimica, at raves doprocesso fotossintetico realizado pelas algas mi-crosc6picas que compoem 0 chamado fitoplanc-ton, ou seja, a parte vegetal do plancton. Essasalgas perfazAI'l1 cerca de 80% do total de algas quecompoem os oceanos. Mas, alem delas 0 planctonconta tambem com uma popula9ao de animais, emsua maioria microsc6picos, que constituem 0 zoo-plancton. Estes alimentam-se das algas, constituin-do, assim, 0 primeiro elo da chamada cadeia ali-mentar. Ha outros animais marinhos, como peixespor exemplo, que se alimentam dos vegetais eanimais componentes do plancton e, assim, suces-sivamente ate chegarmos ao homem. Por isso veri-ficamos que 0 plancton e responsavel por toda avida no mar. 0 ocean6grafo que estuda 0 planctonusa metodos bastante sofisticados quando sai abordo de um navio. Coleta pequenas amostras depopula9ao que sac estudadas no laborat6rio donavio ou "in situ", isto e, no pr6prio local de ondefoi retirada.

Matsuura - Na subarea do necton, estudamosprincipal mente os peixes marinhos. N6s os estuda-mos como um dos componentes do ecossistemamarinho, ou seja, como consumidores de fito ezooplancton. Sob este enfoque, nos interessa in-vestigar 0 cicio de vida, a reprodu9ao, etc. De umoutro ponto de vista, dedicamo-nos ao estudo donecton enquanto recurso pesqueiro, importantefonte de proteinas para 0 homem. Neste caso,nossa atenc;:ao se volta a explorac;:ao racional desserecurso, ou seja, a uma forma de pesca que naoleve a extinc;:ao desses organismos. Para tanto, eprecise conhecer e respeitar 0 cicio biol6gico decad a um desses organismos, como desova, matu-rac;:ao, reproduc;:ao, etc.

Prof. Tommasl - 0 estudo do bentos talvez tenhaside um dos primeiros a preocupar os interessadospelos ocean os. 0 homem comec;:ou a estudar 0oceano, grande parte das vezes, fazendo draga-

gens e coletando animais de fundo, de modo que 0conhecimento desses organismos marinhos e mui-to antigo. Seu tamanho e beleza sempre atrairammuitos os pesquisadores. Basta lembrar dos reci-fes de coral, dos bancos de algas, das estrelas domar, caramujos e conchas, para entendermos essefascinio. Mas, alem de despertarem 0 interesse decolecionadores e curiosos, tais organismos consti-tuem importante fonte de protefnas para as popula-c;:oes nativas e sac explorados comercialmente. Osanimais bentonicos, embora vivendo sobre 0 fundooceanico, guardam estreitas relac;:oes com 0 res-tante da massa d'agua. Dependem dessa massaenquanto ambiente fisico-quimico e alimentam-sede outros organismos que nela vivem como osplanctonicos.

s-l~bREC - Quais as Instltul~oes, no Brasil, voltadas aoestudo do ecosslstema marlnho com enfoque em todasas areas?CI6vls - 0 Brasil conta com tres institutos desteporte: 0 Instituto Oceanogratico da Universidadede Sao Paulo, localizado na cidade de Sao Paulo, 0Instituto Oceanogratico da Fundac;:ao UniversidadeRio Grande, situado na cidade de Rio Grande, noRio Grande do Sui e 0 Instituto de Estudos Mari-nhos Paulo Moreira, localizado em Cabo Frio, Esta-do do Rio de Janeiro. Este ultimo pertence a mari-nha do Brasil e, embora de um enfoque maior aparte de plancton e bentos, e um dos mais comple-tos do pais.

Ha, ainda, outros institutos menores, situadosna regiao nordeste, nos Estados de Pernambuco,Ceara, Maranhao e Parafba. A maioria deles estudaprincipalmente a Biologia Marinha. Somente asgrandes instituic;:oes como os Institutos Oceano-graficos de Sao Paulo, Rio Grande do Sui e Rio deJaneiro, comportam 0 estudo da Oceanografia pro-priamente dita, face as dificuldades que esta Cian-cia apresenta para seu estudo.

-debREC - De que natureza 880 essas dlflculdades?CI6vls - Sao necessarios grandes recursos, huma-

nos e materiais, como navios e equipamentos bas-tante sofisficados. Nao podemos esquecer que,hoje em dia, os satelites artificiais e as aeronavessac de grande valia para 0 estudo da oceanografia.

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REC - De que manelra os satelltes artlflclals e asaeronaves contrlbuem para 0 estudo da Oceanografla?CI6vls - No interior de uma aeronave podem sertransportados certos equipamentos sensore~ qu.erecolhem dados como temperatura, transparenclae cor da agua do mar, alem de outros parametros.Esta tecnica tem a vantagem de, em tempo muitocurto, obter dados de areas muito extensas, prati-camente de todo 0 planeta.

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REC - 0 mar, atem de ser um campo a ser desvenda-do, estudado, e conslderado uma fonte quase Inesgo-tavel de recursos allmentares e energetlcos. E real·mente uma ronte Inesgotavel desses recursos? Queproletos este Instltuto tem elaborado e executado oble-tlvando 0 aproveltamento de tals recursos?Valdenlr -:.. Dizer que 0 mar e uma fonte inesgota-vel de recursos constitui um grande erro. Vamosconsiderar um dos principais recursos extrafdos domar, 0 petr6leo. As maiores jazidas desse materialestao, hoje, localizadas no fundo dos oceanos.Entretanto, as reservas de petr61eo vso-se esgotar.o petr61eo nao e renovavel, pois exige milhoes deanos para sua formavso. Mesmo os chamados re-cursos renovaveis, como os organismos marinhos,podem se esgotar. A exploravso desses organ is-mos, em uma determinada area, pode acabar comesse recurso. Um exemplo tipico e 0 da lagosta donordeste. Ela sofre uma pesca que pode ser consi-derada predat6ria, pois nso obedece a nenhum dosciclos biol6gicos. Houve, ha pouco tempo, umaparada nessa pesca para que pudesse haver repo-sivso de estoque. E, real mente, houve uma recupe-ravso, mas parece que 0 problema esta novamentepresente.Prof. Tomma.1 - Durante muito tempo pensou-seque 0 mar fosse uma fonte inesgotavel de recursosrenovaveis, principal mente os recursos pesquei-

ros, e de recursos nao renovaveis. Grandes recur-sos financeiros foram alocados, principalmenteporque se imaginava ser possfvel obter enormesquantidades de peixes, moluscos e crustaceos dosoceanos. Hoje sabemos que vastas areas oceani-cas sso pobres, muito pobres, as vezes ate maispobres que os desertos. De forma geral, as areasreal mente produtivas sac os estuarios, as areas deressurgencia e outras em que certos processosoceanograticos enriquecem a agua da superffcie. Eimportante notar que, na costa brasileira, nao te-mos processos de ressurgencia significativos paraa produvao pesqueira, como ocorre na costa doChile, Peru, sudoeste da Africa, etc.

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REC - 0 que e ressurg6ncla?Lulz - Ressurgencia e 0 movimento continuo eascendente de agua. A massa de agua profundaascende a superficie do mar, sendo'transportadapara fora da regiao de onde ressurgiu. Essa massade agua carrega consigo grandes concentravoesde sais nutrientes, localizados, em sua maio ria, emaguas profundas. Dessa forma, esses nutrienteschegam a camada euf6tica (camada onde a luzpenetra) que, por sua vez, e afastada para outrasregioes.

REC - Como e felto 0 controle da explorat;ao dosrecursos pesquelros e de que forma esse Instltutoatua, nesse sentldo?Matsuura - Os recursos pesqueiros sac conside-rados renovaveis, posta que os organismos se re-produzem. Porem s6 podemos considera-Ios comotal se houver uma exploravao racional desses re-cursos, respeitando 0 cicio biol6gico desses orga-nismos e sabendo em que grau podemos explorarcada estoque. De 1948 ate 0 infcio da decada de 70a produvao mundial de pescados aumentou numaproporvso de 6% ao ano, atingindo ao final destadecada, um total de 76 milhoes de toneladas/ano.No infcio da decada de 80 essa cifra ja nao aumen-tou mais e nos ultimos 7 anos vem oscilando entre

72 e 78 milhOes de toneladas. Esses dados indicamque ja exploramos, praticamente, todos os cantosdos oceanos, da Antartida ate a regiao Artica, naohavendo grandes possibilidades de aumentar essaprodu<;:aopesqueira.

Vamos retomar 0 caso da pesca de lagostasno Nordeste do Brasil, que constitui um dos esto-ques mais fortemente explorados nesta regiao. To-das as pesquisas realizadas ate agora, principal-mente pelo Labomar, da Universidade Federal doCeara, indicam que 0 estoque de lagosta esta nafase de sobrepesca, ou seja, encontra-se exagera-damente depredado e nao ha condi<;:oesde recupe-ra-Io a curto prazo. Sao necessarios varios anospara que este estoque se recupere, pois 0 cresci-mento da lagosta e muito lento.

REC - Voc~s poderiam cltar alguns proJetos elabora-dos e executados por este Instltuto, no sentldo doaproveltamento raclonal dos recursos allmentares eenergetlcos?

Matsuura - No campo de recursos renovaveis,este Instituto fez, entre outros, um trabalho muitoimportante no Rio Grande do Sui, atraves do GE-DIP (Grupo de Estudos para 0 Desenvolvimento daIndustria Pesqueira), para a industria pesqueiradaquela regiao. Atraves de uma serie de campa-nhas oceonagrMicas, 0 Instituto identificou os ti-pos potenciais de estoques pesqueiros, estabele-ceu algumas areas de prioridade a pesca e forne-ceu algumas informa<;:oes biol6gicas basicas. En-fim, deu uma serie de subsldios para 0 estabeleci-mento da atual industria pesqueira no Rio Grandedo SuI.Valdenlr - Quanto aos recursos nao renovaveis, 0Instituto participou de alguns projetos. Um delesdiz respeito a um convenio USP/Petrobras, para 0estudo da area da Foz do Rio Doce. E necessarioconhecer as caracterfsticas do ambiente marinho,para que se possa instalar e operar equipamentospara a extra<;:ao de petr6leo. Participamos, tam-bem, de um projeto que envolveu a Petrobras e 0Departamento Nacional da Produ<;:ao Mineral,quando foi realizado um levantamento basico aolongo de toda a costa e nos plates submarinos daregiao nordeste para verifica<;:aode recursos mine-rais. Junto a Secretaria de Industria e Comercio de

Sao Paulo, fizemos um estudo sobre acumula<;:aode minerais pesados na costa sui do Estado de SaoPaulo,

Todos esses projetos envolveram uma seriede estudos que obviamente visavam evitar a depre-da<;:aodo ambiente. Mas, no caso da extra<;:aoderecursos minerais, e imposslvel evitar a depreda-<;:aodo ambiente, porque tais recursos sac extral-dos e sua reposi<;:ao nao ocorre a curto prazo.Sempre ha, portanto, um razoavel impacto ambien-tal. No caso do petr61eo 0 impacto ambiental extra-tivo nao e tao grande, mas sempre existem proble-mas de vazamento, de polui<;:ao,associ ados a estaatividade.

TamMm atuamos no campo das telecomuni-ca<;:oes.Atraves de um convenio firmado com aEmbratel, realizamos um estudo de topografia, dotipo de relevo do fundo oceanico, numa regiaopr6xima ao Ceara, visando estabelecer 0 melhorpercurso para a instalayao de um cabo submarino,que vai do Brasil aos E.U.A. Esse cabo nao pode sersubmetido a esfor<;:os e tensoes, porque ele serompe facilmente; seus conectores se rompem e aconsequencia e um bloqueio total nas comunica-<;:oes.

REC - No caso deste proJeto, houve partlclpa~ao deoutras areas, alem da geologia? De que natureza folessa partlclpac;ao?Valdenlr - Veja bem, esse e um projeto especffico,de estudo de relevo. N6s nao estavamos interessa-dos, neste caso, em saber como aquele relevo seformou ou 0 que estava acontecendo com ele, massim em verificar em que area do oceano se encon-trava 0 relevo adequado para 0 lan<;:amento docabo submarino. A intera<;:aoque aqui ocorreu foicom a area de ffsica, no que toca a propaga<;:aodosom, pois 0 estudo foi realizado com ecossondas.

Mas n6s temos um outro trabalho que ilustrabem a intera<;:ao entre as areas - 0 estudo dosrecursos minerais em regiao costeira. Nessa regiaopode haver acumulo de minerais fragmentares,transportados por correntes e que guardam estrei-ta rela<;:ao com todo 0 desenvolvimento de umambiente costeiro. Dependendo dos fatores queatuam em um determinado ambiente costeiro, exis-te a possibilidade de haver um dep6sito mineral

CAMADA SEDIMENTAR100 A 170 METROS

DE ESPESSURA:SEGUNDA CAMADA --.: =..: DA CROSTA TERRESTRE'=:=:':

: (ESPESSURA: :: C~RCA DE 1.000 METROS) :-------------------_ ... -------TERCEIRA CAMADADA CROSTA TERRESTRE

(ESPESSURA:CERCA DE 5.000 METROS)

submerso ou na linha de costa. Temos que ter 0conhecimento desse ambiente, de como ele secomporta, para sabermos se ha possibilidade ou·nao de dep6sito de minerais e para evitarmos de-predayoes maiores no caso de sua extrayao. Co-nhecer esse ambiente significa, por exemplo, saberdos movimentos da massa de agua, da composiyaoqufmica dessa agua e dos sedimentos, da composi-yao biogenica dos sedimentos, da formayao e rele-vo do fundo oceanico, e da interayao de todosesses fatores.Lulz - Complementando 0 que 0 Valdenir expos,gostaria de dizer que, na epoca do lanyamentodaquele cabo submarino, houve necessidade de sefazer previsoes de ocorrencia de ondas, de tempes-tades, de uma serie de processos ffsicos. 0 lanya-mento e feito por um navio, uma embarcayao degrandes proporyoes e, mesmo durante essa fase, 0cabo submarino nao pode sofrer grandes tensoesdevido ao problema de rompimento dos conecto-res. N6s, aqui do Instituto, nao estivemos envolvi-dos nessa fase de previsoes do estado do mar naepoca do lanyamento, mas outras instituiyoes cer-tamente estiveram.

Concluindo, esse cabo foi lanyado, ha ques-tao de 2 ou 3 anos, ligando Fortaleza (Brasil) asIlhas Virgens (E.U.A).

Prof. Tommasl - 0 estudo das grandes profundi-dades oceanicas foi motivado, em grande parte,pelo fate de terem sido encontrados organismosbentonicos incrustados em um cabo submarinoque se havia rompido. Imaginava-se, nos prim6r-dios da Oceanografia, que devido a queda da tem-peratura da agua do mar com a profundidade, 0solo marinho fosse permanentemente recoberto degelo, absolutamente escuro e, portanto, desprovi-do de vida. 0 encontro de organismos incrustadosnaquele cabo submarino motivou toda uma seriede interesses inclusive divagayoes curiosas, comoas que apontavam as profundidades oceanicas co-mo sendo habitadas por monstros pre-hist6ricos.Essas ideias foram 0 motivo de uma das maisfamosas expediyoes ao mar profundo, a Galathea,patrocinada pela Kalsberg Foundation (Fundayaomantida por uma fabrica de cerveja), que via nissouma jogada mercadol6gica: "Imagine uma cervejapatrocinando 0 encontro de animais pre-h'ist6ricosno fundo oceanico!"

Valdenir - Ainda com relayao aos cabos submari.nos, ha um outro aspecto a ser considerado - 0 damanutenyao desses cabos. E necessario conhecer

o estado do mar para que tal manutenc;;aoseja feita.Ha necessidade tambem de conhecimentos sobreo comportamento geral da area, para protec;;aodocabo submarino. Neste sentido foi desenvolvidoum projeto de pesquisa sobre processos de escor-regamEmto na quebra da plataforma continental,isto e, na regiao em que 0 mar se dirige para asregioes mais profundas. Nessa quebra, h8. forma-c;;aode correntes nas quais 0 material sedimentar ecolocado em suspensao. Essas correntes atingemgrandes velocidades, podendo romper cabos sub-marinos. 0 oceano e um meio dinamico, e sempreinterativo; e diffcil a gente fazer um tipo de estudoisoladamente. As diversas areas que compoem aOceanografia precisam realmente interagir paraque 0 estudo seja completo.

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REC - Ha alguma articula«;:ao entre os Institutos Ocea-nograficos no Brasil?Valdenlr - De modo geral, as instituic;;oes oceano-graficas no Brasil funcionam isoladamente. Existeum intercambio, mas esse intercambio se da muitomais entre pessoas do que entre instituic;;oes. Estee um dos defeitos da oceanografia brasileira. Aexcec;;aode algumas instituic;;oes no nordeste que,por necessidade mesmo, tiveram que se unir (asvezes e destacada uma pessoa de cada instituto,que atua em determinado campo), a interac;;aonaotem ocorrido da forma desejada. N6s temos discu-tido muito esta questao, aqui no Instituto e a nlvelnacional, mas ate agora nao conseguimos umaforma de viabilizar este intercambio. Infelizmentetem sido mais facil os 6rgaos de financiamentopagarem viagens de especialistas para fora do paisou a vinda de ocean6grafos de outros palses paraca, do que investirem em intercambio entre asinstitlJic;;oes brasileiras. Existe burocracia, nao s6das instituic;;oes, mas tambem dos 6rgaos financia-dores.Prof. Tommasi - Existe, atualmente, uma comis-sao interministerial, chamada Comissao Interminis-terial para 0 Estudo dos Recursos do Mar (CIRM)responsavel pela destinac;;ao de verbas a projetosque se refiram a explorac;;ao racional do mar. Parti-cipam dessa comissao oito ministerios, entre elesestao os da Educac;;ao,Agricultura, Minas e Energia

e Marinha. Desses ministerios, aquele que nos temenviado recursos financeiros tem side 0 da Mari-nha. Esse ministerio tem varios grandes progra-mas. Um deles e 0 Proantar (Programa AntarticoBrasileiro) e 0 outro e 0 PSRM (Programa Setorialde Recursos do Mar) que tentou estabelecer umaserie de integrac;;oes desse tipo que voce colocou.

REC - Qual a atua«;:aodo Instltuto Oceanogratlco fren-te Ii explora«;:ao dos recursos pesquelros?Matsuura - No tocante a explorac;;ao de recursospesqueiros, temos uma Intima ligac;;aocom a SU-DEPE, Superintendencia para 0 Desenvolvimentoda Pesca, participando de um Grupo Permanentede Estudo dos Recursos Pesqueiros. Para cadaestoque ha um grupo de pesquisadores de variasinstituic;;oes, entre elas figura 0 Instituto Oceano-grafico da Universidade de Sao Paulo. 0 GrupoPermanente de Estudo da Sardinha, formado em1971, estuda todas as informac;;oes referentes aesse peixe, no que diz respeito a pesca, a biologia ea oceanografia. A partir das analises feitas pelogrupo, sac recomendadas as medidas necessariaspara nao haver sobrepesca, isto e, pesca muitointensiva que ponha em risco os estoques de sardi-nha. Com base nessas recomendac;;oes,a SUDEPEadota uma serie de medidas visando conservar 0estoque de sardinha, como 0 perlodo de defesa dapesca (normalmente dezembro e janeiro), 0 tama-nho mlnimo para a captura, 0 numero maximo debarcos de pesca que permite manter aquele esto-que, etc.

REC - Aproveitando sua exposi«;:ao sobre a colabora-«;:aodo Instituto Oceanogratico com a SUDEPE, vocepoderia explicar qual e, exatamente, 0 trabalho doInstituto de Pesca?

Matsuura - Vamos tomar 0 caso dos Grupos Per-manentes de Estudo de Recursos Pesqueiros. 0Instituto Oceanografico fornece a analise de dados

biol6gicos de cada estoque e as informac,::6es ocea-nogrMicas. 0 Instituto de Pesca coleta dados relati-vos a pesca, como captura, produc,::ao, etc. e aSUDEPE trabalha com 0 processamento de dados,coleta de informac,::6es sobre barcos de pesca, etc.~ esse conjunto de informac,::6es que permite 0

diagn6stico do estado dos estoques das principaispopulac,::6es de peixes.

REC - De que forma a Oceanogralfa, enquanto CI~n-cia, pode auxillar as comunidades pesquelras que sededlcam 1\ pesca artesanal de sorte a Informa-Ias so·bre a exploral;so raclonal do mar?

Matsuura - As vezes, escrevemos artigos em jor-nais e dessa forma conseguimos transmitir as in-formac,::6es necessarias de maneira mais facil, paraempresarios e pescadores.

REC - Mas nso h8 um atendlmento sistematico, umaal;ao que garanta a constAncla dessas Informal;oes?Nao ha nenhum 6rgao que estabelel;a essa ponte?

Matsuura - Teoricamente, 0 orgao responsavel ea SUDEPE. Mas a ponte tem side estabelecida demaneira mais frequente por iniciativa da Associa-c,::aodos Pescadores. que nos tem solicitado asses-soria.

As sess6es estaduais da Associac,::ao Brasileirapara a Industria da Pesca tem-se interessado e nosconvidam para assessora-Ias. Dessa maneira, con-seguimos transmitir nossas informac,::6es e ateconscientizar os pescadores para nao capturar. porexemplo, sardinhas muito pequenas, para deixa-Iascrescer.

Eles se convencem disto porque apresentamos ar-gumentos cientificos. Agora, no caso da pesca dalagosta, citado anteriormente. apesar de todas asinformac,::6es indicarem que 0 estoque encontra-seem estado grave de sobrepesca, 0 controle nao temse efetivado pois, neste caso, esta envolvido forte-mente 0 fator s6cio-economico: 0 prec,::oda lagostae tao alto que ninguem consegue segurar os pesca-dores. Entao. apesar do conhecimento ja compro-vado do estado de sobrepesca e de varios decretosda SUDEPE, proibindo a captura de lagostas pe-quenas, durante determinado perfodo, a pescacontinua indiscriminadamente. Na verdade. este e

um problema mais de natureza polftico-s6cio-economica do que cientifica.

REC - Com relal;ao as Industrlas pesqueiras, quetambem exploram em grande escala os recursos marl·nhos, que tlpo de Interfer~ncla t~m os Instltutos Ocea-nograflcos?

Matsuura - Iniciamos um prQjeto bastante au-dacioso, financiado pela FINEP (Financiadora deEstudos e Projetos), no sentido de avaliar 0 tama-nho da populac,::ao de peixes pelagicos e estudar asprincipais causas da variac,::aoanual no tamanho doestoque, na costa brasileira.

A partir de 1975, iniciamos uma campanha depesquisas oceanograficas, nas regi6es Sui e Su-deste. entre Cabo Frio (R.J.) e Cabo de Santa MartaGrande (S.C.), em que coletamos informac,::6es bio-16gicas e de oceanografia ffsica e qufmica. De pos-se desses dados, apontamos a potencialidade deestoque de alguns peixes, principalmente atuns ebonitos. Tais informac,::6es foram uteis para que sedesenvolvesse uma pesca industrial, ainda nova noBrasil e, a partir de 79, a produc,::ao pesqueira deatum e bonito cresceu, rapidamente, atingindo 25mil toneladas em 83. Esses produtos estao sendoexportados para os E.U.A., trazendo d61ares para 0

Brasil e dando emprego para pescadores.

REC- Equanto ao desenvolvimento da tecnologla dosallmentos marlnhos, esse Instltuto tambem tem partlci·pado?

Lulz - Temos um grupo trabalhando com a tecno-logia do pescado. Esse grupo elaborou um metodade processamento e enlatamento de bonito, direta-mente transferido para a industria de enlatamento.

REC - 0 que sao fazendas marinhas e como v~m 5edesenvolvendo no Brasil?

Matsuura - Podemos dizer que uma fazenda mari-nha e um empreendimento destinado ao cultivo de

determinados tipos de organismos marinhos, ten-do por finalidade a produ9ao de alimentos para apopula9ao. 0 Brasil possui uma grande potenciali-dade de regioes lagunares estuarinas, mas suautiliza9ao ainda nao e satisfat6ria. Existem variosproblemas de natureza tecnica e politi ca. Ja existe,em muitos pafses, a tecnologia para desenvolveresta atividade em escala comercial e, no Brasil,pode ser implantada, por exemplo, a cria9ao decamarao, mexilhao e ostra.

REC - De que maneira as areas de flslca e geologiaauxillam na Instalac,80 dessas fazendas?

Lulz - As comunidades biol6gicas adaptam-se acertas condi90es ideais do ambiente ffsico, como asalinidade, a temperatura e a penetra9ao de luz.Nao sou especialista, mas acredito que, na implan-ta9ao dessas fazendas, devam ser conhecidas taiscondi90es ambientais e suas varia90es para que setenha seguran9a de que a especie em cria9ao res-ponde positivamente a essas condi90es.

Valdenlr - 0 conhecimento geol6gico tem impli-ca90es diretas na implanta9ao de fazendas mari-nhas. E necessario que se conhe9a 0 tipo de fundomarinho adequado ao organismo que vai ser culti-vado. 0 fundo marinho e, tambem, um importantereciclador de nutrientes, po is e ele 0 reposit6rio demateriais que permanentemente circulam entre aagua, os organismos, a atmosfera e 0 fundo. Essefundo pode ser ativado, estimulado a reciclar mate-riais para a agua, 0 que promove um enriquecimen-to do ambiente, tornando-o propfcio ao cultivo.

AEC - E esperado que essas fazendas venham asuprlr as necessldades allmentares da populac,80 bra-sllelra?

esta estabilizada e e diffcil passar do ponto em quese encontra. 0 que resta, em term os de possiblida-de, e a aquicultura, ou seja, as fazendas marinhas.

Matsuura - Quando se fala em aquicultura e im-portante lembrar que ha dois tipos dessa cultura:(1) A aquicultura de produtos nobres que produ-zem grandes lucros, mas exigem grandes investi-mentos; e 0 caso do camarao, da lagosta, etc. (2) Aaquicultura de produtos comuns que, por teremum baixo custo de produ9ao, se tornam acessfveisa popula9ao em gera!. A cria9ao de ostras e mexi-IhOes nao requer 0 usa de ra9ao, aproveitando-separa a alimenta9ao desses organismos 0 que 0 marproduz.

REC - Uma quest80 pol6mlca, que vem preocupandoclentlst81 e a populac,80 em geral, dlz respelto aoImpacto amblental. De que forma a Oceanografla, en-quanta ClAncla, pode Intervlr na soluc,io delte proble-ma, no tocante aos ecolliltemas marlnhol e de tranll-c,io? 0 que este Instltuto tem felto?

Prof. Tomazzl - A avalia9ao do impacto ambientalteve infcio na decada de 70, nos E.U.A com 0famoso NEPA (Instituto Nacional de Prote9ao Am-biental), 6rgao responsavel pela prote9ao ambien-tal naquele pafs. De forma simples, podemos consi-derar 0 impacto ambiental como um processo de-corrente de uma a9ao humana, que desencadeiauma serie de efeitos, chamados efeitos primarios.Estes, por sua vez, desencadeiam efeitos secunda-rios que influenciam os diversos compartimentosambientais, recaindo sobre 0 homem. A solu9ao deum problema de tal porte envolve a presen9a deuma equipe composta por bi610gos, ge6grafos,ge610gos, qufmicos. ffsicos, climatologistas, medi-cos, toxic610gos, soci610gos, engenheiros, traba-Ihando de forma integrada.

Para a avalia9ao dos impactos nos ambienteslitoraneos e oceanicos, a Oceanografia fornece asferramentas basicas de analise. Exemplificando,para se avaliar os impactos sobre 0 oceano, enecessario saber qual 0 comportamento qufmicode um determinado poluente na agua do oceano,como pode ser absorvido por um organismo, comose comporta ao longo da cadeia alimentar, quais

saos seus efeitos sobre as celulas, para onde talmaterial acaba indo. Precisamos saber, ainda, deque maneira tal poluente pode ser transferido parao homem, que efeitos vai induzir, sua taxa de trans-ferencia, etc. Entao , alem das areas classicas quecompoem a Oceanografia, 0 estudo dos impactosambientais requer uma equipe mais ampla. Aliasum novo campo da Oceanografia e a OceanografiaMedica, que se vem desenvolvendo na Fran9a, nosE.U.A., no Japao, na Suecia e na Alemanha, ondesac estudados todos os efeitos do oceano, dosorganismos marinhos, sobre a saude humana. Des-ta forma, todo este conhecimento sobre os proces-sos oceanicos constitui 0 grande suporte que 0ocean6grafo pode dar para a compreensao e ava-lia9ao do impacto ambiental.

REC - AI6m do conhecimento do amblente marlnho,que de forma dlreta permlte avallar e preyer 01 efeltolde determlnadas a90el humanas sobre 0 mar, elteInstltuto tem atuado de sorte a regenerar amblentel Iidegradadol? De que manelra?

Prof. Tommaal'-: Neste caso ha a necessidade decompreendermos a dinamica do ecossistema.Quando a compreendemos, podemos medir umcomponente muito importante - a capacidade queesse ecossistema tem de resistir a um impacto eretornar ao seu estado anterior. Conhecendo estacapacidade, 0 ocean6grafo pode apontar 0 limitede interferencia, num dado perfodo, sobre esteecossistema. Por exemplo, para sabermos da pos-sibilidade de recupera980 do mangue, numa area,degradada, devemos estudar todas as rela90esdeste ecossistema, como 0 solo, a taxa de cresci-mento das plantulas, etc. Entao poderemos dizerse este ecossistema e passivel ou nao de ser recu-perado, quanta tempo e necessario para que 0 sejae que medidas devem ser adotadas para que estafinalidade se cumpra.

REC - Hi, no Brasil, algum curso de gradua980 emOceanografla?

Alfredo - A Funda9ao Universidade Rio Grande(R.S.) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro(R.J.) oferecem 0 curso de gradua9ao em Oceano-grafia.

REC - 0 curso de gradua980 em Oceanografla serlautll para 0 desenvolvlmento des88 Clincla ou serlapreferfvel que 0 estudante de Oceanografla tlvesseuma forma980 baslca anterior, como ffslco, qufmlco,b1610go,etc.?

Alfredo - Na minha opiniao pessoal, 0 curso degraduaeao em Oceanografia e viavel. Interesse emfazer 0 curso sempre ha. Pensando em termos deUniversidade, esse curso e interessante como qual-quer outro, uma vez que a Universidade importa 0saber. Assim, a Universidade nao forma pessoalpensando apenas em mercado de trabalho ou nasnecessidades econ6micas do Pais. Agora, em ter-mos praticos, de mercado de trabalho, de necessi-dades econ6micas do pais, quem fez 0 curso poderesponder melhor que eu.Prof. Tommssl - 0 Instituto OceanogrMico daUniversidade de Sao Paulo esta estruturando seucurso de graduaeao em Oceanografia em duasareas: oceanografia biol6gica e oceanografia fisi-ca. Dado 0 carater multidisciplinar desta Ci€lncia,para que um curso de graduaeao seja realmenteeficiente e prepare 0 estudante adequadame'1te,deve haver um elenco de professores de at aasdiversas, 0 que poucas entidades, no Brasil, 10S-suem. No caso do nosso Instituto, podemos c...izerque esses profissionais existem, porem ainda seranecessario contratar mais alguns docentes.REC - Ha prevls80 de data para a crla980 dessecurio?

Prof. Tommssl - Os profissionais dos departa-mentos que compoem este Instituto ja prepararamuma estrutura basica, em termos das disciplinasque deverao compor 0 curriculo. Isso ja foi aprova-do pela congregaeao do Instituto e enviado a reito-ria, para apreciaeao. 0 curso, portanto, ja e quaseuma realidade, mas sua instalaeao requer a colabo-raeao de varias unidades da Universidade. Naopretendemos trabalhar toda a parte basica de Bio-

ciEmcias, Matematica, Fisica, Quimica e Geologia.E necessario, entao, que as unidades respectivascolaborem, ministrando as disciplinas basicas docurso.REC- 0 que deve fazer um Indlvfduo que se Interessapela Oceanografla, para poder estudar e trabalhar nes-sa area?

Alfredo - Bem, ele tem dois caminhos tradicionaisa seguir: (1) Procurar um curso de gradua9ao emOceanografia e depois, trabalhar na area ou fazerum curso de pos-gradua9ao. (2) Fazer um curso degradua9ao em outra area, como Biologia, Matema-tica, Fisica, Geologia, Quimica etc. e, depois, fazerum curso de pos-gradua9ao em uma das areas deOceanografia. Em termos de mercado de trabalho,as Universidades brasileiras, dos varios estados,ainda constituem 0 melhor campo, embora sejapequeno. As empresas absorvem muito pouco es-tes profissionais. Ha uma ou outra empresa, deeconomia mista, que em alguns casos aproveitaesses profissionais, como a CETESB e a SUDEPE.

REC - Ha Indlvfduos de curso medlo (1' e 2' graus),contratados para trabalhar em Oceanografla? Se hou-ver, que fun~ao desempenham?

Alfredo - Que eu saiba nao existe pessoal de nivelmedio, com forma9ao especffica para 0 trabalhoem Oceanografia. 0 que existe e pessoal com for-ma9ao em varias areas tecnicas, em nivel de 2'grau, que vem trabalhar em laboratorios de Ocea-nografia.

REC - Que sugestoes tem este Instltuto para tornar 0conhecimento sobre Oceanografla acessfvel a alunose professores de l' e 2' graus?

Affredo - Este Instituto possui um projeto chama-do Projeto Apoio ao l' e 2° graus, funcionando· hadois anos e que visa, basicamente, auxiliar estu-

dantes e professores. Aos professores, oferecemoscursos de extensao universitaria, alem de contar-mos com uma cole9ao razoavel de animais mari-nhos, todos catalogados, para emprestimo as esco-las ou a professores, individualmente, de qualquerregiao do pais.

REC - Como as escolas devem proceder para obteresse material?

Alfredo - A escola se inscreve no Instituto Ocea-nografico da Universidade de Sao Paulo, enviandonome, endere90 e CEP e, entao, pode vir retirar 0material que precisar. Caso 0 material tenha queser transportado para outras cidades ou estados, 0interessado se responsabilizara pelo custo dotransporte.

REC - 0 curso de extensao para professores de l' e 2°graus, tem alguma perlodlcldade? Qual?

Alfredo - No ana de 1986 oferecemos 8 ou 9cursos, sem periodo determinado. Agora eles estaodesativados pois nao estamos recebendo mais ossubsidios do MEC, que nos permitiam cobrir asdespesas dos cursos. Sao cursos caros e a taxa deinscri9ao que cobramos tem que ser barata, casocontrario torna-se inviavel para os professores.Nao ha, ainda, previsao de retorno.

REC - Algum de vocis gostarla de delxar um recadofinal, atraves da nossa revlsta, para professores ealunos?

Prof. Tommasi, em nome da equipe - 0 Institutoesta aberto as escolas e aos professores de todosos niveis: 1',2' e 3° graus. Temos isto como urn doscomponentes mais importantes do nosso trabalho,nao so pela divulga9ao da CiEmcia da Oceanogra-fia, mas tambem como um retorno a sociedade detudo aquilo que dela recebemos.