obtenção dos sistemas de dispersão sólida e complexos de … · 2019. 10. 25. · pelas...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Obtenção dos Sistemas de Dispersão Sólida e Complexos de Inclusão para
Solubilização de Benzilideno-Imidazolidina-2,4-Diona e
Benzilideno-Tiazolidina-2,4-Diona
FRANCIMARY DE LIMA GUEDES
RECIFE - 2008
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Obtenção dos Sistemas de Dispersão Sólida e Complexos de Inclusão para
Solubilização de Benzilideno-Imidazolidina-2,4-Diona e
Benzilideno-Tiazolidina-2,4-Diona
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ciências Farmacêuticas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, em cumprimento às exigências para obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas.
Área de Concentração: Produção e Controle de Qualidade de Medicamentos.
FRANCIMARY DE LIMA GUEDES
Orientador: Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto Co-Orientador: Prof a Dra Suely Lins Galdino
RECIFE - 2008
Guedes, Francimary de Lima
Obtenção dos sistemas de dispersão sólida e complexos de inclusão para solubilização de Benzilideno-Imidazolidina-2,4-Diona e Benzilideno-Tiazolidina-2,4-Diona / Francimary de Lima Guedes. – Recife: O Autor, 2008.
xviii, 115 folhas: il., fig., tab.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal
de Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2008.
Inclui bibliografia.
1. Benzilideno-Imidazolidina-2,4-Diona. 2.
Benzilideno-Tiazolidina-2,4-Diona. I.Título.
615.014.2 CDU (2.ed.) UFPE 615.18 CDD (22.ed.) CCS2008-092
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Obtenção dos Sistemas de Dispersão Sólida e Complexos de Inclusão para
Solubilização de Benzilideno-Imidazolidina-2,4-Diona e
Benzilideno-Tiazolidina-2,4-Diona
BANCA EXAMINADORA:
Membro Externo Titular
Prof. Dr. Ivan da Rocha Pitta - UFPE
Membros Internos Titulares
Profa Dra Miracy Muniz de Albuquerque - UFPE
Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto - UFPE
Membros Suplentes
Interno: Profa Dra Beate Saegesser Santos - UFPE
Externo: Profa Dra Suely Lins Galdino - UFPE
iv
v
MENSAGEM
“Se um homem ama a honestidade, mas não ama o estudo, a sua falta será uma
tendência para desperdiçar ou transtornar as coisas. Se um homem adora a
simplicidade, mas não adora o estudo, sua falta será puro prosseguimento na rotina.
Se um homem aprecia a coragem e não aprecia o estudo, sua falta será turbulência ou
violência. Se um homem elogia a decisão de caráter, mas não elogia o estudo, sua
falta será obstinação ou teimosa crença em si mesmo.”(Confúcio)
vi
DEDICATÓRIA
À VOFSI
que significa “Acréscimo de Deus” em Hebraico
Todo meu esforço, dedico.
vii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que por meios que eu desconheço, sempre permanece agindo em meu
favor;
Ao Professor Dr. Pedro José Rolim Neto, do Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos do
Departamento de Fármacia – LTM/UFPE, pela orientação, objetividade, dedicação e
incentivos que permitiram a conclusão deste trabalho;
À Professora Drª. Suely Lins Galdino, do Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos
do Departamento de Antibióticos – GPIT/UFPE, pelo seu profissionalismo e dedicação ao
desenvolvimento científico regional;
Ao Professor Dr. Ivan da Rocha Pitta, do Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos
do Departamento de Antibióticos – GPIT/UFPE, pelo incentivo e atenção dispensados no
decorrer deste trabalho;
À Professora Drª. Maria do Carmo Alves de Lima, do Laboratório de Planejamento e Síntese
de Fármacos do Departamento de Antibióticos – GPIT/UFPE, que me conduziu à pesquisa
através da iniciação científica, meu sincero reconhecimento pela pertinência das suas
observações e pelo seu empenho na síntese dos protótipos estudados;
Ao Professor Dr. Marcelo Zaldine Hernandes e ao pesquisador Dr. Boaz Galdino, do
Laboratório de Química Teórica Medicinal – UFPE, por suas contribuições imprescindíveis
na realização dos estudos computacionais de modelagem molecular com os protótipos
estudados nesta dissertação;
Ao Professor Dr. Carlos Alberto De Simone, do Laboratório de Cristalografia e Modelagem
Molecular – UFAL, pela realização do estudo cristalográfico;
Ao professor Dr. Francisco Veiga, pelo convite e acolhimento no Laboratório de Tecnologia
Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra-Portugal, para o
desenvolvimento dos Complexos de Inclusão com Ciclodextrinas. Agradeço de forma muito
viii
especial pelo apoio científico e pronta disponibilidade em prover todos os recursos
necessários à concretização da investigação durante a nossa permanência em Coimbra;
À professora Drª. Miracy Muniz de Albuquerque, Ruth e Júnior pela permissão concedida na
utilização de alguns equipamentos do Núcleo de Controle de Qualidade de Medicamentos e
Correlatos;
À Professora Drª. Beate Saegesser Santos pela permanente disponibilidade e simpatia com
que muitas vezes me atendeu para discussão de alguns pontos deste trabalho;
À Maria da Conceição Barros de Souza, secretária do Programa da Pós-Graduação em
Ciências Farmacêuticas, pela paciência e disponibilidade;
A Ricardo Oliveira e Eliete Barros, da Central Analítica do Departamento de Química
Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco, pela realização dos espectros de
infravermelho e ressonância magnética nuclear de hidrogênio;
Ao Professor Dr. José Luiz de Lima Filho e Sérgio dos Santos Silva do Laboratório de
Imunopatologia Keizo Asami (LIKA) da UFPE pela disposição dos meios técnicos e humanos
à realização da microscopia eletrônica de varredura;
A João Carlos do departamento de Física da UFPE pela inestimável atenção dispensada na
realização das análises de Difração de Raios X;
Às colegas do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da
Universidade de Coimbra, Cristina, Jucimary, Andreza, Camile e Rita pela amizade e ajuda;
A Rui Manadas, pelo constante incentivo e pela grande amizade nascida durante a realização
dos experimentos em Portugal;
Aos amigos do Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos pela colaboração e apoio,
especialmente a Ricardo Moura, Aracelly França e Cleiton Diniz pela constante
disponibilidade, inesgotável paciência e preciosa colaboração num dos momentos mais
críticos.
ix
Aos colegas do Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, meu agradecimento, em
especial a José Lamartine Soares Sobrinho, Keyla Emanuelle Silva e Jackson Luis da Silva
pelas discussões finais sobre os perfis de dissolução;
Ao “Grupo Dispersões Sólidas e Complexos de Inclusão”, Fabiana Lícia, Geisiane Presmich,
Larissa Fantini e Larissa Rolim pela colaboração nas atividades comuns aos nossos projetos
de Doutorado, Mestrado e Iniciação Científica;
Aos meus colaboradores que formam o “capital humano” da Vofsi Química pela dedicação e
por acreditarem no meu sonho de empresa, mesmo quando nas muitas adversidades eu não
estava lá para auxiliá-los, devido aos compromissos assumidos no mestrado. A vocês a minha
profunda gratidão;
Tenho que agradecer em especial à Adrianna Fabisak, minha sócia, irmã e amiga, que me
apoiando incondicionalmente, compreendendo todos os momentos de tensão, suportando
minhas infindáveis ausências na gestão da Vofsi Química, com uma tolerância que nunca vi
igual, foi o principal pilar que me sustentou para que eu pudesse cursar a Faculdade de
Farmácia e ousar esta Pós-Graduação.
A “Dona Helena”, minha mãe, por todo seu amor, toda sua compreensão, todo seu carinho.
Ao meu pai, Guedes, que discreta, mas decisivamente sempre me apoiou. Ao meu querido
irmão Wal, que sempre vibrou muito com as minhas conquistas, especialmente as
relacionadas com a formação acadêmica.
x
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS xi
LISTA DE TABELAS xv
LISTAS DE ABREVIATURAS xvi
RESUMO xvii
ABSTRACT xviii
INTRODUÇÃO 20
OBJETIVOS 23
Geral 23
Específicos 23
CAPÍTULO I
Artigo I
Ciclodextrinas: como adjuvante tecnológico para melhorar a biodisponibilidade de
fármacos
25
CAPÍTULO II
Artigo I
Estudo Teórico e Experimental de Dispersões Sólidas do 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-
benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4) com potencial atividade
esquistossomicida em Polietilenoglicol e Polivinilpirrolidone
46
Artigo II
Caracterização físico-química, Cristalografia e Modelagem Molecular do 3-(4-metil-
benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2) e Suas Dispersões
Sólidas com Polivinilpirrolidone
67
CAPÍTULO III
Artigo I
Complexos de Inclusão para derivado benzilideno imidazolidínico com 2-hidroxipropil-β-
ciclodextrina e 2-O-metil-β-ciclodextrina no estado sólido
89
CONCLUSÕES 109
PERSPECTIVAS 112
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 114
xi
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
Artigo I
Fig.1. Log do número de publicações relacionadas com ciclodextrinas (barras brancas) e
aplicações farmacêuticas envolvendo solubilização (barras Pretas) por ciclodextrinas,
como indicado no SciFinder (ACS,COLUMBUS,OH) em Março, 2007
29
Fig.2. Representação da βCD e seus grupos hidroxílicos assinalados 30
Fig.3. Edições de patentes associadas com HP-β-ciclodextrina (■) e SBE-β-ciclodextrina
(▲) usadas entre os anos 2000 e 2006 (SCIFINDER, COLUMBUS, OH)
33
Fig.4. Diagrama de solubilidade de fases para fármaco e ciclodextrina (HIGUCHI &
CONNORS, 1965)
35
Fig.5. Efeito da complexação fármaco-ciclodextrina sobre a biodisponibilidade após a
administração não parenteral. (Adaptado de LOFTSSON et. al., 2005)
36
CAPÍTULO II
Artigo I
Fig.1. 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4) 48
Fig. 2. Perfis de dissolução do LPSF/FZ4, das misturas físicas e das dispersões sólidas
com PEG (a) e PVP (b) em pH gástrico (pH 1,2) contendo 1% de lauril sulfato de sódio
53
Fig. 3. Termogramas de DSC do LPSF/FZ4 (a), PEG (b) e dispersões sólidas LSF/FZ4:PEG 1:9
(c)
54
Fig. 4. Termogramas de DSC do LPSF/FZ4 (a), PVP (b) e dispersões sólidas LSF/FZ4:PVP 1:9
(c)
54
xii
Fig. 5. Difratogramas do LPSF/FZ4, PEG, mistura física e dispersões sólidas
LSF/FZ4:PEG 1:9
56
Fig. 6. Difratogramas do LPSF/FZ4, PVP, mistura física e dispersões sólidas
LSF/FZ4:PVP 1:9
57
Fig. 7. Espectros de infravermelho do LPSF/FZ4, PEG, PVP e dispersões sólidas 59
Fig.8. Geometrias otimizadas obtidas para os complexos de hidrogênio PEG⋅⋅⋅LPSF/FZ4
(I) e PVP⋅⋅⋅LPSF/FZ4 (II) usando resultados do cálculo B3LYP/6-31G (d,p). Os valores
apresentados nesta figura representam as distâncias das ligações de hidrogênio, em
Ångstrons.
60
Fig. 9. Espectros de RMN 1H do LPSF/FZ4 (a), dispersões sólidas LPSF/FZ4:PEG (b) e
dispersões sólidas PSF/FZ4:PVP (c)
62
Fig. 10. Eletromicrografias do LPSF/FZ4 (a), PEG (b), PVP (c) dispersões sólidas
LPSF/FZ4:PEG (d), e dispersões sólidas LPSF/FZ4:PVP (e)
63
Artigo II
Fig.1. ORTEP-3 da molécula do LPSF/GQ2 72
Fig. 2. Diferentes projeções da molécula do LPSF/GQ2. O ângulo diedro entre os dois
planos passando pelos anéis é de 96°
73
Fig. 3. Empacotamento cristalino do LPSF/GQ2 visto em 2 projeções 73
Fig. 4. Eletromicrografias do cristal LPSF/GQ2 77
Fig.5. Difratogramas dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c) MF
2:8; (d) DS 3:7; (e) DS 2:8; (f) DS 1:9
79
Fig.6. Termograma de DSC dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c)
DS 3:7; (d) DS 2:8; (e) DS 1:9
81
Fig. 7. Eletromicrografias dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c)
xiii
MF 2:8; (d) DS 3:7; (e) DS 2:8; (f) DS 1:9 83
Fig.8. Geometria otimizada obtida para os complexos de hidrogênio PVP⋅⋅⋅LPSF/GQ2
usando resultados do cálculo B3LYP/6-31G (d,p). O valor apresentado nesta figura
representa a distância da ligação de hidrogênio, em Ångstrons
84
Fig. 9. Espectros de IV dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c) MF
2:8; (d) DS 3:7; (e) DS 2:8; (f) DS 1:9
85
CAPÍTULO III
Artigo I
Fig. 1 – Derivados imidazolidinônicos 91
Fig. 2. Equação de Higuchi e Connors 93
Fig. 3. Diagrama de Solubilidade de Fases do LPSF/FZ4 em função da concentração das
ciclodextrinas, em solução aquosa a 25 ºC
96
Fig. 4. Difratogramas dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) HPβDC; (c)
MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
97
Fig. 5. Difratogramas dos sistemas LPSF/FZ4:MβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) MβDC; (c)
MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
97
Fig. 6. Termograma de DSC dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC: (a) LPSF/FZ4; (b)
HPβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
99
Fig. 7. Termograma de DSC dos sistemas LPSF/FZ4:MβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) MβDC;
(c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
99
Fig. 8. Espectros de IV dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) HPβDC; (c)
MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
101
Fig. 9. Espectros de IV dos sistemas LPSF/FZ4:MβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) MβDC; (c)
MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
102
xiv
Fig. 10. Perfis de dissolução do LPSF/FZ4 e dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC (a)
LPSF/FZ4:MβDC (b) em suco gástrico artificial (pH 1,2) contendo 1% de lauril sulfato
de sódio
103
Fig. 11. Percentual de Eficiência de Dissolução (ED60min %) em 60 minutos
104
xv
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Artigo I
Tabela 1. Medicamentos contendo as principais ciclodextrinas derivadas. 32
CAPÍTULO II
Artigo I
Tabela1. ED 60min para LPSF/FZ4, misturas físicas e dispersões sólidas 53
Tabela 2. GCR para 2θ =16 nos sistemas LPSF/FZ4:PEG 56
Tabela 3. GCR para 2θ =16 nos sistemas LPSF/FZ4:PVP
57
Artigo II
Tabela 1. Picos de Intensidade do LPSF/GQ2 nas amostras de difração de raios X das
dispersões sólidas nas diferentes proporções
78
xvi
ABREVIATURAS
Å Angstrons
ADT AutoDockingTools
ASC Área sob a curva
BSSE Erro de Superposição do Conjunto de Base
CD Ciclodextrinas
CO Co-evaporação
Cu Cobre
DMSO Dimetil Sulfóxido
DS Dispersões Sólidas
DSC Calorimetria Diferencial de Varredura
ED60 min Eficiência de Dissolução em 60 minutos
FDA Food and Drug Administration
FTIR Infravermelho com Tranfomadas de Fourier
GCR Grau de Cristalinidade Relativo
HPβCD 2-Hidroxipropil-β-ciclodextrina
Ks Constante de establidade
LPSF/FZ4 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona
LPSF/GQ2 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona
MF Mistura Física
ML Malaxagem
MβCD 2-O-metil-β-ciclodextrina
PEG Polietilenoglicol
PPARγ Receptores Ativadores da Proliferação de Peroxissomos
PVP Polivinilpirrolidone
RMN 1H Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio
SEM Microscopia Eletrônica de Varredura
SP Secagem por pulverização
USP Farmacopéia dos Estados Unidos
UV Espectroscopia de Ultravioleta
XRD Difração de Raios X
ZPE Energia do Ponto Zero
xvii
RESUMO
Dois protótipos, 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona
(LPSF/FZ4) e 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2),
que fazem parte de uma quimioteca de análogos imidazolidinônicos e tiazolidinônicos com
potencial atividade esquistossomicida e hipoglicemiante, respectivamente, possuem limitada
solubilidade aquosa e baixa taxa de dissolução. A deficiência destes fatores freqüentemente
conduz a biodisponibilidade insuficiente, e isso constitui um dos maiores problemas de
tecnologia farmacêutica da atualidade. O objetivo fundamental deste trabalho foi o
desenvolvimento de duas estratégias distintas, designadas por dispersões sólidas e complexos
de inclusão, para otimizar a solubilidade, a dissolução e conseqüentemente a
biodisponibilidade destes protótipos. As dispersões sólidas foram preparadas pelo método do
solvente, fazendo uso dos polímeros hidrofílicos polietilenoglicol (PEG) e polivinilpirrolidona
(PVP). Os complexos de inclusão foram preparados utilizando diferentes técnicas, tais como:
malaxagem, co-evaporação e secagem por pulverização utilizando as ciclodextrinas derivadas
2-hidroxipropil-β-ciclodextrina e 2-O-metil-β-ciclodextrina. A aplicação articulada de
diferentes metodologias analíticas como o diagrama de solubilidade de fases, a espectroscopia
de infravermelho com transformadas de Fourier, a calorimetria exploratória diferencial, a
espectroscopia de ressonância magnética nuclear de hidrogênio, a microscopia eletrônica de
varredura, a cristalografia e a difração de raios X permitiram detectar e caracterizar os
sistemas binários complexados. A avaliação dos perfis de dissolução destes sistemas indicou
uma substancial melhoria das propriedades de dissolução destes protótipos, revelando que,
nas dispersões sólidas, o PVP foi o polímero que apresentou melhores resultados para o
LPSF/FZ4 e LPSF/GQ2, e, nos complexos de inclusão, a 2-O-metil-β-ciclodextrina, pelo
método de secagem por pulverização, foi a ciclodextrina mais indicada para as formulações
com o LPSF/FZ4. Foi verificado, ainda neste estudo, que o aumento da taxa de dissolução
apresentado por estes sistemas está diretamente relacionado com a presença e intensidade das
interações intermoleculares formadas, especialmente as ligações de hidrogênio, que foram
identificadas pelos cálculos teóricos de modelagem molecular.
Palavras-Chave: Imidazolidina; tiazolidina; dispersões sólidas; complexos de inclusão; 2-
hidroxipropil-β-ciclodextrina ; 2-O-metil-β-ciclodextrina
xviii
ABSTRACT
Two prototypes, 3-(4-cloro-benzyl)-5-(4-nitro-benzylidene)-imidazolidine-2,4-dione
(LPSF/FZ4) and 3-(4-methyl-benzyl)-5-(4-cloro-benzylidene)-thiazolidine-2,4-dione
(LPSF/GQ2), which belong to a library of analogous imidazolidinone and tiazolidinone with
potencial shistosomacide and hypoglycaemic activities, respectively, possess limited aqueous
solubility and low dissolution rate. The deficiency of these factors frequently leads to
insufficient bioavailability, and this constitutes one of the major problems of pharmaceutical
technology in present days. The main objective of this work was the development of two
distinct strategies, designated by solid dispersions and inclusion complexes, to improve the
solubility, the dissolution, and, consequently, the bioavailability of these prototypes. The
solid dispersions were prepared by the solvent method, using the hydrophilic polymers
polyethyleneglycol (PEG) and polyvinylpyrrolidone (PVP). The inclusion complexes were
prepared using different techniques, such as: kneading, co-evaporation, and spray-drying,
using the cyclodextrins derivatives 2- hydroxypropyl-β-cyclodextrin and 2-O-methyl-β-
cyclodextrin. The articulated application of different analytical methodologies as the phase
solubility diagram, Fourier-transform infrared, differential scanning calorimetry, 1HNMR
spectroscopy, scanning electron microscopy, crystallography, and X-ray diffraction made it
possible to detect and characterize the binary complexed systems. The evaluation of the
dissolution profiles of these systems indicated a substantial improvement of the dissolution
properties of these prototypes, revealing that, in the solid dispersions, the PVP was the
polymer that presented the best results for the LPSF/FZ4 and LPSF/GQ2, and, in the inclusion
complexes, the 2-O-methyl-β-cyclodextrin, by the spray-drying method, was the indicated
cyclodextrin for the formulations with the LPSF/FZ4. It was still verified in this study that the
increase in the dissolution rate presented by these systems is directly related to the presence
and intensity of the intermoleculars interactions formed, specially the hydrogen bonds, which
were identified by the theoretical calculations of molecular modeling.
Keywords: Iimidazolidine; thiazolidine; solid dispersions; inclusion complexes; 2-
hydroxypropyl-β-cyclodextrin; 2-O-methyl-β-cyclodextrin
INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO
20
INTRODUÇÃO
Um dos maiores desafios impostos na atualidade às indústrias farmacêuticas
consiste em aplicar, de forma eficaz, novas estratégias para melhorar a solubilidade de
fármacos pouco solúveis em água (VIPPAGUNTA et al., 2006; OHARA et al., 2005).
Todos os anos as pesquisas com esta finalidade originam diversas publicação na forma
de artigos, resumos científicos e patentes.
Mais de 25% das novas moléculas potencialmente bioativas apresentam
problemas de solubilidade e dissolução (BIKIARIS et al., 2005), indicando a
necessidade do trabalho multidisciplinar do químico medicinal e do farmacêutico
tecnologista para o delineamento de sua forma farmacêutica.
Núcleos heterociclos pentagonais, como imidazolidínico e tiazolidínico, são
moléculas promissoras que apresentam uma diversidade de atividades como,
hipoglicemiantes (MOURÃO, 2005; LEITE, 2007), antiinflamatórias (SANTOS et al.,
2005), antimicrobianas (ALBUQUERQUE et al., 1999; WAZEER et al.,2007),
esquistossomicida (PITTA et al., 2006) entre outras. A problemática da maioria dos
derivados desses núcleos consiste na solubilidade, fator limitante nos ensaios pré-
clinicos, o que vem despertando o interesse no melhoramento desses protótipos. Para
isso é necessário o entendimento dos mecanismos que envolvem o aumento da liberação
do fármaco a partir da forma farmacêutica utilizada (FREDERICH et al., 2006), devido
à existência de múltiplos fatores relacionados, tais como, a solubilidade intrínseca do
fármaco, a solubilidade da forma farmacêutica, a dissolução, o estado físico, o tamanho
das partículas, o peso molecular, o pH do meio, a temperatura, a viscosidade, as
possíveis interações fármaco-carreador em sistemas binários, entre outras (HORTER e
DRESSMAN, 2001).
O 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona
(LPSF/FZ4) e o 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona
(LPSF/GQ2) sintetizadas no Laboratório e Planejamento e Síntese de Fármacos do
Departamento de Antibióticos da Universidade de Pernambuco, que apresentam
atividade esquistossomicida e hipoglicemiante respectivamente, possuem solubilidade
em água limitada (S<1µg/mL) que compromete sua avaliação nos resultados biológicos
preliminares, e o que conduziu o desenvolvimento deste estudo.
21
O Capítulo I abordará uma breve revisão da literatura sobre o uso de
ciclodextrinas em aplicações farmacêuticas, seus derivados estruturais com maior
capacidade de inclusão, suas principais vantagens, além dos fatores limitantes como
forma, tamanho e polaridade das moléculas hóspedes, que condicionam o fenômeno da
inclusão.
No Capítulo II será apresentado um estudo de dispersões sólidas em
polietilenoglicol (PEG) e polivinilpirrolidone (PVP) do derivado imidazolidínico
(LPSF/FZ4) e tiazolidínico (LPSF/GQ2), além de estudos de modelagem molecular,
visualizando as principais interações químicas entre os protótipos e os polímeros.
O último Capítulo constará de um estudo de complexação entre o derivado
imidazolidínico (LPSF/FZ4) com ciclodextrinas hidrofílicas, observando suas interações
químicas, destacando os diferentes métodos de preparação e caracterização, além de
uma análise crítica dos perfis de dissolução a fim de selecionar a técnica e o carreador
mais adequado.
Este estudo foi realizado em parceria com o Laboratório de Tecnologia dos
Medicamentos (UFPE), Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos (UFPE),
Laboratório de Química Teórica Medicinal (UFPE), Laboratório de Cristalografia e
Modelagem Molecular (UFAL) e o Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da
Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra / Portugal.
OBJETIVOSOBJETIVOSOBJETIVOSOBJETIVOS
23
OBJETIVOS
Geral
► Melhorar a solubilidade, a taxa de dissolução e a biodisponibilidade oral dos protótipos 3-
(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4) e 3-(4-metil-
benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2) através dos sistemas de
dispersão sólida e complexos de inclusão.
Específicos
► Preparação, detecção e caracterização das dispersões sólidas com polietilenoglicol (PEG) e
polivinilpirrolidone (PVP) no estado sólido;
► Preparação, detecção e caracterização dos complexos de inclusão com ciclodextrinas
derivadas no estado sólido;
► Realizar testes de dissolução in vitro dos protótipos e seus sistemas binários;
► Elucidar o padrão das interações intermoleculares existentes nas dispersões sólidas pelas
geometrias otimizadas dos complexos PVP···LPSF/FZ4, PEG···LPSF/FZ4 e PVP···LPSF/GQ2
através de cálculos de modelagem molecular B3LYP/6-31G (d,p) realizados no programa
GAUSSIAN 03.
CAPÍTULO ICAPÍTULO ICAPÍTULO ICAPÍTULO I
25
CICLODEXTRINAS: COMO ADJUVANTE TECNOLÓGICO PARA MELHORAR A
BIODISPONIBILIDADE DE FÁRMACOS
CYCLODEXTRINS: AS A TECHNOLOGICAL ADJUVANT TO IMPROVE THE
BIOAVAILABILITY OF DRUGS
Francimary de Lima Guedes1, Geisiane Alves Presmich2, Fabiana Lícia Araújo dos Santos3, Larissa Fantini de Lima3, Larissa Araújo Rolim4 & Pedro José Rolim Neto5*
1 Mestranda em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
2 Doutoranda em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
3 Graduada em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
4 Graduanda em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
5 Docente do Departamento de Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, UFPE. Endereço: Av. Prof. Arthur de Sá s/n, Cidade Universitária,
50740-521 Recife-PE, Brasil. E-mail: [email protected]
Artigo submetido: Revista Brasileira de Farmácia – Qualis “B” Nacional
26
CICLODEXTRINAS: COMO ADJUVANTE TECNOLÓGICO PARA MELHORAR A
BIODISPONIBILIDADE DE FÁRMACOS
CYCLODEXTRINS: AS A TECHNOLOGICAL ADJUVANT TO IMPROVE THE
BIOAVAILABILITY OF DRUGS
Francimary de Lima Guedes1, Geisiane Alves Presmich2, Fabiana Lícia Araújo dos Santos3, Larissa Fantini de Lima3, Larissa Araújo Rolim4 & Pedro José Rolim Neto5*
1 Mestranda em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
2 Doutoranda em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
3 Graduada em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
4 Graduanda em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas, UFPE.
5 Docente do Departamento de Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, UFPE. Endereço: Av. Prof. Arthur de Sá s/n, Cidade Universitária,
50740-521 Recife-PE, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
O uso de ciclodextrinas (CDs) em aplicações farmacêuticas envolvendo solubilização tem
expandido exponencialmente a cada década. Isto se deve ao fato das ciclodextrinas possuírem
propriedades complexantes capazes de promoverem o aumento da solubilidade, dissolução e
biodisponibilidade de fármacos poucos solúveis. Derivados estruturais das ciclodextrinas
naturais com maior capacidade de inclusão têm despertado o interesse farmacêutico, estando
presentes na composição dos medicamentos hoje comercializados na Europa, Japão e Estados
Unidos. As vantagens de aplicação das ciclodextrinas justificam o seu uso atual nas diferentes
formas farmacêuticas. A formação dos complexos de inclusão está condicionada a diversos
fatores limitantes, como forma, tamanho e polaridade das moléculas hóspedes. É necessário
ter condições ideais para se obter a efetiva encapsulação molecular. Isso significa dizer que,
nem toda molécula com limitações de solubilidade seja complexada. Entretanto, artifícios
mais recentes de complexação envolvendo sistemas ternários ou quaternários, conhecidos
como multicomponentes, têm obtido sucesso na eficiência da complexação onde a aplicação
dos sistemas binários (Fármaco-CD) não era efetiva ou vantajosa.
27
PALAVRAS-CHAVE
Ciclodextrinas; Complexos de Inclusão; Solubilidade Aquosa; Biodisponibilidade;
Complexos Multicomponentes
ABSTRACT
The use of cyclodextrins in pharmaceutical applications involving solubilization has
exponentially expanded at every decade. This happens because ciclodextrins possesses
complexing properties which are capable of providing an increase in solubility, dissolution
and biodisponibility of low soluble drugs. Structural derivatives of natural cyclodextrins with
higher capability of inclusion have stimulated pharmaceutical interest, being present in the
composition of drugs which are actually commercialized in Europe, Japan and the United
States. The advantages of application of cyclodextrins justify its actual use in different
pharmaceutical forms. The formation of inclusion complexes is subject to various limited
factors, as form, size, and polarity of host molecules. Ideal conditions are necessary to obtain
an effective molecular capsulation. This means that not all molecules with limited solubility
will be complexed. However, recent complexing mechanisms involving ternary and
quaternary systems, known as multiple components, have obtained successful results in the
efficiency of complexation, where the application of binary system was neither effective nor
advantageous.
KEY WORDS
Cyclodextrins; Inclusion Complexes; Water Solubility; Bioavailability; Multicomponent
complexes
28
INTRODUÇÃO
Aproximadamente há 117 anos, foram descobertas as primeiras ciclodextrinas (CDs),
isoladas por A. Villiers em 1891 a partir de produtos de degradação de amido. Entretanto,
uma abordagem mais detalhada destes oligossacarídeos cíclicos envolvendo sua preparação,
isolamento e caracterização foram realizados posteriormente por Franz Schardinger em 1903
e 1911 (DOUCHÊNE et al., 1986).
A estrutura química das ciclodextrinas, suas propriedades físico-químicas e suas
habilidades em formar complexos de inclusão foram confirmadas no período entre 1935 a
1955 por Freudenberg, French, Cramer e colaboradores (UEKAMA, 1999). Freudenberg em
1939 propôs o mecanismo de formação das CDs por ação da enzima ciclodextrina-α-
glicosiltransferase (CGTase) sobre o amido (CLARKE, et al., 1988). Porém, as pesquisas
sobre CDs chamaram atenção a partir de 1950, particularmente com os estudos de Cramer,
que descobriu sua atividade catalítica em algumas reações (NAKAMURA & HORIKOSHI K,
1977).
Devido ao baixo grau de pureza, elevados custos de produção, as CDs eram
produzidas em quantidades muito pequenas até 1970, inviabilizando sua aplicação industrial.
Avanços biotecnológicos na descoberta da seqüência e clonagem da maioria dos genes das
CGTase ocorridos após esta data, disponibilizaram estas enzimas a reduzido custo,
promovendo um aumento acelerado na produção das ciclodextrinas naturais (αCD, βCD e
γCD) contribuindo, decididamente, para a produção de CDs em larga escala, com alta pureza
e, conseqüentemente, para a expansão das suas aplicações a nível farmacêutico (LOFTSSON
& MASSON, 2001).
Na indústria farmacêutica, as CDs têm sido particularmente usadas devido as suas
propriedades complexantes para aumentar a solubilidade e dissolução dos fármacos pouco
solúveis, aumentar a sua biodisponibilidade e estabilidade, diminuir a irritação gástrica,
dérmica ou ocular causada por determinados fármacos, diminuir ou eliminar odores ou
sabores desagradáveis, prevenir interações entre diferentes fármacos ou entre fármacos e
excipientes (SZEJTLI, 1994).
Esta revisão se propõe a relatar de forma geral as atualidades que envolvem o uso de
ciclodextrinas como excipientes farmacêuticos, fazendo uma abordagem sobre seus principais
derivados químicos, o mecanismo da complexação, suas implicações biofarmacêuticas e
toxicológicas. Aplicações em sistemas multicomponentes também foram abordadas.
29
EVOLUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM CICLODEXTRINAS
Todos os anos as CDs originam a publicação de aproximadamente 1000 artigos e
resumos científicos, com aplicações farmacêuticas (SZEJTLI, 2004). Mais de 30% das 200
novas patentes relacionadas à CDs, publicadas anualmente no Chemical Abstracts, destinam-
se a aplicações farmacêuticas (ZHANG & REES, 1999).
O número de publicações e patentes tem expandido exponencialmente a cada década.
Das 39.679 publicações, até março de 2007, uma parte significante está dedicada ao uso
farmacêutico das CDs como solubilizantes (BREWSTER & LOFTSSON, 2007) (Figura 1).
DERIVAÇÃO QUÍMICA DAS CICLODEXTRINAS
O uso farmacêutico das ciclodextrinas naturais (αCD, βCD e γCD) vem sendo
gradativamente substituído, ao longo dos anos, pelos seus derivados semi-sintéticos que
oferecem maior capacidade de inclusão, solubilidade aquosa, estabilidade e menor toxicidade,
devido às alterações das suas propriedades físico-químicas originais.
Fig.1- Log do número de publicações relacionadas com ciclodextrinas (barras brancas) e
aplicações farmacêuticas envolvendo solubilização (barras Pretas) por ciclodextrinas, como
indicado no SciFinder (ACS,COLUMBUS,OH) em Março, 2007
30
Embora a βCD tenha aplicação muito freqüente nas formulações comerciais
disponíveis atualmente, ela apresenta uma solubilidade aquosa muito limitada (1,85% m/v a
25ºC) devido à estrutura rígida resultante da formação de pontes de hidrogênio
intramoleculares entre seus grupos hidroxílicos secundários C2OH e C3OH das unidades de
glicose (FROMMING & SZEJTLI, 1994) (Figura 2).
As modificações químicas das CDs localizam-se basicamente nos grupos hidroxílico
primário e/ou secundário por ligações de diferentes grupos funcionais (Tabela 1.) A
derivatização dos grupos hidroxílicos ligados aos átomos de carbono C2, C3 e C6 das unidades
de glicose, torna impossível o estabelecimento de ligações de hidrogênio intramoleculares,
alterando assim as propriedades físico-químicas das CDs naturais (LOFTSSON &
BREWSTER, 1997). A introdução de diferentes substituintes ao nível dos grupos hidroxílicos
da βCD, têm resultado num aumento significativo da sua solubilidade aquosa (SZEJTLI,
1991).
Atualmente existem centenas de derivados, mas apenas alguns são de maior interesse
farmacêutico. Entre eles, os derivados hidroxialquilados, isto é, os derivados hidroxipropil da
βCD e γCD (HPβCD e HPγCD, que derivam da substituição dos grupos hidroxílicos em C2,
Fig.2 - Representação da βCD e seus grupos hidroxílicos assinalados
Grupos hidroxílicos primários
Grupos hidroxílicos secundários
6
3 2
31
C3 e C6 por substituintes 2-hidroxipropil); os metilados da βCD, como por exemplo 2,3,6-
metil-βCD, derivado metilado aleatório na posição C2, C3 ou C6 cuja designação anglo-
saxônica é randomly methylate β-cyclodextrin (RMβCD) e as sulfobutil-éter βCD (SBEβCD),
poli-aniônica cuja substituição em R= -(CH2)4SO3-Na+ poderá complexar moléculas neutras
não somente pela inclusão na cavidade das CDs, mas também por interação com os
substituintes (OKIMOTO, 1996; THOMPSON, 1997; ZIA et al., 2001; MOSHER &
THOMPSON, 2002).
Estes derivados destacam-se pela maior aplicação em tecnologia farmacêutica como
excipientes (Tabela 1.) e pela sua produção em larga escala. A derivatização das
ciclodextrinas naturais oferecem eficiências de complexação, geralmente superiores, devido
ao prolongamento do espaço hidrofóbico da cavidade das CDs promovido pela introdução dos
substituintes (MOSHER & THOMPSON, 2002; VEIGA et al., 2006).
32
Derivados de interesse farmacêutico Tabela 1. Medicamentos contendo as principais ciclodextrinas derivadas.
Fármaco/CDs Nome Comercial Forma Farmacêutica Companhia (País)
2- Hidroxi-propil-β-ciclodextrina (HPβCD)
R=CH2CHOHCH3
Cisapride Propulsid Supositório Janssen (Europa)
Hidrocortisona Dexocort Solução Actavis (Europa)
Indometacina Indocid Solução oftálmica Chauvin (Europa)
Itraconazol Sporanox Solução oral e i.v. Janssen (Europa)
Mitomicina Mitozytrex Infusão i.v. Norvatis (Europa)
Sulfobutil-éter-β-ciclodextrina sal sódico (SBEβCD)
R= -(CH2)4SO3- Na+
Aripriprazol Abilify Solução Otsuka Pharm. (USA)
Voriconazole V fend Solução i.v. Pfizer (USA, Europa, Japan)
Randômica metilada-β-ciclodextrina (RMβCD)
R= -CH3
17β- Estradiol Aerodiol Spray nasal Servier (Europa)
Cloranfenicol Clorocil Solução oftálmica Oftalder (Europa)
Insulina Spray nasal Spain
2-Hydroxi-propil-γ-ciclodextrina (HPγCD)
R=CH2CHOHCH3
Diclofenaco sal sódico Voltaren Solução oftálmica Norvatis (Europa)
Tc-99 Teoboroxime Cardio Tec Solução i.v. Bracco (USA)
33
A HPβCD foi recentemente incorporada a farmacopéia européia e americana, além de
ser citada na lista de excipientes farmacêuticos considerados inativos pelo FDA e uma
monografia sobre a SBEβCD pode ser encontrada na última edição do Handbook de
excipientes farmacêuticos (AMERICAN PHARMACEUTICAL ASSOCIATION, 2006).
Estes dois mais importantes derivados das CDs estão presentes na maioria das patentes
publicadas na última década. (Figura 3) (UEKAMA et al., 2006).
MECANISMO DA COMPLEXAÇÃO E SUA DISSOCIAÇÃO
Fatores que influenciam a formação do Complexo de Inclusão
O ambiente lipofílico da cavidade interna das ciclodextrinas propicia condições
favoráveis para formação de complexos de inclusão (fármaco-CD) com compostos hidrófobos
Anos
P
aten
tes
Fig.3 - Edições de patentes associadas com HP-β-ciclodextrina (■) e SBE-β-ciclodextrina
(▲) usadas entre os anos 2000 e 2006 (SCIFINDER, COLUMBUS, OH)
34
quando se encontram numa solução aquosa, pela formação de uma matriz micro-heterogênea
neste solvente polar (FROMMING & SZEJTLI, 1994).
Ligações não covalentes são formadas e quebradas durante a formação dos complexos,
e em solução aquosa, estes complexos são rapidamente dissociados. A taxa de formação e
dissociação dos complexos é muito próxima, sendo sua semi-vida de apenas alguns milésimos
de segundo, o que significa que os complexos fármaco-CD estão continuamente a serem
formados e dissociados (STELLA et al., 1999).
Fatores estereoquímicos relacionados com a forma e tamanho das moléculas hóspedes,
sua compatibilidade geométrica com a cavidade da CD hospedeira, e também sua polaridade,
condicionam o processo de inclusão (VEIGA et al., 2006).
A encapsulação molecular consiste na substituição das moléculas de água, que
possuem elevada entalpia, por moléculas hóspedes adequadas. Trata-se de um processo
energeticamente viável por promover uma alteração favorável de entalpia, aumento de
entropia e redução da energia total do sistema, fatores que contribuem para o aumento da
estabilidade do complexo formado (SAENGER, 1980; SZEJTLI, 1998). Interações
eletrostáticas de Van der Waals, interações hidrofóbicas, ligações de hidrogênio também
contribuem para formação e estabilização dos complexos de inclusão.
Este equilíbrio termodinâmico estabelecido entre o complexo formado e os respectivos
componentes no estado livre pode ser quantitativamente descrito através da constante de
estabilidade ou constante de dissociação (Kc) (LOFTSSON et al., 1999).Os valores de Kc são
freqüentemente encontrados entre 50 a 2000 M-1 com valores médios de 130, 490 e 350 M-1
para as αCD, βCD e γCD, respectivamente (RAO & STELLA, 2003).
A determinação da constante de dissociação (Kc) pode ser extraída por diferentes
métodos, entre eles estão o diagrama de solubilidade de fases, métodos espectroscópicos e
espectrofotométricos, valores de pKa e tempo de retenção em HPLC (CHADHA et al., 2004).
Diagrama de solubilidade de Fases
O método de solubilidade de fases desenvolvido pioneiramente por Higuchi e Connors
em 1965 é habitualmente utilizado na determinação da constante de estabilidade ou constante
35
de dissociação (Kc), assim como também na determinação da estequiometria de equilíbrio da
complexação.
Segundo esta teoria existem dois tipos de perfis: A e B (Figura 4). Três subtipos de A:
Perfil AL onde há um aumento linear da solubilidade do fármaco em função do aumento da
concentração de ciclodextina; O perfil AP quando a solubilidade obtida possui um desvio
positivo da linearidade, isto é, a solubilização é mais efetiva proporcionalmente em altas
concentrações e AN onde há o desvio negativo da linearidade, indicando que a CD é
proporcionalmente menos efetiva em altas concentrações (BREWSTER & LOFTSSON,
2007).
Os perfis do tipo B (BS e BI) indicam a formação de complexos com limitada
solubilidade aquosa, tradicionalmente observada nas ciclodextrinas naturais, especialmente na
βCD e em alguns casos a solubilidade chega a ser inferior à da molécula hóspede,
precipitando à medida que ocorre a encapsulação (CUNHA-FILHO & SÁ-BARRETO, 2007).
[Ciclodextrina]
[Fár
mac
o]
Fig.4 - Diagrama de solubilidade de fases para fármaco e ciclodextrina
(HIGUCHI & CONNORS, 1965)
36
O EFEITO BIOFARMACÊUTICO DA COMPLEXAÇÃO
Biodisposição
O aumento da biodisponibilidade de fármacos através da complexação com CDs é
obtido devido ao incremento de solubilidade, dissolução, molhabilidade e permeabilidade que
estes complexos promovem indiretamente ao fármaco hóspede, uma vez que, a presença das
hidroxilas livres na parte externa das CD’s confere a essas moléculas um caráter hidrofílico
permitindo a “dissolução” em meio aquoso de compostos (hóspedes) de baixa solubilidade
(BRITO et al., 2004).
Em outras palavras, as CDs funcionam como transportadores moleculares carregando
as moléculas hidrofóbicas hóspedes em solução até as membranas celulares lipofílicas (para
qual apresentam maior afinidade), facilitando sua absorção (Figura 5).
A absorção das CDs pelas membranas celulares é insignificante, devido ao seu elevado
tamanho (massa molecular de quase 1000 para mais de 2000) e superfície hidrofílica
(RAJEWSKI & STELLA, 1996; LOFTSSON & MASSON, 2001; LOFTSSON et al., 2003).
Fig.5 – Efeito da complexação fármaco-ciclodextrina sobre a biodisponibilidade após
a administração não parenteral. (Adaptado de LOFTSSON et. al., 2005)
Membrana exterior aquosa
Barreira de difusão aquosa
Membrana lipofílica
Circulação sistêmica
37
A metabolização das CDs ocorre no cólon e os produtos da degradação, especialmente
as CDs naturais, são absorvidos tais como os produtos resultantes da degradação do amido e
excretados sob forma de dióxido de carbono e água (GERLOCZY et al.,1986).
As CDs quimicamente modificadas (derivadas) possuem maior resistência à hidrólise
enzimática, sendo excretados nas fezes, principalmente na sua forma intacta, não
metabolizada (IRIE & UEKAMA, 1997).
Toxicidade Oral e Parenteral
Estudos de toxicidade demonstram que à administração oral das CDs não oferece risco
de intoxicação, sendo praticamente atóxicas, mesmo em elevadas doses, devido a limitada
absorção gastrintestinal (IRIE & UEKAMA, 1997; THOMPSON, 1997; HIRAYAMA &
UEKAMA, 1999; AMERICAN PHARMACEUTICAL ASSOCIATION, 2006).
As ciclodextrinas naturais αCD e βCD, juntamente com um grande número de
derivados alquilados, apresentam nefrotoxicidade e atividade hemolítica, por remoção de
colesterol, fosfolipídios e proteínas após administração parenteral. Isto acontece devido a
precipitação das CDs nos rins (pela sua solubilidade limitada) e formação de complexos com
o colesterol (IRIE & UEKAMA, 1997; STELLA & RAJESWSKI, 1997; DAVIS &
BREWSTER, 2004). Por esta razão, a utilização destas duas ciclodextrinas em formulações
injetáveis é muito restrita.
Por outro lado, estudos toxicológicos comprovam a segurança na administração, ainda
que por via parenteral, das CDs HPβCD, SBEβCD, G2βCD, γCD e βCD sulfatadas (IRIE &
UEKAMA, 1997; HIRAYAMA & UEKAMA, 1999).
APLICAÇÕES DAS CICLODEXTRINAS EM FORMAS FARMACÊUTIC AS
Formas farmacêuticas sólidas
A aplicação das CDs em formas farmacêuticas sólidas promove o aumento da
velocidade e extensão de dissolução dos fármacos, por conseqüência do aumento da
38
solubilidade, molhabilidade e alteração no estado cristalino (VEIGA et al., 2006). A
complexação diminui a irritação local provenientes de alguns fármacos e modifica o tempo
de liberação durante o trânsito gastrintestinal (STELLA & RAJESWSKI, 1997).
Formas farmacêuticas líquidas
A complexação promove o controle da natureza tixotrópica das suspensões, atenua
sabores e odores desagradáveis, melhora a estabilidade química e solubilidade. Entretanto,
existem casos onde a complexação potencializa a degradação por promover reações de
hidrólise nos fármacos complexados por ataque nucleofílico dos grupos hidroxílicos da CD
(LOFTSSON & BREWSTER, 1996).
Formas farmacêuticas semi-sólidas
Aplicações de CDs nestes sistemas favorecem o aumento da liberação do fármaco, sua
permeação, além de promover sua estabilização na formulação e diminuição da irritação
tópica (MATSUDA & ARIMA, 1999).
Formas farmacêuticas parentéricas
Redução da irritação muscular induzida por alguns fármacos no sítio de aplicação,
estabilização de fármacos instáveis em ambiente aquoso, preparação de suspensões para
utilização parentérica, com redução do tamanho de partícula dos fármacos nos complexos de
inclusão, especialmente pela utilização de técnicas de preparação tais como a secagem por
pulverização (VEIGA et al., 2006).
ESTRATÉGIAS ATUAIS NO AUMENTO DA EFICÁCIA DA COMPLE XAÇÃO
A indústria farmacêutica que investe milhões de euros em pesquisas, e é parceira da
química fina na busca de novos ativos farmacológicos, depara-se hoje, com o fato das novas
entidades químicas que surgem como potenciais fármacos, apresentarem cada vez mais
39
problemas de solubilidade. Um problema que por vezes não é solucionado com a
complexação em sistemas binários (fármaco-CDs).
Diante deste fato, a tecnologia farmacêutica atual lança mão de novas estratégias de
complexação que suplantam os sistemas binários dando lugar à formação de complexos
multicomponentes.
Complexos multicomponentes com polímeros
Em determinadas situações a eficiência da complexação com CDs é baixa, exigindo
quantidades inviáveis (para o uso nas formas farmacêuticas sólidas ou líquidas) do agente
complexante. A eficiência da complexação das CDs é aumentada por adição mínima de
polímeros hidrossolúveis. O aumento da solubilidade se dá por um efeito sinérgico onde a CD
é considerada como agente complexante e o polímero como co-complexante (LOFTSSON &
FRIARIKSDÓTTIR, 1998).
Polímeros hidrossolúveis têm vasta aplicação como excipientes farmacêuticos e são
capazes de interagir com os fármacos, com as CDs (HLÁDON & CWITERNIA, 1994) e
também com os complexos binários fármaco-CD (VALERO et al., 2003).
Vários autores tem demonstrado a possibilidades do uso dos polímeros na formação de
complexos multicomponentes (RIBEIRO et al., 2003; LOFTSSON & MÁSSON, 2004).
Segundo Loftsson, existem três categorias de polímeros usados para obtenção de
sistemas ternários de complexação, a saber: polímeros semi-sintéticosos derivados da
celulose; polissacarídeos naturais ou polipeptídeos e os polímeros sintéticos tipo polivinilo ou
co-polímeros de ácido acrílico (LOFTSSON, 1995).
Complexos quaternários são também descritos na literatura, envolvendo o fármaco, a
CD, o polímero e um quarto componente que pode ser ácido tartárico (RIBEIRO et al., 2005)
ou íons magnésio (YAMAKAWA & NISHIMURA, 2003).
40
Complexos multicomponentes com hidroxi-ácidos
Geralmente são formados a partir de um fármaco de caráter básico, a CD e um hidroxi-
ácido. Aqui, o aumento da eficiência da complexação resulta da formação de um sal do
fármaco básico com um hidroxi-ácido complexados pela CD. O superior incremento da
solubilidade alcançado nestes complexos, evidencia o aumento da eficiência da complexação
(PIEL et al., 1999).
Os sais de fármaco formados com contra-íons, com potencial tensoativo, que estão
complexados pelas CD e a capacidade de formar micelas, explicam o aumento sinérgico da
solubilidade dos fármacos em sistemas multicomponentes deste tipo. Tais informações foram
elucidadas por ressonância magnética nuclear dos complexos nos trabalhos de Faucci e
Redenti (FAUCCI et al., 2000; REDENTI et al., 2000).
Complexos multicomponentes com aminoácidos
Fármacos com caráter ácido podem ser complexados num sistema multicomponentes
com aminoácidos que possuem caráter básico. Estes interagem com as CDs por ligações de
hidrogênio e com os fármacos por formações de sais, resultando num aumento de solubilidade
sinérgico devido à formação de um complexo multicomponente (MORA et al., 2003; MURA
et al., 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A grande maioria das novas entidades químicas, candidatas a fármacos, apresenta
limitações de solubilidade e conseqüentemente de dissolução. Isto se agrava quando se sabe
que muitos dos fármacos existentes no mercado farmacoquímico e farmacêutico, necessitam
de novas formulações visando melhorias.
Dentro desse contexto, o emprego das ciclodextrinas assume um impacto
significativamente benéfico no sentido de ser uma opção viável para contornar tais problemas
41
de solubilidade dos fármacos, sua respectiva dissolução, absorção e biodisponibilidade
desejada.
Muito se sabe hoje das peculiaridades destes compostos. Entretanto, desafios
freqüentes impostos pela acelerada tecnologia contemporânea, sinalizam um caminho vasto à
investigação onde talvez a aplicação das ciclodextrinas atuais seja apenas o topo de um “ice-
berg” tecnológico que ainda está por vir na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, a
partir de fármacos, seus processos otimizados e formas farmacêuticas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. AMERICAN PHARMACEUTICAL ASSOCIATION. Handbook of pharmaceutical excipients. Pharmaceutical Press. 2006 (5): 918p. 2. BREWSTER, E. M.; LOFTSSON T. Cyclodextrins as pharmaceutical solubilizers. Adv.Drug Deliv.Rev. 2007. 3. BRITO, M. A. F. O.; JÚNIOR, C. S. N.; SANTOS, H. F., Análise estrutural de ciclodextrinas: um estudo comparativo entre métodos teóricos clássicos e quânticos. Química. Nova. 2004. (6):882-888. 4. CHADHA. R.; KASHID,N.; SAINI, A., Account of analytical techniques employed for the determination of thermodynamics of inclusion complexation of drugs with cyclodextrins. J. Sci. Ind. Res. 2004. 211-229. 5. CLARKE, R.; TIPSON, R.; HORTON, D., Inclusion complexes of the cyclomalto-oligosaccharides (ciclodextrins). In Advances in Carbohydrate Chemistry and Biochemistry.1988. 205-249. 6. CUNHA-FILHO, M. S. S.; SÁ-BARRETO, L. C. L.,Utilização de ciclodextrinas na formação de complexos de inclusão de interesse farmacêutico. Rev.Ciênc.Farm. Básica Apl. 2007. (1):1-9. 7. DAVIS, M. E., BREWSTER, M. E., Cyclodextrin-based pharmaceutics: past, present and future. Nat Rev Drug Discov. 2004.1023-35. 8. DOUCHÊNE, D.; GLOMOT, F.; VAUTHION, C., Pharmaceutical Applications of Cyclodextrins. Cyclodextrins and their Industrial uses.1986. 211-257. 9. FAUCCI, M. T.; MELANI, F.; MURA, P., H-NMR and molecular modelling techniques for the investigation of the inclusion complexes of econazole with α-cyclodextrin in the presence of malic acid. J. Pharm. Biomed. Anal. 2000. 25-31. 10. FROMMING, K. H., SZEJTLI, J., Cyclodextrins in Pharmacy. Kluwer Academic Publishers. Dordrecht. 1994.
42
11. GERLOCZY,A.; FONAGY, A.; KERESZTES, P.; PERLAKY, L.; SZEJTLI, J., Absorption, distribution, excretion and metabolism of universally labelled 14C-β cyclodextrin in rat after per os administration. Gums and Stabilisers for the Food Industry London: Elsevier Applied Science Publishers.1986. 503-510. 12. HIGUCHI, T.; CONNORS, K., Phase-solubility tecniques. In: Advances in analytical chemistry and instrumentation. 1965. p.134-140. 13. HIRAYAMA, F.; UEKAMA, K., Cyclodextrin-based controlled drug release system. Adv. Drug Deliv. Rev.1999. 125-141. 13. HLÁDON, T.; CWITERNIA, B., Physical and chemical interactions between cellulose ethers and β-cyclodextrins. Pharmazie. 1994. 497-500. 14. IRIE, T.; UEKAMA, K., Pharmaceutical applications of cyclodextrins.3 Toxicological issues and safety evaluation. J. Pharm. Sci.1997. 147-162. 15. LOFTSSON, T., Cyclodextrins complexation. United States Patent. 1995. 5,472,954. 16. LOFTSSON, T.; BREWSTER, M. E., Pharmaceutical applications of cyclodextrins.1. Drug solubilization and stabilization. J. Pharm. Sci. 1996. 1017-1025. 17. LOFTSSON, T.; BREWSTER, M. E., Cyclodextrins as pharmaceutical excipients. Pharm. Tech. Eur. 1997. 26-34. 18. LOFTSSON, T.; FRIARIKSDÓTTIR, H., The effect of water-soluble polymers on the aqueous solubility and complexing abilities of β-cyclodextrin Int. J. Pharm. 1998. 115-121. 19. LOFTSSON, T.; MASSON, M.; SIGURJÓNSDÓTTIR, J. F., Methods to enhance the complexation efficiency of cyclodextrins. S.T.P. Pharma Sci. 1999. 237-242. 20. LOFTSSON, T.; MASSON, M., Cyclodextrins in topical drug formulations : theory and practice. Int. J. Pharm. 2001. 15-30. 21. LOFTSSON, T.; SIGFÚSSON, S.D.; SIGURSSON, H. H.; MÁSSON, M., The effects of cyclodextrins on topical delivery of hydrocortisone: The aqueous diffusion layer. STP Pharma Sci. 2003. 125-131. 22. LOFTSSON, T.; MÁSSON, M., The effects of water-soluble polymers on cyclodextrins and cyclodextrin solubilization of drugs. J. Drug Del.Sci.Tech. 2004. 35-43. 23. LOFTSSON, T.; HREINSDÓTTIR, D.; MÁSSON, M., Evaluation of cyclodextrin solubilization of drugs. Int. J. Pharm., Amsterdam 2005; 302: 18-28. 24. MATSUDA, H.; ARIMA, H., Cyclodextrins in transdermal and rectal delivery. Adv. Drug Deliv. Rev.1999. 81-99. 25. MORA, C. P.; CIRRI, M.; ALLOLIO, B.; CARLI, F.; MURA, P., Enhancement of dehydroepiandrosterone solubility and bioavailability by ternary complexation with α-cyclodextrin and glycine. J. Pharm. Sci. 2003. 2177-2184.
43
26. MOSHER, G.; THOMPSON, D. O., Complexation and cyclodextrins. . Encyclopedia of Pharmaceutical Tecnology. 2002. 531-558. 27. MURA, P., MAESTRELLI, F.; CIRRI, M., Ternary systems of naproxen with hydroxypropyl-β-cyclodextrin and aminoacids. Int. J. Pharm. 2003. 293-302. 28. NAKAMURA, N.; HORIKOSHI, K., Production of Schardinger beta-dextrin by soluble and immobilized cyclodextrin glycosyltransferase of an alkalophilic Bacillus sp. Biotechnology and Bioengineering. 1977. (New York): 87-99. 29. OKIMOTO, K., The interaction of charged and uncharged drugs with neutral hydroxypropyl-β-cyclodextrin and anionically charged sulfobutylether-β-cyclodextrins. Pharm. Res.1996. 256-264. 30. PIEL, G., EVRARD, B.; VAN HEES, T.; LLABRES, G.; DELATTRE, L., Development of a parenteral and of an oral formulation of albendazole with cyclodextrins. S. T. P. Pharma Sci. 1999. 257-260. 31. RAJEWSKI, R. A., STELLA, V. J., Pharmaceutical applications of cyclodextrins. 2. In vivo drug delivery. J Pharm Sci1. 1996. 1142-69. 32. RAO, V. M., STELLA, V. J., When can cyclodextrins be considered for solubilizing purposes? J. Pharm. Sci. 2003. 927-932. 33. REDENTI, E., SZENTE, L., SZEJTLI, J., Drug/Cyclodextrin/Hydroxy Acid Multicomponent Systems. Properties and Pharmaceutical Applications. J. Pharm. Sci. 2000. 1-8. 34. RIBEIRO, L.; LOFTSSON, T.; FERREIRA, D.; VEIGA, F., Investigation and physicochemical characterization of vinpocetine-sulfobutyl ether β-cyclodextrin binary and ternary complexes. Chem. Pharm.Bull. 2003. 914-922. 35. RIBEIRO, L.; CARVALHO, R.; FERREIRA, D.; VEIGA, F., Multicomponentes complexes formation between vipocetine, cyclodextrins, tartaric acid and water-soluble polymers monitored by NMR and solubility studies. Eur. J. Pharm.Sci. 2005. 1-13. 36. SAENGER, W., Cyclodextrin inclusion compounds in research and laboratory. Angew. Chem. Int. Ed. Engl. 1980. 344-362. 37. STELLA, V. J.; RAJESWSKI, R. A., Cyclodextrins: their future in drug formulation and delivery. Pharm Res. 1997. 556-567. 38. STELLA, V.; RAO, V.; ZANNOU, E.; ZIA, V., Mechanisms of drug release from cyclodextrin complexes. Adv. Drug Deliv. Rev. 1999. 3-16. 39. SZEJTLI, J., Cyclodextrins in drug formulations: Part I. Pharm. Tech. Int.1991. 15-22. 40. SZEJTLI, J., Medicinal application of ciclodextrins. Med.Res.Rev. 1994. 353-386. 41. SZEJTLI, J., Introduction and general overview of cyclodextrin chemistry. Chem. Rev.1998. 1743-1753.
44
42. SZEJTLI, J., Why is the increase in number of marketed drug/CD formulations so slow? Cyclodextrin News. 2004. 99-103. 43. THOMPSON, D. O., Cyclodextrins-Enabling excipientes: Their present and future use in pharmaceuticals. Crit. Rev. Therap. Drug Carr. Syst. 1997. 1-104. 44. UEKAMA, K., Cyclodextrins in drug delivery. Adv. Drug Deliv. Rev.1999. 45. UEKAMA, K.; HIRAYAMA, F.; ARIMA, H., Recent aspects of cyclodextrin based drug delivery systems. J. Incl. Phenom. Macrocycl. Chem. 2006. 3-8. 46. VALERO, M., PÉREZ-REVUELTA, B.I.; RODRÍGUEZ, L.J., Effect of PVP K-25 on the formation of the naproxen: β-cyclodextrin complex. Int. J. Pharm. 2003. 97-110. 47. VEIGA, F. J. B., PECORELLI, C. C. M. F., RIBEIRO, S. S. L. As ciclodextrinas em tecnologia farmacêutica. 2006. p.21-26, 140-143. 48. YAMAKAWA, T.; NISHIMURA, S., Liquid formulation of a novel non-fluorinated topical quinolone, T-3912, utilizing the synergic solubilizing effect of the combined use of magnesium ions and hydroxipropil-β-cyclodextrin. J. Control. Release. 2003. 101-113. 49. ZHANG, M.; REES, D. C. A review of recent applications of cyclodextrins for drug discovery. Exp.Opin.Ther.Patents.1999. 1697-1717. 50. ZIA, V., RAJEWSKI, R.A.; STELLA, V.J., Effect of cyclodextrin charge on complexation of neutral and charged substrates: Comparison of sulfobutylether-β-cyclodextrin to hydroxypropil-β-cyclodextrin. Pharm. Res. 2001. 668-673.
CAPÍTULO IICAPÍTULO IICAPÍTULO IICAPÍTULO II
46
Estudo Teórico e Experimental de Dispersões Sólidas do 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4)
com potencial atividade esquistossomicida em Polietilenoglicol e Polivinilpirrolidone
Theoretical and Experimental study of Solid Dispersions of 3-(4-cloro-benzyl)-5-(4-nitro-benzylidene)-imidazolidine-2,4-dione
(LPSF/FZ4) with potential schistosomacide activities by Polyethyleneglycol and Polyvinylpyrrolidone
Francimary L. Guedesa,c
, Boaz G. de Oliveira b, Marcelo Z. Hernandes
b, Maria do
Carmo A. de Lima c, Ivan R. Pitta
c, Suely L. Galdino
c, Francisco J. B. Veiga
d
Pedro J. Rolim Neto a,*
aLaboratório de Tecnologia dos Medicamentos, UFPE, Brasil bLaboratório de Química Teórica Medicinal, UFPE, Brasil
cLaboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos,UFPE , Brasil dLaboratório de Tecnologia Farmacêutica de Faculdade de Farmácia da Universidade de
Coimbra, Portugal
Resumo As dispersões sólidas têm sido usadas como uma estratégia para melhorar a solubilidade,
dissolução e biodisponibilidade de fármacos com solubilidade aquosa limitada. O aumento da
taxa de dissolução apresentado pelo LPSF/FZ4 a partir das dispersões sólidas está relacionado
com a existência de interações intermoleculares do tipo ligação de hidrogênio (>N-H...O<)
entre o grupo amida (>N-H) do LPSF/FZ4 e o grupo éter (-O-) do polímero polietilenoglicol
(PEG), ou a carbonila (C=O) do polímero polivinilpirrolidone (PVP). A intensidade destas
interações reflete-se diretamente na morfologia adquirida pelo LPSF/FZ4 nestes sistemas,
onde uma nova fase sólida, na forma de agregados amorfos de tamanho irregular, foi
identificada através de microscopia eletrônica de varredura e confirmada nas caracterizações
realizadas por difração de raios X e análise térmica de DSC.
As dispersões sólidas com o polímero PVP, em concentrações mais elevadas, revelaram-se
como a melhor opção a ser empregada nas formulações do LPSF/FZ4 em ambos estudos,
teórico e experimental.
Palavras-Chave: Imidazolidina, dispersões sólidas, polietilenoglicol, polivinilpirrolidone, perfil de dissolução, ligações de hidrogênio
47
Abstract
Solid dispersions have been used as a strategy to improve the solubility, dissolution rate and
bioavailability of poor water soluble drugs. The increase of the dissolution rate presented by
LPSF/FZ4 from the solid dispersions is related with the existence of intermolecular
interactions of hydrogen bond type (>N-H...O<) between the amide group (>N-H) of the
LPSF/FZ4 and the ether group (-O-) of the polyethyleneglycol polymer (PEG), or the
carbonyl (C=O) of the polyvinylpyrrolidone polymer (PVP). The intensity of these
interactions reflects directly in the morphology acquired by LPSF/FZ4 in these systems,
where a new solid phase, in the form of amorphous aggregates of irregular size, was identified
through scanning electron microscopy and confirmed in the characterizations realized by X-
ray diffraction and thermal analysis of DSC. The solid dispersions with the polymer PVP, in
higher concentrations, revealed to be the best option to be used in the formulations of the
LPSF/FZ4 in both studies, theoretical and experimental.
Keywords: Imidazolidine, solid dispersions, polyethyleneglycol, polyvinylpyrrolidone, dissolution profiles, hydrogen bond
___________________________________ * Endereço para Correspondência: Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos – LTM. Departamento de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. Av. Prof. Arthur de Sá S/N, Cidade Universitária, Recife-PE. 50740-521. Tel/Fax (81) 3272-1383. E-mail: [email protected]
48
1. Introdução
A esquistossomose é uma doença endêmica que afeta cerca de 74 países em
desenvolvimento. É encontrada em algumas partes da América do Sul e Caribe, Europa
Oriental, Oriente Médio, Extremo Oriente, Sudeste da Ásia, África Central e Ocidental.
Entretanto, mais de 80% das pessoas infectadas vivem na África sub-Saariana. O fármaco de
escolha para o tratamento das infecções causadas por todas as espécies Schistosoma é o
Praziquantel. O Oxamniquine, é usado no tratamento de infecções causadas pelo S. mansoni
em algumas áreas em que praziquantel é menos eficaz [1].
O núcleo imidazolidínico faz parte de uma ampla classe de compostos bioativos que
também apresenta atividade esquistossomicida. Baseado nessa informação, vários derivados
heterocíclicos pentagonais imidazolidinônicos vem sendo sintetizados e avaliados frente a
diversas possibilidades de atividades biológicas, como o 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-
benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4) que apresentou importante atividade
esquistossomicida em estudos in vitro (Fig.1) [2,3]. Entretanto, este derivado possui
solubilidade extremamente reduzida em soluções aquosas (S <1 µg /mL).
A limitada solubilidade aquosa de fármacos e a baixa taxa de dissolução nos fluidos
gastrintestinais, frequentemente conduz a biodisponibilidade insuficiente, que constitui um
dos maiores problemas da tecnologia farmacêutica. Estima-se que cerca de 35% dos fármacos
comerciais e mais de 25% dos novos descobertos, apresentam tais problemas [4].
Fig.1. 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4)
Várias tecnologias farmacêuticas vêm sendo investigadas, como por exemplo, a
técnica de dispersões sólidas (DS), para melhorar a solubilidade, taxa de dissolução e
biodisponibilidade destes fármacos.
Nas dispersões sólidas, os polímeros hidrofílicos que têm sido largamente empregados
como carreadores são polivinilpirrolidona (PVP) e polietilenoglicol (PEG) devido ao seu
baixo custo, alta solubilidade em água e a capacidade de formar dispersões em estado amorfo
[5, 6].
N
N
O
O
CH
H
CH2 Cl
O2N
49
O propósito deste estudo é aumentar a solubilidade, a taxa de dissolução e a absorção
do LPSF/FZ4 através de dispersões sólidas com PEG e PVP. As propriedades físico-químicas
do LPSF/FZ4 nestas dispersões foram caracterizadas por uma variedade de técnicas,
incluíndo, espectroscopia RMN1H, espectroscopia de infravermelho com transformadas de
Fourier (FTIR), calorimetria diferencial de varredura (DSC), difração de raios X (XRD) e
microscopia eletrônica de varredura (SEM). O trabalho incluiu também a determinação do
perfil de dissolução do LPSF/FZ4, das misturas físicas e das dispersões sólidas formadas com
àqueles polímeros hidrofílicos. As interações no nível molecular do complexo LPSF/FZ4-
polímero foram avaliadas pelos cálculos teóricos de mecânica quântica.
2. Materiais e Métodos 2.1. Materiais
3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4)
idealizado e sintetizado pelo Laboratório de Panejamento e Síntese de Fármacos, UFPE/PE
(Brasil), que apresenta ponto de fusão entre 227 ºC e uma solubilidade em água de
aproximadamente 0,94 ± 0,03 µg/mL a 25 ºC. Polietilenoglicol (PEG 4000), doado por
Oxiteno, Polivinilpirrolidone (PVP) tipo Plasdone® K-29/32 obtido através da ISP. Todos os
outros materiais e reagentes foram de grau de pureza analítica.
2.2. Preparação das misturas físicas (MF) e dispersões sólidas (DS) do LPSF/FZ4 em PEG e
PVP
Misturas físicas dos sistemas LPSF/FZ4:PEG e LPSF/FZ4:PVP contendo 20%
LPSF/FZ4, rigorosamente pesados (Balança Analítica Bioprecisa FA2104N), foram
preparadas em gral de porcelana, com auxílio de pistilo, de acordo com o método de diluição
geométrica. A mistura foi posteriormente tamisada em malha de 250 µm, acondicionada em
frasco ampola e mantida em dessecador sob vácuo com umidade controlada.
As dispersões sólidas contendo 10%, 20%, 30% do LPSF/FZ4 foram preparadas
utilizando PEG e PVP pelo método do solvente. As quantidades rigorosamente pesadas de
LPSF/FZ4 e cada polímero (Balança Analítica Bioprecisa FA2104N) foram separadamente
dissolvidas em metanol/clorofórmio (1:3 v/v), e após solubilização, as soluções foram
misturadas e mantidas sob agitação magnética durante 20 min. O solvente foi posteriormente
removido pela evaporação (Rotaevaporador Fisaton 802) sob pressão reduzida (-800 ± 20
50
mbar) a 40 ± 5 º C. As dispersões sólidas resultantes foram congeladas e liofilizadas (Liobras
L101) por 9h, tamizadas em malha de 250 µm, acondicionadas em frasco ampola e
armazenadas em dessecador sob vácuo com umidade controlada.
2.3. Dissolução in vitro
O perfil de dissolução do LPSF/FZ4 e das diferentes proporções dos complexos
formados, foram realizados de acordo com as especificações do Food and Drug
Administration (FDA) para fármacos pouco solúveis e a Farmacopéia dos Estados Unidos
(USP)[7]. Quantidades de misturas físicas e dispersões sólidas equivalentes a 8 mg de
LPSF/FZ4 foram cuidadosamente pesadas e colocadas em cada cuba de dissolução. Os
ensaios foram realizados a temperatura de 37 ± 0,5 ºC, utilizando 900 mL da solução tampão
de ácido clorídrico (pH = 1,2) contendo 1% de lauril sulfato de sódio, usando o aparato 2 (pá)
com velocidade de rotação de 75 rpm (Varian VK 7010). Em intervalos predeterminados de
15 minutos, durante 2 horas, amostras de 5 mL foram extraídas do meio de dissolução,
filtradas através de filtros de celulose de 28 µm e analisadas por espectroscopia UV (B582
Micronal) a 350 nm. Volumes de solvente iguais das amostras coletadas foram adicionados
novamente às cubas de dissolução, e para cada sistema binário, os ensaios foram efetuados em
triplicata.
Os perfis de dissolução foram avaliados e comparados utilizando o parâmetro da
eficiência de dissolução em 60 minutos (ED60 min), calculado a partir da área sob a curva de
dissolução do LPSF/FZ4, de acordo com o método de Khan [8]. A análise estatística dos ED60
min foi realizada através da análise de variância (ANOVA).
2.4. Calorimetria diferencial de varredura (DSC)
As características térmicas do LPSF/FZ4, da mistura física e das dispersões sólidas
foram analisadas utilizando um Shimadzu DSC-50 System (Shimadzu, Kyoto, Japão). O
comportamento térmico foi estudado pelo aquecimento das amostras (2 mg), em uma panela
de alumínio de 25-350ºC, a uma taxa de aquecimento de 10°C.min-1, sob um fluxo de
nitrogênio de 10 cm3.min-1, usando uma panela vazia como referência. Índio (99,98%, ponto
51
de fusão 156 ºC, Aldrich® Chemical Company, Inc., Milwaukee, E.U.A.) foi usado como
padrão para calibrar a temperatura.
2.5. Difração de raios X (XRD)
As análises de difração de raios-X do LPSF/FZ4 e das dispersões sólidas foram
obtidas através do difratômetro SIEMENS, modelo D-5000, equipado com anodo de cobre
(Cu), durante o intervalo de ângulo 2θ de 5-50º. A cristalinidade foi determinada pela
comparação do pico mais intenso de difração visualizado nas dispersões sólidas, com o pico
de referência. A relação utilizada para o cálculo da cristalinidade foi o grau de cristalinidade
relativo (GCR) = ISA/IREF, onde ISA é a altura do pico da amostra sob investigação, e IREF é a
altura do pico de referência no mesmo ângulo, com a mais alta intensidade. O LPSF/FZ4 foi
utilizado como referência para o cálculo dos valores GCR nas dispersões sólidas [9, 10].
2.6. Espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)
Os espectros de infravermelho das dispersões sólidas em pastilhas KBr (contendo 1 mg da
amostra em 150 mg KBr), foram obtidos no Bruker FT-IR espectrômetro IFS 66 na região
espectral 4000-400 cm-1, utilizando uma resolução de 4 cm-1 e varredura de 100.
2.7. Modelagem molecular de interações drogas-polímero
As geometrias otimizadas dos complexos de hidrogênio PVP···FZ4 e PEG···FZ4 foram
obtidas através de cálculos B3LYP/6-31G (d,p) realizados no programa GAUSSIAN 03 [11].
Os valores das energias intermoleculares ∆E foram determinados como segue:
∆∆∆∆E = E(complexo) – ΣΣΣΣ [E(monômeros)]
Os resultados das energias intermoleculares ∆E foram corrigidos pela Energia do
Ponto Zero (ZPE) [12] e pelos valores dos cálculos do Erro de Superposição do Conjunto de
Base (BSSE) [13].
52
2.8. Espectroscopia de RMN 1H
Os espectros de 1H NMR do LPSF/FZ4 e das dispersões sólidas foram analisados por
Varian Unity Plus 300, usando dimetil sulfóxido (DMSO) como solvente.
2.9. Microscopia eletrônica de varredura (SEM)
A morfologia do LPSF/FZ4 e suas dispersões sólidas foram examinadas usando um
microscópio eletrônico de varredura (SEM) tipo Jeol (JMS-5600, Japan). As amostras foram
fixadas em fita dupla adesiva de carbono, revestidas, sob vácuo, com fina película de ouro
para torná-las eletricamente condutoras e observadas com ampliações de 100 a 4300 vezes.
3. Resultados e Discussão
3.1. Dissolução in vitro
O perfil de dissolução foi plotado pelo percentual de LPSF/FZ4 dissolvido sem estar
complexado, das dispersões sólidas e das misturas físicas versus tempo (Fig. 2).
Para avaliação, o parâmetro Eficiência de Dissolução (ED) foi calculado em 60
minutos (Tabela 1). Demonstrou-se que a taxa de dissolução do LPSF/FZ4 não complexado
foi muito baixa (menos de 10% no intervalo de 1h). Comparado ao LPSF/FZ4 não
complexado, a dissolução das misturas físicas para os dois polímeros apresentou um aumento
mínimo, chegando a atingir a mesma percentagem de dissolução do LPSF/FZ4 não
complexado no tempo 75min com o polímero PEG. Após 75min, observou-se que a
dissolução do LPSF/FZ4 não complexado ultrapassou o valor de dissolução atingido pela
mistura física LPFS/FZ4:PEG 2:8 (Fig. 2a).
Como pôde ser visto, o aumento da taxa de dissolução do LPSF/FZ4 é atingido em
ambas dispersões sólidas (LPSF/FZ4:PEG e LPSF/FZ4:PVP) e a ED 60min de cada sistema
apresentou uma diferença estatisticamente significativa em comparação com o LPSF/FZ4 não
complexado (P<0,05).
Os perfis de dissolução das dispersões sólidas com PVP nas diferentes proporções
LPSF/FZ4-polímero (p/p), exibiram uma taxa de dissolução um pouco mais elevada,
53
especialmente nas dispersões sólidas contendo 10% de LPSF/FZ4 (Fig.2b). Então, a
proporção LPSF/FZ4-polímero (10% p/p), em ambas dispersões sólidas (PEG e PVP), foi
selecionada para dar sequência ao estudo.
Fig. 2. Perfis de dissolução do LPSF/FZ4, das misturas físicas e das dispersões sólidas com
PEG (a) e PVP (b) em pH gástrico (pH 1,2) contendo 1% de lauril sulfato de sódio
Tabela1
ED 60min para LPSF/FZ4, misturas físicas e dispersões sólidas
LPSF/FZ4 LPSF/FZ4:PEG
MF DS30% DS20% DS10%
ED 60min (%) 4,02 ± 0,25 6,36 ± 0,10 12,37 ± 0,14 16,97 ± 0,10 19,27 ± 0,40
LPSF/FZ4 LPSF/FZ4:PVP
MF DS30% DS20% DS10%
ED 60min (%) 4,02 ± 0,25 7,82 ± 0,16 12,53 ± 0,10 18,74 ± 0,30 23,43 ± 0,43
Todos os resultados são expressos pela média ± desvio padrão
(a) 0 30 60 90 1200
10
20
30
40
50
60
% L
PF
S/F
Z4
dis
solv
ido
Tempo (min)
LPSF/FZ4 MF PEG 2:8 DS PEG 2:8 DS PEG 1:9 DS PEG 3:7
(b) 0 30 60 90 1200
10
20
30
40
50
60
% L
PS
F/F
Z4
diss
olvi
doTempo (min)
LPSF/FZ4 MF PVP 2:8 DS PVP 2:8 DS PVP 1:9 DS PVP3:7
54
3.2. Differencial scanning calorimetry (DSC)
O DSC do LPSF/FZ4 apresentou um pico endotérmico em 227,7°C, correspondente ao
seu ponto de fusão, na taxa de aquecimento usada (Fig.3a e 4a).
O PEG é um polímero semicristalino e exibe um ponto de fusão muito baixo (64,5°C)
(Fig.3b). Após a sua fusão, o PEG possui a capacidade de dissolver fármacos que estejam
complexados antes que estes atinjam o seu próprio ponto de fusão[4].
Este fenômeno pode explicar a ausência do pico de fusão do LPSF/FZ4 nas dispersões
sólidas com PEG (Fig. 3c), sugerindo que o LPSF/FZ4 foi completamente solubilizado na
fase líquida do PEG. Resultados semelhantes foram relatados por outros autores [14, 15].
60,07
(c)
64,5
(b)
0 50 100 150 200 250 300
227,7
Temperatura (ºC)
(a)
59,59
(c)
53,86
(b)
0 50 100 150 200 250 300
227,7
Temperatura (ºC)
(a)
Fig. 3. Termogramas de DSC do LPSF/FZ4 (a),
PEG (b) e dispersões sólidas LSF/FZ4:PEG 1:9 (c)
Fig. 4. Termogramas de DSC do LPSF/FZ4 (a),
PVP (b) e dispersões sólidas LSF/FZ4:PVP 1:9 (c)
55
O PVP é um polímero amorfo e seu termograma de DSC nas dispersões sólidas
contendo 10% LPSF/FZ4 exibiu um largo efeito endotérmico compreendido entre 23,94 e
135,0ºC, com um pico em 59,59ºC (Fig.4c). O desaparecimento do pico de fusão do
LPSF/FZ4 indicou que este não está mais presente na forma cristalina, e que provavelmente
foi obtida uma nova fase sólida com características amorfas nas dispersões sólidas com o PVP
[14]. Isto pode ser atribuído à formação de ligações de hidrogênio entre a carbonila (C=O) do
PVP e o grupo >NH do LPSF/FZ4. As interações intermoleculares com polímeros são
normalmente responsáveis pelo desaparecimento do sinal de fusão dos cristais [16].
3.3. Difração de raios X (XRD)
No difratograma do LPSF/FZ4, alguns picos característicos em 2θ (ângulo de
difração) tais como, 14,05; 16,0; 19,82; 25,42 e 27,94 estão presentes, revelando a natureza
cristalina do LPSF/FZ4. O pico de difração em 2θ = 16,0 foi usado como referência para
determinação do grau de cristalinidade relativo (GCR).
A difração de raios X revela o estado físico de uma substância à temperatura ambiente.
Na mistura física com PEG, observou-se uma diminuição da intensidade do pico de referência
do LPFS/FZ4. Nas dispersões sólidas com 10% LPSF/FZ4:PEG, o difratograma revelou que
LPSF/FZ4 não recristalizou durante a preparação das dispersões sólidas, após a evaporação do
solvente (Fig. 5). Desta forma, há uma substancial indicação da presença de interações
intermoleculares entre os grupos funcionais do PEG e do LPSF/FZ4 nestas dispersões. Os
valores de GCR do sistema LPSF/FZ4:PEG confirmam uma diminuição da cristalinidade
LPSF/FZ4 na seguinte ordem: LPSF/FZ4>MF>DS10% (Tabela 2). Assim, pode-se supor que
o LPSF/FZ4 apresenta uma nova fase sólida de aspecto amorfo nestas dispersões sólidas ou
que uma expressiva redução no tamanho de partículas com baixa cristalinidade foi alcançada
e encontra-se finamente disperso no PEG.
56
Fig. 5. Difratogramas do LPSF/FZ4, PEG, mistura física e dispersões sólidas LSF/FZ4:PEG 1:9
Tabela 2
GRC para 2θ =16 nos sistemas LPSF/FZ4:PEG
2θ LPSF/FZ4 MF LPSF/FZ4: PEG DS LPSF/FZ4: PEG 16 1256 375 114 GCR Ref 0,298 0,09
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
DS LPSF/FZ4:PEG
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (º)
PEG
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
MF LPFS/FZ4:PEG
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
16
19,82
25,4227,94
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
LPSF/FZ414,05
57
Fig. 6. Difratogramas do LPSF/FZ4, PVP, mistura física e dispersões sólidas LSF/FZ4:PVP 1:9
Tabela 3 GRC para 2θ =16 nos sistemas LPSF/FZ4:PVP
Nas dispersões sólidas com PVP, o difratograma revela que o LPSF/FZ4 não está mais
presente na sua forma cristalina original, apresentando um comportamento característico de
uma substância amorfa (Fig. 6). Isto sugere que as macromoléculas do PVP inibiram a
cristalização do LPSF/FZ4 nas dispersões sólidas. Este resultado está em concordância com
2θ LPSF/FZ4 MF LPSF/FZ4: PVP DS LPSF/FZ4: PVP 16 1256 400 145 GCR Ref 0,318 0,115
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
16
19,82
25,4227,94
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
LPSF/FZ414,05
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
MF LPSF/FZ4: PVP
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
DS LPSF/FZ4:PVP
10 20 30 40 50
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
PVP
58
os resultados obtidos na análise térmica (DSC). Por outro lado, este comportamento não é
observado na mistura física, onde o pico característico do LPSF/FZ4 está evidente.
Para se obter o GCR, neste caso, adotou-se apenas o valor apresentado pelo largo pico
de difração, onde não é mais possível distinguir o pico característico de referência do
LPSF/FZ4 [17]. Os valores obtidos do GCR para o sistema LPSF/FZ4:PVP confirmam uma
diminuição na cristalinidade do LPSF/FZ4 na mesma ordem apresentada para o PEG (Tabela
3).
3.4. Espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)
Outras evidências das interações intermoleculares do tipo ligação de hidrogênio e
forças de Van der Waals nas dispersões sólidas com LPSF/FZ4:PEG e LPSF/FZ4:PVP foram
obtidas a partir do estudo e espectroscopia de infravermelho. Os grupos funcionais do
LPFS/FZ4 investigados foram >NH (3190 cm-1), C=O (1770-720 cm-1) e os grupos
aromáticos (900-675 cm-1).
O espectro das dispersões sólidas com PEG mostrou uma redução clara da intensidade
da banda de C=O do LPFS/FZ4, um estiramento angular e uma mudança para freqüências
mais baixas da banda -OH do PEG. A razão para estas observações pode ser interpretada
como uma conseqüência das ligações de hidrogênio entre grupos -OH final do PEG e C=O do
LPFS/FZ4 (Fig.7). Os espectros de infravermelho das dispersões LPFS/FZ4:PEG e
LPFS/FZ4:PVP indicaram a existência de ligações de hidrogénio entre o grupo amida (>NH)
do LPFS/FZ4 e os grupos -OH final ou éter (-O-) do PEG e a carbonila (C=O) do PVP.
Devido a estas interações, observou-se o total desaparecimento do grupo amida (> NH) do
LPFS/FZ4 nesses sistemas (Fig.7).
A região dos aromáticos (900-675 cm-1) do LPFS/FZ4 apresentou uma acentuada
redução na intensidade, havendo a indicação da presença de interações do tipo Van der Waals
em ambas dispersões sólidas (Fig.7).
A presença de ligações de hidrogênio e interações hidrofóbicas entre o LPSF/FZ4 e os
polímeros hidrofílicos nas dispersões sólidas é a principal causa para o aumento da sua
solubilidade e dissolução. O mecanismo básico é o efeito dessas interações sobre a dimensão
das partículas e sua distribuição, de acordo com outros trabalhos já relatados na literatura [18-
22].
59
Fig. 7. Espectros de infravermelho do LPSF/FZ4, PEG, PVP e dispersões sólidas
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
SD LPSF/FZ4:PVP
2954
1770-1720
900-675
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência (cm-1 )
PVP
2955
1770-1720
900-675
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm -1 )
SD LPSF/FZ4:PEG
3451 2886
1770-1720
1113
900-675
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
PEG
2886 1114
900-6753453
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
LPSF/FZ4
3190
1770-1720
900-675
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
LPSF/FZ4
3190
1770-1720
900-675
60
3.5. Modelagem molecular de interações drogas-polímero
De acordo com os resultados de modelagem molecular as energias intermoleculares
∆E calculadas para os complexos PEG···LPSF/FZ4 e PVP···LPSF/FZ4 são 20,5 e 41,7 kJ.mol-
1, respectivamente, mostrando a maior estabilidade da interação entre a molécula FZ4 e o
monômero PVP. Este complexo apresenta uma estabilidade com o dobro do valor em
comparação com o monômero PEG e também apresenta uma distância de ligação de
hidrogênio ligeiramente mais curta (1,80 Å), quando comparado com o PEG (1,87 Å).
A Figura 8 ilustra as geometrias otimizadas obtidas para os complexos de hidrogênio
PEG···LPSF/FZ4 (I) e PVP···LPSF/FZ4 (II).
Fig. 8. Geometrias otimizadas obtidas para os complexos de hidrogênio PEG⋅⋅⋅LPSF/FZ4 (I) e PVP⋅⋅⋅LPSF/FZ4 (II) usando resultados do cálculo B3LYP/6-31G(d,p). Os valores apresentados nesta figura representam as distâncias das ligações de hidrogênio, em Ångstrons.
3.6. Espectroscopia de RMN 1H
A Espectroscopia de RMN 1H foi utilizada a fim de identificar a natureza das
interações ocorridas entre o LPSF/FZ4 e PEG ou PVP nas dispersões sólidas 10:90 (w/w). O
dimetil sulfóxido (DMSO) foi escolhido, como um solvente aprótico, porque os compostos
são solúveis neste solvente.
Vários picos característicos são observados no espectro do LPSF/FZ4 (Fig. 9a), mas o
principal interesse desta pesquisa foi explorar e comparar o próton que está localizado no
grupo amida do LPSF/FZ4, que exibe um deslocamento químico em 11,28 ppm na forma de
singleto.
61
Nas dispersões sólidas com PEG contendo 10% p/p do LPSF/FZ4, este pico exibe uma
pequena mudança para uma posição inferior em 11,26 ppm que não tem relevância neste
estudo, pois pode estar relacionada a variações do próprio equipamento. Entretanto, a
diminuição observada na intensidade deste pico pode ser uma possível indicação da presença
de uma fraca ligação de hidrogênio entre o grupo éter do PEG e o próton do grupo amida do
LPSF/FZ4 (Fig.9b).
Nas dispersões sólidas com PVP contendo 10% p/p do LPSF/FZ4, o pico
correspondente ao próton do grupo amida em 11,28 ppm tornou-se dificilmente detectável. A
ampliação desta região revelou que este pico sofreu um alargamento na linha de fundo,
compreendido entre aproximadamente 11,5 e 11,0 ppm, e uma expressiva diminuição da
intensidade (Fig. 9c). Isto constitui uma clara indicação da presença de uma forte interação
intermolecular do tipo ligação de hidrogênio entre a carbonila (C=O) do PVP e o próton do
grupo amida >NH do LPSF/FZ4. Estes resultados estão em plena concordância com os
resultados obtidos no estudo de modelagem molecular e podem justificar, através da
intensidade destas interações, os valores obtidos de ED 60min do perfil de dissolução.
62
(a ) 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
2.88 2.70 2.171.00 0.94
11.2
8
8.24
8.21
7.91
7.43
7.40
7.35
7.34 7.
326.
67 4.68
3.35
2.50
2.49
1.91
(ppm)
14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
2.070.833.951.890.62
11.2
6
8.24
8.21
7.91
7.88
7.44 7.41
7.35
6.66 4.68
3.51
3.34
2.50
(b) (ppm)
(c) (ppm)
14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
13.199.2044.632.100.871.591.86
8.31
8.23
8.21
7.91
7.88
7.43
7.40
7.35
7.32
6.65
4.67
3.40
3.14
2.50 2.
06 1.88
1.60
1.31
Fig. 9. Espectros de RMN 1H do LPSF/FZ4 (a), dispersões sólidas LPSF/FZ4:PEG
(b) e dispersões sólidas PSF/FZ4:PVP (c)
63
3.7. Microscopia eletrônica de varredura (SEM)
As eletromicrografias do LPFS/FZ4, PEG, PVP e as dispersões sólidas 10:90 (w/w)
estão ilustradas na Figura 10.
Fig. 10. Eletromicrografias do LPSF/FZ4 (a), PEG (b), PVP (c) dispersões sólidas
LPSF/FZ4:PEG (d), e dispersões sólidas LPSF/FZ4:PVP (e)
(a)
(a)
(d)
(e) (c)
(b)
64
O LPFS/FZ4 possui morfologia de um cristal em forma de agulha (a); PEG é
constituído por grandes partículas cristalinas de tamanho irregular (b); PVP é composto por
partículas esféricas com algumas depressões na superfície e com características amorfas.
Nas dispersões sólidas, a morfologia cristalina original do LPFS/FZ4 desapareceu e
não foi possível também diferenciar a morfologia de ambos os polímeros hidrofílicos,
conforme resultados de outros autores [23]. As eletromicrografias das dispersões sólidas
indicaram a presença de uma nova fase sólida, na forma de agregados amorfos de tamanho
irregular, semelhante ao trabalho de outros pesquisadores [19]. Este comportamento está em
concordância com os resultados obtidos na análise térmica e na difração de raios X.
4. Conclusões
Muitos mecanismos têm sido propostos para justificar o aumento da solubilidade e
taxa de dissolução de fármacos através das dispersões sólidas. Diminuição da cristalinidade,
aumento da “molhabilidade”, redução no tamanho das partículas e o estado amorfo são fatores
predominantes, reconhecidos pela maioria dos pesquisadores no assunto.
Neste estudo, verificou-se que o aumento da taxa de dissolução do LPSF/FZ4 nos
sistemas binários de dispersões sólidas está diretamente relacionado com a presença e
intensidade das interações intermoleculares formadas com os polímeros hidrofílicos,
especialmente as ligações de hidrogênio identificadas. Estas interações no nível molecular
parecem controlar as mudanças de estado físico cristalino/amorfo e influenciam no tamanho
das partículas.
Para o sistema LPSF/FZ4:PVP 1:9, que apresentou melhores resultados no perfil de
dissolução, constatou-se, pelas diferentes técnicas de caracterização e confirmou-se pelo
estudo teórico de modelagem molecular, a existência de interações relativamente mais fortes
que as interações com o polímero PEG, sugerindo que o PVP é o polímero de escolha a ser
usado nas formulações desenvolvidas para o LPSF/FZ4 com o objetivo de melhorar sua
solubilidade, dissolução e absorção gastrintestinal.
5. Referências [1] WHO, Word Helth Organization Disease Information, (2001) [2] S.M. Oliveira, M.C.P.A. Albuquerque, M.G.R. Pitta, E. Malagueño, J.V. Santana,
M.C.A. Lima, I.R. Pitta, S.L. Galdino, A resposta do Schistosoma mansoni mantido in vitro frente a derivados imidazolidinônicos, Acta Farm Bonaerense. 23 (2004) 343-348.
65
[3] M.C.P.A. Albuquerque, M.G.R. Pitta, J.I. Irmão, C.A. Peixoto, E. Malagueño, J.V. Santana, M.C.A. Lima, S.L. Galdino, I.R. Pitta, Tegumental Alterations in Adult Schistosoma mansoni Treated with Imidazolidine Derivatives, Lat. Am. J. Pharm. 26 (2007) 65-69.
[4] D. Bikiaris, G.Z. Parageorgiou, A. Stergiou, E. Pavlidou, E. Karavas, F. Kanaze,M. Georgarakis, Physicochemical studies on solid dispersions of pooly water-soluble drugs Evaluation of capabilities and limitations of thermal analysis tecniques, Thermochem. Acta. 439 (2005) 58-67.
[5] S. Verheyen, N. Blaton, R. Kinget,G.V.D. Mooter, Mechanism of increased dissolution of diazepam and temazepam from polyethylene glycol 6000 solid dispersions Int. J. Pharm. 249 (2002) 45-58.
[6] M. Franco, G. Trapani, A. Latrofa, C. Tullio, M.R. Provenzano, M. Serra, M. Muggironi, G. Biggio, Dissolution properties and anticonvulsant activity of phenytoin-polyethylene glycol 6000 and -polyvinylpyrrolidone K-30 solid dispersions, Int. J. Pharm. 225 (2001) 63-73.
[7] U.S, Department of Health and Human Services. Guidance for Industry: Dissolution Testing of Immediate Release Solid Oral Dosage Forms, August 1997. Available at: http://www.fda.gov/cder/guidance/1713 bp1.pdf . Accessed february 21, 2008
[8] K.A. Khan, The concept of dissolution efficiency, J. Pharm. Pharmacol. 27 (1975) 48-49.
[9] L. Ribeiro, T. Loftsson, D. Ferreira, F. Veiga, Investigation and Physicochemical characterization of vinpocetine-sulfobutyl ether β-cyclodextrins in solid binary and ternary complexes, Chem. Pharm. Bull. 51 (2003) 914-922.
[10] M.D. Veiga, P.J. Díaz, F. Ahsan, Interactions of griseofulvin with cyclodextrins binary systems, J. Pharm. Sci. 87 (1998) 891-900.
[11] M. J. Frisch, G. W. Trucks, H. B. Schlegel, G. E. Scuseria, M. A. Robb, J. R. Cheeseman, J. A. Montgomery Jr., T. Vreven, K. N. Kudin, J. C. Burant, J. M. Millam, S. S. Iyengar, J. Tomasi, V. Barone, B. Mennucci, M. Cossi, G. Scalmani, N. Rega, G. A. Petersson, H. Nakatsuji, M. Hada, M. Ehara, K. Toyota, R. Fukuda, J. Hasegawa, M. Ishida, T. Nakajima, Y. Honda, O. Kitao, H. Nakai, M. Klene, X. Li, J. E. Knox, H. P. Hratchian, J. B. Cross, V. Bakken, C. Adamo, J. Jaramillo, R. Gomperts, R. E. Stratmann, O. Yazyev, A. J. Austin, R. Cammi, C. Pomelli, J. W. Ochterski, P. Y. Ayala, K. Morokuma, G. A. Voth, P. Salvador, J. J. Dannenberg, V. G. Zakrzewski, S. Dapprich, A. D. Daniels, M. C. Strain, O. Farkas, D. K. Malick, A. D. Rabuck, K. Raghavachari, J. B. Foresman, J. V. Ortiz, Q. Cui, A. G. Baboul, S. Clifford, J. Cioslowski, B. B. Stefanov, G. Liu, A. Liashenko, P. Piskorz, I. Komaromi, R. L. Martin, D. J. Fox, T. Keith, M. A. Al-Laham, C. Y. Peng, A. Nanayakkara, M. Challacombe, P. M. W. Gill, B. Johnson, W. Chen, M. W. Wong, C. Gonzalez,J. A. Pople, Gaussian 03 Gaussian, Inc., Wallingford CT. (2004)
[12] D. McQuarrie, Estatística Termodinâmica, Harper e Row, New York. (1973) [13] S.B. Boys,F. Bernardi, Mol. Phys. 19 (1970) 553-566. [14] G.V. Mooter, P. Augustijns, N. Blaton,R. Kinget, Physico-chemical characterization
of solid dispersions of temazepam with polyethylene glycol 6000 and PVP K30, Int. J. Pharm. . 164 (1998) 67-80.
[15] Z. Naima, T. Siro, G.D. Juan-Manuel, C. Chantal, C. René,D. Jerome, Interactions between carbamazepine and polyethylene glycol (PEG) 6000: characterisations of the physical, solid dispersed and eutectic mixtures., Eur. J. Pharm. Sci. 12 (2001) 395-404.
66
[16] E. Karavas, G. Ktistis, A. Xenakis, E. Georgarakis, Effect of hydrogen bonding interactions on the release mechanism of felodipine from nanodispersions with polyvinylpyrrolidone, Eur. J. Pharm. Biopharm. 63 (2006) 103-114.
[17] A. Figueiras, R.A. carvalho, L. Ribeiro, J.J. Torres-Labandeira, F.J.B. Veiga, Solid-state characterization and dissolution profiles of the inclusion complexes of omeprazole with native and chemically modified β-cyclodextrin, Eur. J. Pharm. Biopharm. 67 (2007) 531-539.
[18] E. Karavas, E. Georgarakis, M.P. Sigalas, K. Avgoustakis,D. Bikiaris, Investigations of the release mechanism of a sparingly water-soluble drugs from solid dispersions in hydrophilic carries based on physical state of drug, particle size distribution and drug-polymer interactions, Eur. J. Pharm. Biopharm. 66 (2007) 334-347.
[19] L.P. Ruan, B.Y. Yu, G.M. Fu, D. Zhu, Improveing the solubility of ampelopsin by solid dispersions and inclusion complexes, J. Pharm. Biopharm. Analysis. 38 (2005) 457-464.
[20] S. Sethia, E. Squillante, Solid dispersions of carbamazepine in PVP k30 by conventional solvent evaporation and supercritical methods, Int. J. Pharm. 272 (2004) 1-10.
[21] D.Q.M. Craig, The mechanisms of drug release from solid dispersions in water-soluble polymers Int. J. Pharm. 231 (2002) 131-144.
[22] P. Mura, N. Zerrouk, N. Mennini, F. Moestreli, C. Chemtob, Development and characterization of naproxen-chitosan solid systems with improved drug dissolution properties, Eur. J. Pharm. Sci. 19 (2003) 67-75.
[23] L. Marzocchi, J.R. Moyano, A. Rossi, P. Muñoz, M.J. Arias, F. Giordano, Current status of ATPase proton pump inhibitor complexation with cyclodextrins, Biolog. J. Armenia. 53 (2001) 176-193.
67
Caracterização físico-química, Cristalografia e Modelagem Molecular do 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2) e Suas Dispersões Sólidas com Polivinilpirrolidone
Physicochemical Characterization, Crystallography and Molecular
Modeling of 3-(4-methyl-benzyl)-5-(4-cloro-benzylidene)-thiazolidine-2,4-dione (LPSF/GQ2) and their Solid Dispersions with
Polyvinylpyrrolidone
Francimary L.Guedes1,4, Boaz G. de Oliveira2, Marcelo Z. Hernandes
2, Carlos A. De
Simone3, Maria do Carmo A. Lima4 , Ivan R. Pitta4, Suely L. Galdino4, Francisco J. B.Veiga 5, Pedro J. Rolim Neto 1*
1Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos - LTM - UFPE - Brasil
2Laboratório de Química Teórica Medicinal - LQTM -UFPE -Brasil 3 Laboratório de Cristalografia e Modelagem Molecular - LaboCriMM -UFAL - Brasil
4Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos - LPSF - UFPE - Brasil 5Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade de
Coimbra - Portugal Resumo O composto 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2),
cuja estrutura cristalina foi devidamente caracterizada através do estudo de cristalografia,
possui solubilidade aquosa limitada. A formação de dispersões sólidas, compostas por
polivinilpirrolidone (PVP) e LPSF/GQ2, visando melhoria na solubilidade, foi investigada
usando diferentes técnicas de caracterização. O sucesso no uso de polímeros carreadores
nestes sistemas é justificado pela capacidade de formação de dispersões sólidas com
características amorfas. A existência de interações intermoleculares, estabelecidas a partir da
formação de tais complexos, foi avaliada também por cálculos B3LYP/6-31G (d,p) realizados
no programa GAUSSIAN 03. A intensidade destas interações está relacionada com a
concentração do polímero hidrofílico no complexo formado, uma vez que os melhores
resultados foram obtidos para os sistemas LPSF/GQ2:PVP 1:9, onde a concentração do
polímero é maior.
Palavras-Chave: 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona, dispersões
sólidas, polivinilpirrolidone, interações intermoleculares, polímeros hidrofílicos
68
Abstract
The compound 3-(4-methyl-benzyl)-5-(4-cloro-benzylidene)-thiazolidine-2,4-dione
(LPSF/GQ2), whose crystalline structure was properly elucidated by the study of
crystallography, possesses limited aqueous solubility. The formation of solid dispersions by
polivinilpirrolidone (PVP) and LPSF/GQ2, seeking improvement in solubility, was
investigated using different techniques of characterization. The success in the use of carrier
polymers in these systems is justified by the capacity to form solid dispersions with
amorphous characteristics. The existence of intermolecular interactions, established from the
formation of such complexes, was also evaluated by B3LYP/6-31G calculations (d,p)
executed in the program GAUSSIAN 03. The intesity of these interactions is related with the
concentration of the hydrophilic polymer in the complex formed, once the best results were
obtained for the LPSF/GQ2:PVP 1:9 systems, where the concentration of the polymer is
higher.
Keywords: 3-(4-methyl-benzyl)-5-(4-cloro-benzylidene)-thiazolidine-2,4-dione; solid
dispersions; polyvinylpyrrolidone; intermolecular interactions; hydrophilic polymers
___________________________________ * Endereço para Correspondência: Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos – LTM. Departamento de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. Av. Prof. Arthur de Sá S/N, Cidade Universitária, Recife-PE. 50740-521. Tel/Fax (81) 3272-1383. E-mail: [email protected]
69
1. Introdução
O anel tiazolidínico e seus derivados são ligantes sintéticos dos Receptores Ativadores
da Proliferação de Peroxissomos (PPAR-γ), que é um hormônio nuclear que regula a
transcrição de genes envolvidos no metabolismo de carboidratos e lipídios [1-3].
Novas tiazolidinas substituídas foram idealizadas, sintetizadas, e avaliada a sua
atividade hipoglicemiante e hipolipidêmica pelo Laboratório de Planejamento e Síntese de
Fármacos – UFPE.
Estudos de modelagem molecular utilizando programas de Autodock 3.0 e ADT
(AutoDockingTools), apresentaram boa estabilidade do complexo formado entre o derivado
LPSF/GQ2 e o receptor nuclear PPARγ. Ensaios de atividade biológica em camundongos
“swiss” com obesidade induzida por dieta hiperlipídica demonstraram que o novo agonista do
PPARγ, LPSF/GQ2, induz importante redução da glicemia de jejum, do peso corporal, da
gordura epididimal, da retenção de fluidos e a recuperação da via de sinalização da insulina
(IR/IRSs/PI3K/Akt ) no fígado, músculo e tecido adiposo; sugerindo que o composto
LPSF/GQ2, é uma nova tiazolidina com grande potencial terapêutico para o tratamento do
Diabetes mellitus tipo 2 [4, 5]. Entretanto sua baixa solubilidade é um fator limitante da sua
absorção.
Várias técnicas têm sido usadas para melhorar a solubilidade e a taxa de dissolução de
fármacos pouco solúveis em água. Estas incluem a formulação com formas amorfas sólidas,
nanopartículas, microemulsões, dispersões sólidas, formação de sal e formação de complexos
de inclusão solúveis em água. Por estas técnicas tenta-se aumentar a solubilidade aparente de
compostos lipofílicos sem diminuir a otimização de seu potencial [6].
O termo dispersão sólida tem sido utilizado para descrever um grupo de produtos
farmacêuticos no qual o fármaco está disperso em um carreador biologicamente inócuo,
geralmente com o objetivo de melhorar a sua biodisponibilidade no trato gastrintestinal. Estes
sistemas geralmente são obtidos pela conversão da mistura fármaco/veículo no estado fluído
para o estado sólido [7, 8].
O Objetivo deste trabalho consiste na verificação da eficiência de formação de
dispersões sólidas compostas por polivinilpirrolidone (PVP) e LPSF/GQ2 utilizando
diferentes técnicas de caracterização e estudos teóricos de modelagem molecular.
70
2. Material e Métodos 2.1. Material
3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2)
sintetizado e purificado no Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármaco da UFPE;
Polivinilpirrolidone (PVP) (Plasdone® K-29/32 ISP) e demais reagentes de grau analítico PA.
2.2. Preparação da mistura física binária
A mistura física (MF) binária contendo o LPSF/GQ2 e o polímero PVP na proporção
de 2:8 (p/p, ativo:polímero), rigorosamente pesados (Bioprecisa FA2104N), foi preparada em
gral de porcelana, com auxílio de pistilo, de acordo com o método de diluição geométrica. A
mistura foi posteriormente tamisada em malha de 250 µm, acondicionada em frasco ampola e
mantida em dessecador sob vácuo com umidade controlada.
2.3. Preparação das dispersões sólidas
As dispersões sólidas (DS) de LPSF/GQ2 e PVP foram preparadas nas proporções
1:9; 2:8; 3:7 (p/p, ativo:polímero), rigorosamente pesados (Bioprecisa FA2104N), através do
método solvente utilizando clorofórmio P.A. O LPSF/GQ2 e o PVP foram separadamente
solubilizados em clorofórmio e após a solubilização as soluções foram misturadas e mantidas
sob agitação magnética por 20 min. O solvente foi posteriormente removido pela evaporação
(Fisaton 802) sob pressão reduzida (-800 mbar ± 20mbar) e temperatura controlada (40 ±
5ºC). As dispersões resultantes foram congeladas a -4ºC por 5 dias, liofilizadas (Liobras
L101), tamizadas em malha de 250 µm e armazenadas em dessecador sob vácuo com umidade
controlada.
2.4. Cristalografia
Na análise cristalográfica do LPSF/GQ2, a coleta dos dados foi feita usando o
programa COLLECT [9]. A integração e o escalonamento das reflexões foram executados
com o sistema de programas HKL DENZO-SCALEPACK [10]. A estrutura foi resolvida por
Métodos Diretos com o programa SHELXS97 [11]. O modelo foi refinado utilizando matriz
completa de Mínimos Quadrados sobre os F2 com o programa SHELXL-97 [11]. Os
71
programas SHELXL-97 e ORTEP-3 [12] foram usados dentro do pacote WinGX [13] para
preparar material.
2.5. Difração de Raios X
Os difratogramas foram obtidos num difratômetro SIEMENS (X-Ray Diffractometer,
modelo D-5000), equipado com anodo de cobre. As amostras foram analisadas no intervalo de
ângulo 2θ de 5-50º. O decréscimo da cristalinidade foi determinado pelos valores das
intensidades dos principais picos do LPSF/GQ2 nos diferentes sistemas e os valores do grau
de cristalinidade relativo (GCR) [14].
2.6. Análise Térmica
As análise de DSC das amostras foram realizadas num calorímetro de varredura
diferencial Shimadzu DSC-50 System (Shimadzu, Kyoto, Japan), com amostras de 2 mg em
cápsulas de alumínio, aquecidas entre 25-300ºC a uma velocidade de aquecimento de
10°C.min-1, sob fluxo de nitrogênio de 10 cm3.min-1.
2.7. Microscopia eletrônica de varredura
Para observação da morfologia das amostras singulares e seus sistemas binários
utilizou-se o microscópio eletrônico de varredura JEOL (JMS-5600, Japan). As amostras
foram fixadas em fita dupla adesiva de carbono e revestidas, sob vácuo, com fina película de
ouro para torná-las eletricamente condutoras, e observadas com ampliações de 55 a 1700
vezes.
2.8. Modelagem molecular de interações droga-polímero
A geometria otimizada do complexo de hidrogênio PVP···LPSF/GQ2 foi obtida
através de cálculos B3LYP/6-31G (d,p) realizados no programa GAUSSIAN 03 [15]. Os
valores das energias intermoleculares ∆E foram determinados como segue:
∆∆∆∆E = E(complexo) – ΣΣΣΣ [E(monômeros)]
72
Os resultados das energias intermoleculares ∆E foram corrigidos pela Energia do Ponto Zero
(ZPE) [16] e pelos valores dos cálculos do Erro de Superposição do Conjunto de Base (BSSE)
[17].
2.9. Espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier
Os espectros foram obtidos em um espectrômetro (Burker FT-IR / IFS 66), formulados
em pastilhas de KBr, contendo 1 mg da amostra para 100 mg de KBr. A região espectral
estudada foi de 4000-400 cm-1 com resolução de 4 cm-1.
3. Resultados e discussão 3.1. Cristalografia
A estrutura foi analisada por métodos diretos e aperfeiçoada através de cálculos do
bloqueio-matriz interativo, e o refinamento até que todos os parâmetros e sinais atômicos
foram menores do que os seus desvios padrão. Todos os átomos de H foram localizados em
áreas de considerações geométricas b (C-H = 0.93-0.98 Å) e refinado com uso de Uiso (H) =
1.2Ueq (C) ou 1.5Ueq (methyl C). Na diferença final no mapa de Fourier não há picos
superiores a 0.37 Å-3. Um diagrama Ortep3 da molécula é dado nas figuras 1, 2 e 3 mostrando
os principais dados e refinamentos da estrutura cristalina para o LPSF/GQ2.
Diferentes imagens de microscopia eletrônica de varredura do cristal LPSF/GQ2 são
também apresentadas na Fig.4
Fig.1. ORTEP-3 da molécula do LPSF/GQ2
73
Fig. 2. Diferentes projeções da molécula do LPSF/GQ2. O ângulo diedro entre os dois planos
passando pelos anéis é de 96°
Fig. 3. Empacotamento cristalino do LPSF/GQ2 visto em 2 projeções
74
Crystal data
C18H14ClNO2S F000 = 356
Mr = 343.81 Dx = 1.435 Mg m−3
Triclinic, P-1 Melting point: ? K
Hall symbol: Mo Kα radiation λ = 0.71073 Å
a = 4.6145 (3) Å Cell parameters from 32429 reflections
b = 11.5109 (6) Å θ = 1.0–27.5°
c = 15.3829 (7) Å µ = 0.38 mm−1
α = 91.126 (3)° T = 293 (2) K
β = 95.973 (3)° Cell measurement pressure: ? kPa
γ = 101.500 (4)° Prism, colorless
V = 795.66 (8) Å3 0.43 × 0.35 × 0.29 mm
Z = 5 3-(4-metil-benzil)-5-(4-cloro-benzilideno)-tiazolidina-2,4-diona (LPSF/GQ2)
Data collection
KappaCCD diffractometer
3445 independent reflections
Radiation source: Enraf Nonius FR590 3007 reflections with I > 2σ(I)
Monochromator: horizonally mounted graphite crystal
Rint = 0.023
Detector resolution: 9 pixels mm-1 θmax = 27.5°
T = 293 K θmin = 1.8°
P = ? kPa h = −5 5
CCD rotation images,thick slices scans k = −14 11
Absorption correction: none l = −19 19
8654 measured reflections
Refinement
75
Refinement on F2 Secondary atom site location: difference Fourier map
Least-squares matrix: full Hydrogen site location: inferred from neighbouring sites
R[F2 > 2σ(F2)] = 0.041 H-atom parameters constrained
wR(F2) = 0.108 w = 1/[σ2(Fo
2) + (0.0468P)2 + 0.3023P] where P = (Fo
2 + 2Fc2)/3
S = 1.04 (∆/σ)max < 0.001
3445 reflections ∆ρmax = 0.28 e Å−3
208 parameters ∆ρmin = −0.28 e Å−3
? constraints Extinction correction: none
Primary atom site location: structure-invariant direct methods
Distâncias Interatômicas (Å)
S1—C2 1.7505 (16) C8—C18 1.507 (3)
S1—C3 1.7691 (18) C9—C10 1.383 (3)
Cl1—C15 1.7381 (17) C9—H9 0.9300
N1—C3 1.377 (2) C10—H10 0.9300
N1—C1 1.389 (2) C11—C12 1.459 (2)
N1—C4 1.470 (2) C11—H11 0.9300
O1—C3 1.205 (2) C12—C17 1.388 (2)
O2—C1 1.2049 (19) C12—C13 1.395 (2)
C1—C2 1.488 (2) C13—C14 1.381 (2)
C2—C11 1.340 (2) C13—H13 0.9300
C4—C5 1.506 (2) C14—C15 1.369 (3)
C4—H4A 0.9700 C14—H14 0.9300
C4—H4B 0.9700 C15—C16 1.374 (3)
C5—C6 1.381 (2) C16—C17 1.382 (3)
C5—C10 1.382 (2) C16—H16 0.9300
C6—C7 1.381 (3) C17—H17 0.9300
C6—H6 0.9300 C18—H18A 0.9600
76
C7—C8 1.378 (3) C18—H18B 0.9600
C7—H7 0.9300 C18—H18C 0.9600
C8—C9 1.390 (3)
Ângulos Interatômicos (°)
C2—S1—C3 91.92 (8) C8—C7—C6 121.27 (16)
C3—N1—C1 116.91 (13) C7—C8—C9 117.80 (16)
C3—N1—C4 121.59 (14) C7—C8—C18 121.47 (17)
C1—N1—C4 121.48 (14) C9—C8—C18 120.73 (18)
O2—C1—N1 123.41 (14) C10—C9—C8 120.91 (17)
O2—C1—C2 126.50 (15) C5—C10—C9 120.93 (16)
N1—C1—C2 110.09 (13) C2—C11—C12 130.03 (15)
C11—C2—C1 120.85 (14) C17—C12—C13 117.68 (15)
C11—C2—S1 128.84 (13) C17—C12—C11 118.04 (15)
C1—C2—S1 110.30 (11) C13—C12—C11 124.28 (15)
O1—C3—N1 125.62 (17) C14—C13—C12 121.48 (17)
O1—C3—S1 123.74 (15) C15—C14—C13 119.22 (17)
N1—C3—S1 110.65 (12) C14—C15—C16 120.91 (16)
N1—C4—C5 112.33 (13) C14—C15—Cl1 119.52 (14)
C6—C5—C10 118.11 (16) C16—C15—Cl1 119.57 (14)
C6—C5—C4 120.65 (15) C15—C16—C17 119.67 (17)
C10—C5—C4 121.23 (15) C16—C17—C12 121.05 (16)
C5—C6—C7 120.97 (17)
Ângulos de Torção (°)
C3—N1—C1—O2 −176.84 (16) C5—C6—C7—C8 0.2 (3)
C4—N1—C1—O2 1.5 (2) C6—C7—C8—C9 −0.2 (3)
C3—N1—C1—C2 3.0 (2) C6—C7—C8—C18 179.98 (17)
C4—N1—C1—C2 −178.70 (13) C7—C8—C9—C10 −0.2 (3)
O2—C1—C2—C11 −5.3 (3) C18—C8—C9—C10 179.62 (17)
N1—C1—C2—C11 174.87 (15) C6—C5—C10—C9 −0.6 (3)
77
O2—C1—C2—S1 175.93 (14) C4—C5—C10—C9 −179.91 (16)
N1—C1—C2—S1 −3.91 (16) C8—C9—C10—C5 0.6 (3)
C3—S1—C2—C11 −175.63 (17) C1—C2—C11—C12 −178.26 (16)
C3—S1—C2—C1 3.02 (12) S1—C2—C11—C12 0.3 (3)
C1—N1—C3—O1 179.16 (18) C2—C11—C12—C17 −178.37 (18)
C4—N1—C3—O1 0.9 (3) C2—C11—C12—C13 2.1 (3)
C1—N1—C3—S1 −0.72 (19) C17—C12—C13—C14 0.3 (3)
C4—N1—C3—S1 −179.02 (12) C11—C12—C13—C14 179.79 (18)
C2—S1—C3—O1 178.68 (18) C12—C13—C14—C15 0.0 (3)
C2—S1—C3—N1 −1.44 (14) C13—C14—C15—C16 −0.4 (3)
C3—N1—C4—C5 99.00 (18) C13—C14—C15—Cl1 178.65 (16)
C1—N1—C4—C5 −79.22 (19) C14—C15—C16—C17 0.4 (3)
N1—C4—C5—C6 124.07 (16) Cl1—C15—C16—C17 −178.64 (17)
N1—C4—C5—C10 −56.7 (2) C15—C16—C17—C12 −0.1 (3)
C10—C5—C6—C7 0.2 (2) C13—C12—C17—C16 −0.3 (3)
C4—C5—C6—C7 179.52 (15) C11—C12—C17—C16 −179.81 (19)
Fig. 4. Eletromicrografias do cristal LPSF/GQ2 3.2. Difração de Raios X
78
A difração de raios X corresponde a uma das principais técnicas de caracterização
microestrutural de materiais. Os difratogramas do LPSF/GQ2, PVP, MF e as dispersões
sólidas nas diferentes proporções são apresentados na Figura 5.
O LPSF/GQ2 possui difratograma típico de uma estrutura cristalina com vários picos
característicos bem definidos de intensidade variada (Fig. 5a).
A comparação dos perfis de difração dos componentes puros (Fig. 5a e 5b) e o obtido
na MF (Fig. 5c) permitiram verificar a justaposição dos componentes isolados, com ligeira
atenuação dos picos cristalinos característicos do LPSF/GQ2 que estão associados a um
simples efeito de diluição.
Tabela 1. Picos de Intensidade do LPSF/GQ2 nas amostras de difração de raios X das dispersões sólidas nas diferentes proporções
Mudanças mais expressivas na cristalinidade do LPSF/GQ2, com diminuição da
intensidade de todos os picos característicos e/ou seu quase completo desaparecimento foram
verificadas nas dispersões sólidas, em suas diferentes proporções, de acordo com a seguinte
ordem: DS 3:7>DS 2:8>DS 1:9 (Tabela 1).
A intensidade do caráter amorfo das dispersões obtidas refletiu-se numa significativa
redução dos respectivos valores de GCR, sendo ainda mais significativo para a proporção
LPSF/:PVP 1:9 (Tabela 1).
Este comportamento pode ser atribuído à intensidade das forças das interações entre o
LPSF/GQ2 e o PVP no estado sólido, especialmente das ligações de hidrogênio, oriundo da
preparação a qual foram submetidos.
Pelo comportamento apresentado sugere-se que as interações intermoleculares são
mais intensas na proporção onde a concentração do polímero hidrofílico é mais alta.
2θ LPSF/GQ2: PVP
LPSF/GQ2 MF DS 3:7 DS 2:8 DS 1:9
5,7 2038 327 341 185 93 15,6 403 198 176 165 110 16,9 914 324 273 213 138 19,3 589 215 163 138 132 24,7 440 322 222 200 143 27,6 399 257 193 168 133
GCR Ref. 0,16 0,17 0,09 0,04
79
s X
Fig.5. Difratogramas dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c) MF 2:8; (d) DS 3:7; (e) DS 2:8; (f) DS 1:9
3.3. Análise Térmica
0 10 20 30 40 50
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
(a)
5,7
16,9
19,3
24,727,615,6
0 10 20 30 40 50
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100In
tens
idad
e (u
.a.)
2θ (°)
(d)
0 10 20 30 40 50
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
(c)
0 10 20 30 40 50
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
(e)
0 10 20 30 40 50
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
(f)
0 10 20 30 40 50
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ (°)
(b)
80
O LPFS/GQ2 possui pico endotérmico intenso e bem definido em 188,88 ºC, que
corresponde à temperatura do seu ponto de fusão (Fig. 6a).
Alguns autores assumem que a perda parcial da cristalinidade resulta do
enfraquecimento das ligações de hidrogênio intramoleculares preexistentes no fármaco
cristalino devido ao posterior estabelecimento de interações de hidrogênio intermoleculares
entre o fármaco e os polímeros carreadores.
O termograma apresentado para o sistema LPSF/GQ2:PVP 3:7 apresenta uma
diminuição da intensidade e um pequeno deslocamento para temperatura mais baixa
(180,13°C) do pico de fusão do LPSF/GQ2. Este comportamento é mais acentuado nas
demais proporções sugerindo que em concentrações maiores de LPSF/GQ2, as possíveis
interações com o polímero hidrofílico são de fraca intensidade.
O vestígio do pico de fusão do LPSF/GQ2 nos sistemas onde a sua concentração é
proporcionalmente menor (2:8 e 1:9) constitui uma indicação clara da existência de interações
mais intensas [18]. As ligações de hidrogênio entre o metilideno (>H-C=C) da tiazolidina e a
carbonila (C=O) do PVP podem ser responsáveis pelo comportamento apresentado nestes
termogramas (Fig 6e e 6f), atribuídas à formação de uma dispersão sólida amorfa [19].
Apesar de não existir uma certeza inequívoca que relacione a expressiva diminuição
do pico de fusão com a formação de finas dispersões sólidas, os resultados obtidos dão forte
indicações da ocorrência destas interações e estão em concordância com os resultados
previamente obtidos na difração de raios X. A aplicação de outras metodologias analíticas de
caracterização físico-química, tais como, microscopia eletrônica de varredura e infravermelho
serão abordadas na seqüência, juntamente com o estudo de modelagem molecular a fim de
confirmarem os resultados aqui obtidos.
81
Fig.6. Termograma de DSC dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c) DS
3:7; (d) DS 2:8; (e) DS 1:9
3.4. Microscopia eletrônica de varredura
100.00 200.00 300.00Temp [C]
-20.00
-10.00
0.00
mWDSC
50.59C 178.27 C
(d)
100.00 200.00 300.00Temp [C]
-20.00
-10.00
0.00
mWDSC
188.88C
(a)
100.00 200.00 300.00Temp [C]
-20.00
-10.00
0.00
mWDSC
53.86 C
(b)
100.00 200.00 300.00Temp [C]
-20.00
-10.00
0.00
mWDSC
49.72C 180.13 C
(c)
100.00 200.00 300.00Temp [C]
-20.00
-10.00
0.00
mWDSC
51.80C 151.16 C
(e)
82
O LPSF/GQ2 existe na forma de cristais no seu estado natural (Fig. 4, 7a), conforme
estudo de cristalografia e difração de raios X anteriormente apresentados.
A microscopia eletrônica de varredura é uma ferramenta de elevada importância para
observação dos aspectos morfológicos microscópicos dos componentes singulares e seus
respectivos sistemas [20, 21].
Na mistura física notou-se a presença de cristais de LPSF/GQ2 misturados ou
adsorvidos na superfície do polímero PVP (Fig. 7c) não revelando, aparentemente, nenhum
tipo de interação entre os constituintes. Entretanto, nas dispersões sólidas a morfologia
cristalina original do LPSF/GQ2 (Fig. 7a) e a morfologia esférica amorfa do PVP (Fig. 7b)
foram modificadas gradativamente na razão inversa da concentração do LPSF/GQ2 nos
diferentes sistemas binários. As eletromicrografias das dispersões sólidas indicam a formação
de pequenos agregados de pedaços amorfos com tamanho e morfologia irregular. É possível,
entretanto, distinguir nas dispersões sólidas 3:7 (Fig. 7d) a presença de alguns cristais de
LPSF/GQ2 à superfície destes agregados.
A completa perda da morfologia original foi evidenciada nas dispersões 2:8 e 1:9 (Fig.
7e e 7f) respectivamente, onde existe uma nova e única fase sólida, com características
amorfas sem vestígios do estado cristalino natural do LPSF/GQ2.
83
Fig.7. Eletromicrografias dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c) MF 2:8;
(d) DS 3:7; (e) DS 2:8; (f) DS 1:9
3.5. Modelagem molecular de interações droga-polímero
A energia intermolecular ∆E calculada para o complexo PVP·LPSF/GQ2 foi de 12,2
kJ.mol-1, mostrando uma significante estabilidade da interação entre o metilideno (>H-C=C)
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
84
da molécula LPFS/GQ2 e a carbonila (C=O) do monômero PVP. Este complexo apresenta
também uma distância de ligação de hidrogênio de 2,32 Å.
A Figura 8 ilustra a geometria otimizada obtida para o complexo de hidrogênio
PVP·LPSF/GQ2.
Fig.8. Geometria otimizada obtida para os complexos de hidrogênio PVP⋅⋅⋅LPSF/GQ2 usando
resultados do cálculo B3LYP/6-31G (d,p). O valor apresentado nesta figura representa a
distância da ligação de hidrogênio, em Ångstrons
3.6. Espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier
O espectro de infravermelho do LPSF/GQ2 apresenta uma série de bandas
características da sua estrutura molecular. Entretanto, baseado nos estudos de modelagem
molecular abordados anteriormente, onde foi observada a presença de interações do tipo
ligação de hidrogênio entre o metileno (>H-C=C) do LPSF/GQ2 e a carbonila (C=O) do PVP,
apenas serão abordadas as respectivas regiões espectrais que evidenciam tais interações.
A freqüência de absorção para o metileno (>H-C=C) do LPSF/GQ2 não complexado,
apresenta uma banda intensa na região de aproximadamente 1604 cm-1 (Fig. 9a). De acordo
com os resultados obtidos, estes estiramentos são gradativamente modificados nas diferentes
proporções dos sistemas LPSF/GQ2:PVP, onde observamos uma nítida diminuição na
intensidade da freqüência de absorção da dupla ligação do metileno nos sistemas 3:7 e 2:8
(Fig. 9d e 9e) e seu desaparecimento no sistema 1:9. Este fenômeno ocorreu provavelmente
devido as interações químicas do LPSF/GQ2 e o polímero hidrofílico.
85
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
(a)
1604
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência (cm-1 )
(d)
1607
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
(c)
Frequência (cm-1)
1605
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
(b)
Freqência (cm-1)
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
(e)
Frequência (cm-1)
1610
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência (cm-1 )
(f)
Fig. 9. Espectros de IV dos sistemas LPSF/GQ2:PVP: (a) LPSF/GQ2; (b) PVP; (c) MF 2:8; (d) DS 3:7; (e) DS 2:8; (f) DS 1:9
86
4. Conclusões
A caracterização físico-química e a modelagem molecular são ferramentas
imprescindíveis nos estudos preliminares das dispersões sólidas.
Importantes modificações nas propriedades físico-químicas do LPSF/GQ2 foram
detectadas em todos os métodos de caracterização aplicados. A presença de interações
intermoleculares do tipo ligação de hidrogênio nos sistemas LPSF/GQ2:PVP, são
responsáveis pela formação de uma nova fase sólida com características amorfas de reduzido
tamanho de partículas. Isto constitui uma forte evidência da formação de finas dispersões
sólidas, especialmente onde a concentração do polímero hidrofílico é alta. Assim, a redução
do tamanho das partículas, que conseqüentemente levará ao aumento da área superficial de
contato; e uma vez que as formas amorfas possuem normalmente solubilidade e velocidade de
dissolução mais elevadas que as formas cristalinas indicam que o uso de polímeros
hidrofílicos, tais como o PVP, em sistemas de dispersão sólida podem potencialmente
melhorar a solubilidade do LPSF/GQ2.
5. Referências
[1] J.M. Olefsky, A. Saltiel. RPPAR gamma and the treatment of insulin resistance.
Trends Endocrinol Metab. 11 362-368 (2000). [2] J. A Balfour, G. L. Plosker. Rosilgitazone. Drugs. 57, 921-930 (1999). [3] G.L Plosker, D. Faulds. Troglitazone: a review of its use in the management of type 2
diabetes mellitus. Drugs. 57 409-438 (1999). [4] R.H. V. Mourão, T.G Silva, A.L.M. Soares, E.S. Vieira, J.N. Santos, M.C.A. Lima,
V.L.M. Lima, S.L Galdino, J. Barbe, I.R. Pitta. Synthesis and biological activity of novel acridinylidene and benzylidene thiazolidinediones. Eur. J. Med. Chem. . 40, 1129-1133 (2005).
[5] R.H.V. Mourão. Síntese, Modelagem Molecular e Atividade Hipoglicemiante de Novas Arilideno-Tiazolidinadionas. Tese de Doutorado em Ciências Biológicas -UFPE. (2006).
[6] T. Loftsson, D. Hreinsdóttir, M. Másson. Evaluation of cyclodextrin solubilization of drugs. Int. J. Pharm. 302, 18-28 (2005).
[7] W.L Chiou, S. Riegelman. Absorption characteristics of solid dispersed and micronized griseofulvin in man. Journal Pharmaceutical Science. 60, 1376-1380 (1971).
[8] O. J. Corrigan, C. A. Murphy, R. F. Timoney. Dissolution properties of polyethyleneglycols and polyethyleneglycol-drug systems. Int. J. Pharm. 4, 67-74 (1979).
[9] Enraf-Nonius COLLECT; Nonius BV: Delft, The Netherlands (1997). [10] Z. Otwinowski and W. Minor, in: C.W. Carter, R.M. Sweet (Eds.), HKL Denzo
and Scalepack, vol. 276, Academic Press, New York. 307-326 (1997).
87
[11] G.M. Sheldrick, SHELXS-97 and SHELXL-97. Program for Crystal Structure Resolution and Program for Crystal Structures Analysis; University of Göttingen, Göttingen, Germany. (1997).
[12] L.J. Farrugia, J. Appl. Cryst. 30 565 (1997). [13] L.J. Farrugia, WinGX. An Integrate System of Windows Programs for the
Solution, Refinement and Analysis of Single Crystal X-ray Diffraction Data, University of Glasgow. (1997).
[14] A. Figueiras, L. Ribeiro, M.T. Vieira, F.J.B. Veiga. Preparation and physicochemical characterization of omeprazole:methyl-beta-cyclodextrin inclusion complex in solid state. J. Incl. Phenom. Macrocycl. Chem. 57, 173-177 (2007).
[15] M. J. Frisch, G. W. Trucks, H. B. Schlegel, G. E. Scuseria, M. A. Robb, J. R. Cheeseman, J. A. Montgomery, J., T. Vreven, K. N. Kudin, J. C. Burant, J. M. Millam, S. S. Iyengar, J. Tomasi, V. Barone, B. Mennucci, M. Cossi, G. Scalmani, N. Rega, G. A. Petersson, H. Nakatsuji, M. Hada, M. Ehara, K. Toyota, R. Fukuda, J. Hasegawa, M. Ishida, T. Nakajima, Y. Honda, O. Kitao, H. Nakai, M. Klene, X. Li, J. E. Knox, H. P. Hratchian, J. B. Cross, V. Bakken, C. Adamo, J. Jaramillo, R. Gomperts, R. E. Stratmann, O. Yazyev, A. J. Austin, R. Cammi, C. Pomelli, J. W. Ochterski, P. Y. Ayala, K. Morokuma, G. A. Voth, P. Salvador, J. J. Dannenberg, V. G. Zakrzewski, S. Dapprich, A. D. Daniels, M. C. Strain, O. Farkas, D. K. Malick, A. D. Rabuck, K. Raghavachari, J. B. Foresman, J. V. Ortiz, Q. Cui, A. G. Baboul, S. Clifford, J. Cioslowski, B. B. Stefanov, G. Liu, A. Liashenko, P. Piskorz, I. Komaromi, R. L. Martin, D. J. Fox, T. Keith, M. A. Al-Laham, C. Y. Peng, A. Nanayakkara, M. Challacombe, P. M. W. Gill, B. Johnson, W. Chen, M. W. Wong, C. Gonzalez, Pople, J.A.: Gaussian 03. Gaussian, Inc., Wallingford CT. (2004).
[16] McQuarrie, D.A.: Estatística Termodinâmica. Harper e Row. New York (1973). [17] S.B. Boys,F. Bernardi. Mol. Phys. 19, 553-566 (1970 ). [18] E. Karavas, G. Ktistis, A. Xenakis, Georgarakis, E.: Effect of hydrogen bonding
interactions on the release mechanism of felodipine from nanodispersions with polyvinylpyrrolidone. Eur. J. Pharm. Biopharm. 63, 103-114 (2006).
[19] D. Bikiaris, G.Z. Papageorgiou, A. Stergiou, E. Pavlidou, E. Karavas, F. Kanaze, Georgarakis, M.: Physicochemical studies on solid dispersions of poorly water-soluble drugs Evaluation of capabilities and limitations of thermal analysis tecniques. Thermochimica Acta. 439, 58-67 (2005).
[20] T. Pralhad, K. Rajendrakuma. Study of freeze-dried quercetin-cyclodextrin binary systems by DSC, FT-IR, X-ray diffraction and SEM analysis. J. Pharm. Biomed. Anal. 34, 333-339 (2004).
[21] R. Ficarra, P. Ficarra, M.R. Di Bella, D. Raneri, S. Tommasini, M.L. Calobrò, M.C. Gamberini,C. Rustichelli. Study of β-blockers/β-cyclodextrins inclusion complex by NMR, DSC, X-ray and SEM investigation. J. Pharm. Biomed. Anal. 23, 33-40 (2000).
CAPÍTULO IIICAPÍTULO IIICAPÍTULO IIICAPÍTULO III
89
Complexos de Inclusão para derivado benzilideno imidazolidínico com 2-hidroxipropil-β-ciclodextrina e 2-O-metil-β-ciclodextrina no
estado sólido
Inclusion complexes of the derivative benzylidene imidazolinidine by 2-hydroxypropyl-β-cyclodextrin and 2-O-methyl-β-cyclodextrin in
solid-state
Francimary L.Guedes1-2, Maria do Carmo A. Lima2 , Ivan R. Pitta2, Suely L. Galdino2, Francisco J. B.Veiga3, Pedro J. Rolim Neto 1*
1Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos - LTM –UFPE - Brasil
2Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos - LPSF – UFPE - Brasil 3Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade de
Coimbra - Portugal Resumo Uma imidazolidinadiona, 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona
(LPSF/FZ4) com potencial terapêutico para o tratamento da esquistossomose apresenta
solubilidade aquosa e taxa de dissolução extremamente baixas, que dificultam sua absorção.
Foram realizados estudos do efeito das ciclodextrinas hidrofílicas 2-hidroxipropil-β-
ciclodextrina e 2-O-metil-β-ciclodextrina na solubilidade do LPSF/FZ4, a fim de selecionar a
ciclodextrina mais adequada a ser usada nas formulações. As possíveis interações entre o
LPSF/FZ4 e as ciclodextrinas, devido à formação de complexos de inclusão, foram
caracterizadas através de diferentes metodologias analíticas tais como: método de solubilidade
de fases, difração de raios X, calorimetria diferencial exploratória, espectroscopia de
infravermelho com transformada de Fourier e a microscopia eletrônica de varredura. Estudos
de dissolução em pH gástrico artificial indicaram uma substancial melhoria das propriedades
de dissolução do LPSF/FZ4, a partir dos complexos de inclusão formados. Os dados obtidos
sugerem que a 2-O-metil-β-ciclodextrina é a ciclodextrina mais indicada para as formulações,
uma vez que apresentou melhores resultados no aumento da solubilidade e taxa de dissolução
do LPSF/FZ4.
Palavras-Chave: 3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona;
Ciclodextrinas; Complexos de inclusão; Dissolução; Solubilidade
90
Abstract An imidazolidinedione, 3-(4-cloro-benzyl)-5-(4-nitro-benzylidene)-imidazolidine-2,4-dione
(LPSF/FZ4) with potential schistosomacide activity, exhibits an extremely low aqueous
solubility and dissolution rate, which difficult its absorption. Studies of the effect of
hydrophilic cyclodextrins 2-hidroxipropil-β-ciclodextrina and 2-O-metil-β-ciclodextrina on
the solubility of the LPSF/FZ4 were performed to select the adequate cyclodextrin to be used
in the formulations. The possible interactions between this compound and the cyclodextrins,
due to the formation of inclusion complexes, were characterized by different analytical
methods, such as: phase solubility method, X-ray diffraction, differential scanning
calorimetry, Fourier transform-infrared, and scanning electron microscopy. Studies of
dissolution in pH artificial gastric indicated an important improvement of the properties of
dissolution of the LPSF/FZ4, starting from the inclusion complexes formed. The data
obtained suggest that the 2-O-metil-β-ciclodextrin is the most indicated cyclodextrin to be
used for the formulations, once it presented better results in the increase of the solubility and
dissolution rate of the LPSF/FZ4.
Keywords: 3-(4-cloro-benzyl)-5-(4-nitro-benzylidene)-imidazolidine-2,4-dione;
Cyclodextrins; Inclusion complexes; Dissolution; Solubility
___________________________________ * Endereço para Correspondência: Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos – LTM. Departamento de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. Av. Prof. Arthur de Sá S/N, Cidade Universitária, Recife-PE. 50740-521. Tel/Fax (81) 3272-1383. E-mail: [email protected]
91
1. Introdução
3-(4-cloro-benzil)-5-(4-nitro-benzilideno)-imidazolidina-2,4-diona (LPSF/FZ4),
sintetizado no Laboratório de Planejamento e Síntese de Fármacos - LPSF do Departamento
de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco teve sua estrutura química idealizada
a partir do niridazol, fármaco utilizado no passado no combate a esquistossomose (Fig.1).
O LPSF/FZ4 cuja atividade esquistossomicida foi testada por Oliveira et al [1], faz
parte de uma quimioteca de análogos imidazolidinônicos potencialmente bioativos. As
variações estruturais conferem novas propriedades físico-químicas e alteram a reatividade de
uma molécula. O efeito produzido pela modificação estrutural na atividade biológica dos
derivados imidazolidínicos tem sido objeto de grande interesse [2].
Fig. 1 – Derivados imidazolidinônicos
O sucesso no desenvolvimento de novos fármacos requer não apenas estudos da
otimização da rota sintética ou de suas interações ligante-receptor, é necessário também que o
fármaco atinja seu alvo. Para que a absorção do fármaco ocorra é necessário que as suas
moléculas estejam em solução no local de absorção. A dissolução da forma farmacêutica
sólida nos fluidos gastrintestinais é um pré-requisito para que ocorra a absorção seguida da
distribuição do fármaco para a circulação sistêmica [3]. O LPSF/FZ4, assim como, 35-40% de
todos os novos compostos, possui solubilidade em água limitada (S<1µg/mL) e certamente
apresentará subseqüentes problemas para alcançar níveis sanguíneos terapeuticamente
relevantes.
O aumento da solubilidade, da taxa de dissolução e da biodisponibilidade de fármacos
pouco solúveis é um dos mais desafiantes aspectos no desenvolvimento moderno de fármacos
[4]. Portanto, há uma urgente necessidade de se encontrar soluções para a formulação desses
fármacos pouco solúveis. Estas novas técnicas de formulação devem ser, preferencialmente,
S
N
O2N
NNC H
O
NIRIDAZOL LPSF/FZ4
NC
NCH2
O
O
Cl
H
CH
O2N
92
aplicadas para qualquer fármaco pouco solúvel, independente de sua estrutura química e
dimensão molecular espacial [5].
As Ciclodextrinas (CD) são conhecidas como moléculas hospedeiras típicas, sendo as
moléculas encapsuladas designadas por moléculas hóspedes. Desta associação resultam os
complexos de inclusão, sem o estabelecimento de ligações covalentes, que originam
determinadas modificações nas propriedades físicas, químicas e biológicas da molécula
incluída, melhorando a dissolução em meio aquoso de compostos de baixa solubilidade.
Através dos complexos de inclusão do LPSF/FZ4 com a 2-hidroxipropil-β-
ciclodextrina (HPβCD) e a 2-O-metil-β-ciclodextrina (MβCD), nosso trabalho objetivou
investigar os efeitos das técnicas de formulação e ação destes derivados das ciclodextrinas
naturais, a fim de selecionar a técnica e o carreador mais adequado que melhore a
solubilidade, a taxa de dissolução e consequentemente a biodisponibilidade extremamente
baixas do LPSF/FZ4.
2. Material e Métodos 2.1. Material
Neste estudo foram utilizados o LPSF/FZ4, as ciclodextrinas HPβCD (Kleptose®
HPB) e MβCD (Kysmeb®) fornecidas pelo fabricante Roquette e demais reagentes de grau
analítico PA.
2.2. Estudo de Solubilidade de Fases
O estudo de solubilidade de fases foi realizado segundo o método descrito por Higuchi
e Connors [6]. Quantidades em excesso de LPSF/FZ4 (30 mg) foram adicionados a 10 mL de
soluções aquosas com concentrações crescentes de HPβCD (0 a 200 mM) e MβCD (0-50
mM). As suspensões obtidas foram submetidas à agitação durante 14 dias à 25ºC para
estabelecimento do equilíbrio das amostras. Posteriormente, foram filtradas através de filtros
de nylon 0,45 µm (Millipore® HA), diluídas e quantificadas por espectroscopia (UV-1603,
Shimadzu) a 350 nm. As constantes de estabilidade KS dos complexos de inclusão, foram
calculadas a partir dos diagramas de solubilidade de fases, através de seguinte equação (Fig.
2):
93
Declive KS= S0 (1- Declive)
Fig. 2. Equação de Higuchi e Connors
Onde S0 representa a solubilidade do LPSF/FZ4 na ausência de CD, e o declive da reta foi
obtido por análise de regressão linear.
2.3. Preparação dos complexos no estado sólido
Os sistemas binários LPSF/FZ4:HPβCD e LPSF/FZ4:MβCD foram preparados numa
relação molar fármaco:CD de 1:1, por aplicação de três métodos diferentes (malaxagem, co-
evaporação e secagem por pulverização) seguidamente descritos, de forma detalhada, além
das suas misturas físicas nas mesmas proporções.
2.3.1. Mistura Física (MF)
Misturas físicas equimolares foram preparadas em gral de porcelana, com auxílio de
pistilo, de acordo com o método de diluição geométrica, pela combinação do LPSF/FZ4 e da
respectiva CD rigorosamente pesados. A mistura foi posteriormente tamisada em malha de
200 µm e acondicionada em frasco ampola.
2.3.2. Malaxagem (ML)
A partir de uma mistura física equimolar, os produtos malaxados foram preparados
pela adição de pequenos volumes de uma solução etanol:água (30:70, v/v), sob trituração
contínua até à obtenção de uma pasta. Utilizou-se aproximadamente uma quantidade de
solução hidroalcoólica correspondente a 30% da massa total da mistura física. A malaxagem
do produto pastoso prosseguiu durante 60 minutos, sendo adicionadas durante este processo,
pequenas quantidades do solvente de malaxagem, de forma a manter a consistência adequada
da pasta. O produto malaxado, depois de seco em estufa à 40ºC durante 48h, foi tamisado em
malha de 200 µm e acondicionado em frasco ampola.
94
2.3.3. Co-evaporação (CO)
Quantidades equimolares de LPSF/FZ4 e respectiva CD devidamente pesados, foram
solubilizados numa solução etanol:água (60:40, v/v) e aproximadamente 2 mL de amônia a
37% [7], sob agitação magnética contínua durante 72h. Após este período a solução límpida
resultante foi submetida à evaporação sob pressão reduzida (-800 ± 20 mbar) a 50 ± 5ºC em
evaporador rotativo (Heidolph-Laborota 4001). O produto co-evaporado depois de seco em
estufa à 40 ºC foi tamisado em malha de 200 µm e acondicionado em frasco ampola.
2.3.4. Secagem por Pulverização (SP)
Quantidades equimolares de LPSF/FZ4 e respectiva CD devidamente pesados, foram
solubilizados numa solução etanol:água (60:40,v/v) e aproximadamente 2 mL de amônia a
37% [7], sob agitação magnética contínua durante 72h. A solução resultante foi seca por
pulverização, em Spray-dryer (Labplant SDO5), sob as seguintes condições: temperatura de
entrada: 145 ºC; temperatura de saída: 46 ºC; velocidade do fluxo de ar: 50 m3/h; velocidade
do fluxo da solução: 490 mL/h; pressão de ar de pulverização: 0,1 MPar. Os sólidos
resultantes foram tamisados em malha de 200 µm e acondicionados em frasco ampola.
2.4. Difração de Raios X
Os difratogramas foram obtidos num difratômetro SIEMENS (X-Ray Diffractometer,
modelo D-5000), equipado com anodo de cobre. As amostras foram analisadas no intervalo de
ângulo 2θ de 5-50º.
2.5. Análise Térmica
As análise de DSC das amostras foram realizadas num calorímetro de varredura
diferencial Shimadzu DSC-50 System (Shimadzu, Kyoto, Japan), com amostras de 2 mg em
cápsulas de alumínio, aquecidas entre 25-300ºC a uma velocidade de aquecimento de
10°C.min-1 , sob fluxo de nitrogênio de 10 cm3.min-1.
95
2.6. Espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier
Os espectros foram obtidos em um espectrômetro (Burker FT-IR / IFS 66), formulados
em pastilhas de KBr, contendo 1mg da amostra para 100 mg de KBr. A região espectral
estudada foi de 4000-400 cm1 com resolução de 4 cm-1.
2.7. Estudo de Dissolução A dissolução do LPSF/FZ4 e dos complexos formados foi realizada em um dissolutor
Varian VK 7010 de acordo com o método preconizado pela Farmacopéia Brasileira e a
Farmacopéia Americana USP [8, 9].
Quantidades de misturas físicas e complexos de inclusão equivalentes a 8 mg de
LPSF/FZ4 foram cuidadosamente pesadas. Os ensaios foram realizados a temperatura de 37 ±
0,5 ºC, utilizando 900 mL da solução tampão de ácido clorídrico (pH = 1,2) contendo 1% de
lauril sulfato de sódio em cada cuba de dissolução, usando o aparato 2 (pá) com velocidade de
rotação de 75 rpm. A quantificação do teor de LPSF/FZ4 dissolvido foi posteriormente
determinada por espectroscopia UV a 350 nm, em intervalos de tempo predeterminados de 15
minutos, durante 2 horas. Todos os ensaios foram efetuados em triplicata. A eficiência de
dissolução aos 60 min (ED60min) foi avaliada e calculada através da razão entre a área sob a
curva de dissolução do LPSF/FZ4 no intervalo de tempo compreendido entre zero e 60
minutos (ASC 0-60minutos) e a área total do retângulo (ASCTR) definido pela ordenada (100% de
dissolução) e pela abscissa (tempo igual a 60 minutos).
3. Resultados e discussão 3.1. Estudo de Solubilidade de Fases
Observou-se nos dois casos o aumento linear da solubilidade do LPSF/FZ4 em função
do aumento da concentração das ciclodextrinas, dentro do intervalo de concentração estudado.
Esta relação linear, hóspede-hospedeiro, sugere a formação de complexos solúveis de
primeira ordem molecular relativamente à concentração de CD, correspondendo a um
diagrama do tipo AL, podendo-se assumir uma estequiometria 1:1 [6].
A magnitude da constante Ks varia geralmente entre 0 e 105 M-1 [10-12]. Os valores
das constantes de estabilidade obtidos para a HPβDC e a MβCD foram Ks = 589,84 M-1 e
96
959,45 M-1, respectivamente. Isto sugere uma maior afinidade de complexação da MβDC pelo
LPSF/FZ4 do que a HPβCD, e a formação de complexos mais estáveis com àquela CD [13].
Os diagramas obtidos para os sistemas LPSF/FZ4:HPβDC e LPSF/FZ4:MβCD estão
representados na Figura 3.
Fig. 3. Diagrama de Solubilidade de Fases do LPSF/FZ4 em função da concentração das ciclodextrinas, em solução aquosa a 25 ºC
3.2. Difração de Raios X
Os difratogramas dos sistemas binários entre as ciclodextrinas HPβDC (Fig.4.) e
MβDC (Fig.5.) evidenciam mudanças expressivas na cristalinidade do LPSF/FZ4, com
diminuição da intensidade de alguns picos e/ou seu completo desaparecimento.
O perfil de difração das misturas físicas para as duas CD apresentou-se praticamente
como a sobreposição dos difratogramas do LPSF/FZ4 puro e as respectivas CDs.
O difratograma do LPSF/FZ4:HPβDC malaxado, não apresentou diferença
significativa em relação a sua mistura física. Entretanto, nos sistemas LPSF/FZ4:MβDC
malaxado e co-evaporado o perfil de difração apresenta grandes mudanças, envolvendo o
surgimento de novos picos comparados à mistura física. Tal fenômeno pode ser explicado
pela habilidade em formar cristais que não está totalmente bloqueada na MβDC, devido à
distribuição dos seus poucos grupamentos metila. Ao contrário da HPβDC cuja habilidade em
formar cristais está completamente bloqueada devido à distribuição ramdômica de múltiplos
Diagrama de Fases
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
0,300
0,350
0 50 100 150 200
Ciclodextrinas (mM)
LP
SF
/FZ
4 (
mM
)
HPBCD
MBCD
97
(a) (a) (b)
(b)
(c) (c) (d) (d) (e) (e) (f ) (f)
0 10 20 30 40 50
2θ (°)
0 10 20 30 40 50
Fig. 4. Difratogramas dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) HPβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
Fig. 5. Difratogramas dos sistemas LPSF/FZ4:MβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) MβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
98
grupamentos hidroxi-propil [14].
Os produtos obtidos através de secagem por pulverização, nas duas CD, apresentam
completa redução da cristalinidade, cujo padrão de difração revela uma natureza amorfa da
nova fase sólida, podendo sugerir a formação de verdadeiros complexos de inclusão no estado
sólido [15].
3.3. Análise Térmica
O comportamento térmico apresentado pelo LPFS/FZ4 é característico de um
composto cristalino, com pico endotérmico intenso e bem definido em 227 ºC, que
corresponde à temperatura do seu ponto de fusão. Os termogramas das duas CD (HPβDC e
MβDC) apresentam efeito endotérmico alargado entre 45-100 ºC associado à liberação da
água de cristalização da CD [16].
Para as MF, o termograma da HPβDC apresentou a combinação sobreposta da análise
térmica individual de cada componente (Fig. 6c). Comportamento semelhante foi observado
para a MF da MβDC. No entanto, para esta ciclodextrina, observa-se um pequeno
deslocamento para temperaturas mais baixas (225 ºC) do pico de fusão do LPSF/FZ4, além da
diminuição de sua intensidade, sugerindo e existência de uma fraca interação conseqüente à
ativação mecânica durante a preparação ou durante o aquecimento [17, 18].
Uma expressiva diminuição na intensidade e deslocamento (218 ºC) do pico de fusão
do LPSF/FZ4 é observada no sistema malaxado com a MβDC. Esta alteração é menos
evidente no caso da HPβDC, muito provavelmente devido à formação de uma pasta muito
viscosa, de difícil manipulação, apresentada por esta CD durante a manipulação. Alguns
autores evitam o uso da técnica de malaxagem na preparação de complexos de inclusão com
esta ciclodextrina [19].
O termograma de DSC do sistema binário LPFS/FZ4:MβDC co-evaporado apresentou
um comportamento singular pela presença de um pico endotérmico extra (224 e 216 ºC) que
muito provavelmente está associado à formação de uma nova forma cristalina LPSF/FZ4-CD,
peculiar à MβDC, sugerida na difração de raios X.
O desaparecimento completo do pico de fusão do LPFS/FZ4 associado a uma
expressiva alteração no pico característico da desidratação da MβDC na técnica de secagem
por pulverização, constitui uma forte indicação da existência de interações intermoleculares
mais estáveis, envolvendo o LPSF/FZ4 e os grupamentos hidroxílicos da MβDC, sugerindo a
formação de um verdadeiro complexo de inclusão [20, 21].
99
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
0 50 100 150 200 250 300
Temperatura ºC
(a)
(c)
(d) (d)
(c)
(e)
En
d oté
r mic
o
Fig. 6. Termograma de DSC dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) HPβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
(f)
0 50 100 150 200 250 300
Temperatura ºC
(a)
(b)
Fig. 7. Termograma de DSC dos sistemas LPSF/FZ4:MβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) MβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
(f)
(b)
(e)
100
Apesar da presença sutil do pico de fusão do LPFS/FZ4 no sistema LPFS/FZ4:HPβDC
através da mesma técnica, não se pode concluir, inequivocamente, a “não” formação do
complexo de inclusão, uma vez que seu difratograma sugere exatamente o contrário!
3.4. Espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier
Através desta metodologia, pode-se avaliar a ocorrência de interações e a formação de
complexos de inclusão entre diferentes moléculas no estado sólido. Os espectros de
infravermelho são apresentados nas figuras 8 e 9.
Nos espectros obtidos, tornou-se difícil observar a banda característica (3190 cm-1) do
grupo amida (>NH) do LPSF/FZ4, devido a uma diminuição significativa da sua intensidade e
a sobreposição de bandas de forte intensidade, localizadas entre 3410-3350 cm -1,
correspondentes à vibração de distensão dos grupos –OH das duas CD.
A diminuição das intensidades das bandas características do LPSF/FZ4 apresentadas
nas misturas físicas foi atribuída a uma quantidade proporcionalmente inferior de LPSF/FZ4
nas pastilhas de brometo de potássio dos sistemas binários.
Nos espectros dos sistemas obtidos por malaxagem, co-evaporação e secagem por
pulverização, a banda característica do grupo carbonilo (C=O) do LPSF/FZ4 sofreu
significativa diminuição de intensidade, principalmente usando a técnica da secagem por
pulverização para ambas CD. De modo simultâneo, as bandas características dos grupos –OH
da HPβDC e da MβDC apresentam estiramento e desvio para freqüências mais baixas,
sugerindo a formação de ligações de hidrogênio intermoleculares entre o grupo carbonilo
(C=O) do LPSF/FZ4 e os grupos hidroxílicos (-OH) das cavidades das CD, o que constitui
uma evidência da complexação [22, 23].
As bandas atribuídas à região dos aromáticos (900-675 cm-1) também sofreram uma
diminuição considerável de intensidade, sugerindo a ocorrência de uma modificação no
ambiente eletroquímico desta região, devido à inclusão monomolecular do LPSF/FZ4 no
interior da cavidade das DCs.
101
Fig. 8. Espectros de IV dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) HPβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
(b)
3410
(c)
3351
(d)
3379
(f)
3379
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
(a)
3190
1770-1720
900-675
(e)
3381
102
(c)
3406
(b)
3408
(d)
3382
(f)
3379
Fig. 9. Espectros de IV dos sistemas LPSF/FZ4:MβDC: (a) LPSF/FZ4; (b) MβDC; (c) MF; (d) ML; (e) CO; (f) SP
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Frequência ( cm-1 )
(a)
3190
1770-1720
900-675
(e)
3406
103
3.6. Estudo de Dissolução
Os perfis de dissolução dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC e LPFS/FZ4:MβDC no suco
gástrico artificial (pH 1,2) estão representados na figura 10.
Como pôde ser observado, não ocorreu uma completa dissolução do LPSF/FZ4 nas
diferentes preparações, após o período total de duração do ensaio (120 min). Os valores
obtidos da eficiência de dissolução (ED60min%) (Fig. 11) para a primeira hora de ensaio,
possibilitam inferir que: os melhores perfis de dissolução são conferidos ao LPSF/FZ4 nos
sistemas obtidos através da secagem por pulverização e malaxado envolvendo a MβDC,
estando em concordância com o valor da constante de estabilidade obtido para esta
ciclodextrina no estudo de solubilidade de fases; a taxa de dissolução para os sistemas obtidos
é maior na seguinte ordem: MF<ML<CO<SP para a HPβDC e MF<CO<ML<SP para a
MβDC; o aumento quantitativo da eficiência de dissolução do LPSF/FZ4 (ED60min% 4,02 ±
0,25) alcança valores superiores a quatro vezes no sistema de secagem por pulverização com a
HPβDC (ED60min% 17,44 ± 0,26) e superiores a seis vezes para a MβDC (ED60min% 24,95 ±
0,18) no mesmo sistema.
Fig. 10. Perfis de dissolução do LPSF/FZ4 e dos sistemas LPSF/FZ4:HPβDC (a) LPSF/FZ4:MβDC (b) em suco gástrico artificial (pH 1,2) contendo 1% de lauril sulfato de sódio
0 30 60 90 1200
10
20
30
40
50
60
70
% L
PS
F/F
Z4
diss
olvi
do
Tempo (min)
LPSF/FZ4 MF ML CO SP
(a)
0 30 60 90 1200
10
20
30
40
50
60
70
%LP
SF
/FZ
4 di
ssol
vido
Tempo (min)
LPSF/FZ4 MF ML CO SP
(b)
104
O aumento do parâmetro ED60min% apresentado pelas misturas físicas e o sistemas
malaxados de ambas as CD em relação ao LPSF/FZ4 puro, pode ser atribuído ao aumento da
sua solubilidade e/ou molhabilidade na presença das ciclodextrinas devido à ação local , ao
nível do microambiente da camada hidrodinâmica que imediatamente se forma após a
dissolução das CDs, no início do processo de dissolução. Além disso, existe a possibilidade
de rápida formação in situ de complexos solúveis no meio de dissolução, pela inclusão da
molécula hóspede na cavidade das CDs ou através de interações com os grupos exteriores das
CDs (complexos outer spheres) [24-26].
É preciso também salientar que o aumento expressivo da dissolução observado para o
sistema malaxado com a MβDC sugere que o grau de cristalinidade não pode ser tido como
razão exclusiva que justifique as mudanças de solubilidade e dissolução destes complexos de
inclusão [27], uma vez que, o difratograma deste sistema indicou a presença de uma nova fase
cristalina que, neste caso, não comprometeu a dissolução do LPSF/FZ4.
Fig. 11. Percentual de Eficiência de Dissolução (ED60min %) em 60 minutos
Eficiência de Dissolução %
0
5
10
15
20
25
% E
D 60
min
LPSF/FZ4 4,02 4,02 4,02 4,02
HPBCD 7,54 10,77 12,55 17,44
MBCD 8,97 22,25 16,61 24,95
1 2 3 4 MF ML CO SP
105
4. Conclusões
A partir dos resultados deste estudo, pode-se demonstrar a capacidade de formação de
complexos de inclusão com o LPFS/FZ4, com uma estequiometria de 1:1. O complexo
formado com a MβDC, pela técnica de secagem por pulverização, apresentou-se como a
melhor opção para o aumento da solubilidade aquosa e a taxa de dissolução do LPSF/FZ4, os
quais constituem fatores que limitam a sua absorção.
Apesar da MβDC apresentar uma constante de estabilidade superior ao observado para
a HPβDC, a sua maior eficiência na melhoria das propriedades de dissolução do LPSF/FZ4
pode ser explicada com base na sua hidrossolubilidade, poder molhante, amorfizante e
complexante.
Os valores de Ks não podem ser usados como única ferramenta na escolha da
molécula complexante, mas como um dos parâmetros a ter em consideração na caracterização
dos complexos de inclusão. Isto realça a importância da escolha criteriosa, fundamentada no
resultado final de um conjunto de diferentes análises de caracterização físico-química a fim de
selecionar a técnica e do carreador mais adequado.
4. Referências [1] Oliveira, S.M., Albuquerque, M.C.P.A., Pitta, M.G.R., Malagueño, E., Santana, J.V.,
Lima, M.C.A., Pitta, I.R.,Galdino, S.L. A resposta do Schistosoma mansoni mantido
in vitro frente a derivados imidazolidinônicos (2004) Acta Farmaceutica Bonaerense.
23: 343-348.
[2] Santos, M.V.P., Junior, M.R.S., Oliveira, S.M., Silva, J.P., Lima, M.T.C., Lima, M.C.A.,
Galdino, S.L., Pitta, I.R. Configurational and conformational analysis of some fully
substituted imidazolidinic compounds: a theoretical study (2005) J. Molec. Struct
THEOCHEM. 715: 191-198.
[3] Lachman, L., Lieberman, H., Kanig, J.L.,(2001) "Teoria e prática na Indústria
Farmacêutica" (Calouste Gulbekian ed) Lisboa Vol.1 Pág. 505.
[4] Mooter, G.V., Weuts, I., Ridder, T.,N., B. Evaluation of Inutec SP1 as a new carrier in the
formulation of solid dispersions for poorly soluble drugs (2006) International Jounal
of Pharmaceutics. 316: 1-6.
[5] Rathbone, M.J., Hadgraft, J., Roberts, M.S. Drugs and the pharmaceutical sciences. (2003)
Modified-Release Drug Delivery Technology. 126: 134-135.
106
[6] Higuchi, T., Connors, K. Phase solubility techniques (1965) Adv. Anal. Chem. Instrum. 4:
117-212.
[7] Loftsson, T., Sigurdsson, H.H., Másson, M., Schipper, N. Preparation of solid
drug/cyclodextrin complexes of acidic and basic drugs (2004) Pharmazie. 59: 1 25-29.
[8] FARMACOPÉIA Brasileira 4ª ed., São Paulo: Atheneu (1988.)
[9] UNITED STATES PHARMACOPEIA CONVENTION Validation of Compendial
Methods. In: US Pharmacopeia, 29. ed., Rockville , 2006. cap. 1225
[10] Stella, V.J., Rajewski, R.A. Cyclodextrins: Their future in drug formulation and delivery
(1997) Pharm. Res. 14: 556-567.
[11] Stella, V.J., Rao, V.M., Zannou, E.A., Zia, V. Mechanisms of drug release from
cyclodextrin complexes (1999) Adv. Drug. Deliv. Rev. 36: 3-16.
[12] Zia, V., Rajewski, R.A., Stella, V.J. Effect of cyclodextrin charge on complexation of
neutral and charged substrates: comparison of (SBE)7M-beta-CD to HP-beta-CD.
(2001) Pharm. Res. 18: 668-673.
[13] Hara, T., Hirayama, F., Arima, H., Yamaguchi, Y.,K., U. Improvement of solubility and
oral bioavailability of 2-(N-Cyanoimino)-5-{(E)-4-styrylbenzylidene}-4-
oxothiazolidine (FPFS-410) with antidiabetic and lipid-lowering activities in dogs by
2-hydroxypropyl-β-cyclodextrin (2006) Chem. Pharm. Bull. 54: 344-349.
[14] Roquette-Pharma Disponível em: <http://www.roquette-pharma.com/delia-
CMS/news_and_documentation/article_id-1734/topic_id-127/kleptose-r--crysmeb-
exp-methyl-beta-cyclodextrin-from-roquette-14-pages.html>.Acesso em: 5 mar. 2008.
[15] Veiga, M.D., Ahsan, F. Study of tolbutamide-hydroxypropyl-γ-cyclodextrin interaction
in solution and solid state. (2000) Chem. Pharm. Bull. 48: 793-797.
[16] Pinto, L.M.A., Fraceto, L.F., Santana, H.A.A., Pertinhez, T.A., Junior, S.O., de Paula, E.
Physico-chemical characterization of benzocaine-β-cyclodextrin inclusion complexes
(2005) J. Pharm. Biom. Anal. 39: 956-963.
[17] Mura, P., Faucci, M.T., Bettinetti, G.P. The influence of polyvinylpyrrolidone on
naproxen complexation with hydroxypropyl- -cyclodextrin (2001) Eur. J. Pharm. Sci.
. 13: 187-194.
[18] Chun, I.K., Yun, D.S. Inclusion complexation of hydrocortisone butyrate with
cyclodextrins and dimethyl-β-cyclodextrin in aqueous and solid state (1993) Int. J.
Pharm. 96: 91-103.
[19] Ventura, C.A., Puglisi, G., Giammona, G.,Bottino, F.A. Comparative study on inclusion
compounds of 4-biphenylacetic acid with β-cyclodextrin, hydroxypropylated-β-
107
cyclodextrins, and methylated-β-cyclodextrins (1994) Drug Dev. Ind. Pharm. 20:
2245-2265.
[20] Yap, K.L., Liu, X., Thenmozhiyal, J.C., Ho, P.C. Characterization of the 13-cis-retinoic
acid/cyclodextrin inclusion complexes by phase solubility, photostability,
physicochemical and computational analysis (2005) Eur. J. Pharm. Sci. 25: 49-56.
[21] Doliwa, A., Santoyo, S., Ygartua, P. Influence of piroxicam:hydroxypropyl-β-
cyclodextrin complexation on the in vitro permeation and skin retention of piroxicam
(2001) Skin. Pharmacol. Appl. Skin. Physiol. 14: 97-107.
[22] Vavia, P.R., Adhage, N.A. Freeze-dried inclusion complexes of tolfenamic acid with β-
cyclodextrins (2000) Pharm. Dev. Techn. 5: 571-574.
[23] Cirri, M., Rangoni, C., Maestrelli, F., Corti, G.,Mura, P. Development of fast-dissolving
tables of flurbiprofen-cyclodextrin complexes (2005) Drug Dev. Ind. Pharm. 31: 697-
707.
[24] Arias, M.J., Moyano, J.R., Muñoz, P., Ginés, J.M., Justo, A.,F., G. Study of omeprazole-
γ-cyclodextrin complexation in the solid state (2000) Drug Dev. Ind. Pharm. 26: 253-
259.
[25] Ribeiro, L., Ferreira, D.C., Veiga, F.J.B. In vitro controlled release of vinpocetine-
cyclodextrin-tartaric acid multicomponent complexes from HPMC swellable tablets
(2005) J. Control Release. 103: 325-339.
[26] Figueiras, A., Carvalho, R.A., Ribeiro, L., Torres-Labandeira, J.J., Veiga, F.J.B. Solid-
state characterization and dissolution profiles of the inclusion complexes of
omeprazole with native and chemically modified β-cyclodextrin (2007) Eur. J. Pharm.
Biopharm. 67: 531-539.
[27] Cunha-Filho, M.S.S., Dacunha-Marinho, B., Torres-Labandeira, J.J., Mertínez-Pacheco,
R.,Landín, M. Characterization of β-Lapachone and methylated β-cyclodextrin solid-
state systems (2007) AAPS Pharm. Sci. Tech. 8(3): 3
CONCLUSÕESCONCLUSÕESCONCLUSÕESCONCLUSÕES
109
CONCLUSÕES
O uso de dispersões sólidas e complexos de inclusão pareceu ser uma promissora
alternativa para melhorar a solubilidade e dissolução dos protótipos estudados, uma vez
que a formação de sal com estas moléculas é uma tarefa muito difícil.
Embora cada um dos polímeros utilizados nos sistemas de dispersões sólidas
apresentados tenham se revelado benéficos, o polivinilpirrolidone (PVP) destacou-se pelos
melhores resultados obtidos no perfil de dissolução e no estudo teórico de modelagem
molecular, sendo, numa planificação qualitativa, o polímero carreador de escolha.
A solubilidade e a velocidade de dissolução do LPSF/FZ4 complexado seja com a 2-
hidroxipropil-β-ciclodextrina (HPβCD) ou com a 2-O-metil-β-ciclodextrina (MβCD) foram
aumentadas significativamente quando comparadas ao protótipo isolado. Especificamente,
para a MβCD, os resultados obtidos são ainda mais expressivos do que os alcançados nos
sistemas de dispersão sólida com PVP.
O valor ligeiramente superior da constante de estabilidade (Ks) apresentado pela
MβCD não deve ser usado como única ferramenta que justifique a eficiência da
complexação, mas como um dos parâmetros a ter em consideração na caracterização dos
complexos de inclusão, destacando-se a importância de se realizar um estudo completo, tal
como foi feito, incluindo todas as possibilidades existentes, procurando proporcionar uma
visão global e coerente, além de corrigir contradições; principalmente quando se trata de
moléculas novas onde se desconhece totalmente seu comportamento nestes sistemas.
Apesar dos complexos com a MβCD obtidos por secagem por pulverização terem
apresentado melhor resultado, sua preparação em grande escala possui custo elevado e
baixos rendimentos. Entretanto, o resultado também significativo, obtido através da
malaxagem com esta mesma ciclodextrina, constitui uma excelente opção a ser adotada de
fácil transposição de escala, baixo custo e rendimento favorável.
Na comparação dos resultados apresentados no estudo de modelagem molecular entre
o LPSF/FZ4 e LPSF/GQ2, foi observado que o LPSF/FZ4, uma imidazolidina (N-H),
parece ser cerca de 4 vezes mais estável na formação de complexo com o monômero PVP,
do que o LPSF/GQ2, uma tiazolidina e, portanto, não apresenta o grupo N-H como doador
de ligação de hidrogênio que normalmente estabelece uma interação intermolecular mais
intensa. Somado a isso, também foi observado o fato de que o aumento da taxa de
110
dissolução apresentado está relacionado com a existência e a intensidade destas interações
intermoleculares. A compreensão destas informações pode levar à concepção da
formulação para o LPSF/FZ4.
Entretanto, o estudo desenvolvido foi pioneiro para os protótipos em questão e por isso
as conclusões supracitadas são preliminares, necessitando de investigações adicionais mais
aprofundadas.
PERSPECTIVASPERSPECTIVASPERSPECTIVASPERSPECTIVAS
112
PERSPECTIVAS
► Realizar perfil de dissolução para os dois protótipos e seus complexos em pH entérico (pH
6,8);
►Validar a metodologia analítica desenvolvida para o teste de dissolução e proceder
semelhante validação para determinação de teor;
►Realizar estudos de espectroscopia de UV-vis dos sistemas de dispersão sólidas a fim de
investigar a correlação intensidade X concentração;
►Avaliar através de microscopia eletrônica o tamanho das partículas durante o perfil de
dissolução nos diferentes sistemas;
►Aplicação da metodologia dos fluidos super-críticos como alternativa para formação de
complexos de inclusão com o LPSF/GQ2;
►Formação de complexos multicomponentes para o LPSF/FZ4 usando o PVP e a 2-O-metil-
β-ciclodextrina e avaliação do aumento da solubilidade e dissolução comparativamente ao
correspondente complexo binário;
►Verificação da estabilidade dos complexos formados;
►Concluir as caracterizações necessárias à formulação da Carta de Identidade dos
respectivos protótipos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Albuquerque, J.F.C.; Rocha Filho, J.A.; Brandão, S.S.F.; Lima, M.C.A.; Ximenes, E.A.;
Galdino, S.L.; Pitta, I.R.; Chantegrel, J.; Perrissin,M.; Luu-Duc, C. Synthesis and
Activity of Substituted Imidazolidinediones and Thioxoimidazolidinones. II Fármaco.
v.54. p.77-82. 1999. Bikiaris, D.; Papageorgiou, G.Z.; Stergiou, A.; Pavlidou E.; Karavas, E.; Kanaze, F.;
Georgarakis, M. Physicochemical studies on solid dispersions of pooly water-soluble
drugs Evaluation of capabilities and limitations of thermal analysis techniques,
Thermochimica Acta. v. 439. p. 58-67. 2005.
Frederich, H.; Fussnegger, B.; Kolter, K.; Bodmeier, R. Dissolution rate improvement
of poorly water soluble drugs obtained by absorbing solutions of drugs in hydrophilic
solvents onto high surface area carries. Eur. J. Pharm. Biopharm. v. 62. p. 171-6.
2006.
Horter, D.; Dressman, J.B. Influence of physicochemical properties on dissolution of
drugs in the gastrointestinal tract. Adv. Drug. Deliv. Rev. v. 56. p. 75-87. 2001.
Leite, L.F.C.C.; Mourão, R.H.V.; Lima, M.C.A.; Galdino, S.L.; Hernandes, M.Z.;
Neves, F.A.R.; Vidal, S.; Barbe, J.; Pitta, I.R. Synthesis, biological evaluation and
molecular modeling studies of arylidene-thiazolidinediones with potential
hypoglycemic and hypolipidemic activities. European Journal of Medicinal
Chemistry. p.1-9. 2007.
Mourão, R.H. V.; Silva, T.G.; Soares A.L.M.; Vieira, E.S.; Santos, J.N.; Lima, M.C.A.;
Lima, V.L.M.; Galdino, S.L; Barbe, J.; Pitta, I.R. Synthesis and biological activity of
novel acridinylidene and benzylidene thiazolidinediones. Eur. J. Med. Chem. v. 40,
1129-1133 2005.
Ohara, T.; Kitamura, S.; Kitagawa, T.; Terada, K. Dissolution mechanism of poorly
water-soluble drug from extended release solid dispersion system with ethylcellulose
and hydroxypropylmethylcellulose. Int. J. Pharm. v.302. p. 95-102. 2005.
Pitta, M.G.; Neves, J.K.; Silva, P.G.; Irmão, J.I.; Malagueño, E.; Santana, J.V.; Lima,
M.C.A.; Galdino, S.L.; Pitta, I.R.; Albuquerque, M.C. New Imidazolidinic Bioisosters:
115
Potential Candidates for Antischistosomal Drugs. Mem. Inst.Oswaldo Cruz. v.101. p.
1:313-316. 2006.
Santos, L.C.; Uchoa, F.T.; Canas, A.R.P.A.; Sousa, I.A.; Moura, R.O.; Lima, M.C.A.;
Galdino, S.L.; Pitta, I.R.; Barbe, J. Synthesis and anti-inflammatory activity of new
thiazolidine-2,4-diones, 4-thioxothiazolidinones and 2-thioxoimidazolidinones.
Heterocyclic Communications. v. 11(2). p. 121-128. 2005.
Vippagunta, S.R.; Wang, Z.; Hornung, S.; Krill, S. L. Factors affecting the formation of
eutectic solid dispersions and their dissolution behavior. J. Pharm. Sci. v. 96. p.294-
304. 2006.
Wazeer, M.I.M.; Isab, A.A.; Fettouhi, M. New Cadmium Chloride Complexes with
Imidazolidine-2-Thione and its Derivatives: X-Ray Structures, Solid State and Solution
NMR and Antimicrobial Activity Studies. Polyhedron. v. 26. p.1725-1730. 2007.