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Obtenção de Torque e Empuxo de Propulsores através do Uso de Sistema de Medição de Eixo por Telemetria Taís Paiva Pinheiro Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Luiz Antônio Vaz Pinto Rio de Janeiro Março de 2014

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Obtenção de Torque e Empuxo de Propulsores através do Uso de Sistema de

Medição de Eixo por Telemetria

Taís Paiva Pinheiro

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Naval e Oceânica da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Luiz Antônio Vaz Pinto

Rio de Janeiro

Março de 2014

Obtenção de Torque e Empuxo de Propulsores através do Uso de Sistema de

Medição de Eixo por Telemetria

Taís Paiva Pinheiro

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRA NAVAL E OCEÂNICO.

Examinada por:

___________________________________________________

Luiz Antônio Vaz Pinto, D.Sc., DENO/COPPE/UFRJ

(Orientador)

___________________________________________________

Ulisses A. Monteiro Barbosa, D.Sc.., DENO/COPPE/UFRJ

(Co-Orientador)

___________________________________________________

Ricardo Homero Ramírez Gutiérrez,M.Sc., DENO/COPPE/UFRJ

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO DE 2014

iii

Pinheiro, Taís Paiva

Obtenção de Torque e Empuxo de Propulsores através do

Uso de Sistema de Medição de Eixo por Telemetria/ Taís Paiva

Pinheiro. - Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2014.

VIII, 44 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Luiz Antônio Vaz Pinto

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia Naval e Oceânica, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 44.

1. Torque. 2. Empuxo. 3. SMEG. 4. Strain Gage. I. Luiz

Antônio Vaz Pinto. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Escola Politécnica, Curso de Engenharia Naval e Oceânica. III.

Obtenção de Torque e Empuxo através do Uso de Sistema de

Medição de Eixo por Telemetria.

iv

DEDICATÓRIA

.

[TEXTO]

v

AGRADECIMENTOS

[TEXTO]

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira Naval e Oceânica.

Obtenção de Torque e Empuxo de Propulsores através do Uso de Sistema de Medição

de Eixo por Telemetria

Taís Paiva Pinheiro

Março/2014

Orientador: Luiz Antônio Vaz Pinto

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

Neste trabalho medições de esforços em linhas de eixos de um navio graneleiro foram

comparadas com os valores estimados por cálculos de resistência ao avanço e por

diagramas Kt-Kq-J do respectivo propulsor. A medições foram feitas usando Sistema de

Medição de Eixos Girantes (SMEG) e os esforços axial, torcional e de flexão

segregados a partir dos fundamentos relacionados a Círculo de Mohr. Os resultados da

medição serão comparados com métodos teóricos.

Palavras-chave: Torque, Empuxo,SMEG, Strain Gage.

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

Obtaining Torque and Thrust Thrusters through the Use of Measurement System Axle

by Telemetry

Taís Paiva Pinheiro

March/2014

Advisor: Taís Paiva Pinheiro

Course: Naval Architecture and Marine Engineering

In this study, measurements efforts on axle lines of a bulk carrier were compared with

the values estimated by resistance calculations and by Kt-Kq-J diagrams of the

respective thruster. The measurements were made using Measurements of Rotating

Axles (SMEG) and axial, torsional and bending efforts, segregated from the foundations

related to Mohr Circle. The results of measurements are compared with theoretical

methods.

Keywords: Torque, Thrust, SMEG, Strain Gage.

viii

Sumário 1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

1.1- Objetivo do Projeto Final .......................................................................................... 1 2- Fundamentos Teóricos ................................................................................................. 3 2.1- Hélice ........................................................................................................................ 3

2.1.1- Diâmetro do hélice( ) ............................................................................................ 3

2.1.2- Razão de passo do hélice ( ) ............................................................................... 4

2.1.3- Razão de áreas do Hélice ( ) ........................................................................ 4 2.1.4- Número de pás do hélice (z) ................................................................................... 4

2.2- Coeficientes de Propulsão ......................................................................................... 5

2.2.1- Coeficiente de esteira ( )....................................................................................... 5

2.2.2- Coeficiente de redução do empuxo ( ) ................................................................... 6

2.2.3- Coeficiente de Avanço ( ) ...................................................................................... 6

2.2.4- Coeficiente de Empuxo ( ) ................................................................................. 7

2.2.5- Coeficiente de Torque ( ) ................................................................................... 7

2.2.6- Rendimento do Propulsor em Águas Abertas ( ) ................................................ 7

2.2.7- Diagramas - - e ....................................................................................... 7 2.3- Tensões e Deformações ............................................................................................. 8 2.3.1- Conceito de Tensão ................................................................................................ 8

2.3.2- Conceito de Deformação ....................................................................................... 9 2.3.3- Coeficiente de Poisson ........................................................................................ 11 2.3.4- Lei de Hooke ....................................................................................................... 12

2.3.5- Transformação de Tensões no Estado Plano ....................................................... 13 2.3.6- Círculo de Mohr no Estado Plano de Tensões .................................................... 16

2.3.7- Transformação de Deformações no Estado Plano............................................... 17 2.3.8- Círculo de Mohr no Estado Plano de Deformações ............................................ 18 2.4- Medição em Eixos Girantes .................................................................................... 20

2.4.1- Strain Gages ......................................................................................................... 20

2.4.2- Análise do Torque ................................................................................................ 21 2.4.3- Formulação Teórica para o SMEG utilizando a Ponte de Wheatstone ................ 25 3- Estudo de Caso ........................................................................................................... 28

3.1- Características do Objeto de Estudo........................................................................ 28 3.2- Métodos para Comparação ...................................................................................... 29

3.2.1- Formulação Clássica ............................................................................................ 29 3.2.2- Formulação a partir de Parâmetros do Propulsor ................................................. 30 3.2.3- Medição no Eixo .................................................................................................. 32

4- Resultados e Comparação .......................................................................................... 36 4.1- Resultados dos Métodos Teóricos ........................................................................... 36

4.1.1- Comparação entre os Empuxos Teóricos ............................................................. 36 4.1.2- Comparação entre os Torques Teóricos ............................................................... 37

4.2- Resultados da Medição............................................................................................ 38 4.3- Comparação dos Métodos Propostos ...................................................................... 39 4.3.1- Comparação entre os Resultados de Torque ........................................................ 39 4.3.2- Comparação entre os Resultados de Empuxo ...................................................... 41 5- Conclusão ................................................................................................................... 43

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 44

1

1- INTRODUÇÃO

No presente trabalho foi feito um estudo a partir de informações do navio

graneleiro Germano Becker, a maior embarcação fluvial do país, projetada para fazer o

transporte de granéis e contêineres entre portos no sul do Brasil. Foram feitas medições

de esforços em linhas de eixo do navio em questão para serem determinados os valores

de Torque e Empuxo. Esses resultados foram comparados com os valores estimados por

cálculos de resistência ao avanço a partir do método Holtrop e por diagramas Kt-Kq-J

do respectivo propulsor.

As medições no eixo foram feitas usando Sistema de Medição de Eixos Girantes

(SMEG) com a instalação de Strain Gages. Os esforços axial, torcional e de flexão

segregados a partir dos fundamentos relacionados a Círculo de Mohr para serem obtidos

os valores de Torque e Empuxo.

1.1- Objetivo do Projeto Final

O presente trabalho tem por objetivo comparar os valores de torque e empuxo

teóricos com os medidos no navio Germano Becker, figura (1.1), através de Sistema de

Medição de Eixos Girantes com o uso de Strain Gages.

2

Figura 1.1: Embarcação Germano Becker

3

2- FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Para a realização deste trabalho, mostrou-se necessária a inclusão de

fundamentos teóricos. Na primeira seção serão apresentadas as nomenclaturas utilizadas

para as características do hélice. Na segunda seção, serão definidos os coeficientes de

propulsão.

Relações entre tensão, deformação, Círculo de Mohr e medição em eixo serão

mostradas na terceira e quarta seções.

2.1- Hélice

O hélice é o aparato mais comum dos sistemas propulsivos existentes, e em

geral, o mais eficiente. Ele deve ser corretamente projetado de maneira que traga a

maior eficiência possível ao sistema propulsivo.

2.1.1- Diâmetro do hélice( )

Em geral, quanto maior o diâmetro menor a rotação necessária para a o empuxo

desejado, ou seja, um navio com hélice de grande dimensão operará a mais baixas

rotações. Por outro lado, maior será o torque necessário para o movimento do hélice.

O propulsor deve ter um diâmetro , figura (2.1), de uma forma em que na

condição total de carregamento, o hélice esteja suficientemente submerso. Este cuidado

é com intuito de evitar que o propulsor trabalhe em condição de ar e água, se não foi

projetado para esse propósito.

Figura 2.1: Diâmetro do Hélice

4

2.1.2- Razão de passo do hélice ( )

A distância percorrida por um ponto do hélice em uma rotação completa é

chamada passo do hélice. Essa distância pode ser melhor identificada na figura baixo:

Figura 2.2: Passo do Hélice

Deste passo do hélice dividido pelo diâmetro temos a razão de passo do hélice.

Quanto maior o passo do hélice, maior o empuxo produzido. Por outro lado, maior será

o risco de cavitação do hélice.

2.1.3- Razão de áreas do Hélice ( )

É a razão entre a área expandida das pás do hélice e a área do disco propulsor em

que:

(2.1)

Quanto maior a razão de área, maior o empuxo gerado em cada rotação junto

com o aumento do risco de cavitação.

2.1.4- Número de pás do hélice (z)

O numero de pás do hélice aumenta o risco de cavitação, em oposição, o

empuxo produzido é maior a uma dada rotação.

5

O hélice é um peso considerável na extremidade do eixo e é interessante tentar

não sobrecarregar os mancais com um propulsor demasiadamente grande. Além disso,

como já foi falado, quanto maior o diâmetro, menor a rotação em que o propulsor irá

operar para fornecer o empuxo requerido. Caso se utilizem hélices muito grandes,

podem ser necessárias rotações tão baixas que não existam motores que trabalhem nessa

faixa.

2.2- Coeficientes de Propulsão

Os coeficientes de Propulsão são definidos como:

2.2.1- Coeficiente de esteira ( )

É um parâmetro que diz respeito à velocidade em que o propulsor trabalha. Por

estar situado na esteira do casco, o propulsor opera com um perfil de velocidade distinto

devido influência da viscosidade e localização dessa região. Esta redução é

contabilizada pelo coeficiente de esteira.

(2.2)

Onde:

= coeficiente de esteira;

= velocidade de avanço da embarcação;

= velocidade com a qual a água flui para o propulsor ou velocidade de avanço

do hélice.

Este valor pode ser calculado pelo método Holtrop. Conhecendo é possível

determinar a velocidade média do escoamento incidente no propulsor através da

manipulação da equação acima:

(2.3)

6

2.2.2- Coeficiente de redução do empuxo ( )

Ao operar a ré do casco, o propulsor contribui na resistência ao avanço da

embarcação. Este coeficiente contabiliza esta influencia relacionando o empuxo

necessário para autopropelir a embarcação com a resistência ao avanço total:

(2.4)

Onde:

= empuxo necessário para autopropelir a embarcação;

= coeficiente de redução do empuxo;

= resistência ao avanço total, obtida no ensaio de reboque;

O método de Holtrop calcula o coeficiente de redução do empuxo ( ), assim

pode-se determinar o empuxo requerido para propelir a embarcação na velocidade de

serviço em:

(2.5)

Onde:

= Empuxo Requerido;

Os propulsores, para formarem a família desejada, devem produzir, pelo menos,

o empuxo requerido. É recomendado que o empuxo disponível possua um margem de

no 5% a mais do que o empuxo requerido.

2.2.3- Coeficiente de Avanço ( )

É a velocidade de avanço (Va) adimensionalizada pela rotação do propulsor ( )

e pelo seu diâmetro ( ):

(2.6)

7

2.2.4- Coeficiente de Empuxo ( )

É o adimensional que corresponde ao empuxo gerado pelo propulsor. O empuxo

é normalizado pela a massa especifica do fluido, pela rotação e pelo diâmetro do

propulsor.

(2.7)

2.2.5- Coeficiente de Torque ( )

É coeficiente que relaciona o torque gerado pelo propulsor ( ), a massa

especifica do fluido, a rotação e o diâmetro do propulsor.

(2.8)

2.2.6- Rendimento do Propulsor em Águas Abertas ( )

É o rendimento que relaciona os coeficientes de torque e de empuxo gerado pelo

propulsor e o coeficiente de avanço.

(2.9)

2.2.7- Diagramas - - e

O conjunto de diagramas “ - - e , figura (2.3), é composto por séries

sistemáticas onde é possível gerar diversas configurações de hélices variando suas

características principais ( , , , z). O diagrama “ - - e “ apresenta

os valores de de uma mesma série plotados em função de , com ,

e fixos. Um exemplo de diagrama é mostrado a seguir:

8

Figura 2.3: Exemplo de Diagrama - -

2.3- Tensões e Deformações

2.3.1- Conceito de Tensão

Tensão é a grandeza física definida pela força atuante em uma superfície e a área

dessa superfície.

É chamada Tensão Normal o resultado da aplicação de uma força axial na seção

transversal de um material, de acordo com [5], podendo ser calculada por:

(2.10)

Onde é a força axial que atua na extremidade do material e é o valor da área

transversal do material.

Por sua vez, a Tensão de Cisalhamento é causada por uma força transversal

aplicada na seção transversal de uma barra:

(2.11)

Onde F é a força transversal que atua no material e A é o valor da área

transversal do material.

Para um carregamento genérico, as tensões são tridimensionais. Esse conjunto

de tensões é composto por tensões normais nas direções x, y e z e duas componentes de

9

tensões cisalhantes em cada plano. Na figura a seguir é possível ver a representação de

um cubo infinitesimal que representa esse estado de tensões:

Figura 2.4: Cubo representativo do estado tridimensional de tensões

Na figura acima, é possível ver as tensões normais e (que equivalem

a e ) e as tensões cisalhantes e , onde ,

e . De forma genérica, a primeira letra representa o eixo

perpendicular ao plano de atuação da componente de tensão e a segunda indica qual sua

direção.

2.3.2- Conceito de Deformação

Deformação é a mudança na forma e tamanho de um corpo quando uma força é

aplicada no mesmo, podendo ser perceptível ou não.

Quando uma força axial é aplicada, ocorre a deformação normal, que é o

alongamento ou contração de um corpo por unidade de comprimento. A deformação

específica de certo corpo é a razão entre a deformação e o comprimento original do

corpo:

(2.12)

10

A Deformação por Cisalhamento é a mudança de ângulo ocorrida entre dois

segmentos de retas originalmente perpendiculares entre si. O ângulo é denotado por e

é medido em radianos.

Na ilustração abaixo é considerado um cubo sujeito a tensões cisalhantes em que

as dimensões do elemento são muito pequenas e que segmentos de reta muito pequenos

permanecem retos após a deformação do corpo.

Figura 2.5: Componentes cartesianos da deformação

11

Os comprimentos aproximados dos lados do paralelepípedo são:

(2.13)

Os ângulos aproximados entre os lados, originalmente definidos pelos lados ,

e , são:

(2.14)

Note que os ângulos opostos são:

(2.15)

Como referência, considera-se positiva a deformação cisalhante na qual o ângulo

entre as faces positivas ou negativas do elemento é reduzido, caso contrário, isto é, este

ângulo seja aumentado, a deformação por cisalhamento é considerada negativa. Faces

positivas são aquelas faces cujo vetor normal está na direção positiva do eixo de

referência.

2.3.3- Coeficiente de Poisson

O Coeficiente de Poisson relaciona a deformação específica transversal

proveniente de uma carga longitudinal e a própria deformação longitudinal. Por

exemplo, caso uma barra seja submetida a um carregamento axial no eixo x, sabe-se

que apesar das tensões normais em y e z serem nulas, haverá deformação nessas

direções.

(2.16)

(2.17)

(2.18)

12

O sinal negativo é devido a direção da deformação transversal, que é contrária à

deformação longitudinal.

2.3.4- Lei de Hooke

A Lei de Hooke é a lei da física relacionada à elasticidade dos corpos, que serve

para calcular a deformação causada pela força exercida sobre um corpo:

(2.19)

Onde é a tensão normal no material, é o módulo de elasticidade e é a

deformação específica.

Caso as tensões superem a tensão de escoamento do material, o comportamento

estrutural do corpo entrará em regime plástico e a relação linear entre tensões e

deformações não é mais válida, já que a deformação não se torna nula ao cessar o

carregamento, resultando em uma deformação permanente.

A Lei de Hooke aplicada às tensões e deformações por cisalhamento é análoga

ao que foi descrito anteriormente, sendo descrita pela seguinte expressão:

(2.20)

Onde é a tensão de cisalhamento, é módulo de elasticidade transversal do

material e é a deformação por cisalhamento.

Generalizando a Lei de Hooke para um carregamento multiaxial, deve-se

primeiramente apresentar a definição do Princípio da Superposição. Este princípio

afirma que os efeitos de um carregamento combinado atuando sobre uma estrutura pode

ser considerado como a combinação do efeito de cada carregamento sobre esta

estrutura, analisado independentemente. Para que este princípio seja satisfeito é preciso

que o material esteja no regime elástico e que o efeito de um dos carregamentos não

influencie nas condições de aplicação dos demais carregamentos.

Sabendo que uma deformação axial de um corpo implica também em uma

deformação transversal ao eixo em que foi aplicado o carregamento, será determinado

qual será a deformação específica total no eixo x, devido às tensões normais em x, y e z.

13

Para as deformações devido às Tensões Normais, de acordo com o Princípio da

Superposição, podemos afirmar que a deformação normal total em certa direção é a

soma das contribuições de cada deformação nessa direção de forma independente:

(2.21)

(2.22)

Onde é a deformação normal total na direção do eixo x, é a deformação na

direção x causada pela própria tensão normal em x, é a deformação na direção x

causada pela tensão normal em y, é a deformação na direção x causada pela tensão

normal em z e é o coeficiente de Poisson.

De forma análoga, as deformações nas outras direções são descritas a seguir:

(2.23)

(2.24)

(2.25)

(2.26)

Para a deformação devido às Tensões Cisalhantes, a partir da Lei de Hooke, tem-

se:

(2.27)

(2.28)

(2.29)

2.3.5- Transformação de Tensões no Estado Plano

O Estado plano de tensões é uma condição específica onde duas faces do cubo

possuem tensões nulas.

14

Figura 2.6: Elemento infinitesimal no Estado plano de Tensões

Nesta condição:

(2.30)

Se o cubo mostrado na figura (2.6) for rotacionado no plano xy (em torno do

eixo z) um novo sistema de eixos (x’y’), figura (2.7), será utilizado:

Figura 2.7: Nova orientação do elemento

A intenção é determinar o estado plano de tensões no elemento em sua nova

orientação x’y’ considerando as tensões, que estão em função da orientação original xy.

15

Para isso, é necessário aplicar as equações de equilíbrio no elemento, onde o plano

inclinado que está destacado é referente à orientação x’y’, como pode ser visto na figura

(2.8):

Figura 2.8: Tensões atuando no elemento no estado plano de tensões

Após operações algébricas, as equações de transformação para o Estado Plano

de Tensões são:

(2.31)

(2.32)

Onde é o ângulo entre x e x’.

Para calcular a tensão normal na direção y’ é necessário apenas substituir por

, que é o ângulo entre x’ e y’:

(2.33)

Nota-se que se somarmos as equações de e , temos que a soma das

tensões normais atuantes no elemento é constante e não depende da orientação do

elemento:

(2.34)

16

2.3.6- Círculo de Mohr no Estado Plano de Tensões

O Círculo de Mohr é uma ferramenta gráfica muito usada para resolução de

problemas de tensão e deformação. A equação do Círculo de Mohr é:

(2.35)

Esta equação representa um círculo com as seguintes características:

(2.36)

(2.37)

E centro em ( . Onde é a Tensão Normal Média e R

é o raio do círculo de Mohr. A seguir é mostrado o círculo de Mohr para o estado plano

de tensões:

Figura 2.9: Círculo de Mohr para Estado Plano de Tensões

A vantagem da utilização do Círculo de Mohr é que ele ajuda a determinar

facilmente através da geometria do círculo o estado de tensões em um ponto para

qualquer orientação por inspeção visual, sem que seja necessária uma construção

detalhada do círculo.

17

Uma questão importante é determinar o valor das tensões normais máximas e

mínimas e em que direção elas ocorrem. Essas tensões são chamadas Tensões Principais

e sua direção é a Direção Principal.

O valor dessas tensões pode ser calculado por:

(2.38)

A partir da geometria do círculo, vê-se que nos pontos onde ocorrem as tensões

normais máxima e mínima (tensões principais) as tensões cisalhantes são iguais a zero.

Com isso:

(2.39)

Então:

(2.40)

O ângulo é o ângulo de deslocamento do eixo no Círculo de Mohr, que

equivale à metade do ângulo de rotação do elemento original.

Novamente a partir da geometria do círculo percebe-se que a tensão cisalhante

máxima é igual ao raio R do círculo:

(2.41)

E neste caso a tensão normal equivale a:

(2.42)

2.3.7- Transformação de Deformações no Estado Plano

Assim como com as tensões, as deformações específicas também se alteram com

a rotação do eixo de referência. Nesta seção será mostrado como encontrar as

deformações normal e cisalhante máximas de um elemento infinitesimal.

18

As equações de transformação para o estado plano de deformações são análogas

às do estado plano de tensões:

(2.43)

(2.44)

Analogamente, também se calcula a deformação normal substituindo por

, já que esse é o ângulo entre os eixos x’ e y’.

(2.45)

Note que somando as equações de e , tem-se que a soma das deformações

normais atuantes no elemento é constante e não depende da orientação do elemento:

(2.46)

2.3.8- Círculo de Mohr no Estado Plano de Deformações

O Círculo de Mohr de Deformações tem a seguinte equação:

(2.47)

Esta equação representa um círculo com as seguintes características:

(2.48)

(2.49)

E centro em ( . Onde é a Deformação Normal Média

e R é o raio do círculo de Mohr.

19

A seguir temos um exemplo de Círculo de Mohr para o Estado Plano de

Deformações:

Figura 2.10: Exemplo de um Círculo de Mohr para o Estado Plano de Deformações

A vantagem da utilização do Círculo de Mohr é que ele auxilia na determinação

com facilidade através da geometria do círculo o estado de deformações em um ponto

para qualquer orientação por inspeção visual, sem que seja necessária uma construção

detalhada do círculo.

Será determinado agora o valor das deformações normais máximas e mínimas e

em que direção elas ocorrem. Essas deformações são chamadas Deformações Principais

e sua direção é a Direção Principal.

O valor dessas deformações pode ser calculado por:

(2.50)

Onde:

e

(2.51)

20

A partir da geometria do círculo, pode ser visto que nos pontos onde ocorrem as

deformações normais máximas e mínimas (deformações principais) as deformações

cisalhantes são iguais à zero. Com isso:

(2.52)

Então:

(2.53)

O ângulo é o ângulo de deslocamento do eixo no Círculo de Mohr, que

equivale à metade do ângulo de rotação do elemento original.

Novamente a partir da geometria do círculo percebe-se que a deformação

cisalhante máxima é igual ao raio R do círculo:

(2.54)

E neste caso a deformação normal equivale a:

(2.55)

2.4- Medição em Eixos Girantes

2.4.1- Strain Gages

Strain Gages ou Extensômetros são sensores elétricos colados na superfície do

material sob analise para obter medidas de deformação. Essas deformações são medidas

no sentido axial pelos Strain Gages. A escolha desse tipo de recurso está ligada ao baixo

custo, alta precisão, facilidade na instalação e leitura da resposta. Como o sinal obtido

pela variação dos Strain Gages é muito pequeno, eles serão utilizados na Ponte de

Wheatstone, com o objetivo de amplificar o sinal de resposta da deformação.

21

Os sinais são obtidos dos Strain Gages por telemetria, ou seja, por comunicação

sem fio, com o auxílio de um Sistema de Medição de Eixos Girantes (SMEG). Estes

sinais serão então amplificados e filtrados para a obtenção da resposta. Um exemplo de

aparato experimental para realizar medições em laboratório está mostrado na figura

(2.11).

Figura 2.11: Aparato Experimental Teste do SMEG[4]

2.4.2- Análise do Torque

De acordo com [4], para relacionarmos o torque, T, aplicado a um eixo maciço,

com a tensão de cisalhamento, τ, e o ângulo de torção, θ, da seção transversal usamos a

equação abaixo:

(2.56)

Onde:

Q = Torque Aplicado ao Eixo (N.m);

D = Diâmetro do Eixo (m);

L = Comprimento do Eixo (m);

22

θ = Ângulo de Torção da Seção Transversal (rad);

G = Módulo de Elasticidade Transversal ( );

τ = Tensão de Cisalhamento ( );

J = Momento Polar de Inércia ( );

Na Equação (2.57), também conhecida como a fórmula da torção, o momento

polar de inércia, J, é dado por:

(2.57)

E o módulo de elasticidade transversal, G, é dado por:

(2.58)

Onde:

E = Módulo de Elasticidade Longitudinal ( );

µ = Coeficiente de Poisson do Aço;

O torque teórico aplicado no eixo ( ) é obtido pela Equação (2.59) e pode ser

visualizado na figura (2.11):

(2.59)

Onde:

= Torque Teórico Aplicado ao Eixo (N.m);

F = Força Aplicada (N);

b = Braço da Alavanca (m);

Já a força axial (empuxo), pode ser obtido da equação (2.10), a partir da

deformação normal medida no eixo. A tensão de cisalhamento (τ) pode ser obtida pela

Equação (2.60):

23

(2.60)

A deformação por cisalhamento (γ), do eixo, é dada por:

(2.61)

O ângulo de torção (θ) da seção transversal, que pode ser obtido pela Equação

(2.62):

(2.62)

As relações entre as tensões de cisalhamento máximas e mínimas ( ) e as

tensões normais principais, para o estado de cisalhamento puro, são dadas pelas

Equações (2.63) e (2.64):

(2.63)

E,

(2.64)

Onde:

=Tensão de Cisalhamento ( );

, = Tensões Normais, Máxima e Mínima, na Direção Principal

( );

Na figura (2.12), o círculo de Mohr ilustra as relações entre tensões normais e

cisalhantes para o plano inclinado a 45º.

24

Figura 2.12: Círculo de Mohr para o Estado de Tensão sob Torção Pura

A deformação linear máxima na direção principal, , é dada pela Equação

(2.65):

(2.65)

Onde:

= Tensão de Cisalhamento Máxima ( );

= Deformação Linear Máxima na Direção Principal (µStrain);

, = Tensões Normais, Máxima e Mínima, na Direção Principal

( );

Por outro lado, a deformação linear máxima na direção principal ( ) pode ser

obtida a partir da equação de transformação das deformações, conforme a Equação

(2.66):

(2.66)

Onde:

= Deformação por Cisalhamento no Plano “x” e na Direção “y” (rad);

25

= Deformação Linear na Direção Principal (µStrain);

= Deformação Linear no Plano “x” (µStrain);

= Deformação Linear no Plano “y” (µStrain);

α = Ângulo do Plano da Direção Principal em relação ao Plano X-Y (rad);

Para o estado de torção pura:

(2.67)

Neste caso, a relação entre a deformação linear e a deformação por cisalhamento

é dada por:

(2.68)

Por outro lado, a deformação por cisalhamento e o ângulo de torção se

relacionam através da Equação (2.69):

(2.69)

2.4.3- Formulação Teórica para o SMEG utilizando a Ponte de Wheatstone

Na prática, as medições de deformação raramente envolvem valores maiores do

que alguns milistrains. Dessa maneira, a medição de deformação exige a medição exata

de variações de resistência muito pequenas. Para medir essas variações tão pequenas, os

Strain Gages são quase sempre usados em uma configuração em ponte, com a inclusão

de uma fonte de tensão de excitação. Uma ponte de Wheatstone, figura (2.13), é

formada por quatro braços resistivos e uma tensão de excitação aplicada na ponte, como

pode ser visto na figura abaixo:

26

Figura 2.13: Exemplo de Ponte de Wheatstone

Neste caso, a relação entre a voltagem de saída da ponte, , a voltagem de

excitação da ponte, , e a deformação linear, , é dada pela seguinte expressão:

(2.70)

Onde:

K = “gage factor” dos strain gages utilizados;

= Voltagem de Excitação da Ponte;

= Ganho do Sistema de condicionamento (depende do torque aplicado);

= Deformação Linear;

A voltagem de saída da ponte, , deve ser multiplicada por um fator de escala,

que é o ganho do sistema ( ), que amplifica o sinal de saída do strain gage, para

facilitar a leitura. Portanto, a voltagem real (corrigida) da saída da ponte, , sem o

efeito do ganho do sistema, é dada por:

(2.71)

A deformação linear na direção principal pode então ser obtida a partir da

Equação (2.72):

27

(2.72)

O torque (Q) pode ser calculado através da Equação (2.73):

(2.73)

Da Equação (2.65),obtemos a relação:

(2.74)

Usando as equações (2.72), (2.73) e (2.74), o torque (Q) pode ser obtido em

função da voltagem corrigida de saída da ponte, , e da voltagem de excitação da

ponte, :

(2.75)

E a relação entre a deformação linear e a deformação por cisalhamento é dada

por:

(2.76)

A partir da voltagem de saída da ponte de Wheatstone corrigida pelo ganho do

sistema é possível calcular a deformação linear (estática), sofrida pelos strain gages e

obter todos os parâmetros relacionados com o teste da torção estática realizado

experimentalmente.

28

3- ESTUDO DE CASO

3.1- Características do Objeto de Estudo

Este trabalho se trata de um estudo do Torque e Empuxo do eixo propulsor de

um navio utilizando o Sistema de Medição de Eixos Girantes (SMEG). O navio

escolhido é o Germano Becker, um navio fluvial do tipo graneleiro, que opera na Lagoa

dos Patos (RS). A região de operação tem uma extensão de aproximadamente 265km

com calado de 5,0 metros. Abaixo podem ser vistas as características desta embarcação:

Tabela 3.1: Características da Embarcação

O propulsor da embarcação é um Série B (B4.50), com 4 pás e razão de área

0,50. Com passo (P) igual a 1105 mm e diâmetro (D) igual a 1700 mm, sua razão P/D é

0,65. O diagrama - - desse propulsor pode ser visto na figura (3.1).

Figura 3.1: Diagrama - - do propulsor presente na embarcação

110,04 m

105,14 m

16,2 m

5,25 m

4,5 m

Comprimento (LOA)

Comprimento entre perpendiculares (LPP)

Boca (B)

Pontal (D)

Calado de Projeto (T)

29

Diversos trabalhos acadêmicos vêm sendo desenvolvidos acerca dessa

embarcação, levando em conta principalmente os altos níveis de vibração verificados e

formação de vórtices devido à forma da embarcação.

O presente trabalho trata de uma comparação de resultados de Torque e Empuxo

obtidos em trabalhos anteriores realizados a partir de formulações teóricas, com os

dados obtidos através de medição utilizando o Sistema de Medição de Eixos Girantes

(SMEG) para serem obtidos os resultados reais do navio.

3.2- Métodos para Comparação

O Empuxo e o Torque de uma embarcação podem ser determinados de três

maneiras. Na primeira delas, que é chamada aqui de Formulação Clássica, é utilizado o

Método Holtrop [1] e a formulação convencional para a escolha do sistema propulsivo.

Na segunda maneira, Formulação a partir de Parâmetros do Propulsor, são utilizadas as

formulações dos parâmetros do propulsor [2] e o diagrama - - do propulsor. Essas

duas formulações foram objeto de estudo de trabalhos anteriores e serão apresentadas

nesta seção.

O terceiro método é a medição em eixo em tempo real e será discutida na

próxima seção.

O Estudo de Caso contemplará os seguintes pontos de operação:

Ponto 1: Velocidade 5,1 nós, Rotação 1100rpm, 50% de Carga

Ponto 2: Velocidade 5,2 nós, Rotação 1300rpm, 60% de Carga

Ponto 3: Velocidade 5,5 nós, Rotação 1500rpm, 78% de Carga

Ponto 4: Velocidade 6,0 nós, Rotação 1680rpm, 100% de Carga

3.2.1- Formulação Clássica

Por este método, primeiramente, foi estimada por [3] a Resistência ao avanço.

Para isso, foi necessário modelar uma forma característica do tipo da embarcação para,

dessa forma, obter os parâmetros necessários para o cálculo da resistência pelo método

Holtrop. A seguir é mostrada a forma gerada:

30

Figura 3.2: Forma Característica do Tipo de embarcação

A partir dessa forma, foram obtidos os parâmetros necessários para iniciar o

método Holtrop. A partir dele, foram obtidas as Resistências ao Avanço para as

respectivas velocidades (pontos de operação). Com a resistência, foi possível calcular o

empuxo requerido para o propulsor nos diversos pontos de operação a partir da equação:

(3.1)

Para o cálculo do Torque, foi preciso consultar as informações do motor, já que

era necessária a informação sobre a Potência Nominal do Motor. O motor em questão é

da marca CUMMINS e do modelo QSK19-M.

Dessa maneira, foram formados os pares de Torque e Empuxo para cada ponto

de operação desejado. Esses resultados serão apresentados e comentados ao final deste

capítulo.

3.2.2- Formulação a partir de Parâmetros do Propulsor

Para obtenção do Empuxo e Torque a partir desta formulação, é necessário

estimar um valor para o coeficiente de esteira (t) para, a partir da velocidade (V) da

embarcação no ponto de operação, foi obtida a velocidade de avanço ( a partir da

equação (2.3). A partir de , com as informações do diâmetro do eixo e rotação, foi

obtido os valores para o coeficiente de avanço ( ), com a equação (2.6).

31

Com o coeficiente de avanço ( ), pode-se obter os Coeficientes de empuxo e de

torque a partir do diagrama - - na Figura (3.1).

O propulsor da embarcação é um série B, com 4 pás e razão de áreas 0,50. O

diâmetro do eixo (D) é 1,7 m enquanto o passo (P) é 1,105 m. Portanto a razão P/D é

0,65. Como pode ser visto na figura (3.1), a razão P/D=0,65 não consta no diagrama.

Devido a isso, foi preciso utilizar os polinômios característicos que são utilizados para

gerar as curvas do diagrama para uma nova razão P/D. O método pode ser visualizado

em [3].

Figura 3.3: Novas curvas do propulsor para P/D=0,65

Com as novas curvas, figura (3.3), foi possível obter os valores de e .

Pelas equações (2.7) e (2.8) obtemos o Torque e o Empuxo. O Torque, porém, deve ser

corrigido para pela equação (2.73), já que as influências da esteira formada pela

popa e a turbulência maior nesse caso do que no caso em águas abertas aumentam o

Torque.

(3.2)

Onde é a eficiência rotativa relativa, sendo:

(3.3)

32

(3.4)

(3.5)

Onde é a eficiência considerando a popa da embarcação é a eficiência em

águas abertas.

A partir desse valor do Torque, foi calculado um novo valor do Torque que deve

se aproximar do Torque da medição, pois considera fatores como alinhamento,

lubrificação dos mancais e da caixa redutora, a partir das equações:

(3.6)

(3.7)

(3.8)

3.2.3- Medição no Eixo

O objetivo deste método é obter os valores reais de Torque e empuxo da

embarcação nos pontos de operação já determinados, a fim de verificar se os esforços

no eixo se aproximam do que calculamos a partir das formulações anteriores.

Para ser realizada a medição, foram utilizados 3 tipos de Strain Gauges, ou

Extensômetros, para o cálculo da deformação no eixo do navio através do Sistema de

Eixos Girantes (SMEG). Os Strain Gages são sensores elétricos colados na superfície do

material analisado. As informações fornecidas pelos Strain Gauges foram obtidas

através de Telemetria, ou seja, por comunicação sem fio. A instalação do sistema pode

ser visto na figura (3.4):

33

Figura 3.4: Sistema de Medição instalado no Eixo MCP de Bombordo

A seguir serão mostrados os 3 tipos de Strain Gages instalados:

Figura 3.5: Strain Gage tipo Roseta

34

Figura 3.6: Strain Gage tipo Torção

Figura 3.7: Strain Gage tipo Fletor

O Strain Gage pode efetivamente medir a tensão em uma única direção. Para

determinar os 3 componentes independentes do plano de deformação, são necessárias 3

medidas de tensão linearmente independentes, ou seja 3 Strain Gages posicionados em

um layout do tipo roseta, representado no primeiro Strain Gage da figura anterior,

figura(3.5).

Quando a torção é aplicada ao eixo fazendo com que ele rode, tensões de corte

são induzidas devido ao movimento. Para medir essas tensões, os Strain Gages são

colados formando 45º com a horizontal onde é aplicado o torque, representado no

segundo Strain Gage na figura anterior, figura(3.6).

O terceiro Strain Gage representado na figura (3.7) mede a tensão devido ao

momento fletor no eixo x e o Efeito Poisson no eixo y. Efeito Poisson é definido como

as alterações na direção perpendicular à carga aplicada quando há a aplicação de uma

carga em certa direção.

Como pode ser visto na seção (2.4.3) os Strain Gages fornecem uma voltagem

de saída, que pode ser relacionada com a deformação naquele ponto da superfície do

material, pela equação (2.70). Por sua vez, a deformação pode ser relacionada com a

Tensão de Cisalhamento pela equação (2.74). O programa utilizado para obter os

valores de Torque e Empuxo na medição utiliza essas informações da operação dos

35

Strain Gages para montar o Círculo de Mohr e a partir dela, pelas relações apresentadas,

pode-se obter a Tensão de Cisalhamento e o Torque no eixo, pela equação (2.73). Para

obter a deformação de cisalhamento foi utilizado o Strain Gage da figura (3.6)

O Empuxo, que é uma força axial no eixo, é relacionado com a deformação

normal e a Tensão Normal e será determinado pela equação (2.10). Para obtermos essa

deformação normal foram utilizados os Strain Gages das figuras (3.5) e (3.7). As

componentes de deformação na direção axial da viga são devidas à compressão, que

ocorre devido à força de empuxo, e à flexão da viga. Para que isolar a deformação

devido ao empuxo, foi medido a deformação em x no Strain Gage de roseta no

momento em que o Strain Gage fletor era nulo.

Com isso, foram obtidos os resultados da medição, que podem ser vistos a

seguir:

Figura 3.8: Gráfico com os resultados da medição

Tabela 3.2: Resultados da Medição

RPM Velocidade (nós) Empuxo (kN) Torque (kN.m) Potência (Kw)

1100 5,1 13,9 0,887096774 103

1300 5,2 18,6 1,290322581 175,4

1500 5,5 20,9 2,056451613 322,6

1680 6 25,5 2,560483871 449,8

36

4- RESULTADOS E COMPARAÇÃO

A seguir serão mostrados os resultados e as comparações entre os resultados dos

métodos teóricos e da Medição.

4.1- Resultados dos Métodos Teóricos

A seguir, serão mostrados os resultados de Torque e Empuxo para os Métodos

Teóricos. Esses resultados são de acordo com [3].

Tabela 4.1: Torque e Empuxo obtidos a partir da Formulação Clássica

Tabela 4.2: Torque e Empuxo obtidos a partir da Formulação de Parâmetros do

Propulsor

4.1.1- Comparação entre os Empuxos Teóricos

Pode-se visualizar a seguir a tabela com os resultados de Empuxo dos métodos

Teóricos e o gráfico comparativo.

Tabela 4.3: Comparação entre os resultados de Empuxo Teórico

Ponto RPM Velocidade T teorico 1 (kN) Q teorico 1 (kN.m)

1 1100 5,1 28,00 2,14

2 1300 5,2 29,05 2,17

3 1500 5,5 32,31 2,44

4 1680 6 38,13 2,80

Ponto RPM Velocidade T teorico 2 (kN) Q teorico 2 (kN.m)

1 1100 5,1 19,99 0,78

2 1300 5,2 30,35 1,17

3 1500 5,5 42,04 1,60

4 1680 6 53,32 2,02

Ponto RPM Velocidade T teorico 1 (kN) T teorico 2 (kN)

1 1100 5,1 28,00 19,99

2 1300 5,2 29,05 30,35

3 1500 5,5 32,31 42,04

4 1680 6 38,13 53,32

37

Figura 4.1: Comparação entre os resultados de Empuxo Teórico

Pode ser vista na figura (4.1) uma discrepância entre os valores, principalmente

quando a velocidade da embarcação aumenta. Essas discrepâncias dependem,

principalmente, dos efeitos de esteira e interferências causadas pelo fundo e margem,

além da forma da embarcação utilizada.

4.1.2- Comparação entre os Torques Teóricos

Pode-se visualizar a seguir a tabela com os resultados de Torque dos métodos

Teóricos e o gráfico comparativo.

Tabela 4.4: Comparação entre os resultados de Torque Teórico

Ponto RPM Velocidade Q teorico 1 (kN.m) Q teorico 2 (kN.m)

1 1100 5,1 2,14 0,78

2 1300 5,2 2,17 1,17

3 1500 5,5 2,44 1,60

4 1680 6 2,80 2,02

38

Figura 4.2: Comparação entre os resultados de Torque Teórico

O torque teórico 1(Formulação Clássica) é calculado a partir dos dados reais do

motor da embarcação, tornando-o mais confiável. O torque teórico 2 foi calculado a

partir de parâmetros do propulsor, dependendo do coeficiente de esteira, que foi

estimado.

4.2- Resultados da Medição

Feita a medição na embarcação, obteve-se os seguintes resultados:

Tabela 4.5: Resultados de Torque e Empuxo da Medição

RPM Velocidade (nós) Empuxo (kN) Torque (kN.m)

1100 5,1 13,9 4,4

1300 5,2 18,6 6,4

1500 5,5 20,9 10,2

1680 6 25,5 12,7

39

Figura 4.3: Resultados de Torque e Empuxo da Medição

4.3- Comparação dos Métodos Propostos

4.3.1- Comparação entre os Resultados de Torque

Pode-se visualizar a seguir a tabela com os resultados de Torque dos métodos

propostos e o gráfico comparativo.

Tabela 4.6: Comparação entre os resultados de Torque para os Métodos Propostos

Ponto RPM Velocidade Q teorico 1 (kN.m) Q teorico 2 (kN.m) Q medição (kN.m)

1 1100 5,1 2,14 0,78 0,89

2 1300 5,2 2,17 1,17 1,29

3 1500 5,5 2,44 1,60 2,06

4 1680 6 2,80 2,02 2,56

40

Figura 4.4: Comparação entre os resultados de Torque para os Métodos Propostos

Pela figura (4.4) é possível ver que o Torque resultante da Medição se aproxima

dos resultados teóricos que utilizaram os parâmetros do propulsor nas menores rotações

enquanto nas maiores se aproxima dos resultados obtidos pela formulação Clássica. Nos

pontos de operação 1 e 2, a rotação é menor, portanto as interferências hidrodinâmicas

na popa são menores, se aproximando do método que não considera essas interferências.

Quando a rotação aumenta, há a tendência do resultado da medição se aproximar dos

resultados da formulação que utiliza o Método Holtrop, que estima a resistência ao

avanço a partir de dados estatísticos de navios reais, considerando efeitos reais na

superfície do caso e do propulsor.

No momento da medição foi observada uma esteira muito mal comportada. Essa

diferença entre a medição e os métodos teóricos aparece principalmente na estimativa

do coeficiente de esteira, já que, nesse caso, ela é muito complexa devido a recirculação

e fundo raso, que aumenta a resistência e a massa adicional, sendo necessário um torque

maior para propelir a embarcação na velocidade desejada. Além disso, a esteira não

permanece constante durante uma rotação, o que torna ainda mais difícil essa

estimativa.

Como foi citado no capítulo (3), o navio possui 3 propulsores, sendo que

somente 1 foi considerado nas análises teóricas e também na medição. Nessa situação

da medição, propulsores desligados são considerados apêndices que aumentam a

resistência da embarcação. Além disso, pequenos possíveis erros de eficiência, devido a

41

cuidados com a embarcação, podem ser citados. Vale ressaltar que os métodos teóricos

são mais precisos para situações em águas abertas, onde não há grande interferência

externa.

4.3.2- Comparação entre os Resultados de Empuxo

Pode-se visualizar a seguir a tabela com os resultados de Empuxo dos métodos

propostos e o gráfico comparativo.

Tabela 4.7: Comparação entre os resultados de Empuxo para os Métodos Propostos

Figura 4.5: Comparação entre os resultados de Empuxo para os Métodos Propostos

Pela figura (4.5) pode-se observar que o empuxo gerado na situação real é menor

do que os empuxos teóricos. Em relação à formulação teórica Clássica (Teórico 1), onde

foi necessário o uso de uma forma característica do tipo da embarcação, já era possível

Ponto RPM Velocidade T teorico 1 (kN) T teorico 2 (kN) T medição (kN)

1 1100 5,1 28,00 19,99 13,9

2 1300 5,2 29,05 30,35 18,6

3 1500 5,5 32,31 42,04 20,9

4 1680 6 38,13 53,32 25,5

42

prever um erro associado à essa estimativa, já que foi observado no momento da

medição que a embarcação apresentava uma esteira muito mal comportada, com

velocidade de escoamento baixa, afetando a popa da embarcação e o escoamento nessa

região. Além disso, como já foi citada, a operação é realizado em águas rasas, o que

implica em interferência no desempenho hidrodinâmico dos hélices.

Porém, um fato importante é que, apesar de ser considerado um único propulsor,

o de bombordo, o propulsor de boreste funcionava a baixa carga, mas não está sendo

considerado. Mesmo não sendo possível quantificar essa diferença com as informações

obtidas, a curva de empuxo da medição tende a subir, diminuindo bastante a diferença.

43

5- CONCLUSÃO

Com a comparação dos resultados de Torque e Empuxo obtidos pela medição e

pelas formulações teóricas pode se observar uma pequena, porém considerável,

discrepância entre os valores. Com essa diferença, porém, não é possível tirar as

melhores conclusões sobre os métodos teóricos utilizados, já que eles abrangem

situações de teste de propulsores em águas abertas, utilizam série de dados de

embarcações que navegam em águas profundas, entre outras diferenças com a situação

real analisada. Além disso, o objeto de estudo, a embarcação Germano Becker, possui

uma forma pouco suave, que, somada à navegação fluvial em águas rasas, aumenta a

resistência e a influência do escoamento na popa da embarcação.

Apesar das discrepâncias, foi possível também verificar o sistema utilizado na

medição, que mostrou resultados próximos ás formulações teóricas consolidadas.

Objetivo do estudo foi, portanto, concluído.

Como proposta para futuros trabalhos acerca desse tema, recomenda-se que seja

utilizado um objeto de estudo com operação similar às consideradas pelos métodos.

Além disso, é recomendável que seja utilizada a tabela de cotas da embarcação real,

além de melhores estimativas.

44

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] HOLTROP, J.; MENNEN, G.G.J., AN APPROXIMATE POWER PREDICTION

METHOD, International Shipbuilding Progress, Vol. 29, July 1982.

[2] HARVALD, SV. AA., 1983, RESISTANCE AND PROPULSION OF SHIPS.

[3] MONTFORT, G. V., 2014, SELEÇÃO DE SISTEMA PROPULSIVO EM

CASCOS DE DESLOCAMENTO: USO DE FORMULAÇÕES CLÁSSICAS E

RESULTADOS DE MEDIÇÃO, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro.

[4] MONTEIRO, U.A., 2012, CALIBRAÇÃO DO SISTEMA DE MEDIÇÃO DE

EIXOS GIRANTES (SMEG) E CÁLCULO EXPERIMENTAL DO TORQUE

ESTÁTICO APLICADO A UM EIXO MACIÇO, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro.

[5] BEER, Ferdinand P.; DEWOLF, John T.; JOHNSTONE, E. Russell, Jr.,

RESISTENCIA DOS MATERIAIS, 2006.