obscídio - a obsessão e o suicídio

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OBSCÍDIO a Obsessão e o Suicídio

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Praticamente em todos os casos de suicídio temos um grave problema obsessivo envolvido. Infelizmente a própria família, parentes e amigos, assim como a Medicina não identifica que isso está ocorrendo e na maioria das vezes se vê surpreendida pelo suicídio “inesperado” de um seu parente. Em particular a Espiritualidade destaca que entre os Jovens e nos Idosos isso está acontecendo de forma crescente. O nosso trabalho mostra isso e o que pode ser feito para minimizar, sob a ótica espiritual, tais acontecimentos, que vem trazer uma profunda dor as famílias, assim como preventivos para envolvimento espiritual negativo para qq um de Nós. O nosso Amigo Bezerra de Meneses nos diz: “OS SUICÍDIOS QUE TIVERAM POR CAUSA A OBSESSÃO DE UM ESPÍRITO PERVERSO, sobre o encarnado, apresentam certa parcela de atenuantes para a vítima e agravantes para o algoz”. (Dramas da Obsessão – Cap. 6) O Chico Xavier recebeu mais de 30 comunicações/depoimentos de jovens que desencarnaram pelo suicídio. Vendo cada uma delas se verifica que em todas há a sombra da Obsessão por trás. No arquivo Texto todas esses depoimentos são apresentados. Exatamente por isso que Dias da Cruz faz um grande apelo: “A tragédia do suicídio na adolescência deve ser considerada com ênfase e relevância nos programas e planejamentos da Casa Espírita, pois uma ação conjunta, fundamentada no amor legítimo, pode reverter esse quadro doloroso. Este é o apelo da nossa alma!” Dias da Cruz – Revista Reformador/Junho/2005 – Suicídio na Adolescência Porque dessas Obsessões? O Que Fazer para evitá-las? ou Minimizar seus efeitos?

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OBSCÍDIO – a Obsessão e o Suicídio

Page 2: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

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SUMÁRIO

1 A OBSESSÃO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita 1

1.1 A Obsessão na Sociedade – Um Flagelo Social e Espiritual 1

1.2 A Obsessão – O Que É 4 1.2.1 Domínio/Controle 4 1.2.2 Enfermidade Espiritual 6 1.2.3 Resgate/Provação/Expiação 9

1.3 A Obsessão – Causas Preponderantes 10 1.3.1 Débitos Cármicos 10 1.3.2 Indolência Física/Mental 13 1.3.3 Tendências Negativas 15

1.4 A Obsessão – Profilaxia/Tratamento 17 1.4.1 Autoconscientização 17 1.4.2 Reeducação Mental 19 1.4.3 A Prece/a Meditação 20 1.4.4 Ação Enobrecedora 22

2 O SUICÍDIO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita 24

2.1 Suicídio – E as Leis Espirituais 24

2.2 Suicídio – O que É 26

2.3 Suicídio – Causas Morais/Espirituais 32 2.3.1 Orgulho ferido/Perdas 33 2.3.2 Falta de Fé / Materialismo / Visão da Morte 35 2.3.3 Visão distorcida da Morte 39 2.3.4 Tendências Reincidentes 41 2.3.5 A Obsessão 44 2.3.6 Desordens Depressivas 47 2.3.7 Tédio da Vida 50 2.3.8 Conflitos Familiares 52 2.3.9 Isolamento Social/Solidão 54

3 O SUICÍDIO E A OBSESSÃO 56

3.1 O Suicídio por processo Obsessivo 56 3.1.1 Considerações Gerais 56 3.1.2 Profilaxia – Diretrizes Gerais 62

3.2 O Suicídio por processo Obsessivo – Infanto-Juvenil 64 3.2.1 Características Gerais 64 3.2.2 O Processo Obsessivo 67 3.2.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes 70

3.2.3.1. Sinais de Alerta 70 3.2.3.2. Fatores de Risco 72 3.2.3.3. Prevenção 74

Page 3: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

iii

3.3 O Suicídio por processo Obsessivo - Na Terceira Idade 77 3.3.1 Características Gerais 77 3.3.2 O Processo Obsessivo 80 3.3.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes 93

3.2.3.1. Sinais de Alerta 93 3.2.3.2. Fatores de Risco 94 3.2.3.3. Prevenção 96

3.4 O Suicídio por processo Obsessivo – Especiais 98 3.4.1 Por implantação Perispiritual 98 3.4.2 Por Hipnose profunda 100 3.4.3 Por Envolvimento Sutil 105

3.5 O “Homicídio Espiritual” por processo Obsessivo 111

3.6 O Suicídio por processo Obsessivo – Depoimentos 116 3.6.1 Infanto-juvenil 116 3.6.2 Adulto/Terceira Idade 201

4 REFERÊNCIAS 288

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LISTA DE DEPOIMENTOS

Depoimentos de 1 à 22: Jovens Depoimentos de 23 à 40: Adultos/Terceira Idade

DEPOIMENTO 1 Hilda .................................................................................................................... 118

DEPOIMENTO 2 Fernanda Luiza Batista ........................................................................................ 121

DEPOIMENTO 3 H .......................................................................................................................... 124

DEPOIMENTO 4 Antônio Carlos Martins Coutinho ....................................................................... 129

DEPOIMENTO 5 Cláudia Pinheiro Galasse ..................................................................................... 131

DEPOIMENTO 6 Francisco Adonias Nogueira Filho ...................................................................... 133

DEPOIMENTO 7 José Teodoro Caldeira ......................................................................................... 135

DEPOIMENTO 8 Júlio César C. da Silveira .................................................................................... 138

DEPOIMENTO 9 Lincoln Prata Lóes ............................................................................................... 142

DEPOIMENTO 10 Marcos Emanuel Teixeira Santos ...................................................................... 144

DEPOIMENTO 11 Milton Higino de Oliveira ................................................................................. 147

DEPOIMENTO 12 Renata Zaccaro de Queiroz ................................................................................ 154

DEPOIMENTO 13 Selma Rodrigues Sanches .................................................................................. 157

DEPOIMENTO 14 Lucia Ferreira .................................................................................................... 160

DEPOIMENTO 15 Wladimir Cesar Ranieri ..................................................................................... 163

DEPOIMENTO 16 Décio Márcio Carvalho ..................................................................................... 166

DEPOIMENTO 17 Dimas Luiz Zornetta .......................................................................................... 170

DEPOIMENTO 18 João Alves de Sousa .......................................................................................... 173

DEPOIMENTO 19 Pedro Augusto Souza Gonçalves ....................................................................... 176

DEPOIMENTO 20 Maximiliano ....................................................................................................... 180

DEPOIMENTO 21 Francisco Ângelo de Souza ............................................................................... 184

DEPOIMENTO 22 Marcio Ricardo .................................................................................................. 186

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v

DEPOIMENTO 23 Camilo Castelo Branco ...................................................................................... 202

DEPOIMENTO 24 Marilyn Monroe ................................................................................................. 207

DEPOIMENTO 25 Amílcar Rodrigues Passos ................................................................................. 213

DEPOIMENTO 26 Anônima ............................................................................................................ 217

DEPOIMENTO 27 Maria Cândida ................................................................................................... 222

DEPOIMENTO 28 Antero de Quental .............................................................................................. 225

DEPOIMENTO 29 Hermes Fontes ................................................................................................... 235

DEPOIMENTO 30 Francisca Júlia da Silva ..................................................................................... 238

DEPOIMENTO 31 Jorge ................................................................................................................... 240

DEPOIMENTO 32 Lima ................................................................................................................... 248

DEPOIMENTO 33 Luís Alves .......................................................................................................... 252

DEPOIMENTO 34 Entrevista com um Suicida ................................................................................ 255

DEPOIMENTO 35 Suicida da Samaritana ....................................................................................... 260

DEPOIMENTO 36 Alfred Leroy ...................................................................................................... 263

DEPOIMENTO 37 Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo ........................................................ 268

DEPOIMENTO 38 Raul Martins ...................................................................................................... 271

DEPOIMENTO 39 Joaquim Mousinho d'Albuquerque .................................................................... 273

DEPOIMENTO 40 Roberto Eduardo ................................................................................................ 281

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 1

1 A OBSESSÃO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita

1.1 A Obsessão na Sociedade – Um Flagelo Social e Espiritual A obsessão, mesmo nos dias de hoje, constitui tormentoso flagício social.

Está presente em toda parte, convidando o homem a sérios estudos.

As grandes conquistas contemporâneas não conseguiram ainda erradicá-la.

Ignorada propositadamente pela chamada Ciência Oficial, prossegue

colhendo nas suas malhas, diariamente, verdadeiras legiões de incautos que se

deixam arrastar a resvaladouros sombrios e truanescos, nos quais padecem

irremissivelmente, até à desencarnação lamentável, continuando, não raro,

mesmo após o traspasse...

Isto, porque a morte continua triunfando, ignorada, qual ponto de

interrogação cruel para muitas mentes e incontáveis corações.

As obsessões enxameiam por toda parte e os homens terminam por

conviver, infelizes, com essas psicopatologias para as quais, fugindo à sua

realidade, procuram as causas nos traumas, nos complexos, nos conflitos, nas

pressões sociais, familiares e econômicas, como mecanismo de fuga aos exames de

profundidade da gênese real de tão devastadora enfermidade.

Não negando a preponderância de todos esses fatores que desencadeiam

problemas de comportamento psicológico, afirmamos que eles, antes de

constituírem causa dos distúrbios, são, em si mesmos, efeito de atitudes transatas,

que o Espírito imprime na organização fisiopsíquica ao reencarnar-se,

porquanto é sempre colocado no grupo familiar com o qual se encontra enredado,

por impositivo de ressarcimento de dívidas, para o equilíbrio evolutivo.

Enquanto o homem não for estudado na sua realidade profunda -- ser

espiritual que é, preexistente ao corpo e a ele sobrevivente --, muito difíceis serão

os êxitos da ciência médica, na área da saúde mental.

As doenças psíquicas, entre as quais se destacam, pela alta incidência, as

obsessões, continuarão ainda a perseguir o homem.

Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 26 –

Fenômenos Obsessivos

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 2

Ainda que no momento estejamos passando por um período de transição

planetária, no qual já se percebe fortes sinais indicativos de mudanças evolutivas

na humanidade terráquea, cujo planeta caminha para o estado de regeneração, a

Terra ainda é categorizada como mundo de expiação e provas, visto que o mal

predomina.

Neste sentido, a obsessão está caracterizada como epidemia antiga,

ocorrendo desde os tempos imemoriais, que alcança milhares e milhares de

pessoas em todas as partes da Terra.

É uma enfermidade que, para ser erradicada, necessita da melhoria humana,

especialmente a de cunho moral.

O ser humano moralizado ou que se empenha em se transformar em pessoa

de bem, neutraliza naturalmente as investidas dos Espíritos maus.

Marta Antunes de Moura – Site FEB – Obsessões Espirituais –

2018/03/08

Epidemia virulenta que grassa ininterruptamente a obsessão prolifera

na atualidade com vigoroso impacto que faz recordar as calamidades pestilenciais

de épocas transatas.

Apresenta-se sob disfarce de variada configuração, concitando psicólogos e

teólogos, filósofos e sociólogos interessados nos magnos assuntos do homem e da

coletividade ao estudo das suas causas, com o objetivo de combatê-la com a

eficiência necessária para estancar, em definitivo, a onda de sofrimentos que

produz, erradicando-a terminantemente ...

A Doutrina que estuda as obsessões, as suas causas preponderantes e

predisponentes – o Espiritismo –, possui os recursos excepcionais capazes de

vencer essa epidemia cruel que, generalizada, invade hoje a Terra em todos os

seus pontos.

Eurípedes Barsanulfo – Sementes de Vida Eterna – Cap. 50 – Tormentos da

Obsessão

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 3

Pululam por toda parte os vinculados gravemente às Entidades

perturbadoras do Mundo Espiritual inferior.

Obsidiados, desse modo, sim, somos quase todos nós, em demorado

trânsito pelas faixas das fixações tormentosas do passado, donde vimos para as

sintonias superiores que buscamos.

Muito maior, portanto, do que se supõe, é o número dos que padecem

de obsessões, na Terra.

Lamentavelmente, esse grande flagelo espiritual que se abate sobre os

homens, e não apenas sobre eles, já que existem problemas obsessivos de várias

expressões, como os de um encarnado sobre outro, de um desencarnado sobre outro,

de um encarnado sobre um desencarnado e, genericamente, deste sobre aquele, não

tem merecido dos cientistas nem dos religiosos o cuidado, o estudo, o tratamento

que exige.

Obsessões e obsidiados são as grandes chagas morais dos tumultuados

dias da atualidade.

Todavia, a Doutrina Espírita, trazendo de volta a mensagem do Senhor, em

espírito e verdade, é o portal de luz por onde todos transitaremos no rumo da

felicidade real que nos aguarda, quando desejemos alcançá-la.

Manoel Philomeno de Miranda – Sementes de Vida Eterna – Cap. 30 –

Considerando a Obsessão

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 4

1.2 A Obsessão – O Que É 1.2.1 Domínio/Controle

A obsessão é a ação persistente que o Espírito “ignorante” exerce sobre

um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência

moral, sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo

e das faculdades mentais”.

Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 28 – item 81 – Pelos

Obsidiados

A obsessão consiste no domínio que os maus Espíritos assumem sobre

certas pessoas, com o objetivo de as escravizar e submeter à vontade deles, pelo

prazer que experimentam em fazer o mal.

Quando um Espírito, bom ou mau, quer atuar sobre um indivíduo, envolve-

o, por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto. Interpenetrando-se

os fluidos, os pensamentos e as vontades dos dois se confundem e o Espírito, então,

se serve do corpo do indivíduo, como se fosse seu, fazendo-o agir à sua vontade,

falar, escrever, desenhar, quais os médiuns.

Allan Kardec – Obras Póstumas – 1º Parte – Cap. 7 – Item 56 – Da Obsessão e

da Posessão

No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta é

necessário colocar a da obsessão em primeira linha.

Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas

pessoas.

São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não

exercem nenhum constrangimento.

Os bons aconselham, combatem a influência dos maus, e se não os escutam

preferem retirar-se.

Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegam

a dominar alguém, identificam-se com o Espírito da vítima e a conduzem: como se

faz com uma criança.

Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Cap. 23 – Item 237 – A Obsessão

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 5

Obsessão é o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas

pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a

Obsessão

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 6

1.2.2 Enfermidade Espiritual

A obsessão, sob qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de

longo curso, exigindo terapia especializada de segura aplicação e de resultados que

não se fazem sentir apressadamente.

Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome

alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicação difícil.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a

Obsessão

Os atos infelizes, deliberadamente praticados, em razão da força mental

de que necessitam, destroem os tecidos sutis do perispírito, os quais,

ressentindo-se do desconcerto, deixarão matrizes na futura forma física, em que se

manifestarão as deficiências purificadoras.

A queda do tom vibratório específico permitirá, então, que os envolvidos no

fato, no tempo e no espaço, próximos ou não, se vinculem pelo processo de uma

sintonia automática de que não se furtarão.

Estabelecem-se aí as enfermidades de qualquer porte.

Os fatores imunológicos do organismo, padecendo a disritmia vibratória que

os envolve, são vencidos por bactérias, vírus e toda a sorte de micróbios patogênicos

que logo se desenvolvem, dando gênese às doenças físicas.

O médico informou, ainda, que há casos em que a incidência do

pensamento maléfico, aceito pela mente culpada, destrambelha a intimidade da

célula, interferindo no seu núcleo, acelerando a sua reprodução e dando gênese

a neoplasias e cânceres de variadas expressões.

Por sua vez, na área mental, os conflitos, as mágoas, os ódios acerbos, as

ambições tresvariadas e os tormentosos delitos ocultos, quando da reencarnação,

por estarem ínsitos no Espírito endividado, respondem pelas distonias psíquicas e

alienações mais variadas.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 7

Acrescente-se a isso a presença dos cobradores desencarnados, cuja ação

mental encontra perfeito acoplamento na paisagem psicológica daqueles a quem

perseguem, e teremos instalada a constrição obsessiva.

Eis porque é rara a enfermidade que não conte com a presença de um

componente espiritual, quando não seja diretamente o seu efeito.

Corpo e mente refletem a realidade espiritual de cada criatura.

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 1 – Provação

Necessária

Esse distúrbio, o da obsessão, difere bastante daqueles de natureza orgânica,

que produzem a idiotia e a loucura.

Em todos esses casos, porém, encontram-se espíritos enfermos, aqueles que

estão reencarnados, endividados perante as Leis Cósmicas, em processos graves

de provações dolorosas ou expiações reeducativas.

Na obsessão, encontra-se atuante um agente espiritual que se faz

responsável pelo transtorno reversível; no entanto, nos casos em que o ser renasce

sob o estigma da idiotia ou chancelado pelos fatores que propiciam a loucura, os

seus débitos e gravames são de tal natureza grave, que imprimiram no corpo o

látego e o presídio necessários para a sua renovação moral.

Desde o momento da reencarnação, a consciência culpada e os sentimentos

em desordem imprimiram nos equipamentos orgânicos e cerebrais as deficiências

de que o endividado tem necessidade para reparar os males anteriormente

praticados, desde quando, portador de inteligência e mesmo de genialidade, delas

se utilizou para a alucinação no prazer exorbitante em prejuízo de grande número

de pessoas outras que lhe experimentaram a crueldade, a intemperança, a

indiferença...

Malbaratado o patrimônio superior que a vida lhe concedeu para multiplicar

os talentos de que dispunha, volta agora ao orbe terrestre para expiar, passando

pelos sítios tormentosos da falta de lucidez e com limitação mental, encarcerado em

equipamentos que são incapazes de lhe permitir a comunicação com o mundo

exterior.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 8

Sitiado em si mesmo, sofre as consequências da hediondez que se permitiu,

padecendo rudes aflições pela impossibilidade de agir com segurança e

desenvoltura.

O corpo, atingido pelos fatores endógenos — hereditariedade, sequelas de

enfermidades infectocontagiosas — de que se revestiu o espírito por sintonia

vibratória no momento da reencarnação, é resultado da utilização de genes com

características deformadas, não havendo possibilidade então de recomposição, de

restauração da saúde mental, de equilíbrio psíquico.

No entanto, resgatando os males ainda preponderantes na sua economia

moral, adquirirá a harmonia que lhe facultará futuros cometimentos felizes,

mediante os quais contribuirá em favor da ordem e do desenvolvimento intelectual,

moral e espiritual de si mesmo, assim como da sociedade.

(...) Quando as obsessões se fazem prolongadas e o paciente não se dispõe

à recuperação ou não a consegue, a incidência continuada dos fluidos deletérios

sobre os neurônios cerebrais termina por produzir afecções e distúrbios de grave

porte que se tornam irrecuperáveis.

Desse modo, as obsessões podem conduzir à loucura, à idiotia, e essas,

por sua vez, serão ampliadas por influências espirituais perniciosas, que são

realizadas pelos adversários do enfermo, que se utilizam da sua incapacidade de

autodefesa para os desforços infelizes, nos quais se comprometem, por sua vez, com

a própria consciência.

Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 5 –

Obsessão, Idiotia e Loucura

Page 14: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 9

1.2.3 Resgate/Provação/Expiação

Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em consequência da

inferioridade moral de seus habitantes.

A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a

Humanidade se vê a braços neste mundo.

A obsessão, que é um dos efeitos de semelhante ação, como as

enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como

provação ou expiação e aceita com esse caráter.

Allan Kardec – A Gênese – Cap. 14 – Obsessões e Possessões

Em toda obsessão, mesmo nos casos mais simples, o encarnado conduz

em si mesmo os fatores predisponentes e preponderantes – os débitos morais a

resgatar – que facultam a alienação.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a

Obsessão

Desse modo, as obsessões, na sua fase inicial, antes da tragédia da

subjugação, de mais difícil reequilíbrio, têm caráter Provacional, enquanto que a

idiotia e a loucura estão incursas nas expiações redentoras, através das quais o

espírito calceta desperta para a compreensão dos valores da vida, enriquecendo-se

de sabedoria para os futuros comportamentos.

Assim mesmo, nos casos dessa ordem, a contribuição psicoterapêutica do

Espiritismo através da bioenergia, da água fluidificada, da doutrinação do paciente

e dos espíritos que, possivelmente, estarão complicando-lhe o processo de

desequilíbrio, a oração fraternal e intercessória são de inequívoco resultado

saudável, proporcionando o bem-estar possível e a diminuição de sofrimento do

paciente, a ambos encaminhando para a paz e a futura plenitude.

Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 5 –

Obsessão, Idiotia e Loucura

Page 15: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 10

1.3 A Obsessão – Causas Preponderantes

A Doutrina que estuda as obsessões, as suas causas preponderantes e

predisponentes – o Espiritismo –, possui os recursos excepcionais capazes de

vencer essa epidemia cruel que, generalizada, invade hoje a Terra em todos os seus

pontos.

Eurípedes Barsanulfo – Sementes de Vida Eterna – Cap. 50 – Tormentos da

Obsessão

1.3.1 Débitos Cármicos

Com origem nos refolhos do espírito encarnado, obsessões há em escala

infinita e, consequentemente, obsidiados existem em infinita variedade, sendo a

etiopatogenia de tais desequilíbrios, genericamente denominada distúrbios mentais,

mais ampla do que a clássica apresentada, merecendo destaque aquela

denominação causa cármica.

Jornaleiro da Eternidade, o espírito conduz os germens cármicos que

facultam o convívio com os desafetos do pretérito, ensejando a comunhão nefasta.

Inicialmente o hospede espiritual (o obsessor), movido pela morbidez do

ódio ou do amor insano, ou por outros sentimentos, envolve a casa mental do

futuro parceiro (o obsedado) – a quem se encontra vinculado por compromissos

infelizes de outras vidas, o que lhe confere receptividade por parte deste,

mediante a consciência da culpa, o arrependimento desequilibrante, a afinidade nos

gostos e aspirações, por ser endividado – enviando-lhe mensagens persistentes, em

continuas tentativas telepáticas, até que sejam captadas as primeiras induções, que

abrirão o campo a incursões mais ousadas e vigorosas.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a

Obsessão

Page 16: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 11

Neste capítulo, o das culpas, origina-se o fator causal para a injunção

obsessiva; daí porque só existem obsidiados porque há dívidas a resgatar.

A culpa, consciente ou inconscientemente instalada na casa mental, emite

ondas que sintonizam com inteligências doentias, habilitando-se a in-

tercâmbios mórbidos.

A obsessão resulta de um conúbio por afinidade de ambos os parceiros.

O reflexo de uma ação gera reflexo equivalente.

Toda vez que uma atitude agride, recebe uma resposta de violência, tanto

quanto, se o endividado se apresenta forrado de sadias intenções para o

ressarcimento do débito, encontra benevolência e compreensão para recuperar-se.

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Prefácio

Há muito mais obsessão, grassando na terra, do que se imagina e se crê.

Nos processos obsessivos, não deixemos de repeti-lo, estão incursas na Lei

as pessoas que constituem o grupo familiar e social do paciente, aí situado por

necessidade evolutiva e de resgate para todos.

Não se podem fugir à responsabilidade os que foram cúmplices ou co-

autores dos delitos, quando os infratores mais comprometidos são alcançados pela

justiça.

Reunidos pelo parentesco sanguíneo ou através de conjunturas da

afetividade, da afinidade, formam os grupos onde são alcançados pelos recursos

reeducativos, dentro dos objetivos do progresso.

A cruz da obsessão é peso que tomba sempre sobre os ombros das

consciências comprometidas.

Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. Análise

das Obsessões

Page 17: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 12

A consciência culpada é sempre porta aberta à invasão da penalidade

justa ou arbitrária. E o remorso, que lhe constitui dura clave, faculta o surgimento

de idéias-fantasmas apavorantes que ensejam os processos obsessivos de resgate

das dívidas.

Invariavelmente, na obsessão, há sempre o aproveitamento da ideia

traumatizante – a presença do crime praticado –, que é utilizada pela mente que

se fez perseguidora revel, apressando o desdobramento das forças deprimentes em

latência, no devedor, as quais, desgovernadas, gravitam em torno de quem as

elabora, sendo consumido por elas mesmas, paulatinamente.

As idéias plasmadas e aceitas pelo cérebro, durante a jornada física, criam

nos painéis delicados do perispírito as imagens mais vitalizadas, de que se utilizam

os hipnotizadores espirituais para recompor o quadro apavorante, em cujas

malhas o imprevidente se vê colhido, derrapando para o desequilíbrio psíquico total

e deixando-se revestir por formas animalescas grotescas – que já se encontram

no subconsciente da própria vítima – e que estrugem, infelizes, como o látego da

justiça no necessitado de corretivo.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 4 –

Estudando o Hipnotismo

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 13

1.3.2 Indolência Física/Mental Os indivíduos tornam-se presas fáceis dos seus antigos comparsas,

tombando nos processos variados de alienações obsessivas, porque, além de se

descurarem da observância espiritual da existência, mediante atitudes salutares,

comportamento equilibrado e vida mental enriquecida pela prece, pela reflexão,

não se esforçam por libertar-se dos aborrecimentos e problemas desgastantes

do dia a dia, mediante a aplicação dos recursos físicos e especialmente os

mentais, por acomodação preguiçosa ou por uma dependência emotiva, infantil,

que sempre transfere responsabilidades para os outros e prazeres para si.

A preguiça mental é um polo de captação das induções obsessivas pelo

princípio de aceitação irracional de tudo quanto a atinge.

Cabe ao homem que pensa dar plasticidade ao raciocínio, ampliando o

campo das idéias e renovando-as com o aprimoramento da possibilidade de

absorver os elementos salutares que o enriquecem de sabedoria e de paz íntima.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a

Obsessão

Mentes viciadas com mais facilidade aceitam as sugestões morbíficas

que lhes são insufladas dentro do campo em que melhor se expressam:

desconfiança, ciúme, ódio, desvario sexual, dependência alcoólica ou toxicômana,

gula, maledicência...

Temperamentos arredios, suspeitosos, são mais acessíveis em razão de

melhor agasalharem as induções equivalentes, que se lhes associam em forma de

perfeita sintonia.

Caracteres violentos, apaixonados, mais fortemente se fazem maleáveis em

decorrência do espírito rebelde que nesse corpo habita, dissimulando as chispas que

lhes acendem as labaredas do incêndio interior, a exteriorizar-se como fogareis

destruidores...

Personalidades ociosas são mais susceptíveis em razão da mente vazia

sempre acolher o que lhe apraz, deixando-se conduzir pela personalidade dos seus

afins desencarnados.

Joanna de Ângelis – Alerta – Cap. 4 – Obsessão e Jesus

Page 19: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 14

Mentes em vigorosas emissões conscientes ou não dardejam em todas as

direções.

Inapelavelmente, por um processo de sintonia na mesma faixa de frequência

de interesses, produzem intercâmbio salutar ou danoso, em processo de transmissão

e de recepção.

Se te elevas pelo pensamento, alcanças vibrações nobres; se te perturbas

e vulgarizas, registas as mais grosseiras.

Joanna de Angelis – Rumos Libertadores – Cap. 43 – Médiuns

Conscientes

Page 20: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 15

1.3.3 Tendências Negativas Os espíritos perversos e infelizes sempre se utilizam das tendências

negativas daqueles a quem odeiam, para estimulá-las, desse modo levando-os

às situações penosas, perturbadoras. Se o homem se apoia nos recursos de

elevação, difícil se torna para os seus verdugos espirituais encontrar as brechas

pelas quais infiltram os seus pensamentos torpes, na sanha da perseguição em que

se comprazem.

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 7 – Sementes da

Insensatez

Na Terra, igualmente, é muito grande o número de encarnados que se

convertem, por irresponsabilidade e invigilância, em obsessores de outros

encarnados, estabelecendo um consórcio de difícil erradicação e prolongada

duração, quase sempre em forma de vampirismo inconsciente e pertinaz.

São criaturas atormentadas, feridas nos seus anseios, invariavelmente

inferiores que, fixando aqueles que elegem gratuitamente como desafetos, os

perseguem em corpo astral, através dos processos de desdobramento

inconsciente, prendendo, muitas vezes, nas malhas bem urdidas da sua rede de

idiossincrasia, esses desassisados morais, que, então, se transformam em vítimas

portadoras de enfermidades complicadas e de origem clínica ignorada...

Outros, ainda, afervorados a esta ou àquela iniquidade, fixam-se,

mentalmente, a desencarnados que efetivamente se identificam e fazem-se

obsessores destes, amargurando-os e retendo-os às lembranças da vida física, em

lamentável comunhão espiritual degradante...

Além dessas formas diversificadas de obsessão, outras há, inconscientes ou

não, entre as quais, aquelas produzidas em nome do amor tiranizante aos que

se demoram nos invólucros carnais, atormentados por aqueles que partiram em

estado doloroso de perturbação e egocentrismo... ou entre encarnados que mantém

conúbio mental infeliz e demorado...

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a

Obsessão

Page 21: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 16

Todo desregramento ou abuso de que sejamos dispenseiros se faz utilizado

por mentes vigilantes e perversas do Mundo Espiritual, que açulam falsas

necessidades, estabelecendo comércio lamentável e doloroso, em cujo curso

surgem obsessões de consequências imprevisíveis, que se podem evitar antes, se

refugiados no uso correto das faculdades da existência e na utilização da oração,

forem aplicadas as horas na execução do programa de enobrecimento íntimo para o

qual nascemos e renascemos.

Marco Prisco – Sementeira da Fraternidade – Cap. 28 – Acessos à

Obsessão

Page 22: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 17

1.4 A Obsessão – Profilaxia/Tratamento 1.4.1 Autoconscientização

Portanto na terapia desobsessiva, o contributo do enfermo, tão logo

raciocine e entenda a assistência que se lhe ministra, é de vital importância,

porquanto, serão os seus pensamentos e atos que responderão pela sua

transformação moral para melhor. A evangelização do espírito desencarnado é de

suma importância, mas, igualmente, a da criatura humana que se emaranhou na

delinquência e ainda não se recuperou do delito praticado.

No campo das obsessões, não são poucos aqueles que, logo se melhoram,

abandonam as disposições de trabalho e progresso, para correrem precipites, de

retorno aos hábitos vulgares em que antes se compraziam...

É comum fazer-se o compromisso íntimo de renovação e trabalho, enquanto

perdura a doença, negociando-se com Deus a saúde que se deseja pelo que se

promete realizar, como se a pratica das virtudes do bem fosse útil ao Pai e não dever

de todos nós, que nos beneficia e felicita.

Em particular àqueles que frequentam as Instituições espíritas, portando

obsessões e não se recuperam, merece que se tenha em mente o fato de que a visão

do medicamento não propícia a saúde, senão a ingestão dele e a posterior dieta

conforme convém. A crença racional e o conhecimento são fatores muito

poderosos, quando o indivíduo que se habilita aos mesmos esta honestamente

resolvido a vivê-los.

Saber, apenas, não representa recurso de imunização, se aquele que

conhece não se resolve por aplicar, na vivência, as informações que possui.

Demais, nem todos os males devem ser solucionados conforme a óptica de

quem os padece, mas de acordo com os superiores programas que estabelecem

o que é melhor para a criatura.

Page 23: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 18

A função do Espiritismo é essencialmente a de iluminação da

consciência com a conseqüente orientação do comportamento, armando o seu

aprendiz com os recursos que o capacitem a vencer-se, superando as paixões

selvagens e sublimando as tendências inferiores mediante cujo procedimento se

eleva.

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 24 – Obsessão

Sutil e Perigosa

Em qualquer problema de desobsessão, a parte mais importante e difícil

pertence ao paciente, que afinal de contas é o endividado.

A este compete o difícil recurso da insistência no bem, perseverando no

dever e fugindo a qualquer custo aos velhos cultos do "eu" enfermo, aos hábitos

infelizes, mediante os quais volta a sintonizar com os seus perseguidores que,

embora momentaneamente afastados, não estão convencidos da necessidade de os

libertar.

Oração, portanto, mas vigilância, também, conforme a recomendação

de Jesus. A prece oferece o tônico da resistência, e a vigilância o vigor da

dignidade. Armas para quaisquer situações, são o escudo e a armadura do cristão...

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 8 –

Processos Obsessivos

Page 24: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 19

1.4.2 Reeducação Mental

Como é compreensível, o vício mental decorrente da convivência com o hospede (o obsessor) gera ideoplastias perniciosas de que se alimenta psiquicamente o hospedeiro (o obsidiado). Mesmo quando afastado o fator obsessivo, permanecem, por largo tempo, os hábitos negativos, engendrando imagens prejudiciais que constituem a psicosfera doentia, na qual se movimenta o paciente.

Graças a tais fatores, nem sempre a cura da obsessão ocorre quando são afastados os pobres perseguidores, mas somente quando os seus companheiros de luta instalam no mundo intimo as bases do legitimo amor e do trabalho fraternal em favor do próximo, tanto quanto de si mesmos, através do reto cumprimento dos deveres.

Um dos mais severos esforços que os enfermos psíquicos por obsessão devem movimentar, é o da reeducação mental, adaptando-se às idéias otimistas, aos pensamentos sadios, às construções edificantes.

Por isso, a saúde mental que decorre da liberação das alienações obsessivas se faz difícil, porque ela depende, sobretudo, do enfermo, do seu esforço e não exclusivamente do afastamento do seu perturbador.

Não basta somente afastar os seus adversários, para que os obsidiados se recuperem... A transformação intima, que é mais importante, porque procede do âmago do indivíduo, deve ser trabalhada, insistentemente tentada, a fim de que se desfaçam os fatores propiciatórios, os motivos que levam às dores, liberando cada um, a consciência, de modo a não tombar nas auto-obsessões, mais graves e de curso mais demorado...

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 31 – Gravames na Obsessão

Uma força existe capaz de produzir resultados junto aos perseguidores encarnados ou desencarnados, conscientes ou inconscientes: a que se deriva da conduta moral.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a Obsessão

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 20

1.4.3 A Prece/a Meditação A prece liberta a mente viciada dos seus clichês perniciosos e abre a

mente para a captação das energias inspiradoras, que fomentam o entusiasmo pelo

bem e a conquista da paz através do amor. Entretanto, a fim que se revista de força

desalienante, ela necessita do combustível da fé, sem a qual não passa de palavras

destituídas de compromisso emocional entre aquele que as enuncia e a Quem são

dirigidas.

Por vezes o obsidiado, em desespero, recorda-se da oração e da necessidade

de buscar os amigos, entretanto, nestes instantes muitas vezes a prece flui dos seus

lábios sem a tônica do amor, da fé e portanto, não se irradia, não sintoniza com

os Núcleos de captação de rogativas.

Tudo são vibrações em estados diferentes de energia, desde a pedra até o

pensamento que se exterioriza pela vontade. Captadas pelos Centros de registros

mentais e transmitidas aos sábios prepostos do Senhor, as nossas rogativas levam

cargas psíquicas que facilmente traduzem o significado real das nossas

aspirações, ao mesmo tempo, facultando-lhes ajuizar com presteza a respeito da

conveniência ou não, da justeza e oportunidade do pedido, assim facilitando o seu

deferimento.

A vontade disciplinada e o habito da concentração superior armam o homem

para, e contra mil vicissitudes que defronta na sua escalada evolutiva.

A concentração positiva libera a mente dos clichês viciosos, próprios ou

recebidos de outras mentes, como do meio onde vive, já que somos sensíveis ao

ambiente no qual nos movimentamos.

Por adaptação às ocorrências do dia-a-dia o homem se deixa arrastar meio

dormido pela correnteza dos acontecimentos, sem despertar o pensamento para que

a mente raciocine com objetividade e discernimento, estabelecendo parâmetros

do que deve e não deseja, ao que não deve, mas deseja fazer...

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 12 – Providências

Inesperadas

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 21

Aliando o esforço que cada um deve envidar a benefício próprio, a prece é

fonte inexaurível que irriga o ser, renovando-o e aprimorando-o, ensejando

também, logo após depurar-se, a plainar além dos reveses e tropelias, arrastado

pelas sutis modulações das Esferas Superiores da Vida, onde haure vitalidade e

força para superar todos os empeços.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 6 – No

Anfiteatro

Page 27: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 22

1.4.4 Ação Enobrecedora

Nos processos de obsessão de qualquer natureza, as conquistas morais do

paciente são-lhe o salvo-conduto para o trânsito sem problemas durante a sua

vilegiatura carnal. Isto porque, liberado da constrição afligente, começa-lhe o

período da recuperação dos débitos passados mediante outras provações de

que necessita e de testemunhos que lhe aferirão as novas disposições abrigadas

na alma.

O maior antídoto à obsessão, além da comunhão com Deus, nunca será

demasiado repeti-lo, é a ação enobrecedora. O trabalho edificante constitui força

de manutenção do equilíbrio, porquanto, desenvolvendo as atividades mentais, pela

concentração na responsabilidade e na preocupação para executar os deveres,

desconecta os plugs que se encaixam as matrizes psíquicas receptoras das

induções obsessivas. A oração, portanto, desdobrada na ação superior,

representa a psicoterapia anti-obsessiva mais relevante, que está ao alcance de

toda e qualquer pessoa responsável, de boa vontade.

Apoiem-se na oração e no trabalho. A paisagem mental luarizada pela prece

e o sentimento vinculado ao dever, no serviço, podem ser sitiados pelas forças da

obsessão, mas nunca tombarão nas mãos dos pertinazes perseguidores.

Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 32 – O Retorno

de Felipe

O conhecimento do Espiritismo realiza a melhor terapêutica para o espírito,

higienizando-lhe a mente, animando-o para o trabalho reto e atitudes corretas e

sobretudo dulcificando-o pelo exercício do amor e da caridade, como medidas

providenciais de reajustamento e equilíbrio. Não há força operante no mal que

consiga penetrar numa mente assepsiada pelas energias vitalizadoras do

otimismo, que se adquire pela irrestrita confiança em Deus e pela prática das ações

da solidariedade e da fraternidade.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 6 – No

Anfiteatro

Page 28: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 23

Quando se lhe falam (aos homens) do recurso da oração – anestésico

sublime da dor, reage porque lhe desconhece a formula salutar.

Quando convidado à meditação – estimulante de efeito enérgico e

relevante, desconsidera-lhe o conteúdo porque se aclimatou … ociosidade mental

em termos de reflexão e disciplina.

Ao se lhe apresentarem uma leitura substanciosa – verdadeira

psicoterapia otimista, reivindica as páginas chocantes da licenciosidade, por achar

ingênuas aqueloutras, de significação ultrapassada.

Se chamado à beneficência mediante ação pessoal – praxiterapia

liberativa, apresenta escusa, por se acreditar sem condições.

Convidado ao exercício da caridade fraternal em morros e favelas,

palafitas e alagados – ginástica e ioga para o corpo, mente e espírito, prefere as

fugas espetaculares através do desculpismo insensato, taxando de pieguistas essas

realizações e atirando a responsabilidade desse mister a governos e organizações de

serviço social.

No entanto, o amor é melhor para quem ama e a ação dignificante eleva

e pacifica aquele que a executa.

Sem dúvida, a quimioterapia, a farmacopéia em geral dispõem de elevados

contributos para o homem, minimizando-lhe enfermidades, erradicando velhas e

calamitosas epidemias, ampliando as possibilidades da vida na terra.

Sem embargo, a terapia espiritual vazada no Evangelho e nos recursos

do Espiritismo é o maior antídoto ao desgaste, à excitação, ao cansaço, à

violência, à criminalidade e à miséria social dos momentos cruciais que estrugem

na Terra...

Carneiro de Campos – Sementes de Vida Eterna: Cap. 8 – Doença e

Terapêutica

Page 29: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 24

2 O SUICÍDIO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita

2.1 Suicídio – E as Leis Espirituais

Tem o homem o direito de dispor da sua vida?

Não, só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário transforma‑se

numa transgressão desta lei.

Allan Kardec – Livros dos Espíritos – 4º Parte – Cap. 1 – item 6 – Perg.

944

Para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se

os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução

para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo,

abreviar pelo suicídio as suas misérias.

A calma e a resignação, adquiridas na forma de considerar a vida terrestre e

na fé no futuro, dão ao espírito uma serenidade que é a melhor defesa contra a

loucura e o suicídio.

Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 5 – item 14 –

O Suicídio e a Loucura.

O suicídio não é uma lei, não sendo, por isso mesmo imposto a quem quer

que seja pela harmoniosa legislação divina, como o seriam, por exemplo, o resgate

e a reparação da prática de um ato mau ou a morte natural do corpo físico terreno.

Contrariamente, ele é ato reprovável pela mesma legislação, da inteira

responsabilidade de quem o pratica. E crede, meus amigos, conquanto o coeficiente

dos suicídios no vosso planeta se apresente calamitoso, os obreiros do Mundo

Invisível tudo tentam para dele desviarem os homens, fazendo-o com muito

enternecida boa vontade! Cumpre, no entanto, a estes cooperarem com aqueles a

fim de que tão complexo malefício, atestado deplorável da inferioridade humana,

seja definitivamente banido da sociedade terrena.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 25

O suicídio, como ninguém mais ignora, constitui para o Espírito, que a ele

se aventurou em tão adversa hora, um estado complexo de semiloucura, situação

crítica e lamentável de descontrole mental, forçando estudos e exames especiais

dentro da própria Revelação Espírita

Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – 1º Parte – Cap. 3/6

Os motivos de suicídio são de ordem passageira e humana; as razões de

viver são de ordem eterna e sobre-humana.

A vida, resultado de um passado completo, instrumento de futuro, é, para

cada um de nós, o que deve ser na balança infalível do destino. Aceitemos com

coragem suas vicissitudes, que são outros tantos remédios para as nossas

imperfeições, e saibamos esperar com paciência a hora fixada pela lei equitativa

para termo da nossa permanência na Terra.

Leon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor –1º Parte – Cap. 10 – A

Morte

Suicídio, não pense nisso

Tolera com paciência

Nem mesmo por brincadeira...

Qualquer problema ou pesar;

Um ato desses resulta

Não adianta morrer,

Na dor de uma vida inteira

Adianta é se melhorar

Cornélio Pires – Astronautas do Além – Cap. 3 – Suicídio

Page 31: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 26

2.2 Suicídio – O que É

O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte

instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a

extinção das forças vitais.

Allan Kardec – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 5 – Suicidas

O suicídio é a culminância de um estado de alienação que se instala

sutilmente. O candidato não pensa com equilíbrio, não se dá conta dos males que o

seu gesto produz naqueles que o amam. Como perde a capacidade de discernimento,

apega-se-lhe como única solução, esquecido de que o tempo equaciona sempre

todos os problemas, não raro, melhor do que a precipitação. A pressa nervosa por

fugir, o desespero que se instala no íntimo, empurram o enfermo para a saída sem

retorno...

Manoel Philomeno de Miranda – Loucura e Obsessão – Cap. 24 – O Trágico

Desfecho

É atestado de fraqueza e descrença geral, de desânimo generalizado, de

covardia moral, terrível complexo que enreda a criatura num emaranhado de

situações anormais.

Charles – Recordações da Mediunidade – Cap. 6 – Testemunho

Na verdade, o suicídio é basicamente, uma fuga. O suicida quer fugir de

situações embaraçosas, de desgostos, de pessoas que detesta, de mágoas que não se

sente com forças para suportar, deseja, afinal de contas, fugir de si mesmo. É aí que

está a gênese de seu fatal desengano: não podemos, de maneira alguma, fugir de

nós próprios. Logo, o suicídio é o maior, o mais trágico e lamentável equívoco

que o ser humano pode cometer.

Hermínio de Miranda – Revista Reformador – 1993 – Novembro – Vale a pena

suicidar-se?

Page 32: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 27

Termo suicídio define um comportamento ou ato que visa a antecipação da

própria morte.

Essencialmente, ele resulta de um processo em que a dor psicológica

intensa, consequência de acontecimentos que tornam a vida dolorosa e/ou

insuportável, em que deixam de existir quaisquer soluções que permitam escapar a

um processo de introspecção, que deixa como única solução a morte do próprio

indivíduo. Este processo desenvolve‑se, regra geral, gradualmente num sentido

negativo provocando um estado dicotômico em que passam a existir apenas duas

soluções possíveis para um problema ou situação: viver ou morrer.

Luís de Lamônica – Revista Espaço Espiritual – Setembro/2001–

https://espacoespiritual.wordpress.com/2011/09/18/o–suicidio-e-o-espiritismo/

É o desejo de morte acolitado por um desejo de vida. É um insistente apelo

mórbido dirigido ao próximo; é, também, um extenso pedido de socorro.

Neste desejo-de-morte há um desejo-de-outra-vida; existe uma busca,

embora doentia e destoante; traduz a condição psicopatológica em que se encontra,

procurando alcançar e ferir o próximo; em irreverente apelo, as emoções

destoantes e desorganizadas estão buscando, com a mais intensa ansiedade, o

socorro que não chegara.

Aqueles que mergulharam nas faixas do suicídio e que forma levados ao

gesto extremo estavam, sem sombras de dúvidas, envolvidos por processo

obsessivo; processo formado às custas de constantes atitudes negativas.

Jorge Andréa – Revista Presença Espírita – No 91 – 1981 – Dezembro –

Suicídio

Page 33: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 28

Era do nosso hábito, no começo da obra, e particularmente nos anos 60,

passarmos o sábado ou o domingo em uma praia muito deserta, na periferia de

Salvador, que hoje se transformou em um lugar famoso.

Certo dia, um amigo que possuía uma propriedade ampla, onde estavam

plantados dez mil coqueiros, gentilmente, nos emprestou a chave da casa, para

irmos com as crianças e vivermos um pouco em contato com a Natureza.

Dois fatos, entre muitos que aconteceram, foram marcantes, na nossa

mediunidade, naquela época.

De uma feita, nós, que sabíamos o caminho como a palma da mão, erramos

a estrada. Maximiano, meu filho, ia dirigindo a kombi e por mais que tentássemos

encontrar o lugar não acertávamos.

Paramos numa venda, na estrada, e perguntamos onde ficava o local que

procurávamos. O vendedor respondeu que fôssemos em frente até encontrarmos o

rio Jacuípe, aí dobrássemos por outro trecho da estrada e sairíamos lá.

Nós achamos estranho, porque ficava no sentido oposto ao que pensávamos.

Mas fomos.

Chegamos a uma região de beleza invulgar. O rio desaguando no mar.

A paisagem de coqueiros, a areia alva. Éramos nove pessoas, Lygia, Ziza e

outras tias. Quando fizemos a volta, olhei na direção do mar e vi que uma pessoa

adentrava pelas águas, num lugar muito deserto.

Então ouvi uma voz que me disse:

— Salta, porque ela está tentando suicidar-se.

Pedi a Maximiano:

— Meu filho, pare o carro, aquela mulher vai-se matar!

Todos ficaram surpresos e acharam até absurdo. Mas eu saí correndo, mar a

dentro — não sei nadar — e peguei a senhora que estava numa crise de loucura.

Segurei-a, tirando-a da água; então chegaram os outros, Lygia, Ziza, Maria,

Carmem, e nós a arrastamos para a praia.

Ela teve uma crise de desespero muito grande e a custo conseguimos

acalmá-la.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 29

Levamo-la a uma casa que ficava a uns duzentos metros, onde ela residia.

Era uma casa muito modesta. Ali ela teve uma hemoptise muito forte,

sujando-me de sangue.

Quando conseguiu acalmar-se, fui buscar água, limpei a roupa e então

perguntei-lhe:

— Por que a senhora quis matar-se?

Ela contou uma história muito curiosa.

Era mãe de seis filhos e algum tempo atrás contrairá tuberculose pulmonar.

Com a doença, coincidentemente advirá uma nova concepção, que seria o sétimo

filho.

Naquele estado ela foi ao Quarto Centro de Saúde, na Calçada, em Salvador,

e o médico diagnosticou estar ela realmente grávida e tuberculosa.

Ele falou-lhe que naquele estado a gestação era um grande perigo, e o parto

um grande risco de vida, sugerindo-lhe o aborto. Mas o aborto também era um

grande risco de vida, e ela, uma pessoa muito pobre, muito necessitada, não tinha

como solucionar o problema.

Aí no posto, alguém aconselhou que fosse a um Centro Espírita que havia

nesse bairro.

Ela nada conhecia de Espiritismo, mas resolveu ir, naquela mesma noite,

que era uma quinta-feira. Ficou na cidade, pois morava a quarenta quilômetros de

distância.

À noite, foi ao Centro. Lá ouviu um homem moço falar muito sobre os

deveres perante a vida, a misericórdia de Deus, que Deus soluciona sempre todos

os problemas, etc.

Quando ele acabou de falar, ela quis tirar uma consulta e mandaram-na dar

o nome e o endereço na portaria para na terça-feira buscar a resposta. Ela assim o

fez, e viajou.

Mas, no sábado, que era o dia em que os Espíritos iriam atender a consulta,

o marido esteve lá, à tarde, bêbado.

Page 35: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 30

Já a havia abandonado, e deu-lhe uma surra muito grande. Ela ficou

desesperada.

No domingo pela manhã achou que a única solução para a sua vida era o

suicídio.

Naquela hora as crianças ficaram nervosas, começaram a chorar, e ela muito

desesperada saiu correndo para entrar pelo mar e matar-se. Foi no justo momento

em que nós passávamos.

Perguntei-lhe qual era o endereço do Centro e ela disse que era na rua Barão

de Cotegipe. Indaguei:

— Você se lembra do moço que estava falando?

— Não, senhor, porque o salão é muito grande e não o vi bem.

Tirei os óculos escuros e perguntei-lhe:

— Seria eu?

— Meu Deus.' Foi o senhor quem estava falando — disse, surpresa. — Mas,

como é que o senhor veio parar aqui?

Deve ler sido a Providência Divina — respondi-lhe, emocionado. — Você

pediu ajuda e eu vim, trazido pelos Espíritos.

Aplicamos-lhe um passe, fizemos um culto evangélico e tomamo-la sob a

nossa responsabilidade emocional.

— Na terça-feira — recomendei-lhe — você vai à reunião e vamos ver o

que os Espíritos aconselharam. Conversamos muito. Ela ficou mais consolada,

cotizamo-nos, arranjamos algum dinheiro para ela comprar qualquer coisa de

emergência e fomos para a tal praia.

Aí não erramos mais. Fomos direto, passamos o dia.

Mas eu fiquei com uma curiosidade de saber o que é que os Espíritos teriam

colocado na consulta, para nos desviarem da rota no momento próprio.

Quando chegamos a Salvador, eu fui à pasta de orientações espirituais, que

arquivamos em ordem alfabética e lá estava escrito exatamente assim:

"Receberá, no momento próprio, a solução para o magno problema da vida.

A sua vida é muito preciosa para você e a Divindade, e deve ser poupada.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 31

Siga a orientação médica e acrescente os seguintes remédios..."

Então vinham três remédios da Homeopatia, específicos para a tuberculose,

inclusive um chamado Pulmonina, do Laboratório Seabra.

Assim eu notei, uma vez mais, a interferência poderosa dos Espíritos e de

alguma forma o merecimento dessa senhora, porque nós erramos vinte e tantos

quilômetros de estrada num percurso que fazíamos a cada quinze dias.

Na terça-feira, quando ela chegou, mostramos-lhe o resultado da consulta e

conseguimos interná-la no Hospital Santa Terezinha, para tratamento especializado.

Ela ficou boa, recuperou-se completamente.

Nós ficamos com a criança que nasceu por último, pois ela não tinha a menor

condição de mantê-la; a criança era muito frágil.

Hoje está um adulto, já se emancipou.

Desejo anotar a interferência dos Espíritos, a claridade do fenômeno

mediúnico e também a lei do mérito, porquanto, se passássemos alguns segundos

antes ou depois, o suicídio teria sido consumado.

Isto foi em 1964.

Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 22 – A Moça da Praia

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 32

2.3 Suicídio – Causas Morais/Espirituais

Diversas podem ser as causas materiais, morais e espirituais do ato de

suicídio, dentre elas destacam-se:

• Desespero, o indivíduo se acha incapaz de arcar com os compromissos da vida.

(Dificuldades financeiras, endividamento, insolvência, desemprego: perda

abrupta ou continuada de recursos de manutenção)

• Visão Materialista da Vida (a busca do nada, da aniquilação - desconhecimento

da imortalidade do espírito).

• Falta de Fé (mesmo tendo uma religião formal).

• Orgulho Ferido (decepções/frustrações, diante de perdas amorosas,

profissionais, familiares).

• Tédio da Vida (solidão/tédio: ausência de objetivos existenciais, viuvez).

• Condições Patológicas (moléstias consideradas incuráveis: busca de “ida” para

um lugar sem dor).

• Desordens depressivas (autopiedade exacerbada do tipo –“todo mundo está

contra mim”).

• Psicoses (suicídio, como vingança, para fazer sofrer alguém “os que ficam”).

• Uso de drogas (vícios, alcoolismo/toxicomania/jogar compulsivamente, com

perdas irreparáveis).

• Influência Espiritual (obsessão/indução de terceiros, encarnados ou

desencarnados).

• Desestruturação familiar (lar desfeito na infância, conflitos familiares).

• Tendências Reincidentes (advindas de suicídios em vidas anteriores).

Page 38: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 33

2.3.1 Orgulho ferido/Perdas

Quanto mais valorizamos algo, mais forte será o vínculo, e maior

consequentemente será o sofrimento ao perdê-lo.

A vida só nos tira o que não nos pertence e de que não mais precisamos,

ou que ainda necessitamos, mas não valorizamos; e esta última acontece para

assimilarmos a lição da valorização.

Altamir da Cunha – Revista Reformador – 2006 – Dezembro – Perdas,

Depressão e Suicídio

Por trás do desejo de antecipar o fim da vida, estão as perdas. Perda de

saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais. Perda de cônjuges, amigos,

cuidadores e de outras pessoas nas quais eles depositam confiança.

A dependência é um dos maiores problemas que atinge a terceira idade. Para

o idoso, a perda da independência, não importa de que tipo seja, financeira, física,

psíquica, etc., significam perda de espaço, de valores, de autodeterminação.

O indivíduo dependente passa a ser invisível para uma sociedade que antes

o valorizava por ser ativo e produtivo. Geralmente, este mesmo indivíduo, é visto

desta mesma forma no seio familiar, que antes o tinha como provedor. Tal

invisibilidade pode tornar o idoso isolado socialmente e causar outro problema de

vital importância, a depressão.

Valdirene Alves de Lima – Suicídio na Terceira idade – Universidade

Católica de Brasília – 2010

Os conteúdos manifestos da fala dos idosos sobre a dimensão e o impacto

das perdas que sofreram no decorrer de sua existência estão muito presentes: a

morte de um ente querido, a inexistência de manifestações afetivas entre os

membros das famílias, a restrição de sua autonomia, o cerceamento paulatino de

sua liberdade e a usurpação financeira.

Page 39: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 34

Os lamentos e a tristeza são profundos em relação às mortes de familiares

significativos e do círculo social. Enquanto as de companheiros de trabalho e da

comunidade são sofridas como uma falta que faz parte da vida, as de um filho ou

uma filha são sentidas profundamente pela prematuridade.

Mas todas produzem uma sensação de acúmulo de perdas referenciais em

que fica comprometido o círculo das relações primárias.

Os processos migratórios também são mencionados como perdas, pois

geralmente, no momento da velhice, quando se reavivam as lembranças do passado,

sente-se mais falta dos que se distanciaram no tempo e da terra natal,

particularmente se, quando a solidão ocorre, é escasso o apoio social

Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos

familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência &

Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015

Page 40: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 35

2.3.2 Falta de Fé / Materialismo / Visão da Morte

A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as idéias materialistas,

em uma palavra, são os maiores incentivadores ao suicídio: elas produzem a

frouxidão moral. Quando vemos, pois, homens de ciência, que se apoiam na

autoridade do seu saber, esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus

leitores que eles nada têm a esperar depois da morte, não os vemos tentando

convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é se matarem?

Que poderiam dizer para afastá-los dessa idéia?

Que compensação poderão oferecer-lhes?

Que esperanças poderão propor-lhes? Nada, além do nada! De onde é

forçoso concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva

possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que deixar para mais tarde, aumentando

assim o sofrimento.

A propagação das idéias materialistas é, portanto, o veneno que inocula em

muitos a idéia do suicídio, e os que se fazem seus apóstolos assumem uma terrível

responsabilidade.

Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão

da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do cúmulo,

mas em condições inteiramente novas. Daí, a paciência e a resignação, que muito

naturalmente afastam a idéia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.

Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 5 – Item 14 – O

Suicídio e a Loucura

O materialismo, que infelizmente grassa, sem qualquer disfarce, na

sociedade, coloca suas premissas no comportamento das pessoas e as propele para

a conquista hedonista, para o gozo material exclusivo, empurrando as suas vítimas

para as fugas alucinantes, quando os propósitos anelados não se fazem coroar pelos

resultados esperados.

Page 41: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 36

Desfilam os líderes da aberração nos carros do triunfo enganoso, e muitos

deles, não suportando a coroa pesada que os verga, são tragados pela overdose

das drogas do desespero, que os retira do corpo mais dementados e atônitos do

que antes se encontravam.

Noutros casos, esses lideres são consumidos pelas viroses irreversíveis,

especialmente pela Síndrome de imunodeficiência adquirida, que os exaure e

consome a pouco e pouco, tornando-os fantasmas desprezíveis e aparvalhantes

para aqueles mesmos que antes os endeusavam, imitavam e buscavam a sua

convivência a peso de ouro e de mil abjeções.

O adolescente, vivendo nesse clima de lutas acerbas e não havendo

recebido uma base moral de sustentação segura, na vida física vê somente a

superficialidade, o prazer mentiroso, a ilusão que comandam os

comportamentos de todos, em terríveis campeonatos de loucura.

Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o

suicídio

O suicídio é tema recorrente na maioria dos 12 volumes da Revista

Espírita, demonstrando que Kardec tinha uma grande preocupação com o

assunto.

Em julho de 1862, escreve um artigo intitulado Estatística dos

Suicídios, fazendo uma análise sobre o aumento dos suicídios na França, e

procurando apontar as causas, lamentando que não existam pesquisas a respeito.

Hoje, há essas pesquisas em todo mundo.

Entre as que Kardec reconhece em seu tempo estavam as doenças

mentais, problemas sociais, e sobretudo, o avanço do materialismo e a falta de

perspectiva existencial.

O artigo continua muito atual e revela bem como Kardec procurava

abordar as questões, abrangendo todos os seus aspectos e procurando soluções

educativas e preventivas.

Page 42: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 37

Para ele, a maior prevenção possível para o suicídio seria o

conhecimento seguro e com contornos mais precisos da vida pós- morte,

que o Espiritismo nos dá. Demonstrada a imortalidade, de maneira clara e

racional, o suicídio perde sua razão de ser.

(...). Não poderia deixar de mencionar a educação, como a mais eficaz

prevenção em relação ao suicídio. Mas que educação? Não é certamente essa

que é dada nas escolas, que nem a função de instruir faz bem feita.

Mas sim uma educação que procure cercar o indivíduo de fortes e sólidos

afetos, de modo que ele nunca se sinta sozinho.

Uma educação que trabalhe sentido existencial, resiliência diante da

dor, projeto de vida...

E sobretudo, uma educação que cuide desde cedo da espiritualidade e

que abra uma perspectiva de eternidade e transcendência.

Dora Incontri – Suicídio, a visão espírita revisita – 21/Setembro/2015

Acreditamos, firmemente, que a falta de fé responde pela quase

totalidade dos suicídios.

A fé é o alimento espiritual que, fortalecendo a alma, põe-na em condições

de suportar os embates da existência, de modo a superá-los convenientemente.

Analisando as demais causas, observamos que todas elas tiveram por germe,

aqui e alhures, na Terra ou noutros mundos, nesta ou em encarnações pretéritas, a

ausência da fé.

O orgulho ferido é, também, falta de fé, porque a fé conduz à humildade

profunda, e esta é inimiga do orgulho.

É o seu melhor, o seu mais poderoso antídoto.

O orgulho ferido pode levar o homem a sérios desastres que se perpetuarão,

durante séculos, em seu carma.

O esgotamento nervoso, que poderia ser evitado, no seu começo, se

movimentados pudessem ter sido os recursos da “oração”, filha da fé”, pode

conduzir o ser humano, nessa altura já fortemente assediado por forças obsessoras,

ao extremo gesto.

Page 43: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 38

A loucura, por sua vez, responde por elevado número de deserções do

mundo. E o chamado “tédio da vida”?

Quantas cartas foram deixadas por suicidas referindo-se ao “cansaço da

vida” e implicações correlatas?

Por quê? Ausência de fé, evidentemente da fé que reside e brota dos

escaninhos mais sagrados e mais profundos da alma eterna.

Sim, há muita fé que existe, apenas, nos lábios.

A fé iluminada pela razão, que é a fé espírita, capaz de encarar o raciocínio

“face a face, em todas as épocas da humanidade”, suporta e vence, resiste e transpõe

os mais sérios obstáculos, inclusive os relacionados com uma existência dolorosa,

sob o aspecto moral ou físico, fértil em aflitivos problemas.

Quem tem fé não deserta da vida, pois sabe que os recursos divinos, de

socorro à humanidade são inesgotáveis.

Não esvaziam os mananciais da misericórdia de Deus!

Ante moléstia considerada incurável, procura o enfermo, algumas vezes, no

suicídio, a solução do seu problema.

Infeliz engano, pois a ninguém é lícito conhecer até onde chegam os

recursos curadores da Espiritualidade Superior, que é a representação da

Magnanimidade Divina.

Quantas vezes amigos de Mais Alto intervêm, prodigiosamente, quando a

Medicina, desalentada, já ensarilha as armas, por esgotamento dos próprios

recursos?!

Há outro tipo de suicídio, aquele que resulta da indução, sutil ou ostensiva,

de terceiros, encarnados ou desencarnados, especial e mais numerosamente dos

desencarnados, não sendo demais afirmar, por efeito de observação, que a quase

totalidade dos autoextermínios foi estimulada por entidades perversas, inimigas

ferrenhas do passado, que, ligando-se ao campo mental de quantos idealizam, em

momento infeliz, o suicídio, corporificam-lhe, na hora adequada, a sinistra ideia.

Julgamos ter analisado, com razoável acervo de exemplos, as causas mais

frequentes do suicídio.

Martins Peralva – O Pensamento de Emmanuel – Cap. 35 – Suicídio

Page 44: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 39

2.3.3 Visão distorcida da Morte

A desinformação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação

responde pela correria alucinada na busca do suicídio.

(...) E essa falta de esclarecimento é maior no período infanto-juvenil, (...)

facultando a fuga hedionda da existência carnal.

Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o

suicídio

À hora do problema, não tendo, no lar, com quem falar, ele recorre a um

amigo que tem o mesmo problema. Quase sempre, aquele amigo-problema indu-

lo a uma solução-problema.

Naquele ambiente de jovens problematizados, sem diretrizes, o suicídio se

lhe afigura como uma solução, isto porque o lar, desestruturado cristãmente, não

lhe consolidou na alma juvenil a certeza da sobrevivência.

Divaldo Franco

A morte nenhum temor inspira ao justo, porque, com a fé, ele tem a

certeza do futuro; a esperança faz com que aguarde uma vida melhor e a caridade,

cuja lei praticou, dá-lhe a certeza de que, não encontrará no mundo onde vai entrar,

nenhum ser cujo olhar deva temer.

Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 941

961 – Qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da

morte: a dúvida, o terror ou a esperança?

A dúvida nos céticos empedernidos; o temor, nos culpados; a esperança,

nos homens de bem.

Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 961

Page 45: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 40

Prepare-se para a morte.

Desde hoje vença a dúvida, supere o temor, alente a esperança.

Ligado a Jesus-Cristo, o Protótipo da Idéia-Vida, renove-se hoje e sempre,

pensando no bem, a fim de que o Bem Inefável conduza os seus dias na Terra.

Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Ideia

Talvez seja esta a grande contribuição da Morte para nossa Vida: mostrar-

nos que devemos viver bem cada instante sem, contudo, apegarmo-nos a ele.

Quem vive a vida em plenitude tem a morte como algo natural e, mesmo

não a procurando ou desejando, aceita-a com tranquilidade quando chega ou

quando se manifesta próxima de si.

O Medo da Morte é o medo da Vida não vivida. É o medo dos muitos

débitos que temos para com nossa própria vida, e que a morte nos impedirá de

saldar.

Reafirmamos, então, que quem teme a morte teme a Vida. Em outras

palavras; quem não sabe Viver, certamente não saberá morrer.

Viver intensamente significa poder olhar para trás e sentir que não estamos

sofrendo, hoje, por aquilo que ontem nos deu algum prazer. O que é bom e correto

nunca se torna causa de sofrimento e dor.

Não sabemos quando virá nossa morte, nem a forma como ela virá. É

preferível então que estejamos sempre preparados para ela, aprendendo com isso

a viver melhor.

Evaldo D`Assumpção – Sobre o Viver e o Morrer – Introdução/Cap. 4/Cap.6

Page 46: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 41

2.3.4 Tendências Reincidentes

Há adolescentes, contudo, que cometem o suicídio, não por falta de cuidados

dos genitores ou de uma educação familiar desatenta, mas em razão de dificuldades

próprias, evidenciadas no caráter e no comportamento, relacionadas a equívocos

cometidos perante a lei de Deus, em existências passadas.

Tais Espíritos sintonizam com Espíritos transviados, desde os primeiros

momentos da reencarnação, estabelecendo entre eles laços que favorecem acesso

ao sombrio mundo das viciações e de tantas outras perturbações.

Marta Antunes Moura – Revista Reformador – 2007 – Maio – Suicídio na

Adolescência

Grande número delas, suicidas do passado, renascem com as impressões

do gesto anterior, e porque desarmadas, na sua quase totalidade, de equilíbrio,

vendo, ouvindo e participando dos dramas em que se enleiam os adultos que as não

respeitam, antes considerando-as pesados ônus que devem pagar, repetem o ato

infeliz do suicídio, tombando nas refregas de dor, que posteriormente as trarão de

volta em expiações muito laceradoras.

Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 –

Suicídio solução insolvável

Entrevista com Chico Xavier relativa às causas dos Suicídios

– O suicídio é consequência de fatores psicológicos em desagregação ou de

influências espirituais em evolução?

Todos sabemos: cada espírito é senhor do seu próprio mundo individual.

Quando perpetramos a deserção voluntária dos nossos deveres, diante das leis que

nos governam, decerto que imprimimos determinadas deformidades no corpo

espiritual.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 42

Essas deformidades resultam das causas cármicas estabelecidas por nós

mesmos, pelas quais sempre recebemos de volta os efeitos das próprias ações.

Cometido o suicídio nessa ou naquela circunstância, geramos lesões e

problemas psicológicos na própria alma, dificuldades essas que seremos chamados

a debelar na próxima existência, ou nas próximas existências, segundo as

possibilidades ao nosso alcance.

Assim, formamos, com um suicídio, muitas tentações a suicídio no futuro,

porque em nos reencarnando, carregamos conosco tendências e inclinações, como

é óbvio, na recapitulação de nossas experiências na Terra.

Quando falamos “tentações” não nos referimos a esse tipo de tentações que

acreditamos provir de entidades positivamente infelizes, cristalizadas na

perseguição às criaturas humanas. Dizemos tentações oriundas de nossa própria

natureza.

Sabemos que a tentação em si, na verdadeira acepção da palavra, nasce

dentro de nós. Por isso mesmo poderíamos ilustrar semelhante argumento

lembrando um prato de milho e um brilhante de alto preço: levado o brilhante de

alto preço à percepção de um cavalo, por exemplo, é certo que o equino não

demonstraria a menor reação; mas em apresentando a ele o prato de milho,

fatalmente que ele reagirá, desejando absorver a merenda que lhe está sendo

apresentada.

Noutro ponto de vista, um homem não se interessaria por um prato de milho,

no entanto, se interessaria compreensivelmente pelo brilhante.

Justo lembrar que a tentação nasce dentro de nós. Quando cometemos

suicídio, plasmamos causas de sofrimento muito difíceis de serem definitivamente

extirpadas. Por isso, muitas vezes, os irmãos suicidas são repetentes na prova da

indução ao suicídio, descendo, desprevenidos, à consideração para consigo

próprios.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 43

Benfeitores da Vida Maior são unânimes em declarar que, em todas as

ocasiões nas quais sejamos impulsionados a desertar das experiências a que Deus

nos destinou na vida terrestre, devemos recorrer à oração, ao trabalho, aos métodos

de autodefesa e a todos os meios possíveis da reta consciência, em auxílio de nossa

fortaleza e tranquilidade, de modo a fugirmos de semelhante poço de angústia.

Francisco Cândido Xavier – A Terra e o Semeador – Perg. 136

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 44

2.3.5 A Obsessão Desde a morte do pobre Leonel, verificada, como sabes, por um suicídio em

tão trágicas condições, a família inteira sente ímpetos para o suicídio.

Não ignoras que sua filha Alcina suicidou-se também, dez meses depois

dele próprio. Agora é seu filho Orlando que deseja morrer, havendo já tentado

algumas vezes o ato terrível.

Trata-se de um caso de obsessão coletiva simples, meu caro irmão...

carente de intervenção imediata de socorro espiritual, a fim de que se evitem outros

suicídios na família....

(...)

O chefe da família, Leonel, pôs termo à existência terrena, desfechando um

tiro de revólver no ouvido direito, e que sua filha primogênita, jovem de vinte

primaveras, lhe imitou o gesto alguns meses depois, servindo-se, porém, de um

tóxico violento... O outro filho seu, de quinze anos de idade, tentou igualmente o

sinistro ato, salvando-se, no entanto, graças à ação prestimosa de amigos

agilíssimos, que evitaram fôsse ele colhido por um trem de ferro.

Vimos ambos os suicidas ainda retidos no próprio teatro dos

acontecimentos: Leonel, vagando, desolado e sofredor, a bradar por socorros

médicos, traindo nas próprias repercussões vibratórias o gênero da morte escolhida

sob pressões invisíveis... e Alcina, a filha, com o perispírito ainda em colapso,

desmaiada sob o choque violento do ato praticado.... Distinguimos também os

obsessores...

Yvonne Pereira – Dramas da Obsessão –1º Parte – Cap. 1 – Leonel e os Judeus

A obsessão na infância muitas vezes é continuidade da ocorrência

procedente da Erraticidade. Sem impedir o processo da reencarnação, essa

influencia perniciosa acompanha o período infantil de desenvolvimento, gerando

graves dificuldades no relacionamento entre filhos e pais, alunos e professores,

vida social saudável entre coleguinhas.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 45

Irritação, agressividade, indiferença emocional, perversidade, obtusão

de raciocínio, enfermidades físicas e distúrbios psicológicos fazem parte das

síndromes perturbadoras da infância, que tem suas nascentes na interferência de

Espíritos perversos uns, traiçoeiros outros, vingativos todos eles...

Manoel Philomeno de Miranda – Sexo e Obsessão – Cap. 4 – O drama

da obsessão na infância

Certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das

mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-

se na piscina; em outro, atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa;

depois quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-

la dia e noite.

Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando

especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca

imaginaram ser do seu conhecimento.

Suely Caldas Schubert – Obsessão e Desobsessão – Cap. 12 – A criança

obsidiada

Obsidiada fui eu, é verdade.

Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a idéia

da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à

estrada primaveril.

Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela,

fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais

alto no presente.

Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos

familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço;

olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha

justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando

deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração

espiritual.

Page 51: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 46

Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma

porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.

E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se

reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo

infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.

(...). Em verdade, eu era obsidiada ...

Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição

que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.

(...) Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos

amigos encarnados a noção de «responsabilidade» e «consciência», no campo

das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me

consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total

da prova em que vim a desfalecer.

Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão

Page 52: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 47

2.3.6 Desordens Depressivas

Esta melancolia sistemática, atormentadora, vem-se aprofundando no teu

comportamento, de tal forma, que enveredas, sem dar-te conta, pelas vias torpes da

depressão de grave trato.

Essa tristeza que agasalhas, prejudicial e renitente, coloca a máscara de

dor na tua face, conduzindo-te, inadvertidamente, a uma neurose de lento curso com

todos os seus efeitos danosos.

Aquela fixação, que te vai dominando as paisagens mentais, substitui, a

pouco e pouco, a polivalência das idéias, alienando-se da sociedade onde te

encontras...

A marca do sofrimento reflete-se no teu rosto, qual se fosse feita por garras

devastadoras, que procedem, no entanto, do teu mundo íntimo, conspirando contra

o teu progresso.

A impressão do desgosto passou a compartir com as tuas alegrais,

diminuindo-as e empurrando-te sempre para os abismos da psicose maníaco-

depressiva.

O cultivo dos pensamentos deprimentes gera, na tua conduta, a destruição

dos ideais superiores, amargurando as horas que poderias fruir como estímulo para

o prosseguimento da tua jornada.

Joanna de Angelis – Revista Reformador – 1988 – Maio – Loucura e Suicídio

Frente a frente com esta realidade, que assusta e fere, vamos encontrar

jovens que procuram abrigo nos falsos refúgios da tristeza e da amargura.

Outros apelam para a rebeldia e para a agressividade. Buscam nesses meios

a forma de neutralizar os açoites psicológicos a que se vêem expostos,

ininterruptamente.

Ativando os mecanismos da defesa psíquica, muitos jovens alheiam-se da

realidade, aprisionando-se, lentamente, nas malhas da depressão.

Page 53: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 48

A depressão faz instalar no recôndito do ser desta jovem criatura uma

amargura profunda, uma dor infinita, uma tristeza sem-fim. O Espírito adoece,

passo a passo, chegando a ponto de ver na morte, no atentado à existência física,

a solução que lhe parece salvadora.

Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Agosto – Suicídio na

Adolescência

Induvidosamente, é esta a consequência mais terrível da depressão: o

suicídio.

Quando ele ocorre, deixa marcas profundas, dificilmente superáveis, nos

familiares e amigos. Estes, atravessarão largo período da existência se perguntando:

O aconteceu para que ele/ela fizesse isto? E agora, o que será de nosso ente querido?

Onde e como teremos falhado para com ele/ela?...

O suicídio, consoante magistério da Doutrina Espírita, pode ser

direto/indireto, ou consciente/inconsciente.

Suicídio indireto/inconsciente, como facilmente se compreende, é aquele

em que a morte não é buscada deliberadamente, num gesto precipitado, irreversível.

A pessoa, dominada por uma tristeza longamente agasalhada (para nos

referirmos somente à depressão), pouco e pouco vai se abatendo, entregando-se ao

desalento, consumindo as forças psíquicas e físicas, até que o corpo, perdidas todas

as resistências, não mais permite que a alma nele se mantenha, expulsando-a da

vida.

Nessa morte emocional a pessoa se nega a viver.

A tristeza longamente agasalhada, a mágoa conservada, a rebeldia

sistemática, a irritação constante, o desespero irrefreado, dentre outros estados

emocionais mórbidos, podem ser considerados suicídios indiretos/inconscientes,

cujos efeitos no além-túmulo, serão danosos para o espírito. Este, se não superada

a aflição enquanto no corpo, prosseguirá desditoso além da vida física, podendo

assim permanecer na Erraticidade até reencarnar trazendo, no bojo subconsciencial,

a depressão não superada.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 49

A depressão, portanto, pode ser comparada a um suicídio psicológico,

que se dá pela ausência de valor moral para o enfrentamento das vicissitudes.

O depressivo não faz a opção por si mesmo, optando pela derrocada e vendo

no fracasso algo natural ou inevitável.

Izaias Claro – Depressão Causas, Consequências e Tratamentos – Pag. 104

É possível que os distúrbios serotônicos respondam pelo ato alucinado,

muito embora não deixem de ser o resultado de agentes psicológicos mais sutis

e graves, como a angústia, a insegurança, os conturbadores fenômenos

psicossociais e econômicos, as enfermidades crucificadoras, o sentimento de

desamparo e de perda, todos com sede na alma imatura e ingrata, fraca de recursos

morais para sobrepô-los às contingências transitórias desses propelentes ao ato

extremo.

Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 –

Suicídio – solução insolvável

Page 55: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 50

2.3.7 Tédio da Vida

Por outro lado, aparecem indivíduos que se aferram aos objetivos que se

lhes representam como vida: amar apaixonadamente alguém, cuidar de outrem,

dedicar-se a um labor, a uma tarefa artística ou não, a um ideal ou à abnegação, e

que, concluída a motivação, negam-se a viver, matando-se emocionalmente e

sucumbindo depois...

Joanna de Angelis – Momentos de Iluminação – Cap. Opção pela Vida

Preencha as horas vazias com trabalho útil.

A ferrugem sempre agride a ferramenta inativa.

(...)

Todos somos chamados à vida para glorifica-la no serviço do bem e no

aperfeiçoamento de nós mesmos.

Entretanto, se teimamos em marcar passo, rendendo culto sistemático ao

tédio, ninguém pode prever quantas vezes recomeçaremos.

André Luiz – Caderno de mensagens – Cap. 66 – Remédio contra o Tédio

Quando o tédio te procure, vai à escola da caridade… Ela te acordará para

as alegrias puras do bem e te fará luz no coração, livrando-te das trevas que

costumam descer sobre as horas vazias.

Emmanuel – Coragem – Cap. 1 – Quando o Tédio apareça

Trabalha constantemente

Se procuras luz e paz.

O tédio é a chaga invisível

Daquele que nada faz.

Casimiro Cunha – Gotas de Luz – Cap. 34 – Apartes

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 51

Quem sofra a prisão do tédio,

Se anseia libertação,

Use sempre este remédio:

— Trabalhar para ser são.

Orlando Candelária – Sorrir e Pensar – Cap. 13 – Temas da Obsessão

Gente que sofre de tédio

E a todo instante se enguiça,

Não se sabe se é doente

Ou se é caso de preguiça.

Cornélio Pires – Degraus da Vida – Cap. 9 – No abuso

Page 57: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 52

2.3.8 Conflitos Familiares

O espetáculo trágico, todavia, assume gravidade e constrangimento

maiores, quando crianças -- que ainda não dispõem do discernimento -- optam

pela aberrante decisão.

Amadurecidas precipitadamente, em razão dos lares desajustados e das

famílias desorganizadas; atiradas à agressividade e aos jogos fortes com que a atual

sociedade lhes brinda, extirpando-lhes a infância não vivida, sobrecarregam-se de

angústias e frustrações que as desgastam, retirando-lhes da paisagem mental a

esperança e o amor.

Vazias, desprotegidas do afeto que alimenta os centros vitais de energia e

beleza, vêem-se sem rumo, fugindo, desditosas, pela porta mentirosa do suicídio.

Ademais, grande número delas, suicidas do passado, renascem com as

impressões do gesto anterior e, porque desarmadas, na sua quase totalidade, de

equilíbrio, vendo, ouvindo e participando dos dramas em que se enleiam os adultos

que não as respeitam, repetem o ato infeliz, tombando nas refregas da dor que

posteriormente as trarão de volta em expiações muito laceradoras.

Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 –

Suicídio solução insolvável

Uma outra reflexão, mais aprofundada, merece ser considerada por todas as

criaturas devotadas ao bem: trata-se do suicídio na puberdade e adolescência.

Jovens, apenas contando com poucos anos de experiência reencarnatória,

são conduzidos ao suicídio em decorrência de causas diversas, tais como: conflitos

familiares; fragilidade da estrutura moral própria do Espírito; dependência

de substâncias químicas que conduzem ao vício; obsessão.

Os conflitos familiares destacam-se em relação às demais causas.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 53

Os contínuos choques dos embates domésticos, entre cônjuges e filhos,

produzem impactos de monta nas estruturas psíquicas dos envolvidos.

A desunião familiar, associada ao desamor, assemelha-se à ação dos tóxicos

que produzem alucinações na mente da criança e do jovem. A ausência do amor nas

relações familiares, manifestada sob a forma de comportamentos extremados de

abandono ou superproteção, infiltram ilusões perniciosas no psiquismo do

Espírito em processo de recomeço nas experiências do plano físico

Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Junho – Suicídio na Adolescência

Page 59: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 54

2.3.9 Isolamento Social/Solidão

A família tem uma responsabilidade enorme nesse processo, afirma Denise

Machado Duran Gutierrez. “O velho não só sofre processo de migração, de

deslocamento”. Mas, também, muitas vezes na própria casa, perde o quarto

principal, vai para um quartinho de fundo.

Os filhos, quando o levam ao médico, falam por ele, o tratam como criança,

desautorizam no médico.

O idoso vai perdendo voz, “espaço”, acusa a especialista. Em uma pesquisa

sobre 51 casos de suicídio cometidos por pessoas com mais de 60 anos, a professora

da Universidade Federal do Amazonas identificou que o fator de maior frequência

por trás do ato foi o isolamento social: ao investigar com familiares das vítimas,

constatou que esse foi o motivo de 32,1% dos homens e 31,7% das mulheres.

Paloma Oliveto – Sem Forças – Correio Braziliense – 17/02/2017

A solidão pode ser considerada como uma das principais causas da

ocorrência do suicídio.

Na fase da velhice que a solidão se apresenta mais desesperadora, com

o passar dos anos, os sentimentos de solidão e vazio existencial tornam-se mais

consistentes e angustiantes.

Na velhice, ocorre um sentimento de abandono e este sentimento se mostra

real à medida que este velho se vê abandonado por uma sociedade que valoriza o

papel social produtivo, pela família que não o tem mais como sustentáculo, e enfim,

por ele mesmo que acaba sendo acometido por uma desesperança angustiante.

Frente a tanto descaso, se isola abraçando a solidão.

O idoso torna-se invisível, transparente, para a sociedade, para a família

e por vezes até para ele mesmo, e esse isolamento é um dos aspectos mais dolorosos

da condição humana.

A sociedade desvaloriza e marginaliza o idoso, fazendo com que este veja

na morte uma saída desesperada.

Page 60: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 55

A ausência de motivação, inapetência, indiferença intelectual, tédio,

sentimento de decadência, insegurança, dependência afetiva, ruptura de

comunicação, etc. são alguns aspectos psicológicos da velhice, que são reforçados

pela hostilidade da sociedade com relação aos velhos, ou pelos próprios velhos,

como defesa contra tal hostilidade.

Valdirene Alves de Lima – Suicídio na Terceira idade – Universidade

Católica de Brasília – 2010

Adicionalmente, existe muita dificuldade na comunicação no cotidiano, seja

porque, algumas vezes os familiares exigem determinado tipo de comportamento

da pessoa idosa, seja porque ela própria, acostumada a mandar, ordenar e ser

obedecida passa a ser comandada por outra família nuclear à qual se agrega.

Frequentemente o idoso não sabe lidar com essas novas situações, sente-se

tolhido em seus desejos e modo de pensar, o que lhe causa uma angústia

indescritível.

A falta de apoio familiar pode ser um fator preditivo para o comportamento

suicida dos idosos.

O empobrecimento das relações primárias se reflete na dinâmica cotidiana,

o que torna o ambiente de convivência insuportável.

O idoso se ressente quando filhos, netos, noras e genros não se entendem,

pois, isso o priva dos encontros com familiares queridos e o isola ainda mais. Por

se sentir sem amparo emocional ou por não ter o suporte adequado das pessoas a

quem ama, a pessoa idosa vai se desprendendo do elo com a vida e passa a deseja

antecipar seu fim.

Outro ponto de tensão é a inexistência de manifestações de afetos entre os

membros das famílias, a sensação de abandono dos familiares e amigos, e a falta de

apoio para lidar com as situações depressivas.

Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos

familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência &

Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 56

3 O SUICÍDIO E A OBSESSÃO

3.1 O Suicídio por processo Obsessivo 3.1.1 Considerações Gerais

O suicídio, como ninguém mais ignora, constitui para o Espírito, que a ele

se aventurou em tão adversa hora, um estado complexo de semiloucura, situação

crítica e lamentável de descontrole mental, forçando estudos e exames especiais

dentro da própria Revelação Espírita.

Entretanto, existem nele certos traços gerais, que convêm examinados ainda

uma vez:

— Os suicídios que tiveram por causa a obsessão de um Espírito perverso,

sobre o encarnado, apresentam certa parcela de atenuantes para a vítima e

agravantes para o algoz.

Existem suicidas que se viram sugestionados a cometerem o ato terrível,

através do sono de cada noite, por uma pressão obsessora do seu desafeto espiritual,

desafeto que poderá ser também um espírito encarnado, e à qual não se puderam

furtar, tal o paciente que, recebendo do seu magnetizador uma ordem durante o

transe sonambúlico, cumpre-a exatamente dentro do prazo determinado por este,

mesmo quando se passaram já muitos meses depois da experiência.

Outros existem que não querem absolutamente morrer, não desejam o

suicídio; que relutam mesmo contra a idéia por que se vêem atormentados e se

horrorizam ao compreender que algo desconhecido os arrasta para o abismo,

abismo esse que temem e ante o qual se apavoram.

Apesar disso, sucumbem, precipitam-se nele, uma vez que, deseducados da

luz das verdades eternas, desconhecedores do verdadeiro móvel da vida humana,

como da natureza espiritual do homem, não lograram forças nem elementos com

que se libertarem do jugo mental terrível e malfazejo, cujo acesso permitiram.

Page 62: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 57

Eles vêem junto a si antes de efetivado o ato, com impressionante segurança,

tais se materializados fossem diante dos seus olhos corporais, os quadros mentais

que o obsessor fornece através da telepatia ou da sugestão: — um receptáculo de

veneno ou substância corrosiva; um revólver engatilhado, que misteriosa mão

sustém, oferecendo-lhe; uma queda de grande altura, onde eles próprios se vêem

despenhando; um veículo em movimento, sob o qual se deverá arrojar, etc.

Sofrem assim, por vezes, durante meses consecutivos, sem ânimo para

confidenciarem com amigos, uma agonia moral extenuante e arrasadora, uma

angústia deprimente e inconsolável, que lhes agravam os males que já os

infelicitavam, angústia que nenhum vocábulo humano será eficiente para bem

traduzir.

Notemos, todavia, que tratamos tão somente da obsessão simples, ou seja,

daquela que é ignorada por todos, até mesmo pelo obsidiado, da que se não revela

ostensivamente, objetivando alteração das faculdades mentais, mas que, sutilmente,

ocultamente, através de sugestões lentas, sistemáticas, solapa as forças morais da

vítima, tornando-a, por assim dizer, incapaz de reações salvadoras.

Pouco a pouco, sob tão doentia pressão magnética, uma tristeza suprema e

avassalador desânimo comprometem as energias do assediado.

Aterrador alarme desorienta-o, todos os fatos da vida, mesmo os mais

vulgares, se lhe apresentam ao raciocínio contaminados pela infiltração obsessora,

dramáticos, maus, irremediáveis!

Esquece-se ele de tudo, até mesmo do seu Criador, ao qual, em verdade,

jamais considerou, mas em cujo amor encontraria proteção e forças para resistir à

tentação.

E somente se preocupa com o meio pelo qual se furtará aos males que o

afligem.

Então sucumbe sem apelação, curva-se à vontade que conseguiu dominar a

sua vontade, servindo-se da sua fraqueza de homem despreocupado das razões da

Vida e ignorante de si mesmo, que da existência só conheceu, muitas vezes, a feição

meramente animal.

Page 63: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 58

Daí se concluirá, então, da necessidade de os homens procurarem conhecer

a si mesmos, isto é, que possuem nos recessos da personalidade um sexto-sentido,

um dom natural capaz de permitir tais desastres, se se conservar ignorado, e se eles

próprios, os seus portadores, preferirem viver alheios às causas sérias e elevadas,

que lhes permitiriam a harmonização com estados psíquicos superiores, que de tudo

isso os eximiriam, uma vez que o obsidiado possuirá, forçosamente, para que se

torne obsidiado, os ditos dons mediúnicos, tal como toda a Humanidade os possui.

Ora, o suicídio, assim efetuado, transformou-se antes num assassínio

gravíssimo, contornado de agravantes, cometido pelo obsessor, que responderá pela

crueldade exercida, perante a justiça do Criador Supremo.

Quanto ao obsidiado, sua responsabilidade certamente foi profunda, em

razão de haver permitido acesso às arremetidas inferiores, por se conservar

igualmente inferior, não desejando o próprio progresso com a renovação dos

próprios valores morais à procura do ser espiritual e divino existente em si, não

tentando reações de ordem moral e mental para dignamente se equilibrar nos

deveres impostos pela existência.

Responderá, portanto, pela fraqueza e a descrença que testemunhou,

enfrentando, após o suicídio, momentos críticos, decepcionantes, da vida do Além,

e retornando à Terra para, em existência nova, terminar a que fora interrompida pela

fragilidade demonstrada ao entregar-se às mãos do algoz, sem tentar defender-se

com as devidas diligências, ou reações.

Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – Cap. 6

O suicídio alcança, na atualidade, cifras assustadoras, e, nas faixas extremas

da existência humana – juventude e velhice – revelam-se como sendo os níveis

de ocorrência acentuada. Homens e mulheres fogem dos problemas que lhes

martirizam a existência por atentados à própria vida, os quais lhes minam as forças

e lhes produzem sofrimentos maiores.

Page 64: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 59

As taxas de suicídio, aumentadas nas últimas décadas, revelam outro ponto

alarmante: o gênero de suicídio. Neste sentido, é significativo o número de pessoas

que retornam ao plano espiritual trazendo mutilações perispirituais severas em

razão das formas selecionadas para concretizar o atentado contra a vida.

Uma outra reflexão, mais aprofundada, merece ser considerada por todas as

criaturas devotadas ao bem: trata-se do suicídio na puberdade e adolescência.

Jovens, apenas contando com poucos anos de experiência reencarnatória,

são conduzidos ao suicídio em decorrência de causas diversas, tais como: conflitos

familiares; fragilidade da estrutura moral própria do Espírito; dependência

de substâncias químicas que conduzem ao vício; obsessão.

Os jovens que adotam comportamentos agressivos e ofensivos,

caracterizados por um estado de permanente rebeldia, revelam, na verdade, uma

forma de chamar a atenção daqueles que, intimamente, são por eles classificados

de seus prováveis homicidas, em razão da existência infeliz que lhes submetem.

A tragédia do suicídio na adolescência deve ser considerada com ênfase e

relevância nos programas e planejamentos da Casa Espírita, pois uma ação

conjunta, fundamentada no amor legítimo, pode reverter esse quadro doloroso.

Este é o apelo da nossa alma!

Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Junho – Suicídio na Adolescência

Em 1945, em Salvador/BA, praticamente um adolescente e recém chegado

de sua terra natal, Feira de Santana/BA, Divaldo conseguiu seu primeiro emprego

numa Seguradora, sendo admitido como datilógrafo.

Ele começou com entusiasmo, vindo do interior, mas após treze dias de

trabalho foi demitido pelas circunstâncias econômicas desfavoráveis do pós 2ª

Guerra Mundial.

Ele ficou muito abatido e parecia que o mundo iria desabar.

Os Espíritos infelizes se aproveitaram da situação para inspirá-lo a suicidar-

se, pois ele sofria muito, e deveria atirar-se do Elevador Lacerda.

Page 65: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 60

Quase numa euforia hipnótica, ele chegou a subir nesse Elevador e

preparava-se para saltar, quando teve a percepção do Espírito de uma irmã já

desencarnada, que lhe disse que não fizesse aquilo, pois o suicídio nada resolveria.

Divaldo teve uma forte emoção e desmaiou, servindo como primeiro aviso

para necessidade da vigilância.

Washington Luiz Nogueira Fernandes – Jornal Mundo Espírita – 2007 –

Agosto

Até onde vai a minha lembrança eu sempre detectava a presença de uma

Entidade, um sacerdote romano, respeitável, com ares adversários contra mim,

numa atitude agressiva, ameaçando-me, a princípio de forma educada e depois com

muita rispidez, e prometendo que, se eu não seguisse as suas diretrizes ele

terminaria por me destruir.

Mas eu era muito jovem para entender essas sutilezas da mediunidade.

Passaram-se os anos e, quando me tornei espírita, começando a exercer a

mediunidade, fui constatando, a pouco e pouco, que ser médium não é uma viagem

ao país da fantasia.

É uma tarefa muito séria e de alta responsabilidade.

Nesse ínterim, a Entidade começou a dar-me uma assistência negativa, pois,

à medida que se passava o tempo, mais eu me afeiçoava ao contexto do Espiritismo,

de tal forma que a sua atuação tornou-se muito dolorosa.

Nos momentos difíceis da minha vida ele esteve presente.

No rol das minhas lembranças, vem-me à mente uma tentativa malograda

de suicídio, quando eu contava dezenove anos, por afogamento, no mar.

Numa noite — eu tinha certas visões desagradáveis — então, sofri um

desses fenômenos e ouvi uma voz me chamando e me hipnotizando.

Dizia que a solução para mim — a única — seria destruir o corpo, porque,

na Terra, eu sofria muito, e, se destruísse o corpo, iria ser plenamente feliz, partiria

para o Mundo Espiritual, onde estavam as pessoas que me amavam, aquelas que

estão vinculadas a mim, e que já era tempo de me libertar dessa canga difícil, que

era a vida física.

Page 66: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 61

Morávamos perto da praia. Eu saltei a janela e fui sendo arrastado pela

indução hipnótica em direção ao mar.

Era madrugada e não havia ninguém por perto. Nilson, que é muito

vigilante, percebeu o que estava acontecendo e me acompanhou. Notou, quando eu

me lancei mar a dentro.

As primeiras ondas molharam-me os pés, mas eu prossegui.

(Até hoje eu não sei nadar). Fui entrando sob aquele fascínio, até que as

ondas bateram no meu rosto, provocando-me um choque e despertando-me. Ao dar-

me conta da situação, fiquei desesperado: ver-me com roupa dentro do mar, de

pijama e sem saber o que havia acontecido.

Nilson estava próximo, orando, porque ele conhecia a interferência Divina,

que nunca falta.

Nesse exato momento, quando ele me viu a debater e gritar, atirou-se às

ondas e me resgatou, trazendo-me para a praia.

Quando eu ia saindo das águas, amparado por ele, vi a Entidade, com

aspecto dominador, dizendo que me mataria, não adiantava recalcitrar: ou eu

abandonava o meu compromisso recebido com o Espiritismo ou ele me destruiria.

Repetia que eu tinha deveres para com a sua antiga doutrina e que a estava

conspurcando; que o meu labor era com a religião tradicional; que não tinha o

direito de me desviar dela, fosse qual fosse a justificativa.

Passaram-se os anos. Aquele foi um período amargo da minha vida; o dos

testemunhos. Esse Espírito criou-me injunções, as mais dolorosas.

Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de Ferro

Sairás da morte, tantas vezes quantas forem necessárias, mas da vida jamais.

Emmanuel – Recados do Além – Cap. 28 – Imortalidade

Aos irmãos quase suicidas

Esta nota breve e amarga:

Poderás largar o corpo

Mas a vida não te larga.

Arnold Souza – Rumos da vida — Cap. 2 – Vida diária

Page 67: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 62

3.1.2 Profilaxia – Diretrizes Gerais 1. ORAR INSISTENTEMENTE

Ore, pedindo a Deus mais luz para vencer as sombras e romperás as

cadeias da aflição.

2. LEITURAS ELEVADAS

Leia uma página edificante, que lhe auxilie o raciocínio na mudança

construtiva de idéias.

3. CONVERSAÇÃO EDIFICANTE

Tente contato de pessoas, cuja conversação lhe melhore o clima

espiritual.

4. APRENDIZADO CONSTANTE

Procure um ambiente, no qual lhe seja possível ouvir palavras e instruções

que lhe enobreçam os pensamentos

5. TRABALHO FRATERNAL

Visite um enfermo, buscando reconforto naqueles que atravessam

dificuldades maiores que as suas.

6. DISTRAÇÃO POSITIVA

Ouça uma música enriquecedora, que te leve a reminiscências agradáveis

ou a planificações animadoras.

7. MEDITAÇÃO ADEQUADA

Pensa no teu futuro ditoso, que te aguarda.

Page 68: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 63

8. VIGIAR SENTIMENTOS

Vigie os seus sentimentos, pensamentos e palavras nas relações com os

outros. O que damos, recebemos de volta.

9. CONVIVÊNCIA HARMÔNICA

Você pode estar sendo algoz sem perceber. Pense nisso constantemente,

para melhorar as suas relações com os outros.

Joanna de Ângelis – Momentos de Saúde e de Consciência – Cap. 14 – Dias de

Sombras

Herculano Pires – Obsessão, Passe, e Doutrinação – 1º Parte – Cap. 8 – Roteiro

da Desobsessão

André Luiz – Busca e Acharás – Cap. 19 – Texto Antidepressivo

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 64

3.2 O Suicídio por processo Obsessivo – Infanto-Juvenil 3.2.1 Características Gerais

O suicídio alcança, na atualidade, cifras assustadoras, e, nas faixas extremas

da existência humana – juventude e velhice – revelam-se como sendo os níveis

de ocorrência acentuada. Homens e mulheres fogem dos problemas que lhes

martirizam a existência por atentados à própria vida, os quais lhes minam as forças

e lhes produzem sofrimentos maiores.

As taxas de suicídio, aumentadas nas últimas décadas, revelam outro ponto

alarmante: o gênero de suicídio. Neste sentido, é significativo o número de pessoas

que retornam ao plano espiritual trazendo mutilações perispirituais severas em

razão das formas selecionadas para concretizar o atentado contra a vida.

Uma outra reflexão, mais aprofundada, merece ser considerada por todas as

criaturas devotadas ao bem: trata-se do suicídio na puberdade e adolescência.

Jovens, apenas contando com poucos anos de experiência reencarnatória,

são conduzidos ao suicídio em decorrência de causas diversas, tais como: conflitos

familiares; fragilidade da estrutura moral própria do Espírito; dependência

de substâncias químicas que conduzem ao vício; obsessão.

Os jovens que adotam comportamentos agressivos e ofensivos,

caracterizados por um estado de permanente rebeldia, revelam, na verdade, uma

forma de chamar a atenção daqueles que, intimamente, são por eles classificados

de seus prováveis homicidas, em razão da existência infeliz que lhes submetem.

A tragédia do suicídio na adolescência deve ser considerada com ênfase e

relevância nos programas e planejamentos da Casa Espírita, pois uma ação

conjunta, fundamentada no amor legítimo, pode reverter esse quadro doloroso.

Este é o apelo da nossa alma!

Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Junho – Suicídio na Adolescência

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 65

Toda tentativa de suicídio de um adolescente é dirigida a alguém e

expressa a necessidade de afeto, de amor, de ser ouvido e reconhecido como

pessoa. Deve ser interpretada como uma pergunta que requer resposta.

Nos últimos anos tem havido um aumento na incidência de suicídios

entre os jovens de 15 a 24 anos de idade.

A saúde física dos jovens tem melhorado, mas aumenta a incidência de

transtornos de conduta, de conduta antissocial, de consumo de álcool e/ou

drogas e de condutas suicidas

A tentativa de suicídio: é um ato não fatal, incrementada nos últimos

tempos, sobretudo entre as mulheres adolescentes ou jovens. É impulsiva,

utilizando substâncias medicamentosas.

Acompanhando os adolescentes que tentaram o suicídio, observou-se

que 10% acabam se suicidando dentro de 10 anos do primeiro episódio.

Somente 1/4 dos que tentam suicidar-se procuram consulta médica, porque

acreditam que podem resolver seus problemas sem ajuda.

Edith Serfaty – psicóloga argentina – Suicídio na Adolescência/1998 –

SASIA–Sociedad Argentina de Salud Integral dei Adolescente–Revista

Adolescência Latino–americana – 1414– 7130/98/1–105–110.

A tentativa de suicídio entre jovens é, acima de tudo, um grito de dor, de

desespero e um pedido de ajuda.

Ghislaine Bouchard, psiquiatra canadense – O Suicídio na

Adolescência/2003 – <http://pt.scribd.com/doc/47618459/Suicidio-na-

adolescencia>.

A tentativa mostra muitas vezes que as crianças querem dizer que estão

muito bravas ou tristes, mas não sabem como articular isso. E muitas pesquisas

mostram que a maioria dos que tentam se suicidar acaba se arrependendo do ato.

Eileen Kennedy-Moore, psicóloga américa – autora de livros para pais,

crianças e profissionais de saúde mental/BBC Brasil– 07/08/2017/Número de

crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 66

Crianças também são capazes de compreender as situações de estresse

que cercam, e sofrer tão desesperadamente, que acabam cogitando tirar suas

curtas vidas para não mais encarar os problemas.

Elisa Seminotti, psicóloga brasileira, especialista em Saúde Pública –

UFRGS– Suicídio Infantil – Reflexões sobre o cuidado médico/2011

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 67

3.2.2 O Processo Obsessivo

A obsessão na infância muitas vezes é continuidade da ocorrência

procedente da Erraticidade. Sem impedir o processo da reencarnação, essa

influência perniciosa acompanha o período infantil de desenvolvimento, gerando

graves dificuldades no relacionamento entre filhos e pais, alunos e professores,

vida social saudável entre coleguinhas.

Irritação, agressividade, indiferença emocional, perversidade, obtusão

de raciocínio, enfermidades físicas e distúrbios psicológicos fazem parte das

síndromes perturbadoras da infância, que tem suas nascentes na interferência de

Espíritos perversos uns, traiçoeiros outros, vingativos todos eles...

Manoel Philomeno de Miranda – Sexo e Obsessão – Cap. 4 – O drama da

obsessão na infância

Certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das

mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-

se na piscina; em outro, atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa;

depois quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-

la dia e noite.

Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando

especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca

imaginaram ser do seu conhecimento.

Suely Caldas Schubert – Obsessão e Desobsessão – Cap. 12 – A criança

obsidiada

O chefe da família, Leonel, pôs termo à existência terrena, desfechando um

tiro de revólver no ouvido direito, e que sua filha primogênita, jovem de vinte

primaveras, lhe imitou o gesto alguns meses depois, servindo-se, porém, de um

tóxico violento...

Page 73: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 68

O outro filho seu, de quinze anos de idade, tentou igualmente o sinistro ato,

salvando-se, no entanto, graças à ação prestimosa de amigos agilíssimos, que

evitaram fôsse ele colhido por um trem de ferro.

Vimos ambos os suicidas ainda retidos no próprio teatro dos

acontecimentos: Leonel, vagando, desolado e sofredor, a bradar por socorros

médicos, traindo nas próprias repercussões vibratórias o gênero da morte escolhida

sob pressões invisíveis... e Alcina, a filha, com o perispírito ainda em colapso,

desmaiada sob o choque violento do ato praticado.... Distinguimos também os

obsessores...

Yvone Pereira – Dramas da Obsessao – 1º Parte – Cap. 1

Obsidiada fui eu, é verdade.

Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a idéia

da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à

estrada primaveril.

Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela,

fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais

alto no presente.

Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos

familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço;

olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha

justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando

deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração

espiritual.

Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma

porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.

E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se

reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo

infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.

(...). Em verdade, eu era obsidiada ...

Page 74: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 69

Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição

que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.

(...) Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos

amigos encarnados a noção de «responsabilidade» e «consciência», no campo

das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me

consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total

da prova em que vim a desfalecer.

Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão

Querida mamãe Aparecida, abençoe a sua filha, perdoando-me o

desequilíbrio a que me entreguei, sem pensar na dor que lançava em meu próprio

caminho.

Sou trazida até aqui pela vovó Maria Honorata porque por mim própria, não

conseguiria vir.

Sei que alterei a família toda com a resolução infeliz.

Querida mãezinha, você e o papai Mauro me perdoarão se procurei aquela

arma propositadamente. Aproveitei o ruído daquele mesmo aparelho de som que a

sua bondade me deu com sacrifício para liquidar comigo!

Ninguém conseguirá imaginar o sofrimento da infeliz menina que fui por

minha própria conta! Nada sabia da vida, nem guardava experiência alguma,

entretanto, a ideia de me ausentar do mundo me obcecava…

Não pensei no sofrimento dos meus e nem avaliei quanto me queriam todos

em casa. Um pequenino desgosto de criança rebelde e compliquei tanta gente…

Fernanda – Vida nossa Vida – Cap. 5 – Fernanda Luíza Batista dos

Santos

Page 75: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 70

3.2.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes

3.2.3.1. Sinais de Alerta

i. Agressividade e desesperança são os fatores mais comuns.

ii. Menor potencial para geração de soluções alternativas para situações

problemáticas interpessoais e menor flexibilidade para enfrentar situações

problemáticas.

iii. Estilo de atribuição disfuncional (considerar eventos negativos como de sua

responsabilidade, duradouros ou de impacto sobre todos os aspectos de sua

vida) – frequente associação com quadros depressivos de longa evolução.

iv. Impulsividade.

v. Humor deprimido.

vi. Queda do rendimento escolar.

vii. Aumento do isolamento social.

viii. Perda de interesse em atividades que antes davam prazer.

ix. Mudança na aparência (negligência ou desleixo aos cuidados pessoais).

x. Preocupação com temas relacionados a morte.

xi. Aumento da irritabilidade, crises explosivas de raiva.

xii. Alterações no comportamento.

xiii. Desfazer de pertences.

xiv. Uso de álcool ou drogas.

xv. Mudança no padrão do sono e/ou apetite.

xvi. Uso de expressões verbais “autodestrutivas”.

Márcio Candiani – Suicídio na Infância e Adolescência

Há uma pressão extrema sobre esse grupo por competição, ambições e

preocupações com o futuro.

Crises econômicas também têm impacto, uma vez que alguns jovens se

sentem um fardo para as famílias.

Page 76: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 71

Jogos, vídeos, TV e filmes também influenciam muito as mentes dos jovens.

Outra chave para a questão são outros suicídios a que esses jovens expostos. O

contágio do suicídio é real, e os jovens são particularmente sensíveis a ele.

Daniel J. Reidenberg, diretor do Conselho Nacional para Prevenção de

Suicídios (USA) – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas

por tentativa de suicídio dobrou nos EUA

Há muitas formas de o jovem expressar o seu desejo de suicídio de maneira

inconsciente, como se envolvendo em acidentes automobilísticos nos quais

começam de formas mais brandas; através da ingestão de pequenas quantidades

de comprimidos que podem evoluir em gravidade e em potencial causando a

morte; uso de armas de fogo e outros.

Na permanência desses comportamentos se faz necessário a participação

ativa da família, mudança no seu meio social, acompanhamento psicológico, e de

acordo com a gravidade, acompanhamento psiquiátrico com a parceria de

antidepressivos.

Ênio Resmini – Suicídio na Adolescência. Psichiatry on Line Brazil, Part

of The International Journal of Psychiatry – ISSN 1359 7620, v. 11, n. 1,

mar/2016

Page 77: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 72

3.2.3.2. Fatores de Risco

i. 90% dos jovens apresentam algum transtorno mental no momento

do suicídio (e em 50% destes o transtorno mental já estava presente havia pelo

menos 2 anos);

ii. Problemas de rendimento e conduta escolar (cobrança dos

pais/bullings),

iii. Mudanças sociais abruptas;

iv. Acesso fácil a armas de fogo;

v. Problemas amorosos;

vi. Abuso físico ou sexual;

vii. Conduta suicida de familiares ou amigos e problemas familiares de

diversas naturezas;

viii. Separação dos pais;

ix. Ausência do pai ou da alguma figura parental;

x. Violência familiar;

xi. Conflitos diversificados (identidade sexual, relacionamento

interpessoal, autoimagem corporal, autoestima)

xii. Falta de comunicação entre os pais e filhos.

Márcio Candiani – Suicídio na Infância e Adolescência

A adolescência é um período do desenvolvimento marcado por diversas

modificações biológicas, psicológicas e sociais; e essas mudanças, geralmente, são

acompanhadas de conflitos e angústias.

Às vezes, quando expostos às intensas e prolongadas situações de

sofrimento e desorganização, os adolescentes podem desenvolver patologias e

tornar-se mais vulneráveis ao suicídio.

É, também, nesse período que tanto as ideações quanto às tentativas

ganham uma maior proporção, quando associadas ao quadro depressivo, embora

essa situação não se restrinja somente à adolescência.

Vivian Roxo Borges – Estudo de ideação suicida em adolescentes de 15 a

19 anos. Estudo de Psicologia (Natal) Vol. 11, n. 3, Natal, Set/Dez.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 73

Os dados apontados pelas pesquisas não devem ser ignorados pelos pais –

cujo maior erro costuma ser achar que histórias relativas a suicídio em jovens nunca

acontecerão com pessoas próximas.

As referências a suicídios no noticiário podem servir como oportunidade

para conversas sobre o tema entre pais e filhos.

Pergunte a eles por que acham que isso está acontecendo e se sentem algo

semelhante. Assim, você pode descobrir muito sobre o que eles ou seus amigos

estão vivendo.

A presença dos pais nas vidas das crianças e jovens é a estratégia mais

eficaz, segundo os entrevistados.

Muitas vezes, nós enchemos a agenda dos nossos filhos com atividades

porque pensamos que é saudável, quando seria melhor ter mais tempo com

relações humanas saudáveis e realmente gastar tempo em família com

qualidade, sem dispositivos eletrônicos

Lisa Elliott – psicóloga – Chefe da ala de saúde comportamental do

hospital pediátrico Cook Children's/ Texas/USA/BBC Brasil– 07/08/2017/Número

de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA

Detectado o risco, a primeira providência é conversar. Parece óbvio, mas

não é. Na maioria dos casos, os adultos acreditam que se fingirem que não

perceberam, a criança ou o adolescente pode mudar de ideia. Outros tantos acham

que falar em suicídio é uma ameaça típica da idade. Ambas as atitudes estão

erradas.

É preciso sempre levar a sério e acreditar no que a criança ou o

adolescente diz. É importante ter uma conversa, sem julgamentos, para que ele não

se sinta tolhido em falar

Karen Scavacini, mestre em saúde pública e especialista em prevenção ao

suicídio – Em dez anos, suicídio de crianças e pré-adolescentes cresceu 40% no

Brasil – http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-dez-anos-suicidio-de-

criancas-e-pre-adolescentes-cresceu-40-no-brasil.html

Page 79: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 74

3.2.3.3. Prevenção

O lar, cristãmente organizado, é o maior antídoto para o autocídio, porque

conscientiza o jovem de que corpo é veste – despe-se a indumentária, mas não se

anula a vida, dando-lhe força moral para resistir às vicissitudes.

No lar, onde está acesa a lâmpada de Jesus, o suicídio passa à distancia,

desde que aí se aprende que um corpo, mesmo ultrajado pelas deformidades, e

um psiquismo dilacerado pelas injunções do passado, são bênçãos da

reencarnação.

O lar erguido sobre as bases do Evangelho, é a solução preventiva, a

terapêutica antecipada para a problemática do autocídio.

Através de uma visão correta sobre a realidade do ser, do seu destino,

dos seus objetivos na Terra, o adolescente aprenderá a esperar, semeando e

cuidando da gleba na qual prepara o futuro, a fim de colher os frutos especiais no

momento próprio, frutos esses que não lhe podem chegar antes do tempo.

Divaldo Franco/Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O

adolescente e o suicídio

Educa a mente no bem e disciplina o comportamento moral, jamais

oferecendo guarida às idéias suicidas.

Mentes desatreladas da matéria, em regime de ociosidade ou

vampirização, trabalham mediante hipnose persistente, inspirando estados de

alienação que culminam no suicídio.

Cultiva o hábito da prece e dá guarida aos pensamentos otimistas,

estimulando conversações edificantes, com que te desvencilharás dos cipós que

asfixiam, levando à autodestruição.

Trabalha pelo bem geral, liberando-te da presunção e do egoísmo, de mãos

dadas ao amor fraternal e o amor fraternal conduzir-te-á com segurança por todos

os dias até o término da tua vilegiatura física.

Viaja confiante no veículo do tempo.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 75

Dia chegará, se permaneceres na luta, em que considerarás as dificuldades

e aflições que parecem superlativas, como verdadeiras bagatelas de valor nenhum,

que superaste para o próprio bem.

Suicidar-te, jamais!

Nem através da atitude violenta, final, irreversível, nem pelos largos

métodos indiretos, elaborados pela insensatez e sustentados pelo materialismo.

Joanna de Ângelis – Luz Viva – Cap. 14 – Loucura Suicida

Valoriza o “Milagre das Horas”.

O que ora te falta, fruirás mais tarde;

A dor moral te espezinha agora, logo mais terá desaparecido;

O afeto que se foi além, abandonando-te com ingratidão, encontrarás

adiante;

A calúnia que padeces, depois será diluída;

A enfermidade difícil, que por enquanto te dilacera, cederá lugar à saúde

perfeita posteriormente;

A solidão aparente que te aturde nestes dias, será sucedida pelas companhias

abençoadas, se esperares.

... E em qualquer situação, segue Jesus, sustentado na fé imortalista,

guardando a certeza de que tudo quanto te aconteça ocorre sempre para o teu bem,

se te souberes conduzir na difícil circunstância.

Joanna de Ângelis – Alerta – Cap. 28 – Loucura Suicida

Não poderia deixar de mencionar a educação, como a mais eficaz

prevenção em relação ao suicídio. Mas que educação? Não é certamente essa

que é dada nas escolas, que nem a função de instruir faz bem feita.

Mas sim uma educação que procure cercar o indivíduo de fortes e sólidos

afetos, de modo que ele nunca se sinta sozinho.

Uma educação que trabalhe sentido existencial, resiliência diante da

dor, projeto de vida...

E sobretudo, uma educação que cuide desde cedo da espiritualidade e

que abra uma perspectiva de eternidade e transcendência.

Dora Incontri – Suicídio, a visão espírita revisita – 21/Setembro/2015

Page 81: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 76

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário

às leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de

abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por

que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos?

Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que

sucumbiram, que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infração de

uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também

um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que

se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as

vistas.

Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 957

1. Colocar-se mais próximo da pessoa, como verdadeiro amigo. 2. Fazê-la sentir-se amada. 3. Levantar sua autoestima através do elogio sincero às suas capacidades. 4. Dar a ela objetivos na vida. 5. Conscientizar a pessoa a respeito das consequências do ato, no além-

túmulo, e das dores que afligem os familiares. 6. Dialogar com bondade e paciência. 7. Sugerir-lhe dar-se um pouco mais de tempo para resolver seus problemas. 8. Evitar oferecer bases ilusórias para esperanças que o tempo desmancha. 9. Estimular a valorização pessoal. 10. Acender uma luz no túnel do seu desespero. 11. Exercer a oração. 12. Indicar leituras otimistas e espirituais. 13. Incentivar a frequência ao centro espírita com a terapêutica do passe e

da água fluidificada. 14. Mostrar que devemos aceitar as pessoas como elas são, sabendo

conviver com as diferenças. 15. Fazer com que a pessoa compreenda que devemos aceitar a vida como

ela se nos apresenta, fazendo tudo por melhorá-la incessantemente. Marcus Alberto de Mario – Prevenção do Suicídio – Revista Internacional de

Espiritismo

Page 82: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 77

3.3 O Suicídio por processo Obsessivo - Na Terceira Idade 3.3.1 Características Gerais

Segundo a OMS os idosos são o grupo populacional de maior risco para

o suicídio. Apesar disto, este fenômeno ainda recebe pouca atenção das autoridades

da área de saúde pública, de pesquisadores e da mídia, os quais, em suas reflexões

e ações costumam priorizar os grupos populacionais mais jovens.

No Brasil, cerca de 1.200 pessoas com 60 anos ou mais morrem a cada

ano em decorrência de suicídio.

De acordo com a OMS, no mundo a taxa global de suicídio no ano 2005

entre homens com idade igual ou superior a 65 anos foi de 41 óbitos por 100 mil

habitantes.

Esta taxa é ainda maior se forem considerados apenas aqueles com idade

maior ou igual a 75 anos (50 óbitos/100 mil habitantes). Para as mulheres, as taxas

são usualmente mais baixas; na faixa de 75 anos ou mais a taxa global feminina

atinge o máximo de 15,8 óbitos por 100 mil habitantes.

Ainda segundo a OMS as taxas de suicídio (desconsiderando a questão da

faixa etária) aumentaram cerca de 60% nos últimos 45 anos.

Liana Wernersbach Pinto – Evolução temporal da mortalidade por

suicídio em pessoas com 60 anos ou mais nos estados brasileiros, 1980 a 2009 –

Rio de Janeiro: ABRASCO, v. 17, n. 8, ago. 2012

Outro aspecto importante sobre o suicídio de idosos se refere à relação entre

tentativas e óbitos consumados. Enquanto em outras faixas etárias essa relação fica

na faixa de 10 a 20 tentativas para uma morte consumada, nos idosos ela é de 2 a 3

tentativas para um óbito consumado. Assim, a presença prévia de tentativa é um

importante fator preditivo para o suicídio em idosos.

Os meios de perpetração do suicídio mais comumente utilizados em

inúmeros países são o enforcamento, o estrangulamento e a sufocação.

Page 83: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 78

Em alguns países há predomínio do uso de armas de fogo (Estados Unidos)

e intoxicações por pesticidas (China).

Homens tendem a utilizar meios mais agressivos. Estudos mostram que os

idosos tendem a usar métodos mais violentos e letais como o enforcamento e a

morte por uso de arma de fogo (este último especialmente entre homens), em

diferentes contextos culturais.

No período de 1996 a 2007 ocorreram 91.009 óbitos por suicídio em pessoas

com 10 anos ou mais de idade no País: em média 7.584 pessoas tiraram suas vidas

anualmente.

Deste total, 14,2% (12.913 óbitos) ocorreram em pessoas com 60 anos

ou mais (com média anual de 1.076 idosos).

De maneira geral, a mortalidade masculina por suicídio supera a feminina

tanto quando se considera a população acima de 10 anos (79,2% contra 20,8%),

tanto quando se foca naqueles com 60 anos ou mais (82,2% contra 17,8%).

Verificou-se que 3.039 municípios brasileiros têm registros de casos de

suicídio de pessoas com 60 anos ou mais em pelo menos um dos triênios analisados

(54,6% do total de municípios).

Em relação aos municípios nos quais foram registrados óbitos por suicídio

em pessoas com 60 anos ou mais nos quatro triênios de análise, 44,5% pertencem

a região Sul, 30,7% a região Sudeste, 13,3% a região Nordeste e 9,1% a região

Centro-oeste. O Norte perfaz apenas 2,5% dos municípios com casos nos quatro

triênios.

Em termos de unidade da federação, o Rio Grande do Sul concentra o maior

percentual de municípios com casos nos quatro triênios (27,3%), sendo seguido

pelos estados de São Paulo (17,4%) e Santa Catarina (9,1%).

Liana Wernersbach Pinto – Revista Ciência & Saúde Coletiva/2012

Page 84: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 79

O suicídio entre pessoas idosas constitui hoje um grave problema para as

sociedades das mais diversas partes do mundo. Estudo realizado pelo WHO (Euro

Multicentre Study of Suicidal Behaviour) verificou que em 13 países europeus que

as taxas médias de suicídio entre pessoas com mais de 65 anos nessas sociedades

chegam a 29,3/100.000 e as de tentativas de suicídio, a 61,4/100.000.

Além de os dados sobre autodestruição em idosos serem muito elevados, a

razão entre tentativas e suicídios consumados é muito próxima, quase 2:1.

Um conjunto de pesquisas, no mesmo sentido, leva a concluir que, quando

uma pessoa idosa tenta se matar, há que se levar seu gesto muito a sério, pois

é provável que qualquer tentativa redunde no ato de dar cabo à própria vida.

Maria Cecília de Souza Minayo – Suicídio entre pessoas idosas: revisão

da literatura – Revista Saúde Pública 2010;44(4):750–7

Page 85: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 80

3.3.2 O Processo Obsessivo

Acho-me em vésperas de colher mais dois em minhas redes, para atirá-los

ao báratro dos réprobos...

Tu conheces o báratro dos réprobos ?...

É horrível!

Hei visto por aí todos os baixos níveis da sordidez humana, dos sofrimentos

e depressões, mas nada se me afigurou mais sórdido do que a abjeção do suicida!

E nem ta poderei explicar, porque me faltariam palavras!

Os esgares que ele apresenta nas convulsões traumáticas, suas revoltas, suas

blasfêmias de demônio enlouquecido, sua pavorosa confusão, eternamente

envolvido em ânsias e sombras de pesadelo, suas diabólicas alucinações e seus

furores e raivas são inconcebíveis por um raciocínio normal...

Torná-los, a todos, suicidas! Eis o meu anelo supremo!

Estou desesperado! Porque não foram para o báratro ?...

Um Obsessor – Dramas da Obsessão – 1º Parte

A causa deste caso de obsessão está no passado, como acabo de dizer; o

próprio obsessor foi impelido ao suicídio por esse que acaba de fazer cair no

abismo.

Era sua mulher na existência precedente e tinha sofrido consideravelmente

com a devassidão e as brutalidades de seu marido.

Muito fraca para aceitar com resignação e coragem a situação que lhe era

dada, buscou na morte um refúgio contra seus males.

Vingou-se depois, e sabeis como. Entretanto, o ato desse infeliz não era

fatal; tinha aceito os riscos da tentação; esta era necessária ao seu adiantamento,

porque só ela podia fazer desaparecer a mancha que havia sujado sua existência

anterior.

Page 86: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 81

Aceitara seus riscos com a esperança de ser mais forte e se havia enganado:

sucumbiu.

Recomeçará mais tarde; resistirá? Isto dependerá dele.

Rogai a Deus por ele, a fim de que lhe dê a calma e a resignação de que

tanto necessita, a coragem e a força para não falir nas provas que tiver de suportar

mais tarde.

Louis Nivard – Revista Espírita – Janeiro 1869 – 9° Artigo – suicídio por

obsessão

Entidades obsessivas existem que habilmente mapeiam a organização física

e perispiritual de quem desejam dominar. Identificam, com precisão, os pontos

frágeis e fortes do cosmo orgânico.

Sabem aumentar ou diminuir a produção hormonal; influenciam no

sistema de absorção alimentar, segregando ou deletando proteínas, glicídios e

gorduras; apropriam-se de neurotransmissores, em nível de sistema nervoso

central, conduzindo o obsidiado a crises depressivas ou a idéias e tentativas de

suicídio; agem no centro da memória, pacientemente, manipulando a delicada

tessitura e os bloqueios naturais impostos pelo programa reencarnatório,

desativando mecanismos de proteção e, à semelhança de um ladrão inconsequente,

arrombam as portas que mantêm os arquivos de ações infelizes, ocorridas em vidas

pretéritas, sob parcial controle.

Apropriando-se dessas lembranças amargas, caracterizadas por experiências

de atentado à lei de Deus, conduzem-nas aos campos da memória recente,

provocando, no subjugado, angústias, sentimento de culpa e desespero.

Atrelando-se aos centros motores dos que se encontram sob o domínio

nefasto, produzem paralisias, fraquezas musculares e neurites.

Conhecendo as predisposições íntimas do dominado, seus sentimentos,

desejos e aptidões, atuam no centro cerebral do humor e da inteligência,

acelerando o metabolismo de íons que resultam na irritabilidade, na elevação

da pressão dos líquidos corporais, causando tonturas e cefaleias.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 82

Mantenhas-te atento, pois as somatizações são inevitáveis quando há

influência obsessiva. Transforma-te no bem para que possas neutralizar-lhe tais

ações, absorvendo energias superiores que do Alto se derramam sobre ti. As

ligações mentais inferiores ocorrem em razão da invigilância, da falta de fé, da

ausência de oração, da escassez da prática do bem.

Francisco M. Dias da Cruz – Revista Reformador – 2006 – Dezembro

Eu fui suicida. Querendo fugir à cegueira dos olhos, fui mergulhar-me na

cegueira da alma.

Pensando furtar-me à negrura que cobria o meu viver, fui viver na treva onde

os suicidas curtem raivas, sem repouso; e blasfemam quando suplicam.

(...)

Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, as aberrações, o desespero,

as perseguições, a desgraça, a fome, a desonra, a degradação, a ignomínia, a lama,

tudo, tudo que de mau, de injusto, ou de rastejante em desprezo a Terra lhes possa

dar, que são ainda coisas excelentes em desiludida comparação ao que de melhor

possam chegar, pelo caminho do suicídio.

Camilo Castelo Branco – Do País da Luz – Vol. 4 – Cap. 42 – médium Fernando

de Lacerda – 1918

Um suicida não é mais do que tudo — um réprobo. E quase um réprobo de

Deus, se Deus não fosse o amor ilimitado e a piedade infinita.

Os infelizes conservam o pessimismo como alegria mórbida e quase sempre

esse fantasma terrificante se apodera dos fracos e dos descrentes, apaga-lhes a

derradeira centelha da fé e da esperança que lhes resta, e a noite impenetrável se faz

sentir nesses corações apavorados pela tortura; abismos tenebrosos abrem-se-lhes

sob os pés e as vítimas da cegueira, desamparadas e trémulas, são absorvidas nas

trevas fatais.

Page 88: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 83

Porque é necessário frisar que a cegueira dos olhos pouco representa em

face da cegueira do coração; os desiludidos se aproveitam das sombras para

efetivarem a sua criminosa evasão e, mal-avisados pela estultície, engazopados pela

solércia da Tentação, repelem as dores, fecundas de luminosidades desconhecidas,

para ingressar, surpreendidos, no detestável país onde os desesperançados rugem

de dor, estertorando-se sob as tenazes da amargura.

Camilo Castelo Branco – 1936 – médium Francisco Cândido Xavier – O

Martírio dos Suicidas (Almerindo Martins de Castro) – Pag. 44

Dentre os numerosos Espíritos de suicidas com quem mantive intercâmbio

através das faculdades mediúnicas de que disponho, um se destacou pela

assiduidade e simpatia com que sempre me honrou, e, principalmente, pelo nome

glorioso que deixou na literatura em língua portuguesa, pois tratava se de

romancista fecundo e talentoso, senhor de cultura tão vasta que até hoje de mim

mesma indago a razão por que me distinguiria com tanta afeição se, obscura,

trazendo bagagem intelectual reduzidíssima, somente possuía para oferecer ao seu

peregrino saber, como instrumentação, o coração respeitoso e a firmeza na

aceitação da Doutrina, porquanto, por aquele tempo, nem mesmo cultura

doutrinária eficiente eu possuía!

Chamar-lhe-emos nestas páginas – Camilo Cândido Botelho, contrariando,

todavia, seus próprios desejos de ser mencionado com a verdadeira identidade.

Esse nobre Espírito, a quem poderosas correntes afetivas espirituais me

ligavam, freqüentemente se tornava visível, satisfeito por se sentir bem querido e

aceito.

Até o ano de 1926, porém, só muito superficialmente ouvira falar em seu

nome. Não lhe conhecia sequer a bagagem literária, copiosa e erudita.

Não obstante, veio ele a descobrir me em uma mesa de sessão experimental,

realizada na fazenda do Coronel Cristiano José de Souza.

Yvonne Pereira – Memórias de um Suicida – Introdução – 1954

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 84

Desde os 40 anos que Camilo começara a sofrer de graves problemas visuais

(diplopia e cegueira noturna). Era um dos sintomas da temida neurosífilis, o estado

terciário da sífilis, que além de outros problemas neurológicos lhe provocava

uma cegueira, aflitivamente progressiva e crescente, que lhe ia atrofiando o nervo

óptico, impedindo-o de ler e de trabalhar capazmente, mergulhando-o cada vez mais

nas trevas e num desespero suicidário.

No dia 1 de Junho de 1890 após a visita do seu médico e quando sua esposa

Ana Plácido acompanhava o médico até à porta, eram três horas e um quarto da

tarde, sentado na sua cadeira de balanço, desenganado e completamente

desalentado, Camilo Castelo Branco disparou um tiro de revólver na têmpora

direita.

(...)

Um conformismo suicida que se denota na carta de 28 de Abril de 1856, a

José Barbosa e Silva: “Foi muito grave o prognóstico da minha doença de olhos;

Mas hoje está averiguado que é efeito de venéreo inveterado. Sofro há 4 meses uma

diplopia (vista dupla). É horrível para quem não tem outra distração além da

leitura”.

O suicídio passou a ser vulgar no pensamento de Camilo. Os amigos bem

tentaram dissuadi-lo da ideia, mas em vão. A ideia do suicídio caminhava cada vez

mais para uma certeza. É em 1887 que se prevê o ato como certo, tal é o teor da

carta a Francisco Martins Sarmento, de 12 de Outubro: “Eu bem queria poupar-me

ao suicídio; Mas desde os 18 anos que pressenti a necessidade dessa evasiva, sem

me lembrar que a cegueira seria o impulsor justificadíssimo da catástrofe”.

Universidade Nova Lisboa – CITI – O Suicídio de Camilo Castelo Branco

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 85

Divaguei pelo mundo em estertores

A ruminar atroz padecimento,

E via nada mais que meu tormento

Em raios desanimadores.

Busquei na morte o nada, um linimento,

Com que escapasse à sanha de agressores,

Acicates de sombras, fel e dores,

Sem recordar o Pai, por um momento

Fui um louco, entre tantos tresloucados;

Um solitário, em meio aos desolados,

Em rigoroso e atento masoquismo.

Hoje, na morte, abraço as leis da Vida

E esperançoso trago, enriquecida,

A consciência à luz do Espiritismo.

Antero de Quental – Seara da Esperança – Cap. 9 – Confissão

Aos 82 anos, Walmor vivia praticamente isolado em um sítio no interior de

São Paulo.

Enxergava mal, tinha dificuldades para andar, se alimentava pouco e

contava frequentemente com a ajuda de empregados para executar tarefas

cotidianas.

Um de seus amigos disse à imprensa que o artista teria comentado que

desejaria partir, caso se tornasse uma pessoa dependente.

Heloísa Noronha – Suicídio de Walmor Chagas serve de alerta para a

depressão na velhice – UOL–04/11/2015

Page 91: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 86

O suicida é um espírito soberbo e calceta que, na impossibilidade de atingir

o fulcro da Divindade que lhe não permite continuar semeando destruição,

alucinado pelas ambições crescentes e selvagens, se destrói, tentando, desse modo,

alcançar o Sumo Espírito da Vida. Odiento e infeliz, arroja-se, porém, nos mais

fundos despenhadeiros, cujo anteparo não consegue encontrar, experimentando

inominável dor, enquanto perdurem as novas impressões que se lhe adicionam às

angústias das quais desejou fugir e que o enlouquecem, sem roubar-lhe a

consciência da própria insânia.

(...)

O suicida é o imaturo desajustado na escola da vida, fugindo da consciência

culpada para despertar de coração e mente estraçalhados.

Enquanto não rutilar a fé poderosa e pura, que traduza a verdade maior do

Amor no coração da Humanidade, o homem fugirá da vida para a Realidade,

afogando-se nos rios da Imortalidade, sem consumir-se no aniquilamento que tanto

persegue, não colimando o cobiçado objetivo.

A ética, que na Antiguidade oriental afirmava o “espírito e negava o

mundo”, renasceu no Cristianismo, oferecendo no pessimismo, em relação ao

imediato, o otimismo de referência à Imortalidade, com as credenciais da esperança

e da paz.

No Espiritismo, o mais eficiente antídoto contra o suicídio — suicídio em

cujo corpo sempre se encontram as fortes amarras da obsessão pertinaz, em conúbio

danoso, de consequências imprevisíveis —, o otimismo no tocante à vida real e

indestrutível estabelece uma ligação entre a cultura atual e as culturas pretéritas, em

perfeita sintonia de ideais, dos quais a técnica e as modernas conquistas podem

extrair os frutos opimos a benefício da Civilização contemporânea.

(...)

A liberdade humana num crescendo transformou-se em degradante

libertinagem, nos dias modernos, e fez-se fator preponderante para tornar o suicídio

uma solução, considerando que o desvitalizar da pujança do caráter faz que o

homem seja somente o seu exterior dourado e enganoso, não as suas qualidades

morais elevadas.

Page 92: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 87

(...)

Enquanto o suor lhe escorria pelas mãos álgidas, pela face e por todo o

corpo, ao colocar a corda de nó corrediço no pescoço enlanguescido, com as artérias

intumescidas a se arrebentarem nas têmporas, sob o guante odiento dos sicários

implacáveis que o dominavam do Além-túmulo, não podia Girólamo ver nem sentir

a turba exaltada de Espíritos infelizes que o seguiam em desordem e vandalismo

hediondo, ávidos para se atirarem, tão logo fossem violentados os liâmes da vida

carnal, sobre a energia em desassociação nos despojos, quais abutres ou chacais que

apenas aguardam a morte do animal para roubar-lhe as expressões cadavéricas.

A situação ali não diferia muito. Espíritos em deformações apavorantes,

transformados em vampiros sugadores do fluido vital, em estado de incontida

volúpia, amedrontados ante a possibilidade de perderem a presa fácil, açulavam o

enfermo e transmitiam-lhe ideias desconexas e deprimentes, a fim de o tomarem

nas mãos.

Desse modo, logo o corpo se projetou no espaço e a constrição da corda

impediu a circulação sanguínea, através dos condutos arteriais, o espírito passou a

experimentar imensurável asfixia, que lhe chegava dos estertores orgânicos, e

enquanto se debatia no desespero de libertar-se da corda assassina, o suicida sentia

já o efeito medonho do crime que acabara de perpetrar. Era como alguém que

estivesse metido em roupa de ferro que possuísse a faculdade de encolher,

estraçalhando rítmica, contínua, inexoravelmente o corpo entanguido, dentro de

dimensões cada vez menores.

A impossibilidade de expulsar o gás carbônico dos pulmões e a ausência do

ar que lhe acionasse o aparelho respiratório produziam uma sensação animal de

angústia, como se fosse explodir numa imensa agonia que, a partir de então, não

chegaria ao fim, não se consumaria...

Page 93: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 88

A voz estrangulada na garganta, cujo pescoço estava quebrado; os olhos

abertos, sem qualquer visão; a dor na região precordial, como se estivesse com um

punhal transpassado, dilacerante; os músculos repuxados, a se deslocarem dos

invólucros, e os ossos desconjuntando-se, somavam descomunal intensidade de dor,

que o suicida não pôde suportar, sendo vencido, na superlativa desdita, por um

vágado, no qual perdeu a consciência de si e de tudo.

Logo depois, despertou, encontrando-se na mesma situação de angústia.

Sucederam-se os intérminos desmaios, sempre despertado de cada um deles

sob o guante do crescente horror, num mundo espectral de sombras espessas e de

frio indescritível, que martelava nos ossos, parecendo laminas finas e aguçadas a

cortarem cada tecido, cada fibra, cada órgão já agora em desconserto total.

Cessada a irrigação do cérebro pelo oxigênio que o mantém vivo,

começaram a morrer as células encarregadas do milagre da vida nos sentidos

físicos e psíquicos.

Os plexos, violentamente agredidos, arrebentaram-se e, parecendo flores

que desabrochassem intempestivamente, deixando escorrer inexorável o perfume,

perdendo o pólen e a seiva, simultaneamente exteriorizavam as forças criadoras da

vida, despejando as energias vitais de que se faziam depositários, atraindo a horda

de vândalos espirituais, que se atiraram vorazes, vampirizadores, desesperados,

sugando-as em inimaginável ferocidade.

Lobos esfaimados arrojavam-se uns sobre os outros, disputando o maior

quinhão, a quantidade mais expressiva, enquanto as amarras perispirituais resistiam

ao impacto do esfacelamento da vida física, sem desligar o espírito dos fortes

vínculos com o corpo.

As funções físicas e mentais ficaram lamentavelmente interrompidas,

advindo a morte da vida orgânica, nunca, porém, o desligamento espiritual, a

libertação do criminoso, que acompanharia, doravante, a desassociação celular

ergastulado no castelo de carne que desrespeitou: presídio, látego, túmulo a que se

fixaria por longo período...

Page 94: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 89

Nos sucessivos delíquios de que era vítima, o suicida não se apercebia do

que se tratava.

Turbilhonavam na mente avassalada pelo estupor crescente da loucura, na

qual não se apagara de todo a consciência, o desejo de morrer, que lhe armara as

mãos com o laço criminoso, e a voragem do bailado macabro, em visões

tormentosas, num crescendo aterrador, com dores superlativas.

Naquele martelar das impressões em atropelo sucessivo, supunha que se

houvesse arrebentado a corda, não obstante as dores da constrição no pescoço e a

asfixia... O sonhado esquecimento, que é o grande, o enorme engodo, não chegava.

Rebolcava-se, todavia, pendente no laço, sofrendo o enforcar sem limite, que não

atingia o fim.

Sob o impacto de tanto terror, não sentiu nem se apercebeu das ocorrências

que tumultuaram o solar, o desespero da esposa, a infrene gritaria dos servos

amedrontados, na noite tempestuosa, nem o ofício fúnebre, absolutamente inócuo,

que era celebrado em memória do seu espírito, mas que não significava senão vã

homenagem que se prestava aos despojos carnais em natural decomposição

orgânica.

(...)

A chusma de desencarnados em opressiva condição de miséria interior,

vândalos e escravos dos fluidos materiais, acompanhou o esquife à urna em que foi

depositado na capela da família, prosseguindo na sucção das energias que se

exteriorizavam pelo rompimento intempestivo do vaso carnal.

(...)

Nos suicídios, no entanto, que pressentem, pois que são atraídos pela mente

desvairada do desafortunado que o engendra, inevitavelmente associam-se para o

banquete hediondo da vampirização. O mesmo ocorre no homicídio, quando a

vítima desguarnecida dos recursos libertadores vincula-se, pelo ódio ou pelas

vibrações nefastas, ao que lhe arranca a vida, caindo nos círculos desses vândalos

desencarnados.

Page 95: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 90

Girólamo oferecera o corpo em estertores à chusma de vampiros, cujas

impressões dolorosas só mais tarde viriam atormentá-lo, adicionadas às supremas

aflições que já o laceravam.

Vivendo no trânsito entre o animal e o homem primário, jamais cuidara da

realidade do espírito, não produzindo qualquer fortaleza para agasalhar-se, além da

sepultura, dos tormentos gerados pela infame tragédia do suicídio em que se atirara.

Trasladou-se sem qualquer recurso de defesa ou título de merecimento que lhe

facultassem repouso. Consciência obliterada para as manifestações do belo, do

nobre e da virtude, despertava, agora, no país da realidade, com os destroços

acumulados na avareza e reunidos pela criminalidade.

Na sucessão de vágados em que, alucinado, caía em exaustão, para acordar

sob as mós das dores acumuladas, começou a sentir o cadáver no mausoléu em que

se desagregava, atado pelos laços poderosos que a rebeldia não conseguiu atingir.

Deu-se conta, então, a pouco e pouco, do grotesco infortúnio em cujo fosso se

arrojara irremediavelmente ...

Em bestial angústia, percebeu-se no desgaste orgânico que o afetava

cruelmente, sentindo os milhões e milhões de vibriões que lhe percorriam as

células, voluptuosos, como se estivessem na intimidade do espírito, e, por mais

desejasse evadir-se do local, era compelido a continuar sem o amparo de qualquer

lenitivo.

Simultaneamente, a sufocação, o enfraquecimento pela perda das energias

de sustentação das forças psíquicas vampirizadas, as dores na cabeça, que se

dilatava grotesca, pelo impedimento da circulação no cérebro, produziam-lhe

indizível sensação. Só então, (quanto tempo transcorrera!) experimentou nos

ouvidos, que pareciam destroçados por um petardo que espocasse dentro,

incessantemente, as objurgatórias, as acusações, a mofa, a zombaria infernal dos

que se nutriam da sua desdita.

— E agora, suicida? — interrogavam em zombaria desrespeitosa. —

Para onde vais? Que pretendes, miserável assassino, suicida cobarde?

Page 96: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 91

— Eis aí a morte! Estamos todos mortos. Onde esconderás a vergonha,

o cinismo, a hediondez? Fala!

Gargalhadas de impiedade e cinismo explodiram, ensurdecedoras.

Pretendeu falar, furioso, açulado em toda a sua miséria, mas não pôde. Os

centros da fala haviam sido atingidos profundamente e ele sentiu-se impossibilitado

de pronunciar qualquer palavra.

A mente aturdida, no entanto, espicaçada pela gritaria, refletia: “Morto?!

Aquilo era a vida, não a morte. Fora, possivelmente, atirado a um cárcere imundo

e estava a apodrecer, ao abandono. Não sabia, no entanto, como tal acontecera. O

certo é que a Corda se partira...”

— Enganas-te, sicário dos outros. Morreste! Isto é a morte. Suicida,

suicida! Pagarás, agora, todos os teus monstruosos crimes contra a Humanidade.

Nada passa despercebido dos olhos vigilantes da vida. Aqui estamos. Somos

a consciência do mundo, em regime de justiça, colhendo os desgraçados como tu

para cobrar-lhes os crimes que têm passado impunes. Por que te apressaste em

regressar? Não sabias que cada minuto no corpo oferece ocasião de reparar os males

praticados? Agora, é tarde. Muito tarde!

Girólamo rebolcava-se, semi-obnubilado e semiconsciente, sem entender.

— Desperta para o resgate, infeliz, desnaturado que és, como nós.

Desperta para começar o martírio. Estás vivo e pagarás todos os teus crimes.

Muito lentamente, nas sombras densas passou a ver as figuras hediondas, as

formas grotescas e, dominado pelo estarrecimento, planejou fugir, arrancar em

disparada louca. Não pôde fazê-lo. As amarras que o jungiam, ao cadáver não o

permitiram. Os liâmes perispirituais restringiam-lhe os movimentos, impelindo-o à

participação consciente da responsabilidade. A justiça alcançava o criminoso

evadido da organização física, mas não da vida!...

A máscara de dor e ódio das personagens enfurecidas e descompostas

levam-no a demorado desmaio.

Tão pronto recobra a consciência naquele hórrido martírio, ouve com

infinito pavor:

Page 97: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 92

Somos os teus atuais juízes, — diz-lhe o duque. — Serás julgado e

devidamente punido. Ainda não começaram os teus padecimentos. Disse-te que não

ficaria impune, miserável. Acorda, logo, para a recuperação. Seremos os teus

acusadores. Esperemos que se afrouxem mais os laços que te atam a esses restos,

após o que serás trasladado ao Tribunal. Não fugirás, pois não tens onde esconder-

te. Surpreendi-te, infame. Ninguém ou nada interferirá a teu favor, pois, além de

tudo, és suicida. Acorda para pagar!

Vitor Hugo – Párias em Redenção – 2º Parte – Cap. 1 – Infeliz despertar no

Além

Page 98: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 93

3.3.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes

3.2.3.1. Sinais de Alerta

Boa parte dos sintomas é a mesma dos casos de depressão em qualquer faixa etária: distúrbios do sono e do apetite, fadiga, tristeza, choro, dificuldade de concentração e memória falha. O que define a doença é a intensidade e a frequência desses sinais. Mas os idosos costumam se entregar com mais facilidade.

Os idosos têm sentimento de culpa e inutilidade. Dificilmente vão falar abertamente que querem morrer, porém começam a usar frases como: − "Seria melhor seu eu desaparecesse", − "Não queria dar tanto trabalho", − "Velho não serve para nada" etc.

A desesperança revelada por essas palavras é um caminho perigoso rumo ao suicídio.

Heloísa Noronha – Suicídio de Walmor Chagas serve de alerta para a depressão na velhice – UOL–04/11/2015

Pesquisas revelam que a tentativa de suicídio em idosos, tende a ser mais

eficaz do que em adultos e adolescentes, o que pode estar associado a uma menor probabilidade de socorro, diante do isolamento social.

Identificar pacientes com comportamento suicida é tarefa difícil, haja vista que vários fatores clínicos podem correlacionar, ou apenas estar associado, ao risco de suicídio.

(...) os sinais de alerta para tentativa de suicídio como: − A verbalização do desejo de morte, − A doação de bens, − Acumulação de medicamentos, − Falta de cuidados com a higiene, − Desinteresse em se alimentar e bem-estar diminuído, − Pedido de internação voluntária entre outros.

Ana Elisa Sena Klein Da Rosa – Suicídio e fragilidade social na velhice, uma triste realidade – Revista Portal de Divulgação, n.12, Julho/2011

Page 99: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 94

3.2.3.2. Fatores de Risco

Outros relatos evidenciaram vários fatores de risco já conhecidos por

pessoas que estudam a relação entre os problemas familiares e o fenômeno do

suicídio das pessoas idosas:

− Retirada de sua autonomia para lidar com o próprio dinheiro;

− Subjugação aos adultos da família; obrigação de manter os filhos nessa altura

da vida quando lhes caberia merecido repouso;

− Isolamento em relação à vida comunitária e social;

− Cerceamento da liberdade ainda que em nome do cuidado e da proteção;

− Violência psicológica, negligências e maus tratos.

Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos

familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência &

Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015

Diante da nova representação da sociedade brasileira, observamos que ela

não está preparada para a mudança no perfil populacional, embora as pessoas

estejam vivendo mais, a qualidade de vida não acompanha essa evolução.

Gostaríamos de considerar que a fragilidade nessa faixa etária não é somente

resultado de limitações ou dependências instauradas pela condição física e

fisiológica, mas, também, por valores e práticas sociais pouco sensíveis à

diversidade.

Foram citados os fatores de risco para o fator suicida em idosos, como:

depressão, tentativas de suicídio anterior, dependência, isolamento social, doença

mental. As estatísticas apontam a necessidade de focar políticas públicas voltadas

ao suicídio e a face da fragilidade social na velhice.

Averiguamos que pouco se produz sobre os temas no Brasil. Sugerimos a

produção de estudos sobre a temática para que seja possível a diminuição dessa

ocorrência.

Para o idoso deprimido viver passa a ser desamparador.

Page 100: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 95

O idoso melancólico está sempre rodeado de sensações de medo e

desamparo. Viver em um estado melancólico faz com que o indivíduo se feche às

possibilidades do mundo, passando a pautar-se em desesperança, e que na

impossibilidade de direcionar sua libido a um objeto, volta-a para si, fantasiando

pensamentos autodestrutivos, podendo chegar ao suicídio.

Ana Elisa Sena Klein Da Rosa – Suicídio e fragilidade social na velhice,

uma triste realidade – Revista Portal de Divulgação No 12, Julho/ 2011

Page 101: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 96

3.2.3.3. Prevenção

A depressão e as ideações suicidas são grandes fatores de risco que

justificam medidas preventivas e imediatas, tendo em vista que o idoso muito

rapidamente coloca em prática seu plano suicida.

Tudo isso desafia a saúde pública quanto à prevenção, sobretudo dos casos

de mais gravidade, o que demanda formas de suporte mais complexas, capazes de

dar conta das diferentes faces que o problema apresenta.

Fátima Gonçalves Cavalcante – Diferentes faces da depressão no suicídio em

idosos – Ciência & Saúde Coletiva, vol. 18, núm. 10, Outubro/2013.

Fazendo coro com experientes autores, pode-se considerar que as medidas

mais adequadas para redução do suicídio na população idosa são as estratégias

impeditivas do início do estado suicida.

Ana Elisa Bastos Figueiredo – Impacto do suicídio da pessoa idosa em

suas famílias

A maneira com que cada pessoa investe na qualidade de vida ao longo dos

anos tem tudo a ver com o que vai colher na terceira idade, obviamente.

Racionalmente, o que você faz hoje repercutirá no futuro, mas nem sempre as coisas

saem conforme o planejado.

E apesar do aumento da longevidade e dos avanços tecnológicos ninguém

pode nem deve contar com a garantia de que chegará aos 90, 100 anos, com saúde

e vigor.

Além dos medicamentos específicos e das sessões de psicoterapia, para

enfrentar a depressão é preciso coragem, motivação e vontade de se adaptar às

necessidades de mais uma fase do desenvolvimento humano.

Page 102: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 97

A família e os amigos têm papel fundamental para ajudar o idoso a

atravessar a doença, mas ele também tem de encontrar os próprios mecanismos de

defesa e procurar se manter ativo.

Seja na companhia de parentes, amigos ou em centros de convivência, é

fundamental não descuidar da socialização e cultivar algum hobby.

Se existe algum tipo de limitação, vale procurar outras formas de atividade.

Quem sempre adorou ler ou escrever, por exemplo, mas agora tem a visão

debilitada, pode gravar suas memórias ou narrá-las para alguém.

Lembrar acontecimentos antigos e contar histórias para a nova geração são

atitudes importantes, porém, o idoso não deve ficar preso somente ao passado. "Ter

objetivos é fundamental para ter disposição e mandar bem longe a impressão de

que o tempo está acabando".

Breno Rosostolato – Suicídio e Depressão, Conhecer Para Prevenir

Fórum Espirita

Page 103: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 98

3.4 O Suicídio por processo Obsessivo – Especiais 3.4.1 Por implantação Perispiritual

Naquela noite, o primeiro caso seria o julgamento de José Marcondes

Effendi, 21 anos, ainda encarnado.

Uma testemunha historiou os acontecimentos.

Sessenta anos atrás, José tramara a morte da entidade que ali

comparecia como testemunha. O crime foi por motivo torpe. José, que na época

era uma mulher, combinou com seu amante a morte do próprio marido, um crime

que não foi descoberto pela justiça terrena.

Após muitos anos, a vítima se viu diante de um jovem de 10 anos

aproximadamente: era sua esposa reencarnada em corpo de homem.

O processo obsessivo começou ali e acabou gerando um doloroso caso de

homossexualismo, assim explicado pelo obsessor: Identificando nela (em corpo de

homem, agora) as tendências guardadas da vida anterior, em que as dissipações

atingiram o auge, seria fácil perturbar-lhe os centros genésicos, através da

perversão da mente inquieta, em processo de hipnose profunda, praticada por

técnicos desencarnados.

Com a ajuda de um hipnotizador indicado por Teofrastus, foi fácil

modificar-lhe o interesse e inclinar-lhe a libido em sentido oposto ao da lei natural,

já que o seu corpo era masculino, produzindo irreparável distonia nos centros da

emoção.

Daí por diante, o obsessor associou-se à sua organização física e psíquica,

experimentando as sensações que lhe eram agradáveis e criando um

condicionamento em que seus interesses passaram a ser comuns.

O ódio se converteu em estímulo de gozo, imanando-os em processo de

vampirização em que o espírito se locupleta e, ao mesmo tempo, destrói sua vítima,

atirando-a cada vez em charco mais vil, até que o suicídio seja sua única saída.

Page 104: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 99

O rapaz aprendeu a orar, fugindo à sua influência. Foi com a ajuda de

Teofrastus, que conseguiu induzi-lo a novos erros, que aconteceu o ensejo de

trazê-lo até o Anfiteatro naquela noite, onde seria realizada a intervenção

cirúrgica sugerida por Teofrastus.

"Iremos fazer uma implantação de pequena célula fotoelétrica gravada,

de material especial, nos centros da memória do paciente", explicou Teofrastus.

Operando sutilmente o perispírito, aquele pequeno dispositivo faria com

que uma voz lhe repetisse insistentemente a mesma ordem: "Você vai

enlouquecer! Suicide-se". Transcorridos dez minutos, a cirurgia estava concluída.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 8 –

Processos Obsessivos

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 100

3.4.2 Por Hipnose profunda

Quando das suas graves intervenções no psiquismo dos seus hospedeiros,

suas energias deletérias provocam taxas mais elevadas de serotonina e

noradrenalina, produzidas pelos neurônios, que contribuem para o surgimento

do transtorno psicótico-maníaco-depressivo, responsável pela diminuição do

humor e desvitalização do paciente, que fica ainda mais à mercê do agressor.

É nessa fase que se dá a indução ao suicídio, através de hipnose contínua,

transformando-se em verdadeiro assassínio, sem que o enfermo se dê conta da

situação perigosa em que se encontra.

Sentindo-se vazio de objetivos existenciais, a morte se lhe apresenta como

solução para o mal-estar que experimenta, não percebendo a captação cruel da idéia

autocida que se lhe fixa na mente.

Não poucas vezes, quando incorre no crime infame da destruição do próprio

corpo, foi vitimado pela força da poderosa mentalização do adversário

desencarnado.

Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 4 – Novos

Descortinos

Os espíritos obsessores, muitos deles, são altamente treinados na técnica de

hipnotizar; quase sempre, eles hipnotizam as suas vítimas quando elas se retiram

do corpo, no momento do sono...

Por este motivo, muita gente acorda mal-humorada e violenta. Se

soubéssemos o que nos espera no Além, não dormiríamos sem recorrer aos

benefícios da prece.

Os espíritos nossos desafetos nos espreitam; se não tivermos defesa, eles

farão conosco o que bem entenderem... Há obsessões terríveis que são programadas

durante o sono; toda noite é uma sessão de hipnose...

De repente, é uma agressão violenta dentro de casa, um crime inexplicável...

Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 190

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 101

Reportamo-nos a semelhantes considerações para salientar o impositivo de

nossa vigilância em todos os estados passivos de nossa alma, porque, através da

meditação e do sono, nos identificamos, muita vez de modo imperceptível, com os

pensamentos que nos são sugeridos pelas Inteligências desencarnadas ou não,

que se afinam conosco e, se não nos guardamos na fortaleza das obrigações

retamente cumpridas, caímos sem dificuldade nas malhas da obsessão oculta,

transformando-nos em agentes da irresponsabilidade e da cegueira de espírito, por

despenhar-nos, inconscientemente, em desequilíbrios imanifestos, cujos resulta dos

somente se expressarão, mais tarde, pelos princípios de causa e efeito, nos

torturados labirintos da patogenia obscura, em nosso campo individual.

Lembremos-nos, assim, de que se o obsedado confesso é alguém armado

pela aflição e pelo sofrimento, para o combate às forças da treva, a vítima da

obsessão oculta, quase sempre, é a loucura mascarada de bom-senso,

acarretando, por onde passe, desastres e problemas morais para si e para os outros.

Francisco Dias da Cruz – Vozes do Grande Além – Cap. 24 – Obsessão

Oculta

Naquele transe, sob a indução cruel, que me houvera conduzido ao

transtorno psicótico-maniaco-depressivo, em uma noite de alucinação,

porquanto podia ver a mulher-verdugo de minha existência e os seus asseclas, fui

induzido a ingerir algumas drogas de sonífero, quase automaticamente, sem

qualquer reflexão, a fim de apagar da mente aqueles terríveis pesadelos e libertar-

me dos vergonhosos doestos que me atiravam a face, humilhando-me,

escarnecendo-me, e sempre mais ameaçando.

À medida que se as substâncias passaram a atuar no meu organismo, um

cruel torpor e enregelamento tomou-me todo, produzindo-me a parada cardíaca, e

a desencarnação.

Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 5 – Contato

Precioso

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 102

As ondas mentais exteriorizadas pelo cérebro mantêm firme intercâmbio em

todos os quadrantes da Terra e fora dela.

Pensamentos atuam sobre homens e mulheres desprevenidos, e a sugestão

campeia vitoriosa aliciando forças positivas ou negativas com as quais

sintonizam, em lacerantes conúbios dos quais nascem prisões e surgem alvarás de

liberdade, por onde transitam opiniões, aspirações, anseios...

Merece relembrado o conceito do Nazareno: “Onde estiver o tesouro aí o

homem terá o coração”, o que equivale dizer que cada ser respira o clima da

província em que situa os valores que lhe servem de retentiva na retaguarda ou que

se constituem asas de libertação para o futuro.

Pensamento e vontade — eis as duas alavancas de propulsão ao infinito e,

ao mesmo tempo, os dois elos de escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do

"inferno" das paixões.

Em todo processo hipnológico, pois, convém examinar a questão da sintonia

e da sugestão, com razões poderosas, senão imprescindíveis para a consecução dos

objetivos: a fixação da idéia invasora.

A sugestão é, portanto, a inspiração incidente, constante, que atua sobre a

mente, provocando a aceitação e a automática obediência.

No fenômeno hipnológico há outro fator de grande valia que é a

perseverança, a constância da idéia que se sugere naquele que a recebe. Lentamente

a princípio tem início a penetração da vontade que, se continuada, termina por

dominar a que se lhe submete.

Se o paciente é experimentado nas disciplinas morais, embora os

compromissos negativos de que padece, consegue, pela conquista de outros méritos,

senão contrabalançar as antigas dívidas pelo menos granjear recursos para resgatá-

las por outros processos que não os da obsessão.

As Leis Divinas são de justiça, indubitavelmente; no entanto, são também

de amor e misericórdia. O Senhor não deseja a punição do infrator, antes quer o seu

reajuste à ordem, ao dever, para a sua própria felicidade.

Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 4 –

Estudando o Hipnotismo

Page 108: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 103

Nos primeiros tempos, como no caso do quase suicídio no mar, inexperiente

e pouco conhecedor da Doutrina e da mediunidade, Divaldo teve momentos de

cessão, de passividade ante o comando mental que o constringia.

A Mentora permite, a fim de fortalecê-lo, qual ocorre com os metais

preciosos, que se embelezam, após a moldagem sob altas temperaturas em que são

fundidos.

Posteriormente, já amadurecido e tarimbado na vivência mediúnica, não

mais se deixa influenciar, o que vai acirrar o ânimo do perseguidor que realiza

investidas e agressões cada vez mais dolorosas, objetivando atingi-lo através de

terceiros.

(...)

Jovem, inexperiente, desconhecendo a complexidade dos processos

obsessivos, carregando no imo da alma o traumático suicídio de sua irmã Nair, o

médium é quase levado também ao auto-extermínio.

O fato inicia-se com algumas visões, durante a noite, provocadas pelo

adversário espiritual, que se utiliza da hipnose, tentando assumir o comando da

mente de Divaldo.

É um momento dramático este. Pode-se imaginá-lo, frágil e quase indefeso,

vulnerável, de certa forma, pelas "matrizes” do passado, deixando-se, por

momentos, dominar mentalmente e obedecendo ao comando que o oprime.

Assim, levanta-se do leito, salta a janela e caminha para o mar. Nos ouvidos,

no cérebro, repercute a voz persuasiva indicando a morte como o melhor caminho

e solução para todos os problemas.

É madrugada. A praia está absolutamente deserta e ninguém poderia salvá-

lo. Molha os pés nas primeiras ondas a se quebrarem ao seu encontro, porém

continua andando, mar a dentro, atendendo à voz hipnótica.

Está escuro ainda e a água fria a envolvê-lo não o desperta.

Avança um pouco mais, quando, providencialmente, as ondas molham o seu

rosto, provocando-lhe um choque que o desperta afinal.

Page 109: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 104

Retoma o comando mental e, guiado pelo instinto de sobrevivência, entra

em desespero. Está no mar, em plena noite escura e não sabe nadar.

A agonia da situação é terrível e não entende, de pronto, como veio parar

ali. Mas, a Misericórdia Divina vela e protege. Nilson, o amigo, o irmão, o pai, o

anjo bom, está por perto. Vigia e ora, na certeza de que a Espiritualidade Maior não

desampara. Chegado o instante preciso atira-se às águas e resgata a quase vítima.

Já, na praia, Divaldo o vê. Dominador, frio, obstinado em seus propósitos,

por pouco não consegue consumar o trágico plano.

Ameaçando-o de morte, avisa-lhe que o seu compromisso com a Igreja

perdura. Que deve abandonar o Espiritismo e ingressar de novo nas hostes religiosas

a que juntos pertenceram.

O episódio marca profundamente a vida do médium, alertando-o para a

necessidade vital de uma vigilância incessante, a fim de não cair novamente nas

mãos de seu perseguidor.

Suely Caldas Schubert – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de

Ferro

Page 110: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 105

3.4.3 Por Envolvimento Sutil

Desse modo, merece que sejam ampliadas as reflexões em torno da sutileza

das obsessões, a fim de que se possa entender-lhe os mecanismos delicados e

complexos.

Quando ocorram pensamentos repetitivos perturbadores, reduzindo a

polivalência dos mesmos, restritos a uma idéia que se destaca e predomina, eis que

se inicia o processo sombrio enfermiço.

Da mesma forma, quando os fenômenos da antipatia entre amigos ou

meramente conhecidos passem a crescer, gerando animosidade em instalação, sem

qualquer dúvida, além das barreiras carnais movimentam-se interesses perversos

administrando o raciocínio daquele que assim se comporta.

Sob outro aspecto, mesmo no culto de qualquer ideal, quando se apresentam

programas esdrúxulos ou úteis, mas não oportunos, com riscos de fazer soçobrar o

edifício do bem, há forças espirituais negativas conspirando, cruéis, para o

descrédito, a destruição do trabalho.

Toda vez quando os sentimentos se armem contra o próximo, ou se afeiçoem

em demasia, a ponto de perder a linha do equilíbrio, tenha-se certeza de que uma

obsessão sutil, em agravamento, encontra-se em instalação.

As fixações mentais que desestruturam o comportamento psicológico, além

do caráter de instabilidade emocional, tornam-se canais para interferências

negativas por parte de espíritos ociosos e doentios, que andam à espreita de campos

experimentais para o conúbio exploratório de energias físicas a que se imantam.

As obsessões sutis são perigosas, exatamente em razão da sua delicadeza

de estrutura, da maleabilidade com que se apresentam, sendo confundidas com

as naturais manifestações de conduta psicológica pertinente a cada indivíduo.

É necessário muito discernimento para distinguir, quando se expressam

desajustes emocionais, transtornos orgânicos que afetam a conduta psicológica e

influências espirituais perturbadoras.

Page 111: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 106

Tornar os ensinamentos cristãos parte da filosofia existencial diária constitui

um recurso valioso para a preservação da saúde sob quaisquer aspectos

considerados, e mesmo quando se manifestem enfermidades, na condição de terapia

psicológica e espiritual, capaz de manter o equilíbrio interior e a coragem para o

prosseguimento da luta até o momento da vitória.

Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 2o Parte – Cap. 2 –

Sutilezas da Obsessão

Os pensamentos negativos se fazem sentir como se fossem desenvolvidos

pela própria pessoa.

Quando o influenciador é consciente, a ocorrência é preparada com

antecedência e meticulosidade, às vezes, dias e semanas antes do sorrateiro assalto,

marcado para a oportunidade de encontro em perspectiva, conversação,

recebimento de carta, clímax de negócio ou crise imprevista de serviço.

Não se sabe o que tem causado maior dano à Humanidade: se as Obsessões

espetaculares, individuais e coletivas, que todos percebem e ajudam a desfazer ou

isolar, ou se essas meio-obsessões, de quase-obsidiados, despercebidas,

contudo, bem mais frequentes, que minam, as energias de uma só criatura incauta,

mas por vezes influenciando o roteiro de legiões de outras.

Quantas desavenças, separações e fracassos não surgem assim?

Estude em sua existência se nessa última quinzena você não esteve em

alguma circunstância com características de influenciação espiritual sutil. Estude e

ajude a você mesmo.

André Luiz – Estude e Viva – Cap. 35 – Influências Espirituais Sutis

Page 112: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 107

A estes e a seus congêneres deve a sociedade do Rio de Janeiro grande

percentagem dos acidentes verificados diariamente nas vias públicas e pelos

domicílios particulares: atropelamentos, quedas, braços e pernas partidos,

queimaduras, suicídios, homicídios, brigas, escândalos, confusões domésticas,

assaltos, etc., etc.

E' a atmosfera. em que vivem e se agitam, porque já eram afins com ela

antes de passarem para a vida invisível.

É o que constantemente inspiram, sugerem e incitam, encontrando no

homem um colaborador passivo, que facilmente se deixa dominar por suas

terríveis seduções.

A infelicidade alheia é o seu espetáculo preferido: Provocam mil distúrbios

na sociedade e nos lares, pois se divertem com a prática de malefícios. Não

entendem a sublime significação dos vocábulos – amor, caridade, piedade,

fraternidade, honestidade! Não crêem em Deus nem têm religião. Odeiam o bem e

o belo com todas as forças vibratórias que possuem.

Odeiam os homens e os seguem, sorrateira e covardemente, porque

odiavam a própria sociedade, antes de morrerem, sabendo que não serão vistos

nem pressentidos. E a perseguição mental que lhes movem, aos homens, é

inveterada e implacável, afirmando eles que assim agem porque igualmente foram

perseguidos, quando homens, pela sociedade, que nunca os protegeu contra os

males com que tiveram de lutar: doenças, miséria, fome, falta de instrução,

orfandade, desemprego, delinquência, desesperos de mil e uma naturezas...

E muitos destes foram, com efeito, delinquentes que a sociedade perseguiu

e levou ao desespero, em vez de ajudá-los a se reeducarem para Deus... O resultado

de tal incúria por parte dos homens aí está: uma vez desaparecidos da vida

objetiva, pela chamada morte, infestam, como Espíritos, a sociedade, e

prejudicam-na, acobertados pelo segredo da morte...

Page 113: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 108

(...)

Em vez de “braço fraturado” ou “atropelamento”, suponhamos que

sugiram o suicídio, o homicídio, uma mesa de jogo, um conflito, uma rixa, um

adultério...

Suponhamos que, em vez de carregarem de vibrações pesadas um braço,

para que a vítima o suponha fraturado e sinta dores atrozes, carreguem a mente

com sugestões luxuriosas...

Aí teremos também a irremediável desonra, o vício, o desregramento

sexual...

Far-se-á maléfica a hipnose, e aquele que não teve forças morais e

vibratórias para se desvencilhar-se das teias em que se deixou envolver, submeter-

se-á a tudo...

Yvonne Pereira – Devassando o Invisível – Cap. 10 – Os Grandes segredos do

Além

O médium que se permite enovelar em problemas dessa natureza, torna-se

vítima de obsessões que culminam, quase sempre, na loucura, no suicídio ou no

assassinato... Os seus sicários utilizam-se das suas impulsividades e o arrojam aos

despenhadeiros da amargura de difícil retorno.

(...)

Impossibilitado, começou a agir psiquicamente no comportamento da

paciente, aumentando-lhe o arrependimento, exprobrando-lhe a conduta,

induzindo-a ao suicídio como solução para a desonra a que se entregara.

(...)

Uma cena confrangedora chamou a atenção de Miranda, no cemitério, logo

depois do atendimento prestado a Davi.

Em uma sepultura coberta de vasos floridos, um Espírito profundamente

triste, em pranto copioso, tocava violino, enquanto a seu lado, amargurada,

padecendo convulsões contínuas, jovem mulher gritava, alanceada: “Por que não

vieste comigo?

Deixaste-me morrer e fugiste? Para onde foste, desgraçado?!

Page 114: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 109

Ai de mim, nesta noite fria e solitária!”

A jovem parava um pouco e repetia as mesmas perguntas, inspirando

compaixão.

O violinista, por sua vez, interrompia a música e, desesperado, interrogava:

“Martina, responde. Onde te ocultas?

Matei-me para estar contigo para sempre. Quem te arrebatou de mim?

Ouve, é para ti que toco...”

Sensibilizado pela cena comovedora, Miranda perguntou ao Mentor o que

poderia ser feito por eles. Dr. Carneiro deteve-se a observá-los e em seguida

respondeu: “Nossos irmãos aqui chegaram através do suicídio.

Pelo que consigo detectar, ele era professor de violino da jovem, mais velho

do que ela vinte e cinco anos. A música uniu-os e fez-se-lhes veículo de uma paixão

violenta.

Os pais da moça, informados do desenvolvimento do drama, repreenderam-

na, buscando dissuadi-la de uma união que, segundo eles, tinha tudo para ser um

fracasso. Interromperam as aulas e mandaram-na em viagem, o que, conforme

esperavam, lhe faria bem.

O professor descobriu e resolveu acompanhá-la sem que os genitores da diva

o soubessem. Descobertos, foram novamente separados sob ameaças.

Depois de demorada conversação marcada pela paixão compulsiva, em

desespero, optaram pelo suicídio duplo através de soníferos, simultaneamente...

O Benfeitor contou, então, que eles chegaram à vida post-mortem em

lamentável estado. Depois de sofrerem o torpor e a alucinação por mais de dez anos,

imantados pelo duplo crime, encontravam-se próximos, mas ainda não se viam,

nem se ouviam.

Era-lhes negado aquilo que desejaram recorrendo ao suicídio.

Vez por outra o desespero os alucinava, e partiam para a blasfêmia, as

acusações recíprocas, mas o arrependimento lhes era insuficiente para mudarem a

faixa psíquica, a sintonia em que se demoravam, e poderem receber desse modo

conveniente auxílio. Dr. Carneiro acrescentou, por fim, que, apesar de tudo, eles

não se encontravam abandonados.

Page 115: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 110

Com o amparo espiritual recebido, os vampiros não conseguiram arrancá-

los dali, onde acompanharam e sofreram a transformação celular. “Queriam matar-

se para estarem juntos, e se separaram porque se mataram”, acrescentou o Médico

baiano, lembrando que o suicídio é crime covarde que traz conseqüências duras e

imprevisíveis para todos aqueles que nele tombam.

Manoel Philomeno de Miranda – Trilhas da Libertação – Cap. 8/21/30

Page 116: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 111

3.5 O “Homicídio Espiritual” por processo Obsessivo

Na verdade, em muitas situações, os crimes têm dois autores, um

encarnado(teleguiado) e outro desencarnado.

O que sabem somente aqueles que já tomaram conhecimento das profundas

relações entre os dois mundos, e por isso se cuidam.

Cláudio Bueno da Silva – O Consolador – Ano 7 – N° 333 – 13 de Outubro de

2013 – Homicídios Espirituais

Como os adversários espirituais se vinculavam a ambos, encontraram

campo vibratório propício para o assassinato de cunho espiritual.

Ante esse fato doloroso, em outras circunstâncias, sempre me perguntava,

como as leis terrenas julgariam os criminosos que houvessem sido vítimas dos seus

inimigos desencarnados?

Puniriam ao homicida visível que, por sua vez, se tornara vítima de outros

indigitados criminosos?

E como alcançar aqueles que se encontram além das sombras terrenas em

paisagens imortais excruciantes e permanecem odientos, se escasseiam recursos

próprios para a análise e penetração nessas regiões?

Eram essas interrogações que nos ficaram e permanecem interessando-nos

por conquistar as respostas, em razão da freqüente repetição de delitos dessa ordem

e crimes outros sob a inspiração de seres espirituais desencarnados.

Igualmente, podemos considerar aqueles suicídios, nos quais a insidiosa

presença e indução de algozes desencarnados responde pelo ato tormentoso,

que diariamente arrebata em todo o mundo grande parcela da sociedade...

Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 3 –

Reminiscências

Page 117: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 112

O mesmo fenômeno ocorre quando se trata de determinados homicídios,

que são planejados no mundo espiritual, nos quais os algozes se utilizam de

enfermos por obsessão, armando-lhes as mãos para a consumpção dos nefastos

crimes.

Realizam o trabalho a longo prazo, interferindo na conduta mental e moral

do obsesso, a ponto de interromperem-lhe os fluxos do raciocínio e da lógica,

aturdindo-os e dominando-os.

Tão perversos se apresentam alguns desses perseguidores infelizes quão

desnaturados, que se utilizam da incapacidade de reação dos pacientes para os

incorporar, podendo saciar sua sede de vingança contra aqueles que lhes estão ao

alcance.

Utilizando-se do recurso da invisibilidade material, covardemente

descarregam a adaga do ódio nas vítimas inermes, tombando, mais tarde, na própria

armadilha, porquanto não fugirão da justiça divina instalada na própria consciência

e vibrando nas Leis cósmicas, que sempre alcançam a todos.

(...)

Todos esses criminosos espirituais, terminadas as batalhas em que se

empenham, passam a experimentar incomum frustração por haverem perdido as

metas que desapareceram e por darem-se conta dos tormentos íntimos em que

naufragam, descobrindo-se sem objetivo nem razão de continuar a viver...

E como não podem fugir da vida em que se encontram, são atraídos

compulsoriamente às reencarnações dolorosas, experimentando os efeitos das

hecatombes que ajudaram a ter lugar.

Mergulham, então, na grande noite terrestre do abandono, da loucura, das

anomalias, emparedados em enfermidades reparadoras, experimentando rudes

expiações, que lhes serão a abençoada oportunidade para reencontrar o caminho do

futuro...

Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 4 – Novos

Descortinos

Page 118: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 113

A obsessão merece maior atenção por parte dos estudiosos da doutrina.

Os processos obsessivos podem ser responsabilizados por grande parte da

violência praticada pelo homem...

Existem crimes tão estarrecedores, que, sem dúvida, não poderiam ser

praticados por uma só pessoa em ação; a gente fica com a nítida idéia de que foram

muitos os que agiram através do autor de determinada atitude de violência...

Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 222

Podemos chamar essa agressão como uma tentativa de homicídio

espiritual.

– Isso ocorre com freqüência? – interroguei-o, surpreso.

– Sim – esclareceu – com mais freqüência do que se imagina...

Nunca devemos esquecer-nos que este é o campo das causas, o mundo

espiritual, onde se originam as ações e feitos que se materializam na Terra. Fonte

de sublimes inspirações, também origina reações devastadoras, quando os seus

autores se encontram nas faixas primárias da evolução.

Em colônias de dor e de sombra, mentes perversas elaboram programações

desditosas que inspiram aos deambulantes carnais, insensibilizando-os e

auxiliando-os nas suas desvairadas aplicações.

Em parceria psíquica, hipnotizam aqueles com os quais conviveram na

esfera espiritual, esses desalmados perseguidores do Bem, e utilizam-nos com uma

frieza que nos choca, procedente, desse modo, das suas construções mentais

devastadoras.

Detido o Espírito encarnado nas malhas vibratórias dos seus desafetos, em

razão dos comprometimentos morais para com eles, torna-se sujeito à sua injunção

infame, experimentando dores acerbas que podem provocar no corpo desastres

orgânicos.

A mente é portadora das energias que se movimentam através da

aparelhagem carnal, e quando são deletérias produzem efeitos compatíveis.

Page 119: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 114

Da mesma forma que uma emoção forte, em estado de vigília danifica o

organismo e provoca distúrbios muito graves na maquinaria fisiológica, aquelas que

têm lugar durante o parcial desprendimento pelo sono, pelo coma ou situações

equivalentes, repercutem nas células, danificando-as ou harmonizando-as se

defluem das alegrias e bênçãos que se vivenciem.

Tudo quanto ocorre no soma procede da psique, portanto, do Espírito, que é

o condutor do carro material.

Manoel Philomeno de Miranda – A Transição Planetária – Cap. 11 –

Aprendizado Constante

O enfermo era austero administrador de serviços públicos que, incapaz de

usar o algodão da ternura em feridas alheias, adquiriu ódios gratuitos e silenciosas

perseguições, por tentar reajustar a concepção de funcionários relapsos.

Esses ódios lhe vergastavam a mente, sem cessar, havia muitos anos, com

perigosos reflexos no sistema circulatório -- a zona menos resistente do seu cosmos

físico --, no fígado e no baço, que se apresentavam em lamentáveis condições.

Seus perseguidores conseguiram insinuar nos médicos a necessidade de

uma intervenção na vesícula biliar, preparando-se-lhe com isso um choque

operatório e, por consequência, a inesperada morte do corpo.

André Luiz – Libertação – Cap. 11 – Valiosa Experiência

Educa a mente no bem e disciplina o comportamento moral, jamais

oferecendo guarida às idéias suicidas.

Mentes desatreladas da matéria, em regime de ociosidade ou vampirização,

trabalham mediante hipnose persistente, inspirando estados de alienação que

culminam no suicídio.

Cultiva o hábito da prece e dá guarida aos pensamentos otimistas,

estimulando conversações edificantes, com que te desvencilharás dos cipós que

asfixiam, levando à autodestruição.

Page 120: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 115

Trabalha pelo bem geral, liberando-te da presunção e do egoísmo, de mãos

dadas ao amor fraternal e o amor fraternal conduzir-te-á com segurança por todos

os dias até o término da tua vilegiatura física.

Joanna de Angelis – Alerta – Cap.28 – Loucura Suicida

Page 121: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 116

3.6 O Suicídio por processo Obsessivo – Depoimentos 3.6.1 Infanto-juvenil

Os seguintes depoimentos de jovens, com idade até 25 anos, obtidos via

comunicação mediúnica, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, Fernando

de Lacerda, Divaldo Franco, e outros médiuns são apresentados nas próximas

páginas:

# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao

desencarne

(anos)

Tempo após o

desencarne da

comunicação

Depoimentos de Jovens

1. Hilda Envenenamento ? ?

2. Fernanda Luiza Batista Arma de fogo 13 6 meses

3. H Envenenamento ? > 20 anos

4. Antônio Carlos Martins Coutinho ? 20 3 anos

5. Cláudia Pinheiro Galasse Arma de fogo 18 1 ano

6. Francisco Adonias Nogueira Enforcamento 18 4 anos

7. José Teodoro Caldeira Explosão ? 5 meses

8. Júlio Cesar da Silveira Arma de fogo 17 2 anos

9. Lincoln Prata Lóes Arma de fogo 17 1 mês

10. Marcos Emanuel Teixeira Santos Arma de fogo 23 4 anos

11. Milton Higino de Oliveira Arma de fogo 25 6 anos

12. Renata Zaccaro de Queiroz Saltar de altura 18 8 meses

Page 122: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 117

# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao

desencarne

(anos)

Tempo após o

desencarne da

comunicação

13. Selma Rodrigues Sanches Arma de fogo 16 1 mês

14. Lucia Ferreira Envenenamento 16 1 ano

15. Wladimir Cesar Ranieri Arma de fogo 24 ?

16. Décio Márcio Carvalho Arma de fogo 25 4 meses

17. Dimas Luiz Zornetta Arma de fogo 25 8 meses

18. João Alves de Souza ? 24 ?

19. Pedro Augusto Souza Gonçalves Arma de fogo 22 3 meses

20. Maximiliano Enforcamento 12 4 dias

21. Francisco Ângelo de Souza Drogas 23 ?

22. Marcio Ricardo 16 1 ano

Page 123: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 118

DEPOIMENTO 1 Hilda

Há duas palavras com significação muito diferente na Terra e na Vida

Espiritual.

Uma delas é "consciência", a outra é "responsabilidade".

No plano físico, muitas vezes conseguimos sufocar a primeira e iludir a

segunda temporariamente, mas, no campo das Verdades Eternas, não será possível

adormecer ou enganar uma e outra.

A consciência revela-nos tais quais somos, seja onde for, e a

responsabilidade marca-nos a fronte com os nossos merecimentos, culpas ou

compromissos.

Enquanto desfrutais o aprendizado na experiência humana, acautelai-vos na

conceituação dessas duas forças, porque o pensamento é a energia coagulante de

nossas aspirações e desejos.

Por isso, não fugiremos aos resultados da própria ação.

Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia

no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se

arrojou, infeliz.

O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que

colocamos na casa de nossa mente.

De instante a instante, a corrupção se dilata e atraímos em nosso desfavor

todos aqueles elementos que se afinam com a nossa invigilância e que se sentem

garantidos por nossa incúria, presidindo-nos a perturbação que fatalmente nos

arrasta a grande perda.

Obsidiada fui eu, é verdade.

Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a

idéia da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me

concedera à estrada primaveril.

Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela,

fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava

mais alto no presente.

Page 124: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 119

Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos

familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço;

olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha

justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando

deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração

espiritual.

Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma

porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.

E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se

reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo

infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.

Refiro-me a essa hora terrível e inolvidável, para fortalecer em vosso

espírito a responsabilidade do pensamento criado, alimentado, e vivido ...

No momento cruel, um raio de luz clareou-me por dentro! ...

Eu não deveria morrer assim – comecei a pensar. Cabia-me guardar nos

ombros, por título de glória, a cruz que o Senhor me confiara! ...

Imensa repugnância pela deserção, de súbito, iluminou-me a alma;

entretanto, na penumbra do quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e

braços hirsutos me rodearam.

Vozes inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor,

exclamando: – «É preciso beber.»

A bênção do socorro celeste fora como que abafada por todas as

correntes de treva que eu mesma nutrira.

Debalde minha mão trêmula ansiou desfazer-se do líquido fatal.

Esvaíram-se-me as forças.

Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto,

sorvi, quase sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao sepulcro.

Em verdade, eu era obsidiada ...

Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição

que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.

Page 125: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 120

Corporificara, imprevidente, todas as forças que, na extrema hora, me

facilitaram a queda.

Conservando a idéia lamentável, acabei lamentando a minha própria

ruína.

Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem

rebaixar a mulher indefesa ...

Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos

amigos encarnados a noção de «responsabilidade» e «consciência», no campo

das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me

consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total

da prova em que vim a desfalecer.

É por essa razão que terminamos as nossas frases despretensiosas,

lembrando a vós outros que o pensamento deplorável, na vida Íntima, é assim

como o detrito que guardamos irrefletidamente em nosso templo doméstico.

Se somos atenciosos para com a higiene exterior, usando desinfetantes e

instrumento de limpeza, assegurando a saúde e a tranqüilidade, movimentemos

também o trabalho, a bondade e o estudo, contra a dominação do pensamento

infeliz, logo que o pensamento infeliz se esboce levemente na tela de nossos desejos

imanifestos.

Cumpramos nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos à

criança desventurada, procuremos a execução de nossas tarefas, busquemos o

convívio do livro nobre, tentemos a conversação robusta e edificante,

refugiemo-nos no santuário da prece e devotemo-nos à felicidade do próximo,

instalando-nos sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato,

porque, através dele, a obsessão se insinua, a perseguição se materializa, e, quando

acordamos, diante da própria responsabilidade, muitas vezes a nossa consciência

chora tarde demais.

Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão Nota: Comunicação recebida no dia 15 de março de 1956 – Grupo Meimei – Pedro Leopoldo/MG

Page 126: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 121

DEPOIMENTO 2 Fernanda Luiza Batista

A jovem, quase adolescente, Fernanda Luíza Batista dos Santos nasceu em

Franca, SP, a 3 de junho de 1967, aí desencarnando com 13 anos, no anoitecer de

29 de outubro de 1980 – mensagem de 1981/abril.

Querida mamãe Aparecida, abençoe a sua filha, perdoando-me o

desequilíbrio a que me entreguei, sem pensar na dor que lançava em meu próprio

caminho.

Sou trazida até aqui pela vovó Maria Honorata porque por mim própria, não

conseguiria vir.

Sei que alterei a família toda com a resolução infeliz.

Querida mãezinha, você e o papai Mauro me perdoarão se procurei aquela

arma propositadamente. Aproveitei o ruído daquele mesmo aparelho de som que a

sua bondade me deu com sacrifício para liquidar comigo!

Ninguém conseguirá imaginar o sofrimento da infeliz menina que fui por

minha própria conta! Nada sabia da vida, nem guardava experiência alguma,

entretanto, a ideia de me ausentar do mundo me obcecava…

Não pensei no sofrimento dos meus e nem avaliei quanto me queriam todos

em casa. Um pequenino desgosto de criança rebelde e compliquei tanta gente…

Pobre Sam! Um amigo que nem podia tomar conhecimento de minha

presença e eu a dramatizar o inexistente!

Querida mãezinha, reconheço que aos pais não é preciso rogar desculpas,

no entanto, sinto-me de joelhos a lhes pedir para que me auxiliem, esquecendo-me

o gesto alucinado…

Não sei de todo o que se passou… Lia com interesse a tudo quanto se

referisse aos casos de amor e paixão e, antes de me formar na fé, acreditei-me

pessoa adulta quando não passava da menina que se afundou voluntariamente num

poço de lágrimas.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 122

Tenho recebido o socorro de vários parentes, dentre os quais me sinto mais

ligada à vovó Honorata, porque ainda não saí da posição de doente grave.

Tenho o coração doendo e a cabeça ainda bastante desorientada.

A senhora, meu pai, o Walter João e as irmãs compreenderão que não pode

ser de outra maneira.

Não tenho palavras para descrever o meu arrependimento, no entanto,

deixaram-me escrever-lhes estas notícias para que me alivie, desinibindo os meus

sentimentos sufocados.

Rogo à Anita, à Aparecida Helena e à Glória para me perdoarem.

Quando me lembrem, por favor, não me recordem como sendo o retrato de

uma criança enlouquecida de arma na mão.

Recordem-me nos momentos em que, despreocupada, não me intoxicara,

ainda, com ideias de autodestruição.

Preciso refazer a minha própria imagem. A vó Luíza e a irmã Ana a que veio

até a minha pobre presença, a pedido de nosso Carlos, muito me amparam.

Envergonho-me, porém, de receber tantas bênçãos, quando errei

calculadamente, conquanto sem conhecimento antecipado do que fazia.

Agradeço as nossas amizades que, até hoje, me reconfortam com orações.

A nossa benfeitora Maria Conceição de Barros, n a quem o seu carinho

rogou por mim, estendeu-me as mãos e um médico de nome Doutor Ulysses,

também de Franca, se compadeceu de mim por intercessão dela.

Como vê, não estou desvalida, porque a Infinita Bondade de Deus não nos

abandona. Apenas ignoro como conseguirei rearticular o meu organismo agora

dilapidado. A vovó Honorata me consola e busca reanimar-me.

Querida mamãe Cida, perdoe-me e aceite-me por sua filha outra vez…

Creia, mamãe, só a cabeça perturbada e doente me faria agir contra mim

própria e contra a felicidade dos que mais amo.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 123

Não posso continuar, porque o pranto não escreve e as lágrimas me asfixiam

os pensamentos com que eu desejava formar as palavras de súplica à família toda

para que me recebam novamente no coração, tal qual fui antes de minha resolução

infeliz.

Deus nos proteja e me auxilie a retomar a tranquilidade que ainda não tenho.

O papai e todos os meus me perdoarão com o seu apoio de mãe e eu lhe

rogo, querida mamãe, para que o seu sorriso brilhe de novo para mim, a fim de que

eu possa recomeçara minha caminhada de esperança.

Perdoe-me e receba em seu colo a sua filha que é hoje a sua criança doente.

Ensina-me outra vez a pronunciar o nome de Deus com a fé que o seu

carinho me transmitiu; cante outra vez para que tanta dor me permita dormir e

receba muitos beijos de sua filha ainda errada e sofrida, mas sempre sua filha do

coração por ser agora a mais necessitada de todas.

Sempre a sua,

Fernanda Luiza Batista – Vida nossa Vida – Cap. 5 – Fernanda Luiza Batista

dos Santos

25 de abril de 1981

Livro: Vida nossa vida – Familiares diversos – Capítulo 5 – Fernanda Luíza

Batista dos Santos

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 124

DEPOIMENTO 3 H

Os Espíritos que se santificaram na compaixão e na caridade trouxeram-me

para que eu narre a minha desventura, após ter sido socorrida quando por primeira

vez aqui estive.

Sou suicida; uma infeliz que trucidou todas as oportunidades próximas de

ventura e felicidade com as próprias mãos; rebelde que desagregou a sublime

construção da vida; ingrata que recusou o vinagre da experiência para sorver a água

pestilencial do charco de inenarrável aflição...

Católica desde muito cedo atingi a adolescência fantasiada pelas ambições

da educação em regime de futilidade.

Meus pais, embora bons, preocupavam-se mais com a estética do corpo e

com os triunfos da carne do que com as bases morais e espirituais dos filhos.

Fiz-me, assim, atleta da natação, pagando um alto preço pelas minhas

incursões ao mar, sendo vítima de lamentável acidente que me desfigurou a perna,

deixando-me, além disso, um profundo trauma interior.

Ambiciosa e atormentada, confundi amor com desejo, escolhendo para amar

um moço que estava longe de corresponder as aspirações dos meus sentimentos de

menina-moça que sonhava com um lar...

Noivos, senti-me traída, percebendo-o distante e frio, sem a necessária

dignidade para desfazer o compromisso que assumira espontaneamente.

Numa manhã de loucura, após uma noite interminável de conflitos, sorvi,

desesperada, alta dose de tóxico letal que me venceu o corpo sem me destruir a

vida.

Antes, porém, redigira uma carta, grafada com o suor da alma, suplicando

perdão aos meus pais...

O que aconteceu depois daquele torpor que me levou ao copo não posso

descrever. Tive a impressão que despertei, subitamente, desacorrentando-me dos

grilhões que me arrastaram até o gesto de loucura.

Ao dar-me conta do que fizera, desejei recuar.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 125

Era tarde! Já estertorava, padecendo convulsões lancinantes.

Pensei em suplicar por socorro, mas, o turbilhão em que me debatia, não me

permitiu fazê-lo.

Digo melhor: a garganta em brasa viva não atendia ao desespero do meu

arrependimento. Tentei erguer-me e tombei desgovernada, sem qualquer controle,

comburida pela substância que ingerira.

Ó, meu Deus! As labaredas que ardiam desde o estômago ao cérebro

fizeram-me dormir ou desmaiar momentaneamente, num sono agitado...

Logo, porém, despertei para um inferno que nenhuma palavra na Terra pode

definir, inferno que se alonga até hoje, mais de vinte anos transcorridos, conforme

fui informada, diminuindo de intensidade uma que outra vez, para logo recomeçar...

Dizer o que é o sofrimento de quem tripudia sobre as dádivas da vida é tarefa

quase impossível mesmo para as f inteligências mais lúcidas.

Sei que gritei, rasgando as vestes, que me atirei sobre as paredes e móveis,

em desespero de fera, não conseguindo diminuir a agonia que me devorava

interiormente, sem cessar. Debati-me até a perda da consciência, a fim de despertar

com as dores ora aumentadas pela violência dos impactos novos que me aplicava

no desespero de animal ferido, irracional.

Sem ter ideia exata do que me acontecera, saí em desabalada correria pela

rua imensa sem nada distinguir, como se a Terra estivesse envolta num eclipse e o

céu sem estrelas, sem luar, atropelando tudo e todos, deixando-me, também,

atropelar...

O tempo aqui é medido pela extensão da dor. Assim senti subitamente que

uma força terrível me arrastava Dara uma furna escura e lodosa com matéria em

decomposição, constatando, depois de inauditos esforços, que aquele era o meu

corpo a confundir-se com a lama...

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 126

Percebi-me, então, estupidificada, numa forma brutal, absolutamente igual

ao modelo que se desfigurava, através da qual sentia e experimentava a invasão dos

vermes que se locupletavam, invadindo-me todas as células, da cabeça aos pés,

enquanto por dentro a labareda do veneno continuava queimando-me as vísceras

interminavelmente.

Eu era como uma fornalha de aço derretido. Assim, mesmo, sentia-me sem

forças para gritar, traduzindo a sensação terrível da asfixia, na cova onde estava,

acompanhando o nefasto banquete da minha ruína.

Como é possível sofrer-se tão variadas dores, não sei dizê-lo!

Quanto durou tudo isto, não recordo.

Mil vezes acordei para dores maiores, sem o direito de um repouso,

porquanto, o sono ligeiro era feito de pesadelos, em que monstros desfigurados se

me apresentavam, afirmando-me ser aquilo a morte que eu queria, embora sentindo-

me viva. E ameaçavam: “Isto é a morte dos réprobos e dos covardes.”

Munidos de tridentes, como se fossem figuras da Mitologia do horror,

cravavam meu corpo, infinitamente dorido, banqueteando-se nos tecidos em

desorganização como se estivessem num lupanar de loucos, enquanto gargalhadas

inesquecíveis estrugiam no ar. Assim era o sono a que eu tinha direito, acordando,

exausta, numa realidade muito pior do que o pesadelo da minha alucinação.

Ó, meu Deus! meu Deus! Se eu pudesse gritar para os que esperam encontrar

no suicídio a porta do repouso sem fim e do esquecimento sem cansaço!... Se me

fora dado bradar para o Mundo, o que é o suicídio e se as pessoas do mundo

quisessem parar para ouvir-me e conhecer a tragédia dos suicidas!... Não sei, não

sei!...

Eu também ouvira falar de Deus e do que significa o hediondo crime do

auto-aniquilamento, no entanto, perpetrara-o, dizendo fazê-lo por amor...

Como se todas essas dores não bastassem, consegui evadir-me da prisão

tumular e volver, agônica, sem saber como, a minha casa, a minha família.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 127

Quanta desolação! Havia muito ressentimento por parte de meus pais contra

mim; meus irmãos se esforçavam por esquecer-me e a vergonha que eu lhes

impusera. Os meus retratos haviam sido arrancados das molduras e destruídos, bem

como tudo o que me dizia respeito ali não mais tinha lugar.

Meus pais proibiram que se pronunciasse meu nome em casa.

Tentei falar-lhes, suplicar-lhes, senão perdão, pelo menos piedade...

Ninguém me ouvia ou sentia...

Subitamente desgarrei-me dali, acionada por força cruel, violenta,

deparando-me noutro lar: Era a residência atual do meu antigo noivo. Por pouco

não o reconheci.

Consorciara-se com a outra, ora infeliz, pois brindara a pobre companheira

com o seu caráter infame, levando-a a sórdidos desesperos, que a têm aniquilado

no vórtice de decepções sem nome.

Esqueceu-me o ingrato. Descobri-o, ébrio, vulgar. E pensar, que, por ele,

destruí a minha vida louça, mergulhando neste labirinto sem saída, neste pântano

sem terra firme, entregue pelas minhas próprias mãos a bandos infernais de

salteadores desencarnados que me venceram as últimas energias!

O rio das lágrimas que me chegavam aos olhos por fim secou, como lava

que sê fizesse pedra. Os últimos vislumbres de esperança se apagaram e a débil

crença em Deus não me pôde dar paz, naquele pandemônio...

Um dia, não sei quando, alguém lembrou-se de mim, chamando-me pelo

nome, com unção e ternura que me alcançaram. Senti como uma breve aragem

rociar-me.

Desde então, de quando em quando, essa doce voz intercede, rogando a

Deus por mim, aliviando-me a agonia sem limite.

Descobri que era a minha santa avozinha falecida, que orava por mim e

oportunamente aqui me trouxe para o mergulho nas forças do médium, que me

renovaram, enquanto, apesar do meu desespero incessante, por primeira vez, me

senti lenida e calma, escutando as palavras de alento e compaixão...

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 128

Foi o início do meu longo e delicado tratamento, que não sei quando

terminará.

O que importa, porém, é que, agora, raciocino e suplico misericórdia ao Pai

Amantíssimo, preparando-me em demorado curso para a recuperação.

Claro que as minhas aflições não cessaram... Sofro-as, porém, em outras

condições de ânimo.

Já não padeço a escravidão subjugadora dos meus adversários, os que,

utilizando-se da minha fraqueza, em processo de bem urdida indução hipnótica, me

levaram ao suicídio, deixando-me entregue a mim mesma, após a consumação do

gesto...

Adiantaria, algo, dizer que o suicida não resolve? Pois bem, almas sofridas

e combalidas, haja o que houver,

por pior que se apresente a vida, em dores e provações, bom ânimo; suicídio,

jamais!

Estou rogando a Jesus no sentido de que alguém consiga ouvir as minhas

palavras, nelas meditar, advertido de que o suicídio é a desgraça do espírito.

É tudo o que eu consigo dizer.

H – Depoimentos Vivos – Cap. 32 – Amarga Experiência

Page 134: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 129

DEPOIMENTO 4 Antônio Carlos Martins Coutinho

Querida mamãe Djanira, peço me abençoe.

Apesar do tempo transcorrido ainda me vejo um tanto abatido.

A vovó Carolina n me trouxe para dizer-lhe que estou melhorando. Não

creias que haja feito o que fiz por vontade própria. Uma força esquisita se impunha

ao meu pensamento e, a falar a verdade, somente aqui, na Vida Espiritual tomei

conhecimento do meu gesto infeliz.

Mãe, perdoe-me se a feri. Não me cabia fugir da tarefa quando o seu coração

mais necessitava de assistência e compreensão.

Peço-lhe dizer ao papai para que me desculpe.

Tantas vezes sinto os pensamentos dele a me buscarem com grande aflição

para saber…

Saber o porquê da ocorrência.

Diga-lhe, mãezinha, que ninguém teve culpa; minha fraqueza se viu

subjugada repentinamente por forças que visavam a nossa separação sem que me

assista o direito de acusar a ninguém e tudo se esfacelou em torno de nós.

Sei que o papai espera alguma palavra, e se posso pronunciá-la, essa palavra

é perdão — perdão para mim que necessito refazer minha própria segurança.

Tenho a esperança de ver o nosso lar novamente feliz. O meu irmão e a

nossa querida Sônia são filhos dedicados e admiráveis e farão por mim a alegria

que não consegui construir em favor dos queridos pais.

Nossa fé não desapareceu, não obstante as sombras que o meu gesto

lamentável espalhou sobre nós, e com fé estou recuperando a edificação de nossa

paz.

Mãezinha querida, perdoe-me se não posso escrever mais.

O tempo está esgotado e faltam-me forças, embora a minha vontade de

reconstrução do próprio caminho esteja forte e cada vez mais viva por dentro de

mim.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 130

Deus sustentará o seu coração querido nesta jornada em que seguimos

sempre unidos, apesar da ideia de separação estar agora a nos obscurecer a visão da

frente.

Jesus, porém, nos guiará e venceremos.

Quando puder, envie minhas palavras de filho a Paranavaí e abrace os

irmãos queridos, com a pérola que já nasceu na família para a nossa felicidade.

Receba, querida mãezinha Djanira, o reconhecimento e o amor incessante

de seu filho, ainda sofredor, mas sempre seu filho do coração,

Antônio Carlos Martins Coutinho – Reencontros – Cap. 6 – Regresso

Inesperado

Livro: Reencontros – Familiares diversos – Capítulo 6 – Regresso

inesperado de Antônio Carlos Martins Coutinho

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 131

DEPOIMENTO 5 Cláudia Pinheiro Galasse

Querida mãezinha Dorothy e querido papai Toninho, abençoem-me.

Estou melhor e mais calma, conquanto ainda seja portadora de algumas das

consequências tristes de meu gesto. Sei que hoje passaram o dia revivendo o

episódio que tanto estimaríamos ser apenas um sonho.

Também eu com a Vovó Rosa, atravessei as horas deste nove de setembro

que já está passando a recordar o desalento que me tomou de assalto.

Tudo se me refez na memória. Um telefonema que me deixou indisposta e

a ideia que eu nunca deveria ter alimentado chegando, aos poucos, a me repletar o

cérebro de resoluções lamentáveis.

Dez minutos para as três horas da tarde, procurei certificar-me de que

poderia agir sem a presença de quem quer que fosse e, como que amedrontada,

diante de mim mesma, consegui a chave que me daria acesso à arma com a qual me

anulei no quarto.

Não sei até hoje que forças desumanas teriam posseado o meu ser…

Recordo-me que chegava a sentir pesada mão sobre a minha para que o

gatilho não falhasse.

Caí, descontrolada, mas ainda escutava os rumores de casa, quando ouvi as

vozes da Mônica…

Compreendo que a nossa dor ficou sendo realmente nossa, porque o meu

gesto passou a ferir os pais queridos e a todos os nossos.

É preciso que lhes diga que, embora me sentisse envolvida por forças que

me perturbavam a alma, grande foi o meu sofrimento, mas as preces da mãezinha

Dorothy e do papai Toninho, as orações da vovó Gu e do avô Amé, com as petições

de socorro que foram enviadas por meus afetos do mundo físico e da vida espiritual,

me enlaçavam à maneira de bálsamos sobre a minha cabeça e depois de muito

esforço da vovó Rosa consegui o sono que parecia me recusar…

Desde então, venho melhorando, depois de imensa dor que eu mesma

desencadeei sobre mim.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 132

Queridos pais, agora preciso tanto da paz de todos. A paz que me faça forte,

a paz que devo levantar de novo sobre o meu coração.

Peço perdão a todos, novamente, e que esta rogativa me traduza a sede de

serenidade para que me sinta renovada perante Deus e perante a vida. Quero paz

em todos, conquanto houvesse destruído essa harmonia por dentro de nosso lar.

Quero paz em favor de meus amigos e de minhas amigas.

E se a estimada irmã Vivi aparecer em nossa casa, rogo para que ela também

nos receba as vibrações de carinho e de paz. Querida mamãe Dorothy, ninguém me

fez mal.

Acontece que uma sombra me tomou os pensamentos e aquilo tomou a

forma de uma nuvem que eu não sabia se eu era a nuvem ou se a nuvem era uma

parte de mim mesma a requisitar moradia em meu coração doente sem razão.

Perdoem-me se foi assim. Não tive forças.

Apareceu-me um estranho desinteresse por mim própria e fiz o que não

deveria fazer.

Um ano passou... Parece-me um século. Os que choram, suportam mais peso

na carga das horas. Apesar de tudo, continuo melhorando e peço-lhes não se aflijam

se acaso estiver dizendo de minha parte, alguma palavra ou lembrança

inconveniente.

Muitas saudades com agradecimentos aos meus irmãos e aos avós queridos.

Sabendo que ambos me perdoam e me retomam na posição de uma criança

ferida que se deixou perturbar por momentos, criando-lhes tanta dor, peço para que

recebam muitos beijos orvalhados de lágrimas e iluminados de esperança da filha

que deseja tanto ter sido melhor e que, um dia, se fará melhor para merecer o carinho

de que sempre me enriqueceram as horas.

Sempre a filha que lhes pertence com todo o coração.

Cláudia Pinheiro Galasse – Amor e saudade – Cap. 6 – Cláudia Pinheiro

Galasse

Livro: Amor e saudade – Familiares diversos – Capítulo 6 – Cláudia

Pinheiro Galasse

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 133

DEPOIMENTO 6 Francisco Adonias Nogueira Filho

Querida mamãe Evangelina e querida vovó Ester, estou aqui, na condição

do filho que volta, a fim de lhes pedir perdão.

Vovó querida, desculpe-me pelo que fiz em Cratéus, quando a sua bondade

estava pronta, a fim de me defender e proteger constantemente.

Não sei porque a ausência de meu pai me conturbou tanto…

Pensava, pensava e não me vinha uma saída ao pensamento. Fiquei sem

coragem, vencido.

A vida me pareceu vazia, sem sentido, quando a mãezinha Evangelina e a

vovó Ester esperavam tanto de mim.

Ignoro que forças indomáveis me fizeram aceitar a ideia de uma corda que

me pendurasse o corpo, a fim de que tudo acabasse para mim.

A verdade é que a vida não me deixou e sofri o indescritível para aprender

a veneração que me cabia dedicar ao corpo que Deus me dera, através de meus pais.

Não sei de onde me veio o impulso temerário. Senti que o meu corpo

balançava no espaço e que eu caía numa tremenda escuridão.

O que se passou, não tenho vocábulos para contar. Quanto tempo me arrastei

naquelas sombras densas, arrependido e infeliz, não sei dizer.

Depois de um tempo que para mim teve a duração de séculos, uma voz me

veio atender aos gritos de socorro…

Chorei mais ainda, ao verificar que alguém acertara comigo naquela

imensidão de escuro em que me debatia. A voz me pediu paciência e oração e me

afirmou que era das vovós Evangelina e Tertinha a me buscarem.

Desde então, fui hospitalizado para tratamento; no entanto, reconheço que a

minha coluna se desajustou. Já comigo vêm pessoas e conversam, mas a figura da

mamãe Evangelina, a sofrer por minha causa, não me sai da cabeça.

Mãe, perdoe-me. E não desanime com os meus irmãos. O José melhorará, o

Marco Antônio ficará bom. E a Lívia será o nosso apoio.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 134

Perdoe a fraqueza de seu filho, que, num momento infeliz, cedeu à sugestão

do mal. Somente posso interpretar assim o que me aconteceu, porque a intenção de

suicídio não me cozinhava os miolos.

Tive medo da vida, sem a presença de meu pai, mas o medo era o que eu

sentia e não aquela temeridade que acabou por me perder.

Espero melhorar e auxiliar a mamãe Evangelina e apoiar os meus irmãos.

Deus nunca está pobre de misericórdia e eu espero um novo dia, no qual a

minha consciência de rapaz amanheça pacificada.

Querida vovó Ester, o tio José Cardoso alcançará as melhoras precisas.

Confiemos em Deus. Agora aguardemos um tempo novo.

Ainda chegarei a Fortaleza preparado para ajudar a mamãe, reparando as

minhas faltas. Estou, agora, no fim de minha oportunidade para lhes deixar esta

carta e ser reconduzido à instituição a que me recolheram.

Querida vó Ester e querida mamãe Evangelina, perdoem ao filho ingrato que

um dia se restabelecerá para viver novamente, respeitando as Leis de Deus e

amando-as cada vez mais.

Francisco Adonias Nogueira Filho – Entes queridos – Cap. 5 – Francisco

Adonias Nogueira Filho

15 de janeiro de 1982.

Livro: Entes queridos – Familiares diversos – Capítulo 5 – Francisco

Adonias Nogueira Filho

Fortaleza (CE) — 21 de abril de 1960.

Crateús (CE) — 15 de agosto de 1978.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 135

DEPOIMENTO 7 José Teodoro Caldeira

Uberaba, 8 de agosto de 1969.

Minha querida mãe, lance sobre mim a sua bênção e ajude seu filho sofredor.

Estou aqui. De que modo não sei. Trazido como um doente que

enlouquecesse e foi recolhido à cela de tratamento obrigatório, mas trazido pelo seu

carinho e pelo de minha outra mãe, a querida tia Tereza, por minutos a fim de rogar

perdão e paciência.

Desde o dia 16 de março entrei num martírio sem saber que tempo estou.

Escuto apenas a explosão, como se eu mesmo destruísse o mundo — o

mundo que Deus me deu no corpo que eu tinha.

Terrível o suicídio, dura lição, horrível prova, mas não estou aqui para fazê-

las chorar e, sim, para dizer-lhes que vivam.

Não queiram morrer, não queiram uma despedida forçada, ninguém morre.

Pensei erradamente. Loucura de rapaz inconformado, sem disposição para

trabalho e sacrifício.

Não julguem que alguém me tenha ferido. Foi só o medo de viver que me

acovardou.

Carregava conflitos do sentimento que supus tão grandes quando eram

somente pequeninas alfinetadas que me ajudariam a progredir.

Rebelei-me mãezinha, até contra … Deus, rebelando-me contra a vida e

pago muito caro a decisão de criança irrefletida.

Muitos disseram que havia-me rendido à tentação, porque a senhora, com

tanta razão, se casou de novo. Isso não é verdade. A senhora fez o que devia.

Procurou em nosso Moacir um companheiro e um protetor para a travessia

do mundo. E encontrei nele o pai que cedo me faltou.

Não, mãezinha. Até mesmo o pai Ademar ajudou a senhora a tomar nova

companhia. E graças a Deus, vejo-a feliz.

O que sucedeu é que seu filho enlouqueceu, de repente.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 136

Quando a aconselhei com carinho a tomar nova fé, pressentia que essa fé

me transformaria, afastando-me à vocação do suicídio, e fugia — fugia de tudo o

que me pudesse salvar.

A responsabilidade, mãezinha, me pertence por inteiro, mas se a senhora e

a tia Tereza ficarem conformadas, terei forças novas.

Meu pai Ademar e vovó Iracema são aqui meus novos pais. Ampararam-me

e estão comigo no sanatório de onde vim por momentos para trazer-lhes a certeza

de que vocês duas precisam e devem viver.

Temos tanta gente sofrendo mais, muito mais do que nós. Por que não vi

antes? Simplesmente porque a rebeldia me tomara de assalto.

Ah! Mãezinha, fique tranquila e esqueça. Abrace vida nova e trabalhe. Faça

seus estudos do Espiritismo e ampare os filhos das outras mães! Quantos deles se

encontram entre a penúria e o desequilíbrio!

A senhora e tia Tereza queriam que eu estudasse mais, que não

permanecesse tão só no laboratório, entretanto, contrariei-as para meu sofrimento

próprio.

De agora em diante, porém, serei outro. E logo que o barulho me deixar a

cabeça e asserenar o coração, serei de novo, seu filho.

Caminharei ao seu lado, lembrando as preces que a sua ternura e o carinho

de minha querida tia me puseram nos lábios, ensinando-me a esperar por Deus de

mãos postas.

Serei um novo homem. Cuidarei do futuro e saberei sofrer, sem revolta, em

meu próprio proveito.

Perdoem-me se lhes trago lágrimas novas. Elas são diferentes, choro

também aqui, mas de espírito aliviado, aguardando a bênção com que me

consolarei.

Trabalhem. Façam por mim o que ainda não posso fazer.

Ensinem que o suicídio é um despenhadeiro nas trevas e digam a quantos

sofram no mundo que a dor é bendita e que a vida se aperfeiçoa por ela em nome

de Deus.

Page 142: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 137

Os amigos que me trouxeram não me permitem escrever mais. Orem por

mim, mas confiem no filho que o sofrimento está renovando.

E se posso trazer algo a vocês — minhas duas mães do coração — se posso

oferecer-lhes alguma cousa, ofereço a promessa de ser melhor amanhã.

Recebam todo o carinho e arrependimento, com muito amor e confiança do

filho reconhecido.

José Teodoro Caldeira – Presença de Chico Xavier – Cap. 14 – Carta de um

suicida à sua mãe.

Publicada em “O Triângulo Espírita” Uberaba, Ano 3, nº 27, 15 de Março

de 1970, sob o título “Jovem suicida dá interessante comunicação”.

Livro Presença de Chico Xavier – Depoimentos diversos e Mensagens

familiares – Capítulo 14 – Carta de um suicida à sua mãe

Page 143: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 138

DEPOIMENTO 8 Júlio César C. da Silveira

Assim, ao pôr termo à vida física, com um projétil de revólver, em 24 de

junho de 1986, poucos dias depois de completar 17 anos, surpreendeu

profundamente toda a família e seus amigos.

Quase dois anos após esse doloroso acontecimento, Júlio César voltou a

dialogar, em esclarecedora e amorosa mensagem psicográfica, com sua progenitora,

que comparecia, na noite de 27 fevereiro de 1988.

Querida mamãe Arina. Peço-lhe me abençoe.

Ainda me vejo no centro dos resultados infelizes do gesto com que me retirei

da vida física, sem esperar pelos Desígnios de Deus.

Depois daquele fim de junho em que a imaturidade me tomou o espírito,

armando-me com o projétil que usei contra mim próprio, não sei dizer a extensão

de minhas ansiedades.

Estava, de minha parte, na condição do rapaz-menino, derrotado pelo

sofrimento; e associando-me à sua dor de mãe que indagava o porquê do meu gesto

desesperado, os meus conflitos eram visões arrasadoras.

Ah! Mamãe Arina, perdoe-me.

Ninguém precisa reprovar a criatura que se mergulha nas sombras do

suicídio, porque essa criatura já possui, por si mesma, um monte de amarguras para

se sentir nos caminhos dolorosos da corrigenda, com o remorso a lhe pesar na

consciência.

O que sofri, logo após o meu desenlace, é alguma coisa que me escapa ao

propósito de interpretação.

Tomei conhecimento de mim próprio, depois de longos pesadelos em que

me mantinha no comportamento dos loucos.

Page 144: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 139

Um dia, não sei depois de quantos dias, senti que a minha consciência

despertava, talvez mais viva.

Pude, no entanto, ouvir aquela alma santa que se me deu a conhecer por

Tereza, a minha bisavó, hoje minha benfeitora e enfermeira a fazer-me reconhecer

que Deus existe nos corações afeiçoados na abnegação e no sofrimento.

Venho até aqui em companhia dela, pedir o seu perdão para minha falta

grave.

Sei que entidades infelizes tiveram muita participação em meu problema

triste, mas não desejo inculpar senão a mim mesmo, porque a vida é uma bênção de

Deus, e nos cabe a obrigação de esperar por Deus para deslocá-la de uma situação

para outra.

Peço-lhe perdão, sem me esquecer de fazer idêntica rogativa ao meu pai

amigo Alvim e aos meus irmãos Andrée Rodrigo. Se pudesse desejaria pedir a todos

os amigos, e até mesmo aos objetos de nossa casa, me desculparem o erro cometido.

Rogo ao seu carinho de mãe, conversar com a nossa Ângela, dizendo-lhe

que não a esqueço e lastimo a compulsão de que fui vítima, num momento em que

eu tanto precisava continuar vivendo em minha existência de menino.

Querida mamãe, agradeço o seu auxílio, amparando-me indiretamente ao

fixar-se no trabalho de assistência da Seara de Jesus que, em Criciúma, é a presença

de Cristo, tomando-nos pelas mãos a fim de guiar-nos na direção dos asilos da paz.

Sei que errei e compreendo que sou punido por mim próprio, mas não estou

sem esperança. Deus retira novos rebentos das árvores decepadas e faz nascer, no

pântano, os lírios que enfeitam a lama com a brancura dos lírios de neve.

Mãe querida, não me pergunte a razão do ato tresloucado a que me

entreguei. Ainda não tenho os pensamentos equilibrados a fim de estudar o meu

próprio flagelo íntimo. E creia que a Ângela não terá sido a causa do meu

desequilíbrio.

Por muitos dias, senti-me dominado por uma vontade muito superior à

minha, e tudo planejei precipitadamente para não adiar e nem falhar naquele gesto

infeliz.

Page 145: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 140

Mãe Arina, perdoe-me se não procurei ver os seus exemplos de paciência e

coragem diante da vida. Graças a Deus, sinto-a sob o amparo de nosso Alvim, a

quem amo qual se fosse meu próprio pai, e peço a Deus para que os meus irmãos

André e Rodrigo não me sigam na estrada espinhosa na qual eu me debato.

Embora as minhas tribulações, lembro-me de que o aniversário do Rodrigo

está próximo, e rogo à sua bondade abraçar por mim o querido irmão.

Venho melhorando em meus conhecimentos nas suas horas de dedicação

aos necessitados na Seara. Que eu possa ampliar as minhas experiências e aprender

a servir como devo.

Estou ainda nas forças de minha bisavó Tereza e não sei onde estarão as

minhas, porque, desde a minha conscientização, estou um bagaço de fraqueza e

sofrimento.

Peço ao seu carinho continuar amparando-me em suas orações, porque as

orações das mães crucificadas pelos filhos no madeiro da provação, através da

imensidão do Espaço, chegam a Deus para que a misericórdia do Pai, de Infinita

Bondade; recolha em seu manto de luz os filhos ingratos que não souberam ou não

quiseram viver.

Mãe querida, estas são as minhas palavras. Se puder servir como súplica de

um filho transviado, receba o cálice de fel que lhe trago, com a esperança de que

Deus me restaurará o coração para aceitar a obediência e o arrependimento na

condição de agentes de minha própria renovação.

Quisera escrever muito ainda, mas, apenas diria mais amplamente a dor que

ainda me faz tão desvalido de qualquer recurso que signifique encorajamento ou

consolação.

Mãe Arina, meu abraço ao meu segundo pai e a meus irmãos. E colocando-

me de joelhos para rogar-lhe perdão por minha falta, espero, um dia, ser novamente

digno de seu carinho e dedicação.

Isto é tudo o que posso dizer, entregando-lhe o coração de seu filho que a

dor vem burilando para que eu seja realmente o seu filho da alma, sempre o seu

Júlio César

Page 146: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 141

Júlio César C. da Silveira, porque este é o nome verdadeiro que me vai no

coração.

Escrevo assim, mas nada tenho contra o pai Moretti que é também filho de

Deus, como nos acontece.

Júlio César C. da Silveira – Gratidão e Paz – Cap. 13 – Júlio César C. da

Silveira

Livro Gratidão e paz – Familiares diversos – Capítulo 13 – Júlio César C.

da Silveira

Page 147: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 142

DEPOIMENTO 9 Lincoln Prata Lóes

Mamãe Sylvia, meu pai, estou aqui, pedindo lhes para que me abençoem,

perdoando o desgosto que lhes dei.

Sou amparado pelo tio Antônio Bernardino e por minha avó Nelly para

dizer-lhes que estou melhorando, mas ainda me sinto vago, entontecido…

Não julguem que tivesse usado minhas mãos no suicídio. Havia tido

contratempos de namoro, mas isso não era bastante para que me arrojasse a esse

gesto infeliz.

Sentira, na antevéspera do dia 4, uma grande dor de cabeça e quis afogar em

alívio o meu pensamento com alguns comprimidos, que não mais me lembro quanto

ao nome.

Minhas ideias estavam embaralhadas… Parecia estar numa nuvem que me

transportava para lugar nenhum…

Não sei como foram alteradas as minhas ideias… No quarto, li cadernos ou

tentei ler alguma coisa de que não sabia o sentido…

As horas estavam diferentes para mim… Um impulso, que não compreendo

até hoje, me levou a encontrar a arma, com a qual fiquei refletindo na vida e na

morte…

Seria aquele objeto um portador da morte em si? Perguntava a mim

mesmo…

Sem avaliar o perigo em que me achava, recordei os casos das roletas russas

assim chamadas…

Haveria uma bala determinada para cada pessoa em casos desses?

Desconheço porque levei a arma a altura da cabeça, sem qualquer ideia de

fugir da vida…

Os pensamentos faziam um turbilhão no meu cérebro…Sentia-me tonto,

descontrolado…

Page 148: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 143

Não tenho a ideia de haver puxado o gatilho, mas a verdade é que caí

desamparado, acometido me absorvi de todo, e quando acordei, foi aquele mesmo

choro que, soube, de pronto, num espanto de que não conseguia sair…

Um sono mais esquisito de que fora estar em nossa casa… Vi meu avô

Sinhozinho, meu tio Humberto, perto de mim.

O assombro foi tão grande, que não tive outro recurso senão estirar-me no

leito a que me haviam conduzido e no qual havia despertado.

Minha avó Nelly não crê que eu possa escrever muito, mas desejo pedir-lhes

perdão pela minha falta que não nasceu de minha própria vontade, e pedir para

pensarmos que precisamos cuidar com muito amor do Álvaro e de Nelly, pois não

desejo ver meus pais queridos desanimados.

Estou ainda sem força... Caindo facilmente.

Escrevo com as mãos do tio Antônio Bernardino firmando o meu pulso. Um

dia em que eu puder, voltarei às notícias. Perdoem-me, peço-lhes. Vou melhorar e

ser mais cauteloso para conseguir auxiliá-los.

Rogo a Deus nos proteja a todos, e peço para que me lembrem nas orações

para que me sinta abençoado, e mais corajoso, para sustentar as dificuldades que

devo por fim vencer em mim mesmo.

Um abraço de respeitoso amor e de muita gratidão do filho doente, mas

sempre agradecido,

Lincoln Prata Lóes – Claramente vivos – Cap. 3 – Não julguem que tivesse

usado minhas mãos no suicídio

Mensagem a que demos o título de “Não julguem que tivesse usado minhas

mãos no suicídio”, foi recebida pelo médium Xavier, ao final da reunião do Grupo

Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 22 de setembro de 1978.

Lincoln nasceu em Uberaba, Minas Gerais, a 14 de outubro de 1961, e

desencarnou em São Paulo, Capital, antes de se submeter a uma segunda

intervenção cirúrgica, a 4 de agosto de 1978

Livro Claramente vivos – Familiares diversos – Capítulo 3 – Não julguem

que tivesse usado minhas mãos no suicídio

Page 149: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 144

DEPOIMENTO 10 Marcos Emanuel Teixeira Santos

Desde a desencarnação inesperada de Marcos Emanuel Teixeira Santos,

jovem de 23 anos, em final de curso de Engenharia Química, ocorrida em 12 de

setembro de 1982.

A dúvida, que se arrastava há quase quatro anos, só foi desfeita

recentemente, aos 7 de fevereiro de 1986, quando o médium Chico Xavier

psicografou esclarecedora carta do jovem, em reunião pública do Grupo Espírita da

Prece.

Querida mãezinha Edite e meu querido pai José Nunes, abençoem-me

perdoando o trabalho que lhes dei.

Não devo pormenorizar a minha situação, diz a vovó Severina, que está em

minha companhia, para não reavivar a ferida mental que está cicatrizada, mas

cicatrizada levemente.

A solidão daquela noite triste talvez tenha colaborado para que eu caísse na

cilada armada por mim mesmo.

Quando recebi o recado que me enviaram do Recife para lhes enviar a

encomenda que haviam esquecido no quarto, decidi-me verificar o material que me

competia despachar e encontrei o revólver que jazia entre os pertences que

passariam à minha responsabilidade.

Tomei a arma com o intuito de estudá-la porque já ouvira diversos colegas

falar em roleta russa em Campina Grande.

Com o revólver na mão direita, fitei o retrato da noiva, com quem havia

desmanchado os meus compromissos numa hora de conflito entre nós e o quarto

me pareceu tão grande que me parecia o mundo grande a que supus não mais

pertencer.

Page 150: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 145

Naquele silêncio de Arcoverde, para evitar o desejo de morrer, que estava

começando dentro de mim, pensei em tomar qualquer condução para Caruaru ou

para Campina Grande, na ideia de fugir de mim mesmo.

O revólver, porém, me fascinava. Não queria praticar o suicídio,

sinceramente digo isso, mas perguntava a mim próprio como seria o suicídio se

viesse a praticá-lo.

Deitado, encostei o cano da arma em meu ouvido, mas notei que a peça me

dobrara a orelha e procurei fazer o movimento preciso para recolocar a minha orelha

em posição natural; entretanto, nisso aconteceu o inesperado. Ao voltar-se o

pavilhão de meu ouvido para a condição natural, o gatilho sensível funcionou de

repente e o projétil me atravessou a cabeça.

Num gesto quase desesperado para pedir socorro a quem me pudesse

escutar, não mais encontrei a palavra ao meu dispor e, na tentativa de soerguer-me,

o revólver caiu de leve de minha mão para acolher-se entre as minhas pernas.

Esta é a realidade do que me sucedeu. Lamento a minha intenção indébita

de conhecer a arma encostada em minha cabeça, mas não estou racionalizando e

sim expondo a verdade aos queridos pais.

A polícia poderá reconstituir o que me aconteceu e verificará que a arma

descera de leve da mão para o corpo que não mais conseguiu se levantar.

Encontrei em minha avó Severina uma benfeitora maternal e peço me

perdoarem a leviandade de rapaz sob o desapontamento de uma ligação desfeita.

Envio abraços aos meus irmãos e agradeço à mãezinha Edite quanto vem

fazendo para auxiliar-me em espírito.

Estou na posição de um convalescente que se encontra na Vida Espiritual,

fichado na posição de vítima da imprudência.

Daqui para diante, dar-me-á Jesus o amparo que eu preciso na correção do

que fiz por merecer.

Page 151: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 146

Envio muitas lembranças para Leninha e peço aos queridos pais José Nunes

e Edite perdoarem o filho que lhes promete trabalhar para lhes receber a bênção,

com mais esperança, no entanto, com o amor sempre maior de meu coração.

Sempre o filho reconhecido,

Marcos Emanuel Teixeira Santos – Vozes da Outra Margem – Familiares

diversos – Capítulo 10 – Vítima da imprudência

Livro Vozes da Outra Margem – Familiares diversos – Capítulo 10 – Vítima

da imprudência – Marcos Emanuel Teixeira Santos

Page 152: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 147

DEPOIMENTO 11 Milton Higino de Oliveira

A mensagem de 1000ton, recebida em sessão íntima, na noite de 1º de

agosto de 1978, que enuncia detalhes, passagens e nomes absolutamente

desconhecidos do médium, ostentando, por isso mesmo, o seu cunho de

autenticidade, é, do ponto de vista doutrinário, muito importante, porque vem

confirmar os itens 14 a 17 do Cap. V de O Evangelho segundo o Espiritismo.

Milton Higino de Oliveira, que sempre assinava 1000ton em seus bilhetes,

inclusive no que deixou como despedida para os pais, nasceu e desencarnou em

Uberaba, respectivamente, a 21 de fevereiro de 1947 e 30 de julho de1972. Seis

meses antes da ocorrência, trabalhava numa casa de peças para tratores

Nunca demonstrou, ostensivamente, qualquer tendência para o suicídio.

Ora, o que podemos concluir de tudo isso?

Que a Milton faltou a resistência espiritual conforme ele próprio

reconheceu, valida a opinião materna a seu respeito, nos últimos momentos do

corpo físico.

Que todos os pais de família, portanto, procurem combater a propagação das

ideias materialistas — “o veneno que inocula num grande número de pessoas o

pensamento de suicídio” —, com a divulgação da verdade espírita, através de

mensagens volantes, do livro e do próprio exemplo.

Elias Barbosa – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta

Mãe querida, meu Pai, peço para que me abençoem.

Tudo está claro diante da memória. Havia regressado do Clube, sem haver

cometido qualquer extravagância. Estava sóbrio, pensando, pensando…

A noite de alegria não me alcançara o espírito e retirei-me de volta à casa.

Queria descanso, paz.

Page 153: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 148

O cérebro era um turbilhão de sombras, como se essas sombras estivessem

esbraseadas por chamas de ideias contraditórias que me turvavam o discernimento.

Muitas vezes, nos dias que antecederam o meu gesto impensado, imaginara

que a vida não era um campo adequado para mim.

As lições dos tempos de menino me freavam os impulsos. O anseio do fim

para os meus conflitos de rapaz chegara, naquela noite, ao ponto mais alto. Queria

companheiros e sentia sede de solidão ao mesmo tempo.

Voltei, com a certeza de que mantinha o controle de meus próprios

pensamentos, ignorando que forças diferentes se impunham ao meu cérebro. Não

quero dizer que me via sem responsabilidade, à maneira de um barco sem remo e

sem direção.

Minha parte de recursos mentais em qualquer decisão era uma faixa muito

grande que poderia movimentar, em meu próprio auxílio. Mas exagerava os meus

obstáculos de rapaz inexperiente e isso punha em risco o governo da minha própria

vontade.

Entrando em casa, lembro-me perfeitamente que a televisão apresentava

outra festa. Era um concurso de misses, que interessava à nossa querida Ipe. Eu que

saíra de um ambiente de alegria calma, encontrava outro de carinho tranquilo, em

que o tom festivo comandava as manifestações.

Pensei na senhora, mamãe, refleti no papai, meditei na vida e somei todas

as minhas inquietações, conseguindo certa média errada.

Não coloquei as bênçãos que eu possuía na conta em que me isolava por

dentro de mim mesmo; agi, como quem, num abençoado carinho, não visse o céu,

nem sentisse o ar puro, não admirasse a Natureza e nem guardasse qualquer ideia

dos tesouros de afeto que Deus me concedia no lar, detendo-me, unicamente, a

enfileirar poeira e lama, pedras e espinhos da estrada para retirar uma equação

positivamente falsa das parcelas infelizes que ajuntava e, desmemoriado, a deixar

me influir por inteligências estranhas à minha faculdade de julgar e de observar, por

mim próprio, esqueci momentaneamente quanto devia aos familiares e amigos

queridos, e penetrei o quarto, decidido a perpetrar o meu engano derradeiro…

Page 154: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 149

Superexcitado, recordo que em luta com as forças que me oprimiam, ainda

me restava um recanto de compreensão na cabeça e escrevi qualquer cousa, para

retirar dos meus qualquer noção de culpa, e de mão suplementada por mãos

invisíveis, disparei o gatilho.

Tudo, num instante, baqueou diante de mim, sem entender que eu mesmo é

quem baqueava…

Quis gritar por seu carinho, querida mãe, no entanto, o sangue me invadia

todos os agentes de comunicação, à maneira das águas repentinamente desatadas

numa represa longamente fortalecida.

Alguns minutos, estive eu mesmo, a sós comigo, vendo e ouvindo o que se

passava. Não sei bem se foi a Ipe que se aproximou primeiramente de mim, mas

ouvi as suas palavras, mamãe, quando as suas mãos estenderam para as minhas.

Nunca me senti tão fraco e tão longe dos seus exemplos de fortaleza e

entendimento da vida, como naqueles minutos inesquecíveis, em que me

reconhecia, realmente, iludido e covarde.

Perdoe, mamãe, se me lembro dessa palavra “covarde”. Realmente, me

reconhecia covarde, sem desculpa, sem justificação.

Uma ânsia temível de voltar no tempo se apoderou de mim... Queria

novamente falar com a senhora e com meu pai, desabafar o coração, despreocupar-

me da arma e conversar sobre o que me levava às perturbações de que me via

possuído, entretanto, era muito tarde…

Notei que braços fortes me transportavam para fora. Ouvi vozes que me

pareceram do meu tio Arnaldo, do Nelson, do Carlinhos…

A dor se aliava com a aflição, em meu cérebro, e não consegui ver mais nada

desde que me observei colocado quase inerte num carro…

Os movimentos do auto com que me sacudiam, e perdi a noção de mim

mesmo... Despertar foi um sofrimento muito mais agudo… O sangue não

esgotara…

Page 155: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 150

Só muito depois, vim a saber que os filetes de sangue que me desciam da

ferida feita por mim mesmo, tinham a vida de meu próprio arrependimento,

estampado na memória.

Muito a custo, percebi, entre os que me tratavam, na casa de socorro, em

que me supunha vivo em meu corpo físico, tanto quanto antes da triste ocorrência,

a presença de vovó Hipólita e do meu avô Manoel, que me cercaram de atenções.

Envergonhado, não conseguia fitar-lhes a face protetora, porque eu não

sabia se chorava ou se devia dar vazão aos gritos de minha angústia, porque as dores

da cabeça eram tão vivas como se eu estivesse em nossa casa mesmo.

Recebi o amparo de muitos amigos, mas, sem que eu saiba, a extensão do

tempo em que perdurou a minha perturbação, passei ao domínio de mim próprio,

quando um médico de minha nova vida veio ao meu encontro, evidentemente

atendendo às rogativas de minha avó Hipólita, que é hoje para mim outra mãe.

Ela me disseque esse benfeitor é o Dr. José Ferreira que, por sua vez, me

perguntou se eu era filho de João Ponciano... Esforcei-me para coordenar os

pensamentos, e recordei Oliveira do papai.

Tudo ficou esclarecido e comecei a melhorar, mas não posso ainda me fixar

em excesso nas lembranças que estou relacionando, porque uma sensação de queda

me vem de imediato à vida mental e confesso que, há mais de um ano, estou me

preparando a fim de escrever esta carta.

Mamãe querida, querido papai, perdoem-me. Recebi tanto e peço mais.

Rogo para que me esqueçam a falta cometida, e cometida sem razões justas,

porque bastaria que eu tivesse suficiente coragem para me afastar de certos

relacionamentos e de certos anseios de rapaz mentalmente despreparado para

aguentar determinadas lutas íntimas, e teria vencido em mim mesmo as influências

nocivas que me atacavam…

Aqui nestas linhas, escrevo com minhas próprias lágrimas em forma de

letras…

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 151

Desculpem o filho fraco e sem memória que fui, e lembrem-se de que os

amo, de que nunca me esqueci das bênçãos que recolhi de casa e do imenso carinho

com que me enriqueceram a vida.

Mãe, não pense que as suas recomendações houvessem sido demasiado

severas para mim. Suas opiniões foram sempre a lógica iluminada do coração

materno, quando enraizado na fé em Deus.

Todos os seus conselhos visavam à nossa paz. A senhora e meu pai a tudo

renunciaram na vida para que nós, os filhos, fôssemos felizes.

Ah! ninguém por aí consegue imaginar como dói o remorso de não

havermos valorizado a dedicação dos que nos amam, quando já não dispomos de

meios para retificar os nossos próprios gestos. Nossa casa nunca foi tão rica e tão

feliz para mim como agora, em que a deixei.

Mas a Bondade de Deus me permite dizer isto aqui, de modo a confirmar-

lhes que melhorei para ser quem devo ser. Perdoem se me confundi em tantos

espinheiros de incompreensão, dos quais devia ter afastado os meus pés.

Compromissos que não podia assumir para comigo mesmo se enrolaram de

tal maneira por dentro de mim que, embora eu tivesse todos os recursos à minha

disposição para o retorno à tranquilidade, não consegui evitar a queda, em que me

projetei num círculo de conflitos maiores, muito maiores do que aqueles que eu

imaginava na Terra não conseguir suportar.

Pouco a pouco, vou melhorando. Agradeço todo o amor com que me

recordam.

Aquelas preces e aquelas flores no ponto em que ficaram minhas derradeiras

lembranças são semelhantes a estações de um telégrafo pelo qual me enviam as

mensagens e orações que me endereçam.

Page 157: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 152

Escorado no carinho dos pais queridos é que vou encontrando novas razões

para reaprender ensinamentos de que, por minha infelicidade, cheguei a esquecer.

Sempre compareço com outros amigos às horas de comunhão simples em

que nós achamos, uns à frente dos outros.

Quando visitarem o lugar de recordações a que me refiro, coloquem, por

favor, a luz de uma prece pelos irmãos Ernesto e Antônio Augusto, que deixaram

as suas próprias lembranças ao lado das minhas.

A vida na morte não é a morte na vida e sim mais vida, a desafiar-nos para

viver intensamente.

Mãe, peço ao seu carinho zelar por nosso querido Nelson, como se ele fosse

o meu substituto real em tudo, nos assuntos da vida e da família. Hoje, aprendo de

novo a tomar contato e rogo a Deus para que ele e Ipe estejam livres das influências

que pesaram tanto sobre mim.

À nossa querida Madalena, que até hoje me recorda nas orações, o

agradecimento de quem é agora para ela um irmão reconhecido.

Estimaria recordar todos os amigos e todas as amigas com as minhas notas

de alegria, como de outras vezes, mas ainda não consigo disposição para falar em

bom humor, quando tanto trabalho espiritual por dentro de mim está me compelindo

a uma longa revisão de meus próprios assuntos.

Se alguma de minhas amizades se referir a qualquer nota de receio quanto à

minha volta, em espírito, de vez que com muita gente brinquei afirmando que

retornaria da morte para dar-lhes sinais, peço seja dito para que não se preocupem.

Aqui, nos ensinaram os nossos verdadeiros amigos que não se deve sacudir

ninguém à força para a Verdade, porque os sinais da verdade alcançarão a todos,

algum dia.

Ainda assim, quando puderem ver o nosso estimado Gão, rogo digam a ele

que tomei o ônibus errado e que ele me represente, junto das nossas afeições,

afirmando que estou formulando votos pela felicidade de todos.

Page 158: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 153

Pai, o vovô Manoel está presente com um amigo que nos dedica especial

atenção. Atende esse benfeitor pelo nome de Donato Cicci, e creio que o senhor

poderá recordá-lo.

Deixo aqui para a tia Carmen, para o tio Antônio, para a vovó Dolores, vovô

Higino e vovó Otávia, e para com todos os nossos familiares, um grande abraço que

procuro centralizar na pessoa de nosso Eurípedes, que hoje estou compreendendo

melhor. Agradeço aos amigos que viera morar conosco.

Mamãe sabe que eu estava aguardando a minha própria maturação para

aproximar-me dessa bendita Doutrina que aí mesmo no mundo, nos ensina a tratar

com a vida e com a morte, em termos de segurança.

Muito carinho ao Nelson e Maria Eurípedes, de que sou grato às preces e

bons pensamentos de todos os amigos em meu favor.

E agora, querida mãe, chegou o instante do “até depois”.

Receba com papai todo o amor do filho que lhes roga perdão, com a certeza

de que já me desculparam e sempre me protegerão na caminhada para a frente.

Recebam meus queridos velhos sempre mais moços pelo coração, toda a

vida repleta de carinho e esperança do filho que os ama cada vez mais,

1000ton

Milton Higino de Oliveira – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta

Page 159: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 154

DEPOIMENTO 12 Renata Zaccaro de Queiroz

Querida mãezinha, abençoe-me.

Imagino o papai Antônio Carlos ao nosso lado para rogar também a ele para

que me queira bem e me perdoe.

Mãezinha, a sua dor se confunde com a minha. Ainda não sei que força me

tomou naquela quarta-feira.

Tive a ideia de que uma ventania me abraçava e me atirava fora pela janela.

Certamente devia mobilizar minha vontade e impedir que o absurdo daquele

momento me enlouquecesse.

Obedecia maquinalmente àquela voz que me ordenava projetar-me no

vácuo. Quis recuar, mudar o sentido da situação, não consegui.

Nunca imaginaria que tanto sofrimento se seguiria ao meu gesto.

Não desejo fugir às responsabilidades e inventar desculpas que não teriam

razão de ser. O que sei é que agi na condição de uma rã que uma serpente atraísse…

Mãezinha, que páginas de angústia e que culpa teria eu escrito em outros

lugares para ser assim arremessada no ar com o meu próprio consentimento

vencido?

Não senti qualquer dor quando meu corpo registrou o impacto do encontro

com o piso do prédio.

Senti que alguém me recolhia com as mãos repletas de amor. Não me achava

em condições de ver ou de ouvir.

Tudo em mim era um redemoinho qual se tivesse arrancada de casa, assim

como a tempestade desloca para longe uma árvore forte com suas próprias raízes.

Um esmorecimento como se eu estivesse quebrada, sem dor localizável, me

possuiu de todo e nada mais vi senão aquele branco da memória, quando cai no

sono sem sonhos.

Page 160: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 155

Somente depois, vim a saber que a vovó Rosa me apanhara carinhosamente,

sem permitir que o sofrimento me atingisse.

Mãezinha, peço-lhe que me perdoe. Sei que arrastarei as consequências da

minha passividade diante da força que me dominou, mas espero que a bondade de

Deus me conceda forças para refazer-me de todo, tanto quanto desejo…

Agora, o que sinto é a necessidade de colocar em suas mãos em forma de

lágrimas o arrependimento que me assombra.

Receba-me em seu coração, como nos tempos de criança rebelde. Auxilie-

me com as suas preces e com os seus pensamentos de amor e perdão.

Estou melhorando, se bem que me veja na posição de alguém com

necessidade de muito socorro ortopédico, mas os nossos onde estou são todos

tolerantes e generosos para comigo.

Meu avô Antônio me recomendou não procurar qualquer investigação de

retaguarda, afirmando-me que ele também sofreu muito com processos ocultos de

hipnose destrutiva. Compreendo e obedeço.

Mas não estou impedida de rogar o seu amparo em meu benefício e de rogar

ao papai e aos queridos irmãos Antônio e Ricardo esquecerem o que fiz ou o que

fizeram comigo, para que os quadros de setembro desapareçam.

Mãezinha, desculpe-me de me demorar a escrever tudo o que sinto. A vovó

Rosa me trouxe para dizer-lhe que tive culpa e não a tive totalmente.

Uma vertigem, um pensamento desorientado, uma compulsão louca e perdi

tantas riquezas do coração e do lar.

Mamãe, Deus nos auxiliará na recuperação de que preciso.

Rogo ao papai esqueça o meu gesto infeliz para ficar tranquilo.

Tenho em mim que ele ainda não se harmonizou com a vida, depois da triste

ocorrência de que me fiz o centro de dor.

Apesar de tudo, não quero perder a esperança e confiarei no socorro do amor

Divino.

Page 161: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 156

Mãezinha, a todos de nosso ambiente os meus pensamentos de gratidão, e

para você o coração e a dor, a esperança e o reconhecimento de sua

Renata Zaccaro de Queiroz – Vitória – Cap. 17 – Auxilie-me com as suas preces

e com os seus pensamentos de amor e perdão

Livro Vitória – Familiares diversos – Capítulo 17 – Auxilie-me com as suas

preces e com os seus pensamentos de amor e perdão / Anuário Espirita 1987.

Recebida pelo médium Xavier, na noite de 18 de abril de 1980

Nasceu em São Paulo, Capital, a 16 de julho de1961, filha de Antônio Carlos

Bruschini e de D. Marusa Zaccaro de Queiroz, e aí desencarnou, em consequência

de suicídio, jogando-se de grande altura, através de uma janela, a 5 de setembro de

1979.

Page 162: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 157

DEPOIMENTO 13 Selma Rodrigues Sanches

Mãezinha Júlia, abençoe-me.

Eu não saberia descrever as minhas impressões de horror, depois de haver

feito levianamente a tentativa de tiro com a arma que me desapropriou a existência

terrestre.

Estou aqui, acompanhada pela tia Amália Sanches que vem assumindo

diante de mim o papel de generosa mãe, suportando sem qualquer censura a

inconsequência do meu gesto.

Acontece que naquele dia infeliz comecei a pensar no casamento da Telma

e deixei que a melancolia se me apossasse do íntimo.

Senti o gosto amargo da solidão antecipadamente e perdi grandes

oportunidades de aprendizado, aqui com a agravante de adquirir o remorso que me

encegueceu para a trilha da aurora.

De que modo me descartarei dos sofrimentos que eu própria,

impensadamente, instalei por dentro de minh’alma, ainda, creio, não sei como fazer.

O Eduardo não teve qualquer culpa. Eu própria vasculhei recantos e gavetas,

até encontrar a arma que me pareceu uma joia admiravelmente talhada.

Experimentá-la foi o meu grande desastre e desconheço de que maneira

iniciarei o meu esforço de rearticular o meu próprio controle.

Pedi perdão aos queridos pais, à irmãzinha e ao nosso amigo que nos honra

a família, a meu ver, é a primeira medida para expungir a sombra que se condensou

por dentro.

Preciso pensar nas causas de minha tristeza congênita, de meu desinteresse

pela existência, o que significa, aos meus olhos, desrespeito às Leis de Deus.

Não tenho ainda visão ampla, capaz de senhorear os quadros que me cercam.

A querida tia Amália Sanches é que se me fez o guia para movimentar-me.

Perdoe, mãezinha Júlia, a sua filha que se deixou dominar pelas influências

infelizes que me rodearam, como que me impelindo ao gesto fatal.

Page 163: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 158

Sofro muito, em consequência de minha inadaptação à vida. E a verdade é

que a vida na Terra era a melhor escola de que poderia dispor, a fim de chegar aqui

sem os problemas constrangedores que me arrasam as energias.

O suicídio é uma calamidade para quem o pratica, de vez que suscitado por

nossas próprias mãos o processo de sofrimento, não conseguimos prever o ciclo de

provações a que teremos todos os sentimentos aprisionados numa rotina em que,

diariamente, se nos refaz o martírio.

Perdoem-me em casa se lhes falo com esta linguagem de angústia. Não

tenho outra para expor o meu íntimo carregado de frustrações. Ainda assim, espero

em Jesus que jamais nos abandona.

Agora que me entrego à oração com todas as minhas forças, reconheço que

recusar a vida que Deus nos concede, é uma lesão da própria vida em nós e isso me

aflige e quase me faz desesperar ao mesmo tempo.

Mãe, a tia Amália Sanches tem me falado de obsessões que nos seguem

através de longas fases de nosso caminho e compreendo que fui vítima da cilada

que me armaram, mas não quero isentar-me da culpa que se faz em mim complicado

processo de perturbação e dor.

Peço-lhes vibrações de paz, a fim de que me tranquilize, tanto quanto

possível, para refletir em recomeço do meu adestramento em resistência espiritual,

porque já entendo que regressarei à Terra para transitar em caminhos iguais à

estrada que abandonei indevidamente.

Em suma, desejo ao seu coração querido e a todos os nossos entes amados

a felicidade que ainda não tenho para mim e compareço ante a família que me deu

tanto amor, à feição da mendiga de afeto e compreensão em que presentemente me

tornei. Espero melhorar-me. Deus, que a ninguém menospreza, me renovará as

energias para que me reencontre.

Page 164: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 159

Muito amor para Telma. Meus pensamentos de ternura e carinho para o

Marcelo que se me faz agora um credor de minha mais alta gratidão.

Muitas lembranças para a nossa casa que tornei quase infeliz e, agradecendo

a sua bênção que me refaz a esperança de melhores dias, sou, com meu pai, como

sempre, a sua filha, mais sua por ser aqui o coração desolado que lhe pede continuar,

sempre, nas orações da necessária renovação.

Selma Rodrigues Sanches – Corações Renovados – Cap. 3 – Família Sanches /

Intercâmbio do bem – Cap. 14 – Selma Rodrigues Sanches

Essa mensagem foi publicada originalmente em 1986 pela editora GEEM e

é a 14ª lição do livro “Intercâmbio do bem”

Livro Corações renovados – Familiares diversos – Capítulo 3 – Família

Sanches

Selma Rodrigues Sanches: Nascimento: 04 de março de 1969 —

Desencarnação: 07 de abril de 1985 —Idade: 16 anos

Page 165: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 160

DEPOIMENTO 14 Lucia Ferreira

Querida mamãe, estou pedindo o seu perdão e a sua bênção.

Mais de um ano passou, mas a minha saudade e o meu sofrimento ainda não

passaram.

Não chore mais, mãezinha. Sei que a minha ingratidão foi grande demais.

Compreendi tudo, mas era tarde.

Creia que amanheci naquela terça-feira, quatro de maio, pensando em

descobrir como iria encontrar um presente para o seu carinho no Dia das Mães.

Pensava nas aulas, em minha professora Juvercídia e procurava concentrar-

me nos livros para estudar; entretanto, quando vi o veneno, uma força estranha me

tomou o pensamento.

Avancei para o suicídio quase sem conhecimento, embora muitas vezes não

ocultasse o desejo de morrer. Tudo sem motivo, sem base.

A senhora me deu tudo — amor, segurança, tranquilidade, proteção. Não

julgue que me faltasse isso ou aquilo.

O que eu sentia era uma tristeza que só aqui, no Plano Espiritual, vim a

entender…

O assunto é tão longo e o tempo é tão curto.

Se pudesse, desejava formar as minhas letras com lágrimas para que a

senhora me perdoasse pelo arrependimento que trago.

Não sei, mamãe, não sei ainda. A princípio, me vi numa nuvem com a

garganta em fogo e uma dor que não parecia ter fim.

Talvez exagerasse as cousas que eu sentia, talvez guardasse impressões da

vida que eu não devia guardar.

O que é mais doloroso é que provoquei a morte do corpo, sem razão.

Page 166: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 161

Sofrimentos no mundo são problemas de todos. E por isso quando me vi na

sombra que me envolvia toda, vozes me perguntavam porque, porque fizera aquilo

se eu estava consciente de que a morte não mata ninguém…

Chorei muito, mais do que choro hoje, até que me vi no regaço de uma

senhora que me disse ser a vovó Ana. Ela me ensinou a orar de novo, porque a dor

não me deixava trabalhar com a memória.

Amparou-me e como que me limpou os olhos para que eu enxergasse a luz

do dia. Então reconheci que as trevas estavam em mim e não fora de mim.

Fui internada numa escola-hospital, onde muitas crianças estão sob a

vigilância daquele amigo que nos deu nome à casa de ensino Jerônimo Carlos

Prado, — e com a bênção dos muitos amigos que encontrei aqui, vou melhorando.

Faltava-me vir até o seu coração e rogar a sua tolerância de mãe. Venho

pedir-lhe para que não deseje morrer. Viva, mamãe, e viva tranquila.

As lutas da vida são lições. Creio saber que a senhora já sofreu muito. Sofra

agora com a sua filha a pena de não ter sabido esperar.

Para mim, a sua paz será a minha paz. Nós duas éramos as companheiras

uma da outra.

Sei que Teodoro, Divino, Adelícia e os outros corações queridos são todos

seus filhos abençoados, mas eu, mamãe, não sei porque, fiquei aflita para que o

tempo passasse e caí pela rebeldia.

Não soube guardar a fé, mas a sua bondade fará o que não fiz. Terá a senhora

paciência bastante para tudo tolerar e compreender.

Agradeço as suas preces e as orações das amiguinhas que não me

esqueceram. Agradeça por mim a Santa Terezinha e a todas as irmãs o amparo que

me enviaram e ainda me enviam.

Por enquanto, trago comigo a faculdade de ouvir todas as repreensões e

queixas, perguntas e comentários em torno de mim.

E, particularmente, ouço a senhora constantemente a falar que perdeu o

gosto de continuar a viver. Ajude-me. Não pense assim. Dê-me os seus

pensamentos de paz e de alegria.

Page 167: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 162

Preciso de você, mamãe, como a senhora não pode imaginar.

Aqui é um lugar que pode ser distante, mas há um processo de intercâmbio,

pelo qual ainda estamos juntas. Ampare-me, amparando a senhora mesma.

Os Benfeitores daqui me aliviam e me abençoam, mas estou nas

dificuldades que criei. Deus, porém, nos sustentará para que, um dia, eu possa ser

útil ao seu carinho.

Mamãe, receba o meu coração de filha faltosa e abençoe-me. Sua paciência

e seu amor são bênçãos que chegam até aqui.

Ore por sua filha e compadeça-se. Amanhã, serei melhor. Até lá, preciso de

você e de seu amparo, como o faminto sente necessidade de pão.

Não posso escrever mais. Os amigos que me socorrem e guiam me dizem

que é preciso terminar.

Mãezinha, ame-me ainda. Sou mais necessitada agora doque antes. E guarde

o coração de sua filha faltosa e reconhecida,

Lúcia Ferreira – Entre duas Vidas – Cap. 4 – Jovem Suicida

(Uberaba, 12 de junho de 1972)

Livro Entre duas vidas – Familiares diversos – Capítulo 4 – Jovem suicida

– Lúcia

Page 168: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 163

DEPOIMENTO 15 Wladimir Cesar Ranieri

Querida mamãe Dalva e querido papai Francisco, peço-lhes me perdoem,

abençoando-me como sou, em meus resgates do gesto infeliz daquela terça-feira de

desequilíbrio, em que me entreguei ao pior que me poderia acontecer.

Mãe querida, não se sinta culpada em lembrança alguma. A sua voz apenas

me convidava ao trabalho junto de meu pai, na mais santa das intenções.

Não creia que eu tivesse ouvido qualquer acusação de preguiça na

modulação de sua palavra.

O que se verificou foi a hipnose por parte de criaturas desencarnadas que

me seguiam e junto das quais não me furto às responsabilidades do meu gesto

infeliz.

A minha vontade era uma alavanca de Deus em minhas mãos.

Poderia facilmente escutar os convites injustos e rechaçá-los com o meu

livre arbítrio, mas a minha fraqueza foi o que me perdeu.

Reconstituirei o nosso quadro de maio para que os pais queridos se

reconheçam totalmente livres de culpa.

O Wagner estava impossibilitado de agir com mais vigor, em vista do

tratamento e porque a mãezinha Dalva me soubesse disponível, acercou-se de mim

e pediu-me para que fosse auxiliar ao papai.

Senti que realmente aquilo era obrigação minha. Levantei-me mal-

humorado, ao refletir, que andava sem serviço certo e muito longe de melindrar-me

com a solicitação da mamãe, segui para o serviço.

Ideias lamentáveis pareciam maribondos em meu cérebro, sugerindo-me

pusesse termo à existência de rapaz errante, em busca de um emprego que não

aparecia.

Deixei-me invadir por aqueles pensamentos amargos, quando me falaram

de almoço. Antes que me retirasse do trabalho, alvejei o meu próprio coração com

um tiro certo.

Page 169: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 164

Lembro-me de que o papai correu para mim estirado no piso e, na suposição

de que me faria viver, fez a respiração boca-à-boca, recebendo o meu próprio

sangue que lhe atingiu a garganta.

Arrependi-me de tanto mal praticado contra mim, no entanto era tarde.

Aquele gesto de meu pai me mostrava quanto amor dispunha eu no coração

de meu pai e de minha mãe, porém, foi em vão que desejei levantar os braços para

ser um menino de novo naquele colo paternal de homem bom que não vacilava em

livrar-me de qualquer sufocação, trazendo para a boca que me beijara tantas vezes

em criança, o sangue do filho crescido que se fizera ingrato perante aqueles que

mais me queriam na Terra.

Sei que entrei num pesadelo em que via o meu próprio sangue a rolar do

peito como se aquele filete rubro não tivesse recursos de terminar.

Despertei num hospital, onde me encontro até agora, em tratamento e sou

trazido pela vovó Verônica que se compadeceu de mim, de mim que me ajoelho

em espírito diante da mãezinha Dalva para rogar-lhe o perdão que não mereço.

Queridos pais, rogo me desculparem e viver muito, sempre tranquilos,

embora a saudade se interponha agora entre nós à feição de uma sentinela do meu

arrependimento.

O suicida é um detento sem grades.

Admito que os irmãos com problemas semelhantes aos meus se reconhecem

presos sem algemas e sem cárcere, porque ninguém foge de si mesmo.

Peço-lhes para que vivam, porque no Wagner, o Wallace, a Valéria e o

Wanderley, sou amado ainda.

Graças a Deus, melhorei da hemorragia incessante que me enlouquecia.

Depois de algumas semanas de aflição, um médico apareceu com uma boa

nova.

Ele me disse que as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea

que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno

tampão que colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar

o fluxo do sangue imediatamente.

Page 170: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 165

Eu, que não fizera bem aos outros, que me omiti sempre na hora de servir,

compreendi que o bem mesmo feito involuntariamente por uma pessoa morta é

capaz de revigorar-nos as forças da existência.

Com essas lições vou seguindo à frente e com a proteção de Deus e a bênção

dos pais queridos espero vencer-me, vencendo as dificuldades que me cercam para

ser o filho e o irmão, o amigo e o companheiro que devo ser.

Aqui termino agradecendo-lhes tudo o que fizeram a meu favor e desejando-

lhes a felicidade que bem merecem.

Quanto ao filho triste que ainda sou, reconheço que o Sol nos cobre a todos,

em nome de Deus. Haverá um outro dia também para mim.

Surgirão outras horas em me lembrarem sempre com o amor que não fiz por

merecer e prometo que não mais serei cego para o amor com que tenho sido amado

e com o qual arrancará de mim mesmo para que, um dia eu lhes possa trazer a

alegria e o reconhecimento do filho feliz que já começa a ser.

Muito carinho e esperança do filho que apesar de sofredor, continua sendo

muito grato.

Wladimir Cesar Ranieri – Amor e saudade – Cap. 10 – Wladimir Cesar

Ranieri

Livro Amor e saudade – Familiares diversos – Capítulo 10 – Wladimir

Cesar Ranieri.

NASC.: 23.05.1956 — DESENC.: 12.05.1981

Wladimir cresceu com a orientação evangélica espírita, demonstrada em

diversas preces escritas por esse moço, de moral elevada, sem preconceitos e que

gostava de se expressar na pintura.

Wladimir deixou a Terra num gesto de infelicidade. Disparou um tiro de

revólver contra o peito. Reconheceu no seu gesto infeliz estar envolvido em hipnose

por parte de criaturas espirituais e entende sua responsabilidade, considerada pelo

livre arbítrio.

Page 171: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 166

DEPOIMENTO 16 Décio Márcio Carvalho

Querida mãezinha Alda e querida Rosele, estou presente e escrevo, mas

escrevo sob a mão vigorosa da vovó Maria Rezende, e com a assistência do meu

pai Antônio Batista.

Assim é porque estou aqui sem possibilidade de vê-las e nem de ver os

amigos que me recebem. Custa-me confessar-lhes que estou cego.

Até hoje não sei que forças entraram em meu Espírito, impelindo-me ao

suicídio.

Se eu pudesse tomar a postura mais cabível para mim, estaria de joelhos a

fim de lhes pedir perdão. Eu não sabia que a vida continuava e que não nos

transfiguramos de um momento para outro.

Mãezinha, perdoe-me a leviandade a que me entreguei, sabendo que o meu

filhinho já estava aí no mundo a pedir-me amparo sem palavras. Devia, de minha

parte, mostrar mais compreensão e mais maturidade acerca de nossa vida.

Rosele, você igualmente me desculpe se a deixei tão só com o nosso filho.

Tantos ideais caíram por terra, à maneira de monumentos roídos por insetos

daninhos.

Mamãe, o seu coração me compreenda e me auxilie como sempre.

Naquele dia fatal, ergui-me como quem transportava a morte no próprio

corpo. Tivera uma das minhas rusgas com a nossa querida Rosele, uma rusga sem

importância da qual dei conhecimento à minha irmã Eliana, e que foi a chamada

gota d’água no cântaro de minhas queixas.

Tudo me parecia perseguição e suplício. Até mesmo a minha sogra, Dª

Dagmar, está no meu arquivo de amarguras injustificáveis. Se ela, por vezes,

implicava comigo, era por mim, não por ela.

Page 172: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 167

Mãezinha, você sabe que, às vezes, parava aqui ou ali para uns momentos

de cerveja, ou mesmo de agentes mais fortes; entretanto, não admitia conselhos de

ninguém.

Minha sogra queria que eu fosse perfeito, mas muito depressa se convenceu

de que consertar-me seria impossível. E eu não queria que a minha esposa, a sua

filha Rosele, viesse a sofrer qualquer desfeita em casa, em razão de algum deslize

meu.

Pensei muito e resolvi acabar com meu corpo. Não queria dar ao meu

filhinho qualquer exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.

Porque foi tudo assim, ainda não sei, mas parecia que um inferno de fogo se

me implantou na cabeça, e sentindo que a sogra, embora muito digna pessoa, não

me suportaria em tempo algum, deliberei acabar com tudo aquilo que nos cabia

suportar com união.

Mãezinha, quando a vi chegando à porta de nossa casa, temi as suas

repreensões chamando-me à realidade, e antes que pudéssemos entrar num diálogo

pacífico, acionei o gatilho contra a minha cabeça.

Sei que caí num lago de sangue, enquanto o seu amor, em aflição, fazia

preces por mim, encomendando-me a Deus.

Escutava o que seus lábios me diziam, mas não compreendia as minudências

do que se passava.

Em breve tempo, os homens do rabecão entraram a socorrer-me por

imposição, porque me sabiam desencarnado, e até hoje a sua dor de mãe se me

insinuou no coração à maneira de um tormento de que não consegui me

desvencilhar, e aqui estou incapaz de controlar os meus impulsos, controlados por

meu pai Antônio Batista, que se compadeceu de mim para liberar-me da condição

deprimente a que fui levado por mim próprio.

Não sei explicar o fenômeno que se passa comigo, porque vejo apenas os

quadros de dor em que adquiri minha culpa maior, mas espero voltar numa

apresentação menos infeliz.

Page 173: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 168

Querida Rosele, se você puder, dê ao nosso filhinho a saúde e a paz de que

ele necessita. Peça à minha sogra para criá-lo qual se fosse o próprio filho.

Este é um pedido arrojado, de minha parte, a quem reconheço não haver

conquistado o mínimo grau de simpatia, mas uma petição de um homem que

atravessou as portas do suicídio achará eco não somente no amor de Dª Dagmar,

mas, também, no coração de qualquer pessoa que procure penetrar nos sentimentos

de uma criancinha.

Quanto a mim, querida mamãe e querida Rosele, seguirei como a Lei de

Deus determina, tentando a minha recuperação que não sei quando surgirá. Os

fracos de vontade são iguais a mim: indecisos e omissos.

Querida mãezinha e querida Rosele, isso é tudo que lhes pode dizer o filho

e companheiro infeliz.

Orem por mim.

A prece, em casos dolorosos, tanto quanto o meu, constitui valioso

tranquilizante para a alma cansada de pensar.

Não as vejo, mas sinto-as aqui, sem possibilidade de localizá-las.

Compadeçam-se de mim, perdoem-me e ajudem-me.

O meu beijo de pai no nosso pequenino que parece residir em meu coração,

e recebam todo o arrependimento e toda a dor, mas não sem esperança e sem fé em

Deus, do filho e companheiro sofredor e reconhecido,

Décio Marcio de Carvalho – Porto de alegria – Cap. 9 – Custa-me confessar-

lhes que estou cego.

Mesmo com o nascimento do primogênito, não houve melhora no

relacionamento do casal Décio e Rosele, residente em Uberaba, Minas.

Aliás, no relacionamento de Décio com todos os seus íntimos, em face de

seu comportamento, sempre muito prejudicado pelo uso abusivo de alcoólicos.

Page 174: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 169

E apenas três meses após o nascimento do garoto, a 27 de novembro de

1985, Décio Márcio Carvalho, de 25 anos, pôs fim à vida física utilizando-se de um

revólver.

“Não queria que a minha esposa viesse a sofrer qualquer desfeita em casa,

em razão de algum deslize meu. (…) Não queria dar ao meu filhinho qualquer

exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.” Estas foram as justificativas

do ato extremo que ele mesmo, em Espírito, relacionou em sua carta mediúnica de

14 de março de 1986, sentindo-se, na época do fato, derrotado diante do vício.

Também revela-se, na mensagem, profundamente arrependido, e esclarece

que encontra-se doente, ao exclamar: “Custa-me confessar-lhes que estou cego.”

Sua carta trouxe muita tranquilidade à família, pois, além de mostrar que ele

está bem amparado no Plano Espiritual, desfez dúvidas quanto ao desenrolar dos

fatos que antecederam o doloroso acontecimento.

Livro Porto de alegria – Familiares diversos – Capítulo 9 – Custa-me

confessar-lhes que estou cego

Page 175: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 170

DEPOIMENTO 17 Dimas Luiz Zornetta

Querida mamãe Lourdes, peço-lhe a bênção. Vejo a senhora com o nosso

Valdo neste recinto de paz, mas não consigo enxergar as pessoas que nos cercam.

Sei que dois amigos me trazem até aqui, mas ignoro quem sejam.

Mamãe, seu filho pede perdão pelo que fez, conquanto saiba que agiu sob a

pressão de inimigos invisíveis que lhe golpearam a mente.

Eu não queria, mãe, não queria cometer aquele ato impensado, mas uma

vontade muito forte me absorvia e parece-me que fui um simples autômato para

aquele ou aqueles que me indicavam o suicídio como sendo o melhor a fazer.

Tinha um monte de desculpas dentro de mim. Saudades de meu irmão

Domingos, n as dificuldades da vida e a luta constante por melhorar-me, sem poder

fazer isso.

Andei por diversas ruas, pedi o socorro de Jesus por toda parte, mas aquelas

mãos enormes e duras pesavam nas minhas.

Sei que não tenho desculpas e que devo assumir os meus próprios atos, mas

a senhora não imagina como sofro…

Por vezes, via o meu pai Abílio de relance, como a solicitar-me juízo e

calma, entretanto, as outras vozes eram mais poderosas e mais fortes.

No dia sete tomei alguns tragos para ganhar coragem, sem saber o que

oferecia aos meus infelizes agressores e no dia oito, pela manhã, já me achava

transformado.

A nossa Maria me pedia paciência. Aleguei dor de cabeça e mal-estar. Ela

arranjou algumas gotas de um calmante cujo nome não me lembro, mas recusei

aquele auxílio, abrindo a camisa e mostrando-lhe a arma que eu trazia no cinturão.

A esposa não acreditou que eu fosse capaz do gesto desesperado, mas sem

esperar que ela viesse impedir-me os movimentos, levei a arma à altura da cabeça

e acionei o gatilho.

Page 176: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 171

Ela gritou e eu, a esgotar-me na perda de forças, lembrei-me, de repente, dos

seus sacrifícios de mãe por nós. Entretanto, não tive tempo de recuar do mal que

fizera a mim mesmo.

Amigos chegaram atendendo aos gritos de Maria e correram comigo para o

hospital. No entanto ainda ouvi o médico, se não me engano o Dr. Pedro, a dizer:

“é tudo inútil”.

Compreendi que a hora havia chegado e pedi socorro ao irmão Domingos e

a meu pai Abílio, mas em vão…

Os lamentos de quantos me rodeavam desapareceram de meus ouvidos e me

vi sozinho, num pesadelo terrível, em que tentava, debalde, retomar o meu corpo

sem vida; e nesse pesadelo estive muitas semanas, até que escutei vozes amigas a

me convidarem para segui-las na direção do socorro de urgência.

Eu estava cego e deixei-me conduzir para tratamento. Nesse tratamento

estou, e, hoje, essas vozes me convidaram a vir vê-la.

Como se estivesse beneficiado por um prodígio que não sei esclarecer, vi a

senhora com o nosso Demevaldo. E chorei, arrependido por tudo o que fiz,

irrefletidamente.

Querida mãezinha Lourdes, perdoe-me — a mim que caí num sofrimento

assim tão grande! Fito a sua face e a esperança me retoma o coração.

Lembro-me de seus dias de aflição em nossa casa e envergonho-me de

pedir-lhe perdão e bondade que não fiz por merecer.

Mamãe Lourdes, dê-me as suas orações de paz e diga que me desculpa. Farei

o possível para retomar-me do sofrimento em que ainda me encontro, a fim de lhe

ser útil e à nossa Maria.

Sei que Deus nunca se empobrece de compaixão.

Quanto mais infeliz está o homem, mais ampla se faz a bondade do Pai

Celestial.

Ele me levantará por dentro de mim e concederá forças para ser seu filho

outra vez, porque presentemente sou um trapo de dor e arrependimento.

Page 177: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 172

Querida mãezinha Lourdes e querido Valdo, Deus nos proteja!

É tudo o que por agora posso rogar em minha condição de penúria espiritual,

mas mesmo nessa penúria, querida mãe, sinto-me ainda seu filho e conto com o seu

perdão para a minha falta… Não posso escrever mais.

Querida mãe Lourdes receba as lágrimas que me ficam por dentro da própria

alma, incapaz que me sinto de prosseguir escrevendo e lembre-se de que seu filho

espera, do seu amor, tudo aquilo que hoje não mais tem.

Todo o carinho com as saudades imensas do seu filho

Dimas Luiz Zornetta – Assuntos da vida e da morte – Cap. 2 – Dimas Luiz

Zornetta

07.09.1984

19.04.1958, São Carlos, SP — 08.01.1984, São Carlos, SP

Cioso das suas obrigações, sempre exerceu com dedicação sua profissão de

marceneiro, cuja formação obteve no SENAI.

Casou ainda jovem com a Sra. Maria Benedita Claudino. Não teve filhos.

Deixa-nos em suas mensagens psicografadas por Chico Xavier a certeza de

que o livre arbítrio é inviolável, e cada Espírito tem de buscar o seu próprio caminho

rumo da Espiritualidade Maior.

Page 178: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 173

DEPOIMENTO 18 João Alves de Sousa

Querida mamãe Rodolfina. Abençoe seu filho que ainda sofre.

Venho com a vovó Ana até aqui, na posição de um enfermo que se retira

momentaneamente da casa de tratamento e socorro na qual foi asilado, a fim de

pedir o seu perdão.

Mamãe, eu vivi cego nos tempos últimos! Enxergava nos outros o que estava

dentro de mim. Fitava na vida a minha própria imagem e, por isso mesmo,

enlouqueci.

Seu filho não conseguiu enxergar os seus sacrifícios para que ele fosse

gente. É por isso que sem a treva que me inibia a visão, sou trazido até aqui para

reafirmar-lhe que eu nunca poderia encontrar mãe mais dedicada e mais amorosa

do que a que Deus me deu em seu coração de paz e carinho.

Mamãe, as chamadas injustiças sociais que alegava em minhas convicções

erradas não eram outra bênção senão aquela de que eu mais necessitava a fim de

melhorar os sentimentos que eu trazia…

Penso que o seu carinho me perdoará como sempre. Sofro as consequências

de meu gesto infeliz, mas no miolo dessa angústia, está o remorso de haver

menosprezado a melhor mãezinha que o Céu me poderia confiar.

Agora, tudo passa de novo em minha lembrança, como se eu assistisse a um

filme incessante por dentro de mim mesmo. Seu esforço e sua luta…

Você com Deus a trabalhar por nós, você calando aflições para não

incomodar-nos, você a se privar na mesa do que fosse melhor para que seu filho se

alimentasse como um príncipe, você a derramar suor e lágrimas para que eu

estudasse e, na cegueira que me tomou o coração, a revolta injustificável contra a

vida não me permitiu oferecer-lhe migalha de qualquer agradecimento…

Pudesse eu tornar atrás, ainda que fosse para arrastar-me pelo resto da vida

em seus passos e me sentiria a mais feliz das criaturas de Deus, porque estaria

acompanhando o anjo que o Céu nos deu e à família em forma de mulher para ser

minha mãe!

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 174

Nem pude ver os seus exemplos de amor para com a vovó Benedita a quem

a sua dedicação tudo oferta em assistência e ternura…

Mãezinha, considere-me por um rapaz que se perturbou, acreditando

raciocinar sobre sociedade e justiça. O meu gesto foi um punhal em seus

sentimentos, mas, pode crer que a ferida está sangrando muito mais em mim

mesmo…

Pedi à vovó Ana me trouxesse até você, quando escutei as suas palavras

decidindo-se a tentar algum intercâmbio com o seu rapaz ingrato e infeliz. Eu não

descansaria enquanto não lhe mostrasse a minha dor, pedindo-lhe esquecimento de

minha falta.

Enquanto escrevo e choro começo a sentir-me aliviado e espero que, com a

bênção de Deus e com o tempo, consiga ser o filho que os seus braços sempre

aguardaram inutilmente.

Mamãe, por que me vi ferido por mim mesmo, de modo tão cruel ao feri-la?

E pode guardar a certeza que nunca a vi tão bela e tão alta quanto agora em

que a fé brilha em seu sofrimento de que fui o causador…

Perdoe-me mãezinha querida, e saiba que a amo cada vez mais.

Conte à Vera Lúcia o que me acontece em matéria de arrependimento para

que a irmãzinha no lar nunca se lembre de imitar o que fiz.

A vida e a justiça procedem de Deus e somente agora consigo ver a

realidade. Foi preciso que a morte me abrisse no peito uma torrente de lágrimas

para que o pranto me lavasse os olhos que a rebeldia obscurecera. Oh! Deus, cujo

infinito amor nunca falha.

Deus, mamãe, abençoará nossa dor e fará com que seu filho se recupere da

enfermidade espiritual que me atacou em forma de rebelião contra tudo o que o

mundo nos oferece de melhor.

Confio em Deus e trago ao seu colo esse pequeno raio de fé para dizer-lhe

que estou melhorando…

A provação que eu mesmo procurei tentando aniquilar a própria vida, é a

força que me retira das sombras para o regresso à claridade.

Page 180: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 175

Mãe querida, abençoe-me. Não sofra se choro e nem se aflija se ainda lhe

revelo o lado amargo do gesto que cometi… Isso é também recurso em meu

benefício.

Abençoe-me e auxilie-me com as suas lembranças em prece e, desejando

que o seu coração permaneça forte e tranquilo na caminhada do bem para o Alto

em que sempre a vi e continuo a vê-la.

Tome entre as suas mãos a cabeça ainda amargurada de seu filho que lhe

pede perdão de joelhos e diga-me querida mãezinha, que o seu coração me acolhe

de novo e me perdoará como sempre.

Um beijo molhado de lágrimas do seu filho, sempre seu filho do coração.

João Alves de Souza – Vivendo sempre – Cap. 10 – João Alves de Sousa

Livro Vivendo sempre – Familiares diversos – Capítulo 10 – João Alves de

Sousa

João Alves de Sousa Reis Filho – apresentou a mesma necessidade de

João Alves de Sousa Reis, também suicida, aos 24 anos, falando, comovido, ao

coração materno :

Penso que o seu carinho me perdoará coma sempre.

Sofro as consequências de meu gesto infeliz, mas no miolo dessa angústia

está o remorso de haver menosprezado a melhor mãezinha que o céu me poderia

confiar.

Como vemos, as consequências do suicídio costumam ser profundamente

dolorosas, causando distúrbios por muito tempo.

Marlene Nobre – Nossa Vida no Além – Cap. 9 – Adaptação à Vida Nova –

Casos Especiais

Page 181: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 176

DEPOIMENTO 19 Pedro Augusto Souza Gonçalves

Querida mãezinha Elza e meu pai João. Estou informado de que pude vir até

aqui, trazer-lhes as minhas notícias, pela concessão de amigos que consideraram o

merecimento dos pais queridos, porque, de mim mesmo, ainda me encontro nas

faixas de severo tratamento.

Perdoem-me a tribulação que lhes causei com a minha deserção da vida.

Confesso-lhes que tudo fiz para evitar aquele amargo desfecho de minhas

inquietações. Nervos doentes substituindo a fé que me cabia acalentar, a fim de

vencer em minha provação.

Estava longe de compreender que todas as criaturas suportam o fardo de que

precisarão se desvencilhar, um dia, para se encontrarem consigo mesmas.

Mãezinha Elza, lutei muito. Assim pensei, admitindo erroneamente que

milhares de pessoas não sofriam muito mais do que eu mesmo. Detinha a vantagem

de viver ao lado dos familiares queridos e parecia cego para não reconhecer que

nada me faltava para ser tranquilo e feliz.

Um ponto, porém, me atormentava o pensamento. Cedo reconheci que eu

não poderia constituir uma família como desejava e deixei-me iludir com isso,

quando há tantas crianças doentes e desajustadas esperando o amparo de alguém

que lhes tutele a existência infortunada.

Esqueci-me de que eu poderia incorporar-me no trabalho de uma instituição

das muitas que amparam os pequeninos sofredores… E, porque não me seria

possível uma vida igual à vida de outros rapazes, a ideia de revolta contra a vida se

apoderou de mim.

Estou aqui nesta mesma sala onde estive um dia, buscando orientação e

esclarecimento, e se não me foi possível a demora de mais alguns dias para ouvir

os amigos que me reconfortariam, explicando-me o que seja a provação na vida de

alguém, agora vejo todos e ouço a todos os que trocam opiniões, reconhecendo que

me seria tão fácil suportar a carência de meus recursos genésicos, abraçando a vida

que a Divina Providência me reservara.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 177

Penso, atualmente, na legião de jovens aos quais algumas frases bastariam

para esclarecê-los e traçar-lhes novos rumos!

Não sei explicar-lhes o conflito que passou a possuir-me, desde que alguns

companheiros me informaram de que as minhas dificuldades orgânicas eram

irreversíveis! Criando nomes supostos para disfarçar-me, tentei ouvir muitos

médicos ou acadêmicos de Medicina que me ouviam com atenção. Todos eram

unânimes na opinião de que eu era vítima de problema sem solução.

Ao mesmo tempo, inflamava-me com o propósito de casar-me e ser feliz

num lar, em que pudesse usufruir a vida de um homem comum. No entanto, a

depressão, de que me vi acometido, ganhou todas as minhas resistências e

entreguei-me à desencarnação voluntária, ignorando que a vida continuava.

Não tenho recursos para evadir-me da realidade e, por isso, preciso assumir

o meu gesto infeliz. Sou claro em minhas afirmativas porque estou diante dos pais

queridos aos quais não posso enganar, conquanto reconheça que me competia uma

entrevista com ambos na intimidade da família, e com isso, talvez, conseguisse um

caminho para a minha própria libertação.

Pais queridos, perdoem-me aquele projétil que eu devia ter evitado,

perdoem-me a ingratidão a que me entreguei quase inconscientemente, e continuem

nas orações por mim, de vez que me envergonho de expor aqui a minha fragilidade.

No instante terrível em que me vi arrasado pelas próprias mãos encontrei

rente comigo aquele benfeitor, que ainda me segue as experiências, fornecendo-me

as chaves do conhecimento superior — esse amigo humanitário e abnegado que me

colheu nos braços, quando já não possuía qualquer recurso de auto-sustentação.

Ele me solicitou chamá-lo pelo nome de vovô Francisco, e me abençoa e

socorre em todos os meus obstáculos, e me afirma que Deus tem caminhos para

todos os filhos extraviados. Estou consolado com a possibilidade de dizer-lhes isso.

Estou melhorando, porque os meus primeiros dias, aqui na Vida Espiritual,

foram momentos do alucinado que já deixei de ser.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 178

Muito grato por virem até aqui, na ideia de que colheriam alguma notícia do

filho devedor que sou eu, sensibilizando-me com a decisão de romperem com os

empeços da viagem, a fim de que eu pudesse rogar-lhes a bênção.

Pais queridos, do meu amanhã ainda nada sei, mas a confiança em Deus está

novamente comigo e, com isso, compreendo que todas as minhas lutas serão

superadas sem que eu, por enquanto, saiba como. Peço-lhes desculparem o filho

infeliz que era tão feliz em nossa família e não sabia.

Deus me favorecerá com oportunidades de trabalho para que me sinta

reposto no caminho da segurança e do bem. Sofri muito e ainda sofro, mas a

esperança já está em meu coração e sei que aprenderei a viver e a servir.

Não posso continuar porque a emoção me constringe a garganta e o

pensamento, mas seguirei adiante com a certeza de que me desculparam a

leviandade e a doença, e me amam com o mesmo carinho dos dias passados.

Mãezinha Elza, as suas lágrimas me lavaram a alma, e com o seu amor me

sinto à frente de novo dia.

Pais queridos, a todos os nossos entreguem as minhas lembranças, e

recebam o coração do filho que não soube compreendê-los, mas que os ama com

todas as forças da própria vida.

Até que eu volte melhor amanhã do que hoje me sinto, guardem as saudades

e o imenso carinho do filho sempre mais reconhecido,

Pedro Augusto Souza Gonçalves – Porto de alegria – Cap. 4 – Deus tem

caminhos para todos os filhos extraviados

Livro Porto de alegria – Familiares diversos – Capítulo 4 – Deus tem

caminhos para todos os filhos extraviados – Pedro Augusto

Pedro Augusto Souza Gonçalves, jovem de 22 anos, inconformado com sua

moléstia crônica — sofrendo desde os 8 anos de idade, com certa frequência, de

fortes convulsões epilépticas, resistentes a tratamento médico constante —, pôs um

ponto final em sua vida física, com certeiro projétil, a 7 de junho de 1988.

Page 184: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 179

Residia no Rio de Janeiro, RJ, sua terra natal, com seus pais João Francisco

Gonçalves Netto e Elza Souza Gonçalves, em Copacabana, à Avenida Atlântica,

4022/502.

Porém, apenas três meses após o lamentável episódio, Pedro Augusto, em

Uberaba, comunicou-se novamente com seus queridos progenitores, em longa e

confortadora mensagem, “relatando fatos de que apenas ele, seus pais e irmãos

tinham conhecimento”, conforme esclarecimento de seu pai.

Agora, mais consciente de sua provação terrena, ele sofre, submetendo-se a

“severo tratamento”, e sente-se profundamente arrependido, mas otimista diante do

futuro, ao afirmar que “a esperança já está em meu coração” e “Deus tem caminhos

para todos os filhos extraviados.”

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 180

DEPOIMENTO 20 Maximiliano

Lê-se no Siècle de 13 de janeiro de 1862:

“Maximiliano V.., rapazola de doze anos, morava com os pais à Rua des

Cordiers e estava empregado como aprendiz numa tapeçaria.

Esta criança tinha o hábito de ler romances-folhetins. Todos os momentos

que podia escapulir do trabalho ele os dedicava à leitura, que lhe superexcitava a

imaginação e lhe inspirava ideias acima de sua idade.

Assim, imaginou sentir paixão por uma criatura que teve ocasião de ver

algumas vezes, a qual estava longe de pensar que tivesse inspirado um tal

sentimento.

Desesperado por não ver a realização dos sonhos provocados por suas

leituras, resolveu matar-se.

Ontem, o porteiro da casa que o empregava encontrou-o sem vida num

gabinete do terceiro andar, onde trabalhava sozinho. Enforcara-se numa corda que

prendera numa viga com um enorme prego.”

As circunstâncias dessa morte, numa idade tão pouco avançada, deram a

pensar que a evocação dessa criança poderia fornecer assunto para um ensino útil.

Ela foi feita em sessão da Sociedade, ocorrida em 24 de janeiro último.

(Médium: Sr. E. Vézy)

Nesse fato há um difícil problema de moral, quase impossível de resolver

pelos argumentos da filosofia ordinária e, ainda menos, da filosofia materialista.

Pensam ter tudo explicado dizendo que era uma criança precoce. Mas isto

não explica nada; é absolutamente como se dissessem que é dia, porque o Sol se

levantou.

De onde vem tal precocidade? Por que certas crianças ultrapassam a idade

normal para o desenvolvimento das paixões e da inteligência?

Page 186: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 181

Eis uma das dificuldades contra as quais vêm se chocar todas as filosofias,

porque suas soluções sempre deixam uma questão não resolvida e podemos sempre

indagar o porquê do por quê.

Admiti a preexistência da alma e o desenvolvimento anterior e tudo se

explica da maneira mais natural. Com este princípio remontais à causae à fonte de

tudo.

[Evocação de Maximiliano.]

1. (Ao guia espiritual do médium.) Poderíeis dizer-nos se podemos evocar

o Espírito da criança a que nos referimos há pouco?

Resposta. – Sim; eu o conduzirei, porque está sofrendo. Que a sua aparição

em vosso meio sirva de exemplo e seja uma lição.

2. (A Maximiliano.) Tendes consciência de vossa situação?

Resposta. – Ainda não posso definir bem onde estou; há como que um véu

sombrio à minha frente; falo, mas não sei como me ouvem e como falo. Contudo,

já vejo aquilo que até há pouco era obscuro; sofria, mas desde agora me sinto

aliviado.

3. Lembrai-vos bem das circunstâncias da vossa morte?

Resposta. – Parecem muito vagas. Sei que me suicidava sem motivo.

Entretanto, poeta numa outra encarnação, tinha uma espécie de intuição de minha

vida passada; criava sonhos, quimeras; enfim, eu amava.

4. Como pudestes chegar a tal extremo?

Resposta. – Acabo de responder.

5. É singular que uma criança de doze anos seja levada ao suicídio,

sobretudo por um motivo como esse que vos impeliu.

Resposta. – Sois extraordinários! Já não vos disse que, poeta numa outra

encarnação, minhas faculdades tinham ficado mais amplas e mais desenvolvidas

que nos outros?

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 182

Oh! ainda na noite em que me encontro agora vejo passar essa sílfide de

meus sonhos na Terra, e é isto o castigo que Deus me inflige, de a ver bela e leviana

como sempre, passar diante de mim e eu, ébrio de loucura e de amor, quero me

atirar… mas, ah! é como se estivesse preso a um anel de ferro… Chamo… mas em

vão; ela nem sequer vira a cabeça… Oh! como sofro então!

6. Poderíeis descrever a sensação que experimentastes quando vos

reconhecestes no mundo dos Espíritos?

Resposta. – Oh! sim, agora que estou em contato convosco. Meu corpo lá

estava, inerte e frio e eu planava à sua volta; desfazia-me em lágrimas.

Estais admirados das lágrimas de uma alma. Ah! como são intensas e

abrasadoras! Sim, eu chorava, porque acabava de reconhecer a enormidade de

minha falta e a grandeza de Deus!… E, contudo, não tinha certeza de minha morte;

pensava que meus olhos fossem abrir-se… Elvira! Chamava eu… supondo vê-la…

Ah! É que a amo desde muito tempo; amá-la-ei sempre… Que importa, se tiver de

sofrer por toda a eternidade, se puder um dia possuí-la em outra encarnação!

7. Que sensação experimentais por estar aqui?

Resposta. – Faz-me bem e mal ao mesmo tempo. Bem, porque sei que

compartilhais de meu sofrimento; mal, porque, apesar de toda a vontade que tenho

de vos agradar, aceitando as vossas preces, não posso, porque então deveria seguir

um outro caminho, diferente daquele de meus sonhos.

8. Que podemos fazer que vos seja útil?

Resposta. – Orar, visto que a prece é o orvalho divino que nos refresca o

coração, a nós, pobres almas em pena e em sofrimento.

Orar. No entanto, parece que se me arrancásseis do coração o próprio amor

e o substituísseis pelo amor divino, então!… não sei… creio!… Vede! Neste

instante eu choro… pois bem!… pois bem!… orai por mim!

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 183

9. (Ao guia do médium). Qual o grau de punição para este Espírito por se

haver suicidado? Levando-se em conta sua idade, sua ação é tão condenável quanto

a dos outros suicidas?

Resposta. – A punição será terrível, porque foi mais culpado que os outros.

Já possuía grandes faculdades: a força de amar a Deus de maneira poderosa e de

fazer o bem. Os suicidas sofrem longos castigos e Deus pune ainda mais os que se

matam com grandes ideias na mente e no coração.

10. Dissestes que a punição de Maximiliano V… será terrível. Poderíeis

dizer em que consistirá? Parece que ela já começou. Ser-lhe-á reservado mais do

que já experimenta?

Resposta. – Sem dúvida, pois sofre um fogo que o consome e o devora e que

só cessará pelos esforços da prece e do arrependimento.

11. Há possibilidade de ser atenuada a sua punição?

Resposta. – Sim: orando-se por ele, principalmente se Maximiliano se unir

às vossas preces.

Maximiliano – Revista Espírita – Maio 1862 – 3° Artigo – Um Paixão de Além-

Túmulo

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 184

DEPOIMENTO 21 Francisco Ângelo de Souza

Não sei qual seria a maneira correta de introduzir-me nesta reunião.

Na impossibilidade de agir como exige a tradição, eu saúdo a todos, pedindo

a Deus misericórdia para os infelizes.

Meus pais, aflitos, pedem notícias de mim, procuram-me por toda parte,

exigem que eu lhes comunique como estou passando, desejam uma evidência da

continuação da minha vida.

Desesperam-se, porque tardam as minhas cartas. . .

Esperam que a morte seja um trampolim para um mundo estranho, abstrato,

talvez sobrenatural. Não se dão conta, como também não me dei, de que morrer é

pegar um veículo em desabalada correria que nos arroja de chofre noutro

lugar, sem nos arrancar da vida, atirando-nos numa dimensão poderosa e diferente

que a mente antes não pôde conceber, mas que a defrontando não pode negar.

Pedem-me que lhes diga se é verdade que eu prossigo vivendo e gostariam

que eu retornasse como um anjo para lhes incensar as vaidades pessoais, tornando-

os privilegiados, diminuindo-lhes a responsabilidade no insucesso de que fui

vítima.

Reconheço a minha imprudência, constato a minha miséria, mas não

posso descartar que tenho sido vítima educação e do meio onde vivi.

Meus pais deram-me tudo. Educação bem cuidada, liberdade, amigos e

dinheiro, só não foram Pais... Eu pude desfrutar de regalias, mas não pude

desfrutar de uma família.

De cedo, os vícios e as dissipações sociais que eu encontrei em casa

passaram a tomar parte nas minhas horas. Como os vícios sociais constituem motivo

de projeção na comunidade, eu projetei-me. Mas, aos vinte e três anos minha

projeção se apagou no acidente de um “porche” depois de uma ingestão de drogas

além da dose habitual.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 185

Que notícias eu posso dar? Dizer que despertei como um sátrapa,

recolhido a um hospital onde a dor, nivelando os Espíritos, era também o meu

quinhão da vida?

Relatar o que tem sido este tempo sem tempo que o calendário da Terra não

pode representar?

O arrependimento toma uma dimensão que se perde nas medidas habituais.

Por isso, o vulgo diz que, se o “arrependimento matasse". . . No entanto, a muitos

aniquila o corpo, a outros tantos apaga a lucidez.

Eu diria a todos os pais, a todos aqueles que sentem saudade dos que

viajaram para cá, que há um padrão de avaliação de como se encontram os que a

morte conduziu para a realidade da vida. A conduta que tinham, as ações que

praticaram, o comportamento que se permitiram – eis os documentos de

identificação para receber aval para a felicidade ou algema para a desdita.

Muda-se de lugar, porém, não se muda de estado íntimo.

E porque se encontram pessoas queridas que nos aguardam com lágrimas de

júbilos quando aportamos no Mundo Espiritual, de maneira nenhuma este amor

modifica a paisagem em sombra de quem enxergou o bem pelas lentes do mal, ou

perdeu a oportunidade de agir corretamente. Não há critério de exceção, nem

regimes de privilégios.

Todos nós despertamos, no Mundo dos Espíritos, com o cabedal que

trouxemos do mundo dos homens. Somente a conduta bem vivida e as ações bem

delineadas constituem o patrimônio de felicidade para os que a morte não consumiu.

Sem desejar enviar uma mensagem de desencanto, eu gostaria de dizer aos

meus pais e a quantos esperam a prevalência de novidades e a caracterização de

júbilos infindáveis pelos que morreram, que se resguardem no discernimento e no

equilíbrio, e, meditando sobre o que foram os seus amores, compreendam que

permanecem iguais no esforço por melhorar-se, se se encontram lúcidos, e na

redenção por evoluir, se se encontram agoniados sob os látegos das próprias

aflições. . .

Francisco Ângelo de Souza – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 5 – Notícias do

Além

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 186

DEPOIMENTO 22 Marcio Ricardo

Márcio Ricardo Pinto nasceu no dia cinco de maio de 1972, na cidade de

Jundiaí, SP, sendo filho do Sr. Marco Antônio Pinto e de Dona Maria de Lurdes

Borin Pinto.

Sem motivo aparente, tentou suicidar-se no dia vinte e três de março do ano

de 1988, através de um projétil de revólver, vindo a desencarnar no dia vinte e sete

do mesmo mês, havendo deixado uma carta dirigida aos seus pais.

1º Mensagem – 1989 – Março - 15/03/1989

Meu querido paizinho, encontro-me em torvelinho de emoções neste

momento.

Há quase um ano (1) a dor se abateu sobre nosso lar e quase nos destroçou...

Inconscientemente eu fui o instrumento das aflições pesadas que ainda nos

fazem chorar. Todavia, o seu filho não tinha intenção de despedaçar o seu e o

coração da mãezinha querida.

Tudo aconteceu de repente.

A idéia me fulminou o cérebro, por primeira vez, em dias passados (2) e

depois permaneceu qual parafuso que mãos inclementes insistissem em cravar com

força.

Por fim, a gota d’água aconteceu, naquele terrível domingo, dia 27 de março

do ano passado. (3)

É impossível descrever o que se passou em mim, o quanto sofri e tenho

chorado, o arrependimento que me angustia e todas as recordações que não me dão

repouso.

No entanto, a misericórdia de Deus igualmente não me tem desamparado.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 187

Graças a ela encontro-me internado para refazimento, sob o carinho paternal

do nosso amado Dr. Bezerra de Menezes (4), que se revelou um anjo de ternura e

devotamento desde as primeiras horas do infortúnio que eu buscara na minha

alucinação juvenil.

Meu amado paizinho, seu filho aqui vem trazido, com o fim de acalmá-lo e

dizer à amada mamãe, à querida Flávia (5), que agora tudo ficará bem.

Recebo as suas preces e ajuda espiritual.

O pensamento do lar me chega como ondas de ternura e de felicidade

acalmando as dores do coração e diminuindo as angústias da alma arrependida.

Suplico que você e mamãe me perdoem, desculpando-me o fardo de dores

que lhes trouxe.

Um dia, quando as circunstâncias o permitirem e eu estiver melhor,

poderemos conversar mais demoradamente.

Este é um bilhete do coração ao seu sentimento, suplicando-lhe coragem e

fé. Você é homem de bem e tem sabido superar as dificuldades.

O nosso amor prossegue e agora passo a sentir algum alívio.

Abençoe o seu filho que o ama e buscará reabilitar-se.

Rogo a mamãe ter-me no coração com lembranças felizes, e beijando a

Flávia e você, sou o filho em recuperação.

(1) Há quase um ano - Dado exato.

(2) A idéia me fulminou o cérebro, por primeira vez, em dias passados -

Márcio deixou uma carta sobre o assunto.

(3) Domingo, dia 27 de março do ano passado – Confirmado pelo pai.

(4) Carinho paternal do nosso amado Dr. Bezerra de Menezes - O missivista

conhecia a história do grande Missionário espiritual.

(5) Á querida Flávia - Nome da irmã.

Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 59

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 188

2º Mensagem – 1989 – Dezembro - 16/12/1989

Meu querido pai: (1) os dias da saudade são longos, assinalados pelas

meditações, nas quais encontro forças para acarinhar a esperança.

Cada dia mais se agiganta no meu coração o amor por você e pela querida

mãe que eu não soube honrar.

Repasso pelo pensamento todas as horas e compreendo quanto fui egoísta e

ingrato, não sabendo digerir os acontecimentos domésticos, os problemas da

juventude.

Não desejo me justificar, no entanto, gostaria de recordar que os amo e

somente não tive forças para vencer a impetuosidade, a imaturidade.

Mais de uma vez a idéia sinistra me passou pela cabeça (2) qual se uma força

poderosa me comandasse o pensamento, terminando na fuga de que me arrependo

e tudo faria para evitar. (3)

Retorno ao pedido de perdão. A arma (4), se não fosse aquela, não evitaria

a consumação da tragédia, pois que outro seria o meio para a consumação infeliz e

tresloucada.

Hoje me dou conta que fatores espirituais poderosos (5), que nos

precederam ao berço, influenciaram terrivelmente a desditosa decisão.

Jamais desejei, em sã consciência, magoar você, a mãe, a Flávia, aos quais

tanto amo.

Tenho procurado recuperar-me pelo sofrimento, buscando crescer no amor,

aprendendo o valor da paciência e do bem.

Ainda me encontro internado sob cuidadoso tratamento físico e mental (6),

recuperando as forças.

Já posso vislumbrar possibilidades futuras de redenção, pelo estudo e

renovação moral.

Visito, vez que outra, nossa casa, sob o amparo da "vó" Lázara (6), que tem

sido o anjo bom das nossas vidas.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 189

O futuro nos acena paz e bênção.

Ouço os seus pensamentos, da mãezinha e dos nossos, que oram por mim.

Sou a todos muito agradecido.

Após esta noite longa, amanhece um dia de realizações para o porvir.

Ouvindo a lição e os comentários deste momento, que o Evangelho nos dá,

comovo-me mais e suplico a Deus que abençoe com sabedoria todos os infelizes

filhos ingratos do mundo.

Nas recordações festivas do nosso afeto e ante o Natal que se aproxima,

desejo, meu paizinho, rogar a Jesus que lhe conceda, à mãezinha Lurdes, à Flávia

(7) e a nossa família, festas de alegria e esperança, bem diferentes daquela noite

natalina do ano passado.

Agradeço todo o bem que fazem, pensando em mim.

Joanna pede-me para encerrar a presente.

É com emoção filial e reconhecimento que lhe beijo as mãos generosas e

abraço, beijando, a mãezinha, a Flávia e os nossos, suplicando a Deus que nos

ampare sempre.

Seu filho, arrependido e afetuoso

(1) Meu querido pai - A caligrafia é semelhante àquela que possuía na Terra.

(2) Mais de uma vez a idéia sinistra me passou pela cabeça - Aclara melhor

a colocação feita na carta anterior.

(3) ... uma força poderosa me comandasse o pensamento, terminando na

fuga de que me arrependo e tudo faria para evitar - Aqui se confirma a interferência

de perseguidor desencarnado em processo de obsessão cruel com o paciente.

(4) A arma - um revólver de propriedade do pai, que se afligia por havê-lo

possuído para defesa pessoal, por residir em um sítio fora da cidade.

(5) ... fatores espirituais - Conclui o missivista pela obsessão de que foi

vítima, tendo-se-lhe atenuadas as dores por esta razão.

Page 195: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 190

(6) . . . tratamento fisico e mental - O perispírito atingido permanece sob as

rudes conjunturas do acontecimento infeliz, requerendo tratamento especializado

pelos Mentores.

(7) "Vó " Lázara - Bisavó paterna.

(8) Mãezinha Lurdes, à Flávia - Grafia correta do nome da genitora e da

irmã.

(9) Márcio Ricardo - Nome correto do missivista com assinatura semelhante

à que possuía.

Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 62

Page 196: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 191

3º Mensagem – 1990 – Maio – 06/05/1990

Meu querido pai:(1) estou ajoelhado como na época infantil para rogar a

Deus que nos abençoe e nos dê forças para prosseguir na jornada.

Eu acreditava na imortalidade da alma, como é do seu conhecimento (2),

porque hauria a certeza no convívio da família, buscando algumas vezes, consolar

amigos (3) que haviam passado pela provação de verem partir pessoas amadas.

Mesmo quando optei pela fuga, na minha imaturidade, eu supunha que seria

fácil me comunicar com você (4) e a família, esquecido das grandes

responsabilidades que decorrem do suicídio.

Naquela semana eu me encontrava anestesiado.

A mente, que era lúcida, parecia que estava envolvida por uma densa névoa,

que dificultava o meu raciocínio.

As idéias eram confusas e a única saída (5) que me parecia feliz, para a

minha realização, seria a morte.

Eu temia ficar em coma ou em vida vegetativa, caso falhasse o meu gesto,

tal o desejo de libertar-me do corpo.

No íntimo eu sabia que morrer não era o fim, mas não tinha dimensão do

que me aguardava ...

Só mais tarde eu vim a ser informado que havia caído numa trama cruel de

antigos inimigos que me desejavam infelicitar, o que, de certo modo, conseguiram.

Sofri muito e ainda experimento remorso e aflição reparadora, a fim de

aprender a respeitar as Leis de Deus.

Eu me sentia diferente, insatisfeito, desajustado, e na minha angústia eu

queria que tudo fosse a meu modo.

Esqueci-me que eu me deveria ajustar ao mundo e às suas circunstâncias, ao

invés de querer que tudo e todos se adaptassem a mim.

Quanto o lamento! Eu estava, é certo, hipnotizado, na minha juventude

invigilante.

Page 197: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 192

Não desejo arrolar recordações tristes que deveremos esquecer.

Se o faço, é para demonstrar-lhe e aos familiares que eu sou o único

responsável, e que se não fora com o revólver, seria de mil outras formas como

ocorre diariamente.

Amo você, pai, e amo imensamente a mãe e a Flávia.

Vocês não imaginam o quanto me doem as ocorrências atuais, que tudo faria

para evitar.

A Flávia é muito jovem e imatura. Nada justifica o seu raciocínio, e a

mãezinha assume uma grande responsabilidade.

Eu sei que sou o autor dos efeitos que hoje abalam nossa família.

Todos, porém, podemos errar, mas temos o direito de reparar os equívocos,

especialmente os que produzem danos nas pessoas amadas.

Peço à mãezinha que pense mais e sem receio, antes de uma decisão final.

A vida é muito complexa.

Eu reconheço que não posso aconselhar. Todavia, porque me enganei é que

me preocupo ante a possibilidade de algum futuro sofrimento em nossa família.

Como eu daria tudo, se pudesse recuar no tempo e evitar a catástrofe ...

Rogo à querida Flávia que pense em Deus e peça-Lhe para ajudá-la,

impedindo-lhe reações e pensamentos infelizes.

É necessário que seja forte, porquanto, mesmo tendo, como é o caso de

nossa família, recursos materiais, há necessidades morais que não podem ser

solucionadas, senão através dos valores morais.

Os pais exigentes, eu sei, desagradam os filhos, que, só depois os

compreendem e os valorizam. No entanto é melhor que sejam assim, a tornarem-se

omissos e coniventes, ante os desafios que vêm à família a cada passo.

Querido pai, não poderia deixar de vir agradecer-lhe pela lembrança querida

do 5 de maio. (6)

Você esperava que o seu pobre filho viesse trazer-lhe notícias, falar-lhe do

processo de restauração interior. Sim, eu estou melhor, aprendendo com os

Benfeitores Espirituais.

Page 198: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 193

O Dr. Bezerra, a irmã Joanna, têm sido incansáveis. Eu estou ainda em

tratamento adequado, preparando-me para crescer no futuro.

Agradeço-lhe, paizinho, tudo de bom que me oferece e rogo que não deixe

de interceder por mim em suas orações e ações de caridade.

O mesmo solicito à mãezinha, aos tios e aos avós de Santo André e de

Jundiaí.

Beijo você, a mãezinha, a Flávia, a todos, e repito que eu os amo muito,

suplicando mais uma vez que me perdoem.

Com um carinho enorme, desejando que tudo se regularize em paz e

bondade, beija-o, o filho reconhecido.

(1) Meu querido pai - Repete-se a caligrafia de Márcio, muito diferente da

letra do médium, e conforme escrevia quando reencarnado.

(2) Eu acreditava na imortalidade da alma - Fato confirmado. Márcio

conhecia algo sobre a vida no Além-túmulo.

(3) Buscando, algumas vezes consolar amigos - Havia escrito uma carta

comovedora a um amigo que passara pela provação da morte do genitor.

(4) ... seria fácil me comunicar com você - Na carta despedida, ele promete

voltar logo, olvidando-se da gravidade do suicídio ...

(5) . . . única saída... seria a morte - Visão distorcida e perturbadora dos que

estão hipnotizados pela idéia infeliz do suicídio.

(6) Cinco de maio - Data aniversária do Márcio.

Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 65

Page 199: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 194

4º Mensagem – 1990 – Dezembro – 26/12/1990

Meu querido pai, retorno à nossa correspondência, trazendo um ânimo novo

que me sustenta as aspirações futuras.

O silêncio aparente não tem sido proposital, antes necessário para o meu

soerguimento moral e espiritual.

Hoje posso avaliar melhor os acontecimentos lamentáveis que sucederam à

minha desencarnação.

Não apenas sofri o esfacelamento dos órgãos físicos, mas, em profundidade,

provoquei lesões que ainda não cicatrizaram.

Como descrevê-las?

Despertei em estado de alucinação dolorosa, sem dar-me conta da extensão

da tragédia.

Tudo aconteceu de forma cruel e se prolongou até o momento em que a

misericórdia de Deus, através dos Bons Espíritos, modificou o meu quadro de

sofrimento, conduzindo-me a tratamento adequado, como você sabe.

As suas preces e as de minha mãe, como outras tantas, alcançaram-me

naqueles primeiros dias mais rudes e ajudaram-me, qual acontece ainda hoje,

diminuindo-me as angústias.

Já posso raciocinar com mais clareza, anotar recordações e a memória

funciona com equilíbrio.

Reincidente no ato suicida, os pobres antigos verdugos trabalharam em

favor do desfecho.

A minha fragilidade emocional é a única responsável pelo que ocorreu.

Vez que outra, não nego, pensava na morte.

Sentia-me fracassado em relação aos dias passados e sem coragem para

enfrentar o futuro.

Sentia-me diferente das demais pessoas e doía-me a hipocrisia, sem que eu

procurasse compreender que somos quase todos doentes espirituais.

Page 200: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 195

Sitiado pelos inimigos, a fuga foi a alternativa que me empurrou ao fosso do

erro ...

Isto, porém, já vai longe, embora no calendário humano se haja passado há

pouco tempo.

Eu amo você, meu pai, como a minha mãe, a Flávia. São a minha família, o

meu coração.

Lamento haver sido, de alguma forma, responsável pelo que sucedeu depois,

em nosso lar, envolvendo vocês três.

Agora, que a consciência me liberta das algemas do remorso, oro a Deus em

favor de todos nós e me esforço para crescer e recuperar-me, prometendo a mim

mesmo que me erguerei do abismo e um dia me transformarei em uma estrela.

Há esperança no meu coração, após muito sofrimento, e amadureço na

fixação do bem que está ao nosso alcance.

Internado, em tratamento, também estudo, e se desenha uma possibilidade,

ainda remota, para que eu transforme a minha experiência em contribuição para

outros jovens, a fim de que o meu grito-advertência os ajude nos transes e desafios

da idade de incertezas.

A vida espiritual, agora que me encontro em melhor condição mental, é um

calidoscópio de surpresas.

Certo dia recebi a visita de um senhor, que me veio confortar. E porque eu

não o conhecesse, ele me afirmou ser pai do Fábio, que havia desencarnado em

1985 (1) de acidente automobilístico. Ele desejava agradecer a carta que eu fizera

ao filho, confortando-o (2).

Havia sido verdade. O Fábio, até que parecia não ir muito com a minha cara.

Mas, quando soube, no colégio, do que havia acontecido com o seu pai, eu lhe

escrevi, falando da morte e da sobrevivência, bem como da melhor maneira dele se

comportar para não dificultar a situação do ser querido.

Todo bem que se faz, sempre se transforma em conquista para o doador.

Repasso, pela memória, nossos dias, nossas conversas, nossas

discordâncias. Você fez o melhor para mim, meu pai.

Page 201: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 196

Aprendi muito com você e com o seu exemplo, com o carinho da minha

mãe...

Eu tive a felicidade de ser acarinhado por uma família bondosa, que se

empenhava em dar-me ternura e até mesmo excesso. Recordo-me do carinho dos

meus avós Olga e Antônio (3), da assistência e dedicação dos avós Dionísio Luiz e

Maria (4), dos tios de ambos os lados, particularmente do tio Luiz, parecendo-me

ainda ouvi-lo chamar-me com imenso carinho, "rato", "alemão" e outros nomes,

com o jeito todo dele ... (5)

Sempre me vêm à memória, nos últimos tempos, os assuntos e conversas

com o tio Sérgio (6) e todos os demais familiares, as primas por parte da tia Sandra

e tio Luiz, a tia Maria Helena (7) e as visitas à sua casa, enfim, são tantos corações

queridos!...

As brincadeiras com os parentes em nossa propriedade da família, com

Tadeu e Tiago (8), e o amor pela irmã Flávia.

Como eu gostaria de falar-lhe de forma que ela amadureça e seja feliz.

Confio em Deus que ela crescerá para a paz e a plenitude que merece.

Tenho recebido as visitas dos bivós Bueno, Lázara e Mentori Rossi (9) que

me constituem motivo de encorajamento.

Também vários amigos que vieram para cá em acidentes de moto e carro

são lições vivas, porque um e outro são considerados suicidas indiretos, por causa

da imprudência e desequilíbrio que lhes motivaram a morte ...

Você lutou pai, para que eu não morresse de moto, enfrentou a avó Maria e

me resguardou como pôde. É como se você adivinhasse o meu breve retorno e se

acautelasse, defendendo-me.

Graças a Deus, a visão clara da vida e ajuda dos Bons Espíritos, do Dr.

Bezerra de Menezes e de Joanna de Ângelis, posso sentir-me outro e confio no

futuro com festa nos sentimentos.

Hoje as minhas dores são morais, com alguns remanescentes no perispírito,

que eu hei de superar.

Page 202: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 197

Viva, meu pai, e cresça. Não tenho condições de sugerir-lhe nada. No

entanto, em razão de encontrar-me na realidade maior é que o conclamo à luta mais

intensa, sem amarra com os dias que passaram, e somente com as perspectivas do

futuro.

Caminharemos juntos. Ajude-me ainda um pouco mais.

Sinto saudades dos nossos papos, lavando o carro, e noutras ocasiões.

Amo minha mãe e agradeço-lhe o envolvimento de ternura que me concede.

Amo a Flávia e desejo-lhe progresso, discernimento antes das atitudes, para

que não se precipite.

Amo os nossos familiares.

Amo vocês.

Até breve, meu paizinho. Despeço-me emocionado e agradecido.

Assino como antigamente (10) e peço a Deus que tome conta de nós.

Seu filho de sempre, devotado e afetuoso.

(1) ... pai de Fábio, que havia desencarnado em 1985 – Dado confirmado

pelo pai.

(2) ... agradecer a carta - Igualmente confirmado.

(3) Olga e Antônio - Nomes dos avós paternos.

(4) Dionísio Luiz e Maria - Nomes dos avós matemos.

(5) Tio Luiz . . . rato, alemão - Informação exata.

(6) Tio Sérgio - Igualmente confirmado.

(7) Tia Sandra e tio Luiz, a tia Maria Helena – Nomes confirmados.

(8) Tadeu e Tiago - Primos do missivista.

(9) ... bivás Bueno, Lázara e Mentori Rossi - Nomes corretos.

Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 69

Page 203: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 198

5º Mensagem – 1991 – Agosto – 17/08/1991

Querido pai, a saudade é uma ponte colocada entre o passado e o presente,

falando das nossas experiências e do nosso afeto.

Ela nos traz o filme dos acontecimentos que se desenrolam com freqüência,

fazendo-nos fixar as cenas mais marcantes, às vezes, ao contributo das lágrimas.

Seu filho prossegue na busca do equilíbrio, lutando com decisão, a fim de

reencontrar-se.

A aprendizagem é longa e feita vagarosamente, em particular para mim, que

abusei da concessão do corpo ...

Não me têm faltado o carinho nem a misericórdia de Deus, ao lado da

assistência dos Bons Espíritos que, com os nossos familiares, têm-me socorrido

com verdadeiro desvelo.

Dentre estes, a bisavó Lázara tem-se constituído o anjo bom do carinho,

preenchendo a lacuna da mãe querida Lurdes, que me envolve nas suas preciosas

vibrações de amor e de saudade.

Visito nossa casa com relativa freqüência e demoro-me na saleta (1) que o

carinho da mãezinha adornou de afeto, em favor da memória do filho egoísta e

sofrido.

Como tudo é diferente do que eu pensava!

Eu supunha ser fácil retomar com brevidade, manter os contatos com o seu

e os corações queridos. Agora constato que a vida é, não como gostaríamos todos

que fosse, no modelo de cada qual.

Estou quase refeito, na aparência, dos danos causados pelo método que

escolhi para o retomo. Começo a pôr em ordem, calmamente - o nosso tempo tem

a mesma dimensão do terreno, em razão da proximidade vibratória com o nosso

planeta - a casa mental, e, embora em prolongado tratamento, continuo estudando

com os olhos postos no futuro.

Page 204: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 199

Tenho estado também no seu novo lar e acompanho-o, quanto me é possível,

haurindo paz nas suas forças.

Recordo-me de tudo quanto fazíamos juntos e comovo-me ante a lembrança

de quando lavávamos o carro e ouvíamos gravações ... (2) Eram dias de felicidade,

cuja evocação me concede alegria, repouso.

Procuro recordar todas as ocorrências felizes, assim diminuindo a ferida

provocada pela última fase, de forma que logo cicatrize ...

Tenho estado com a Flávia e espero em Deus que ela seja muito feliz,

conseguindo as vitórias que merece. A querida irmã é dotada de muitos valores e

sistema nervoso delicado, aliás, uma característica da nossa família.

Tenho estado no mesmo grupo de estudos com o Reginaldo e outros amigos.

Sou mais feliz do que mereço, pois não caí nos umbrais e não permaneci

vitimado pelos irmãos impiedosos, que me haviam iludido, graças à minha

inexperiência e rebeldia.

Meu querido pai, avance no rumo certo para Deus e para o bem, que são os

valores mais poderosos, como é do seu conhecimento.

Tenho ouvido muito, durante esta semana. A irmã Joanna trouxe-nos, a mim

e a um grupo de Espíritos necessitados, para que participássemos desta semana de

festas espirituais, e todos temos aproveitado muito bem.

Agradeço-lhe, pai, todo o carinho e dedicação, sua forma de ser que, às

vezes, eu não compreendia, sentindo-me reconhecido a Deus pela nossa família.

Beijo a mãezinha querida, a Flávia, os quatro avós, os tios e primos.

O bivô Mentori, comigo aqui, representa os nossos, e a bisa Lázara suplica

a Deus paz para todos nós.

Meu querido pai, receba o abraço de seu filho renovado, no caminho da

redenção.

Amo você e todos os nossos.

Seu filho,

(l) ... saleta - D. Lurdes reservou uma sala para orar em favor do filho.

Page 205: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 200

(2) ... ouvíamos gravações - Confirmado pelo pai.

(3) Reginaldo - Nome de amigo de Márcio que desencarnou antes.

Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 75

Page 206: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 201

3.6.2 Adulto/Terceira Idade

Os seguintes depoimentos de adultos/Terceira Idade, obtidos via

comunicação mediúnica, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, Fernando

de Lacerda, Divaldo Franco, e outros médiuns são apresentados nas próximas

páginas:

# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao

desencarne

(anos)

Tempo após o

desencarne da

comunicação

Depoimentos – Adultos/Terceira Idade

23. Camilo Castelo Branco Arma de fogo 65 28 anos

24. Marilyn Monroe Soníferos 36 4 anos

25. Amilcar Rodrigues Passos Envenenamento 30 ?

26. Anônima Envenenamento ? ?

27. Maria Cândida Envenenamento ? 12 anos

28. Antero de Quental Arma de fogo 49 27 anos

29. Hermes Fontes Arma de fogo 42 4 anos

30. Francisca Júlia da Silva Sonífero 49 35 anos

31. Jorge Arma de fogo ? 5 anos

32. Lima ? ? 5 anos

33. Luís Alves Arma de fogo 30 26 anos

34. Entrevista com uma Suicida Envenenamento 32 14 anos

35. Suicida Da Samaritana Corte da Jugular 50 6 dias

Page 207: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 202

# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao

desencarne

(anos)

Tempo após o

desencarne da

comunicação

36. Alfred Leroy Enforcamento 50 6 dias

37. Luís Fernando Botelho de Moraes Arma de fogo 29 6 meses

38. Raul Martins Envenenamento 47 3 anos

39. Joaquim Mousinho Arma de fogo 49 4 anos

40. Roberto Eduardo Saltar de Altura 26 4 meses

DEPOIMENTO 23 Camilo Castelo Branco

Muito tempo depois, mais de quatro lustros decorridos, solicitado a dizer

sobre o suicídio, eis o que seu Espírito transmitiu a um médium seu patrício:

Equivale a pedirem-me sinistra sinfonia para a ópera do Horrível.

Não sei dizer quanto é preciso; e tudo que disser não será, por assaz

deficiente, a sombra da verdade necessária. Mas não recuso o meu contingente, nem

quero perder a ocasião, que me oferecem, de mais uma vez bradar aos incautos que

se defendam de cair no abismo em que me precipitei, em aziaga hora.

Supõe-se aí que o suicídio é a morte.

Alguns creem que na devolução das carnes verminadas à podridão, está a

extinção da vida e do sofrimento.

Para esses é a libertação, a quebra da grilheta chumbada ao artelho de

forçado do martírio; como para outros é só remédio pronto a embaraços

inextricáveis de momento.

Há quem o creia cômodo fecho a uma vida de angústias; como há quem nele

veja fácil alçapão por onde se pode fugir às chicotadas do Destino.

Page 208: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 203

Para uns é cura radical de dores; para outros astuciosa maneira de fugir à

sorte adversa.

Alguns o têm como remate forçado e benemérito de desilusões; outros o

buscam como portaria franca para a região da Esperança.

Aos descrentes é finalização lógica para dificuldades e desgostos; aos

infelizes recurso último do desespero acovardado.

Uns creem conquistar com ele a eterna paz do Nada: o sono tranquilo de que

não se acorda mais; outros imaginam-no alavanca irresistível para forçar a porta do

Esquecimento.

Querem uns, com ele, esmagar remorsos de justiceiro pungir; querem

outros, com ele, escalar mais rapidamente o Céu.

E a todos enganam as tredas e alucinadoras miragens da Tentação.

Não é morte; não dá libertação; não constitui remédio.

Não extingue angústias, nem abre caminho à fuga redentora das açoitadas

do destino vingador.

Não sara dores, nem acaudilha deserções.

Não põe fim às desilusões da alma, nem encaminha visionários às sonhadas

bandas da Esperança.

Não dá, para os descrentes, razão à sua estultícia; nem aos infelizes,

consolações permeadoras do seu desespero pusilânime.

Não conduz o mísero à suprema paz do Nada, nem o acalenta no eterno sono

inacordável.

Não abre aos tristes a letárgica região do Olvido; não dá aos remorseados

mordaça para calar a grita da consciência; nem ajuda os crentes a tomar de assalto

o Céu.

Para todos o suicídio é o desengano.

Simulando defender do infortúnio, impele violentamente ao salto-mortal

para o Horror.

Não sei de nada que lhe seja comparável.

Page 209: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 204

Nem a blasfêmia, que eu suponho a suprema ofensa à Razão; nem o

fratricídio, que eu acredito a suprema ofensa à Humanidade; nem o matricídio, que

eu presumo a suprema ofensa à Natureza.

O suicídio é a suprema ofensa a Deus.

Nele, as dores redobram de intensidade; a alma impregna-se de desesperos,

que parecem infindáveis no tempo e na angústia.

Constitui a cristalização da Dor; a aflição da ansiedade que nada satisfaz; a

dentada triturante e perene do Remorso.

Eu fui suicida. Querendo fugir à cegueira dos olhos, fui mergulhar-me na

cegueira da alma.

Pensando furtar-me à negrura que cobria o meu viver, fui viver na treva

onde os suicidas curtem raivas, sem repouso; e blasfemam quando suplicam.

Fui viver na pávida região onde os réprobos se mordem e agatanham; onde

gargalham, de olhares em fogo e rangendo os dentes, os furiosos com juízo.

Aonde o suicídio arroja os seus mártires, num repelão brutal de louco, não

penetra a Luz de Deus, nem a carícia da Esperança.

Lá, ruge-se, geme-se, chora-se, soluça-se, ulula-se, blasfema-se, pragueja-

se e maldiz-se. Não existe paz; não se sabe, nem se pode orar.

– É a caverna do Sofrimento, de que Dante só vislumbrou o portal.

Sei que rábicas convulsões lá me sacudiram; que lágrimas ferventes

queimaram meus olhos cegos; mas não adrega dizê-las.

As dores descomunais não se descrevem. Sentem-se, no seu ecúleo titânico,

mas não se definem. Entram pelo infinito; são o inenarrável; são o incompreensível.

Quando o suicida supõe trancar, com a morte, a porta da Agonia, abre a do

ciclo infernal do Desespero.

Matando-se, não aniquila a vida; destrói, só num ato de inepta rebeldia, o

meio eficaz e providencial do seu progresso; e recua, voluntariamente, a hora

desejada da sua felicidade.

A vida, além do suicídio, pertence à fase humana que os homens da Terra

não conhecem, para que não têm ideias apropriadas, e a que a necessidade não criou

ainda palavras representativas. De umas e outras, todas as que aí mais dolorida,

Page 210: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 205

mais trágica e mais sugestivamente pintem o aspecto do Horrível, não dão a

impressão esfumada dos tormentos que o suicida entra a curtir, quando, por ingênua

ou velhaca presunção, supõe conquistar, por uma violência da sua vontade, o termo

do seu sofrer.

Isto é assim. É bom? É mau? É assim. É como é, e, como é, temos de aceitá-

lo.

É possível que por aí haja quem fizesse coisa mais de perfeição; mas Deus

esqueceu-se, lamentavelmente, de os consultar antes de completar a sua obra.

Page 211: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 206

Foi uma falta grave; mas já vem tarde a grita indignada dos mestres desse

mundo, para remediá-la.

Ponham de lado prosápias de emendar o que está feito.

Guardem as sabedorias, que podem melhor servir para adubar manhas e

poucas-vergonhas nos conclaves palreiros da asnice em que aí pontificam.

Conjuro os que me lerem a que me creiam sem experimentar.

O desastre será irremediável, se não o fizerem.

Aceitem, aceitem o fato tal ele é.

Aceitem a vida como a puderem fazer. Corrijam-na, corrigindo-se.

Amoldem-se às situações, ainda as mais desesperadoras.

A tudo mais Deus prove de remédio; mas Ele é que é o juiz da oportunidade

de aplicá-lo.

Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, as aberrações, o desespero,

as perseguições, a desgraça, a fome, a desonra, a degradação, a ignomínia, a lama,

tudo, tudo que de mau, de injusto, ou de rastejante em desprezo a Terra lhes possa

dar, que são ainda coisas excelentes em desiludida comparação ao que de melhor

possam chegar, pelo caminho do suicídio.

Camilo Castelo Branco – Do País da Luz – Vol. 4 – Cap. 42 – Camilo

Castelo Branco (médium Fernando de Lacerda – 1918)

Page 212: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 207

DEPOIMENTO 24 Marilyn Monroe

A revista "Reformador" de julho de 1966, páginas 147148, na matéria

intitulada "Entrevista com o Além", narra o emocionante encontro de Humberto de

Campos com Marilyn Monroe, onde o Espírito Marilyn Monroe relata uma pouco

sobre sua "morte".

O cenário do referido encontro é o tranqüilo Memorial Park Cemetery em

Hollywood, e a comunicação foi recebida por Chico Xavier na noite de 29/04/1966,

em Los Angeles, ao tempo em que andou pelos Estados Unidos, em companhia de

Waldo Vieira.

Humberto de Campos caminhava com alguns amigos pelo local, quando

descobriu o túmulo da atriz que, aliás, encontrava-se ali mesmo, a uns poucos

passos, ainda evidentemente enferma, repousando no colo de uma senhora.

Um dos amigos presentes, fez as apresentações de praxe. Veja abaixo a

narrativa do próprio Humberto de Campos:

Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire

Boulevard, em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do

“Memoriam Park Cemetery”, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon

Avenue.

A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos

libertos da experiência física, e entramos.

Tudo, no interior, tranqüilidade e alegria.

Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à

oração.

Entre as árvores que a primavera pintara de verde novo, numerosas

entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas nas outras, à feição de

convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e

extenso.

Page 213: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 208

Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais

guardavam o acesso para o interior de pequena construção que hospedava as cinzas

de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo.

A um canto, li a inscrição: “Marilyn Monroe – 1926–1962.”

Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam:

– Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou

até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no

Mundo Espiritual?

– Sim – respondeu ele, e acentuou com expressão significativa – não se

detenha, porém, a tatear-lhe a legenda mortuária...Ela está viva e você pode

encontrá-la, aqui e agora...

– Como?

O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino

refúgio no largo recinto, e falou:

– Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência...

A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente

enferma, repousava a cabeça loura no colo de simpática senhora que a tutelava.

Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes.

Informados de que nos seria lícito abordá-la, para alguns momentos de conversa,

aproximamo-nos, respeitosos.

Clinton fez a apresentação e aduzi:

– Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.

– Um brasileiro a procurar-me, depois da morte?

– Sim, e porque não? – acrescentei – a sua experiência pessoal interessa a

milhões de pessoas no mundo inteiro...

E o diálogo prosseguiu:

– Uma experiência fracassada...

– Uma lição talvez.

– Em que lhe poderia ser útil?

Page 214: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 209

– A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que

fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiram os filmes e que

lhe recordam no mundo a presença marcante ...

– Quem gostaria de acolher um grito de dor?

– A dor instrui...

– Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para

cogitar de filosofia.

– Mas fale mesmo assim...

– Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito de beleza e

fortuna, emancipação e sucesso...Isso dá popularidade e a popularidade é um

trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculos de grandeza moral,

incessantemente, no circo do cotidiano.

– Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira

exclusiva?

– Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto

da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para

obter a liberdade...

Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a

controlá-la.

A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece

ao poder, ao dinheiro, à inteligência...

Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra

inteira, dali mesmo, em Hollywood, e ajuntei:

– Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer

mencionar a liberdade do sexo?

– Especialmente.

– Porquê?

– Concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de

modo geral, se julga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na

maioria das vezes, compromete as bases da vida.

Page 215: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 210

Agora que regressei à Espiritualidade, compreendo que a reencarnação é

uma escola com muita dificuldade de funcionar para o bem; toda vez que a mulher

foge à obrigação de amar, nos filhos, a edificação moral a que é chamada.

– Deseja dizer que o sexo...

– Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e

renovação, capaz de ser guiado para a luz ou para as trevas, conforme o rumo que

se lhe dê.

– Ser-lhe-ia possível clarear um pouco mais este assunto?

– Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento

necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de

caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas

e na esfera das obras espirituais, e, se não for respeitado por uma sensata

administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado

pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram nos níveis mais baixos da

evolução.

– Miss Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvir os conceitos – devo

asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe

alterou a lucidez.

– A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada – acentuou ela

sorrindo.

Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os

mortos lhes possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmos, os vivos, se

encontrarão, mais tarde, diante desse mesmo problema...

A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo.

Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão.

Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sentimento, por não saber

governar a minha liberdade...

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 211

Depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de

orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me

expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose de pílulas

mensageiras do sono...

– Conseguiu dormir na grande transição?

– De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto,

inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara,

sentindo-me duas pessoas a um só tempo...

Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identificar-me, porque lograva

mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara...

Infelizmente para mim, o aposento abrigava alguns malfeitores

desencarnados que, mais tarde, vim a saber, me dilapidavam as energias.

Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com o meu corpo

inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço

permissão para não relembrar...

– Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza

de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz

anestesia e repouso?

– Efetivamente, não tive a intenção de fugir da existência, mas, no fundo,

estava incursa no suicídio indireto.

Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregara-me a excessos que

me arrasaram as oportunidades de elevação...

Ultimamente fui informada por amigos daqui de que não me foi possível

descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência

perniciosa de Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de

discernimento quanto às leis que regem o equilíbrio da alma.

Page 217: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 212

– Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da

obsessão... – Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criaturas humanas, é um

flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a ciência do mundo se decida

a estudar-lhe os problemas e resolve-los...

Humberto de Campos – Estante da vida – Cap. 1 – Encontro em Hollywood /

Revista Reformador – 1966 – Julho – Pag. 147 – Entrevista com o Além. Nota:

As circunstâncias de sua morte indicam para uma overdose de barbitúricos,

e têm sido objeto de especulação.

Embora oficialmente classificado como um "provável suicídio", a

possibilidade de uma overdose acidental, bem como de homicídio, não foram

descartadas.

Wikipedia – Marylin Monroe

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 213

DEPOIMENTO 25 Amílcar Rodrigues Passos

Suicidei-me para não sofrer e sofro porque me suicidei.

Tentei fugir da vida para ser livre e encontro-me encarcerado porque

busquei a liberdade de mentira.

Procurei diminuir o meu prazo de desdita e alarguei os anos de infortúnio.

Sou o exemplo vivo do paradoxo humano. No entanto, o drama que

culminou numa tragédia sem limite teve aí somente o desfecho de uma vida

arbitrária que, ao longo dos anos se caracterizou por pequenas paixões, todas

assinaladas por inumeráveis cometimentos de egoísmo e de prepotência.

Quando jovem, fui vítima de tuberculose na coluna óssea, conhecida como

Mal de Pott. A marca que me afeava o corpo não ficou somente na forma física,

mas assinalou-me profundamente a alma. Alma que, por sua vez, era a geradora da

anomalia externa, em razão de delitos muito graves que, à época, eu ignorava,

porque escondidos pelo véu da reencarnação.

Arrastei-me, no mundo, qual moderno Quasímodo, jugulado a uma surda.

revolta contra aqueles que apresentavam uma boa anatomia movimentando-se com

agilidade e esbelteza.

Ruminando a amargura que construí em torno de um fenômeno natural e

dando-lhe uma dimensão que, em verdade, não possuía, porque não me era escassa

a ternura que me envolvia, na família, quanto não me fora negado o amor, que é um

luar para todos que têm necessidade de refrigério ...

Acreditei que era mais infeliz do que todo mundo, assim tornando-me

rebelde natural e amargo em relação a todas as pessoas e coisas.

Transferia da desdita em que me situei por vontade própria – necessidade

de evolução – para os outros, numa ironia mordaz, todo o fel que me comprazia

acumular.

Page 219: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 214

Cheguei aos trinta anos pela misericórdia divina, que eu não suspeitava,

quando fui acometido de insuficiência cardíaca, efeito natural do problema que

agora mais me afetava, por desorganização dos ossos, a bomba generosa do

coração.

As longas dispnéias, martirizando-me noites e dias, fizeram-me procurar,

apesar do conhecimento cristão, a solução mentirosa do suicídio.

Suicídio que, em verdade, jazia latente em mim desde os anos verdes da

adolescência, quando a enfermidade me surpreendeu.

Atenazado pelas minhas debilidades, planejei, num golpe de audácia, uma

partida que não me tornasse mais desventurado nem a ninguém fizesse mais infeliz.

Submetido a cuidadoso tratamento e sob disciplina medicamentosa rígida

adicionei, propositadamente, substância corrosiva que eu sabia possuidora de

efeitos letais imediatos, a uma dose que deveria ingerir no silêncio da noite,

mergulhando, então, no abismo da própria loucura.

Sem de nada suspeitar, face ao meu estado, o médico ingênuo atestou morte

natural.

Mas eu sabia do crime perpetrado, e o fato da consciência saber é o pior

instrumento de castigo para o trânsfuga.

As exéquias fúnebres, as preces de saudade da família, ao invés de me

lenirem a aflição, mais me atormentavam.

Os comentários entretecidos em torno da minha vida, ao reverso de me

ajudarem, mais infelicidade me impunham, porque agora a máscara da hipocrisia

tombara e eu me via como sou: mesquinho, ingrato, perverso e, sobretudo, déspota,

em relação à vida e à misericórdia de Deus.

Acompanhei, alucinado, a decomposição cadavérica, em um estado que a

verbalização dos conceitos não pode expressar.

O desejo de morrer, mas um morrer que fosse o apagar da consciência,

violentava-me ao ponto da exaustão, sem sossego e sem trégua.

Page 220: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 215

A dispnéia cruel, a dor insuportável da coluna e os vibriões no corpo a

devorarem-me, sandeus, as carnes putrefatas, eram-me uma terapia singela diante

da dor moral derivada das presenças cruéis de seres que gargalhavam de mim,

dilapidando-me os sentimentos mais caros e ofendendo-me; apontavam-me o corpo

de que eu me quisera libertar, sofrendo-o por desejá-lo destruir.

Quando me pude evadir do cemitério e busquei correr sob a terrível

respiração difícil num corpo alquebrado, aquele corpo em decomposição

acompanhava-me, arrastado na minha fuga ...

A loucura é uma palavra muito frágil para definir o tormento de uma

consciência culpada.

Não sei o tempo em que assim estive.

Os epítetos infamantes, a chalaça deprimente, os doestos afligentes e as

agressões tripudiando sobre mim, que chegavam de toda parte, longe de qualquer

compaixão, eram apenas a aduana de um inferno ilimitado ao qual me precipitaria

logo mais, quando tombei nas mãos dessa imensa e alucinada súcia de seres

vampirescos que me conduziram a região muito dolorosa, onde tenho purgado,

como se fora uma animália desprezível, até que a dor, espezinhando-me ao infinito,

fez que a consciência subjugada e o orgulho ralado imprecassem socorro à divina

misericórdia de Deus, facultando que minha mãe fosse buscar-me, trazendo-me até

aqui, onde estou em repouso há pouco tempo, em estágio de renovação, para ser

transferido para tratamento hospitalar.

Convidado a depor nesta confraria, como se fosse cirurgiado de um câncer

que libera o carnicão e as putrefações, sinto a alma aliviada, mais ainda por poder

dizer do bem-estar que agora me domina.

Sobre o recinto que me agasalha e a muitos outros doentes que aqui se

albergam por nímia misericórdia do amor, suplicamos que Deus mantenha este

hospital de almas, para a consolação e amparo dos infelizes, onde nos acolhemos.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 216

Tende cuidado com o orgulho, esse amor-próprio que é um cáustico

destruindo a vida; combatei-o com vigor, sob a luz do amor de Deus que tudo

corrige, sem a necessidade da interferência humana malévola, e tudo opera

mediante as sábias leis da misericórdia e do bem.

Rogo perdão por ser tão desditoso e suplico orações para as necessidades

imensas dos suicidas, que somos todos os rebeldes das leis de Deus.

Amílcar Rodrigues Passos – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 8 – Fuga

Desastrosa

Page 222: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 217

DEPOIMENTO 26 Anônima

Sou uma náufraga recolhida por mãos misericordiosas, que tateia em densa

treva, na praia em que se depara. Embora socorrida não me lampeja luz alguma,

nem sinto se acalmarem as rudes agonias que trovejam, sem cessar, no meu espírito

vencido por mil dilacerações contínuas...

Somente a pouco e pouco dou-me conta da situação em que bracejo,

exausta.

Fugi da ilusão que supunha realidade e encontrei-me na realidade que

acreditava não passasse de ilusão...

Em báratro infeliz, a mente não me responde as indagações, assoberbada

pelas surpresas incessantes em que me enovelo, desditosa...

Saí da vida procurando a morte e a morte me prendeu a vida que não cessa,

desmoralizando a extinção da morte...

Busquei lenitivo para uma ferida moral, e, desatenta, coloquei ácido na

ulceração, que, desde então, queima e requeima sem trégua...

Desejei destruir o corpo e o carrego esfacelado como carga em

apodrecimento sem fim, de que me não consigo desobrigar...

Amei ou supus amar e tudo não passava de alucinação e desejo, que converti

em ódio devorador, característico da minha loucura inominável.

Tudo foi rápido, mas se transformou num inferno de que não posso fugir...

Lembro-me, sim, das razões da minha desgraça superlativa e as recordações

são chapas ardentes sobre o cérebro, a devorarem as lembranças...

Aparecem em imagens vivas e mergulham em densas, tenebrosas trevas ...

... Concluíra a guerra e se aguardava a chegada dos pracinhas brasileiros

entre expectativas e júbilos.

Page 223: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 218

A noite estava abafada e a minha cabeça estourava.

Tranquei-me no banheiro. Houvera planejado o ato da vingança e o

momento chegara (Oh! desdita dos infelizes que só pensam em si mesmos, no

vórtice da loucura que os domina!).

Repassei os acontecimentos e as lágrimas espocavam, abundantes,

escorrendo-me dos olhos sem aplacarem ó incêndio da alma, nem amortecerem o

tropel convulsionado da agonia que me matava demoradamente...

Parecia-me o suicídio a única solução. Era grave demais o meu erro e

descomunal minha dor. Acabar com tudo e libertar-me de tudo — pensava,

desvairada...

Tremiam-me todas as fibras — como agora, a lembrança da tragédia — e

estava transtornada. Experimentava a sensação, no dédalo em que me debatia, de

que mãos vigorosas me seguravam e ruído ensurdecedor me dificultava o raciocínio

entorpecido.

Estava a sós, e, no entanto, tinha a impressão de que me encontrava numa

arena referta de expectadores alucinados...

Repassei os fatos: o homem a quem amara e jurara amar-me, abandonara-

me. Sabendo-me fecundada e descobrindo-se pai, informado de que eu já não podia

ocultar as aparências, descartara-se, dizendo-me que era meu o problema...

Afinal — asseverara — nunca me amara. Constatava que mantivéramos

momentos agradáveis... nada mais. Não podia prender a sua vida a minha. Eram

diferentes as nossas posições sociais e financeiras...

Tudo estava, pois, acabado... Lamentava, apenas. Nada mais... e se foi.

Não há como dizer o que me veio depois. O fogo devorador do desespero e

do ódio. Só então pensei na vergonha sobre mim e minha extremada mãe viúva, que

tudo fazia pela minha ventura, acarinhando um sonho de felicidade futura, agora

impossível. Com inauditos sacrifícios fizera-me estudar e sorria na esperança de um

amanhã ditoso...

Page 224: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 219

Não haverá punição para o homem desnaturado? — perguntava-me.

Só a mulher deve pagar o preço da sua loucura? Ela cai ou vai derrubada?

Onde Deus e a justiça? O violador caminha ditoso e a desgraçada deve carregar por

todo o sempre a desventura de um momento de ludibrio e obsessão? (Enganava-

me, então, no exame da Consciência Universal, e desvairava.)

Os raciocínios egoístas, através dos quais exigia a reparação de outrem e

não a minha, esgotaram-me as poucas reservas de forças morais por me faltar apoio

de uma fé religiosa relevante, embora houvesse as nobres soluções...

Ingeri, então, o tóxico. Foi repentino, e, no entanto, dura uma eternidade.

Aguardei o sono, que jamais chegou, o esquecimento e o fim que nunca me

alcançaram...

Passados os primeiros momentos, experimentei a ação do veneno e quis

gritar. As dores eram superlativas... Dei-me consciência do que fizera e o

arrependimento feriu-me, impondo-me a necessidade de retroceder. Tarde demais.

Quanto consegui foram contorções, convulsões violentas, impossibilitada de

controlar os membros, os órgãos, agora em combustão e dor animal...

Sentia-me expulsar do corpo sem dele sair...

... Enlouqueci literalmente quando percebi que me iam sepultar, sentindo-

me viva e desejando informar que não morrera; o horror obnubilou-me a réstia de

razão e desfaleci; 'estarrecida, as primeiras pás de terra sobre o caixão abafado,

dentro do qual me agitava, sem poder evadir-me ...

O tempo e a realidade converteram-se num pandemônio insuportável...

Perdi todos os contatos com o raciocínio, acompanhando as ocorrências em abismos

de crescente desesperação, como se fora possível sofrer-se mais, além da minha

aflição...

E chegavam-me maiores angústias e pesadelos...

Acompanhei a decomposição cadavérica, sentindo-lhe a degeneração nas

fibras da alma, sem desamarrar-me dos tecidos...

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 220

Um dia, ou melhor, uma noite, porquanto sempre era noite, horrorosa e fria,

fui assaltada por “animais” que me arrancaram da tumba e me conduziram a sítios

hediondos, onde viviam, furnas soturnas, pestosas, e ali submeteram-me a

inqualificável julgamento, tornando-me sua escrava, subjugada e servil as suas

paixões...

Sempre ignorando o tempo, fui informada de que minha mãe morrera de

angústia após o meu gesto e adicionei esse novo martírio a todos os que me faziam

sucumbir, sem morrer... Como aspirava a morte, o repouso, o esquecimento!

Impossível! Verdadeiros cães nos vigiavam, a mim e a outros tantos desditosos que

vivíamos em magotes.

E como se não bastasse toda essa dor, passei a ouvir o choro, na minha

consciência, do ser que morrera comigo, no ventre, quando me flagelara com o

suicídio. (Meus Deus, piedade!)

As ideias foram-me voltando é das dores físicas lancinantes passei, também,

as dores morais que, então, me visitavam. Amiúde passei a comburir-me na caldeira

infernal em que vivia sem, contudo, morrer ...

Voltei-me mentalmente contra o meu sedutor e o ódio fez-me descobrir que

se eu não me extinguira ao matar-me, a vida prossegue para todos, após a morte e

ele pagaria, também, a seu turno...

Realmente, sem que eu saiba explicar, encontrei-o lá...

Apareceu-me atoleimado e a minha horrenda visão despertou... Desejei

esganá-lo e não pude fazê-lo...

...Compreendi a Justiça de Deus que a todos alcança e constatei que a desdita

dele não diminuía a minha...

Comecei a pensar em Deus, lembrei-me da prece... Sonhei com minha mãe,

numa breve pausa em que desfalecera, sentindo-a libertar-me...

Page 226: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 221

Era realidade, porém, não sonho.

Minha santa mãezinha rogara a Deus pela filha desventurada e lograra do

Céu a ventura de conseguir libertar-me.

Após fazer-me repousar, amparada por um anjo de amor, trouxeram-me

aqui, a fim de vos relatar minha experiência infeliz e rogar-vos intercederdes por

mim...

Estou cansada...

Ajudai-me!... Sinto sono!... Adeus!...

Anônima – Depoimentos Vivos – Cap. 12 – Suicida

Page 227: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 222

DEPOIMENTO 27 Maria Cândida

Amigos da Caridade, rogai a Deus pelos desgraçados como eu, os que

buscamos voluntariamente a morte, a fuga a responsabilidade e encontramos a vida

como flagelo punitivo a rude cobardia em que nos ocultávamos.

Sou suicida e não tenho palavras com que traduza o meu relato.

Amei, na Terra, ou supus amar.

Hoje eu sei que o sentimento de que fui vítima não era o do amor na sua

plenitude, mas sim de paixão animal. Ferida nos meus brios de mulher preferi

desertar pela porta mentirosa do autocídio a enfrentar os dissabores e a realidade

que me ensejavam elevação espiritual, caso confiasse no bálsamo do tempo que

cicatriza todas as feridas, mas que, também, úlcera as que os desvairados produzem

na alma, quando tentam desvencilhar-se traiçoeiramente dos grilhões materiais a

que estão jugulado por outros erros pregressos...

Matei-me e, no entanto, o corpo se negou libertar-me da vida...

Quis fugir e fui condenada a demorar-me prisioneira, exatamente porque

desejei ludibriar as Leis da Justiça Divina...

Casada, surpreendi meu esposo, que era fraco de caráter, com outra mulher

e, incapaz de compreender-lhe a debilidade moral, deixei-me alucinar pelo ciúme

doentio que alimentava, desgraçando-me irreparavelmente.

Ingeri um pesticida em moda, por ódio, porque o suicídio é a forma de os

fracos se vingarem de quem os feriu ou supõem por eles terem sido atingidos.

Antes, porém, que se consumasse o apagar da consciência, desejei recuar,

em face as dores que me dilaceravam o aparelho digestivo, produzindo-me asfixia,

insuportável angústia. Todavia, desta viagem não se retorna com a facilidade com

que se inicia.

Ouvia os gritos dos meus filhinhos, via o desespero estampado nas suas

faces enquanto eu própria experimentava dilacerantes dores e alucinações. ..

Os primeiros socorros foram inúteis, tendo a sensação de que minha cabeça

se transformava num vulcão com todo o corpo a arder em chamas devoradoras.

Page 228: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 223

Como se não bastasse, acompanhei o corpo a autópsia, sentindo-me viva e

experimentando as incursões dos bisturis e instrumentos que me cortavam o corpo.

Não, não há termos para descrever o que eu supunha ser um pesadelo e, no

entanto, era apenas o início das dores...

Após um tempo sem fim, despertei. Estava encarcerada no túmulo com o

corpo em decomposição e não posso traduzir o horror que de mim novamente se

apossou.

Experimentei a presença dos vibriões nos meus tecidos, enquanto,

simultaneamente, desejando morrer, sentia-me presa por tenazes que me

amarravam ao cadáver apodrecido e eram mais poderosas do que a vontade débil e

vacilante.

Não sei quanto tempo penei entre morrendo e vivendo, sem saber

exatamente o que acontecia, escutando os gritos que me eram punhais afiados nas

carnes doridas da alma...

As vozes dos meus filhos chamavam-me sem que eu pudesse fazer por eles

qualquer coisa. É isto um sofrimento selvagem, inenarrável.

Depois, quando me consegui libertar dos despojos carnais que me pareciam

assumir a forma de um perseguidor inclemente, caí em mãos criminosas de

vagabundos, que eram comparsas do mesmo crime.

Arrastaram-me como um trapo, entregando-me exausta a uma súcia de

malfeitores que me vilipendiaram a dignidade de mulher e me execraram até o

último grau, reprochando-me o gesto tresloucado e dizendo-me que aquilo era a

morte que eu escolhera...

Em vingança contínua, incessante, levaram-me ao lar por várias vezes, a fim

de que eu visse o resultado da minha sandice.

Eu que me matara para não suportar a ideia de saber o meu esposo com

outra, agora, no lar que um dia me pertencera, encontrava a punição de vê-lo casado

com aquela que fora o motivo indireto da minha desgraça.

Oh! quantas punições horrendas!

Page 229: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 224

Meus filhos, nas mãos da outra, constituíam o látego que eu me aplicava,

vendo-a maltratá-los, por ser ela uma mulher que desejava apenas o conforto e a

irresponsabilidade, não as tarefas que o matrimônio naquelas circunstâncias lhe

impunha.

. . .E eu era a culpada de todas as lágrimas dos frágeis filhinhos deixados em

plano secundário. Não mais os suportando, após algum tempo, intimou-os a força

numa Casa pia quando estava ela própria tornando-se mãe.

O remorso, o desespero, numa eternidade, jugularam-me a um fardo de dor

incomparável, despertando-me tarde demais.

Agora medito no que fiz e tudo quanto minha imprevidência produziu.

Eu me permitira ser materialista, intelectual, vazia e fofa, devorada pela

trêfega vaidade do nada.

Deparo-me, assim desarmada, nesta conjuntura inominável.

Minha mãe que a tudo acompanhava do além rogou misericórdia para mim...

E eu que debandara do lar e da vida, que odiara, que desprezara a existência por

capricho e vilania devo, agora, voltar aos braços da mulher odiada como sua filha,

pelo processo redentor da reencarnação...

Sofrida, marcada, recomeçarei a reparar ao seu lado o meu e o seu crime, na

expectativa de, no seu regaço materno, perdoá-la e, junto ao esposo atormentado,

conceder-lhe como filha e receber-lhe o indispensável perdão. Na condição de irmã

dos meus filhos, com debilidade orgânica e padecendo as dores que me infligi,

suplicar-lhes em silêncio, misericórdia e compaixão nas condições lamentáveis em

que devo recomeçar...

Passaram-se já doze anos desde aquele dia. Logo mais começará para nós

um novo dia...

Ninguém foge a verdade nem ludibria a consciência: é código da Divina Lei.

Antes de mergulhar no corpo, aqui venho suplicar que oreis por mim e por

todos nós, os que preferimos a loucura a esperança e a deserção ao dever.

Deus nos abençoe!

Cândida Maria – Depoimentos Vivos – Cap. 44 – Fuga e Realidade

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 225

DEPOIMENTO 28 Antero de Quental

Nascido na ilha de S. Miguel, nos Açores, em 1842 e desencarnado por

suicídio em 1891.

DEPOIS DA MORTE Apenas dor no mundo inteiro eu via, E tanto a vi amarga e inconsolável, Que num véu de tristeza impenetrável Multiplicava as dores que eu sofria. Se vislumbrava o riso da alegria, Fora dessa amargura inalterável, Esse prazer só era decifrável Sob a ilusão da eterna fantasia. Ao meu olhar de triste e de descrente, Olhar de pensador amargurado, Só existia a dor, ela somente. O gozo era a mentira dum momento, Os prazeres, o engano imaginado Para aumentar a mágoa e o sofrimento O REMORSO Quando fugi da dor, fugindo ao mundo, Divisei aos meus pés, de mim diante, A medonha figura de gigante Do Remorso, de olhar grave e profundo.

Era de ouvir-lhe o grito gemebundo, Sua voz cavernosa e soluçante!… Aproximei-me dele, suplicante, Dizendo-lhe, cansado e moribundo: — «Que fazes ao meu lado, corvo horrendo, Se enlouqueci no meu degredo estranho, Acordando-me em lágrimas, gemendo?» Ele riu-se e clamou para meus ais: «Companheiro na dor, eu te acompanho, Nunca mais te abandono! Nunca mais!»

Antero de Quental – Parnaso de Além-Túmulo – Cap. 10 – Antero de Quental

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CONFISSÃO Divaguei pelo mundo em estertores A ruminar atroz padecimento, E via nada mais que meu tormento Em raciocínios desanimadores. Busquei na morte o nada, um linimento, Com que escapasse à sanha de agressores, Acicates de sombras, fel e dores, Sem recordar o Pai, por um momento... Fui um louco, entre tantos tresloucados; Um solitário, em meio aos desolados, Em rigoroso e atento masoquismo. Hoje, na morte, abraço as leis da Vida E esperançoso trago, enriquecida, A consciência à luz do Espiritismo.

Antero de Quental – Seara da Esperança – Cap. 9 – Confissão

Nota:

Portador de distúrbio bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era

permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta Delgada,

cometendo suicídio no dia 11 de setembro de 1891, com dois tiros, num banco de

jardim junto ao Convento de Nossa Senhora da Esperança, onde está na parede a

palavra "Esperança", no Campo de São Francisco, cerca das 20:00 horas.

Wikipedia – Antero de Quental

Venho cumprir a minha promessa. Muito gosto sinto nisso. Cumpro assim

uma obrigação, espontaneamente tomada, e tento levar aos tristes da Terra um

pouco da experiência por mim adquirida à custa de tanto sofrimento.

É do suicídio que vou falar.

Há pessoas aí para quem o suicídio constitui uma libertação aparente.

Sentindo-se vítimas de enfermidades que reputam incuráveis, ou de

desgostos que crêem sem consolação, começam a odiar a vida e a senti-la como um

fardo pesadíssimo que as esmaga.

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Anseiam pela morte.

Se crêem em Deus, pedem-lha, de preferência a pedirem o alívio dos seus

sofrimentos. Se não crêem, maldizem a Natureza ou a fatalidade das coisas, que se

conserva indiferente ao seu martírio, e lhes não traz, presto, o termo dele.

Não procuram pelos meios naturais, contidos em si próprios, combater o

enervamento, a apatia sofredora e fatalista em que se mergulham.

Parece que sentem um doloroso prazer em avolumar em si próprios as

causas do seu penar, inventando novos motivos de dor, agrandando os existentes,

exprimindo a sua fraqueza por lamentos e queixumes amargurados e permanentes,

criando em volta da sua personalidade uma atmosfera de tristeza, que realmente

parece não poder romper-se senão pela morte.

Quando um sofredor chega a pensar no suicídio, esse ato maldito fica desde

logo suspenso sobre a sua cabeça, como recurso derradeiro, como esperança

sorridente!

Não se pensa mais na libertação da desgraça pelos meios humanos, como a

paciência, a resignação, a conformidade, a reação, a força de vontade, a luta

encarniçada contra as causas reais ou presumidas do seu sofrer, a lembrança das

pessoas queridas, que fazem sofrer também, e que, por amizade, abnegação ou

dever, eram obrigados a respeitar e afastar da sua própria mágoa enfim, nem mesmo

pela dignidade própria, pela valentia, e ainda pelo medo que a morte, o

desconhecido, exerce sobre todas as criaturas terrenas.

Nada disso lhes acode no seu desalento.

Pensam logo no recurso extremo que está na sua mão, mas não lhes

pertence: — o suprimirem a vida, que involuntariamente possuem.

Nós, os tendenciosos ao suicídio, desprezamos os vastíssimos recursos que

Deus nos forneceu para podermos sair triunfantes da adversidade e da tentação; e

recorremos só àquele que Ele não nos permite usar.

A tentação ao suicídio é um pesadelo em que nos envolvemos e de que

somos tomados, acordados.

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Apossa-se de nós, revolve-nos em si, domina-nos, sem nos deixar fazer o

mais ligeiro esforço para o afastar.

Aquele que quiser reagir, acordará desse pesadelo e reagirá. Não é preciso

muita energia. Basta um pouco de vontade e de bom senso.

Às vezes, um ligeiro acidente na nossa vida, um acréscimo de dor, ou um

simples prazer, inesperadamente vindo, ocasiona a reação. Bastava que tomássemos

essa reação como a deveríamos tomar, e persistíssemos nela para nos libertarmos,

de vez, da obsessão que nos arrasta ao suicídio.

Se nesses momentos de tréguas a razão fosse auxiliada pela vontade, o fraco,

que só pensa em abandonar a luta, como um desertor covarde abandona o seu posto

de honra, não mais pensaria na fuga; e alma nova viria enrijar a sua fibra dessorada

e fortalecer o seu Espírito abatido.

A curto trecho os seus sofrimentos, reais ou imaginários, desapareceriam,

ou, quando menos, aligeirar-se-iam, por modo que já não se fariam sentir com

dureza; e raiaria nova aurora de paz e de alegria para o desgraçado que, pouco antes,

supusera sem remédio a sua dor e sem fim o seu martírio.

Quantos, ao lerem-me agora, sentirão na sua alma feliz a profundeza desta

verdade? Quantos elevarão a Deus uma prece de conforto próprio, e de louvor a

Ele, ao reconhecerem que foi assim que se libertaram dos tentáculos da monstruosa

"pieuvre", bem mais terrível que a de Victor Hugo?

E ainda não sonham o horror de que se libertaram a tempo!

Infelizmente, quando um lampejo da razão ilumina o nosso cérebro,

entenebrecido pelo desalento, nós deixamo-lo fugir, como se fosse um relâmpago

que nos surpreendesse, perdidos, em noite de pavorosa tempestade.

Ao clarão desse relâmpago, vê-se a paisagem negra e desolada, cheia de

precipícios, de torrentes caudalosas; mas não procuramos orientar-nos, para não nos

perdermos, despenhados ou envolvidos nas torrentes.

A luz deslumbrou-nos, e a nossa razão não a soube aproveitar a tempo para

orientar-se.

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E lá voltamos a caminhar, às cegas, transidos de sofrimento e de desespero,

maldizendo tudo, ansiados pelo termo da jornada, e blasfemando contra quem

mandou o escuro, o vento e a água, e contra nós próprios, porque, não tendo podido

adivinhar a tempestade, a tempo de impedir a viagem, nos sentimos tomados e

acossados por ela.

Quem há que, depois de uma noite assim tempestuosa, que chegou quase a

supor não ter fim, ou, pelo menos, em que esperou não acabar com a vida, não ria,

ao ver despontar a manhã tranquila e luminosa, dos pavores e dos receios de que se

sentiu presa durante aquele tempo?

As recordações desses momentos eternos de desespero ficam constituindo

fatos inapagáveis na sua memória, e são perene motivo para intimamente louvar-se

da sua coragem, se foi pela luta que se lhes escapou; da sua sabedoria, se foi pela

prudência; da sua fé, se foi pela paciência em esperar a passagem da tormenta; e

servem para citar como exemplo e conselho àqueles que se vejam em transes

semelhantes.

O suicida é o desgraçado que, surpreendido pela tempestade, se toma de

espanto, e desespera do fim preferindo deixar-se arrastar às brenhas em que se

precipita voluntariamente, procurando ser esmagado.

Para esse não raia a manhã, que vem próxima; e não raia, não porque ela

não venha, imutável, serena e clara; mas porque ele não soube encher-se de coragem

para esperar, e esqueceu-se de que ela viria, fatalmente, a despeito de tudo.

Um pouco mais de constância e firmeza, e a luz de Deus, o bálsamo

suavíssimo de tanta dor quase infinita, viria espancar as trevas e os terrores

apocalípticos que lhes desvairavam a imaginação, fazendo-lhes ver monstros

fabulosos nas coisas em que a claridade lhes deixa ver árvores cheias de flor e fruto,

rochas lavadas e claras, assentes nos seus eternos troncos graníticos, que os séculos

edificaram, e só os séculos derruirão.

Eu fui destes, e ter-me-ia sido bem fácil ser dos primeiros.

O meu Espírito fraco, porém, não se sentia com fôlego para prolongar a

resistência.

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A tristeza, feição natural do meu organismo, vinha pouco a pouco fazendo

esboroar o pedestal de energia em que a minha razão e a minha vontade assentavam.

Cada desilusão nova criava um elo para a cadeia infernal que me acorrentava

à dor e me puxava para o suicídio.

Por fim, já não carecia de motivos exteriores; eu mesmo os inventava, numa

ânsia desesperada de torturar-me.

A tristura em que me envolvia não me tornava revoltado; fazia-me, antes,

um resignado à fatalidade, à morte. E daí esse eterno aspecto melancólico e passivo,

que me granjeou a consideração de santo.

Em minha consciência não protesto contra aquela consideração, porque

alguma coisa de real nela existia, que me valeu a tempo.

Nunca soube protestar, nem maldizer.

Sentia-me morrer na morte das ilusões e esperanças que tive, como têm

todos na infância.

Parecia que a fatalidade invencível pesava sobre o meu organismo moral, a

esmagar-me, sem esperança de alívio; mas, tudo isso não me impelia à raiva, nem

à blasfêmia.

Intimamente sentia bem que Deus existia.

Que eu não podia ter nascido só para vítima do atroz sofrimento em que era

dilacerado; e que alguma coisa mais do que aquilo que os homens conheciam

haveria para além desse mundo, onde me supunha enteado.

Essa crença mais me desvairava a razão, por não compreender como sofria

tanto sem achar em mim justificação para isso; e, sem idéia blasfema ou irreverente,

nos largos momentos de meditação, admirava-me de que o Deus em que eu cria, e

que acreditava de bondade, de justiça e de amor, me deixasse só, entregue ao meu

desespero e à minha angústia, sem vir em meu socorro, reanimando as esperanças

que caíam, fortalecendo ou substituindo a saúde que desaparecia.

E queria, no meu cérebro finito, que alguns centímetros mede e alguns

gramas pesa, compreender e julgar o infinito, o incomensurável!

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O não ter encontrado nunca a mais racional solução para este problema não

me derrubou dá minha íntima crença espiritual, tanto mais mística e serena quanto

mais me aproximava do fim, que a tentação fazia antever, à minha ânsia de

liberdade; mas aproximava-me mais deste fim, não sei bem se pelo desejo de lhe

conhecer o "depois", se pelo anseio de lhe pôr termo, confiado em que a vida, que

esperava ver surgir, me compensaria.

À proporção que ia afrouxando na resistência, ia-me familiarizando com a

idéia da morte; e esta familiaridade concluía por achar coisa natural que, não vindo

ela buscar-me, eu fosse em sua procura.

Alguns rebates de medo peias consequências, que me faziam, às vezes,

estremecer a consciência, foram desaparecendo, ou, pelo menos, foram diminuindo

de valor, pelo hábito de os sentir.

Não compreendia, confesso, esses rebates, ante a sorridente esperança,

única que tinha, da libertação pela morte; como, às vezes, me surpreendia também,

sem grande motivo próximo, em grave aflição num grande desejo de morrer e num

deliberado propósito de suicidar-me.

Essa surpresa e essa descoberta lançavam, sem eu saber, os clarões que eu

desprezava!

Achava estranho que isso sucedesse em momentos em que tinha de me

confessar mais livre de motivos reais de sofrimento; como achava igualmente

estranho que, nas ocasiões mais torturantes, e em que o suicídio devia vir como

derradeiro libertador, fosse quando sentia mais inflamados os rebates de horror por

esse suicídio.

Na minha ânsia de explicar tudo, eu buscava logo as razões desses fatos; e

dava-me por satisfeito ao reconhecer que, no primeiro caso, devia ser a minha dor

que acordava de um adormecimento passageiro e distraído; e, no segundo, era o

instinto de conservação a reagir contra a idéia da morte.

Procurava sempre a causal de tudo, exclusivamente em mim.

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A minha educação positiva, o modo de ser para mim, por mim próprio

criado, reagiam contra a idéia, possível e por outros preconizada, de que alguma

coisa poderia vir de fora influir em nós.

Se pudesse ou devesse vir, teria vindo, fatalmente, o auxílio de Deus, tanta

vez pedido para beneficiar-me, nos momentos em que me sentia livre de culpa e

quase cria sem razão o meu martírio.

Logo que esse auxílio não vinha da única fonte que tinha poder para mo

ministrar, nada mais podia servir de agente exterior para acionar os nossos

sentimentos íntimos.

Era este o derradeiro argumento com que o meu positivismo adquirido e

sistemático vencia a sentimentalidade e a crença modestíssima, nascidas e vindas

da minha infância, e acalentadas na minha idiossincrasia de triste.

Assim, mal aparelhado para a resistência, tinha de cair, como caí.

A minha concentração natural avolumava, no meu íntimo, as causas

apreciáveis de desgosto, e impedia que aqueles que me cercavam pudessem influir

na sua destruição.

Procurava ocultar de todos o meu desígnio como um avaro procura ocultar

o seu tesouro.

Receava que mo arrancassem pela persuasão!

Enquanto poderia desejar que a persuasão e a lógica me destruíssem o

desígnio do suicídio, não tomava este bastantemente a sério, nem o sentia tão

próximo, que pudesse ou devesse manifestar a alguém tão condenável e

desarrazoado propósito; quando o tomei a sério bastantemente, para o considerar

como coisa deliberada, esta mesma deliberação impedia que eu pudesse manifestá-

lo, com receio de que mo obstassem.

Era o sentir-me bem na torrente maldita que me levaria ao despenhadeiro,

em vez de lutar pela vida, agarrando-me aos ramos, na aflição desesperada que leva

um náufrago a agarrar-se numa navalha de barba, se lha estendessem!

Vencido, aniquilado, tomado da máxima covardia, cedi.

E dizem, às vezes, que o suicídio não é uma corvadia!

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Que faz quem se suicida?

Foge. Que é quem foge? Um covarde.

E não se diga que para buscar a morte é preciso coragem. Não. A morte, que

se busca pelo suicídio, não é a morte, é a libertação de um sofrimento que nos

tortura, e a que não temos força para resistir; é a fuga duma luta a que não sabemos

ser superiores, ou que não temos a energia para sustentar.

O suicida não procura a morte a sangue frio, para se entregar a ela; procura

a como um bem; busca-a como a um refúgio, a um prazer.

Não a teme, estima-a.

É o local onde supõe esconder-se de um inimigo que o persegue, e a que se

não sente com valor para fazer frente; é o sítio roto e sem vigilância por onde supõe

evadir-se de um lugar, que crê intolerável prisão. Na sua ação não há um átomo de

valor; há o egoísmo mais condenável; o abandono do seu posto na peleja; o

esquecimento dos sentimentos de brio que o deviam animar na solidariedade da

vida para com os outros, e o desprezo dos sentimentos de interesse que essa mesma

solidariedade levou outros a lhe prodigalizarem.

É uma completa defecção moral e material. É a confissão absoluta e eterna

da sua covardia, da sua inópia, da sua pusilanimidade e do seu desrespeito a Deus,

que lhe deu essa vida, e a todas as noções de pundonor e de coragem, que o deveriam

levar a manter intacto um depósito que lhe fizeram, e a conservar um lugar que lhe

destinaram.

Suprema fraqueza, suprema covardia!

Eu cedi a essa covardia. Tenho que expiá-la.

Compreendi, então já tarde, a razão dos debates da consciência contra o

suicídio, e daqueles solilóquios fúnebres em que me surpreendia, enaltecendo a

idéia de suicidar-me, como que prelibando o prazer que pela morte me viria.

Era que a tentação demoníaca da lenda não constitui uma palavra vã, nem o

amparo do anjo de guarda é uma ficção de velhas beatas e de dogmas religiosos.

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O demônio da tentação é que pode não ser a lendária figura da Idade Média,

mas, criaturas perversas, filhas de Deus como eu e tu, vivendo no mal e do mal

agentes, que vêm pôr à prova a nossa constância, a nossa firmeza, a nossa fé; e os

pretensos anjos de guarda, aquelas santas individualidades que souberam resistir à

tentação, conformar-se na adversidade e praticar e amar o bem, que, ao vernos

baquear, tombar para o abismo, tentam advertir-nos ou susternos na queda...

Ah! que se soubessem por que preço pagamos a libertação, pelo suicídio,

ninguém se suicidaria!

Os maiores martírios da Terra são doces consolações em comparação com

os mais suaves sofrimentos de um suicida!

E é porque Deus castigue? Não; é porque tem de ser.

É da lei. É fatal, como é da lei girar a Terra no seu eixo, e as estrelas na sua

órbita.

Esse sofrimento não é cego e igual. É harmônico, equitativo, justo, como é

justo, equitativo e harmônico tudo que obedece à lei imutável do Universo, que

Deus firmou com a sua vontade e perfeição.

E nós, aí na Terra, a querermos apreciar com a nossa inteligência

microscópica a grandeza do Infinito!

É querermos iluminar o mundo, na treva de uma noite, com a luz de uma

lamparina!

Avalias tu, ou alguém, que é o Infinito?

Se avaliares, terás apreciado Deus e a sua obra.

Antero de Quental – O Martírio dos Suicidas – Cap. 4 – O Problema

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DEPOIMENTO 29 Hermes Fontes

Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes (Boquim, 28 de

agosto de 1888 – Rio de Janeiro, a 26 de dezembro de 1930) foi um compositor e

poeta brasileiro.

Suicidou-se com um tiro na cabeça em sua casa, em Ipanema, dias depois

de confessar aos amigos que estava amargurado com as situações em que se

envolvera por apoiar a Revolução de 1930.

Wikipedia – Hermes Fontes

I

Antes a nossa vida terminasse

No turbilhão de pó da sepultura;

Antes a morte fosse a noite escura

Onde o ser nunca mais se despertasse.

Ah! se a nossa existência se acabasse

Cessaria decerto a desventura!

Contudo a vida é o bem, que se procura,

Morrer é ver a vida face a face.

Todavia se sofro, ó Deus clemente,

É que sou o criminoso, o delinquente

E o enfermo sem paz e sem saúde.

Perdoai à minh’alma se blasfemo,

Ponde em meu coração o dom supremo

Da humildade que é a auréola da virtude.

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II

Um dia eu me senti como se fora

O infeliz Ashaverus legendário

E andei no mundo, triste e solitário,

Sentindo frio n’alma sofredora,

Sonhei na morte a estrada salvadora,

Ao meu grande martírio imaginário

E sem notar meu trágico desvario

Afundei-me na treva aterradora.

Tanta vez a minh’alma enferma e aflita,

Sonhou a paz nirvânica, infinita,

E apenas tenho a dor que me devora!

Ó Senhor, abrandai as minhas penas,

Inda sou entre as lágrimas terrenas,

Uma lama imortal que sofre e chora!

Hermes Fontes – Chico Xavier – O Primeiro Livro – 3ª Parte – Cap. 20 – Vozes

do sofrimento (Na sessão do dia 28–02–1934)

Tragou-me a voragem do Desconhecido...

Isolei-me demasiadamente da vida, e ao meu recolhimento profundo, fatal,

só a Dor me acompanhou.

Eu não soube integrar-me nela. E, tomando vulto os espectros interiores dos

meus próprios pesadelos, das minhas íntimas dúvidas, para escapar-me aos seus

tentáculos atrozes, sonhei e arquitetei a volúpia do aniquilamento.

A vida impõe o intercâmbio das emoções: o interior e exterior devem casar-

se, sem que os vultos funestos do desânimo e da morte se apossem da nossa

individualidade.

É na integração do homem na vida que reside a Felicidade.

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Quem se isola do mundo, e procura só no interior desempenhar a vida, sofre

a asfixia dos seus sonhos e das suas esperanças.

A morte tem, para os desiludidos, a aparência fulgurante de uma Canaã.

O último sonho dos derrotados é a Morte...

Mas, ó almas desiludidas, volvei para outros horizontes o olhar das vossas

esperanças!

Não há morte! Ninguém pode eliminar de si próprio a vida, que é imortal!

Romper o equilíbrio orgânico da matéria é somente provocar um estado de

vida em que os erros são mais nítidos ao Espírito, e as dores doem muito mais!

Não vos seduza, desiludidos, a miragem da morte!

Ela não é a Canaã dos vossos sonhos; não é a tranquilidade que ambicionais;

não é o aniquilamento que vos seduz, como me seduziu a mim...

É, apenas, a porta tumular que conduz à consciência da nossa própria dor!

Se quereis o remédio para a vossa desilusão, para a vossa mágoa, para a

vossa dor — amai-as.

O único meio de vencer os espectros do aniquilamento, os vultos fatais da

Sombra — é aceitá-los e amá-los.

São estágios precisos à evolução da nossa vida! Não há morte! O suicídio

agrava e acentua a vida!"

Hermes Fontes – O Martírio dos Suicidas – Cap. 1 – Ilusões Funestas

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 238

DEPOIMENTO 30 Francisca Júlia da Silva

Por mais vos fira o sonho, a rajada violenta Do temporal de fel que enlouquece e vergasta, Suportai, com denodo, a fúria iconoclasta E o granizo cruel da lúrida tormenta. Carreia a dor consigo a beleza opulenta Da verdade suprema, eternamente casta; Recebei-lhe o aguilhão que nos lacera e arrasta, Ouvindo a voz da fé que vos guarda e apascenta. De alma erguida ao Senhor varai a sombra fria!... Por mais horrenda noite, há sempre um novo dia, Ao calor da esperança – a luz que nos enleva... A aflição sem revolta é paz que nos redime, Não olvideis na cruz redentora e sublime Que a fuga para a morte é um salto para a treva.

Francisca Júlia da Silva – Vozes do Grande Além – Cap. 18 – Suicídio (13/10/1955)

Na agonia da luz o astro-rei purpurina... Leves tarjas de noite a manchar o horizonte... Uma estrela a piscar remove a névoa fina E espelha-se, feliz, no regato defronte... Soluça um pombo além e se alteia e se inclina E voa sem que o Sol novo rumo lhe aponte... Humilde rola chora a gemer na campina, Alheia ao prado em flor e à carícia da fonte... Chega a sombra afinal... Aparece a tristeza No arrulho que ficou por gemidos em bando, Quais cordas a estalar numa lira retesa... Assim, num dia assim, a morrer sem alarde, Chorando eu disse adeus e ele partiu chorando, A renascer na Terra onde estarei mais tarde...

Francisca Julia – Antologia dos Imortais – Cap. 28 – Adeus (1962)

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 239

Francisca Julia César da Silva Münster (Xiririca, 31 de agosto de 1871 –

São Paulo, 1 de novembro de 1920) foi uma poetisa brasileira. Nasceu em Xiririca,

hoje Eldorado Paulista

(...)

Casa-se, em 1909, com Filadelfo Edmundo Munster (1865–1920),

telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi padrinho de seu casamento o

poeta e amigo Vicente de Carvalho. Nessa época já estava compenetrada em

pensamentos místicos. Isola-se e vive para o lar, recebendo visitas esporádicas de

jornalistas que publicam ainda poesias suas.

Em 1912 sai seu último livro, Alma Infantil, em parceria com o irmão Júlio

César da Silva, que alcança notável repercussão nas escolas do Estado quando

grande parte da edição é adquirida pelo Secretário do Interior, na época, Altino

Arantes.

Passa a explorar temas como a caridade, a fé, vida após a morte,

reencarnação e ideologias orientais diversas (budismo). Descobre, em 1916, a

doença do marido (tuberculose) e mergulha numa depressão profunda, diz ter

visões, que está para morrer e tem alucinações provenientes da intoxicação do ácido

úrico.

Com o passar dos anos a situação se agrava, suas poesias – as poucas que

ainda escreve – retratam a vontade de uma mulher que almeja a paz espiritual fora

do plano terrestre. Diz, em entrevista a Correia Junior, que sua "vida encurta-se

hora a hora". Mesmo assim volta a escrever para A Cigarra e promete um livro de

poesias chamado Versos Áureos.

Em 1920, Filadelfo, desenganado pelos médicos, vem a falecer no dia 31 de

outubro.

Horas depois do cortejo, no dia seguinte, Francisca Júlia vai para o quarto

repousar e suicida-se ao ingerir excessiva dose de narcóticos, vindo a falecer na

manhã de 1 de novembro de 1920.

Page 245: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 240

DEPOIMENTO 31 Jorge

Quem agradece com sinceridade traz aos benfeitores aquilo de melhor que

possui.

Sou pobre vítima do crime e do suicídio que vem depositarem vossas preces

uma singela flor de gratidão.

No entanto, para comentar o favor recebido, peço permissão para que

minhas lembranças recuem no tempo.

Corria o ano de 1917 e sentia-me um homem feliz entre os mais felizes. Era

moço, otimista e robusto.

Avizinhava-me dos trinta anos e sonhava a organização de meu próprio

santuário doméstico. Anita era minha noiva.

Aqueles que amaram profundamente, guardando, inalteráveis, no peito, a

primavera das primeiras aspirações, poderão compreender a floração de esperança

que brilhava em minha alma.

A escolhida de minha mocidade encarnava para mim o ideal da perfeita

mulher.

Preparávamos o futuro, quando um primo, de nome Cláudio, veio viver em

nossa casa no Rio, à caça de estabilidade profissional para a juventude, necessitada

de maiores experiências.

Acolhido carinhosamente por meus pais e por mim, e mais moço que eu

próprio, passou a ser meu companheiro e meu irmão.

O infortúnio, porém, como que me espreitava de perto, porque Cláudio e

Anita, ao primeiro contato, pareceram-me transfundidos na ventura de velho

conhecimento.

Pouco a pouco, reconheci que a criatura querida me escapava dos braços e,

mais que isso, notei que o amigo se erguia em meu adversário, porque blasonava

de minha perda, ironizando-me a inferioridade física.

Page 246: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 241

No decurso de alguns meses, por mais tentasse distanciá-los discretamente,

Cláudio e Anita estreitavam os laços da intimidade afetiva, até que fui apeado de

meu projeto risonho — tudo quanto a Terra e a vida me ofereciam de melhor.

Instado para entendimento pela antiga noiva, dela recolhi observações

inesperadas. Nosso compromisso era apenas ilusão…

Andara mal inspirada… Eu não representava para ela, em verdade, o tipo

ideal do companheiro… Não seríamos felizes… Melhor desfazer a aliança amorosa,

enquanto o tempo nos favorecia visão justa…

Senti-me desfalecer. Preferia a morte à renúncia. Entretanto, era preciso

sufocar o brio humilhado, asfixiar o coração e viver…

Para vós outros, semelhantes confidências podem constituir uma confissão

demasiado infantil, todavia, dela necessito para salientar o benefício recolhido em

nossas preces.

Recalquei o sofrimento moral. Escoaram-se os dias.

Cláudio era filho adotivo de nossa casa, comensal de nossa mesa. Sentindo-

se meu irmão, não suspeitava que um ódio terrível se me desenvolvia no coração

invigilante.

Meses transcorreram e a gripe, em 1918, castigava acidade. Estendera-se a

epidemia e Cláudio não lhe resistiu ao assalto. Caiu sob invencível abatimento. Fui-

lhe o enfermeiro desvelado, no entanto, mal podia suportar o devotamento de que

o via objeto, por parte da mulher que eu amava.

Não compreendia por que se confiara ela a tamanha versatilidade, e,

observando-a, firme e abnegada, em torno do rapaz, entreguei-me gradativamente

à ideia do crime.

Numa noite de febre alta, em que o doente reclamava maiores

demonstrações de paciência e carinho e em que Anita, fatigada, obtivera, enfim,

alguns momentos de sono, eliminei todas as dúvidas. A guisa de remédio,

administrei ao enfermo o veneno que o afastaria para sempre de nós.

Page 247: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 242

Na manhã imediata, um cadáver representava a resposta de meu despeito às

esperanças da mulher que me preterira.

A morte, contudo, não conseguiu desuni-los, porque Anita, embora afagada

por mim, fez-se arredia e desconfiada. Parecia procurar em meus olhos a sombra

do remorso que passara a flagelar-me o coração.

E, apática, desalentada, renunciando ao porvir, rendeu-se à depressão

orgânica, que, aos poucos, lhe abriu caminho para o sepulcro.

Revelava-se contente por entregar ao polvo invisível da tuberculose a taça

do próprio corpo.

Quando me vi sozinho, sem os dois, mergulhei no desânimo e no

arrependimento.

E entre a silenciosa interrogação de meus pais e a tortura interior que passou

a possuir-me, escutava-lhes a voz, desafiando-me em cada canto:

— Jorge! Jorge! que fizeste? que fizeste de nós? Jorge! Jorge! Pagarás,

pagarás!…

Os dois fantasmas inexoráveis impeliam-me à morte. Inútil tentar

resistência. Percebia-os em toda parte, fosse em casa, na via pública ou dentro de

mim…

E o desejo de minha própria exterminação começou a empolgar-me… Em

dado instante, resolvi não mais me opor à tentação.

Meus pais eram bons, carinhosos e devotados. Não lhes podia dar o

espetáculo de um suicídio aberto.

Na manhã fatídica, porém, notifiquei à minha mãe que faria a limpeza na

arma de um amigo. Ela pediu-me cuidado.

Contemplei-a enternecidamente pela última vez. Aqueles cabelos brancos

rogavam-me que eu vivesse!…

Fixei a mesa de escritório em que meu pai, ausente, costumava trabalhar, e

a figura dele visitou-me a imaginação, induzindo-me à calma e ao respeito à vida…

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 243

Hesitei. Não seria mais justo continuar sofrendo no mundo para, com mais

segurança, reparar meus erros? Entretanto, as acusações, em voz inarticulada,

martelavam-me o cérebro.

— Jorge, covarde! que fizeste de nós?!…

Decidi-me sem detença. Demandei o quarto de dormir e com o revólver

emprestado espatifei meu crânio.

Ah! desde então suspirei por morar no inferno de fogo terrestre que seria

benigno comparado ao tormento que passei a experimentar!…

Creio hoje que as grandes culpas nos transformam o espírito numa esfera

impermeável, em cujo bojo de trevas sofremos irremediável soledade, punidos por

nossa própria desesperação.

Tenho a ideia de que todos os padecimentos se congregavam em mim.

Desejava ver, possuía olhos, e não via.

Propunha-me ouvir qualquer voz familiar, identificava meus ouvidos, e não

ouvia.

Queria movimentar as mãos e, sentindo-as embora, não conseguia acioná-

las.

Meus pés! Possuía-os, intactos, entretanto, não podia movê-los.

Achava-me na condição dos mutilados que prosseguem assinalando a

presença dos membros que a cirurgia lhes arrancou.

Comigo uma vida nova de fome, sede, amargura e remorso passou a

desdobrar-se…

O estampido não tinha fim. Sempre a bala aniquilando-me a cabeça…

Depois de largo tempo, cuja duração não me é possível precisar, notei que

vozes sinistras imprecavam contra mim… Pareciam nascer de furnas sombrias

situadas em minha alma…

E sempre envolto na sombra sibilante, sentia um fogo diferente daquele que

conhecemos na Terra, uma espécie de lava comburente e incessante, vertendo

chamas vivas, ase entornarem de minha cabeça sobre o corpo…

Page 249: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 244

Debalde acariciava o anseio de dormir. Torturava-me a fome, sem que eu

pudesse alimentar-me.

Algumas vezes, pressentia que nuvens do céu se transformavam em

temporal… Guardava a impressão de arrastar-me dificilmente sobre o pó, tentando

recolher algumas gotas de chuva que me pudessem dessedentar…

Mas, como se eu estivesse vivendo num cárcere inteiriço, sabia que a chuva

rumorejava por fora sem que eu lograsse uma gota sequer do precioso líquido.

E, em meio aos tormentos inomináveis, sofria mordidelas e alfinetadas,

quais se vermes devoradores me atingissem o crânio, carcomendo-me todo o corpo,

a partir da planta dos pés.

Em muitas ocasiões, monstros horripilantes descerravam-me as pálpebras

que eu não conseguia reerguer e, como se me falassem através de pavorosas janelas,

gritavam sarcasmos e palavrões, deixando-me mais desesperado e abatido.

Sempre aquela sensação da cabeça a esmigalhar-se, dos ossos a se

desconjuntarem e da mente a obstruir-se, sob o império de forças tremendas que,

nem de leve, até hoje, minha inteligência poderia definir ou compreender…

De nada me valiam lágrimas, petitórios, lamentações…

Ansiava pela felicidade de tocar algum móvel de substância material…

Clamava pela bênção de poder transformar as mãos numa concha simples,

a fim de recolher algo do pó terrestre e localizar-me por fim…

Assim vivi na condição de um peregrino enovelado nas trevas, até que

alguém me trouxe ao vosso templo de orações. Agora que recuperei a noção do

tempo, digo-vos que isso aconteceu precisamente há um ano…

Pude conversar convosco, ouvir-vos a voz. O médium que me acolheu, à

maneira de mãe asilando um filho, era um ímã refrigerante.

Transfundir-me nas sensações de um corpo físico, de que me utilizava

transitoriamente embora, deu-me a ideia deque eu era uma lâmpada apagada,

buscando reanimar-me na chama viva da existência que me fora habitual e cujo

calor buscava reaver desesperadamente.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 245

Depois de semelhante transfusão de forças, observei que energias novas

fixavam-se-me no espírito, refazendo-me os sentidos normais e, então, pude

gemer…

Tive a felicidade de gemer como antigamente, de chorar como se chora no

mundo…

Conduzido a um hospital, recebi tratamento. Decorridos dois meses, passei

a frequentar-vos o ambiente.

Aprendi a encontrar o socorro da oração e, mais consciente de mim,

indaguei por Cláudio e Anita. Obtive a permissão de revê-los.

Oh! prodígio! reencontrei-os enlaçados num lar feliz, tão jovens quanto

antes… Recém-casados, desfrutavam aventura merecida… Marido e mulher,

haviam reconstituído a união que eu furtara…

Aproximei-me deles com imensa emoção. A noite avançava plena…

Extático, rememorando o pretérito, reconheci que os dois haviam entrado

nas vibrações radiosas da prece, passando, logo após, ao sono doce e tranquilo.

Minha surpresa fez-se mais bela. Afastando-se suavemente do corpo físico,

ambos estenderam-me os braços, em sinal de perdão e de amor…

E, enquanto me entregava ao pranto de gratidão, alguém que está convosco

(Meimei), e é para todos nós uma irmã devotada e infatigável, anunciou-me aos

ouvidos:

— Jorge, o novo dia espera por você. Cláudio e Anita, hoje reencarnados,

oferecem-lhe ao coração a bênção de novo abrigo!…

Em verdade, você receberá um corpo castigado, um instrumento

experimental em que se lançará à recuperação da harmonia…

A fim de restaurar-se, sofrerá você como é justo, mas todos nós, na ascensão

para Deus, não prescindiremos do concurso da dor, a divina instrutora das almas…

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 246

Regozije-se, ainda assim, porque, neste santuário de esperança e ternura,

será você amanhã o filho abençoado e querido!…

Despedi-me, radiante. E agora, tomado de fé viva, trago-vos a mensagem de

meu reconhecimento.

Oxalá possa eu merecer a graça de um corpo torturado e doente, em que,

padecendo, me refaça e em que, chorando, me reconforte…

Sei que, para as minhas vítimas do passado e benfeitores do presente, serei

ainda um fardo de incerteza e lágrimas, contudo, pelo trabalho e pela oração,

encontraremos, enfim, o manancial do amor puro que nos guardará em sublime

comunhão para sempre.

Amigos, recebei minha ventura! Para exprimir-vos gratidão nada tenho…

Mas, um dia, estaremos todos juntos na Vida Eterna e, com o amparo divino,

repetirei convosco a inesquecível invocação desta hora: — “Que Deus nos

abençoe!…”

Jorge – Instruções Psicofônicas – Cap. 18 – Drama na sombra

Nota:

No encerramento de nossas atividades na noite de 9 de julho de 1954,

tivemos a presença de Jorge, um irmão que nos era desconhecido e com quem

tomáramos o primeiro contato um ano antes.

Mobilizando as faculdades psicofônicas do médium, relatou-nos o seu

“drama na sombra”, oferecendo-nos com ele preciosos elementos de estudo.

Ouvindo-o, lembramos-lhe a primeira manifestação, em julho de 1953,

quando foi auxiliado por nossos Benfeitores Espirituais, através de nosso Grupo.

Apresentara-se como um louco. Sustentava a cabeça entre as mãos,

queixando-se desesperadamente, e alegando que trazia o crânio estilhaçado pela

bala de revólver com que exterminara o próprio corpo e cujo estampido parecia

eternizar-se dentro de seu cérebro.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 247

Regressando ao nosso Grupo com o presente relato, mostra como age sobre

nós a Lei de Causa e Efeito.

Homicida direta e indiretamente e suicida, torna-se obsidiado pelas suas

vítimas, após o crime em que se comprometeu na existência da carne, fazendo-se

presa de Espíritos infernais nas regiões inferiores a que desceu pelo suicídio e

somente consegue reequilibrar-se, assimilando com boa vontade o auxílio que lhe

foi prestado pelos Espíritos Benevolentes e Amigos.

Importante notar que as suas vítimas com delitos menores, voltam à

reencarnação antes dele e ser-lhe-ão pais terrestres, em futuro próximo, para que

dentro do “carma” elaborado pelo trio, possam os três caminhar unidos nas

provações expiatórias com que se redimirão diante da Lei.

Page 253: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 248

DEPOIMENTO 32 Lima

Venho da escura região dos mortos-vivos, à maneira de muitos vivos-mortos

que se agitam na Terra.

O Espiritismo foi minha grande oportunidade. Fui médium.

Doutrinei.

Contribuí para que irmãos sofredores e transviados recebessem uma luz para

o caminho.

Recolhi as instruções dos mestres da sabedoria e tentei acomodar-me com

as verdades que são hoje o vosso mais alto patrimônio espiritual.

Fui consolado e consolei.

Doentes, enfraquecidos, desesperados, tristes, fracassados, desanimados,

derrotados da sorte, muitas vezes se reuniam junto de nós e junto de mim…

Através da oração, colaborei para que se lhes efetivasse o reerguimento.

Mas, no círculo de minhas atividades, a dúvida era como que um nevoeiro

a entontecer-me o espírito e, pouco apouco, deixei-me enredar nas malhas de velhos

inimigos ame acenarem do pretérito — do pretérito que guarda sobreo nosso

presente uma atuação demasiado poderosa para que lhe possamos entender, de

pronto, a evidência…

E esses adversários sutilmente me impuseram à lembrança o passado que se

desenovelou, dentro de mim, fustigando-me os germes de boa vontade e fé, assim

como a ventania forte castiga a erva tenra.

Enquanto a vida foi árdua, sob provações aflitivas, o trabalho era meu

refúgio. No entanto, à medida que o tempo funcionava como calmante celeste sobre

as minhas feridas, adoçando-me as penas, o repouso conquistado como que se

infiltrou em minha vida por venenoso anestésico, através do qual as forças

perturbadoras me alcançaram o mundo íntimo.

Page 254: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 249

E, desse modo, a ideia da autodestruição avassalou-me o pensamento.

Relutei muito, até que, em dado instante, minha fraqueza transformou-se em

derrota.

Dizer o que foi o suicídio para um aprendiz da fé que abraçamos, ou

relacionar o tormento de um Espírito consciente da própria responsabilidade é tarefa

que escapa aos meus recursos.

Sei somente que, desprezando o meu corpo de carne, senti-me sozinho e

desventurado.

Perambulei nas sombras de mim mesmo, qual se estivera amarrado a

madeiro de fogo, lambido pelas chamas do remorso.

Após muito tempo de agoniada contrição, percebi que o alívio celeste me

visitava. Senti-me mais sereno, mais lúcido…

Desde então, porém, estou na condição daquele rico da parábola evangélica,

porque muitos dos encarnados e desencarnados que recebiam junto de mim as

migalhas que nos sobravam à mesa surgem agora, ante a minha visão, vitoriosos é

felizes, enquanto me sinto queimar na labareda invisível do arrependimento,

ouvindo a própria consciência a execrar-me, gritando:

— Resigna-te ao sofrimento expiatório! Quando te regalavas no banquete

da luz, os lázaros da sombra, hoje triunfantes, apenas conheceram amarguras e

lágrimas!…

Imponho-me, assim, o dever de clamar a todos os companheiros quanto aos

impositivos do serviço constante.

A ação infatigável no bem é semelhante à luz do Sol, a refletir-se no espelho

de nossa mente e a projetar-se de nós sobre a estrada alheia.

Contudo, no descanso além do necessário, nossa vida interior passa a retratar

as imagens obscuras de nossas existências passadas, de que se aproveitam antigos

desafetos, arruinando-nos os propósitos de regeneração.

Page 255: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 250

Comunicando-me convosco, associo-me às vossas preces. Sou o vosso

Irmão Lima, companheiro de jornada, médium que, por vários anos, guardou nas

mãos o archote da verdade, sem saber iluminar a si próprio.

Creio que um mendigo ulcerado e faminto à vossa porta não vos inspiraria

maior compaixão.

Cortei o fio de minha responsabilidade…

Amigos generosos estendem-me aqui os braços, no entanto, vejo-me na

posição do sentenciado que condena a si mesmo, porquanto a minha consciência

não consegue perdoar-se.

Sinto-me intimado ao retorno…

A experiência carnal compele-me à volta.

Antes, porém, da provação necessária, visito, quanto possível, os ambientes

familiares de nossa fé, buscando mostrar aos irmãos espiritistas que a nossa mesa

de fraternidade e oração simboliza o altar do amor universal de Jesus-Cristo.

Temos conosco aquele cenáculo simples, em que o Senhor se reuniu aos

companheiros de sublime apostolado…

De todas as religiões, o Espiritismo é a mais bela, por facultar-nos a prece

pura e livre, em torno desse lenho sagrado, como sacerdotes de nós mesmos, à

procura da inspiração divina que jamais é negada aos corações humildes, que

aceitam a dor e a luta por elementos básicos da própria redenção.

Estou suplicando ao Senhor me conceda, oportunamente, a graça de

reencarnar-me num bordel. Isso por haver desdenhado o lar que era meu templo…

Indispensável que eu sofra, para redimir-me, diante de mim mesmo.

Não mereço agora o sorriso e os braços abertos de nossos benfeitores,

perante o libelo de meu próprio juízo.

Cabia-me aproveitar o tesouro da amizade, enquanto o dia era claro e

quando o corpo carnal — enxada divina — estava jungido à minha existência como

instrumento capaz de operar-me a renovação.

Page 256: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 251

Ah! meus amigos, que as minhas lágrimas a todos sirvam de exemplo!…

Sou o trabalhador que abandonou o campo antes da hora justa…

O tormento da deserção dói muito mais que o martírio da derrota.

Devo regressar…

Reentrarei pela porta da angústia.

Serei enjeitado, porque enjeitei…

Serei desprezado, por haver desprezado sem consideração…

E, mais tarde, encadear-me-ei, de novo, aos velhos adversários. Sem a forja

da tentação, não chegaremos ao reajuste.

Rogo, pois, a Deus para que o trabalho não se afaste de minhas mãos e para

que a aflição não me abandone…

Que a carência de tudo seja socorro espiritual em meu benefício e, se for

necessário, que a lepra me cubra e proteja para que eu possa finalmente vencer.

Não me olvideis nas vibrações de amizade e que Jesus nos abençoe.

Lima – Instruções psicofônicas – Cap. 23 – Companheiro em luta

Nota:

A fase terminal de nossas tarefas, na noite de 12 de agosto de 1954, trouxe-

nos à presença antigo companheiro de lides espíritas em Belo Horizonte, que

passaremos a nomear simplesmente por Irmão Lima, já que o respeito fraternal nos

impede identificá-lo plenamente.

Lima, que era pai de família exemplar, desfrutava excelente posição social

e, por muitos anos, exerceu os dons mediúnicos de que era portador em ambientes

íntimos.

Em 1949, como que minado por invencível esgotamento, suicidou-se sem

razões plausíveis, trazendo, com isso, dolorosa surpresa a todos os seus amigos.

Na noite a que nos referimos, naturalmente trazido por Amigos Espirituais,

utilizou-se das faculdades psicofônicas do médium e ofertou-nos o relato de sua

história comovente, que constitui para nós todos uma advertência preciosa.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 252

DEPOIMENTO 33 Luís Alves

Meus amigos:

Chamo-me Luís Alves, e, trazido ao recinto por devotados instrutores,

recomendam que eu vos fale alguma coisa acerca de meu caso, que,

indiscutivelmente, se partisse de outra criatura, talvez não me recebesse crédito

algum, na hipótese de encontrar-me ainda encarnado entre os homens.

Tão triste quão bizarra, minha história provoca impressões diversas, desde

a agonia ao riso franco, fazendo de mim um sofredor e um truão.

Muitas almas aparecem no berço, a fim de lutar. E muitas se escondem no

sepulcro, para aprender.

Nasci na Terra para cumprir determinada tarefa no socorro aos doentes, sob

o signo da solidão individual, para que mais eficiente se tornasse meu concurso a

benefício dos outros, porém, em chegando aos trinta de idade, e vendo-me pobre e

sozinho, apesar dos múltiplos trabalhos de enfermagem que me angariavam larga

soma de afetos, entreguei-me, acovardado, ao desespero e, com um tiro no coração,

aniquilei meu corpo.

Ah! Meus amigos, desde esse instante, começou a minha odisseia singular,

porque me reconheci muito mais vivo doque antes, continuando ligado à minha

carcaça inerte.

Não dispunha de parentes ou de amigos que me solicitassem os despojos.

Entregue a uma escola de Medicina, chumbado ao meu corpo, passei a servir

em demonstrações anatômicas.

Completamente anestesiado, ignorava as dores físicas, não obstante cortado

de muitos modos; contudo, se tentava afastar-me da múmia que passara a ser minha

sombra, o terrível sofrimento, a expressar-se por inigualável angústia, me

constringia o peito, compelindo-me a voltar.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 253

Dezenas de médicos jovens estudavam em minhas vísceras os problemas

operatórios que lhes inquietavam a mente indecisa, alegando que meus tecidos

cadavéricos eram sempre mais vivos e mais consistentes, mal sabendo que aminha

presença constante lhes mantinha a coesão.

Ninguém na Terra, enquanto no corpo denso, pode calcular o martírio de

um Espírito desencarnado, indefinidamente jungido aos próprios restos.

Minha aflição parecia não ter fim. Chorava, gritava, reclamava… mas, por

resposta da vida, era objeto diário da atenção dos estudantes de cirurgia, que

procuravam em mim o auxílio indireto para a solução de enigmas profissionais, a

favor de numerosos doentes.

Ouvia a meu respeito incessantes observações que variavam do carinho ao

sarcasmo e do ridículo à compaixão.

Muitos me fitavam com piedoso olhar, mas muitos outros me sacudiam de

vergonha e de sofrimento, através dos pensamentos e das palavras com que me

feriam e ofendiam a dolorosa nudez.

Com o transcurso do tempo, desgastou-se-me a vestimenta de carne nas

atividades de cobaia, mas, ainda assim, professores e médicos afeiçoaram-se-me ao

esqueleto, que diziam original e bem-posto, e prossegui em meu cárcere oculto.

Habitualmente assediado por aprendizes e estudiosos diversos, suportava,

além disso, constante visitação de almas desencarnadas, viciosas e vagabundas, que

me atiravam em rosto gargalhadas estridentes e frases vis.

Vinte e seis anos decorreram sobre meu inominável infortúnio, quando,

certo dia, a desfazer-me em pranto, recordei velho amigo — o nosso Mitter.

Bastou isso e ele me apareceu eufórico e juvenil, como nos tempos da

mocidade primeira.

Compadecido, ouviu-me a horrenda história e, aplicando as mãos sobre

mim, conseguiu libertar-me dos ossos, trazendo-me a vossa casa.

Respirei aliviado.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 254

Como que a refundir-me num corpo diferente do meu, que ele designou

como sendo “um instrumento mediúnico”, consegui, enfim, chorar e clamar por

socorro.

Vossas palavras e vossas preces, ao influxo dos benfeitores que nos

assistem, operaram em mim o inesperado milagre…

Reconfortei-me, reaqueci-me...

De volta ao meu domicílio, depois de passar por algumas horas em vosso

templo de caridade, vim a saber que, graças a Deus, apesar do suicídio, em meu

tremendo suplício moral conseguira cumprir a tarefa de amparo aos enfermos

durante o tempo previsto.

De regresso a casa, oh! grande felicidade!…

Doutor Mitter e eu observamos que com a minha ausência o velho

arcabouço, apesar de protegido com segurança, se arrojara ao piso da sala, partindo-

se-lhe a grande coluna.

Meu coração pulsava de alegria, porque a minha insubmissão não

conseguira modificar o aresto justo da Lei…

E naquela hora meu júbilo acentuara-se, porque à maneirado pássaro, agora

livre, fitava feliz a gaiola desfeita.

Banhava-se a paisagem no sol de rutilante manhã. Um velho professor

penetrou o recinto, sendo abraçado por nosso amigo, que lhe segredou algo,

confidencialmente, aos ouvidos.

O encanecido preceptor não nos viu e nem ouviu com os sentidos corpóreos,

mas registrando a palavra do benfeitor, em forma de intuição, ordenou que os meus

velhos ossos fossem queimados como resíduo inútil.

Desde então, livre e calmo, consagrei-me a vida nova e, visitando-vos na

noite de hoje, para exprimir-vos júbilos a gratidão, ofereço-vos meu caso, não para

que venhamos a rir ou a chorar, mas simplesmente a pensar.

Luís Alves – Vozes do Grande Além – Cap. 26 – Um caso singular

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 255

DEPOIMENTO 34 Entrevista com um Suicida

Aqui vai, meu amigo, a entrevista rápida que você solicitou ao velho

jornalista desencarnado com uma suicida comum.

Sabe você, quanto eu, que não existem casos absolutamente iguais. Cada um

de nós é um mundo por si. Para nosso esclarecimento, porém, devo dizer-lhe que

se trata de jovem senhora que, há precisamente catorze anos, largou o corpo físico,

por deliberação própria, ingerindo formicida.

Mais alguns apontamentos, já que não podemos transformar o doloroso

assunto em novela de grande porte. Ela se envenenou no Rio, aos trinta e dois de

idade, deixando o esposo e um filhinho em casa; não era pessoa de cultura

excepcional, do ponto de vista do cérebro, mas caracterizava-se, na Terra, por

nobres qualidades morais, moça tímida, honesta, operosa, de instrução regular e

extremamente devotada aos deveres de esposa e mãe.

Passamos, no entanto, às suas onze questões e vejamos as respostas que ela

nos deu e que transcrevo, na íntegra:

A irmã possuía alguma fé religiosa, que lhe desse convicção na vida depois

da morte?

Seguia a fé religiosa, como acontece a muita gente que acompanha os outros

no jeito de crer, na mesma situação com que se atende aos caprichos da moda.

Para ser sincera, não admitia fosse encontrar a vida aqui, como a vejo, tão

cheia de problemas ou, talvez, mais cheia de problemas que a minha existência no

mundo.

Quando sobreveio a morte do corpo, ficou inconsciente ou consciente?

Não conseguia sequer mover um dedo, mas, por motivos que ainda não sei

explicar, permaneci completamente lúcida e por muito tempo.

Quais as suas primeiras impressões ao verificar-se desencarnada?

Ao lado de terríveis sofrimentos, um remorso indefinível tomou conta de

mim. Ouvia os lamentos de meu marido e de meu filho pequenino, debalde gritando

também, a suplicar socorro.

Page 261: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 256

Quando o rabecão me arrebatou o corpo imóvel, tentei ficar em casa mas

não pude. Tinha a impressão de que eu jazia amarrada ao meu próprio cadáver pelos

nós de uma corda grossa.

Sentia em mim, num fenômeno de repercussão que não sei definir, todos os

baques do corpo no veículo em correria; atirada com ele a um compartimento do

necrotério, chorava de enlouquecer.

Depois de poucas horas, notei que alguém me carregava para a mesa de

exame. Vi-me desnuda de chofre e tremi de vergonha. Mas a vergonha fundiu-se

no terror que passei a experimentar ao ver que dois homens moços me abriam o

ventre sem nenhuma cerimônia, embora o respeitoso silêncio com que se davam à

pavorosa tarefa.

Não sei o que me doía mais, se a dignidade feminina retalhada aos meus

olhos, ou se a dor indescritível que me percorria a forma, em meu novo estado de

ser, quando os golpes do instrumento cortante me rasgavam a carne.

Mas o martírio no conforto de meu leito doméstico, tive de aguentar duchas

de água fria nas vísceras expostas, como se eu fosse um animal dos que eu vira

morrer, quando menina, no sítio de meu pai…

Então, clamei ainda mais por socorro, mas ninguém me escutava, nem via…

Recorreu à prece no sofrimento?

Sim, mas orava, à maneira dos loucos desesperados, sem qualquer noção de

Deus…

Achava-me em franco delírio de angústia, atormentada por dores físicas e

morais…

Além disso, para salvar o corpo que eu mesma destruíra, a oração era um

recurso de que lançava mão, muito tarde.

Encontrou amigos ou parentes desencarnados, em suas primeiras horas no

Plano espiritual?

Hoje sei que muitos deles procuravam auxiliar-me, mas inutilmente, porque

a minha condição de suicida me punha em plenitude de forças físicas.

Page 262: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 257

As energias do corpo abandonado como que me eram devolvidas por ele e

me achava tão materializada em minha forma espiritual quanto na forma terrestre.

Sentia-me completamente sozinha, desamparada…

Assistiu ao seu próprio enterro?

Com o terror que o meu amigo é capaz de imaginar.

Não havia Espíritos benfeitores no cemitério?

Sim, mas não poderia vê-los. Estava mentalmente cega de dor. Senti-me sob

a terra, sempre ligada ao corpo, como alguém a se debater num quarto abafado,

lodoso e escuro…

Que aconteceu em seguida?

Até agora, não consigo saber quanto tempo estive na cela do sepulcro,

seguindo, hora a hora, a decomposição de meus restos…

Houve, porém, um instante em que a corda magnética cedeu e me vi

libertada. Pus-me de pé sobre acova. Reconhecia-me fraca, faminta, sedenta,

dilacerada…

Não havia tomado posse de meus próprios raciocínios, quando me vi

cercada por uma turma de homens que, mais tarde, vim a saber serem obsessores

cruéis.

Deram-me voz de prisão.

Um deles me notificou que o suicídio era falta grave, que eu seria julgada

em corte de justiça e que não me restava outra saída, senão acompanhá-los ao

Tribunal.

Obedeci e, para logo, fui por eles encarcerada em tenebrosa furna, onde pude

ouvir o choro de muitas outras vítimas. Esses malfeitores me guardaram em

cativeiro e abusaram da minha condição de mulher, sem qualquer noção de respeito

ou misericórdia…

Somente após muito tempo de oração e remorso, obtive o socorro de

Espíritos missionários, que me retiraram do cárcere, depois de enormes

dificuldades, a fim de me internarem num campo de tratamento.

Page 263: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 258

Por que razão decidiu matar-se?

Ciúmes de meu esposo, que passara a simpatizar com outra mulher.

Julga que a sua atitude lhe trouxe algum benefício?

Apenas complicações. Após seis anos de ausência, ferida por terríveis

saudades, obtive permissão para visitar a residência que eu julgava como sendo

minha casa no Rio.

Tremenda surpresa!… Em nada adiantara o suplício. Meu esposo, moço

ainda, necessitava de companhia e escolhera para segunda esposa a rival que eu

abominava…

Ele e meu filho estavam sob os cuidados da mulher que me suscitava ódio e

revolta…

Sofri muito em meu orgulho abatido. Desesperei-me. Auxiliada

pacientemente, contudo, por instrutores caridosos, adquiri novos princípios de

compreensão e conduta…

Estou aprendendo agora a converter aversão em amor. Comecei procedendo

assim por devotamento ao meu filho, a quem ansiava estender as mãos, e só possuía,

no lar, as mãos dela, habilitadas a me prestarem semelhante favor…

A pouco e pouco, notei-lhe as qualidades nobres de caráter e coração e hoje

a amo, deveras, por irmã de minhalma…

Como pode observar, o suicídio me intensificou a luta íntima e me impôs,

de imediato, duras obrigações.

Que aguarda para a futuro?

Tenho fome de esquecimento e de paz.

Trabalho de boa vontade em meu próprio burilamento e qualquer que seja

aprovação que me espere, nas corrigendas que mereço, rogo à Compaixão Divina

me permita nascer na Terra, outra vez, quando então conto retomar o ponto de

evolução em que estacionei, para consertar as terríveis consequências do erro que

cometi.

Page 264: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 259

Aqui, meu caro, termina o curioso depoimento em que figurei na posição de

seu secretário.

Sinceramente, não sei porque você deseja semelhante entrevista com tanto

empenho. Se é para curar doentia ansiedade em pessoa querida, inclinada a matar-

se, é possível que você alcance o objetivo almejado.

Quem sabe? O amor tem força para convencer e instruir. Mas se você supõe

que esta mensagem pode servir de instrumento para alguma transformação na

sociedade terrena, sobre os alicerces da verdade espiritual, não estou muito certo

quanto ao êxito do tentame.

Digo isso, porque, se estivesse aí, no meu corpo de carne, entre o frango

assado e o café quente, e se alguém me trouxesse a ler a presente documentação,

sem dúvida que eu julgaria tratar-se de uma história da carochinha.

Humberto de Campos – Estante da Vida – Cap. 2 – Entrevista com uma Suicida

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 260

DEPOIMENTO 35 Suicida da Samaritana

Recentemente os jornais relataram o seguinte fato: “Ontem (7 de abril de

1858), pelas sete horas da noite um homem de cerca de cinquenta anos e

decentemente trajado, apresentou-se no estabelecimento da Samaritana, em Paris, e

mandou que lhe preparassem um banho.

Decorridas cerca de duas horas, o criado de serviço, admirado pelo silêncio

do freguês, resolveu entrar no seu gabinete, a fim de verificar o que ocorria.

Deparou-se-lhe então um quadro horroroso: o infeliz degolara-se com uma

navalha e todo o seu sangue misturava-se à água da banheira.

E, como a identidade do suicida não pôde ser averiguada, foi o cadáver

removido para o necrotério.

Pensamos que poderíamos haurir um ensinamento útil à nossa instrução, da

conversa com o Espírito desse homem. Evocamo-lo, pois, no dia 13 de abril,

consequentemente seis dias apenas depois de sua morte.

Rogo a Deus Todo-Poderoso permitir ao Espírito do indivíduo que se

suicidou no dia 7 de abril de 1858, nos banhos da Samaritana, que se comunique

conosco.

Resposta. – Espere… (Após alguns segundos) Ei-lo aqui.

Onde vos achais hoje?

Resposta. – Não sei… dizei-mo.

Na Galeria Valois, Palais-Royal, n° 35, numa reunião de pessoas que

estudam o Espiritismo e que são benévolas para convosco.

Resposta. – Dizei-me se vivo… Eu sufoco no caixão.

Quem vos impeliu a vir aqui?

Resposta. – Sinto-me aliviado.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 261

Qual o motivo que vos arrastou ao suicídio?

Resposta. – Morto? Eu? Não… que habito o meu corpo…Não sabeis como

sofro!… Sufoco-me… Oxalá que mão compassiva me aniquilasse de vez!

Observação. – Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda

completamente imersa no que poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal;

vivazes lhe são as ideias terrenas, a ponto de se acreditar encarnado.

Por que não deixastes indícios que pudessem tornar-vos reconhecível?

Resposta. – Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à

tortura.

Tendes ainda os mesmos motivos para ficar incógnito?

Resposta. – Sim; não revolvais com ferro candente a ferida que sangra.

Podereis dar-nos o vosso nome, idade, profissão e domicílio?

Resposta. – Absolutamente não.

Tínheis família, mulher, filhos?

Resposta. – Eu era um desprezado; ninguém me amava.

E que fizestes para ser assim repudiado?

Resposta. – Quantos o são como eu!… Um homem pode viver abandonado

no seio da família, quando ninguém o preza.

No momento de vos suicidardes não experimentastes qualquer hesitação?

Resposta. – Ansiava pela morte… Esperava repousar.

Como é que a ideia do futuro não vos fez renunciar a um tal projeto?

Resposta. – Não acreditava nele, absolutamente. Era um desiludido. O

futuro é a esperança.

Que reflexões vos ocorreram ao sentirdes a extinção da vida?

Resposta. – Não refleti, senti… Mas a vida não se me extinguiu… minha

alma está ligada ao corpo… não estou morto… e, no entanto, sinto os vermes a me

corroerem.

Que sensação experimentastes no momento decisivo da morte?

Resposta. – Pois ela se completou?

Page 267: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 262

Foi doloroso o momento em que a vida se vos extinguiu?

Resposta. – Menos doloroso que depois. Só o corpo sofreu. (São Luís

continua): “O Espírito descarregou o fardo que o oprimia; ressentia a volúpia da

dor.”

(A São Luís): Tal estado sobrevém sempre ao suicídio?

Resposta. – Sim. O Espírito do suicida fica ligado ao corpo até o termo dessa

vida. A morte natural é a libertação da vida: o suicídio a rompe por completo.

Dar-se-á o mesmo nas mortes acidentais, embora involuntárias, mas que

abreviam a existência?

Resposta. – Não. Que entendeis por suicídio? O Espírito só responde pelos

seus atos.

Observação. – Havíamos preparado uma série de perguntas que nos

propúnhamos a dirigir ao Espírito desse homem sobre sua nova existência; diante

das respostas, se tornaram sem objetivo; para nós, era evidente que ele não tinha

nenhuma consciência de sua situação; seu sofrimento foi a única coisa que nos pôde

descrever.

Allan Kardec – Revista Espírita — Junho 1858 — 3° Artigo – O Suicida da

Samaritana / O Céu e o Inferno – 2ª Parte – Capítulo 5 – Exemplo 1

Page 268: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 263

DEPOIMENTO 36 Alfred Leroy

O Siècle de 2 de março de 1861 relata o seguinte fato:

Num terreno baldio, no ângulo do caminho dito da Arcada, que conduz de

Conflans a Charenton, operários que iam ao trabalho, ontem pela manhã,

encontraram enforcado num pinheiro muito alto um indivíduo que cessara de viver.

Prevenido do fato, o comissário de polícia de Charenton dirigiu-se ao local,

acompanhado pelo Dr. Josias e procedeu às comprovações.

Diz o Droit que o suicida era um homem de cerca de cinquenta anos, de

fisionomia distinta, vestido de maneira conveniente. De um de seus bolsos retiraram

um bilhete a lápis, assim redigido: “Onze horas e três quartos da noite; subo ao

suplício. Deus me perdoará os erros.”

O bolso encerrava ainda uma carta sem endereço e sema ssinatura, cujo

conteúdo é o seguinte:

“Sim, lutei até o último extremo! Promessas, garantias, tudo me faltou. Eu

podia chegar; tinha tudo a crer, tudo a esperar; uma falta de palavra me mata; não

posso mais lutar. Abandono esta existência, desde algum tempo tão dolorosa. Cheio

de força e de energia, sou obrigado a recorrer ao suicídio. Tomo Deus por

testemunha, eu tinha o maior desejo de me desobrigar para com os que me haviam

auxiliado no infortúnio; a fatalidade me esmaga: tudo se contrapõe a mim.

Abandonado subitamente por aqueles que representei, sofro a minha sorte.

Confesso que morro sem fel; mas, por mais que digam, a calúnia não impedirá que

nos últimos momentos eu não atraia nobres simpatias. Insultar o homem que se

reduziu à última das resoluções seria uma infâmia. É muito tê-lo reduzido a isto.

Avergonha não será toda minha; o egoísmo me terá matado.”

Conforme outros papéis, o suicida era um tal Alfred Leroy, de cinquenta

anos, originário de Vimoutiers (Orne).

Page 269: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 264

A profissão e o domicílio são desconhecidos e, depois das formalidades

ordinárias, o corpo, que ninguém reclamou, foi para o necrotério.

[Evocação de Alfred Leroy, suicida.]

1. Evocação.

Resposta. – Não venho como supliciado; estou salvo! Alfred.

Observação. – As palavras: Estou salvo! surpreenderam a maioria dos

assistentes. Sua explicação foi pedida no desenrolar da conversa.

2. Soubemos pelos jornais do ato de desespero pelo qual sucumbistes e,

embora não vos conheçamos, vos lamentamos, pois a religião exige que

compartilhemos dador de todos os nossos irmãos infelizes; e é para vos

testemunhar simpatia que vos chamamos.

Resposta. – Devo calar os motivos que me impeliram a esse ato de

desespero. Agradeço o que fazeis por mim; é uma felicidade, uma esperança a mais;

obrigado!

3. Podeis dizer, primeiramente, se tendes consciência de vossa situação

atual?

Resposta. – Perfeita. Sou relativamente feliz; não me suicidei por causas

puramente materiais; crede que havia mais, como o demonstraram as minhas

últimas palavras. Foi uma mão-de-ferro que me agarrou. Quando encarnei na Terra,

vi o suicídio no meu futuro. Era a prova contra a qual tinha de lutar. Quis ser mais

forte que a fatalidade e sucumbi.

Observação. – Ver-se-á logo que esse Espírito não escapa à sorte dos

suicidas, malgrado o que acaba de dizer. Quanto à palavra fatalidade, é evidente

que nele é uma lembrança das ideias terrenas; põe-se à conta da fatalidade todas as

desgraças que não se podem evitar. Para ele o suicídio era aprova contra a qual tinha

de lutar; cedeu ao arrastamento ao invés de resistir, em virtude de seu livre-arbítrio,

e acreditou que estivesse em seu destino.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 265

4. Quisestes escapar a uma situação deplorável pelo suicídio; ganhastes

alguma coisa com isto?

Resposta. – Aí está o meu castigo: a vergonha do meu orgulho e a

consciência da minha fraqueza.

5. Segundo a carta encontrada convosco, parece que a dureza dos homens

e uma falta de palavra vos conduziram à própria destruição. Que sentimento

experimentais agora pelos que foram a causa dessa resolução funesta?

Resposta. – Oh! não me tenteis, não me tenteis, eu vos suplico!

Observação. – Esta resposta é admirável; pinta a situação do Espírito

lutando contra o desejo de odiar aqueles que lhe fizeram mal, e o sentimento do

bem, que o impele a perdoar. Receia que esta pergunta provoque uma resposta que

a sua consciência reprova.

6. Lamentais o que fizestes?

Resposta. – Eu já vos disse que meu orgulho e minha fraqueza são a sua

causa.

7. Quando vivo acreditáveis em Deus e na vida futura?

Resposta. – Minhas últimas palavras o provam; marcho para o suplício.

Observação. – Ele começa a compreender sua posição, sobre a qual a

princípio pôde ter uma ilusão, porque não podia ser salvo e marchar para o suplício.

8. Tomando essa resolução, que pensáveis que vos aconteceria?

Resposta. – Eu tinha bastante consciência da justiça para compreender o que

agora me faz sofrer. Por um momento tive a ideia do nada, mas a repeli bem

depressa. Não meteria matado se tivesse tal ideia; primeiro me haveria vingado.

Observação. – Esta resposta é, ao mesmo tempo, muitológica e muito

profunda. Se ele acreditasse no nada após a morte, em vez de se matar ter-se-ia

vingado ou, pelo menos, teria começado por se vingar. A ideia do futuro o impediu

de cometer um duplo crime; com a do nada, o que teria a temer, se quisesse tirar a

própria vida? Não mais temia a justiça dos homens e teria o prazer da vingança.

Tala consequência das doutrinas materialistas que certos sábios se esforçam em

propagar.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 266

9. Se estivésseis bem convencido de que as mais cruéis vicissitudes da vida

são provas muito curtas em face da eternidade, teríeis sucumbido?

Resposta. – Muito curtas, eu o sabia, mas o desespero não pode raciocinar.

Rogamos a Deus que vos perdoe e em vosso favor lhe dirigimos esta prece,

à qual todos nós associamos:

“Deus todo-poderoso, sabemos a sorte reservada aos que abreviam os seus

dias e não podemos entravar a vossa justiça. Mas sabemos também que a vossa

misericórdia é infinita. Possa ela estender-se sobre a alma de Alfred Leroy! Possam

também nossas preces, mostrando-lhe que há na Terra seres que se interessam por

sua sorte, aliviar os sofrimentos que suporta por não ter tido a coragem de resistir

às vicissitudes da vida!

“Bons Espíritos, cuja missão é aliviar os infelizes, tomai-o sob vossa

proteção; inspirai-lhe o pesar pelo que fez e o desejo de progredir por novas provas,

que saberá suportar melhor.”

Resposta. – Esta prece me faz chorar e, por isso, sou feliz.

11. Dissestes no início: agora estou salvo. Como conciliar estas palavras

com o que dissestes depois: Marcho para o suplício?

Resposta. – E como entendeis a bondade divina? Eu não podia viver; era

impossível. Credes que Deus não veja o impossível neste caso?

Observação. – Em meio a algumas respostas notavelmente sensatas, há

outras – e esta é de seu número – que denotam neste Espírito uma ideia imperfeita

de sua situação. Isto nada tem de extraordinário, se pensarmos que ele morreu há

poucos dias.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 267

12. (A São Luís) Podeis dizer a sorte do infeliz que acabamos de invocar?

Resposta. – A expiação e o sofrimento. Não, não há contradição entre as

primeiras palavras desse infortunado e suas dores. Ele se diz feliz; feliz pela

cessação da vida. E como ainda está preso aos laços terrenos, sente apenas a

ausência do mal terreno; mas quando seu Espírito elevar-se, os horizontes da dor,

da expiação lenta e terrível desenrolar-se-ão diante dele e o conhecimento do

infinito, ainda velado aos seus olhos, ser-lhe-á o suplício que entreviu.

13. Que diferença estabeleceis entre este suicida e o da Samaritana? Ambos

se mataram de desespero e, no entanto, sua situação é bem diferente; este se

reconhece perfeitamente; fala com lucidez e ainda não sofre, ao passo que o outro

não acreditava estar morto e desde os primeiros instantes sofria um suplício cruel,

o de ter a impressão de sentir seu corpo em decomposição.

Resposta. – Uma imensa diferença. O suplício de cada um desses homens

reveste o caráter próprio de seu progresso moral. O último, alma fraca e alquebrada,

suportou tanto quanto creu. Duvidou de sua força, da bondade de Deus, mas nem

blasfemou nem amaldiçoou; seu suplício interior, lento e profundo, terá a mesma

intensidade da dor que sentiu o primeiro suicida. Apenas não é uniforme a lei de

expiação.

Nota. – A narrativa do suicida da Samaritana foi publicada no fascículo de

junho de 1858.

14. Aos olhos de Deus qual o mais culpado e qual o que sofrerá o grande

castigo: este que sucumbiu à sua fraqueza ou aquele que, por sua dureza, foi levado

ao desespero?

Resposta. – Seguramente o que sucumbiu pela tentação.

15. A prece que por ele dirigimos a Deus lhe será útil?

Resposta. – Sim, a prece é um orvalho benfazejo.

Allan Kardec – Revista Espírita — Abril 1861 — 3° Artigo — Alfred Leroy

Page 273: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 268

DEPOIMENTO 37 Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo

Querida mãezinha Dalila e meu pai Carlos, peço-lhes para que me abençoem

junto com meus irmãos José Carlos e o querido irmão caçula, e rogo a Jesus

fortalecer-nos a união.

Mãe querida, peço-lhe não chorar com tanto desespero.

Recebo suas aflições tentando decifrar os enigmas que nos induziram ao

desligamento do corpo físico. Entreguemos os nossos problemas a Jesus que nos

clareará o entendimento.

Estou bem, não obstante compreender que caí na armadilhado mal.

Refiro-me ao meu infortúnio supondo que a vida terminasse com a morte.

Estava consciente quando atirei sobre mim mesmo. Perdoem-me o gesto de

loucura.

Acordei aqui dentro de uma névoa densa que ainda não se desfez.

Estou bem porque confio na bondade de Deus e prometi a mim próprio que

não atrairia em minha cabeça qualquer pensamento de revolta, confiando-me ao

Amado Jesus que veneramos tanto, sem traduzir o nosso reconhecimento em

trabalho que signifique a nossa fé.

A minha luta ainda é muito grande. A primeira concessão que estou

recebendo é a de vir até aqui, perante uma assembleia que não conheço, no entanto

constituída por pessoas amigas que não me recusam o acesso.

Querida mãezinha, sou eu quem pergunto: Onde está Rosângela?

Como dialogar com Heliana sobre as nossas provações?

Como reaver o sorriso de Mariana, de nossa menina inesquecível?

Estou cansado e doente ainda.

O projétil me desequilibrou a vida mas não encontrei pessoa alguma, das

muitas que me cercam aqui, capaz de condenar-me.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 269

Rogo a meu pai e aos irmãos queridos que me auxiliem, reconhecendo que

a vida harmônica não está na morte provocada e espero que todos não deem a si

mesmos a ideia de suicídio.

Vivam, trabalhando confiantes em Deus e sempre mais felizes. Ainda não

recuperei toda a minha capacidade de lucidez e sigo adiante em meu tratamento, na

certeza deque Deus, nosso Pai, a ninguém abandona.

Agradeço-lhes o que puderem fazer em benefício de nossa Mariana que

desejo possa crescer sem ódio e sem mágoa, e sei que mãezinha atenderá no que

estou pedindo. Por enquanto, meu cérebro está atormentado pelo desejo de

encontrar os que amo.

Creio que isso nos tomará tempo e aprenderei com paciência a reconstrução

da minha própria existência, que eu mesmo danifiquei num momento de insânia.

Minha grande decepção ao chegar aqui, foi a verificação de que a morte não

existe como pensamos; isso me doeu profundamente ao orgulho de homem que

conhece tão pouco da verdadeira vida.

Fui socorrido por um benfeitor que me recomendou chamá-lo por irmão

Botelho, acentuando que fora no mundo o meu bisavô. Como podem imaginar,

estou necessitado de todos os recursos elementares da vida física que destruí em

mim próprio.

Não me faltam proteção e auxílio, embora saiba que nada fiz ainda para

merecê-los.

Mãezinha, rogo à sua fortaleza não valorizar os comentários negativos em

torno de meu gesto infeliz. Se alguém me acusar, rogo-lhe com humildade

esclarecer que estamos implorando uma oração em nosso favor e que, conquanto

eu mereça censura, não estou desligado da fé em Deus.

Não posso escrever mais, porque estou numa faixa de tempo que a

generosidade do irmão Botelho conseguiu em meu benefício.

Mãezinha, tranquilize o seu amoroso coração e recorde que as suas preces

em meu amparo foram as primeiras luzes que me retiraram da sombra.

Page 275: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 270

O que foi feito dos meus companheiros de provação, nada sei ainda. Estou

a encontrar comigo, pouco a pouco.

Quando estiver na condição de auxiliar, tomarei junto de meu coração a

nossa querida Mariana, compreendendo que ela nada fez para receber a triste

ocorrência que está ainda no meu pensamento.

Mãezinha, ore por mim sem desespero. Vou melhorar e creia que seu filho

se fará digno do amor de seus pais.

Estou reaprendendo as preces que o seu carinho de mãe nos ensinava,

quando éramos crianças em suas queridas mãos: “Pai nosso que estás nos Céus…”

Essas palavras estão incrustadas em minha memória”.

Abraço aos queridos irmãos e ao meu pai que tudo fizeram por ajudar-me e

rogo a sua bondade receber no coração as lágrimas de reconhecimento e de amor

do seu filho, que cresceu entre os meus dois irmãos, perdoando-me a frustração e

amparando-me nas orações, na certeza de que seu filho não morreu e trabalhará para

refazer-se e tornar-se digno do seu beijo de luz.

Sempre o seu filho reconhecido,

Luís Fernando – A volta – Cap. 13 – Mensagem de Luís Fernando Botelho de

Moraes Toledo

(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião

pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 13/4/91, em Uberaba, MG.)

Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo

Nascimento: 21/8/1961

Desencarnação: 29/10/1990

Livro A volta – Familiares diversos – Capítulo 13 – Mensagem de Luís Fernando

Botelho de Moraes Toledo

Page 276: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 271

DEPOIMENTO 38 Raul Martins

Nada poderá suceder de mais funesto ao homem do que o suicídio.

Dessa desgraça inominável já houve verdadeiras epidemias nos tempos

ominosos do materialismo romano.

Nas modernas sociedades, múltiplos são os seus fatores. Sob diversos

aspectos e formas, o suicídio contribui com enorme porcentagem para o obituário

em geral, ora determinado pelas obsessões dolorosas, ora pelas dificuldades e

desalentos da vida terrena.

Suicídio supõe sempre a ilusão, de que se acha o candidato possuído, de se

libertar da insuportável carga de dores e tristezas que o acabrunham e lhe

envenenam a vida.

Todavia, que funesta ilusão!

Fala-vos quem, sob as torturas de uma dolorosíssima opressão moral,

também cedeu à atração do abismo e supôs libertar-se da conta que, de muito, lhe

estava assinada, interrompendo o curso da existência.

Enganei-me, meus caros irmãos.

Longe de extinguir o sofrimento, este recrudesceu e se tornou mais íntimo e

profundo aqui no Espaço, onde não há noite, nem sono, e parece eterna a provação

da alma.

Cedi à vaidade mundana da honra e do prestígio.

E, no entanto, vejo agora, no meu mal sem remédio, que bem melhor fora

abstrair dessas futilidades para cuidar do que é eterno e imorredouro: a existência

do ser e seu progresso através das etapas do Universo.

Contam-se por milhões os desgraçados que, como eu, se debatem na treva

depois de terem sido pasto da ignorância e do orgulho.

Se eu tivesse podido saber que todos os ouropéis da vida terrena não valem

uma só das verdades que aqui constatais diariamente, teria certamente evitado, por

um ato de coragem e resignação, esta horrível geena em que agora me debato.

Page 277: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 272

O suicídio é a maior desgraça que pode suceder ao Espírito.

Ato de rebeldia insensata contra os desígnios da Providência, encarna o

desespero do réu que se quer libertar, por fraqueza, do compromisso anterior que

assumiu por seus erros.

É uma afronta à Divindade, inútil e covarde.

Inútil, porque jamais poderá o ser aniquilar-se, visto que ele é eterno qual o

próprio Pai e Senhor de quem emana.

Vede agora a triste situação em que se encontra o suicida ao desprender-se

do corpo; mais vivo do que nunca, sobrevêm ao pungente padecer a surpresa

alucinante de se ver indestrutível, incapaz de sofrer no Espaço as consequências do

seu orgulho, com a obrigação de voltar à matéria para terminar a missão que tão

loucamente interrompera!

Sede fortes, vós que me ledes, quando vos assaltar o sofrimento.

Afugentai, com todas as forças da vossa alma, a negra visão do suicídio,

porque, desventurados, se nele cairdes, se cederdes às suas tenebrosas sugestões,

então se abrirá para vós o verdadeiro inferno, aquele em que, sem metáfora, mas

real e dolorosamente, há choro e ranger de dentes.

No suicídio se nivelam todas as dores, porque ele determina o maior e mais

desesperado de todos os sofrimentos.

A dor, a negra, a profunda dor, dentro da tremenda impressão de que não

haverá misericórdia, nem remissão para o réprobo, o covarde, o trânsfuga, que

jogou à face da Justiça do Divino Pai o saldo da sua conta.

Pensai nisto e jamais admiti, nas vossas amarguras, a idéia desse terrível

tentador — o suicídio.

Raul Martins – O Martírio dos Suicidas – Cap. 3 – As Tragédias

Nota:

Raul de Souza Martins – Juiz Federal da 1º Vara do Rio de Janeiro

Desencarne: 21 de Novembro de 1920 – Rio de Janeiro

Nascimento; 4 de Outubro de 1873 – Maranhão

Page 278: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 273

DEPOIMENTO 39 Joaquim Mousinho d'Albuquerque

Quem promete constitui dívida. Prometi que também te daria uma

comunicação. Constituí-me, também nisso, teu devedor. Vou pagar para não

acumular na minha dívida mais esta fração. Que não solva para contigo o que não

posso, terá desculpa; agora que me faça insolvente até naquilo em que me é tão fácil

e até tão aprazível satisfazer, é que nada desculpará.

Entre muitos assuntos, que disputam a minha atenção, quero escolher um

que tenha alguma coisa de útil e de produtivo.

Banal é tudo quanto se passa no mundo e com aqueles que ainda nele se

encontram, para que os que já dele não são, venham com banalidades e bagatelas.

A emancipação pela morte a brenos vastos e infinitos horizontes novos, ao

mesmo tempo que limita, e cerra até, pontos de vista que supúnhamos de uma

vastidão sem fim e de uma grandeza absoluta.

É que o nosso modo de ver na Terra é tudo quanto há de mais falso e

convencional.

Não temos idéias absolutas. São tudo coisas relativas e pequenas. Tudo

fantástico, como as vistas de um teatro.

Olhadas a distância, semelham castelos, jardins, mares sem fim, palácios

encantados, dando-nos a sensação da maravilha e da verdade.

Examinadas, tateadas de perto, enchem-nos de desolação e de tristeza, por

conhecermos que são tudo míseras telas de papel ou de aniagem mal borradas de

tintas grosseiras.

Fui um dos loucos, dos visionários, a quem a luz demasiada da ambição e

da glória deslumbrou, provocando a fantástica ilusão da miragem. Desorientou-me

e ceguei.

Page 279: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 274

Tudo que me cercava, tudo que via e ouvia, tudo que sonhava e a que

aspirava era ilusório e falso, como ouropéis de histrião; e eu — ai de mim! —

tomava tudo por verdadeiro e de valor real.

Quando supus despertar do delicioso sonho em que o meu orgulho e a minha

vaidade me embalavam, senti-me pequeno e perdido.

Então todo o meu ser se revoltou. Achei fementido o riso da mulher em que

supunha amor; achei banal a honra e o galardão em que distinguiam o ato da loucura

generosa que me celebrizou; achei falsa a amizade dos que me estendiam os braços

e me enalteciam o valor; reconheci a inveja e a intriga contra mim daqueles que,

aparentemente, me lisonjeavam; e vi a fragilidade do amparo, que eu supunha

sólido e eterno, para os momentos dolorosos da tempestade, começada já a

desencadear-se.

E no meu íntimo senti uma grande onda de tédio pela vida, e por tudo de

que ela se compõe. Tédio e pavor.

Ao mesmo tempo que me entediei, afligi-me por ver cair, em minha volta,

tudo que me seduziu, tudo que amei, tudo que supunha me era devido por direito

de conquista, e por direito da força.

Eu, que não tremi, quando no Kraal do Gungunhana vi milhares de

guerreiros, a quem um aceno faria precipitar sobre mim e sobre os meus queridos

companheiros de glória ou de morte; eu, que nunca soube o que era medo em frente

das carabinas e das azagaias das "mangas" de guerreiros africanos, senti-me covarde

e fraco para me segurar no terreno escorregadio e falso, ricamente alcatifado, que

pisava, e para arrostar com as frases dúbias, os sorrisos equívocos, as manifestações

misteriosas e significativamente desdenhosas daqueles que pouco antes eram

vulgares aduladores, ou, quem sabe, sinceros e amistosos admiradores meus.

Quis fugir. O ciúme, a inveja, a fraqueza, torturavam-me. O meu cérebro, a

despeito da minha aparente serenidade, era um inferno!

A cada momento surgia um expediente, um projeto, que era logo

abandonado e substituído por outro ineficaz como ele.

Page 280: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 275

Em todos pensava, todos tentava, para evitar a deserção derradeira pela

morte voluntária.

Nenhum, porém, encontrei que me parecesse mais digno e mais forte.

Via que o meu ocaso chegava aceleradamente, e não me sentia com forças

para encarar com sangue frio e coragem a minha derrota.

A audácia, que foi durante muito tempo a minha estrela, desaparecera.

Atemorizei-me feito uma criança.

O meu colossal orgulho apontava-me a Rocha Tarpéia em que ia tombar do

Capitólio; e toda a minha força restante, reunida, atingiu só a soma de energia

necessária para liquidar, logicamente, uma situação angustiosa para mim, e que

estava sendo embaraçosa, e talvez embaraçosíssima, para alguém mais.

Na minha saída inopinada do mundo, libertando-me de um sofrimento, que

se me ia tornando intolerável, prestava ainda um serviço àquelas pessoas que, por

bem justa gratidão, me mereciam esse derradeiro serviço.

Nem sempre vi como agora vejo.

Já depois da minha morte terrena, fui gravemente injusto e mau para quem

só reconhecimento me merece.

Disto me penitencio, especialmente perante aqueles diante de quem disse

coisas bem condenáveis e bem dignas de execração!...(1)

Eram filhas da turbação e da dor!...

Mas, prosseguindo, direi que a morte violenta se me antolhava como

liquidação forçada e única para passar à inatividade absoluta.

(1) Alusão a coisas que, por outros médiuns, disse em presença de muitas

pessoas. (Nota do médium Fernando de Lacerda.)

Dentro do meu íntimo, eu não acreditava na sobrevivência à morte, de

qualquer parcela do meu ser.

Matéria, só matéria, supunha eu; e à matéria volveria com uns gramas de

chumbo através do meu cérebro.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 276

Pus por obra este meu último plano de ataque; e, por bem ou mal meu, mais

uma vez o êxito coroou a minha ação. Pum! Um tiro, e ficaria encerrada a página

última do livro da minha vida.

Supremo engano! Essa página voltava-se simplesmente; e, na página

seguinte, encontravam-se as coisas mais pavorosas que imaginação alguma pode

conceber!

E eu, que queria desertar da refrega, ia cair em pleno arraial inimigo, cheio

de mutilações e de sofrimentos horrorosos.

Quando supunha chegar para mim o descanso, a morte trouxe-me o martírio

indizível da prolongação da vida, na sua manifestação mais tormentosa!

Apossou-se de mim o remorso mais terrível; e parece que todos os tormentos

de ordem moral, consequência de uma vida de orgulho, de vaidade, de

desregramento e de íntima negação vieram, como demônios fabulosos, gritar

permanentemente, nas minhas malditas recordações, a inanidade da minha vontade,

a improficuidade da minha ação; o erro da minha descrença e a loucura do meu

suicídio, ao mesmo tempo que a sensação da dor física da hora extrema se aferrava,

aferrava persistentemente ao meu cérebro, como se a bala que o atravessara não

acabasse nunca a sua trajetória destruidora e terrível.

Então eu, que queria fugir pela deserção da morte, do campo de batalha,

onde me sentia vencido, entrava apavorado em fabuloso campo de desespero, para

mim inteiramente inesperado; e no meu ser, que eu sentia uno, íntegro e perfeito,

revoluteavam todas as dores morais que me haviam conduzido àquele ato de

rematada loucura, agravadas pelo remorso do passado, com a aflição pelo

desconhecido que via abrir-se diante de mim.

Remorso do passado, de que supunha afastar-me e que, entretanto,

continuava a queimar-me com ferro candente; aflição pelo que o meu juízo

entenebrecido antolhava para o meu futuro.

Page 282: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 277

Todos esses tormentos eram requintadamente aumentados com o fato

absolutamente inconcebível de eu continuar a sentir todos os sentimentos,

absolutamente todos, que a loucura e a perversão haviam aninhado no meu coração

em vida; e agora, sem a mais ligeira sombra de esperança na misericórdia e no

perdão de quem eu quisesse ou pudesse ofender, ou tivesse ofendido.

E, morto, assistia ao fragor que a minha morte causou.

Dava-me a impressão material do eco, infinitamente aumentado, a repercutir

a detonação do tiro que aniquilaria a minha vida carnal.

Desvairado, perdido, aproveitando uma leveza e uma celeridade indizíveis

e desconhecidas, corria vários sítios, apresentando-me, gritando aflito:

— Estou vivo e sofro; perdão, perdão!

Mas ninguém me ouvia, e creio que ninguém me via.

A aflição não podia ser maior, nem mais infernal!

Sentia-me precito, perdido para sempre!

Piedosas criaturas procuravam serenar-me, chamar-me à razão e ao

arrependimento.

Eu blasfemava então como doido varrido.

Maldizia todos. Crivava de pragas horrorosas aqueles a quem a minha fúria

insensata culpava do suicídio, que me perdia sem remédio.

Desconhecia ou queria desconhecer que o culpado fora só eu,

exclusivamente eu. Deixara-me dominar pelo orgulho e pela vaidade, obedecendo,

cega e passivamente, a todas as sugestões que eles imprimiam no meu cérebro, de

natural leviano e impressionável.

Não tinha tido a fé e a paciência dos justos, que permitiria encarar

resignadamente todos os acidentes que poderiam ter acontecido, mas que também

era provável não se terem dado nunca; e, por virtude disso, sentindo-me fraquejar,

na convicção íntima do aniquilamento, preferi atirar-me cegamente para a escura

garganta da morte, por modo tão trágico e tão romântico, como traço derradeiro e

acentuadíssimo da minha personalidade terrena.

Page 283: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 278

Tudo isso eu via e sentia; tudo isso aparecia e desaparecia constantemente

ante o meu juízo e o meu olhar espantado, enquanto a bala perfurava o meu cérebro

dolorosamente, sem terminação, sem desfalecimento, sem uma suspensão de

hostilidade e de martírio.

Para mim, não havia esperança de perdão, nem consolação possível.

Assim passei eternidades, até que à Misericórdia Divina aprouve deixar

entrar a luz do arrependimento e da resignação em minha alma denegrida; e a calma,

o sossego, foram entrando em mim como a claridade entra em um recinto escuro,

filtrada por um interstício mal vedado.

E na altura em que te falo, o Mousinho, o "grande" Mousinho, já não é o

último dos sofredores.

É uma criatura conformada e humilde, sinceramente arrependida; quase

curado dos corrosivos estragos feitos pelos ruins sentimentos que o animavam na

Terra, e inteiramente curado da ferida que a maldita bala fazia pavorosa e

permanente.

Sereno te falo, amigo querido, a quem nem de vista conheci na Terra; sereno

te falo, e bem sabes como o que te digo é verdade.

Esta serenidade, depois de tão prodigioso sofrimento, e ainda mais

prodigiosa e milagrosamente aliviado do que era merecido, habilita-me a dizer a

todos os cérebros onde ainda possa caber um vislumbre de reflexão — Acautelai-

vos contra o orgulho. Ele faz amar a vaidade, a lisonja e a maldade; ele faz supor a

um pigmeu que é um titã fabuloso; e, depois de ter conduzido aí a vida humana por

veredas coalhadas de espinhos e de amarguras, precipita-a no Inferno, e não raro

pela porta derradeira e mais tormentosa dessa pavorosa estância de Aquém Morte:

— a do suicídio.

Pior do que o suicídio, friamente meditado como uma fuga covarde, há só

uma coisa: — o suicídio friamente meditado como uma fuga covarde.

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 279

É possível que outras haja que o igualem na escala da maldade e do

sofrimento; é possível; mas contra esta que bem conheço e que me perdeu, é que eu

desejo pôr em defensiva quem tenha olhos para ver e alma para sentir, e possa pré

adivinhar quanta verdade e quanta mágoa existe no que deixo dito.

Abram bem os seus olhos, como se diz na obra de Júlio Verne; abram bem

os seus olhos!

Hesitas em se deves publicar isto. É da minha vontade que seja publicado.

Os que acreditarem que é meu, compadecer-se-ão de mim.

Os que não acreditarem, dirão: — podia bem ser dele... E isto basta. É a

dúvida nestes espíritos; é o interstício, mal vedado, que deixará entrar a luz possível

na escuridão das suas almas.

Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque – Do País da Luz – 1º Volume –

Cap. 34

(28 de novembro de 1906)

Nota:

Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque (Quinta da Várzea, 11 de

Novembro de 1855 – Lisboa, 8 de Janeiro de 1902)

Foi um Oficial de Cavalaria português que ganhou grande fama em

Portugal por ter protagonizado a captura do

Imperador Nguni Gungunhana em Chaimite (1895)

Assim como pela condução da subsequente campanha de pacificação das

populações locais à administração colonial portuguesa, ou da sua conquista e

subjugação, no território que viria a constituir o atual Moçambique, e entre outras

coisas uma das mais brilhantes figuras militares portuguesas, herói de Chaimite e

de Gaza, durante as gloriosas campanhas de África (1894-1895), e um dos mais

notáveis administradores coloniais.

Page 285: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 280

(...)

Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio, resistir ao

clima de intriga acerca do seu comportamento em África, Mouzinho de

Albuquerque preparou minuciosamente a sua morte, suicidando-se no interior de

um coupé, na Estrada das Laranjeiras no dia 8 de Janeiro de 1902

Wikipedia – Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque

Page 286: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 281

DEPOIMENTO 40 Roberto Eduardo

Roberto Eduardo Magnavita de Menezes, nasceu no dia 04.05.60 na cidade

de Ilhéus (BA), desencarnando em Salvador (BA), no dia 14.02.86, com 25 anos de

idade, por suicídio, atirando-se da janela do edifício onde residia, no 7º andar.

(...)

No sábado, 14 de junho de 1986, Divaldo encontrava-se em Salvador e

participou da reunião doutrinária do Centro Espírita “Caminho da Redenção". _

O tema da noite, inspirado na Caridade, abordava a virtude por excelência,

enquanto sucessivas ondas de paz e amor dominavam o auditório atento.

Divaldo psicografava, visivelmente comovido, percebendo-se que o

missivista do Além chorava através do médium, à medida que mandava as suas

notícias aos familiares queridos.

Concluída a escrita, para surpresa e emoção geral, Roberto nos trouxe esta

bela e oportuna lição, na qual nos demonstra a interferência obsessiva no suicídio,

chegando o seu drama a ser o de um assassinato espiritual.

1º Mensagem – 1986 – Junho – 14/06/1986

Mãezinha querida:

Seu filho está chorando de felicidade, embora o infortúnio que desabou

sobre nós.

Não tem sido fácil para você, nem para mim, a vida nestes últimos tempos.

Só a confiança em Deus nos dá coragem para vencer cada dia, esperando o

amanhã, que há de ser melhor do que o ontem e o hoje.

Venho escrever-lhe, a fim de asserenar-lhe a alma sofrida.

À medida que o tempo transcorre, mais você sofre, e eu participo das suas

agonias ...

Ouço o seu pensamento, vejo as suas lágrimas e tenho mágoa de ser o

responsável por este estado de agonia, que eu nunca imaginei iria acontecer.

Page 287: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 282

Eu sabia que você me amava, pois era a mãe confidente do filho inquieto e

inseguro. Todavia, você me ama além do que eu imaginava. Só o amor materno é

capaz de tanta doação, que eu não consigo avaliar.

Sempre instável, eu era um sofredor. O medo me perseguia sempre. Eu

procurava disfarçar, sem conseguir êxito. Procurava vencer, sem ter forças.

Buscava amparo sem crer nele. Tudo me era mais difícil do que se possa

imaginar.

Que me recorde, tudo começou ou se foi agravando, ainda quando

morávamos em Ilhéus (1), logo que nos mudamos para cá... as dúvidas e incertezas

a respeito de mim mesmo assaltavam-me e eu me atormentava entre a agressividade

e a depressão, tentando fugir, consumir-me.

Você tentou, todos tentaram ajudar-me sem resultado.

Eu não conseguia ajudar-me. E isto foi a minha ruína.

Hoje é dia de recordações. Ouvi você em casa lembrando-se de mim, como

tem feito todos os dias; pior, quando retornou do Rio, e não me encontrou, nos dias

de jogos do Brasil, sem o seu Roberto, e mais particularmente, neste dia 14, que

recorda aquele dia 14 de fevereiro ... Noite cruel, madrugada dolorosa. (2)

É corno se tudo estivesse programado, para acontecer o drama trágico.

Antes, um pouco, depois de um dia amargo e deprimente, eu me sentia

regularmente... O telefone tocou, chamando-me.

Não sei se você se recorda. Eu não queria sair, mas, a insistência foi tal que

resolvi atender. (3)

Retomei tarde. Eu me recordo que eram quase três horas da manhã. Ainda

tentei manter-me calmo.

Eu estava num turbilhão. Tomei banho. Nova crise, sem saber por que ou

como, uma força terrível levou-me ao gesto de loucura.

Conscientemente eu não queria atirar-me lá em baixo. Eu sabia que não

tinha este direito. Eu não podia fazer aquilo, porque iria ferir você, toda a família ...

Page 288: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 283

Dominado por uma ação maior do que as minhas resistências, impulsionou-

me ao salto no espaço.

Quis gritar e a voz morreu na garganta. Quis recuar e era tarde. Foi rápido

demais. (4)

É certo que, de quando em quando, eu pensava no suicídio.

No íntimo, porém, eu queria viver, necessitava de viver ...

Faltava-me alegria, equilíbrio.

Você recorda que eu não conseguia levar nada adiante: nem estudos, nem

trabalhos, nem amigos ... (5)

Agora são dolorosas recordações e muito sofrimento.

Não lhe oculto o quanto sofri e prossigo experimentando como é natural.

Foi num momento impossível de descrever, que vovó me apareceu,

amparando-me, em nome de Deus ...

Adormeci, sem ter paz. Pesadelos terríveis me assaltavam.

A queda no espaço, o arrependimento, o desespero se afiguravam corno

horror infernal.

Eu me recordo que ouvi uma voz me chamando. Ao despertar, apesar do

torpor, vi um sacerdote vestido de cor clara, que me disse: "Roberto, eu sou

Eduardo, que antes fui bispo em Ilhéus e venho dizer-lhe que tudo está bem." (6)

Senti uma grande calma e então, consegui adormecer novamente ...

Não posso reunir todas as lembranças para narrar aqui.

O que desejo dizer-lhe é que não sofra mais. O seu sofrimento me perturba.

Acalme-se e aceite esta dolorosa realidade, confiando no tempo. Amanhã

será um outro dia para nós.

A irmã Joanna de Angelis, que me ajuda nesta carta, pede-me encorajá-la, a

fim de que sejamos felizes.

Deus não nos abandona e estou aprendendo a crer, a entender.

Page 289: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 284

Eu prossigo internado em um verdadeiro hospital para suicidas como sou

considerado, apesar dos atenuantes que me concedem a caridade de sofrer menos...

Peço perdão ao "velho" pai Elsito (7), que agora valorizo e procuro melhor

compreender. Cumpridor dos seus deveres, eu reconheço, ele estava cansado de

mim. Eu não fazia o necessário para agradá-lo.

Agradeço com carinho o Mimo com quem eu implicava, às vezes, até sem

querer, a Nena e a Liana (8), pedindo-lhes que me recordem aos familiares dos seus

corações.

Sempre será 4 de maio (9) para nossos corações.

Nestes 26 anos de vida física (10), interrompidos naquele 14 de fevereiro,

eu não pude crescer para Deus, nem para você, nem para ninguém.

Confio que agora será melhor para nós.

Prometa-me, mãezinha querida, que você se acalmará e viverá mais feliz,

com isso ajudando o seu filho que prossegue necessitando do seu carinho, das suas

orações, das suas ações do bem.

Altere meu quarto. Desfaça de muita coisa, agora sem sentido e que poderá

ser útil aos desafortunados, em memória de mim.

Não me é permitido alongar-me por mais tempo. Quando Deus permitir,

voltarei a dar-lhe notícias.

Esteja tranqüila e perseverante no Bem.

Com saudades e carinho a você e aos nossos, o filho sofredor e agradecido,

sempre afetuoso e necessitado, que a beija, rogando a Deus por nós,

Roberto Eduardo – Vitória da Vida – Pag. 115

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 285

2º Mensagem – 1986 – Dezembro – 20/12/1986

Meu querido pai Elsito, minha querida mãezinha Lêda, estou aqui, rogando

a Deus que nos abençoe!

Aguardei este momento com crescente ansiedade, receando não merecer a

oportunidade.

Informado, há pouco, de que me fora concedido o ensejo, encontro-me

emocionado e sob a direção da Benfeitora Joanna de Ângelis, tomo do lápis

mediúnico para esta breve carta do coração.

Tudo é alegria em mim, porque, lúcido, adquiro responsabilidade e

compreendo melhor a vida.

O sofrimento é fenômeno normal e não punição, ensinando-me a valorizar

as dádivas de Deus que não soube ou não quis considerar, quando no corpo, mas,

que agora me significam muito.

Lentamente vou superando-me, porque não penso no passado em termos de

recordações infelizes, senão, como lições que me empurram para o futuro

promissor.

Repasso as lembranças positivas e bendigo-as, considerando aquelas

amargas, como necessárias para o meu progresso.

A terra não dilacerada pelo arado, jamais produz, realizando o mister, para

o qual está destinada. Assim, também, é a criatura...

Hoje, ainda prossigo sob carinhoso tratamento espiritual, mesmo após estes

10 meses (11), que não significam muito, em nossa área de movimentação, nesta

esfera da vida.

Apesar disso, para os sentimentos de saudade, representam um século de

separação...

É tão difícil dizer o essencial quando o tempo está sob controle e o que nos

cumpre esclarecer se encontra sob orientação!

Acompanho os dias da mãezinha, com os seus altibaixos e participo das suas

preocupações ...

Page 291: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 286

O seu pensamento me alcança com todas as interrogações que lhe pesam,

no momento, na alma.

Gostaria de poder respondê-las todas, mas o tempo e os deveres novos não

me permitem.

Estou feliz pelo Mimo com a sua viagem aos Estados Unidos. (12)

Perseverante ele conseguiu e eu sorrio de alegria, recordando-me das minhas

implicâncias com o querido irmão, que, certamente, já me perdoou.

Estive no seu aniversário, mãezinha, no dia 3 de novembro, (13) e desejei

falar-lhe, a fim de tranqüilizá-la. Não me foi possível.

A correspondência, daqui, para aí, não é fácil e exige que muitos fatores se

conjuguem, para que tudo resulte favorável.

Acompanho os passos da Nena e da Liana participando, de maneira

diferente, do que lhes acontece no lar ou nas ansiedades da alma.

Peço a Deus que as acompanhe.

Meus queridos pais, este é um presente de Natal, que me pareceu

significativo para oferecer-lhes hoje, agradecendo-lhes tudo quanto fizeram por

mim e ainda o fazem.

Estou incumbido de dizer a D. Sónia (14), que o seu filho aqui presente,

pede-me para dizer-lhe que, amanhã, celebrará o segundo aniversário da sua

libertação ao seu lado (15) e que se sente muito feliz, profundamente reconhecido

ao seu amor, beijando-a, afetuosamente.

Não me posso alongar mais. O essencial está apresentado.

Guardem-me nas suas preces.

... E, na noite do aniversário de Jesus estarei visitando nossa Casa, dizendo-

lhes, desde já: Deus os faça felizes, meus pais, e perdoem o seu filho insensato!

Com o carinho pela família querida, que brota do coração, o filho

arrependido, que luta pela redenção e os ama, sempre reconhecido.

Page 292: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 287

(1) - Ilhéus (BA) - Cidade onde nasceu e viveu o missivista desencarnado.

(2) - Estas informações são extraordinárias, pois que se referem a

ocorrências reais, confirmadas pela genitora O dia 14, que recorda aquele dia 14 de

fevereiro ... Noite cruel, madrugada dolorosa, constitui a recordação do suicídio,

naquela oportunidade, quando Roberto atirou-se pela janela do 7º andar do prédio

onde residia

(3) - Este detalhe foi igualmente confirmado.

(4) - Referência à força espiritual adversária que o levou ao suicídio.

(5) - O missivista, realmente, padecia destas alternâncias de comportamento.

(6) - Dom Eduardo, foi um missionário amoroso, que viveu em Ilhéus e goza

de muito carinho pelos seus feitos antes e depois da desencarnação.

(7) - Sr. Elsito - Genitor de Roberto.

(8) - Mimo, Liana e Nena - Irmãos de Roberto. Os primeiros são jovens e

solteiros. Nena é casada e mãe.

(9) - Sempre será 4 de maio - Data de aniversário do missivista.

(10) - Vinte e seis anos de vida física - Informação confirmada

(11) - Realmente transcorreram 10 meses desde o dia da desencarnação do

jovem.

(12) - Dado exato - Viagem do Mimo aos Estados Unidos.

(13) - Data correta, 3 de novembro.

(14) – D. Sónia - Mãe de outro jovem que desencarnou em acidente e se

encontrava presente à reunião.

(15) - O filho de D. Sônia desencarnou há dois anos, na data referida,

conforme elucidação da mesma senhora.

Roberto Eduardo – Vitória da Vida – Pag. 123

Page 293: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 288

4 REFERÊNCIAS

Esta relação bibliográfica não está, intencionalmente, seguindo os padrões

usuais – está numa forma mais sintética, fazendo uma correlação direta entre o texto

do trabalho e os livros/mensagens.

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 1 Allan Kardec – A Gênese – Cap. 14 – Obsessões e Possessões

2 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 941

3 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 957

4 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 961

5 Allan Kardec – Livros dos Espíritos – 4º Parte – Cap. 1 – item 6 – Perg. 944

6 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 5 – Suicidas

7 Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 28 – item 81 – Pelos Obsidiados

8 Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 5 – Item 14 – O Suicídio e a Loucura

9 Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Cap. 23 – Item 237 – A Obsessão

10 Allan Kardec – Obras Póstumas – 1º Parte – Cap. 7 – Item 56 – Da Obsessão e da Possessão

11 Allan Kardec – Revista Espírita — Abril 1861 — 3° Artigo — Alfred Leroy

12 Allan Kardec – Revista Espírita — Junho 1858 — 3° Artigo – O Suicida da Samaritana / O Céu e o Inferno – 2ª Parte – Capítulo 5 – Exemplo 1

13 Altamir da Cunha – Revista Reformador – 2006 – Dezembro – Perdas, Depressão e Suicídio

14 Amílcar Rodrigues Passos – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 8 – Fuga Desastrosa

15 Ana Elisa Bastos Figueiredo – Impacto do suicídio da pessoa idosa em suas famílias

16 Ana Elisa Sena Klein Da Rosa – Suicídio e fragilidade social na velhice, uma triste realidade – Revista Portal de Divulgação No 12, Julho/ 2011

17 André Luiz – Busca e Acharás – Cap. 19 – Texto Antidepressivo

18 André Luiz – Caderno de mensagens – Cap. 66 – Remédio contra o Tédio

19 André Luiz – Estude e Viva – Cap. 35 – Influências Espirituais Sutis

20 André Luiz – Libertação – Cap. 11 – Valiosa Experiência

Page 294: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 289

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 21 Anônima – Depoimentos Vivos – Cap. 12 – Suicida

22 Antero de Quental – O Martírio dos Suicidas – Cap. 4 – O Problema

23 Antero de Quental – Parnaso de Além-Túmulo – Cap. 10 – Antero de Quental

24 Antero de Quental – Seara da Esperança – Cap. 9 – Confissão

25 Antônio Carlos Martins Coutinho – Reencontros – Cap. 6 – Regresso Inesperado

26 Arnold Souza – Rumos da vida — Cap. 2 – Vida diária

27 Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – 1º Parte – Cap. 3/6

28 Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – Cap. 6

29 Breno Rosostolato – Suicídio e Depressão, Conhecer Para Prevenir Fórum Espirita

30 Camilo Castelo Branco – 1936 – médium Francisco Cândido Xavier – O Martírio dos Suicidas (Almerindo Martins de Castro) – Pag. 44

31 Camilo Castelo Branco – Do País da Luz – Vol. 4 – Cap. 42 – médium Fernando de Lacerda – 1918

32 Cândida Maria – Depoimentos Vivos – Cap. 44 – Fuga e Realidade

33 Carneiro de Campos – Sementes de Vida Eterna: Cap. 8 – Doença e Terapêutica

34 Casimiro Cunha – Gotas de Luz – Cap. 34 – Apartes

35 Charles – Recordações da Mediunidade – Cap. 6 – Testemunho

36 Cláudia Pinheiro Galasse – Amor e saudade – Cap. 6 – Cláudia Pinheiro Galasse

37 Cláudio Bueno da Silva – O Consolador – Ano 7 – N° 333 – 13 de Outubro de 2013 – Homicídios Espirituais

38 Cornélio Pires – Astronautas do Além – Cap. 3 – Suicídio

39 Cornélio Pires – Degraus da Vida – Cap. 9 – No abuso

40 Daniel J. Reidenberg, diretor do Conselho Nacional para Prevenção de Suicídios (USA) – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA

41 Décio Marcio de Carvalho – Porto de alegria – Cap. 9 – Custa-me confessar-lhes que estou cego

42 Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Agosto – Suicídio na Adolescência

43 Dimas Luiz Zornetta – Assuntos da vida e da morte – Cap. 2 – Dimas Luiz Zornetta

44 Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de Ferro

45 Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 22 – A Moça da Praia

46 Divaldo Franco/Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o suicídio

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 290

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 47 Dora Incontri – Suicídio, a visão espírita revisita – 21/Setembro/2015

48 Edith Serfaty – Suicídio na Adolescência/1998 – SASIA–Sociedad Argentina de Salud Integral dei Adolescente–Revista Adolescência Latino–americana – 1414– 7130/98/1–105–110

49 Eileen Kennedy-Moore – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA

50 Elias Barbosa – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta

51 Elisa Seminotti, psicóloga brasileira, especialista em Saúde Pública – UFRGS– Suicídio Infantil – Reflexões sobre o cuidado médico/2011

52 Emmanuel – Coragem – Cap. 1 – Quando o Tédio apareça

53 Emmanuel – Recados do Além – Cap. 28 – Imortalidade

54 Ênio Resmini – Suicídio na Adolescência. Psichiatry on Line Brazil, Part of The International Journal of Psychiatry – ISSN 1359 7620, v. 11, n. 1, mar/2016

55 Eurípedes Barsanulfo – Sementes de Vida Eterna – Cap. 50 – Tormentos da Obsessão

56 Evaldo D`Assumpção – Sobre o Viver e o Morrer – Introdução/Cap. 4/Cap.6

57 Fátima Gonçalves Cavalcante – Diferentes faces da depressão no suicídio em idosos – Ciência & Saúde Coletiva, vol. 18, núm. 10, Outubro/2013

58 Fernanda Luiza Batista – Vida nossa Vida – Cap. 5 – Fernanda Luiza Batista dos Santos

59 Francisca Julia – Antologia dos Imortais – Cap. 28 – Adeus

60 Francisca Júlia da Silva – Vozes do Grande Além – Cap. 18 – Suicídio

61 Francisco Adonias Nogueira Filho – Entes queridos – Cap. 5 – Francisco Adonias Nogueira Filho

62 Francisco Ângelo de Souza – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 5 – Notícias do Além

63 Francisco Cândido Xavier – A Terra e o Semeador – Perg. 136

64 Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 190

65 Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 222

66 Francisco Dias da Cruz – Vozes do Grande Além – Cap. 24 – Obsessão Oculta

67 Francisco M. Dias da Cruz – Revista Reformador – 2006 – Dezembro

68 Ghislaine Bouchard, psiquiatra canadense – O Suicídio na Adolescência/2003

69 H – Depoimentos Vivos – Cap. 32 – Amarga Experiência

70 Heloísa Noronha – Suicídio de Walmor Chagas serve de alerta para a depressão na velhice – UOL–04/11/2015

71 Herculano Pires – Obsessão, Passe, e Doutrinação – 1º Parte – Cap. 8 – Roteiro da Desobsessão

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ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 291

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 72 Hermes Fontes – Chico Xavier – O Primeiro Livro – 3ª Parte – Cap. 20 – Vozes

do sofrimento

73 Hermes Fontes – O Martírio dos Suicidas – Cap. 1 – Ilusões Funestas

74 Hermínio de Miranda – Revista Reformador – 1993 – Novembro – Vale a pena suicidar-se?

75 Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão

76 Humberto de Campos – Estante da vida – Cap. 1 – Encontro em Hollywood / Revista Reformador – 1966 – Julho – Pag. 147 – Entrevista com o Além

77 Humberto de Campos – Estante da Vida – Cap. 2 – Entrevista com uma Suicida

78 Izaias Claro – Depressão Causas, Consequências e Tratamentos – Pag. 104

79 Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o suicídio

80 Joanna de Ângelis – Alerta – Cap. 4 – Obsessão e Jesus

81 Joanna de Angelis – Alerta – Cap.28 – Loucura Suicida

82 Joanna de Ângelis – Luz Viva – Cap. 14 – Loucura Suicida

83 Joanna de Angelis – Momentos de Iluminação – Cap. Opção pela Vida

84 Joanna de Ângelis – Momentos de Saúde e de Consciência – Cap. 14 – Dias de Sombras

85 Joanna de Angelis – Revista Reformador – 1988 – Maio – Loucura e Suicídio

86 Joanna de Angelis – Rumos Libertadores – Cap. 43 – Médiuns Conscientes

87 João Alves de Souza – Vivendo sempre – Cap. 10 – João Alves de Sousa

88 Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque – Do País da Luz – 1º Volume – Cap. 34

89 Jorge – Instruções Psicofônicas – Cap. 18 – Drama na sombra

90 Jorge Andréa – Revista Presença Espírita – No 91 – 1981 – Dezembro – Suicídio

91 José Teodoro Caldeira – Presença de Chico Xavier – Cap. 14 – Carta de um suicida à sua mãe

92 Júlio César C. da Silveira – Gratidão e Paz – Cap. 13 – Júlio César C. da Silveira

93 Karen Scavacini, – Em dez anos, suicídio de crianças e pré-adolescentes cresceu 40% no Brasil – http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-adolescentes-cresceu-40-no-brasil.html

94 Leon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor –1º Parte – Cap. 10 – A Morte

95 Liana Wernersbach Pinto – Evolução temporal da mortalidade por suicídio em pessoas com 60 anos ou mais nos estados brasileiros, 1980 a 2009 – Rio de Janeiro: ABRASCO, v. 17, n. 8, ago. 2012

Page 297: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 292

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 96 Liana Wernersbach Pinto – Revista Ciência & Saúde Coletiva/2012

97 Lima – Instruções psicofônicas – Cap. 23 – Companheiro em luta

98 Lincoln Prata Lóes – Claramente vivos – Cap. 3 – Não julguem que tivesse usado minhas mãos no suicídio

99 Lisa Elliott – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA

100 Louis Nivard – Revista Espírita – Janeiro 1869 – 9° Artigo – suicídio por obsessão

101 Lúcia Ferreira – Entre duas Vidas – Cap. 4 – Jovem Suicida

102 Luís Alves – Vozes do Grande Além – Cap. 26 – Um caso singular

103 Luís de Lamônica – Revista Espaço Espiritual – Setembro/2001

104 Luís Fernando – A volta – Cap. 13 – Mensagem de Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo

105 Manoel Philomeno de Miranda – A Transição Planetária – Cap. 11 – Aprendizado Constante

106 Manoel Philomeno de Miranda – Loucura e Obsessão – Cap. 24 – O Trágico Desfecho

107 Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. Análise das Obsessões

108 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 4 – Estudando o Hipnotismo

109 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 6 – No Anfiteatro

110 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 8 – Processos Obsessivos

111 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a Obsessão

112 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 1 – Provação Necessária

113 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 12 – Providências Inesperadas

114 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 24 – Obsessão Sutil e Perigosa

115 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 31 – Gravames na Obsessão

116 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 32 – O Retorno de Felipe

Page 298: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 293

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 117 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 7 – Sementes da

Insensatez

118 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Prefácio

119 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 5 – Obsessão, Idiotia e Loucura

120 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 2o Parte – Cap. 2 – Sutilezas da Obsessão

121 Manoel Philomeno de Miranda – Sementes de Vida Eterna – Cap. 30 – Considerando a Obsessão

122 Manoel Philomeno de Miranda – Sexo e Obsessão – Cap. 4 – O drama da obsessão na infância

123 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 – Suicídio solução insolvável

124 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 26 – Fenômenos Obsessivos

125 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 3 – Reminiscências

126 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 4 – Novos Descortinos

127 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 5 – Contato Precioso

128 Manoel Philomeno de Miranda – Trilhas da Libertação – Cap. 8/21/30

129 Márcio Candiani – Suicídio na Infância e Adolescência

130 Marcio Ricardo

131 Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Ideia

132 Marco Prisco – Sementeira da Fraternidade – Cap. 28 – Acessos à Obsessão

133 Marcos Emanuel Teixeira Santos – Vozes da Outra Margem – Familiares diversos – Capítulo 10 – Vítima da imprudência

134 Marcus Alberto de Mario – Prevenção do Suicídio – Revista Internacional de Espiritismo

135 Maria Cecília de Souza Minayo – Suicídio entre pessoas idosas: revisão da literatura – Revista Saúde Pública 2010;44(4):750–7

136 Marlene Nobre – Nossa Vida no Além – Cap. 9 – Adaptação à Vida Nova – Casos Especiais

137 Marta Antunes de Moura – Site FEB – Obsessões Espirituais – 2018/03/08

138 Marta Antunes Moura – Revista Reformador – 2007 – Maio – Suicídio na Adolescência

139 Martins Peralva – O Pensamento de Emmanuel – Cap. 35 – Suicídio

Page 299: ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio

ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 294

Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 140 Maximiliano – Revista Espírita – Maio 1862 – 3° Artigo – Um Paixão de Além-

Túmulo

141 Milton Higino de Oliveira – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta

142 Orlando Candelária – Sorrir e Pensar – Cap. 13 – Temas da Obsessão

143 Paloma Oliveto – Sem Forças – Correio Braziliense – 17/02/2017

144 Pedro Augusto Souza Gonçalves – Porto de alegria – Cap. 4 – Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados

145 Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência & Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015

146 Raul Martins – O Martírio dos Suicidas – Cap. 3 – As Tragédias

147 Renata Zaccaro de Queiroz – Vitória – Cap. 17 – Auxilie-me com as suas preces e com os seus pensamentos de amor e perdão

148 Roberto Eduardo – Vitória da Vida – Pag. 31 –

149 Selma Rodrigues Sanches – Corações Renovados – Cap. 3 – Família Sanches / Intercâmbio do bem – Cap. 14 – Selma Rodrigues Sanches

150 Suely Caldas Schubert – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de Ferro

151 Suely Caldas Schubert – Obsessão e Desobsessão – Cap. 12 – A criança obsidiada

152 Universidade Nova Lisboa – CITI – O Suicídio de Camilo Castelo Branco

153 Valdirene Alves de Lima – Suicídio na Terceira idade – Universidade Católica de Brasília – 2010

154 Vitor Hugo – Párias em Redenção – 2º Parte – Cap. 1 – Infeliz despertar no Além

155 Vivian Roxo Borges – Estudo de ideação suicida em adolescentes de 15 a 19 anos. Estudo de Psicologia (Natal) Vol. 11, n. 3, Natal, Set/Dez.

156 Washington Luiz Nogueira Fernandes – Jornal Mundo Espírita – 2007 – Agosto

157 Wladimir Cesar Ranieri – Amor e saudade – Cap. 10 – Wladimir Cesar Ranieri

158 Yvone Pereira – Dramas da Obsessao – 1º Parte – Cap. 1

159 Yvonne Pereira – Devassando o Invisível – Cap. 10 – Os Grandes segredos do Além

160 Yvonne Pereira – Dramas da Obsessão –1º Parte – Cap. 1 – Leonel e os Judeus

161 Yvonne Pereira – Memórias de um Suicida – Introdução – 1954

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