objetivos terapêuticos para psicanálise e psicoterapia psicanalítica freud klein bion winnicott...

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REVISTA BRASILEIRA DE PSICOTERAPIA 2014;15(3):53-70 15 3 4 Objetivos terapêuticos para psicanálise e psicoterapia psicanalítica: Freud, Klein, Bion, Winnicott, Kohut* Carolina Stopinski Padoan a Marina Bento Gastaud b Cláudio Laks Eizirik c a Psicóloga, mestranda em Ciências Médicas: Psiquiatria (UFRGS). b Psicóloga, doutora em Ciências Médicas: Psiquiatria (UFRGS), pós-doutoranda em Psicologia Clínica (UNISINOS). c Médico psiquiatra, psicanalista (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre - SPPA), ex-presidente da International Psychoanalytical Association (IPA), doutor em Ciências Médicas: Psiquiatria (UFRGS), professor adjunto UFRGS. Instituição: UFRGS - FAMED - PPG Psiquiatria Resumo A concepção ontológica da psicanálise envolve tanto uma forma de compreender os fenômenos humanos e sociais quanto uma abordagem terapêutica. Para aqueles clínicos que percebem a prática psicanalítica como um tratamento, parece importante revisar quais os objetivos terapêuticos do método psicanalítico e os fatores a serem considerados ao analisar a efetividade desse tipo de intervenção. Para tanto, os autores revisam as contribuições de cinco escolas do movimento psicanalítico, as de Freud, Klein, Bion, Winnicott e Kohut. Como a maior parte da literatura disponível refere-se à psicanálise, justifica-se a importação de alguns de seus postulados à psicoterapia psicanalítica e à discussão de especificidades da ARTIGO DE REVISÃO * Apoio financeiro: Este artigo faz parte da tese de doutorado da segunda autora, orientada pelo terceiro autor. O doutorado foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas do departamento de Psiquiatria da UFRGS com bolsa da CAPES. A tese é intitulada “Indicação, concordância em iniciar tratamento e melhora inicial na psicoterapia psicanalítica”.

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    REVISTA BRASILEIRA DE PSICOTERAPIA 2014;15(3):53-70

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    Objetivos teraputicos para psicanlise e psicoterapiapsicanaltica: Freud, Klein, Bion, Winnicott, Kohut*

    Carolina Stopinski Padoana

    Marina Bento Gastaudb

    Cludio Laks Eizirikc

    a Psicloga, mestranda em Cincias Mdicas: Psiquiatria (UFRGS).

    b Psicloga, doutora em Cincias Mdicas: Psiquiatria (UFRGS), ps-doutoranda em Psicologia Clnica

    (UNISINOS).

    c Mdico psiquiatra, psicanalista (Sociedade Psicanaltica de Porto Alegre - SPPA), ex-presidente da

    International Psychoanalytical Association (IPA), doutor em Cincias Mdicas: Psiquiatria (UFRGS),

    professor adjunto UFRGS.

    Instituio: UFRGS - FAMED - PPG Psiquiatria

    Resumo

    A concepo ontolgica da psicanlise envolve tanto uma forma de compreender os fenmenos humanos

    e sociais quanto uma abordagem teraputica. Para aqueles clnicos que percebem a prtica psicanaltica

    como um tratamento, parece importante revisar quais os objetivos teraputicos do mtodo psicanaltico

    e os fatores a serem considerados ao analisar a efetividade desse tipo de interveno. Para tanto, os

    autores revisam as contribuies de cinco escolas do movimento psicanaltico, as de Freud, Klein, Bion,

    Winnicott e Kohut. Como a maior parte da literatura disponvel refere-se psicanlise, justifica-se a

    importao de alguns de seus postulados psicoterapia psicanaltica e discusso de especificidades da

    ARTIGO DE REVISO

    *Apoio financeiro: Este artigo faz parte da tese de doutorado da segunda autora, orientada pelo terceiro autor. O

    doutorado foi realizado no Programa de Ps-Graduao em Cincias Mdicas do departamento de Psiquiatria da

    UFRGS com bolsa da CAPES. A tese intitulada Indicao, concordncia em iniciar tratamento e melhora inicial na

    psicoterapia psicanaltica.

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    ltima. A noo de tica aplicada ao trabalho do psicoterapeuta/analista aparece como princpio norteador

    na prtica psicoteraputica e d coeso s distintas abordagens tericas.

    Palavras chave: Psicoterapia; Psicanlise; Cura Mental; Terapia Psicanaltica.

    Abstract

    The ontological conception of psychoanalysis involves both a way of understanding human and social

    phenomena and a therapeutic approach. For those clinicians who perceive the psychoanalytic practice as

    a treatment, it seems important to review the therapeutic goals of the psychoanalytic method and what

    factors should be considered when analyzing the effectiveness of this type of intervention. For this purpose,

    the authors review the contributions of five schools of the psychoanalytic movement - Freud, Klein, Bion,

    Winnicott and Kohut. As most of the available literature refers to psychoanalysis, it is justified to import

    some of its postulates to psychoanalytic psychotherapy and to discuss specificities of the latter. The

    notion ethics applied to the work of psychotherapist / analyst appears as a guiding principle in

    psychotherapeutic practice and gives cohesion to the different theoretical approaches.

    Keywords: Psychotherapy; Psychoanalysis; Mental Healing; Psychoanalytic Therapy.

    Introduo

    Todos ns acabamos nos acostumando com uma coisa extraordinria: esta conversa esquisita, que

    denominamos psicanlise, funciona inacreditvel, mas ela funciona.1

    Enfrenta-se na prtica clnica cotidiana o seguinte dilema: h uma alta procura de ajuda oriunda das

    elevadas necessidades de performance nos dias atuais, aliada grande expectativa por resultados nas

    reas afetivas e profissionais, competitividade e pressa2;3;4;5. Ao mesmo tempo, os pacientes parecem

    cada vez mais preocupados com a durao de um tratamento e com seu alto custo, o que favorece as altas

    taxas de abandono do atendimento6.

    A teoria da tcnica psicanaltica, a psicopatologia e os estudos sobre metapsicologia foram

    constantemente revisados e ampliados desde os achados de Freud. Essa evoluo tem ajudado a

    contemplar os mais variados tipos de pacientes e tem possibilitado que diferentes queixas possam ser

    atendidas7. A durao da psicoterapia e sua capacidade de tratar so importantes aspectos da tcnica que

    devem ser constantemente revisados e ampliados para que possam se aplicar ao tempo contemporneo

    e demanda atual de pacientes. Espera-se que a dupla teraputica seja capaz de transformar fantasias de

    adoecimento e cura em planos para combater o adoecimento e buscar a cura.

    Complicaes nessa tarefa podem estar por trs das altas taxas de abandono8. A pessoa pode se

    imaginar alcanando seus objetivos e decidir finalizar o servio; pode estar satisfeita com alguns resultados

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    obtidos, mas no desejar investir mais tempo e dinheiro para a consecuo de outras metas que no so

    criadas por sua experincia de vida, mas pela anlise (mesmo que cuidadosa) de seu terapeuta9. Por isso,

    interessa revisar os objetivos teraputicos da psicanlise e da psicoterapia psicanaltica, instrumentando

    melhor os clnicos para avaliar conquistas e para decidir o momento final do tratamento. necessrio

    levar em considerao, para a realizao desta tarefa, que cada teoria psicanaltica prope objetivos

    especficos. O presente trabalho ir percorrer importantes contribuies para o tema abordado, revisando

    autores para os quais a concepo ontolgica da psicanlise envolve uma abordagem teraputica,

    semelhana dos demais tratamentos na rea da sade.

    As diferenas entre a anlise e a psicoterapia psicanaltica

    A psicoterapia psicanaltica nasceu para aliar a psicanlise com a psicologia, a medicina e a psiquiatria,

    enriquecendo a pesquisa e a produo de conhecimento4. Os objetivos da psicoterapia de orientao

    analtica so, entretanto, mais circunscritos e, consequentemente, menos ambiciosos do que aqueles de

    um tratamento por anlise10, sendo relevante apresent-los separadamente.

    Parece necessrio, portanto, fazer a ressalva de que o objetivo da psicoterapia psicanaltica seria o

    tratamento focado no conflito atual do paciente. Mesmo considerando que h relao entre o conflito primrio

    e o conflito atual, na psicoterapia psicanaltica os conflitos so tratados com algum grau de independncia.

    Neste caso, o objetivo seria possibilitar ao indivduo a ampliao do entendimento sobre seu funcionamento,

    a que, por sua vez, acarretaria o uso de defesas mais maduras e a melhora do padro das relaes objetais; a

    psicanlise, ao contrrio, tem por objetivo a elaborao do conflito primrio11. Segundo Kernberg12, o objetivo

    da psicanlise seriam as alteraes da estrutura a integrao dos conflitos inconscientes recalcados ou

    dissociados no ego consciente , enquanto o objetivo das psicoterapias psicanalticas seria a reorganizao

    parcial da estrutura psquica num contexto de mudanas sintomticas significativas.

    A literatura a respeito dos objetivos teraputicos para a psicoterapia psicanaltica escassa e

    desatualizada, ao passo que a literatura sobre esse tema em anlise abundante. Assim, o psicoterapeuta

    psicanaltico pode se beneficiar da literatura disponvel sobre anlise para formular objetivos teraputicos

    para a sua prtica. Para justificar a validade da importao dos conceitos da tcnica analtica para a prtica

    psicoterpica, recorre-se a Green:

    Vemos bem que o polimorfismo da populao de pacientes que esto

    em psicoterapia com psicanalistas e que no se contentam em

    receber ajuda de outros, a no ser de analistas, constitui uma

    populao original e nica em que um autntico trabalho

    psicanaltico pode, s vezes, se dar. Pode-se concluir que o

    aprendizado da psicoterapia exercida por um psicanalista uma

    necessidade nova na formao do psicanalista.13

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    OBJETIVOS TERAPUTICOS PARA PSICANLISE E PSICOTERAPIA PSICANALTICA: FREUD, KLEIN, BION, WINNICOTT, KOHUT

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    Nas diferenciaes entre a anlise propriamente dita e a psicoterapia psicanaltica, sabe-se que a

    primeira se caracteriza por ser um processo mais longo e profundo de autoconhecimento, o qual promove

    mudanas estruturais para a vida toda. J a psicoterapia psicanaltica trata de pontos de urgncia, mais

    breve e promove mudanas circunstanciais. De qualquer maneira, como o prprio Green mencionou

    acima, mesmo em uma psicoterapia, um trabalho autenticamente psicanaltico pode s vezes se dar...

    Para ele, a psicoterapia nasce essencialmente da impossibilidade de se pr em prtica uma situao que

    respeite as exigncias do modelo13. E isso pode ocorrer por diagnstico, problemas financeiros, ou pelo

    simples desejo do contratante. Pesquisas de resultados tm demonstrado a efetividade de ambas as

    formas de tratamento para os distrbios emocionais14;15;16;17;18;19;20;21.

    A separao conceitual entre o que seria uma psicanlise propriamente dita e uma psicoterapia

    de orientao analtica vem sendo tratada de forma cada vez menos radical nos meios psicanalticos22. Os

    critrios externos utilizados para definir a psicanlise (uso compulsrio do div, mnimo de quatro sesses

    semanais, emprego sistemtico de interpretaes transferenciais...) esto cedendo lugar a critrios

    intrnsecos (acessibilidade do paciente a seu inconsciente e capacidade de processar mudanas psquicas,

    por exemplo). Embora existam diferenas bvias entre psicanlise e psicoterapia a zona de interseo

    entre ambas vem se ampliando notoriamente. Sendo assim, no parece haver motivo suficiente para que

    um psicoterapeuta psicanaltico no possa se munir de postulados tericos da psicanlise e de suas

    recomendaes, embora fique a ressalva de que no se trata de tratamentos indiferenciados.

    As teorias clssicas

    A seguir, sero apresentadas teorias tradicionalmente estudadas no meio psicanaltico no que diz

    respeito aos objetivos teraputicos propostos por elas. No recorte deste trabalho, dada a limitao de

    espao, recorre-se a cinco autores selecionados pela relevncia clnica de suas teorias e pela pluralidade

    conceitual que representam: Freud, Klein, Bion, Winnicott e Kohut.

    Freud

    Tornar consciente o inconsciente sempre foi e continua sendo um dos principais objetivos do

    tratamento psicanaltico. Essa frmula, originria do modelo topogrfico da mente, foi reformulada como

    onde estava o id, ali estar o ego23, articulando a ideia de que preencher as lacunas mnmicas seria o

    objetivo central dos tratamentos psicanalticos. Freud tambm descreveu a capacidade adquirida ou

    aumentada do paciente de amar e trabalhar24 como um objetivo teraputico. Embora Freud tenha escrito,

    ao longo da sua vasta obra, inmeros textos relevantes para a presente reviso, esta se ater ao texto de

    1937, Anlise terminvel e interminvel.

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    Freud descreve a finalidade de um tratamento analtico como sendo a libertao de algum de seus

    sintomas, inibies e anormalidades de carter neurtico, ou seja, para ele, o analista trabalha para

    devolver ao paciente grande parte de sua independncia, despertar seu interesse pela vida e ajustar suas

    relaes com as pessoas que so importantes para ele24. Outra conquista considerada por Freud acontece

    quando o paciente capaz de se apropriar de sua melhora, vencendo as resistncias que a doena revela

    quando est prestes a ser dominada24. Afinal, costuma-se comentar e justificar imperfeies nas pessoas

    com o argumento de que suas anlises no foram terminadas. A respeito dos objetivos e marcadores de

    uma anlise bem-sucedida, ele escreve:

    (...) em primeiro lugar, que o paciente no mais esteja sofrendo de

    seus sintomas e tenha superado suas ansiedades e inibies; em

    segundo, que o analista julgue que foi tornado consciente tanto

    material reprimido, que foi explicada tanta coisa ininteligvel, que

    foram vencidas tantas resistncias internas, que no h necessidade

    de temer uma repetio do processo patolgico em apreo.25

    A partir desse argumento, pareceria que a tarefa seria da ordem do impossvel e que, para se obter

    algum sucesso, ter-se-ia de empreender anlises interminveis ou demasiadamente longas. Nesse sentido,

    Freud pergunta-se: possvel que o tratamento analtico promova normalidade psquica absoluta? E por

    acaso, isso existe? Assim, concluir que a alta ou o trmino do tratamento estejam ligados a alcanar os

    objetivos firmados no contrato ou seja, transformar queixas e pedidos de ajuda em demanda para

    tratamento parece razovel e esperado.

    Outro importante fator considerado na teoria freudiana para a anlise de resultados teraputicos se

    refere ao tipo de sofrimento do paciente, estrutura psicopatolgica e etiologia da doena (endgena

    pulses resistentes; exgena trauma). A nica anlise que poderia ser completamente terminada

    seria a que se dispe a tratar fatores exgenos ou traumticos, a qual substitui a resoluo do trauma

    criadora de sintomas e inibies por outra mais adequada. O problema reside na ausncia de um carter

    profiltico para tais tratamentos, pois a sade do indivduo dependeria em princpio de que sua vida fosse

    poupada de quaisquer acontecimentos penosos.

    Assim, questiona-se: seria objetivo de um tratamento psicanaltico livrar o paciente de qualquer

    molstia emocional at o fim de sua vida? Acredita-se que, para um tratamento ser bem-sucedido, o

    paciente, aps a alta, no pode adoecer, atrapalhar-se ou deprimir-se? Quando se fala em melhora ou

    cura como um objetivo teraputico, pode ser til tomar de emprstimo as experincias das outras

    modalidades de tratamento. Quando um pneumologista cura uma pneumonia, por exemplo, h alguma

    garantia de que essa doena no acometer aquele paciente novamente? Seria coerente, ento, falar de

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    profilaxia psquica? Ao separar a noo de cura das ideias de preveno e estabilidade dos resultados,

    Freud d um grande passo para conceituar o objetivo de um tratamento.

    O carter preventivo e permanente que variadas pesquisas de follow-up buscam como indicador de

    um tratamento bem-sucedido, assim como a opinio geral da sociedade, segundo Freud, o que pode

    acabar ofuscando o estabelecimento dos objetivos do tratamento. Se terapeuta e paciente esto lidando

    com foras pulsionais que devem ser amansadas, contedos inconscientes que devem emergir e inibies

    que devem ser vencidas, mas essa luta toda deve ocorrer merc das intempries da vida, a ideia de

    profilaxia produz algo como um curto-circuito de conceitos. Quando o objetivo est associado a uma

    conquista permanente, no parece ser possvel diferenciar fantasia de cura de objetivos teraputicos. O

    objetivo da anlise para Freud, em 1937, era fazer com que o sujeito tivesse direito de participar da vida24.

    A vida em si pode enfraquecer o eu de diversas maneiras, como por exausto, acidente ou doena.

    Nesses casos, a pulso pode renovar suas exigncias de formas mais ou menos traumticas. Para Freud, o

    tratamento deveria ento: 1) capacitar o eu para atingir certo grau de maturidade que lhe permita revisar

    antigas represses geradas na primeira infncia, 2) substituir medidas de defesa primitivas criadas por um

    eu imaturo por mecanismos de maior firmeza e confiabilidade, 3) trocar represses inseguras por controles

    egossintnicos confiveis e, finalmente, 4) recrutar no potencial para a sade do paciente ferramentas

    para enfrentar tanto o ambiente em si, que clama por adaptao, quanto a reao do eu e de suas pulses

    a esse mesmo ambiente.

    Ademais, prevenir significa antecipar conflitos que no esto na demanda atual do paciente. Para

    que a regra essencial da abstinncia seja preservada, no se deve criar material no campo analtico que

    no tenha sido trazido pelo paciente, pois demandas unilaterais criam um clima inamistoso e prejudicial

    transferncia24. Em suma, para Freud, o tratamento psicanaltico pode resolver os sofrimentos neurticos,

    mas jamais os infortnios da vida.

    Klein

    A contribuio de Melanie Klein selecionada no recorte desta reviso refere-se ao artigo de 1950,

    Sobre os critrios para o trmino de uma psicanlise. Sua inovao terica est no postulado de que o

    final da anlise, como experincia emocional, oportuniza o trmino do trabalho com as ansiedades

    persecutrias e depressivas, as quais so reativadas pelo rompimento da relao analtica e oferece a

    finalizao da elaborao das posies infantis esquizo-paranoide e depressiva26.

    Para a autora, posies emocionais que surgem precocemente na vida do beb vo se interpondo

    ao longo do desenvolvimento, marcando o processo de sade e/ou adoecimento. A posio esquizo-

    paranoide surge durante os primeiros meses de vida e marcada por ansiedades persecutrias relacionadas

    a perigos e ameaas contra o eu. Essas ansiedades podem ter origem tanto interna quanto externa.

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    medida que o ego se desenvolve, por volta da metade do primeiro ano, vai se criando na mente do recm-

    nascido o medo da ameaa ao objeto amado, que constantemente operada pela agressividade prpria

    do beb. Quando os aspectos bons e ruins dos objetos e do prprio sujeito podem comear a se integrar

    dentro de um processo de sntese, alcana-se uma maior integrao no ego e entra-se na posio depressiva.

    Nesse estgio, a me pode ser representada como um objeto total, formado por defeitos e qualidades.

    Essa harmonizao dos aspectos dos objetos internos diminui a ansiedade persecutria, porm desenvolve

    um sentimento de culpa, originado nas fantasias de ataques destrutivos e de inveja. Dessa ansiedade

    depressiva manifesta na culpa pela agresso surge a superao da experincia de reparao, a qual

    responsvel pela criao da possibilidade de relaes de objeto maduras e de aprofundamento dos

    sentimentos.

    Portanto, pode-se considerar como meta principal a ser atingida dentro de um tratamento analtico

    alcanar e manter a posio depressiva, pois isso tornaria possvel que o sujeito se identificasse com seus

    objetos de amor e fosse capaz de ter um relacionamento amoroso feliz, ficar satisfeito com a maternidade/

    paternidade, conquistar sua independncia, desenvolver amizades ao longo da vida e ser criativo. Ao se

    identificar com as pessoas que ama, o sujeito demonstra sua capacidade de satisfao com aquilo que

    pode oferecer aos outros, pois a possibilidade de se colocar no lugar de algum exige a suspenso

    temporria de seus prprios interesses e ambies pessoais em prol dos de outra pessoa. Em um

    relacionamento amoroso feliz, deve existir, para Klein, forte apego, capacidade mtua para sacrifcios e

    grande habilidade para compartilhar interesses, dor e prazer. Nas questes tocantes luta pela

    independncia, o sujeito deve ser capaz de substituir aquele primeiro alimento, cujo smbolo o leite

    materno, representante das primeiras sensaes de bem-estar e segurana, por derivados adequados a

    cada fase da vida. Assim, a experincia do desmame deve estar analisada suficientemente at o ponto de

    no existir mais dio intenso por sua privao, sob pena de o sujeito no conseguir se adaptar a outras

    frustraes no futuro, ficando indevidamente preso segurana artificial da dependncia. Na criatividade,

    a presena de um sentimento de culpa mitigado pela capacidade de reparao produz a sensao de uma

    ao criadora e transformadora das relaes e do mundo interno dos sujeitos. As sensaes de bem-estar

    so entendidas intrapsiquicamente como genitores bons e generosos, capazes de dar vida27.

    Para que a anlise das ansiedades depressivas e persecutrias possa promover reduo e modificao

    das angstias a ponto de se indicar alta ao paciente, deve ter ocorrido uma anlise das experincias

    primitivas de luto durante o tratamento26. Porm, a advertncia feita:

    Mesmo que a anlise retroceda aos estgios mais antigos do

    desenvolvimento (...), os resultados ainda assim podero variar de

    acordo com a severidade e estrutura do caso. Em outras palavras,

    apesar do progresso feito em nossa teoria e nossa tcnica, devemos

    ter em mente as limitaes da terapia psicanaltica28.

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    Dessa forma, os psicoterapeutas psicanalticos reavaliam suas expectativas juntamente com Klein26

    e percebem como metas para o tratamento: 1) que as ansiedades persecutria e depressiva no sejam

    excessivas; 2) que o ego seja estvel; 3) que o paciente tenha senso de realidade e profundidade (riqueza

    da vida de fantasia e capacidade para experienciar emoes livremente); e 4) que a vivncia do trmino

    do tratamento, a dessidealizao do analista e o trabalho exaustivo da transferncia negativa sejam

    alcanados.

    Bion

    Bion considerava o objetivo de um tratamento a obteno de crescimento mental, o qual no deve

    ser confundido com o conceito de cura que se costuma utilizar nas outras reas da sade. Dessa forma, sua

    proposta para um tratamento no se baseava no propsito de diminuir sintomas e angstias, mas na

    oportunidade criada pela dupla paciente-terapeuta de promover espaos mentais com cada vez mais

    verdade, criatividade e complexidade. Para ele, o desejo de curar era algo que se prestava mais a atrapalhar

    o processo teraputico do que a ajudar. A ansiedade prpria da vontade de acabar com as dores emocionais

    e com a sintomatologia tomaria o lugar da busca pela verdade. A difcil tarefa de sustentar a abertura de

    espao psquico que promove crescimento mental poderia ser substituda pela fcil tarefa de tornar a

    pessoa mais adaptada ao seu meio social.

    Bion acreditava que havia duas maneiras pelas quais um sujeito poderia escapar da dor mental: ou

    canalizando seus mximos esforos para fugir dela, ou enfrentando, experimentando, sentindo e

    aprendendo com ela. Esta ltima seria a nica maneira de transformar ou modificar as frustraes29;30. A

    propsito, as frustraes so experincias extremamente importantes para a formao dos pensamentos

    dentro da teoria bioniana. a partir do encontro entre pr-concepo (como uma expectativa de algo,

    inata) e frustrao (no realizao dessa expectativa) que nasce um pensamento, quando o sujeito no

    opta pela fuga. No tratamento psicanaltico, o trabalho deve centrar-se na formao ou estimulao de

    uma mente capaz de tolerar e manejar as dores emocionais e as frustraes, o que permitir a expanso

    de uma mente criativa, cada vez mais capaz de suportar a vida. O aprender com a experincia desenvolve

    justamente essa capacidade criadora de pensamentos, bem como o aparelho capacitado para pens-los,

    propiciando a aquisio de um estilo de vida promotor de sade emocional.

    Bion entende que as relaes se passam no em termos de simples amor versus dio, mas entre

    emoo e antiemoo, ou seja, entre a normalidade e a patologia do amor, do dio e do conhecimento31.

    Esses vnculos esto presentes o tempo todo e em todas as relaes, sendo eles os marcadores do tipo de

    funcionamento mental e psicolgico de cada pessoa em cada momento. As transformaes seriam o

    objetivo principal de todo o tratamento emocional, devendo-se buscar a evoluo dos diversos estgios

    da capacidade de pensar. As principais transformaes propostas se referem a: 1) transformar conhecimento

    (K) em O, que seria a origem, a coisa em si mesma, e, nesse movimento, haver sempre a possibilidade da

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    inverso de sentido O em K; 2) transformar elementos chamados beta (ideias coisificadas,

    protopensamentos destinados evacuao) em elementos alfa (que permitem sonhos, criam capacidade

    para pensar e instauram a barreira consciente/inconsciente); 3) transformar quantidade em qualidade,

    no objetivando liquidar a dor, mas aumentar a capacidade do paciente para sofrer.

    Concluindo, importante lembrar que, alm de todas as intervenes tcnicas do terapeuta, baseadas

    nos elementos explicitados anteriormente, para Bion, uma identificao bem-sucedida com a pessoa real

    do analista de fundamental importncia para o bom andamento do tratamento e para que os resultados

    alcanados adquiram o status de crescimento mental. A expresso funo psicanaltica da personalidade

    remete ao aprender com a experincia, no caso, com a experincia teraputica. O grau de sucesso de um

    tratamento depende de algo ter se criado e seguido em andamento, em construo e em expanso na

    mente do paciente mesmo depois que a terapia/anlise esteja encerrada.

    Winnicott

    As contribuies de Winnicott conseguiram expandir e renovar a teoria clssica com a mesma

    intensidade com que o autor lutou para mant-la viva em sua originalidade.

    Ao praticar psicanlise, tenho o propsito de me manter vivo, me

    manter bem, me manter desperto. Objetivo ser eu mesmo e me

    portar bem. Uma vez iniciada uma anlise espero poder continuar

    com ela, sobreviver a ela e termin-la32.

    Como primeiro objetivo de um tratamento, o autor indica que todo o processo teraputico deve

    visar a seu fim. Os psicoterapeutas responsveis avaliam-se constantemente quanto a sua capacidade

    para manter pacientes em tratamento, evitando abandonos e analisando tanto material inconsciente

    quanto possvel. Deve-se admitir ser infinita a necessidade do terapeuta de investigar, construir e

    reconstruir histrias e fantasias junto com os pacientes de acordo com as diversas teorias que acaba

    aprendendo ao longo do seu desenvolvimento profissional. Eis o paradoxo do treinamento de todo o

    terapeuta: deve aprender a manter seus pacientes, mas, ao mesmo tempo, precisa desejar que seu trabalho

    chegue ao fim no menor tempo possvel; tambm se espera que no se faam muitos estragos ao longo

    desse percurso. Os objetivos so do paciente e o mrito tambm. Diz o autor: Sempre me adapto um

    pouco s expectativas do indivduo, de incio. Seria desumano no faz-lo. Ainda assim, me mantenho

    manobrando no sentido de uma anlise padro32.

    Para Winnicott33, possvel fazer diversos tipos de psicanlise. Com o paciente que preenche os

    critrios clssicos de analisabilidade (condies de insight e enfermidades neurticas), trabalham-se

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    fantasias inconscientes, padres de relacionamento e funcionamento defensivo por meio da neurose de

    transferncia e da abstinncia do terapeuta. Para os demais, adapta-se a tcnica. Durante sua prtica

    clnica e no decorrer de suas contribuies tericas, Winnicott acabou expandindo consideravelmente as

    indicaes tcnicas e as recomendaes ticas para a clnica psicanaltica. demovido por seu interesse

    pelas fantasias que os pacientes mostravam a respeito de suas prprias formas de organizao mental,

    criou uma nova ferramenta e uma nova nfase para os terapeutas utilizarem e considerarem em seus

    trabalhos com diferentes tipos de pacientes33. Nesse sentido, classificou as formas de trabalho da seguinte

    maneira: existem momentos ou tipos de patologia que fazem o terapeuta ter de trabalhar como um

    analista e outros nos quais o terapeuta realiza a psicoterapia psicanaltica:

    Se nosso objetivo continua a ser verbalizar a conscientizao nascente

    em termos de transferncia, ento estamos praticando anlise; se

    no, ento somos analistas praticando outra coisa que acreditamos

    ser apropriada para a ocasio. E por que no haveria de ser assim?34

    Para ele, o trabalho teraputico acaba modificando o eu do paciente de diversas formas. Da sua

    insistncia em que os terapeutas sejam sujeitos discretos e simples nas vidas de seus pacientes. Levando

    em considerao a ideia heideggeriana da continuidade da prpria existncia, acreditava que os seres

    humanos nasciam dotados de um impulso para o desenvolvimento que, quando no atrapalhado por

    provises ambientais falhas, levava o sujeito adiante. Criou, ento, uma teoria de objetos rumo

    independncia,35 preceito que se repetiria durante a psicoterapia.

    Nos primeiros momentos da dependncia absoluta, quando no h diferenciao entre eu e no

    eu, constri-se uma experincia de iluso por meio de uma me identificada com seu beb e que satisfaz

    completamente suas necessidades. Tem-se uma unidade. Pela repetio dessas vivncias, o beb sente-

    se criador de suas experincias, no controle de sua satisfao onipotncia. Desse modo, pela iluso,

    cria-se o objeto subjetivo. Nesta fase, algo chamado mundo interno constitudo36. No tratamento, essa

    uma fase especial caracterizada pelo sucesso logrado com a instalao de um tratamento psicanaltico

    padro, o qual, sendo bem feito, recobre o eu de fora para enfrentar os perodos de resistncia.

    Em um segundo momento, a desiluso que acaba instaurando a realidade e, com ela, o objeto

    objetivamente percebido. Nesse caminho, a agresso ocupa um papel especial ao fundar a realidade,

    pois parte componente do impulso amoroso primitivo. No incio da vida, a agresso motilidade,

    iniciativa, um desejo de possuir o objeto. Se a agresso traz destruio nessa fase, sempre incidental e

    secundria satisfao do impulso amoroso. No incio, o papel da me-ambiente tolerar essa derivao

    da energia o ataque. Pouco a pouco, oferecendo resistncia ou oposio, inaugura-se a percepo eu-

    no eu. Quando isso ocorre no momento adequado, que sempre aps a experincia de fuso, funda o

    descobrimento, por parte do beb, de seus limites. Os impulsos passam a ser percebidos como algo

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    proveniente de seu interior, e passa a haver diferena entre fora vital e agresso. Comea a experincia

    dos sentimentos de ambivalncia, culpa e reconstruo. Nessa fase, algo chamado realidade compartilhada

    se constitui36. Na terapia, quando a confiana na dupla est estabelecida, inicia-se um processo de

    experimentao rumo independncia do eu. Para isso, o eu precisa ter sido anteriormente fortalecido

    para no depender, necessita ser livre e poder reconhecer a fonte dessa energia dentro de si.

    Por fim, chega-se ao objeto transicional, que no algo alucinado, pois tem materialidade; forma

    parte do mundo externo, porm no qualquer objeto fortuito e singular, j que deve ser eleito como tal.

    a primeira aquisio no eu do beb. um paradoxo que no deve ser corrigido, pois um objeto da

    realidade, visto por todos, mas que no visto por todos nas caractersticas e significados que contm

    para seu dono. da mente e do mundo. Nesta fase, algo chamado criatividade se constitui36. No trabalho

    teraputico, finalmente, o eu de um paciente independente comea a experimentar suas caractersticas

    e formas de viver e se organizar. Isso no significa estar livre de sintomas, mas livre de defesas imaturas e

    da patologia incapacitante, o que permite ao paciente retomar o rumo natural do desenvolvimento.

    Kohut

    Professor de metapsicologia freudiana, Kohut fez de suas ideias sobre o narcisismo, a denominada

    psicologia do self, uma ferramenta til para a clnica contempornea.

    O conceito de self objetal importante para a clnica porque influencia a percepo da relao

    transferencial dentro desta teoria. Para Kohut, o beb no nasce sentindo dio e raiva, privado de

    satisfaes. Ele nasce otimista. Para o autor, a nfase est colocada menos nas fantasias e mais na relao

    com as pessoas de verdade, as quais formaro a unidade primitiva self-objeto37. Na sua teoria sobre o

    desenvolvimento, existe um beb que necessita de experincias de satisfao que promovam nele a

    sensao de perfeio. Em seguida, por meio de experincias de frustrao, essa sensao de perfeio

    abalada de maneira irremedivel. A sensao de impotncia de ser algum pequeno e cheio de

    necessidades que desesperadamente necessita do ambiente para sobreviver implora pelo no abandono

    da iluso de perfeio. Esse acontecimento toma ento dois rumos: quando o beb se exibe aos pais,

    recebendo em troca sua admirao e satisfao pelo exibicionismo, tem em retorno a construo do self

    grandioso; quando as necessidades do beb so satisfeitas, so os pais que se oferecem como destinatrios

    da perfeio na formao da imago parental idealizada37.

    Nas patologias narcsicas ou na sintomatologia narcsica, o que se verifica um ambiente que no

    consegue sintonizar com as necessidades de perfeio e exibicionismo do sujeito, que no se presta a ser

    o reservatrio de perfeio, que frustra repetidamente. Com um trauma desse porte, a internalizao fica

    prejudicada, o self grandioso (ambies) e a imago parental idealizada (ideais) no so devidamente

    integrados personalidade do sujeito37 e acabam restando em estado inalterado, como uma fantasia

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    arcaica inconsciente, pressionando constantemente o sujeito e modificando seu jeito de ser e conviver

    no mundo. No ter um modelo sentido como um vazio (depresso), e o modelo precisa ser sempre

    buscado desde fora, ao contrrio do que acontece com a experincia da imago parental idealizada, a qual,

    quando integrada personalidade adulta, promove desde dentro os ideais norteadores do sujeito38.

    Kohut39 descreve realizaes e atitudes que o eu deve empreender ao longo da construo da

    personalidade as transformaes do narcisismo. A expanso do amor objetal, aquisio gradual do

    desenvolvimento, estaria permeada pelo desenvolvimento da criatividade, capacidade de empatia,

    capacidade para encarar sua prpria transitoriedade, senso de humor e sabedoria.

    Para a psicologia do self, os tratamentos no tm por objetivo tratar conflitos, mas dficits. O objetivo

    teraputico pretendido o de trabalhar nos dficits do desenvolvimento do sujeito em relao s

    transformaes de seu narcisismo ou parada no desenvolvimento de tais transformaes, que podem

    estar podadas em funo da falta de um ambiente sensvel e emptico. Os pacientes buscam em seus

    terapeutas apoio, sentimento genuno de orgulho em relao aos xitos e conquistas e capacidade de

    refletir acerca das qualidades desses resultados. Os objetivos do tratamento dizem respeito a promover

    uma internalizao transmutadora. Implicam refazer com o paciente essa sintonia ambiental por meio de

    interpretaes e reconstrues empticas. A repetio das interpretaes, reconstrues, frustraes (na

    medida certa), interrupes, ansiedades acalmadas, confiana e o trabalho nas transformaes do

    narcisismo vo produzindo mudanas internas e criando reservatrios de energia que trazem fora ao self

    do paciente. Em relao imago parental idealizada, o objetivo ter ideais mais claros, uma melhor

    percepo do futuro, do que o sujeito gostaria de ser e crer tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

    Quanto ao self grandioso, o objetivo consistiria em transformar algo primitivo e arcaico em ambies mais

    maduras e apropriadas e, assim, o paciente sentir-se confortvel com suas ambies. Com essas

    transformaes, o que se espera um sujeito que sinta mais prazer em suas aes e em seus xitos.

    Atualidades na literatura sobre objetivos teraputicos

    Recentemente, os psicanalistas suecos Wezbart e Levander40 realizaram um estudo qualitativo a

    respeito das vicissitudes das ideias de cura de analisandos e seus analistas, de como a dupla lida com as

    incompatibilidades inevitveis dessas ideias e de como essas diferenas influenciam o processo

    psicanaltico, considerando cura como um dos possveis objetivos teraputicos. Emergiram das entrevistas

    nove distintos conceitos de cura para pacientes e analistas: 1) refazer-se, corrigir-se e construir-se por

    inteiro; tornar-se uma nova pessoa em um mundo novo, 2) refazer o desenvolvimento por meio da

    regresso; novo comeo, 3) repetir o trauma ou aproximar-se do que perigoso e do que est encapsulado

    com o objetivo de encontrar uma sada melhor, 4) recuperar algo perdido ou faltante no passado; resgatar

    o paciente, 5) entender e perceber conexes, encontrar explicaes e obter novas perspectivas, 6) fazer

    o trabalho analtico, ou deixar o analisando fazer o trabalho, sem ajuda do terapeuta (todos os analisandos

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    entrevistados desejavam fazer eles prprios a maior parte do trabalho na anlise), 7) fortalecer a

    capacidade do analisando de lidar com os problemas; apoiar as capacidades do ego, 8) valorizar a estrutura

    analtica e suas particularidades (os analisandos e analistas entrevistados acreditavam que um componente

    importante da cura seria a apreciao da atitude analtica como um todo frequncia, continuidade,

    regularidade, neutralidade, abstinncia, ateno flutuante), 9) gostar ou apreciar um ao outro (analisandos

    e analistas descreveram como fundamental para a cura a relao e a combinao pessoal da dupla

    paciente e terapeuta terem um senso de humor semelhante, desafiarem-se um ao outro a experimentar

    emoes, serem compatveis e colaborativos). Outro dado interessante do estudo foi o de que, apesar de

    os analistas desejarem conduzir uma anlise padro ao incio dos tratamentos, os analisandos

    expressaram medo de que isso ocorresse e expressaram seu desejo de evitar um tratamento desse tipo;

    os analistas que relutantemente abandonaram seus objetivos iniciais quanto a uma anlise padro

    reconheceram que os objetivos teraputicos que haviam traado inicialmente para seus pacientes

    mudana intrapsquica, aumento da capacidade de autorreflexo e de padres interpessoais mais

    adaptativos foram alcanados.

    A tentativa de pesquisar quantitativa ou qualitativamente este tema rara, e este foi um dos

    poucos estudos encontrados neste sentido. Mesmo valorizando sua relevncia, o estudo parece abordar

    de forma indiscriminada a cura e as ferramentas utilizadas pela dupla teraputica para atingir seus

    objetivos.

    Ancorado em Bion e Lacan, Lander41 defende que o objetivo teraputico no deve ser guiado

    simplesmente pela cura sintomtica ou pelo aumento da capacidade de amar e trabalhar, como defendia

    Freud. Para Lander41, a melhora ocorreria quando o sujeito aceita ser o que ele , quando encontrou e

    aceitou seu fantasma sexual (fantasias sexuais criadas na primeira infncia que, quando no patologizadas

    pelo paciente e pelo terapeuta, perdem o poder de produzir sintoma e passam a produzir satisfao) e

    aceitou suas limitaes e incompletudes. Um tratamento termina, idealmente, quando o analista no

    mais ocupa o lugar de sujeito de suposto saber e aparece tambm como um sujeito limitado e incompleto.

    Isso significa que o sujeito aceita sem conflito e sem culpa as marcas indelveis da infncia que resultaram

    na formao de seu carter.

    Determinar objetivos teraputicos baseando-se na resoluo do sintoma tambm algo questionado

    por Ogden e Gabbard42. O desejo intrnseco de curar o paciente, sempre presente no campo analtico,

    afetado pelas demandas de melhora rpida e pela presso de demonstrar eficcia no trabalho do analista,

    fazendo com que ele acabe dirigindo suas intervenes diretamente aos sintomas. O analista que

    intenciona acabar com os sintomas pode ser percebido pelo paciente como coercitivo, o que pode

    intensificar a necessidade do paciente de se agarrar ao sintoma. Para os autores, o paciente que inicia

    uma anlise traz a sensao inconsciente de no ser ele mesmo. Assim, embasando-se em Bion, afirmam

    que ajudar o paciente a melhorar seria ajud-lo a sonhar (a se engajar em um trabalho psicolgico produtivo

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    inconsciente com suas experincias prvias no pensadas/no sonhadas), a tornar-se ele mesmo. O

    objetivo da psicanlise, nesta perspectiva, estaria focado na verdade, no no sintoma.

    Para Ferro43, a melhora se d pela relao entre uma mente que necessita de outra mente para se

    desenvolver. O tratamento deve se prestar para encontrar as falhas intersubjetivas da experincia do

    paciente, reparar as feridas e possibilitar o surgimento de maior capacidade para a sade. O terapeuta

    deve ser dotado de uma capacidade criativa, de um aparato para sonhar os sonhos, e deve ser capaz de

    criar uma narrao figurativa que d sentido s experincias at ento desterritorializadas na histria da

    pessoa.

    H ainda autores contemporneos que se debruaram sobre a tarefa de estabelecer objetivos

    teraputicos, especificamente para a psicoterapia psicanaltica breve, como Braier44. Para este autor, os

    objetivos teraputicos seriam atingidos pela obteno de insights quanto problemtica focal, a resoluo

    do foco, a melhora sintomtica, a conscincia da enfermidade, a recuperao da autoestima, a formulao

    de projetos para o futuro e por modificaes favorveis na vida sexual, nas relaes de casal, no estudo,

    no trabalho e no lazer.

    Em suma, mesmo que muito ainda precise ser feito no sentido de atualizao dos critrios

    classicamente propostos, vlida a tentativa de recorrer aos autores clssicos quando se deseja conceituar

    fenmenos complexos como este. Entretanto, deve-se seguir constantemente investigando e atualizando

    a compreenso deste fenmeno por meio de estudos empricos, clnicos e tericos, tendo em vista que,

    desde seus tempos mais remotos, a psicanlise defronta-se com o trabalho de adaptar sua tcnica s

    novas condies45.

    Consideraes finais

    Tendo em vista os conceitos analisados nesta reviso, parece impossvel priorizar um autor em

    detrimento de outro, afirmar qual escola seria mais capaz de traar objetivos teraputicos para os pacientes

    de hoje em dia. As diferenas existentes nas variadas escolas revisadas parecem refletir a diversidade de

    casos atendidos nos consultrios. preciso ter cincia da delicadeza inerente ao trabalho do analista/

    terapeuta, bem como da sutileza envolvida no bem-estar e na sade das pessoas. Talvez, a tica seja o

    ponto chave que pode ser absorvido da presente reviso. Embora ele no fale especificamente de tica

    para a psicanlise, para Deleuze46, a tica busca fundamentar o bom modo de viver atravs do pensamento

    humano e se diferencia da moral, a qual persegue a obedincia a normas, tabus ou mandamentos culturais.

    Portanto, fundamental que o treinamento de todo o psicoterapeuta inclua o estudo das variadas

    teorias psicanalticas com seus preceitos (as normas, ligadas moral). Eles aprimoraram os atendimentos

    prestados e j trouxeram benefcios sade de muitos. Todavia, para alm das normas, fica premente a

    necessidade de se falar sobre a tica dos tratamentos. Figueiredo47 aponta que o vasto arcabouo

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    psicanaltico restringe e modula as consideraes tcnicas na prtica clnica, mas exige que se conceda um

    maior relevo posio do terapeuta para que o trabalho ocorra. E por isso que defende um deslocamento

    das questes tcnicas para as questes ticas. No significa dar maior valor ao papel do terapeuta, mas

    sim de instrument-lo melhor para a tarefa.

    Todos os autores aqui citados parecem demonstrar uma preocupao genuna com seus pacientes.

    Entende-se, assim, que para cada sujeito e suas dores existem recursos tcnicos disponveis para

    transformar doena e priso em potencial para sade e libertao.

    Troca-se a busca da cura nos pacientes e o desejo de que eles melhorem pela busca de um desejo no

    terapeuta de portar-se bem, manter-se atento e vivo dentro do tratamento essa a tica do trabalho

    teraputico. Tem-se de contar com um paciente que tenha pacincia com o terapeuta e com suas

    limitaes. O terapeuta deseja realizar um bom trabalho e almeja ter sucesso. O sucesso, entretanto,

    parece ser dos pacientes que, sesso aps sesso, entram nos consultrios em uma contagem regressiva

    paradoxal: quanto mais conhecem seus terapeutas e quanto mais prximos deles ficam, mais chegam

    perto do fim. Cada sesso uma a menos. Durante o treinamento de um psicoterapeuta, a preocupao

    legtima com a melhora e o fim do tratamento continua sendo de intensa relevncia e requer de grande

    delicadeza, pois pensar em objetivos teraputicos tende a trazer sentimentos de utopia e pessimismo.

    Espera-se que, em contrapartida, o sentimento despertado com esta leitura tenha sido o de

    curiosidade.

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    44. Braier E A. Psicoterapia breve de orientao analtica. So Paulo: Martins Fontes; 1997.

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    Correspondncia

    Marina Bento Gastaud

    Rua Comendador Caminha 312/205 - Moinhos de Vento

    90430-030 Porto Alegre (RS)

    [email protected]

    Submetido em 14/07/2013

    Devolvido aos autores em 18/09/2013

    Retorno dos autores em 24/09/2013

    Aceito em 16/10/2013

    REVISTA BRASILEIRA DE PSICOTERAPIA 2014;15(3):53-70

    CAROLINA STOPINSKI PADOAN, MARINA BENTO GASTAUD, CLUDIO LAKS EIZIRIKC

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