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Page 1: O Vigilância Sanitária · Saúde do Trabalhador, na pers-pectiva da Vigilância em Saúde”, explica Natividade. Teoria e prática Aluno da segunda edição, Dhi-ego Seixas, da
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s trabalhadores de restauran-tes e lanchonetes do Campus

Manguinhos ganharam, em 2018,uma nova oportunidade de capaci-tação: o curso de atualização em boaspráticas de manipulação de alimen-tos. Enquanto se qualificam profissi-onalmente, chefs, cozinheiros e aju-dantes de cozinha aprimoram suastécnicas e práticas de trabalho e, porconsequência, elevam a qualidadedos preparos alimentares que sãoconsumidos na sede da instituição.

Nas duas edições realizadaseste ano, foram qualificados 45 tra-balhadores. O curso é coordenadopelas equipes de Nutrição do Nú-cleo de Saúde do Trabalhador(Nust/CST/Cogepe), da Vice-Dire-ção de Ensino e Informação da Es-cola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio (EPSJV) e do Laborató-rio de Educação em Vigilância emSaúde da Escola (Lavsa/EPSJV).

A nutricionista Wanessa Nativida-de é uma das responsáveis pela inicia-tiva. “O objetivo é valorizar a ofertade alimentos seguros para os traba-lhadores da instituição, buscando-seevitar a ocorrência de doenças veicu-ladas por meio de alimentos, promo-vendo ambientes saudáveis e seguros,além da saúde do trabalhador, tanto oque consome as refeições quantoaquele que as preparam”, explica.

O Vigilância Sanitária

A proposta do curso surgiu apartir da elaboração do projetoAvaliação das condições higiê-nico-sanitárias dos restaurantese lanchonetes da Fiocruz, vincu-lado ao Fiocruz Saudável. O cur-so-piloto ocorreu logo no iníciodo ano, em janeiro, com a ofertade 15 vagas exclusivas para pro-fissionais da Fiocruz. Participa-ram profissionais do Instituto Na-cional de Infectologia Evandro Cha-gas (INI); Instituto Oswaldo (Canti-na Tia Penha); Casa Oswaldo Cruz(Lanchonete do Trenzinho); Presi-dência (Restaurante Arthur Bran-dão/Asfoc); e Escola Nacional deSaúde Sergio Arouca.

O papel estratégico desempe-nhado pela Fiocruz foi enfatizadopela nutricionista da EPSJV, Tai-sa de Carvalho. “O último relató-rio nacional de Vigilância Sanitá-ria, que abrange o período de2007 a 2017, aponta um grandenúmero de adoecimentos por ali-mentos no Brasil. E nós, que faze-mos parte do SUS, devemos for-talecer essas ações para que a gen-te tenha trabalhadores compro-metidos com a saúde pública,ofertando alimentos seguros”.

Realizado entre 12 de setem-

Por Glauber Tiburtino

bro e 14 de novembro, o segun-do curso ampliou para 30 a ofer-ta de vagas, contemplando tra-balhadores de fora da Fundação.“Há uma carência desse tipo decapacitação no município Rio deJaneiro. Realizamos a estrutura-ção desta capacitação seguindoas premissas da legislação sani-tária, conforme a RDC 216/2014,Portaria Normativa nº 7/2016 eSaúde do Trabalhador, na pers-pectiva da Vigilância em Saúde”,explica Natividade.

Teoria e prática

Aluno da segunda edição, Dhi-ego Seixas, da lanchonete da As-foc-SN, destacou o alinhamentoentre ensino teórico e prática e oelevado nível do curso. “Foi umaexperiência bastante agregadora.É importante saber o porquê dasboas práticas de manipulação e arazão pela qual devemos adotar aprevenção com relação à higieni-zação dos alimentos e mesmo aquestão do autocuidado no pre-paro das refeições, para cuidar-mos de nós e dos consumidores.Essa oportunidade é sem dúvidaum diferencial para nós”.

Nos dez encontros, o conteú-do englobou desde legislação sa-

nitária, cuidado no manuseio dosalimentos, noções de microbio-logia e doenças causadas poráguas, alimentos e produtos deorigem animal, até temas ligadosà saúde dos próprios trabalha-dores que preparam os alimen-tos e daqueles que os conso-mem. “Acho importante a valo-rização de diferentes profissio-nais de saúde para tratar a ques-tão do alimento, trazendo esseviés com a saúde pública, pen-sando principalmente que mui-tas doenças são causadas poralimentos que podem ter algu-ma contaminação em seu tipo depreparo”, ressalta um dos coor-denadores da iniciativa, o traba-lhador do Lavsa/EPSJV, LásaroLinhares.

A expectativa é realizar a ter-ceira edição do curso no segundosemestre de 2019 e ampliar a ini-ciativa para outros campi e uni-dades além de Manguinhos. Aquarta coordenadora do curso,Marileide do Nascimento, do La-vsa/EPSJV, acredita na possibili-dade de expansão futura do cur-so para o formato de especializa-ção. “Temos uma demanda repri-mida e temos que pensar que pú-blico é esse e o que podemos ofer-tar a eles”, vislumbra.

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onforme dados divulgadospelo anuário estatístico de

saúde do trabalhador, em 2017 fo-ram concedidas 2.177 licenças pormotivo de saúde a 978 servidoresda Fiocruz. A distribuição das licen-ças ficou em 83% para tratamentoda própria saúde; 15% por motivode doença em pessoa da família; e2% por acidente em serviço ou do-ença profissional. O período longedas atividades de trabalho e mesmoo retorno podem gerar incertezas edificuldades. Pensando nisso, a Co-ordenação de Saúde do Trabalhador(CST) vem desenvolvendo ativida-des junto a esses servidores, como aAvaliação Funcional em Saúde.

A Avaliação consiste em umprocesso de acompanhamento deservidores que apresentem adoe-cimento ou outros motivos de saú-de que impactem sua capacidadelaborativa, visando tanto à recu-peração quanto à valorização desua atuação profissional. A inicia-tiva compete ao Núcleo de Períciae Avaliação Funcional em Saúde daCoordenação-Geral de Gestão dePessoas (Nupafs/CST/Cogepe) e foiimplementado em 2013. Em 2016,a CST ampliou a multidisciplinari-dade de sua atuação e incluiu, alémde médico perito e assistente soci-al, médicos do trabalho, psicólo-gos e outros profissionais, confor-me necessidades específicas.

As atividades desenvolvidaspelo Nupafs/CST também se ali-nham à perspectiva de Vigilânciaem Saúde do Trabalhador, enten-dendo que o adoecimento de umindivíduo pode sinalizar necessida-des de melhoria dos ambientes eprocessos de trabalho. Ou seja, oatendimento de um servidor pode

disparar ações de vigilância queconsiderem não somente o servi-dor em acompanhamento, mastambém o seu coletivo de trabalho.

O processo de avaliação parteda compreensão de que, ainda queapresentem o mesmo agravo, ostrabalhadores têm diferentes ne-cessidades para a recuperação dasaúde, a depender de suas caracte-rísticas singulares e dos processosde trabalho nos quais atuam. Mes-mo servidores que não tenham sidoafastados podem ter sua situaçãode saúde acompanhada pelo Nust

Quem explica essa relação é acoordenadora da CST/Cogepe, Sô-nia Gertner. “Alguns servidorespermanecerão em terapias, outrosprecisarão de restrições temporá-

C rias de atividades ou, até mesmo,de mudança de setor em casos maisgraves. O mesmo pode acontecercom servidores que, não chegan-do a se afastar do trabalho, desen-volvam algum agravo à saúde quereduza sua capacidade de realizardeterminadas atividades”, explicaa servidora Luciana Cavanellas,assessora da Coordenação.

Rodas de Conversa

A CST vem realizando Rodas deConversa com servidores em licen-ça para tratamento da própria saú-de ou que estejam retornando aotrabalho, após o término da licen-ça. Esta ação pretende criar umespaço de acolhimento, suporte e

de apoio mútuo para esses servi-dores. Os encontros proporcionama troca de experiências e reflexões,por exemplo, sobre o lugar do tra-balho e do afastamento na vida decada um e sobre os aspectos do tra-balho que podem produzir adoeci-mento ou saúde.

O calendário dos encontros, queacontecem duas veze por mês, é di-vulgado pela Intranet e enviado pore-mail aos trabalhadores licencia-dos. “A ideia é que essa ação se for-taleça e se mantenha permanente-mente, de modo que os servidorespossam chegar a este espaço espon-taneamente”, explica a articulado-ra das Rodas de Conversa, CeciliaBarbosa. No primeiro ano da estra-tégia, em 2017, foram realizadosnove encontros, dos quais partici-param 15 trabalhadores. Em 2018,os encontros aconteceram em agos-to, mas a adesão ainda tem sido pe-quena. “Um fator que dificulta aparticipação é a própria condiçãode saúde”, relata Cecília.

Para Sônia, um aspecto rele-vante da iniciativa é o senso depertencimento e a percepção deque o sofrimento, que era vividoindividualmente, pode ser comuma outros colegas. “A iniciativa pos-sibilita ao trabalhador perceberque não está só em momentos dedificuldades e favorece que ele sejamelhor orientado e acompanhadomais de perto durante o período deafastamento. Isto é muito impor-tante não só para a saúde mentaldos servidores, mas, também, paraque consigam retornar bem ao tra-balho e, se for o caso, construirnovos caminhos em relação a ele”,conclui a coordenadora de Saúdedo Trabalhador da Fiocruz.

Servidores afastados paratratamento recebemacompanhamentomultiprofissional

Na saúdee na doença Por Glauber Tiburtino

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nspirado por uma aulana escola sobre vacina-

ção, Cauã da Silva Assunção, de8 anos, voltou para casa muitoanimado. Em sua mente, vinha aimagem do super-herói “GotaMan” - o famoso personagem ZéGotinha, que ganhou superpo-deres de imunização e uma capa.Gota Man nasceu no PlanetaGota e veio para a Terra com oobjetivo de salvar os humanosdas doenças. Cauã colocou suaideia no papel, desenhou a novaversão do personagem e disse àsua mãe que queria entregar acarta para seu ídolo.

Atendendo ao pedido do filho,Anna Beatriz Meirelles entrou emcontato com a Assessoria de Co-municação de Bio-Manguinhos,que promoveu o encontro entreos dois no Castelo da Fiocruz. Osolhos atentos de Cauã, emociona-do, brilhavam ao ver seu ídolo.Assim como os olhos de Jennifer

I Kelly Marques de Oliveira, da Se-ção de Vacina Liofilizada (SE-VLI), que veste a roupa do ZéGotinha há oito anos. Ao saber dopedido especial da criança, Jen-nifer ficou honrada em atendê-lo.

O personagem, criado na dé-cada de 1980 por Darlan Rosa,continua no imaginário das crian-ças. Para quem dá vida ao Zé Go-tinha e atua diretamente na pro-dução da vacina, esta experiên-cia é sem igual. “É um grande or-gulho. Sinto o carinho das pesso-as em geral, de todas as idades,que não só o tratam com amor,mas também respeito pelo que elerepresenta”, afirma Jennifer.

Cauã visitou o Castelo, acom-panhou a explicação da históriade Oswaldo Cruz, das vacinas edo próprio Zé Gotinha atenta-mente e era só sorrisos. Repetiaque tudo era “muito legal” e mos-trou todos os seus desenhos doGota Man para seu ídolo.

Comissão Própria de Ava-liação da Fiocruz (CPA Fi-

ocruz), por meio do projeto CPAItinerante, visitou nove unidadesda Fundação no Rio de Janeiro,que oferecem cursos de especiali-zação. Os encontros ocorreramentre novembro de 2017 e junhode 2018 e tiveram o objetivo desensibilizar equipes vinculadas àárea de ensino sobre o processode autoavaliação institucional(condição do credenciamento doMinistério da Educação) e revisi-tar eixos e indicadores do instru-mento para a avaliação instituci-onal e do Plano de Desenvolvi-mento Institucional da Fiocruz.

A A CPA foi criada como uma dasexigências para o credenciamentoinstitucional da Fiocruz como Es-cola de Governo, em março de2017. O credenciamento, válidopelo prazo de oito anos, garante alegitimidade de todos os certifica-dos de cursos emitidos pela insti-tuição. A Comissão é composta por12 integrantes de instituições ex-ternas vinculadas à educação emsaúde; gestão do ensino na Fio-cruz; docentes; técnicos adminis-trativos; alunos e/ou egressos doscursos; sociedade civil organizada.O contato pode ser feito por meiodo telefone (21) 3882-9284 e do e-mail [email protected].

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Reserva Técnica Museológi-ca do Museu da Vida da Casa

de Oswaldo Cruz (COC), espaço res-ponsável pela guarda do acervo mu-seológico da Fiocruz, recebeu inves-timentos de peso: um moderno mo-biliário para abrigar as quase três milpeças museológicas que representamo patrimônio da ciência e da saúdebrasileira. Entre os objetos da Cole-ção estão o microscópio, jaleco e acaneta tinteiro do cientista OswaldoCruz; as primeiras ampolas da vacinacontra a febre amarela; e um esterili-zador que data do início do século 20.

Atendendo às orientações deconservação para o melhor acondi-cionamento do acervo, foram adqui-ridos nove conjuntos de armários fi-xos e deslizantes, além de estradosde madeira, paleteira e uma mapote-ca. Os investimentos são resultado doProjeto Preservo: Complexo de Acer-vos da Fiocruz, financiado pelo Ban-co Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) e desti-nado à preservação, organização emodernização de parte do extensopatrimônio científico e cultural daFundação. Somados, os recursos in-vestidos na Reserva Técnica pelo Pre-servo ultrapassam R$ 250 mil.

“O acervo é uma parte da memó-ria institucional e conta a história dasaúde pública no Brasil, do desenvol-vimento da ciência e da tecnologia, damedicina e de suas disciplinas, de umamaneira diferente, a partir de equipa-mentos de laboratório, objetos pes-soais de grandes cientistas, materiaisutilizados na produção de medica-mentos e vacinas, além de instrumen-tos médicos, mobiliário, desde mea-dos do século 20 até os dias atuais”,ressalta a chefe do Serviço de Museo-logia, Juliana Albuquerque.

O coordenador-geral do projeto eo vice-diretor de Patrimônio Culturale Divulgação Científica da COC, Mar-cos José de Araújo Pinheiro, comple-

ta. “As ações de identificação, catalo-gação, descrição, divulgação, conser-vação e restauração do acervo muse-ológico constituído pela Fiocruz aolongo de sua trajetória, realizadas peloServiço de Museologia, assumem umpapel relevante para esta instituiçãoque valoriza sua memória”, afirma.

Registro em imagensDevido à importância e à repre-

sentatividade das peças, a preserva-ção do acervo exige cuidados espe-ciais. Juliana Albuquerque explicaque as peças históricas não podemficar expostas a fatores que podemcausar degradação. ‘Este novo mo-biliário é de grande relevância para aproteção dos itens e para a otimiza-ção do espaço, pois garante melho-res possibilidades de guarda, maisseguras e adequadas”, destaca.

As contribuições do Preservo àReserva Técnica vão além: a Coleçãofoi contemplada com equipamentosfotográficos. “A fotografia faz parteda rotina de tratamento técnico dosacervos museológicos, uma vez queo registro de imagens permite a cata-logação, pesquisa e a difusão dos ob-jetos, além de garantir o acesso re-moto à peça preservada, por meio debanco de dados on-line, por exem-plo”, explica o historiador Pedro Pau-lo Soares, do Serviço de Museologia.O registro permite gerenciar o acer-vo e acompanhar o grau de evoluçãode danos nas peças.

As fotografias são fundamentaisnão só para gerir, mas também paradivulgar a Coleção. “Com uma boaimagem é possível dar mais visibili-dade ao nosso acervo, a partir da pro-dução de diversos produtos de divul-gação científica, como o Objeto emFoco, disponível no site do Museu daVida, em que contamos as curiosida-des sobre a história de uma peça porexemplo”, afirma a chefe do Serviçode Museologia.

Infraestruturae segurançaPor meio de aporte financeiro

da Fundação, a Reserva Técnica foibeneficiada, ainda, com ganhos nainfraestrutura - com as obras dereforma e ampliação do espaço -e na segurança das instalações.Foram feitos reparos estruturaisem um dos prédios que compõe oespaço, como reforço no telhadoe dedetização preventiva nos es-paços da reserva técnica para ocontrole de pragas. Na pinacote-ca, foi instalado um moderno sis-tema de detecção de incêndio queutiliza o gás FM200, capaz de ex-tinguir o fogo sem causar nenhumdano à obra.

Para Juliana Albuquerque, es-ses investimentos refletem a pre-ocupação da Fiocruz e a mudançade comportamento nas áreas demuseologia, conservação e patri-mônio, com o objetivo de desen-volver metodologias, políticas eprocedimentos para a proteção decaráter preventivo do patrimôniohistórico. O vice-diretor de Patri-mônio Cultural ressalta asoma das ações. “Tem sidofeita uma série de investi-mentos institucionais empesquisa e na organizaçãodesses acervos, no desen-volvimento e na publicaçãoda Política de Preservação eGestão de Acervos Culturaisdas Ciências e da Saúde, alémde ações de preservação pau-tadas na conservação preventi-va e na gestão de riscos”, ressalta,Marcos José.

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Foto: Juliana Albuquerque

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Foto: Bruno Veiga

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ano é 2018. O ser humano já vi-ajou ao espaço, já pode se co-

municar com qualquer lugar do mun-do em tempo real, fabrica robôs, pro-duz vacinas, desvendou o genoma hu-mano, erradicou doenças. Fez o ini-maginável, aprendeu o incompreen-sível. O ano é 2018. O homem vooualto, mas ainda precisa pôr em práticaum dos mais básicos princípios da hu-manidade: o respeito à diversidade.

A ideia de igualdade universal émuito recente: a Declaração Univer-sal dos Direitos Humanos foi adota-da pela Organização das Nações

Unidas em 1948. Para reforçaresse conceito, a Fiocruz, por meiodo comitê Pró-Equidade de Gê-nero e Raça da Fundação, inicia,em dezembro de 2018, a campa-nha Fiocruz é Diversidade. Aproposta é alertar sobre a impor-tância de se reconhecer e respei-tar a diversidade, seja ela de gê-nero, raça ou religião, e promo-ver a acessibilidade e a inclusãode pessoas com deficiência.

A presidente da Fiocruz, NísiaTrindade Lima, lembra que tais va-lores fazem parte da Tese 11, apro-vada no último Congresso Interno daFundação. “A Fiocruz reforça seucompromisso institucional com adefesa da inclusão dos grupos maisvulneráveis socialmente, a reduçãodas desigualdades, o respeito à diver-sidade e contra a violência”, afirma.

Para Andréa da Luz, coordena-dora-geral de Gestão de Pessoas da

Por Erika Farias

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O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz,foi criado em maio de 2009. O seu objetivo é consolidaruma agenda institucional pelo fortalecimento dos temasde raça e gênero na instituição, colaborando para a reori-entação de suas políticas, bem como de suas ações, sejanas relações de trabalho, seja no atendimento ao público ena produção de conhecimento. Coordenação colegiada:Hilda Gomes (Casa de Oswaldo Cruz), Roseli Rocha (IFF)e Andréa da Luz (Cogepe). Contato: (21) 3836-2044.

O Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pes-soas com Deficiência foi criado em 2017 e nasceu da inici-ativa de profissionais da Fiocruz em identificar pessoas quetrabalhavam com o tema na Fundação. Do levantamentoinicial e do apoio institucional foi proposto um Termo deReferência, que daria origem à institucionalização do Co-mitê. Atualmente, o grupo é constituído por integrantes es-tabelecidos pela Portaria de criação e por um Grupo de Tra-balho Ampliado, com profissionais de diferentes áreas daFiocruz, a fim de garantir uma gestão horizontal e partici-pativa. Contato: [email protected]

Sobre os Comitês Pró-Equidadee de Acessibilidade

Fundação e uma das coordenado-ras do Comitê Pró-Equidade, é ummomento de combate a qualquerforma de preconceito. “Estas açõesserão constantes, porque temos li-dado com denúncias internas e te-mos um compromisso de reforçarcada vez mais nossos valores insti-tucionais, mostrando que a Fiocruznão só é intolerante a qualquer for-ma de violência e preconceito, masestá organizada para acolher e tra-tar as reclamações”, explica.

Cores do BrasilSegundo o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), maisda metade da população brasileira(54%) é de pretos ou pardos. Apesarde serem maioria, negros vivem umarealidade distinta, resultado de trêsséculos de escravidão, seguidos pelafalta de políticas públicas pós-aboli-ção que os inserissem na sociedadee no mercado de trabalho. Um cená-rio que serviu de base para o racis-mo estrutural existente no Brasil.

O preconceito enraizado na cul-tura do brasileiro não é sutil. “Lem-bro que eu era pequena, estava an-dando na rua com a minha mãe epassei perto de uma senhora bran-ca. Ela imediatamente abraçou aprópria bolsa e ficou protegendo-a,me olhando. Apesar de ser criança,entendi ali o que tinha acontecido efiquei me perguntando ‘o que elaacha que eu poderia ter feito contraela?’”, relata Mychelle Alves, vice-presidente do Sindicato dos Traba-lhadores da Fiocruz (Asfoc-SN).

Perspectivasócio-histórica“As pessoas pensam que essas dis-

cussões são novas, mas na verdadeexistem desde sempre”, explica Ro-seli Rocha, assistente social do Insti-tuto Nacional de Saúde da Mulher, daCriança e do Adolescente FernandesFigueira (IFF) e outra coordenadorado Comitê. “Este mito de democraciaracial fez com que a desigualdade nãofosse discutida e que o racismo nãofosse tratado como um problema deinjustiça social”, afirma. “Sabemosque não existe ‘diferença de raças’, nosentido biológico da palavra. Mas nãopodemos ignorar essa definição, por-que o racismo deriva dela. Se não fa-larmos de raça, ignoramos a existên-cia do racismo”, completa.

Sem acesso à terra, sem qual-

quer tipo de indenização pelos tra-balhos forçados e geralmente anal-fabeta, a “população negra livre” doBrasil pós Lei Áurea, em 1888, pre-cisou sobreviver com subempregospor décadas. A primeira escola pú-blica no Brasil surgiu apenas na dé-cada de 1930. Apesar dos avanços,somente 12,8% dos estudantes de en-sino superior são negros.

Recentemente, a Fiocruz fez osprimeiros concursos públicos comcotas para negros. “As cotas sãouma reparação. Não acho que elasdevem existir para sempre, mas ociclo básico do ensino público pre-cisa ter qualidade, para que hajaigualdade de oportunidades”, afir-ma a vice-presidente da Asfoc.Mychelle entrou para o serviço pú-blico na Fiocruz em vaga de amplaconcorrência, mas chegou a ouvirde um colega: ‘ainda bem que vocênão entrou por cota’. “Há muitopreconceito ainda, mesmo aquidentro”, complementa.

ViolênciaDados do Atlas da Violência

2018 mostram que 71,5% dos bra-sileiros assassinados em 2016eram pretos ou pardos. As maio-res taxas de homicídios de negrosestão em Sergipe (79 por 100 milhabitantes) e no Rio Grande doNorte (70,5 habitantes por 100mil). Entre 2006 e 2016, enquan-to a taxa de homicídios de negrosaumentou 23,1%, a de não negrosdiminuiu 6,8%. Outro ponto cru-cial se refere ao feminicídio - as-sassinato de mulheres por suacondição de gênero. Os númerostambém são alarmantes entre apopulação preta. As estatísticassão do Mapa da Violência 2015,elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais:entre 2003 e 2013, o percentualde mulheres negras assassinadascresceu 54%. Já o de mulheresbrancas, caiu 10% no mesmo pe-ríodo.

O medo tem razão de ser e étambém uma das principais preo-cupações de familiares de jovensnegros, como conta Mychelle.“Meu afilhado estava indo para aminha casa, mas esqueceu a iden-tidade. No meio do caminho per-cebeu e voltou em casa para bus-car. Quando chegou, me explicoucom naturalidade ‘Sabe como é,

né, tia? Jovem preto não pode fi-car sem documento, senão os po-liciais já acham que é bandido’”.

E quanto mais característicasfenotípicas de uma pessoa negra,ou seja, mais características físi-cas, menos oportunidades a pes-soa tem de exercer sua cidadaniae acessar espaços de poder. “Diadesses fui visitar uma amiga,branca, e na hora de ir embora,ela me levou até o táxi. No meiodo caminho o motorista pergun-tou se eu pagaria no cartão de cré-dito da minha patroa. Fiquei semfala. Decidi que foi a última vezque perdi a voz por racismo. Nãovão mais me calar”, declara.

De braços abertos,mas nem tantoO Brasil é o país que mais mata

Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,Transexuais e Transgêneros (LGBT)no mundo. A cada 19 horas, uma pes-soa é vítima de homofobia. E valelembrar: a Constituição de 1988 nãogarante direitos aos homossexuais.“Ainda há uma confusão das pessoasquando dizem ‘ah, mas também mor-rem heterossexuais’. Sim, mas elesnão morrem por isso. Os LGBTs es-tão morrendo por serem quem são,pelo ódio e pela intolerância dos ou-tros”, afirma R.V., de 33 anos, traba-lhador de Fiocruz que preferiu nãose identificar.

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Para denunciar ca-sos de preconceito naFiocruz, é necessário sedirigir aos canais exis-tentes que recebem de-núncias: Ouvidoria (213885-1762); serviços deGestão de Pessoas dasunidades, Asfoc e Coor-denação-Geral de Ges-tão de Pessoas (Cogepe).Estes espaços acolhemos casos e dão tratamen-tos diferenciados a cadadenúncia apresentada,que será então analisa-da pelo Comitê de Éticae/ou Corregedoria.

O preconceito não é de hoje. Aolongo da história, já contou com “em-basamento científico”. A homossexu-alidade foi considerada patologia atéa década de 1970, e doença mental –listada internacionalmente até 1990.Já a transexualidade foi consideradadoença mental até junho deste ano,quando a Organização Mundial daSaúde (OMS) reverteu o conceito.Esta concepção inadequada, soma-da ao desconhecimento, tem o pre-conceito como consequência. E,como já se sabe, o preconceito é oberço da intolerância.

Apesar de não haver uma esta-tística oficial dos números da violên-cia motivados por LGBTfobia, cau-sando uma subnotificação destes ca-sos, um relatório do Grupo Gay daBahia (GGB) mostra que nos anos2000 foram notificados 130 homi-cídios deste tipo. Já em 2017, o Bra-sil registrou 445 homicídios. “Eu emeu namorado não fazemos de-monstrações públicas de amor. Te-mos medo de como vão reagir emuito medo da violência”, conta Fla-vio Marques, líder de setor no Insti-tuto de Ciência e Tecnologia em Bio-modelos (ICTB).

O termo orientação sexual é uti-lizado justamente por não ser umaopção do indivíduo. “O LGBT nasceuassim e, apesar disso, todos os diasprecisa passar por situações cons-trangedoras de preconceito - sejanum olhar para um casal homoafeti-vo, que às vezes dói mais do que pa-lavras, seja nas piadinhas pejorati-vas no trabalho ou nos comentáriosda família, que teoricamente sãoaqueles que mais deveriam nos acei-tar”, relata R.V. Flavio Marques teveexperiência diferente. “Minha mãenão aceitou desde o começo. Ela fa-leceu há dois anos, sem aceitar. Mastenho uma filha, de 24 anos, que nãosó aceitou super bem, como me dá omaior apoio. Inclusive, o namoradodela me chama de sogrão”, conta.

A educação sexual é apontadapor especialistas como uma dasprincipais formas de diminuir oscrimes de ódio. Ensinar crianças eadolescentes a reconhecer e respei-tar a diversidade reduz a prática debullying e resulta, a longo prazo, emadultos conscientes e empáticos àsdiferenças. “Eu gostaria que as pes-soas percebessem que somos nor-mais. Nosso caráter não muda por

sermos gays ou lésbicas”, aler-ta Flavio. “A gente não precisaque aceitem ou entendam nossaorientação sexual. A gente precisade respeito”, finaliza R.V.

TransfobiaQuanto aos transexuais e traves-

tis (pessoas que se identificam coma identidade de gênero diferente deseu sexo de nascença), os númerosda violência são ainda maiores. Da-dos do Mapa dos Assassinatos deTravestis e Transexuais no Brasil,publicado pela Associação Nacionalde Travestis e Transexuais (Antra),mostram que, só em 2017, foramcontabilizados 179 assassinatos detravestis ou transexuais. A violên-cia contra essa população é tão gran-de que, enquanto a média de vida dobrasileiro é de 75,5 anos, segundodados do IBGE, entre os transgêne-ros cai para 35 anos.

A assistente de Pesquisa Clínicaem HIV/Aids do Instituto Nacionalde Infectologia Evandro Chagas (INI)Laylla Monteiro conta que sofreupreconceito a vida inteira. “Quandoera criança, apanhava dos meus ir-mãos que diziam que eu era ‘gayzi-

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“Você me pergunta comoera minha vida quando euera um menino. Mas nuncafui um menino. Sempre fuiuma menina, que os outrostrataram por um tempocomo menino. Por dentro,sempre tive certeza dequem eu era.”Biancka Fernandes (INI)

“Neguei o quanto pudeminha sexualidade. Eu nãoachava que minha atraçãopor homens era algumaquestão mal resolvida. Fiqueianos casado com umamulher, tive uma filha. Sóuma década depois aceiteiquem eu era.”

Flavio Marques (ICTB)

nho’. Me identifiquei como trans aos17 anos e saí de casa”, conta. Já CléoOliveira, assistente de pesquisa clí-nica do mesmo projeto, diz que aos 7anos já verbalizava o desejo de sevestir de acordo com o que sentia:como uma menina. “A identidade degênero é muito desatrelada da sexu-alidade. Eu me identifiquei com o gê-nero feminino desde criança, mas ointeresse por meninos veio só na

adolescência. E minha família,como tantas outras, não aceitou

nada daquilo”, conta.Mesmo na Fiocruz, uma

instituição de referência emsaúde, ciência e ensino, de-

fensora dos direitos humanos eque desenvolve atividades com

esse público por meio do INI, di-versos casos de transfobia são rela-tados. “Logo que vim trabalharaqui, há uns quatro anos, um funci-onário me viu ao lado de outra tra-vesti e comentou rindo: ‘abriram aporta do circo?’. Fiquei furiosa echeguei a correr atrás dele. É inad-missível que exista este tipo de con-duta dentro da Fundação”, queixa-se Laylla. Para Cléo, o pior precon-ceito é aquele velado. “Para os xin-gamentos, eu já saio preparada to-dos os dias. Mas dia desses estavaalmoçando aqui na instituição epercebi que as pessoas de uma mesapróxima me olhavam, comentavame riam. Só com o olhar elas deixa-vam claro que não me viam perten-cendo a esse lugar”, afirma.

O preconceito logo resvala nomercado de trabalho: as oportunida-des de emprego para trans são quaseinexistentes. Segundo a Antra, 90%da população trans acaba na prosti-tuição. “Eu estava no último períodode pedagogia, na Uerj. Na época, de-sempregada, fiz uma prova de nívelde quarta série para uma rede de su-permercados. Tinha certeza que ti-nha passado, e estava precisandomuito de emprego. Eu não queria meprostituir. A responsável disse quenão passei na prova. Gelei e pedi paraque ela me mostrasse o que eu haviaerrado. Ela, claro, não quis mos-trar”, conta Laylla. “Aquele foi omomento que o preconceito maisme doeu. Era para varrer chão, e eucontinuei desempregada porquesou travesti”, afirma.

Desde 2011, a Política Nacionalde Saúde Integral LGBT, instituídapelo Ministério da Saúde, garante àsmulheres transexuais, às travestis eaos homens trans o direito à saúdeintegral, humanizada e de qualidadeno Sistema Único de Saúde (SUS), oque passa pelo respeito ao nome so-cial e pelo enfrentamento à discrimi-nação por orientação sexual e iden-tidade de gênero. Na prática, esteacesso ainda é um obstáculo. “Nãohá treinamento. Existem políticas desaúde, mas as informações não che-gam na ponta, nas recepcionistas, noadministrativo”, conta Cléo.

Outro entrave para a redução donúmero de casos de violência é a fal-

ta de punição severa à homofobia.“Eu tenho sempre muito cuidado,passo 24 horas atenta ao meu redor,com medo. É uma sociedade injustaem que a pessoa trans acaba ‘refém’da benevolência dos outros”, refle-te a assistente social. “Somos co-muns, como qualquer outra pessoa,e queremos as mesmas oportunida-des de emprego, queremos dignida-de. Não queremos mais ser empur-rados para as margens da socieda-de. É preciso entender que seu espa-ço termina onde começa o meu”, dizLayla. Cléo completa: “Eu exijo res-peito porque eu existo, porque nãoposso desistir de mim mesma”.

Inclusão é respeitoAo longo da história, diversos pa-

íses, civilizações medievais e até po-vos indígenas taxaram a deficiênciafísica ou mental como um problema,inabilitando as pessoas com deficiên-cia por meio de atitudes discriminan-tes e ações impiedosas. A visão mu-dou, hoje há muitos projetos que bus-cam a inclusão dos deficientes na so-ciedade, mas ainda existem barreirasque tornam esse acesso lento e com-plicado, como o preconceito.

“Quando entrei na Fiocruz, sen-tia algumas diferenças. Muitas pes-soas me chamavam de ‘mudinho’,tentavam ‘oralizar’ as palavras, maseu não entendia. Quando as pessoasperceberam que eu era surdo, per-cebi um afastamento. Não me sentimal, apenas fui procurar outras pes-

“Respeito também é entenderque, quando eu estou falandocom um intérprete, você nãodeve interromper, porque eusou visual. É precisoentender que dentro dacomunidade surda, dentro daLibras, dentro daacessibilidade, o respeitotambém é fundamental.”

Ronaldo Marra (Cogic)

“É difícil mulheres negrascom alto grau de escolaridadeconseguirem se relacionarcom homens negros nomesmo patamar de ensino.Geralmente, os homensnegros com alta escolaridadepreferem se relacionar combrancas, por uma questãocultural mesmo.”

Mychelle Alves (Asfoc)

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Por Kath Lousada

riado para fomentar, indu-zir e gerir redes de pesquisa

aplicada na área de saúde pública,o Programa de Políticas Públicase Modelos de Atenção à Saúde(PMA), vinculado à Vice-Presi-dência de Pesquisa e Coleções Bi-ológicas (VPPCB), tem como umadas metas tirar o pesquisador dolugar comum. Assim, o programaestimula o pesquisador a pensarem como desenvolver formas dese comunicar com o público-alvosobre tudo aquilo que está sendoestudado, analisado e apreendi-do no processo de trabalho. Emoutras palavras, em gerar con-teúdo e informação, avançandoum passo além da entrega de umartigo científico.

O objetivo é fazer com que osresultados das pesquisas sejamapropriados pelos diversos públi-cos e incorporados tanto às políti-cas públicas, quanto às realidadesde práticas de saúde, contribuin-do para a melhoria do Sistema Úni-co de Saúde (SUS). Se o foco do es-tudo é diabetes na gestação, porexemplo, as mulheres grávidastambém deverão conhecer as des-cobertas em saúde que os pesqui-sadores fizeram. Atualmente, com19 projetos distribuídos pelos ní-veis de atenção à saúde, a Rede in-tegra pesquisas que vão desde aEstratégia de Saúde da Família até

o cuidado para o atendimento es-pecializado de um determinadoagravo em nível nacional.

“A equipe da Rede aprendeu,com o decorrer dos anos, que hámais chance de os resultados daspesquisas serem incorporados aosistema ou programa de saúde seeles forem trabalhados de formaconjunta com os profissionais desaúde, gestores, associações e atémesmo com a sociedade civil or-ganizada”, afirma a coordenadoraadjunta do PMA, Roberta Golds-tein. “Temos como meta que oPMA se torne uma instância naqual o pesquisador que queira tra-balhar o processo de disseminaçãodos resultados da sua pesquisa nosprocure, para que juntos possamosdiscutir formas e conteúdo paraapresentação destes resultados emdiversas instâncias governamen-tais e civis”, explica Roberta.

ExperiênciasMovida por este desafio da

Rede PMA e pela chance de colo-car em prática sua tese de douto-rado, Santuzza Vitorino, pesquisa-dora visitante na Fiocruz, subme-teu seu projeto ao edital da Rede

PMA em 2015. Para compartilharos resultados de sua pesquisa comos vários públicos envolvidos, San-tuzza promoveu oficinas de moni-toramento e avaliação com as 28unidades de referência técnica daVigilância Alimentar e Nutricionalda Secretaria de Estado de Saúdede Minas Gerais, que representamos 853 municípios do estado.

A pesquisa, coordenada porMarly Marques Cruz, da EscolaNacional de Saúde Público Ser-gio Arouca (Ensp), trata da ava-liação da implantação VigilânciaAlimentar e Nutricional na Aten-ção Primária à Saúde no Estadode Minas Gerais. “Nas oficinas,buscamos validar em conjuntoum instrumento para trabalharos dados monitorados, que é ummodelo lógico operacional quedescreve como a intervenção, nocaso da vigilância nutricional ealimentar, deveria funcionar”,explica Santuzza.

Para a Vigilância Alimentar eNutricional, o ideal é que seja fei-to o monitoramento nutricional(peso e altura) e do consumo ali-mentar em todas as fases da vidadas pessoas. Assim seria possível

Cobter um panorama do perfil nu-tricional da população, identifi-cando, por exemplo, em qual re-gião há mais desnutrição, ou maisobesidade. “Considerando quehoje a obesidade é um problemaque acomete mais de 50% dosadultos, o monitoramento forne-ceria informações para que o ser-viço de saúde atendesse e direcio-nasse melhor o atendimento”, ex-plica Santuzza.

A pesquisadora aponta, porém,que somente crianças até os 5 anosde idade, gestantes e adultos acom-panhados por outras questões desaúde são monitorados no dia a dia.E ainda há outro agravante: a au-sência de alimentação de dados nosistema da vigilância, o Sisvan. Osdados coletados durante o atendi-mento não são informados ao go-verno. “Depende muito do com-prometimento das unidades”, de-clara a pesquisadora. A oficina demonitoramento e avaliação reali-zada por Santuzza e mais seis pes-quisadores faz parte de um proces-so retorno de resultados da pesqui-sa estimulado pelo PMA, com focono aperfeiçoamento dos processospara melhorias no SUS .

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pós quase um ano de de-bates, diálogos e ações

voltadas à reflexão sobre os di-reitos humanos, o Instituto deComunicação e Informação Ci-entífica e Tecnológica em Saúde(Icict) inaugurou, no dia 28/11,uma exposição alusiva aos 70anos da Declaração Universaldos Direitos Humanos. Na aber-tura do evento, foi realizado umseminário com a participaçãodo conferencista Paulo Vannu-chi, ex-ministro dos DireitosHumanos e diretor da rede TVT- veículo educativo transmitidoa partir de São Paulo pela TV Di-gital. Vannuchi debateu o temacom a coordenadora do Inter-vozes e integrante do ConselhoNacional de Direitos Humanos,Iara Moura; e com a chefe doDepartamento Direitos Huma-nos, Saúde e Diversidade Cultu-ral da Escola Nacional de SaúdePública Sergio Arouca (DIHS/Ensp), a pesquisadora MariaHelena Barros.

A

Atividades celebram os 70Anos da Declaração Universal

dos Direitos HumanosProposta pela Organização das

Nações Unidas em 10 dezembro de1948, a Declaração Universal dos Di-reitos Humanos inclui artigos quetraduzem ideais e valores em defesada vida humana, destacando a liber-dade, a autonomia, a justiça e a digni-dade de todas as pessoas, sendo ado-tada por todos os países membros.

Por André Bezerra

ExposiçãoAs equipes do Multimeios, Vide-

oSaúde e assessoria de comunicaçãodo Icict inauguraram uma mostra,em cartaz até meados de dezembro,áreas com decorações temáticas nosaguão da Biblioteca de Manguinhose montagens com fotos enviadas portrabalhadores e estudantes de diver-

sas unidades da Fiocruz. Além daexposição, parte do conteúdo mul-timídia foi exibida na WebTV Fiocruze no site do Instituto. (Acessewww.icict.fiocruz.br para conferir).

A seção de vídeos trouxe de-poimentos de cientistas, comuni-cadores e autoridades internacio-nais, como o sociólogo portuguêsBoaventura de Sousa Santos, daUniversidade de Coimbra, e a AltaComissária de Direitos Humanosda Assembleia Geral da Organiza-ção das Nações Unidas (ONU) eex-presidente do Chile, MicheleBachelet, que veio à Fiocruz du-rante o 12º Congresso Brasileirode Saúde Coletiva.

Exposição, seminário econteúdo multimídiaproduzidos pelo Icict deramo tom da comemoração

Em agosto deste ano, a Fiocruzlançou o Programa de Desenvolvi-mento de Pessoas do Sistema de Re-lações Internacionais (ProdeRI). Ainiciativa é fruto de uma parceria en-tre a Escola Corporativa Fiocruz e oCentro de Relações Internacionaisem Saúde (Cris) e visa qualificar a atu-ação da Fiocruz nas áreas de Diplo-macia da Saúde e Ciência e Tecnolo-gia em Saúde, garantindo o reconhe-cimento da Fundação como institui-

Também no segundo se-mestre, a Escola Corporati-va Fiocruz iniciou o ciclo2018-2020 do Programa deDesenvolvimento Gerencial(PDG), com ações direciona-das aos gestores que cursa-ram as atividades do cicloanterior (2014-2017). Emuma nova etapa, novos ges-tores poderão participar dotreinamento. O programa

NOTAS ESCOLA CORPORATIVA

ção de referência nestas áreas.O ProdeRI é constituído de diver-

sas estratégias educacionais, presenci-ais e on-line, e sua construção se deu apartir de demandas apresentadas pelaárea de Cooperação Internacional. Oprograma, que teve a primeira turmacomposta por profissionais que atuamno Sistema de Relações Internacionaisda Fiocruz, teve como base o mapea-mento das competências necessáriaspara o desenvolvimento do grupo.

está estruturado em cinco pilares: li-derança e resultados; desenvolvi-mento de equipes; educação corpo-rativa; pdg.com; e pós-graduação.

O PDG tem como elemento fun-damental as competências necessári-as para o alcance das diretrizes insti-tucionais. Seu objetivo é criar um am-biente de valorização da gestão e dosgestores por meio de estratégias deaprendizagem contextualizadas parao desenvolvimento de lideranças.

Aperfeiçoamento das relações internacionais Desenvolvimento gerencial

(Rômulo Lima - Estagiário em Comunicação da Cogepe)

Direitos humanos sãodireitos inerentes a todosos seres humanos,independentemente deraça, sexo, nacionalidade,etnia, idioma, religião ouqualquer outra condição.

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ma das definições de edu-cação é a “aplicação dos

métodos próprios para assegu-rar a formação e o desenvolvi-mento físico, intelectual e moralde um ser humano”. Baseadanessa visão, a direção do Colé-gio Estadual Brigadeiro Schor-cht, na Taquara, Zona Oeste doRio de Janeiro, decidiu abrir es-paço para novas experiênciaspedagógicas. Desde 2012, a uni-dade pública passa por um pro-cesso de transformação, queestá em andamento e tem tidogrande aceitação dos alunos.

O primeiro passo foi firmaruma parceria com o Programade Desenvolvimento do CampusFiocruz Mata Atlântica (PDCF-MA). Por meio Fundação CarlosChagas Filho de Amparo à Pes-quisa do Estado do Rio de Janei-ro (Faperj) e do edital Apoio àMelhoria do Ensino nas EscolasPúblicas, a parceria foi iniciadacom a criação de um espaço parahorta orgânica, em uma área su-baproveitada da escola. No lo-cal, atualmente, há uma planta-ção agroecológica com diversostipos de temperos, vegetais, ver-duras e frutas.

Os alunos foram apresenta-dos a outras práticas de educa-ção ambiental, o que gerou a ins-talação de sistemas de coleta deágua de chuva para irrigar a hor-ta e de captação de energia solarpara aquecimento de água dosvestiários feminino e masculino.“Cada equipamento desses foiprojetado pelos próprios alunos.Eles participaram de todo o pro-cesso, desde as oficinas até a pro-dução e manutenção dessas tec-nologias, que são de baixo cus-to”, explicou o diretor adjuntoda escola e biólogo, Marco Au-rélio Berao Silva.

“Essas tecnologias estão dis-poníveis e podem ser usadas e re-produzidas. A ideia era que esco-la fosse um modelo para que osestudantes replicassem os proje-tos nas casas deles”, conta o di-retor. Outra mudança importan-te ocorrida durante o processo dedesenvolvimento das tecnologi-as sociais foi a alimentação dosestudantes.

U Cozinha ecompostagemA partir dessa parceria com a

Fiocruz, a direção se mobilizoupara inaugurar uma cozinha e umrefeitório, já que os alimentos dis-tribuídos aos alunos eram indus-trializados. Agora, as refeiçõessão feitas no local, com produtosmais saudáveis. A escola fechouuma parceria com a Associaçãode Agricultores Orgânicos deVargem Grande para fornecimen-to de alimentos agroecológicos,via Programa Nacional de Ali-mentação Escolar. A horta inter-na contribui, principalmente,com condimentos e temperos.

Com a cozinha, os estudantespuderam aprender sobre os dife-rentes tipos de composteiras parareceber o lixo gerado. Os resíduosorgânicos são destinados à com-posteira e garantem adubo de ex-celente qualidade para os vasos ecanteiros da horta. Além disso, acomunidade escolar já incorporouo hábito de separar materiais re-cicláveis e óleo de cozinha satura-do para doação a instituições par-ceiras. Nos últimos três meses, aescola destinou em torno de 100Kg de resíduo orgânico da cozinhapara a compostagem.

Para o estudante Marcos AurélioSantos de Almeida, do 2º ano do Ensi-no Médio, a oficina de horta orgânicaestá sendo satisfatória para a própriaalimentação. “Nunca tive contato comhorta. Aprendi muito. Consigo até le-var alguns alimentos plantados aquipara casa. Minha família gosta bastan-te, até por não ter agrotóxico. A genteaprendeu a perceber essa diferença”,disse o estudante de 16 anos.

A oficina de agricultura urbana doBrigadeiro Schorch tem cerca de 20alunos. O coordenador do projeto pelaFiocruz, Robson Patrocínio, explicaque o trabalho é resultado do com-partilhamento de saberes. “O essenci-al para dar certo é uma construçãocoletiva. Desenvolver, junto com acomunidade escolar, as ações feitaspor eles. Não foi nada definido pelaFiocruz. Além, é claro, do envolvi-mento da direção e dos professoresque abraçaram a ideia, e dos alunos,que tiveram voz para poder discutiras propostas.”, finalizou.

Parceria entre colégio e Fiocruz transformapráticas de alimentação de estudantes

Por Emerson Rocha

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esafio lançado, expectativasultrapassadas. O Programa

Fiocruz de Fomento à Inovação(Inova Fiocruz), uma iniciativa deincentivo à pesquisa promovida pelaPresidência e voltada à comunidadeinterna, tem alcançado recordes departicipação. Desde o lançamento,em junho, foram submetidas 736propostas aos quatro editais - Idei-as Inovadoras, Geração de Conhe-cimento, Novos Talentos e Produ-tos Inovadores. As chamadas con-templam diferentes perfis e possibi-litam a participação de profissionaiscom formação e nível de experiên-cia diversos, em diferentes áreas elinhas de pesquisa.

Coordenado em parceria pelasVice-Presidências de Produção eInovação em Saúde (VPPIS) e dePesquisa e Coleções Biológicas (VPP-CB), o Programa Inova foi lançadopela presidente Nísia Trindade deLima durante o programa on-lineSexta de Conversa. A soma de re-cursos das chamadas é de R$ 35 mi-lhões, financiados pelo Fundo deInovação da Fiocruz e do Ministé-rio da Saúde, por meio da Secreta-ria de Ciência, Tecnologia e Insu-mos Estratégicos (SCTIE). “Temostoda a cadeia de inovação na insti-tuição, desde a geração do conhe-cimento até unidades de tecnologia,e queremos valorizar essa grande epositiva diversidade”, afirma Nísia.

“Vamos olhar nosso acervo deexperiências anteriores, numa visãomais integrada da instituição, e se-guir as diretrizes do nosso congres-so interno”, complementa. O vice-presidente de Produção e Inovação,Marco Krieger, ressalta a importân-cia da iniciativa. “É um projeto es-tratégico que surgiu com a finalida-de de fortalecer o fomento às ativi-dades de pesquisa científica, tecno-lógica e inovação em saúde que con-tribuem para melhorar as condiçõesde saúde da população brasileira, ao

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Pluralidadee diversidadeem saúde

mesmo tempo em que promove odesenvolvimento nacional sustentá-vel, reduzindo a vulnerabilidade dosistema de saúde”, define.

Política de InovaçãoPara o vice-presidente de

Pesquisa, Rodrigo Correa, o Pro-grama Inova é um marco insti-tucional importante para o de-senvolvimento científico e tec-nológico. “A Fiocruz tem umadinâmica de desenvolvimentomuito grande. As propostas ava-liadas mostraram que a Funda-ção é muito rica em produtos jádesenvolvidos, em ideias novas,em ideias que vale a pena inves-tir”, afirma Rodrigo.

A realização dos quatro edi-tais responde à Política de Ino-vação da Fiocruz, aprovada porunanimidade no Conselho Deli-berativo em setembro. A Políti-ca orienta as ações institucio-nais de incentivo e gestão dainovação, de forma a promovera geração de conhecimento, deprodutos e de serviços e a am-pliação do acesso à saúde para asociedade. “A política conside-ra que novos modelos de fomen-to, indução, articulação e coo-peração são oportunidades parao incremento da inovação nasatividades de pesquisa, desen-volvimento tecnológico, gestão,produção, assistência e educa-ção”, explica Sandra Soares, as-sessora da VPPIS.

A etapa seguinte à divulgação dosresultados será o acompanhamento eavaliação dos projetos que permitirãoanalisar em que medida as ações de-senvolvidas estão sendo efetivas. Asetapas serão colaborativas e multidis-ciplinares para aprimoramento, cor-rigir rumos, mensurar e comunicarresultados dos projetos em execução.A expectativa é ter produtos nospróximos dois anos.

Por Kath Lousada

Programa Inova Fiocruz mobiliza pesquisadorese recebe 736 propostas em quatro editais

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pensionista Nadir de Oliveira Santos,de 67 anos, viveu um drama quando

teve a casa condenada pela Defesa Civil, em2013. Ela morava em um espaço de aproxi-madamente dez metros quadrados, na comu-nidade Caminho da Cachoeira, na Colônia Ju-liano Moreira, Taquara, Zona Oeste do Rio deJaneiro. O imóvel, bastante precário, foi mui-to danificado pelas fortes chuvas de verão.

Viúva e mãe de seis filhos, Nadir recebeu avisita da equipe social do Programa de Desen-volvimento do Campus Fiocruz Mata Atlânti-ca (PDCFMA), que a convidou para participardo Casa Abrigo. O projeto foi desenvolvido porequipes interdisciplinares do Programa combase no projeto de Regularização Urbanísticae Fundiária das comunidades do entorno docampus, que tem o objetivo de garantir o di-reito à moradia e à terra, visando à saúde dasfamílias e à sustentabilidade do território

O Casa Abrigo envolve assessoria técnicaem um projeto arquitetônico modelo, comorientação e acompanhamento sobre técni-cas de construção civil e mobilização social.Parte dos materiais é doado por empresas,como ação de responsabilidade social, e o au-toempreendimento da construção das mo-radias feito pelas próprias famílias, em muti-rão ou não. O principal desafio foi o de criaralternativas emergenciais para estas famíliassaírem da situação de risco iminente à vida.

“Minha casa estava em risco, poderia de-sabar a qualquer momento. Me falaram queteria que sair de lá. Não queria morar com meusfilhos. Foi aí que apareceu a Fiocruz na minhavida. Foi maravilhoso, uma benção. Hoje te-nho quarto, sala, cozinha, banheiro e quintal,onde faço minha horta. Vou fazer ainda umavaranda. Está uma beleza. Tenho condiçõesde receber meus filhos e netos”, disse.

O projetoAtualmente, 13 famílias da Colônia

Juliano Moreira participam do Casa Abri-go. Todas elas tiveram suas moradias in-terditadas pela Defesa Civil no período de2013 a 2015. Uma foi a da dona de casa,Helena Joana de Queiroz, de 62 anos. Elatambém estava com a residência muitoprejudicada e as rachaduras começarama aumentar. “Fui orientada a conversarcom o pessoal da Fiocruz, que me indicouligar para a Defesa Civil. Depois de tudoisso, entrei no projeto e ganhei outro ter-reno, mas na comunidade Viana do Cas-telo, o que foi muito melhor para minhafamília. Meu marido teve um acidente vas-cular cerebral e está com dificuldades delocomoção. Como o local onde será a casanova fica mais perto da estrada, a genteanda bem menos para ir ao médico”, con-ta Helena Joana, que tem a previsão demudança para o início de 2019.

O mesmo aconteceu com a dona decasa Rosana Queiroz, de 54 anos. “Ondemoro atualmente é bem antigo e só vempiorando a cada dia, além de ser muitoperto do rio. Tem grandes riscos. Estoucom muita expectativa pela mudança,pois a casa nova será muito melhor. Jáfui lá e fiz minha parte. O terreno esta-va desnivelado e com matagal. Tive quecapinar tudo e conseguir aterro paracolocar certinho. Vou morar sozinha ecom uma estrutura maior. Estou ansio-sa, pois terei a oportunidade de ter umespaço para plantar, o que adoro fazer.Não vejo a hora de iniciar e terminar aobra “, afirma.

Apoio técnicoUm dos responsáveis pelo projeto é

o arquiteto e urbanista Marcos Fonse-ca. Para ele, a ideia é que haja coopera-ção das partes envolvidas nas obras,com o protagonismo sendo da popula-ção. “O nosso objetivo é promover a su-peração de situações de risco e melho-ria nas condições do habitat e na quali-dade de vida, por meio de assessoria téc-nica interdisciplinar e do estímulo aações comunitárias e de responsabilida-de social de empresas da área de cons-trução civil. A assistência feita junto acada família conta com o atendimentopor profissionais do campus, respeitan-do as escolhas e o tempo de cada umapara a realização das obras”, explica.

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Por Emerson Rocha

Nadir de oliveira em sua casa nova.(Foto: Emerson Rocha)

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ficiência energética. Otermo, complicado à pri-

meira vista, se traduz em açõessimples e cotidianas que têmcomo objetivo reduzir o desper-dício, economizar recursos eproteger o meio ambiente. A par-tir de pequenas mudanças decomportamento, é possível am-pliar a economia financeira, além

E de garantir uma maior consciên-cia ambiental.

Em relação à energia, é im-portante lembrar que horáriosde “ponta” (de maior consumo),como o das 17h30 às 20h30, têmcustos mais altos. Com isso, é es-sencial reduzir ao mínimo o con-sumo neste período, programan-do o uso de equipamentos para

outros horários, e reduzir a per-manência na instituição duranteestes períodos.

Como uma das ações no usoracional da água, desde 2017, aCoordenação-Geral de Infraestru-tura dos Campi (Cogic) faz irriga-ção dos jardins do Campus Man-guinhos com captação de água dachuva. Essa ação acontece devido

à parceria entre a unidade com oInstituto Nacional Controle Qua-lidade em Saúde (INCQS), que dis-ponibilizou para o projeto umacisterna da unidade que estavasem uso. O uso racional de águareduz o desperdício e gera econo-mia de, no mínimo 15%. E consci-entiza os profissionais sobre o cui-dado com o meio ambiente.

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Instituto de Tecnologia emFármacos (Farmanguinhos)

recebeu aprovação da Agência Naci-onal de Vigilância Sanitária (Anvisa)para novas linhas de fabricação. Se-rão produzidos medicamentos con-siderados estratégicos para o país,tais como o Pramipexol, usado notratamento da Doença de Parkinson,e os antirretrovirais atazanavir e du-plivir (lamivudina+tenofovir), utili-zados no coquetel antiaids. No iníciodeste ano, a Agência já havia libera-do a linha produtiva destinada a imu-nossupressores.

Com vistas à produção de novosmedicamentos, frutos de Parceria deDesenvolvimento Produtivo (PDP),

foram feitas obras de readequaçãoda planta fabril, já concluídas. A ini-ciativa garante o abastecimento doSistema Único de Saúde (SUS) e geraeconomia aos cofres públicos, pos-sibilitando a ampliação do acessoaos tratamentos. O próximo passoserá a produção de lotes-piloto parainclusão de Farmanguinhos comolocal de fabricação, previsto para oano que vem. Após esse procedi-mento, a instituição poderá execu-tar todas as etapas de produção naplanta industrial do Complexo Tec-nológico de Medicamentos (CTM).

Foi revitalizada uma área de2.300 m2 da fábrica, que compreen-deu ainda a linha de produção deimunossupressores (tacrolimo e eve-rolimo), classe terapêutica destina-da a transplantados renais. O inves-

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Fórum Itaboraí: Política, Ci-ência e Cultura na Saúde en-

tregou em setembro os dois primei-ros lotes de plantas medicinais paraa Secretaria de Saúde de Petrópolis(RJ). As ervas já estão sendo prescri-tas por profissionais de saúde aos usu-ários do Sistema Único de Saúde(SUS) dos bairros de Bataillard, e Ca-xambu e nas academias de saúde domunicípio. Maior cidade da regiãoserrana do Rio, Petrópolis tem apro-ximadamente 298 mil habitantes, se-gundo dados do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE).

A entrega é resultado do ArranjoProdutivo Local (APL) de plantas me-dicinais, projeto da Fiocruz, em par-ceria com a Prefeitura de Petrópolis.A iniciativa visa fortalecer e dissemi-nar as práticas de uso das plantas me-dicinais para promoção da saúde e dobem-estar da população. “São produ-tos embalados, etiquetados e com a

garantia de procedência, o que nospermite trabalhar com segurança e emescala com os pacientes das unidadesde saúde”, afirma a secretária de Saú-de de Petrópolis, Fabíola Heck.

Os dois primeiros lotes contêm100 embalagens cada um, de capim-limão e alumã. O capim-limão, tam-bém conhecido como erva-cidreira,tem propriedades que melhoram osistema imunológico e auxiliam na re-gularização do sono. A alumã é umagrande aliada na melhora do sistemadigestivo e no controle do coleste-rol, tendo ação analgésica compro-vada. “Ter essas ervas disponíveis éuma oportunidade ímpar, pois quemconhece as plantas medicinais sabe opoder que elas têm”, ressalta a far-macêutica Roseane Borsato, do Nú-cleo de Assistência da Secretaria deSaúde de Petrópolis.

Para o biólogo Sergio Monteiro,a distribuição da matéria-prima ve-

getal às unidades do SUS em Petró-polis estimulará novas iniciativas efortalecerá a inclusão das plantasmedicinais no campo da saúdepública.”Cada pacote entregue levatodo trabalho em rede realizado aolongo destes anos, do qual participampesquisadores, agricultores e profis-sionais de saúde”, ressaltou Montei-ro, que é coordenador, pela Fiocruz,do APL de plantas medicinais.

Além de permitir que as plantasmedicinais estejam disponíveis gratui-tamente à população com segurança,por meio do SUS, a disponibilizaçãodas plantas na rede pública de Saúdetambém representa o incentivo à pro-dução local. “A proposta valoriza nos-so território e nossa biodiversidade,uma vez que as áreas produtivas des-tas plantas medicinais se tornaramnaturais, com a implantação de siste-mas agroecológicos de cultivos orgâ-nicos”, ressalta Monteiro.

O

timento foi de quase R$ 24 milhões.Além de contar com profissionais al-tamente qualificados, foram adquiri-dos equipamentos de última geração.De acordo com a vice-diretora deOperações e Produção (VDOP), EldaFalqueto, a expectativa é de que ou-tros produtos de diferentes classes te-rapêuticas passem a fazer parte doportfólio institucional.

“Estamos com parque fabril ro-busto e temos que otimizá-lo. Porisso, realizamos um estudo internosobre os medicamentos que poderãoser fabricados nas novas instalações.Na prática, poderemos encurtar oprazo de absorção de tecnologia demedicamentos provenientes de PDP,como, por exemplo, o sofosbuvir(antiviral) e o everolimo (imunossu-pressor)”, ressalta Elda Falqueto.

Page 20: O Vigilância Sanitária · Saúde do Trabalhador, na pers-pectiva da Vigilância em Saúde”, explica Natividade. Teoria e prática Aluno da segunda edição, Dhi-ego Seixas, da

liando praticidade a novosformatos literários, a Edi-

tora Fiocruz lançou seu segundoe-book interativo: Como e Por Queas Desigualdades Sociais FazemMal à Saúde. O livro de autoriade Rita Barradas Barata, que tevesua primeira edição impressa em2009, apresenta breves conside-rações teóricas sobre a temáticadas desigualdades sociais em saú-de, apontando correntes e ten-dências existentes na pesquisaepidemiológica sobre o assunto.

A nova versão interativa,com edição de conteúdo de Ma-ria Fernanda Marques Fernan-des, Phelipe Gasiglia e VanessaFreitas, diferentemente da meratransformação de impresso paradigital, aproveita as possibilida-des do meio virtual e se utilizade vídeos, áudios, galerias de fo-tos, infográficos e outros recur-sos que ora complementam, ora

substituem partes do texto ori-ginal, criando um novo formatode interação com o livro.

“O objetivo foi criar um pro-duto realmente diferenciado eatraente, para que mais pessoaspudessem se sentir interessadaspela leitura”, explica o diretor-executivo da Editora Fiocruz,João Canossa. “Acrescentamos àsmídias selecionadas, por exem-plo, uma entrevista em vídeo coma autora, feita pela equipe da Edi-tora em parceria com a VideoSaú-de exclusivamente para o e-bookinterativo, material que serviu defio condutor e abertura de cadacapítulo”, conta.

Edição de conteúdoJoão Canossa explica que a

partir da metodologia construí-da pela experiência com o pri-meiro e-book interativo da Edi-tora, O Que é o SUS, de Jairnilson

Paim, foi realizada uma leituradetalhada do livro para dividi-loem subtemas e identificar tre-chos que poderiam ser mexidos.“Trabalhamos com um repertó-rio de mídias que nossos parcei-ros – outras instâncias de infor-mação e comunicação da Fiocruz– sugeriram e outras que seleci-onamos a partir dos subtemaselencados. Em seguida, esse re-pertório passou por um segundocrivo relacionado à estética e àadequação”, detalha.

Sobre o livroA edição trata da questão das clas-

ses sociais, de como a posição socialde cada indivíduo repercute sobresua saúde, e da influência da renda,ou seja, as relações entre riqueza eestado de saúde. Insere também adiscussão sobre etnia e discrimina-ção como categorias importantes daanálise do estudo em questão.

A O livro destaca ainda as rela-ções de gênero e a produção dasaúde e da doença, tecendo co-mentários sobre as políticas pú-blicas no enfrentamento das de-sigualdades sociais, para entãoexpor suas considerações e con-clusões em torno do tema.

AcessibilidadeAcesso e acessibilidade são

grandes preocupações da EditoraFiocruz. Por isso, são oferecidosacesso aberto na internet, ele-mentos sonoros (áudios) e forma-tos (PDFs) que facilitam a apreen-são dos conteúdos. “Entendemosque, não só pela linguagem aces-sível, ao rechear os livros com in-fográficos e imagens e glossários,por exemplo, também contribuí-mos para a acessibilidade daque-les que têm talvez não uma limita-ção física, mas dificuldades cogni-tivas”, explica Canossa.