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XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” O USO DO TRABALHO NA FRUTICULTURA: uma análise da microrregião de Juazeiro/Ba na década de 90 Patrícia da Silva Cerqueira CPF 916289465-04 Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia Avenida Luiz Viana Filho, n. 435, 4ª AV. – CAB. Salvador/Bahia. CEP: 41.750- Patrí[email protected] Área Temática Área Temática 12- Mercado de Trabalho Agrícola Desemprego, Êxodo Rural, Trabalho Temporário e Permanente, Migração, Mercado Formal e Informal, Legislação Trabalhista, Salários, Produtividade do Trabalho, Impacto da Mecanização Agrícola. Coordenador: Prof. Dr. Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (ESALQ/USP) Forma de Apresentação - Apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor – neste tipo de apresentação, as sessões contarão com a presença de um presidente, responsável pela coordenação dos trabalhos. Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural 1

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XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”

O USO DO TRABALHO NA FRUTICULTURA: uma análise da

microrregião de Juazeiro/Ba na década de 90

Patrícia da Silva Cerqueira CPF 916289465-04

Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia Avenida Luiz Viana Filho, n. 435, 4ª AV. – CAB. Salvador/Bahia. CEP: 41.750-

Patrí[email protected]

Área Temática Área Temática 12- Mercado de Trabalho Agrícola

Desemprego, Êxodo Rural, Trabalho Temporário e Permanente, Migração, Mercado Formal e Informal, Legislação Trabalhista, Salários, Produtividade do Trabalho, Impacto

da Mecanização Agrícola. Coordenador: Prof. Dr. Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (ESALQ/USP)

Forma de Apresentação

- Apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor – neste tipo de apresentação, as sessões contarão com a presença de um presidente, responsável pela

coordenação dos trabalhos.

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O USO DO TRABALHO NA FRUTICULTURA: uma análise da

microrregião de Juazeiro/Ba na década de 90 Resumo Este trabalho tem como objetivo principal traçar a trajetória da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura na microrregião de Juazeiro/Ba na década de 1990. Considerando-se a importância do trabalhador no desenvolvimento rural sustentável e o destaque que a fruticultura vem ganhando em todo o país esta pesquisa propõe-se a analisar, através da série construída para a década de 90, a ocupação, os níveis de ocupação por produto, a distribuição da ocupação nos meses do ano e os coeficientes técnicos de produção, contribuindo para o conhecimento da realidade local, e servindo como suporte para a elaboração de projetos e políticas públicas direcionadas a essa atividade. Palavras-chave: Desenvolvimento regional, ocupação, fruticultura, rural, mão-de-obra agrícola.

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microrregião de Juazeiro/Ba na década de 90

INTRODUÇÃO

O trabalho em atividades agrícolas e a sua importância para o meio rural são temas contemplados por diversos estudos técnicos e/ou acadêmicos. As transformações que esse meio vem passando, desde a introdução de novas tecnologias na produção até a combinação de atividades, são fundamentais para o entendimento e o conseqüente desenvolvimento do mesmo.

A relação entre as práticas agrícolas modernas (modernização da agricultura) e os seus impactos na vida do trabalhador rural, principalmente na vida do trabalhador ocupado na fruticultura, é a base deste trabalho. Verifica-se que ao mesmo tempo em que a modernização da agricultura visou aumentar a produção ela reduziu a necessidade de mão-de-obra nas atividades; ao mesmo tempo em que ampliou a oferta de produtos no mercado, reduziu a renda do agricultor e o valor bruto de sua produção.

A partir desses aspectos o presente artigo tem como objetivo contribuir, através da série histórica da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura construída, para o conhecimento da realidade local e elaboração de projetos e políticas públicas que visem do desenvolvimento regional.

1 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA

As mudanças no longo processo de transformação da base técnica na agricultura

brasileira compõem o ponto de partida para o desenvolvimento da base teórica deste trabalho. A modernização deste setor, associada à industrialização, proporcionou alterações nas relações econômicas e sociais das famílias rurais.

O processo de modernização da agricultura no Brasil é antigo e originou-se a partir da crise do padrão agrícola estabelecido até o ano de 1850. A crise desse padrão, que também ficou conhecida como a crise do “Complexo Rural” (CR), surgiu a partir da substituição da economia denominada “natural” por atividades agrícolas integradas à industria. A atividade agrícola passa de atividade isolada para atividade interligada com os outros setores da economia.

A base do CR era o comércio exterior, ou seja, os produtores focavam-se no mercado internacional, que geralmente valorizava apenas um determinado tipo de produto e direcionavam os seus investimentos para produzir este determinado produto. Além da produção voltada para exportação, no interior das fazendas também se produzia manufaturas e produtos para o consumo interno.

Segundo Kageyama et al (1996) o passo fundamental que desencadeia a crise do complexo rural é a transição para o trabalho livre, a partir da suspensão efetiva do tráfico negreiro pós-1850. Esse processo significou o desenvolvimento do mercado de trabalho e a constituição do mercado interno.

A partir da internalização do departamento de produção de bens de capital (D1) na economia brasileira, a partir de 1955, inicia-se o processo específico de industrialização da agricultura. O D1 agrícola e o trabalhador rural são o capital e a força de trabalho, respectivamente, que alimentarão esse novo processo de acumulação de capital.

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Paralelamente a internalização do D1, mais especificamente a partir do pós-guerra, a modernização da agricultura no país passou por transformações em sua base técnica através de importações de tratores e fertilizantes no intuito de aumentar a sua produção. O aumento da produção e especialização da mesma fazia parte do modelo de desenvolvimento, também chamado de “pacote tecnológico”, importado pelo país. Este modelo de produção visa crescentes rendimentos físicos por hectare e menores custos, baseando-se na monocultura e na produção em larga escala de commodities. Esse “modo de fazer e atuar” proporcionou impactos nas áreas social, ambiental e econômica, compondo assim a nova dinâmica percebida no espaço rural.

Paralelamente ao crescimento da produção, o rendimento dos agricultores passa por reduções devido ao aumento da oferta no mercado, e devido à mecanização dos processos de produção. Para este estudo está neste ponto a contradição do modelo de desenvolvimento adotado pelo país.

A redução dos preços mundiais das commodities agrícolas influencia diretamente na redução da renda do agricultor, e os avanços tecnológicos reduzem a demanda por mão-de-obra nas atividades agrícolas. A queda dos preços combinada com a modernização na agropecuária levou o trabalhador rural a combinar atividades agropecuárias com outras atividades não-agrícolas, dentro ou fora de seu estabelecimento (trabalhador autônomo), assalariadas ou não.

O processo de modernização que culminou na industrialização da própria agricultura, promoveu a consolidação dos Complexos Agroindustriais (CAIs), o surgimento de novas atividades agrícolas e não-agrícolas e a combinação dessas atividades.1

A partir da consolidação dos Complexos Agroindustriais (CAIs)2, nome atribuído à cadeia de relações envolvidas na atividade agrícola, a partir de meados da década de 1970, no Brasil, impõe-se uma crescente urbanização do meio rural. Percebe-se que se de um lado as cidades absorvem gradativamente atividades típicas do meio rural, do outro ocorre a urbanização do trabalho rural, ou seja, transformações nas relações sociais de produção associadas à maiores níveis de qualificação da força de trabalho e a tecnificação crescente dos produtores familiares ligados aos CAIs.

Segundo Martine (1990), a modernização do campo está ligada à valorização da agricultura empresarial, propriedade privada e integração crescente dos capitais financeiro, comercial, industrial e agrícola. O autor divide esse processo em três fases distintas no Brasil. A primeira seria chamada de Modernização Conservadora (1965/79), fase em que o governo induz a modernização via crédito subsidiado proporcionando a modernização compulsória. A segunda fase, A Crise (1980/85), na qual a agricultura se apresenta em estágio de relativa maturidade. A terceira fase recebeu a denominação de Pós 85, período marcado pela colheita de várias supersafras.

Em outras palavras, a agropecuária passa a ser uma atividade subordinada ao capital, deixando de ter laços estreitos com as forças da natureza. Ela passa a ter mais garantias, mais certezas e perde a característica de imprevisibilidade. O processo de modernização é, na verdade, a subordinação da natureza ao capital, que é capaz de moldá-la3 de acordo com as suas necessidades (GRAZIANO DA SILVA, 1996).

1 Os três grandes grupos de atividades que compõem o “novo rural” são agricultura moderna (commodities), atividades não-agrícolas e novas atividades agropecuárias.

2 A consolidação dos CAIs é decorrente de diversas políticas públicas (financiamento) e programas de apoio e incentivo direcionados para o desenvolvimento do setor

agropecuário.

3 Como o próprio autor descreve em seu texto: “... se faltar chuva, irriga-se; se não houver solos suficientemente férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas e doenças,

responde-se com defensivos químicos ou biológicos; e se houver ameaças de inundações, estarão previstas formas de drenagem.”

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Além da incorporação das atividades antes só vistas nos centros urbanos no meio rural, percebe-se também o surgimento de novas atividades agrícolas. As lavouras tradicionais estão perdendo espaço nesse meio cada vez mais diversificado. O desenvolvimento da fruticultura, objeto de pesquisa desse trabalho, é um exemplo deste fenômeno. Considerando-se a fragilidade dos espaços rurais baianos, a fruticultura é vista como uma opção para superar as quedas nos preços de alguns produtos tradicionais do estado, e vem se desenvolvendo na microrregião de Juazeiro/Ba nos últimos anos.

O processo de modernização descrito acima não resultou da ação das forças do mercado. O Estado esteve presente em todas as fases do processo criando condições para as transformações. O instrumento de intervenção estatal foi a política de financiamento através da criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e da reforma do Sistema Financeiro. A partir deste ponto foram estabelecidas bases para assegurar que parte dos recursos captados pelos bancos fosse canalizada para o setor agrícola. (KAGEYAMA et al, 1996).

1.1. A modernização e a ocupação da mão-de-obra agrícola

A ocupação da mão-de-obra é fundamental para a consolidação do

desenvolvimento do meio rural. Considerando-se a agricultura, que é uma atividade com grande capacidade de absorção de mão-de-obra; compreender a relação entre as práticas agrícolas modernas e os impactos causados por elas na vida do trabalhador rural, deve ser o ponto de partida para a elaboração de projetos de desenvolvimento sustentável.

Os fenômenos descritos acima são estudados pelo Projeto Rurbano4. Os resultados apresentados pelo referido Projeto englobam estudos em diversos estados brasileiros e têm como objetivo entender as dinâmicas relacionadas à ocupação da mão-de-obra e renda das famílias rurais nas últimas décadas. A principal conclusão divulgada pelo Projeto foi que o processo de modernização da agricultura tem levado a uma queda na taxa de crescimento dos rendimentos dos agricultores. Observou-se também que o crescimento do número de pessoas ocupadas em atividades rurais não-agropecuárias é superior ao crescimento da população ocupada na agricultura. As atividades não-agropecuárias que mais se destacam são as relacionadas com indústrias, agroindústrias e com o avanço da urbanização (construção civil, turismo e lazer).

A queda nos preços das principais commodities no mercado mundial, devido às inúmeras crises de super produção5, levou os produtores rurais a buscar alternativas de renda, tornando, dessa forma, o trabalho na agricultura menos importante do ponto de vista da renda. Paralelamente, as inovações poupadoras de trabalho manual levaram a uma redução na demanda por mão-de-obra nas fases de cultivo dos produtos agrícolas que obrigou aos trabalhadores rurais a buscar alternativas de trabalho.

O crescimento da população ocupada em atividades rurais não-agropecuárias também pode ser relacionado com a sazonalidade existente na atividade agrícola (nesse ponto não se pode considerar a capacidade de modelagem que o capital exerce sobre a atividade). O trabalhador rural, além de ter sua renda reduzida por causa da queda de preços das commodities ainda tem que enfrentar os meses do ano em que não existe trabalho. A atividade agrícola é, tradicionalmente, uma atividade sazonal. A ocupação na 4 O Projeto Rurbano é executado pelo Núcleo de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

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5 As crises de superprodução, conseqüência do modelo difundido pelos EUA e Europa no mundo (o produtivismo), conhecida também como “crise do sucesso”.

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agricultura está relacionada ao ciclo produtivo, aos meses do ano e às condições climáticas. Dessa forma, o trabalhador rural, geralmente, só encontra ocupação nos meses de plantio e colheita, atividades que naturalmente demandam mais mão-de-obra por hectare. No caso das localidades que enfrentam problemas como a seca, a situação ainda é mais grave, não existe ocupação para o trabalhador. Este sai em busca de outras atividades não apenas para complementar a sua renda, como já foi citado anteriormente, mas para sobreviver em um meio hostil. A saída em busca de outras atividades no meio rural, nesse caso, seria mais uma “estratégia de sobrevivência”.

A ocupação agrícola nos países pobres do trópico Semi-Árido é um outro grave problema, senão o mais sério, pois é na geração de emprego que deságuam as vicissitudes das dificuldades anteriores. Dadas as relações de produção vigentes nesses países, os pequenos produtores rurais, possuindo ou não terras, nem sempre conseguem trabalhar durante todo o ano. As situações de desemprego estacional ou de subemprego são portanto comuns, agravando-se na medida em que começa a se fazer uso de práticas agrícolas modernas, que além de não generalizadas a todas as atividades rurais, são dissociadas ou pouco articuladas aos processos de transformação industrial ou agroindustrial que poderiam ter lugar no interior ou nas proximidades das áreas de produção agrícola e pecuária. (CARVALHO, 1988. p. 69).

A ocupação também fica limitada, principalmente na região semi-árida, devido às

distribuições irregulares da pluviometria e secas. No caso das secas, as atividades são abandonadas e, muitas vezes, o agricultor precisa vender sua terra ou parte dela pra sobreviver.

Os impactos ou conseqüências do processo de modernização da agricultura na ocupação da mão-de-obra rural tiveram dinâmicas diferentes em cada tempo do processo. Para uma melhor visualização das características de cada momento serão utilizadas como parâmetros as fases da modernização descritas por Martine (1990).

Como conseqüências da primeira fase da modernização descrita pelo autor (Modernização Conservadora - 1965/79) têm-se o aumento da concentração da propriedade da terra, a expulsão da mão-de-obra decorrente da mecanização e a redução de pequenos produtores, que provocou um forte êxodo rural.

Além desses pontos a forma extensiva de ocupação da terra e a substituição das culturas tradicionais foram apontadas por Kageyama (1986) como fator de baixo dinamismo de fonte de emprego. A combinação da substituição das culturas tradicionais por pastagens com a forte mecanização, formas altamente desocupadoras de mão-de-obra, intensificou o processo de êxodo rural (ruralização do trabalhador) e a proliferação do emprego temporário. No que se refere à qualidade da ocupação agrícola percebe-se a baixa renda recebida pelos trabalhadores que se reflete em baixa condição de vida, além da não aplicação dos direitos trabalhistas no campo.

A segunda fase (A Crise – 1980/85) é caracterizada por perda pela agricultura do tratamento preferencial em relação ao setor financeiro devido à crise do padrão de financiamento baseado no crédito fortemente subsidiado. Apesar dessa crise, a produção não sofreu perdas significativas devido à maturidade do padrão agrícola6 (estrutura produtiva tecnologicamente consolidada). (KAGEYAMA, 1986).

Nessa fase ocorre um crescimento do número de pessoas ocupadas na agricultura devido à reativação de pequenos estabelecimentos familiares. O aumento da parceria como forma de reduzir riscos e o crescimento do emprego temporário também contribuíram para

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6 Segundo Martine (1990) essa maturidade do padrão agrícola é aparente pois o crédito genérico foi substituído pelo crédito dirigido disputados pelos grupos mais modernos.

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elevação na quantidade de mão-de-obra familiar na agricultura. Entretanto a elevação na ocupação familiar não significou uma consolidação da agricultura familiar, correspondendo apenas à sub-ocupação e parcerias favorecendo ao crescimento da pobreza na agricultura.

Na fase seguinte (Pós 85), a partir da sensível recuperação econômica pela qual passava o país impulsionada pela implementação do Plano Cruzado e pela exportação do setor industrial, ocorreu uma elevação da demanda interna por produtos agrícolas devido ao aumento da renda da população (aumento do emprego urbano). Como conseqüência da tendência de crescimento da demanda interna por produtos agrícolas entre os anos 1985 e 1987 foram batidos recordes de produção pelo setor.

Apesar das supersafras no período, os números da ocupação da mão-de-obra agrícola não apresentaram a mesma tendência. No período, ocorreu reduções no número de pessoas ocupadas e no número de trabalhadores familiares não-remunerados, ou seja, a evolução da demanda da força de trabalho agrícola não acompanhou a evolução da área cultivada.

Para consolidar o mercado consumidor interno é preciso elevar a renda da população, seja através da melhoria da distribuição de renda ou através da criação de postos de trabalho. Nesse sentido, destaca-se a importância de estudar e entender a dinâmica da ocupação da mão-de-obra, principalmente a ocupação da mão-de-obra agrícola, para o planejamento regional e desenvolvimento sustentável.

2 A MICRORREGIÃO DE JUAZEIRO/BA: ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS

A microrregião de Juazeiro-BA (IBGE), composta pelos municípios de Campo

Alegre de Lourdes, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho; é a área delimitada neste estudo. A microrregião, que localiza-se na área mais setentrional do estado da Bahia, integra o semi-árido baiano, tem clima quente e seco, e sua vegetação predominante é a caatinga. (SEI, 2000b)

A população residente na microrregião, em 2000, segundo os dados do censo demográfico do IBGE, é de 407.501 pessoas, ou seja, 3,12% da população total do estado da Bahia (13.070.250 pessoas). Observando-se as zonas urbana e rural separadamente a população na região é de 243.612 pessoas e 163.889 pessoas, respectivamente. O grau de urbanização é de 59,8% (IBGE, 2003).

Na microrregião cerca de 27,0% da referida população ganha até 1 salário mínimo e 11,9% ganha mais de 1 a 2 salários. A classe “mais de 20 salários mínimos” representa apenas 0,4% da população. A distribuição das pessoas nas classes de rendimento se dá de forma parecida nos municípios pesquisados. Depois da classe “sem rendimento”, a classe “até 1 salário mínimo” é a que enquadra a maior parte da população.

A ocupação da microrregião das pessoas com dez anos ou mais de idade, por seção de atividade do trabalho principal, está concentrada nas seções “agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca”, doravante “agricultura” e “comércio e serviços”, com 45% das pessoas e 44% das pessoas, respectivamente. A seção “indústria extrativa, indústria de transformação e distribuição de eletricidade, gás, água e construção”, doravante “indústria” ocupou 11%. Somando-se as três seções têm-se o total de ocupados no trabalho principal que na região é de 138.672 pessoas, que representa cerca de 3% do total de ocupados no trabalho principal da Bahia. (IBGE, 2003).

A posição na ocupação da população com 10 anos ou mais de idade concentra-se em “empregados” com 53%, sendo que 20,9% tem carteira de trabalho assinada, 4,5% é

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militar ou funcionários públicos estatutários e 27,8% não têm carteira assinada. Na microrregião 1,2% destas pessoas é de “empregadores”, 29,2% são considerados “conta-própria”, 8,8% são “não remunerados em ajuda a membro do domicílio” e 7,7% são de “trabalhadores na produção para o próprio consumo”.

O grau de informalidade na ocupação da microrregião é maior do que a estimada para o estado da Bahia (68,02%), chegando a 73,43%. A taxa de desocupação é de 15,11%, menor do que a estimada para o estado (18,38%).7

3. A OCUPAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA AGRÍCOLA DA FRUTICULTURA NA MICRORREGIÃO DE JUAZEIRO/BA

Antes de analisar os dados obtidos com a pesquisa optou-se por fazer uma breve caracterização da atividade de fruticultura no Brasil, no Nordeste e na Bahia e do surgimento e importância da irrigação no desenvolvimento desta atividade. Estes elementos servirão de base para as análises dos próximos subitens.

Os dados sobre a fruticultura foram tirados do Estudo de Competitividade de Frutas do Estado da Bahia, realizado pelo Centro Internacional de Negócios da Bahia (PROMO, 2000).

3.1 O desenvolvimento da fruticultura

A atividade frutícola no país vem se destacando no cenário econômico interno e externo. Esse setor, que se desenvolveu a partir da década de 1950 no país e no Nordeste, mais especificamente na Bahia, a partir da década de 1970, é um reflexo da intervenção estatal no sentido de desenvolver o semi-árido brasileiro, proporcionando a incorporação de novas tecnologias no meio rural, principalmente a irrigação.

A irrigação começou a se destacar no cenário nacional ao final da década de 1960, principalmente no Nordeste do Brasil devido ao convênio da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF)/Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)/Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF)/Bureau of Reclamation (BUERC), que possibilitou os diversos estudos para aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos na região, facilitando, dessa forma, a execução de projetos de irrigação (CODEVASF, 1984).

Apesar de não ser considerado um fenômeno novo, a irrigação assume um caráter moderno a partir da implantação dos grandes projetos públicos, articulando a integração entre a agricultura e a indústria, entre as diversas atividades relacionadas ao meio rural com as atividades urbanas. E no Nordeste, mais especificamente na microrregião em estudo, os projetos de irrigação são os impulsionadores do desenvolvimento da fruticultura, através da criação da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) que tem por finalidade o aproveitamento dos recursos de água e solo do Vale para fins agrícolas, agropecuários e agroindustriais, promovendo o desenvolvimento integrado das áreas

Apesar do potencial da fruticultura no país, considerando-se os recursos naturais favoráveis, muito ainda se tem que fazer para tornar essa atividade mais forte e

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7 O grau de informalidade é obtido através da razão entre o somatório (empregados sem carteira assinada, os conta própria, os não remunerados em ajuda a membro do domicílio, trabalhador na produção para o próprio consumo) e as pessoas ocupadas x 100. A taxa de desocupação é obtida através da razão entre desocupados e pessoas economicamente ativas x 100.

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competitiva, tanto no mercado interno como no mercado externo. A produção de frutas no país só ganha destaque em termos de produção no mercado internacional com a inclusão do cultivo da laranja (que representa mais da metade da produção de frutas do país) e da banana. (CALDAS, 2001)

De acordo com os dados divulgados no Estudo da PROMO, o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas no mundo, mas o crescimento de sua produção está inferior à média de crescimento mundial. Os cinco maiores produtores mundiais são: a China (11,8%), a Índia (7,7%), em seguida o Brasil (7%), os EUA (6,2%) e a Itália (3,7%).

Observando-se o panorama nacional a produção é liderada pelas regiões Sudeste (23,1%), Nordeste (8,3%) e Sul (4,5%). As frutas que lideram o ranking de produção são: a laranja, a banana e o mamão, sendo que a laranja destaca-se com 22,96 mil toneladas seguida da banana com 6,09 mil toneladas em 1997. Apesar da supremacia da produção da laranja três culturas destacam-se com elevadas taxas de crescimento da produção entre os anos 1992-1997, sendo estas o melão (10%), o mamão (8,8%) e a melancia (8,2%).

A respeito da exportação no Brasil a manga, a maçã e o melão são as frutas que mais se destacam correspondendo a US$ 163 milhões em 1999. O mamão merece destaque pois vem ampliando seu mercado no período 1994-1999 com taxa de crescimento do valor comercializado em torno de 29,2%. O mercado exportador brasileiro é concentrado em 5 frutas que correspondem cerca de 80% das exportações de frutas frescas em 1999.

Em 1997, o Nordeste Brasileiro passou dos 8 milhões de toneladas, ficando na frente da África do Sul e Chile, que são considerados produtores tradicionais. Em termos de produção a banana alcançou 2,3 milhões de toneladas seguida da laranja, com 1,8 milhões de toneladas. Observando-se a produção entre o período 1992-1997 as frutas que obtiveram as maiores taxas de crescimento foram o mamão (16,9%), a uva (11,8%), a melancia (11,6%) e o maracujá (10,8%). A produção é concentrada, com cinco frutas representando mais de 80% da produção total (banana, laranja, mamão, melancia e coco-da-baia).

A Bahia lidera a fruticultura do Nordeste com 4 milhões de toneladas produzidas (quase a metade da produção total), seguida do Ceará com 1,3 milhão de toneladas. Cruzando-se a taxa de crescimento anual ponderada do período 1992-1997 com a produção do ano verifica-se o dinamismo do estado na produção de frutas e a Bahia foi o único estado do Nordeste que se destacou nesta relação, aliando produção expressiva com altas taxas de crescimento. No estado, como no Nordeste, a produção também é considerada concentrada, com cinco produtos correspondendo a mais de 90% da produção acumulada. O mamão é a cultura mais dinâmica em termos de produção, aliando produção e crescimento da produção.

Apesar da produção, em termos de quantidade produzida, ser considerada concentrada, como já foi descrito anteriormente, a distribuição da fruticultura na Bahia é considerada diversificada, com a participação de todas as regiões, o que suscita o potencial de desenvolvimento desta atividade no estado.

3.2 A ocupação da mão-de-obra agrícola

Neste subitem pretende-se analisar os dados de ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura da microrregião de Juazeiro-Ba, e dos principais municípios (Juazeiro e Casa Nova), com base nos resultados obtidos através da aplicação da metodologia da Pesquisa MOA (SEI) adaptada. Os resultados abrangem o período 1990-2000.

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3.2.1 Breve histórico sobre a Pesquisa MOA (SEI)

A Pesquisa “Mão-de-Obra Agrícola na Bahia”, também conhecida como Pesquisa

MOA, é executada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e tem como objetivo estimar a ocupação da mão-de-obra na agricultura por cultura, para o total do Estado e cada uma das regiões produtoras, segundo o nível tecnológico de produção e os meses do ano. A Pesquisa ainda conta com um sistema de cooperação técnica que inclui a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), órgão vinculado à Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, e o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE).

A Pesquisa MOA é uma ferramenta fundamental de auxílio ao planejamento público e privado no sentido de desenvolver a agricultura de modo sustentável. Por estimar a demanda de mão-de-obra por cultura, por exemplo, é capaz de elencar o rol de produtos que mais empregam ou que menos empregam por região, de acordo com o nível tecnológico empregado. Dessa forma os atores envolvidos no processo têm a capacidade de elaborar planos ou políticas para manter a população ocupada no meio rural e melhorar, conseqüentemente, os níveis de renda da população.

Resumidamente, a metodologia consiste em definir, para cada cultura, em cada uma das regiões do estado8, os procedimentos a seguir:

demanda de mão-de-obra, em homens-dia por hectare (HD), segundo os grupos de operação de cultivo9, para os três níveis tecnológicos de produção;

distribuição das operações de cultivo durante o calendário agrícola anual; estimativa de área plantada no ano, ponderada segundo os níveis

tecnológicos de produção. A multiplicação dos itens acima fornece uma aproximação da ocupação da mão-de-

obra por cultura para o total do estado e cada uma das regiões produtoras da EBDA, segundo o nível tecnológico de produção e os meses do ano. A ocupação da mão-de-obra agrícola é medida em Equivalentes-Homem-Ano (EHA) e cada EHA corresponde a um homem adulto que trabalha 8 horas diárias, durante todo o processo produtivo anual.

Com base nesses aspectos, a Pesquisa MOA representa uma ferramenta essencial para o conhecimento do meio rural no que diz respeito à ocupação da mão-de-obra agrícola, permitindo entender o comportamento da ocupação em relação ao nível tecnológico de produção, ao ciclo produtivo, à conjuntura econômica e política do setor (créditos, preços, estoques etc.) e à natureza (mudanças climáticas). Dessa forma, constitui-se em um instrumento crucial para os planejamentos público e privado que visem a desenvolver a agricultura, mantendo a população ocupada no meio rural com níveis adequados de renda.

8 A regionalização da Pesquisa é a mesma utilizada pela EBDA. Optou-se por trabalhar com esta regionalização para facilitar a coleta de informações no campo, para que a mesma seja a mais precisa possível.

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9 Os grupos de operação de cultivo são: preparo do solo, plantio, capinas, outros tratos culturais, colheita e pós-colheita. Os níveis tecnológicos considerados pela Pesquisa são: alto, médio e baixo.

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3.2.2 Adaptação metodológica

A adaptação metodológica consistiu em considerar apenas os coeficientes técnicos

de produção do nível tecnológico médio para a construção da série 1990-2000 devido à impossibilidade de ponderação das áreas plantadas segundo os três níveis tecnológicos de produção, para os anos anteriores ao primeiro ano pesquisado pela SEI (1998). Esta adaptação já foi utilizada pela SEI para calcular o emprego da agricultura da Bahia na década de 1990 em trabalho específico.10

Utilizando-se as áreas plantadas (PAM – IBGE) dos produtos da fruticultura cultivados na microrregião, são cruzados os coeficientes técnicos do nível tecnológico médio e os demais procedimentos da Pesquisa MOA original. Dessa forma é calculado o emprego da fruticultura na microrregião de Juazeiro-BA para os anos 1990-2000.

Esse cálculo é uma aproximação da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura na região. Não se deve deixar de considerar que essas estimativas perdem um pouco de sua solidez devido a não-ponderação das áreas plantadas nos três níveis tecnológicos considerados pela metodologia original da Pesquisa MOA (alto, médio e baixo), mas são capazes de traçar uma idéia sobre a ocupação da região e contribuir para estudos mais específicos. Além disso, essa adaptação metodológica pode ser utilizada em outras áreas para estudos semelhantes.

3.2.3 Análise dos resultados

Observando-se a série histórica 1990-2000, construída a partir da aplicação da

metodologia adaptada, percebe-se o aumento significativo da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura na microrregião, com taxa de crescimento em torno de 149,24%. Em termos absolutos, em 1990 a ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura da região ficou estimada em 4.973,21 EHA. Já em 2000 essa ocupação passou a 12.395,35 EHA.

O crescimento da ocupação da mão-de-obra agrícola na fruticultura da microrregião é conseqüência de diversos fatores que vêm influenciando sua dinâmica econômica e social, como os projetos de irrigação que acabam por estimular os produtores a cultivar produtos não-tradicionais de alto valor agregado e com tecnologia avançada. A escassez de chuvas e o alto índice de radiação solar aliados a modernas técnicas de irrigação permitem que o produtor colha diversas safras por ano.

Dessa forma o aumento na área plantada, que passou de 3.784 hectares em 1990 para 16.575 hectares em 2000, proporcionou uma demanda maior por mão-de-obra agrícola na fruticultura. Como foi considerado para o cálculo apenas o nível tecnológico médio de produção o único fator que pode elevar ou diminuir a ocupação nesse estudo é o aumento ou diminuição no número de hectares plantados (área plantada). Na Pesquisa MOA original esse dado é ponderado em três níveis tecnológicos que possuem coeficientes técnicos de produção diferenciados, o que permite perceber os impactos do uso de tecnologias na ocupação.11

10 Esse estudo está inserido na Série Estudos e Pesquisas (SEP) Dez Anos de Economia Baiana que traz análises de segmentos importantes da economia baiana na década de 1990.

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11 Os coeficientes técnicos de produção variam de acordo com o nível tecnológico utilizado. Entretanto algumas culturas possuem apenas um nível tecnológico devido às especificidades no seu cultivo.

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A melancia é o produto que mais ocupa na microrregião. Em termos absolutos, em 2000, o produto alcançou a marca de 4.672,88 EHA, que representa 37,7% da ocupação total , seguido da uva com 3.350,69 EHA e do melão com 2.899,88 EHA.

Os produtos que obtiveram as maiores taxas de crescimento da ocupação da mão-de-obra no período foram o coco da baia, a manga e a banana. Este crescimento é sustentado pela expansão das áreas plantadas. O coco da baia, por exemplo, passou de 82 hectares em 1990 para 947 hectares em 2000. A manga passou de 527 hectares plantados em 1990 para 5.983 hectares em 2000. A banana passou de 191 hectares para 1.841 hectares nos mesmos anos.

A uva também apresentou taxa de crescimento da ocupação da mão-de-obra agrícola significativa no período (339,61%) passando de 762,19 EHA para 3.350,69 EHA em 2000. Esse aumento corresponde também ao crescimento da área planta no período, que passou de 467 hectares em 1990 para 2.053 hectares em 2000.

-500,00

1.000,001.500,002.000,002.500,003.000,003.500,004.000,004.500,005.000,00

Manga Melancia Melão Uva

19902000

Figura 1 - Gráfico de Ocupação Anual da Mão-de-

Obra Agrícola em Equivalentes-Homens-Ano (EHA), segundo as culturas pesquisadas. Microrregião de Juazeiro/Ba. 1990-2000.

Fonte: SEI/EBDA/SEADE/IBGE Nota: Elaboração da autora.

Os coeficientes de variação sazonal12 da década em estudo demonstram uma

tendência de desconcentração da ocupação da mão-de-obra da fruticultura na microrregião de Juazeiro-BA. Esse resultado é justificado pela implementação de projetos de irrigação, pela incorporação de novas culturas, pela expansão de área plantada e pela possibilidade de colheita de diversas safras durante o ano, o que aumenta a demanda por mão-de-obra favorecendo o agricultor. A linha construída a partir dos coeficientes de variação sazonal da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura na década de 1990 demonstra a tendência de desconcentração da mão-de-obra na microrregião.

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12 Quanto maiores esses coeficientes maior a concentração da ocupação em alguns meses do ano, do mesmo jeito, quanto menores esses coeficientes mais distribuída é a ocupação durante os meses do ano.

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Figura 2 – Gráfico Coeficientes da Variação Sazonal

da Ocupação da Mão-de-Obra Agrícola da Fruticultura. Microrregião de Juazeiro/Ba, 1990-2000

Fonte: SEI/EBDA/SEADE/IBGE Nota: Elaboração da autora.

A dinâmica de produção da fruticultura na área irrigada da microrregião é diferente da dinâmica de produção de lavouras tradicionais de sequeiro. No primeiro caso a produção é mais intensiva em mão-de-obra podendo-se cultivar diversos produtos na mesma área, ocupando mais e favorecendo à desconcentração da ocupação nos meses do ano. Já no segundo caso depende-se de condições climáticas favoráveis, que geralmente acontecem uma ou duas vezes no ano, o que favorece à concentração da mão-de-obra em meses de plantio e colheita.

Observando-se a distribuição da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura segundo os meses do ano (variação sazonal da ocupação) na microrregião percebe-se que os meses que mais ocupam são março, abril, maio, junho e julho. Vale ressaltar também que existe ocupação em todos os meses do ano, diferentemente da distribuição da ocupação da mão-de-obra agrícola no cultivo de produtos tradicionais. Comparando-se os anos 1990 e 2000 a proporção de ocupados em todos os meses cresceu, conforme demonstrado no gráfico abaixo.

0

5

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

19902000

Figura 3 – Gráfico da Variação Sazonal da Ocupação da

Mão-de-Obra Agrícola da Fruticultura. Microrregião de Juazeiro/Ba. 1990-2000.

Fonte: SEI/EBDA/SEADE/IBGE Nota: Elaboração da autora.

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Comparando-se a variação sazonal da ocupação da fruticultura da microrregião com

a variação sazonal das culturas tradicionais da Bahia percebe-se que essa última é bem mais concentrada. O gráfico abaixo traz a ocupação da mão-de-obra agrícola do feijão, milho e mandioca, produtos considerados tradicionais da agricultura baiana. Percebe-se que existem picos de ocupação em alguns meses e em outros não existe ocupação. O cultivo do feijão, por exemplo, apenas ocupa nos meses dezembro, janeiro, fevereiro e março, ficando o agricultor praticamente sem trabalho o resto do ano. No cultivo da mandioca, da mesma forma, a ocupação da mão-de-obra está concentrada (julho, agosto e setembro). No cultivo do milho, apesar da ocupação ser melhor distribuída do que no feijão, a concentração é destacada, ficando nos meses de novembro, de dezembro e de janeiro as maiores demandas por mão-de-obra. (SEI, 2000).

0,0

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

FeijãoMilhoMandioca

Figura 4 – Gráfico da Variação Sazonal da

Ocupação da Mão-de-Obra Agrícola, segundo as culturas pesquisadas. Bahia, 1998.

Fonte: SEI/EBDA/SEADE/IBGE – Pesquisa MOA (SEI) Observando-se a relação EHA/ha da culturas pesquisadas a melancia é o produto

que mais ocupa por hectare (1,99 EHA/ha), seguido da uva (1,63 EHA/ha) e do melão (1,28 EHA/ha).

Comparando-se os resultados obtidos pela microrregião de Juazeiro/Ba na década de 90 com os resultados da Pesquisa MOA em 2002 observa-se que a melancia, a uva e o melão continuam no rol das culturas que mais ocupam por hectare. As culturas tradicionais da Bahia como o feijão, o milho e a mandioca estão entre as culturas que menos ocupam. A soja, apesar dos 807.500 hectares plantados em 2002 ficou em último no ranking da ocupação por hectare, o que era esperado devido à elevada mecanização que existe neste cultivo. O grão, em 2002 ocupou apenas 0,62% do total de ocupados no estado, chegando a 6.306,19 EHA (PESQUISA MOA, 2003).

Apesar da baixa relação EHA/ha as culturas tradicionais ainda são as que mais ocupam na Bahia em termos absolutos, segundo os resultados da Pesquisa MOA. Esse fato é justificado pela concentração da área plantada nesses cultivos. O feijão foi o produto que mais ocupou em 2002 chegando a 237.428,22 EHA. Seguido do cacau com 160.934,37 EHA e da mandioca com 158.143,34 EHA. (PESQUISA MOA, 2003)

Os municípios que mais ocupam na microrregião são, por ordem, Juazeiro, Casa Nova, Curaçá e Sento Sé. Nessa análise serão apenas contemplados os dois mais importantes.

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Juazeiro é o principal município em termos de ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura na região. Os principais projetos de irrigação beneficiam praticamente toda a sua área. É também em Juazeiro que está localizado o centro do comércio local e o Mercado do Produtor, local onde se comercializa a produção com estrutura adequada.

Com infra-estrutura melhor que os demais municípios estudados, Juazeiro possui a maior área plantada da fruticultura. Em 2000 essa área foi de 11.144 hectares, 67,3% do total da área cultivada com frutas da microrregião, e a ocupação da mão-de-obra apresenta taxa de crescimento em torno de 206,21% considerando-se o período 1990-2000.

Em 2000 a ocupação da mão-de-obra alcançou o patamar de 7.112,61 EHA. As principais frutas cultivadas em Juazeiro são, por ordem de importância na ocupação: a melancia, a uva, o melão e a manga. A melancia apresentou ocupação em torno de 2.490,87 EHA seguida da uva com 2.266,98 EHA. Além desses cultivos o município apresenta o rol de frutas mais diversificado, comparando-se com os demais pesquisados. Compõem esse rol, por ordem de importância na ocupação em 2000: a banana, o maracujá, o coco da baia, o mamão e a laranja. Observando-se a taxa de crescimento da ocupação da mão-de-obra agrícola destes produtos o que mais cresceu foi o coco da baia, entretanto esse cultivo não é um dos mais representativos, em termos de ocupação, por não apresentar área plantada extensa. Já o crescimento da ocupação no cultivo da manga é significativo, passando de 66,04 EHA em 1990 para 804,12 EHA em 2000. O cultivo apresenta expansão significativa em sua área plantada no período, passando de 380 hectares em 1990 para 4.627 hectares em 2000, o que favorece positivamente a elevação da ocupação da mão-de-obra.

Comparando-se os coeficientes de variação sazonal da ocupação da mão-de-obra da fruticultura em Juazeiro percebe-se que a ocupação ao longo da década desconcentrou-se. O coeficiente de variação da ocupação em 2000 (71,4%) foi menor do que o da microrregião (84,0%). Esse resultado já era esperado, pois é em Juazeiro que se concentram as maiores áreas cultivadas, a maior diversidade de produção e os projetos de irrigação.

Observando-se a distribuição da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura durante o ano, os meses que mais ocupam são março (15,2% da ocupação total do município), abril (15,2% da ocupação total do município) e maio (19,7% da ocupação total do município). Em todos os meses do ano existe ocupação da mão-de-obra agrícola.

Casa Nova é o segundo maior município em termos de ocupação da mão-de-obra da fruticultura na microrregião. Em 2000 estima-se para a atividade 1.938,22 EHA. A taxa de crescimento da ocupação no período 1990-2000 ficou em torno de 82%.

O crescimento da ocupação foi proporcionado pela expansão das áreas cultivadas com frutas. Em 1990 o município possuía 735 hectares cultivados (melão, melancia, uva e manga) passando para 1.982 hectares em 2000 (manga, melancia, uva, melão, banana, coco da baia, goiaba, maracujá e limão).

Observando-se as frutas separadamente, em termos de ocupação, o principal produto em Casa Nova é a melancia com 896,71 EHA em 2000 e taxa de crescimento no período 1990-2000 em torno de 100%. O cultivo de uvas é o segundo do ranking da ocupação com 569,60 EHA no mesmo ano e taxa de crescimento da ocupação em torno de 132,67%. O melão, apesar de ser o terceiro produto mais importante em termos de ocupação em 2000 apresentou uma queda na ocupação comparando-se os anos 1990-2000. Entre esses anos o período que apresentou elevadas ocupações nesse cultivo foi 1993-1998. A queda na ocupação é conseqüência da redução na área plantada do cultivo. A manga, apesar de ser o quarto cultivo em termos de ocupação, é um produto importante para o município. Os produtores locais vêm expandindo as áreas plantadas com este cultivo

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que passou de 80 hectares em 1990 para 716 hectares em 2000. Este incremento na área plantada no período proporcionou crescimento em torno de 795% na ocupação.

Através da análise dos coeficientes de variação sazonal da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura em Casa Nova percebe-se a tendência de desconcentração da ocupação nos meses do ano. Em 1990 o coeficiente de variação sazonal foi de 105,1%, já em 2000 esse coeficiente passou para 83,6%. A desconcentração da ocupação é o reflexo da expansão das áreas plantadas e da possibilidade de colheita de diversas safras durante o ano o que eleva a demanda por mão-de-obra e proporciona ocupação para o agricultor nas lavouras o ano todo. Os meses do ano que mais ocupam pessoas no cultivo de frutas são março (16,1%), abril (15,9%), maio (21,9%), junho (10,3%) e julho (13,7%).

3.3 Coeficientes técnicos de produção Agrícola

Para conhecer melhor a dinâmica da ocupação da mão-de-obra agrícola da fruticultura é necessário conhecer, analisar e comparar os coeficientes técnicos de produção de cada cultura. Através da análise destes coeficientes, é possível precisar a demanda por mão-de-obra em cada operação de cultivo e identificar as culturas que ocupam mais e as que ocupam menos por hectare.

Comparando-se primeiramente apenas os coeficientes da Pesquisa MOA para a Bahia, utilizando-se a fase produção como referência, observa-se que o cultivo de uva é o que mais se destaca no que diz respeito à absorção de mão-de-obra (maiores coeficientes técnicos de produção). Outros destaques são: tomate de mesa, tomate industrial, alho, cana de açúcar, abacaxi, batata, fumo, laranja e melancia. O feijão, a mamona, o milho e a soja (culturas tradicionais), pelo contrário, possuem baixos coeficientes técnicos de produção. A mandioca, cultura tradicional da Bahia, fica em melhor situação dentre estes últimos, porque ocupa muito por hectare no nível tecnológico de produção baixo. O café, que também é cultura tradicional da Bahia, só costuma ocupar por hectare quando se utiliza o nível tecnológico alto de produção. O cacau, que também é cultura tradicional, em todos os níveis tecnológicos de produção não ultrapassa 100hd/ha.

Como a produção de frutas na Bahia ainda é concentrada em poucas lavouras, não é possível traçar um perfil mais apurado dos coeficientes técnicos da fruticultura em relação aos produtos tradicionais, mas estes dados podem apontar que as frutas (abacaxi, laranja, melancia e uva) estão no rol de culturas com elevados coeficientes técnicos de produção diferentemente do feijão, do milho, da soja e da mamona.

Comparando-se os coeficientes da Pesquisa MOA utilizados nos cálculos da ocupação para a Bahia (coletados entre 1998/1999) com os coeficientes coletados na microrregião de Juazeiro/Ba em 2002, percebe-se que os primeiros são superiores aos segundos (exceto uva).

O diferencial que torna a fruticultura, em especial na microrregião de Juazeiro/Ba, uma atividade com grande potencial para ocupar pessoas é a combinação dos elevados coeficientes técnicos com a baixa sazonalidade da ocupação o que resulta em elevada ocupação durante todos os meses do ano.

Para se obter informações mais detalhadas sobre a evolução da demanda por mão-de-obra agrícola da fruticultura na microrregião na década de 90, optou-se por traçar um comparativo entre os coeficientes técnicos disponibilizados no Manual de Coeficientes Técnicos da Pequena Produção do Nordeste (SUDENE, 1990) e os utilizados pela Pesquisa MOA (1998/1999 e 2002). Dessa forma é possível verificar mudanças na demanda por

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mão-de-obra comparando-se dados referentes ao ano de 1990 com os dados da Pesquisa MOA que se referem aos anos 1998/1999 e 2002.

Para garantir comparabilidade entre os coeficientes foram utilizados alguns critérios conforme especificações a seguir:

a) os coeficientes técnicos utilizados como referência em 1990 (maracujá, melão e melancia) foram retirados da Zona Semi-Árida, regiões Agreste e Vales Irrigáveis. Optou-se por trabalhar, com estes coeficientes, devido à semelhança nas condições de solo, clima e cultivo, em relação à microrregião de Juazeiro/Ba;

b) a disposição das especificações das operações de cultivo da SUDENE em 1990 é diferente da utilizada na Pesquisa MOA, que é a referência desse trabalho. Dessa forma, foi considerada a disposição das especificações das operações de cultivo desta última. Os dados, contidos no trabalho da SUDENE, foram ajustados a essa disposição;

c) os coeficientes técnicos do nível tecnológico médio e alto da Pesquisa MOA (1999 e 2002), dependendo da cultura analisada, foram utilizados como referência;

d) no Manual da SUDENE não constam coeficientes técnicos para os cultivos da manga e da uva. Dessa forma, optou-se por comparar apenas os coeficientes técnicos da Pesquisa MOA, para os anos 1998/1999 e 2002.

3.3.1 Comparativo entre os anos 1990, 1998/1999 E 2002.

Fazem parte deste comparativo a manga, o maracujá, a melancia, o melão e a uva. A goiaba não foi incluída por não fazer parte do rol de produtos da pesquisa MOA em 1998/1999 e também por não estar incluída nos produtos pesquisados no Manual de Coeficientes Técnicos da Pequena Produção do Nordeste.

De modo geral, os coeficientes técnicos de produção das frutas, pesquisados ao longo da década de 1990, apresentam quedas no número de homens-dias por hectare (hd/ha). Em 1990, a demanda por mão-de-obra era mais intensa se comparada com os resultados colhidos em campo em 2002.

A incorporação de novas tecnologias e modelos de produção diferenciados influenciaram no processo de redução da necessidade de mão-de-obra para a realização de atividades contidas nas operações de cultivo. Este fenômeno é percebido mais facilmente no cultivo de lavouras tradicionais que passaram pela modernização da agricultura. A incorporação das tecnologias produtivistas proporcionou variações negativas na relação homens-dia por hectare (hd/ha). Dessa forma evidencia-se que os coeficientes de 1990 contidos no Manual da SUDENE possuem maior relação entre hd/ha se comparados com os coletados pela SEI em 2002.13

No caso do cultivo de uvas, a incorporação de tecnologias, no primeiro momento da modernização da produção, proporcionou incrementos significativos na demanda por mão-de-obra, já que a produção exige tratamento aprimorado e é preciso ter um padrão de qualidade para que o produto tenha alcance ao mercado consumidor.14

Neste estudo, o cultivo da uva foi o único, dentre os pesquisados, que apresentou aumento na relação hd/ha, mas esse aumento não pode ser considerado, pois os coeficientes, nesse caso, possuem diferenças metodológicas essenciais que não permitem uma comparação justa. A principal diferença que impossibilita a comparação é o fato de que os coeficientes de 2002 foram coletados em propriedades que produziam fruta para 13 Para maiores informações sobre a Bahia ver Couto Filho (2003). 14 No caso da uva para exportação o padrão é mais elevado e os tratos com o produto são mais intensos.

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exportação. Dessa forma, os coeficientes de 2002 já incorporam mais hd/ha se comparados com o cultivo da fruta no padrão nacional, que é o caso do coeficiente da uva utilizado pela Pesquisa MOA (SEI), coletado em 1999, e que é utilizado para os cálculos da ocupação da uva para toda a Bahia. Para fazer um comparativo mais seguro seria necessário comparar coeficientes coletados na mesma propriedade em épocas diferentes (anos), observando-se os níveis tecnológicos de produção, o que não foi possível realizar neste trabalho. Para este cultivo não foi possível comparar a necessidade h/d por hectare entre os anos 1990 e 2002, devido à falta de informação para o ano 1990, o que seria mais interessante, pois o intervalo de tempo é maior. Apesar destas considerações os produtores e técnicos locais reconhecem que a quantidade de mão-de-obra vem caindo nos últimos anos.

Para o cultivo da manga os resultados deste estudo refletem os impactos das técnicas produtivistas nas operações de cultivo. Os coeficientes coletados em 1998 apresentam menor relação hd/ha. Na fase de implantação, a escolhida como referência, eram necessários 48,88 h/d por hectare, já em 2002, essa demanda caiu 61,1%, chegando a 19 h/d por hectare. O cultivo de manga é mais suscetível aos impactos da modernização da agricultura, se comparado com o cultivo da uva, principalmente no grupo “outros tratos culturais” que passou de 30 hd/ha em 1998 para 5 hd/ha. Caso fosse possível a comparação entre coeficientes em um período de tempo maior de coleta essa diferença seria ainda maior. Tabela 1 Variação dos coeficientes técnicos de absorção de mão-de-obra por operação de cultivo das culturas da Manga e do Maracujá, em homens dia por hectare Bahia 1990 e 1998. Microrregião de Juazeiro-BA-2002.

Manga Maracujá Operações de cultivo 1998 2002 Taxa de

crescimento (%)

1998-2002

1990 1998 2002 Taxa de crescimento

(%) 1990-2002

Preparo do solo 7,50 1,75 -77 15,25 10,50 2,00 -87 Plantio 11,00 12,00 9 54,00 24,00 14,00 -74 Capinas 0,38 0,25 -34 38,00 24,00 4,00 -89 Outros tratos culturais

30,00 5,00 -83 23,00 22,00 30,00 30

Colheita - - - 50,00 14,00 4,00 -92 Pós-colheita - - -61 - 8,00 - - Total 48,88 19,00 - 180,25 102,50 54,00 -70

Fonte: Sudene (1990), SEI (1998 e 2002). Nota: utilizou-se a fase implantação como referência e o nível tecnológico médio. Em 1990 “preparo do solo” inclui desmatamento e destoca, destoca e roçagem manual, encoivaramento e queima e aplicação de calcário; “plantio” é marcação da área, coveamento para estacas e mudas, aplicação de fertilizantes e preservativos, espaçamento, plantio + replantio e tutoramento; “Capinas” inclui roçagem, aplicação de defensivos e fertilizantes; “outros tratos culturais inclui poda de condução e coroamento.

A demanda de hd/ha no cultivo do maracujá, entre os anos 1990 e 2002, também sofreu os impactos da incorporação das técnicas produtivistas. Os coeficientes técnicos de produção no cultivo do maracujá caíram cerca de 70%, comparando-se o número de h/d por hectare dos anos 1990 e 2002. Esse número passou de 180,25 h/d por hectare em 1990, para 54 h/d por hectare em 2002. De 1990 a 1998 a queda foi menor (43%), mas ao final da década de 1990 os impactos das técnicas produtivistas se intensificam e os resultados dos coeficientes coletados em 2002 já podem revelar a diminuição na necessidade de hd/ha.

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No cultivo da melancia, do mesmo jeito que na manga, no maracujá e no melão (que será analisado a seguir), foi observada redução na demanda de hd/ha. Comparando-se os números de hd/ha dos anos 1900 e 2002 a queda na necessidade de mão-de-obra foi em torno de 69%. Em 1990 eram necessários 151,25 h/d por hectare para o cultivo de melancia, já em 2002 essa demanda passou à 47,1 h/d por hectare. Os grupos de operações de cultivo que mais perderam hd/ha foram capinas, outros tratos culturais e colheita. A redução no número de hd/ha se deu mais intensamente ao final da década de 1990, mais especificamente entre os anos 1999 e 2002.

Tabela 2 Variação dos coeficientes técnicos de absorção de mão-de-obra por operação de cultivo da cultura da Melancia e do Melão Bahia, 1990 e 1999. Microrregião de Juazeiro-BA 2002

Melancia Melão Operações de cultivo 1990 1999 2002 Taxa de

crescimento (%)

1990-2002

1990 1999 2002 Taxa de crescimento

(%) 1990-2002

Preparo do solo 1,25 0,79 1,10 -12 1,25 0,94 1,25 0 Plantio 20,00 10,00 23,00 15 67,00 7,00 7,00 -90 Capinas 20,00 6,13 6,00 -70 30,00 10,75 10,00 -67 Outros tratos culturais

70,00 70,00 12,00 -83 74,00 30,00 16,00 -78

Colheita 40,00 16,00 5,00 -88 25,00 9,00 20,00 -20 Pós-colheita - - - - - - - - Total 151,25 102,92 47,10 -69 197,25 57,69 54,25 -72

Fonte: Sudene (1990), SEI (1999 e 2002) Nota: Em 1990 “Outros tratos culturais” da melancia inclui desbates dos pés, desbates dos frutos, tratos fitosanitários e irrigação. Esses coeficientes são referentes à Zona Semi-Árida,Região Vales Irrigáveis. Em 1990 “Outros tratos culturais” do melão inclui desbates dos pés, capação, desbaste dos ramos, aplicação de herbicida, tratos fitosanitários e irrigação. Esses coeficientes são referentes à Zona Semi-Árida, região Vales Irrigáveis.

O cultivo do melão foi o que apresentou a maior queda de hd/ha dentre as culturas

pesquisadas, comparando-se os anos 1990 e 2002. Entre esses anos o número de h/d por hectare caiu cerca de 72,5%. Em 1990 o total de h/d por hectare no cultivo dessa fruta era de 197, 25, já em 2002 esse número passou para 54,25 h/d por hectare. Diferentemente da melancia, cuja queda no número de hd/ha é mais intensa em 2002, esse cultivo já demonstra sinais dos impactos produtivistas em 1999.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da fruticultura na microrregião de Juazeiro/BA vem ganhando destaque na economia nacional. Essa atividade vem se mostrando bastante lucrativa, principalmente no segmento exportação que, por comercializar produtos com elevado valor agregado, é visto como uma atividade bastante rentável.

Apesar do grande potencial dessa atividade e da grande área existente no país com perfil para implementação de projetos de irrigação, a produção da fruticultura vem crescendo abaixo da média mundial. Neste ponto destaca-se a importância de políticas e programas públicos associados às ações da iniciativa privada para o fomento da atividade no Brasil.

O potencial de ocupação da mão-de-obra agrícola na fruticultura é observado nos resultados calculados para o período entre 1990-2000 na microrregião de Juazeiro/BA. A

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expansão da área plantada ao longo dos anos possibilitou acréscimos significativos na ocupação do trabalhador rural. Vale ressaltar que a ocupação (EHA) calculada neste trabalho apenas considera o trabalhador agrícola, ou seja, aquele que lida diretamente no cultivo do produto (preparo do solo, plantio, capinas, tratos culturais, colheita e pós-colheita). A ocupação em atividades relacionadas com a fruticultura não é captada nesse cálculo. Dessa forma pode-se concluir que a ocupação da fruticultura, somando-se a ocupação das atividades diretas (agricultura) e indiretas (agroindústria, packing-house, exportação, serviços etc.) é muito maior do que a apresentada neste trabalho.

Outra característica observada nos resultados dessa pesquisa é a capacidade que a atividade possui de ocupar o agricultor em todos os meses do ano (baixa sazonalidade da ocupação). A fruticultura, diferentemente das culturas tradicionais que possuem picos de ocupação em alguns meses do ano, possibilita ao agricultor ocupação em todos os meses do ano devido a possibilidade de produção de diversas safras no ano.

A elevada absorção de mão-de-obra da fruticultura é conseqüência da combinação de pelo menos três fatores. O primeiro é a irrigação, que possibilita a produção de culturas não-tradicionais na região semi-árida da Bahia. O segundo fator é a elevada necessidade de mão-de-obra capacitada para a realização de tratos culturais específicos com os produtos que muitas vezes são frágeis e necessitam de tratamento maior quando seguem o padrão exportação. O terceiro fator é a localização da região que, por possuir clima e solos próprios para o desenvolvimento da atividade, possibilita a colheita de diversas safras o ano inteiro.

A fruticultura é uma atividade com um potencial muito grande à se consolidar na microrregião, mas ainda existem alguns entraves ao seu desenvolvimento. O primeiro entrave diz respeito à má distribuição de renda que existe na microrregião. O problema de distribuição de renda não é exclusivo da microrregião de Juazeiro/BA, mas do país. O baixo potencial do mercado interno leva a atividade a perder rentabilidade. Dessa forma muitos produtores direcionam a sua produção para o mercado externo

No que diz respeito à fruticultura para exportação percebe-se influência positiva na ocupação da mão-de-obra, tanto direta como indireta. A atividade frutícola de exportação exige muitos tratos culturais com os produtos e o pós-colheita é muito intenso em mão-de-obra (packin-house), entretanto a produção da microrregião de Juazeiro/BA ainda é muito concentrada. Os produtos que dominam esse mercado são a manga e a uva. É necessária maior diversificação da produção e introdução destes produtos no mercado internacional. Além disso, as barreiras fitossanitárias impostas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA/APHIS) impedem o acesso de produtos no mercado americano. A dificuldade de cumprir com os padrões estabelecidos pelo mercado internacional é decorrente da ainda insuficiente infra-estrutura adequada nos packin-houses, da insuficiente estrutura portuária para exportação dos produtos e da baixa freqüência de embarcações. Complementando este cenário os pequenos produtores ainda não possuem estrutura de packin-house para entrar no mercado internacional, o que proporcionaria uma elevação da renda da região pois os produtos para exportação possuem elevado valor se comparados com os comercializados internamente.

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