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Brasília 2019 ANA PAULA E SILVA DE SOUZA O USO DO MODELO TRANSTEÓRICO NA MODIFICAÇÃO DE HÁBITOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES OBESOS

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Brasília 2019

ANA PAULA E SILVA DE SOUZA

O USO DO MODELO TRANSTEÓRICO NA MODIFICAÇÃO

DE HÁBITOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES

OBESOS

Brasília 2019

O USO DO MODELO TRANSTEÓRICO NA MODIFICAÇÃO

DE HÁBITOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES

OBESOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Nutrição.

Orientador: Juliana Varjão

ANA PAULA E SILVA DE SOUZA

ANA PAULA E SILVA DE SOUZA

O USO DO MODELO TRANSTEÓRICO NA MODIFICAÇÃO DE

HÁBITOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES OBESOS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Nutrição.

Orientador: Juliana Varjão

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cidade, dia de mês de ano (Fonte Arial 12)

Substitua as palavras em vermelho conforme o local e data de aprovação.

AGRADECIMENTOS

Ainda que para a realização e concretização deste Trabalho de Conclusão de

Curso, tenha um intenso e sistemático esforço individual, admito que se cheguei até

aqui, foi porque pude contar um uma rede de apoio onde se concentra influências

afetivas, contribuições intelectuais e relações conquistadas no âmbito acadêmico.

Cícero (106-43 a.C.), filósofo romano, já dizia que “a gratidão não é somente a

maior das virtudes, mas a origem de todas as outras”. Desse modo, eu espero estar

atenta e ser justa para agradecer a todos os que fizeram parte desta minha caminhada

ao longo desses quatro anos.

Portanto, gostaria de evidenciar algumas pessoas.

• Ao meu esposo, William, por ser meu maior fã. Por me incentivar, ajudar,

patrocinar e acreditar em toda e qualquer coisa que eu me proponho a fazer.

• Ao Meu filho, Arthur, pela compreensão, principalmente nesse exaustivo final

de curso. Tudo isso é pra você!!!

• À minha mãe, Lázara, meu exemplo de fé, força e vontade de viver. Mãe,

obrigada por se manter forte nesses últimos anos. Você é uma fortaleza.

• Ao meu pai, Vilmar, família da melhor qualidade, ISO 9001, paitrocinador,

coração do tamanho do mundo, dono das melhores teorias de todas as coisas

do mundo. Pai, obrigada por todos os cafés feitos especialmente pra mim às

06:00 da manhã (às vezes antes). Eles foram fundamentais.

• Ao meu irmão Marcos que logo, logo perderá o posto de Jorel, e será só o

irmão. Você é muito chato, mas eu confio em tudo que você fala. Saber que

você acredita no meu potencial me deixa feliz.

• À minha irmã Caroline, (in memoria). Tenho certeza que ela estaria muito

animada com a minha conquista. E claro, me convocando a elaborar uma dieta

e certamente me mandando estudar pra concurso. Que falta ela faz.

• Aos meus sogros, Leonardo e Nilza, por sempre me tratarem como filha e por

me ajudarem em tudo que eu preciso. Ter o apoio de vocês foi fundamental pra

que eu pudesse chegar até aqui.

Todas essas pessoas já citadas, me disseram que seria possível e agiram como

se não houvesse dificuldade ou prejuízo. Que sorte a minha!

Porém, ainda preciso ser grata à mais pessoas...

• À amiga que a faculdade me deu, minha dupla, Mayara. A que fazia as minhas

noites serem mais animadas, a que com um olhar sabe o que eu estou falando,

a que mais me manda áudios no Whatsapp. Como eu gosto da nossa amizade

e como eu sinto falta do nosso humor ácido de cada dia.

• A todos os professores do Curso de Nutrição da Faculdade Anhanguera de

Brasília. Que privilégio ter convivido esses anos com grandes educadores,

grandes pessoas, humanas e inspiradoras.

• Mas como sempre tem um professor do coração, gostaria de agradecer a

Professora Thaliane, por confiar a mim a monitoria das suas matérias. Teacher,

você acreditou em mim, quando eu mesma duvidava da minha capacidade.

• Ao seleto grupo de monitoras (risos), Stefanie, Beth, Cintia e Mary. Todas vocês

me instigaram a ser melhor na vida academia. Obrigada meninas!!

• A todos os lugares que me acolheram nos estágios: Restaurante Comunitário

de Ceilândia, Clinica de Doenças Renais de Brasília e Creche Cantinho da Paz.

E consequentemente as nutricionistas preceptoras (Conchita, Janaina e

Julienny) que me acolheram e proporcionaram somente boas experiências.

• E por falar em estágio, quero agradecer a Larissa, melhor farmacêutica

Instagrammer do Brasil. Obrigada por tornar o estágio no CACEN mais leve e

divertido. Você é um exemplo de dedicação e merece o mundo!

• E Também a todos meus jovens companheiros de estágio, especialmente a

Duane, Gilson, Isa e minha xará Ana Paula Leão. Obrigada respectivamente,

pelas caronas, pelos risos, pelo pagamento em dia, e pela parceria top. Só

alegria conviver com vocês.

• A todos os meus amigos, que me ajudaram a relaxar nos momentos difíceis,

porque diversão também é necessário.

• E pra fechar com o mais importante, Thanks, God!! Obrigada por tanto. Sem o

seu amor, misericórdia, e sustento nada disso seria capaz.

“Faça o seu melhor, na condição que você tem,

enquanto não tem condições melhores para fazer

melhor ainda!” (Mário Sérgio Cortella)

SOUZA, Ana Paula e Silva. O uso do Modelo Transteórico na modificação de hábitos alimentares em adolescentes obesos. 2019. 33 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Faculdade Anhanguera de Brasília, Brasília, 2019.

RESUMO

A obesidade na adolescência representa um dos mais importantes problemas de saúde pública, acarretando consequentemente complicações metabólicas, configurando risco elevado para o desenvolvimento precoce de doenças crônicas não transmissíveis. Dentre as intervenções para um tratamento efetivo, o Modelo Transteórico surge como ferramenta no auxílio para o melhor entendimento da mudança comportamental. um dos desafios mais importantes para quem trabalha com esta população é primeiramente motivá-los para o tratamento. Para que seja construído um ambiente propício diante a resistência do paciente a postura do profissional deve permanecer empática e colaborativa. com isso a evolução da pré contemplação à manutenção ocorre por meio do estimulo adequado relacionado aos processos de mudança. O estudo teve como objetivo geral possibilitar a compreensão do Modelo Transteórico na modificação de hábitos alimentares aplicado ao tratamento da obesidade em adolescentes. Para o desenvolvimento desta revisão bibliográfica foram realizadas pesquisas através de busca de artigos científicos, dissertações, teses e livros. A proposta da utilização desse modelo se mostra vantajosa por ser capaz de mensurar mudanças que ocorrem antes do que se consideraria o resultado final de uma orientação. Palavras-chave: Modelo Transteórico; Comportamento alimentar; Obesidade; Adolescentes; Motivação.

SOUZA, Ana Paula e Silva. The use of the Transteoric Model to modify eating habits in obese adolescents. 2019. 33 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Faculdade Anhanguera de Brasília, Brasília, 2019.

ABSTRACT

Obesity in adolescence is one of the most important public health problems, consequently causing metabolic complications, posing a high risk for the early development of chronic noncommunicable diseases. Among interventions for effective treatment, the Transtheoretical Model emerges as a tool to help better understand behavioral change. One of the most important challenges for those working with this population is primarily to motivate them for treatment. For a favorable environment to be built in the face of patient resistance, the attitude of the professional must remain empathetic and collaborative. Thus, the evolution from pre-contemplation to maintenance occurs through the appropriate stimulus related to the processes of change. The aim of the study was to enable the understanding of the Transteoric Model in the modification of eating habits applied to the treatment of obesity in adolescents. For the development of this bibliographic review, researches were conducted through the search of scientific articles, dissertations, theses and books. The proposed use of this model proves to be advantageous in being able to measure changes that occur before the final result of an orientation would be considered. Keywords: Transtheoretical Model; Eating behavior; Obesity; Teenagers; Motivation.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Gráfico de percentil do IMC para meninas entre 5 e 19 anos de idade.......15

Figura 2 – Gráfico de percentil do IMC para meninos entre 5 e 19 anos de idade......16

Figura 3 – Espiral dos estágios de mudança de comportamento..............................20

Figura 4 – Questionário com base na percepção alimentar.......................................21

Figura 5 – Questionário com base no consumo alimentar.........................................22

Figura 6 – Estratégias de intervenção considerando os estágios de mudanças de

comportamento alimentar...........................................................................................22

Figura 7 – Dificuldades e expectativas dos adolescentes participantes.....................27

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

OMS Organização Mundial de Saúde

DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

HDL High Density Lipoproteins.

11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12

2. OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: DOENÇA, DIAGNÓSTICO E COMPORTAMENTO ALIMENTAR.......................................................................... 14

2.1 A DOENÇA...........................................................................................................14 2.2. DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL......................................................................... 15 2.3 COMPORTAMENTO ALIMENTAR DO ADOLESCENTE................................... 16 3. MODELO TRANSTEÓRICO DE MUDANÇA: O QUE É, COMO SE APLICA E OS

DESAFIOS DE IMPLEMENTAR ESSE TRATAMENTO EM ADOLESCENTES.......18

3.1 MODELO TRANSTEÓRICO DE MUDANÇA........................................................18

3.2 ESTÁGIOS DE MUDANÇA...................................................................................19

3.3 TRABALHANDO OS ESTÁGIOS DE MUDANÇA NOS ADOLESCENTES..........21

3.4 MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA EM ADOLESCENTES: O DESAFIO DA

ADESÃO................................................................................................. ....................23

4. EFICÁCIA DO MODELO TRANSTEÓRICO NA MODIFICAÇÃO DE HÁBITOS

ENTRE OS ADOLESCENTES E O PAPEL DO PROFISSIONAL NO DECORRER DO

TRATAMENTO.................................................................................................. ........25

4.1 ESTUDOS QUE AVALIARAM O MODELO TRANSTEÓRICO EM

ADOLESCENTES......................................................................................................25

4.2 O PROFISSIONAL NUTRICIONISTA COMO FACILITADOR DO

TRATAMENTO...........................................................................................................28

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 30

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 31

12

INTRODUÇÃO

A obesidade é classificada como uma doença metabólica multifatorial que vai

além de fatores nutricionais em sua origem e manutenção. A predisposição genética,

fatores psicossociais, a alimentação inadequada e o sedentarismo são os principais

fatores que contribuem na prevalência da doença. Atualmente a obesidade apresenta-

se como um dos mais sérios problemas de saúde em todo mundo.

Na adolescência a patologia tem um agravo ainda maior devido a precocidade

dos fatores de risco associados a Doenças Cardiovasculares, a dislipidemia, a

diabetes Mellitus tipo 2, bem como a deposição de gordura abdominal, que reflete em

um aumento da gordura visceral, aumentando assim a probabilidade de se tornar um

adulto portador de Doenças Crônica Não Transmissíveis (DCNT).

Diante ao prognostico, é fundamental que o adolescente obeso procure mudar

seus hábitos. Visto que a mudança no comportamento alimentar deve partir do

paciente, uma abordagem nutricional adequada é fundamental para a aceitação ao

tratamento, pois não havendo a compressão por parte do indivíduo da necessidade

da mudança, a terapia torna-se ineficiente.

Dentre as intervenções para um tratamento efetivo, o Modelo Transteórico

surge como ferramenta no auxílio para o melhor entendimento da mudança

comportamental. Ao descrever sobre o Modelo Transteórico surge um

questionamento, o quão eficaz é essa metodologia para a reversão da obesidade e

mudança do estilo de vida do paciente? De acordo com esse modelo o indivíduo

percorre por cinco estágios diferentes: pré contemplação, contemplação, decisão,

ação e manutenção. Cada fase do Modelo Transteórico permite a pessoa a saber a

quão motivada ela se encontra, propiciando assim maiores chances de sucesso no

tratamento.

O estudo teve como objetivo geral possibilitar a compreensão do Modelo

Transteórico na modificação de hábitos alimentares aplicado ao tratamento da

obesidade em adolescentes, os objetivos específicos foram: Apresentar a obesidade,

diagnóstico e seus fatores na adolescência; descrever o Modelo Transteórico e os

desafios de implementar esse tratamento; discorrer sobre eficiência do modelo

Transteórico na modificação de hábitos entre os adolescentes.

13

Para o desenvolvimento desta revisão bibliográfica foram realizadas pesquisas

através de busca de artigos científicos, dissertações, teses e livros na biblioteca da

Faculdade Anhanguera de Brasília. FAB, e em banco de dados virtuais, como

PubMed, Scielo, e Google Acadêmico. A seleção do material ocorreu com o emprego

das seguintes palavras-chave: Comportamento alimentar, obesidade em

adolescentes, Modelo Transteórico, hábito alimentar. As referências bibliográficas

possuem menos de 15 anos de publicação.

14

2. OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: DOENÇA, DIAGNÓSTICO E

COMPORTAMENTO ALIMENTAR

2.1 A DOENÇA

A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, sendo o resultado da

interação de genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais. (ABESO, 2016).

É uma patologia metabólica crônica e no cenário epidemiológico mundial, ela se

destaca por ser ao mesmo tempo uma doença e um fator de risco para outras Doenças

Crônicas não Transmissíveis (DCNT). (CUPARRI,2019)

A obesidade na adolescência representa um dos mais importantes problemas

de saúde pública, acarretando consequentemente complicações metabólicas,

configurando risco elevado para o desenvolvimento precoce de doenças crônicas não

transmissíveis. As principais complicações atribuídas a obesidade são alterações na

pressão arterial e triglicerídeos séricos, baixos níveis séricos de HDL - High Density

Lipoproteins, colesterol, glicemia de jejum elevada e obesidade abdominal.

(RODRIGUES, 2013)

Os dados mundiais sobre excesso de peso em adolescentes são alarmantes,

visto que o número de jovens obesos quadriplicou nos últimos 30 anos. Estudos da

Organização Mundial da Saúde divulgaram que em 1980 adolescentes obesos com

idade de 12 a 19 anos estimavam em 5%, e nos dias de hoje este número passou

para 21% a nível mundial. (BOFF et al.,2018).

No Brasil, Bloch et al (2016), desenvolveu um estudo para mapear o estado

nutricional e a prevalência de riscos cardiovasculares. Portanto 73.399 estudantes

adolescentes de várias partes do país, com idades de 12 a 17 anos foram avaliados,

e constatou que 17,1% se encontram em situação de sobrepeso e 8,4% em

obesidade. Neste mesmo estudo foi visto que 28,4% dos adolescentes obesos já

desencadearam Hipertensão Arterial Sistêmica -HAS, 20% apresentam

hipercolesterolemia, 7,8%, possuem triglicerídeos aumentados, sendo 46,8% com

baixo HDL.

Tendo em vista que a obesidade é preditiva para episódios cardiovasculares

precoces na sobrevida, e que adolescentes nesta condição possuem 5 vezes mais

15

chances de se tornarem adultos obesos, entendesse que tal circunstância pode

diminuir a estimativa de vida da população. (BOFF et al.,2018)

2.2 DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL

Muitos são os métodos usados como diagnostico para a obesidade, como

bioimpedância, tomografia computadorizada, densitometria e ressonância magnética,

porém na prática são pouco usados por serem métodos de alto custo. (OLIVEIRA et

al., 2017)

O IMC, também chamado índice de Quételet, é método amplamente utilizado

devido a sua fácil aplicação, pois é um cálculo que pode ser feito por meio das

medidas do peso e estatura corporal. (GOULART, 2010). Porém, em crianças e

adolescentes a classificação de sobrepeso e obesidade, segundo o IMC é mais

arbitrária, não sendo comparada com a morbilidade e mortalidade da mesma forma

como se define em adultos. (ABESO, 2016).

Em razão da variação da corpulência durante o crescimento a interpretação

difere de acordo com o sexo e faixa etária (ABESO,2016). No Brasil são usadas

tabelas com os pontos de corte específicos de IMC estabelecidos pela Organização

Mundial de Saúde – OMS que se adequam para diferentes faixas-etárias, objetivando

atender as particularidades fisiológicas de cada uma delas. (como pode ser observado

nas figuras 1 e 2).

Figura 1. Gráfico de percentil do IMC para meninas entre 5 e 19 anos de idade.

Fonte: World Health Organization (2006, p 312)

16

Figura 2. Gráfico de percentil do IMC para meninos entre 5 e 19 anos de idade

Fonte: World Health Organization (2006, p 312)

Adolescentes com IMC igual ou acima do percentil 85 são classificados com

sobrepeso, e considerado obeso quando IMC é igual ou acima do percentil 95.

(OLIVEIRA et al., 2017).

A avaliação do estado nutricional se faz importante para estabelecer situações

de risco no diagnóstico nutricional, na organização de ações em promoção de saúde

e prevenção de doenças. Sua acuidade acompanha tanto a saúde da criança e do

adolescente quanto a identificação precoce de alterações nutricionais, como a

obesidade (SBP, 2009)

2.3 COMPORTAMENTO ALIMENTAR DO ADOLESCENTE

São vários os motivos que influenciam o hábito alimentar do adolescente,

sendo os mais relevantes os familiares e interação social como a escola e os amigos.

Nesse estágio da vida a imagem do corpo e a influência da mídia também contribuem

para as escolhas alimentares. As alterações emocionais são relevantes no

comportamento alimentar do adolescente, sendo como características marcantes

rebeldia, pessimismo e baixa autoestima. (TIMERMAN et al., 2019).

Nesta fase o adolescente pode ser tornar bastante vulnerável com a maneira

que ele lida com o seu corpo, tornando isso um fator decisivo para o desenvolvimento

17

de transtornos alimentares ou atitudes de risco para transtornos alimentares, como

uma excessiva restrição alimentar, atitudes de compulsão e uso de métodos

compensatórios, inclusive levar à obesidade, visto que essas circunstâncias se

correlacionam. (TIMERMAN et al., 2019)

Devido a curiosidade e interesse por novas ideias, a adolescência é uma fase

favorável para introdução de novos alimentos, adoção de novas práticas alimentares

e estilo de vida. Da mesma forma este período da vida também é nutricionalmente

frágil, principalmente pelo aumento das necessidades do desenvolvimento corporal.

(RODRIGUES, 2013)

Eles começam a ter maior autonomia para designar, o que, quando e como vão

se alimentar. Essa autonomia muitas das vezes é usada para “saltar” o momento de

se alimentar, trocar refeições essenciais por lanches como pizzas, salgados, e

aumentar a ingestão de doces, frituras e refrigerantes, da mesma maneira que ocorre

a ingestão insuficiente de frutas e verduras. Por consequência disso apresentam uma

inadequação de vitaminas e minerais, bem como fibras e água. (LEAL, 2010).

Outro fator determinante na inadequação alimentar do adolescente é a falta de

tempo por parte da família em preparar a alimentação, optando por alimentos

industrializados para as refeições. Sendo esses ricos em sódio e gorduras saturadas

aumentando as chances do ganho de peso. Além disso a rapidez e a praticidade

aliados ao sabor atraente tornam esse público importantes consumidores de alimentos

do tipo fast food (OLIVEIRA, et al.,2017).

A fim de tornar o adolescente ciente em torno da escolha de bons alimentos é

recomendado a eles, com o acompanhamento e suporte dos responsáveis, que se

motivem a participar do preparo dos alimentos, bem como aprender noções básicas

de culinária, com o objetivo de não terem que recorrer aos alimentos industrializados

na falta do auxílio familiar. (TIMERMAN et al., 2019)

18

3. MODELO TRANSTEÓRICO DE MUDANÇA: O QUE É, COMO SE APLICA E OS

DESAFIOS DE IMPLEMENTAR ESSE TRATAMENTO EM ADOLESCENTES.

3.1 MODELO TRANSTEÓRICO DE MUDANÇA

James Prochaska, depois de analisar várias teorias e modelos com enfoques

psicoterápicos, tendo como base o processo de mudança, chegou à conclusão de que

todas as teorias estudadas não explicavam especificamente o processo de motivação

para a mudança dos pacientes. Associada a descoberta de DiClemente de que os

princípios de mudança não poderiam ser compreendidos sem que se identificasse em

que condição estaria o indivíduo no processo de mudança de comportamento. Diante

disso foi desenvolvido por esses dois psicólogos e pesquisadores o Modelo

Transteórico que tinha como hipótese a ideia de que modificações efetivas, que

consistem no emprego de estratégias que perpassam por processos e estágios.

(SZUPSZYNSKI e OLIVEIRA, 2008).

O mesmo foi elaborado a partir de experiências com tabagistas. Surgiu após os

pesquisadores analisarem os diferentes desfechos que tinham em relação à

interrupção do vício, foi visto que alguns pacientes obtinham êxito com o tratamento

sem a psicoterapia e outros paravam e retornavam ao uso diversas vezes

necessitando desse tratamento. Então, a hipótese criada pelo modelo era a de que

existiam princípios básicos que explicariam a estrutura da mudança de

comportamento que ocorria ou não na presença da psicoterapia. (TORAL e SLATER,

2007)

Posteriormente passou a ser aplicado a outros comportamentos como

alcoolismo, uso de drogas, distúrbios de ansiedade, prática de atividade física, entre

outros. No âmbito do comportamento alimentar seu uso é uma ferramenta para

estratégias de controle de peso, da Síndrome Metabólica, bem como consumo de

gorduras, frutas e verduras. (TORAL e SLATER, 2007)

Esse Modelo se mostra incomum aos outros modelos teóricos, pois seu foco

está voltado a exclusivamente para a compreensão do processo de mudança de

comportamento, enfatizando a iniciativa do paciente, sendo assim o oposto de outras

abordagens, que se resumem nas influencias sociais ou biológicas do comportamento

(SZUPSZYNSKI e OLIVEIRA, 2008).

19

De acordo com esse modelo, as alterações no comportamento relacionado à

saúde ocorrem por meio de cinco estágios distintos: pré-contemplação, contemplação,

preparação, ação e manutenção. Cada fase identifica em qual estágio o paciente se

encontra, qual o nível de motivação e quando a mudança ocorre, representando assim

as etapas de mudança de comportamento (SZUPSZYNSKI e OLIVEIRA, 2008).

3.2 ESTÁGIOS DE MUDANÇA

No primeiro estágio, denominado de Pré-Contemplação, os pacientes não

estão prontos para mudar, podendo até estar inconscientes quanto a realidade do

problema e da precisão da mudança. “Meu médico disse para eu tomar alguma

providência porque estou bem acima do meu peso. Ele não entende que meus pais

eram obesos e viveram mais de 80 anos?” (OLIVEIRA, et al., 2017, p 37). Com isso,

os pacientes nesse estágio raramente buscam começar o tratamento de mudança.

Quando o fazem apresentam comportamento de resistência quando a mudança,

apresentando anseios de desencorajamento, considerando possíveis falhas, sem

perspectivas futuras. (RODRIGUES, 2009).

No estágio consecutivo, o de Contemplação, os pacientes são cientes da

existência do problema e enfrentam a probabilidade de mudança. “Sei que preciso

mudar a minha alimentação, mas qual vai ser a graça de não poder comer tudo o que

eu gosto?” (OLIVEIRA, et al., 2017, p 37). Com se percebe, uma característica do

indivíduo nesse estágio é a ambivalência. Manifestam a ânsia de mudar em alguns

momentos e desanimam em outros. É comum nesse estágio os pacientes

permanecerem nele por longos períodos de tempo, pois fazem a substituição da ação

pelo pensamento sabotador, sendo assim considerados contempladores crônicos.

(RODRIGUES, 2009).

O próximo estágio é denominado de Preparação. Ele é marcado pela aptidão

de perceber a realidade, avaliar os caminhos a serem tomados e construir um plano

futuro. O engajamento com a mudança é manifestado, muitas vezes até se tornando

público, comprometendo-se de forma mais fidedigna com o processo de mudança.

(RODRIGUES,2009). “Meu médico disse que preciso tomar alguma providência. Já

marque consulta com a nutricionista e estou vendo como incluir alguma atividade física

na minha vida.” (OLIVEIRA, et al.,2017, p 37)

20

No estágio de Ação os pacientes começam objetivamente a mudança de seus

comportamentos. É uma fase de constância por seis meses e carece de muita

dedicação, disponibilidade e disposição individual. Desse modo, o paciente seleciona

uma estratégia de mudança, e passa a segui-la para a realização da mudança efetiva

dos seus hábitos comportamentais. Todo processo de preparação está inserido nesse

estágio, e é importante que se mantenha a consciência das mudanças realizadas, pois

elas são maiores e significativas, apresentando mais evidências se comparado aos

estágios antecedentes a este. (RODRIGUES,2009)

O último, é o estágio de Manutenção. Nessa fase a maior dificuldade traduz-se

pelo que o próprio nome indica, manter-se diante as mudanças e estabilizar o

comportamento. Quem se encontra nesse estágio aprende a se proteger das

situações de risco que de alguma forma podem acarretar na ruptura do estágio de

manutenção. Requer uma dedicação continua do paciente, de modo consolidar os

ganhos obtidos nos outros estágios, para prevenir possíveis episódios de lapsos e

recaídas. (RODRIGUES,2009)

A motivação é compreendida como algo não estático, em que o paciente pode

circular entre os estágios de mudança de forma não linear, mas como um espiral, tanto

com avanços, quanto com retrocessos. (OLIVEIRA, et al 2017). A figura 3 expressa

os estágios de mudança a serem percorridos segundo o Modelo Transteórico.

Figura 3 –Espiral dos estágios de mudança de comportamento.

Fonte: Prochaska, Norcrosse e DiClemente (1994, p.49)

Portanto, é viável contemplar um sexto estágio que seria o de Recaída, fase

essa em que os pacientes voltem a transitar pelos demais estágios. É uma situação

21

frequente dentro de um contexto de mudança comportamental a longo prazo e pode

ser encarada como uma oportunidade de rever a eficácia das estratégias tomadas.

(RODRIGUES,2009)

3.3 TRABALHANDO OS ESTÁGIOS DE MUDANÇA NOS ADOLESCENTES

Para que se tenha eficácia no tratamento é importante que o profissional utilize

estratégias nutricionais adequadas de intervenção para que possam identificar os

estágios, barreiras e facilitadores para a mudança (OLIVEIRA, 2017).

A classificação dos indivíduos nos estágios de mudança e comportamento pode

ser realizada por meio de um questionário que compreende perguntas exclusivas para

tal finalidade. A depender se a avaliação corresponde a um caso especifico como

avaliação de grupo alimentar ou consumo de nutrientes faz se necessário criar mais

de um questionário (são exemplos as figuras 4 e 5) (CASTRO, 2014).

Figura 4 – Questionário com base na percepção alimentar

Fonte: Castro e Berni (2014, p 56)

22

Figura 5 – Questionário com base no consumo alimentar

Fonte: Castro e Berni (2014, p 56)

É permitido produzir várias estratégias de aconselhamento nutricional

adaptadas a cada estágio de mudança (como apresentado na figura 6). Desse modo,

as intervenções especificas a cada estágio de mudança proporcionam maior eficácia

na manutenção do comportamento modificado (CASTRO e BERNI, 2014).

Figura 6 - Estratégias de intervenção considerando os estágios de mudanças de

comportamento alimentar.

Fonte: Castro e Berni (2014, p 57)

23

3.4 MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA EM ADOLESCENTES: O DESAFIO DA

ADESÃO.

São vários os fatores que podem estar relacionados a adesão ou não adesão

da mudança de comportamentos de adolescentes. Diferentes situações podem ser

compreendidas como barreiras que podem interferir na mudança. Tais como fatores

ocorrem em nível individual, ambiental e também social (OLIVEIRA, 2017).

Além disso, a dificuldade da aplicação do Modelo Transteórico no

comportamento alimentar é que ela não envolve o consumo de apenas um item, como

o cigarro, para qual ela foi desenvolvida. Deve considerar que o tratamento do

tabagismo preconiza o abandono do vício, isto é, a eliminação de determinada prática

o que não acontece na alimentação que consiste no consumo de no mínimo de

centenas de alimentos (TORAL e SLATER,2007).

Para Diclemente (2015), é essencial ter clareza de que a mudança não é um

produto único mais um processo que envolve uma série de ações no qual a evolução

entre os estágios requer consciência e uma sólida tomada de decisão.

Um dos desafios mais importantes para quem trabalha com esta população é

primeiramente motivá-los para o tratamento, ou seja, para aderirem e comparecerem

aos encontros/consultas. Normalmente muitos jovens começam o tratamento por

pressão exercida pelos responsáveis, exibindo uma postura resistente e hostil, o que

é caraterístico da pré contemplação. Para que seja construído um ambiente propício

diante a resistência do paciente a postura do profissional deve permanecer empática

e colaborativa. Com isso a evolução da pré contemplação à manutenção ocorre por

meio do estimulo adequado relacionado aos processos de mudança (OLIVEIRA et al,

2017).

De modo que o indivíduo modifica seu comportamento, são identificados

processos considerados motores que impulsionam a evolução do paciente entre os

estágios de mudanças. São eles: aumento da consciência, alívio emocional, auto

reavaliação, reavaliação circundante, deliberação social, controle de estímulos, contra

condicionamento, gerenciamento de reforço, auto eficácia, relações de ajuda (TORAL

e SLATER, 2007).

É visto que na mudança de comportamento do adolescente alguns processos

são mais estimuladores que outros. Um exemplo é o processo de estimulação da

24

consciência, que deve ser trabalhada em todo processo de intervenção. O alivio

emocional também é um processo importante para essa população. Nesse processo

as questões referentes a bullying, contextos afetivos, pressão familiar, são algumas

das experiências emocionais negativas que podem impactar na motivação, porém dar-

se conta das experiencias emocionais negativas relacionadas a obesidade não é o

suficiente para impulsionar a mudança (OLIVEIRA et al, 2017).

A autorreavaliação na literatura se relaciona com a identificação de valores. Um

adolescente pode acreditar que é mais útil perder peso para conseguir entrar em uma

roupa do que para melhorar seus índices de colesterol. Por isso é importante entender

e respeitar os fatores motivacionais apresentados pois são esses que irão concretizar

a tomada de decisão e manutenção de novos hábitos (OLIVEIRA et al, 2017).

Na população de adolescentes alguns processos demandam maior

perseverança, pois a avaliação para tomada de decisão nesta faixa etária ainda não

é madura. Portando o processo de controle de estímulos e contracondicionamento

são complexos. Eles conseguem identificar os gatilhos para recaídas, mas é no

controle desses gatilhos que possuem mais dificuldades. São vulneráveis a influência

social quando se trata de escolhas alimentares, ou seja, quando precisam optar por

alimentos mais saudáveis em detrimento a outros. Auxiliar o adolescente a

compreender que a mudança é um processo que deve permanecer à vida toda é

necessário para mantê-lo determinado, pois recaídas podem acontecer e ele nem

sempre será capaz de contracondicionar o ambiente e controlar estímulos (OLIVEIRA

et al, 2017).

Porém, observa-se que a maioria dos estudos que utilizam o Modelo

Transteórico no comportamento alimentar não incluem as dimensões citadas acima,

restringindo-se apenas à classificação dos estágios de mudança. Isso se deve à

dificuldade de integração de todos os componentes entre os estágios (CASTRO e

BERNI,2014).

25

4. EFICÁCIA DO MODELO TRANSTEÓRICO NA MODIFICAÇÃO DE HÁBITOS

ENTRE OS ADOLESCENTES E O PAPEL DO PROFISSIONAL NO DECORRER

DO TRATAMENTO

4.1 ESTUDOS QUE AVALIARAM O MODELO TRANSTEÓRICO EM

ADOLESCENTES

Várias intervenções nutricionais com ênfase na mudança de comportamento

alimentar na infância e adolescência já foram realizadas e constam que os

adolescentes retratam um maior consumo de alimentos considerados não saudáveis

do que os adultos. (RODRIGUES, 2013). Nesse cenário, modelos teóricos para uma

melhor escolha alimentar se torna oportuno pois trabalham com as características

individuais como conhecimento e percepção da alimentação são de primordiais para

a escolha dos alimentos (TORAL et al,2009).

Boff et al (2018), acompanharam um grupo de 13 adolescentes obesos com

idades de 15 a 18 anos, sendo cinco do sexo masculino e oito do sexo feminino.

Utilizou-se uma escala analógica de 0 a 10 na qual os participantes responderam o

quão prontos eles estavam para mudar seu comportamento alimentar e

disponibilidade para prática de exercícios físicos. Ao término do experimento foi

verificado o aumento na motivação para praticar exercícios físicos, diariamente por 30

minutos, melhora com relação ao comer compulsivo, aumento na motivação para

redução da ingestão de frituras e gorduras transgênicas, assim como maior controle

frente a situações sociais. Os resultados com este grupo de adolescentes se

mostraram positivos sobre a mudança de estilo de vida e condições de saúde.

Em outro estudo Boff (2018), mensurou 135 adolescentes com idade entre 15

a 18 anos, apresentando o IMC ≥85º percentil. A intervenção durou três meses com

intervenções uma vez por semana. Foram utilizadas duas avaliações com os

participantes selecionados para o estudo, sendo uma antes da intervenção e outra

uma semana após o termino da intervenção. Dos 135 participantes 65 concluíram. Foi

observada uma mudança modesta em relação ao peso dos participantes (-1.54%),

porém a redução do IMC foi maior que a esperada (-2.24%), visto também um avanço

em relação circunferência abdominal e quadril (-4,88%). Os efeitos mais significativos

dizem respeito à motivação para mudança. A prontidão para mudança de hábitos

26

alimentares teve um aumento nas avaliações, o que representa ao longo da trajetória

que o paciente está menos propenso a recaídas.

Toral et al (2006), avaliaram o comportamento alimentar pelo Modelo

Transteórico e sua relação com o estado nutricional e consumo habitual de frutas e

verduras. Foram aferidos peso e altura dos 234 alunos voluntários que se

encontravam na faixa etária entre 10 e 19 anos. Foi encontrado excesso de peso em

12,4% da amostra, sendo 9,8% e 2,6% dos adolescentes apresentavam sobrepeso e

obesidade, respectivamente. No que diz respeito a motivação para acrescentar o

consumo de frutas na sua alimentação, 35% se encontrava na fase de pré

contemplação, 13,2% em contemplação, 17,9% em fase de preparação, 5,6% no

estágio de ação e 38,9% em estágio de manutenção. Todavia verificou-se divergência

entre o consumo referido e a percepção alimentar, tendo em vista que 79,7% e 83,7%

dos adolescentes acreditavam, equivocadamente, que seu consumo de frutas e

verduras, respectivamente, era favorável.

Fidelix et al (2015), analisaram uma intervenção em adolescentes obesos para

identificar fatores associados a desistências no processo. Foram selecionados 183

adolescentes para participar de 12 semanas de intervenção. Os aspectos estudados

foram peso, altura, índice de massa corporal, composição corporal, aptidão

cardiorrespiratória, perfil lipídico e sintomas autorrelatados de transtornos alimentares,

ansiedade, depressão, insatisfação com a imagem corporal e qualidade de vida.

73,7% dos adolescentes seguiram o tratamento, sendo observada maior deserção em

adolescentes maiores de 15 anos, pacientes com mais sintomas de anorexia e de

níveis altos de colesterol total.

Bolognese et al (2018), durante um programa multiprofissional de tratamento

da obesidade avaliaram 83 adolescentes com faixa etária entre 15 e 18 anos durante

16 semanas com intervenções teórico práticas. Estes foram separados em dois

grupos, sendo que o grupo 1 se refere aos ingressantes sem prontidão para a

mudança e o grupo 2 aos adolescentes com prontidão para mudança de

comportamento. Ao final, os resultados foram melhorias significativas para a

composição corporal para ambos os grupos, sendo evidenciado que os dois grupos

de intervenção foram efetivos às intervenções realizadas.

Segalla et al (2016), relataram a experiencia de atendimento na prática clínica

com uma adolescente de 14 anos, abordando sobre o término do tratamento e a

27

prevenção da recaída no processo de alta da terapia. Foi observado que o emprego

de atividades, intervenções e manejo que tem como intuito a manutenção das

competências desenvolvidas durante a terapia se apresentaram efetivas no processo

de alta e na prevenção à recaída.

Por fim, Oliveira (2016), conduziram um projeto com 24 meninos e 34 meninas

com idade entre 10 e 19 anos. Foram compostos oito grupos focais com 6 a 8

participantes cada. Com o intuito de observar melhor os resultados eles foram

agrupados em um quadro, como mostra a figura 7:

Figura 7 – Dificuldades e expectativas dos adolescentes participantes.

Fonte: Oliveira et al. (2016, p 57).

Nesse estudo a maioria dos entrevistados se mostrou em fase de

contemplação, porém as maiores expectativas com o tratamento vêm em grande parte

para melhorar a aparência física, e não com a preocupação de preservar a saúde e

28

obter resultados que se perpetuam. Foi visto que alguns adolescentes esperam por

uma solução mais fácil e rápida.

A perda de peso demanda além de uma mudança comportamental, a

manutenção do estilo de vida. Intervenções concretizadas apontam resultados bem-

sucedidos sobre o IMC, diminuição da circunferência abdominal, e também redução

da gordura corporal. Diz -se que a frequência da obesidade é relacionada com

indivíduos sedentários e que possuem pouco cuidado com a alimentação. Logo,

intervenções que direcione ao desenvolvimento da motivação para a mudança e auto

eficácia, colabore na modificação e manutenção do estilo de vida do adolescente,

compreendendo bons hábitos alimentares e prática de atividade física. (RIBEIRO,

2016)

4.2 O PROFISSIONAL NUTRICIONISTA COMO FACILITADOR DO TRATAMENTO.

Os principais fatores na mudança de comportamento nutricional são a

consciência da pessoa de que uma mudança é necessária e a motivação para mudar.

No contexto de um a um, o nutricionista monta um sistema de suporte transitório para

preparar o paciente para lidar com as demandas sociais e pessoais de maneira mais

eficaz (MAHAN, 2013).

O Trabalho com adolescentes precisa ser flexível e adaptável à etapa do

desenvolvimento, e cabe aos profissionais identificar-se com os temas decorrentes

dessa faixa etária. Tão importante quanto dominar uma técnica de intervenção é

desenvolver vínculo para um trabalho consistente. É importante encontrar um ponto

de equilíbrio entre a rigidez metodológica para não prejudicar o processo nem se

distanciar do objeto de estudo (BOFF, 2018).

O vínculo com o profissional de saúde e a satisfação com o tratamento têm

papel fundamental a adesão “Aqui a nutricionista falou para eu ir diminuindo aos

pouquinhos, então eu tô conseguindo, estou acostumando. Antes me mandavam tirar

tudo de uma vez, agora está mais fácil” (OLIVEIRA, 2016. p 60).

De acordo com Oliveira (2016), o impulso do paciente para perder peso requer

a ação de uma figura influente ou modelo. Esta figura pode ser o profissional que

conduz o tratamento, os pais, bem como alguém fora do âmbito familiar.

29

Logo, no decorrer do tratamento, o profissional nutricionista deve usar uma

linguagem compreensível e fácil, adequada à realidade e que tenha como ênfase o

indivíduo, sendo empático, analisando suas necessidades em relação ao problema,

com escuta atenta, de maneira a descomplicar o processo de mudança

(OLIVEIRA,2016).

30

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a quantidade de indivíduos que apresentam sobrepeso e

obesidade está em franca expansão, fato este observado principalmente nos

adolescentes. Embora as causas da obesidade sejam de cunho multifatorial, é

importante reconhecer que as mudanças ambientais se estabelecem nos principais

fatores que impulsionam para o crescimento da obesidade, na medida em que

estimulam o consumo excessivo de energia associado a um gasto energético

reduzido.

É importante que as intervenções nos hábitos de vida sejam utilizadas o mais

precocemente possível, uma vez que na adolescência ocorrem mudanças importantes

na personalidade do indivíduo, sendo vista como uma fase favorável para a

consolidação de hábitos que poderão trazer implicações diretas para a saúde na vida

adulta.

O Modelo Transteórico de Mudança é um instrumento com grandes índices de

efetividade para modificação de diferentes comportamentos em saúde, e com isso

mostrou-se pertinente diante ao questionamento inicial do quão eficaz é essa

metodologia para a reversão da obesidade e mudança do estilo de vida do paciente.

A proposta da utilização desse modelo se mostra vantajosa por ser capaz de mensurar

mudanças que ocorrem antes do que se consideraria o resultado final de uma

orientação.

Desse modo, essa ferramenta é capaz de valorizar tanto os esforços do

paciente como do profissional da saúde. Esse, por sua vez carece na sua abordagem

a habilidade de promover um ambiente motivacional, mantendo-se em uma postura

colaborativa e aplicando estratégias relacionadas ao estágio que o indivíduo se

encontra.

Contudo, para o auxílio de adolescentes obesos o modelo ainda apresenta

poucas experiencias empíricas. Logo, ressalta-se a necessidade de mais estudos

sobre o Modelo Transteórico a fim de possibilitar a comprovação de sua efetividade,

bem como sua comparabilidade com maior padronização dos métodos com outros

estudos.

31

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