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FACULDADE DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DOUTORADO EM PSICOLOGIA Tese de Doutorado MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA “UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)” CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA Orientadora: Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira Porto Alegre, janeiro 2009

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FACULDADE DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

DOUTORADO EM PSICOLOGIA

Tese de Doutorado

MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA

“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”

CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA

Orientadora: Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira

Porto Alegre, janeiro 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

DOUTORADO EM PSICOLOGIA

MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA

“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”

Tese de Doutorado

CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA

Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira

Orientadora

Porto Alegre, janeiro de 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

DOUTORADO EM PSICOLOGIA

MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA

“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”

CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em Psicologia.

Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira

Orientadora

Porto Alegre, janeiro de 2009.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S729m Souza, Cristiane Cauduro de

Motivação para mudança de comportamento no jogo patológico. / Cristiane Cauduro de Souza. – Porto Alegre, 2009.

116f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Faculdade de

Psicologia, PUCRS. Orientação: Profa. Dra. Margareth da Silva Oliveira.

1. Psicologia. 2. Modelo Transteórico. 3. Jogo

Patológico. 4. Motivação (Psicologia). 5. URICA.

6. Comportamento (Psicologia). I. Oliveira, Margareth

da Silva. II. Título.

CDD 157.63

Ficha elaborada pela bibliotecária Cíntia Borges Greff CRB 10/1437

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE E PSICOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

DOUTORADO EM PSICOLOGIA

Cristiane Cauduro de Souza

MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA

“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”

COMISSÃO EXAMINADORA

Profª.Dr. Margareth da Silva Oliveira Presidente

Profa. Dr. Gisele Gus Manfro

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Prof. Dr.Ygor Ferrão

Instituto Metodista de Porto Alegre

Prof. Dra. Blanca Susana Guevara Werlang

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Porto Alegre, janeiro de 2009.

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A Ana Laura que participou deste

Projeto desde o início e vem me ensinando todos os dias...

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7

AGRADECIMENTOS

Durante esta caminhada, pude contar com muitas pessoas direta ou

indiretamente a quem gostaria muito de agradecer:

Ao grupo do Ambulatório de Jogo Patológico do Instituto de Psiquiatria da USP

(AMJO), representado pelas psicólogas Daniela Rossini e Cecília Galetti e coordenado

pelo Prof. Dr. Hermano Tavares, meu agradecimento especial pela parceria e

colaboração incansáveis na coleta dos dados;

Ao Grupo de Jogadores Anônimos da Cruz Vermelha de Porto Alegre que me

recebeu com disponibilidade e que tornou possível a realização desta coleta;

À bolsista de iniciação científica Jaqueline Garcia, pela dedicação dispensada e

pela total disponibilidade para me acompanhar e auxiliar em todos os momentos da

execução deste trabalho;

À amiga e colega Suzana Freire pelas considerações realizadas ao longo desta

trajetória e pela forma alegre, carinhosa e comprometida com que se coloca diante das

tarefas;

Aos colegas do Grupo de Pesquisa “Avaliação e Atendimento em Psicoterapia

Cognitiva”;

Ao Prof. Dr. Gabriel Gauer e a Profa. Dra. Lilian Stein pela colaboração técnica;

À Profa. Dra. Margareth da Silva Oliveira, meu agradecimento pela

oportunidade e confiança mais uma vez depositada no meu trabalho;

À Profª. Drª. Gisele Gus Manfro pela disponibilidade e por ter aceitado o convite

para participar desta banca;

Ao Prof. Dr. Ygor Ferrão pelas contribuições significativas realizadas na

qualificação deste projeto e por aceitar participar de mais esta etapa;

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À Profª. Drª. Blanca Susana Werlang, minha admiração pelo exemplo de

pesquisadora e pelo comprometimento com que realiza sua prática;

À CAPES pela oportunidade de contar com a bolsa de estudos para a realização

do Doutorado;

À minha mãe, Elisabete, pelo exemplo de trabalho e amor com que realiza as

coisas e por sempre acreditar em mim, e ao meu pai, Wenceslau pelo exemplo e

sabedoria;

Ao meu marido Antônio, pelo amor, admiração e apoio, tolerando ausências

freqüentes e, principalmente, por me dar a oportunidade de aprender com nosso maior

projeto: Ana Laura.

À Isabel, parceira incansável e grande “substituta”, sem ela não seria capaz de

assumir e cuidar da minha vida profissional com tranqüilidade.

A todos meu carinho e muito obrigada!

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS........................................................................................... 12

LISTA DE QUADROS.......................................................................................... 13

LISTA DE FIGURAS............................................................................................ 14

LISTA DE SIGLAS............................................................................................... 15

RESUMO................................................................................................................ 16

ABSTRACT............................................................................................................ 18

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 20

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 24

SEÇÃO I: ESTUDO DE REVISÃO DE LITERATURA “Motivação para

mudança de comportamento no Jogo patológico”.............................................. 26

Resumo.............................................................................................................. 27

Introdução......................................................................................................... 28

Jogo Patológico: impulso, compulsão ou dependência? .................................. 32

Comorbidades................................................................................................... 35

Jogo Patológico e Motivação para Mudança.................................................... 37

Discussão dos resultados................................................................................... 42

Considerações Finais......................................................................................... 44

Referências........................................................................................................ 45

SEÇÃO II: ESTUDO EMPÍRICO “Tradução, equivalência Semântica e

adaptação Cultural da University Rohde Island Change Assessment - URICA

para jogadores patológicos”.................................................................................. 51

Resumo.............................................................................................................. 52

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Introdução......................................................................................................... 54

Método.............................................................................................................. 58

Instrumentos...................................................................................................... 58

Procedimentos................................................................................................... 59

Resultados......................................................................................................... 60

Discussão dos Resultados................................................................................. 63

Referências........................................................................................................ 65

SEÇÃO III: ESTUDO EMPÍRICO “Evidências de Validação da University

Rohde Island Change Assessment - URICA para jogadores patológicos”.........

68

Resumo.............................................................................................................. 69

Introdução......................................................................................................... 71

Método.............................................................................................................. 74

Instrumentos...................................................................................................... 75

Procedimentos................................................................................................... 77

Resultados......................................................................................................... 78

Discussão dos resultados................................................................................... 90

Considerações finais......................................................................................... 95

Referências........................................................................................................ 96

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 100

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 102

ANEXOS................................................................................................................. 103

ANEXO A- Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS................ 104

ANEXO B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................ 105

ANEXO C - ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................ 106

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ANEXO D - ESCALA SOGS................................................................................... 108

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição da amostra, segundo dados sócio-demográficos

(n=69)....................................................................................................................... 83

Tabela 2 - Intensidade dos sintomas de ansiedade (BAI) e depressão (BDI) na

amostra (n=44)......................................................................................................... 86

Tabela 3 - Coeficiente Alfa de Cronbach das subescalas da URICA e da

URICA. ................................................................................................................... 87

Tabela 4 - Resultados das respostas aos itens da escala URICA. .......................... 87

Tabela 5 - Distribuição percentílica do escore de prontidão para mudança............ 88

Tabela 6 - Correlação entre a régua de prontidão e a URICA. .............................. 90

Tabela 7 - Comparação entre o TA e o Grupo JA quanto à motivação para

mudança. ................................................................................................................. 90

Tabela 8 - Distribuição da amostra em relação ao Regime de tratamento e o

tempo de abstinência.............................................................................................. 91

Tabela 9 - Distribuição das Médias e Desvios - padrão dos Estágios

motivacionais, prontidão em relação ao período de abstinência. .......................... 92

Tabela 10 - Correlações da intensidade dos sintomas de ansiedade, depressão

com os estágios motivacionais. ............................................................................... 93

Tabela 11 - Comparação das médias e desvios-padrão entre o gênero, os

estágios motivacionais e a prontidão para mudança. .............................................. 94

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Comparação da primeira versão traduzida do inglês-português e

a versão final URICA- Jogo...............................................................................

63

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Distribuição da amostra quanto aos tipos de jogos praticados na

vida..........................................................................................................................

84

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LISTA DE SIGLAS

A - Ação

AA - alcoólicos anônimos

AMJO - Ambulatório de Jogo Patológico

ANOVA - Análise de Variância

BAI - Beck Anxiety Inventory

BDI - Beck Depression Inventory

C - Contemplação

DSM-IV-TR - Manual Diagnóstico e Estatísco de Transtornos Mentais

EP - Escore de Prontidão

EUA - Estados Unidos da América

JA - Jogadores Anônimos

JP - Jogo Patológico

M - Manutenção

PC - Pré-Contemplação

PROAD - Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes

RCQ - Readiness to Change Questionnaire

SOCRATES - Stages of Change Readiness and Treatment Eagerness Scale

SOGS - South Oaks Gambling Screen

SPSS - Programa Statistical Package for the Social Sciences

TA - Tratamento Ambulatorial

TMQ - Treatment Motivation Questionnaire

TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo

URICA - University Rohde Island Change Assessment

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RESUMO

O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento tem sido utilizado em

vários transtornos dependentes como forma de compreender o processo de mudança.

Este modelo está fundamentado na premissa de que a mudança do comportamento

acontece ao longo de um processo, no qual as pessoas passam por diversos estágios de

motivação para mudar: Pré-contemplação, Contemplação, Preparação, Ação e

Manutenção. A University Rohde Island Change Assessment – URICA é uma escala

auto-aplicável que foi construída com o objetivo de identificar os estágios motivacionais

e a prontidão para mudança em diversos comportamentos. O objetivo deste trabalho é

descrever o processo de tradução, equivalência semântica e adaptação cultural da

URICA, bem como identificar as evidências de validação desta escala entre jogadores

patológicos. O questionário foi traduzido do original em inglês para o português,

utilizando processo de tradução-retradução (inglês-português-inglês), seguido de

avaliação de um comitê de especialistas (interjuízes) e aprovação de um dos autores da

escala. Posteriormente, foram estudadas as propriedades psicométricas do instrumento

em uma amostra de 69 sujeitos com diagnóstico de Jogo Patológico, segundo critérios

diagnósticos do DSM-IV-TR. Os sujeitos foram avaliados em ambulatórios de

atendimento em Porto Alegre e São Paulo, e grupos de jogadores anônimos, entre 2006

e 2008. Para o estudo de evidências de validação da URICA foram analisados os

indicadores de consistência interna e validade convergente com a régua de prontidão

(medida analógico-visual), além de instrumentos como: SOGS (South Oaks Gambling

Screen), Inventário de Ansiedade de Beck - BAI e Inventário de Depressão de Beck -

BDI. Houve necessidade de ajustes no vocabulário e em algumas questões optou-se pela

inclusão de termos que se referem ao “hábito de jogar”, fazendo referência ao

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comportamento estudado e as particularidades desta amostra. Foi realizada análise

descritiva interjuízes e observou-se uma concordância entre os juízes de 75%, adequada

confiabilidade da URICA (α= 0,82) e a correlação significativa com régua de prontidão

nos estágios de pré-contemplação (r= -0,305; p= 0,11) e ação (r=0,301; p=0,12). A

amostra foi subdividida em dois grupos, conforme o regime de tratamento: grupo

proveniente de ambulatórios especializados no tratamento de dependências e

participantes do grupo de Jogadores Anônimos de Porto Alegre. O grupo ambulatório

apresentou escore médio significativamente maior do que os Jogadores Anônimos (JA)

tanto no estágio de Pré-contemplação (p=0, 005) quanto no estágio de manutenção (p=

0, 044). Quanto ao tempo de abstinência, o JA está associado a um tempo de abstinência

superior a 180 dias enquanto que o grupo ambulatório está associado a um período de

30 a 180 dias nesta amostra. Considerando-se os pareceres dos juízes especialistas,

construiu-se então a versão final da URICA- adaptação brasileira para jogo patológico

que se mostrou um instrumento de fácil aplicação e com boa equivalência semântica.

Além disto, a URICA - adaptação brasileira para jogo patológico mostrou ser útil e

confiável para avaliação da motivação para mudança, considerando os estágios

motivacionais e a prontidão para mudar entre os jogadores patológicos.

Palavras-chave: Modelo transteórico, jogo patológico, confiabilidade, URICA

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ABSTRACT

The Transtheoretical Model of Behavior Change has been used in several

dependent disorders as approach of understanding the process of change. This model is

based on the premise that behavior change happens over a process in which people pass

through various stages of motivation to change: Pre-contemplation, Contemplation,

Preparation, Action and Maintenance. The University Rohde Island Change

Assessment-URICA is a self-reported scale that was built to identify the motivational

stages and readiness to change in various behaviors. This study aims to describe the

process of translation, semantic equivalence and cultural adaptation of the URICA and

identify the evidence of validation of this scale (reliability) between pathological

gamblers. The questionnaire was translated from the original English version to

Portuguese, using the process of translation-back translation (English-Portuguese-

English), followed by an evaluation committee of specialists and approval of one of the

authors of the scale. Later, it was studied the psychometric properties of the instrument

in a sample of 69 subjects diagnosed with Pathological Gambling, according to

diagnostic criteria of DSM-IV-TR. The subjects were evaluated in ambulatory care

locals in Porto Alegre and São Paulo, and groups of Anonymous Gamblers, between

2006 and 2008. For the study of evidence of validation of URICA were analyzed

indicators of internal consistency and convergent validity with the ruler of readiness

(visual-analogue measure), as well as the instruments: SOGS (South Oaks Gambling

Screen), BAI and BDI. There was need for vocabulary adjustments in some items, and it

was decided by the inclusion of terms that refer to the "habit of gambling," referring to

the behavior studied and the peculiarities of this sample. Descriptive analysis was

carried out and there was a correlation between the judges of 75%, adequate reliability

of URICA (α = 0.82) and significant correlation with the ruler of readiness in the pre-

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contemplation stage (r = -0305, p = 0.11) and action (r = 0,301, p = 0.12). The sample

was divided into two groups, as the system of treatment: group from outpatient clinics

specialized in treatment of addictions and participants of the group of Anonymous

Gamblers in Porto Alegre. The outpatient group had significantly higher average scores

than the Anonymous Gamblers (AG) both in the pre-contemplation stage (p = 0005) and

in the maintenance stage (p = 0044). The abstinence period, the AG is associated with a

time of abstinence superior than 180 days, while the outpatient group is associated with

a period from 30 to 180 days in this sample. Considering the reports of specialists, it

was assembled the final version of the Brazilian URICA-adaptation for pathological

gambling that showed as easy application tool and with good semantic equivalence.

Moreover, the URICA - Brazilian adjustment for pathological gambling had indicated

useful and reliable for evaluating the motivation to change, considering the motivational

stages and readiness to change among pathological gamblers.

Keywords: transtheoretical model, pathological gambling

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20

INTRODUÇÃO

As pessoas que lutam contra comportamentos considerados “problema” (comer

compulsivo, dependência de drogas, tabagismo, Jogo patológico...), geralmente chegam

ao tratamento com motivações flutuantes e conflitantes entre continuar e interromper

estes comportamentos. Esse conflito, conhecido como ambivalência, permeia

principalmente as primeiras sessões do tratamento e parece ter um potencial especial

para manter as pessoas em um círculo vicioso que intercala o comportamento problema

e tentativas de modificá-lo, muitas vezes sem sucesso. A ambivalência é um estado

mental no qual a pessoa tem sentimentos coexistentes e conflitantes a respeito de algum

comportamento a ser modificado (Figlie, Bordin & Laranjeira, 2004). Mas, ao contrário

do que se poderia pensar, não é um mau sinal. É sinal de que a pessoa não está definida

sobre continuar ou interromper o comportamento problemático. No âmbito do

tratamento, quando o profissional compreende a normalidade desse fenômeno, evoca

menor resistência por parte do paciente e facilita o progresso no aconselhamento (Miller

& Rollnick, 2002).

Alguns tratamentos têm adotado uma perspectiva de motivação como algo

relativamente imutável, ou seja, ou o paciente está motivado para o tratamento e nessas

condições o terapeuta teria um papel definido e poderia ajudar a pessoa, ou o paciente

não está motivado e, então, o tratamento não seria possível. A abordagem da motivação

para mudança, principalmente nos comportamentos aditivos tem sido amplamente

documentada na literatura (Prochaska, DiClemente & Norcross, 1992; Oliveira,

Laranjeira, Araujo, Camilo & Schneider, 2003; Oliveira, Calheiros & Andretta, 2006).

O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento criado por James

Prochaska (1979) tem representado uma importante contribuição na compreensão dos

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processos que envolvem a mudança nos comportamentos aditivos. Este modelo está

fundamentado na idéia central de que a mudança acontece ao longo de um processo no

qual as pessoas passam por estágios diferenciados de motivação.

Progressos têm sido feitos para mensurar que a motivação para a mudança é

preditiva para o tratamento dos transtornos aditivos, demonstrando que o pré-tratamento

motivacional pode influenciar consideravelmente as variáveis de permanência e

engajamento no tratamento (Stephens, Babor, Kadden & Miller, 2002). Além disso, o

estágio motivacional do paciente está, possivelmente, relacionado aos resultados do

tratamento propriamente dito e aos índices de abstinência também.

Neste sentido, este trabalho pretende trazer contribuições relevantes, pois alguns

autores descrevem o Jogo patológico como uma dependência comportamental muito

semelhante à dependência química (Holden, 2001). Sendo assim, o aprofundamento de

estudos nesta área pode trazer importantes contribuições do ponto de vista da

informação, prevenção e do ponto de vista terapêutico.

A prevalência do JP vem aumentando no mundo e potencializando-se em

decorrência do desenvolvimento tecnológico (Galletti, Alvarenga, Andrade & Tavares,

2008). Sempre houve quem se excedesse em apostas, no entanto, o aumento de

problemas associados ao jogo é recente e acompanha a maior oferta de jogos de azar.

Pesquisas mostram o aumento simultâneo do índice de JP e de problemas associados na

população de países que legalizaram loterias e outros jogos de azar, e há autores que

afirmam ser o JP questão de saúde pública (Volberg, 1994; Pastrnak & Fleming, 1999).

Estudos realizados nos EUA e no Canadá mostraram alto índice de problemas

associados ao jogo. Em adultos, verificou-se que 5,5% da população apresentavam

problemas relacionados ao jogo; entre adolescentes e estudantes universitários, 13,3% e

13,9%, respectivamente (Shaffer, Hall & Vander Bilt, 1999). Há ainda estudos que

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destacam o subgrupo de idosos com alto índice de participação em jogos de azar e

problemas associados (Pietrzak, Moasco, Blanco, Grant

& Petry, 2007). Estudos no Brasil são escassos, mas sabe-se da necessidade de

pesquisas que revelem o impacto desta patologia na nossa sociedade e alternativas de

prevenção e tratamento. O artigo 50 da Lei de Contravenções Penais (decreto-lei

3.688/41) qualifica como crime a exploração de jogos de azar no País. Apesar da

proibição legal de algumas modalidades de jogo, esta ainda é uma prática comum que

atinge uma parte da população que desconhece suas conseqüências potencialmente

perigosas.

Um dos instrumentos mais utilizados na identificação dos estágios motivacionais

e na avaliação da prontidão para mudança de comportamento descrito na literatura é a

University Rohde Island Change Assessment – URICA criada por McConnaughy,

Prochaska e Velicer, em 1983. A URICA está baseada nos estágios de mudança (Pré-

contemplação, Contemplação, Ação e Manutenção) e pode ser utilizada para qualquer

comportamento problema.

O Grupo de Pesquisa “Avaliação e Atendimento em Psicoterapia Cognitiva” do

Programa de Pós-Graduação da PUCRS vem trabalhando há alguns anos com a URICA.

Em janeiro de 2005 foi elaborado um grande projeto de Adaptação e Validação desta

escala para diversos comportamentos aditivos, com o objetivo de delinear as

especificidades de cada amostra, entre elas: usuários de substâncias ilícitas, tabagistas,

comedores compulsivos e jogadores patológicos.

O objetivo deste estudo é descrever o processo de tradução, equivalência

semântica e adaptação cultural da URICA, bem como identificar as evidências de

validação desta escala entre jogadores patológicos.

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Para este fim, na seção I deste trabalho foi elaborada uma revisão teórica sobre a

patologia que envolve o hábito de jogar e as possibilidades de intervenção, intitulada

“Motivação para Mudança de Comportamento no Jogo Patológico". Nesta seção foram

identificadas produções científicas catalogadas nos bancos de dados computadorizados

PsycINFO, Medline, Lilacs e Web of Science com os descritores pathological gambling,

gamblers, treatment, stages of change, motivational interviewing e readiness to change,

entre 1990 e 2008 com a finalidade de caracterizar esta temática. Considerando que a

motivação para mudança é um importante aspecto a ser considerado na elaboração de

estratégias e intervenções nesta patologia, realizou-se também uma revisão sobre o tema

da motivação relacionando com o jogo patológico.

Na seção II descreve-se o processo de “Tradução, Equivalência semântica e

Adaptação cultural da University Rohde Island Change Assessment - URICA para

Jogadores Patológicos”. O questionário foi traduzido do original em inglês para o

português, utilizando processo de tradução-retradução (inglês-português-inglês),

seguido da avaliação das versões original e back-translation por um comitê de

especialistas que avaliaram o instrumento. A versão final foi apresentada a um dos

autores da escala que aprovou sua aplicação. O objetivo deste trabalho foi verificar

dificuldades de compreensão, expressões confusas e/ou ambíguas e ajustar o

vocabulário e as expressões ao idioma e realidade sócio-cultural brasileira.

Por fim, na seção III, apresenta-se outro estudo empírico, que tem o título

“Evidências de Validação da University Rohde Island Change Assessment - URICA

para Jogadores Patológicos” e que teve o objetivo de estudar as propriedades

psicométricas desta escala para o comportamento de Jogo Patológico e viabilizar seu

uso no Brasil.

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SEÇÃO I: ESTUDO DE REVISÃO DE LITERATURA

MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA NO COMPORTAMENTO DE JOGO

PATOLÓGICO

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Resumo

Motivação para Mudança no Comportamento de Jogo Patológico

O Jogo Patológico é um transtorno com impacto significativo na sociedade,

acarretando prejuízos sociais, financeiros e emocionais aos indivíduos.

Este trabalho se propõe a realizar uma revisão sobre a patologia que envolve o hábito de

jogar e as possibilidades terapêuticas envolvidas. O Jogo Patológico, por se tratar de

uma dependência prescindindo de substância psicoativa, oferece um modelo propício

para investigação científica que envolve o conhecimento da dinâmica psicopatológica,

biológica e estratégias para intervenções e tratamento. Considerando que a motivação

para mudança é um importante aspecto a ser considerado na elaboração de estratégias e

intervenções nesta patologia, realizou-se também uma revisão sobre o tema da

motivação relacionando com o jogo patológico. Foram identificadas produções

científicas catalogadas nos bancos de dados computadorizados PsycINFO, Medline,

Lilacs e Web of Science com os descritores pathological gambling, gamblers, treatment,

stages of change, motivational interviewing e readiness to change, entre 1990 e 2008

com a finalidade de caracterizar esta temática. Artigos relevantes publicados

anteriormente ao período escolhido de revisão foram selecionados. Concluiu-se que a

literatura atual dispõe de poucos estudos sobre o Jogo patológico e a motivação para

mudança e que esta ampliação pode aprimorar estratégias de tratamento e prevenção

Palavras-Chave: Jogo Patológico, Motivação para mudança

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Introdução

Jogar é uma atividade fundamental no desenvolvimento humano, e a

aprendizagem infantil é baseada em brincadeiras e jogos. Competir, ganhar, perder,

relacionar-se com os outros, assim como desenvolver-se cognitiva e emocionalmente

são algumas das habilidades facilitadas pelo jogo (Cotta, 1993).

Jogar pode ser considerado, também, uma atividade voluntária, que possibilita

uma evasão da vida “real” para uma esfera temporária de atividade de orientação

própria, podendo ser entendido como um intervalo na vida cotidiana. A tensão é um

importante ingrediente, e é muitas vezes levada a extremos nos jogos de azar e nas

competições esportivas (Huizinga, 1999). Os jogos de azar têm, por definição estreita,

relação com o imprevisível, e pode ser definido como uma aposta de qualquer natureza

ou um item de valor sobre um jogo ou evento de resultado incerto, cujo resultado é

determinado em vários graus pelo acaso (Abreu , Tavares & Cordás, 2007).

Os jogos de azar e os problemas decorrentes desta prática parecem estar presentes

na história e na cultura. Em 1886, a literatura ganhou um relato muito importante, com

elementos autobiográficos, de um indivíduo com compulsão pelo jogo. O clássico livro

intitula-se “O Jogador” e foi escrito por Dostoievski (1987) com o objetivo de saldar

suas dívidas pessoais contraídas com o jogo.

O Jogo Patológico (JP) como alteração do comportamento humano passou a ser

reconhecido oficialmente como transtorno psiquiátrico há pouco mais de 20 anos a

partir da 3ª edição do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais- DSM

(APA, 1980). O JP, segundo os critérios diagnósticos do DSM-IV-TR (APA, 2002), é

caracterizado pelo seguinte quadro:

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A – Comportamento de jogo mal-adaptativo, persistente e recorrente, indicado por

cinco (ou mais) dos seguintes quesitos:

1 – preocupação com jogo (preocupação com experiências passadas, especulação

do resultado ou planejamento de novas apostas, pensamento de como conseguir

dinheiro para jogar);

2 – necessidade de aumentar o tamanho das apostas para alcançar a excitação

desejada;

3 – esforço repetido e sem sucesso de controlar, diminuir ou parar de jogar;

4 – inquietude ou irritabilidade quando diminui ou pára de jogar;

5 – jogo como forma de escapar de problemas ou para aliviar estado disfórico

(sentimentos de desamparo e culpa, ansiedade, depressão);

6 – depois da perda de dinheiro no jogo, retorna freqüentemente no dia seguinte

para recuperar o dinheiro perdido;

7 – mentir para familiares, terapeuta ou outros, a fim de esconder a extensão do

envolvimento com jogo;

8 – cometer atos ilegais, como falsificação, fraude, roubo ou desfalque para

financiar o jogo;

9 – ameaçar ou perder relacionamentos significativos, oportunidades de trabalho,

educação ou carreira por causa do jogo;

10 – contar com outros para prover dinheiro, no intuito de aliviar a situação

financeira desesperadora por causa do jogo.

B – O comportamento de Jogo Patológico não é melhor explicado por um

Episódio Maníaco.

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O JP é também considerado um transtorno de hábitos e impulsos pela

Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde

(CID 10). Sob o código F63.0, o JP consiste de freqüentes e repetidos episódios de jogo,

que dominam a vida do indivíduo em detrimento de valores e compromissos sociais,

ocupacionais, materiais e familiares.

Custer (1984) descreveu padrões uniformes e progressivos no JP, começando com

pequenas apostas, normalmente na adolescência, e mais freqüente entre os homens. O

intervalo de tempo previsto entre começar a jogar e perder o controle sobre o jogo varia

de 1 a 20 anos, sendo mais comum em um período médio de 5 anos. O autor descreve

três fases distintas do comportamento de jogar, que são:

1- Fase da vitória: as vitórias tornam-se cada vez mais excitantes, e o indivíduo

passa a jogar com maior freqüência, acreditando que é um excelente apostador. Um

indivíduo que joga apenas socialmente geralmente pára de jogar.

2- Fase da perda: a atitude de otimismo não-realista passa a ser característica do

jogador patológico. Depois de ganhar uma grande quantidade de dinheiro, o valor da

aposta aumenta consideravelmente, na esperança de ganhos ainda maiores. Jogar passa

a ocupar um tempo considerável na vida do jogador, e a perda passa a ser difícil de ser

tolerada. O dinheiro que ganhou no jogo é utilizado para jogar mais, e, em seguida, o

indivíduo emprega o salário, as economias e o dinheiro investido, e, por vezes, necessita

recorrer a familiares ou conhecidos para aliviar uma situação preocupante (perda de

emprego, divórcio). Jogar para recuperar os prejuízos é um marco do comportamento

patológico (Lesieur, 1979).

3- Fase do desespero: a principal característica é o aumento do tempo e do

dinheiro gastos com o jogo, bem como pelo afastamento familiar. Surge um estado de

pânico, uma vez que o jogador percebe o tamanho de sua dívida, o seu desejo de pagá-la

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prontamente, o isolamento de familiares e amigos, a reputação negativa que passou a ter

na sua comunidade e, finalmente, um desejo nostálgico de recuperar os primeiros dias

de vitória. A percepção desses fatores pressiona o jogador, e o comportamento de jogar

aumenta ainda mais, na esperança de ganhar uma quantia que possa resolver todos esses

problemas. Alguns passam, então, a utilizar recursos ilegais para obter dinheiro. Nessa

fase, é comum a exaustão física e psicológica, sendo freqüente a depressão, os

pensamentos suicidas e o alcoolismo. Cabe ressaltar a importância da diferenciação

entre o jogador patológico e o jogador social. O jogador social é aquele que pára de

jogar em qualquer momento, independentemente de estar ganhando ou perdendo. Sua

auto-estima não está ligada a ganhar ou perder no jogo, pois estes indivíduos possuem

outros aspectos da vida mais relevantes e recompensadores. Em contrapartida, o jogador

patológico possui no jogo uma fonte de tensão, principalmente ao perder, e essa tensão

aumenta o impulso de jogar (Custer, 1984).

Apesar de existirem muitos casos de pessoas com esse transtorno, há poucos

trabalhos publicados e pouco conhecimento sobre o impacto do JP entre os brasileiros.

Em 2002, Oliveira realizou um estudo pioneiro sobre JP em uma amostra

brasileira. Esta pesquisa constituiu-se um estudo de campo, onde foram entrevistados

171 freqüentadores de casas de aposta (bingo, Jockey Club e videopôquer), dos quais 75

foram diagnosticados como jogadores patológicos. O perfil desta amostra revelou, em

sua maioria, homens (87,7%), com ensino médio ou nível superior (82,3%),

empregados em regime integral (71,6%), sendo a metade deles casados (50,7%), com

idade média de 40 anos de idade e renda mensal média de R$4.000,00. Percebe-se que

esse perfil descreve adultos, pertencentes à classe média e inseridos no mercado de

trabalho.

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Os dados disponíveis sobre a prevalência do JP sugerem uma incidência em torno

de 1% a 3% na população adulta nos Estados Unidos (APA, 2002). Em cidades com alta

concentração de casas de jogo, como Las Vegas (EUA), por exemplo, esse número

aumenta para 8,7% da população adulta (Ballone, 2003). Não há pesquisas

epidemiológicas publicadas sobre a prevalência de JP na população brasileira, no

entanto, alguns indicativos são preocupantes como será visto a seguir. (Oliveira,

Silveira & Silva, 2008).

Danos de ordem financeira, legal, médica e psicológica estão claramente

relacionados ao JP e documentados na literatura. Jogadores patológicos com freqüência

cometem atos ilegais para sustentar a atividade; apresentam índices mais elevados de

divórcio (Nichols, Stitt & Giacopassi, 2004); sofrem de distúrbios cardiovasculares,

alergias, problemas respiratórios, perturbações do sono, problemas de coluna,

obesidade, cansaço crônico, enxaquecas, dores gástricas e outros sintomas físicos

(Oliveira, Silveira & Silva et al, 2008).

Jogo Patológico: impulso, compulsão ou dependência?

JP vem sendo considerado uma dependência comportamental semelhante à

dependência química (Holden, 2001). Com o avanço das neurociências, hoje se sabe

que o sistema mesolímbico de recompensa tem papel central no desenvolvimento e na

manutenção da dependência de substâncias (Reuter, Raedler, Rose, Hand, Glascher &

Buschel, 2005). A hipótese mais aceita, do ponto de vista neuroquímico, é a de que os

farmacodependentes apresentam uma deficiência no sistema de recompensa e que a

procuram compensar com o uso da droga (Blum, Braverman, Holden, Lubar, Monastra

& Miller, 2000). Especula-se que o JP também esteja relacionado à deficiência do

sistema dopaminérgico mesolímbico de recompensa.

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Em um estudo realizado em 2005, Reuter et al., verificaram menor ativação do

estriado ventral direito em jogadores patológicos do que em controles normais, achado

característico de dependentes de substâncias, além de apresentarem menor ativação do

córtex pré-frontal ventro medial e ventro lateral (VMPFC), relacionado com o controle

de impulsos deficiente. Estudos de neuroimagem mostram que regiões cerebrais são

ativadas quando jogadores patológicos vêem imagens de caça-níqueis, sugerindo que a

via tegmental ventral (VTA) - accumbens também tem papel importante nas

dependências comportamentais (Nestler & Malenka, 2004).

Jogar é uma atividade que causa prazer, tal qual o uso de uma droga. A aposta

envolvendo dinheiro, risco e excitação produzem, muitas vezes, bem estar e euforia,

além de sensação de poder e de sucesso (DeCaria, Hollander, Grossman & Wong,

1996). A magnitude do impacto do Jogo Patológico no indivíduo, segundo estudo

realizado por Tavares, Zilberman, Hodgins & El-Guebaly (2005) pode acarretar fissura

(craving) no jogador patológico na ausência do jogo, podendo ser tão ou mais severa do

que nos dependentes de álcool.

Em artigo de revisão da literatura sobre o JP, Tavares, Gentil, Oliveira e Tavares

(1999) discutiram a definição e a compreensão de termos e conceitos envolvidos na

dinâmica do transtorno de Jogo Patológico, entre eles compulsividade e impulsividade,

na tentativa de contribuir com sua caracterização fenomenológica e clínica. Segundo os

autores, o caráter egossintônico do comportamento de jogar, a sua estreita relação com o

prazer (Moran, 1983, apud Tavares et al., 1999) e a sua associação com outras

patologias de perfil impulsivo justifica sua classificação entre os transtornos de controle

dos impulsos. Contudo, o Jogo Patológico apresenta comorbidade com outras patologias

de caráter não impulsivo, principalmente com transtornos de humor e com transtornos

de ansiedade, e o ato de jogar, como forma de evitar estados emocionais desfavoráveis,

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associado à sintomatologia ansiosa, sugeriria, para alguns autores, uma natureza

compulsiva (Skodol e Oldham, 1996, apud Tavares et al., 1999). Cloninger (1996)

propõe que a “esquiva ao dano” seja um dos componentes do conceito de

compulsividade e que, combinada à impulsividade, sintetize a dinâmica básica das

dependências: o desejo da experimentação associado à avidez precipitam o

comportamento; no entanto, o medo do estado emocional desagradável, quando de sua

interrupção, é responsável por sua manutenção.

Na tese de doutorado defendida por Tavares (2000), o autor analisa o JP e suas

relações com o espectro impulsivo-compulsivo. Neste estudo, foram selecionados 40

jogadores patológicos, 40 portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e 40

controles normais, com o objetivo de comparar o JP com TOC quanto às características

de curso clínico, comorbidades e, principalmente, em relação a traços de personalidade

com enfoque específico em impulsividade e compulsividade. Uma das conclusões mais

importantes deste trabalho é que, embora combine traços impulsivos (pouca reflexão

seguida de rápida reação) e compulsivos, a personalidade do jogador patológico é

distinta do portador de TOC no que se refere à necessidade de busca de novidades, o

que é mais presente em jogadores do que nos controles e nos portadores de TOC.

Quanto ao curso, os sintomas de TOC iniciam antes que os problemas com jogo. O

curso clínico do JP e a elevada comorbidade com alcoolismo e tabagismo, segundo o

autor, demonstram mais semelhanças com dependências químicas do que com TOC.

Para o autor, a definição que mais se aplica ao JP é uma dependência comportamental,

cujo traço mais saliente é a impulsividade e a sensação de êxtase, semelhante à

experimentada pelas drogas, e que, neste caso, vem da aposta, da emoção de obter bons

resultados e de ganhar.

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Comorbidades

A freqüente comorbidade de sintomas, de transtornos psiquiátricos e de

personalidade contribuem para tornar complexo o quadro clínico do JP, sendo mais

comum o Transtorno de Humor, o Transtorno de Ansiedade, a Dependência do Álcool e

outras drogas (Crockford & El-Guebaly, 1998; Petry, Stinson & Grant, 2005). Homens

jogadores patológicos apresentam alta comorbidade, ao longo da vida, com transtornos

afetivos, variando de 21% a 60% (Black e Moyer, 1998; Becoña, Lorenzo e Fuentes,

1996), e com dependência de substâncias, variando de 25% a 65% (Black & Moyer,

1998; Crockford & El-Guebaly, 1998).

Inúmeras pesquisas apontam a associação entre o JP e a dependência de drogas.

Carvalho, Collakis, Oliveira e Silveira (2005) realizaram uma pesquisa em São Paulo,

com amostra de 74 pacientes de três serviços especializados em tratamento para

Dependência Química. Foi encontrada alta freqüência de JP nessa amostra de

dependentes químicos que procuraram tratamento (18,9% da amostra caracteriza-se

como jogador patológico e 10,8% como “jogador problema”), corroborando com dados

da literatura internacional sobre a comorbidade entre estes transtornos.

Em artigo de revisão da literatura sobre a relação entre os Transtornos do Humor e

JP, Kim, Grant, Eckert, Faris e Hartman (2006) enfocaram o tratamento quando estas

patologias estão associadas. Os autores discutiram a possibilidade de a depressão

influenciar na motivação para o jogo, ou de apresentar-se como aspecto secundário

(conseqüências do hábito de jogar, perdas financeiras, estresse). Os autores concluíram

que, na maior parte dos estudos, não é possível afirmar que a depressão é primária ou

secundária aos problemas relacionados ao jogo. Entretanto, salientaram que

comportamentos como jogo, sexo e compras compulsivas aparecem como tentativa de

“automedicação” dos sintomas depressivos (Goldman, 1991).

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Muitos estudos sugerem que essas comorbidades também ocorram em mulheres,

apesar de a maior parte dos estudos sobre JP ter como base a população masculina.

Entretanto, estima-se que um terço dos indivíduos que recebam este diagnóstico sejam

mulheres, que apresentam maior propensão à depressão (Tavares et al., 1999).

Martins, Lobo, Tavares e Gentil (2002), em um artigo de revisão da literatura

sobre o JP entre mulheres, sugerem que um aprofundamento das relações entre o JP e a

questão do gênero seja promissor. Segundo os autores, os poucos estudos encontrados

nesta área indicam que os jogos de azar impactam de maneira diferente nos gêneros,

afetando significativamente as mulheres, que podem vir a desenvolver o quadro de JP

duas vezes mais rápido do que os homens. Entre os estudos sobre mulheres jogadoras,

os autores destacaram o de Strachan e Custer, de 1993, com 52 mulheres jogadoras nos

Jogadores Anônimos (JA) de Las Vegas, em 1989, e identificaram o perfil típico da

jogadora como caucasiana (83%), de 30 a 49 anos (76%), casada (67%), com filhos

(75%), com ensino médio (74%) e que jogava videopôquer (90%). Entre as

complicações associadas ao jogo estavam tentativas de suicídio (23%), alcoolismo

(10%) e dependência de drogas ilícitas (23%).

Volberg e Steadman (1988) verificaram que 7% dos indivíduos em programas de

tratamento para JP em Nova Iorque (EUA) eram mulheres. Entretanto, estudos de JP na

população geral do Canadá e dos EUA mostram uma razão homem-mulher de 2:1 a 3:1

(Ladoucer, 1991; Coman, Burrows & Evans, 1997).

Quanto aos aspectos genéticos, Eisen, Lin e Lyons (1998) investigaram a

ocorrência familiar de Jogadores Patológicos e identificaram que está altamente

associado com alcoolismo.

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Jogo Patológico e Motivação para Mudança

Várias modalidades terapêuticas têm sido sugeridas no tratamento de jogadores

patológicos, mas estudos sobre a sua efetividade parecem estar apenas no início. A

literatura científica sobre a eficácia dos tratamentos para o JP é escassa (Lopez-Viets &

Miller, 1997). Até o momento não é possível afirmar que há um único tratamento para

intervir sobre esta patologia.

Petry e Armentano (1999) revisaram formas de tratamento para JP, e não foi

encontrado um modelo padrão. As intervenções pesquisadas pelos autores foram:

Jogadores Anônimos, terapia de casal e família, grupo de apoio para familiares, terapia

cognitivo-comportamental, entrevista motivacional, farmacoterapia e manuais de auto-

ajuda.

Um estudo de revisão recente sobre psicoterapia psicodinâmica para JP realizado

por Rosenthal (2008) não revelou nenhum estudo controlado randomizado sobre a

eficácia ou a efetividade desse tratamento, mas apontou estudos com desfechos

positivos descritos como ecléticos multimodais e programas psicodinâmicos que

obtiveram maior êxito.

Wulfert, Blanchard, Freidenberg e Martell (2006) realizaram um estudo

exploratório piloto com nove jogadores patológicos que receberam tratamento

combinado, envolvendo a Entrevista Motivacional e a Terapia Cognitivo

Comportamental, comparando-os com o grupo controle de pacientes no mesmo centro

de atendimento, com o objetivo de discutir os benefícios desta intervenção. Constataram

que seis pacientes mantiveram total abstinência durante um ano, dois tiveram

significativa melhora e apenas um recaiu.

Em 2005, Jiménez et al., destacaram, em uma consistente revisão da literatura,

oito ensaios clínicos controlados para tratamento do JP. Todos os estudos seguem uma

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orientação cognitivo-comportamental, demonstrando nos resultados que esta

modalidade terapêutica é superior à condição de não-tratamento. Neste mesmo estudo,

realizado na Espanha, os pesquisadores analisaram a efetividade da modalidade grupal

de tratamento entre JP e evidenciaram que a maior taxa de abandonos e recaídas se

produzia durante as cinco primeiras semanas, concluindo que a baixa motivação parecia

interferir na aderência ao tratamento. Segundo estes autores, é possível identificar uma

série de fatores preditores de fracasso terapêutico, entre eles elevados níveis de

ansiedade e depressão, maior gravidade do transtorno e baixa motivação para mudança.

Independente da modalidade terapêutica, o que se percebe é que muitos autores

concordam que uma das variáveis mais relevantes implicadas na adesão ao tratamento é

a motivação para a mudança (DiClemente, Story & Murray, 2000).

Segundo Miller e Rollnick (2001), motivação pode ser definida como a

probabilidade que uma pessoa inicie, dê continuidade e permaneça em um processo de

mudança. A motivação não deve ser vista como algo estável ou inerente à personalidade

ou ao caráter da pessoa, mas sim como algo fluido que pode oscilar entre diversas

situações ou momentos. Neste sentido, em relação aos comportamentos dependentes,

motivar o paciente para tratamento deve ser um dos principais objetivos do processo

terapêutico, sendo a motivação um estado interno que pode ser influenciado

externamente. Assim, a motivação, vista como mutável e intercalada, facilita o processo

e manutenção da mudança, bem como favorece os resultados positivos do tratamento

(Miller & Tonigan, 1996; Prochascka & DiClemente, 1992).

Uma das contribuições mais relevantes nesta área tem sido representada pelo

Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento, desenvolvido por James

Prochaska, em 1979, a partir da análise comparativa de mais de 29 teorias e modelos

dos principais enfoques psicoterápicos, tendo como foco o processo de mudança

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(Fuentes-Pila, Calatayud, Lopes & Castaneda, 2005). No transcorrer do estudo, os

resultados sempre se mostravam os mesmos: todas as teorias tinham suas limitações e

nenhuma delas explicava detalhadamente o processo de motivação para mudança nas

pessoas. Diante dessa análise, o modelo que nascia foi denominado “transteórico”, e

teve como principal pressuposto o fato de que automudanças bem-sucedidas dependem

da aplicação de estratégias certas (processos), no momento certo (estágios) (Prochaska,

DiClemente & Norcross, 1992). Para a construção do Modelo Transteórico, foram

identificadas e incorporadas as explicações que cada teoria dava ao processo de

mudança em uma pessoa. Como conseqüência, o Modelo Transteórico torna-se

diferente de outros modelos teóricos, na medida em que foi direcionado especificamente

para a compreensão do processo de mudança de comportamentos-problema e para a

busca de hábitos saudáveis (Oliveira, Calheiros & Andretta, 2006).

Entre as implicações mais significativas deste modelo está a descoberta da

necessidade de acessar o estágio de prontidão para mudança do paciente e,

posteriormente, de adequar as intervenções terapêuticas a ele (Prochaska et al., 1992).

Avaliar a motivação para a mudança, independentemente do tratamento utilizado,

parece ser um aspecto fundamental para utilização de intervenções terapêuticas

adequadas.

Os estágios motivacionais são descritos de forma bem definida e, inicialmente,

foram descritos quatro estágios: a Pré-contemplação, a Contemplação, a Ação e a

Manutenção. Posteriormente, verificou-se que, entre o estágio de Contemplação e o de

Ação, as pessoas passavam por uma fase de planejamento das possíveis ações. Esse

estágio foi denominado Determinação ou Preparação, e passou a ser incluído como o

terceiro estágio (Prochaska et al., 1992).

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No estágio de Pré-contemplação não se observa nenhuma intenção de mudar o seu

comportamento problema, e, geralmente, a existência de um verdadeiro problema é

completamente negada. Os pré-contempladores dificilmente procuram ajuda para iniciar

seu processo de mudança e, quando o fazem, geralmente é por outros motivos, como

encaminhamento judicial ou pedido dos familiares e dos companheiros. Mesmo quando

iniciam tratamentos, evidenciam uma ativa resistência à mudança, fugindo de tudo que

se relacione ao seu problema. Na maioria dos casos, observa-se que algumas tentativas

de mudanças já foram ensaiadas no passado, porém, sem sucesso (Prochaska et al.,

1992).

A consideração da possibilidade de mudança ocorre no estágio de Contemplação.

A pessoa admite ter um problema e considera as possibilidades de mudança, mostrando

preocupação e uma clara avaliação entre as vantagens e as desvantagens de mudar. Essa

avaliação pode se cronificar na forma de uma profunda ambivalência e, com muita

frequência, substituem a ação pelo pensamento. Dessa forma, são mantidas nesse

estágio por longos períodos de tempo. A transição desse estágio para o estágio de

preparação é marcada por um foco maior na solução do que no problema, bem como em

um pensamento mais direcionado para o futuro, não mais para o passado (Prochaska et

al., 1992).

O estágio de Preparação ou Determinação é marcado pelo planejamento. Há uma

maior conscientização do problema, e o indivíduo constrói um plano cuidadoso de ações

orientadas para a mudança (Oliveira, 2000). Um aspecto importante para o sucesso

desta etapa é a necessidade de que a intenção de mudar se torne pública. Nesta etapa,

não há, necessariamente, uma ação ocorrendo concomitantemente, visto que as pessoas

no estágio de preparação não precisam ter sua ambivalência completamente resolvida

(Prochaska, DiClemente & Norcross, 1994).

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A marca do Estágio de Ação é a modificação do comportamento-alvo através de

esforços para mudança. A Ação é um período que exige muita dedicação e energia

pessoal, sendo que as mudanças realizadas neste estágio são mais visíveis do que as

anteriores. Nesse contexto, a maioria das pessoas iguala, equivocadamente, o estágio de

ação ao sucesso da mudança (Prochaska et al., 1994).

O estágio de Manutenção é o grande desafio no processo de mudança, sendo a

estabilização do comportamento em foco a sua marca. É necessário um esforço

constante do indivíduo para consolidar os ganhos conquistados nos outros estágios,

principalmente no de ação, além de prevenir continuamente lapsos e recaídas

(Prochaska & Velicer, 1997).

Para Miller e Rollnick (2001) existiria ainda um sexto estágio, a Recaída, no qual

a tarefa do indivíduo é voltar a circular pelos demais estágios. A recaída é normal e

prevista quando se busca uma mudança de comportamento por longo prazo.

O processo de mudança é um conceito essencial no Modelo Transteórico e

possibilita o entendimento de como a mudança do comportamento ocorre. O processo

de mudança não pode ser considerado meramente linear, pois seus estágios são

compreendidos como parte de um “espiral”, em que a pessoa pode se movimentar de

um estágio para o outro, sem uma ordem estabelecida (Prochaska, DiClemente &

Norcross,1992).

Utilizando o construto do Modelo Transteórico, foram criadas escalas para a

mensuração dos estágios motivacionais, como a University of Rhode Island Change

Assessment (URICA) (McConnaughy, Prochaska & Velicer, 1983) e a The Stages of

Change Readness and Treatment Eagerness Scale (SOCRATES) (Miller & Tonigan,

1996), além da utilização de algoritmos, escalas analógico-visuais, entre outras. A teoria

motivacional vem sendo regularmente estudada, permitindo a avaliação pragmática de

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seus parâmetros por meio de escalas com validade e confiabilidades que variam de boa

a excelente, mas que necessitam ser adequadas aos diversos comportamentos- problema.

O tratamento farmacológico vem sendo investigado, porém a maior parte dos

estudos são relatos de caso ou estudos abertos não-controlados. Carbamazepina,

Carbonato de Lítio e Clomipramina foram utilizados com relativo sucesso (DeCaria,

Hollander & Grossman, 1996). Foram propostos, também, inibidores seletivos de

recaptação da serotonina, como a fluoxetina (Coman, Burrows & Evans, 1997), em

função da compulsão manifestada em jogadores. O fato é que há descrição de resultados

positivos com o uso de estabilizadores de humor e antidepressivos, pois a melhora dos

pacientes está muito associada à melhora de sintomas de depressão e ansiedade, que são

comorbidades à patologia (Oliveira & Sáad, 2006). Estudos atuais sugerem o uso de

Olanzapina e Carbamazepina em pacientes jogadores patológicos (Black, Shaw &

Allen, 2008).

Discussão dos Resultados

O Jogo Patológico é uma patologia grave do ponto de vista psiquiátrico e social, e

pouco investigada do ponto de vista científico. Apesar de apresentar semelhanças com a

dependência química, prescindindo de uma substância psicoativa, necessita ser vista

com suas particularidades para que se possa intervir de forma adequada e eficaz.

Este problema tem preocupado a comunidade científica e sugerido a construção

de estratégias terapêuticas, tais como grupos Jogadores anônimos, psicoterapias,

medicamentos, tratamentos ambulatoriais, internações e atendimento à família. Nos

escassos locais para atendimento específico do JP persistem algumas questões: “Quais

as deficiências desses tratamentos?”, “Qual estratégia é necessária para aumentar a

aderência ao tratamento e a eficácia de uma intervenção terapêutica?”, “O que faz com

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que algumas pessoas consigam modificar sózinhas comportamentos-problema,

enquanto outras fazem uma peregrinação em diferentes tratamentos?”.

Diante destes questionamentos, a motivação do paciente vem tomando papel de

destaque e parece ter uma importante contribuição também no tratamento do JP.

A exploração comercial do jogo, apesar da proibição legal de algumas

modalidades, impõe a necessidade de informação da população e qualificação dos

profissionais da área da saúde na realização de um diagnóstico precoce da patologia. Por

se tratar de um transtorno com elevados índices de comorbidade, principalmente com a

dependência química e os Transtornos de Humor, uma coleta cautelosa e minuciosa da

história pessoal e do curso da doença pode desvelar ou facilitar um importante aspecto a

ser considerado para o tratamento.

Com o objetivo de compreender a mudança do comportamento, o Modelo

Transteórico de Motivação para Mudança traz transformações decisivas à ciência.

Apontar a mudança como um processo e não como um evento isolado contribui de

forma extremamente relevante para o planejamento de abordagens terapêuticas.

Compreender o quanto um paciente está motivado traz imensos avanços para a área

da saúde, na medida em que orienta a equipe de profissionais para o uso de

intervenções mais adequadas.

Estudar a respeito do Modelo Transteórico frente ao comportamento de Jogo

Patológico revelou a necessidade de mais pesquisas envolvendo esse tema, utilizando

amostras variadas. As publicações costumam ser mais centradas nas pesquisas

envolvendo o uso de álcool e tabaco. Pesquisas relacionando o Modelo Transteórico ao

Jogo Patológico ainda são restritas, o que demonstra a importância de estudos que

considerem as particularidades de cada comportamento dependente.

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Considerações Finais

Concluímos que existe a necessidade de bons instrumentos validados e adaptados,

que identifiquem o estágio motivacional dos pacientes que iniciam qualquer modalidade

de intervenção terapêutica, principalmente nos comportamentos dependentes. Identificar

em que estágio de mudança a pessoa se encontra significa uma ampliação nas

possibilidades de predizer o resultado do tratamento, mas, acima de tudo, de elaborar

estratégias terapêuticas que facilitem o processo de modificação do comportamento

relacionado, neste caso, ao hábito de jogar.

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SEÇÃO II: ESTUDO EMPÍRICO

TRADUÇÃO, EQUIVALÊNCIA SEMÂNTICA E ADAPTAÇÃO CULTURAL

DA UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA) -

ADAPTAÇÃO BRASILEIRA PARA O JOGO PATOLÓGICO

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Tradução, Equivalência Semântica e Adaptação Cultural da University Rohde

Island Change Assessment (URICA) – Adaptação Brasileira para o Jogo Patológico

Resumo

Objetivo: A University of Rhode Island Change Assessment Scale (URICA) é um

instrumento de 24 itens, auto-aplicável, e utilizado para avaliar os estágios

motivacionais e a prontidão para mudança em comportamentos dependentes. O objetivo

deste estudo é descrever o processo de tradução e adaptação desta escala em uma

amostra de jogadores patológicos. Métodos: O questionário foi traduzido do original

em inglês para o português, utilizando processo de tradução-retradução (inglês-

português-inglês). Após, o questionário foi aplicado em 10 sujeitos, do sexo masculino

e feminino, com idades entre 20 e 70 anos e diferentes graus de escolaridade, com o

objetivo de verificar as dificuldades de compreensão, expressões confusas e/ou

ambíguas. Posteriormente, seguiu-se com a avaliação das versões original e back-

translation por um comitê de especialistas composto por três juízes que avaliaram o

instrumento. A versão final foi apresentada a um dos autores da escala que aprovou sua

aplicação. Resultados: Houve necessidade de ajustes no vocabulário em algumas

questões e optou-se pela inclusão de termos que se referem ao “hábito de jogar”,

fazendo referência ao comportamento estudado e as particularidades desta amostra.

Realizou-se a análise descritiva interjuízes e observou-se uma concordância entre os

juízes de 75%, o que correspondeu a 18 itens da escala, no que se refere às traduções do

instrumento. Para os 6 itens restantes, utilizou-se o critério de desempate pelo terceiro

juiz.

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Conclusões: Considerando-se o processo de tradução - retradução, os pareceres dos

especialistas e a aprovação de um dos autores da escala, construiu-se então a versão

final da URICA - adaptação brasileira para jogo patológico que mostrou-se um

instrumento de fácil aplicação e com boa equivalência semântica.

Palavras-chave: Tradução, adaptação, escalas de motivação, jogo patológico

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Introdução

O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento, desenvolvido por

James Prochaska nos anos 1970 (Prochaska, 1979), representa uma importante

contribuição no entendimento do processo de motivação que envolve a mudança de

comportamento. Este modelo está baseado na premissa de que a mudança

comportamental é um processo, e que as pessoas tem diversos níveis de motivação, de

prontidão para mudar (Oliveira, Calheiros & Andretta, 2006).

Em 1982, Prochaska e DiClemente realizaram uma pesquisa com tabagistas e

delinearam quatro estágios que estruturam o processo de mudança: Contemplação,

Determinação, Ação e Manutenção. Posteriormente, em 1983, os mesmos autores

identificaram a Pré-contemplação como um estágio que precede a Contemplação.

Diante disso, esses níveis são sequenciados em cinco estágios: Pré-contemplação,

Contemplação, Determinação, Ação e Manutenção (Prochaska, DiClemente &

Norcross, 1994).

O modelo teórico dos estágios motivacionais tem início com a pré-

contemplação, estágio no qual a pessoa não considera a necessidade de ajuda, assim

como não demonstra consciência suficiente de que tem problemas, embora outras

pessoas do seu convívio possam estar cientes disso. Quando a pessoa passa a considerar

seu comportamento como um problema com possibilidade de mudanças, ela entra no

estágio de contemplação (DiClemente,1991). Seguindo para o estágio de Preparação, há

a combinação de uma conduta orientada na mesma direção da intenção de mudar. Nesse

estágio, geralmente as pessoas são descritas como prontas para entrar no estágio de ação

(Oliveira, 2000), e, quando essas tentativas são colocadas em prática, este indivíduo se

encontra no estágio de ação. Finalmente, a estabilização do comportamento em foco

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ocorre no estágio de Manutenção, no qual a pessoa modifica seu estilo de vida, evitando

a recaída, atingindo abstinência e consolidando as mudanças.

Prochaska, DiClemente e Norcross (1992) afirmam que avaliar a motivação para

mudança, independentemente do tratamento utilizado, parece ser um aspecto importante

para a utilização de intervenções adequadas aos pacientes. O resultado de uma correta

avaliação implica melhores estratégias para a promoção da motivação para mudança de

comportamento. A utlilização de escalas para monitoração da motivação é freqüente, e

destacam-se duas na literatura: a University Rhode Island Change Assessment – URICA

(McConnaughy, Prochaska & Velicer,1983) e a Stages of Change Readiness and

Treatment Eargness Scale - SOCRATES (Miller & Tonigan, 1996), utilizada

especificamente para o comportamento de beber.

A University Rhode Island Change Assessment (URICA), desenvolvida por

McConnaughy, Prochaska e Velicer (1983), é um instrumento que se destina a avaliar

os estágios motivacionais e a prontidão para a mudança. É uma medida de auto-relato,

do tipo escalar, inicialmente criada para estudar os problemas relacionados ao

tratamento do tabagismo e, atualmente, empregada de forma genérica para todos os

problemas associados a comportamentos de dependência. A URICA possui, atualmente,

três versões: uma composta por 32 itens, outra por 28 itens e uma versão reduzida de 24

itens, que são divididos em quatro subescalas: Pré-contemplação, Contemplação, Ação

e Manutenção. A URICA, na sua versão original, não é especificada para o tipo de

comportamento-problema, mas se refere, genericamente, ao “problema” do sujeito.

Em estudos mais recentes, Diclemente, Schlundt e Gemmell (2004) discutiram e

apresentaram outro conceito, mais genérico e dinâmico que o conceito de estágios,

chamado de prontidão para mudança. O significado de Prontidão para Mudança pode

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ser conceitualizado como a combinação da importância que o sujeito dá ao seu

problema combinado com a sua capacidade de mudar.

A validação da URICA para a população americana iniciou com a criação de

165 itens, que foram encaminhados a três juízes com bom conhecimento na área. Desses

itens, 145 apresentaram boa consistência, mas apenas 125 foram realocados no

instrumento. A redução do instrumento evoluiu e dividiu-se em três etapas: na primeira

etapa, foram considerados 75 itens, com 15 itens por estágio; na segunda etapa, 50 itens,

com 10 itens para cada estágio; e, na terceira e última etapa, foi construída uma versão

com 32 itens, tendo 8 itens para cada estágio. É importante ressaltar que a partir da

análise fatorial, o estágio de Determinação não se manteve como um estágio separado,

não se constituindo, portanto, como um domínio do instrumento. As análises estatísticas

utilizadas foram correlação inter-itens, correlação entre cada item, escore total de itens,

coeficiente de alfa de Cronbach, coeficiente de correlação linear de Pearson e análise de

clusters (McConnaughy, DiClemente, Prochaska & Velicer, 1989). O coeficiente alfa

de Chronbach, na validação americana, variou de 0.88 a 0.89. A amostragem estudada

era composta de pacientes ambulatoriais, provenientes de serviços comunitários,

psicoterapia particular, centros de aconselhamento e tratamento militar ou universitário.

Stephens Cellucci e Gregory (2004) avaliaram adolescentes usuários de tabaco,

por meio da URICA, para medir o quanto estes adolescentes estavam preparados para a

cessação do comportamento de fumar. Após a aplicação, verificaram que os

adolescentes que pontuaram mais no estágio de ação e/ou manutenção foram aqueles

que realizaram as mudanças mais concretas a respeito do hábito de fumar,

comprovando, assim, a capacidade da URICA em discriminar a motivação dos

indivíduos para a modificação do comportamento.

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No Brasil, já existe uma versão adaptada e validada da URICA de 32 itens para

uma amostra de pessoas com problemas relativos ao álcool (Figlie, Dunn & Laranjeira,

2004) e ao uso de drogas ilícitas (Szupszynski & Oliveira, 2006). Esta versão está em

processo de validação para outros tipos de comportamentos, sendo liderado pelo Grupo

de Pesquisa Avaliação e Atendimento em Psicoterapia Cognitiva da PUCRS. Sua

utilidade clínica e a valorização que lhe foi conferida, principalmente pelos profissionais

da área da dependência química, têm justificado sua aplicação.

O interesse na validação da URICA para jogadores patológicos se justifica por

que ela é vista como uma patologia grave, considerando os enormes prejuízos sociais,

financeiros e emocionais causados pelo jogo na vida dos indivíduos (Oliveira, Silveira

& Silva, 2008).

A divulgação de pesquisas sobre validação e propriedades psicométricas de

escalas traduzidas e adaptadas ao nosso idioma e ao nosso país ainda é restrita. Não

basta traduzir um instrumento, é necessário realizar um rígido procedimento de

avaliação dessa tradução, verificando a adaptação transcultural e as suas propriedades

psicométricas (Ciconelli, 2003).

As crenças, atitudes, costumes, comportamentos e hábitos sociais são

característicos de cada sociedade e ditam os comportamentos que refletem a cultura de

um povo. Dessa forma, a tradução de uma escala deve primar pela linguagem simples e

clara, mantendo-se equivalente no que tange aos seus conceitos culturais (Ciconelli,

Ferraz, Santos, Meinão & Quaresma, 1999).

Metodologicamente, a tradução de um instrumento deve ser feita por, pelo

menos, dois tradutores independentes e cientes do objetivo da tradução. Um comitê de

especialistas conhecedores da finalidade do instrumento e dos conceitos a serem

analisados deve produzir a versão final do instrumento, baseado nas traduções e nas

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backtranslation, comparando os resultados entre si (Duarte, Myiazaki, Cicconelli &

Sesso, 2003).

O objetivo deste trabalho é apresentar o processo de tradução e adaptação da

University Rhode Island Change Assessment (URICA) para jogadores patológicos a

partir do processo de tradução – retradução, e de acordo com parecer dos juízes

especialistas. A viabilidade deste instrumento no Brasil, considerando-se as

particularidades de cada comportamento dependente, poderá auxiliar na elaboração de

estratégias de intervenção mais adequadas e eficazes no campo dos comportamentos

dependentes, e principalmente no avanço de estudos sobre o tratamento do Jogo

Patológico.

Método

Trata-se de um estudo de instrumental (Carretero-Dios & Perez, 2005).

Instrumentos

• Entrevista estruturada, contendo dados sócio-demográficos e critérios

diagnósticos para avaliar o Jogo Patológico, de acordo com DSM-IV-TR (APA, 2002).

• University Rhode Island Change Assessment- URICA ((McConnaughy,

Prochaska e Velicer, 1983) que mede os estágios motivacionais e a prontidão para

mudança. É uma escala likert, com 24 itens na sua versão reduzida, onde são atribuídos

pontos de 1 (discordo totalmente) à 5 (concordo totalmente), distribuídos em 4

subescalas: Pré-contemplação (itens 1,5,7,16,19 e 22), Contemplação (itens 3,6,9,13, 14

e 17), Ação (2,4,8,11, 18,e 23) e Manutenção (10,12,15,20,21 e 24).

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Procedimentos

O processo de tradução e adaptação da URICA para Jogo patológico

compreendeu as fases descritas a seguir:

Tradução do instrumento: a University of Rhode Island Change Assessment

Scale (URICA) foi traduzida da Língua Inglesa para a Língua Portuguesa. O trabalho

foi realizado por uma profissional, graduada em Letras, habilitada em Língua Inglesa e

conhecedora do objetivo da tradução.

Aplicação do instrumento traduzido: a URICA foi aplicada em 10 sujeitos,

jogadores compulsivos, dos sexos masculino e feminino, entre 20 e 70 anos de idade,

com no mínimo 5 anos de estudo, a fim de verificar dúvidas ou expressões idiomáticas

confusas. Os sujeitos não tiveram dificuldade em compreender o que estava sendo

proposto e responderam o questionário entre 15 e 20 minutos.

Back-translation: a partir da primeira tradução, o instrumento foi vertido para o

idioma de origem. O trabalho foi realizado por um profissional habilitado em Língua

Inglesa, com fluência e domínio do idioma, desconhecedor do objetivo da tradução.

Comitê de juízes especialistas: todo o processo de tradução e back-translation

foi encaminhado para um comitê composto por dois psicólogos e um psiquiatra

experientes e conhecedores do tema da pesquisa, da finalidade do instrumento e dos

conceitos a serem analisados. O trabalho dos dois primeiros juízes consistiu em detectar

possíveis divergências nas traduções, cabendo-lhes comparar os resultados entre si, e

verificando se os itens da escala referiam-se ou não ao tema que se propunha a medir. O

parecer do terceiro juiz serviu de desempate para os itens que não obtiveram

concordância entre o juiz 1 e o juiz 2. A partir dos pareceres, produziu-se a versão final

do instrumento que foi submetida, também, a um dos autores da escala, o Prof. Carlo

DiClemente, que revisou e aprovou o instrumento para a aplicação.

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Estudo piloto: a versão final em português foi aplicada em 25 sujeitos com as

características da amostra pesquisada. O objetivo desta aplicação foi verificar, do ponto

de vista dos participantes, se o instrumento também estava adequado tanto gramatical

quanto funcionalmente. Foram excluídos do estudo os sujeitos sem a escolaridade

mínima estabelecida ou sem as condições de compreender o que estava sendo proposto

no preenchimento dos instrumentos de pesquisa.

O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

PUCRS e todos os entrevistados preencheram o consentimento livre e esclarecido

elaborado para esta pesquisa.

Resultados

Os resultados das avaliações de tradução e back-translation, juntamente com os

pareceres dos juízes especialistas, indicaram alguns problemas em alguns itens da

URICA que precisavam de ajustes, no sentido de melhor adequar as frases traduzidas à

Língua Portuguesa coloquial.

O quadro1 mostra a primeira tradução do inglês- português comparando-a com a

versão final da URICA- adaptação brasileira para Jogo patológico.

A primeira modificação realizada diz respeito à inclusão da expressão “hábito de

jogar” logo no cabeçalho da escala. A URICA vem sendo utilizada de forma genérica

para todos os comportamentos de dependência e por isso utilizava a palavra

“problema”, o que pareceu ser uma questão confusa, principalmente para aqueles

sujeitos que apresentam mais de um comportamento dependente, por exemplo: jogar e

beber. Por sugestão dos juízes, optou-se pela inclusão de expressões que se referem ao

hábito de jogar nas questões 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11,12, 13, 14, 16, 18, 19, 20, 21, 22,

23 e 24.

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Na questão 7, retirou-se a palavra “defeitos”, mantendo o foco na questão

relacionada ao jogo. Entendendo-se que não se trata de algum problema inerente ao

caráter do sujeito, o foco no comportamento relacionado ao hábito de jogar foi mantido.

Na questão 13, a expressão “eu gostaria de saber melhor” foi substituída pela

expressão “eu gostaria de ter mais idéias” para uma melhor compreensão do item, assim

como na questão 14 substituiu-se “Talvez algo ou alguém seja capaz de me ajudar” por

“eu espero poder encontrar mais razões para mudar meu comportamento”, por sugestão

do autor da escala.

Na questão 19, a expressão “Todo este papo de psicologia” foi substituída por

“toda esta conversa”, porque a URICA nem sempre foi aplicada em locais de

tratamento.

A análise estatística descritiva dos itens mostrou uma concordância entre os

juízes 1 e 2 de 75%, significando que 18 itens não causaram nenhuma dúvida sobre o

que se propuseram a medir. Para os 6 itens restantes, utilizou-se o critério de avaliação

por um terceiro juiz (J 3), que determinou qual item se aplicava melhor a situação. Os

itens que não apresentaram concordância de 100% entre os juízes 1 e 2 foram: 3 (C), 6

(C), 7 ( PC), 8 (A), 15 (M) e 16 (PC). Nestes 6 itens, o terceiro juiz optou pela versão

final como sendo a mais apropriada.

Cabe ressaltar, que as discordâncias entre os juízes 1 e 2 diziam respeito

exclusivamente às traduções, visto que houve 100% de concordância entre os juízes

sobre o construto que cada item se propunha a medir.

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Quadro 1 - Comparação da primeira versão traduzida do inglês-português e a versão

final URICA – Jogo 1ª Tradução, a partir do original: Versão final

University of Rhode Island Change Assessment - URICA Data: ___/___/___ Cada declaração abaixo descreve como uma pessoa que está iniciando uma terapia ou tentando resolver problemas pessoais pode estar se sentindo em relação a isto. Por favor, a cada afirmação marque a alternativa em que você concorda ou discorda. Em cada questão faça a sua escolha baseado em como você está se sentindo agora e não no que você sentiu no passado ou gostaria de estar sentindo. Em todas as afirmativas que se referem ao seu “problema”, responda o que está relacionado a _____________________. Existem cinco respostas possíveis para cada item do questionário: 1= Discordo plenamente 2= Discordo 3= Indeciso 4= Concordo 5= Concordo plenamente. Circule o numero que melhor descreve a sua opinião em cada item.

University of Rhode Island Change Assessment- URICA- adaptação brasileira para Jogo patológico Data: ___/___/___ Cada declaração abaixo descreve como uma pessoa que está iniciando uma terapia ou tentando resolver problemas pessoais pode estar se sentindo em relação a isto. Por favor, a cada afirmação marque a alternativa em que você concorda ou discorda. Em cada questão faça a sua escolha baseado em como você está se sentindo agora e não no que você sentiu no passado ou gostaria de estar sentindo. Em todas as declarações que se referem ao seu “problema”, responda o que está relacionado ao seu hábito de jogar. Existem cinco respostas possíveis para cada item do questionário: 1= Discordo totalmente 2= Discordo 3= Indeciso 4= Concordo 5= Concordo totalmente Circule o numero que melhor descreve a sua opinião em cada item.

1. Não acho que eu seja o problema principal, portanto não vejo razão para mudar.

Eu não estou com problemas com relação ao meu hábito de jogar, não vejo razão para mudar.

2. Finalmente eu estou tentando resolver o meu problema.

Finalmente eu estou tentando resolver o meu problema com o jogo.

3. Eu tenho pensado em mudar algo na minha vida.

Eu estive pensando que eu devia mudar algo com relação ao meu hábito de jogar.

4. Há momentos que o meu problema fica difícil de suportar, mas eu estou tentando lidar com isto.

As vezes é difícil ficar longe do jogo, mas estou tentando.

5. Por que mudar se eu não tenho nenhum problema? É pura perda de tempo no meu entender.

Por que mudar se eu não tenho nenhum problema com o jogo? Na minha opinião é perda de tempo.

6. Eu espero ser capaz de me entender melhor. Eu espero poder entender melhor meu problema com relação ao jogo.

7. Eu sei que tenho defeitos, mas nada que necessite realmente ser mudado.

Eu talvez tenha problemas com relação ao meu hábito de jogar, mas não há nada em que eu realmente precise mudar

8. Eu realmente estou tentando mudar. Eu realmente estou tentando mudar meu comportamento com relação ao jogo.

9. Eu sei que tenho um problema e que preciso tratá-lo.

Eu sei que tenho um problema com meu hábito de jogar e que preciso tratá-lo.

10. Eu não estou bem como eu esperava, e eu quero poder reunir forças para evitar uma recaída.

Eu não estou conseguindo me sentir tão bem como eu esperava, e eu quero poder ter forças para evitar uma recaída.

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11. Mesmo não conseguindo fazer grandes mudanças, eu pelo menos estou tentando lidar com o meu problema.

Mesmo não conseguindo fazer grandes mudanças, eu pelo menos estou tentando lidar com o meu problema com o jogo.

12. Eu pensei que quando eu conseguisse resolver o meu problema, eu ficaria livre dele, mas tem vezes que me sinto lutando contra ele novamente.

Eu pensei que quando eu conseguisse resolver o meu problema com o jogo, eu ficaria livre dele, mas tem vezes que me sinto lutando contra ele novamente.

13. Eu gostaria de saber melhor como resolver o meu problema.

Eu gostaria ter mais idéias de como solucionar o meu problema com o jogo.

14. Talvez algo ou alguém seja capaz de me ajudar.

Eu espero poder encontrar mais razões para mudar meu comportamento com relação ao jogo.

15. Eu sinto que no momento estou precisando de uma ajuda para que eu não tenha nenhuma recaída.

Neste momento, estou precisando de uma ajuda extra para me auxiliar a manter as mudanças que consegui.

16. Eu talvez até seja parte do problema, mas não é assim que vejo a situação.

Talvez eu tenha problemas com o jogo, mas não creio nisso.

17. Espero que alguém me aconselhe direito. Espero que alguém me aconselhe corretamente. 18. Ao invés de somente falar sobre o problema, eu estou tentando resolvê-lo.

Ao invés de somente falar sobre o problema com o jogo, eu estou tentando resolvê-lo.

19. Todo este papo de psicologia é muito chato. Por que as pessoas simplesmente não esquecem que têm problemas?

Toda esta conversa é muito chata. Por que as simplesmente não esquecemos os problemas com o jogo?

20. Eu tenho me esforçado bastante para evitar uma recaída.

Eu tenho me esforçado bastante para evitar uma recaída do meu hábito de jogar.

21. É frustrante, eu achava que havia resolvido o meu problema, mas, infelizmente, sinto que estou tendo uma recaída.

Estou frustrado porque pensava que tinha resolvido meu problema com o jogo, mas não resolvi. Sinto que estou tendo uma recaída.

22. Se todo mundo tem problemas, porque perder tempo pensando neles?

Tenho alguns problemas com relação ao jogo, mas porque perder tempo pensando neles?

23. Eu realmente estou trabalhando para resolver o meu problema.

Estou trabalhando ativamente no meu problema com relação ao jogo.

24. Depois de tudo que eu tentei para ficar bem, ás vezes me sinto inseguro e com medo de ter uma recaída.

Depois de tudo que eu já fiz para tentar mudar meu problema com o jogo, me sinto inseguro e com medo de ter uma recaída.

Discussão dos Resultados

Qualquer processo de tradução está sujeito a inúmeras distorções que podem

invalidar um instrumento. Vários autores (Meyer, Carvalhal & Pechansky, 2003; Fleck,

Leal, Louzada et al., 1999) recomendaram enfaticamente que, quando uma escala é

utilizada em uma linguagem distinta da original, deve passar por um processo de

tradução, de adaptação cultural e de validação precisos.

Em relação ao processo de tradução e adaptação da URICA, a escala manteve,

de forma geral, as condições avaliadas em outros estudos, capturando os diferentes

níveis motivacionais na população estudada. Na versão final da URICA, optou-se por

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conservar as iniciais do nome original da escala em inglês e acrescentou-se “adaptação

brasileira para jogo patológico”, com o intuito de facilitar possíveis buscas em bases de

dados.

No que diz respeito à validade semântica, a URICA - adaptação brasileira para

Jogo Patológico – demonstrou boa equivalência semântica e conceitual, conforme os

resultados dos juízes especialistas, sendo que todo o processo fundamentou-se nos

estudos de Ciconelli (2003) e Pasquali (1998). O processo de adaptação semântica será

seguido de validação psicométrica em estudo posterior e direcionado para a população

clínica, tendo como foco o tratamento para o Jogo Patológico.

A URICA é um dos poucos instrumentos que medem estágios motivacionais

validados no Brasil, e sua utilidade clínica e em pesquisa é inquestionável. Elaborar

estratégias terapêuticas que favoreçam a adesão aos tratamentos para jogadores

patológicos, utilizando instrumentos adaptados e validados a realidade e a cultura

brasileira, pode representar um grande avanço na área das dependências e na abordagem

destes transtornos.

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SEÇÃO III: ESTUDO EMPÍRICO

EVIDÊNCIAS DE VALIDAÇÃO DA UNIVERSITY ROHDE ISLAND

CHANGE ASSESSMENT (URICA) PARA JOGADORES PATOLÓGICOS

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Resumo

Evidências de Validação da University Rohde Island Change Assessment

(URICA) para Jogadores Patológicos

Objetivo: A University of Rhode Island Change Assessment Scale (URICA) é

um instrumento de 24 itens, auto-aplicável, utilizado para avaliar os estágios

motivacionais e a prontidão para mudança em diversos comportamentos. O objetivo

deste trabalho foi estudar as propriedades psicométricas desta escala para o

comportamento de Jogo Patológico e viabilizar seu uso no Brasil. Métodos: O

questionário foi traduzido do original em inglês para o português, utilizando processo de

tradução-retradução (inglês-português-inglês), seguido de avaliação de um comitê de

especialistas (interjuízes) e aprovação de um dos autores da escala. Foram estudadas as

propriedades psicométricas do instrumento em uma amostra de 69 sujeitos com

diagnóstico de Jogo Patológico, segundo critérios diagnósticos do DSM-IV-TR. Os

sujeitos foram avaliados em ambulatórios de atendimento em Porto Alegre e São Paulo,

e grupos de jogadores anônimos, entre 2006 e 2008. Para o estudo de evidências de

validação da URICA foram analisados os indicadores de consistência interna e validade

convergente com a régua de prontidão (medida analógico-visual), além de instrumentos

como: SOGS (South Oaks Gambling Screen), Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e

Inventário de Depressão de Beck (BDI). Resultados: A análise dos resultados permitiu

identificar uma adequada confiabilidade da URICA total, versão 24 itens (α= 0,82) e

correlação significativa entre a régua de prontidão e os estágios de pré-contemplação

(r= -0,305; p= 0,11) e ação (r=0,301; p=0,12).

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Conclusões: A versão em português da URICA mostrou ser útil e confiável para

avaliação da motivação para mudança, considerando os estágios motivacionais e a

prontidão para mudar entre os jogadores patológicos.

Palavras-Chave: URICA, confiabilidade, motivação para mudança, jogo

patológico

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Introdução

A adesão ao tratamento é o foco principal em qualquer abordagem terapêutica

para jogadores patológicos. Sabe-se que uma das variáveis mais importantes implicadas

na adesão é a motivação para mudança (Hodgins, 2005; Toneatto & Millar, 2004).

Jiménez et al., (2005) examinando a efetividade das modalidades terapêuticas grupais

entre jogadores patológicos, evidenciou que a maior taxa de abandonos e recaídas se

produzia nas primeiras cinco semanas de tratamento. Para estes autores, o maior esforço

considerando a adesão, deveria acontecer no primeiro mês e meio de tratamento e teria

que levar em conta aspectos fundamentais como ser pouco intrusivo no estilo de vida

dos pacientes e orientar o trabalho nos fatores de motivação para mudança deste

comportamento.

Prochaska, DiClemente e Norcross (1992) afirmam que avaliar a motivação para

mudança, independentemente do tratamento utilizado, parece ser um aspecto importante

para a utilização de intervenções adequadas aos pacientes. O resultado de uma correta

avaliação implica melhores estratégias para a promoção da motivação para mudança de

comportamento.

O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento (Prochaska, 1979) fez

uma contribuição importante no entendimento do processo de motivação que envolve

mudança de comportamentos-problema Este modelo tem como principal pressuposto

que as mudanças bem sucedidas dependem da aplicação de estratégias certas

(processos) na hora certa (estágios) (Prochaska, DiClemente & Norcross, 1992).

O modelo transteórico foca a mudança intencional, ou seja, a tomada de decisão

que o indivíduo realiza. A mudança comportamental acontece ao longo de um processo,

no qual as pessoas passam por diversos níveis de motivação para mudança. Estes níveis

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estariam representados por estágios de motivação para a mudança, que representam a

dimensão temporal do modelo transteórico, e permitem que entendamos quando

mudanças particulares, intenções e reais comportamentos podem acontecer

(Szupszynski & Oliveira, 2008). Os estágios são descritos pela literatura de forma bem

definida e identificável. São eles: pré-contemplação, contemplação, determinação, ação

e manutenção.

Outro conceito fundamental relacionado ao estudo da motivação é o de prontidão.

Segundo DiClemente, Schlundt e Gemmell (2004), existem dois aspectos distintos

relacionados à prontidão: prontidão para mudança e prontidão para tratamento. A

prontidão para mudança foi conceituada como a integração entre a conscientização da

pessoa sobre seu problema, somada a uma confiança em suas habilidades para mudar. Já

a prontidão para tratamento focaliza a motivação para procurar ajuda, para iniciar,

manter e terminar um tratamento. Assim, um jogador patológico pode procurar

tratamento e iniciá-lo (alta prontidão para tratamento), sem estar realmente pronto para

permanecer em abstinência do jogo (baixa prontidão para mudar o comportamento

problema).

Castro e Passos (2005), em um trabalho de revisão da literatura, identificaram

quatro escalas com parâmetros psicométricos variando de bom a excelente, e em

condições de serem utilizadas para avaliação da motivação para tratamento e predição

de adesão ao mesmo: University Rhode Island Change Assessment – URICA

(McConnaughy, Prochaska e Velicer, 1983), Stages of Change Readiness and

Treatment Eargness Scale - SOCRATES (Miller & Tonigan, 1996), utilizada

especificamente para o comportamento de beber, Readiness to Change Questionnaire-

RCQ e Treatment Motivation Questionnaire - TMQ. Somente as duas primeiras

possuem versões validadas para o português.

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73

A University Rhode Island Change Assessment (URICA), desenvolvida por

McConnaughy, Prochaska e Velicer (1983), é uma escala de auto-relato que tem o

objetivo de avaliar os estágios motivacionais e a prontidão para a mudança nos

comportamentos de dependência. Foi criada inicialmente para estudar os problemas

relacionados ao tratamento do tabagismo e, atualmente, empregada de forma genérica

para todos os problemas associados a comportamentos de dependência. A URICA

possui, atualmente, três versões: uma composta por 32 itens, outra por 28 itens e uma

versão reduzida de 24 itens, que são divididos em quatro subescalas: Pré-contemplação,

Contemplação, Ação e Manutenção. As propriedades psicométricas desta escala, na

validação americana, em uma população de pacientes ambulatoriais, apresentou

coeficiente alfa de Cronbach variando de 0,88 a 0,89 (McConnaughy, Prochaska &

Velicer ,1983).

No Brasil, já existe uma versão adaptada da URICA de 32 itens para alcoolistas

(Figlie, Dunn & Laranjeira, 2004) e sua aplicabilidade e uso para diferentes

comportamentos pode ser verificada em inúmeros estudos nacionais e internacionais.

Petry (2005), em um estudo americano, avaliou as propriedades psicométricas da

URICA em uma amostra de 234 jogadores patológicos em início de tratamento. A

consistência interna das subescalas foi considerada boa, variando de 0,74 a 0,88.

Realizaram análise de clusters, identificando quatro perfis de resposta variando de

ambivalentes a modificadores ativos, e concluíram que a URICA é um instrumento

importante na identificação dos estágios motivacionais e na predição de resultados.

A validade preditiva dos estágios motivacionais em dependentes de heroína foi

investigada em outro estudo americano (Henderson, Saules & Galen, 2004) que utilizou

a URICA para predizer a adesão ao tratamento, a partir de amostras urinarias negativas

de heroína e ou cocaína durante um programa de 29 semanas. O estudo demonstrou que

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os pacientes que pontuaram mais no estágio de manutenção, apresentaram amostras de

urina livres de cocaína ou heroína e maior adesão ao tratamento.

Callaghan et al., (2005) utilizaram a URICA para avaliar o estagio motivacional

de pacientes em um programa para adolescentes usuários de drogas. O estudo

comprovou a validade do Modelo Transteórico considerando que os adolescentes que

tinham pontuação elevada na pré-contemplação representavam substancialmente o

numero de desistências do programa.

Em decorrência da utilidade da URICA tanto na área de pesquisa como na área

clínica, o objetivo deste trabalho é estudar as propriedades psicométricas da University of

Rhode Island Change Assessment (URICA) no comportamento de jogo patológico e

viabilizar seu uso no Brasil, bem como conhecer o perfil do jogador patológico e a

prontidão para mudança deste comportamento nesta amostra.

Método

Delineamento

Foi realizado um estudo transversal, metodologia quantitativa.

Participantes

Para a validação da URICA foi selecionada uma amostra de 69 sujeitos que

estavam ingressando em tratamento ambulatorial (entrevista de triagem) ou participando

de grupos de Jogadores Anônimos. A coleta dos dados foi realizada de janeiro de 2006

a julho de 2008. Foram convidadas de forma consecutiva todas as pessoas que

preenchiam os critérios de inclusão (ser jogador patológico, ter entre 20 e 70 anos, sexo

masculino ou feminino e no mínimo, cinco anos de estudo). Os critérios de exclusão

foram: transtorno psiquiátrico grave, psicose, risco de suicídio, déficits cognitivos

severos ou intoxicação por substâncias psicoativas.

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Instrumentos

• Entrevista Estruturada: A coleta de dados sóciodemográficos realizou-se

mediante entrevista estruturada construída para o estudo, incluindo-se: idade, sexo,

situação laboral, nível de escolaridade, renda familiar, classe socioeconômica, uso de

álcool e/ou drogas, familiar com problemas relacionados a drogas e/ou álcool e familiar

com problemas relacionados ao jogo. Algumas destas questões foram incluídas após o

estudo piloto que foi realizado com 25 sujeitos e concluído em junho de 2007.

• Entrevista clínica semi-estruturada conforme DSM-IV-TR (APA, 2002) para

avaliar critérios diagnósticos para Jogo Patológico;

• University of Rhode Island Change Assessment Scale - URICA

(McConnaughy, Prochaska e Velicer, 1983): é uma escala de auto-preenchimento que

contém 32 itens na versão original e 24 itens na sua versão reduzida, desenvolvida para

medir a prontidão para mudança e o estágio motivacional no qual o sujeito se encontra.

Constituí-se de quatro subescalas que abrangem os seguintes estágios de mudança

comportamental: Pré-contemplação (6 itens), Contemplação (6 itens), Ação (6 itens) e

Manutenção (6 itens). A distribuição dos itens para cada subescala é a seguinte: Pré-

Contemplação consta dos itens 1,5,7,16,19 e 22 ; a Contemplação compreende os itens

3,6,9,13, 14 e 17; a Ação: 2,4,8,11, 18,e 23 e a Manutenção que é composta pelos itens

10,12,15,20,21 e 24. A pontuação é obtida pela soma de pontos de cada subescala (1-

discordo totalmente, 2-discordo, 3- indeciso, 4- concordo, 5- concordo totalmente) e o

escore de prontidão para mudança avaliado através da equação: Média de pontos da

Contemplação (C) + Média de pontos da Ação (A) + Média de pontos da Manutenção

(M) – Média de pontos da Pré-contemplação (PC) = Escore de Prontidão (EP).

DiClemente et al., (2004) utilizaram esta medida derivada dos escores das subescalas

para formar um só escore que convencionaram chamar Prontidão para Mudança, sendo

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um conceito mais genérico do que o de estágios. É um instrumento simples de

administrar, rápido e fácil de responder, o que parece ser uma das causas para sua ampla

utilização em ambiente clínico e de pesquisa. Sua aplicabilidade mostra-se útil no

sentido de fornecer informações sobre a motivação para modificar comportamentos e,

com isso, guiar as abordagens e estratégias de tratamento adequadas. A versão em

português da URICA foi construída mediante o procedimento de tradução-retradução

por especialistas bilíngües português-inglês de forma independente. A versão final foi

apresentada a um comitê de juízes especialistas que avaliaram as versões. Ajustes na

linguagem foram necessários como conseqüência das sugestões dos juízes. Todo o

processo de validação semântica está descrito na seção II.

• SOGS (South Oaks Gambling Screen): Os dados relativos ao padrão de jogo

e evolução clínica foram obtidos através do questionário SOGS (South Oaks Gambling

Screen). Esta escala foi validada e adaptada para a população brasileira por Oliveira,

Silva e Silveira (2002), com o objetivo de discriminar jogadores patológicos de

jogadores não-patológicos, como também diferenciar grupos clínicos de não-clínicos e

identificar graus distintos de gravidade do hábito de jogar (jogador patológico, jogador

social e não tem problemas com o hábito de jogar). A escala original tem 20 itens, e 5 é o

ponto de corte para avaliar se a pessoa é um provável jogador patológico.

• Régua de Prontidão (Velásquez, Maurer, Crouch & DiClemente, 2001): é

uma técnica analógico-visual, simples e eficaz, para averiguar em qual estágio de

mudança o sujeito se encontra. O avaliador pergunta ao sujeito qual dos pontos da régua

melhor reflete o quão pronto ele está, no presente momento, para mudar seu

comportamento problema. Ele indicará, de 0 a 10, considerando que 0 indica que o

sujeito não está pronto de modo algum para mudar e 10 que ele está ativamente

trabalhando na mudança de seu comportamento.

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• nventário de Ansiedade de Beck - BAI e Inventário de

Depressão de Beck - BDI (Cunha, 2001): Após o término do estudo piloto realizado

com 25 sujeitos em 2007, observou-se a importância de avaliar sintomas de ansiedade e

depressão, visto que estas variáveis poderiam interferir na motivação dos sujeitos. A

partir disto, para avaliar sintomas de ansiedade e depressão, foram utilizados o

Inventário de Beck - Beck Anxiety Inventory (BAI) para medir a intensidade dos

sintomas de ansiedade e para os sintomas de depressão o Beck Depression Inventory

(BDI). Ambos são compostos por 21 itens, nos quais o indivíduo deve pontuar

conforme a intensidade dos sintomas que o afetam, numa escala de quatro pontos. O

escore total é obtido pelo somatório dos escores de cada item.

Procedimentos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS (ANEXO

A). Todos os participantes realizaram os procedimentos éticos de pesquisa, assinando o

termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO B) e realizaram o preenchimento

dos instrumentos orientados pelo pesquisador ou auxiliar de pesquisa previamente

treinado. Também foi realizado um estudo piloto para a viabilização deste projeto. A

coleta de dados foi realizada em locais de atendimento ambulatorial (entrevista de

triagem) e no Grupo de Jogadores Anônimos da Cruz Vermelha de Porto Alegre.

Análise dos Dados

Os dados foram tabulados e as análises estatísticas foram realizadas pelo

Programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 11.5. A análise

exploratória dos dados foi realizada através de medidas descritivas para os dados

sociodemográficos: médias, desvio-padrão, freqüências. Na validação da URICA, para

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avaliar a consistência interna foi utilizado o coeficiente alfa de Cronbach e o coeficiente

de correlação Linear de Pearson. Foi utilizado para análise de comparações de grupo o

Test T de Student e o Qui-Quadrado. Para amostras independentes e para a comparação

das médias da escala URICA foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA). O nível de

significância utilizado foi de 5%.

Resultados

Os participantes deste estudo tinham entre 23 e 68 anos de idade, média de 44,54

anos (DP= 10,15), 52,2% do sexo masculino e 47,8% do sexo feminino e 85,5% possuía

mais de nove anos de estudo. Segundo os critérios de classificação econômica Brasileira

(IBGE, 2004), 50,7% da amostra encontrou-se predominantemente na classe média- C e

23,2% na classe média baixo - classe D.

A renda mensal familiar variou de R$ 320,00 até R$ 14.000,00 com média de

R$2.699,28 (DP= 2371,65). Com relação ao estado civil, 53,6% é casado e 31,9% é

solteiro. Quanto às atividades que exercem 76,8% dos sujeitos estão trabalhando

atualmente.

Todos os participantes possuem diagnóstico de Jogo Patológico, segundo os

critérios do DSM-IV-TR, são provenientes das cidades de Porto Alegre e São Paulo e

foram coletados em locais de atendimento ambulatorial (60,9%) e grupos de Jogadores

Anônimos (39,1%). A descrição detalhada das variáveis sócio-demográficas da amostra

encontra-se na tabela 1.

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Tabela 1 - Distribuição da amostra, segundo dados sócio-demográficos (n=69).

Dado sócio-demográficos % n média (min - máx) DP

idade

44,54 10,15

(23 -68)

sexo

masc 52,2 36

fem 47,8 33

Escolaridade

5 a 8 anos 14,5 10

9 a 11 anos 42,0 29

acima de 12 anos 43,5 30

Situação trabalho

trabalha 76,8 53

não trabalha 23,2 16

Nível sócio-econômico

Classe A 2,9 2

Classe B 20,3 14

Classe C 50,7 35

Classe D 23,2 16

Classe E 2,90 2

Estado Civil

Solteiro 31,9 22

Casado 53,6 37

Separado 13,0 9

Viúvo 1,5 1

Regime tratamento

Ambulatório 60,9 42

JA 39,1 27

Renda mensal

R$ 2.699,28

R$

2.371,65

(R$ 320,00 - R$ 14.000)

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Resultados da SOGS – Características do padrão de jogo e histórico clínico

Da amostra estudada, 34,8% relataram que fazem uso de álcool e/ou tabaco.

Ainda, com relação ao uso de drogas e álcool, 34,8% revelaram ter tido pai ou mãe com

problemas com relação ao uso de álcool ou drogas ao longo da vida. Do total da

amostra, é importante salientar que 29,2% disseram que estão fazendo uso de medicação

psiquiátrica atualmente, tendo recebido diagnóstico de depressão ou ansiedade por

profissionais médicos.

Com relação ao hábito de jogar, a média de idade de início do jogo com apostas

em loterias (sena, jogo do bicho, loto...) é 22,31 anos (DP=9,43); já a média de idade de

início do jogo de bingo é de 31,11 (DP=11,03) e do videopôquer é de 32,89 anos

(DP=12,38). Da amostra estudada, os tipos de jogos de preferência relatados pelos

sujeitos são: 82,6% videopôquer ou outras máquinas de jogos, 79,7% jogavam bingo e

88,4% apostavam em loterias (sena, jogo do bicho, loto) e 56,5% jogou cartas a

dinheiro. A figura 1 apresenta a distribuição da amostra com relação aos tipos de jogos

praticados na vida.

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88,40

82,6079,60

58,00 56,50

31,90 29,00 17,40 14,50

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

Valores em percentual

Loteria Videopokerou máq.

Eletrônicas

Bingo Esportes(bolão)

Cartas Cassino Jogoshabilidade(sinuca,golf, etc.)

Dados Cavalos

Tipos de jogos

Figura 1 – Distribuição da amostra quanto aos tipos de jogos praticados na vida

Quanto à abstinência, 57,1% tinham interrompido as apostas em jogos há menos de 30

dias, 22,9% não estavam jogando no período de 30 a 180 dias e somente 18,6% não

jogavam há mais de 6 meses.

Quando perguntados sobre a maior quantia de dinheiro utilizada no jogo em um

único dia, 56,5% da amostra disseram ter gasto entre R$ 250,00 e R$ 2.500,00, e 30,4%

disseram ter gasto mais de R$ 2.500,00 em um dia de jogo. Com relação aos pais já

terem tido problemas com jogo, 20,3% dos sujeitos disseram que o pai joga (ou jogava)

demais, 10,1% dos sujeitos disseram que tanto mãe quanto o pai tinham o hábito de

jogar.

Do total da amostra 97,1% reconhece ter problemas com o hábito de jogar.

Segundo os resultados da SOGS, os 98,6% dos sujeitos entrevistados foram

classificados como prováveis jogadores patológicos. A média de pontos na escala

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SOGS foi de 13,36 pontos e DP=3,32, sendo que os escores variaram entre 4 e 19

pontos.

O perfil da amostra quanto à intensidade dos sintomas de ansiedade e depressão

está descrito na tabela 2, considerando que os instrumentos utilizados (BAI e BDI)

foram incluídos após o estudo piloto. Neste caso, o número de sujeitos da amostra

totalizou n=44. Observou-se que, quanto à intensidade dos sintomas de ansiedade

61,4% dos sujeitos encontra-se com grau mínimo e leve. Quanto à intensidade dos

sintomas depressivos 50% da amostra possuem sintomas que vão de moderado à grave.

Tabela 2 - Intensidade dos sintomas de ansiedade (BAI) e depressão (BDI) na amostra

(n=44)

Categorias Freqüência (n) Percentual (%)

BAI BDI BAI BDI

Mínimo 11 9 25,0 20,5

Leve 16 13 36,4 29,5

Moderado 2 13 4,5 29,5

Grave 15 9 34,1 20,5

Total 44 44 100,0 100,0

A confiabilidade estimada, baseada no coeficiente alfa de Cronbach, para a

URICA – Adaptação Brasileira para Jogo patológico, na escala de 24 itens, foi de α=

0,82. Avaliou-se também a consistência interna para os 24 itens, distribuídos nas quatro

sub-escalas, apresentadas na tabela 3.

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Tabela 3 - Coeficiente Alfa de Cronbach das subescalas da URICA e da URICA

TOTAL (n=69)

Estágios da URICA Alfa de Cronbach nº. de itens

Pré-contemplação 0,62 6

Contemplação 0,71 6

Ação 0,85 6

Manutenção 0,83 6

Urica Total 0,82 24

Na tabela 4, observam-se os indicadores das qualidades dos itens, como

porcentagem de respostas em branco (esperada 0%), média (se espera que não inclua o

valor mínimo - máximo possível), correlação item-total corrigida pela eliminação do

item em questão (esperada > 0,10), e alfa de Cronbach (consistência interna) se é

eliminado o item. A maioria dos itens cumpriu os critérios de qualidade esperados e não

houve valores perdidos, o que indica que todas as perguntas puderam ser respondidas.

Tabela 4 - Resultados das respostas aos itens da escala URICA

Itens da URICA Média Desvio Padrão

Correlação item-total

corrigida*

Alfa de Cronbach com a

eliminação do Item **

URICA1 1,80 1,19 0,19 0,82

URICA2 4,32 0,86 0,28 0,81

URICA3 4,36 0,78 0,28 0,81

URICA4 4,38 0,97 0,66 0,80

URICA5 3,23 1,63 0,38 0,81

URICA6 4,38 0,78 0,45 0,81

URICA7 1,71 1,01 -0,18 0,83

URICA8 4,13 1,16 0,32 0,81

URICA9 4,54 0,93 0,47 0,81

URICA10 4,06 1,29 0,72 0,79

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URICA11 4,06 1,21 0,63 0,80

URICA12 3,97 1,28 0,46 0,80

URICA13 4,29 1,03 0,64 0,80

URICA14 4,41 0,92 0,38 0,81

URICA15 4,39 0,91 0,58 0,80

URICA16 2,16 1,43 -0,31 0,84

URICA17 3,51 1,42 0,31 0,81

URICA18 4,19 0,95 0,50 0,80

URICA19 3,46 1,56 0,45 0,80

URICA20 4,32 0,86 0,59 0,80

URICA21 3,38 1,47 0,35 0,81

URICA22 1,88 1,13 -0,01 0,82

URICA23 4,14 0,97 0,43 0,81

URICA24 3,94 1,32 0,56 0,80

*esperada> 0,10

** esperável ao eliminar o item: o alfa total (α=0,82) não aumenta.

Prontidão para Mudança

Analisando o escore de prontidão para mudança, sugere-se como ponto de corte

entre 9,08 e 11,33 pontos, indicando um baixo escore de prontidão abaixo de 9,08

(abaixo de 25%) e acima de 11,33 (acima de 75%) um alto escore de prontidão para

mudança. Na tabela 5, observa-se a distribuição do escore de Prontidão para mudança.

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Tabela 5 - Distribuição percentílica do escore de prontidão para mudança

Percentil

Escore de prontidão

para mudança

5 6,75

10 7,50

15 8,08

20 8,82

25 9,08

30 9,50

35 9,67

40 10,16

45 10,25

50 10,50

55 10,74

60 10,83

65 11,00

70 11,32

75 11,33

80 11,51

85 11,83

90 12,16

95 12,83

Validade convergente - Régua de Prontidão e URICA

Realizou-se a análise de correlação (Pearson) entre a régua de prontidão e a

URICA e foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre a Régua de

Prontidão e as subescalas Pré-contemplação (r= -0, 305; p= 0, 011), e Ação (r=0, 301;

p=0, 012) da URICA. A correlação da régua de prontidão com o estágio de Pré-

contemplação é uma correlação inversa, indicando que quanto maior a pontuação na

régua, menores os escores da URICA no estágio de Pré-Contemplação. A correlação

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entre a régua e o estágio de ação é direta e indica que quando uma medida aumenta, a

outra medida aumenta também.

Tabela 6 - Correlação entre a régua de prontidão e a URICA.

Estágios da URICA Régua p

Pré-contemplação -0,305 0,011

Contemplação 0,093 0,446

Ação 0,301 0,012

Manutenção -0,156 0,200

Prontidão 0,079 0,521

* Correlação de Pearson - nível de significância 5%

Estágios Motivacionais, Prontidão para Mudança e tipo de tratamento

A amostra foi subdividida em dois grupos, conforme o regime de tratamento

grupo ambulatorial (TA) e grupo de Jogadores Anônimos (JA). Utilizando-se o teste t,

verificaram-se diferenças significativas entre os grupos com relação motivação para

mudança no estágio de Pré-contemplação (p= 0, 005) e no estágio de ação (p=0, 044).

Na tabela 7, pode-se observar que no TA o escore médio foi significativamente maior

do que no grupo JA tanto no estágio de pré-contemplação quanto no estágio de Ação.

Tabela 7 – Comparação entre o TA e o Grupo JA quanto à motivação para

mudança

TA JA

Estágios da URICA média DP média DP p

Pré-contemplação 15,5 3,63 12,29 5,62 0,005

Contemplação 21,80 3,41 22,22 2,48 0,590

Ação 25,09 4,83 22,44 5,82 0,044

Manutenção 24,92 4,95 25,74 3,87 0,474

Prontidão 10,11 2,17 10,42 1,82 0,541

*Teste T de Student – nível de significância 5%

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87

Prontidão para mudança e diagnóstico de Jogo Patológico

A classificação dos sujeitos, segundo os critérios diagnósticos do DSM-IV-TR

(APA, 2002) e os resultados da SOGS indicou que o total da amostra (n=69) foi

classificado como sendo de jogadores patológicos.

Regime de Tratamento e tempo de Abstinência

Na tabela 8, pode-se observar que, segundo o teste qui-quadrado o grupo

ambulatório está associado ao período de tempo de abstinência de 30 a 180 dias,

enquanto o JA está significativamente associado a um tempo de abstinência superior a

180 dias (p= 0,04), indicando que, nesta amostra, o grupo de JA se manteve por um

período maior de tempo em abstinência.

Tabela 8 – Distribuição da amostra em relação ao Regime de tratamento e o

tempo de abstinência

Tempo de abstinência Local n %

até 30 dias TA

JA

26

14

61,9

51,9

Total 40 58

30 a 180 dias TA

JA

13

3

31

11,1

Total 16 23,2

mais de 180 dias TA

JA

3

10

7,1

37

Total 13 18,8

*Teste Qui-Quadrado (p= 0,04), nível de significância 5%

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88

Estágios de Motivação, prontidão para mudança e Tempo de abstinência,

Foi realizada uma análise de variância (ANOVA) e observou-se que não existe

diferença significativa entre o tempo de abstinência e os estágios motivacionais. Os

resultados estão descritos na tabela 9.

Tabela 9 - Distribuição das Médias e Desvios - padrão dos Estágios motivacionais,

prontidão em relação ao período de abstinência.

Estágios da URICA / tempo de abstinência n média DP p Pré-Contemplação

0,571

até 30 dias 40 14,35 5,33

30 a 180 dias 16 14,93 2,93

mais de 180 dias 13 13,07 4,73

Total 69 14,24 4,75

Contemplação

0,355

até 30 dias 40 22,40 3,06

30 a 180 dias 16 21,12 3,50

mais de 180 dias 13 21,69 2,46

Total 69 21,97 3,07

Ação

até 30 dias 40 25,57 4,66

0,758 30 a 180 dias 16 25,00 4,61

mais de 180 dias 13 24,53 4,35

total 69 25,24 4,55

Manutenção

até 30 dias 40 24,57 4,88

0,338 30 a 180 dias 16 24,37 5,54

mais de 180 dias 13 22,07 6,47

total 69 24,05 5,36

Prontidão

até 30 dias 40 10,44 2,01

0,611 30 a 180 dias 16 9,96 2,26

mais de 180 dias 13 9,92 1,88

total 69 10,23 2,03

* Análise de variância (ANOVA) - nível de significância 5%

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Estágios de motivação, Prontidão para Mudança e Sintomas de Ansiedade e

Depressão

Não houve correlação significativa entre a URICA, o BAI e o BDI, conforme

mostra a tabela 10, demonstrando que não há correlação entre os estágios motivacionais

(e a prontidão para mudança) e a gravidade dos sintomas de ansiedade e depressão.

Tabela 10 – Correlações da intensidade dos sintomas de anisedade, depressão

com os estágios motivacionais

Estágios da URICA/ BAI/ BDI r p

Pré-contemplação

BAI

BDI

-0,117

-0,166

0,448

0,283

Contemplação

BAI

BDI

0,073

0,117

0,638

0,450

Ação

BAI

BDI

0,099

-0,003

0,523

0,985

Manutenção

BAI

BDI

0,243

0,203

0,112

0,186

Prontidão

BAI

BDI

0,115

0,165

0,458

0,283

* Correlação de Pearson - nível de significância 5%

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Estágios de Motivação, Prontidão para mudança e Gênero

Segundo o teste T, observa-se na tabela 11, que não existe diferença significativa

entre o grupo de homens e o grupo de mulheres com relação aos estágios de motivação

para mudança e a prontidão nesta amostra.

Tabela 11 – Comparação das médias e desvios-padrão entre o gênero, os estágios

motivacionais e a prontidão para mudança.

Estágios da URICA/ Gênero n média DP p

Pré-contemplação

masculino

feminino

36

33

13,44

15,12

4,88

4,50

0,331

Contemplação

masculino

feminino

36

33

21,94

22,00

3,16

3,02

0,054

Ação

masculino

feminino

36

33

25,97

24,45

4,71

4,29

0,726

Manutenção

masculino

feminino

36

33

24,05

24,06

5,32

5,48

0,793

Prontidão

masculino

feminino

36

33

10,48

9,96

2,05

2,01

0,815

* Teste T de Student - nível de significância 5%

Discussão dos resultados

A University Rohde Island Change Assessment – URICA demonstrou, na

adaptação brasileira para jogadores patológicos, após o processo de validação

semântica, ser um instrumento adequado, de fácil e rápida aplicação e com bom nível de

confiabilidade. Os valores de alfa de cronbach tanto da escala total quanto das

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subescalas variaram de 0,62 a 0,85, o que é considerado por Rowland, Arkkelin e

Crisler (1991) uma consistência interna satisfatória, capaz de predizer que os itens

avaliam de forma consistente o mesmo construto. Os resultados encontrados nos

estudos de construção da escala e no estudo americano conduzido por Petry (2005) com

amostra de jogadores patológicos (0,74 a 0,88), comprovam a confiabilidade da URICA

em diferentes culturas.

Alguns autores já demonstraram a necessidade da elaboração de estudos

comparativos entre a URICA e instrumentos convergentes (Sutton, 2001). Callaghan e

colaboradores (2005) demonstraram dados significativos de validade da URICA quando

comparada aos resultados de algoritmos relacionados à intenção de mudar. A validade

convergente da pontuação total das subescalas da URICA- adaptação brasileira para

Jogo patológico com a régua de prontidão demonstrou correlações estatisticamente

significativas, embora consideradas de nível fraco, com os estágios de pré-

contemplação (correlação inversa) e ação. Devemos considerar que essas duas

subescalas (estágios motivacionais) demonstram a não intenção de mudar o

comportamento-problema (Pré-contemplação) e, a mudança do comportamento

problema (ação), respectivamente. Portanto, quanto menor a pontuação na régua mais

pré-contemplativo o sujeito está com relação à motivação para mudança do

comportamento, assim como, acredita-se que quanto maior a pontuação na régua, mais

motivado para modificar o comportamento problema o sujeito está. Diante dessas

características, a presença da correlação dessas subescalas e dos resultados da régua de

prontidão fica mais clara.

A amostra foi subdividida em dois grupos, conforme o regime de tratamento:

pacientes com atendimento ambulatorial (TA) e pessoas que freqüentavam grupos de

Jogadores Anônimos (JA). O TA apresentou escore médio maior do que o grupo JA

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tanto no estágio de Pré-contemplação quanto no estágio de ação. Podemos inferir que os

pacientes que buscaram atendimento ambulatorial, considerando que foram avaliados na

entrevista de triagem, podem estar procurando atendimento mais pelas conseqüências

negativas da gravidade do jogo, que perturbam a família, interferem no trabalho, na vida

financeira e nas relações sociais do que, de fato, pela motivação intrínseca para

modificar seu comportamento com vistas à abstinência do comportamento de apostar

em jogos de azar. Por outro lado, devemos lembrar que esta é uma escala de auto-relato,

com medidas subjetivas e isto pode ser uma limitação do instrumento. O fato deste

grupo também pontuar mais no estágio de ação, pode nos fazer refletir que a simples

procura pelo atendimento, que é fundamental, não quer dizer que a pessoa esteja

motivada para modificar seu comportamento com relação ao jogo, que ela está

preparada para ficar em abstinência.

Ainda, comparando os grupos TA e JA com relação ao tempo de abstinência,

observou-se que o grupo de JA está associado a um tempo maior de abstinência do que

o TA. Cabe ressaltar, que o JA trabalha com os doze passos de recuperação, filosofia

reconhecida mundialmente e utilizada, também, pelos alcoólicos anônimos (AA). A

abordagem de JA parece tem íntima relação com os processos que envolvem a

motivação, reforçando a idéia de que o trabalho terapêutico que tem como foco a

motivação do paciente pode ser muito útil. Alguns autores acreditam que a participação

em organizações do tipo “Jogadores Anônimos” é benéfica e a mais efetiva opção de

tratamento, por combater a negação e as projeções, demandando honestidade e

responsabilidade (Custer, 1984). Um estudo de seguimento realizado entre jogadores

patológicos previamente tratados antes do encaminhamento ao JA concluiu que o índice

de adesão ao JA e a abstinência são significativamente maiores entre os pacientes

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93

submetidos previamente a outras intervenções ou propostas de reabilitação (Taber et al.,

1987).

Diclemente, Schlundt e Gemmell (2004) afirmaram que a avaliação do nível de

prontidão para mudança, como uma medida mais dinâmica e abrangente do que a idéia

de estágios motivacionais pode ser muito útil. Eles avaliaram a prontidão motivacional

de pacientes ambulatoriais em início de tratamento para o alcoolismo e produziram três

grupos: um grupo de baixa prontidão, com uma pontuação média de 8,7, um grupo de

média prontidão, com média 10,5 e um grupo com alta prontidão, com média de 12,4.

Estes grupos estão em paralelo com os perfis da pré-contemplação, contemplação e

preparação descritos anteriormente. As médias da nossa amostra nos escores de

prontidão se assemelharam ao que foi descrito pelos autores supracitados e também

pode auxiliar na predição de resultados terapêuticos, como medida auxiliar.

O perfil do jogador apresentado neste estudo é semelhante a estudos anteriores

(Oliveira, 1997), onde chama a atenção a escolaridade e o nível sócio-econômico

elevado, se comparado a amostras de usuários de drogas. Nesta amostra, o grau de

escolaridade elevado, a renda mensal e o estado civil (a maioria constituiu família)

podem sugerir que o processo de instalação da dependência do hábito de jogar ocorre de

forma silenciosa e em ritmo diferente das demais dependências.

Outro dado importante é a idade de início do hábito de jogar que apresentou

médias de idade distintas para cada tipo de jogo (m= 22,31 anos DP=9,43 para loterias;

31,11anos para bingo DP=11,03 e do videopôquer é de 32,89 anos DP=12,38), o que

poderia ser explicado também pelo critério de acessibilidade (lotéricas, máquinas

eletrônicas estão em lugares públicos de fácil acesso), indicando que o início desta

prática na amostra pesquisada se dá no começo da idade adulta e que pode se tornar um

problema na vida do indivíduo, em período de tempo razoavelmente curto. Cabe

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ressaltar que nossa amostra não incluiu uma faixa etária mais jovem (adolescentes) por

entender que esta apresenta particularidades com relação ao hábito de jogar envolvendo

principalmente a internet e jogos eletrônicos. Reconhecemos a necessidade de

investigação nesta área pelas evidências de que a dependência do jogo entre os jovens é

um dado alarmante.

Com relação às comorbidades, vários estudos discutem a associação entre o Jogo

Patológico e outras patologias (Black & Moyer, 1998; Carvalho, Collakis, Oliveira &

Silveira, 2005; Crockford & El-Guebaly, 1998), entre elas, o Transtorno de Humor, o

Transtorno de Ansiedade, a Dependência do Álcool e outras drogas. Esta hipótese

parece relevante, já que o jogo poderia representar uma forma de evitar os afetos

desagradáveis. Alguns autores chamam a atenção para a existência de dois tipos

específicos de jogadores (Rossini & Tavares, 2008) O primeiro aparece

predominantemente em homens, e a motivação parece estar ligada aos ganhos

financeiros, as dívidas e a adrenalina envolvida. O segundo é mais comum em

mulheres, que jogam devagar para preencher o vazio, aliviar a angústia e a ansiedade e a

depressão. Neste estudo percebeu-se a necessidade de incluir instrumentos e medidas de

avaliação dos sintomas de depressão e ansiedade como forma de compreender melhor o

perfil do jogador patológico e de que forma estes sintomas poderiam interferir na

motivação para mudança. Não foram verificadas correlações entre a URICA e a

intensidade dos sintomas de ansiedade e depressão, embora a amostra tenha ficado

bastante reduzida para esta avaliação.

De qualquer forma, a intensidade dos sintomas de depressão aparece

descritivamente de forma significativa na amostra (50% tem grau moderado a grave), o

que não se verifica com relação aos sintomas de ansiedade. Podemos inferir que o

número significativo de mulheres na nossa amostra, diferente do que demonstra o

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estudo de Oliveira (1997) onde mais de 80% da amostra era do sexo masculino, pode ter

corroborado com este dado, considerando que as mulheres parecem jogar para evitar

afetos desagradáveis (depressão, vazio, solidão). O jogo em mulheres tem sido descrito

na literatura como tendo um curso progressivo mais rápido do que nos homens

(Martins, Lobo, Tavares & Gentil, 2002).

Em relação ao processo de validação da URICA, a escala manteve, de forma

geral as condições avaliadas em outros estudos, capturando os diferentes níveis

motivacionais da população estudada. Na construção do nome da versão final da

URICA optou-se por conservar as iniciais do nome da escala em inglês, acrescentando-

se “adaptação brasileira para Jogo Patológico”, com o objetivo de facilitar possíveis

buscas em bases de dados.

Considerações Finais

A URICA vem demonstrando há alguns anos sua aplicabilidade clínica, mas a

validação deste instrumento levando em consideração cada comportamento problema

(Jogo Patológico, comer compulsivo, drogas ilícitas...) pode significar um grande

avanço na maneira de trabalhar com a motivação para mudança, favorecendo a

elaboração de estratégias específicas para cada estágio, melhorando a adesão ao

tratamento, e auxiliando na capacidade de predizer resultados.

A importância de pesquisar estratégias que favoreçam a compreensão e adesão

aos tratamentos para jogadores patológicos é fundamental. Esta parece ser uma

patologia inicialmente silenciosa, dificultando que os indivíduos busquem tratamento,

pois o ciclo da doença favorece um grande equívoco, em que o jogador pensa que a

solução dos seus problemas virá do jogo, e não de um tratamento, e está na próxima

rodada, só depende da sorte...

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100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho propôs a tradução, a adaptação e estudos de evidência de validação

da University Rohde Island Change Assessment - URICA -adaptação brasileira para

jogo patológico. Os dados deste estudo indicam que a versão em português brasileiro

tem características psicométricas que permitem o uso desse instrumento em nossa

cultura.

No entanto, consideramos algumas limitações no trabalho que devem ser

discutidas.

A primeira delas foi a dificuldade de acessar a amostra desejada. O cálculo

amostral sugeria um número muito maior de sujeitos para a realização dos nossos

objetivos. No entanto, em 2007, ano que iniciou a nossa coleta, também foi o ano de

modificações políticas e legais com relação aos jogos de azar no Brasil. A nossa coleta

previa uma população não-clínica que freqüentava bingos e casas de jogos a fim de

diversificar a amostra e não ter o viés da busca do tratamento diretamente relacionado

com a motivação. No entanto, o fechamento destes locais tornou essa tarefa difícil e

nossa amostra restrita à população clínica. Sugere-se a ampliação de estudos que

incluam esta população com o objetivo de comparar os aspectos motivacionais em cada

amostra.

Ainda com relação à amostra, as pesquisas demonstram que a exploração

comercial profissionalizada dos jogos de azar contribui com a maior prevalência do

Jogo Patológico. Nos dois únicos ambulatórios especializados para o atendimento de

Transtornos do Controle dos Impulsos no país (AMJO da Universidade de São Paulo e

PROAD da Universidade Federal de São Paulo), houve um aumento significativo de

procura por atendimento no período em que o jogo era uma atividade permitida

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(Ballone, 2003). No entanto, quando a atividade comercial de exploração destes jogos

foi interrompida, a procura por atendimento diminuiu consideravelmente e a dificuldade

em encontrar nossa amostra também. O jogador patológico, apesar das graves

conseqüências que o jogo pode causar na sua vida, como perdas financeiras, problemas

legais no trabalho (roubo), problemas familiares e outros, apresenta uma patologia

“silenciosa”. O aspecto lúdico, recreacional que envolve o hábito de jogar serve, muitas

vezes como justificativa para a manutenção deste comportamento, apesar das

conseqüências negativas. A maioria dos jogadores patológicos parece não ter

consciência do problema e não procura ajuda. Daí ser fundamental elaborar estratégias e

programas informativos para auxiliar na prevenção desta patologia, inclusive

qualificando profissionais da área da saúde. Os profissionais conhecem pouco sobre o

transtorno, e sabe-se que o diagnóstico de JP é muito freqüente, por exemplo, entre

dependentes químicos, sugerindo que o rastreamento e tratamento destas comorbidades

podem representar maior sucesso na abordagem terapêutica.

Uma ampliação deste estudo poderia ser também representada pela inclusão de

instrumentos de avaliação da personalidade no sentido de identificar traços de

personalidade que poderiam interferir na motivação dos pacientes.

Espera-se que a adaptação brasileira da URICA possa ser um instrumento útil

não só para os pesquisadores como para os profissionais que trabalham com transtornos

dependentes, auxiliando-os na avaliação da motivação do paciente com o objetivo de

elaborar estratégias terapêuticas adequadas e tornar um pouco menos complicada e

difícil a manutenção da abstinência.

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REFERÊNCIAS

Ballone, G. J. (2003). Jogo Compulsivo ou Patológico. Psiqweb. Disponível em:

<http://gballone.sites.uol.com.br/temas/jogo.html> Acesso em: 12 abr. 2006.

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ANEXOS

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ANEXO-A Carta do Comitê de Ética

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ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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ANEXO C - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Data da Entrevista: ___/___/_____ Entrevistador:_____________Entrevista nº:_____________ Local:________________________________________________________________________ Iniciais: ______________________________________________________________________ Data de Nascimento: ___/___/_____ Idade:______ Telefone para contato: _________________ Estado Civil:_______________Escolaridade:______________________________________________ Renda familiar:________________________________________________________________ Critério de Classificação Econômica Brasil (Sistema de Pontos)

• Posse de itens Não tem Tem Televisão em cores 0 1 2 3 4 ou + Rádio 0 1 2 3 4 ou + Banheiro 0 1 2 3 4 ou + Automóvel 0 1 2 3 4 ou + Empregada mensalista 0 1 2 3 4 ou + Aspirador de pó 0 1 2 3 4 ou + Máquina de lavar 0 1 2 3 4 ou + Videocassete e/ou DVD 0 1 2 3 4 ou + Geladeira 0 1 2 3 4 ou + Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0 1 2 3 4 ou +

• Grau de Instrução do chefe de família Analfabeto / Primário incompleto 0 Primário completo / Ginasial incompleto/ Ensino Fundamental Inc.

1

Ginasial completo / Colegial incompleto/ Ensino Fundamental Completo /Ensino Médio Incompleto

2

Colegial completo /Ensino Médio Completo / Superior incompleto

3

Superior completo 5 • Cortes do critério Brasil

Você vive com: 1- ( )Pais 4- ( )Amigos 2- ( )Companheiro (a) 5- ( )Sozinho 3- ( )Filhos 6- ( )Outro:_____________________________

Trabalha atualmente? 1- ( )Sim 2- ( )Não Atividade:_______________________________

Você estuda? 1- ( )Sim 2- ( )Não Qual a série?__________________________________

Você tomou medicamentos nos últimos 5 dias? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não. Quais medicamentos?________________________________________________________________

CLASSE PONTOS TOTAL BRASIL (%) A1 30-34 1 A2 25-29 5 B1 21-24 9 B2 17-20 14 C 11-16 36 D 6-10 31 E 0-5 4

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Relato de doenças clínicas: _______________________________________________________ Você está realizando tratamento psicológico? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não Há quanto tempo? ______________________________________________________________ Você participa do JA (Jogadores Anônimos)? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não Há quanto tempo?______________________________________________________________

Você já usou álcool? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não

Quanto?_________________ Há quanto tempo?____________

Você já usou tabaco? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não

Quanto?_________________ Há quanto tempo?____________

Você ainda usa alguma substância psicoativa? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não

Na sua opinião, alguém da sua família tem problemas associados ao uso de drogas ou bebidas alcoólicas?

1- ( ) Sim 2- ( )Não

Quem? ________________ Quanto?____________________

Na sua opinião, alguém da sua família já teve problemas associados ao uso de drogas ou bebidas alcoólicas? 1- ( ) Sim 2- ( )Não

Quem? ________________ Quanto?____________________

1- Você acha que tem problemas com relação ao seu hábito de jogar?( ) Sim ( ) Não

2- Se pensa que tem, você deseja mudar este hábito nos próximos 6 meses? ( ) Sim ( ) Não

3- E nos próximos 30 dias já pensou em mudar seu comportamento com relação ao jogo?

( )Sim ( )Não

4- Se você pensa não ter mais problemas com relação ao jogo, há quanto tempo vem se

mantendo sem jogar? ( ) – de 6 meses ( ) + de 6 meses

Marque um ponto na linha que melhor expressa a sua resposta para a pergunta:

O quanto você se considera pronto neste momento para mudar o seu comportamento

com relação____________________________________

1 2 3 4 5 6 7 8 9

De modo algum

pronto para mudar

Pensando em mudar

Preparando-me para mudar

Trabalhando ativamente na mudança ou mantendo a

mudança

10

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ANEXO D - ESCALA SOGS

ESCALA SOGS (Lesieur & Blume, 1987) - tradução e adaptação (Oliveira, 1997)

1a. Indique com um X todas as formas de jogo você já praticou ao menos uma vez na sua vida

e sua idade quando jogou pela primeira vez.

TIPO DE JOGO Sim Não Idade 1a vez a. jogou cartas a dinheiro b. apostou em cavalos, galos ou outros animais (com ou sem um

agente de apostas - bookie)

c. apostou em esportes (participou de bolão) d. jogou jogos de dados a dinheiro (qualquer tipo de jogo) e. foi a cassino (legal ou não) f. jogou em números ou na loteria (jogo do bicho, loto, sena...) g. jogou bingo h. especulou na bolsa ou no mercado de commodities i. jogou VIDEOPOKER ou outras máquinas de jogo j. jogou boliche, golf, sinuca ou outro jogo de habilidade a

dinheiro

1b. Indique quais formas de jogo você praticou ao menos uma vez nos últimos 12 meses. TIPO DE JOGO Sim Não a. jogou cartas a dinheiro b. apostou em cavalos, galos ou outros animais (com ou sem um

agente de apostas - bookie)

c. apostou em esportes (participou de bolão) d. jogou jogos de dados a dinheiro (qualquer tipo de jogo) e. foi a cassino (legal ou não) f. jogou em números ou na loteria (jogo do bicho, loto, sena...) g. jogou bingo h. especulou na bolsa ou no mercado de commodities i. jogou VIDEOPOKER ou outras máquinas de jogo j. jogou boliche,golf, sinuca ou outro jogo de habilidade a

dinheiro

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1c. Indique a frequência das formas de jogo você praticou nos últimos 30 dias. TIPO DE JOGO Não

joguei Menos que uma vez por semana

1 ou mais vezes por semana

Diaria-mente

a. jogou cartas a dinheiro b. apostou em cavalos, galos ou outros

animais (com ou sem um agente de apostas - bookie)

c. apostou em esportes (participou de bolão)

d. jogou jogos de dados a dinheiro (qualquer tipo de jogo)

e. foi a cassino (legal ou não) f. jogou em números ou na loteria (jogo do

bicho, loto, sena...)

g. jogou bingo h. especulou na bolsa ou no mercado de

commodities

i. jogou VIDEOPOKER ou outras máquinas de jogo

j. jogou boliche,golf, sinuca ou outro jogo de habilidade a dinheiro

2. Qual foi a maior quantia de dinheiro que você já usou para jogar em um dia? 1.( ) Nunca joguei a dinheiro 2.( ) US$ 1 ou menos 3.( ) entre US$ 1 e US$ 10 4.( ) entre US$ 11 e US$ 100 5.( ) entre US$ 101 e US$ 1.000 6.( ) entre US$ 1.001 e US$ 10.000 7.( ) mais de US$10.000 3. Seus pais tem ou já tiveram problemas com jogo? 1.( ) tanto meu pai quanto minha mãe jogam (ou jogavam) demais 2.( ) meu pai joga (ou jogava) demais 3.( ) minha mãe joga (ou jogava) demais 4.( ) nenhum dos dois jogam (ou jogavam) demais

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Nas questões seguintes você deverá dar duas respostas, uma referente à sua vida e outra referente ao último ano (últimos doze meses). 4. Quando você joga, quão frequentemente você volta outro dia para recuperar o dinheiro que você perdeu ? Nunca Algumas vezes que

perco ( menos da metade das vezes)

A maior parte das vezes que eu perco

Toda vez que eu perco

Na vida Últimos 12 meses 5. Alguma vez você já alegou estar ganhando dinheiro jogando, mas na verdade você estava perdendo?

Nunca Sim, menos da metade das vezes que eu perdi

Sim, a maior parte do tempo

Na vida Últimos 12 meses 6. Você sente que já teve alguma vez problema com jogo? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 7. Você alguma vez jogou mais do que planejou? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 8. Pessoas já criticaram o fato de você jogar? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 9. Você já se sentiu culpado pela maneira como joga ou pelo o que acontece com você quando joga? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 10. Você já sentiu que gostaria de parar de jogar mas pensou que não conseguiria fazê-lo? Sim Não Na vida Últimos 12 meses

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11. Você alguma vez já escondeu papéis de apostas, tickets de loteria, dinheiro de jogo ou outro sinal de jogo de sua/seu companheira(o), filhos ou outras pessoas importantes na sua vida? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 12. Você já discutiu com pessoas com quem você mora por causa da maneira como você lida com dinheiro? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 13. (se você respondeu sim para a questão 12): Alguma vez a discussão sobre dinheiro estava centrada no seu hábito de jogar? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 14. Alguma vez você pediu dinheiro emprestado e não pagou por causo do jogo? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 15. Você alguma vez já perdeu tempo de trabalho ( ou escola) por causa do jogo? Sim Não Na vida Últimos 12 meses 16. Se você pediu dinheiro emprestado para jogar ou para pagar dívidas, de quem ou de onde você tomou emprestado? (marque sim ou não para cada ítem) Na Vida Últimos 12

meses Sim Não Sim Não a. de dinheiro reservado para as despesas da casa b. de sua esposa/marido/companheiro(a) c. de outros parentes d. de bancos, companhias de empréstimo ou crédito e. de cartões de crédito f. de agiotas g. você vendeu ações, obrigações ou outros papéis h. você vendeu propriedades pessoais ou familiares i. você passou cheques descobertos ou sem fundos j. você tem ou teve crédito com agente de apostas k. você teve crédito em cassino