o uso de ferramentas pelos grandes símios atuais

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS José Valério Gentil Escrig O uso de ferramentas pelos grandes símios atuais, excetuando-se a espécie humana, e por hominídeos do período Paleolítico: uma comparação baseada em levantamento bibliográfico São Paulo 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

José Valério Gentil Escrig

O uso de ferramentas pelos grandes símios atuais, excetuando-se a

espécie humana, e por hominídeos do período Paleolítico: uma

comparação baseada em levantamento bibliográfico

São Paulo 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

José Valério Gentil Escrig

O uso de ferramentas pelos grandes símios atuais, excetuando-se a

espécie humana, e por hominídeos do período Paleolítico: uma

comparação baseada em levantamento bibliográfico

Monografia apresentada ao Centro de

Ciências Biológicas e da Saúde, da

Universidade Presbiteriana Mackenzie

como parte dos requisitos exigidos para a

conclusão do Curso de Bacharelado em

Ciências Biológicas.

Área: Etologia

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mônica Ponz Louro

São Paulo 2016

3

"Nós admitimos que somos como os macacos, mas raramente percebemos que nós somos os macacos."

Richard Dawkins

4

Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer a minha orientadora Dra. Mônica

Ponz Louro pela paciência, orientação, ajuda e por ter me ensinado e inspirado

tanto a seguir a área de etologia.

Gostaria de agradecer à Universidade Presbiteriana Mackenzie pelo ótimo

curso, infraestrutura e grade curricular, que muito adicionaram ao meu

conhecimento e me permitiram uma formação de qualidade incomparável, e

também a todos os professores do curso de Ciências Biológicas que

acompanharam meu crescimento dentro da área e cujos muitos dos

ensinamentos levarei para a vida pessoal e profissional, e ao coordenador Dr.

Adriano Monteiro de Castro por todo o auxílio ao longo do curso e por estar

sempre pronto a ajudar aos alunos.

Gostaria de agradecer aos meus pais, José Ramon e Silvana por terem

me dado a oportunidade de estar aqui hoje, por todo o apoio, compreensão e

estimulo, por terem sido essenciais na formação de meu caráter ético e moral e

por todo o incentivo a seguir meus sonhos. Agradeço ao meu irmão Ramon, por

estar me acompanhando ao longo de todo o curso, cujo incentivo e amizade

foram essenciais para a vida escolar e universitária. E agradeço também aos

demais familiares que me acompanharam ao longo de todo o processo, e que

esperaram tanto por esse momento.

Deixo também meu agradecimento a minha namorada Ariane, que

esteve ao meu lado nos momentos bons e ruins, me incentivando e ajudando

ao longo do curso, e que cuja a paciência, amor e cumplicidade se tornaram

combustível para esse trabalho.

Por fim dedico este trabalho e minha chegada a esta etapa a minha avó

Lourdes da Costa Gentil, que embora tenha nos deixado este ano, carregarei

para sempre em meu ser, por ser alguém sempre presente em minha criação,

educação e por sempre me dar forças para chegar onde cheguei. Que o orgulho

que sinto em chegar ao fim desta etapa seja dedicado a quem ela foi para mim.

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Resumo

O homem atual (Homo sapiens) está incluso na família Hominidae

juntamente com outros três gêneros primatas, sendo eles Pan, que inclui os

chimpanzés e bonobos, Gorilla que inclui os gorilas e Pongo, que engloba os

orangotangos. Dentro desta família, os animais apresentam grande quantidade

de semelhanças anatômicas e comportamentais, mas, no entanto, a espécie

humana se destacou evolutivamente ao apresentar desenvolvimento cerebral

maior até alcançar a inteligência atual, desenvolvimento que muito se deve ao

início da produção e uso de ferramentas por seus ancestrais. Em um período

entre aproximadamente 5 e 2,5 milhões de anos esse processo se iniciou, e se

tornou marcante no desenvolvimento do gênero Homo, sendo denominado

período Paleolítico Inferior, ou popularmente por idade da pedra, pelo uso desta

como ferramenta para os mais diversos usos, sendo o principal deles a

alimentação. Por muito tempo se acreditou que a produção de ferramentas

dentre os Hominidae era exclusividade da espécie humana, o que se provou

errado a partir de pesquisas principalmente no século 20, que observaram uma

vasta gama de comportamentos de produção e uso de instrumentos muito

semelhantes ao que se acredita, a partir de evidências, realizados pelos

hominídeos do Paleolítico Inferior. Assim o objetivo deste trabalho foi abordar

diversas obras sobre o assunto de forma que foram levantados dados sobre esta

utilização de instrumentos, o contexto dela e as diversas formas como foram

usadas. A partir da observação do comportamento dos grandes símios atuais

pode-se traçar um paralelo com o observado nos ancestrais do Homo sapiens e

se entender melhor como se deu a nossa evolução comportamental e o

desenvolvimento em relação a inteligência.

Palavras - chave: Hominidae, Ferramentas, Pan, Grandes Símios, Uso,

Produção.

6

Abstract

Modern man (Homo sapiens) is included in the family Hominidae along

with three other primate’s genres, namely Pan, including chimpanzees and

bonobos, Gorilla including gorillas and Pongo, which includes orangutans. Within

this family, the animals have lot of anatomical and behavioral similarities, but

nevertheless, the human species stood evolutionarily to have greater brain

development to achieve the current intelligence development that much is due to

the start of production and use of tools by their ancestors. In a period from about

5 to 2.5 million years this process began, and became striking in the development

of the genus Homo, called lower Paleolithic period, or popularly as the stone age,

by using rocks as a tool with various intentions, the main one being the search

for food. For a long time, it was believed that the production of tools from the

Hominidae was exclusive of the human species, what is wrong proved from

research mainly in the 20th century, who observed a wide range of behaviors of

production and use of very similar instruments to which it is believed, from

evidence, made by hominids from the lower Paleolithic. So the aim of this study

was to address several works on the subject so that data was collected on this

use of instruments, It’s context and the various ways it were used. From the

observation of the behavior of current great apes we can draw a parallel with the

observed in Homo sapiens ancestors and then we can understand better how

was our behavioral evolution and development in relation to intelligence.

Key words : Hominidae , Tools, Pan , Great Apes , Use, Production .

7

SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................ 8

2. Materiais e Métodos ......................................................................... 12

3. Resultados ........................................................................................... 13

4. Discussão ............................................................................................ 17

5. Conclusões .......................................................................................... 24

6. Referências Bibliográficas ............................................................ 25

8

1. Introdução

Em termos taxonômicos, a espécie Homo sapiens sapiens pode ser

inserida na família Hominidae dentro da ordem Primata, que engloba ainda os

gorilas (Gorilla gorila), orangotangos de borneo (Pongo pygmaeus) e de sumatra

(Pongo abelii), chimpanzés (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus) além

das espécies já extintas (ROFFMAN; NEVO, 2010). A ordem Primata pode ser

definida, segundo Ankel-Simons (2007), através do compartilhamento de uma

série de características entre seus membros, entre elas, o fato de serem animais

que possuem unhas achatadas nos dedos, um encéfalo grande em relação ao

corpo com presença de sulcos laterais e polegares opositores. Ainda segundo

Ankel-Simons (2007), a ordem se divide em duas subordens, os Prossimi, onde

se encontram os lêmures, e os Anthropoidea, que compreendem os macacos do

novo e velho mundo e os humanos. A família Hominidae está inclusa na

subordem Anthropoidea, e é um grupo natural que compartilha características e

um ancestral comum (PROTHERO, 2013), e tem como uma das principais

características evolutivas entre os primatas o bipedismo (TREVATHAN et al.,

1999), e segundo evidências paleontológicas e moleculares, esta família surgiu

na África entre 14 e 4 milhões de anos atrás (HILL, 1988), período em que se

encontram os hominídeos mais antigos e mais conhecidos, os autralopitecíneos

(POUGH et al, 2008). Dentre os Hominidae, todos apresentam comportamentos

complexos com ferramentas, mas é no gênero Pan, que engloba chimpanzés e

bonobos, que encontramos mais semelhanças com os ancestrais dos humanos

(ROFFMAN; NEVO, 2010). Ainda segundo os autores, embora ainda não se

possua grande conhecimento sobre muitos comportamentos destes, o gênero

Pan é essencial para se descobrir como se iniciou o processo de criação de

ferramentas e o uso destas para atividades como a caça.

Além das ligações genéticas e semelhanças morfológicas entre

humanos e os outros membros do gênero Pan, observam-se também muitas

semelhanças culturais, emocionais e comportamentais entre estes e as

civilizações primitivas. Estas semelhanças são evidentes com relação à

9

plasticidade para novos ambientes, onde os animais desenvolvem técnicas para

se adaptar ao ambiente, como a escavação de poços em regiões semiáridas por

exemplo; e comportamentais, como o luto a morte de indivíduos próximos, de

forma que os animais podem chorar, se deprimir ou até mesmo perderem a

vontade de viver, além de serem animais com capacidade de reflexão própria,

se afastando do grupo em situações de violência, humilhação ou tristeza

(ROFFMAN; NEVO, 2010). Este fato, segundo os autores pode dar pistas sobre

como se comportavam os ancestrais dos hominideos em relação a essas

situações.

Uma das escolas que desenvolvem o estudo do comportamento animal

é chamada de Etologia, termo utilizado com seu significado moderno

primeiramente em 1902, pelo zoólogo americano William Morton Wheeler, e

deriva da palavra ethos, termo grego que significa caráter (BOLHUIS, 2004). A

etologia tem como premissa que os animais devem ser estudados em suas

condições naturais para que se obtenham respostas e perguntas uteis sobre seu

comportamento (HUNTINGFORD, 1984) entre outros aspectos, e é definida

como sendo o estudo dos mecanismos proximais e valores adaptativos do

comportamento animal (ALCOCK, 2011). A etologia se torna uma disciplina

cientifica independente durante o século 20, graças aos esforços do austríaco

Konrad Lorenz (1903-1989) e o holandês Niko Tinbergen (1908-1988) que junto

com seus alunos, passam a iniciar uma série de experimentos tanto em campo

quanto em laboratório e a publicar diversos trabalhos e teorias na área

(BOLHUIS, 2004). Desta forma, a etologia explica um amplo leque de questões

ligadas às causas imediatas, desenvolvimento, função e evolução do

comportamento animal (HUNTINGFORD, 1984), sendo um destes, e o foco

deste trabalho, o uso de ferramentas por animais, sendo um dos padrões

comportamentais mais complexos estudados na etologia.

Para ser considerada uma ferramenta, o objeto deve ser utilizado através

de mãos, pés ou boca do animal, com um proposito imediato, como por exemplo,

adquirir alimento (BOESCH et al, 1990). O uso de ferramentas pode ser

observado em um grande número de animais em variados graus de

complexidade, variando desde aves, como a garça verde ou o abutre egípcio,

até mamíferos como no caso de elefantes e mangustos, e finalmente em

10

primatas, sendo observado, na grande maioria das espécies, algum uso de

ferramentas (LAWICK-GOODALL, 1971).

As primeiras evidências diretas de tecnologia relacionada a hominídeos

datam de 2,5 milhões de anos atrás no Vale do Rift, na Etiópia, onde foram

encontrados pedaços afiados de prata, pedaços de rocha, martelos e bigornas

feitos de pedra além de terem sido encontrados ossos com marcas de martelo e

cortes. Os artefatos encontrados nos chamados complexos tecnológicos, sendo

o mais conhecido o complexo de Oldowan, onde os grupos mais antigos de

hominídeos deixaram suas ferramentas, parecem ser simples, refletindo a

capacidade intelectual dos grandes primatas, mas, no entanto, reflete uma

capacidade manual muito acima daquela encontrada nos símios atuais, como no

caso do chimpanzé, por exemplo, cujas ferramentas criadas não apresentam a

mesma força e acurácia utilizada pelos hominídeos ancestrais (AMBROSE,

2001). Em outro sitio de escavação, na Ucrânia, encontrou-se uma ponta de

lança com quase 12 centímetros de comprimento, o que indica que a criação de

ferramentas nessa região também era existente (KOLOSSOV, 1975).

Ferramentas mais novas, como os machados de mão, passam a ser encontrados

no leste africano há cerca de 1,4 milhões de anos, onde se encontram

ferramentas superiores em um complexo industrial nomeado Acheulean,

diferentes das ferramentas encontradas em Oldowan por serem trabalhadas nos

dois lados (POUGH et al, 2008).

O uso de ferramentas nos primatas atualmente tem uma alta

variabilidade nas diferentes espécies, podendo ser encontrado com os mais

diversos propósitos, mas tendo como mais comuns aqueles ligados a

alimentação. Nos macacos-cinomolgos (Macaca fascicularis aurea), também

conhecidos como macacos comedores de caranguejos ou macacos de cauda

comprida, representantes dos macacos do velho mundo, observa-se a utilização

de pedras com a função de machados ou martelos primitivos com a função de

quebrar a carapaça de bivalves e crustáceos, com a finalidade de se chegar a

carne dos animais (TAN et al., 2015), enquanto que em macacos-prego (Cebus

libidinosus), representantes dos macacos do novo mundo, se observa a

utilização de pedras e troncos para se quebrar nozes em cima de algum objeto

que funcione como uma bigorna, geralmente pedras (FRAGASZY et al., 2004).

11

Há muitos outros exemplos na família Hominidae encontramos os exemplos de

comportamento mais completo, como o uso de lanças como armas de caça em

chimpanzés (ROFFMAN; NEVO, 2010) e uso de galhos para a extração de

insetos e mel em orangotangos (FOX et al., 1999).

As espécies do gênero Pan vivem em florestas tropicais de dossel

fechado, em matas abertas e em savanas, se distribuindo também em diferentes

altitudes, sendo encontrados também em áreas florestadas em montanhas.

(ROFFMAN; NEVO., 2010). Este gênero apresenta uma dieta onívora,

consistindo de frutas, ervas e carne através da caça. Chimpanzés, embora não

tenham como principal fonte de alimentação a carne, dispõe do costume de

dividir o que foi caçado e observa-se que os machos possuem papel mais

importante na hora da caça, e têm como principais presas macacos menores

(PRUETZ et al., 2015), além de se alimentar de insetos como formigas ou cupins

se utilizando de gravetos como ferramenta (BOESH et al, 1990) e de galagos,

se utilizando de lanças rupestres feitas com gravetos para ferir ou tirar a presa

de dentro de troncos (PRUETZ et al, 2007), podendo ser grandes indicadores

das formas com as quais nossos ancestrais forrageavam e caçavam quando

comparados com os tipos de ferramentas encontradas em sítios arqueológicos.

Pesquisadores atualmente utilizam os primatas, em especial os

conhecidos por grandes símios, para fazer um paralelo entre os ancestrais

humanos e como se deu a evolução biológica, social e tecnológica até o

surgimento das primeiras comunidades, e por isso os estudos sobre os usos de

ferramentas, relações sociais e estilo de vida desses animais revelam-se cada

vez mais importante para entender como a própria espécie humana desenvolveu

suas habilidades físicas e mentais, e como consequência, como o cérebro

humano adquiriu maior complexidade ao longo de sua evolução proporcionando

a espécie humana maior inteligência. Com isso, e as novas provas da utilização

mais complexa de ferramentas, tanto para interação social quanto para

alimentação, um aprofundamento na análise das relações dos hominídeos de

hoje com os ancestrais podem indicar e dar pistas sobre como era a vida na

idade da pedra, uma vez que o uso de ferramentas mais elaboradas foi o marco

para essa época, assim como o que se observa cada vez mais em grupos sociais

símios, de forma que o objetivo deste trabalho é realizar esse aprofundamento.

12

Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma coleta de

informação dos diversos tipos de comportamentos envolvendo o uso de

instrumentos nos mais variados campos comportamentais, com os principais

representantes da ordem Primata e analisar paralelos com os tipos de

ferramentas encontrados em sítios arqueológicos onde os membros ancestrais

dessa ordem possivelmente criaram seus primeiros utensílios, de forma a

entender através dos animais hoje existentes como essa evolução ocorreu,

aprofundando-se no uso da pedra como forma de criação de instrumentos nos

animais atuais e analisando neste paralelo como os primatas atuais

possivelmente se encontram em uma transição para a sua idade da pedra.

2. Material e Métodos

Para a realização deste trabalho, foi feito levantamento bibliográfico a

partir de bancos de dados eletrônicos de artigos, teses e livros como Scielo,

Athena, NBCI, Wiley, dos quais foram utilizados diversos artigos de diferentes

autores e épocas, buscando-se obter informações novas e antigas. Outras fontes

utilizadas foram o Google Acadêmico e o Google Books.

Para as pesquisas realizadas para este trabalho foram utilizadas como

palavras chave: Apes + using + spears, Primates + tool + use, Primates, Stone-

Age, Primates + Behaviour, Grandes + Simios, Apes + Hunting, Chimpanzees +

use + of + weapons, Taxonomia + Primatas, Ferramentas + Hominideos,

Hominidae + evolution, Chimpanzees + tool + making, Primates + Anatomy,

Primates + Evolution, Human + Ancient + Behaviour, Stone-Age + Tools,

Oldowan, Chimpanzees.

As pesquisas foram realizadas a partir da procura de artigos em inglês e

português, onde selecionaram-se os artigos de acordo com sua relevância,

tema, conteúdo e apresentação, com foco em trabalhos relacionados ao uso de

instrumentos e a comportamentos na ordem Primata. Além disso foi necessária

a procura de trabalhos envolvendo a anatomia, os hábitos e a ecologia dos

animais dessa ordem e de obras envolvendo achados arqueológicos e

paleontológicos de forma a se coletar informação sobre o uso de utensílios e sua

existência na chamada idade da pedra.

13

Após a conclusão da coleta de fontes, foi realizada a leitura e análise dos

materiais com o propósito de se resumir e utilizar apenas o mais relevante de

cada fonte de informação, de forma a se realizar descrição, analise e

comparação dos comportamentos das espécies da ordem Primata em relação

ao seu uso complexo de ferramentas, onde se visou procurar os tipos de

comportamento descritos em que ocorria o uso de alguma ferramenta em

conjunto com informações coletadas sobre como estas eram utilizadas, em seus

propósitos e manuseio, para se comparar com os tipos de ferramentas

encontradas em sítios arqueológicos, se utilizando de uma gama de informações

importantes para o contexto dessa utilização, como anatomia, comportamentos

gerais, capacidade cognitiva e comportamentos sociais.

3. Resultados

Para o desenvolvimento das análises e estudo sobre o tema proposto

foram selecionadas 39 referências. Dentre estas, a maior parte abordava o

assunto do uso de ferramentas com intenção de alimentação, defesa e até

mesmo higiene, além de fontes abordando a inteligência e a evolução dos

grandes símios atuais, enquanto outras abordam a evolução humana e a relação

do uso de ferramentas com a mesma. Na figura 1, foi ilustrada a porcentagem

relativa dos temas gerais das referências lidas para este trabalho.

14

Figura 1 – Frequência Relativa em porcentagem dos principais temas

tratados pelos trabalhos consultados.

Entre as referências que abordam o uso de ferramentas, estão

representados artigos que o descrevem pelas mais diversas espécies que se

utilizam de ferramentas com o intuito de caçar (PRUETZ et al., 2015; ROFFMAN;

NEVO, 2010). Nestes trabalhos, os indivíduos de chimpanzés (Pan troglodytes)

se utilizam de galhos para uma utilização similar a de uma lança, encurralando

galagos dentro de troncos de árvores, e se utilizando desta lança para retira-los.

Em outros casos também se observa o uso de galhos, quando o alimento se

encontra fora do alcance dos membros, estando dentro da terra ou de árvores

ou até mesmo na água (VAN SCHAIK, 1996; FOX, 1999; BOESH et al, 1990;

ROFFMAN, 2015) e em casos onde diversos indivíduos não humanos da família

Hominidae se utilizaram de galhos, gravetos, ossos, chifres e pedras, onde os

utensílios de madeira foram alterados de forma a facilitar o acesso ao alimento,

sendo utilizados em atividades de forrageio como a captura de insetos em

formigueiros e cascas de árvore, mel em colmeias, extração de partes animais

como medula óssea, cérebro e olhos e na investigação de objetos novos ou

estranhos; para o uso medicinal, com plantas usadas para problemas

parasitários por exemplo, onde se observou a ingestão de plantas e cascas de

36%

49%

5%

10%

Temáticas dos Trabalhos Consultados

Evolução Uso de ferramentas Anatomia e Cognição Etologia

15

arvores e a redução de diversos problemas de saúde (HUFFMAN;

WRANGHAM, 1994); e por fim para fins de marcação de território ou

demonstração de força, com o acumulo e uso de pedras para produção de sons

(KÜHL et al, 2016). Além destes, os trabalhos de Lawick-Goodall (1971) e de

Mcgrew (1992) mostraram aspectos relacionados a padrões de comportamento

com uso de ferramentas de forma semelhante em diferentes espécies.

Outras referências usadas entram nos âmbitos cognitivos, anatômicos,

filogenéticos e de inteligência do animal. Em relação a filogenia foi utilizado um

livro sobre paleobiologia chamado Bringing Fossils to Life: An Introduction to

Paleobiology (PROTHERO, 2013) que traz informações sobre a evolução das

espécies entre primatas, já em relação a inteligência e funções cognitivas foi

utilizado o livro The Mentalities of Gorillas and Orangutans: Comparative

Perspectives (PARKER et al, 1999), trazendo exemplos de comportamentos

individuais e em sociedade destes animais, informações sobre a capacidade de

manuseio e limitações. E por fim Primate Anatomy: An Introduction (ANKEL-

SIMONS, 2007) reúne informações anatômicas dos primatas, trazendo

principalmente informações sobre como a diferença anatômica das mãos dos

primatas para os humanos influencia suas capacidades de utilização de

ferramentas, não permitindo um manuseio tão preciso quanto o encontrado nos

humanos.

Para se comparar os comportamentos dos primatas atuais com o dos

primeiros humanos, assim como as ferramentas existentes e suas formas de

uso, Hill e Ward (1988), trazem um estudo sobre a origem dos primeiros

Hominidae na África através do estudo de fósseis de 11 indivíduos com

características do grupo, associando o surgimento do bipedismo a variedade de

ambientes e a necessidades alimentares, além de Ambrose (2001) que fala que

o Homo habilis é considerado o primeiro criador de ferramentas, possuindo uma

mão semelhante a dos humanos modernos, um cérebro maior do que o dos

outros símios africanos da época e dentes pequenos para seu tamanho,

sugerindo uma relação entre inteligência, qualidade da dieta e uso de

ferramentas a influência da tecnologia no paleolítico inferior na evolução

humana, mas que no entanto embora fosse presente em sítios arqueológicos

como Olduvai, também eram encontrados nestes sítios diversas espécies de

16

Australopitecos, como o Australopithecus robustus e o Australipithecus garhi,

tornando dessa forma a identidade dos criadores das ferramentas encontradas

nesse sitio um mistério. Ainda segundo Ambrose (2001), a produção de materiais

pontiagudos através do uso de força e precisão abriu um leque de possibilidades

revolucionarias para a alimentação, permitindo o acesso a tipos mais ricos de

alimento e diminuindo o gasto energético uma vez que atividades como o corte

da carne de uma presa se tornava menos trabalhoso através do uso de um

material afiado. Em conjunto com essas informações, a obra de Alarie (2014)

comenta a importância do uso de ferramentas de pedra na evolução cognitiva

citando como ponto alto do desenvolvimento cognitivo dos hominídeos o uso de

ferramentas de pedra; em conjunto com estas informações, Aiello e Wheller

(1995) apresentam em seu trabalho a relação do crescimento e desenvolvimento

do cérebro e estômago em humanos e primatas com o consumo de alimentos

de maior qualidade, como produtos de origem animal, frutos de casca rija como

nozes e tubérculos, que só poderiam ser conseguidos com o uso de ferramentas,

sendo que um fator auxiliava ao outro; também sido utilizados livros como The

Evolution of Human Hunting (NITECKI; NITECKI, 1987) que trazem trabalhos

sobre os comportamentos de caça e os instrumentos utilizados, com

informações relacionadas à introdução de materiais perfurocortantes capazes de

abater presas maiores, de forma mais rápida e com menor gasto de energia, e

outro chamado Evolutionary Medicine (TREVATHAN et al, 1999) que se utilizava

da característica do bipedismo como sendo a diferencial para com os outros

animais, trazendo informações sobre as características diferenciais dos

primatas, em conjunto com o livro A Vida dos Vertebrados de Pough et al (2008),

que complementa o bipedismo citado anteriormente com características como

garras modificadas em unhas achatadas e compridas e a capacidade de

movimento dos membros em todas as direções e rotação dos membros peitorais;

além um artigo de Roffman e Nevo (2010) que se utilizaram da biologia e

características dos chimpanzés para se entender a origem e evolução humanos,

realizando paralelos em diversos padrões culturais, como a existência da

hierarquia em uma comparação a política humana, no qual os animais tem um

líder, diferentes funções dentro das atividades do grupo e o modo como as

afinidades definem o tratamento de um indivíduo pelo seu líder e seus

semelhantes, a existência de regras sociais, como a comunicação, o respeito a

17

membros de hierarquia mais alta e a socialização e até mesmo a

comportamentos de punição, em que um indivíduo que se apropria do que é do

grupo sofre isolamento e agressão de forma a não cometer mais o ato. Foram

utilizados comparativos entre o uso de ferramentas entre espécies de primatas,

como chimpanzés e bonobos por Gruber et al (2010), que observaram que

enquanto grande parte dos comportamentos relacionados ao uso de

instrumentos é semelhante, na natureza os chimpanzés tem maior quantidade

de usos para ferramentas, e os bonobos muito raramente demonstram

comportamentos agonisticos entre si, mostrando maior uso social de

ferramentas, como para brincadeiras; e já Lonsdorf et al (2009) trabalham com

as semelhanças e diferenças do comportamento com ferramentas entre

chimpanzés e gorilas, em que se observou um uso maior de ferramentas entre

os chimpanzés e de forma mais elaborada do que entre os gorilas. Diretamente

relacionado aos artigos acima, Haslam (2014) estuda a origem possível do uso

de ferramentas pelos hominídeos através do provável comportamento do último

ancestral comum entre bonobos e chimpanzés, que apesar de não ser

conhecido, acredita-se ser o responsável pela existência dele nos animais, além

de notar algumas diferenças, como a ausência do comportamento de

investigação com instrumentos pelos bonobos, que pode ter sido perdido ou

pode ainda não ter sido descoberto. Por fim, De La Torre (2011) sumariza em

seu trabalho os estudos com o uso da pedra como ferramenta pelos hominídeos

ancestrais na África e fala sobre as chamadas industrias da idade da pedra,

conhecidas pelo nome Oldowan, que vem da Garganta de Olduvai na Tanzânia,

sitio onde se descobriu as primeiras ferramentas fabricadas pelos hominídeos

então existentes na região.

4. Discussão

Nos orangotangos, o uso de ferramentas é pouco observado, sendo visto

principalmente em atividades de forrageio, como na captura de insetos, em que

o animal se utiliza de um galho para retirar estes de cavidades em árvores, se

alimentando dos insetos e de mel encontrado, e também se usa de galhos

menores para retirar sementes de difícil acesso de dentro de frutos duros (VAN

SCHAIK; FOX, 1996; PARKER et al, 1999). Nestes orangotangos de Sumatra

(Pongo abelii) foi observada a retirada de ramos e folhas dos galhos, retirada de

18

sua casca e afiamento ou achatamento de uma das extremidades, de acordo

com a necessidade. Embora não envolva o uso de ferramentas, vale notar que

segundo Utami e van Hooff (1997) orangotangos também realizam atividade de

caça, embora esta seja rara.

No caso dos gorilas (Gorilla gorila), muito pouco em relação a

comportamento com ferramentas foi observado na natureza. BREUER et al

(2005) foram alguns dos primeiros a observar o uso de algum tipo de instrumento

por gorilas na natureza, em que foi constatado o uso de galhos pelos indivíduos

em ambientes alagados para se descobrir pontes ou locais de possível

passagem pela água, utilizando-se dessa ferramenta para se guiar nesses

ambientes. Em um experimento realizado em cativeiro por Lonsdorf et al (2009),

em que buscava-se comparar o comportamento com ferramentas em

chimpanzés e gorilas, foi apresentado um monte simulando um ninho de insetos

de forma a se observar a reação das duas espécies, no qual se viu um interesse

muito maior dos chimpanzés, e em que os gorilas raramente mostraram

interesse, apresentando comportamento de investigação e cutucando

esporadicamente o monte, demonstrando uma pobreza de uso de ferramentas

que pode ser devida, ainda segundo os autores, a uma diferença cognitiva entre

as espécies, ou ao fato de que os gorilas em seu habitat não apresentam

necessidade de se utilizar de ferramentas, sendo animais que não caçam.

Os primeiros casos do uso de ferramentas por chimpanzés para a captura

de uma presa foram realizados por Pruetz e Bertolani (2007), em Fongoli, no

Senegal. Foi observado o uso de galhos afiados pelos próprios animais antes de

subirem na árvore, utilizado como forma de explorar cavidades encontradas na

casca da árvore onde os galagos fazem seus ninhos. Dos 22 casos observados,

apenas em um o indivíduo obteve sucesso, conseguindo retirar a presa da

cavidade. Na maior parte dos casos relatados, os animais passavam por mais

de quatro passos para a criação da ferramenta, sendo alguns deles a quebra do

galho, o acabamento de ambas as extremidades, e em alguns casos a retirada

de toda a casca, além de afiar as pontas com a utilização dos dentes incisivos.

Segundo Beck, uma ferramenta pode ser definida como sendo “ o uso de um

objeto do ambiente para a alteração mais eficiente da forma, posição ou

condição de outro objeto, organismo ou do próprio usuário “ (1980 apud Pruetz;

19

Bertolani, 2007), e com isso se classificaria na condição de criação de objeto,

algo que até então era atribuído apenas a humanos. Enquanto os chimpanzés

se utilizam de ferramentas e trabalho em grupo para caçar, os bonobos são

conhecidos por predar animais de médio porte e terrestres, como antílopes e

roedores de forma geralmente solitária e sem uso de ferramentas (HOHMANN;

FRUTH, 2008).

Em chimpanzés observados no Parque Nacional do Taï, na Costa do

Marfim, foi constatado o uso de ferramentas no processamento da presa durante

a alimentação, primeiro na tentativa de consumo do cérebro, na qual os animais

se utilizaram de superfícies duras em um paralelo com as bigornas para partir o

crânio da presa, caracterizando esse uso como o de uma proto-ferramenta. Esse

mesmo habito foi observado na quebra de frutos duros, com a intenção de se

chegar ao conteúdo comestível (BOESCH; BOESCH, 1989). Outro

comportamento observado no mesmo trabalho foi na retirada do tutano dos

ossos para consumo, através do uso de galhos após a quebra dos ossos,

retirando-se o conteúdo e consumindo o tutano direto dos galhos. Os

chimpanzés também podem se utilizar de ferramentas para o consumo de outros

alimentos, como o mel, onde o animal primeiro investiga a presença de abelhas

em cavidades presentes, e quando estas se mostram presentes, o animal se

utiliza de galhos para mata-las e consumi-las rapidamente e após isso o animal

usa o mesmo instrumento para ter acesso ao mel (BOESCH; BOESCH, 1990).

Em cativeiro, Gruber et al (2010) observaram um uso de ferramentas muito

parecido em quantidade e variedade, em que os chimpanzés se utilizaram de

instrumentos principalmente para se conseguir comida, e os bonobos para

cuidados próprios e interações sociais.

Em bonobos esse uso de materiais na natureza é pouco ou nada

documentado, Hohmann e Fruth (2003) propuseram que isso se deve a pouca

pesquisa realizada com estes, e com o fato de apenas duas populações serem

estudadas, uma vez que em cativeiro foi observado um uso mais preciso dessas

ferramentas. Roffman et al (2015) realizaram um experimento com indivíduos em

cativeiro em que foram escondidos alimentos em diversos locais, como debaixo

da terra, dentro de ossos e de capsulas simulando frutos e conchas, e observou

que os animais produziram através de galhos objetos com uma série de funções,

20

simulando algumas ferramentas com propósitos análogos aos de estacas, pás,

martelos, alavancas, bigornas e enxadas, de forma que os animais conseguiram

em sua maioria chegar aos alimentos, mostrando que não só a fabricação é

possível, como também é o uso por estes indivíduos, embora ainda seja

necessário se observar isso na natureza. Haslam (2014) propõe que alguns

comportamentos possivelmente encontrados no ultimo ancestral comum das

espécies atuais do gênero Pan podem ter se perdido, como o comportamento de

exploração associado ao uso de galhos, enquanto outros relacionados

principalmente ao conforto se mantiveram, como o uso de folhas para afastar

insetos e o uso destas como esponja para acessar água, comum em ambos os

representantes do gênero Pan (MCGREW, 1992), comportamento semelhante

ao observado por Lawick-Goodal (1971), que observou uma mãe limpar seu

filhote com folhas. Deve-se lembrar que os grandes símios atuais, embora

apresentem comportamento de criação de instrumentos semelhante ao nosso,

não possuem capacidade anatômica de se utilizar da mesma força e precisão

(ANKEL-SIMONS, 2007).

Tanto os chimpanzés (Pan troglodytes) quanto os bonobos (Pan

paniscus), membros do gênero Pan, são animais que apresentam uma gama de

comportamentos paralelos aos dos humanos nas mais diversas questões. Em

matéria de alimentação, sabe-se que ambos os animais deste gênero são

conhecidos por caçar em grupo, com o ato da caça geralmente iniciado pelos

machos, e em relação à vida em grupo, sabe-se que atividades sexuais são

utilizadas com proposito social, sendo usadas para demonstração de poder, e

especialmente no caso dos bonobos, resolver a grande maioria das interações

agressivas dentro e fora do grupo (BOECH et al., 2002). No que se refere a

conflitos, segundo Wrangham e Wilson (2004 apud ROFFMAN; NEVO, 2010) os

chimpanzés demonstram muitos paralelos com os humanos, apresentando

patrulhas compostas por adultos, em sua maioria, machos, para a proteção de

seus territórios, conflitos por territórios e invasões de ninhos rivais, com

comportamentos elaborados como linchar patrulhas ou membros rivais apenas

em situações nas quais se encontrem em maior número, de forma a não terem

muitos feridos, e muitas vezes se utilizando de comportamentos como o jogar de

pedras ou galhos na direção de rivais. Outro comportamento de conflito

21

semelhante ao utilizado em antigos conflitos humanos é o uso do som, no qual

os animais se utilizam de sons realizados pelo choque de objetos, semelhante

ao som de tambores de guerra, para sinalizar aliados ou alertar sobre inimigos,

e o uso de objetos como armar, com o uso de pedras e galhos para agressões

ou avisos (ROFFMAN; NEVO, 2010; KÜHL et al, 2016).

Já os comportamentos dos bonobos caminham em sentido oposto,

segundo Stanford (1998) sendo animais muito mais pacíficos, mostrando-se

animais que embora demonstrem certa quantidade de violência, esta é muito

menor do que a dos chimpanzés. Ainda segundo este trabalho grande parte das

interações sociais entre bonobos envolve algum tipo de atividade sexual, em

grande parte não copulatória, e diferente dos chimpanzés, encontra-se nos

bonobos quantidade razoável de grupos dominados por fêmeas. Embora o

comportamento não seja preservado assim como os fósseis, a partir de achados

arqueológicos é possível se traçar alguns possíveis comportamentos dos

possíveis primeiros utilizadores de ferramentas conhecidos, a partir de estudos

em sítios no Quênia, Plummer e Bishop (2016) observam que ocorreu o

transporte de instrumentos e alimentos entre locais e até mesmo alguma forma

de acumulo deste último, sugerindo que os indivíduos do gênero Homo, que

engloba os ancestrais do homem moderno e se insere na família Hominidae

(PROTHERO, 2013), ocorrentes nesses locais viviam em grupo, realizando

atividades de forrageio e fornecimento, de forma que se realizava divisão de

alimentos com fins de se assistir fêmeas prenhes ou com filhotes e de se reduzir

a busca por alimentos de alta qualidade distribuídos esparsamente no ambiente,

de forma semelhante ao que se pode observar em chimpanzés e bonobos,

assemelhando-se aos cuidados dentro de grupos primatas.

Diariamente, para as mais diversas atividades do dia-a-dia dos seres

humanos, milhares de ferramentas são utilizadas a fim de se facilitar estas e

agilizar os afazeres, desde o uso para a construção de uma moradia, até a

higiene pessoal e a própria alimentação. Muito de nossa evolução se deve à

invenção e ao uso delas para as atividades mais essenciais da vida de nossos

ancestrais (ALARIE, 2014), sendo a mais importante delas, a alimentação.

Segundo Aiello e Wheller (1995) e Ambrose (2001), grande parte do

desenvolvimento cerebral nos antigos hominídeos, com base nos fósseis

22

encontrados na Garganta de Olduvai na Tanzânia, necessitaria da ingestão de

fontes mais ricas de alimentos do que aquilo que tinham a sua disposição, como

cupins, o tutano dos ossos de grandes mamíferos, produtos de origem animal,

nozes e raízes tuberosas, fontes essas que exigiam comportamento mais

complexo para serem adquiridas, como o uso de ferramentas, dieta essa que

pode ter sido utilizada também para cuidados com a saúde, como se observou

em alguns símios atuais (HUFFMAN; WRANGHAM, 1994). A tecnologia

encontrada em Olduvai foi uma adaptação essencial para que os antigos

hominídeos pudessem expandir suas habilidades em modificar madeira, ossos,

pedras e outros materiais de forma a acessar fontes novas de alimento,

produzindo objetos pontiagudos que serviriam para cortar a carne, moldar novas

ferramentas e se defender, como lanças por exemplo. Ainda segundo Ambrose

(2001), o surgimento de novas ferramentas somado à cooperação entre

indivíduos pode ter estimulado ainda mais o desenvolvimento mental. Os

indivíduos possivelmente responsáveis por esses sítios e as ferramentas neles

encontradas podem ser, segundo o autor, o Homo habilis e algumas espécies

de Australopithecus, sendo que embora não se tenha nenhuma prova conclusiva

sobre os responsáveis pelas primeiras ferramentas criadas em Olduvai, sabe-se

que ambos ocorriam no local nessa época, aproximadamente a 2,5 milhões de

anos.

Não se pode deixar de observar que as ferramentas encontradas em

Olduvai, não são ferramentas como as conhecemos hoje em dia, em forma e

material, mas sim em função, como o uso de pedras para afiar ossos e madeira

e o uso destes materiais para se chegar ao alimento (WYNN et al, 2011), assim

como as observadas no comportamento dos primatas atuais, como observado

por Boesch e Boesch (1990) em casos em que chimpanzés (Pan troglodytes) se

utilizaram de galhos afiados e moldados por eles mesmos para diferentes

atividades, utilizando como alavanca para se quebrar o crânio de presas de

forma a se acessar o cérebro, ou se utilizando de pedras para quebrar frutos de

casca dura para se acessar a parte comestível em seu interior, e segundo de la

Torre (2011) os primeiros sítios arqueológicos envolvendo ferramentas servem

para mostrar o processo tecnológico que ocorreu nessa produção, desde o

coletar da matéria prima até a criação em si. Wynn et al. (2011) constataram que

23

muitas das atividades realizadas com ferramentas pelos primatas atuais são

também encontradas em sítios arqueológicos, como no caso de Olduvai, mas

que, no entanto, os primatas atuais conseguem demonstrar uma variedade muito

maior de atividades técnicas do que representado em atividades encontradas em

Olduvai. Ainda segundo Wynn et al. (2011), as atividades com ferramentas em

Olduvai se adequam facilmente nos padrões observados nos primatas hoje em

dia, nos mostrando que atividades com instrumentos são componente

importante das adaptações dos símios, fazendo dos espécimes de Olduvai

apenas uma variância disso.

Embora se saiba que uma quantidade razoável de hominídeos tenha

ocorrido nos sítios de Olduvai, ainda não se tem um consenso na comunidade

cientifica sobre quem seriam os principais responsáveis pelas ferramentas

encontradas, embora se concorde que o Homo habilis seja provavelmente o

primeiro a cria-las, já apresentando algumas características únicas dos primatas

que possibilitaram essa criação e manuseio (AMBROSE, 2001), características

essas que seriam o bipedismo, presença de unhas achatadas e compridas e a

capacidade de movimentar os membros em todas as direções (TREVATHAN et

al, 1999; POUGH et al, 2008), e existem ainda especulações de que o

Australopithecus gahri pudessem ter sido os primeiros a se utilizar de

ferramentas de pedra, uma vez que segundo Plummer (2004) foram encontrados

restos deste junto de uma das mais antigas evidencias de processamento de

caça. Ainda segundo o autor, evidências de uma relação ancestral-descendente

entre Homo habilis e Homo erectus apresentam a possibilidade de que o primeiro

já participava da formação de ocorrências arqueológicas criando ferramentas

entre 2,3 e 2 milhões de anos, e ambos participavam dessa formação entre 2 e

1,6 milhões de anos. Em relação aos modos de locomoção, Hill e Ward (1988)

sugerem que o bipedismo surge de uma necessidade de se movimentar de forma

melhor em diversos ambientes, e de mover de forma que melhore sua

capacidade de alimentação e transporte, deixando as mãos livres para carregar

alimento, ferramentas e caçar.

24

5. Conclusões

Através deste levantamento, constata-se que há paralelos entre

comportamentos com ferramentas realizados pelos humanos em relação aos

outros primatas, mostrando que as semelhanças não se limitam apenas a fatores

genéticos e anatômicos, mas também a essência de nossa relação com nossos

ancestrais e nossa evolução ao longo de milhares de anos. Viu-se que muitas

das ferramentas criadas e utilizadas pelos primatas hoje são as mesmas em

função e forma que aquelas que se encontram em sítios arqueológicos onde os

hominídeos primitivos construíam e se utilizavam de seus primeiros

instrumentos. Diante de tantas semelhanças entre os estudos com as criações

das espécies atuais com as ferramentas encontradas nos sítios arqueológicos,

observa-se que ao menos alguns dos grandes símios atuais vivem condições de

comportamento e estimulo com ferramentas muito semelhantes às que os

nossos ancestrais viviam na chamada idade da pedra, principalmente no caso

dos chimpanzés, nos levando ao parecer de que aparentemente estejamos

presenciando a evolução comportamental de outros animais pelo mesmo

caminho uma vez trilhado por aqueles de quem evoluímos, e de certa forma

convivendo com a nossa própria história.

Além disso, este trabalho demonstra que é importante continuar as

pesquisas, principalmente em relação ao comportamento de bonobos e gorilas,

uma vez que a quantidade de trabalhos sobre a relação de populações destes

com instrumentos parece ser escassa, trazendo dúvidas sobre as reais

capacidades cognitivas destes animais. Embora se tenha documentação sobre

estes animais em cativeiro, uma série de possíveis interferências não nos deixa

com a certeza de como os comportamentos se realizariam naturalmente, uma

vez que os animais podem aprender vendo atividades humanas, se distrair com

outras atividades em seus recintos, estar em situação de estresse ou ainda ter

sofrido de diversas ações antrópicas ao longo de suas vidas.

Sendo assim, nota-se que ainda existem muitos campos a serem

explorados em relação aos comportamentos relacionados ao uso de

ferramentas, uma vez que ainda existe uma vasta gama de primatas a serem

estudados, populações a serem observadas, e descobertas relacionadas aos

25

primeiros hominídeos a serem feitas, além de um acompanhamento próximo de

como os comportamentos já descobertos tendem a evoluir paralelamente a

inteligência dos membros do gênero Pan.

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