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Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA O USO DE FERRAMENTAS DIGITAIS NO ENSINO E OS PARADIGMAS ENTRE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO Aluno(s): Alex Ka Wei Tso (Arquitetura e Urbanismo / 7º período) Bolsista RUSP Orientador: Prof. Dr. Artur Matuck São Paulo, SP - Brasil Julho / 2011

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Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP

RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O USO DE FERRAMENTAS DIGITAIS NO ENSINO E OS PARADIGMAS

ENTRE TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO

Aluno(s):

Alex Ka Wei Tso (Arquitetura e Urbanismo / 7º período) Bolsista RUSP

Orientador:

Prof. Dr. Artur Matuck

São Paulo, SP - Brasil

Julho / 2011

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ÍNDICE

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03

Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05

Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06

Resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Análises . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

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INTRODUÇÃO

Nos últimos meses do ano de 2010, sob a orientação do Prof. Dr. Artur Matuck, fui

apresentado ao COLABOR - Núcleo Multidisciplinar de Pesquisa em Linguagens Digitais, do

Programa Inter-unidades de Pós-Graduação em Estética e História da Arte da Universidade de

São Paulo (PGEHA/USP). Esta pesquisa iniciou-se após reuniões com outros colaboradores,

onde foram estabelecidas algumas diretrizes e propostas do Núcleo COLABOR para o ano de

2011. Minhas responsabilidades dentro do Núcleo COLABOR estavam intimamente relacionadas

com a transformação do trabalho de pesquisa teórico em conhecimento prático, para consequente

aplicação na disciplina CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital, ministrada

pelo Prof. Dr. Artur Matuck na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

(ECA-USP)

A preparação teórica para o desenvolvimento deste trabalho consistiu em uma pesquisa

coletiva, efetuada em reuniões com outros colaboradores, nas primeiras semanas de 2011, acerca

das diversas ferramentas e plataformas disponíveis para a criação de um portal no site do Núcleo

COLABOR. Havia aqui dois níveis de pesquisa essenciais para o trabalho que viria a desenvolver

durante o semestre – o primeiro nível consistia na organização dos dados do Núcleo COLABOR

em um portal web; o segundo abarcaria a adequação do conteúdo das aulas na ECA-USP à

estrutura virtual do Núcleo COLABOR.

Além da discussão referente aos principais conteúdos do portal, foram levantadas

questões referentes às tecnologias que embasariam o projeto, com um cuidado especial aos

Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo (do inglês Content Management System – CMS) no

qual o portal seria desenvolvido. Para esta Iniciação, a preocupação com a tecnologia se

presenciou na avaliação de diversas ferramentas digitais quanto à sua utilidade dentro de uma

sala de aula e quanto à adaptabilidade e possibilidade de migração de tais ferramentas para um

eventual portal do Núcleo COLABOR.

Com a aproximação da volta às aulas, já em 2011, o foco do meu trabalho foi direcionado

à disciplina CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital, onde participaria

como ‘monitor’. Deste modo, poderia transitar entre as diversas esferas da disciplina, trabalhando

na estruturação da disciplina, nos objetivos programáticos e no desenvolvimento de atividades

com os alunos. Possibilitando a adequação das ferramentas digitais a esta estrutura primária do

programa ao mesmo tempo em que garantisse uma abertura para eventuais atividades surgidas a

partir de novas ferramentas. Além disso, o convívio com os alunos, através da monitoria, garantiria

um canal de comunicação essencial tanto para o auxílio no manuseio das novas ferramentas

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quanto para a crítica e o feedback dos alunos, vitais para o estabelecimento de uma proposta

pedagógica eficaz no qual a tecnologia se faz positiva e agregadora ao processo de ensino.

A seguir serão apresentados os principais conceitos e dilemas abordados durante a

pesquisa, através da experiência de aplicação das ferramentas digitais na disciplina CRP0449 –

Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital, durante o 1° semestre de 2011. Os assuntos

serão apresentados em uma ordem linear, apesar da consciência de que a prática e a teoria se

alimentavam mutuamente; fosse no momento de descoberta de uma ferramenta nova fosse

durante o desenvolvimento de uma atividade com os alunos em sala de aula.

Devido a esta situação, no qual a minha pesquisa acaba por diluir os limites entre a prática

e teoria, sendo, de fato, ambas, este relatório se limitará a discutir o uso de algumas ferramentas

que se destacaram pelas questões que fizeram surgir. Espera-se que após a leitura, o leitor

compreenda a necessidade de um trabalho complementar entre teoria e prática, no qual a

tecnologia afasta-se da frieza técnica e se permite ser possuída, no qual professor e aluno sejam

coadjuvantes na incorporação e no usufruto de novas tecnologias.

Espera-se, deste modo, que a participação de ambos não só caracterize uma apropriação,

mas sim um processo de colaboração no desenvolvimento de novas ferramentas, que resultarão

em novas dinâmicas de ensino dentro e, porventura, fora de aula. As questões que residem no

cerne desta experimentação prático-teórica seriam então:

1. Como as diversas ferramentas digitais podem colaborar no ensino?

2. De que maneira as dinâmicas de ensino serão reproduzidas, modificadas ou

negadas?

3. Qual será o papel do educador diante deste contexto de virtualização do ensino?

4. O domínio da linguagem digital será necessário para que ele potencialize sua

didática?

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OBJETIVO

O projeto de pesquisa surgiu do desejo de integrar uma disciplina em torno dos recursos

tecnológicos e das diversas mídias disponíveis no momento. Embasado em um cenário mais

amplo, desenvolvido pelo Núcleo COLABOR, a atuação desta presente pesquisa limitou-se a

planejar atividades que pudessem unir a tecnologia à experiência educacional para análise

primária das semelhanças e diferenças provenientes do uso de redes sociais e outras plataformas

digitais no ensino.

A escolha das ferramentas foi norteada a partir de requerimentos previamente discutidos

com o docente responsável – questões como a digitalização da bibliografia e a necessidade de

uma plataforma que reunisse os trabalhos do aluno, por exemplo. Após a implantação das

mesmas ao cotidiano da disciplina, a atenção foi direcionada ao feedback dos usuários, em

conversas com alunos durante o uso das diferentes ferramentas digitais nas atividades

programadas.

Pretende-se, através desta pesquisa, que os resultados alcançados, assim como a sua

análise e o processo adotado no desenvolvimento de uma integração entre Tecnologia e

Educação, sirvam de alicerce para discussões futuras. Este estudo de caso tem o objetivo

principal de fazer emergir os principais questionamentos que irão pautar os debates futuros a

respeito da participação da tecnologia na Educação, no momento em que uma nova geração de

docentes já não mais se presenciará desvinculada das mídias digitas e de suas repercussões no

seu modo de apreender o mundo.

É importante destacar a consciência de que esta pesquisa, desde o início, não se

apresentaria como uma tese fechada e conclusiva por si própria. A pesquisa se caracteriza por

diversas conjunções - se desenvolvendo no limiar entre a teoria e a prática, entre as

preocupações docentes e as discentes, entre a ruptura e a necessidade de manutenção de

dinâmicas de ensino já solidificadas - de tal modo que ela se apresenta como embrião de um

processo de investigação, relacionado a um tema cujo potencial de análise e cuja abrangência

ainda não foram devidamente explorados.

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METODOLOGIA

Toda a aplicação da pesquisa teve sua execução realizada em quatro estágios,

diferenciados entre si pela natureza de seus problemas, sendo que cada estágio deveria ser

obrigatoriamente concluído para que se pudesse dar procedimento ao seguinte. Tendo isto em

mente, o primeiro passo em direção à conversão de uma pesquisa teórica para o campo prático

foram as considerações acerca das próprias limitações deste campo prático, ou seja, dentro de

quais valores e demandas a disciplina CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-

digital iria operar no semestre.

Após o estabelecimento das diretrizes básicas que coordenariam as ações, o próximo

passo seriam as respostas às necessidades da disciplina, ou seja, a procura por plataformas e

ferramentas digitais que pudessem responder às lacunas que faltavam. Porém, mais do que isso,

o intuito não era somente adotar uma postura defensiva de procurar soluções como também

entrar em contato com diversas possibilidades e atentar-se a possíveis possibilidades de uso de

eventuais ferramentas encontradas.

Dando continuidade, se iniciaria o trabalho operacional de adequação das ferramentas

digitais à disciplina e ao planejamento do docente responsável, sendo que este não

necessariamente se realiza uma única vez, podendo vir a se repetir quantas maneiras for

necessária, através de averiguações no modo de manejo e na adaptabilidade / eficiência da

ferramenta ao que lhe é proposto.

É no quarto passo que se evidenciam grande parte das deficiências de uma ferramenta

digital. Este quarto passo consiste no acompanhamento presencial e na orientação durante o

período de aplicação das ferramentas para o aluno ou professor. Este passo ocorre

majoritariamente no momento de uso das ferramentas, onde dúvidas podem surgir, e aonde o

contato com o usuário pode ser marcado tanto pela ineficiência quanto pela eficiência da

ferramenta em questão. Há, de maneira geral, uma alternância entre os dois últimos passos, até

que se efetuem todos os ajustes necessários. Em certos casos, como neste, onde o uso das

ferramentas digitais estava planejado para continuar fora do horário de aula, o período de

observação e ajuste pode vir a exceder o período da aula.

A seguir se encontram os distintos estágios percorridos durante o prosseguimento da

pesquisa:

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1) Levantamento prévio do perfil da disciplina para determinação dos requisitos base.

A partir do início de 2011, antes que se iniciasse o período de aulas, foram realizadas

reuniões com o Prof. Dr. Artur Matuck para um primeiro contato com os temas que seriam

trabalhados durante o semestre letivo na disciplina CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto

Eletrônico-digital. Em conjunto com a exposição dos tópicos e da bibliografia recomendada aos

alunos durante o curso, foram discutidos também alguns pontos da didática aplicada pelo

professor, de modo a buscar um alinhamento entre suas necessidades e as soluções que

buscávamos nas ferramentas digitais.

Um dos primeiros requisitos levantados e atendidos foi a questão do manuseio da

bibliografia. Atualmente, o meio mais comum de lidar com a bibliografia de uma determinada

disciplina consiste em reunir, em uma pasta, o grande volume de artigos, capítulos de livro e

resumos possuídos pelo docente responsável. Estas pastas, categorizadas por disciplinas, se

encontram a disposição dos alunos na sala de Xerox. Este modo de disponibilizar a bibliografia,

apesar de suas qualidades, apresenta alguns pontos negativos que intentávamos suprir, dentre os

quais se destacam: a questão do custo e do volume acumulados em longo prazo, refletidos na

demanda por um espaço amplo capaz de armazenar as diversas pastas; a ausência de integração

com o meio digital, dificultando o compartilhamento e, especificamente na disciplina em questão, a

CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital, o desenvolvimento de novos

processos criativos textuais. Decidiu-se a favor da digitalização do material bibliográfico. Com a

disponibilização do material de leitura em formato digital, o acesso e o compartilhamento viriam a

ser amplamente facilitados, porém ainda havia ficado por decidir uma solução que permitisse o

armazenamento e o compartilhamento em rede.

Em seguida abordamos a questão das aulas, a organização do tempo em classe

direcionado à teoria e à prática e a melhor maneira de desenvolver o conteúdo programático

durante o semestre letivo. Programamos uma primeira parte do curso que seria focada em teoria

e uma segunda focada em prática. Para a primeira parte do semestre, os alunos foram orientados

a eleger um tema para o desenvolvimento de um seminário. A partir do tema do seminário, os

alunos deveriam fazer três roteiros de pesquisa visando prover fundamentação para o seminário,

sendo que um ou dois artigos deveriam ser indicado pelo professor, e os demais, previamente

discutidos e aprovados pelo professor, selecionados pelo aluno.

Após terem sido apresentados os seminários teóricos, iniciaríamos a segunda parte do

semestre, que consistiu em desenvolver um projeto de criação meta-autoral. Para isso tínhamos

definidos uma atividade de criação textual, a ser iniciada em sala de aula, para servir de base

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para o projeto de meta-autoria. Deste ponto em diante, cada aluno desenvolveria o seu próprio

projeto de processo meta-autoral, e eventualmente o compartilharia com o restante da turma.

2) Escolha das plataformas e ferramentas digitais

Como já citado anteriormente, esta pesquisa se desenvolveu em paralelo ao

desenvolvimento de uma investigação realizada pelo Núcleo COLABOR, que propunha a se tornar

um portal na web capaz de portar e subsidiar disciplinas, eventos e pesquisas relacionadas à sua

área de atuação. Houve, em primeiro momento, uma análise de quatro Sistemas de

Gerenciamento de Conteúdo (CMS), sendo eles o Blackboard, o Drupal, o Joomla e o Wordpress.

Ainda que não fosse uma exigência delimitadora, as ferramentas digitais que fossem utilizadas

durante a disciplina deveriam preferencialmente possibilitar alguma via de migração entre o

conteúdo produzido e o Sistema de Gerenciamento de Conteúdo adotado.

Foi realizado um mapeamento das principais plataformas e serviços de compartilhamento

gratuitos, de interface intuitiva, de uso abrangente, e que, em termos gerais, se apresentasse

como potencial ferramenta de ensino. É preciso notar que por basear-se em plataformas já

desenvolvidas, de uso já estabelecido, esta maneira de agir, através da incorporação e

adaptação, faz questionar o porquê de não focar-se diretamente no desenvolvimento de

plataformas de ensino, já que surgirão diversas limitações da própria estrutura dos serviços

utilizados e a integração entre si se tornará fragmentada (com cada função sendo exercida por um

programa diferente). A importância na adoção de serviços já conhecidos na rede e de uso

disseminado pode ser vista como uma estratégia passiva de incorporação da tecnologia no

processo educativo, inserindo-a não de modo confrontante, mas sim de maneira a agregar e

potencializar, capacitada somente através da apropriação de linguagens já participantes do

cotidiano dos alunos e da reestruturação de seus usos até então ignorados.

Havia, além dos CMS já citados, diversas plataformas a se considerar, fossem elas redes

sociais como o Facebook, o Orkut e o Twitter (o Google+ ainda não havia sido lançado no início

de 2011), ou sites de serviços e objetivos diversos, como Flickr, Tumblr, Scribd, Docstoc,

WePapers, Issuu, Slideshare, Dropbox, Google Groups, 4shared, dentre outros. Para a

experiência, foram adotados o Google Groups e o Scribd, o primeiro pela sua usabilidade e por já

ser utilizada no âmbito universitário faz alguns anos, o segundo pela sua proposta e pelo potencial

de atendimento às demandas da disciplina.

O Scribd surgiu como uma ferramenta que atenderia à necessidade de digitalização da

bibliografia e permitiria o armazenamento e compartilhamento da mesma. O Scribd pode ser

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definido como um site de publicação e de social reading, evidenciado na possibilidade de haver

interações entre as pessoas que publicam e lêem os documentos publicados em seu domínio. Os

documentos podem ser publicados em diversos formatos, e atualmente somam um número

significativo de obras de diversas naturezas, desde artigos científicos a receitas, que podem ser

lidas, comentadas e compartilhadas. Para facilitar este volume de informação, as obras são

devidamente catalogadas e podem ser facilmente encontradas através de um servidor de buscas

interno. A possibilidade de conexão entre o Scribd e demais plataformas como o Twitter, o

Facebook, o Del.icio.us e o Wordpress, dentre outras, tornou-se um atrativo para a adoção desta

ferramenta durante o semestre.

O Google Groups, por sua vez, é um serviço oferecido pela Google Corporation Inc. cuja

dinâmica assemelha-se ao de uma lista de e-mails, porém, com algumas opções de uso a mais,

geralmente integrando diversos outros serviços da empresa, oferecendo espaço de

armazenamento, páginas personalizáveis e opções de administração exclusivas.

Sendo este um espaço para comunicação, nele se localizariam variadas discussões,

avisos de cronograma, sugestões de leituras e eventos e assim por diante, dando continuidade à

disciplina nos demais dias da semana e promovendo a participação dos alunos mesmo não

estando em sala de aula. Assim sendo, o objetivo principal na utilização do Google Groups era a

de garantir uma via de comunicação entre professor e aluno e entre os próprios alunos que

participavam da disciplina.

3) Preparo e implementação dos suportes digitais

Para a utilização das ferramentas durante o semestre letivo foi criado um grupo do Google

Groups de perfil semi-público denominado ‘txtdigital’, cuja descrição continha uma breve descrição

da disciplina CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital. Apesar de poder ser

visualizado por qualquer usuário da rede, o grupo só permite a postagem de membros autorizados

pelo proprietário do grupo, no caso, o docente responsável pela disciplina. Com o intuito de

garantir a participação de todos os alunos na lista e maximizar a eficiência daquele canal de

comunicação, nas primeiras aulas reforçávamos a importância da participação dos alunos no

grupo, e pedíamos para os que não haviam recebido o convite que se pronunciassem para re-

envio do mesmo. Não houve muitas dificuldades na implementação do Google Groups, já que ela

se baseia majoritariamente na utilização de uma conta de e-mail para cadastro e funcionamento.

Devido a alguns trancamentos e desistências ao longo do semestre, ocorria de algum estudante

solicitar a retirada de seu nome do grupo, porém isto não consistia em trabalho algum, já que

bastava somente que o aluno se excluísse nas configurações de sua própria conta.

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Em relação ao Scribd, foi necessário maior preparo e cuidado na adequação desta

ferramenta à disciplina. O primeiro passo foi o cadastramento do usuário Colabor (tendo em vista

aqui a possibilidade de utilização do mesmo perfil para diversas disciplinas e conteúdos, em

consonância com os objetivos do Núcleo COLABOR) no sistema do Scribd. Em posse dos

arquivos digitais da bibliografia, todos devidamente escaneados e recompilados em formato PDF,

iniciou-se a publicação dos documentos via Scribd. A publicação teve de seguir certas diretrizes

para garantir a ordem dos textos e facilitar a sua procura pelos alunos, a começar pelo nome, que

deveria ser iniciado pelo autor ou autora em letras maiúsculas, seguida pelo título da obra, em

semelhança à formatação da bibliografia do curso fornecida aos alunos. Outra medida adotada

referia-se às palavras-chaves com os quais os textos seriam indexados pelo Scribd para que

fosse possível chegar até os textos através da ferramenta de busca presente dentro do website.

Deste modo, bastaria aos alunos ou quaisquer interessados fornecer o código da disciplina –

crp0449 - e o autor de interesse, ou que realizasse uma busca pelo perfil Colabor, de onde seria

possível ter acesso direto às coleções publicadas, reunidas de acordo com os temas trabalhados

em sala de aula.

Para facilitar a leitura, cada grupo de textos foi organizado em tópicos de acordo com a

ordem estabelecida pelo cronograma e reunido em ‘Coleções’, que podem ser alteradas e

reformuladas facilmente – como se fosse uma estante virtual – garantindo mudanças posteriores,

de acordo com a necessidade do programa. É importante lembrar também que pelo fato de os

arquivos serem digitais, não há perda de qualidade em sua reprodução, e, indo mais além, um

mesmo texto possui a capacidade de estar presente em diversas estantes – um artigo sobre

comunicação e tecnologia pode ser usado em duas disciplinas distintas de um mesmo professor,

que tem liberdade de organizar sua estante virtual de modo a oferecer duas coleções

bibliográficas distintas sem que haja necessidade de duplicação do mesmo arquivo em sua conta.

Ao mesmo tempo, seus diversos alunos podem armazenar este documento em suas próprias

coleções, desvinculando-se da conta do perfil do professor e criando sua própria ‘coleção’ de

leituras de acordo com as suas próprias necessidades.

4) Auxílio / suporte no uso e na adequação das ferramentas digitais

Este quarto e último passo se restringiu ao Scribd, já que até então esta ferramenta não

tinha sido utilizada em nenhuma disciplina pelo professor ou pelos alunos, não tendo o uso e a

vivência necessárias para a realização das atividades sugeridas. Para que pudessem se habituar

à interface da ferramenta, desenvolvi uma atividade prática que envolveria o uso e a leitura de

textos via Scribd durante a aula.

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Com uma semana de antecedência, orientei aos alunos que trouxessem para a aula, em

formato digital, os trabalhos práticos de criação textual realizados nas semanas anteriores. No dia

da atividade, enquanto me conectava à plataforma do Scribd, através do computador central, pedi

aos alunos para que me acompanhassem, através da projeção dos meus passos em um telão, e

seguissem as minhas instruções em suas próprias máquinas. Para a criação de uma conta no

Scribd, não houve maiores dificuldades já que a grande maioria simplesmente se conectou à

ferramenta através de sua conta do Facebook, não sendo necessário preencher inúmeros

formulários como de costume. Após todos estarem conectados, lhes foi orientado que seguissem

a conta Colabor, pois lá poderiam obter acesso à maioria dos textos da bibliografia, além de

receberem atualizações de novos textos publicados de leituras complementares ou que ainda

restavam ser publicadas. Então, lhes perguntei se haviam trazido à aula os trabalhos de criação

textual que haviam realizado nas semanas anteriores. Após a confirmação, e com os arquivos em

mão, orientei os alunos no passo-a-passo de como se publicar um documento via Scribd.

A atividade iniciou-se, de fato, após todos terem publicado as suas criações textuais e

estarem conectados ao perfil do Colabor no Scribd. O trabalho prático de criação textual consistia

na redação de ao menos três textos, contendo entre cinco e quinze parágrafos, a partir das

seguintes sugestões temáticas:

Narrativas

Memória remota

Memória recente

Memória construída

Diário de Mídia

Interações com indivíduos ou grupos

Interações com objetos ou produtos

Interações com tecnologias da comunicação ou percepção

Interações com instituições ou sistemas

Interações com universos, mediaversos ou seres

Reflexão social

Reivindicação para um grupo que participa ou conhece

Reivindicação para a cidade / sociedade

Reivindicação para o ambiente / planeta

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Através da conta Colabor foi possível visitar o perfil dos alunos e acessar os trabalhos de

criação textual que eles haviam produzido. Estes textos eram de vital importância para o percurso

das atividades dos alunos, pois as diretrizes de seus próprios projetos meta-autorais de conclusão

do semestre seriam alicerçadas nas idéias extraídas destes textos produzidos.

Com os textos em tela, os alunos apresentaram suas criações textuais. Através de

intermediações, cada criação textual compartilhada em sala fornecera material de base para

questionamentos e discussões referentes ao conteúdo trabalhado na disciplina, além de ter

possibilitado a chance de um retorno por parte dos colegas de classe, promovendo uma discussão

coletiva em cima de sua narrativa, memória ou reinvindicação. O resultado da atividade, em seu

primeiro plano, foi o acúmulo de idéias e pontos de vistas gerados a partir dos textos criados, que

colaborariam na concepção dos projetos de meta-autoria. O resultado em seu segundo plano

consistiu no atrelamento de uma nova ferramenta digital à dinâmica de ensino em sala de aula,

tanto por parte dos alunos, que puderam ter o seu trabalho exposto e discutido, projetado para a

turma inteira, quanto pela ótica do professor, que se realizou dotado de mais uma ferramenta com

a qual poderia exercer novas maneiras de mediação entre os alunos e os assuntos da disciplina.

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RESULTADOS

Os resultados serão comentados a partir das experiências realizadas em sala de aula, com

maior detalhe aos contextos surgidos no uso de cada ferramenta digital. Muitos dos dados foram

resultantes de averiguações realizadas durante o semestre, considerando as dinâmicas de

relação entre os alunos, o conteúdo da disciplina e o professor. Ressalta-se, novamente, a

importância vital do acompanhamento da turma como monitor, que legitimou a capacidade de

observação ampliada da disciplina ao usufruir da vivência das aulas sob o ponto de vista do aluno,

ao mesmo tempo em que permitia o relacionamento direto com o professor, inferindo, deste modo,

uma participação direta na organização estrutural da disciplina e nas obrigações exercidas pelo

professor.

A seguir serão apresentados os resultados obtidos no uso de algumas ferramentas digitais

na disciplina CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital.

• Google Groups / e-mail

A lista de e-mails proveniente do grupo ‘txtdigital’ teve uma participação de importância

vital para o prosseguimento das atividades durante o semestre. O grupo tornou-se um importante

canal de comunicação entre os alunos e o professor. Grande parte do uso deste serviço

proporcionado pelo Google se efetuou através da troca de e-mails. Com base nesta troca de e-

mails pôde ser realizada a divulgação de eventos e avisos de alterações no cronograma, além de

permitir o envio de textos complementares e o auxílio às dúvidas dos alunos. Grande parte dos

arquivos compartilhados pelo docente, como os cronogramas e textos complementares, ficava

armazenada dentro do grupo. Em caso de exclusão acidental do e-mail encaminhado com o

arquivo anexo, poderia se recuperar o documento visitando a página do grupo na web.

Os trabalhos desenvolvidos pelos alunos, tanto teóricos quanto práticos, deveriam ser

encaminhados a outro e-mail, o [email protected], por questões de organização de fluxo

e controle de entrega. No entanto, uma parcela dos alunos tomou liberdade para expor seus

trabalhos, enviando simultaneamente o trabalho para o e-mail sugerido e para o grupo. Este

compartilhamento pôde ser presenciado em todas as entregas de trabalho durante o semestre,

permitindo notar que os trabalhos de ordem teórica e os de ordem prática acabavam tendo

recepções distintas, muito provavelmente pela própria natureza deles.

A única ressalva perante este cenário resulta da consideração de que o trabalho prático

final, de criação de um projeto meta-autoral, obrigatoriamente necessitava de uma colaboração

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entre os colegas de classe, porém não se definia o local a ser efetuado (poderia ser uma

colaboração via e-mail, via Twitter, ou até em um contexto presencial).

Apesar de os alunos terem compartilhado seus trabalhos teóricos para a lista de

discussões, não houve maior discussão sobre eles entre os alunos. Porém acredita-se que esta

tenha sido uma reprodução do que acontece fora do mundo virtual. Não me parece ser comum a

prática entre os alunos de dedicar tempo à leitura de trabalhos dos colegas de classe, e muito

menos iniciar uma discussão em cima deles sem qualquer incentivo aparente (alguma atividade

em sala, algum trabalho em grupo, por exemplo), a não ser que pertençam a um circulo mais

próximo de convivência.

Um aspecto a ser levado em consideração neste caso específico refere-se à composição

da turma, caracterizada pela presença de alunos de diversas unidades da ECA, assim como de

outras graduações. Desde o começo fora possível notar uma dificuldade maior na elaboração de

uma discussão entre a turma, pois nela havia ainda a ausência de entrosamento e intimidade que

facilitam ao aluno encontrar um espaço para se expressar; características as quais foram

conquistadas ao longo do curso.

• Scribd

Com toda a bibliografia digitalizada, organizada e publicada no Scribd, os alunos puderam

ter acesso aos textos digitais como uma alternativa à versão da fotocópia. Havia duas tendências

atuantes dentro de sala em relação a este quesito, de fato muito interessantes em suas sutilezas.

Quando o professor realizava alguma leitura em sala de aula de textos da bibliografia ou de textos

complementares, que ele enviava ao grupo com alguns dias de antecedência, não se via muitos

textos físicos pela sala, e o que geralmente ocorria era o acompanhamento pelo próprio

computador, ou pela tela de projeção (que disponibilizava o texto para a classe toda). Por outro

lado, havia ocasiões onde os textos complementares eram sugeridos em um período muito

próximo ao dia da aula, fazendo com que o professor, com o intuito de garantir a leitura do texto

(geralmente matérias e artigos provenientes de jornais ou publicações, que poderiam ser do

mesmo dia da aula), levasse algumas fotocópias para sala, e quando isto ocorria, havia sempre

quem pedisse uma cópia física e acompanhasse a leitura pela versão impressa.

O Scribd foi apropriado, na disciplina CRP0449, como uma ferramenta digital que

possibilitou a publicação e o armazenamento de documentos gerados para as aulas. Diante de

todas as suas possibilidades, o correto seja considerá-lo como uma plataforma digital, no qual a

publicação constitui um componente de um todo maior.

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A plataforma do Scribd foi muito pouca utilizada. Além da publicação e armazenamento, o

Scribd possui um viés que o direciona ao social-reading. Ou seja, todo documento publicado é

relacionado ao perfil que o publicou, e em torno do perfil é possível configurar desde as

privacidades do documento até a afiliar-se a diversos outros perfis, com leituras similares, criando

então uma dinâmica social, cujo objeto de foco é a própria leitura. Neste espaço de socialização

mediada pelos documentos publicados, e principalmente, pela leitura, é também possível deixar

comentários sobre as publicações.

Esperava-se que o ingresso dos alunos na plataforma Scribd e a publicação de seus

respectivos trabalhos pudesse engendrar uma dinâmica diferente da presenciada em sala de aula

referente ao envolvimento com o trabalho dos colegas. Não houve relação de um aluno com o

outro em rede, não havendo comentários em rede em cima das narrativas e reivindicações

produzidas no primeiro exercício prático de produção textual. O Scribd, portanto, não foi

adequadamente utilizado e não promoveu a ampliação da interação entre os alunos, limitando as

discussões a respeito dos trabalhos aos momentos em sala de aula.

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ANÁLISES

Os temas trabalhados na disciplina se mesclaram com facilidade às plataformas digitais

utilizadas durante o curso. Fica evidente, é claro, a estreita relação entre o conteúdo abordado

pela disciplina, comunicação interativa e texto digital, e a proposta apresentada nesta pesquisa.

Pelo fato de o experimento ter se realizado dentro do âmbito desta disciplina, muitas atividades se

integraram com facilidade ao ambiente virtual, que se colocava às vezes como a única opção

possível de desenvolvimento dos trabalhos. Por exemplo, os trabalhos de conclusão do semestre,

que envolviam a criação de um projeto meta-autoral, deveriam envolver a escrita eletrônico-digital,

condicionando, naturalmente, os alunos a fazerem amplo uso das redes sociais, como o Twitter e

o Facebook.

Aqui, podemos perceber como o uso da tecnologia surge a partir da própria natureza da

disciplina em questão. Concluímos que esta integração do uso de ferramentas digitais ao ensino

tão mais se facilitará tão mais clara a possibilidade de reprodução de seu produto e de seu

processo de aprendizado ao âmbito virtual. Uma aula de tecnologia de construção, por exemplo,

na qual se visita o canteiro de obras com o intuito de preparar a massa cimentícia e nele realizar

testes de resistência, ofereceria distintas demandas - tanto no ensino, quanto no aprendizado –

para a aplicação de uma suposta ferramenta digital.

Pode-se dizer o mesmo em relação a muitas áreas de criação artística no qual o trabalho

manual, e geralmente a própria vivência in loco, seja requisito primário da apreensão do

conhecimento final obtido. Um estudante que trabalha com escultura pode eventualmente utilizar

um programa de modelagem digital para análises prévias e experimentações, porém a construção

se realiza fora deste escopo. Aqui a tecnologia tem um papel complementar, a função de auxiliar o

desenvolvimento da obra, mesmo que não haja participação desta tecnologia na fruição da obra

de arte final. Foi possível notar, através dos resultados obtidos com o Scribd, de que a existência

de barreiras é delimitadora para o usufruto de qualquer ferramenta digital no ensino. O Scribd foi

utilizado como uma ferramenta de publicação e compartilhamento de textos, mas não foi

apropriado em seu caráter social.

Há certos fatores presentes nesta situação que vão de encontro com as idéias já expostas.

A começar, a utilização do Scribd se deu em uma escala bem menor relacionado a outras

plataformas digitais já conhecidas, como o Google Groups e as redes sociais. Um dos possíveis

motivos desta diferença no uso se vale da própria falta de integração da ferramenta ao cotidiano

dos alunos, o que automaticamente torna qualquer migração de processo muito mais demorada.

Neste caso, é visível que o desconhecimento do social-reading, ou até a simples falta de

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proximidade com essa dinâmica na rede, faz com que as interações esperadas não se validem,

devendo ser implantadas ao longo do tempo.

Quando os alunos foram orientados a buscar a participação de outras pessoas no

desenvolvimento do projeto, a grande maioria buscou esta interação pelas redes sociais, ou

através de e-mails. Por que não utilizaram o Scribd ao invés do Facebook? Em parte devido à

plataforma não ter sido apresentada devidamente, com o seu caráter de social-reading, para os

alunos, Por outro lado, o potencial de exposição de uma mensagem seria bem menor, em termos

de número de amigos cadastrados e do tamanho das próprias redes, se comparássemos a

comunidade presente no Scribd, e a comunidade presente no Facebook.

É preciso construir possibilidades para que a tecnologia venha a exercer mudanças

significativas nas relações de ensino. No entanto, há de se considerar a própria realidade que

envolve os alunos e as dinâmicas de ensino presentes na turma. Não obstante, um grupo de

estudantes que não têm o costume de se envolver com o conteúdo da disciplina em sala de aula

teriam menos chances de utilizar o espaço virtual para tal fim O que se percebe é a manutenção

das relações já existentes, sendo, portanto, um requisito mínimo primordial a capacidade de

reprodução das interações do mundo real para o virtual, por meio de novas ferramentas que

assimilem processos similares.

Uma das questões primárias que surgiram na criação de uma estante virtual com os

documentos da bibliografia digitalizados, além da preocupação com o acesso e o armazenamento,

foi o dilema em torno dos direitos autorais. Ao imaginar dezenas de Universidades pelo país

percorrendo este caminho de digitalização de suas incontáveis pastas, em suas Unidades de

Ensino, e eventualmente da digitalização de sua própria biblioteca, uma nova legislação será

desenvolvida - resultado do estímulo às novas formas de autoria perante o fracasso pleno da

vigilância e controle sobre a propriedade intelectual ao redor do mundo na era digital.

Outro dilema decorrente da abertura do ensino às ferramentas digitais reside na

necessidade de um controle muito maior em relação a uma atividade desenvolvida em sala de

aula. Estipular a presença ou a participação dos alunos na rede demanda uma tecnologia de

controle e, dependendo do caso, de rastreamento, para poder quantificar a participação dos

alunos nas atividades. Imaginando que um dos critérios de avaliação da disciplina CRP0449 fosse

o envolvimento dos alunos com o conteúdo trabalhado fora de sala de aula – até onde um

professor teria capacidade de percorrer os passos dos alunos pela rede?

Esta e demais questões acabariam fomentando diversos dilemas de natureza pedagógica,

ideológica, filosófica e ética, de modo que é plausível que a construção de um portal que pudesse

agregar todas estas interatividade pareça ser uma alternativa capaz de suprir este movimento de

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abertura em demasia, possibilitando o controle do tempo e das atividades do aluno, que

eventualmente forneceria dados para o processo de avaliação do docente responsável.

Por outro lado, com o estabelecimento de um domínio particular para o desenvolvimento

das atividades pedagógicas dentro de um portal específico, as chances de expansão do ensino às

outras áreas da vida tornam-se menores, já que não se criarão relações entre o processo de

ensino executado dentro do portal e o cotidiano virtual dos alunos. Do mesmo modo como o

trabalho do educador se baseia na habilidade de tecer relações com o cotidiano dos alunos, a

virtualização do ensino, submetido à mesma tendência, irá exigir uma postura participativa dos

professores na assimilação das tecnologias que auxiliam na fruição da realidade de seus alunos.

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CONCLUSÃO

Para que este fomento à averiguação tecnológica no ensino se mantenha e se valide, é

preciso também buscar nesta presente pesquisa os pontos-chave que poderiam ser replicados em

outras disciplinas. No entanto, percebe-se que ao tratar das premissas mais básicas e

elementares possíveis, como o controle de presença, a avaliação dos alunos, a elaboração de

atividades e a questão do conteúdo utilizado em sala de aula, o número de questionamentos a se

enfrentar aumenta à uma escala que impossibilita uma abordagem com profundidade e dedicação

necessária. Diante deste cenário, visando o progresso do ensino e a adequação da tecnologia à

mesma, julgo ser muito mais produtivo o estabelecimento de experiências contínuas e

generalizadas, de modo a aproveitar-se do contexto de pesquisa e colaboração dentro dos

diversos campos de conhecimento e permitir a migração para o campo digital de modo coeso e

menos díspar possível entre as áreas do conhecimento.

Dito isto, há a meu ver duas propostas para o cenário futuro:

1) Que as ferramentas digitais possam ser utilizadas ao menos para a reprodução básica

dos processos de aprendizado e ensino - esta proposta quase não exige o

envolvimento do professor e nem dos alunos, e está calcada na apropriação de

ferramentas por questões práticas de utilidade e resposta a demandas específicas (Ex.

Scribd para armazenar a bibliografia digitalizada)

2) Que a tecnologia seja vista em seu campo mais amplo, como a base de uma

linguagem capaz de efetivar mudanças nos processos de ensino e aprendizado. Para

tanto, é necessário um comprometimento do professor com o desenvolvimento de

novas ferramentas, que devem ser alicerçadas em dados obtidos em sala de aula, na

troca de experiência com seus alunos. Se realizada com efetividade, a própria

participação ativa dos alunos e de seus professores na discussão sobre distintas

tecnologias acabariam inevitavelmente se inserindo em um contexto maior de

mudanças de paradigma no processo de ensino, fazendo com que o objetivo seja

gradualmente alcançado, e consequentemente validado pelo próprio processo.

Garante-se assim, de qualquer modo, o desenvolvimento do ensino por si só e a sua

integração às novas tecnologias, ferramentas e plataformas digitais.

A experiência desenvolvida através desta Iniciação Científica tentou, na medida do

possível, responder ao desafio de integração de novas tecnologias no ensino da disciplina

CRP0449 – Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital. Partindo de premissas básicas e

requisitos de maior urgência, o levantamento da estrutura geral da disciplina, com o auxílio do

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Prof. Dr. Artur Matuck, e a abertura para o diálogo acerca dos mais diversos temas referentes ao

seu método de ensino, tornou possível implementar todo o resultado teórico obtido ao longo do

semestre à realidade da disciplina. Somente nesta junção entre prática e teoria poderiam se

realizar as conquistas alcançadas no semestre, experiências que permitiram averiguar novas

possibilidades e que novamente alimentam maiores discussões teóricas.

Pelo fato de mais dúvidas do que soluções terem se formulado nesta presente pesquisa,

este estudo deve ser visto como um pequeno passo de um processo maior no qual estamos

inseridos. É preciso incentivar demais pesquisadores, de formações e interesses diversos, para a

tentativa de esboçar os rumos de uma Educação inserida em uma sociedade midiatizada pelas

linguagens digitais; acredito que a possibilidade de delinear os aspectos que marcarão esta

relação entre Educação e Tecnologia nas próximas décadas possibilitará a diminuição das

disparidades entre professor e alunos no que tange a apropriação e uso de tecnologias em sala

de aula.

Não defendo, no entanto, que todos os futuros educadores sejam especialistas em

tecnologia, e como ilustrei durante a pesquisa, há áreas do conhecimento nas quais a tecnologia

não encontrou ainda espaço no ensino ou em sua atividade. Porém, com a emergência cada vez

mais intensa de linguagens digitais no cotidiano e a dissolução das separações entre o mundo

físico e virtual, há razões para suspeitar que a tecnologia se incorpore às atividades mais básicas

de nossa vida – se já não o fez – fazendo crer que a estruturação de um pensamento voltado para

as questões aqui propostas encontrará seu auge ou sua decadência no momento em que a

convivência entre Tecnologia e Educação atingir seu ponto crítico, quando certos paradigmas de

nossa época serão necessariamente reestruturados.

Esta Iniciação Científica forneceu condições para avaliar um nó minúsculo de uma trama

inesgotável de relações possíveis entre o uso de ferramentas digitais e o ensino. O

acompanhamento da disciplina estudada situou um contexto no qual uma discussão pudesse ser

elaborada e cujos rumos mudariam fossem outros os contextos, mas os paradigmas da relação

entre Educação e Tecnologia se mantém entre as diversas áreas, fazendo com que a pesquisa se

direcione para um caminho de aprofundamento e colaboração, se forem estes os rumos de uma

nova Educação.

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BIBLIOGRAFIA

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WANDELLI, Raquel. Entre pergaminhos humanos e bits eletrônicos: O livro na era do computador. Disponível em http://www.escritoriodolivro.org.br/leitura/raquel.html. Acesso em: jan./ago. 2011

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