Índio - artur rogério

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Livro de poemas pertecente à Decalogia Ladrona

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Artur Rogério

Índio

30 poemas acadêmicos

Recife, outubro de 2009.

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Artur Rogério © Alguns direitos reservados

Projeto Gráfico Wellington de Melo Revisão Bruno Piffardini

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01. Ã Meu marido gosta de futebol E eu E ele era meu namorado quando a gente namorava A senhora tá doente - A senhora tá com depressão Meu marido gosta daqueles carros de Fórmula 1 Ele não perde um domingo E eu A senhora precisa comprar Esses remédios Aqui Meu marido, quando ele vai pra praia, meu namorado tomava banho de praia de calção Ele nunca mais foi pra praia Quando eu vou pra praia Eu gostava dele quando ele ia pra praia Meu marido Meu namorado gosta de criar passarinho, mas ele nunca foi muito zeloso assim, a gaiola ficava toda cheia de passarinho, Meu marido gostava de ver os fogos na televisão, no Rio de Janeiro, em Recife, mas às vezes ele dorme

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E eu Meu namorado não gosta de novela que passa na televisão A senhora precisa abrir os olhos Senhora Senhor Senhor Meu marido gosta de futebol Meu namorado E eu à Eu preciso escrever um livro

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01. RÃ Meu marido gosta de futebol, Eu quero comer ela mais ela teim umas perninhas de rã E eu não quero fuder ela Eu amo ela Eu quero comer ela cuando chuviscase na caussada E eu quero protejer ela dessa mais do sal e do vinagre do povu Mas ela nunca aparesse Ela mim inguinora e a inda xia debacho da pedra do rio E eu abro a calça boto pra fora da calça pra fora distante das pernas dela a pedra E às vezes amanhesse Eu assim O sól na calçada A rola amanhesse acordada

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02. Ã RÃ Eu amo ela porque ela têm uns musculos nos braços E O irmão dela é Danilo O irmão dela é meu amigo desdi quando a gente morava lá no alto da caixa dágua E ela deve ter uns catorze quinze ou dezenove músculos nos braços Feito Danilo Sendo que Danilo coloca os músculos pra fora E Eu Amo ela E Eu não sou viado E Ela Têm uns músculos lindos Mais lindos que os músculos de Danilo Mais lindos Qui os lábios de Eduardo

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03. UM Aquêle cara tá mim olhando Ele pensa Que o pirssim dele é bonito mas o pirssim dele é feio pra caralho Mas eu gosto dele Achando qualquer coisa dele e da vida E ele é um cara Que eu posso amar ele E eu vou ter um filho dele Eu quero ver o pau dele E ele tem o cabelo bonito Mas ele tá ali me olhando Aquêle cara ali Eu preciso escrever um livro

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04. RUM Eu tenho um pau Da quela espesse que é assim (esticando o mindinho) Mais o que eu queria falar mesmo era que quando ela olia, ela olia pra belêza dagente Feito o pôvo devia ser Feito a mãe da gente Só qui feito uma mulher Porque ela tem um corpo e tem dois olios e ela pode olhar pra minha beleza e pra outras coisas feias si ela quizer E os olios dela na minha caveira feito un facão arancando a palha do coco seco Feito a água fria do chuveiro quando agente acorda Feito o resto do esmalte vermelho nas unhas de uma mulher que, no final do dia, no metrô. Sentada, mesmo calada e bem quietinha. Esquenta as mãos inflamadas presas entre as coxas, deixa exalar uma inhaca de água sanitária Feito isso

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Sendo que é mais bonito Porque é um negócio que só acaba quando ela se acabar Sendo que é mais bonito

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05. UM RUM Ele é um índio Quando o índio faz aquele negócio que fuma feito maconha Quando acabou o espetinho de frango, ela disse que ela tinha uma cocha de galinha e que se eu quizesse ela colocava a cocha de galinha na braza Ele é o marido Sendo que já faz tanto tempo que ela nem se importa mais quando ele é índio Ainda Mais quando ele dá uma baforada e ela beija ele porque ela acha bunito isso dele Porque às vezes ele precisa ficar assim feito um Índio Ainda Mais quando hoje é sábado Essa conversa eles já tiveram num sábado Quando Ele morava em Piedade Ela Na Várzea

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Quando ele fumava Quando o amor dele era um doido amanssado feito todo esse polvo da cidade Agora ele dorme assim Vomitado Acocorado E ela acha bonito isso Ela ama Um índio

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06. AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, UI Quando era só a vida, era bom. Pois Agora é a vida e aquele filme que mostra como é que fez o filme Sendo que assim a gente desaprende as coisas rapaz Esquece como é que mata a sede rapaz É um espinho de laranjeira no cu dum furúnculo Quando machucam o ovo da gente que é homem Dói as tripas do célebro E Cega os dentes do bucho É foda E o ovo Na parte de trás E as penas do rabo do galo Sendo Que Na mulher tem o parto E deve ter outras coisas Quando Era só a vida, era bom

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Agora falta até comida E um negócio que agora, eu nem me lembro o nome agora

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07. UI, UI, UI, UI, UI, UI, UI, UI, UI, UI, UI, UI, AI Quando eu chego em casa do trabalho Ela e pernas pro ar Ela mim diz assim: - Mim dá um copo de café Ela num coloca um punhado de sal pra dentro de casa Eu Olho assim pra ela E às vezes Digo assim pra ela: - Mas você é muito bonita, sua bonita A sola do pé chega fica fofa De tanto pisar no vento Os peitos pra fora do sutien Ela é cú sujo E às vezes eu olho assim pra ela e às vezes digo assim pra ela: - Mas você é muito bonita, sua bonita E ela Fecha a cara debaixo do fuá farinhento E às vezes, pra fumar um cigarro, às vezes ela mim diz assim:

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- Mim dá um copo de café Eu nunca ouvi brega

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08. IÁ Ela tão quetinha Cobre de creme a cabeça e fica ali toda quetinha Amuada Feito alguém tranqüila Sandálias juntinhas, quetinha, uma lua Até parece Que sabe que o ônibus se atrasou-se O dela e o meu se atrasou-se Nem vê o ódio que Deus lança assim Amuada Ela Feito alguém viva O creme batendo o mingau na camisa Nem vê a manteiga escorrendo Ela toda quetinha Assim Feito alguém escorada numa brisa enfadada que volta de lá do outro lado, da praia Quetinha Esquecida da vida

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Deve estar lá ainda Ela toda Quetinha Tão quetinha Que Sem perceber Me deixou só Sozinha

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09. PÊI O papeu está em branco Mais Neim Tanto Foi tu que escreveu errado Aquele cara Que ganhou o concurso Literário O espetinho Não é de galinha É De frango Já passou o ônibus O papeu está em branco E Nem adianta um conto de Cristhiano Cristhiano está em branco E Wellington Fernando E Bruno E Lenemar Porque ainda não passou o ônibus E Não vai passar

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10. EN-EIN O Meu marido joga dominó Até Depois Da meia noite Mas ele come café toda seis e meia Macaxeira Aquele Caxorro ta de olho no meu espetinho de frango E eu nem conhesso esse caxorro, mas ele me conhesse Mas ele deve ser de lá De São Paulo Óia a cara dele de fome E Ele quer comer o meu espetinho Meu espetinho É de frango Mas ele não vai me comer Porque a Meu marido joga dominó

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Até depois da meia-noite E ele come café toda seis e quarenta e cinco Às vezes Inhame E eu amo ele Fígado Acebolado Rins Logo Depois da meia-noite Depois que Ele come Eu Como E Depois que Ele dorme Eu nem conhesso esse caxorro

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11. ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ Ao mesmo tempo O tal programa de televisão Naquele cartaz Tem feito uma planta assim E a mulher caiu no ônibus Ai, ai, ai E todo mundo se espantou Ui, ui, ui Mas o motor não levantou Ai, ai, ai Nem o cobrador Ui, ui, ui E eu via pela janela o que a freira dizia dela Debaicho De tudo isso e asima têm o Nosso Senhor Foi Deus Que salvou ela Era Pra ela ter morrido No entanto Uma abelha pousou na flor do pé de planta

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Quando O motorista freou

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12. SHLUPT! Meu frango abre a boca e não sai muita coisa Porque Ele é Muito Ocupado E eu gosto dele E eu Levo ele pra cima e pra baixo Pro espetinho Pra Carlão Pro Teatro do Parque E ele fica quetinho quetinho Só Esperando a hora de eu liberar o meu pleigraunde E ele Joga e eu jogo E depois ele tranca a boca e não sai muita coisa Nenhuma Pena Nem a sombra Nem um esquecimento, uma tosse, um engulho, um fastio A torneira

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Frouxa Ele fica com a pele de quem tem a pele como a pele de uma pessoa que vive no sertão Depois Ele me olha feito um veado Feito um cachorro Suado Que observa uma galinha assada depois de ver uma galinha viva E eu olho pra ele e dou Graças a Deus porque o que não falta é comida Nem fome Nem Poesia

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13. HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA Eu enfiei um espetinho de queijo cualho com orégano e cebola no cú do doutor Pra ele saber o tamanho da dor que a gente sente Literatura de cú é rola E o poeta que se foda E ele disse Oxente É Problema de pai ausente E Eu enfiei o meu pai no cú do doutor Pra ele saber o tamanho da dor que a gente sente Pode ser um Ou um cacho Sempre sobra um poeta ao lado Sob a sombra morna da lamparina elétrica Pela lâmpada amarela,

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Na vela, na Dobra da perna depilada Tem o Diabo E eu enfiei uma serra elétrica no cú do doutor E Uma lata de milho E Uma cigarra E Um rolete de cana E Uma lata de ervilha E Um mói de batata palha E Uma varejeira E O doutor me amou E Eu enfiei um livro de Artur no cú do doutor E Artur Nunca mais voltou

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14. HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA Huahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahua

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huahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhauhuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuahuauhuahuahuahuahuahuahuahauhuahuahauhauahauhau

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15. RÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁ Na cidade tinha um pé de coração de índio E tinha também um prédio cheio de loja e comida Que era bonito Mas Era uma merda E tinha também um trânsito Um paralítico E sapos e calangos tatuados no asfalto Tinha também Um barbeiro que era cirurgião Capilar E tinha um pé de pinhão roxo Tinha uma biblioteca, um hino mimiografado, dois rios que se uniam e um negócio que eu não lembro o nome agora Que Parece com um alquimem Aquele negócio que Faz assim

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E uma estátua de um político que escrevia uns Livros E Uma pessoa que me parou no meio da rua e me perguntou, assim, furioza, o que era que eu queria com tanta merda E eu disse a ela que eu queria me casar com ela

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16. RÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁ Rárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárárá

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17. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Eu nem gosto assim da universidade em si O que eu gosto mesmo é duns caras que gostam de carro de pneu baixo e dirigem assim com as mãos na direção É porque a minha pessoa não gosta assim da universidade em si A minha pessoa gosta mais é daquelas lagartas de coqueiro e de ver a caveira dum ouriço E de lembrar que lá no sertão o povo come arroz de leite e feijão vermelho E que a cachaça vem no frasco de molho de alho Toda vez que acontece isso, eu acordo correndo da sala pra cozinha, da cozinha pra sala, menino Coração rachado Amido E o meu coração coberto de pálpebra Aí eu penso Que Eu Tou Vivo e eu corro pro banheiro

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E eu vejo e que eu estou num espelho dum banheiro Porque falta o sangue jorrado E um cachorro E a eternidade E um negócio que agora nem dá pra falar nada agora

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18. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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19. K Não adianta só trepar Tem que saber escolher a goiaba Madura, mas nem tanto Fruta Fruta Sem mãe, sem filho, sem mulher Branca, vermelha, azul ou preta Pronta pra comer, assim, caindo Querendo apodrecer Mulher não pode, dá bicho na goiaba se mulher sobre Até A natureza tem de suas safadezas Não adianta só trepar Tem que saber escolher a goiaba A goiaba branca, vermelha, azul ou preta E a goiaba Da goiabeira

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20. K K. K

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21. PIEDADE E Eu nem queria escrever nada Foi aquele brega que faz assim girl beautiful E A igreja O mundo Tá virando adulto Chato, sujo, envergonhado, solitário Até aqui já não mais importa o amor A rosa Toda vez que me ajoelho e rezo Eu mato uma muriçoca Teve Uma vez que eu matei três de uma vez Porque As minhas mãos são de carne e osso E muriçoca é outra coisa Ontem bateu uma piedade do tamanho do teu rosto Sem o bigode E a barba

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E a testa Era uma felicidade Mas era um poema desses poetas que copiam revistas de design Mas era só safadêza E A goiaba Da Goiabeira

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22. CHINA Roco disse eu sou menina Fujiu Entre os papes de prezente debaicho da cama

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23. MIM Na parte da frente do ônibus Ela mim pediu socorro Onde O ônibus é mais pequeno Aí E nada Porque ela mim pediu socorro Mas eu tava ocupado, eu comia a bunda dum cara no reflexo da janela E mim, Na parte da frente do ônibus Ela mim pediu socorro Onde O ônibus é mais pequeno Aí E Nada

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24. EU SOU BIAGIO E GILVAN LEMOS Não conheço poeta mais maior Mais que aquele poeta sertanejo Cantam dentro de uma outra casa Não na úmida e ácara Barreiros Recital sem poema e sem graça Minha mãe no sentido verdadeiro Mas nasceu um poeta em Maceió Pele leve, crassa voz, meu espelho Biagio é quando o Recife era Biagio é quando era Barreiros Girassóis em botão mirando o sol Anjo sedutor de rabo vermelho Mas nasceu um poeta que me cura É aquele que vem lá de São Bento Sua existência e a sua ternura É a pura razão do que escrevemos Nunca vi prosa doce como aquela É a literatura, Gilvan Lemos

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Quando o dia não larga aquela cruz E a noite atiça o fogareiro As mordaças deslizam pelas veias É assim que um dia morreremos Não morremos, pois a cruzeta adeja Sob as mãos de Biagio e Gilvan Lemos Esses dois em uníssono divergem E convergem múltiplos como um vento Me pegam pelo braço e me matam Pintados num papel em branco e preto Me beijam e me amam declarados Esses meus objetos de desejo Literatura é pra qualquer um A chave não depende do segredo Porque esse jamais é revelado Se revela o mistério, nasce o erro E não abrem-se mais os cadeados E as luzes acesas gelam o gelo

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E a minha verdade que não falo É a única nota que escrevo A graça é dor, é brasa e incerteza Sou tu, sou estrangeiro, sou eu mesmo Sou os três divididos, tantos outros Sou Carrero, Biagio e Gilvan Lemos

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25. EU SOU BRUNO PIFFARDINI E WELLINGTON DE MELO Mó gordurinha pra incendiar O Papeu Verde Que Nem Existe A donzela derrapa na escadaria A fada esbarra no Uo Treide Sente O mar lembe a cabeza da tartaruga A fada esbarra no Uo Treide Sente E o viado corre na floresta parecendo uma cantora esquartejada

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26. EU SOU TU Hoje eu limpei o cú com papeu ofício Foi depois que eu fui ali e comi um macarrão com carne De lata E Pitú Eu Sou tu Só falta aprender a escrever E também falta pedir um hambúrguer com queijo xeda E também falta ter o teu dinheiro E também falta pegar um táxi e conversar com o taxista sobre o governo Hoje Eu recebi uma ligação dum poeta de Recife E depois roir as unhas das duas mãos (só não roir as dos pés porque é proibido)

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Aí eu fiquei esperando um negoço acontecer Passou um ônibus Aí eu fiquei na rua querendo comer um tuiuiú Eu sou tu Tirando os meus dedos curtos Eu sou tu Tirando o fato de que faz uns vinte e cinco anos que a minha pessoa é bonita por aí Eu sou tu E tu não fala assim como eu E Nada Agora só falta pagar o espetinho Porque eu prefiro morar sozinho

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27. CALA A BOCA Vai te fuder. A minha paichão é feito um caldeirão de feijão bobolhando a língua cheio de verdura e cahrque e cuentro fas umas duas semans que eu não como charque i faz mais de um ano que a charque não me come: ? Por isso que eu tou desse jeito, minha filha, mole, mole, mole... num consigo levantar uma chícara de café tem aquele livro de George Orwell...

E também tenho certeza de que têm aquele livro de Ruy de Aires Belo? Charles Bukowiski é uma merda; literatura é Ruy de Aires Belo eu prefiro quando ela tá co aquela camisa. Que tem aquele negócio no bolso e na E eu passo batom Eu prefiro quando ela prepara a comida Fraquinha feito uma Camarão O avental na cintura, as ovas iscondidas Gelo Nu ôlhoE eu pinto as unhas Mais fas mais de uma, semana, que, sobrando, espaço pro sol uivar? E tolda essa poeira de Candeias!Ela sai tolda da minha cabeça E ela também mim deixa

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28. ABESTALHADO Perdeu Boy Recife Tá perdido E esse exército de poetas Desclassificados E o crack ainda por cima Ingnoraram o pedido E a chuva que chove Também molha e água um vazamento de fulijem que tem lá na cozinha dele E um Pé de cajú que nasceu no meu sovaco Depois É dele Perdeu

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29. TODO MUNDO É POETA Mim disseram que aqui eu acharia Um negro macho Um negro fêmea Duas torres gêmeas no final da ilha Eu encontrei tudo isso ao contrário Um branco fêmea Um branco macho Duas ilhas gêmeas no final de uma torre multiplicada Torcidas coloridas A carcaça copiada e o esqueleto depois de limpo Feito Um bicho desconhecido que foi caçado e morto E depois alimentado Um Mundo de cupins anchos fazendo aquela festa moderna Que só Deus Tem hora que um ou outro cai

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Ou um ou outro pula do abdômen ou da moleira de uma dessas caixas vazias E Há fileiras infinitas desses faróis, sendo a cor e a estatura às vezes distintas Todos Mortos e erguidos Todos Brancos Todos crias e moldes duma mesma matéria fria Todos membros de um novo bicho gerado no calor dos entulhos oficiais E é de um canto a outro Que Só Vendo Só Deus Um lado do mundo no coito com o outro lado E é uma festa Que só vendo A quantidade de poesia E de Porco

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A quantidade de poeta Dava pra remontar umas sete florestas que só Deus Branco, branco, cubos gelados e espelhados Nem voa Nem voa Eles E às vezes um ou outro desiste, pula e estoura feito uma jaca mole Uma muriçoca Um saco de óleo Usado Um copo De cerveja Quente São Os segredos dessa nova floresta De pássaros maquiados, pernas gangrenadas e muita, muita, muita, muita poesia Mesmo

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Este livro foi composto com a fonte Adobe Caslon Pro caixa 12 para o corpo e Haettenschweiler 14 para os títulos.