o uso da mÚsica como fonte para o ensino de histÓria · como agente histórico...
TRANSCRIPT
1
O USO DA MÚSICA COMO FONTE PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Autor: Deborah Aparecida Costa de Oliveira
1
Orientador: Marco Aurélio Monteiro Pereira2
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar algumas canções durante e depois da Ditadura
Militar no Brasil no processo de ensino de História do ensino Fundamental, como
contribuição diante das atuais perspectivas disseminadas no âmbito da História, objetivando,
assim, despertar o interesse de alunos para a aprendizagem da disciplina de História. O artigo
afirmar a necessidade da utilização da música como documento histórico em sala de aula
abordando tema MPB no período da ditadura militar no Brasil, demonstrando a importância
do uso das inovações metodológicas, visando a relevância deste período histórico crítico-
reflexiva nos meandros educacionais, além de compreender alguns aspectos da História do
Brasil sob a ótica da música e sua influência na vida política, social e cultural do país;
abordando ainda fatos históricos para a evolução e afirmação da MPB como parte da cultura
brasileira. Sobretudo, o artigo possui importância na construção da identidade do aluno
como agente histórico crítico-reflexivo, e no uso da música como documento histórico, que
pode contribuir para uma maior sistematização e que vai ao encontro dos anseios do ensino de
História.
Palavras-chaves: Música, Documento históricos, Ditadura.
1 Professora da Rede Estadual de Ensino QPM - PDE/2010
2 Professor Orientador IES/UEPG
2
ABSTRACT
This article aims to analyze some songs during and after the military dictatorship in Brazil in the teaching of History of the elementary school, as a contribution on the current outlook dissiminadas under History, aiming thereby to interest students in the learning the discipline of history. The article said the need to use music as a historical document in the classroom addressing issue MPB during the military dictatorship in Brazil, demonstrating the importance of using methodological developments, aimed at the relevance of this historical period critical-reflexive education in the intricacies as well as understand some aspects of the history of Brazil from the perspective of music and its influence on the political, social and cultural development; also addressing historical facts for evolution and the MPB-firmação as part of Brazilian culture. Above all, the article has importance in the construction of the identity of the student as an historic-critical reflection, and the use of music as a historical document can contribute to a more systematic and that meets the aspirations of teaching history. Keywords: Music, Historical Document, Dictatorship.
3
1 INTRODUÇÃO
Este artigo aborda o uso da música popular brasileira no ensino de História e
tem como principal preocupação a necessidade de utilização das inovações
metodológicas no ensino de História e introduzir uma Histórica inclusiva. Em muitos
livros didáticos, as letras de canções são utilizadas para ilustrar conteúdos, sem
levar em conta as simbologias e linguagens figurativas nelas presentes. Mas deve-
se usar os diferentes temas músicas para organizar novos roteiros de organização
dos conteúdos.. Deste modo, o trabalho com canções populares alcançará seu
objetivo, que é auxiliar o aluno na construção do conhecimento histórico.
Para que este tipo de documento seja efetivamente analisado, é necessário
que haja uma relação entre o texto e o contexto do mesmo. É importante que se
consiga alcançar o sentido da canção, a maneira como ela está inserida na
sociedade e na história. É comum que a arte retrate seu tempo, que reflita o contexto
histórico em que está inserida.
Neste sentido, Marcos Napolitano afirma que:
Quando se tem em mente uma canção específica, quase nunca nos preocupamos com a versão desta, e sua situação social específica. É necessário, portanto, que se identifique a gravação da época que se pretende analisar, localizar o veículo (rádio, TV) que fez com que a canção se tornasse conhecida e mapear o espaço (social e cultural) de sua criação. Além disso, é necessário articular o contexto histórico, os agentes formadores do gosto musical de uma determinada sociedade, pois isto é o uso de conceitos (passado, herança cultural e tradição), já que estes são frequentemente refeitos; é necessário que se entente para os aspectos descontínuos da história como, por exemplo, a cultura política e musical de uma determinada época, e sua influência no mundo musical. (NAPOLITANO,2002, p.96).
Durante a ditadura militar, qualquer manifestação ou expressão feita para
questionar a situação política da época era censurada, as pessoas que as
compunham eram presas, exiladas, mortas ou desapareciam. Um dos artifícios que
a população utilizava para se expressar era a música. Nas letras, questionavam a
situação pela qual o Brasil estava passando, mostravam o que o governo e os
militares estavam fazendo, assim, a música e a política ganharam corações Qe
mentes de uma juventude ávida por mudanças sociais e de comportamento. Sonhos
interrompidos pelo AI-5, que impôs um silêncio de vozes, mas não de idéias e ideais.
4
2 FUNDAMENTAÇÃO
Muitos são os estudos sobre a História da música brasileira, através de
reflexões sobre o nacional e o popular na cultura brasileira. Squeff e Wisnik (2001, p.
15), afirmam que:
A música de caráter nacional, com tudo que isso possa condicionar, é apenas uma delas. A outra é a de que a arte ou, no caso, a música, é talvez o desdobramento sensível mais importante de todos os períodos históricos. Não é possível detectar aspectos de determinadas épocas no nível do seu “sentir”, se não pela arte e mais precisamente pela música. Não há vestígio histórico mais envolvente – ainda que não raras vezes mais imperceptível enquanto conceitualidade – do que a música de determinados períodos.
Squeff e Wisnik procuram analisar e interpretar as principais formas da
canção popular brasileira desde o primeiro governo de Getúlio Vargas até o fim dos
governos militares, refletindo sobre a experiência histórica brasileira sintetizada nas
várias formas de canção, por meio da leitura de comportamento e de valores
cantados nas músicas populares. Reconheceu as especificidades da linguagem da
canção, estudando-as em relação à música e à literatura.
No Brasil, antes mesmo de a MPB surgir nos anos 1960, a canção já tinha
consolidado seu lugar no mercado de bens culturais e na vida cultural cotidiana dos
brasileiros. As questões sociais e políticas sempre estiveram presentes na pauta de
temas abordados pela canção. Em todos os momentos da sua história, a canção
popular engajada fez:” cantar o amor, surpreender o cotidiano em flagrantes líricos-
irônicos, celebrar o trabalho coletivo ou fugir a sua imposição, de portar embriaguez,
de dança, de jogo com as palavras em lúdicas configurações sem sentido, de
carnavalizar a imagens dos poderosos”.(WISNIK, 1980, p.14).
Foi dentro dessa tradição que a MPB dos anos 1970 alinhavou a chamada
“rede de recados” contra a ditadura militar, recados esses que expressavam a
consciência e os desejos reprimidos das coletividades que, ao tornarem-se canção,
tomam consciência de si.
Esta função da música só é possível pela sua forma particular de interagir e
afetar o ser humano, desde o nascimento até a idade escolar, a criança é submetida
a uma grande oferta musical que tanto compõe suas preferências relacionadas a
herança cultural, quanto interfere na formação de comportamento e gostos
instigados pela cultura de massa. Por isso, ao trabalhar uma determinada música, é
5
importante contextualizá-la, apresentar suas características específicas e mostrar
que as influências de regiões e povos se misturam-se em diversas composições
musicais.
A música popular brasileira, por sua vez, tem origem nas festas e rituais,
compostas por melodiais e canções de um povo, que passam de geração a geração
e tem como característica marcante o ritmo.
A música, então, é uma forma de representar o mundo, de relacionar-se com
ele, de fazer compreender a imensa diversidade musical existente, de uma forma
direta ou indireta interfere na vida da humanidade.
Não pode ficar de fora a música popular no contexto das novas linguagens
culturais, pois ela deve ser tratada como uma importante fonte documental, como
recurso didático e, também como alternativa metodológica que possibilita conhecer e
entender o passado de diversos setores da sociedade.
Segundo as Diretrizes Curriculares de História:
O trabalho pedagógico com os conteúdos estruturantes, básicos e
especificísticos tem como finalidade a formação histórica do pensamento
histórico dos estudantes. Isso se dá quando o professor e alunos utilizam, em
sala de aula e nas pesquisas escolares, os métodos de investigação histórica
articulados pelas narrativas históricas desses sujeitos. Assim, os alunos
perceberão que a História está narrada em diferentes fontes (livros, cinema ,
canções, palestras, relatos de memória etc.), sendo que os historiadores
utilizam destas fontes para construírem suas narrativas históricas. (DCE
HISTÓRIA 2008, p. 68-69).
Nestas diretrizes, propõe-se uma reorientação na política curricular com o
objetivo de construir uma sociedade justa, onde as oportunidades sejam iguais para
todos. Assumir um currículo disciplinar significa dar ênfase à escola como um lugar
de socialização do conhecimento, pois essa função da instituição escolar é
especialmente para os estudantes, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes
a única, de acesso ao mundo letrado, do conhecimento científico, da reflexão
filosófica, sociais, políticas e do contato com a arte.
A interdisciplinaridade está relacionada ao conceito de contextualização sócio-
histórica como princípio integrador do currículo. Isso porque ambas propõem uma
articulação que vá além dos limites cognitivos próprios das disciplinas escolares,
6
sem, no entanto, recair no relativismo epistemológico. Ao contrário elas reforçam
essas disciplinas ao se fundamentarem em aproximações conceituais coerentes e
nos contextos sócio-históricos, possibilitando as condições de existência e
constituição dos objetos dos conhecimentos disciplinares.
De acordo com as Diretrizes Curriculares de História :
Sob algumas abordagens, a contextualização, na pedagogia, é compreendida como a inserção do conhecimento disciplinar em uma realidade plena de vivências, buscando o enraizamento do conhecimento explícito na dimensão do conhecimento tácito. Tal enraizamento seria possível por meio do aproveitamento e da incorporação das relações vivenciadas e valorizadas nas quais os significados se originam, ou seja, na trama de relações em que a realidade é tecida. (DCE APUD.RAMOS, 2008, p. 01)
Essa argumentação chama atenção para a importância da práxis no processo
pedagógico, o que contribui para o conhecimento ganhe significados para o aluno,
de forma que aquilo que lhe parece sem sentido seja problematizado e aprendido.
Está fundamentado nas diretrizes curriculares de História o conceito de
contextualização, que propicia a formação dos sujeitos históricos-alunos e
professores, e os quais, ao se apropriarem do conhecimento, compreendem que as
estruturas sociais são históricas, contraditórias e abertas. É na abordagem dos
conteúdos e na escolha dos métodos advindo das disciplinas curriculares que as
inconsistências e as contradições presentes nas estruturas sociais são
compreendidas. Essa compreensão se dá num processo de luta política em que
estes sujeitos constroem sentidos múltiplos em relação a um objeto, a um
acontecimento, a um significado ou a um fenômeno. Assim, podem fazer escolhas e
agir em favor de mudanças nas estruturas sociais.
A História não é ensinada apenas no espaço escolar: os alunos têm acesso a
inúmeras informações e imagens transmitidas por diversos meios – rádio, livros,
enciclopédias, jornais, televisão, cinema vídeo e computadores, que também
difundem personagens, fatos, datas, cenários e costumes que os instigam a pensar
sobre diferentes contextos e vivências.
Ciente desse contexto, o professor de História não deve se contrapor aos
meios de influência externa, o que, de qualquer modo, seria impossível, nem
considerar que as influências dos meios de comunicação sejam nocivas e devam ser
minimizadas ou eliminadas, o que também seria impossível. Mas é preciso
reconhecer que o papel da escola (e do professor) desenvolver a capacidade dos
7
alunos de refletir mais criticamente sobre as informações veiculadas por esses
meios. Para isso, é preciso trazê-los para a sala de aula e dar-lhes a oportunidade
de observar como essas mensagens são construídas, extraindo informações
aparentes e subliminares e estabelecendo relações entre o que constitui o saber
histórico escolar e os valores, ideias e comportamentos assimilados através dos
meios de comunicação.
As transformações da sociedade contemporânea, bem como as novas
perspectivas historiográficas, e as relações entre história e memória, têm estimulado
o debate sobre a necessidade de novos conteúdos e novos métodos de ensino de
História.
A importância, função e natureza da música estão presentes em todas as
indicações legais e nos fundamentos teórico-metodológicos constantes nos
documentos norteadores da educação brasileira e em suas respectivas unidades
federais a exemplo o Estado do Paraná, onde se pode ler que:
A música no contexto escolar, defendidas nestas Diretrizes, objetiva a educação dos sentidos e não está dissociada do lugar onde é composta e interpretada nem está desarticulada dos valores de um determinado grupo social. Exemplos disso são os textos de canções de repertório de cultos religiosos e de manifestações de cunho político e social. (PARANÁ-DCE, 2007, p. 43).
Portanto, incentivar a criticidade por meio da música é uma atividade muito
salutar e promissora em ambiente onde se pratica o ensino aprendizagem.
3 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PERÍODO.
O Golpe Militar de 1964 foi o Marco inicial do Regime Militar no Brasil, regime
que coincidiu com um período de notável crescimento econômico, entretanto de
fortes repressões sociais. O governo também utilizou os meios de comunicação a
favor de suas ideologias e aspirações.
O ápice do tumultuado ambiente político no país ocorreu em 31 de março de
1964, o Golpe deu início ao Regime Militar, sistema político provisório, mas que
durou 21 anos e reprimia a participação popular na política do país. A ditadura,
como também ficou conhecido o regime, provocou uma série de mudanças na
8
sociedade brasileira, muitos delas relacionadas à expressão dos direitos civis e à
liberdade de imprensa.
Com o golpe de 1964, artistas e intelectuais tiveram de se ajustar à realidade da repressão. Apesar da censura, as manifestações artísticas, como a música popular, foram os principais focos de resistência à ditadura militar. Politicamente engajados com as propostas de esquerda, muitos cantores e compositores faziam de sua arte uma forma de protesto contra a opressão e a ditadura. A música de protesto expressava a crença de uma sociedade mais igualitária, abordando problemas sociais, econômicos e políticos. Os compositores engajados eram duramente perseguidos pela censura, e muitas de suas canções eram censuradas.(PROJETO ARARIBÁ, 2007, p-224)
Um dos artifícios que a população utilizava para se expressar era a música.
Nas letras, questionavam situações pela qual o Brasil estava passando, mostravam
o que o governo e os militares estavam fazendo. Porém como não podiam colocar
explicitamente os problemas nas letras, pois eram censuradas, se utilizavam de
metáforas ou, no trecho que era censurado, colocavam palavras sem sentido com o
resto da música, ironizando e mostrando para a população que ali houve censura. É
importante entender o período do pós-64, em especial os anos posteriores a 1968
quando é promulgada o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que institucionaliza a
repressão, característica do regime militar brasileiro. Por isso, mesmo com a
censura e a música foi um importante meio de crítica a sociedade.
A utilização de novos métodos que levem a aprendizagem dos alunos, a
música como elemento imprescindível na educação. Pedagogicamente através da
criticidade, oferecendo possibilidades interdisciplinares enriquecendo o processo
educacional, o uso de novas metodologias como proposta de produção de
conhecimento dos educandos.
4 METODOLOGIA E APLICAÇÃO
As transformações da sociedade contemporânea, bem como as novas
perspectivas historiográficas, como as relações entre história e memória, têm
estimulado o debate sobre a necessidade de novos métodos de ensino de História.
Este trabalho consistiu em discutir novas metodologias para o ensino de
História, destacando aqui, o uso da música em sala de aula como recurso didático e
9
fontes históricas, considerando a amplitude da História e que as diversas fontes
devem ser aproveitadas para a compreensão do conhecimento histórico.
Atualmente, a preocupação com a importância do conhecimento histórico na
formação intelectual do aluno fez com que um dos objetivos fundamentais do ensino
seja o de desenvolver a compreensão histórica da realidade social. Assim,
compreender a história com base nos procedimentos históricos tornou-se um dos
principais desafios enfrentando pelo professor no cotidiano de sala de aula. Esse
desafio foi um passo interessante na construção de uma prática de ensino reflexiva e
dinâmica, podendo-se afirmar que ensinar História é fazer o aluno compreender e
explicar, historicamente, a realidade em que vive. Demonstrou-se aos professores e
alunos, que as músicas apresentou uma visão histórica, uma forma de interpretar e
entender a realidade que o compositor ou cantor vive. Através da análise da música,
foi revelado o cotidiano de gerações e feito comparações de sociedades de épocas
e de locais diferentes. Pretendeu-se ao aplicar esta metodologia em aula, contendo
música como fonte história, que o aluno percebeu o momento histórico através da
música, e a análise como um todo, e a percebesse como uma forma de expressão
de ideias populares, uma linguagem, reconhecendo ainda sua influência na vida
social, política e econômica do país. Analisou-se, também, os acontecimentos do
período da ditadura militar no Brasil, o surgimento da MPB, até sua propagação na
sociedade, sua influência social, política, econômica e tecnológica.
Maria Auxiliadora Schmidt (2009) demonstra que inovações em sala de aula
fazem com que a prática docente desmitifique a noção que se tem do “professor
enciclopédia” detentor do saber, substituindo pela imagem de um “professor
construtor”, que contribui pelo conhecimento de seus alunos em sala de aula, e que
se percebe que a músicas e uma forma de indicar para o aluno novas formas de
conhecer a História.
Deste modo, estando a música imbuída nesse processo de formação da
memória e da construção do conhecimento histórico a intenção é de que a música
possa ser discutida enquanto recurso didático em sala de aula, tornando possível, e
respaldada, a indicação da utilização da música popular brasileira no ensino de
História, para a construção de uma cultura totalmente brasileira, com a possibilidade
de tornar a aula de História dinâmica, prazerosa e inovadora.
Utilizando música de protesto durante a ditadura militar no Brasil, os alunos
perceberam a visão dos compositores e cantor sobre essa temática, podendo
10
comparar com a atualidade, e tiveram a oportunidade de se reportar ao período já
citado para tentar compreender a realidade descrita nas letras musicais.
O projeto de pesquisa foi também um projeto de ação, pois visou sua
implementação na prática da escola, buscou entender as necessidades de melhorias
e foi implementada na Escola Estadual do Campo Km 10, Wenceslau Braz.
Apresentação do projeto “O uso da música como fonte para o ensino de
História”, na Escola Estadual do Campo Km 10, em Wenceslau Braz, durante a
semana pedagógica, ao diretor, a equipe pedagógica e aos professores, realizando
parcerias para o desenvolvimento da interdisciplinaridade despertando o interesse
dos alunos pela construção de seus próprios conhecimentos.
Inicialmente o trabalho foi direcionado aos professores que desenvolvem
atividades no Grupo de Trabalho em Rede GTR, promovido pela Secretaria de
Educação do Estado do Paraná, mais especificamente pelo Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE). Através do PDE, primeiramente os professores
selecionados para usar o PDE se inscreveram e participaram como alunos do GTR.
Posteriormente, após a capacitação, gerenciaram um grupo, também de professores
do Estado temas referente ao Projeto de Intervenção, onde os professores de
História, inscritos no GTR (Grupo de Trabalho em Rede) “Uso da música como fonte
para o ensino de História”, e aos professores da Escola Estadual do Campo Km 10,
em Wenceslau Braz. Através do ambiente virtual e-escola (www.e-escola.pr.gov.br),
foram discutidas e sugeridas alternativas metodológicas para o ensino de História,
destacando o uso da música em sala de aula. Com os professores, equipe
pedagógica e ao diretor da Escola, na semana pedagógica, foi apresentado o
projeto de pesquisa e também o projeto de ação, que foi repassado aos
professores a intenção de realizar parcerias, mostrando a importância de
desenvolver a interdisciplinaridade para despertarem nos alunos o interesse pela
construção de seus próprios conhecimentos.
Os resultados obtidos no GTR, foram satisfatórios, houve coerência textual
nas comunicações entre os participantes, ideias claras na utilização de novas
metodologias.
Em seguida o projeto foi dirigido aos alunos do 8º Ano e 9º Ano, do ensino
fundamental do turno noturno, na Escola Estadual do Campo Km 10, em Wenceslau
Braz. A proposta inicial era aplicar esta pesquisa somente no 9º Ano, mas devido ao
número reduzido de alunos por turma, decidimos trabalhar também com 8º Ano. O
11
projeto foi desenvolvido com duas turmas de anos diferentes.
O projeto teve início com uma breve contextualização histórica sobre o tema
“A música de protesto durante a ditadura militar no Brasil”.
A primeira fase constituiu o conhecimento prévio do aluno, o processo de
busca, de investigação para solucionar as questões em estudo, este caminho que
predispõe o espírito do educando para a aprendizagem significativa, uma vez que
são levantadas situações problema que estimulam o racionalismo.
Atividade 1.
O ponto de partida do trabalho docente e discente é a prática social, a
vivência do conteúdo pelo educando. A problematização representa no momento do
processo em que essa prática social é posta em questão, analisada, interrogada.
-A primeira fase constituiu através de um questionário previamente elaborado.
No total de 17 alunos participaram da pesquisa, sendo 13 alunos da 8ª Série/9º Ano
e 4 alunos da 7ª Série/8º Ano do período noturno.
Passamos para a parte da intervenção, elaboramos um questionário para
traçar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema pesquisado. As perguntas
foram as seguintes:
1. O que é ditadura?
2.No Brasil já existiu ditadura?
3.O que é censura?
4.O que é música de protesto?
5.O que é repressão?
6.As letras de músicas podem trazer intenções e mensagens?
7.É possível através da música analisar uma determinada realidade ou
representação dessas realidades?
Vejamos o que alguns alunos responderam sobre a primeira pergunta: “O que
é ditadura”?
As respostas dos alunos do 8º e 9º Anos foram: não sei.
12
Na segunda pergunta: “No Brasil já existiu ditadura”?
Os alunos do 8ºAno, não sabiam, já os alunos do 9º Ano, responderam
que não e alguns responderam que sim.
Na terceira pergunta: “O que é censura”?
Todos os alunos tanto de 8º e 9º Anos, responderam que censura é proibir
alguma coisa.
Na quarta pergunta: “O que é música de protesto”?
Que é uma música que fala mal do que está acontecendo. É uma música
que fala contra alguma coisa.
8º Ano A/N.
Todos responderam que é música que fala contra alguma coisa que está
acontecendo.
9º Ano A/N.
Na quinta pergunta: “O que é repressão”?
Os alunos do 8º e 9º Anos, não souberam responder.
Na sexta pergunta: “As letras de músicas podem trazer intenções e
mensagens”?
Todos os alunos do 8º e 9º Anos responderam que sim, mas não
justificaram suas respostas
Na sétima pergunta: “É possível através da música analisar uma
determinada realidade ou representação dessas realidades”?
Disseram que sim, mas não justificaram.
8º Ano A/N.
Responderam que sim, as músicas podem falar o que acontece no dia a
dia, e algumas músicas retratam muito bem a sociedade.
9º Ano A/N.
O resultado do questionário observou-se que os alunos do 8º e 9º Anos
tinham pouco conhecimento sobre o tema.
13
O interesse por aquilo que os alunos já conhecem é uma ocupação prévia
sobre o tema que será desenvolvido, É um cuidado preliminar que visa a
possibilidade de desenvolver um trabalho pedagógico mais adequado, a fim de que
os educandos, nas fases posteriores do processo, apropriem-se de um
conhecimento significativo para suas vidas.
Atividade 2
Para realizar esta atividade o assunto selecionado foi a ditadura militar no
Brasil, onde o professor utilizou o filme para introduzir o conteúdo, segunda
atividade os alunos assistiram o filme Lamarca,” onde conta a história do capitão
Carlos Lamarca, que deserta do exército em finais da década de 1960 e ingressa no
movimento de luta armada contra a ditadura militar no Brasil. O filme se concentra
no personagem Lamarca enfocando sua brilhante trajetória como oficial do Exército
brasileiro que, já em seu processo de formação, havia se deparado com ideias
socialistas, por meio de panfletos do Partido Comunista na Escola de Oficiais. Outro
momento marcante de sua tomada de consciência, representada no filme, é a sua
ida ao Canal de Suez, integrando uma força de paz. Lá, ele se depara com a
miséria dos beduínos no deserto e chega a questionar se realmente estava lutando
do lado certo: “sempre quis ser soldado e nunca deixaria de ser, mas mudaria de
exército, se o nosso passasse para o lado dos exploradores”. O pano de fundo do
filme revela o clima de terror instituído pela ditadura militar no Brasil e a situação das
organizações armadas, diante da estrutura bem montada do Estado.
Antes da exibição do filme, informou-se somente, os aspectos gerais do filme
(duração, personagens principais, música). O filme não foi interpretado antes da
exibição, deixando para que cada aluno possa fazer a sua leitura. Durante a exibição
anotar as cenas mais importantes e sendo necessário, interromper a projeção, voltar
o filme, repetir algumas cenas e fazer um rápido comentário. Depois da exibição, foi
revisto as cenas mais importantes e fizeram comentários juntamente com os alunos,
uma conversa sobre o filme. Após o término da análise do filme, foi passada para os
alunos a ficha técnica contendo as informações do filme.
-Depois da ficha técnica do filme Lamarca, os alunos foram divididos em três
grupos, onde elaboraram um texto sobre o filme e a ditadura militar no Brasil.
14
Os trabalhos dos grupos foram monitorados pelo professor e por anotações
de todos, para posterior apresentação das considerações do grupo aos demais
alunos da classe. A finalização do trabalho foi seguida de um relatório do grupo para
o professor.
Como nenhum filme é neutro, o professor proporcionou aos alunos
desenvolverem competências de analisar, criticar e interpretar essa fonte como
documento.
O filme mostrou a realidade daquela época e nos ajudou a aprender bastante
sobre a ditadura militar do Brasil, demonstrando que nesta época não tinha liberdade
de expressão.
Atividade 3
A terceira atividade foi uma pesquisa sobre os governos durante a ditadura
militar no Brasil, esta foi encaminhada de forma organizada, foi indispensável a
ajuda do professor no sentido de mostrar aos alunos como se faz o trabalho, ou seja
mostrar os caminhos a ser seguido. Por si só, a atividade de pesquisa não tem
função nenhuma. Para que a mesma tenha seus objetivos, ou seja, se torne
produtiva na escola, foi necessário que o aluno analise as produções já disponíveis
sobre o tema e depois elabore suas próprias conclusões pessoais. Desta forma o
educando foi capaz de argumentar, criticar, avaliar as diversas situações do
conhecimento.
-Trabalho em grupo: após dividir os alunos em grupo foi feito um sorteio dos temas
sobre os governos durante a ditadura militar no Brasil pesquisando os contextos
políticos, econômicos e sociais destes, os alunos pesquisaram no laboratório de
informática Após a pesquisa, foi apresentado para os colegas, onde perceberam as
rupturas e permanências.
Foi muito importante a participação do professor orientando o processo da
pesquisa, fez com que aumentasse a capacidade de argumentação, e valorizando o
questionamento, estimulou a curiosidade dos alunos. Se não houver a orientação
por parte do professor no processo de pesquisa, o aluno fica sem saber como fazer,
simplesmente deixa de fazer ou apresenta cópias fiéis de parte de obras ou recorte e
cola de textos da Internet, apenas para receber nota.
15
Atividade 4
O trabalho com imagens foi possibilitar discussões sobre as condições de
produção daquela imagem, ou seja, contexto social, temporal e espacial em que foi
produzida. Assim perceber seus significados, tanto para a época e sociedade em
que foi produzida como para outras sociedades, em outros períodos e contextos
históricos.
A proposta da utilização da charge foi para conseguir unir conceitos,
conteúdos e normas ao conhecimento de mundo do discente, para que desta forma
o aprendizado não seja passageiro, que se mantenha e evolua conforme as novas
informações que o aluno for recebendo ao longo de sua formação acadêmica. A
charge teve uma ligação direta com o conteúdo: ditadura militar no Brasil, o
professor como orientador, deve como objetivos pedagógicos em relação à escolha
do material a ser trabalhado, para que este não se perca durante o processo de
compreensão e de interpretação da mesma, e consiga trocar informações sobre o
conteúdo que está sendo passado.
As pessoas não se comunicam apenas com palavras. Os movimentos faciais
e corporais, os gestos, os olhares, a entonação são também importantes: são os
elementos não verbais da comunicação. Os significados de determinados gestos e
comportamentos variam muito de uma cultura para outra e de época para época.
16
-Após analisar as charges: de autor desconhecido
http://creativecommons.org/?=charges+durante+militar+no+brasil&derivatives=on&fo
rmat=Image# Acesso: 08/07/2011
e a charge de Fortuna publicado no Correio da Manhã, em 1966,
#http://creativecommons.org/q=charges+militar+no+brasil&derivatives=on&format=I
mage
Acesso: 08/07/2011.
Ao observarem as charges, os alunos foram incentivados a responderem a
pergunta: “O que o artista está ironizando nessas charges”?
Na primeira charges os alunos perceberam que era referente a Divisão de
Censura de Diversões Públicas (DCDP), órgão responsável pela análise das obras.
Os alunos do 8º e 9º anos, não encontraram dificuldade de responder sobre a
charge referente ao veto de algumas músicas.
Na segunda charge é da Fortuna, foi feita meses antes de o governo ter
aprovado a Lei de Imprensa, onde os alunos foram incentivados a analisarem a
imagem, os alunos do 8º Ano, encontraram mais dificuldade para analisarem a
charge, proveniente da falta de pré-requisitos, e maturidade. Já os alunos do 9º Ano
os alunos conseguiram analisar a charge com o contexto: repararam que o
personagem está de pijama e chinelo, o que sugere a ideia de invasão da intimidade
do cidadão.
Após a análise das charges os alunos fizeram desenhos sobre a manipulação
da cultura durante a ditadura militar no Brasil. Muitos desenhos estavam
censurando, música, teatro, filme, imprensa.
A charge teve um grande aproveitamento, além de despertarem interesse pelo
conteúdo. Desta forma o professor encontrou mais facilidade de atuar com os
alunos, pois várias questões foram levantadas e colocadas em debate, dinamizando
a aula.
Atividade 5
Após os alunos terem pesquisado as questões políticas, econômicas ,
culturais da ditadura militar no Brasil. Os alunos pesquisaram a censura musical no
contexto da ditadura militar no Brasil, investigaram o período que atingiu as artes e
17
em específico a música brasileira através de documentos, entrevistas com cantores
e depoimentos de ex-técnica que relata o cotidiano da DCDP (Divisão de Censura
de Diversões Públicas). No sítio http://livrosafins.com/conheca-os-bastidores-da-
censura-musical-no-brasil, e no http:/www.censuramusical.com.br .
O professor discutiu sobre o Golpe Militar de 1964 , assim como trabalhar o
conceito de censura, como e com quais objetivos ela era utilizada, os órgãos
responsáveis pela censura – Departamento de Ordem Política e Social (DOPS),
Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), e a legislação que a oficializava
(Ato Institucional nº 5, de 1968, que proibia atividades ou manifestações sobre
assuntos de natureza política; Decreto-Lei 1.077, de 1970, que instituiu a censura
prévia; Lei de Imprensa, de 1967, que restringia a liberdade de expressão, etc). O
professor deverá aproveitou as respostas, os comentários e as reações da turma
para trabalhar o conteúdo.
Esta atividade foi desenvolvida no Laboratório de Informática. A sala foi
dividida em grupo que pesquisaram assuntos distintos. Na pesquisa, os alunos
atentaram para os motivos apontados pelos censores para que tais obras fossem
barrados; quais as sugestões de mudanças para que aquelas obras fossem aceitas;
o teor da observação (político e moral); entre outros. O importante foi perceber como
a legislação de censura era aplicada pelos órgãos de repressão e como os meios
intelectuais e artístico foram afetados com isso. Cabe ressaltar que, ainda hoje,
grande parte dos arquivos da ditadura militar no Brasil, se encontra fechado; que,
ainda hoje, livros didáticos falam de “Revolução de 1964” e “Milagre Econômico”, e
omitem a selvageria do governo.
Com o material pesquisado, os alunos apresentaram os temas com as
conclusões do grupo ao restante da sala. Após a apresentação, o professor abriu a
discussão sobre o tema pesquisado, no qual analisamos a compreensão de como e
por que a censura foi utilizada pela ditadura civil-militar de 1964/1985, conheceram
os órgãos responsáveis por aplicá-la e as áreas visadas por estes censores e
compreenderam as consequências da censura na manipulação da história e da
memória.
18
Atividade 6:
Após um levantamento dos conhecimentos prévios dos educandos sobre os
temas: Estado, forma de governo, Democracia e Ditadura, foi inserida a música da
época em que vigorou no país a repressão do governo militar (1964-1985).
Procuramos trabalhar com os educandos a relação das letras das músicas de
“protesto”, no período da ditadura militar no Brasil bem, como no segundo momento,
na atualidade. Para tanto, foi interessante trabalhar duas músicas durante o
momento em que desenrolou o regime militar, e uma música atual. A partir disso,
organizamos a turma em grupos de no máximo 4 pessoas, procederam a análise
não apenas da letra mas também, relacionou com o momento histórico em que a
mesma foi composta.
Musicas sugeridas: “Apesar de você”, “ Cálice” de Chico Buarque de Holanda.
“Abalando”, de Gabriel o Pensador.
Um amplo leque de possibilidades interdisciplinares surgiu a partir do tema
música de protesto nos movimentos sociais durante a ditadura militar no Brasil.
Esse trabalho foi desenvolvido nas aulas de História, tendo a música como
fonte documental com a contribuição das disciplinas de Língua Portuguesa,
Geografia e Artes, permitindo assim a interdisciplinaridade.
À História coube pesquisar a censura musical no contexto da ditadura militar,
procurou investigar de que forma esse período atingiu as Artes e em específico a
música brasileira. O professor realizou um trabalho de interpretação das músicas de
forma que os alunos chegaram a conclusões do por que da proibição de uma
determinada música e, que aspecto da segurança ou da moralidade o autor da
música infringiu.
Portanto, é imprescindível denotar a importância do professor nesse
momento, pois é ele quem direcionou o trabalho que realizaram com a música, ser
o mediador das discussões e indagar sobre o tema em questão.
-Em Língua Portuguesa foi analisada e interpretadas as letras das músicas onde o
professor solicitou aos alunos que investigaram o sentido das frases/palavras.
-Em Artes os alunos pesquisaram músicas proibidas e apresentaram aos seus pares
através de uma apresentação musical, produzindo letras de músicas de protesto
acerca do ritmo de sua preferência.
19
-Em Geografia, após os alunos terem feito as pesquisas sobre os cantores
perseguidos, eles localizaram nos mapas o destino dos artistas quando foram
exilados forçosamente ou partiram para a um exílio voluntário.
Quando se propõe trabalhar a música, foi preciso entender o momento em
que foi produzida. As músicas retiradas do site http://letra.com.br/, “Apesar de você”
e “Cálice”, composta por Chico Buarque e em 1970 e em parceria com Gilberto Gil
em 1973. A música “Cálice” teve seu pedido negado várias vezes pelo censo entre
1979 e 1981. A música em questão possui um jogo de palavras que pretendia driblar
a censura. Esta parte do trabalho foi usado duas músicas da ditadura militar e ainda
uma música atual, confrontando duas realidades, com a finalidade de afirmar a
importância da MPB, como documento no ensino de história da ditadura militar no
Brasil.
Quando da proposta de utilização da música foi apresentada aos alunos,
observamos um grande interesse e sua receptividade foi satisfatória, foi muito
positivo. Após a escolha das canções, preparamos o material de apoio (cópias da
letras, textos, Cds, aparelho de som, TV Pendrive). Passei então para a
contextualização do momento histórico.
Música: Cálice
Composição e interpretação: Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil
Interpretação: Chico Buarque de Holanda
Ano: 1973
Foi apresentada a letra da música “Apesar de você”, os alunos fizeram uma
primeira leitura e junto com o professor de Língua Portuguesa, pesquisaram termos
existentes na letra da música que são alheios ao conhecimento dos alunos, e
procuraram seu significado.
-Ouviram a música junto com a leitura da letra.
Cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai. Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.
Como beber dessa bebida amarga
Trazer a gota, engolir a labuta
20
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta.
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta...
Chico Buarque de Holanda, 1973.
Após ouvirem a letra com a música os alunos foram questionados: qual a
primeira impressão que eles tiveram ao ouvir a música e se identificaram nela algo
relacionado ao tema proposto?
-Atividades de interpretação da letra da música.
-O que o título da música quer dizer ou sugere?
-Por que a música foi censurada?
-O que estava acontecendo no ano em que ela foi composta ?
Vejamos o que alguns grupos de alunos responderam sobre “O que o título
da música quer dizer ou sugere”?
No primeiro momento, parece uma crítica a igreja católica, mas
a intenção desse cálice é criticar a censura.
8º Ano A/N
É uma crítica ao “cale-se” imposto em forma de censura, contra
o governo ditador, que proibia tudo.
9º Ano A/N
Quanto à pergunta “Por que a música foi censurada”?
Foi o período em que os militares mandavam no Brasil e que as
pessoas não tinham direito de expor suas ideias não podiam
falar o que pensavam.
8º Ano A/N.
Porque fazia critica ao governo, que censurava tudo, o povo já
estava cansado de obedecer as ordens do governo e muitos
21
compositores usavam a música para fazer protesto contra a
forma de governo.
9º Ano A/N.
A participação da professora de Língua Portuguesa foi fundamental para a
análise da letra da música, facilitando a compreensão dos alunos.
Após a audição da letra da música, foi solicitada aos alunos que analisassem
a canção, a primeira impressão que os alunos tiveram da música Cálice foi muito
surpreendente, porque eles se interessaram muito pela letra da música, ritmo,
chegaram a pensar no primeiro momento, que a letra da música parecia uma crítica
a Igreja Católica, mas os alunos conseguiram perceber a intenção da canção que é
criticar a censura, é uma crítica ao “Cale-se” imposto em forma de censura.
Sobretudo, relacionados aos censores, e os critérios que utilizavam para cortar e
censurar as obras. Os alunos ficaram surpresos com as críticas a ditadura militar e
como uma produção musical podia conter tantas denúncias e ter passado pelo crivo
dos censores.
O período governado pelo presidente, general Emílio Garrastazu Médici
(1969-1974), escolhido por uma junta militar, substituindo Costa e Silva, foi
considerado o mais duro e repressivo, denominado “Anos de Chumbo”. Momento
em que a repressão atinge seu auge: revistas, jornais, livros, peças de teatro, filmes,
músicas e outras formas de expressão artísticas e têm sua exposição proibida pela
censura.
Se por um lado o país estava nos considerados Anos de Chumbo, por outro,
devido ao crescimento econômico, no período de 1969 a 1974, ficou marcada a
”Época do Milagre Econômico”, os investimentos exteriores geraram milhões de
empregos, enquanto houve avanço e estruturou uma base de infra-estrutura e
grandes incentivos ao consumismo. E buscando implantar essa imagem de
prosperidade, as repressões aos órgãos de imprensas acabam por impedir a
denúncia das arbitrariedades que se espalhavam pelo país.
Na segunda música, onde os alunos já haviam lido um texto referente ao
governo Médici, foi apresentada a letra da música, “Apesar de você”, e fizeram a
primeira leitura.
Título: Apesar de você
Compositor: Chico Buarque de Holanda
22
Interprete: Chico Buarque de Holanda
“Apesar de você”
Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia
Hoje você é quem manda
Falou tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.
Chico Buarque de Holanda- 1972.
Após os alunos ouvirem a música junto com a leitura da letra, percebemos um
envolvimento com a canção, a melodia parecia agradá-los, entretanto após algumas
reflexões a música “Apesar de você”, significou um grito em meio à ditadura
considerada por alguns críticos como um hino contra a ditadura militar, letra essa
direcionada ao presidente Médici e que critica o AI5.
Vejamos o que alguns grupos responderam a respeito da música “Apesar de
você”.
O que o título da música quer dizer ou sugere?
Apesar da falta de liberdade, acreditam nas mudanças e quando
a censura não puder mais controlar a voz.
8º Ano A/N.
O compositor expressa otimismo, e que o momento de mudança
vai acontecer onde as pessoas poderiam expressar sua opinião.
23
9º Ano A/N.
Na segunda pergunta “Por que a música foi censurada?”
Foi proibida porque fazia crítica ao presidente Médice.
8º Ano A/N.
Esta música foi lançada em LP e vendeu muitas cópias, mas foi
apreendido pela censura porque falava do governo militar no
Brasil e ao presidente Médice.
9º Ano A/N.
Os alunos conseguiram entender a música como fonte histórica porque
houve relação entre o texto e o contexto e como ela foi inserida na sociedade .
Trabalhamos a música através de paralelo entre os períodos históricos e de
comparação, utilizando músicas do período da ditadura militar, comparando com
música mais atual.
Após a análise das músicas do período estudado: ”Cálice” e “Apesar de
você”, de Chico Buarque de Holanda, foi analisado a música “Abalando” de Gabriel-
O Pensador.
Foi apresentada a letra da música, e fizeram uma primeira leitura.
Título: “Abalando”
Compositor: Gabriel, o Pensador.
Interprete: Gabriel, o Pensador.
“ABALANDO”
Gabriel, o Pensador, o homem em que eles amam odiar.
Agora voltou para ham...ham tentar falar
Isso é se ninguém quiser me censurar me calar
(Manera rapaz
Da última vez eles te tiraram do ar)
Não eu não consegui acreditar nisso
Mas não vâmo esquecer e nem permanecer omissos num caso que diz
Respeito ao direito de um cidadão
De carregar no peito a sua liberdade de expressão
24
Liberdade de expressão aqui? Há
Não existe
Eu fiz “Hoje eu tô feliz” e fiquei triste
Pois já não posso mais nem sair em paz
Os fdp confundem artistas com marginais
Mas eu não sou um marginal
Isso é um grande erro
Sou apenas um artista como todo brasileiro
E o meu erro foi dizer o que não devia
Acreditei que existia o quê: Democracia...
Gabriel, o Pensador-1993
Após a audição da música, foi solicitado aos alunos que analisassem a
canção, foram percebendo que o compositor aborda a questão da capacidade que o
indivíduo tem de construir a história, tendo consciência do seu papel na sociedade
como agente transformador e não permitir que o passado (ditadura militar) volte a
fazer parte do presente, e que estas músicas fazem uma crítica ao momento
histórico do Brasil e a mentalidade do povo, despertando para o momento de nascer
para a realidade, se impor, participar deixando de ser alienado. Depois de
compreendida e analisada em detalhes, foi discutida a ideia do que está ao alcance
de cada um para poder fazer a sua parte na sociedade. A iniciativa e a vontade dos
alunos foram marcantes na realização da atividade com música, pois logo
perceberam que analisá-la e descobrir seus valores e significados não é tão
complicado assim.
Pelo relato, foi possível verificar que o trabalho com música foi significativo
para os alunos e professores, sujeitos históricos do processo ensino aprendizagem.
Atividade 7
Após a análise das músicas foi solicitados aos alunos que pesquisassem
sobre a época dos festivais de música, estimulando os alunos a questionarem sobre
o clima de disputa dos festivais, sobre a importância que esses festivais tiveram na
época e para a Música Popular Brasileira, e sobre a contextualização histórica
desses festivais.
25
Eles compreenderam a importância dos festivais para aquela época, foi
proposta para os alunos a participação deles em um festival de canção, criando
letras de música em qualquer estilo musical, que denuncie os aspectos do nosso
tempo (político, social, ambiental, musical, etc.).
Na aula seguinte o próximo passo foi tratar sobre o festival: divisão dos alunos
em dupla, onde cada dupla teve como trabalho compor letras de músicas em
qualquer estilo musical, que denunciasse os aspectos do nosso tempo (político,
social, ambiental, etc.).
O tema do festival foi definido “Meio Ambiente”, este tema representou o meio
onde eles vivem e conhecem muito bem. As letras expressavam a preocupação em
preservar e conservar o meio ambiente, algumas letras questionaram o poder
político em melhorar as condições de manter o pequeno agricultor no campo.
Desde a escolha do tema do festival observamos a preocupação dos alunos
com o meio onde eles vivem, e puderam compreender a importância de lutar pelos
seus interesses, e conseguiram entender que direitos não se ganham, se
conquistam.
Atividade 8
Ao terminarmos a intervenção pedagógica, aplicamos novamente o
questionário dos conhecimentos do tema e passamos para a análise. Ao analisar as
respostas após a Implementação observamos os seguintes resultados:
Vejamos as respostas dos alunos sobre “O que é ditadura”?
A ditadura foi um período em que os militares estavam no poder e que tudo
era censurado, governo que não aceita crítica, onde os militares tinham o
poder para proibir o que eles quisessem.
8º Ano A/N
É um período de proibições, sofrimentos, dores, um período em que os
militares tomaram conta do país, a ditadura acabou com os direitos das
pessoas, censurando, proibindo, perseguindo e matando quem era contra o
governo foi uma época que acabou a liberdade do povo, e foi o tempo em que
as pessoas eram proibidas de falar mal do governo e eram punidos, presos
ou mortos.
26
9º Ano A/N.
As respostas dos alunos da segunda pergunta: “No Brasil já existiu
ditadura”?
Todos os alunos do 8º e 9º Anos responderam: Que sim, 1964-1985. Foi
quando os militares assumiram o governo.
Na terceira pergunta: “O que é censura”?
Quando alguma coisa está contra o governo, então é censurado, exemplo
quando uma música é censurada ela não pode tocar mais. Proibido.
8º Ano A/N.
Censura é quando alguém te proíbe de qualquer coisa que possa atingir o
governo como música, teatro, cinema,etc. Proibir algo ou alguém de fazer
algo que fale contra a moral e a política.
9º Ano A/N.
Na quarta pergunta: “O que é música de protesto”?
É uma música que faz críticas contra o governo. Música de protesto é
quando tenta mudar a opinião da sociedade fazendo letras contra o governo.
8º Ano A/N.
As músicas de protesto falam sobre a situação que o Brasil estava passando
e que o governo e os militares estavam fazendo.
9º Ano A/N.
Na quinta pergunta: “O que é repressão”?
Dominação, sofrimento, tortura, proibições, violência. A repressão é aumento
do sofrimento por perder a liberdade.
8º Ano A/N.
Disseram que a repressão foi a forma de dominação, que o governo criou
leis para controlar a população, usando as leis para continuar no poder, como
27
a censura.
9º Ano A/N
Na sexta pergunta: “As letras de músicas podem trazer intenções e
mensagens”?
Todos os alunos do 8º e 9º Anos, responderam que sim, porque ao
analisarem as canções perceberam que todas trazem intenções e mensagens
de acordo com seu tempo.
Na sétima pergunta: “É possível através da música analisar uma
determinada realidade ou representação dessas realidades”?
Foi muito gratificante observar que 100% dos alunos do 8º e 9º Anos
disseram que é possível, pois as músicas retratam muito bem a sociedade, e
que foi através das análises destas músicas que compreenderam que a
música está ligada ao contexto histórico.
5 Avaliação
No processo avaliativo foi importante considerarmos o conhecimento prévio,
as hipóteses e os domínios dos alunos em relacionar com as mudanças que
ocorreram no processo de ensino e aprendizado.
Ao final percebemos, que os alunos obtiveram através da música como
mediação nas aulas, uma forma mais eficaz de aprendizagem sobre este tema e que
foi possível sim, a produção do conhecimento histórico .
28
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta aqui apresentada constitui-se em um instrumento pedagógico de
grandes valias na busca metodologias inovadoras que contribuem para o
enriquecimento do ensino de História e para a formação de uma consciência
histórica.
O uso de diferentes linguagens, para a construção do conhecimento, entre
elas a musical que, para além de uma manifestação artística é uma representação
social, política e cultural, por meio da qual fala um compositor, homem de um
determinado tempo e lugar portador de uma concepção que também é política,
social, cultural e mesmo ideológica. A música é uma ferramenta que além de
conteúdo, proporcionou facilidade nesse trabalho de implementação pedagógica,
onde instigou a participação e conseguente entendimento por parte dos alunos.
Percebemos através dos resultados obtidos pelos alunos, a importância da
interdisciplinaridade para a compreensão do tema proposto, que possibilitou os
alunos assimilarem com clareza e entendimento. Quando a música é trabalhada
junto com o assunto, conseguimos até reconquistar a atenção daqueles alunos que
são desatentos nas aulas. Nesta implementação os alunos conseguiram desenvolver
suas ideias ao invés de recebê-las prontas, sem dúvida é inquestionável a relevância
da música na educação.
E envolver a música criou possibilidade de efetivação de um trabalho em prol da
construção de uma educação com potencial emancipador e crítico para todos.
Através da música como ferramenta a captação do assunto tornou o processo
de ensino aprendizagem bem mais fácil e interessante para os alunos e ficamos
felizes de poder escrever que não encerramos o estudo apresentado, muito pelo
contrário, temos a certeza de que iniciamos assim, outras variações de um tema
inacabado.
29
REFERÊNCIAS
ABUD. Kátia Maria. Registro e representação do cotidiano: a música popular na aula de História. Caderno Cedes. Campinas, v.25, n.67. pp. 309-317, set/dez.2010. Disponível em ˂ http://www.cedes.unicamp.br/ ˂ BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos métodos. São Paulo. Editora Cortez, 2004. BOULLOS JÚNIOR, Alfredo. Sociedade & Cidadania. 9º ano. São Paulo: ftd, 2009. CALADO, Isabel. A utilização educativa das imagens. Lisboa: Porto Editora, 1994. CARDOSO, Ciri Flamarion. VAINFAS, Ronaldo. Domínio da História-Ensaios de teoria metodologia. 5,ed. Editora Campus Ltda, 1997. CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democrácia, São Paulo: Editora Cortez, 1999. CHARGES DURANTE DITADURA NO BRASIL: ˂http://creativecommons.org/=charges+durante+ditadura+no+brasil&derivatives=on&format=Image# ˂ Acesso: 08/07/2011. ________. Cálice. Disponível em ˂http://letras.terra.com.br/chico-buarque/˂ Acesso em 27/06/2011. FERRO,Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. Gabriel, o Pensador. Abalando. Disponível em: ˂http://letras.terra.com.br/gabriel-pensador/96133˂ Acesso em: 09/07/2011. GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagógica Histórico-Crítica. 4. ed. São Paulo. Editora Autores Associados. 1999. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo. Editora Scipione, 2009. SILVA, Alberto Ribeiro. Sinal Fechado: A Música Popular Brasileira sob Censura (1937-45/1969-78). Obra Aberta Rio de Janeiro, 1994. SQUEFF, Enio e WISNIK, José Miguel. O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 2001. MOURA, M. Roberto. A censura e a música no Brasil. In: INTERNATIONAL COUNCIL FOR TRADIONAL MUSIC, 36.2001, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro. 2001. Disponível em http://.bocc.ubi.pt/pag/moura-roberto-censura-musical.pdf. Acesso em 1Abril 2012. NAPOLITANO, Marcos. História e música no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica,
30
2002. NAPOLITANO. Marcos. Fontes audiovisuais. A História depois do papel. In: PINSKY. Carla B.& Outros. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. Gabriel, o Pensador. Abalando. Disponível em: ˂http://letras.terra.com.br/gabriel-pensador/96133˂ Acesso em : 09/07/2011. __________.MPB Sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância (1068-1981). Revista brasileira de História. São Paulo, v.24, n. 47, 2004. HOLANDA, Chico Buarque de. Apesar de você. Disponível em: ˂http:letras.terra.com.br/chico-buarque/˂ Acesso em 10/07/2011. HOMEM, Wagner. Histórias de Canções: Chico Buarque. São Paulo. Leya, 2009. Cálice. Disponível em ˂http:letras.terra.com.br/chico-buarque/˂ Acesso em 27/06/2011. Apesar de você. Disponível em ˂http:letras.terra.com.br/chico-buarque/˂ Acesso em 27/06/2011. PROJETO ARARIBÁ: História / organizadora Editora moderna : obra coletiva, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna: editora responsável Maria Raquel Apolinário – 2. ed. São Paulo: Moderna, 2007. PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Paraná – Arte. Curitiba, 2008. PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Paraná – História. Curitiba, 2008