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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem 07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR
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O uso da fotografia institucional como memória das organizações:
A desconstrução das imagens contidas na revista Copel Informações
Rakelly Calliari Schacht1
Emerson dos Santos Dias2
Resumo: Os resultados da pesquisa envolvendo a identificação do uso de recursos técnicos e elementos constitutivos da linguagem fotográfica em revistas institucionais estão reunidos neste artigo, desenvolvido com recursos metodológicos da desconstrução analítica proposta pelo pesquisador Paulo César Boni (2000) e da desmontagem das imagens de Boris Kossoy (2007). O objeto empírico escolhido foram nove edições comemorativas da revista Copel Informações (1969 a 2009), nas quais buscamos demonstrar o processo de construção da imagem em um ambiente corporativo, a intencionalidade do autor no registro fotográfico institucional e sua importância na constituição da memória, identidade e da imagem organizacionais. A pesquisa também usou referências do fotoassessorismo pesquisado por Cibele Abdo Rodella (2010, 2011), voltado para a oferta de imagens fotográficas institucionais para a imprensa por meio de assessoria de comunicação. Por fim, o trabalho retoma o processo constitutivo da imagem institucional na própria história, como a apropriação do trabalho de fotodocumentaristas por órgãos governamentais – fato descrito por Gisele Freund (1995) – ou ainda projetos fotográficos encomendados, investigados por Jorge Pedro Sousa (2004). No Brasil, a contratação de Augusto Malta como fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro, em julho de 1903, atesta a importância da imagem fotográfica institucional e também mostra que o país tem tradição neste segmento. A aplicação da metodologia da desconstrução analítica contribui neste sentido e ajuda a perceber que a imagem fotográfica possui uma escrita e deixa marcas da intencionalidade de seu autor.
Palavras-chave: Fotoassessorismo, fotografia institucional, desconstrução analítica.
Abstract: The results of a research involving the identification of application of technical resources and elements of the photographic language in institutional magazines are gathered in this article, developed with support of the methodological tools offered by analytical deconstruction proposed by the researcher Paulo César Boni (2000) and the decoding of images presented by Boris Kossoy (2007). The empirical object chosen were nine commemorative editions of the magazine Copel Informações (1969-2009), in which we will demonstrate the process of constructing the image in a corporate environment, the intention of the author in the institutional photographic record and its importance in the formation of memory, identity and organizational image. The research also used references provided by Cybele Abdo Rodella (2010, 2011), in a study focused in the institutional images supplied to the press. Finally, this paper refers to the process of institutional image´s constitution in History, as the acquisition of documentary photographs by government - indeed described by Gisele Freund (1995) - or commissioned photographic projects, as investigated by Jorge Pedro Sousa (2004). In Brazil, the admission of Augusto Malta as official photographer of the city of Rio de Janeiro, in July 1903, attests to the importance of institutional photographic image and also shows a certain tradition of the country in this segment. Applying the methodology of analytical deconstruction contributes to this effect and helps to realize that the photographic image has a written and leaves marks of intentionality of its author.
Keywords: Fotoassessorismo, institutional photography, analytical deconstruction.
1 Jornalista graduada, assessora de comunicação e mestranda do curso de Comunicação Visual da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: [email protected] 2 Jornalista graduado, professor universitário e mestre em Ciências Sociais pela UEL. Doutorando em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected]
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Introdução
Nascida em um momento de ascensão da classe burguesa em um período marcado pelo
positivismo, a fotografia serviu aos mais diferentes propósitos ao longo da história, entre os quais
se encontra seu uso institucional. Neste segmento, as imagens tornaram-se importantes
ferramentas de divulgação das organizações e empresas públicas e privadas. Elas funcionavam
como registros históricos para o portfólio dos empreendimentos ao mesmo tempo em que
enfatizavam o viés publicitário de produtos (industriais ou artesanais), ações (de estratégias
mercadológicas a programas sociais de governo) e, claro, de pessoas (empresários, atletas,
artistas, políticos, entre outros). Ao discutir a fotografia publicitária moderna, José Manuel
Susperregui (2010) não deixa de enfatizar a aproximação desta com a comunicação comercial.
La fotografía publicitária tiene uma relación directa com la comunicación comercial para
la venta de los productos industriales. Como consecuencia de la Primera Guerra Mundial
se producen unos cambio políticos, sociales y económicos que afectan a los modos de
vida; en el ámbito industrial estos cambios afectan la organización del trabajo que
persigue un aumento de la productividad para obtener una mayor competitividad así
como una sociedad de consumo. (SUSPERREGUI, 2010, p. 150).
Estas mudanças que afetam a organização do trabalho, apontadas pelo professor basco
em decorrência da imagem publicitária e corporativa, vêm sendo aperfeiçoadas pelos
comunicadores sociais e cada vez mais implementadas no endomarketing e na comunicação
institucional, com destaque para o trabalho das assessorias de comunicação.
Tanto que provoca o surgimento de um novo termo: o fotoassessorismo, neologismo
apontado por Cibelle Abdo Rodella (2010, p. 16) para descrever a atividade que “se aproxima do
fotojornalismo pelo seu caráter de registro do acontecimento, mas se distancia ao intencionar
manter uma imagem, no sentido amplo, subjetivo, favorável ao assessorado, tanto da organização
como de seus dirigentes”.
A pesquisadora lança luz ao segmento do fotoassessorismo voltado à oferta de imagens
fotográficas institucionais para a imprensa. Porém, a atividade do fotoassessor abrange a
produção de imagens com múltiplas finalidades, como documentação, arquivo, disponibilidade
para reprodução pela imprensa, materiais institucionais e publicações internas. Apesar da escassa
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bibliografia dedicada especificamente a esse segmento de registro fotográfico, o reconhecimento
do valor da fotografia como agente constitutivo de imagem, identidade e memória institucionais
ocorre já em seus primeiros anos e é descrito por diversos autores como, por exemplo, a
reprodução de obras de arte por Adolphe Braun e sua equipe em diversos países da Europa ainda
no século XIX (FREUND, 1995, p. 100), a apropriação da obra de fotodocumentaristas por
órgãos governamentais (FREUND, 1995, p. 94) e fotodocumentarismo realizados sob
encomenda, como o projeto Farm Security Administration (SOUSA, 2004, p. 110). No Brasil, a
contratação de Augusto Malta como fotógrafo oficial do município do Rio de Janeiro, em julho
de 1903, é um atestado do entendimento da importância da imagem fotográfica institucional.
(GRANDI e MUNTEAL, 2005, p.29)
A partir da década de 1960, o fortalecimento da comunicação organizacional e as
dificuldades impostas ao mercado midiático impresso pela concorrência com a televisão
causaram migração de repórteres fotográficos para as assessorias de comunicação e,
consequentemente, para o fotoassessorismo, tanto no Brasil (REGO, 1987) quanto em outros
países (FREUND, 1995, p. 147). Ao registrar os principais assuntos relativos à empresa no
decorrer de sua história, as publicações institucionais passam a colaborar para a construção da
memória, identidade e imagem das corporações.
1.Fotoassessorismo e geração de sentido
Este trabalho tem como objeto a revista Copel Informações, direcionada ao público
interno da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel). A revista surgiu de um boletim
criado em 1963 e é publicada com periodicidade definida desde 1969. Já nos primeiros números a
publicação servia-se de fotografias produzidas por quadro próprio de profissionais.
Desde 1966, a Companhia conta com fotógrafos na equipe, chegando a ter quatro
profissionais atuando na área, entre 1982 e 1995, com laboratório próprio para revelação em
preto e branco: um na sede, em Curitiba, e outro fixado nas principais obras de usinas
hidrelétricas, conforme entrevista feita com o fotógrafo Antônio Borba (2012).
O primeiro fotógrafo contratado foi José Carlos Simões, que permaneceu em atividade
até 1995. Em 1972 integrou-se à equipe Irineu Niévola; em 1977, Antônio Carlos da Silva Borba
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e, em 1982, Ennio Vianna. Em 2010 foi contratada Sinara de Almeida de Freitas, que no início de
2012 se tornou a única fotógrafa profissional a ocupar o cargo na empresa.
A amostra selecionada para este trabalho é formada pelas imagens contidas nas capas ou
reportagens de destaque das edições comemorativas dos aniversários de 15, 20, 25, 30, 35, 40,
45, 50 e 55 anos da Companhia. O recorte foi necessário, dada a impossibilidade de trazer à
analise neste breve espaço as mais de 400 imagens fotográficas que compõem as edições
selecionadas. A pesquisa abrange os números editados entre 1969 e 2009, selecionados pelo alto
grau de sintetização proporcionado pela busca em retratar, nessas edições especiais, determinado
momento da empresa. As metodologias utilizadas são a desconstrução analítica (BONI, 2000) e a
desmontagem das imagens (KOSSOY, 2007), com o objetivo de identificar as técnicas e
elementos da linguagem fotográfica adotados pelos fotoassessores para a geração de sentido na
publicação institucional.
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2.Documentos, desconstrução analítica e desmontagem das imagens
A fotografia possui linguagem de códigos abertos e contínuos, sendo, portanto, passível
de leitura. De acordo com Boni (2000), a mesma dedicação empregada na leitura dos códigos
fotográficos deve ser direcionada também ao entendimento da escrita da fotografia:
Existem formas de o fotógrafo manifestar sua intencionalidade de comunicação em
fotografia, ou seja, existem formas de se escrever em fotografia, mesmo sabendo que os
códigos abertos e contínuos que compõem a mensagem não direcionam completamente
a leitura. (BONI, 2000, p. 14).
Estes códigos, segundo Boris Kossoy (2007), podem ser desmontados (decifrados) por
meio da análise iconográfica, onde “buscamos detectar seus ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
(fotógrafo, assunto, tecnologia) e suas COORDENADAS DE SITUAÇÃO (espaço, tempo)”, e da
interpretação iconológica “para a decifração daquilo que o fragmento visual não tem de explícito
em seu conteúdo” (KOSSOY, 2007, p. 46-47, grifos do autor).
A análise documental também foi usada como metodologia nesta pesquisa. Sônia
Virgínia Moreira (2005) a divide em quantitativa e qualitativa, sendo a primeira focada na
apuração cumulativa de informação. Já a qualitativa analisa o conteúdo do material em contextos
diversos.
A Análise Documental, muito mais que localizar, identificar, organizar e avaliar textos,
sons e imagens, funciona como expediente eficaz para contextualizar fatos, situações,
momentos. Consegue, dessa maneira, introduzir novas perspectivas em outros
ambientes, sem deixar de respeitar a substância original dos documentos. (MOREIRA,
2005, p. 276).
Observar o processo gerativo de significado nas edições selecionadas para este artigo
não foi, entretanto, tarefa fácil. A começar pela recorrente falta de crédito individual às
fotografias, o que acontece com certa frequência na Copel Informações.
Ainda assim, o fato de as imagens estarem contidas em um espaço físico em forma de
revista e as entrevistas com alguns profissionais da fotografia que colaboraram com o periódico
contribuíram para eficácia das ferramentas metodológicas.
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2.1 Boletim Copel Informações: 1969
No primeiro número, publicado em outubro de 1969, a identificação da autoria é
possível, por haver apenas um fotógrafo: José Carlos Simões. Ele é responsável pelas quatro
imagens internas que, por sua vez, possuem significantes bastante diversos: uma reunião da
Assembleia Geral de Acionistas, um empregado em atividade, a sede campestre da Associação
dos Funcionários da Copel em Campo Comprido e a fase de conclusão da usina Foz do Chopim,
no oeste paranaense.
Como nenhuma delas ocupa lugar de destaque, optamos por analisar a primeira
fotografia citada (Figura 1), situada na terceira página da publicação, em um subtítulo ligado ao
assunto principal da edição.
Utilizando-se a metodologia da desconstrução analítica (BONI, 2000), é possível ver
que o ângulo linear escolhido por Simões, de frente para o tema e na altura dos olhos, dá a
impressão de que o leitor é, ele mesmo, membro participante da reunião de acionistas. Esta ilusão
de integração que é bastante interessante em um momento de formação da cultura empresarial,
fazendo com que o leitor se identifique com os desafios de crescimento da Copel, que encerra
uma década de consolidação: “Em vez de 14 localidades servidas em 1960, até o final de outubro
do corrente ano a eletricidade é distribuída diretamente pela COPEL em 210 cidades”. (COPEL
INFORMAÇÕES, 1969)
Figura 1 – Para 300 milhões Fotógrafo: José Carlos Simões
Fonte: Copel Informações, Ed. 01, p.03, outubro de 1969
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É bastante provável que tenha sido utilizada uma lente grande angular, que aumenta o
campo de visão da fotografia. O plano americano, que corta o elemento humano pela cintura,
concentra a atenção nos braços e cabeça dos personagens. Neste sentido, os participantes da
reunião formam linhas em perspectiva que dão destaque à figura sentada ao fundo: o então
presidente da empresa, Pedro Viriato Parigot de Souza, que aparece com a mão fechada sobre a
mesa e olhar direcionado a sua esquerda, o que sugere movimento e dinamismo de líder. Por ser
bastante próximo ao plano médio, permite ainda ver outros elementos de significação no
ambiente, como os papéis e xícaras de café sobre a mesa, indicando que se trata de uma reunião
de trabalho extensa. O foco é homogêneo, permitindo a identificação de todos na fotografia.
Um detalhe que merece ser destacado, mesmo porque surgem em edições seguintes, é o
uso de ilustrações. Nesta edição analisada, a capa exibe o trabalho do ilustrador Albano Pereira,
alusiva ao aniversário de 15 anos da Companhia (Figura 2).
Figura 2
Fonte: Copel Informações, Ed. 1(ilustração de capa)
2.2 Consciência histórica: 1974 e 1979
A edição comemorativa de 20 anos da Companhia, editada em 1974, reflete o momento
de expansão da empresa, com a construção de novas hidrelétricas. Em duas décadas de atuação,
também já é possível voltar o olhar para o passado, buscando recuperar os fatos históricos da
criação da Companhia.
A presença das fotografias na edição já é marcante: são 48 imagens contidas nas páginas
do ainda “boletim”. Em 1979, a edição foi revista e ampliada, contando com 60 fotografias.
Porém, as imagens de capa continuam sendo ilustrações, em 1974 e 1979 (Figuras 03 e 04). Em
1974, só a última página contém fotos coloridas; em 1979, são duas páginas com fotos em cor.
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Figuras 3 e 4
Fonte: Copel Informações, Ed. 33 e 65 (ilustrações de capa)
Em 1974 (assim como na edição seguinte), não há créditos para os autores das imagens
utilizadas na publicação. José Carlos Simões e Irineu Niévola trabalhavam como fotógrafos da
Companhia, porém, a edição também traz fotografias históricas ou anteriores a sua contratação,
como da eletrificação de Curitiba em 1912 e da primeira usina a diesel instalada em Maringá,
cuja autoria tornou-se difícil de identificar.
Para contar a história dos primeiros 20 anos da Copel, foram recuperadas ou produzidas
produções fotográficas de ex-presidentes e dos primeiros funcionários, da assistência de saúde ao
corpo funcional, imagens dos primórdios da eletrificação do estado, das três sedes já ocupadas
pela empresa, de obras relevantes até então construídas ou em construção pela Companhia e de
cidades cujo atendimento havia sido recentemente encampado pela Copel.
Um desses retratos, produzidos para a publicação, é do primeiro diretor-presidente,
Themístocles Linhares, acompanhado do primeiro diretor-adjunto, Heraldo Vidal Correa (Figura
05). A permanência de ambos nos respectivos cargos durou cerca de um ano, até a renúncia da
diretoria provocada por mudanças no governo. (COPEL INFORMAÇÕES, 1974, p.4)
A fotografia foi tomada durante a entrevista concedida por eles para a edição
comemorativa, o que é informado na legenda. Em um leve ângulo de mergulho, que tende a
diminuir os elementos retratados, o ex-presidente aparece com o dedo indicador levantado,
dirigindo-se supostamente ao entrevistador, em uma posição informal. A inclinação do corpo na
cadeira confere certa instabilidade à figura. Já o diretor-adjunto tem apenas o rosto em perfil
enquadrado à direita da fotografia, com os olhos voltados para baixo, quase cerrados. O foco é
homogêneo em toda a fotografia, porém o plano americano pouco permite ver detalhes do
ambiente em que se encontram os entrevistados.
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Figura 5 – Durante entrevista prestada ao “Copel Informações” um flagrante histórico: Prof. Themístocles Linhares, primeiro Dir. Presidente (à esquerda), e Doutor Heraldo Vidal Correa, primeiro Dir. Administrativo
Fotógrafo: Não identificado Fonte: Copel Informações, Ed. 33, p. 4, setembro/outubro de 1974
A fim de demonstrar as transformações proporcionadas pelo fornecimento de energia
elétrica, a edição comemorativa de 1974 também utilizou fotografias de paisagem urbana, duas
das quais foram selecionadas para esta análise. A primeira delas retrata uma rua da capital
paranaense em 1912 (Figura 6), em um plano geral, em que prevalece o ambiente, porém
dividindo o espaço com elementos móveis e vivos. A tonalidade é normal, em preto e branco. O
ângulo de mergulho, que normalmente desvaloriza o elemento retratado, aqui foi escolhido pelo
fotógrafo com o objetivo de ampliar a visão do leitor sobre a rua. Pela regra dos terços, é possível
notar a valorização do poste com fios elétricos na composição, elemento que tem a atração
reforçada pela presença de duas figuras humanas próximas, uma sobre a escada e outra ao chão.
O ângulo escolhido ainda deixam claros os trilhos do bonde, criando uma linha de
perspectiva que convida os olhos a correr em direção ao canto superior esquerdo da fotografia.
Pedestres e uma carroça são outros elementos de significação típicos do cenário urbano no início
do século XX.
A outra fotografia é da cidade de Londrina e a publicação se dá em um momento
representativo, já que a Copel havia conquistado naquele ano o direito a distribuir energia neste
que é o segundo maior município do Paraná, através
da aquisição da Empresa Elétrica de Londrina.
(COPEL INFORMAÇÕES, 1974, p. 2).
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Figuras 6 – 1912: aspecto da Rua XV de Novembro, em Curitiba, atual Rua das Flores. À direita, dois eletricistas
efetuam reparos na Rede de Distribuição Figura 7 – Plano geral de Londrina, com destaque para Praça Rocha Pombo frente à rodoviária
Fotógrafos: Não identificados Fonte: Copel Informações, Ed. 33, p.12 e 13, setembro/outubro de 1974
O fotógrafo escolheu um grande plano geral, em que o ambiente é o elemento
preponderante, com o objetivo de destacar a iluminação alimentada por energia elétrica em um
horizonte arquitetônico característico da cidade. Pelo alto contraste, é possível identificar que
trata-se de uma fotografia tomada no período noturno, em que aparecem a praça Rocha Pombo e
o prédio da antiga estação rodoviária refletido no espelho d´água da praça.
O autor da imagem ainda utiliza a regra dos terços para situar o início dos arcos
projetados por Vilanova Artigas em um dos pontos-ouro da fotografia. Em 1975, a Secretaria da
Cultura do Estado do Paraná promoveria o processo de tombamento do prédio e da praça.
(CORREA e PISANI, 2007, p. 8). Em um terceiro plano, ainda é possível observar como
elementos de significação os prédios da área central da cidade, que podem representar o
crescimento vertical urbano e o progresso proporcionado pela energia elétrica, condições ainda
mais valorizadas pelo ângulo de contra-mergulho.
É interessante perceber que a iluminação noturna poderia adquirir outro significado caso
houvesse elementos humanos na fotografia, já que a energia elétrica permite o prolongamento do
período útil do dia. Já diante da praça vazia fica evidente apenas seu efeito estético na tranquila
paisagem urbana, sensação reforçada pelo formato horizontal, recomendado para fotografias
estáticas, conforme explica Boni (2003, p.180): “A força da mensagem está calcada na
plasticidade estética e na beleza sublime do motivo. Transmite paz, serenidade, conforto”.
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Na versão revisada de 1979, a revista Copel Informações amplia a galeria de fotos dos
primeiros empregados e atualiza fotos da sede, da Fundação Copel e de obras como Salto Osório
e Foz do Areia. Especificamente em Foz do Areia, no município de Pinhão, o fotógrafo Carlos
Antônio da Silva Borba havia sido contratado dois anos antes para registrar a evolução da obra.
Segundo o relato do fotógrafo, em entrevista para esta pesquisa, havia um helicóptero disponível
na obra e pontos pré-determinados que eram registrados em produções fotográficas mensalmente,
como demonstra a figura 8.
Outra imagem de Foz do Areia publicada em 1979 é a do discurso do então presidente
João Figueiredo, em visita à usina (Figura 9). O ângulo de contra-mergulho valoriza o presidente,
porém, em entrevista a esta pesquisa o autor da fotografia, Antônio Carlos da Silva Borba,
esclareceu tratar-se, ao mesmo tempo, da única opção disponível para o trabalho. “Era muito
difícil de fotografar, porque havia muitos seguranças, você não conseguia chegar perto”.
(BORBA, 2012).
Ainda assim, o plano escolhido deixa incluídos importantes elementos de significação:
microfones e gravadores da imprensa, demonstrando ser um evento de importância, além dos
executivos da Companhia que estão em volta do governante.
Vale ressaltar aqui que as escolhas técnicas e estéticas do fotógrafo durante o processo
de criação das representações estão dentro da “codificação formal” apontada por Kossoy (2007,
p. 48-50). Codificação esta que é amparada pela captação da imagem, pelos recursos dos
equipamentos e, por fim, pelos recursos plásticos que podem ser consolidados tanto por efeitos
estéticos no momento do registro, na ampliação (da película) ou no tratamento de pós-produção
(imagens digitais).
Esclarecemos que a codificação formal está aliada à “codificação cultural” (KOSSOY,
2007, p. 50-52), envolvendo o momento histórico do fato em conjunto com as heranças culturais
e ideológicas do autor.
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Figura 8 – Estágio atual dos trabalhos em Foz do Areia, a maior usina do Iguaçu Figura 9 – O Presidente João Figueiredo durante seu discurso em Foz do Areia, ladeado (da e. para a d.) pelo Presidente da COPEL, Douglas Souza Luz, pelo Governador do Estado, Ney Braga, pelo Ministro das Minas e
Energia, César Cals, e pelo Ministro da Fazenda, Karlos Rischbieter Fotógrafo: Antônio Carlos da Silva Borba
Fonte: Copel Informações, Ed. 65, p.20 e 18, setembro de 1979
2.3 Década de 1980: Qualidade de vida e segurança
Nas duas edições especiais publicadas na década de 1980 há brusca variação na
qualidade gráfica, com a extinção das páginas publicadas em cor e redução de páginas no
segundo número analisado, de 1989.
A edição comemorativa de 1984 ainda tem a produção de fotografias em evidência: leva
65 fotos, sendo nove na capa, sem crédito aos autores. Uma das imagens da capa se conecta
especialmente à manchete “30 anos transformando energia em qualidade de vida”. Trata-se de
uma fotografia de um jogo de basquete, provavelmente tomada durante a Olimpíada Copel
daquele ano, que é objeto de reportagem na edição (Figura 10).
A partir da desconstrução analítica da fotografia, percebe-se que ela foi feita na posição
vertical, mais recomendado para imagens dedicadas ao movimento, já muito claro pela posição
dos jogadores: dois deles têm os pés fora do chão. Mesmo em preto e branco, é possível perceber
a diferença entre os uniformes, caracterizando times adversários em campo.
O plano médio escolhido apresenta os jogadores ambientados por elementos de
significação característicos do esporte: arquibancada, torcida, sinalização da quadra, a bola e até
mesmo a cesta de basquete aparecem enquadrados e com foco. A fotografia tem elementos de
significação que remetem a dinamismo, saúde e bem estar, ou seja, à qualidade de vida referida
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na chamada de capa. Além de diminuir o campo de visão, o uso de uma lente teleobjetiva achatou
os elementos, dando a impressão de proximidade entre os jogadores e a torcida maior do que a
real. Também percebe-se que o pé do jogador foi cortado da composição no lado esquerdo,
detalhe que perde a importância em uma fotografia de movimento, que prima pela informação em
detrimento da plasticidade.
Já na edição de setembro de 1989, com oito páginas, foram publicadas apenas seis fotos,
também sem crédito aos autores. A capa se divide entre a chamada principal sobre o aniversário
da Companhia e uma chamada secundária, porém com imagem, para uma feira de segurança
ocorrida em Londrina (Figura 11).
Figura 10 – 30 anos transformando energia em melhor qualidade de vida
Fotógrafo: Não identificado Fonte: Copel Informações, Ed. 99, capa, novembro de 1984 Figura 11 – Feira de segurança foi um sucesso em Londrina
Fotógrafo: não identificado Fonte: Copel Informações, Ed.148, capa, setembro de 1989
A fotografia mostra uma das atividades citadas na matéria: uma simulação de um
acidente provocado por alguém que tenta retirar uma pipa da rede elétrica. Neste caso, o
fotógrafo optou por um plano geral em ângulo de mergulho, com o objetivo de mostrar o grande
fluxo de visitantes da feira aberta à comunidade, mas a abertura do plano e a tonalidade escura
dificultam a leitura da cena. Neste caso, é a posição do público que direciona o olhar do leitor
para o alto do poste, onde ocorre a simulação. As barracas que aparecem no lado inferior direito
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da fotografia são elementos de significação que ajudam a causar o entendimento de tratar-se de
uma ocasião festiva e não de uma situação real.
2.4 Anos 1990: Tecnologia e soluções
Finalmente consolidada como revista de distribuição dirigida (e não mais como
boletim), a publicação volta a dar crédito aos fotógrafos no expediente e a publicar fotografias
coloridas na capa e contracapa a partir da década de 1990. Concede espaços de meia página para
fotografias na diagramação e, pela primeira vez entre as edições analisadas neste artigo, dedica
toda sua capa a uma fotografia apenas (Figura 12).
A imagem em questão é diferenciada, a começar por seu autor: Sérgio Sade, já na época
consagrado pelo trabalho realizado na revista Veja. Diferente dos planos geral e médio que
predominam na revista até o momento, ele opta pelo primeiro plano, privilegiando a linguagem
fotográfica, em detrimento de uma informação objetiva.
Figura 12 – A maturidade de uma empresa que constrói o Paraná e o Brasil Fotografia: Sérgio Sade Fonte: Copel Informações, Ed. 188, setembro/outubro de 1994
A energia, elemento normalmente invisível, torna-se explícita no ensaio de laboratório
feito com uma cadeia de isoladores, equipamento familiar ao público-alvo da publicação que são
os empregados da Copel. Aqui nos deparamos com as “simulações iconográficas” citadas por
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Kossoy, “onde não houve nenhum referente concreto e sim um referente sem vida ‘gerado’ a
partir da segunda realidade: a da representação”. (KOSSOY, 2007, p. 139).
Há um destaque para a tonalidade azul produzida pelo arco elétrico, que fica ainda mais
evidente no alto contraste causado pela luminosidade. O primeiro plano torna possível perceber a
textura do vidro que compõe os isoladores. Os elementos de significação presentes apontam para
o avanço da tecnologia, das pesquisas e do capital intelectual da empresa, mensagem que é
reforçada pela manchete “A maturidade de uma empresa que constrói o Paraná e o Brasil”.
Apenas a fotografia de capa é assinada por Sade; as demais 36 imagens constantes da
publicação são provenientes de arquivo ou de autoria dos fotógrafos do quadro próprio da
Companhia: Irineu Niévola, Ennio Vianna e José Simões.
Em 1999, todas as páginas da revista são coloridas e o crédito das fotografias é
conferido no expediente a Irineu Niévola, Ennio Vianna e Carlos Borba. Pela primeira vez dentre
as edições analisadas, as fotografias ilustram também o índice da revista.
Na edição de 39 páginas, há 95 fotografias. A imagem utilizada na capa é a logomarca
criada para os 45 anos da Companhia, que aparece também no registro da palestra ministrada
pelo sociólogo italiano Domenico de Masi no Teatro Guaíra, a convite da Copel (Figura 13).
Novamente aplicando-se a metodologia da desconstrução analítica, pode-se aferir algumas
informações sobre a intencionalidade do autor da fotografia.
Figura 13 – Domenico de Masi veio a Curitiba a convite da Copel Fotógrafo: Não identificado
Fonte: Copel Informações, Ed. 239, p.05, outubro de 1999
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A lente utilizada se aproxima do olhar humano, entre 35 e 50mm, em um ângulo de
contra-mergulho, que tende a valorizar os elementos retratados. O plano é médio, já que integra
as pessoas sentadas ao ambiente, formado pelas placas de identificação e garrafas de água típicas
de grandes eventos formais, e pela logomarca, no alto, ao fundo.
A logomarca e o slogan logo abaixo são fortes elementos de significação que indicam
qual é a empresa promotora do evento e o motivo de sua realização (“aniversário de 45 Anos”). A
tonalidade escura dos ternos predomina na linha horizontal inferior da fotografia e contrasta com
a riqueza de cores da logomarca, formando uma interessante ilustração para o título “Trabalho e
lazer: os desafios do século XXI”.
A orientação horizontal da fotografia (com evidencia de corte) e o fato de todos os
elementos humanos estarem sentados dão impressão de estaticidade à imagem. Essa composição,
mais a direção dos olhares de todos à mesa levam a atenção do leitor ao único homem que olha
para frente, com menção de estar falando, deixando claro quem é o palestrante, entre eles.
2.5 Anos 2000: Participação do funcionalismo
Nas edições comemorativas de 50 e 55 anos da Companhia, o crédito das fotografias no
expediente é de Antônio Carlos da Silva Borba, que permaneceu em atividade até o início de
2012. No entanto, é possível perceber que, na edição de 2004, também foram selecionadas para
compor a capa fotografias produzidas pelos assessores regionais de comunicação, ou mesmo por
empregados que tivessem estado presentes às comemorações dos 50 anos da empresa, em
diferentes cidades do Paraná (Figura 14). A própria chamada “Os copelianos comemoram o
cinqüentenário da Copel por toda a empresa” justifica a ênfase do testemunho sobre o valor
estético das imagens, tema de debate bastante característico sobre a fotografia nas mídias após a
virada do século.
Observando a edição comemorativa de 2009, já é possível verificar uma solução
diferente de diagramação, com destaque para uma fotografia na capa e uso de múltiplas imagens
como ilustração da matéria; a aplicação de recursos para manipulação das fotografias e uma
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diagramação com legenda e mais espaço entre as imagens, que proporciona um resultado estético
mais harmonioso, mesmo com fotografias tomadas por amadores (Figura 15).
Figura 14 – Capa. Fonte: Copel Informações, Ed. 272, capa, outubro de 2004
Figura 15 – Principal reportagem interna. Fonte: Copel Informações, Ed.293, p.14, setembro/outubro de 2009
Quanto à fotografia de capa, em 2009 tem-se uma imagem noturna produzida por
Antônio Carlos da Silva Borba (Figura 16). O fotógrafo procurou um prédio mais alto próximo à
sede da empresa e optou por um plano geral, que mostra, além do prédio principal, parte da
capital paranaense iluminada, em um típico cenário urbano, contextualizando a Companhia na
sociedade em que ela se insere.
A linha formada pela Rua Coronel Dulcídio é reforçada pelo traço deixado pelos carros
em movimento devido à longa abertura do obturador, o que direciona o olhar do leitor para este
cenário, que tem como elementos de significação principais as lâmpadas, os prédios, carros,
postes e árvores, além da logomarca e slogan que aparecem na lateral do prédio e são
reproduzidos na chamada: “Copel. 55 anos iluminando o Paraná”.
Em entrevista a esta pesquisa (BORBA, 2012), o fotógrafo lamenta a superexposição
causada pela iluminação artificial do letreiro, que foi inevitável para conseguir o efeito geral
desejado. Prova que os avanços tecnológicos ainda não são capazes de satisfazer algumas
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propostas criativas dos profissionais. Conseguir efeitos estéticos (traços dos faróis dos carros)
impõe perdas de informação (superexposição do letreiro na lateral do prédio, por exemplo).
Ainda assim é interessante notar o ganho de informação e até de linguagem que o
fotógrafo obteve, mesmo utilizando um ângulo de mergulho que tenderia a diminuir o elemento
principal da fotografia. Outras três edições analisadas (nos anos 1974, 1979 e 1999) possuem
fotografias do mesmo prédio, produzidas por outros autores, porém sempre utilizando-se de um
ângulo de contra-mergulho, que confere imponência ao edifício (Figuras 17, 18 e 19), porém não
permite situá-lo geograficamente, como o fez Borba.
Figura 16 – Copel 55 anos iluminando o Paraná Fotografia: Antônio Carlos da Silva Borba Fonte: Copel Informações, Ed. 293, capa, setembro/outubro de 2009
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Figuras 17, 18 e 19 – Sede da Copel em três registros Fotógrafo: Não identificado
Fonte: Copel Informações, Ed. 33, p. 5, set/out 1974; Ed. 65, p. 5, set 1979; Ed.239, p. 2, out 1999
3. Considerações finais
Apesar de terem o objetivo comum de apresentar de forma favorável seus assessorados,
os fotógrafos assessores cumprem um papel maior ao contribuir para a construção de memória,
identidade e imagem, no sentido amplo, das organizações.
Ao analisar o exemplo da revista Copel Informações, é possível notar a importância do
registro fotográfico institucional para a história da empresa, seus múltiplos parceiros (ou
stakeholders, na linguagem corporativa) e da comunicação organizacional, como um todo. Outro
levantamento mensurado pela análise documental que não aparece explicitamente neste artigo é o
aumento, em volume e qualidade, das fotografias impressas ao longo dos anos: de apenas quatro
imagens, na primeira edição analisada em 1969 para uma média de 90 fotografias nos últimos
números, além do aprimoramento do aumento gradativo das páginas impressas em cores, por
exemplo.
Observando o material fotográfico da revista, seria difícil estabelecer os limites da
influência sobre a autoria das imagens, já que cada uma delas certamente contém uma demanda
institucional e, ao mesmo tempo, autoria técnica e sensorial. O debate que permeia a decisão
sobre a concessão de créditos no fotoassessorismo mereceria outra análise e está longe de
alcançar unanimidade. No caso das amostras analisadas da revista Copel Informações, após o
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crédito nominal dos fotógrafos registrados em 1969, existe um hiato de duas décadas. Somente a
partir de 1994 concede-se o crédito de forma coletiva, no expediente da publicação.
Questões éticas podem surgir neste debate, mas o amparo da referência conceitual do
trabalho do jornalista como profissão regulamentada e debatida incansavelmente na academia
colabora para que “o fotoassessorismo não seja uma modalidade fotográfica menos ética que o
fotojornalismo, posto que a assessoria de imprensa é uma especialidade do jornalismo”.
(RODELLA, 2011, p. 54).
Não podemos esquecer que o consumo da imagem envolve também as produções
audiovisuais de maneira agressiva no Século XXI. Em pesquisa feita anteriormente (SCHACHT,
DIAS, 2011), ressaltamos que as imagens, antes, distinguiam-se claramente do real como uma
“não-coisa”. Com as relações pessoais e profissionais mescladas ao mundo virtual, as imagens
passam a se fundir na geração da hiperrealidade, transformando funcionários e clientes em
público espectador. Um ambiente difícil para o assessor de comunicação atuar, visto que qualquer
imagem pode transformar-se imediatamente em publicidade, positiva ou negativa. O alerta vem
de Vilém Flusser, ao afirmar que o homem, “ao invés de se servir das imagens em função do
mundo, passa a viver em função das imagens” (FLUSSER, 2009, p. 09). Simbolicamente, é a
imagem que procura o olho (e, por sua vez, o cliente ou parceiro) e não mais o contrário.
Há ainda três fatores que se fundem no trabalho do fotoassessorismo: as características
comercial, publicitária e histórica das representações produzidas pelos profissionais. No caso das
publicações aqui pesquisadas, as imagens permanecem “coladas” ao tempo histórico graças ao
ambiente físico que são as páginas das revistas. No entanto, em tempos de Internet, bancos de
dados virtuais e clippings digitais, estas fotografias podem futuramente ser deslocadas para outras
mídias e produções gráficas alterando seus significados, como alerta Kossoy (2007, p. 139-141).
De qualquer forma, a aplicação das metodologias da desconstrução analítica e da
desmontagem das imagens ajuda a perceber que a imagem fotográfica possui uma escrita e deixa
marcas da intencionalidade de seu autor no tempo histórico, social e empresarial. No caso das
imagens analisadas neste artigo, formadas em sua maioria por fotografias planejadas, posadas ou
em flagrantes consentidos, foi possível demonstrar que o profissional de assessoria utiliza-se de
técnicas e elementos da linguagem fotográfica, com a finalidade de obter os resultados desejados
no processo comunicacional. Ação, claro, que procura respeitar a ética prevista tanto no
jornalismo quanto na assessoria, braços imprescindíveis da Comunicação Social contemporânea.
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Referências
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