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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI UNIVALI PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA MESTRADO ACADEMICO MINTER / UNIVALI / UNINORTE O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM LOCAL DE MANAUS/AM: ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO SEBASTIÃO E SEU ENTORNO Balneário Camboriú - SC 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E

HOTELARIA – MESTRADO ACADEMICO

MINTER / UNIVALI / UNINORTE

O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM

LOCAL DE MANAUS/AM:

ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO

SEBASTIÃO E SEU ENTORNO

Balneário Camboriú - SC

2012

ANDRESSA MARIA CRUZ DOS SANTOS

O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM

LOCAL DE MANAUS/AM:

ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO

SEBASTIÃO E SEU ENTORNO

Dissertação apresentada como requisito

para obtenção do título de mestre do Programa

de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação Balneário Camboriú.

Orientadora: Prof.ª Drª Josildete Pereira de

Oliveira.

Balneário Camboriú - SC

2012

ANDRESSA MARIA CRUZ DOS SANTOS

O TURISMO A PARTIR DA REQUALIFICAÇÃO DA PAISAGEM

LOCAL DE MANAUS/AM:

ESTUDO DE CASO CENTRO CULTURAL LARGO DO SÃO

SEBASTIÃO E SEU ENTORNO

Proposta de pesquisa apresentada à banca examinadora abaixo em defesa no

Programa de Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria pela

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI / MINTER / UNINORTE.

Área de Concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e Hotelaria

Balneário Camboriú, 30 de outubro de 2012.

Aos meus amores incondicionais: André Bernardo, Maria da Luz e Moysés Israel.

DEDICO.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela dádiva da existência e a oportunidade

de trilhar um caminho repleto de experiências, ensinamentos e amizades.

Ao Raimundo Maramaldo, no coração e nas doces lembranças, e à

matriarca amada Elza Cruz, pelo começo de tudo isso!

À minha mãe, mulher guerreira, que sozinha criou seus cinco filhos

preparando-os para a vida!

Ao meu filho amado, André Bernardo que, enquanto dedicava-me a este

trabalho, precisou ouvir diversas vezes: filho, hoje mamãe não pode!

Ao meu companheiro, incentivador incansável da busca de conhecimentos e

amigo sem igual.

Aos meus familiares que, nos encontros tradicionais, enviavam sempre a

mensagem: mana, estou comendo (ou bebendo) esse aqui por você!

À minha orientadora Josildete Oliveira pelas sábias contribuições tanto em

termos técnicos referentes a esta dissertação quanto pelo exemplo de pessoa.

Aos meus colegas de trabalho - UNINORTE, UFAM e FUCAPI - que

contribuíram com informações, referências e motivações.

Aos meus colegas, amigos e manos do MINTER por cada momento, cada

viagem, cada aventura de voo, cada encontro informal, cada “frio na barriga”, cada

angústia por resultados e cada laço de amizade consolidado. E, na oportunidade,

parabenizo a família UNIVALI pela presteza e qualidade nos serviços oferecidos.

Aos meus alunos e minhas sobrinhas que participaram das pesquisas, em

especial: Raquel, Lícia, Sérgio, Nathália e Mônica. E aos demais que sempre

procuraram saber do andamento desta destinando palavras de apoio e incentivo.

À Secretaria de Estado de Cultura (SEC-AM), ao IPHAN na pessoa de

Márcia Honda pelas imagens e sábias contribuições, à Igreja de São Sebastião e

aos moradores do entorno do CCLSS que contribuíram com dados e relatos para

o desenvolvimento desta.

Esse mérito também é de vocês! Orgulhem-se!

Andressa Maria Cruz dos Santos.

RESUMO

Partindo da prerrogativa de que a paisagem edificada apresenta a capacidade de atrair visitantes e promover destinos, o presente trabalho propõe-se a analisar a paisagem edificada, do CCLSS - Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno, como consequência do processo de requalificação. Em um primeiro momento, apresenta-se a temática conceitual subjacente para sustentação da pesquisa direcionando os estudos em busca dos resultados que se propõem. Iniciando com um panorama do turismo e o estudo da paisagem – por ser o primeiro contato que o turista tem com o seu local visitado; em seguida com Patrimônio Cultural tentando alocar alguns conceitos que surgiram ao longo de sua trajetória, para então concluir com sua referência dentro do contexto turístico. Em um segundo momento, aplica-se a metodologia estudo de caso, caracterizada em uma pesquisa qualitativa, tendo como objeto de estudo o Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno. As ferramentas - coleta de dados secundários, aplicação de questionários e entrevistas semiestruturas foram adotadas com o objetivo de compreender as implicações da requalificação da paisagem no contexto do turismo. Como resultado, percebe-se que a preocupação em oferecer atividades culturais e de lazer com frequência faz parte do planejamento de manutenção como consequência de um dos objetivos que foi proposto ao CCLSS e seu entorno – o turismo. Porém, a requalificação inebria os visitantes com o que lhes é aparente e o espaço imaginário retido em suas memórias é de uma realidade artificial, uma vez que desconhecem a constituição de suportes dessa nova memória e não possuem informações adequadas à dissociação do original ao reproduzido devido a homogeneidade arquitetônica. Sendo assim, um modelo de gestão direcionado à formatação específica do CCLSS e seu entorno e o desenvolvimento de um material promocional que divulgue como o processo de requalificação foi idealizado e desenvolvido são, além do conhecimento científico sobre essa paisagem, sugestões dessa pesquisa. Palavras-chave: Paisagem Urbana; Requalificação; Patrimônio Histórico; Centro Cultural Largo de São Sebastião.

ABSTRACT

Based on the prerogative that the built landscape has the capacity to attract visitors and promote destinations, this work analyzes the built landscape of the CCLSS - Largo de São Sebastião Culture Center, and its surrounding area, as a consequence of the process of requalification. First, it presents the underlying contextual theme, to support the research, guiding the studies in search of the proposed results. It starts with a panorama of tourism and the study of landscape – as the first contact the tourist has with the place visited; next, it addresses the Cultural Heritage, seeking to assign some concepts that emerge during its trajectory, before concluding with its reference within the context of tourism. Secondly, it applies the case study methodology, characterized as qualitative research, taking as its object of study the Largo de São Sebastião cultural Center and the surrounding area. The tools – collection of secondary data, application of questionnaires and semistructured interviews were adopted in an attempt to understand the implications of the requalification of the landscape in the context of tourism. As a result, it is seen that the concern to offer cultural and leisure activities often form part of the planning of maintenance as a consequence of one of the objectives proposed for the CCLSS and its surrounding area – tourism. However, the requalification captivates visitors by what they see, and the imaginary space retained in their memories is an artificial reality, as they are not aware of the constitution of supports of this new memory, and do not have appropriate information to disassociate the original from what is reproduced, due to the architectural homogeneity. Thus, a model of management directed towards the specific formatting of the CCLSS and its surrounding area, and the development of a promotional material that divulges how the process of requalification was conceived are, along with a scientific knowledge of this landscape, suggestions of this research. Keywords: Urban Landscape; Requalification; Historical Heritage; Largo de São Sebastião Cultural Center.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Estrutura da pesquisa – metodologia.............................................. 40

Figura 02: Área de influência do projeto ......................................................... 43

Figura 03: Localização Geográfica do Município de Manaus ......................... 47

Figura 04: Planta da Cidade de Manaus ......................................................... 48

Figura 05: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 1 ........................ 53

Figura 06: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 2 ........................ 53

Figura 07: Anúncio publicitário do século XX em Manaus – 3 ........................ 53

Figura 08: Imagem da cidade flutuante – Manaus .......................................... 56

Figura 09: Expansão territorial no ano de 1915 .............................................. 57

Figura 10: Expansão territorial no ano de 1968 .............................................. 57

Figura 11: Centro de Manaus em consequência da Zona Franca .................. 58

Figura 12: Projeto Casa das Sete ................................................................... 62

Figura 13: Área de abrangência do CCLSS e seu entorno ............................. 63

Figura 14: Monumento comemorativo – panorama do LSS. .......................... 66

Figura 15: Monumento em homenagem à abertura dos portos ...................... 68

Figura 16: Detalhe da fachada do Teatro Amazonas ...................................... 71

Figura 17: Teatro Amazonas – detalhes internos. .......................................... 72

Figura 18: Palácio da Justiça em 1898 ........................................................... 73

Figura 19: Palácio da Justiça em 2011 ........................................................... 74

Figura 20: Casa das Artes ............................................................................... 75

Figura 21: Casa Ivete Ibiapina ........................................................................ 76

Figura 22: Casa J. G. Araújo ........................................................................... 77

Figura 23: Galeria do Largo ............................................................................ 78

Figura 24: Área de abrangência do Projeto – vista aérea ............................... 80

Figura 25: As intenções adotadas pelo projeto ............................................... 81

Figura 26: Proposta de restauro da Rua Dez de Julho - 1ª quadra ................ 81

Figura 27: Proposta de restauro da Rua Dez de Julho - 2ª quadra ................ 82

Figura 28: Intervenção no imóvel nº 451 – antes da restauração ................... 82

Figura 29: Intervenção no imóvel nº 451 – depois da restauração ................. 82

Figura 30: Igreja de São Sebastião – dia ........................................................ 83

Figura 31: Igreja de São Sebastião – noite .................................................... 83

Figura 32: Proposta de restauro da Rua Costa Azevedo ................................ 83

Figura 33: Fotomontagem – casas geminadas da Rua Costa Azevedo ......... 84

Figura 34: Fachadas anteriores e após a intervenção .................................... 84

Figura 35: Fachada anterior ............................................................................ 85

Figura 36: Detalhe da fachada ........................................................................ 85

Figura 37: Vista da fachada atual .................................................................... 85

Figura 38: Fachadas da Rua Costa Azevedo – anteriores e atuais ................ 85

Figura 39: Proposta de intervenção para Rua José Clemente ....................... 86

Figura 40: Estacionamento presente – anterior à requalificação .................... 86

Figura 41: Rua José Clemente – vista aérea .................................................. 87

Figura 42: Rua José Clemente – paginação de piso ..................................... 87

Figura 43: Imóvel nº 634 – aspecto original .................................................... 88

Figura 44: Imóvel nº 634 – no início do projeto .............................................. 88

Figura 45: Imóvel nº 634 – obra de reconstituição ......................................... 88

Figura 46: Imóvel nº 634 – reconstituído ........................................................ 89

Figura 47: Imóvel Editora do Brasil – fachada original .................................... 90

Figura 48: Imóvel Editora do Brasil – fachada modificada .............................. 90

Figura 49: Imóvel Editora do Brasil – fachada modelo .................................... 90

Figura 50: Imóvel Editora do Brasil – fachada reconstituída ........................... 90

Figura 51: Detalhe do imóvel da área – fachada original ................................ 91

Figura 52: Detalhe do imóvel da área – fachada modificada .......................... 91

Figura 53: Prospecção da argamassa durante reconstituição da fachada ..... 91

Figura 54: Imóvel atual .................................................................................... 92

Figura 55: Habitação atualmente em obra ...................................................... 104

Figura 56: Imóvel com arquitetura original intacta .......................................... 105

Figura 57: Solo Plano ...................................................................................... 105

Figura 58: Detalhe da escadaria do TA - aproveitamento do terreno ............ 105

Figura 59: Detalhe da Rua Dez de Julho ....................................................... 107

Figura 60: Detalhe da Avenida Eduardo Ribeiro .......................................... 107

Figura 61: Tipos de pavimento presentes no CCLSS e seu entorno.............. 107

Figura 62: Detalhe das árvores que circundam a Praça São Sebastião ........ 110

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Público do Teatro Amazonas de 2001 a 2004.............................. 111

Gráfico 02: Atividades culturais no Teatro Amazonas de 2001 a 2004........... 112

Gráfico 03: Comparativo de público: TA (2001) e CCLSS (2010)................... 113

Gráfico 04: Registro de visitantes do CCLSS em 2011................................... 114

Gráfico 05: Turistas do CCLSS e seu entorno – sexo masculino.................... 117

Gráfico 06: Turistas do CCLSS e seu entorno – sexo feminino....................... 117

Gráfico 07: Origem dos turistas do CCLSS e seu entorno.............................. 117

Gráfico 08: Turistas do CCLSS e seu entorno – escolaridade........................ 117

Gráfico 09: Turistas do CCLSS e seu entorno – faixa de renda...................... 117

Gráfico 10: Turistas do CCLSS e seu entorno – razões da viagem................ 117

Gráfico 11 Turistas que já conheciam Manaus............................................... 117

LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Tipos de espaços segundo Boullón 23

Quadro 02: Síntese das tipologias do espaço 24

Quadro 03: Síntese dos elementos do espaço 26

Quadro 04: Variáveis que determinam a paisagem urbana 31

Quadro 05: Síntese dos bens tombados no Município de Manaus 37

Quadro 06: Protocolo de Estudo de Caso – CCLSS e seu entorno 42

Quadro 07: Obras publicadas no jornal A Federação 52

Quadro 08: Análise de autores aceca do declínio da borracha 55

Quadro 09: Quadro de Critérios de escolha do objeto de estudo 63

Quadro 10: Composição do CCLSS 70

Quadro 11: Serviços oferecidos pela cada das artes 76

Quadro 12: Atual do CCLSS - pavimentação 93

Quadro 13: Atual do CCLSS - estrutura 94

Quadro 14: Atual do CCLSS – cores e elementos plásticos 95

Quadro 15: Atual do CCLSS – sinalização e entretenimento 96

Quadro 16: Análise da paisagem – tipo de urbanização 101

Quadro 17: Análise da paisagem – tipo de urbanização e demais variáveis 102

Quadro 18: Análise da paisagem – nível socioeconômico. 103

Quadro 19: Análise da paisagem – estilo arquitetônico 106

Quadro 20: Análise da paisagem – tipo de rua e tipo de árvore 108

Quadro 21: Análise da paisagem – pavimento 109

Quadro 22: Síntese de questionários aplicados e respondidos 115

Quadro 23: CCLSS e seu entorno – análise de turistas 117

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CCLSS Centro Cultural Largo de São Sebastião

DEA Organização dos Estados Americanos

EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

FAB Força Aérea Brasileira

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IGHA Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana

MISAM Museu da Imagem e do Som do Amazonas

OMT Organização Mundial do Turismo

OTCA Organização do tratado de Cooperação Amazônica.

PIB Produto Interno Bruto

SEAP Secretaria Especial de Agricultura e Pesca.

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEC – AM Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas

SENAI Serviço Nacional da Indústria.

SUFRAMA Superintendência da Zonas Franca de Manaus.

UEA Universidade do Estado do Amazonas

UFAM Universidade Federal do Amazonas.

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina.

UNINORTE Centro Universitário do Norte.

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí.

URBAM Empresa Municipal de Urbanização.

WTTC World Travel & Tourism Council

ZFM Zona Franca de Manaus.

14

Sumário

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19

1.1 Contextualização do tema ......................................................................................... 19

1.2 Definição do Problema de Pesquisa .......................................................................... 22

1.3 Objetivos ................................................................................................................... 23

1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 23

1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 23

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 24

2.1 Turismo ..................................................................................................................... 24

2.2 Turismo Cultural ........................................................................................................ 26

2.3 Espaço Turístico Urbano ........................................................................................... 27

2.4 Paisagem turística ..................................................................................................... 33

2.5 Patrimônio (monumentos) Histórico Cultural edificado no contexto do turismo .......... 37

3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 44

3.1 Tipo de pesquisa e procedimento de coleta de dados ............................................... 44

3.2 Procedimento de análise de dados ........................................................................... 49

4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE MANAUS ................................... 51

4.1. Caracterização geográfica......................................................................................... 51

4.2. Caracterização Histórica ........................................................................................... 54

4.3. Caracterização socioeconômica e sociocultural ........................................................ 63

4.4. Estudo de Caso – Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno ............... 66

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................................. 70

5.1. Processo Histórico do CCLSS e seu entorno. ........................................................... 70

5.1.1. Teatro Amazonas ...................................................................................................... 74

5.1.2. Palácio da Justiça ..................................................................................................... 75

5.1.3. Casa das Artes .......................................................................................................... 77

5.1.4. Casa Ivete Ibiapina ................................................................................................... 78

5.1.5. Casa J. G. Araújo ...................................................................................................... 79

5.1.6. Galeria do Largo ....................................................................................................... 80

5.2. Processo de Requalificação do CCLSS e seu entorno como resgate histórico ......... 80

5.3. Mapeamento da configuração atual da paisagem ................................................... 100

5.3.1. Tipo de Urbanização ............................................................................................... 102

5.3.2. Nível Socioeconômico ............................................................................................. 102

5.3.3. Estilo Arquitetônico ................................................................................................. 106

5.3.4. Topografia ............................................................................................................... 107

15

5.3.5. Tipo de Rua ............................................................................................................ 110

5.3.6. Tipo de Pavimento .................................................................................................. 110

5.3.7. Tipo de Árvore ......................................................................................................... 113

5.4. Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no contexto do

turismo. .............................................................................................................................. 113

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 124

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 129

APÊNDICES ...................................................................................................................... 138

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS TURISTAS ................................................................. 139

APÊNDICE B – ENTREVISTA POR DOMICÍLIO: DOCUMENTOS E ROTEIRO ............... 141

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM GESTORES: ROTEIRO e DOCUMENTOS. ............ 143

ANEXOS ........................................................................................................................... 144

ANEXO A – SÍNTESE DO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA SEC-AM ........................ 145

ANEXO B – CARTA DE APRESENTAÇÃO VIA UNIVALI.................................................. 148

ANEXO C – AUTORIZAÇÕES MORADORES ................................................................... 149

ANEXO D – E-MAIL MARCANDO REUNIÃO COM SEC-AM ............................................ 151

ANEXO E – E-MAIL INFORMATIVO SOBRE SOLICITAÇÕES À SEC-AM. ..................... 152

ANEXO F – DADOS ESTATÍSTICOS TA E CCLSS. ......................................................... 153

ANEXO G - MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS - CCLSS................................ 160

16

................ 158

17

............ 159

ANEXO G – MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS – CCLSS. ............................. 160

18

19

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste capítulo é apresentar ao leitor o universo envolvido pelo

tema proposto através da contextualização do recorte temático usado para embasar

a análise do turismo como consequência da requalificação da paisagem urbana que,

por sua vez, está direcionado pelo problema de pesquisa.

1.1 Contextualização do tema

As motivações para viajar crescem em paralelo à diversificação de destinos,

ao rendimento disponível e aos mercados emergentes e tradicionais que, por sua

vez, são acompanhadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e demográficas. Tais

motivações e o consecutivo ato de viajar estimulam a melhoria da qualidade de vida

das pessoas e impactam no desenvolvimento da economia mundial e,

principalmente na economia brasileira (CARVÃO, 2008; STOCK, 2009). Esta

informação é evidenciada por dados estatísticos que, de acordo com a OMT (2011),

as chegadas de turistas internacionais cresceram num ritmo anual de 6,2% onde, de

1950 a 2010 houve o aumento expressivo de 25 para 940 milhões de turistas. E

ainda, cerca de 10% (US$ 700 bilhões) do produto interno bruto – PIB é gerado por

este segmento econômico e mobiliza 12% dos investimentos do globo terrestre e

ainda é responsável pela geração de 6% a 7% de empregos (diretos e indiretos) em

todo o mundo.

De acordo com os dados do Ministério do Turismo (2011), o Brasil recebeu

em 2010 algo em torno de 5,1 milhões de turistas estrangeiros, o que representa um

crescimento de cerca de 6,3% sobre o total de 2009, e aproximadamente 2% a mais

do que nos anos de 2007 e 2008. As receitas dos hotéis apresentam significativo

crescimento de cerca de 13% e o Lucro Operacional Bruto um crescimento de 28%.

O desenvolvimento em questão é observado também nas altas taxas de crescimento

da demanda pelo transporte aéreo que, segundo Bessa e Batista (2010), o

desenvolvimento da aviação comercial pode ser considerado tanto causa quanto

efeito da expansão turística e considera o aeroporto como “catalisador, integrador e

multiplicador” da indústria do turismo, havendo uma integração que contribui com a

demanda turística nacional e internacional. O Aeroporto Internacional Eduardo

Gomes opera atualmente com capacidade de 2,5 milhões de passageiros anuais e,

20

por entender a importância deste modal ao turismo e, consequentemente, para o

desenvolvimento local, está modernizando e ampliando suas instalações com a

meta de 5 milhões de passageiros anuais. Essa ampliação é uma resposta ao

estímulo de potencializar o turismo e foi encorajada por governos que agora

investem em infraestrutura. De acordo com Barreto (2009, p.04), “o turismo brasileiro

alcança resultados cada vez mais satisfatórios, com taxas de crescimento em todos

os segmentos que compõem o setor” e afirma que o crescimento anual da

participação da atividade na economia brasileira é fruto das políticas públicas

desenvolvidas com parcerias pré-estabelecidas (entre estados, município e outros

órgãos de governo) e também do trabalho - sociedade civil e iniciativa privada - para

promover e qualificar os destinos brasileiros. Investir em infraestrutura impacta tanto

na qualidade do produto turístico quanto em qualidade de vida do morador local que

adquire uma consciência ambiental e cultural, ou seja, uma oportunidade única de

“avançar no caminho da tolerância, respeito e compreensão” favorecida pela

interação entre pessoas de diversas origens, tradições e modos de vida (WTTC,

2008). Porém, as transformações que a atividade turística ocasiona, podem ser

boas, como o desenvolvimento da região, ou ruins (quando o planejamento turístico

é deficitário ou inexistente); segundo Yázigi (2002), a ciência de vender as

paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação e propõe a

necessidade de leis municipais que limitem as construções particulares (todo o

projeto e fachada) em harmonia com seu entorno. Para tanto, padrões mínimos de

qualidade e estética são indispensáveis.

Mas, apesar das modificações que sofre, a paisagem é o primeiro contato do

turista com o local visitado. É o turista que a interpreta de forma única e peculiar às

suas experiências, emoções e culturas; tornando-a possuidora de um papel

relevante para o desenvolvimento do turismo. Oliveira et al (2007, p.83) afirma: “a

paisagem é o que se vê em um determinado espaço, é um conjunto de elementos

geográficos de um lugar .”

No que diz respeito ao turismo e a paisagem urbana do Largo de São

Sebastião e seu entorno, é possível encontrar trabalhos acadêmicos que abordam

olhares, paradigmas e estudos específicos. Foram encontrados estudos sobre a

divulgação em eventos culturais (SILVA, 2005); os impactos sociais que o Largo de

São Sebastião para seus moradores e visitantes (BULÇÃO, 2007) e os fatores

motivacionais na escolha do centro cultural Largo de São Sebastião como opção de

21

lazer (SILVA, 2009). Em paralelo, um relatório de estágio relata a relação entre a

falta de tempo dos turistas e o não levantamento de dados no Teatro Amazonas

(RAITZ, 2009) e, mais direcionado ao Patrimônio Histórico, Castro (2006) faz um

acompanhamento do processo (antes e durante) de requalificação da paisagem

contextualizando-o. Alguns artigos versam sobre as praças existentes em Manaus e

fazem referência à Praça de São Sebastião.

Apesar da quantidade e temática dos estudos analisados, não foi detectado

um estudo que sustente o alcance de um dos objetivos da requalificação da

Paisagem do Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu entorno: o

desenvolvimento do turismo. Este fato evidencia a importância do presente estudo

que, junto aos demonstrativos estatísticos confirmam tal desenvolvimento.

Neste contexto aborda-se o escopo desta pesquisa que tem por objetivo

Analisar o Processo de Requalificação da Paisagem do Centro Cultural Largo São

Sebastião e seu entorno1 (CCLSS e seu entorno) e suas implicações sobre o espaço

turístico de Manaus/AM, formatada como: objeto de estudo (Garcia, 2010; Mesquita,

1999, 2006; Duarte, 2010; Benchimol, 2006; Castro, 2006; Nascimento, 2003);

conceitos a respeito do Espaço Turístico e da Paisagem (Lynch, 1997; Yázig, 2002;

Boullón, 2002; Pires, 1999; Castro, 2002; Castogiovani, 2002 e Bertrand, 1971); a

descrição da paisagem com suas categorias e conceitos (Boullón, 2002); patrimônio

histórico com seus conceitos e contexto histórico (Braga, 2003; Curtis, 1981;

Rodrigues, 2009; Abrahim, 2003; Mesquita, 2006; Segre, 1991) que são pontos

norteadores à sustentar a importância da temática em estudo, finalizando com a

inter-relação que existe entre Turismo e Patrimônio Histórico.

Para o alcance dos objetivos optou por um estudo qualitativo (Godoi e Matos,

2006; Creswell, 2007; Oliveira, 1999) e como metodologia o estudo de caso e seus

ferramentais: coleta bibliográfica, questionário com questões abertas e fechadas,

entrevista: por domicílio e semiestruturada, direcionados ao levantamento de

informações relevantes à analise do processo de requalificação da paisagem do

CCLSS e seu entorno. Justificando a opção de uso do estudo de caso, Cullen (1971)

afirma que o estudo de caso evidencia a paisagem urbana composta por recursos

naturais e históricos culturais e foca a análise na percepção que o impacto visual da

cidade exerce sobre seus habitantes ou visitantes. Tal evidencia e análise

1 Para Centro Cultural Largo de São Sebastião será adotado, a partir deste momento, a sigla CCLSS.

22

caracteriza o estudo de caso como predominantemente qualitativo (Yin, 2001;

Cullen, 1971; Dencker, 1998; Labes 1998).

O objeto desta pesquisa, o LSSE, além de estar localizado na cidade de

Manaus, capital do Estado Amazonas, pertence a uma área de concentração de

bens tombados (Estadual e Federal), é um elemento relevante do projeto de

revitalização como tentativa do desenvolvimento cultural e turístico e alvo de

interesse do poder público em área de interesse de preservação.

A intenção da análise que aqui se propõe, visa identificar a relação da

requalificação da paisagem local em prol do turismo. Justificando-se a escolha do

objeto e da temática principal deste estudo.

1.2 Definição do Problema de Pesquisa

Partindo da prerrogativa que a paisagem edificada apresenta a capacidade de

atrair visitantes, promovendo o destino e, como consequência, contempla a cadeia

produtiva do setor; fundamenta-se a preeminência dessa abordagem por ser

considerada interessante referencial na análise do turismo.

Propõe-se, portanto, analisar a etapa de Requalificação do CCLSS e seu

entorno como um norteador do desenvolvimento turístico local.

Contudo, investigar o antigo versus o novo, inerentes às questões de

requalificação urbana que se manifestam dentro do contexto turístico e despertam

atitudes reflexivas quanto às metodologias adotadas (também em relação ao fluxo

turístico), posto que o valor histórico e a originalidade das construções, tão primados

nesta experiência, tornam-se, por vezes discutíveis, comprometendo a identidade da

memória coletiva. A partir dessa perspectiva apresentada, surge a formatação do

problema de pesquisa: Quais são as implicações do processo de requalificação

da Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço

turístico de Manaus?

Constitui esta pesquisa em um estudo de caso de abordagem qualitativa

evidenciada pela relação entre Paisagem Urbana e Turismo, tendo como objetivo

analisar o processo de requalificação do CCLSS e seu entorno, cuja metodologia

encontra-se explicitada no capítulo 3. Desta forma, o presente trabalho encontra-se

estruturado em 4 capítulos onde, o primeiro refere-se às delimitações pertinentes à

pesquisa, no capítulo 2 contém a fundamentação teórica considerada o alicerce da

23

pesquisa, o capítulo 4 caracteriza espacialmente a cidade de Manaus com ênfase no

objeto de estudo – o CCLSS e seu entorno, e no capítulo 5 encontra-se o resultado

e discussões acerca do objeto de estudo.

Para tanto, a pesquisa apresenta como objetivos:

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar o processo de requalificação da paisagem do Centro Cultural Largo

São Sebastião e seu entorno e suas implicações sobre o espaço turístico de

Manaus/AM.

1.3.2 Objetivos Específicos

Analisar o processo histórico de evolução urbana do CCLSS e seu entorno.

Caracterizar o processo de revitalização da paisagem edificada como resgate

da memória cultural.

Mapear a configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade.

Analisar as implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de

requalificação sobre a atividade turística.

24

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesse item, faz-se necessário citar a temática conceitual subjacente para

sustentação da pesquisa e direcionar os estudos em busca dos resultados que se

propõem. Iniciando com um panorama do turismo e o estudo da paisagem – por ser

o primeiro contato que o turista tem com o seu local visitado; em seguida com

Patrimônio Cultural tentando alocar alguns conceitos que surgiram ao longo de sua

trajetória, para então fazermos sua referência dentro do contexto turístico.

2.1 Turismo

O ato de partir de um ponto e posteriormente retornar a ele é,

etimologicamente, a definição de turismo2 apresentada por Theobald (2001), que

deriva tanto do latim (tornare) quanto do grego (tornos) e significa uma volta, um

círculo, ou seja, um movimento ao redor de um ponto central (ou de um eixo central).

Podemos aqui considerar que a pessoa que realiza este percurso é chamada de

turista uma vez que o sufixo ista sugere ação de um movimento circular, algo que sai

de um ponto, dá uma volta e retorna ao mesmo. Barreto (1995, p.43) afirma que

“turismo” vem da palavra de origem francesa tour, surgiu na Inglaterra no século

XVI, refere-se a um tipo de viagem e significa volta. O turismo é, segundo Pinsky

(2001), produto da sociedade capitalista industrial que se desenvolveu no século

XVII, na França, sob o impulso de motivações como o consumo de bens culturais,

por exemplo, quando as primeiras medidas de proteção aos monumentos de valor

para a história das nações foram tomadas pelo poder público. Já Theobald (2001),

acredita que a atividade turística iniciou durante a Revolução Industrial (na

Inglaterra) e a consequente ascensão da classe média e dos meios de transportes,

Ruschmann (2010) afirma que a palavra “turismo” surgiu “no século XIX, porém a

atividade estende suas raízes pela história” e que certas formas de turismo existem

desde as civilizações mais antigas e evoluiu após o século XX quando foi

estabelecida a restauração da paz no mundo por consequência da Segunda Guerra

Mundial - o que ocasionou a produtividade empresarial relacionada ao poder de

compra e ao bem-estar da população afetada.

2 Foi adotado o termo “turismo” em português, porém a origem surgiu da palavra em inglês: tour.

25

Porém, o mais importante não é o quantitativo relacionado ao dinheiro que o

turismo leva a certos destinos, nem o seu tamanho em termos de pessoas que

viajam ou números de empregos que gera; o turismo exerce, segundo Hall (2004),

enorme impacto na “vida das pessoas e nos locais em que elas vivem” por

apresentar uma forma peculiar de ser significativamente influenciado pelo mundo

que o rodeia visto que as motivações para viajar crescem em busca de novas

culturas, de conhecer pessoas e destinos novos e, por consequência, ao rendimento

disponível e aos mercados emergentes e tradicionais que, por sua vez, são

acompanhadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e demográficas. Ou seja, tais

motivações e o consecutivo ato de viajar estimulam a melhoria da qualidade de vida

das pessoas e impactam no desenvolvimento da economia mundial e,

principalmente na economia brasileira (CARVÃO, 2008; STOCK, 2009). Importante

citar que, frequentemente, o turismo encontra-se sujeito à intervenção

governamental (direta e indireta) devido às possibilidades que apresenta em

geração de emprego e renda e do seu potencial de diversificar e contribuir para as

economias nacionais e regionais (HALL, 2004).

A Empresa Brasileira de Turismo – EMBRATUR define turismo como uma

atividade econômica representada pelo conjunto de transações de compra e venda

de produto ou serviço turístico que são efetuadas entre agentes econômicos do

turismo. É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora

dos limites da área ou região em que têm residência fixa por qualquer motivo,

excetuando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local de visita

(EMBRATUR, 1992). Segundo a OMT (2001), turismo é:

“o conjunto de atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas

em lugares distintos ao seu ambiente habitual, por um tempo consecutivo inferior a

um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outros motivos”. OMT (2001, p.11).

O turismo apresenta definições diversas segundo áreas do conhecimento.

Porém, para análise do estudo de caso proposto nesta dissertação, faz-se

necessário direcionar o estudo do turismo ao contexto cultural, ao espaço turístico

urbano e à paisagem edificada.

26

2.2 Turismo Cultural

Com o CCLSS e seu entorno como objeto de estudo, fez-se necessário

entender o universo do turismo cultural iniciando por seus conceitos. Tais

conceituações servem como base auxiliar no processo de diagnóstico do público-

alvo e a promoção dos recursos culturais existentes em uma localidade e reforça os

aspectos de atratividade para o destino.

Icomos (1976), afirma que turismo cultural é aquela forma de turismo que tem

por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios histórico-

artísticos. Segundo o autor, o turismo cultural exerce um efeito positivo sobre tal

conhecimento e contribui para a manutenção e proteção na satisfação de seus

próprios fins exigidos da comunidade humana, devido aos benefícios socioculturais

e econômicos que comporta para toda a população implicada.

Swarbrooke (2000, p.37) apresenta as múltiplas facetas do turismo cultural e os

recursos utilizados3, porém não o conceitua como abrangente, apesar dos tipos de

recursos culturais serem inter-relacionados. Nessa perspectiva, o Ministério do

turismo “compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de

elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais,

valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (RICHARDS,

1996, p.24).

Barretto (2008) afirma que muitos turistas procuram o reencontro com o

passado, com tradições e identidades, uma espécie de resposta ao processo de

mundialização da cultura que acelerou a partir da segunda metade do século XX,

acarretando na ressignificação de uma série de conceitos e valores. Talvez por essa

razão, o turismo e a cultura tenham sido valorizados nos últimos anos corroborando

ao desenvolvimento de cidades, estados, regiões e países. O certo é que a

exploração da cultura como atrativo turístico contribuiu para o crescimento do

turismo cultural em diversos ambientes, principalmente o urbano.

Em Richards (1996, p.24) pode-se ter acesso à definição de turismo cultural

publicado pela ATLAS4 onde aborda que o turismo cultural deve ser entendido como

movimento de pessoas para atrações culturais fora da sua residência, com o

3 Atrações históricas, cultura popular, comidas e bebidas, festivais, tipos de arquitetura, artes, locais religiosos e

linguagem dentre outros (SWARBROOKE, 2000, p. 37). 4 Association for Tourism and Leisure Education

27

objetivo de assimilar novas informações e experiências com vistas a atender suas

necessidades culturais.

Dentro do exposto, é oportuno registrar que o olhar do turista se volta para o

que é especial, incomum, novo ou conservado, porém Chias (2007, p.45) afirma que

o valor de uma civilização pode ser medido pelo o que se sabe conservar e não pelo

que sabe criar.

Essa linha de pensamento pode ser concluída ao afirmar que o turismo cultural

permite a reconstituição da produção do patrimônio histórico-cultural e sua

apropriação por sociedades específicas além de estabelecer ligações entre

comunidades que o ocuparam no passado e aqueles que residem no presente,

tornando possível, desse modo, examinar em que medida o patrimônio cultural

representa uma continuidade cultural, colaborando para uma nova postura dos

turistas que passa a ver a cultura como um insumo específico ao lado de atrativos

naturais e dos serviços na concepção e formatação do produto turístico e, não como

uma simples motivação de viagem (DIAS, 2006; CHIAS, 2007).

O resgate histórico-cultural a partir da requalificação da paisagem considerado

como base para a solidificação da identidade é um aspecto relevante dessa

pesquisa, pois através do mapeamento da configuração atual da paisagem edificada

podem-se analisar as implicações da memória cultural urbana e do seu processo de

requalificação sobre a atividade turística.

2.3 Espaço Turístico Urbano

Entender que o espaço físico pode “estender-se do universo a uma pequena

parte da Terra” (BOULLÓN, 2002, p.73) pode ser um primeiro passo em direção ao

entendimento do que vem a ser espaço urbano, ou seja, para compreendê-lo e

representá-lo precisamos ter uma ideia das dimensões do todo e das partes em

planejamento para intervenção. Podem-se apresentar três tipos diferentes de

espaço: espaço plano, espaço volumétrico e espaço tempo, mesmo que sejam

apreciados em duas diferentes formas: uma mediante o tamanho dos objetos

materiais – dada por sua massa, e outra pelas distâncias que os separam.

O espaço plano é delimitado pela largura e pelo comprimento, ou seja, é

bidimensional. O espaço volumétrico, tridimensional, refere-se aos corpos com

massa e, ao espaço tempo acrescenta-se o tempo que o observador demora em

28

percorrer o espaço anterior tridimensional (quadro 1). Boullón (2002) afirma que uma

quarta dimensão pode ser adquirida, porém apresentaria um caráter subjetivo uma

vez que dependeria da intervenção do homem como observador.

Quadro 1 - Tipos de espaços.

Fonte: segundo Boullón (2002, p. 74).

Além do espaço físico, há outras acepções técnicas acerca do termo

“espaço”, a saber: espaço econômico, espaço social e espaço político. A análise

econômica do espaço o restringe como homogêneo e contínuo, onde o

planejamento regional abrange todo o território do país e cada região abrange uma

região que tenha propriedades iguais, Boullón (2002) descreve:

“Como é possível dividir, fisicamente, um país em áreas nas quais cada metro seja idêntico ao resto, a ideia de região que os economistas utilizam refere-se a porções do território cujos indicadores econômicos (a produção, o transporte, o comércio etc.) e de desenvolvimento social (alfabetização, a moradia, a saúde, os salários etc.) são similares”. (BOULLÓN, 2002, p.71).

A representação de dados, referentes ao grau de alfabetização, ao grau de

mortalidade infantil ou de qualidade de vida peculiares a certas famílias, em mapas,

caracteriza um análise social do espaço e por outro lado, a análise do espaço

político pode ser claramente explicada pela simples divisão do mundo em norte e

sul. “Definitivamente, a principal diferença entre o espaço físico e todos os demais é

que não são tangíveis”. (BOULLÓN, 2002, p. 75).

Através da linguagem do planejamento, os tipos de espaço podem

apresentar-se em sete tipos diferentes de espaços: real, potencial, cultural, natural,

virgem, artificial e vital conforme quadro 2.

Analisando as definições e características das tipologias do turismo,

percebe-se que o espaço físico transmite imagens parciais resultante da percepção

29

de uma cidade realizada no transcurso do tempo e que o homem a registra em

sucessivas vivências. E em paralelo, o caráter subjetivo acrescido às dimensões do

espaço, é de fundamental importância ao planejamento do uso dos atrativos

turísticos, pois direciona as ações em prol de melhorias contínuas, otimização de

tempo e treinamento do coorporativo envolvido na atividade turística.

Quadro 2 - Síntese das Tipologias do Espaço.

Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p.77-79).

A indefinição da força e do peso que a atividade turística exerce na produção

do espaço, dificulta conceituar o espaço turístico. Tal espaço pode ser produzido

pelo turismo e para o turismo, independente de fatores favoráveis para sua produção

e evolui pelo processo de “ondas” de ocupação que ditadas pela moda ou padrão de

consumo do espaço, ocasionam na sua degradação e, por consequência, na

destruição dos recursos que os originaram. (RODRIGUES, 1997).

Dentre as dificuldades e diversas vertentes para se definir o espaço turístico,

Boullón (2002) conclui:

O espaço turístico é consequência da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, é a matéria-prima do turismo. Este elemento do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a infraestrutura turísticas, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país. (BOULLÓN, 2002, p.79).

30

Visando a determinação do espaço turístico, Boullón (2002) sugere a análise

dos elementos que constituem o espaço turístico, a saber: Zona Turística; Área

Turística; Centro turístico; Complexo Turístico; Unidade Turística; Núcleos Turísticos;

Conjunto Turístico; Corredores Turísticos; Corredor Turístico de Translado e

Corredor Turístico de Estada. Ao compará-los entre si, além se surgir a possibilidade

de agrupá-los em categorias: as que abrangem superfícies relativamente grandes;

as pontuais que abrangem superfícies relativamente pequenas e as longitudinais;

surge também a ideia da flexibilidade de alguns elementos que compõem o espaço

turístico e que podem evoluir pelo incremento do empreendimento turístico até

alcançar categorias superiores. Cada um dos elementos se relacionam e surge

como destaque a rentabilidade mais expressiva nos centros e nos corredores

turísticos de estada por funcionarem com maior permanência. Em seguida os

complexos os centros de distribuição e de escala, por exemplos.

Todas as ações do setor do turismo podem ser organizadas de acordo com

a teoria do espaço turístico por permitir a elaboração de políticas promocionais que

trabalhem com base em produtos claramente definidos. Para uma projeção no

exterior, a zona turística é a mais importante, por ser maior e por permitir apresentar

um quantitativo expressivo de imagens do país quanto às zonas que tenham sido

detectadas. Tais zonas e seus respectivos subsistemas e elementos do espaço

turístico, são analisados em suas potencialidades e apresentados à empresas

(iniciativa privada) para que esta utilize (com fins comerciais) informações técnicas

elaboradas pelas repartições dos órgãos oficiais e possam ser preparados os

pacotes turísticos de circuito e de estada por corredores, complexos e centros de

distribuição.

Para uma melhor compreensão dos elementos que compõem o espaço

turístico, uma síntese (quadro 3) foi desenvolvida de acordo com Boullón (2002):

31

Quadro 3 - Síntese dos elementos do espaço turístico.

Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p. 80-101)

Os entendimentos dos fragmentos facilitam a compreensão de um todo. Isso

significa que a explanação dos elementos do espaço turístico pode facilitar o

entendimento do que vem a ser o espaço turístico urbano aqui contextualizado.

Após a adaptação e o controle frente ao ambiente natural que lhe serviu de

base, o Homem - de origem, raça e credo diversificados, cria os centros urbanos

com características personalizadas e, por consequência, a população urbana torna-

32

se a maior do mundo. A partir desta situação, pode-se afirmar que cada cidade

apresenta um caráter diverso das demais a qual se pode, espontaneamente,

“conhecer” (o que seria uma ação restrita aos moradores, pois seu conhecimento

limita-se a algumas partes) ou “ler” (ato restrito aos turistas que precisam de ajuda e

ensinamento para “ler” o que querem ver e, principalmente, informações precisas

para que em todos os momentos de sua viagem tenha a oportunidade de escolher

aonde ir e o que consumir). A leitura ou o ato de conhecer a cidade dá-se através

das formas e da interpretação sobre os signos que melhor representam, captam a

beleza do local e o resultado da viagem é considerado um acúmulo de experiências

e lembranças dos lugares por que passou. (LYNCH, 1997; BOULLÓN, 2002).

A interpretação depende das áreas que o turista percorre, geralmente nas

áreas gravitacionais, ou seja, a área que o atrai e o motiva a permanecer ou voltar.

Essas áreas gravitacionais são consideradas, de acordo com Boullón (2002), em

quatro tipos. As estações terminais dos sistemas de transportes é o primeiro tipo e

inclui áreas que compreendem, além dos modais, os ramos de hospedagem, bares,

restaurantes, pontos de táxi e linhas de transportes urbanos. O segundo tipo são as

zonas de concentrações do empreendimento turístico e de outros serviços urbanos

onde, geralmente estão localizadas nos centros das cidades e em áreas de

concentração de hotéis, agências, restaurantes, cinemas, teatros, comércio, galeria

de arte e outros. O terceiro tipo são os atrativos turísticos urbanos que não

apresentam um ponto fixo, porém os turísticos vão ao seu encontro. E o quarto tipo

restringe-se às diversas saídas que conduzem os atrativos turísticos.

As grandes cidades apresentam obstáculos para se conhecê-la que são

apresentados em ordem crescente de intensidade: tamanho, traçado, topografia e

tipo de arquitetura que, apesar de existirem, pode-se afirmar que o “interesse

turístico é diretamente proporcional ao ordenamento das ruas, a monumentos,

espaços verdes dentre outros” a fim de retê-los na memória, através de imagem,

para interpretar e memorizar a paisagem urbana (BOULLÓN, 2002, p.194). Tais

imagens se correlacionam na mente do turista e uma síntese do espaço urbano é

elaborada mentalmente e ocorre com o passar do tempo, após o turista focar num

esquema para familiarizar-se com o local.

Boullón (2002) defende que a delimitação o espaço turístico urbano pode

evitar os obstáculos a fim de conhecê-lo em sua totalidade. Essa delimitação

colabora tanto para que as autoridades oficiais de turismo possam exercer sua

33

autoridade; quanto para concentrar os serviços turísticos separando-se assim os

estabelecimentos turísticos dos não turísticos.

2.4 Paisagem turística

A paisagem turística aqui contextualizada além de um simples produto

turístico (BENI, 1998; BOULLÓN, 2002) será também analisada como social cultural

(YAZIGI, 2001; MENEZES, 2002), ou seja, deve-se incorporá-la à civilização para

então compreender os aspectos de ética, cultura e moral que desempenham na vida

social coletiva. Para os autores, a paisagem produz relações sociais entre

moradores e turistas por apropriarem de seus respectivos espaços de maneiras

diferentes. Tanto as relações sociais dos moradores de espaços turísticos como a

paisagem física envolvida se alteram. Para Castrogiovani (2002, p.31): “a cidade é

um mundo de representações. Pode ser pequena ou uma metrópole. Ela pulsa, vive,

seduz. Agride, transforma-se e transforma aqueles que nela interagem”.

Essas alterações que ocorrem na paisagem como consequência da atividade

turística podem ser boas, como o desenvolvimento da região, ou ruins (quando o

planejamento turístico é deficitário ou inexistente). Mas, apesar das modificações

que sofre, a paisagem é o primeiro contato do turista com o local visitado. É o turista

que a interpreta de forma única e peculiar às suas experiências, emoções e culturas;

tornando-a possuidora de um papel relevante para o desenvolvimento do turismo.

Oliveira et al (2007, p.83) afirma: “a paisagem é o que se vê em um determinado

espaço, é um conjunto de elementos geográficos de um lugar”

Existem muitas definições de paisagem e algumas se devem às exposições

acima relacionadas. Petroni e Kenigsberg apud Boullón (2002, p.118) define

paisagem urbana como:

Conjunto de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade:

colinas, rios, edifícios, ruas, praças, árvores, foco de luz, anúncios, semáforos, etc,...

Como o resultado de uma combinação dinâmica de elementos físicos,

biológicos e antrópicos, a paisagem, segundo Bertrand (1971), não está

determinada como uma simples porção do espaço e sim como um conjunto único e

indissociável em perpétua evolução. Xavier (2007, p. 37) aponta: “para o turismo, a

34

paisagem deve ser interpretada. Interpretar a paisagem significa agregar valores ao que

é percebido”.

Seguindo esse pensamento, a paisagem deve ser encarada como uma

combinação entre os fatores que se interrelacionam e formam uma única porção do

espaço bem como um fenômeno em constante transformação (social ou natural) que

influi direta e significativamente no turismo. É através da paisagem que o turista

percebe a realidade de um local e sente-se atraído ou não. Boullón defende:

“a paisagem se vai com o observador porque não passa de uma ideia da realidade que este elabora quando interpreta esteticamente o que está vendo [...] o que vale é que o turista comum capta por meio de seus sentidos, influenciados por seu estado de espírito” (BOULLÓN, 2002, p. 119-125).

Para Yázigi (2001, p. 34), “ao se pensar na estrutura da personalidade do

lugar, a paisagem assume especial destaque, pois é precisamente dela que nos

chega muito da percepção”. Castro (2002) argumenta sobre a percepção da

paisagem como resultado de um processo cognitivo mediado pelas representações

do imaginário social de valores simbólicos. Podemos afirmar que cada expectador

apresenta a paisagem de uma maneira única, de acordo com sua percepção e pode

ser considerada como um resultado de uma interação complexa entre o meio

(determinado lugar) e o indivíduo. É como uma testemunha visual de elementos

estéticos e simbólicos que são construídos no decurso da história, despertando

grande e renovado interesse no lugar visitado assim que identificados e apropriados

pelo turista.

A subjetividade aqui é essencial para a percepção humana, principalmente

quando se trata da paisagem como um cenário (PIRES, 1999), permite-se descrevê-

la objetivamente destacando qualidades e fragilidades quando observada em sua

condição de expressão espacial e visual do meio. A subjetividade, citada por Boullón

(2002), impossibilita a descrição da paisagem uma vez que os conceitos de beleza

variam de indivíduo para indivíduo e de cultura para cultura. Porém, a definição da

paisagem proposta pelo autor dá-se pela necessidade de combinar uma série de

variáveis (quadro 4) apresentadas em sete grupos: tipo de urbanização; nível

socioeconômico das edificações; estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de

pavimento e, tipo de árvore. Cada grupo apresenta também subdivisões que

totalizam trinta elementos básicos formando uma tipologia da paisagem urbana.

35

Como a linguagem de uma cidade são as formas, sua leitura se apoia naqueles

signos que melhor a representa (BOULLÓN, 2002).

O arranjo das variáveis supracitadas encontra-se espacialmente localizado e,

de certa forma, espacialmente determinado ocasionando numa característica

peculiar a cada lugar distinguindo-o dos outros. Este arranjo está mudando, com ou

sem fluxo. Reforçando o arranjo das variáveis, Lynch (1997) afirma que uma cidade

só é legível se puder ser “imaginável”, ou seja, a clareza física da imagem é

relevante e indispensável. A imagem mental é descrita quando ocorre a percepção

dos usuários às variáveis da cidade.

Além das variáveis descritas, faz-se necessário também o conhecimento do

clima que, segundo Boullón (2002), serve para que o turista conheça a época do ano

e a hora do dia que a paisagem concentra sua plenitude estética.

36

Quadro 4 - Variáveis que determinam a paisagem urbana.

Fonte: adaptado de BOULLÓN (2002, p. 214-215).

A relação entre a paisagem urbana e a proximidade das construções que

existe no espaço urbano é descrita por Cullen (2009) e pode-se afirmar que uma

construção é arquitetura, já duas seriam paisagem urbana. Já a relação entre

paisagem e turismo ressalta uma solidificação cultural desse com o patrimônio

cultural, o que condiz na configuração da história e do meio ambiente em um recurso

econômico. A paisagem urbana, quando é resultante da interação da visão e da

atuação do homem no espaço, é vista como um reflexo da sociedade (YÁZIGI,

2002) e é considerada como um conjunto de formas num dado momento e período

histórico e possuidora de papel relevante a partir da existência de uma interface

entre paisagem e percepção, de uma sociedade que herda e se apropria daquilo que

suas necessidades requerem e praticam. Segundo Boullón (2002), é como uma

37

qualidade que os diferentes elementos de um espaço físico adquirem apenas

quando o homem surge como observador, animado de uma atitude contemplativa

dirigida a captar suas propriedades externas, seu aspecto, seu caráter e outras

particularidades que permitam apreciar sua beleza ou feiura.

2.5 Patrimônio (monumentos) Histórico Cultural edificado no contexto do turismo

O lançamento da ideia de patrimônio monumental é uma consequência da

iniciativa de proteção aos monumentos antigos, que surgiu entre os séculos XVI e

XVIII, quando a nobreza europeia enviou jovens com objetivos educacionais a fim de

resgatar a identidade greco-romana. Essa ideia é defendida por Dias (2006) que

acredita que essa iniciativa pode ser considerada como uma forma primitiva do que

hoje chamamos de turismo.

Esse estudo realmente poderia ter sido iniciado a partir da cidade grega, pois

possibilitaria contribuições notáveis ao significado do monumento e da estrutura

urbana em si que apresenta solução indissolúvel com o modo de ser e com o

comportamento das pessoas. Do ponto de vista da teoria do conhecimento, o

passado é parcialmente experimentado agora e do ponto de vista da ciência urbana,

“pode ser esse o significado de dar às permanências: elas são um passado que

ainda experimentamos”. Rossi (1995, p.49).

Essa referência ao “passado” deve-se ao fato de que as cidades permanecem

em seus eixos de desenvolvimento, mantendo a posição de seus traçados,

crescendo de acordo com a direção e com o significado dos fatos antigos.

Respondem por essa permanência: as ruas e o plano que, mesmo sob níveis

diversos deforma-se, porém não se desloca, ou seja,

“a forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos da cidade. No próprio decorrer da vida de um homem, a cidade muda de fisionomia em volta dele, as referências não são as mesmas, [..] vemos como incrivelmente velhas as casas na nossa infância; e a cidade que muda apaga com frequência nossas memórias” (ROSSI, 1995, p. 57)

A própria ideia da cidade já transmite a união entre o passado e o futuro e

percorre tentando fixar-se na memória da humanidade através da sua permanência

em fatos únicos, em monumentos ou até mesmo na simples impressão que se

possa formar dela (da união). Isso pode ser considerado uma explicação ao fato de

38

que, na antiguidade, o mito era colocado como fundamento das cidades; sendo

assim, é provável que o valor da história como memória coletiva - própria

transformação do espaço, a cargo da coletividade - nos auxilie na compreensão do

significado da estrutura urbana e, consequentemente, da arquitetura da cidade.

Compreender a estrutura da cidade ou mais precisamente os monumentos

expressivos de uma determinada cultura nos remete às áreas de proteção

patrimonial que são, por seu contexto histórico, econômico e cultural, atrativos

turísticos. É importante registrar que o crescimento descontrolado de turistas

interessados em valores culturais já geraram perdas irreversíveis de grande parte do

patrimônio arquitetônico das cidades e sua redução deu-se a partir da implantação

de normas destinadas a proteger as zonas históricas monumentais ainda de pé

(BOULLÓN, 2002).

Com base nas normas de proteção às zonas históricas, faz-se necessário

contextualizar e conceituar Patrimônio Cultural e para tanto, seguimos os estudos de

Braga (2003) e nos portamos às primeiras tentativas de sua definição, onde

podemos perceber que esta é posterior às tentativas de eleição e proteção aos seus

bens. Antes de 1936, onde Gustavo Capanema (1934). Ministro da Educação

solicita ao escritor Mário de Andrade (na ocasião, diretor do Departamento de

Cultura do Município de São Paulo) a elaboração de um projeto do Patrimônio

Artístico Nacional5, já havia tentativas de salvaguardar o patrimônio através de leis

estaduais que acabaram sendo ineficazes por sua inconstitucionalidade.

No projeto referido, consta que Patrimônio Cultural: são todas as obras de

arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira,

pertencentes aos poderes públicos, e a organismos sociais e a particulares

nacionais, a particulares estrangeiros, residentes no Brasil. Consideremos aqui, que

o termo “arte” assume ampla significação de cunho estético e também se reporta à

produção artesanal.

Com o surgimento do decreto Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937 (após o

golpe político de Getúlio Vargas) o SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional é organizado e define-se oficialmente o Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional como:

5 De acordo com Braga (2003, p.14), o projeto referido inspira a criação do SPHAN - Serviço do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional sob direção de Rodrigo Mello Franco de Andrade (1937-1967). Este distingue os bens históricos dos bens artísticos.

39

O conjunto e bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (BRASIL. Decreto-Lei n. 25 de 30 de novembro de 1937, Art. 1º).

O referido decreto argumenta Curtis (1981, p.16), “reconhece que poucos são

os privilegiados com registros e reconhecimentos oficiais através do instrumento de

tombamento o que lhes incidiria a proteção legal”.

No ano de 1988, consta no artigo 216 da Constituição de 88 a primeira

referência à denominação e à definição de Patrimônio Cultural, vinculando-o a

diversos interesses, como: artísticos, estéticos, históricos, de caráter coletivo ou

excepcional; a saber:

“Constituem o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico” (BRASIL, 2001, p. 200).

Em 2000, através do Decreto n° 3551 (04/08/2000) em ser Art. 1º, o

patrimônio imaterial é inserido ao Patrimônio Cultural como nova categoria e pode

ser definida como:

As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes serão associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (DECRETO Nº 3551 DE 04/08/00).

Independente de ser patrimônio material ou imaterial faz-se necessário

destacar que recursos destinados aos mesmos não garantem sua proteção efetiva,

mas corroboram para reconhecê-los como componentes integrantes de um acervo

oficial e atribuir-lhes o amparo legal. A proteção efetiva plena poderá ser alcançada

se, em sincronia com às demais legislações patrimoniais, haja uma ampla

divulgação que esclareça os objetivos, os benefícios deles advindos, inclusive os

descontos nos incentivos monetários, que podem chegar à isenção total do IPTU

(Imposto Predial e Territorial Urbano), podendo auxiliar na manutenção ou na

conservação dos imóveis.

Após breve contexto acerca da origem e definições de Patrimônio Cultural

podemos citar que o mesmo - ao ser representado por museus, monumentos e

40

locais históricos - pode passar a existir e ser mantido a partir do turismo cultural.

Somamos, ao turismo cultural, a oferta de espetáculos ou eventos.

O Patrimônio é considerado como algo construído para ser uma

representação do passado histórico e cultural de uma sociedade e, depende das

concepções que cada época tem a respeito do que, para quem e por que preservar.

Com as definições anteriores, podemos entender que os remanescentes materiais

da cultura são reflexos de experiências vividas (sejam individuais ou coletivas) que

permitem ao homem a lembrança e a ampliação do sentimento de pertencer a um

mesmo espaço, partilhando uma mesma cultura e aguçando a percepção de ícones

que fornecem sentidos de grupo compondo uma identidade comum para, em fim,

“acreditarmos que preservar o patrimônio cultural garante maiores oportunidades

para que a sociedade perceba a si própria” (RODRIGUES, 2009, p.15 a 17).

Rodrigues (2009) abre pertinente discussão a respeito do contexto histórico

do Brasil onde narra que negros e brancos pobres eram vistos nos livros escolares

como trabalhadores, mas não como construtores de cultura. Contudo, é

compreensível a lacuna que inicialmente existiu entre o patrimônio cultural e a

população brasileira. Lacuna esta que perdurou até o momento em que os conjuntos

dos movimentos sociais tornaram-se mais ativos em busca da democratização do

país e o efetivo exercício dos direitos da cidadania e quando os segmentos sociais e

étnicos, com seus respectivos papéis, foram reconhecidos como construtores da

sociedade, da história e da cultura brasileiras (década de 1980).

A partir de 1964, a intervenção do Estado na cultura cresce ao ponto do

departamento de assuntos culturais da Organização dos Estados Americanos (OEA)

promover um encontro com diversos países para que os projetos de valorização do

patrimônio fizessem parte dos planos de desenvolvimento nacional e fossem

realizados simultaneamente com o equipamento turístico das regiões envolvidas;

recomendando ainda a “cooperação dos interesses privados e o respaldo da opinião

pública para o desenvolvimento desses projetos” (RODRIGUES, 2009, p.15 a 17).

A valorização turística do patrimônio passa então, não só a manipular um

universo simbólico de grande importância para o civismo, mas também a divulgar a

cultura local por meio de seu patrimônio e, mais especificamente, através de seus

monumentos históricos. O turismo enquanto prática cultural poderá representar o elo

entre o legado histórico-cultural e o tempo presente, podendo – se praticado com

critérios – “ressignificar o patrimônio mantendo-o vivo”. HORTA (2009, p.83).

41

Em Manaus, o primeiro imóvel a ser tombado foi o Teatro Amazonas

(Registrado no Livro Histórico, em 1966) e muito posteriormente (quase 20 anos) o

Reservatório do Mocó (Registrado no Libro das Belas-Artes e no Livro Histórico, em

1985). Com a finalidade de “apresentar a capital do estado do Amazonas à própria

instituição federal, bem como aproximá-lo da natureza específica desse patrimônio

regional” (ABRAHIM, 2003, p. 64) foi instalado em Manaus um Escritório Técnico do

SPHAN/Pró-Memória. A partir de então, o grande acervo arquitetônico de Manaus

para ser visto pelo país e acarreta em outras unidades tombadas, a saber: o

Mercado Adolpho Lisboa e as Instalações Portuárias.

Em decorrência do crescimento que a ZFM proporcionou e em nome da

tendência à verticalização e à modernidade, muitos prédios antigos localizados no

centro de Manaus foram descaracterizados ou desaparecidos. Tal situação

contribuiu para a consolidação de uma consciência a respeito do patrimônio

preservado e motivou o Estado a eleger, oficialmente, seus patrimônios (quadro 5).

42

Quadro 5 - Síntese dos bens tombados no município de Manaus.

Fonte: Andressa Santos (2011).

Todo entendimento acerca do patrimônio é importante para a compreensão

do processo histórico da Amazônia. Mesquita (2006, p.21) conclui “… são

documentos materializados que testemunham uma época, entendendo que, por

estas razões, devam ser estudadas no sentido de lhes descobrir valores para

preservá-las, resgatando a memória da cidade”. Em paralelo, Segre (1991) revela: “a

conservação da cidade histórica não é um problema arquitetônico, técnico ou

estético, mas um problema de caráter essencialmente econômico e social” e como

solução aponta: “a cidade deve conservar seu passado, mas ao mesmo tempo

43

revitalizá-lo, torná-lo compreensível em novos tempos expressivos ou através de

novas funções” (SEGRE, 1991, p. 286 a 289).

A cidade de Manaus como qualquer cidade, por constituir-se em patrimônio

de uma coletividade, deve ser objeto de estudos interdisciplinares para que se possa

entender melhor a sua identidade cultural e, com isso, propor novos caminhos para

sua sustentabilidade e manutenção da qualidade de vida de seus habitantes.

44

3. METODOLOGIA

Neste capítulo apresenta-se a metodologia cuja função é delimitar os

procedimentos que nortearão a apreciação crítica na busca de acontecimentos e

princípios, a realização dos instrumentos de coletas de dados, o processo de coleta

e a interpretação dos dados.

3.1 Tipo de pesquisa e procedimento de coleta de dados

Para desenvolvimento da pesquisa, os métodos devem ser desenvolvidos,

selecionados e ajustados de acordo com a compatibilidade da natureza do

fenômeno estudado e a pesquisa em si guiada pela dinâmica da procura de

evidências e da abertura de horizontes aliados a sua obtenção de entendimentos

mais profundos da natureza ou significado das experiências vividas oferecendo ao

pesquisador percepções aceitáveis que, através dela, o colocam em constante

contato com os informantes através da entrevista. A abordagem aqui utilizada é a

qualitativa que, quando analisada de forma agregadora, induz o pesquisador a

perceber o fenômeno a ser estudado, sob as perspectivas das pessoas nele

envolvidas, ponderando os pontos de vista mais relevantes (GODOI E MATOS,

2006).

Segundo Van Maanen (1979), a expressão “pesquisa qualitativa” apresenta

denotação diversificada no campo em que o turismo está inserido, ou seja, das

ciências sociais que se resumem em técnicas interpretativas que visam descrever e

decodificar os componentes de um sistema complexo de significados a fim de

reduzir distâncias entre teoria e dados; contexto e ação; indicador e indicado.

A pesquisa qualitativa, segundo Creswell (2007), envolve o pesquisador e

suas suposições permitindo-o investigar significados dos indivíduos (ou grupos

sociais) e compreender o problema social. Ou seja, estudam coisas em seu cenário

natural sincronizando sentidos ou interpretando fenômeno como resultado do que as

pessoas lhe trazem.

Mediante a profundidade da pesquisa, o estudo de caso será a base

metodológica empregada neste por apresentar uma alavanca empírica capaz de

investigar fenômeno contemporâneo dentro de um contexto real, quando a fronteira

45

do fenômeno e o contexto não são claramente evidentes e onde múltiplas fontes de

evidência são utilizadas.

Visando dinamizar esta pesquisa, fez-se necessário dividi-la em duas etapas

com seus respectivos desdobramento como mostra a figura 1 a seguir:

Figura 1 - Estrutura da pesquisa – metodologia

Fonte: adaptado de Stock, 2009.

A coleta de informações acerca do universo do tema central deste estudo

define a primeira fase do processo metodológico e apresenta como objetivo

compreender o estado da temática Requalificação Urbana no Contexto do Turismo

para, consequentemente, contextualizá-la.

A pesquisa bibliográfica foi iniciada no mês de abril de 2011 e estabelecida

num recorte temporal a partir de 2000 até o ano de 2012 para concretizar a base

teórica e estabelecer a discussão da temática central nos níveis mundial, nacional e

local. Para artigos e periódicos, como referencia de busca, optou-se por base de

dados de fontes científicas a nível internacional relevante ao Turismo, à

46

Requalificação da Paisagem e ao Patrimônio Histórico e Cultural. Vale aqui citar

que: Paisagem, Paisagem Urbana, Patrimônio Histórico, Patrimônio Cultural,

Turismo, Paisagem Turística e Espaço Turístico foram palavras-chave aplicadas nos

sites de buscas comerciais ora em língua pátria e ora em língua inglesa - devido à

base da pesquisa. A seleção dos artigos foi de acordo com a metodologia aplicada,

a temática explanada e os resultados obtidos e seu foco restringe-se à reflexão

estabelecida da paisagem urbana no espaço turístico proposta pelos autores e pela

análise dos resultados de suas respectivas pesquisas desenvolvida entre 2002 e

2012.

Em paralelo, projetos de graduação, relatório de estágio (UNINORTE, UFAM

e UEA), dissertações, teses (UEA, UFAM, UNIVALI, UFSC, UFPE) e livros de acervo

pessoal e de universidades e faculdades (UFAM, UEA, UNINORTE e UNIVALI)

também foram consultados a fim de gerar consistência nas investigações e

consolidar o referencial teórico deste projeto nas áreas de turismo, paisagem urbana

e patrimônio Histórico – Cultural.

Reforçando a opção de uso de estudo de caso – o que determina a segunda

fase, Yin (2001, p.27) ressalta que este tem a “capacidade de lidar com uma ampla

variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações”,

focando no entendimento das dinâmicas presentes num contexto ímpar que visa

identificar padrões e inter-relações entre as variáveis existentes que permitam

melhor entendimento do fenômeno estudado. Em paralelo, Flick (2009, p.109)

descreve “o termo genérico campo pode designar uma determinada instituição, uma

subcultura, uma família, um grupo específico de pessoas com uma biografia

especial, tomadores de decisão em administrações de empresas e assim por

diante”.

Cullen (1971) afirma que o estudo de caso evidencia a paisagem urbana

composta por recursos naturais e histórico-culturais e foca a análise na percepção

que o impacto visual da cidade exerce sobre seus habitantes ou visitantes. Tal

evidencia e análise caracteriza o estudo de caso como predominantemente

qualitativo – reafirma a abordagem aqui aplicada. Duarte (2005) destaca que o

método é eficiente (estrategicamente) no momento em que se busca resposta para

“como?” e “por quê?”; no momento em que o pesquisador [observador] encontrar-se

sem controle dos eventos e, quando o foco encontrar-se nos fenômenos

contemporâneos.

47

A realização do estudo de caso será guiada pelo protocolo proposto por Yin

(2001, p.80) por ser “uma maneira especialmente eficaz de se lidar com o problema,

de se aumentar a confiabilidade dos estudos de caso”. O protocolo aqui apresentado

foi formatado em quatro etapas de acordo com os objetivos desta pesquisa e o

procedimento de coleta, análise e apresentação de dados.

Quadro 6 - Protocolo do estudo do CCLSS e seu entorno em Manaus – AM. Fonte: adaptado de Yin, 2001.

48

Com a intenção de apresentar as diretrizes gerais que serão seguidas no

protocolo, a primeira etapa está organizada com o plano e objetivo geral, pois

segundo Yin (2001, p.79), “uma boa preparação começa com as habilidades

desejadas por parte do pesquisador do estudo de caso”. A segunda etapa,

estabelecida, como procedimento de campo foi subdividida em aplicação de

questionário, entrevista – pesquisa por domicílio e entrevista semiestruturada.

Na aplicação de questionários (apêndice I) com turistas foi possível verificar

sua visão acerca da paisagem em estudo, seu entusiasmo com as mudanças que a

requalificação proporcionou e as sugestões de melhorias. Os questionários foram

formatados em português e em inglês visando atender à diversificada procedência

dos turistas e aplicados nos meses de janeiro a julho de 2012 em períodos de

grande circulação de pessoas como Festival Amazonense de Ópera, e em dias

aleatórios sem eventos de grandes proporções.

As entrevistas por domicílio (apêndice II) visaram formatar um contexto

histórico do processo da requalificação, pontuar as ações executadas durante o

processo da requalificação e, principalmente, traçar um panorama atual como

consequência da requalificação. As entrevistas foram feitas com todos os moradores

do entorno que aceitaram colaborar com esta pesquisa conforme figura 2:

Figura 2 - Área de influência do Projeto

Fonte: Programa Manaus Belle Époque, 2000.

49

As entrevistas semiestruturadas (apêndice III) restringem-se aos Órgãos,

Instituições e Entidades envolvidas no processo de requalificação do CCLSS e seu

entorno e na sua administração atual, conforme identificado no protocolo. O objetivo

destas entrevistas é colher informações técnicas e motivação das escolhas para a

formatação que hoje se encontra bem como a dinâmica de administração e

conservação do espaço direcionado à atividade turística.

Seguindo o protocolo proposto, a terceira etapa foi delimitada de acordo com

os objetivos específicos e apresentam-se em questões que norteiam esta pesquisa.

Tais questões estão fundamentadas no referencial teórico o que assegura a

relevância desta pesquisa.

Como forma a propiciar o entendimento da Paisagem Urbana no CCLSS e

seu entorno no que se refere à formação socioeconômico e sociocultural e aos

aspectos relacionados à ocupação e ordenamento do espaço a análise está

fundamentada pelos estudos realizados por Santos (1982) que os discutem a partir

da lógica do capitalismo e usa categorias de análise do espaço por meio de

verificação do que denomina de forma, função, estrutura e processo.

O autor conceitua espaço como “um sistema onde diversos elementos

interagem e se correlacionam”; dessa forma, compreender as variáveis que

compõem o Largo de São Sebastião e seu entorno assim como suas inter-relações

enriquecerá esse estudo.

3.2 Procedimento de análise de dados

Eduardo Yázigi (2001), afirma ser preciso reconhecer uma multiplicidade de

formas e tempos presentes na paisagem. Geomorfologia, vegetação, sistema

hidrográfico, arquitetura, publicidade e outras entidades paisagísticas que possuem

tempo e dinâmica próprios. Equivale entender que, na perspectiva do planejamento,

cada item requer estratégia diferenciada para intervenção, com técnicas, tempos e

políticas adequados.

Porém, a análise dos dados para a compreensão da paisagem edificada e

suas implicações sobre o desenvolvimento do turismo no CCLSS e seu entorno

estão embasadas nas propostas de leituras do espaço turístico de Roberto Boullón

(2002) por fazer referência à qualidade estética e aos diferentes elementos da

paisagem urbana sobre a experiência turística, podendo esta qualidade estética

50

despertar o interesse do observador em apreciá-la e contemplá-la, tornando a

experiência turística enriquecedora. Para consolidar tal análise, o autor enfatiza que,

para a definição mais precisa da paisagem urbana, faz-se necessário combinar as

seguintes variáreis: tipo de urbanização, nível econômico das edificações, estilo

arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento e tipo de árvores.

51

4. CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE DE MANAUS

Este capítulo da dissertação visa, primeiramente, apresentar a cidade de

Manaus por conter, em seu contexto histórico, cultural, econômico e social, o

CCLSS e seu entorno. Em seguida, trazer resultados e propostas em termos da real

significação histórica, dos resultados da estratégia política de propaganda da cidade,

da restituição de um logradouro dotado de segurança e infraestrutura à sociedade e

as diretrizes para a verificação do alcance de um dos objetivos pré-determinados – o

desenvolvimento do turismo a partir da requalificação da paisagem urbana.

4.1. Caracterização geográfica

A cidade de Manaus é a capital do Estado do Amazonas encontra-se

localizada na Região Norte do Brasil e, mais especificamente na confluência dos

Rios Negro e Solimões; é pertencente à mesorregião do Centro Amazonense e à

macrorregião Amazônia.

O acesso a essa cidade, via terrestre, dá-se pelas Rodovias BR – 174 e BR-

319 que liga Manaus a Boa Vista (capital de Roraima) e a Porto Velho (capital de

Rondônia), respectivamente. E, pela AM-010 que liga ao Município de Rio Preto da

Eva e Itacoatiara e AM-070 que a liga ao Município de Iranduba. O acesso aéreo dá-

se através do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes e sua extensão “Eduardinho”

próprio para aeronaves de pequeno porte e o Aeroporto de apoio Ponta Pelada que

é de base militar e está sob a responsabilidade da FAB – Força Aérea Brasileira. No

que diz respeito ao transporte fluvial, o Porto de Manaus recebe embarcações de

pequeno, médio e grande porte tanto nacionais quanto internacionais.

52

Figura 3 - Localização geográfica do Município

Fonte: http://www.amaconsultoria.com.br/manaus/index.asp, Acesso em 28.04.2011.

O seu território ocupa uma área de 11.401,077 Km2 com Densidade

Demográfica 158,06 hab/ Km2 (IBGE, 2010) e limita-se, ao Norte, com o Município

de Presidente Figueiredo; ao Sul com os Municípios Careiro e Iranduba; ao Leste

com o Município de Rio Preto da Eva e Amatari e a Oeste com o Município de Novo

Airão (PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS, 2011).

Manaus apresenta clima equatorial úmido peculiar da Região Norte, com

chuvas no verão e temperatura média anual de 32°C. Chove quase todos os dias do

mês de dezembro ao mês de junho e costumam ser em fortes pancadas de pouca

duração. Nos demais meses caracteriza-se pela época da seca e sol intenso na qual

a temperatura chega a 38°C e em setembro chega em torno de 40°C. (INPE, 2011).

Com uma altitude média inferior a 100 metros, Manaus é caracterizada por

planícies constituídas por sedimentos da Era Antropozoica, baixos planaltos e terras

firmes (PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS, 2011).

Em 1819, Karl von Martius e Johan von Epix citados por Mesquita (2006)

descreveram Manaus como “lugar situado num terreno desigual cortado por

córregos”. Tal descrição assinala a característica do relevo local.

53

Figura 04 - Planta da Cidade de Manaus (1852 – topografia acidentada e cortada por córregos).

Fonte: Jorge Herrán, 1990.

Durante o período provincial, Manaus era bastante recortada por igarapés

(figura 04), muitos dos quais aterrados na última década do século 19 (MESQUITA,

2006). O autor registra que o período era propício ao aproveitamento das boas

águas, visto que Manaus ocupa uma posição eminentemente aquática. Na ocasião,

chafarizes foram facilmente instalados no centro da cidade – o que servia para

abastecimento da população.

Tal sistema de abastecimento durou cerca de dez anos e, em 1865 foi

observado que a água do rio não era apropriada para consumo. Um Código de

Posturas Municipais foi promulgado e em 1872 era proibido tirar água de igarapé do

Aterro para comercializá-la ou ser usada para lavagem de roupas ou animais

(cavalo, na época). Em 1883 a lei que dava autorização ao presidente a dar início às

obras de canalização da água potável foi aprovada.

Atualmente, o sistema de abastecimento de água no Município, apresenta

uma produção com base em três captações no Rio Negro, sendo uma no Mauazinho

e duas na Ponta do Ismael e conta com 121 poços que captam a água do aquífero

subterrâneo (ÁGUAS DO AMAZONAS, 2011).

O Rio Negro citado ocupa uma posição importante em volume de água

perdendo apenas para o Rio Amazonas – do qual é afluente. O Rio Negro é também

54

o rio mais extenso de água negra do mundo. O Rio Negro e o Rio Solimões são os

dois rios que passam pelo município de Manaus.

Manaus apresenta diversidade e, consequentemente, extraordinário recurso

natural e por esse motivo é conhecida como “Capital Ambiental do Brasil”. O

Município está localizado na maior reserva do país (IBGE, 2011), apresenta

vegetação densa e flora diversificada.

4.2. Caracterização Histórica

A “narração” do histórico do Município de Manaus em seus principais

períodos é o objetivo desse subcapítulo, pois identificará os trâmites políticos,

econômicos, sociais e culturais como norteadores do repertório edificado

remanescente ou não.

Fortaleza do Rio Negro, Fortaleza da Barra, Lugar da Barra, Barra do Rio

Negro, Barra e Vila da Barra foram algumas denominações que a cidade de Manaus

recebeu no decorrer de sua evolução histórica. Tais denominações surgiram a partir

do processo de ocupação inicial que se dá na fundação do forte de São José da

Barra do Rio Negro ao período de instalação da Província e consolidou-se em 4 de

setembro de 1856 quando a Lei n. 68 mudou para cidade de Manaus. O termo

Manaus faz homenagem à nação indígena manaós e significa “mãe dos deuses”

(MESQUITA, 2006; GARCIA, 2010). No processo inicial supracitado é possível

descrever o uso da força e da fé para subjugar o conquistado, caracterizando o

sistema de colonização lusitana o qual é materializado e demarcado através de

ícones que eram as construções típicas do cenário como a Fortaleza de São José

da Barra do Rio Negro6 e a Igreja. O primeiro, que representa forte denominação

militar, erguida sobre um cemitério indígena tem como objetivo proteger o lugar

contra incursões estrangeiras e o segundo, construído por volta de 1695, reporta-se

à fé que, localizada próximo ao forte, era tida como a construção mais importante do

Lugar da Barra apesar de sua aparência simples e de ter sua obra atribuída aos

religiosos carmelitas (Castro, 2006).

6 Em 1669, o Capitão Francisco da Mota Falcão ergue Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro atendendo

a ordens do general Antônio de Albuquerque Coelho.

55

Os dois ícones estabelecidos influenciaram na ocupação do território visto

que as aglomerações surgidas partiram do seu entorno até a beira do rio; o que

registra a ausência de um planejamento urbano.

Por volta de 1786, o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira narrado por

Mesquita (2006, p.24) “observou que a população se dividia em dous bairros, ao

longo da margem boreal: ambos elles ocupam uma porção de barreira que medeia

entre os dous igarapés da Tapera dos Maués, e dito dos “Manaós””. Inicialmente

pequena, com cerca de 301 habitantes sendo a maioria de nativos, Manaus vivia de

produtos extrativos oriundos da floresta ou dos rios, visto que o município ocupa

uma posição estratégica para trabalhar e gerar riqueza (MESQUITA, 1999, p. 24).

Ainda no século 18, algumas melhorias foram estabelecidas e diversos

estabelecimentos industriais passam a funcionar. Pano, algodão, fécula de anil e

cordoalha são algumas benfeitorias resultante desse progresso que só foi possível

com a ousadia7 do governador Manoel Lobo D’Almada que mandou construir prédios

para serviços públicos.

Do período colonial até o período de instalação da província é registrado

como uma fase de poucas alterações. O lugar recebeu inúmeros portugueses e

brasileiros de outras províncias que passaram a construir casas mais confortáveis;

os primeiros tornaram-se comerciantes apesar do tímido comércio local. Na ocasião,

“faltava médico, boticário e professor primário. (MESQUITA, 2006, p. 26).

Em 1833, como consequência da promulgação do Código Criminal que

acarretou na divisão do governo paraense em três comarcas (Grão-Pará, Baixo

Amazonas e Alto Amazonas), o Lugar da Barra após ser promovido à condição de

vila, assume a denominação de Vila de Manaós na posição de capital da comarca

do Alto Amazonas. A respeito do crescimento da capital, Antônio Ladislau Baena

descreveu:

O lugar era composto por pequenas ruas e uma praça, e a maioria de suas casas era coberta com palha, mesmo o Palácio dos Governadores, a Provedoria e o quartel. Havia duas igrejas, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e uma outra pequenina, além do Hospital Militar, dos armazéns da Provedoria, Armas e Pólvoras e uma pequenina Ribeira de construções de canoas e batelons. (BAENA, 1839, p.380).

7 A ousadia refere-se ao ato de transferir a sede do governo da Vila de Barcelos (onde funcionava desde 1758)

para o Lugar da barra sem autorização do governador do Grão-Pará, ao qual ele (D’Almada) era subordinado. (MESQUITA, 2006).

56

A Vila de Manaós passa a ser cidade em 1848 e a denominar-se Barra do Rio

Negro e, com base em sua posição geográfica, o Imperador D. Pedro II, em 5 de

setembro de 1850, criou a Província do Amazonas e introduziu a navegação

comercial a vapor na calha do Rio Amazonas o que posteriormente (1866) foi

determinado como abertura dos Portos do Rio Amazonas ao Comércio Internacional.

(GARCIA, 2010). Nessa nova perspectiva, a região passa a ser de interesse

internacional e a atrair grande número de viajantes das mais diversas habilidades e

origens.

Pesquisadores, cronistas, cientistas e até simples aventureiros, após

conhecer a região, divulgavam relatos sobre vários aspectos observados. Na

ocasião, o registro da paisagem passa a ser descrito:

As casas eram geralmente de um só piso, cobertas de telhas e assoalhos com tijolos. As paredes eram quase sempre pintadas de branco e amarelo e as portas e janelas de verde. A cidade era assentada num terreno irregular cortada por dois igarapés onde, em cada um deles havia uma ponte de madeira regular” (MESQUITA, 2006, p. 29).

Em 1856, obedecendo à Lei n. 68, a Barra do Rio Negro muda de nome e

passa a ser cidade de Manaós. Nesse tempo, a descrição da paisagem foi pelo

francês François Auguste Biard citado por Otoni Mesquita (2006):

Naquela pequena localidade cheia de subidas e descidas, onde as ruas eram esteiradas de capim, testemunhavam-se mexericos e maledicências (...). O ritmo das pessoas deixa-me impaciente e faz o dia parecer ter 48 horas (MESQUITA, 2006, p. 33).

E, na passagem do século XIX para o XX, no período republicano, Eduardo

Gonçalves Ribeiro (1893 – 1896) em sua administração favorecida por

circunstâncias e por seu espírito empreendedor, alcançou transformações urbanas

significativas com influências do modelo parisiense as quais subjugam o cenário

provinciano herdado. Tais investimentos só foram possíveis através do recurso

oriundo da comercialização da borracha (fato econômico importante que destacou o

Estado no âmbito internacional), da fase republicana consolidando a influência

política e cultural, onde a sociedade cosmopolita necessita atualizar-se de acordo

com os grandes centros.

A repaginação urbana foi a estratégia adotada pelo governador supracitado

para deixar apenas na história o ar provinciano que se instalou em Manaus. A

57

cidade começou a ser transformada e no fim do século XIX e início do século XX

tornou um verdadeiro canteiro de obras (MESQUITA, 2006, p.198). Em 30 de

setembro de 1898 uma lista de obras (quadro 7) de Eduardo Ribeiro (MONTEIRO,

1990, p. 96-97) foi publicada no jornal A Federação e reproduzida na revista italiana

L’Amazzonia (no mês seguinte).

Quadro 7 - Obras publicadas no jornal A Federação.

Fonte: adaptada de Monteiro (1990, p. 96-97).

58

Segundo Monteiro (1990), para essa nova fase de transformações, fez-se

necessário buscar na Europa (portugueses, italianos e franceses) e em outras

cidades brasileiras mão-de-obra especializada como técnicos, operários, mestre-de-

obras e construtores que enriqueceram de luxo e requinte uma parte da paisagem

edificada. Tal situação pode ser notada na publicidade da época onde alimentos,

vestuários, cosméticos, sapatos, artigos de decoração, bebidas e materiais de

construção eram oferecidos à população (figuras 05, 06 e 07).

A justificativa da parcialidade da paisagem edificada referida anteriormente

deve-se à imagem, talvez ilusória, da riqueza e luxo, narrada, pois essas

transformações limitava-se a uma restrita área da capital e a um seleto grupo da

elite, o que acirra a divisão de classes. O centro, por ser cenário das lucrativas

relações comerciais, foi configurado como foco dos melhoramentos facilitando o livre

comércio de produtos e acesso de mercadorias (CASTRO, 2006).

Figuras 05, 06 e 07 - Anúncios publicitários século XX em Manaus.

Fonte: Anuário de Manaus 1913-1914.

Assim, edificações nobres e a repaginação da infraestrutura são configuradas

a partir dessas transformações. Igarapés com pontes duvidosas são aterrados

dando lugar às vias públicas; sendo que algumas pontes permanecem e recebem

estrutura metálica. População mais carente tem seus humildes imóveis

desapropriados e, consequentemente “convidados” a instalarem-se em zonas mais

distantes do centro.

Diante do exposto percebe-se a clara divisão da forma de acordo com a

classe econômica sendo a predominância da simplicidade das residências de

pessoas menos favorecidas e os sobrados destinados aos que detinham maiores

condições financeiras.

59

Com visível crescimento populacional, fez-se necessário estabelecer e impor

um Código de Posturas com o objetivo de erradicar qualquer tentativa que

comprometa os costumes, a família, o trabalho, a ordem, a moral e os bons

costumes. Em tamanha exigência, visto que o desacato a qualquer determinação

gerava multas e ou até prisões e, na consequente impossibilidade de pessoas

menos favorecidas a seu atendimento, surgem aglomerados protestando essa nova

realidade e, posteriormente, organizam-se em movimentos com direitos a cartazes,

propostas de greves e até passeatas que ocorriam no dia 1° de maio. Essas

manifestações davam-se nos logradouros (Praça de São Sebastião e Teatro

amazonas), de divulgação e consolidação da cultura popular, frequentados pela elite

e que acabou sendo referência de partida e largada nas futuras comemorações do

dia do trabalhador em todo 1° de maio de 1914 a 1920:

Localizada em frente ao Teatro Amazonas, ela se constitui como alternativa de apreensão da monumentalidade externa do mesmo. Não só os trabalhadores, como também outros segmentos despossuídos de Manaus, não vivenciavam esse lugar do luxo, dos chamados “barões da borracha”. Mas a bonita praça, construída à mesma época do teatro como seu complemento, tendo ao centro um monumento comemorativo da abertura dos portos do Amazonas ao mundo, por ter uma dimensão pública, era utilizada pelos trabalhadores para manifestarem-se contra o patronato local. (COSTA, 1998, p. 70).

O período seguinte é marcado pelo declínio da produção gomífera - o que

influencia diretamente na manutenção do patrimônio edificado devido à falta de

recursos. Essa fase perdura até a concretização da Zona Franca de Manaus (ZFM)

que marca uma nova fase de desenvolvimento econômico para o Município. Com

novas tecnologias e novos nichos de mercado, a ZFM contribui para uma nova

característica edificada.

Foi a partir de 1910 que o declínio da borracha passou a se estabelecer e

diversos fatores contribuíram para a situação; para dinamizar o entendimento segue

abaixo (quadro 8), de forma explicativa:

60

Quadro 8 - Análise de autores acerca do declínio da borracha

Fonte: Andressa Santos (2011).

Ainda Oliveira (2003), na profunda análise do período considerado como

“período da cidade em crise” (1920 a 1967) onde descreve as consequências do

declínio da borracha e o saudosismo ao Governador Eduardo Ribeiro que, apesar

das duras críticas, propiciou grande desenvolvimento ao município. O autor faz

referência a dois marcos históricos sendo o primeiro caracterizado pelo apogeu e

declínio da borracha e o segundo pela criação da Zona Franca de Manaus e seu

Distrito Industrial, sendo ambos influenciadores das modificações na paisagem

urbana onde, conclui o autor (2003, p.30), “a cidade é produto das relações sociais

que se especializam como resultado do modo de ser de uma sociedade em

espaços-tempos específicos”.

O declínio assinalado faz com que muitas famílias abandonem seus imóveis

almejando melhores perspectivas em outros Estados. Segundo Loureiro (2001,

p.98), em 1913 existia mais de 2500 casas abandonadas no Centro de Manaus. E,

com os seringais falidos, uma expressiva população oriunda do interior se

estabelece em condições precárias. Oliveira (2003, p.82) registra que “cerca de 10

mil migrantes vindos da zona rural (vales dos Rios Seringueiros: Madeira Purus e

Juruá) agravando ainda mais o problema da habitação”.

61

Figura 08 – imagem da cidade flutuante – Manaus

Fonte: http://www.biblioteca.ibge.gov.br, acesso em 13/05/ 2011.

A figura 08 mostra a cidade flutuante que surgiu em decorrência do

contingente populacional que Manaus recebeu, pois, sem emprego e sem dinheiro,

precisaram instalar-se sob condições precárias na entrada da cidade e

posteriormente se estendendo até a foz do Igarapé de Educandos. Essa situação

marca um triste cenário estético e social.

Apesar desse cenário estabelecido, tímidos melhoramentos urbanos surgem,

mesmo que restrito ao centro da cidade; e várias praças passam a ser recuperadas,

o asfalto introduzido e o calçamento macadame experimentado como atitude de

valorização das pedras da região (OLIVEIRA, 2003, p.106 a 108).

As cidades flutuantes perduram até 1965 quando a Capitania dos Postos

retira os flutuantes por tornar a navegação dificultosa. Os moradores com melhores

condições estabeleceram-se nos Conjuntos8 Residenciais de Flores e da Raiz e os

mais desprovidos de recursos receberam pequena ajuda para o desmonte e

transporte do material para a construção de outro em outro local da cidade. Essa

situação deixa claro a estratégia política em manter essa camada popular distante

da elite e a expansão urbana.

A partir de 1967, com a criação da ZFM, a expansão urbana é notória, as

imagens 07 e 08 registram-na e fazem uma comparação com o território ocupado

em 1915. Ao norte, surgem os bairros Jardim Amazonas, Chapada; a leste, o

Adrianópolis, São Francisco, Petrópolis e a estrada do Aleixo; a Nordeste a rua

8 Conjuntos construídos com recursos do BNH - Banco Nacional da Habitação.

62

Recife até o Parque 10 de Novembro; a sudeste, os bairros de São Lázaro, Colônia

Oliveira Machado e o aeroporto Ponta Pelada; a oeste, os bairros de São Jorge até

a estrada da Ponta Negra e a sudoeste os bairros de Santo Antônio e São

Raimundo (OLIVEIRA, 2003, p. 94 a 95).

Figuras 09 e 10: Comparação da expansão territorial nos anos de 1915 e 1968, respectivamente.

Fonte: OLIVEIRA, José Aldemir de. Manaus de 1920-1967: A Cidade Doce e Dura em Excesso, 2003.

Adiante no contexto histórico, o século XX é registrado com expressivo

desenvolvimento. O serviço público (transporte, porto, água e luz) apesar de

terceirizado e explorados por empresas estrangeiras, não dispunham de qualidades

desejadas, alvo de críticas e reprovações. Vale registrar um avanço na coleta de lixo

com o uso de caminhões adaptados (que até 1926 era em carroças movidas a

tração animal), nos logradouros públicos9 e no sistema de transporte. Esse último é

marcado com o surgimento do primeiro ônibus urbano (década de 30) que atendia,

inicialmente, os bairros de Educandos e cachoeirinha e, posteriormente,

estendendo-se às demais áreas da cidade e reforçando os bondes e as catraias (via

igarapés) que, até antão, eram os únicos meios de transportes. No final da década

de 40, o serviço de bondes decai e os ônibus predominam no transporte.

Esses avanços tímidos, como citados anteriormente, é o registro direto da

crise da borracha que perdura, apesar das tentativas do governo central em reverter

tal situação. Mesquita (2006, p.162) descreve:

9 Araújo Lima (1926-1929), em sua administração, valoriza praças do centro e proporciona tratamento

permanente aos parques e jardins. Ergue o Relógio Municipal na Avenida Eduardo Ribeiro, cria o Bosque Tarumã era dimensiona o Bosque Municipal. Na administração de Antônio Botelho Maia criou-se o Balneário do Parque 10 de Novembro, o Aquaviário Municipal, o Horto Florestal e o Castanhal de Manaus.

63

Decididamente, o primitivo sistema extrativista fora derrotado e não dispunha de recursos capazes de acompanhar a rapidez e a qualidade da produção asiática. A Amazônia despedia-se definitivamente de sua fase áurea e mergulhava numa estagnação econômica que manter-se-ia por várias décadas, surgindo nova demanda somente por um curto espaço de tempo durante a 2ª Grande Guerra, quando o produto oriental encontrava-se inacessível (MESQUITA, 2006, p.162)

Foi a partir da Zona Franca de Manaus e seu Polo Industrial que a

recuperação econômica se efetivou alavancando o turismo de compras (figura 08).

Figura 11 - Centro de Manaus em consequência da ZFM.

Fonte: Robério Braga, 1990.

Diante dos acontecimentos supracitados, podemos citar como conclusão a

respeito do declínio da borracha, a situação de passiva “espera” de intervenções que

poderiam vir do Governo Nacional. Oliveira (2003, p.53) pontua que “essa talvez

seja a principal característica da temporalidade e espacialidade amazônicas. (…)

Aqui se está sempre a espera de migalhas que se possam vir dos de fora”.

4.3. Caracterização socioeconômica e sociocultural

Manaus possui uma área de 11.401,077 km2 e população de 1.802.014

habitantes sendo 1.792.881 no perímetro urbano e 9.133 no perímetro rural. De

economia acelerada é a sexta maior cidade brasileira em Produto Interno Bruto.

Com PIB de R$ 38.116 milhões, o município ocupa a 6ª posição do Brasil (IBGE,

2011).

Toda zona econômica do município apresenta isenção de tributos para

industrialização e para o consumo, os quais objetivam o desenvolvimento da

64

Amazônia Ocidental e a preservação da natureza. O setor secundário é a base de

sua economia, ou seja, as indústrias de transformação onde os sub-setores

eletroeletrônico e de veículos de transporte (bicicletas, motocicletas, triciclos e

quadriciclos) são predominantes. Tais subsetores são sustentados pelas grandes

empresas transnacionais, basicamente de origem asiática, americana e/ou européia

e alimentam, em sua maior parcela, o mercado brasileiro (SUFRAMA, 2011).

Em 2010, o município apresentou estabilidade econômica e crescimento

industrial de 60% tornando-o responsável por 55% da economia da Região Norte e

98% da economia do Amazonas (PREFEITUMA MUNICIPAL DE MANAUS).

Dos centros indústrias do Brasil, Manaus é um dos maiores por abarcar a

Zona Franca de Manaus. Porém a construção civil, o ecoturismo e os serviços

predominam. Como infraestrutura da economia do município citamos: o aeroporto

internacional, terminais portuários, rodovias municipais, estaduais e federais, oferta

de gás natural (gasoduto Urucu-Coari-Manaus), energia elétrica, saneamento básico

e sistema de comunicação (IBGE, 2011).

É nas rodovias (BR-174 E AM-010) que a atividade agropecuária está

concentrada. Cupuaçu, abacaxi, guaraná, arroz, tucumã são itens da agricultura que

apresenta crescimento (SUFRAMA, 2011).

No que diz respeito ao turismo, Manaus oferece, em sua área urbana, uma

expressiva rede hoteleira e em sua região metropolitana alguns Hotéis de Selva.

Durante o World Travel Market Manaus recebeu (Londres, 2009) o prêmio destino

verde da América Latina. O Teatro Amazonas é um de seus principais pontos

turísticos, assim como o Encontro das águas (encontro dos Rios Negro e Solimões).

(OTCA, 2011).

Remontamos agora à época da Borracha, onde nordestinos migraram para a

Amazônia em busca de uma oportunidade, para registrarmos a contribuição destes

na cultura local, pois junto com os povos nativos da região formam a miscigenação

cultural ampla e diversificada – cultura mestiça e indígena. Tal miscigenação é

divulgada através do Museu do Homem do Norte, referência étnica do país. Em

relação à música, artes visuais, literatura e artes plásticas, Manaus apresenta a “A

Casa das Artes” localizada no Largo de São Sebastião (MESQUITA, 2006).

Boi-Bumbá, samba, forró e ópera são os gêneros musicais de destaque na

cultura manauara e são influências do Boi-Bumbá de Parintins, do festival de samba

do Rio de Janeiro, dos estilos nordestinos e da tentativa de resgate da época áurea

65

da Borracha, respectivamente. Esse último acontece durante os meses de abril e

maio e transformou Manaus da capital brasileira de ópera através do Festival

Amazonas de Ópera (SEC-AM, 2011).

Também importante evento cultural (internacional), o Amazonas Film Festival,

promovido pelo Governo do Estado em parceria com a rede Globo e Record (através

da participação de seus atores, recebe também atores internacionais - de

Hollywood), destaca os filmes de aventura em suas manifestações e retratam a

realidade local em seus diversos temas: moradia, população, desmatamento, ...

Os cursos de artes cênicas e música são oferecidos pelo Liceu de Artes e

Ofício Cláudio Santoro e a Universidade Federal do Amazonas (primeira

universidade do Brasil, criada em 1909).

Museu de Ciências Naturais da Amazônia (marca presença japonesa no

Amazonas, atualmente fechado por falta de apoio financeiro), Museu do Índio (citado

anteriormente), Museu do Homem do Norte, Museu Amazônico da Universidade

Federal do Amazonas, Palacete Provincial, Pinacoteca do Estado, Museu da

Imagem e do Som do Amazonas – MISAM, Museu Numismática Bernardo Ramos,

Museu Tiradentes, Museu de Arqueologia, Museu do Porto, Museu Tiradentes,

Museu Casa Eduardo Ribeiro e Museu do Seringal Vila Paraíso formam o rol de

opções culturais do município. Vale ressaltar que seus respectivos horários de

funcionamento devido a carência de recursos humanos dificultam a visitação em

massa. Geralmente estão fechados nos fins de semana e feriados. (SEC-AM, 2011).

Suas noites são movimentadas e há muitas bandas jovens de diversos estilos

e para todas as preferências.

No que diz respeito à moda, o evento Estética & Moda, realizado anualmente

divulga as marcas e modelos de Manaus. É a oportunidade de mostrar, em nível

nacional, uma expressão predominantemente local. Os acessórios se apresentam

numa composição de sementes e pedras semipreciosas e podem ser encontradas

em diversas lojas de artesanato da cidade. (SENAI/AM, 2011).

A grande variedade de peixes proveniente da bacia do Rio Amazonas é o

cargo chefe da culinária manauara, de acordo com dados da SEAP – Secretaria

Especial de Agricultura e Pesca, 14% da população de Manaus consome peixe

diariamente. Pirarucu à casaca, caldeirada de tambaqui e jaraqui frito são pratos que

demostram essa culinária em poucas palavras e gosto delicioso. Somada aos

peixes, a tapioca também merece lugar de destaque, pois é altamente consumida

66

acompanhando os cafés (manhã ou da tarde). Tapioquinha simples, com queijo

coalho e/ou com tucumã são as mais pedidas. A respeito de tucumã, o “x-

caboquinho” é o sanduíche genuinamente manauara (SEBRAE/AM, 2011).

4.4. Estudo de Caso – Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno

O atual Centro Cultural “Largo” de São Sebastião é uma proposta recente de

espaço público em prol da cultura local - resgate dos encantos que um dia a cidade

proporcionou aos seus habitantes e visitantes - e do turismo. Surgiu como

consequência de um Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da

Praça de São Sebastião que pertencem ao Programa Manaus Belle Époque10.

Portanto, para entender a sua história faz-se necessário conhecer, primeiramente, o

Programa Manaus Belle Époque.

No fim no ano de 1996, com o sucesso das festividades do Centenário do

Teatro Amazonas, verificou-se o grande potencial que o Estado apresentara em

espetáculos e demais ações culturais. Após conversa entre o Governador do

Estado11 e o Secretário de Cultura12, algumas decisões foram tomadas e metas

estabelecidas. A primeira providência foi organizar formalmente a Secretaria de

Estado de Cultura do Estado do Amazonas, a SEC-AM13, estabelecer suas ações,

delimitar seu raio de atuação e planejar as melhorias que possibilitasse tornar

Manaus em um destino cultural e turístico. Em seguida promover a qualificação

técnica ao pessoal envolvido através de programas e projetos específicos. As

demais ações restringiram-se em preparação e formatação dos espetáculos da

ópera em si: corpo técnico, formalização de contratações, estabelecimento de

programas e divulgação. Todas essas ações iniciais obtiveram um resultado

positivo, porém o Festival de Ópera, a cada ano, cresce em público, em dimensão e

em repercussão com intensidade maior à capacidade do Teatro Amazonas.

Uma vez o Teatro Amazonas com sua programação se solidificando, a SEC-

AM iniciou as articulações para promover demais localidades tanto pela

possibilidade de sustentação dos espetáculos e dessa nova demanda quanto para

10

Nome dado em homenagem à Época Áurea da borracha que sofreu influência da Bélle Époque Parisiense. 11

Na ocasião, o Sr. Amazonino Mendes. 12

Sr. Robério Braga, Secretário de Estado da ocasião e que permanece no cargo até os dias atuais. 13

Para Secretaria de Estado da Cultura do Amazonas, usar-se-á, a partir desse momento, a sigla SEC-AM.

67

torná-las condizentes com a imponência do Teatro Amazonas. Iniciou-se assim a

Revitalização do Centro Histórico de Manaus.

Para SEC-AM, a Revitalização do Centro Histórico de Manaus, por ser uma

ação inovadora, fez-se necessário, primeiramente, a capacitação14 de trabalhadores

em Técnicas de Restauração onde, seiscentos profissionais da construção civil (de

todos os níveis) participaram. Formou-se então, em 1997, mão de obra qualificada

para intervir nas obras de revitalização.

No ano seguinte, em 1988, através do Projeto Canteiro-Escola Casas da

Sete15 (figura 9), deu-se a primeira experiência prática dessa qualificação de mão de

obra consolidando as diretrizes norteadoras das atividades subsequentes como a

busca pela originalidade das construções e, quando necessárias, as adequações de

uso.

Figura 12 – Projeto Casa das Sete – antes e depois da intervenção.

Fonte: Casa do Restauro, com adaptações, 2002.

Com a mão de obra qualificada e com a experiência em revitalizações se

fortalecendo, o Programa Manaus Belle Époque começou, em 1999, a ser idealizado

com a intenção de revitalizar as demais áreas históricas significativas da Cidade de

Manaus.

Portanto, o Programa Manaus Belle Époque compreende em um conjunto de

projetos de revitalização de áreas estratégicas do Centro Histórico de Manaus, a

saber: Projeto de Revitalização da Área de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa;

Corredor Especial de Turismo (Rua Marcílio Dias), Projeto de Revitalização de

Imóveis Históricos (Igreja do Pobre Diabo, Cemitério São João Batista); Restauração

14 O Programa de Capacitação foi um resultado de parceria entre o Governo do Estado, a Fundação Getúlio Vargas e o ISAE onde os módulos trabalhados forma: Introdução às “Técnicas de Restauro, Conservação e Recuperação de Bens Imóveis e Elementos Integrados” e “Recuperação de Pinturas Decorativas e Elementos Decorativos na Arquitetura.” (SEC, 2002). 15

Projeto de recuperação de onze fachadas dos imóveis vizinhos ao Palácio Rio Negro (bem tombado estadual), localizado entre as pontes romanas, na Avenida Sete de Setembro.

68

da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da

Instalação, já concluídos; Projeto de Revitalização do Entorno da Matriz, concluída a

1ª. Etapa; Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São

Sebastião.

Com o exposto, o CCLSS e seu entorno foi o objeto de estudo proposto

nesse projeto e sua escolha apresenta como base os seguintes critérios:

Quadro 09 – Quadro de critérios de escolha do objeto de estudo.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

O CCLSS e seu entorno compreende o quadrilátero formado pelas ruas Costa

Azevedo, José Clemente, Dez de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro e,

originalmente era formado pelo Teatro Amazonas, pela Galeria do Largo, pela praça

e a Igreja de São Sebastião e o monumento em homenagem à abertura dos portos,

pelo Palácio da Justiça, pela Casa Ivete Ibiapina, pelo Bar do Armando, pela Casa

do Restauro, pela Casa J.G. Araújo e pelo Centro Cultural Cláudio Santoro (figura

06). É uma área que, por si só, transmite elegância, imponência e um imenso acervo

de história e cultura justificando ainda mais uma análise com sua posterior descrição

dos setores que se desenvolveram a partir de então.

Figura 13: Área de abrangência – LSSE.

Fonte: adaptada de Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São

Sebastião, 2003.

69

O Projeto supracitado consagra o local como o cartão-postal do Estado

revelando-o como o mais expressivo símbolo da cultura a qual pertence. É a

imagem que o país e o mundo recebem através da mídia e, sobretudo a partir do

Manaus Film Festival, Festival Amazonense de Ópera e o Amazonas Jazz Festival –

programas da cultura local que entraram para o calendário de eventos oficiais.

Com base no exposto, o CCLSS e seu entorno foi alvo de discussão e análise

de resultados que, com base na metodologia pré-estabelecida e apresentada no

capítulo 3, formatarão o capítulo a seguir.

70

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo 5 propõe a análise do resultado da pesquisa apresentada no

capítulo 1 e desenvolvida segundo a proposta formatada no protocolo explanado no

capítulo 3. Essa análise visa o alcance dos objetivos pré-determinados para este

projeto onde, respaldados pelo referêncial teórico, foram analisados os dados que

caracterizam o objeto de estudo, frente a cada objetivo específico: analisar o

processo histórico de evolução urbana do CCLSS e seu entorno; caracterizar o

processo de revitalização da paisagem edificada como resgate da memória cultural;

mapear a configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade e analisar

as implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de requalificação

sobre a atividade turística.

Ao final, os dados foram analisados conjuntamente resultando na resposta do

problema da pesquisa: Quais são as implicações do processo de requalificação da

Paisagem do Largo de São Sebastião e seu entorno sobre o espaço turístico de

Manaus?

Para tanto, a análise da paisagem foi conduzida a partir das variáveis

propostas por Boullón (2002) e suas implicações, no contexto do turismo,

respaldadas pelos dados coletados através de entrevistas e questionários.

5.1. Processo Histórico do CCLSS e seu entorno.

O processo histórico contextualizado nos permitiu afirmar que Manaus

apresenta um valor cultural inestimável que é contado através dos imóveis

tombados. Este capítulo descreve o contexto histórico do CCLSS e seu entorno

definido pelo quadrilátero formado pelas ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez

de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro localizado no Centro da Cidade de Manaus

– AM.

71

Figura 14 – Monumento comemorativo - Panorama do Largo de São Sebastião.

Fonte: Vida, Revista de Cultura, Saúde e Qualidade de Vida, da Unimed Manaus, Ano 2, no. 4, maio/2005.

O marco inicial é dado através da existência da Praça de São Sebastião, no

ano de 1867, devido a instalação de uma coluna de pedra16 representando a

Abertura dos Portos às Nações Amigas (figura 14). Porém, antes mesmo de tornar-

se Praça, a área referida, doada pelo tenente-coronel Antônio Lopes Braga ao

Município, era apenas uma rocinha. Seu nome, “Praça de São Sebastião”, refere-se

à Irmandade de São Sebastião17. Importante citar que a Praça de São Sebastião

tornou-se o Largo do centro do Bairro São Sebastião - como a área foi denominada

na ocasião e que se tornou o quinto bairro de Manaus (MONTEIRO, 1998, p.640).

Paralelo ao Largo, as tratativas para construção de um teatro estavam sendo

cogitadas como consequência de exigências da sociedade manauara por um local

mais adequado para as apresentações cênicas. Para tanto , em 1881, o Sr. Alarico

José Furtado sancionou uma lei18 que o autorizava a dispor da quantia de cento e

vinte contos de réis para aquisição e um terreno e a construção de um teatro de

alvenaria nesta cidade. Em 10 de janeiro de 1884 foi escolhido19 o local para

construção do teatro – ao lado da Praça de São Sebastião - e desapropriado pela

importância de Cr$ 20.000,00; e em 14 de fevereiro de 1884, apesar de ter havido o

lançamento da pedra fundamental sob a responsabilidade do então presidente José

Paranaguá, o Teatro Amazonas teve suas obras paralisadas e só foram retomadas

em 1892 na administração de Eduardo Ribeiro. (MONTEIRO, 1998, P.640). Já em 8

16

A coluna de pedra apresentava uma altura de 6 metros e foi uma iniciativa do Sr. Antônio Davi de Vasconcelos

Canavarro, diretor de Obras Públicas da ocasião (DUARTE, 2009). 17

De origem religiosa, a Irmandade de São Sebastião se instalou na Cidade em meados de 1859. Era formada por missionários franciscanos (DUARTE, 2009). 18

Lei No. 546 de 14 de junho de 1881, Artigo 1o. In: Provincia do Amazonas. Colleção das Leis de 1881. Parte Primeira. Tomo XXIX. Manaós. 19

Inicialmente o local seria à confluência da Avenida Eduardo Ribeiro com a Avenida Sete de Setembro e a Rua Henrique Martins, porém o local foi descartado pela insegurança que o terreno proporcionava (área de igarapé). (GARCIA, 2005, p. 99).

72

de setembro de 1888, construída sob a direção de Francisco Frei Gesualdo

Macchetti de Lucas, a Igreja de são Sebastião20 foi entregue ao povo (IGHA, 1985).

Voltando à Praça de São Sebastião, apesar do ano 1867 ser considerado o

marco inicial, suas obras de melhorias em prol da primeira formatação de “praça” em

si iniciaram-se trinta anos mais tarde, ou seja, só foram contratadas em dezembro de

1896 através de Marcolino Rodrigues resultando em um desaterro que passou a ser

“traduzida” como um descampado de terra batida. Porém, com o Teatro Amazonas21

– contíguo ao logradouro – com obras inconclusas, mas já apresentando a sua

imponência na área, fez-se necessário que a Praça de São Sebastião

acompanhasse a sua beleza. Por esse motivo, o descampado de terra batida só

perdurou até o final do século XIX, pois em 8 de agosto de 1899, o contrato22 para a

execução do serviço de calçamento da Praça de São Sebastião e seu entorno

(abrangendo as ruas Dez de Julho e José Clemente) foi assinado e, como

consequência, a área central do logradouro recebeu a sincronia das pedras

portuguesas brancas e pretas formatadas, em 1901, em uma calçada com desenho

em formato de ondas e com extremidades de paralelepípedos de asfalto (IGHA,

1985; MESQUITA, 1999; DUARTE, 2009).

Entre uma inauguração e outra, em 1894, as obras do Palácio da Justiça se

iniciam, ainda no Governo de Eduardo Ribeiro; porém, foi inaugurado em 1900 na

administração de seu sucessor, o Sr. José Cardoso Ramalho Júnior (GARCIA,

2005).

Com inaugurações acontecendo e mudanças para acompanhar a beleza do

TA, o monumento de abertura dos portos também sofreu modificações. Em 1897 foi

apresentado pelos engenheiros Raimundo Hipólito Girard e Guilherme Capretz um

novo estudo para substituí-lo. Porém, a construção do atual modelo (figura 15) deve-

se a Domenico de Angelis que foi contratado em 14 de março de 1899 e entregou a

obra em 5 de setembro de 1900 (IGHA, 1985). Em 15 de janeiro de 1901, marca a

construção do passeio dos imóveis do entorno “anunciada pelo Governador Silvério

Nery” (MESQUITA, 1999, p.294).

20

A Igreja de São Sebastião foi “contratada com Leonardo Malcher, orçada inicialmente em 8 contos de réis”

(IGHA, 1985, p. 96). 21

Para Teatro Amazonas será adotada, a partir desse momento, a sigla TA. 22

O contrato citado foi firmado entre Antônio Augusto Duarte e a Diretoria de Obras Públicas (MESQUITA, 2005).

73

A partir dessa data, a Praça de São Sebastião recebeu melhoramentos

apenas nos anos de 1914 e 1915 na administração de Dorval Porto onde, na

ocasião, mudas de Fícus-benjamin foram plantadas ao seu redor. Em 1920,

dezesseis bancos de madeira com armação de ferro foram colocados ao longo do

logradouro, além de alguns outros reparos. Confere-lhe ao superintendente Franco

de Sá a responsabilidade desse último.

Em 29 de agosto de 1924, o governador Alfredo Augusto Ribeiro Júnior foi

deposto de seu cargo e, por essa razão, a Praça de São Sebastião passou a ser

chamada de Praça Ribeiro Júnior. A homenagem foi iniciativa do superintendente

municipal Francisco das Chagas Aguiar por meio do decreto nº. 28, de 29 de agosto

de 1924. Em 1925 foi instalado um coreto para que as bandas militares

apresentassem suas obras. Atribui-se essa iniciativa ao prefeito Hugo Carneiro.

Figura 15 – Monumento em homenagem à abertura dos portos do Rio Amazonas às nações amigas.

Fonte: Andressa Maria Santos, 2011.

A alteração seguinte relacionada ao nome da praça deu-se no ano de 1930

por meio do decreto municipal nº. 2, de 31 de outubro. A partir desse momento, a

Praça 24 de Outubro faz referência ao dia em que Getúlio Vargas ascendeu à

presidência do Brasil, porém, através do Decreto Municipal nº. 49, de 9 de setembro

de 1931 volta, oficialmente, à denominação inicial, ou seja, Praça de São Sebastião

(DUARTE, 2009).

Somente em 1974, na gestão do prefeito Frank Lima, a Praça de São

Sebastião passa por uma recuperação total. Na ocasião, manteve-se o formato

retangular com cantos arredondados fazendo harmonia com as árvores de Fícus-

74

benjamin que circundam a praça. Em 1995, em parceria da Prefeitura de Manaus

com a empresa Xerox do Brasil, o piso bicolor e o monumento em homenagem à

Abertura dos Portos foram recuperados e as lâmpadas comuns dos postes de

iluminação foram substituídas por lâmpadas apropriadas ao ambiente externo –

lâmpadas a vapor de sódio de cor alaranjada. Em 1999, foi iniciada uma restauração

sob a coordenação da Empresa Municipal de Urbanização (URBAM), onde o

monumento central recebeu limpeza apropriada e houve a “reposição do

calçamento, com pedras trazidas de Belo Horizonte/MG”. (DUARTE, 2009, p. 38).

Nos anos de 2003 e 2004, o Projeto Manaus Belle Époque contempla a Praça

de São Sebastião e seu entorno consolidando o Centro Cultural Largo de São

Sebastião.

O Centro Cultural Largo de São Sebastião, por sua vez, é um complexo

inaugurado em 7 de maio de 2004 e era formado pela Praça de São Sebastião, pelo

TA, pela Casa Ivete Ibiapina, pelo Bar do Armando, pela Casa do Restauro, pela

Casa J.G. Araújo, pela Casa das Artes, pela Galeria do Largo e pelo Centro Cultural

Cláudio Santoro. Atualmente (vide quadro 10), o Bar do Armando, a Casa do

Restauro, o Centro Cultural Cláudio Santoro não estão mais vinculados.

5.1.1. Teatro Amazonas

O Teatro Amazonas é a obra de maior símbolo cultural e turístico do

nosso Estado cuja história é traçada a partir do dia 21 de maio de 1881 com a

apresentação de um projeto que solicitava verba para a construção de um teatro em

alvenaria à Assembleia Provincial. Tal apresentação, de responsabilidade do

deputado Antônio José Fernandes Júnior, surtiu efeito ao ponto do presidente da

Província, Alarico José Furtado (em menos de um mês depois), por meio da Lei 546,

autorizar cento e vinte mil réis para a compra do terreno e o início da obra.

(DUARTE, 2009; MESQUITA, 2006).

Após extrema discussão acerca do local, aprovação em assembleias e

repasse de verbas, lança-se, em 14 de fevereiro de 1884, a pedra fundamental do

Teatro Amazonas no terreno que enfim, seria edificado. O terreno foi uma

desapropriação e pertencia ao tenente-coronel Antônio Lopes Braga. As obras foram

iniciadas somente em 2 de junho do mesmo ano.

72

73

Com estrutura construtiva convencional, o teatro adota o tradicional formato

de caixa com quatro paredes que remete à tradição arquitetônica desenvolvida pelos

gregos e difundida pelos romanos, entretanto, a superposição de pavimentos

destaca sua grandiosidade. Com pouca evidência no uso ferro em sua construção,

marcado apenas no guarda-corpo da sala de espetáculo, algumas escadas e

corrimão, destaca os desenhos sinuosos do estilo art nouveau.

Figura 16 – Detalhe Teatro Amazonas

Fonte: Andressa Maria Santos, 2011.

Ornamentação barroca é a predominância na fachada do teatro, porém

verifica-se a presença de alguns elementos do vocábulo clássico. O ecletismo surge

na majestosa cúpula de ferro e vidro revestida com telhas coloridas de verde,

amarelo, azul e vermelho. Há uma verdadeira mistura de estilos históricos que,

integrando-se em harmonia, proporcionam beleza ímpar e se destacam através dos

tons rosa e branco (figura 16).

Sua sala de espetáculos é apresentada em planta baixa com formato de lira

(ou ferradura) com três entradas para plateia. Em seu entorno há quatro andares de

camarotes sendo o primeiro pavimento bem acima da plateia e entre os camarotes

há colunas jônicas que dão sustentação aos lustres. Os demais apresentam capitéis

coríntios estilizados. Em torno do palco, há uma profusão de elementos decorativos

em estuque e latão, esculturas carótides barrocas e querubins rococós, cortinas

decoradas, festão com folhagens e frutos; máscaras e mascarões de aspecto

74

barroco, compondo um rico colorido em rosa, dourado, verde e vermelho (figura 17).

Destacamos aqui o fosso móvel da orquestra onde o mesmo pode ser elevado,

ampliando espaço do palco. A pintura do pano de boca é de autoria de Crispim do

Amaral e apresenta o tema encontro das águas.

Figura 17 – Teatro Amazonas –detalhes internos

Fonte: Fotomontagem de Andressa Maria Santos, 2011.

O teto abobadado registra pinturas em telas desenvolvidas em Paris pela

Caza Capezot e registram alegorias à Música, Dança, Tragédia, homenagem a

Carlos Gomes e em uma representação da Torre Eiffel vista de sua base.

O Salão Nobre (Salão de Honra) apesar de apresentar confusa data inicial,

janeiro de 1898, de contratação de um artista para sua decoração; foi inaugurada

somente em junho de 1901. Seu teto é destacado com a pintura A Glorificação das

Belas-Artes na Amazônia projetada por De Angelis em 1897 e realizada em 1899.

As onze pinturas fixadas nas paredes do salão retratam paisagens amazônicas,

ressaltando a fauna e a flora. “Características italianas podem ser percebidas e

refletem o gosto estético da época e sua concepção de espaço civilizado e

requintado” (MESQUITA, 2006, p. 223-225).

O Teatro Amazonas, até os comemorativos de seu centenário, oferecia uma

vasta programação cultural além da disponibilidade de locação para eventos

75

particulares ou de terceiros (formaturas, aniversários de Instituições, mostras

culturais realizadas por organizações entre outros). Visando formatar um leque de

opções culturais mais selecionado, a SEC-AM procurou investir em demais

estruturas no entorno do TA para suprir a demanda de pequenos espetáculos.

Atualmente o Teatro Amazonas integra o Centro Cultural do Largo de São

Sebastião, contém 701 lugares divididos em plateia, frisas e camarotes e não

apresenta disponibilidade de pauta até o ano de 2014.

O subcapítulo seguinte desta dissertação visa contextualizar o processo de

requalificação do CCLSS e seu entorno como consequência do Programa Manaus

Belle Époque em prol da cultura e do turismo.

5.1.2. Palácio da Justiça

Atrás do Teatro Amazonas, percebemos o Palácio da Justiça (figura 18) - uma

herança do governador Eduardo Ribeiro – previsto no “plano de orçamento” onde

havia a justificativa de conveniência de um “edifício vasto com a função de Palácio

da Justiça de Manaus (MESQUITA, 2006). Sua construção tem uma história longa

cujo início data no ano de 1893 e término em 1898 no governo seguinte (Ramalho

Júnior).

Figura 18 – Palácio da Justiça em 1898.

Fonte: Acervo pessoal de Otoni Mesquita

O Palácio da Justiça apresenta elegância tão imponente que nem o glamour

do Teatro Amazonas pode ofuscar. De arquitetura eclética, linhas estruturais com

tradição renascentista e localizado na mais tradicional artéria de Manaus, a Avenida

Eduardo Ribeiro, o Palácio foi erguido sobre uma área acima do nível da rua, tratado

por um forte muro com pedra jacaré arrematado por balaustradas. A elegância de

76

sua construção dá-se pela sincronia entre proporção, simetria e simplicidade das

linhas horizontais e verticais retratando a exigência de um projeto racional e vigoroso

comprometido com o Classicismo. Sua fachada em tons de amarelo (figura 19)

apresentam elementos decorativos, cuja aplicação é bastante comedida, que

derivam do repertório clássico.

Figura 19 – Palácio da Justiça em 2011.

Fonte: Andressa Maria Cruz, 2011.

De acordo com os relatos de Duarte (2010), o edifício é composto por cinco

corpos, sendo o central e os extremos um pouco mais proeminentes. O arco pleno

impera nas portas de entrada e janelas do primeiro pavimento, já no segundo

pavimento podemos perceber que todas as janelas apresentam púlpito, com verga

reta, emolduradas por edículas com frontões curvos e triangulares. O primeiro

pavimento é de ordem toscana e o segundo de ordem compósita; cada um dos

corpos laterais possui quatro janelas em cada pavimento, enquanto que os corpos

das extremidades, duas somente.

O interior do Palácio apresenta um aspecto bastante eclético contrastando

com sua fachada. Há colunas e pilastras de ordem dupla no vestíbulo e a parte

inferior do fuste apresenta tratamento de ordem toscana contrapondo com a parte

superior e o capitel que são de ordem compósita. Uma bela escada com guarda-

corpo de metal conduz ao segundo pavimento, cuja entrada é recortada por três

arcos sustentados por colunas cuja decoração lembra carótides gregas. Tanto o

primeiro quanto o segundo andar do Palácio são profusamente decorados:

balaustradas, óculos, tetos revestidos com estuques, colunas compósitas, cartelas

decoradas, e as paredes originalmente marmorizadas. A fachada sóbria e austera

77

do edifício revela uma dualidade de estilos característico da arquitetura do século 19

– eclética.

5.1.3. Casa das Artes

Por aparecer em algumas fotografias do século XIX, pode-se afirmar que a

Casa das Artes é uma das mais antigas casas23 pertencentes à área em estudo.

Fato importante para o resgate de seu aspecto original modificado ao longo de sua

existência.

Figura 20 – Casa das Artes

Fonte: Andressa Santos, 2012.

A Casa das Artes foi criada pelo Governo do Estado através da SEC-AM com

a função de oferecer à população um espaço de uso múltiplo com atividades

culturais diárias e atuar como suporte e estímulo para a contemplação, criação e

valorização da produção artística espontânea. No momento da inauguração do

CCLSS, a Casa das Artes oferecia os seguintes serviços (quadro 11):

23

Nesse imóvel morou, por mais de 40 anos, o Dr. Thalmaturgo de Albuquerque Sapha, advogado, delegado do

IAPI – Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários – e procurador federal. Posteriormente seus filhos Hugo Moreira Sapha – Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores - e Flávio Moreira Sapha – atual Embaixador do Brasil nos Emirados Árabes – moraram no imóvel.

78

Quadro 11 – Serviços oferecidos pela Casa das Artes

Fonte: adaptado de SEC-AM, 2012.

5.1.4. Casa Ivete Ibiapina

A Casa Ivete Ibiapina – casa de música – restaurada através do Programa

Manaus Belle Époque foi inaugurada em 4 de novembro de 2001 (figura 21).

Figura 21 - Casa Ivete Ibiapina

Fonte: Marcia Honda, 2009.

O imóvel, somado ao Patrimônio Histórico Amazonense, marcou a vida da

pianista amazonense Ivete Ibiapina24 como um lugar em que viveu sua grande

paixão pela música – começou a estudar música com a professora Maria Antonieta

24

Ivete Ibiapina nasceu em 1932, é professora normalista graduada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Conceituada como virtuosa, mestra do teclado e a figura mais importante da cultura musical amazonense.

79

Marinho aos cinco anos de idade e aos seis apresentou-se pela primeira vez em

público.

A Casa Ivete Ibiapina foi idealizada para apresentar: Teatro de Bonecos25,

Sala de Concertos Carlota Ribeiro26 e Espaço Musical Lindalva Cruz27 com estrutura

específica: estúdio de gravação, estúdio de áudio, sala de vídeo.

5.1.5. Casa J. G. Araújo

O imóvel recebe a denominação em homenagem ao Comendador Joaquim

Gonçalves de Araújo28 que nele residiu por mais de cinquenta anos e no qual esteve

em companhia de figuras influentes à política, à igreja e ao empresariado.

Figura 22 - Casa J. G. Araújo.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

A Casa J. G. Araújo foi recuperada pelo Programa Manaus Belle Époque para

tornar-se um equipamento cultural e turístico do Centro de Manaus abrigando em

seu interior o Liceu de Ofícios, a Arena das Artes, a Galeria de Artes Renato Araújo,

a Oficina de Entalhes e o núcleo de Produção de Ópera.

25

Teatro de títeres – bonecos articulados e fantoches. 26

Sala com programações temáticas, acústicas, recitais de piano, conjuntos de jazz, blues e de câmara e canto

lírico em homenagem à Carlota Ribeiro, também pianista, nasceu em Manaus em 1912. Era tia e principal incentivadora de Ivete Ibiapina. 27

Espaço para música instrumental, rock, forró, boi e música popular em homenagem à Lindalva Cruz que

nasceu em Manaus em 1908 e organizou o Instituto Amazonense de Música. 28

Joaquim Gonçalves de Araújo é considerado um “consolidador da economia amazonense” por instalar a

primeira fábrica de beneficiamento e produção de artefatos de borracha no Amazonas – a Brasil Hévea.

80

5.1.6. Galeria do Largo

Local específico para obras de artistas locais, a Galeria do Largo (figura 23)

oferece exposições permanentes e temporárias. Sua administração está vinculada

ao Governo do Estado através da SEC – AM que, além de descobrir talentos,

organiza as exposições, prepara o material de divulgação e gerencia a visitação do

público. Sua inauguração está vinculada à do CCLSS.

O imóvel que atualmente funciona a Galeria do Largo é um dos exemplos de

reconstituição total da fachada.

A Galeria do Largo oferece também a Cafeteria do Largo com guloseimas

regionais e contemplar tardes agradáveis no CCLSS.

Figura 23 - Galeria do Largo.

Fonte: Andressa Santos, 2011.

5.2. Processo de Requalificação do CCLSS e seu entorno como resgate

histórico

Em análise à caracterização histórica da cidade de Manaus, pôde-se

perceber que as mudanças na Praça de São Sebastião e seu entorno ocorreram ao

longo da história da Cidade de Manaus onde cada governador (ou prefeito) teve a

oportunidade de trabalhar em prol de um majestoso cenário urbano que pudesse ser

usufruído até os dias atuais. Porém, com mudanças permanentes e as construções

do entorno da Praça de São Sebastião receberam influências dos estilos

81

subsequentes e da nova dinâmica da cidade resultando numa área com diversos

estilos, padrões e problemas urbanos e sociais.

No que diz respeito às mudanças sociais e ou urbanas, a área passou por um

período de descaso por parte do poder público e foi alvo de concentração de

flanelinhas, prostituição, moradores de ruas e vândalos, inexistindo, por um período

de tempo, segurança e manutenção constantes.

Portanto, com essas transformações, a Praça de São Sebastião e seu

entorno tornaram-se peças estranhas frente à beleza e imponência do TA e, por

essa razão, o Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça

de São Sebastião surgiu com a intenção de preservar os monumentos inseridos

nessa área do LSSE e devolver à sociedade esse espaço do centro de Manaus

dotado de infraestrutura e segurança adequadas remetendo-se ao contexto histórico

da cidade. De iniciativa do Governo do Estado29 e considerado como uma “decisão

política inadiável,” o Programa Manaus Belle Époque30, idealizado em 1999, visa, a

partir da revitalização de algumas áreas históricas significativas de Manaus

(incluindo o LSSE), “a transformação do Amazonas em efetivo polo de turismo31”.

Compreende o Programa Manaus Belle Époque: O Projeto de Revitalização

da área de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa, o Corredor Especial de Turismo

(Rua Marcílio Dias), o Projeto de Revitalização de Imóveis Históricos (Igreja do

Pobre Diabo, Cemitério São João Batista), a Restauração da Igreja Matriz Nossa

Senhora da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da Instalação, já concluídos;

Projeto de Revitalização do Entorno da Matriz e o Projeto de Revitalização do

Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião onde destacamos esse

último, a área de estudo nesta dissertação.

O Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São

Sebastião, formado pelo quadrilátero das ruas Costa Azevedo, José Clemente, Dez

de Julho e pela Avenida Eduardo Ribeiro (figura 24), foi iniciado em 2003 no governo

subsequente, dotado de estratégias de intervenções organizadas em etapas de

29 O Governador da ocasião, o Sr. Amazonino Mendes, relatou na Apresentação do Programa Manaus Belle

Époque estar consciente de que o turismo é a indústria para a qual devemos voltar todos os esforços com a convicção de que este conjunto de Programas e Projetos permitirá o alcance dos primeiros resultados de longo desenvolvimento que o turismo propicia. 30 SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA E TURISMO DO AMAZONAS. Programa Manaus Belle Époque.

Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 2000. 31 O Secretário de Estado da Cultura e Turismo, Sr. Robério Braga (ainda em exercício), na Introdução do

Programa Manaus Belle Époque informa: era uma “decisão política inadiável, e seu advento será representativo para a melhoria da qualidade de vida das suas populações”.

82

desenvolvimento e implantação. O primeiro passo foi estabelecer contato com os

proprietários dos imóveis para então direcionar a natureza das intervenções.

Esse primeiro contato foi de responsabilidade do Departamento de Patrimônio

Histórico e Turístico32 da Secretaria de Cultura e Turismo33, que primeiramente

apresentou todas as diretrizes do projeto a cada um dos proprietários, orientando-os

acerca da relevância histórica, sanando eventuais dúvidas no que diz respeito à

dinâmica da implantação e tranquilizando-os sobre as vantagens da implementação.

Figura 24 – Área de abrangência do Projeto: vista aérea. Fonte: Programa Manaus Belle Époque, 2000.

Nessa fase de apresentação e aprovação por parte dos proprietários, os

resultados positivos dos demais projetos que também integram o Programa Manaus

Belle Époque - entorno do Palácio Rio Negro e o entorno da Matriz - contribuíram

para tranquiliza-los e deram-se por convencidos da importância, orgulho e

vantagens na adesão ao Projeto de Revitalização do Entorno do TA e da Praça de

São Sebastião. Importância por contribuir com essa ação em prol do fomento do

turismo, orgulho em fazer parte dessa história e vantagens por receberem a

recuperação da fachada e telhado de seus respectivos imóveis sem ônus, além da

possibilidade da total isenção do IPTU conforme lei nº. 181 de 30 de abril de 1993.

Após dúvidas sanadas e consentimento dos proprietários, por escrito, o

levantamento foi direcionado ao resgate das fachadas originais através de

entrevistas e acesso possibilitado ao acervo fotográfico de cada um e às medições e

projeções cromáticas visando uma representação gráfica das possíveis modalidades

32 A partir desse momento, para Departamento de Patrimônio Histórico e Turístico, usar-se-á a sigla DPHT. 33 A partir desse momento, para Secretaria de Cultura e Turismo, usar-se-á a sigla SEC-AM.

83

e profundidade de cada intervenção. Cada intervenção foi discutida, planejada,

aprovada e implementada com aval de ambas as partes34.

A figura 25 demonstra as intervenções adotadas pelo projeto nos imóveis do

entorno do TA numa escala de 1 a 6 em ordem decrescente de profundidade de

intervenção. Porém, acrescentam-se aqui pontos específicos não inseridos nessas

escalas, a saber: recomposição de calçadas, meios-fios, sarjetas, arborização,

equipamentos de prestação de serviços e espaço de convivência.

Figura 25 - As intervenções adotadas pelo projeto.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.

Cada intervenção foi estabelecida de acordo com a situação que o imóvel se

encontrava e com as modificações que sofrera da época de sua construção até

então. As figuras 26 e 27 nos mostram a situação na qual os imóveis da Rua 10 de

Julho foram encontrados e a proposta da intervenção.

Figura 26 – Proposta de restauro da Rua 10 de Julho.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.

34 Sendo uma parte representada pelos proprietários e outra pelo DPHT através de sua equipe de funcionários

formada por arquitetos, engenheiros civis e restauradores, com seus respectivos estagiários.

84

Figura 27 – Proposta de restauro da Rua 10 de Julho.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003

Na referida Rua 10 de Julho foram realizadas as intervenções de todas as

tipologias, os imóveis 435, 439 e 579 precisaram de adequações para o resgate das

características originais; o imóvel 459 passou por pequenas reconstruções. Os

imóveis 427, 451, 593 e o imóvel localizado à confluência das ruas Tapajós e Dez de

Julho (números 491/495 e 502/509) receberam serviços de manutenção, porém

importante citar, segundo Castro (2009), que a retirada de elementos não originais

presentes em algumas fachadas possibilitou o resgate de elementos visuais

encobertos. Nessa situação, cita-se o imóvel de número 451 onde houve a

necessidade da retirada do toldo, localizado sobre o porão, revelando “os gradis

originais dos guarda-corpos das janelas do pavimento superior” (CASTRO, 2009,

p.133).

O imóvel citado refere-se à atual Casa Ivete Ibiapina em momento anterior à

intervenção e os resultados obtidos. É possível, através das figuras 28 e 29,

acompanhar a descaracterização através do elemento extraído e o resgate das

características originais.

Figuras 28 e 29 – Intervenção no imóvel nº. 451 da Rua 10 de Julho: antes e depois.

Fonte: Acervo Casa do Restauro e Márcia Honda N. Castro, 2009.

85

Além de cada intervenção recebida para o processo de resgate das

características originais, cada imóvel recebeu também um profundo estudo de

cromatização o qual possibilita preservar as informações arquitetônicas35 e históricas

referentes à transição do século XIX para o século XX. As cores ora diferenciadas e

ora contrastantes permitiram a valorização de detalhes e a orientação espacial. A

Igreja de São Sebastião recebeu o serviço de limpeza de sua fachada e projeto de

iluminação que realça sua beleza durante as noites.

Figuras 30 e 31 – Igreja de São Sebastião – dia e noite.

Fonte: Wikipédia e http://www.eujafui.com.br/3663517-manaus/770-igreja-sao-sebastiao/fotos/. Acesso em 20/08/2012.

A proposta de intervenção da Rua Costa Azevedo, apesar de contempladas

em todas as tipologias, apresenta casos específicos com alterações pontuadas que

se tornaram possíveis após um registro iconográfico conferindo-lhe a restituição da

fachada original (figura 32) e casos onde os imóveis não foram restaurados com

base no aspecto primitivo “por coerência a novas demandas de utilização”

(CASTRO, 2009, p 144).

Figura 32 – Proposta de restauro da Rua Costa Azevedo.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.

35

Imóveis ecléticos com ornamentação rebuscada e neoclássicos com ornamentação mais elegante.

86

Os imóveis geminados localizados na rua em análise apresentam mesma

tipologia, porém, apenas um apresentava o pequeno frontão (figura 33 detalhe F)

que coroava a platibanda - o que serviu de modelo para recomposição do outro

inexistente (figura 33 detalhe A). No detalhe A há um exemplo de imóvel que

manteve alterações decorrentes de novas demandas de uso, ou seja, sua fachada

principal foi prolongada ao que deveria ser recuo comportando mais um cômodo.

Porém, houve a continuidade dos ornamentos, molduras e barramento do porão.

Figura 33 – Foto montagem - Casas geminadas (em detalhe) da Rua Costa Azevedo.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa Santos, 2012.

Os imóveis 272 e 250 (figura 34) correspondem à tipologia 3 onde serviços de

reforma da fachada e cromatização foram realizados. Os imóveis apresentavam

suas respectivas fachadas escondidas por muro e vegetação. Contempladas pelo

Projeto, as fachadas possibilitam uma integração dos imóveis à Praça de São

Sebastião e também são exemplos de imóveis que resguardaram algumas

modificações decorrentes da demanda de uso.

Figura 34 – Fachadas anteriores; fachadas após a intervenção.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa Santos, 2012.

87

Ao imóvel número 290, a intervenção correspondeu aos serviços de

reconstituições necessárias para o retorno das características originais da fachada e

recomposição cromática. A fachada original foi totalmente descaracterizada ao logo

de seu contexto histórico (figura 35) e precisou ser totalmente reconstituída (figuras

36 e 37).

Figura 35, 36 e 37 – Fachada anterior, detalhe da fachada constituída e vista da fachada atual, respectivamente.

Fonte: 35 - Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e 36 e37 - Andressa Santos, 2012.

Aos demais imóveis, da Rua Costa Azevedo, inseridos no Projeto

Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e da Praça de São Sebastião, foram

atribuídos os serviços de manutenção e recomposição cromática, vide (figura 38).

Figura 38 – Fachadas anteriores e fachada atual na Rua Costa Azevedo.

Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003 e Andressa Santos, 2012.

As intervenções referentes à Rua José Clemente apresentam reconstituições

totais de fachada e adequações necessárias para retornar as características

88

originais de outras e recomposição cromática. A figura 39 apresenta detalhes das

fachadas como resultados das mudanças que sofrera ao longo da história e, de

acordo com as intenções do Projeto, a proposta da intervenção.

Figura 39 – Proposta de intervenção para Rua José Clemente. Fonte: Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e Praça de São Sebastião, 2003.

Importante registrar que na Rua José Clemente havia grande fluxo de

veículos (figura 40) e desordenado estacionamento dos mesmos, fato este gerador

de grande concentração de flanelinhas36. A proposta do Projeto para o problema foi

a “requalificação” da área, atribuindo nova forma e função à via.

Figura 40 – Rua José Clemente - estacionamento antes da requalificação.

Fonte: www.tyba.com.br, acesso em março de 2012; destaque nosso.

Apesar de ter sido utilizado o termo “revitalização” no projeto acima citado, é

importante justificar, nesse momento, que o termo “requalificação” foi adotado nesta

dissertação por entender que o mesmo corresponde à intervenção regeneradora e à

constituição dos espaços degradados física e socialmente com a intenção de propor

a remodelação (ou criação) espacial, formal e social dos espaços (no caso, o Largo

36

Em linguagem coloquial, flanelinha refere-se à pessoa que toma conta de carros nas ruas em troca de

pequena gorjeta.

89

de São Sebastião e seu entorno) dotando-o de usos requalificadores, como a

valorização da vivência coletiva e de uma estreita relação com seus entornos, “como

estruturas que possam propiciar a permanência e o encontro, e que, ao mesmo

tempo, representem novas referências na estrutura do território” (TARDIN, 2010,

p.193).

Após a requalificação da Rua José Clemente o tráfego de veículos da área foi

reformulado, sua amplitude original resgatada e o retorno da denominação Largo de

São Sebastião foi provocado (figura 41). A camada de asfalto foi substituída por

pavers simulando paralelepípedos de granito originais (figura 42).

Figuras 41 e 42 – Rua José Clemente – vista aérea (destaque nosso) e paginação do piso do Largo de

São Sebastião, respectivamente. Fonte: http://viagem.uol.com.br/manaus.jhtm#fotoNav=13, acesso em abril de 2012 e Andressa Santos,

2011.

Além do resgate do Largo de São Sebastião, a Rua José Clemente

apresentou intervenções intituladas de reconstituições totais e construções

fantasiosas (CASTRO, 2009). O imóvel de número 634, apesar de sinalizado do

projeto como intervenção correspondente ao serviço de manutenção, necessitou

passar por um processo de resgate às características através de pesquisas

iconográficas e tentativas, com sucesso, de resgate de fotografias que pudessem

pontuar a forma original.

90

Figuras 43 e 44 – Imóvel número 634: aspecto original e como se apresentava no início no projeto

Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2011.

De acordo com a figura de aspecto original, o imóvel apresentava fachada

simples, com quatro portas de verga reta, térrea colonial. No friso, o letreiro

“AFRICAN HOUSE” pintado. Para integrar o imóvel ao espaço que o projeto está

propondo, sua fachada foi totalmente reconstituída (figura 45).

Figura 45 – Imóvel número 634: obra de reconstrução.

Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2004.

O resultado alcançado foi uma fachada reconstituída, geminada ao imóvel

lateral onde, de forma proporcional fora integrada ao espaço proposto pelo projeto.

As quatro portas e o letreiro foram resgatados (figura 46).

91

Figura 46 – Imóvel número 634: reconstituído.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

O imóvel da Editora Brasil é o exemplo de reconstituição fantasiosa, onde foi

possível detectar que sua fachada original era térrea a partir de informações

iconográficas (CASTRO, 2009). No levantamento de informações iniciais do projeto,

percebemos que a fachada foi totalmente descaracterizada para dois pavimentos,

porém, essa tipologia foi mantida por considerarem (gestores do projeto e

proprietário) inviáveis sua demolição tanto pela nova demanda de uso quanto pela

integração da unidade com o seu entorno. Essa reconstituição foi acompanhada e

registrada por Castro (2009) que descreve a processo de inspiração a esse novo

imóvel:

“A estratégia foi inspirar-se em um antigo sobrado (não mais existente), vizinho à Igreja de São Sebastião, e adotar seu partido, compondo-se uma nova fachada, com janelas em arcos, balcões em gradis e platibanda com balaustrada” (Castro, 2009, p.148).

As figuras de 47 a 50 representam, respectivamente, a fachada original -

térrea e de tipologia simples; o imóvel modificado e como se encontrava no início do

Projeto, o imóvel que serviu de inspiração à intervenção que propuseram e o imóvel

atual, após a intervenção.

92

Figuras 47, 48, 49 e 50 – Imóvel Editora do Brasil: fachada original, modificado, modelo e reconstituído,

respectivamente. Fonte: Acervo de Robério Braga e Andressa Santos, 2012.

As figuras 51 a e 52 representam modificações que o imóvel 626 localizado na

Rua José Clemente recebera ao longo do tempo, onde se pode perceber a sua

fachada modificada e compará-la ao aspecto original. A fachada original, figura 51,

foi descrita por Castro (2009):

“as bandeiras eram em arco pleno, daqueles modelos mais simples, com duas folhas de vidro e guarnição em madeira; as janelas eram duas, do tipo abrir, duas folhas, sendo que a parte superior estava aberta, a mediana, fechada, em venezianas, e a inferior, por detrás dos guarda-corpos entalados, também estava fechada, mas da qual não se conseguia precisar detalhes; abaixo de cada janela, a abertura retangular do porão; a porta e o seu portãozinho estavam a comprovar a sua autenticidade; a cobertura era em duas águas, com telhas capa-canal; percebia-se um tom escuro para o plano de fundo (era o revestimento cerâmico, em verde-musgo), contrastante às cores dos demais elementos; a edificação era geminada, por fim, às suas adjacentes” (CASTRO, 2009, p.128).

47 48 49

50

93

Figuras 51 e 52 – Detalhe do imóvel da área: fachada original e fachada

modificada, respectivamente. Fonte: Acervo da Casa do Restauro, 2004.

E, na figura 52 podemos perceber que as bandeiras, a cobertura e as

guarnições das janelas e seus guarda corpos foram retirados; porém, ainda

podemos identificar alguns detalhes arquitetônicos originais, tais como: resquícios

do revestimento cerâmico, um dos gradis retangulares do porão, cimalha,

barramento, platibanda e a ombreira.

Uma particularidade desse imóvel dá-se na reconstituição da fachada (figura 53),

em fase de retirada do reboco, onde as estruturas originais dos vãos dos arcos das

esquadrias foram descobertas. Fato importante para sua fiel reconstituição.

Figura 53 – Prospecção da argamassa durante a reconstituição da fachada

Fonte: Acervo da Casa do Restauro,2004.

94

Atualmente o imóvel (figura 54) encontra-se em composição cromática

contrastante dando ênfase aos detalhes e remendo à sua característica original.

Figura 54 – Imóvel atual

Fonte: Andressa Santos, 2012.

Aos demais imóveis dessa rua, estudo de composição cromática e alguns

pequenos reparos em suas respectivas fachadas foram realizados visando o resgate

fiel às cores e aspecto originais.

Junto à recuperação das fachadas, as pavimentações das vias e dos

passeios também receberam atenção e, consequentemente, tratamento específico -

os materiais originais foram mantidos recebendo serviços de manutenção ora

nivelando as áreas comprometidas e ora fixando as peças soltas. Nas ruas Costa

Azevedo e José Clemente, como citado anteriormente, a camada asfáltica foi

substituída por pavers. Nas demais áreas de passeio, devido à tonalidade próxima

ao lioz, foram aplicadas pedras Miracema (quadro 12). O mobiliário urbano (quadro

13), composição cromática (quadro 14), placas de identificação e algumas atividades

de recreação (quadro 15) foram desenvolvidos resgatando características da época

áurea da borracha.

95

Local do quadro 12.

96

Local do quadro 13.

97

Local do quadro 14.

98

Local do quadro 15.

99

Como ação complementar à requalificação, um levantamento dos flanelinhas

e vendedores ambulantes da área foi desenvolvido pela SEC-AM. O resultado desse

levantamento, primeiramente, possibilitou uma organização dos dados de cada um:

ficha cadastral, foto de identificação, habilidades pessoais e profissionais; e o

controle de quem desejava permanecer na área. Optando em permanecer

trabalhando na área, o trabalhador passava por treinamento e a SEC-AM tentava

reorganizá-los ou reinseri-los. Alguns flanelinhas ou vendedores ambulantes

tornaram-se funcionários da própria SEC-AM (condutor da charrete, organizador de

instrumentos musicais, monitor de brincadeiras, entre outros) ou de empresas do

entorno (restaurantes ou bar). Os vendedores de pipoca e churro permaneceram na

função, porém com carrinho estilizado da própria SEC-AM com horários e locais

definidos para retirada, comercialização e armazenamento. O vendedor de

guloseimas (comidas típicas) também permaneceu na área, mas recebeu barraca

adequada, fixa e a liberação da venda de tacacá, água ou refrigerante, somente.

Essas definições e, de certa forma, limitações na comercialização desses produtos

sugere organização dos vendedores, controle de quem exerce função na área e

segurança de um produto de qualidade oferecido aos transeuntes e admiradores do

local.

O Projeto de Revitalização do CCLSS e seu entorno foi uma consequência de

estudos e testes. Programas e projetos similares consolidados em outros Estados

serviram de inspiração e orientação para evitar eventuais falhas de execução e ou

gerenciamento. O Governo do Estado não desapropriou os imóveis envolvidos no

projeto, permitindo que os mesmo continuassem com suas funções, porém, fez-se

necessário celebrar um estatuto de conduta dos moradores e gestores assinados

pelos proprietários.

Nesse estatuto, em poder da SEC-AM com cópia em mãos de cada

proprietário, há regras quanto aos horários de tráfego e estacionamento de veículos

particulares, de coleta de lixo, tráfego de veículos comerciais (manutenção ou

serviço de entrega) e outras particularidades a respeito de eventos.

Há também - por haver residência e por se tratar de uma área de bens

tombados - o controle de eventos culturais e comerciais no logradouro. O Governo

do Estado através da SEC-AM, que gerencia o logradouro, criou um Manual (anexo

F) de Normas e Procedimentos – Largo São Sebastião com o objetivo de apresentar

a normas de uso do CCLSS e seu entorno “como espaço cultural e de

100

entretenimento e, ainda, de facilitar a operacionalização das atividades de turismo e

produção de eventos” (SEC-AM, 2010, p.10).

Essas ações tornam o espaço seguro e organizado que, segundo

Boullón (2002), além de conservar a história e a cultura do local, apresenta uma

paisagem atraente aos turistas que querem ver a rua, a praça e as construções

arquitetônicas. Com base nessa particularidade turística, um mapeamento da

configuração atual da paisagem do local será apresentado no subcapítulo seguinte.

5.3. Mapeamento da configuração atual da paisagem

A paisagem urbana é formada por meio de uma série de elementos formais

que o homem consegue identificar e reter em sua memória no transcurso do tempo.

Funciona como uma soma de imagens parciais que o homem consegue registrar em

suas experiências. Boullón (2002) cita seis pontos focais urbanos (Logradouro,

Marcos, Bairros, Setores, Bordas e Roteiros) importantes para uma orientação

direcionada na cidade, porém, para a definição da paisagem o autor sugere a

combinação das seguintes variáveis: tipo de urbanização, nível socioeconômico das

edificações, estilo arquitetônico, topografia, tipo de rua, tipo de pavimento, e tipo de

árvore.

Apesar da proposta central deste projeto está direcionada à análise da

paisagem segundo as variáveis propostas por Boullón (2002), faz-se necessário

registrar que o CCLSS e seu entorno é composto por um logradouro – a Praça de

São Sebastião – onde o turista pode transitar livremente e visualizá-lo de vários

pontos fixos sem a necessidade de deslocamentos importantes. É um espaço que

permite a formação da imagem turística da cidade e facilita o conhecimento de locais

importantes como casas comerciais de venda de artigos ou peças artesanais e

galerias de arte sem a necessidade de um guia turístico ou um mapa para tal

condução. A programação do logradouro também colabora para atividade turística,

pois o turista tem a oportunidade de encontrar um bar ou um restaurante com mesas

na rua para sentar-se e fazer uma escala pequena, mas importante, nesse espaço

aberto.

Pela sua característica peculiar de dimensão ou qualidade da forma, os

“Marcos” se destacam dos demais objetos, artefatos urbanos ou edifícios que o

rodeiam. O CCLSS e seu entorno apresenta como marco o Teatro Amazonas pelo

101

seu porte, imponência e valor cultural; a Igreja de São Sebastião pelo seu valor

estético, arquitetônico e simbólico que tem para a população católica; o Monumento

de Abertura dos Portos às Nações Amigas que se destaca pela sua beleza

escultórica e localização central além do valor histórico.

Localizado no Centro Histórico de Manaus, o CCLSS e seu entorno

sobressai no conjunto pela igualdade das formas e pela forte unidade temática que

predomina na maioria das edificações, calçadas, árvores, placas de sinalização e

postes de iluminação pública. Sua arquitetura foi resgatada e atualmente preservada

transformando-se num setor facilmente conhecido. É um setor do bairro

frequentemente visitado porque tem a vantagem de possibilitar que, em seu interior,

vejam-se outros atrativos turísticos, como uma igreja ou uma Praça (marco e

logradouro citados anteriormente) e por servir para mostrar como foi, um dia, a

cidade e a população na época áurea da borracha.

Uma vez que o CCLSS é definido pelo quadrilátero formado pelas ruas Costa

Azevedo, Dez de Julho, José Clemente e pela Avenida Eduardo Ribeiro, pode-se

considerar que os imóveis do entorno funcionam como uma borda fraca que o

separa das demais construções “ainda” não revitalizadas37 ou totalmente

descaracterizadas. Fraca, pois apesar de possibilitar a definição do que foi

restaurado ou não, permite a passagem fluida de um lado para outro, seja visual ou

física.

Para visitar os atrativos turísticos ou para entrar e sair da cidade, os Roteiros

precisam ser bem definidos, pois são vias de circulação selecionadas pelo trânsito

turístico de veículos e de pedestres, ou seja, todo centro turístico deve esclarecer

qual é a melhor forma de circular por ele e assim permitir que os turistas (nacionais

ou internacionais) possam admirar o muito ou o pouco de bom que se tenha para

oferecer. O CCLSS apresenta um roteiro importante tanto pelos pontos que une no

mesmo setor num trajeto que pode ser feito a pé quanto pela estrutura de transporte

urbano e frota de táxi, com central no local, que facilita o acesso à visitação aos

atrativos.

Esses pontos podem ser facilmente identificados e servem para orientar-se na

cidade com a função limitada de destacar quais são as formas nítidas de uma

cidade. Porém, para definir a paisagem, faz-se necessário, segundo Boullón (2002),

37

O Programa Manaus Belle Époque está sendo desenvolvido por etapas, justificando o uso de “ainda” com

destaque.

102

combinar as variáveis. Cada uma das variáveis, citadas anteriormente, se subdivide

e ao combiná-las podem-se obter trinta elementos básicos para calcular o número

de paisagens urbanas possíveis.

5.3.1. Tipo de Urbanização

O CCLSS é compreendido por imóveis específicos e, somando ao limite do

entorno, resulta num total de 38 imóveis com características e histórias particulares

localizados no centro da Cidade de Manaus. No que se refere ao tipo de

urbanização, a Praça de São Sebastião e o TA estão ao centro da área hoje

denominada CCLSS e seu entorno (quadro 16). Tais habitações são residenciais e

ou comerciais; de um até quatro andares com jardim e sem jardim.

As habitações residenciais se apresentam em número reduzido atualmente. A

requalificação respeitou a função de cada imóvel, porém, com os atrativos culturais

mais frequentes e, consequentemente, o aumento no número de público, a função

residência está sendo tomada, total ou parcialmente, pelas funções comercial e

cultural (quadro 17).

5.3.2. Nível Socioeconômico

Em relação ao nível socioeconômico, os imóveis são valorizados por

pertencerem tanto a famílias tradicionais quanto a um setor turístico qualificando-os

como imóveis de classe média (quadro 18).

Alguns proprietários, impossibilitados de acompanhar a dinâmica do local ou

por passar por uma reestruturação familiar colocaram suas propriedades a venda. E

outros, com a expectativa da Copa do Mundo de 2014, investem em grandes

oportunidades comerciais38.

38 Novas propostas foram encaminhadas ao IPHAN e à SEC-AM para avaliação, uma vez que se trata de área Patrimonial. Por essa razão, maiores informações a respeito nos foram preservadas.

103

Local para quadro 16.

104

Local para quadro 17.

105

Local para o quadro 18.

106

Figura 56 – Habitação atualmente em obra.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

Somente para informação, visto que há um pedido de sigilo, alguns imóveis,

através de seus proprietários, enviaram à SEC-AM e ao IPHAN projetos contendo

novas propostas referentes à forma e a funções relacionadas ao local e aos eventos

futuros que vislumbram para a cidade.

5.3.3. Estilo Arquitetônico

O estilo arquitetônico eclético é predominante (quadro 19) por se tratar de

imóveis construídos no fim do século XIX e início do século XX, com exceções. As

características antigas que ainda prevalecem tiveram origem no Código Posturas de

1893 que apresentou como objetivo normatizar tipologias arquitetônicas. Porém, a

ornamentação ficou a critério de cada proprietário e seu poder aquisitivo que, como

consequência dos costumes da sociedade da época houve o predomínio do

ecletismo.

Ainda de acordo com o Código, os imóveis são alinhados, as esquadrias das

janelas com altura mínima de dois metros de altura e um metro e trinta centímetros

de largura; ainda pode-se perceber a largura dos passeios de um metro e meio a

dois metros proporcionais a largura da via.

Vale ressaltar que algumas características foram perdidas no decorrer do

tempo e, com o Projeto de Revitalização, houve todo o resgate das características

107

arquitetônicas originais peculiares ao Código acima citado. O imóvel abaixo é um

exemplo de construção que perdura no tempo que, com manutenções sucessivas

permanece intacta.

Figura 56 – Exemplo de imóvel cuja arquitetura encontra-se intacta.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

5.3.4. Topografia

A área que hoje é ocupada pelo CCLSS já apresentou ondulações num

passado distante, cerca de cem anos atrás. As escadarias e rampas do TA

aproveitam bem essa particularidade. Após a decisão de formatar o entorno à altura

da imponência do TA, pequenos trechos foram aterrados. Atualmente a topografia

do CCLSS é formatada por solo plano. Para uma melhor visualização da topografia,

vide quadro 18.

Figuras 57 e 58 – Solo plano e detalhe da escadaria como aproveitamento do terreno original, respectivamente.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

108

Local para o quadro 18.

109

Local para o quadro 19.

110

5.3.5. Tipo de Rua

As ruas que compõem o CCLSS apresentam extensões normais,

principalmente a via de grande tráfego como a Rua Dez de Julho que, além dos

veículos apresenta algumas árvores no decorrer de sua extensão; e a Avenida

Eduardo Ribeiro que, além do fluxo, apresenta passeios largos, com árvores.

As ruas Costa Azevedo e José Clemente também apresentam extensão

normal, porém, são diferenciadas no trecho que compreende ao CCLSS, pois o fluxo

de automóveis limita-se aos proprietários do entorno havendo controle de entrada e

saída e pavimentação diferenciada.

Para uma melhor visualização dos tipos de rua, vide quadro 20.

Figuras 59 e 60 – Detalhes das ruas - Rua Dez de Julho e Avenida Eduardo Ribeiro, respectivamente.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

5.3.6. Tipo de Pavimento

O pavimento é normal com pequena porção de empedrado (ver quadro 21).

Porém, percebe-se a variação dos pavimentos mais recentes tentando equipar-se

com os antigos.

Figura 61 – Tipos de pavimento presentes no CCLSS e seu entorno.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

111

Local para o quadro 20.

112

Local para o quadro 21.

113

5.3.7. Tipo de Árvore

Apesar dessa variável não ser muito expressiva por ser apresentada com um

tipo de árvore predominante, fez-se sua abordagem como uma forma de seguir

todas as determinações de análise de variáveis da paisagem segundo Boullón

(2002) e, pelo fato dessas espécies de Fícus-benjamin terem sido plantadas nos

anos de 1914 e 1915. Há uma área de predominância de árvores médias e duas

situações particulares altas (vide quadro 20).

Figura 62 – Detalhe das árvores que circundam a Praça São Sebastião.

Fonte: Andressa Santos, 2012.

As subvariáveis analisadas nos permite apontar detalhes exclusivos da

intervenção do homem que ali o habitou ou governou porém, se combinadas, não

nos proporcionará uma quantidade expressiva de paisagem devido a limitação da

espécie.

5.4. Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no

contexto do turismo.

Ao relembrar a paisagem que a Praça de São Sebastião ofereceu há 10 anos,

por exemplo, pode-se adotar o termo “abandono” ou “medo” para descrevê-la.

Abandono por parte das autoridades municipais e estaduais que não valorizaram,

por um período de tempo, o entorno do Teatro Amazonas (considerado ícone da

cultura local) e medo, pois o local foi concentração de flanelinhas, jovens com o vício

do álcool e do fumo.

114

Segundo o Secretário de Estado da Cultura, o turismo foi a estratégia

utilizada para reverter tal situação. Nas festividades do centenário do Teatro

Amazonas, o secretário analisou o quantitativo e o perfil dos frequentadores dos

espetáculos e, posteriormente, os resultados das comemorações e percebeu que o

Teatro encontrava-se numa localização privilegiada da Cidade de Manaus, porém

seu entorno apresentava-se inadequado para sua imponência, suas atrações

culturais e seu público-alvo.

O primeiro passo foi providenciar um projeto para restaurar o entorno e,

dentro dele, buscar alternativas para sanar os problemas de insegurança e não

conformidade com o Teatro e depois oferecer um espaço dotado de infraestrutura

visando o fomento do turismo. O Projeto de Revitalização da Praça de São

Sebastião e seu entorno propôs a restauração dos imóveis, a requalificação do

espaço e a possibilidade de inserir as pessoas que, direta ou indiretamente,

estabeleciam um vínculo com o local.

Como área de patrimônio público, o novo espaço restaurado e requalificado

passou a contar com segurança patrimonial ininterrupta; os moradores, uma vez que

não tiveram seus respectivos imóveis desapropriados, passaram a conviver com a

cultura de forma cotidiana. As pessoas que viviam em situação de risco e que

optaram por permanecer no local passaram por treinamentos específicos e alguns

foram contratados por proprietários/empresários e outros pela própria SEC-AM.

Além desses fatores, foi possível organizar a agenda do Teatro destinando-o

aos eventos de maior porte e, aos eventos de médio e pequeno porte aos espaços

do entorno que compõem o CCLSS.

Apesar do CCLSS ter sido inaugurado em maio de 2004, o Teatro Amazonas

recebeu, nesse mesmo ano, mais de 70 mil pessoas. Isso significa um aumento de

cerca de quase 100% em relação ao ano de 2003. Considerou-se aqui, como valor

de referência, o quantitativo registrado em 2001 por ser o ano inicial do recorte

temporal dessa análise (gráfico 1).

115

Gráfico 1 – Público do Teatro Amazonas de 2001 a 2004.

Fonte: SEC-AM, 2012.

A impressão registrada da coordenadora do setor de turismo do Teatro

Amazonas, revela que o aumento no número de frequentadores do Teatro

Amazonas foi uma consequência do Projeto de Revitalização da Praça de São

Sebastião e seu entorno, pois as pessoas tinham a Praça como um ambiente

sombrio e inseguro e temiam ser abordadas por pessoas que ali mantinham alguma

atividade (as pessoas consideradas em situação de risco). Somam-se a isso as

atividades que alguns bares e casas de shows noturnos mantinham, fazendo com

que os “apreciadores da cultura” se distanciassem da área. Segundo a

coordenadora, o projeto foi além, requalificou espaços, melhorou a infraestrutura,

ofereceu segurança, restaurou monumentos, fez o resgate arquitetônico como forma

de integrar o público (seja turista ou morador) ao contexto histórico da cidade de

Manaus e propôs um espaço específico para que a família pudesse usufruir, ou seja,

inativou o trecho da Rua José Clemente para o trânsito de veículos requalificando-o

como Largo e promoveu o resgate de brincadeiras de roda, dos passeios de

charrete e outras já esquecidas pela dinâmica do cotidiano.

As atividades do Teatro Amazonas (gráfico 2) também cresceram em virtude

do aumento de público. A SEC-AM achou importante promover atividades para

mostrar aos não frequentadores da área que os eventos culturais são acessíveis a

todos os públicos, e aos frequentadores uma maior diversidade de eventos.

100%

84%

71%

148%

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

2001 2002 2003 2004

116

Gráfico 2 – Atividades Culturais do Teatro Amazonas de 2001 a 2004.

Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012.

Na Praça de São Sebastião, antes do Projeto de Revitalização ao qual

passou, aconteciam alguns eventos isolados como missa campal em devoção ao

São Sebastião ou de Natal. Com a problemática ao qual passava, não havia um

controle mais rígido de fluxo ou de eventos. O pároco da Igreja de São Sebastião

lembra que os condicionadores de ar foram instalados tanto pela temperatura interna

quanto pela segurança, havendo a necessidade em permanecer com as janelas e

portas fechadas. Os frequentadores da Igreja eram limitados aos moradores do

entorno ou de ocasiões específicas. O auxílio às pessoas que “habitavam” a Praça

era frequente, sempre abordavam algum membro da Igreja na esperança de

dinheiro ou alimentação. Para a promoção de eventos, uma equipe de policiais civis

e militares, agentes de trânsitos e voluntários era sempre escalada e contava-se

com a fé inabalável de que tudo daria certo.

Como não havia um controle de fluxo de turistas, transeuntes e eventos na

Praça de São Sebastião, fez-se necessário a análise de dados do Teatro Amazonas

que, por ser um imóvel tombado, monitora todos os seus dados; e, para acesso ao

mesmo faz-se necessário passar pela Praça de São Sebastião. Então, no ano de

2001 o Teatro Amazonas registrou 50.330 visitantes e, no ano de 2010 registrou

58.239, ou seja, houve um aumento de 15,7%.

Com o CCLSS consolidado, pôde-se registrar um quantitativo de todas as

atividades desenvolvidas no entorno do Teatro Amazonas e no próprio Teatro

Amazonas alcançando total de 167.115 visitantes, ou seja, um aumento de 232%.

100%

74%

90%

136%

0

50

100

150

200

250

2001 2002 2003 2004

117

Gráfico 3 – Comparação de público TA-2001com o público do CCLSS-2010

Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012.

Analisando os registros do CCLSS do ano de 2011, foi possível concluir que o

número de público é expressivo em duas situações específicas do ano: no mês de

maio quando acontece o Festival Amazonense de Ópera e no mês de dezembro

com as festividades do Natal onde há a inauguração da ornamentação de Natal, a

chegada do “Papai Noel” e as festividades religiosas da ocasião (gráfico 4).

Gráfico 4 – Registro de Público do CCLSS - 2011.

Fonte: Setor de Planejamento da SEC-AM, 2012.

Nos 10 meses do ano há encontros e eventos considerados de pequeno porte

e a visitação ao TA que sempre foi por si só, um ícone da cultura local e parada

considerada obrigatória aos turistas. Porém, nem todo turista que visitava o TA tinha

0%

50%

100%

150%

200%

250%

300%

350%

TA - 2001 CCLSS - 2010

50330

167115

118

interesse em circular pela Praça São Sebastião ou conhecer de perto o Monumento

de Abertura dos Portos. Então, consolidar o CCLSS foi oferecer um espaço para que

a população pudesse usufruir, mas também oferecer segurança e despertar o

interesse dos turistas.

Ainda segundo a impressão da coordenadora de turismo do TA, o turista que

o conhece geralmente fica no Largo, aprecia a paisagem, registra a arquitetura e

pode usufruir de iguarias da culinária ou do artesanato locais. Vale registrar que há

sempre exposições e eventos culturais como opção.

Para uma análise mais específica quanto ao turismo, questionários foram

aplicados junto aos turistas que se encontravam no local entre os meses de janeiro a

julho de 2012. Como há certa sazonalidade dos eventos, os questionários formam

aplicados em situações determinadas, o quadro 22 apresenta o somatório de

questionários aplicados e respondidos:

Quadro 22 – Síntese de questionários aplicados e respondidos

Fonte: Andressa Santos, 2012.

Dentre os 300 questionários aplicados, 83% foram respondidos, dentre os

quais 51% são turistas do sexo feminino e 49% do sexo masculino (vide gráficos 5 e

6 em quadro 23). Do total, 62,6% são turistas nacionais e 37,4% internacionais (vide

gráfico 7 em quadro 23) com tempo de permanência entre 3 e 30 dias.

No que se refere à escolaridade (vide gráfico 8 em quadro 23) 2,8% turistas

possuem mestrado ou doutorado, 6,4% são pós-graduados, 18,5% com ensino

superior incompleto, 44,2% com superior completo, 25,3% turistas com ensino

médio e 2,8% com ensino fundamental. Quanto à faixa de renda (vide gráfico 9 em

quadro 23), 35% turistas recebem entre 1 a 3 salários mínimos, 39,3% recebem de 4

119

a 6 salários mínimos, 12,8% turistas de 7 a 10 salário, 10,5% recebem salário acima

de 10 salários mínimos e 2,4% turistas responderam não possuir renda.

As razões das viagens são diversas (vide gráfico 10 em quadro 23), sendo

citadas por 67% turistas, porém 33% preferiram ou não quiseram responder.

Destacam-se as viagens para passeio/turismo com 36,1%; a negócios 30 % e,

visando conhecer a cultura local 16,8%.

Dos turistas de origem internacional, cerca de 60% responderam estar em

Manaus em busca da cultura local e assinalaram, por conseguinte, as opções

indicações de amigos, Teatro Amazonas e Festival Amazonense de Ópera. Os

demais expressaram a admiração pelo verde e pela floresta e assinalaram, na

sequencia, as opções internet como motivação do destino e atividades de pesca e

encontro das águas como motivos da viagem.

Ao perguntar se o turista já conhecia a cidade Manaus, houve 66,7%

respostas negativas e 33,3% positivas, dentre os quais 65% revelaram ter conhecido

a Praça de São Sebastião e entorno antes da requalificação (vide gráfico 11 em

quadro 23).

Dos respondentes que não conheciam Manaus, 5,2% revelaram ter

imaginado a cidade menos desenvolvida, menos urbana e com floresta nativa mais

acessível e que índios poderiam ser vistos com facilidade. Segundo os mesmo, essa

ideia deve-se às imagens que circulam na mídia.

Ao questionar como ficou sabendo sobre Manaus, 29% revelaram receber

indicação de amigos e 23,3% através da internet. Importante citar que 60% dos

respondentes que assinalaram indicação de amigos, assinalaram também internet, o

que pode ser concluído que houve interesse em maiores informações.

Dentre os 65% respondentes que conheceram a Praça de São Sebastião e

seu entorno antes da requalificação, o fato de não haver mais o tráfego de veículos

na Rua José Clemente e a segurança constante foram os pontos de destaque para

59% respondentes.

Quanto aos demais respondentes, 35% destacaram a arquitetura preservada

como forma de manter a cultura de uma época áurea, 32,5% destacaram o

policiamento patrimonial por oferecer segurança em transitar a qualquer momento

qualificando-o como ambiente familiar. O Teatro Amazonas é o destaque de 27,7%

respondentes, quer pela sua imponência e ou quer por sua história e 19,2%

destacam a amplitude do espaço destinado a passeio.

120

Local para quadro 23

121

Os dados quantitativos citados não configuram o objetivo central desta

pesquisa, porém sustentam a implicação da requalificação do CCLSS na atividade

turística. Em paralelo, os proprietários do entorno que aceitaram fazer parte desta

pesquisa contribuíram com informações relevantes ao alcance dos objetivos pré-

estabelecidos. Porém, dos 38 imóveis da localidade, os imóveis 481 e 439 da Rua

Dez de Julho encontram-se em reforma no momento e os respectivos proprietários

não foram identificados. O imóvel 489 da Rua Dez de Julho e o imóvel 538 da Rua

José Clemente encontram-se à venda limitando as informações ao processo de

compra e venda através do acesso restrito aos corretores. Os cinco imóveis de

responsabilidade da SEC-AM apresentaram nova função a partir do Programa

Manaus Belle Époque e atualmente integram o CCLSS e oferecem um repertório de

atividades culturais.

Por fim, sete moradores ou responsáveis aceitaram participar desta pesquisa

e os demais não retornaram o primeiro acesso ou não quiseram responder.

Dos moradores ou responsáveis respondentes, seis são do sexo feminino e

apenas um do sexo masculino. Dentre os quais, dois são inquilinos e quatro são

proprietários com 35, 22, 89 e 12 anos no imóvel. Dois apresentam faixa etária entre

18 e 25 anos, dois entre 35 e 50 e três estão com idade acima de 60 anos.

No que se refere à escolaridade, um apresenta-se com ensino fundamental

completo ou cursando, quatro com ensino médio completo ou cursando e dois são

pós-graduados.

Sobre a faixa de renda, dois respondentes alegam receber entre 4 e 6

salários mínimos e três recebem entre 7 e 10 salários mínimos. Dois não

responderam.

Ao solicitar que escolhessem um ou mais itens que demonstrasse o que mais

os atrai no CCLSS, quatro respondem Teatro Amazonas e expressaram a alegria

em admirá-lo pela janela de seus respectivos imóveis. Um respondente fez um

conjunto de itens: Teatro Amazonas, Igreja e árvores que entornam a Praça, pois

como foram criados à mesma época não poderiam ser analisados ou admirados de

forma isolada. Outro respondente combina a Praça de São Sebastião e as árvores e

declara ser agraciado por esse “pátio” ser como uma extensão de sua residência.

Por fim, o outro não escolhe um item da lista, porém cita a alegria pelo fluxo de

pessoas, a magia do encontro em família que o CCLSS proporciona, a diversidade

122

do público que o frequenta e admira e a busca por atividades culturais bem

representada nas constantes gravações que ocorrem no entorno do TA.

Quanto aos problemas que enfrentam na área, quatro revelam ter problemas

com estacionamento, dois reclamam do ruído nos eventos e um respondente aponta

que a poda das árvores não é tão frequente e nem do mesmo formato da década de

90. Esses problemas quanto ao estacionamento e a poda das árvores poderiam ser

resolvidos se o estatuto celebrado entre os moradores e a SEC-AM fosse mais claro

e objetivo ou, se tivesse havido a desapropriação dos imóveis do local.

Como qualidades, as edificações residenciais e comerciais do entorno, a

infraestrutura, o calçamento e a beleza peculiar do local foram itens citados por

todos os respondentes. Porém, um respondente acrescentou o item vizinhança, uma

vez que são moradores antigos e mantêm laços de amizade há anos.

Como sugestões de melhoria, o controle de som dos eventos atrelado ao

horário de encerramento dos mesmos foi citado por todos; dois citam a necessidade

de banheiro público, um gostaria de ter horários mais flexíveis quanto ao trânsito de

veículos comerciais e outro cita a necessidade de pinturas constantes das

residências históricas.

Após a requalificação do logradouro em análise, a presença de turistas

tornou-se frequente. A estrutura agora permite e procura manter essa presença

constante durante o ano todo, porém, o início da manhã e o fim da tarde são os

momentos de fluxo de excursões ou grupos particulares devido à temperatura. Os

respondentes citam perceber a presença diária de turistas no local.

Ao comparar com o logradouro anterior à requalificação, os respondentes

lembram que flanelinha e jovens com o vício do álcool e ou do fumo se apropriavam

do espaço e por suas características transmitiam insegurança e medo aos

transeuntes. O monumento de abertura dos portos era inacessível, o poder público

chegou a providenciar uma grade de proteção para evitar que tomassem banho ou

fizessem orgias na água do chafariz. “Havia muitos pontos negativos e por isso os

turistas visitavam o TA, mas não vinham com muita frequência à Praça” (informação

verbal).39

O IPHAN, através do setor de restauro (anexo x), fala do Programa Manaus

Belle Époque e do Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu

39

Informação fornecida pelo proprietário do imóvel 224 da Rua Costa Azevedo, em 28 de agosto de 2012.

123

entorno com propriedade, pois acompanha toda e qualquer ação que envolve

legislação e restauração do patrimônio público. Afirma ser um projeto positivo por

restituir, ao cidadão, o direito à cidade, por favorecer o aspecto econômico e por

fomentar o turismo através da revitalização da área; além de reconhecer a valiosa

estratégia da recuperação da estrutura edificada, ao invés de negligenciá-la.

O órgão aponta a preservação da memória de cada imóvel como um fato

merecedor de discussão (e não de reprovação), pois há fachadas não originais

reerguidas à semelhança das tipologias primitivas que não dão a possibilidade ao

visitante deter informações para dissociar o original da reprodução, ou seja, as

alterações sofridas pela cidade, decorrentes da ausência de um planejamento eficaz

que pudesse ter melhor orientado sua evolução natural, com novos costumes, usos,

economias e tecnologias podem ter sido negligenciadas.

Porém, independente desse ponto de discussão, a receptividade por parte da

população é notória, resgatou-se as idas às praças, reviveu-se o habito de

frequentar locais públicos necessários para a fruição do urbano e do patrimônio e

para o bem estar psíquico do cidadão. Isso se deve aos serviços disponíveis, à

programação cultural, à infraestrutura e à qualidade estética que o logradouro

oferece.

124

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As principais contribuições desta pesquisa serão expostas nesse capítulo.

São contribuições para o meio acadêmico, no que se refere ao segmento do turismo

que parte da prerrogativa de que a paisagem edificada apresenta a capacidade de

atrair visitantes, promover destinos e, como consequência, contemplar a cadeia

produtiva do setor. Porém, como a paisagem produz relações sociais entre

moradores e turistas por apropriarem de seus respectivos espaços de maneiras

diferentes, cita-se aqui a importância em ter analisado as alterações que ocorreram

na paisagem visando a atividade turística, pois segundo Yázigi (2002), a divulgação

das paisagens turísticas sem um planejamento leva à degradação e propõe a

necessidade de leis municipais que limitem as construções particulares (todo o

projeto e fachada) em harmonia com seu entorno. Tais contribuições evidenciam o

estado da arte das pesquisas teóricas do segmento citado, incentivam a busca por

melhorias no processo de alterações da paisagem, sugerem pesquisas futuras e

finaliza com as devidas considerações.

Esta dissertação objetivou descrever as implicações da requalificação da

paisagem do CCLSS e seu entorno por meio da análise de seu processo histórico e

de evolução urbana; da caracterização do processo de revitalização da paisagem

edificada como resgate da memória cultural; através do mapeamento da

configuração atual da paisagem edificada desta área da cidade e, principalmente,

pela análise das implicações desta memória cultural urbana e do seu processo de

requalificação sobre a atividade turística.

Para o alcance desses objetivos foi necessário, primeiramente, a coleta de

dados, conforme protocolo, acerca do processo histórico do local tornando possível

a descrição das primeiras articulações e registros de origem dos imóveis que hoje

integram o CCLSS às últimas movimentações de promoção e manutenção da

estrutura que atualmente apresenta. Através de toda essa contextualização, foi

possível reviver estudos de Geografia e História do Amazonas há tempos

internalizada e, de certa forma, vagando no universo da memória.

Também com a coleta de dados, o processo de requalificação do CCLSS e

seu entorno foi contextualizado como resgate histórico. É notório o resultado positivo

alcançado através da intenção da SEC-AM em restaurar e, em alguns casos,

reconstituir os imóveis do entorno do Teatro como resgate da história de uma época

125

áurea resultando em um conjunto harmônico que oferece à população e para

promoção da atividade turística. Porém, o turista acredita ser esta uma realidade

preservada ao longo do tempo e não imagina que é consequência de um “cenário”

produzido para tal objetivo.

Para o mapeamento da configuração atual da paisagem edificada desse

logradouro, foi realizada uma análise das variáveis sugeridas por Boullón (2002) por

defender que a paisagem é uma qualidade que os diferentes elementos de um

espaço físico adquirem no momento que o homem surge como observador, animado

de uma atitude contemplativa dirigida a captar suas propriedades externas, seu

aspecto, seu caráter e outras particularidades que permitam apreciar sua beleza ou

feiura. Em paralelo, defende que o arranjo das variáveis supracitadas encontra-se

espacialmente localizado e, de certa forma, espacialmente determinado

ocasionando numa característica peculiar a cada lugar distinguindo-o dos outros.

As variáveis analisadas nos permite afirmar que paisagem do CCLSS e seu

entorno é única e se destaca pelos elementos que a integram. A particularidade do

Teatro Amazonas com sua imponência frente aos demais imóveis é visível, somam-

se às características particulares de cada elemento, a citar: pavimentos, fachadas,

tipo de urbanização, tipo e porte das árvores, topografia, nível socioeconômico, tipos

de ruas e estilo arquitetônico.

Os questionários aplicados e entrevistas desenvolvidas nos permite afirmar

que houve implicações diretas da requalificação da paisagem urbana do CCLSS no

contexto do turismo. A paisagem anterior à requalificação, segundo o resultado das

pesquisas, oferecia riscos aos transeuntes, pois a iluminação era deficitária, havia

grande fluxo de veículos, a segurança patrimonial era restrita ao Teatro Amazonas e

a presença constante de flanelinhas e viciados era uma constante. Atualmente, em

oito anos do CCLSS, pode-se comparar o ano de 2004 – ano de sua inauguração

(uma vez que o único registro que se teve foi de público do Teatro Amazonas com

50.330 visitantes) com o ano de 2011, que com um controle mais abrangente na

área dos números do Teatro Amazonas somados à estimativa de público que

frequentou o Largo resulta o somatório de 204.144 visitantes.

Para a sustentação dos números de visitantes (moradores ou turistas), a

SEC-AM procurou formatar algumas atividades culturais e de lazer determinadas e

articular junto aos moradores do entorno a viabilidade de mantê-las. Atividades para

todos os gostos e para todas as idades: comer pipoca, algodão-doce, churros (todos

126

os vendedores credenciados pela SEC-AM), tomar tacacá e sorvete. Ou,

brincadeiras, jogos antigos e palhaços com pernas de pau, bolinhas de sabão; peças

e musicais infantis encenados em palcos alternativos no Largo ou na Casa Ivete

Ibiapina. Para o público adulto as opções de cafés, pizzarias, restaurantes,

contemplar exposições na Galeria do Largo ou no próprio Teatro. Em datas

específicas, o Teatro, sedia os consagrados eventos como: Festival Amazonense de

Ópera, o Manaus Film Festival, dentre outros se tornando palco de celebridades

nacionais e internacionais, oferece espetáculos a preços acessíveis e a céu aberto

tomando o Largo como cenário. Algumas das atividades deveriam ser, ao longo do

tempo, mantidas pelos empresários do entorno. Atualmente, apenas o Tacacá da

Bossa é realizado por proprietários; algumas atividades permanecessem sob

responsabilidade da SEC-AM, porém, em datas programadas; e outras foram

desativadas como: empréstimo de instrumentos musicais, brincadeiras antigas e

passeios de charrete. Em paralelo, houve a retirada do bonde que por alguns anos

serviu de viagem ao mundo imaginário infantil.

Todos os eventos e atividades culturais e de lazer citadas merecem cuidados

específicos e atenção especial, pois são realizados numa área de resgate histórico,

arquitetônico e cultural e por isso são monitorados e administrados pelo Governo do

Estado por intermédio da SEC-AM. Para um melhor controle, criou-se um Manual de

Normas e Procedimentos do Largo de São Sebastião (em anexo) que normatiza o

uso do CCLSS como espaço cultural e entretenimento e facilita a operacionalização

das atividades de turismo e a produção de eventos.

No que se refere ao acesso dos moradores do local, um estatuto foi

estabelecido entre ambas as partes (SEC-AM e moradores) e visa normatizar

algumas ações e até movimentações que cobram uma conduta de “atores desse

novo cenário”, pois há hora determinada para o trânsito de veículos comerciais e

particulares e para a coleta de lixo, especificações de intensidade e horário para

ruído nos bares e restaurantes. Talvez seja esta uma situação consequência da não

desapropriação do local e que gera, em alguns momentos um estranhamento entre

as partes pela adaptação de uma nova rotina. Rotina esta nem sempre obedecida

devido a particularidade de cada seio familiar frente a uma localidade e postura

exigida mais direcionada ao comércio e ao turismo. Soma-se aqui a necessidade,

estabelecida pela SEC, de cada proprietário de imóvel mantê-lo em perfeitas

127

condições – o que nem sempre é possível devido as condições financeiras de cada

um.

O problema de pesquisa definido pela pergunta central “Quais são as

implicações do processo de requalificação da Paisagem do Largo de São Sebastião

e seu entorno sobre o espaço turístico de Manaus?”, foi apresentado no capítulo 5,

subitem 5.4 Implicações da requalificação urbana do CCLSS e seu entorno no

contexto do turismo. Dessa forma, o objetivo geral “Analisar o processo de

requalificação da paisagem do Largo São Sebastião e seu entorno e suas

implicações sobre o espaço turístico de Manaus/AM” foi plenamente atingido através

da exposição de dados quantitativos e qualitativos como consequência da aplicação

de questionários e de entrevistas com pessoas envolvidas ao logradouro

(moradores, turistas e gestores).

Os aspectos mais interessantes e que merecem destaque como resultado do

desenvolvimento de cada etapa desta dissertação são os seguintes: a preservação

da memória coletiva através da arquitetura local, no Estado do Amazonas, depende

de governantes, grandes empresários e da Associação Comercial local, porém, a

população precisa ser mais incentivada, questionada e convidada a participar desse

processo. Com o Projeto de Revitalização da Praça de São Sebastião e seu entorno

demostra-se a viabilidade e a possibilidade de integração política; a busca pela

originalidade dos imóveis é questionável em seu valor histórico onde todo um

cenário antigo foi reconstituído, contrapondo, em certas situações, às

recomendações da legislação patrimonial e a preocupação em oferecer atividades

culturais e de lazer, com frequência, faz parte do planejamento de manutenção

como consequência de um dos objetivos que foi proposto ao CCLSS e seu entorno –

o turismo.

Dessa forma, baseado nos resultados obtidos, algumas contribuições foram

percebidas neste trabalho de dissertação. A principal contribuição diz respeito ao

tema central desse estudo, implicações da paisagem no contexto do turismo, pouco

explorados academicamente e que oferece um acervo de informações históricas,

através da análise da paisagem segundo Boullón (2002); quantitativas, apesar de

não ser o foco principal desta pesquisa, mas consideramos relevantes à

consistência dos resultados; e qualitativos onde foi possível traçar o perfil do turista

que aprecia a beleza amazonense, identificando suas respectivas impressões à

respeito da paisagem em foco.

128

A segunda contribuição refere-se à constatação da necessidade de um

modelo de gestão direcionado à formatação específica do CCLSS uma vez que os

imóveis do entorno não foram desapropriados e há conflitos entre o poder público e

particulares.

Como uma terceira contribuição, sugere-se o desenvolvimento de um material

promocional que divulgue como o processo de requalificação foi idealizado e

desenvolvido, uma vez que uma nostalgia de algo desconhecido à nossa geração foi

criada na intenção de recompor o fausto de uma época não vivenciada na

atualidade. Ou uma exposição permanente que contemplasse todas as fases do

projeto em questão.

A requalificação inebria os visitantes com o que lhes é aparente e o espaço

imaginário retido em suas memórias é de uma realidade artificial, uma vez que

desconhecem a constituição de suportes dessa nova memória e não possuem

informações adequadas à dissociação do original ao reproduzido devido a

homogeneidade arquitetônica. Essa sugestão deve-se a algumas unidades do

entorno não originais e construídas semelhantes às tipologias primitivas da

proximidade.

Por fim, vislumbra-se que estudos futuros sejam desenvolvidos com base

nesta dissertação, pois é possível observar diversos temas relativos à paisagem

edificada no contexto do turismo, muitos deles inebriantes e de grande relevância

para a compreensão do patrimônio histórico edificado e da atividade turística para a

população. O CCLSS é um campo vasto que vai desde estudos dos impactos de um

evento isolado como o Festival Amazonense de Ópera, até pesquisas amplas sobre

a percepção de estudiosos da área a respeito da autenticidade das características

arquitetônicas resgatadas.

129

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SOUZA, M. J. L. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001

STOCK, Laira Taísa. O Processo Turístico de Eventos – um estudo de caso do Instituto Festival de Dança de Joinville – SC. 2009. 168 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em turismo e Hotelaria) – Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, 2009. SUFRAMA – Superintendência da Zona Franca de Manaus. Disponível em <http://www.suframa.gov.br/> Acesso em abril de 2011.

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THEOBALD, W. (org.). Turismo Global. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

TRIGO, L. Turismo e Qualidade: Tendências Contemporâneas. 2. Ed. Campinas: Papirus, 1996. URRY, John. O olhar do turista. Lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São Paulo: Nobel, 2001.

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138

APÊNDICES

139

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS TURISTAS

Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC

Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos

Tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da requalificação da paisagem local de

Manaus/AM: Estudo de Caso Largo de São Sebastião e seu Entorno.

Questionário – turista Data:

1.Sexo: Masc. Fem. 2. Profissão:

3.Origem: 4.Tempo de Permanência: 5. Pernoitar? sim não

6.Faixa etária:

18-25 anos 26-34 anos 35-50 anos 51-65 anos Acima de 65 anos

7. Escolaridade

Ens. Fundamental completo ou cursando. Ens. Superior Incompleto

Ens. Médio completo ou cursando. Ens. Superior Completo

Pós-graduado Mestrado e/ou Doutorado

8. Faixa de Renda:

1 a 3 salários mínimos 4 a 6 salários mínimos

7 a 10 salários mínimos Acima de 10 salários mínimos

9. Razões da viagem

Cultura Encontro das águas Negócios Teatro Amazonas

Boi-Bumbá Passeio/turismo Visita a familiares Localização

Verde/floresta Outros:

10. Qual o meio de transporte usado para chegar a Manaus?

11. Já conhecia Manaus? Sim. Não.

12. Em caso negativo, como você imaginava Manaus?

13: Por qual razão?

14. Ficou sabendo de/sobre Manaus através:

TV Internet Indicação de agência Indicação de agente

Jornal Indicação de amigos Revista Outros:

15. Se já conhecia Manaus, visitou o Largo de São Sebastião? Sim. Não.

16. Se já o conhecia, foi antes ou depois da reforma (requalificação). Antes. Depois.

17. Em caso de ter conhecido antes da reforma, quais os aspectos positivos ou que merecem ser destacados?

18. Quando penso em Manaus, penso em: (se houver mais de uma opção, favor numerá-los)

Verde/floresta. Teatro Amazonas. Encontro das águas Zona Franca de Manaus.

Rio Amazonas. Rio Negro. Ribeirinhos. Festival de Ópera.

Belle Époque Manauara Localização. Prosamin. Monumento de abertura dos portos.

Porto Boi-Bumbá. Cultura. Fauna Flora

Algum animal? Qual seria? Outros

140

Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC

Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos

Theme: Tourism through a historical-cultural from the redevelopment of the local landscape of Manaus/AM: Case Study Largo de São Sebastião and its surroundings.

Questionnaire – tourist Date:

1.Sex: Male Female 2.Profession:

3.Source: 4.Residence time: 5. Stay overnight? yes not

6.Faixa etária:

18-25 anos 26-34 anos 35-50 anos 51-65 anos Acima de 65 anos

7. Education

Full or attending elementary School. Complete Higher education

Complete High School or Attending. Incomplete Higher education

Graduate Master or Doctorate

8. Income range:

1 to 3 minimum wages 4 to 6 minimum wages

7 to 10 minimum wages 10 above minimum wages

9. Reasons for travel

Culture Meeting of the Waters Business Teatro Amazonas

Boi-Bumbá sightseeing Visiting relatives Location

Green/forest Other:

10. What means of transport used to reach Manaus?

11. I already knew Manaus? Yes. Not.

12. If not, how you imagined Manaus?

13: For what reason?

14. He learned fron/about Manaus through:

TV Internet Statement of agency Indication Agent

Newspaper Refer a Friend Magazine Other:

15. If L so, I knew the Largo de São Sebastião? Sim. Não.

16. If you already knew it was before or after the renovation/rehabilitation Before After

17. In case you have known before the reform, which the positive or that they deserve to be highlighted?

18. When I think of Manaus, think about:

Green/forest Teatro Amazonas. Meeting of the waters Manaus Free Zone.

River Amazon Rio Negro. Riverside. Festival de Ópera.

Bélle Époque Manauara Location Prosamin. Monument opening the ports.

Port Boi-Bumbá. Culture Fauna/Flora.

Same animal? What would it be? Other:

141

APÊNDICE B – ENTREVISTA POR DOMICÍLIO: DOCUMENTOS E ROTEIRO

Ao proprietário do imóvel nº _____

Largo de São Sebastião, Centro.

Manaus - AM

Senhor (a) Proprietário (a),

Pela localização de seu imóvel e após analisar trabalhos acadêmicos desenvolvidos a

respeito da mesma, pode-se imaginar a quantidade de solicitações de dados e entrevistas que

já recebera.

Permita incluir-me nessa lista.

Participo do Programa de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria pela

Universidade do Vale do Itajaí – SC (carta de apresentação em anexo) e atualmente

trabalhando na dissertação cujo tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da

requalificação da paisagem local de Manaus/AM: Estudo de Caso Largo de São Sebastião e

seu Entorno.

Para a fase de análise de resultados, a sua opinião acerca do espaço é de fundamental

importância. Para tanto, envio em anexo um questionário contendo perguntas necessárias à

conclusão do projeto, a qual o (a) senhor (a) poderá responder pessoalmente ou através de

entrevista; necessitando para a segunda opção a disponibilidade e o agendamento de horário

específico.

Importante informar que este projeto está pautado na ética e no profissionalismo e que

os dados fornecidos serão tratados sigilosamente e divulgados de acordo com sua autorização

(parcial ou total).

Certa de contar com sua colaboração que é, sem dúvida, um incentivo direto à cultura,

à pesquisa e ao turismo local.

Respeitosamente,

Andressa Maria Cruz dos Santos

Mestranda em Turismo e Hotelaria – UNIVALI-SC Contato: [email protected] ou (92) 8152-5289

Rua Mário Assayag, 34 - Shalon Tower Bl. 1 Apto 504

Compensa – Manaus – AM

142

143

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM GESTORES: ROTEIRO e DOCUMENTOS.

Mestrado Acadêmico Interinstitucional em Turismo e Hotelaria – UNIVALI/SC

Mestranda: Andressa Maria Cruz dos Santos

Tema: Turismo e resgate histórico-cultural através da requalificação da paisagem local de

Manaus/AM: Estudo de Caso Centro Cultural Largo de São Sebastião e seu Entorno.

Secretário, gestores, historiadores e apreciadores do LSSE. Data:

1.Sexo: Masc. Fem. 2. Naturalidade:

3.Faixa etária:

18-25 anos 26-34 anos 35-50 anos 51-65 anos Acima de 65 anos

4. Escolaridade

Ens. Fundamental completo ou cursando. Ens. Superior Incompleto

Ens. Médio completo ou cursando. Ens. Superior Completo

Pós-graduado Mestrado e/ou Doutorado

5. Faixa de Renda:

1 a 3 salários mínimos 4 a 6 salários mínimos

7 a 10 salários mínimos Acima de 10 salários mínimos

6. Cargo que ocupa:

7. Há quantos anos está no cargo?

8. A atividade que você atualmente exerce, envolve o LSSE?

9. Você já exerceu alguma atividade ou desenvolveu algum trabalho (científico) relacionado ao LSSE? Qual? Por qual

motivo?

10. Você acompanhou o Programa de Requalificação/revitalização do LSSE?

11. Como se deu a requalificação revitalização e requalificação da área?

12. Para você, o que motivou a revitalização?

13. O que você recorda da paisagem urbana do LSSE, anterior à requalificação (revitalização)?

14. Para você, qual o ponto da revitalização mais expressivo?

15. Quais os benefícios que o Projeto de revitalização trouxe para o LSSE?

16. Quais problemas você aponta na área?

17. Há algum ponto, no LSSE, que poderia ser mais trabalhado ou destacado com o projeto de revitalização? Que melhoria

você sugere?

18. No LSSE, o que pode ser considerado o símbolo da cultura Manauara? Por quê?

19. Como você descreve a atual paisagem (o local) do LSSE?

Agradeço o apoio nas pesquisas e, principalmente, sua disponibilidade em torná-la possível.

Atenciosamente, [email protected]

144

ANEXOS

145

ANEXO A – SÍNTESE DO PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA SEC-AM

146

147

148

ANEXO B – CARTA DE APRESENTAÇÃO VIA UNIVALI

149

ANEXO C – AUTORIZAÇÕES MORADORES

150

151

ANEXO D – E-MAIL MARCANDO REUNIÃO COM SEC-AM

152

ANEXO E – E-MAIL INFORMATIVO SOBRE SOLICITAÇÕES À SEC-AM.

153

ANEXO F – DADOS ESTATÍSTICOS TA E CCLSS.

154

155

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157

158

159

160

ANEXO G – MANUAL DE NORMAS E PROCEDIMENTOS – CCLSS.

161

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164