o tratamento da saúde mental em salvador: uma análise da realidade local a partir das caps

44
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO E ATUALIDADE II DOCENTE: SIMONE BORTOLIERO O TRATAMENTO DA SAÚDE MENTAL EM SALVADOR: Uma análise da realidade local a partir da experiência dos CAPS ADRIANA SANTANA CAIO AMARAL GILDÁSIO JÚNIOR KARINA RIBEIRO MARÍLIA DE MOURA

Upload: caio-cruz

Post on 28-Jul-2015

612 views

Category:

Documents


71 download

DESCRIPTION

Análise das mudanças na área de tratamento de doenças mentais na cidade de Salvador, Bahia, Brasil.

TRANSCRIPT

Page 1: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO E ATUALIDADE IIDOCENTE: SIMONE BORTOLIERO

O TRATAMENTO DA SAÚDE MENTAL EM SALVADOR:Uma análise da realidade local a partir da experiência dos CAPS

ADRIANA SANTANA

CAIO AMARAL

GILDÁSIO JÚNIOR

KARINA RIBEIRO

MARÍLIA DE MOURA

SALVADOR

2010

Page 2: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

2

1. INTRODUÇÃO

Tendo em vista a pouca divulgação de informações sobre saúde mental e tratamento

de tais doenças em Salvador, o grupo da disciplina Comunicação e Atualidade II, da

Faculdade de Comunicação da UFBA, decidiu se aprofundar nesse tema como trabalho final

do semestre 2010.1 e refletir sobre a situação atual da saúde pública, especificamente na área

de saúde mental em Salvador.

Primeiro, tentou-se entender o conceito de saúde mental, e o que seriam os transtornos

que a afetam e por que. Percebendo as diferenças entre o que seriam as doenças clínicas e o

que seria a “loucura”, no sentido de diferenças na sociedade.

Entendendo esses conceitos, pode-se avaliar a história dos tratamentos dessas doenças

mentais no Brasil, desde o seu início tardio em relação aos outros países, como quanto às

formas desumanas como eram realizadas. Chegando a uma situação atual onde o principal

objetivo dos tratamentos é a reinserção social dos pacientes, pois se considera que eles não

são inválidos para a sociedade como foi acreditado por tanto tempo.

Tomando Salvador como exemplo dessa nova política adotada oficialmente desde

2001, com a promulgação da Lei Paulo Delgado 10.216 pelo governo federal, e executado

pelos governos municipais e estaduais, pode perceber pontos positivos e negativos do sistema,

assim como os desafios que precisarão ser resolvidos para que esses pacientes possam ser

tratados de forma mais humana e para que sejam reinseridos em seus ambientes familiares,

profissionais e sociais.

O trabalho, através de entrevistas realizadas pelo grupo com a coordenadora do

programa de saúde mental da secretaria municipal de saúde de Salvador, Célia Rocha, com a

psicóloga Irene Demouliere, da CAPS Prof. Luis Meira Lessa, e se baseando em documentos

oficiais do Ministério da Saúde, faz uma análise da rede de serviços de tratamento de doenças

mentais oferecidas em Salvador pelo poder público.

Page 3: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

3

1. SAÚDE MENTAL

Para tratar das questões relacionadas à Saúde Mental, como pretendemos neste

trabalho, se faz necessário traçar inicialmente definições e conceitos pertinentes ao tema e que

por vezes podem trazer alguma confusão.

Antes, porém, vale ressaltar a própria definição de saúde admitida pela OMS

(Organização Mundial de Saúde) que serve como princípio básico das discussões acerca deste

campo social. Assim, de acordo com A publicação datada de 1997 da Revista de Saúde

Pública da Universidade de São Paulo (USP), “a Organização Mundial de Saúde define saúde

não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico,

mental e social.”

Partindo dos preceitos referidos, pode-se perceber que, quando se trata de transtornos

mentais, deve-se considerar o caráter subjetivo para além dos sintomas e quadros clínicos. De

acordo com Michel de Foucault:

A loucura, porém, não está somente ligada às assombrações e os mistérios do mundo,

mas ao próprio homem, às suas fraquezas, às suas ilusões e a seus sonhos,

representando um sutil relacionamento que o homem mantém consigo mesmo. Aqui,

portanto, a loucura não diz respeito à verdade do mundo, mas ao homem e à verdade

que ele distingue de si mesmo. (FOUCAULT, 1997)

Atentemo-nos aqui, que Foucault chama em causa não apenas a questão da

subjetividade inerente aos problemas mentais, como também á relação que a sociedade tem

para com a loucura.

Outras questões importantes, relacionadas às noções de saúde mental, tangem a

classificação dos problemas. Fortalecidos por algumas imprecisões no uso dos conceitos, há

uma notada dificuldade em diferenciar algumas doenças. Assim, traremos algumas diferenças

básicas nas concepções de Loucura e de Deficiência mental.

A Loucura, em sua concepção atual, é entendida pela visão de mundo considerada fora

dos padrões, ou seja, aquelas formas de entendimento que destoam do crivo social. No

entanto, essa noção de loucura e, sobretudo a sua visão de ojeriza social, pode ser admitida

como um efeito da sociedade moderna do pós-guerra, no que diz respeito à subjetividade e à

produção de sentido. “A desrazão é entendida como tudo aquilo que uma sociedade enxerga

como sendo seu ‘outro’: a estranheza, a ameaça, a alteridade radical. Essa dimensão pode ser

Page 4: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

4

identificada em diversas épocas e, inclusive, pode ser percebida como essencial nas mais

variadas formações histórico-sociais.” (SILVEIRA & BRAGA, 2007, p.592)

Silveira & Braga (2005) ainda nesse texto, intitulado “Acerca do Conceito de Loucura

e Seus Reflexos na Assistência de Saúde Mental” fazem uma análise interessante sobre as

variações da concepção de loucura ao longo do tempo, retratando também a variação na visão

que a sociedade tinha da doença, que passou de “divindade” na Grécia Clássica à

“representação do castigo divino” na Idade Média.

No entanto, foi somente a partir do Séc. XVIII que os distúrbios mentais passam a ser

tratados como um “objeto do saber médico”, e considerada a sua possibilidade de cura. Esse

processo culminou na reforma da psiquiatria, em meados do ultimo século, quando o conceito

de loucura então passa a ser percebido “enquanto existência-sofrimento do sujeito em relação

com o corpo social” (SILVEIRA & BRAGA, 2005).

Dessa forma, pode-se notar que a chamada “loucura” está hoje enquadrada no que se

entende por doença mental e este é o que “refere-se à formulação técnico-científica de um

estado de perturbação gerador de variados níveis de inabilidades sociais”. Em outras palavras,

as doenças mentais correspondem tanto a distúrbios psíquicos como inaptidões ocorridas por

transtornos não-subjetivos, externos, como as deficiências mentais.

Assim, entramos em outro segmento de classificação das doenças mentais. As

deficiências mentais, que são atribuídas “às pessoas que tem impedimento de longo prazo de

natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,

podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições.”

(ONU/2007 Decreto Legislativo n.186/2008 apud MUSSE, 2009). Desta forma, podemos

compreendê-la como transtornos relacionados às rupturas ou retardamentos no processo de

desenvolvimento de aptidões, inteligências do ser humano.

A ICIDH17 (The conceptual framework of the World Health Organisation

International Classification of Impairment, Disability, and Handicap) propõe uma

classificação da conceituação de deficiência que pode ser aplicada a vários aspectos da saúde

e da doença, sendo um referencial unificado para a área. Estabelece, com objetividade,

abrangência e hierarquia de intensidades, uma escala de deficiências com níveis de

dependência, limitação e seus respectivos códigos, propondo que sejam utilizados dentro do

CID (Código Internacional de Doenças) pelos serviços de medicina, reabilitação e segurança

social.

Por esta classificação, a deficiência mental é conceituada como: “perda ou

anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou

Page 5: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

5

permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um

membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais.

Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma

perturbação no órgão.

Ao transitar por conceitos e terminologias a respeito de temas relacionados à saúde

mental, torna-se notória a gama de variáveis sociais, individuais e científicas que devem ser

considerados para se definir e/ou classificar um fenômeno da loucura ou da deficiência

mental. O desafio se torna ainda mais evidente se considerarmos as diversas alterações

sofridas nestas concepções ao longo do tempo, bem como nas suas atribuições sociais. Por

isso, é importante não apenas distinguir cada termo, mas também considerar todo o processo

histórico de mudança dessas visões.

2. A PSIQUIATRIA NO BRASIL

No Brasil, a preocupação com o tratamento especializado para os acometidos de

doenças mentais, é datada do início do século XIX, momento em que a corte portuguesa se

instala no país. No período, diversos estudiosos tentaram mudar os métodos de tratamento

psíquicos, baseando-se em autores majoritariamente europeus. Isso não significa dizer que o

tratamento foi aperfeiçoado de forma positiva, mas apenas que surgiu certa preocupação

acerca do assunto. Neste contexto, é criada a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, que

publicava atas, escritos e reclamava a necessidade de espaços destinados ao tratamento de

pessoas com transtornos mentais.

Até então, não existia nenhum hospital psiquiátrico no Brasil. A Santa Casa da

Misericórdia do Rio de Janeiro abrigava alguns pacientes com sintomas de doenças mentais.

Entretanto, funcionava apenas como um asilo, como abrigo para pessoas pobres, moradoras

de rua e, portanto, não existia pessoal capacitado em psiquiatria. Além disso, o espaço era

inadequado, insalubre, e o tratamento dado aos pacientes, era de reclusão e de maus tratos.

Assim, por reivindicação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1852 é

inaugurado o suntuoso Hospício de Pedro II. Infelizmente, o hospital não dispôs das

condições necessárias para melhor atender os doentes e continuava subordinado e anexado à

Santa Casa de Misericórdia.

No final do século XIX, com a influência dos franceses Phillipe Pinel e Jean-Étienne

Dominique Esquirol, algumas mudanças começaram a acontecer no Brasil. Foi regulamentado

Page 6: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

6

o ensino da medicina psiquiátrica em 1882. Com isso, as faculdades de medicina da Bahia e

do Rio de Janeiro passaram a estudar as doenças mentais com mais profundidade e a analisá-

las como distintas das outras enfermidades. Mais profissionais se especializaram, foram

construídos novos espaços, e desenvolvidas novas formas de tratamento psiquiátrico.

Os estudos especializados na área psiquiátrica revelavam uma maior preocupação com

àqueles que sofriam com transtornos mentais. Entretanto, as formas de tratamento

continuavam violentas e excludentes: Os hospícios mantinham os pacientes passivos e

reclusos. Eles eram privados de um convívio social, eram indivíduos indesejáveis, tidos como

pessoas geradoras de uma desordem social.

No século XX, o número de hospitais psiquiátricos aumenta significativamente. Neste

momento, a previdência social garantia um auxílio psiquiátrico àqueles que estivessem

doentes e internados, o que era rentável e lucrativo para os empresários donos dos hospícios,

sanatórios, etc. Cada doente representava um lucro a mais, o que acabou enchendo o

manicômio de pessoas que, muitas vezes, não estavam com problemas sérios.

Os tratamentos eram, muitas vezes, violentos: camisa de força, eletrochoque,

lobotomia, convulsoterapia. Tais procedimentos costumavam agravar os distúrbios e também

conseguiam deixar os pacientes inertes, anestesiados. Quando internados, eles geralmente

ficavam confinados, sem qualquer convívio social, privados de atividades interativas e de

cuidados emocionais.

Neste contexto, dificilmente um paciente internado conseguia se recuperar e sair do

hospital manicomial, pois o objetivo maior dos médios e empresários era alimentar a doença,

ao invés de tratá-la. Isso criou um número enorme de casos crônicos. Diante de um

agravamento em sua saúde mental, eles dificilmente conseguiam ser ouvidos, e ter seus

direitos respeitados.

Existiram tentativas de mudar esse o quadro, mas o Estado brasileiro não facilitava o

processo, que piorou durantes a ditadura. Juliano Moreira e Ulisses Pernambucano tentaram

implantar uma reforma nos hospícios, com tratamento em regime livre, e um sistema de

educação especial. Infelizmente, suas ideias não foram conquistadas e a assistência

psiquiátrica entrava em degradação.

Com o fim da ditadura, a reação contra o mau tratamento psiquiátrico ganhou espaço

no país. Havia, entretanto, uma forte oposição exercida pelo setor privado, que, àquela altura,

já havia se expandido e controlava as decisões do Estado. A busca pelas mudanças foi

espelhada nas experiências e reflexões do italiano Franco Basaglia, que idealizava uma

sociedade sem manicômios, capaz de abrigar os portadores de sofrimento mental.

Page 7: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

7

Neste contexto, dá-se o início da luta da Reforma Psiquiátrica e, em 1989, a entrada no

congresso do Projeto de Lei Paulo Delgado. A proposta era a extinção de manicômios e o

direito à cidadania das pessoas que sofriam com doenças mentais. O projeto ficou em

tramitação por 12 anos e apenas em 2001 a lei foi sancionada no país: Lei Federal 10.216.

Apesar da conquista, a lei promulgada não foi igual ao seu projeto. Ela deu ênfase aos

tratamentos humanitários, sem exclusão e com inserção social. Também protegeu os doentes

mentais contra qualquer tipo de preconceito e restringiu as possibilidades de internação,

entretanto não deixa clara a obrigação do fim dos manicômios.

3. O TRATAMENTO DA SAÚDE MENTAL NA REDE PÚBLICA DA

CIDADE DE SALVADOR

Após a aprovação da Lei 10.216 no ano de 2001, a assistência oferecida a portadores

de doenças mentais, que durante muito tempo esteve associada principalmente a internação

em hospitais psiquiátricos, passou por mudanças significativas. O Ministério da Saúde

estruturou uma política de saúde mental que redirecionou os recursos desses hospitais para um

modelo substitutivo de base comunitária. Esse cenário de mudanças constitui a reforma

psiquiátrica, caracterizada principalmente pela proposta de oferecer um atendimento público

em saúde mental que garanta o acesso da população aos serviços e o respeito a seus direitos e

liberdade; mudança de paradigma no tratamento da saúde mental, ao invés de isolar o paciente

da sociedade, o tratamento incentiva a inserção social, o convívio na família e na comunidade.

A assistência passa a ser oferecida em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),

Residências Terapêuticas e ambulatórios. O redirecionamento do modelo assistencial originou

a Política Nacional de Saúde Mental, cujo objetivo é reduzir progressivamente a quantidade

de leitos psiquiátricos, qualificar, expandir e consolidar a rede extra-hospitalar. Tais

mudanças são de grande relevância para o Brasil uma vez que 3% da população geral sofre

com transtornos mentais severos e persistentes; 12% da população necessita de algum

atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual, o que resulta em um

investimento de 2,3% do orçamento anual do SUS para a área da Saúde Mental. (SIS.SAÚDE

- Sistema Integrado de Saúde do Rio Grande do Sul)

A Política de Saúde Mental da cidade de Salvador está baseada na Política Nacional de

Saúde Mental, por isso, suas ações devem estar em consonância com os objetivos da Política

Nacional na busca pela consolidação de um modelo de atenção à saúde mental aberto e de

Page 8: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

8

base comunitária, que possibilite a livre circulação das pessoas portadoras de transtornos

mentais pelos serviços, comunidade e cidade. (Ministério da Saúde) Em 2005, a Secretaria

Municipal de Saúde assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assumindo o

compromisso de ampliar e fortalecer a rede de assistência, implantar mais CAPS e

Residências Terapêuticas e de aderir ao Programa de Volta para Casa. Neste mesmo ano, a

Secretaria Municipal de Saúde da Bahia solicitou o descredenciamento de 520 leitos dos

hospitais psiquiátricos Sanatório Bahia e Casa de Saúde Ana Nery. O Ministério da Saúde

orienta os gestores de saúde dos municípios a construírem uma rede de saúde mental que

possa ser constituída por vários dispositivos assistenciais que possibilitem a atenção

psicossocial aos pacientes com transtornos mentais.

Embora alguns hospitais psiquiátricos tenham sido fechados, ainda existem três

unidades que oferecem leitos em Salvador, os hospitais Juliano Moreira e Mário Leal e o

Sanatório São Paulo. Vale ressaltar que estes hospitais estão sob a responsabilidade do estado.

Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, em dezembro de 2009, a Bahia

ocupava a 20ª posição no ranking dos estados que oferecem leitos psiquiátricos. Segundo a

pesquisa, a Bahia teria sete hospitais psiquiátricos com um total de 888 leitos. (Anexo1) Paulo

Gabrielli, coordenador Estadual de Saúde Mental, afirma que: “O Hospital Psiquiátrico ainda

constitui o centro da assistência, o lugar do tratamento no imaginário social, instituição que

absorve a maior parte dos recursos humanos e financeiros investidos pelo Sistema Único de

Saúde no país.” Para ele “É preciso estimular a reestruturação e expansão do atendimento,

promovendo ações de atenção primária no âmbito dos municípios, com a finalidade de

garantir o acesso da população a uma ampla rede pública de atenção psicossocial extra-

hospitalar.”

Já em âmbito municipal, as opções de tratamento que estão disponíveis na rede pública

de saúde são as seguintes: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que constituem a

principal estrutura da rede municipal de saúde para tratar os portadores de transtornos mentais

severos. Trata-se de um serviço territorial de base comunitária que visa promover a inserção

social do portador de transtorno mental através de um tratamento integrado. O objetivo destas

unidades de tratamento é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência,

realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao

trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e

comunitários. (Ministério da Saúde) Atualmente existem dezoito CAPS em Salvador e ao

todo, na Bahia, existem 163. (Área Técnica de Saúde Mental / IBGE – Anexo 2)

Page 9: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

9

Existem ambulatórios que podem ser definidos como unidades de saúde com equipe

multiprofissional especializada em saúde mental. A equipe é formada por profissionais tais

como, psiquiatras, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros. Em Salvador existem os

seguintes ambulatórios: o Centro Terapêutico Municipal Álvaro Rubim de Pinho, o Centro de

Saúde Mental Aristides Novis e o Centro de Saúde Mental Oswaldo Camargo. Já os Serviços

Residenciais Terapêuticos (SRT’s) são casas ou unidades habitacionais inseridas na

comunidade, com capacidade para até oito pacientes. Criadas no ano 2000, as unidades são

destinadas aos egressos de hospitais psiquiátricos que levaram dois anos ou mais em

tratamento e que perderam os vínculos familiares. Em Salvador existem apenas seis unidades

dos SRT’s, os moradores dessas residências terapêuticas recebem tratamento nos CAPS. No

total, existem vinte SRT’s em funcionamento na Bahia e uma unidade em processo de

implantação, ao todo as residências abrigam 114 pessoas. (Área Técnica de Saúde Mental –

Anexo 3)

Existem também os consultórios de rua da Equipe de Saúde Mental Capitães da Areia,

cuja sede fica no Centro Histórico de Salvador. A equipe formada por sete profissionais

(enfermeiras, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagoga e educador físico) presta pronto-

atendimento a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Nos consultórios

de rua são realizadas abordagens diretas e a partir disso são feitas visitas domiciliares,

monitoramento e acompanhamento dessas crianças e adolescentes. O trabalho da Equipe

abrange as áreas do Pelourinho, Terreiro de Jesus e Comércio e segundo Célia Rocha (Anexo

6), coordenadora do Programa de Saúde Mental da rede municipal de saúde, é um dos

serviços que a Secretaria Municipal de Saúde pretende ampliar para que suas ações tenham

um maior alcance. Como estava previsto no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) a Secretaria

Municipal de Saúde aderiu ao Programa de Volta para Casa, desenvolvido pelo Ministério da

Saúde e que visa promover a reintegração de pessoas egressas de longos períodos de

internação através da concessão de uma bolsa-auxílio de 240 reais como parte integrante do

processo de reabilitação psicossocial. Na Bahia, existem 115 beneficiários cadastrados em 5

municípios, mas em Salvador existem apenas 8 beneficiários. (Secretaria de Saúde do Estado

da Bahia, 2010)

As opções de atendimento de emergência na rede pública de saúde de Salvador, em

casos psiquiátricos, ainda são poucas. Em 2009, foi inaugurado o 1º Pronto-atendimento

psiquiátrico da cidade. Este atendia pacientes com transtornos mentais agudos que eram

encaminhados pelo SAMU ou por alguma unidade de saúde do município. Os pacientes

permaneciam durante 48h no pronto-atendimento e os casos mais graves eram encaminhados

Page 10: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

10

para os hospitais psiquiátricos Juliano Moreira e Mário Leal (Secretaria Municipal de

Comunicação). No entanto, o único pronto-atendimento psiquiátrico da cidade fechou oito

meses após sua inauguração e até hoje não foi reativado. Segundo Célia Rocha, a reabertura

do pronto-atendimento psiquiátrico está entre as metas da Secretaria Municipal de Saúde, mas

ainda não há data prevista para isso. A alternativa existente para emergências é a equipe de

psiquiatria na Regulação do SAMU, que foi criada devido à demanda de atendimentos de

casos psiquiátricos. Em 2009, 5,89% dos casos atendidos pelo SAMU foram psiquiátricos.

(Secretaria Municipal de Saúde) Essa equipe é formada por sete psiquiatras que além de

orientar as pessoas que ligam para o SAMU, também orientam os técnicos do Serviço de

Saúde Mental a realizar encaminhamento de pacientes.

Observando os serviços da rede pública de saúde de Salvador, é possível compreender

que as mudanças estruturais no tratamento do portador de transtorno mental são importantes

não apenas para oferecer outro modelo de assistência, baseado na ressocialização e não mais

no isolamento do paciente. Mas também contribuem para que a saúde mental tenha nova

abordagem. Percebe-se que os serviços públicos voltados para a saúde mental tratam essa

questão de modo integrado, oferecendo uma assistência que está associada à educação, ao

lazer, à cultura, que valoriza a participação da família no tratamento do paciente e que

incentiva sua integração em uma comunidade. Entretanto, a quantidade de CAPS ainda é

insuficiente para atender a demanda da população. Então se hospitais psiquiátricos são

fechados ou têm seus leitos reduzidos, alguns pacientes ficarão sem tratamento. Isto porque as

alternativas criadas ou ampliadas para substituir o antigo modelo de tratamento ainda não

chegam a todos os portadores de transtorno mental, pois, ainda existem comunidades nas

quais a Secretaria Municipal de Saúde estabeleceu que fossem criados CAPS, mas que até

hoje não receberam a unidade do serviço.

Outro problema é a contradição existente entre o incentivo à livre circulação das

pessoas portadoras de transtornos mentais e o que acontece na realidade. Essas pessoas ainda

não têm acesso ao benefício da gratuidade no transporte público, o que dificulta o

deslocamento de pacientes de baixo poder aquisitivo, que não residem próximos aos CAPS

onde fazem tratamento. Diante de tais problemas, depreende-se que os avanços em relação ao

tratamento da saúde mental foram significativos, principalmente no que diz respeito à

inserção social e à garantia de direitos, mas ainda existem aspectos que precisam receber mais

atenção na rede pública de saúde a fim de que sejam encontradas possíveis soluções para estes

problemas.

Page 11: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

11

4. CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram oficializados através portaria GM

224/92 e atualmente são regulamentados pela Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002,

integrando a rede do Sistema Único de Saúde – SUS (Secretaria Municipal de Saúde). Os

CAPS “são serviços de saúde mental abertos, destinados a prestar atenção diária a pessoas

com transtornos mentais severos e persistentes” (Ministério da Saúde). De maneira mais

complexa, podemos dizer que os CAPS são “serviços territoriais de base comunitária,

destinados a acolher e tratar os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração

social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes

assistência de forma integral” (Secretaria Municipal de Saúde).

A Lei Paulo Delgado (Lei nº 10.216) não criou os CAPS, apenas os legitimizou, uma

vez que existem unidades que funcionam há mais de 20 anos. O primeiro CAPS do Brasil foi

o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS

Itapeva, inaugurado em março de 1986 em São Paulo.

Existem cinco tipos de CAPS (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPS ad), cada

um com uma clientela diferente, a depender do contingente populacional a ser coberto e do

período de funcionamento. CAPS I atendem a municípios de pequeno porte, que possuem de

20.000 a 70.000 habitantes; CAPS II são serviços para cidades de médio porte, com

população de 70.000 a 200.000 habitantes; CAPS III são os únicos que atendem 24 horas por

dia e estão disponíveis nas grandes cidades, com população acima de 200.000 habitantes. Os

CAPSi e CAPS ad são unidades de tratamento segmentado, alocadas em cidades de médio

porte. Os primeiros atendem a crianças e adolescentes com até 17 anos de idade, enquanto os

CAPS ad são serviços destinados a dependentes de álcool e outras drogas, cuja dependência é

secundária ao transtorno mental.

Salvador conta com um total de 18 Centros de Atenção Psicossocial. Entre eles,

funciona no bairro de Pernambués um CAPS ad e, nos bairros da Liberdade e Rio Vermelho,

funcionam os dois CAPSi do município. Recentemente foi inaugurado um CAPS III no bairro

de Pirajá, com a especificidade de prestar atendimento a crianças e adolescentes usuários de

álcool e drogas. Antonio Nery Filho, criador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de

Drogas (Cetad), vinculado à Universidade Federal da Bahia, e consultor da Prefeitura, diz que

“a ideia é implantar mais quatro CAPS ad até 2011” (MUITO, 4 de outubro de 2010).

Page 12: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

12

Os CAPS se propõem a auxiliar na reinserção social dos indivíduos e, nesse sentido,

atuam com a presença de diversos profissionais que, juntos, ajudam no desenvolvimento de

diversas habilidades. Em entrevista com Irene Demouliere, psicóloga do CAPSi Professor

Luis Meira Lessa, localizado no bairro do Rio Vermelho, pode se certificar que essa equipe

multiprofissional de fato age dentro das unidades. O CAPS em que trabalha conta com

psicólogos, psiquiatras, educador físico, enfermeiros, técnicos de enfermagem e terapeuta

ocupacional, mostrando que a preocupação dos centros vai além de um tratamento médico.

São oferecidas também diversas atividades terapêuticas, como psicoterapia individual ou

grupal, oficinas terapêuticas, acompanhamento psiquiátrico, visitas domiciliares, atividades de

orientação e inclusão das famílias e atividades comunitárias.

O tratamento feito nos CAPS consiste em um projeto terapêutico individual, assim,

cada paciente recebe um tratamento específico de acordo com suas necessidades e é

acompanhado por um técnico de referência. Existe um procedimento para que um indivíduo

possa ser inserido como paciente em um desses centros. O acolhimento é a primeira etapa:

assim que o indivíduo procura uma unidade, ele recebido pelo técnico de plantão do CAPS,

que ouve atentamente o seu caso. O profissional pode indicar imediatamente o tratamento

adequado para o paciente, quando o mesmo possui perfil para ser atendido no CAPS. Quando

a pessoa não possui perfil, ela é encaminhada para o serviço adequado. O profissional pode,

ainda, não se sentir seguro para construir o PTI – Plano Terapêutico Individual – do paciente e

preferir consultar a equipe de profissionais da unidade. Nesse caso, o técnico de plantão leva o

caso à reunião técnica, para discuti-lo com outros profissionais e construir um diagnóstico em

conjunto.

De acordo com o projeto terapêutico de cada usuário, estes podem passar o

dia todo na Unidade, parte do dia ou vir apenas para alguma consulta.

Comparecendo todos os dias estarão em regime intensivo, alguns dias da

semana em regime semi-intensivo e alguns dias no mês em não-intensivo. As

necessidades de cada usuário e os projetos terapêuticos, compreendendo as

modalidades de atendimento citadas e os tempos de permanência no serviço,

são decididas pela equipe, em contato com as famílias também, e igualmente

as mudanças neste projeto segundo as evoluções de cada usuário.

(MALAZAVI)

Segundo as normas do Ministério da Saúde, que estabelece uma unidade de tratamento

para cada 100 mil habitantes, deveriam existir, em Salvador, 30 unidades de CAPS para que

as demandas da população fossem atendidas. Recentemente, o Ministério da Saúde repassou

Page 13: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

13

recursos para a implementação de 54 novos CAPS no Brasil. Três destes serão implementados

na Bahia, mas nenhum em Salvador. As cidades a receberem as unidades serão Barra,

Governador Mangabeira e Utinga. A criação de novos centros em Salvador se faz necessária,

uma vez que hoje a rede consegue prestar atendimento apenas a cerca de 60% da população

que necessita de seus serviços.

Page 14: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

14

5. CONCLUSÃO

O tratamento psiquiátrico no Brasil tem mudado ao longo do tempo de forma a

melhorar, gradativamente, os cuidados destinados à população acometida de tais doenças. Os

maus tratos marcaram a realidade dos que foram internados em manicômios e sanatórios.

Àquela altura, essa parcela da população era tratada com ojeriza e, consequentemente,

excluída do convívio social. O movimento anti-manicomial e a Reforma Psiquiátrica que

surgiram por volta da década de 90, chamaram atenção para a necessidade de mudanças, que

já haviam ocorrido em outras partes do mundo.

Por conseqüência, a lei Paulo Delgado acabou sendo aprovada e conseguiu propor

uma modificação no tratamento psiquiátrico, que parece ter se tornado mais humano,

cuidadoso e, principalmente, preocupados com a reinserção social. Diante disso, foi impedido

que novas internações fossem feitas sem maiores motivos e que os pacientes fossem reclusos

e afastados de sua família.

Após observar os serviços oferecidos na cidade de Salvador, e da nova forma de

enxergar os pacientes com doenças mentais, podemos perceber algumas falhas e melhoras

deste novo sistema. As mudanças foram, sem dúvida, extremamente significantes e positivas.

A lei 10.216 garante uma melhora gradativa no sistema de tratamento, a reinserção social dos

pacientes, a defesa de seus direitos e o fim do preconceito. Entretanto, ficou claro que a atual

situação na cidade não esta completamente de acordo com a nova lei, e que não garante o

pleno cuidado com os doentes mentais. Portanto ainda existem problemas a se enfrentar.

A primeira situação observada é que ainda falta um número suficiente para atender a

toda população, de serviços oferecidos tanto pela prefeitura quanto pelo estado. O Ministério

da Saúde, por exemplo, recomenda que exista uma CAPS para cada 100.000 habitantes, ou

seja, em uma cidade como Salvador, com a população aproximadamente de três milhões de

pessoas, o ideal seria ter 30 Centros de Atenção Psicossocial, enquanto existem somente 18.

Apenas seis residências terapêuticas oferecem moradia para aqueles que não têm família ou

não podem viver em outro lugar. O único Pronto Atendimento Psiquiátrico inaugurado na

cidade, foi fechado apenas oito meses após sua abertura.

Em conversa com Célia Rocha, ela afirma que uma das dificuldades em ampliar as

opções de tratamento em Salvador, reside no fato de que grande parte dos imóveis da cidade

não possui documentos necessários para que o governo possa alugá-los ou comprá-los. O que

termina sendo um dos grandes empecilhos para que novos CAPS, Residências Terapêuticas

Page 15: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

15

etc. sejam inaugurado. Entretanto, esse discurso parece não condizer com a realidade, pois

mesmo que existam imóveis irregulares, com mais comprometimento do poder público, mais

serviços poderiam ser oferecidos a população.

Outro problema relatado é a falta de políticas de informação da sociedade sobre o

assunto, tanto sobre saúde mental quanto as opções de tratamento que existem. A secretaria

não tem ação nesse sentido, fazendo com que a população fique desinformada, podendo

causar o abandono de doentes pela família ou maior número de casos de preconceito.

Uma questão relatada na entrevista com a psicóloga da CAPS é a falta de integração

entre o sistema de saúde com outros serviços públicos, como transporte. Deficientes mentais

não têm o direito de utilizar transporte público gratuitamente. Isso faz com que muitos desses

abandonem o tratamento por não terem condições financeiras de se locomover para as

unidades de saúde. Ainda que não existam dados para quantificar essa situação, a psicóloga

informou que existem muitos casos como este e que seria interessante se governo tomasse

medidas a fim de garantir um tratamento adequado.

A política que a própria secretaria informa em documentos oficiais, que ainda não foi

implantada é a de atendimento periódico a população, em relação à prevenção de doenças

mentais. O serviço público de saúde não fornece atendimento terapêutico e psicológico para a

população. Ou seja, em uma sociedade onde a violência, crises sociais e outros problemas

atingem as pessoas diariamente, e que algumas tem força para continuar vivendo de forma

normal e outras têm a sua saúde mental abalada, não existe um serviço público de

atendimento psicoterapêutico para essa população.

Além do preconceito existente na sociedade com as pessoas “loucas”, “malucas” e

outros adjetivos pejorativos que são usados contra indivíduos doentes e que precisam de um

tratamento clínico. Também não existe um trabalho de conscientização social contrário a

esses tipos de atitude.

Muitos pacientes, quando acabaram os antigos hospícios, não tiveram para onde ir e

não foram absorvidos pelo novo sistema, fazendo com que o número de moradores de rua

aumentasse em 30% em Salvador, segundo estudos da Escola Baiana de Medicina.

Percebe-se que com a mudança que aconteceu com a Lei Paulo Delgado, o modo de

olhar os doentes mentais foi alterado, e que a nova relação entre médicos e pacientes não é

mais de exclusão, e sim de reinserção social. Mas, isso não tem acontecido de forma plena.

Os dados nos mostram que o novo sistema precisa corrigir essas falhas e problemas

para que toda a população de Salvador possa ter acesso a um serviço de qualidade e que as

Page 16: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

16

mudanças continuem para que a saúde mental seja um assunto levado a sério em todas as

instâncias, tanto governamental quanto social.

Page 17: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

17

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- AMARANTE, Paulo & TORRE, Eduardo Henrique Guimarães. Protagonismo e

Subjetividade: a construção coletiva no campo da saúde mental. Ciência e Saúde Coletiva

2001, Vol. 6 .

- Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil. Rio de Janeiro, 1930. Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/stcasarj.htm#historico. Acesso em: 24 nov. 2010.

- FERNANDES, Flora. História da Psiquiatria no Brasil: histórico. Psicologado Artigos Jan 2009.

- GABRIELE, Paulo. Política de Saúde Mental da Bahia, Salvador.

Disponível em: http://bit.ly/igL4s4. Acesso em: 27 nov. 2010.

- MALAVAZI, Gabriela. SER MELHOR. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como

dispositivos da reforma psiquiátrica. Disponível em: <http://www.sermelhor.com/artigo.php?

artigo=28&secao=espaco>. Acesso em: 22 nov. 2010.

- Manicômio judiciário: arbitrariedade e violência. Rev. Viver. Jul 2007, nº83.

- Memória da Loucura. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/Mostra/apresenta.html . Acesso em: 24 nov. 2010

- MENDONÇA, Tatiana. “Usar crack significa saltar de paraquedas sem paraquedas”. Jornal

A Tarde, Salvador, 03 out. 2010. Revista Muito. Disponível em:

<http://revistamuito.atarde.com.br/?p=5647>. Acesso em: 21 nov. 2010.

- Ministério da Saúde. Saúde Mental – Apresentação, Brasília, 2010.

Disponível em: < http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=925>. Acesso em:

27 nov. 2010.

Page 18: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

18

- Ministério da Saúde. Saúde Mental – Centros de Atenção Psicossocial, Brasília, 2010.

Disponível em: http://bit.ly/eQpWBB. Acesso em: 27 nov. 2010.

- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde Mental. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=925>. Acesso em: 27 nov. 2010.

- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações

Programáticas Estratégicas. Saúde Mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial /

Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

- MIRANDA-SÁ JR., Luiz Salvador de. Breve histórico da psiquiatria no Brasil: do período colonial à atualidade. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul, Ago 2007, vol.29, no.2, p.156-158.

- MUSSE, Luciana Barbosa, O Papel das Ouvidorias no fortalecimento da cidadania das

pessoas com transtornos mentais. SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE OUVIDORIA-

OMBUDSMAN BRASIL-CANADÁ, 2009.

- O que é Doença Mental? Disponível em: http://www.artigonal.com/saude-artigos/o-que-e-

uma-doenca-mental-730354.html. Acesso em: 22 nov.2010.

- PESSOTI, Isaias. O século dos Manicômios. São Paulo: 34, 1996.

- PICCININI. Walmor, J. História da Psiquiatria: Voando sobre a História da Psiquiatria. 2000. Disponível em: http://priory.com/psych/wal0800.htm . Acesso em: 24 nov. 2010.

- Presidência da República Casa Civil/; Lei nº10.216. Brasília 2001. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 24 nov. 2010.

- Secretaria Municipal de Comunicação (SECOM). Salvador recebe o 1º Pronto Atendimento

Psiquiátrico, Salvador, ago. 2009.

Disponível em: < http://bit.ly/hFPzXE>. Acesso em: 15 out. 2010.

- Secretaria Municipal de Saúde. Saúde Mental no Município de Salvador, Salvador, 2009.

Disponível em: http://bit.ly/ifs7oF. Acesso em: 20 nov. 2010.

Page 19: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

19

- Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Conferência de Saúde Mental, Bahia, abr. 2010.

Disponível em: http://bit.ly/dHYT0D. Acesso em: 28 nov. 2010.

- SEGRE, Marco & FERRAZ, Flávio Carvalho. REVISTA DE SAÚDE PÚBLICA. O

conceito de Saúde. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997, Vol. 31, Número 5.

- SILVEIRA, Lia Carneiro & BRAGA, Violante Augusta Batista. Acerca do conceito de

loucura e seus reflexos na assistência de saúde mental. São Paulo, 2005.

- SIS.SAÚDE - Sistema Integrado de Saúde do Rio Grande do Sul. Política Nacional de

Saúde Mental, Porto Alegre, jun. 2009.

Disponível em: <http://www.sissaude.com.br/sissaude/inicial.php?case=2&idnot=1562>.

Acesso em: 27 nov. 2010.

Page 20: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

20

7. ANEXOS

ANEXO 8.1

Hospitais e leitos psiquiátricos

ANEXO 8.2

CAPS

Page 21: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

21

ANEXO 8.3

Serviços Residenciais Terapêuticos

ANEXO 8.4

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI N o 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.

Dispõe sobre a proteção e os direitos das

pessoas portadoras de transtornos mentais e

redireciona o modelo assistencial em saúde

mental.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:

Page 22: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

22

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que

trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo,

orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos

e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus

familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no

parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas

necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua

saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na

comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou

não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu

tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a

assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a

devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de

saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde

aos portadores de transtornos mentais.

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os

recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente

em seu meio.

§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer

assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de

assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

Page 23: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

23

§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em

instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos

mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo

único do art. 2o.

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação

de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de

suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial

assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a

ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando

necessário.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico

circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a

pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve

assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de

tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do

paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico

devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize

o estabelecimento.

§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas,

ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento

no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva

alta.

§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar,

ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.

Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente,

pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento,

quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

Page 24: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

24

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento

serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao

representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo

máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser

realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a

devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de

Saúde.

Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão

nacional para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Jose Gregori

José Serra

Roberto Brant

ANEXO 8.5

Entrevista com Irene Guillien Demouliere, Psicóloga da unidade CAPS I Prof. Luis

Meira Lessa (Rio Vermelho, Salvador-Ba), realizado no dia 19 de Novembro de 2010 pelo

grupo.

Quando o CAPS I Prof. Luis Meira Lessa surgiu?

Em 2006.

Há quanto tempo você trabalha no CAPS?

Há dois anos.

Ele é o único que atende ao público infantil na cidade?

Não. Existe outro CAPS I na Liberdade e, recentemente, foi inaugurado um CAPS III

(Álcool e Drogas) para crianças e adolescentes no bairro de Pirajá.

Esse CAPS atende a pacientes de outros municípios?

Não. Inclusive, o atendimento se dá a partir da apresentação de comprovante de

residência que comprove que o paciente mora em Salvador. Esse é um problema, pois às

vezes chegam pacientes de outras cidades e temos que encaminhá-los para o CAPS de sua

cidade. Essa é uma exigência da Prefeitura Municipal de Salvador.

Page 25: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

25

Como é o funcionamento do CAPS?

Funcionamos de segunda a sexta-feira de 8h às 17h. Sexta-feira não fazemos

acolhimento de novos pacientes. Sexta pela manhã, a equipe realiza reunião técnica para

dialogar sobre a situação dos pacientes e à tarde os profissionais atendem a outros pacientes.

A equipe é formada por aproximadamente 25 profissionais de diversas áreas. Temos

psicólogos, psiquiatras, educador físico, enfermeiros, técnicos de enfermagem e terapeuta

ocupacional. Mas acredito que a quantidade de profissionais existentes não é suficiente, pois

muitas vezes não podemos agendar visitas individuais dos pacientes com um psicólogo.

Após a Lei 10.216 (Lei Paulo Delgado), houve mudanças no modo de tratamento

de doenças mentais. Na prática, o que mudou?

Agora o paciente tem acesso a um tratamento mais humano, sem enclausuramento. O

CAPS procura valorizar essa reintegração do paciente na comunidade, dando a possibilidade

dele se sentir útil, não excluído.

E qual é a função dos hospitais psiquiátricos nesse processo?

Os hospitais psiquiátricos ainda devem existir, pois servem para atender às

emergências. Os CAPS não tem a função de atender crises emergenciais, até porque a

presença de psiquiatras aqui não é diária. Também não contamos com leitos e não possuímos

autorização para aplicar medicamentos, uma vez que não temos estrutura apropriada.

Enquanto profissional, quais dificuldades são encontradas no serviço público de

atendimento à saúde mental?

As dificuldades financeiras para custeio de transporte de pacientes são verificadas com

frequência aqui na unidade. Não existe uma lei que reconheça o portador de transtorno mental

como deficiente. Muitas vezes eles tem que retornar algumas vezes na semana e a família não

tem como pagar seu transporte. A Prefeitura Municipal não conta com nenhuma iniciativa de

auxílio nesse sentido.

Considerando outras experiências profissionais, como você compara o

atendimento oferecido pelo CAPS com serviços particulares e de outros hospitais

psiquiátricos?

Eu também trabalho em uma clínica particular e eu sinto que aqui o acompanhamento

dos pacientes é mais próximo, existe um verdadeiro acolhimento. Manejamos nosso tempo de

acordo com a necessidade dos pacientes. A clínica particular não oferece isso porque temos

uma grade fixa de atendimento aos pacientes, o que não permite que o profissional se

disponha a auxiliar um paciente fora de seu horário. Além disso, lá a equipe não dialoga tanto.

Aqui nós temos um turno semanal para trocar ideias sobre os casos, enquanto, na outra

Page 26: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

26

clínica, temos apenas uma reunião mensal. O diálogo sobre as experiências dos profissionais

enriquece nosso trabalho. Em relação aos instrumentos de trabalho, não há diferença, apenas

as salas de atendimento no CAPS são menores e não oferecem tanto conforto.

A proposta dos CAPS é auxiliar na reintegração social dos pacientes. Como é

realizado esse processo?

Nós estabelecemos contatos com várias instituições. Além de realizarmos passeios

com as crianças e assembleias com a participação das mães, existe uma iniciativa de parceria

com as escolas, que consiste na visita de profissionais às escolas que apresentam queixas dos

pais, a fim de esclarecer aos educandos sobre doenças mentais. Para incluir os adolescentes no

mercado de trabalho, estabelecemos parceria com o “Projeto Incluir” e a “Fundação Cidade

Mãe”, que auxiliam na profissionalização destes jovens.

Baseado na recomendação do Ministério da Saúde, Salvador conta com

quantidade insuficiente de CAPS. Isso influencia na qualidade do serviço?

Sem dúvida, o número de CAPS deveria ser ampliado, o ideal é que tivéssemos um

CAPS por bairro. O agrupamento de muitos pacientes em uma unidade influi na queda da

qualidade do serviço oferecido.

ANEXO 8.6

Entrevista com Célia Rocha, coordenadora do Programa de Saúde Mental da rede

municipal de saúde (Ed. Caramuru, Comércio, Salvador-Ba), realizado no dia 17 de

Novembro de 2010 pelo grupo.

Inicialmente Célia Rocha falou sobre as opções existentes no sistema de saúde pública

do município para o tratamento da Saúde Mental. Tais como, os Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS), os ambulatórios, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e o

Programa de Volta para Minha Casa. Segundo a coordenadora, os CAPS constituem a

principal estrutura da rede municipal de saúde, para tratar os indivíduos que apresentem

transtornos mentais severos. Os CAPS visam proporcionar a inserção social da pessoa

portadora do transtorno, oferecendo a esse indivíduo assistência de forma integral. Os CAPS

constituem um serviço territorial de base comunitária.

O tratamento feito nos CAPS consiste em um projeto terapêutico individual, assim,

cada paciente recebe um tratamento específico de acordo com suas necessidades e é

acompanhado por um técnico de referência. A equipe que trabalha nas unidades é

multidisciplinar, formada por psicólogos, psiquiatras, oficineiros, arte-educadores, entre

Page 27: O Tratamento da Saúde Mental em Salvador: Uma análise da realidade local a partir das CAPS

27

outros. Embora todo esse trabalho tenha gerado um produtivo movimento de inserção dos

portadores de transtorno mental na sociedade, os 18 CAPS existentes em Salvador, ainda não

são suficientes para atender a demanda da população que precisa desse serviço. O Ministério

da Saúde recomenda que exista 1 unidade de tratamento para cada 100 mil habitantes,

portanto, deveriam existir em Salvador, 30 unidades do CAPS para que a recomendação do

Ministério fosse devidamente cumprida. Por enquanto, as 18 unidades existentes atendem a

cerca de 60% da população. Dessas unidades, que têm como prioridade realizar o tratamento

de pessoas com transtorno mental severo, existem CAPS específicos que cuidam de crianças

(CAPSi) e o CAPSad – especializado no tratamento de álcool e drogas.

Célia Rocha também informou que as ações desenvolvidas no Programa de Saúde

Mental baseiam-se na integração da temática da saúde, com a educação e com outros direitos

dos indivíduos, ou seja, visam oferecer condições para que a pessoa que está em tratamento,

possa exercer sua cidadania com dignidade. A entrevistada comentou que antes da aprovação

da Lei Paulo Delgado (Lei nº 10.216) o tratamento destinado aos portadores de transtornos

mentais, não respeitava a individualidade dos pacientes e ao invés de socializá-los acabava

por segregá-los ainda mais. Nesse sentido, a Lei Paulo Delgado reforça o compromisso de

proteção dos portadores de transtornos mentais. A lei que prevê a extinção dos manicômios

legitimou o funcionamento dos CAPS (alguns funcionam a mais de 20 anos) e trouxe maior

visibilidade a essas iniciativas que já eram desenvolvidas antes da aprovação da lei.

Algumas das dificuldades existentes no Programa de Saúde Mental são a falta de uma

assessoria de comunicação específica para o setor, para dar maior visibilidade ao que é

desenvolvido no programa; fatores externos também dificultam a ampliação do número de

serviços, por exemplo, a dificuldade para encontrar um imóvel, com a documentação

regularizada, para alugar e instalar mais CAPS. Por enquanto, a Secretaria Municipal de

Saúde, pretende ampliar a rede dos CAPS e consolidá-la e ampliar o alcance dos consultórios

de rua itinerantes, cuja sede fica no Centro Histórico.