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O trabalho pedagógico com os diferentes Gêneros Textuais no Ciclo de Alfabetização Prof. Ms. Reginaldo Peixoto

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O trabalho pedagógico com os diferentes Gêneros Textuais no

Ciclo de Alfabetização

Prof. Ms. Reginaldo Peixoto

Letramento é uma tradução para o português da palavrainglesa “literacy” que pode ser traduzida como a condição deser letrado. Um indivíduo alfabetizado não énecessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado éaquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aqueleque sabe ler e escrever, mas que responde adequadamenteàs demandas sociais da leitura e da escrita. Alfabetizarletrando, é ensinar a ler e escrever no contexto das práticassociais da leitura e da escrita, assim o educando deve seralfabetizado e letrado. A linguagem é um fenômeno social,estruturada de forma ativa e grupal do ponto de vistacultural e social. A palavra letramento é utilizada no processode inserção numa cultura letrada.

Amélia Hamze (site: brasilescola.com.br)

Os diferentes textos a serviço daperspectiva do alfabetizar letrando

• Professor: deve compreender a importância dotrabalho com diferentes textos na sala de aula emuma perspectiva de integração entre oscomponentes curriculares.

• Necessidade de romper com o conceito dealfabetização das décadas finais do séculopassado que voltava-se para uma compreensãoda mesma como processo que envolve atividadesde codificação e decodificação da escrita.

Fica claro não mais haver sentido em se trabalhar com osalunos os textos “artificiais” encontrados em cartilhas,principalmente porque:

• As crianças chegam à escola com conhecimentos sobre alinguagem adquiridos nas mais diversas situações.

• As práticas de leitura e escrita, vivenciadas em situaçõesinformais, são inúmeras e geram motivação eoportunidade de reflexão em torno dos diferentes textosque circulam em nossa sociedade.

• Informalmente, as crianças vão descobrindocaracterísticas sobre seus estilos, usos e finalidades.

Portanto, cabe à escola

... Sistematizar os conhecimentos relativos à produção eà compreensão de textos orais e escritos favorecendo ocontato dos alunos com textos diversos, para que, destaforma, possam não só, conforme distinção de MagdaSoares (1998), se “alfabetizarem” – adquirir a tecnologiada escrita alfabética, mas também, tornarem-se“letrados”, ou seja, fazerem uso efetivo e competentedesta tecnologia da escrita em situações reais deleitura e produção de textos.

Desafio para professores alfabetizadores:

• Construir práticas que contemplem duas dimensões de maneira articulada:

Um trabalho intenso de

apropriação

do sistema de escrita

Um trabalho voltado

para a interação por

meio dos textos.

Podemos desenvolver atividades:

Com foco mais claro no desenvolvimento de habilidades de

leitura e produção de textos; com foco na aprendizagem do

sistema de escrita; e atividades em que as duas dimensões

sejam contempladas, como as parlendas e os trava-línguas.

Mas há aprendizagens que podem ser estimuladas para

além do domínio do sistema de escrita, pois o trabalho com

textos no primeiro ano do Ensino Fundamental precisa ser

feito de modo a desenvolver diferentes capacidades e

conhecimentos.

Língua, linguagem e sociedade• Segundo Vygotsky (1991), a relação do sujeito com o

conhecimento se estabelece através de instrumentose signos. Para o autor, o uso de instrumentoshumaniza o homem transformando o curso de suaexistência de natural para cultural.

• [...] A função do instrumento é servir como umcondutor da influência humana sobre o objeto daatividade; ele é orientado externamente; devenecessariamente levar a mudanças nos objetos. [...] Osigno, por outro lado, não modifica em nada o objetoda operação psicológica. Constitui um meio daatividade interna dirigido para o controle do próprioindivíduo; o signo é orientado internamente.

(VYGOTSKY, 1991).

Compreensão sobre o fenômeno da língua

Chomsky

Final do séc. XIX

Língua é um conhecimento internalizado, construído

mentalmente de maneira ativa e produtiva a partir da

convivência social.

Saussure

Início do séc. XX

A língua é um sistema de signos.

Bakhtin

Séc. XX

“A verdadeira substância da língua é o fenômeno

social da interação verbal.”

Benveniste

Séc. XX

A enunciação como ato de tomar palavra, formulando

frases, textos, discursos.

Organização do trabalho com os gêneros textuais

Para Mendonça e Leal (2005), a organização dotrabalho com os gêneros textuais em cada ano escolardepende dos objetivos pedagógicos propostos e dashabilidades e competências que se pretende explorar.

Assim, para um trabalho com o mesmo tema noprimeiro ou terceiro anos do Ensino Fundamental,poderíamos ter a leitura e produção dos mesmosgêneros textuais, mas a atuação do educador develevar em conta os níveis de aprofundamentorequeridos em cada ano do ciclo da alfabetização.

Mas afinal... O que é gênero textual?

Para Bakhtin (1992), o gênero se define como "tipos relativamente estáveis

de enunciados" elaborados pelas diferentes esferas de utilização da língua.

Considera três elementos "básicos" que configuram um gênero discursivo:

conteúdo temático, estilo e forma composicional. Nas condições de

produção dos enunciados e dos gêneros discursivos, inserem-se as

intenções comunicativas e as necessidades sócio-interativas dos sujeitos nas

esferas de atividade, em que o papel e o lugar de cada sujeito são

determinados socialmente. Em cada esfera de uso da linguagem, há uma

concepção padrão de destinatário a que se dirige o locutor; esse

destinatário sempre adota uma atitude responsiva ativa diante da

totalidade acabada do gênero. O discurso estabelece intercâmbios

socioculturais, frutos de processos cognitivos e conhecimentos acumulados

historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa.

Para desenvolver diferentes capacidades e conhecimentos nas crianças são necessárias:

SITUAÇÕES

em que outras pessoas

leem para as crianças

de leitura compartilhada

e de leituraautônoma

de produção de

textos, em que o professor seja

o escriba

O fundamental é que todas asaprendizagens ocorram de maneirasignificativa, nas quais as crianças falem,escrevam, escutem, leiam para participarde situações de interação real eintervirem na sociedade.

Função dos gêneros textuais na relações sociais

Há visivelmente um sujeito, o locutor-enunciador, queage discursivamente (falar/escrever), numa situaçãodefinida por uma série de parâmetros, com a ajuda deum instrumento que aqui é um gênero, uminstrumento semiótico complexo, isto é, uma formade linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo,a produção e a compreensão de textos.

(SCHNEUWLY, 2004)

Mas, por que trabalhar com gênerostextuais na sala de aula?

“Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, aoouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiraspalavras, pressentir-lhe o gênero, adivinhar-lhe o volume (aextensão aproximada do todo discursivo), a dada estruturacomposicional, prever-lhe o fim. (...) se não existissem osgêneros do discurso (...), a comunicação verbal seria quaseimpossível” (BAKHTIN, 1997).

Mas, por que trabalhar com gênerostextuais na sala de aula?

Por que as práticas de linguagem são mediadas porinstrumentos culturais e históricos, ou seja, por gênerostextuais. Se a escola investe no ensino dos gêneros estaráfacilitando, portanto, a apropriação dos usos da língua.

Desse modo, pode-se dizer que a comunicação verbal só épossível por meio de algum gênero que se materializa emtextos que assumem formas variadas para atender apropósitos diversos.

Diferenças entre tipos textuais e gêneros textuais

• Tipos textuais: usamos esta expressão para tratarmos desequências teoricamente definidas pela natureza linguística da suacomposição:

Não são textos com funções sociais definidas. São categoriasteóricas determinadas pela organização dos elementos lexicais,sintáticos e relações lógicas presentes nos conteúdos a seremfalados ou escritos, distinguindo-se capacidades de linguagemrequeridas para a produção de diferentes gêneros textuais.(MARCUSCHI, 2005; MENDONÇA 2005; SANTOS, MENDONÇA E CAVALCANTE, 2006).

narração exposição

argumentação descrição injunção

Diferenças entretipos textuais e gêneros textuais

• Gêneros textuais: segundo Schneuwly e Dolz (2004), sãoinstrumentos culturais disponíveis nas interações sociais. Sãohistoricamente mutáveis e relativamente estáveis. Emergemem diferentes domínios discursivos e se concretizam emtextos, que são singulares (p.7).

• Assim, para que a interação entre falantes aconteça, cadasociedade traz consigo um legado de gêneros, por meio dosquais são partilhados conhecimentos comuns.

Diversidade dos Gêneros Textuais

• Em consequência das mudanças sociais, os gêneros sealteram, desaparecem, se transformam em outros gêneros.Desse modo, novos gêneros textuais vão se constituindo, emum processo permanente, em função de novas atividadessociais.

• Koch e Elias (2009, p. 08) destacam que os gêneros textuaissão diversos e sofrem variações na sua constituição emfunção dos seus usos. Explicando essa dinâmica de ampliaçãodos gêneros, as autoras apresentam como exemplos o e-maile o blog, que como recursos recentes decorrentes doprogresso tecnológico, são respectivamente transmutaçõesdas cartas e dos diários.

Desafio do trabalho com gêneros textuais

O grande desafio para o ensino relativo aocomponente curricular Língua Portuguesa étrabalhar com essa diversidade textual na sala deaula, explorando de forma aprofundada o que épeculiar a um gênero textual específico, tendo emvista situações de uso também diversas.

É preciso ainda, no trabalho em sala de aula com osgêneros, estar atento às seguintes dimensões quese articulam:

• aspectos socioculturais: relacionados a sua condição defuncionamento na sociedade;

• aspectos linguísticos: que se voltam para a compreensãodo que o texto informa ou comunica;

• aspecto sociointeracionais: convergem de formaindissociável fatores linguísticos, sociais e culturais.

Cuidados para um trabalho eficiente com gêneros textuais

1 - Escolher os textos a serem lidos, considerando-se nãoapenas os gêneros a que pertencem, mas, sobretudo, o seuconteúdo (o que é dito), em relação aos temas trabalhados.O objetivo é que as crianças aprendam a ler e escrever, mastambém aprendam por meio da leitura e da escrita.

2 - Propor situações de leitura e produção de textos comfinalidades claras e diversificadas, enfocando os processosde interação e não apenas as reflexões sobre aspectosformais.

3 - Escolher os gêneros a serem trabalhos com base emcritérios claros, considerando-se, sobretudo, osconhecimentos e habilidades a serem ensinados; as relaçõesentre os gêneros escolhidos e os temas/conteúdos a seremtratados.

4 - Abordar os gêneros considerando não apenas aspectoscomposicionais e estilísticos, mas, sobretudo, os aspectossociodiscursivos (processos de interação, como asfinalidades, tipos de destinatários, suportes textuais,espaços de circulação...).

Escolha dos gêneros textuais

O professor deve escolher como objeto de ensino, gêneros

com características composicionais, sociodiscursivas e

linguísticas relativamente diferentes entre si, pois, assim,

estará contribuindo para que seus alunos realizem diferentes

operações de linguagem e se apropriem de diversas práticas

de letramento.

Pensando nesta progressão e nas semelhanças (e diferenças)

entre os gêneros, esses foram agrupados em onze grupos.

Gêneros textuais - onze agrupamentos:

1) Textos literários ficcionais: São textos voltados para a narrativade fatos e episódios do mundo imaginário (contos, lendas,fábulas, crônicas, obras teatrais, novelas e causos).

2) Textos do patrimônio oral: poemas e letras de músicas(travalínguas, parlendas, quadrinhas, adivinhas, provérbios).

3) Textos com a finalidade de registrar e analisar as açõeshumanas individuais e coletivas e contribuir para que asexperiências sejam guardadas na memória das pessoas(biografias, testemunhos orais e escritos, obras historiográficase noticiários).

4) Textos com a finalidade de construir e fazer circular entre aspessoas o conhecimento escolar/científico (as notas deenciclopédia, os verbetes de dicionário, os seminários orais, ostextos didáticos, os relatos de experiências científicas e os textosde divulgação científica).

Gêneros textuais - onze agrupamentos:

5) Textos com a finalidade de debater temas que suscitampontos de vista diferentes, buscando o convencimento dooutro (cartas de reclamação, cartas de leitores, artigos deopinião, editoriais, debates regrados e reportagens).

6) Textos com a finalidade de divulgar produtos e/ou serviçose promover campanhas educativas no setor da publicidade(cartazes educativos, anúncios publicitários, placas e faixas).

7) Textos com a finalidade de orientar e prescrever formas derealizar atividades diversas ou formas de agir emdeterminados eventos. São os chamados textosinstrucionais (as receitas, os manuais de uso deeletrodomésticos, as instruções de jogos, as instruções demontagem e os regulamentos).

8) Textos com a finalidade de orientar a organização do tempo edo espaço nas atividades individuais e coletivas (as agendas, oscronogramas, os calendários, os quadros de horários, asfolhinhas e os mapas).

9) Textos com a finalidade de mediar as ações institucionais (osrequerimentos, os formulários, os ofícios, os currículos e osavisos).

10) Textos epistolares utilizados para as mais diversas finalidades(as cartas pessoais, os bilhetes, os e-mails, os telegramas).

11) Textos não verbais que não veiculam a linguagem verbal,escrita, tendo, portanto, foco na linguagem não verbal (ashistórias em quadrinhos só com imagens, as charges, pinturas,esculturas e algumas placas de trânsito).

O importante é: escolher, em cada ano, exemplares de gêneros de diferentes agrupamentos

• Se trabalharmos com gêneros pertencentes a um únicogrupo, os alunos com dificuldades de lidar com gênerosdeste grupo poderão encarar o ato da escrita como umobstáculo constante, algo difícil de ser superado,desmotivando-se para as outras aprendizagens.

Porém, ao variarmos os gêneros, daremos oportunidades aosalunos para também mostrarem suas melhores habilidadese, assim, contribuímos para mantê-los motivados a continuarseu processo de apropriação das práticas de linguagem.

Estratégias de Leitura

A estratégia de atuar como escriba e também como leitor maisexperiente permite ao professor a realização das atividades deleitura e produção de texto mesmo em turmas com muitosalunos não alfabéticos.Não há porque esperar que eles entendam a lógica do Sistema deEscrita Alfabética e escrevam convencionalmente para inseri-losem situações de leitura e escrita de textos variados.Trazer para a sala de aula diferentes textos, em diversossuportes, possibilita aos alunos compreenderem a função socialda escrita e uma ampliação dos conhecimentos que possuemacerca da realidade. A seleção de um gênero a ser exploradodeve levar em conta os objetivos didáticos que se desejaalcançar, bem como o projeto de comunicação que a turma estáenvolvida.

É importante ler para crianças no primeiro ano para que elas aprendam a:

• Compreender textos lidos por outras pessoas, de diferentesgêneros e com diferentes propósitos.

• Antecipar sentidos e ativar conhecimentos prévios relativosaos textos a serem lidos pelos professores ou pelas crianças.

• Reconhecer finalidades de textos lidos pelo professor ou pelascrianças.

• Localizar informações explícitas em textos de diferentesgêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitorexperiente.

• Realizar inferências em textos de diferentes gêneros etemáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.

• Estabelecer relações lógicas entre partes de textos dediferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outroleitor experiente.

• Apreender assuntos / temas tratados em textos de diferentesgêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitorexperiente.

• Interpretar frases e expressões em textos de diferentesgêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitorexperiente.

• Estabelecer relação de intertextualidade entre textos(construção a partir de um outro de texto).

• Relacionar textos verbais e não verbais, construindo sentidos.

No início da alfabetização... Ainda no primeiro ano:

• Ler textos não verbais, com compreensão.• Ler textos (poemas, canções, tirinhas, textos de tradição oral,

dentre outros), com autonomia.• Ler em voz alta, com fluência, em diferentes situações.• Localizar informações explícitas em textos de diferentes

gêneros e temáticas, lidos com autonomia.• Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e

temáticas, lidos com autonomia.• Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de

diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia.• Apreender assuntos / temas tratados em textos de diferentes

gêneros e temáticas, lidos com autonomia.• Interpretar frases e expressões em textos de diferentes

gêneros e temáticas, lidos com autonomia.

Estratégias de Leitura

Dois aspectos inerentes à leitura na escola: ao mesmo tempoem que ela é objeto de ensino, também se transforma emobjeto de aprendizagem, sendo necessário que tenha sentidodo ponto de vista do aluno, ou seja, que cumpra uma funçãovoltada para a realização de um propósito por ele conhecido evalorizado.

Em consequência, cada situação de leitura responderá a umduplo propósito. Por um lado,um propósito didático: ensinarcertos conteúdos constitutivos da prática social da leitura,com o objetivo de que o aluno possa reutilizá-los no futuro, emsituações não didáticas. Por outro lado, um propósitocomunicativo relevante desde a perspectiva atual do aluno.

(LERNER, 2007, p. 30)

Estratégias de Leitura

Para que possamos compreender o que estamos lendo,desenvolvemos estratégias de leitura definidas por Solé(1998) como processos cognitivos e metacognitivoscomplexos, que exigem de quem lê a habilidade de:

e

.

PENSAR PLANEJAR

Estratégias de Leitura Portanto:

Explorar os conhecimentos prévios dos estudantes;

Fazer antecipações da leitura através da exploração dasilustrações, do título e do suporte textual e,

Levar os alunos a compreender o sentido geral do texto,

favorecerá o desenvolvimento de habilidades de leitura que serão de suma importância para alcançar os objetivos de

aprendizagem pretendidos.

É tarefa do professor propor a leitura de textos interessantes,que tenham significado para seu grupo de alunos, assim comoproporcionar um bom trabalho de exploração e compreensãodesses textos. (BRANDÃO, 2006) (p.31- Ano 2).

Estratégias de Leitura

Aproveitar o momento da leitura para resgatar osconhecimentos prévios dos alunos e fazê-los avançar.

Propor atividades diversificadas, em torno dos gêneros textuais,sejam eles orais ou escritos, para que o aluno desenvolva suacapacidade de ler com autonomia.

Estimular situações de leitura autônoma a partir de atividadesescolares organizadas, de maneira sistemática, em torno dosgêneros textuais.

Incentivar a leitura de livros e de fichas técnicas, uma vez quesão fundamentais para a busca e apreensão de informações.

Estratégias de Leitura

Trabalhar com mapas tendo como objetivo o letramentocartográfico dos alunos para que se familiarizem com o seu uso edominem as técnicas de leitura de qualquer representaçãográfica do território.

Fazer as atividades em grupo, contando com a ajuda dos alunosque já estão com uma escrita convencional ou em processo deconsolidação para mediar as atividades de leitura e servir deescriba para aqueles que ainda não dominam a escrita.

Promover situações significativas nas quais os alunos possamexercitar sua capacidade de argumentar, e mais ainda, possamrefletir de forma sistemática sobre as estratégias argumentativasem diferentes gêneros textuais, estimulando-os a darem suasopiniões e justificarem.

Sobre o processo de produção de textoA palavra texto tem a mesma origem que a palavra tecido.Podemos, então, criar a metáfora de que produzir um texto éjustamente tecer e entremear certos fios, com o objetivo deproduzir um tecido. Assim o tecelão seleciona os tipos de fiosque deseja utilizar, suas cores, sua espessura e define a formacomo irá entrelaçá-los. O resultado desse trabalho, ou seja, otecido final, vai depender das opções feitas pelo tecelão (...).Um processo semelhante acontece quando produzimos umtexto, ou seja: a seleção do vocabulário, do estilo de linguagem,do meio através do qual esse texto será veiculado, a quem essetexto se destina, que objetivos pretendemos atingir com essetexto, dentre outros. (COSTA VAL, 2005).

Produção de texto: a construção da escrita

As crianças operam formulando, testando ereformulando continuamente hipóteses sobrea organização e o funcionamento do textoescrito, sobre os mecanismos que constituem oprocesso de construção da representaçãoescrita da atividade interativa.

(COSTA VAL, 2005).

Princípios para compreender a construção da escrita da criança:

•A construção do conhecimento da escrita se baseia no

conhecimento da língua falada.

•A competência linguística dos falantes de uma língua é

essencialmente uma competência discursiva.

•O aprendizado da representação escrita de textos é,

necessariamente, mediado pela criação e articulação de

espaços de interlocução, unidades naturais da configuração

textual (“instância enunciativa” segundo Benveniste).

•A criança constrói, testa, e reconstrói hipóteses através das

quais adquire os princípios e estratégias da representação

escrita dentro dos padrões convencionais estabelecidos.

(COSTA VAL, 2005).

OPERAÇÕES IMPORTANTES PARA DESENVOLVER O PROCESSO DE PRODUÇÃO

DE TEXTO

A criança precisa saber coordenar as açõesde definir o que vai dizer (conteúdo dotexto), como vai dizer e como registrar nopapel.

Produções de texto em sala de aula

Considero a produção de textos (orais e escritos) como pontode partida (e ponto de chegada) de todo o processo deensino/aprendizagem da língua (...). Sobretudo, é porque notexto que a língua – objeto de estudos – se revela em suatotalidade enquanto discurso que remete a uma relaçãointersubjetiva constituída no próprio processo de enunciaçãomarcada pela temporalidade e suas dimensões.

É desta perspectiva que estabeleço, no interior das atividadesescolares, uma distinção entre produção de textos e redação.Nesta, produzem-se textos para a escola; naquela produzem-se textos na escola.

(GERALDI, 1991).

Para produzir um texto é preciso que:

• Se tenha o que dizer;

• Se tenha uma razão para dizer;

• Se tenha para quem dizer;

• Se constitua o locutor;

• Se escolha as estratégias para realizar os itens anteriores.

(GERALDI, 1991)

Produção de texto• Refletir sobre o contexto de produção de textos;• Planejar a escrita de textos considerando o contexto de

produção: organizar roteiros, planos gerais dos textos paraatender a diferentes finalidades, com ajuda de escriba;

• Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo adiferentes finalidades, por meio da atividade de umescriba;

• Gerar e organizar o conteúdo textual, estruturando osperíodos e utilizando recursos coesivos para articularideias e fatos;

• Utilizar vocabulário diversificado e adequado ao gênero eàs finalidades propostas;

• Revisar coletivamente os textos durante o processo deescrita em que o professor é escriba, retomando as partesjá escritas e planejando os trechos seguintes.

• Propor situações de leitura e produção de textos comfinalidades claras e diversificadas, enfocando os processosde interação e não apenas as reflexões sobre aspectosformais;

• Realizar leituras de textos diversos para que os alunostenham acesso aos conhecimentos relacionados ao tema queestá sendo estudado;

• Desenvolver estudo aprofundado de um gênero textual,como forma de desenvolver conhecimentos e capacidades decompreensão e produção de textos;

• Introduzir a produção de outros gêneros, tais como: ficha,tabela e receita culinária.

Produção de texto

• Revisar os textos após diferentes versões, reescrevendo-os demodo a aperfeiçoar sua funcionalidade e adequação aosobjetivos, aos leitores, à situação de interlocução (o queimplica rever ortografia, pontuação, sintaxe, coesão, estruturacomposicional, coerência, estilo de linguagem, estratégiasdiscursivas).

• Variar os gêneros textuais, dando oportunidades aos alunospara também mostrarem suas melhores habilidades,contribuindo, assim, para mantê-los motivados a continuar seuprocesso de apropriação das práticas de linguagem.

SOBRE A ORALIDADE

“Não há nada fora do pensador, nenhum

texto que lhe permita produzir a mesma

linha de pensamento novamente ou até

mesmo verificar se ele fez isso ou não. (...).

O pensamento apoiado em uma cultura

oral está preso à comunicação.”

(ONG, 1998)

SOBRE A ORALIDADE

A audição e a comunicação estão entrelaçadas, e isto tem a vercom a constituição e a trajetória da humanidade. “A sociedadehumana primeiramente se formou com a ajuda do discurso oral,tornando-se letrada muito mais tarde em sua história.”(ONG,1998).

O trabalho conjunto dos diferentes eixos da língua, por meio doalfabetizar letrando, tem por finalidade maior, que a práticapedagógica possa centrar-se não só na apropriação do Sistemade Escrita Alfabética, mas, igualmente, na capacidade deprodução e compreensão de textos de gêneros textuais orais eescritos.

Ações envolvendo o Texto Oral• Participar de interações orais em sala de aula (questionando, sugerindo,

argumentando e respeitando os turnos e a vez de intervir).• Escutar textos de diferentes gêneros, sobretudo os mais formais, comuns

em situações públicas, analisando-os criticamente.• Planejar intervenções orais em situações públicas: exposição oral, debate,

contação de história.• Produzir textos orais de diferentes gêneros, com diferentes propósitos,

sobretudo os mais formais comuns em instâncias públicas (debate,entrevista, exposição, notícia, propaganda, relato de experiências orais,dentre outros).

• Analisar a pertinência e a consistência de textos orais, considerando asfinalidades e características dos gêneros.

• Reconhecer a diversidade linguística, valorizando as diferenças culturaisentre variedades regionais, sociais, de faixa etária, de gênero dentreoutras.

• Relacionar fala e escrita, tendo em vista a apropriação do sistema deescrita, as variantes linguísticas e os diferentes gêneros textuais.

• Valorizar os textos de tradição oral, reconhecendo-os como manifestaçõesculturais.

Atividades voltadas para o desenvolvimento da Oralidade

• Participação dos alunos em situações de interações oraiscom questionamentos, sugestões e explicações sobre umdeterminado assunto.

• Fazer diariamente, junto com os alunos, uma síntese oraldas temáticas abordadas durante as aulas.

• Apresentar cartazes educativos e fazer a interpretação oralcom as crianças, destacando pontos como: assuntodiscutido; a leitura das imagens; como está organizado eas suas características.

Atividades voltadas para o desenvolvimento da Oralidade

• Trabalhar muitos textos da tradição oral como parlendas, poemasrimados, trava-línguas.

• Explorar textos do patrimônio oral como letras de músicas,quadrinhas, provérbios.

• Utilizar as adivinhas, um texto muito apropriado para trabalhocom a alfabetização: textos curtos que implicam um jogo depergunta e resposta. Por meio das adivinhas, o professor ajuda osalunos a desenvolver a fluência de leitura e também acapacidade de elaborar inferências, pois, para desvendar oenigma, terão que relacionar os seus conhecimentos prévios comas pistas que o texto traz.

É importante lembrar que:

Textos longos em situações de leitura autônomapodem desencorajar as crianças. Desse modo, aescolha dos textos é tão importante quanto oplanejamento das estratégias de mediação.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,1992.

BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi. O ensino da compreensão e a formaçãodo leitor: explorando as estratégias de leitura. In: SOUZA, Ivane Pedrosa;BARBOSA, Maria Lúcia Ferreira de Figueiredo. Práticas de leitura noensino fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PactoNacional pela Alfabetização na Idade Certa. Os diferentes textos emsalas de alfabetização: ano 01: unidade 05. Brasília: MEC, SEB, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PactoNacional pela Alfabetização na Idade Certa. O trabalho com gênerostextuais na sala de aula: ano 02: unidade 05. Brasília: MEC, SEB, 2012.

ReferênciasBRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacionalpela Alfabetização na Idade Certa. O trabalho com os diferentes gênerostextuais na sala de aula: diversidade e progressão escolar andando juntas:ano 03: unidade 05. Brasília: MEC, SEB, 2012.

COSTA VAL, M. G. O que é produção de texto na escola? Presença pedagógica.Belo Horizonte: Dimensão, v. 4, n. 20, mar./abr. 1998, p.83-87.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes.Editora da Unicamp, 1993.

GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes,1991.

KOCH, Ingedore V.; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos dotexto.São Paulo: Contexto, 2009.

Referências

ONG, Walter J. Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra.Campinas, São Paulo: Papirus, 1998.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. PortoAlegre: Artmed, 2007.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora.Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

MENDONÇA, Márcia; LEAL, Telma Ferraz. Progressão escolar e gêneros textuais.In: XAVIER, Antônio Carlos dos Santos; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia;LEAL, Telma Ferraz (Orgs.). Alfabetização e letramento: conceitos e relações.Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

SANTAELLA, L. A assinatura das coisas. Rio de Janeiro: Imago, 1992.

Referências

SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Márcia; CAVALCANTE, Marianne C.B.Trabalhar com texto é trabalhar com gênero? In: SANTOS, Carmi Ferraz;MENDONÇA, Márcia; CAVALCANTE, Marianne, C. B. (Orgs.). Diversidadetextual: os gêneros na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e tipos de discurso: consideraçõespsicológicas e ontogenéticas. In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard.Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras,2004.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:Autêntica, 1998.

Referências

SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. 2 ed. São Paulo:Martins Fontes, 1989.

SEMIÓTICA

Segundo Peirce: “O nome semiótica vem da raiz grega

semeion, que quer dizer signo”. Semiótica, portanto, é

a ciência dos signos, é a ciência de toda e qualquer

linguagem. (...). A Semiótica é a ciência que tem por

objeto de investigação todas as linguagens possíveis,

ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de

constituição de todo e qualquer fenômeno de

produção de significação e de sentido. (SANTAELLA,

1992)

LINGUÍSTICA

É a ciência que estuda a linguagem verbal, a gramática e aevolução dos idiomas. O linguista investiga as línguas dasdiversas sociedades e sua relação com outros idiomas. Analisaa estrutura e a sonoridade das palavras e das sentenças, osignificado dos termos e das expressões idiomáticas, bemcomo as diferenças de uso por grupos regionais ou sociais.Pode trabalhar na elaboração de material didático e noplanejamento de projetos de alfabetização. A informática e aestatística são ferramentas fundamentais em suas pesquisas,assim como bons conhecimentos de sociologia, antropologia epsicanálise. Em interação com especialistas em psicologia,estuda os processos que envolvem a linguagem e a mente.