o tempo que eu queria - primeiro capítulo

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Fabio Volo O TEMPO QUE EU QUERIA romance Tradução Joana Angélica d’Avila Melo

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Com mais de um milhão de cópias vendidas e um texto afiado e inovador, chega ao Brasil O tempo que eu queria, de Fabio Volo. Uma história emocionante da vida e do infinito amor que uma pessoa pode sentir por sua ex, e de sua luta, de sua coragem e de sua força para reconstruir os laços familiares.

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Page 1: O tempo que eu queria - Primeiro Capítulo

Fabio Volo

O TEMPOQUE EU QUERIA

romance

TraduçãoJoana Angélica d’Avila Melo

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Sou filho de um pai nunca nascido. Compreendi isso observando suavida. Até onde vai minha memória, não recordo ter visto nunca oprazer em seus olhos: poucas satisfações, talvez nenhuma alegria.

Isso sempre me impediu de desfrutar plenamente a minha vida.De fato, como pode um filho viver a sua se o pai não viveu a dele?Há quem consiga, mas ainda assim é cansativo. É uma oficina desentimentos de culpa que trabalha a todo vapor.

Meu pai tem sessenta e sete anos, é magro e tem cabelos grisalhos.Sempre foi um homem cheio de força, um trabalhador. Agora, porém,está fatigado, cansado, envelhecido. Foi decepcionado pela vida. Tãodecepcionado que, quando a descreve, muitas vezes se repete. Vê-lonessa condição desencadeia em mim um forte sentimento de proteção.Isso me enternece, me desagrada, eu queria fazer algo por ele, queriaajudá-lo de algum modo. E me sinto mal, pois me parece que nuncafaço o suficiente, que nunca sou o suficiente.

Com frequência, sobretudo nos últimos anos, observo-o às escon-didas. Olho-o atentamente e, em geral, acabo me comovendo semuma razão válida, a não ser pelo emaranhado interior que sintodesde sempre e que me mantém ligado a ele.

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Tivemos uma relação difícil, e nosso amor é daquele tipo que sóquem teve a coragem de se odiar pode conhecer. Aquele amor verda-deiro, ganhado, suado, procurado, lutado.

Para aprender a amá-lo, precisei dar a volta ao mundo.E, quanto mais me afastava dele, mais estava me aproximando, naverdade. O mundo é redondo.

Houve um longo período em que não nos falávamos. E não falarcom um genitor significa ter joelhos frágeis, significa precisar derepente se sentar por um instante. Não porque você fica tonto, masporque seu estômago dói. Meu pai sempre foi minha indigestão. Porisso, só comecei a amá-lo de verdade depois que consegui vomitartoda a minha raiva, meu ódio e minha dor, já que muitas dessas sen-sações tinham o nome dele.

Quando eu era pequeno, queria brincar com ele, mas seu tra-balho sempre o levava embora. Recordo-o sobretudo em duas situações:quando se preparava para ir trabalhar e quando descansava exaustodo trabalho. Em qualquer caso, eu devia esperar: para ele, eu vinhasempre depois.

Meu pai sempre me fugiu, e até hoje é assim. Antes, era o trabalho queo levava para longe de mim, agora quem o leva, devagarinho, é otempo, um adversário com o qual não posso medir forças, com o qualnão posso competir. Por isso, agora, vivo a mesma sensação de impo-tência que experimentava quando menino.

Sobretudo nos últimos anos, constato, sempre que o vejo, que eleestá cada vez mais velho e, lentamente, dia após dia, sinto que meescorrega das mãos. E já não me resta senão apertar com força aponta dos seus dedos.

Na idade de trinta e sete anos, olhando este homem jamais nas-cido, me ocorre a frase que Marlon Brando mantinha pendurada noquarto: “Você não está vivendo se não souber como viver.” Até hojeme pergunto o que posso fazer por ele. Ainda que agora o veja frágil,indefeso, envelhecido, ainda que eu já pareça mais forte do que ele, na

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realidade sei que não é assim. Ele é sempre mais forte do que eu.Sempre foi. Porque lhe basta uma palavra para me magoar. Oumelhor, menos ainda: uma palavra não dita, um silêncio, umapausa. Um olhar voltado para outro lugar. Eu posso me esgoelar e medebater durante horas, passar aos xingamentos, enquanto a ele, parame derrubar, basta uma pequena careta, feita com o canto dos lábios.

Se na vida de adulto meu pai foi minha indigestão, na de criançaera meu torcicolo. Porque eu fazia tudo sempre com a cabeça voltadapara ele, para um olhar seu, uma palavra, uma simples resposta.Mas sua reação era apressada: uma breve penteada nos cabelos, umbeliscãozinho na bochecha, o desenho que eu tinha feito para eleesquecido rapidamente sobre o aparador. Meu pai não podia me darnada mais, porque não só nunca percebeu minhas dores, minhasnecessidades e meus desejos como também nunca se deu conta sequerdos seus. Nunca se habituou a expressar os sentimentos, a levá-los emconsideração. Por isso eu digo que ele nunca viveu realmente. Porquese deixou à parte.

Talvez, por esse motivo, eu também, estupidamente, nunca otenha visto como uma pessoa que pudesse ter desejos, medos, sonhos.Ou melhor, cresci sem pensar que ele fosse uma pessoa: era simples-mente meu pai, como se uma coisa excluísse a outra. Somente quandome tornei adulto e, por um instante, esqueci que era seu filho com-preendi como ele realmente é e o conheci. Gostaria de ter sido adultoquando criança para falar com ele de homem para homem; assim,quem sabe, poderíamos ter encontrado uma solução para nossos pro-blemas, um caminho diferente para percorrermos juntos. Em vezdisso, agora que compreendi muitas coisas a seu respeito, tenho a sen-sação de haver chegado tarde. De ter pouco tempo.

Agora, quando o observo, tenho plena certeza de saber coisas dasquais ele nem suspeita. Aprendi a ver e a compreender o que ele escondedentro de si e que não consegue expor.

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A esse homem, durante anos, pedi amor de um jeito equivocado.Procurei nele o que não existia. Eu não enxergava, não entendia, eagora me envergonho um pouco disso. O amor que ele me dava estavaescondido em seus sacrifícios, nas privações, nas infinitas horas detrabalho e na opção por arcar com todas as responsabilidades.Pensando bem, não era uma opção, talvez aquela fosse a vida que todoshaviam levado antes dele. Meu pai é filho de uma geração que recebeuensinamentos claros e essenciais: casar, ter filhos, trabalhar para afamília. Não havia outros assuntos sobre os quais se interrogar, sópapéis preestabelecidos. É como se ele tivesse casado e tido um filhosem jamais ter desejado verdadeiramente tudo isso. Sou filho de umhomem que foi chamado às armas pela vida, para combater umaguerra particular: não para salvar um país, mas para salvar suafamília. Uma guerra feita não para vencer, mas para equilibrar ascontas, para sobreviver. Para seguir em frente.

Amo meu pai. Amo-o com todo o meu ser. Amo esse homem que,durante minha infância, nunca sabia quantos anos eu tinha.

Amo esse homem que até hoje não consegue me abraçar, que atéhoje não consegue me dizer: “Eu lhe quero bem.”

Nisso, somos iguais. Aprendi com ele. Também não consigo dizerisso.

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A persiana sempre quebrada

Nasci numa família pobre. Se tivesse de resumir em poucas pa-lavras o que significa para mim ser pobre, eu diria que é comoviver num corpo sem braços diante de uma mesa servida.Não conheço a pobreza que se costuma ver na televisão,

aquela de gente que morre de fome e não tem nada. Euconheço a pobreza de quem possui alguma coisa, de quemtem o que comer e tem até um teto, uma televisão, um carro.A pobreza de quem pode fingir que não é pobre. É umapobreza cheia de objetos, mas também de datas de venci-mento. Nesse tipo de pobreza, você é sortudo e azarado aomesmo tempo: há quem esteja melhor do que você e quemesteja pior. Mas, de qualquer jeito, é vergonha, é culpa, é cas-tração contínua. E também ansiedade, precariedade de tudo:é raiva reprimida, é baixar sempre a cabeça. Você não é tãopobre que só tenha a roupa do corpo, mas, em geral, os trajesque usa o deixam nu e revelam seu segredo. Basta um remendo

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para dizer quem você é. É um pensamento contínuo que lheocupa o cérebro e não deixa espaço para mais nada, sobre-tudo para nenhum tipo de beleza, porque a beleza não é fun-cional, não é útil. É um luxo que não lhe pertence.Com frequência você vive uma vida aparentemente normal

aos olhos dos outros, mas, na realidade, está sujeito a uma leidiferente: a da privação. E, aos poucos, vai aprendendo amentir. Esse tipo de pobreza é feito de mentiras. Às vezesgrandes, às vezes pequenas. Você aprende a dizer que o tele-fone de casa está quebrado quando, na verdade, foi desligado;que não pode sair para jantar porque tem um compromisso; queestá sem carro porque o emprestou, mas o fato é que não pagouo seguro ou não tem grana para encher o tanque.Você se torna perito na arte de mentir e sobretudo na de

dar um jeito: a arte de consertar, remendar, colar, pregar.Esse tipo de pobreza é a persiana quebrada que você mantémenrolada travando o cordão com um pedacinho de cartolina,o qual, se por acaso se soltar, faz a persiana descer de repentecomo uma guilhotina. É o azulejo que falta no banheiro, é oburaco embaixo da pia que deixa entrever o encanamento, éo pedaço de fórmica que falta no cantinho do guarda-louça.É a gaveta que fica em sua mão quando você a puxa. É aporta do armário que, para fechar, tem de ser levantada. Sãoas tomadas que ficam penduradas porque saem da paredequando você tira o plugue e, para colocá-las de volta ali dentro,você tem de desempenar os dois ferrinhos dentados. É amancha de umidade na cozinha, com a tinta que incha comomassa fermentada, e aquelas nuvenzinhas são tão convida-tivas que você precisa lutar contra a tentação de pegar umaescada e subir para estourá-las. São as cadeiras que se des-conjuntam, e fica perigoso se sentar nelas.

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É uma pobreza feita de objetos remontados com cola efita adesiva, uma pobreza que precisa de uma gaveta cheia deferramentas para reparar uma realidade que se despedaçapor todos os lados. Tudo é precário, tudo é provisório, tudo éfrágil e espera momentos melhores. Mas esses objetos con-sertados, na verdade, acabam durando a vida toda. Nada émais duradouro do que uma coisa provisória.Na primeira vez que ouvi meu pai dizer “sou um falido”,

eu não podia ter a mínima ideia do que isso significava. Eracriança demais. Quando ele disse essa frase, tinham vindoao bar uns senhores para levar umas coisas. Ali aprendioutra palavra: “penhora”. Desde então, sempre que desco-nhecidos entravam no bar ou em casa e levavam um objeto, eunão perguntava mais nada. Porque, embora não soubesse,entendia. E eu, menino, aprendia. Por exemplo, não sabia omotivo, mas compreendia que era por culpa daquelas pes-soas que o carro do meu pai estava em nome do meu avô, opai da mamãe. Assim se dizia, “em nome de”: eu não faziaa mínima ideia do que isso significava. Não sabia nada, masentendia tudo.Cresci vendo meu pai se matar de trabalhar na tentativa

de resolver os problemas.Ele tinha um bar e trabalhava ali o tempo todo, mesmo

que estivesse doente. Até aos domingos, quando o bar ficavafechado, passava grande parte do dia lá dentro, arrumando,ajeitando, limpando, consertando.Nunca saí de férias com meus pais. No verão, eu era

depositado nas mãos dos meus avós maternos, que alugavamuma casa na montanha.Aos domingos, a mamãe ia me ver, sozinha, e me levava

lembranças do meu pai. Não tínhamos sequer uma fotografia

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de nós três juntos em alguma localidade turística. Não podíamosnos permitir sair de férias juntos. Não havia dinheiro.Dinheiro... Vi meu pai pedir emprestado a todo mundo.

Parentes, amigos, vizinhos de casa. Eu o vi se humilhar e serhumilhado. Quantas vezes, em criança, me acontecia ir à casade amigos dele, gente que eu nem conhecia, e esperar na cozinha.Às vezes em companhia da dona, enquanto ele ia a outro apo-sento com o amigo para fazer “uma coisa”. A senhora desco-nhecida me perguntava se eu queria algo e eu sempre diziaque não. Não falava muito, sempre me sentia pouco à vontadee todos me pareciam gigantes. No fundo, acho que era amesma sensação experimentada pelo meu pai.Ele pediu dinheiro a todomundo, realmente a todomundo.

Até a mim, que era um menino. Um dia, veio me ver no meuquarto porque eu tinha febre. Eu estavamal, masme sentia felizporque minha mãe acabara de me dizer que o motivo da febreera que eu estava crescendo: assim que ela passasse, eu estariamais alto.— Sabia, papai, que quando eu sarar vou ter crescido?

Ficado grande como você?— Claro, até maior do que eu.Antes de sair do quarto, ele pegou meu cofrinho, um

hipopótamo vermelho. Disse que ia colocar o dinheiro nobanco. Convenceu-me dizendo que devolveria ainda mais,quando eu pedisse a grana de volta.Com o tempo, compreendi como estavam realmente as

coisas em relação ao meu cofrinho e me senti traído, enganado.Aprendi, desde então, a confiar pouco nos adultos e, por isso,cresci com uma fragilidade dentro de mim, obrigada forçosa-mente a se mascarar. Não tive ao meu lado uma figura forteque me desse segurança, que fizesse com que eu me sentisse

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protegido. Muitas pessoas, ao crescer, percebem que aquelegigante que é o pai não é, afinal, tão poderoso assim. Eu des-cobri isso desde menino. Como todo mundo, também queriaconsiderar meu pai invencível, mas para mim essa ideiadurou pouco.Meu pai trabalhava, trabalhava, trabalhava. Lembro-me

dele cochilando à mesa enquanto assistia ao telejornal. Suacabeça ia caindo para a frente devagarinho até que um golpefinal, como uma chicotada desferida com o pescoço, o acor-dava. Ele olhava ao redor para perceber onde estava e parasaber se eu e minha mãe o tínhamos visto. Fazia toda essa ins-peção movendo o queixo, como se estivesse mastigando.Como fazem as vacas. Eu o observava e via, antes da chico-tada, a cabeça ir cedendo aos poucos, e ficava esperando aqueda mais forte. E ria. Quando ele compreendia que euestava observando e percebendo tudo, me sorria e me piscavao olho. Isso me deixava feliz. Sempre que ele me piscava oolho, talvez às escondidas de minha mãe, eu me sentia cúm-plice e próximo dele: aquilo parecia uma coisa só para nósdois, os homens. Então tentava imitá-lo, mas, como não con-seguia, fechava os dois olhos. Ou então só um, usando odedo. A cada vez esperava que aquele momento fosse o iníciode uma nova amizade entre nós, mais íntima. Que ele final-mente tivesse resolvido brincar um pouco mais comigo e melevar sempre em sua companhia. Ficava tão feliz que minhaspernas, pendentes da cadeira, começavam a balançar para afrente e para trás. Como se eu nadasse naquela sensação. Masnada, a cumplicidade acabava ali. Depois de comer, ele selevantava para ir resolver pequenas coisas ou para voltar aotrabalho. Eu era pequeno e não entendia, simplesmente pen-sava que ele não me queria, não desejava estar comigo.

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Minhas tentativas para atrair sua atenção e seu amorfalhavam sempre. Com a mamãe eu conseguia; com ele,nada. Quando eu dizia algo divertido, ela ria, me elogiava,me abraçava, e eu me sentia dono de um poder desmesurado:podia mudar o humor de minha mãe, podia fazê-la rir. Comela eu tinha superpoderes. Mas com meu pai eles não funcio-navam. Eu não conseguia fazê-lo se encantar comigo.Recordo perfeitamente algumas coisas boas que ele fez

para mim e em minha companhia. Como quando a mamãefoi internada no hospital para uma pequena intervenção eminha avó veio passar uma temporada para nos ajudar.A vovó dormia no meu quarto, e eu ficava com ele na camagrande. Naqueles dias, de manhã, antes de descer ao bar paratrabalhar, ele me preparava um mingau sabor baunilha parao desjejum. Recordo até como a mesa era arrumada.Ou como naquela noite de sábado em que eu, ele e minha

mãe fomos comer numa pizzaria. Era a primeira vez que eusaía para jantar com eles. A mamãe disse:— E na segunda-feira, quando o funcionário da companhia

que fornece água vier cobrar, o que vamos fazer?— Não sei, amanhã resolveremos — respondeu ele.Enquanto nos dirigíamos à pizzaria, meu pai me colocou

em seus ombros. Recordo tudo perfeitamente. No começo,ele mantinha minhas mãos entre as dele, depois me seguroupelos tornozelos e eu apoiei minhas mãos em sua cabeça,agarrando-me aos seus cabelos. Ainda tenho a sensação de seupescoço entre minhas pernas. Fiquei altíssimo. Meu coraçãonunca estivera tão no alto. Naquela noite, não sei o que lhedeu, mas ele era um pai. Até fatiou a pizza para mim. A únicavez em toda a sua vida. Estava simpático, ria das minhastiradas. Minha mãe também ria. Naquela noite, éramos uma

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família feliz. Sobretudo ele. Talvez o homem que vi naquelanoite fosse meu verdadeiro pai. Ou, pelo menos, o que eleteria sido sem todos os seus problemas.Ao voltar para casa, no carro, de pé atrás deles, entre os

dois assentos, desejei que aquela noite não acabasse nunca.Então pedi:— Quando a gente chegar, posso ficar acordado mais um

tempinho com vocês?Mas depois adormeci dentro do carro.Na manhã seguinte, tudo estava como sempre. Era

domingo. A mamãe na cozinha, o papai no bar, arrumando.— Esta noite vamos sair para comer pizza de novo?— Não, esta noite vamos ficar em casa.

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