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14 Anuário MundoGEO | 2015

CAPA

O SETOR GEOESPACIAL NA VISÃO DOS EMPRESÁRIOSVeja o que pensam os empresários sobre temas relevantes para o desenvolvimento do setor de Geomática e Soluções Geoespaciais no Brasil

POR ALEXANDRE SCUSSEL Como está o setor geoespacial do Brasil sob a visão dos empresários? Quais as principais deman-

das e necessidades prementes do mercado? Quais ações deveriam ser discutiras e implementa-

das pelo governo e sociedade em geral para dar mais dinamismo e sustentabilidade econômica ao setor?

Acompanhe nesta matéria as opiniões de executivos de algumas das principais empresas atuantes no setor

geoespacial brasileiro, relatando o que pensam sobre legislação, tributação, recursos humanos, regras para

contratações, politicas públicas, concorrência, di�culdades, entre outros assuntos.

que priorizam o planejamento, a prevenção, a e�cácia

e o combate ao desperdício na manutenção, na reno-

vação e no redimensionamento das infraestruturas

públicas e privadas do país.

Na última década, tivemos avanços sociais, eco-

nômicos e tecnológicos signi�cativos no Brasil e se

as ações do poder público fossem condizentes com

as oportunidades que o mundo nos oferecia, pode-

ríamos estar em pleno desenvolvimento. Apesar das

grandes possibilidades, o Brasil passou por mais uma

década perdida e o que se vê atualmente é um cená-

rio de quem “gastou por conta” e que requer duros

ajustes econômicos. Portanto, a distância para o ple-

no desenvolvimento, com a meta de obter o status de

desenvolvido, está cada vez mais longa. Ainda assim,

mesmo com as turbulências, nota-se um crescimento

no mercado de Geomática e Soluções Geoespaciais

em relação ao ano anterior.

O orçamento 2015 do governo federal para o Pla-

no de Aceleração do Crescimento, com prioridades

em moradia, transporte, saneamento, saúde, defesa

e energia é de R$ 64,9 bilhões, ou seja um acréscimo

de R$ 1,7 bilhão em relação ao ano 2014. Baseando-se

nesses valores, podemos dizer que teremos mais um

ano de crescimento, mas a grande questão é saber

se o governo cumprirá ou não o que está previsto e

se o orçamento está compatível com o que se pre-

tende realizar.

Nestas condições, o setor de Geomática e Solu-

ções Geoespaciais só terá crescimento baseado nas

oportunidades sazonais e/ou regionais. A susten-

tabilidade econômica ao setor se dará mediante a

Por várias décadas falamos e ouvimos, tanto aqui

no Brasil como no exterior, do grande potencial do Bra-

sil quanto aos recursos minerais e energéticos, às ex-

pansões agrícola, industrial e comercial, bem como da

necessidade de investimento em infraestrutura para o

escoamento interno e externo dessas potencialidades.

Os países em pleno desenvolvimento consomem

grandes volumes de produtos e serviços de Geomá-

tica e Soluções Geoespaciais, os quais são fundamen-

tais em diversas fases do projeto de investimento em

infraestrutura, tais como, estudo de viabilidade; im-

pactos socioeconômicos; obtenção de licenças e de

regulamentações, elaboração do projeto executivo;

execução da obra; controle dimensional, orçamentário

e cronológico; validação quantitativa e qualitativa; ges-

tão e manutenção dos ativos e assim sucessivamente.

Existe a falsa sensação de que, onde já está feito,

não há tanta demanda de Soluções de Geomática e

Geoespaciais. No entanto, os países desenvolvidos

são os grandes consumidores de soluções cada vez

mais so�sticadas, com volumes de negócios incom-

paráveis aos países em desenvolvimento, pois são os

Takushi Narumi: Gerente Comercial na Embratop Geo-Tecnologias Ltda.

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFRAESTRUTURA

15

capacidade dos governantes de recolocar o

Brasil entre os primeiros no ranking mundial

na atração de investimentos, realização de

estudos e elaboração de projetos de cres-

cimento que realmente sejam executáveis

e, principalmente, na decisão política de

governantes e da sociedade de querer o

desenvolvimento pleno do País, como �-

zeram outras nações. Em minha opinião o mercado de geotec-

nologia, principalmente em se tratando do

Brasil, ainda carece de uma pesquisa estrutu-

rada sobre sua dimensão real e rami�cações.

Percebemos em nosso dia a dia que a difusão

do conhecimento e o surgimento de novas

tecnologias permitiu a criação de empresas

cada vez mais focadas em nichos (Dados, soft-

-wares e serviços) enquanto que pela ótica

dos consumidores há um crescente interesse

pela atualização de seus dados por análises

cada vez mais precisas, utilizando platafor-

mas diversas e preferencialmente integradas.

Essas indicações nos fazem crer que o

mercado está em crescimento, entretan-

to, as pesquisas existentes, em sua grande

maioria feita por agências estrangeiras, nos

apontam um mercado potencial que ainda

não parece ter sido alcançado, ou que está

mal dimensionado.

A divergência dessas observações nos in-

dica que uma coisa é certa: É necessária uma

ampla e profunda pesquisa do mercado de

geotecnologias no Brasil, em seus diferentes

segmentos, para orientar melhor as iniciativas

empresariais e fornecer sustentação para um

ambiente de investimentos privados no setor.

Em essência, produtos e serviços de tec-

nologia, como é o caso deste mercado, exi-

gem investimento continuo para se manter na

vanguarda e isso só é possível se o investidor

tem clareza dos riscos e oportunidades do

segmento. Países desenvolvidos costumam

garantir recursos para a execução de proje-

tos de geotecnologia, pois compreendem a

importância de dados sólidos e de boa quali-

dade na elaboração de estudos inicias e prin-

cipalmente em fase executiva.

Ainda que esteja melhorando, no Brasil

muitos gestores públicos ainda encaram os

dados e serviços de geotecnologia como um

gasto e muito pouco é investido. Outra gran-

de mudança necessária para este mercado é

a conscientização de uma política de investi-

mento em produtos geográ�cos. Não se pode

Eduardo Oliveira: Presidente da Santiago & Cintra Geo-Tecnologias

Luiz Henrique Godinho: Diretor Comercial na Bradar Ind. S.A

Nosso mercado de Geomática e de So-

luções Geoespaciais tem sofrido bastante

nos últimos anos. A possibilidade de maior

diálogo com o governo federal abre uma

porta para que possamos apresentar as de-

mandas de nosso setor. São vários os pon-

tos a serem discutidos e abrangem temas

diversos. Cito a seguir alguns pontos que,

a meu ver, têm travado o desenvolvimento

de nosso mercado:

Temos uma legislação de aerolevanta-

mentos anacrônica e que precisa ser re-

vista. A tecnologia evoluiu e a atual legisla-

ção di�culta a entrada de novas empresas

nesse segmento;

É fundamental a regulamentação do uso

de VANTs o mais rápido possível. O uso

desses equipamentos traz inúmeros be-

nefícios às empresas prestadoras de ser-

viços como aos seus clientes: rapidez, re-

dução de custos, produtividade, agilidade,

qualidade dos dados, etc. Vários países já

possuem regulamentação especi�ca e já

ganham com uso dessa tecnologia;

A tributação sobre instrumentos de medi-

ção tais como Estações Totais, receptores

GPS e sobretudo acessórios e peças de

reposição é absurdamente alta. Note-se

que o uso desses equipamentos dá-se so-

bretudo em projetos e obras de interesse

do próprio governo, tais como projetos de

regulamentação fundiária, obras diversas

de infraestrutura, etc. Não há sentido em

se tributar equipamentos de uso pro�s-

sional, sem similar no Brasil.

ignorar que uma boa base cartográ�ca é um

insumo primordial para um projeto de suces-

so em qualquer área de infraestrutura, evi-

tando desperdício de custos e investimen-

tos perdidos em retrabalho. Nem tampouco

que sistemas de informações geográ�cas

são ferramentas gerenciais riquíssimas e que

muitas vezes não são devidamente explo-

radas, seja por falta de treinamento ou co-

nhecimento das vantagens tecnológicas que

elas apresentam.

Fato é que o mercado de geotecnologia é

relativamente novo e pouco explorado, e para

que possa crescer e tornar-se o pilar de sus-

tentação de uma base sólida de informações

para suportar o crescimento do país, necessita

que o governo demande grandes projetos na

área de informações georeferenciadas, coisa

que até hoje é muito tímida.

Desta forma, acredito que a indústria de

geotecnologia será realmente forte no país

quando houver maior clareza da dimensão

e características deste mercado, e demanda

por grandes projetos de interesse nacional.

GEOMARKETING: EXPANSÃO E DESAFIOS

Pedro Figoli: CEO da Geofusion

Costumo dizer que o Geomarketing, ou

Inteligência Geográ�ca de Mercado, é a espa-

cialização do marketing. Ele está voltado para

problemas reais das empresas, integrando

suas estratégias de mercado à perspectiva

geográ�ca. Essa área de estudo foi criada na

década de 1930, nos EUA, por William Apple-

baum, que a de�nia a partir das relações entre

os espaços territoriais de uma organização e

a localização de seus clientes e fornecedores.

Embora continue verdadeiro, esse conceito foi

aprimorado com o passar dos anos.

Se antigamente negócios eram de�nidos

de acordo com o ‘faro’ ou intuição aguçada

dos administradores, hoje este processo exige

mais fundamentos. Em uma sociedade cujos

hábitos de consumo e a própria concorrência

mudam rapidamente, o empresário precisa

16 Anuário MundoGEO | 2015

so. Por isso, plataformas de Geomarketing são

relevantes, pois concentram em uma única

ferramenta todas as informações de que uma

empresa precisa, sejam sobre o mercado em

que atua, sejam sobre a própria organização

e seu desempenho.

O mercado brasileiro de geotecnolo-

gias vem privilegiando erroneamente a

ordem do trinômio formado pelo preço,

conteúdo e qualidade. Qualidade deveria

estar em primeiro lugar. O privilégio na or-

dem inversa vem causando grandes preju-

ízos às empresas e consequentemente ao

próprio mercado.

Preço baixo não signi�ca melhor preço.

É muito comum hoje os contratantes terem

o menor preço como o principal objetivo a

ser alcançado na contratação de serviços de

engenharia e aerolevantamento. Não é raro

a contratação ser feita por um comprador de

serviços comuns e sem os cuidados necessá-

rios e imprescindíveis a quaisquer serviços de

engenharia. Esses negociadores acreditam

que basta ter uma especi�cação dos serviços

que garantidamente receberão um serviço

de boa qualidade. Ledo engano! Ao negociar

com seus fornecedores, alguns contratantes

chegam ao absurdo de transferir a eles gran-

de risco �nanceiro e até o �nanciamento da

execução do trabalho. E o pior é que algumas

empresas, inconsequentemente, acabam

aceitando tais condições. Ainda mais grave

que isso é quando os contratantes se utilizam

do pregão, sem pré-requisitos, como moda-

lidade de compra para forçar a irresponsável

redução dos preços.

Conteúdo – É muito comum no merca-

do a contratação de serviços com conteúdo

desnecessário. Informações com alto custo

de obtenção são requisitadas sem a real ne-

cessidade para o objetivo da contratação. O

ter em mãos informações especí�cas de seu

segmento de mercado para sobreviver.

No Brasil, o crescente poder de compra da

classe C mostra que a população tem aces-

so a um volume de ofertas cada vez maior.

Assim, é essencial que as empresas saibam

onde estão seus compradores, além de como

alcançá-los. É neste contexto que o Geomar-

-keting se destaca.

Nos últimos 20 anos, as ferramentas pro-

grediram e ganharam importância nas estra-

tégias de expansão das organizações. Essa

evolução deve-se não apenas ao intenso

avanço tecnológico, mas também à popula-

rização de sistemas de localização.

O Geomarketing trouxe uma nova dimen-

são à análise dos indicadores dos negócios.

Tornou-se possível o cruzamento de infor-

mações de mercado com dados sociodemo-

grá�cos, do per�l do negócio e das atividades

econômicas de determinada área.

Além do planejamento para expansão, as

companhias também passaram a fazer uso

desta inteligência para de�nir suas estraté-

gias de novas ofertas/produtos e até mes-

mo para a identi�cação de gargalos para

seus negócios.

Apesar de maior popularidade no setor

varejista, outros ramos de atividade também

passaram a identi�car nesse instrumento

oportunidades para crescerem e se destaca-

rem em seus campos de atuação. Hoje, a uti-

lização da ferramenta tem ganhado força em

segmentos como o imobiliário, bancário, ins-

tituições de ensino e até mesmo na indústria.

Os avanços conquistados trazem às empre-

sas valor real, que podem ser traduzidos em

ações planejadas e resultados mensurados.

Apesar de ter conquistado espaço no

mercado, a utilização do Geomarketing ain-

da deve evoluir. Para o aproveitamento efeti-

vo das potencialidades dos sistemas digitais,

seja no incremento da produtividade ou no

atendimento das demandas dos usuários, é

fundamental a aplicação de parâmetros e me-

canismos de controle de qualidade dos dados.

Embora as fontes de pesquisas – o�ciais

e não o�ciais – no Brasil, tenham sido aper-

feiçoadas ao longo dos anos, ainda é preciso

melhorar a frequência das atualizações dos

dados fornecidos. Para atingirmos a excelên-

cia, precisamos consultar diversas fontes a �m

de ter um banco de dados atualizado e preci-

Valther Xavier Aguiar: Diretor Comercial da Esteio

mercado dá uma desmedida importância ao

conteúdo estético e bem menos à qualidade

técnica. Existem diversas alternativas de ma-

peamento e é muito comum os contratantes

exigirem a superposição delas, como por

exemplo, Mapeamento por Ortofoto, Resti-

tuição e Per�lamento Laser, nem sempre se

justi�cam todas estas opções. Outra prática

corriqueira do setor público acontece quan-

do, após a coleta inicial de preços e a partir

de uma especi�cação básica, altera-se o seu

conteúdo para maior e não revisa a estimati-

va; alguns até usam o artifício de considerar

o preço mínimo da fase inicial como o preço

máximo permitido para a futura coleta – pri-

vilegiando novamente o baixo preço.

Qualidade – Este quesito deveria ser o

mais importante; entretanto, quase sempre

é negligenciado. Poucos são os contratantes

que exigem contratualmente o controle de

qualidade, e por isso o mercado tem uma

grande coleção de casos de insucesso. Ao

praticar preços baixos, quase sempre o con-

tratado simpli�ca a execução e até elimina

o controle de qualidade, o que só contribui

para o fracasso. Somente empresas conso-

lidadas, com boa equipe e equipamentos

de qualidade incluem compulsoriamente o

controle de qualidade em todos seus orça-

mentos e serviços. Portanto, tenha sempre

em mente que, ao contratar uma boa em-

presa, o resultado também será bom, inde-

pendente de o cliente ter uma especi�cação

técnica bem detalhada ou não.

A falta de planejamento e atraso na con-

tratação é também muito comum, e suas

piores consequências são prazos exíguos

e impossíveis de serem cumpridos. Apesar

de diversos casos de insucesso e a inversão

do trinômio, o nosso mercado tem recen-

temente demonstrado sinais evidentes de

crescimento. A demanda tem sido estimu-

lada por diversos fatores, tais como: grande

divulgação das técnicas e tecnologias, gran-

de necessidade de infraestrutura do país e

o natural estímulo criado pelo Google Maps

e outros aplicativos semelhantes. A receita

de sucesso de qualquer serviço de geotec-

nologia não mudou: ter pro�ssionais habili-

tados e competentes nas fases de execução

e contratação e estabelecer sólidos critérios

que privilegiam a qualidade, o conteúdo e o

preço – necessariamente nesta ordem.

PREÇO, PREÇO, PREÇO, CONTEÚDO E QUALIDADE!

17

POLÍTICAS PÚBLICAS: PROJETOS DE INFRAESTRUTURA X DINAMISMO DO SETOR DE GEOMÁTICA

Fernando Leonardi: Diretor Presidente da Geopixel

Viabilizar os projetos de infraestrutura

é sem dúvidas um dos grandes desa�os de

qualquer governo, dado sua relevância e

contribuição para o desenvolvimento sus-

tentável de quaisquer pais no mundo, po-

rém será que estamos no caminho certo?

Estudos apontam que o Brasil investe

em infraestrutura um quinto menos que os

outros emergentes, sendo que nos quatro

principais modais (rodovias, aeroportos, fer-

rovias e portos) representam 0,6% do PIB.

O percentual é bem menor que a média de

outros países emergentes, que aplicam de

3% a 4% do PIB. Apesar do Brasil ter melho-

rado esses percentuais nos últimos anos, a

situação ainda é grave. Isso mostra o quão

longe estamos na competitividade!

Uma série de fatores di�cultam a efetivi-

dade das operações de infraestrutura, tais

como atraso na lei de licitações, projetos

mal feitos, contratos mal elaborados, em

consequência dos dois últimos, interven-

ções do TCU (Tribunal de Contas da União),

dentre outras.

A falta de investimentos em infraestru-

tura prejudica vários setores produtivos,

como por exemplo o agronegócio. O Brasil

apresenta anualmente recordes em safras

de grãos e outros produtos que impulsio-

nam as exportações. Porém, o setor en-

frenta di�culdades e limitações para reali-

zar o escoamento dessa riqueza, por falta

de boas rodovias, aeroportos, estradas de

ferro e portos #uviais.

Para que o país continue a crescer, é ne-

cessário planejar grandes obras estruturan-

tes e investir estrategicamente para garantir

um desenvolvimento sustentável.

As políticas públicas normalmente es-

tão constituídas por instrumentos de pla-

nejamento, execução, monitoramento e

avaliação, encadeados de forma integrada

e lógica, na forma de planos, programas,

ações e atividades.

Nesse sentido, o geoprocessamento

pode suportar esse processo, contribuin-

do de forma signi�cativa no planejamento

e monitoramento dessas obras através dos

insumos e ferramentas de GIS (Geographic

Information System), tais como imagens de

satélite (alta, média e baixa resolução), le-

vantamentos aerofotogramétricos (fotogra-

�as aéreas e dados laser), levantamentos

com GPS, estação total, vants e drones. O

uso conjunto dessas ferramentas e insumos

permite gerar conteúdos geográ�cos pre-

cisos, como por exemplo, modelos digitais

de elevação (DSM e MDT), dados vetoriais

em 2D e 3D, mapeamentos temáticos, car-

togra�a sistemática, POIs, desenvolvimento

WebGIS e etc.

Esse conteúdo, por sua vez, possibilita a

geração de soluções e a realização de aná-

lises especi�cas para a utilização nos mais

diversos tipos de projetos de infraestrutura,

como por exemplo, projetos de acessibili-

dade urbana, infraestrutura de iluminação

pública, projeto e manutenção de vias e

rodovias, engenharia de tráfego, projetos

executivos para as utilities, planos direto-

res, dentre outros.

Não há como ter crescimento sustentá-

vel sem investimentos e planejamentos em

infraestrutura, bem como abrir mão da ge-

otecnologia para tal �m. O Brasil é um país

que carece de cartogra�a atualizada, pois

dependendo da escala e da região as bases

cartográ�cas chegam a apresentar mais de

40 anos de desatualização. Essa desatuali-

zação cartográ�ca prejudica a tomada de

decisões necessárias para o planejamento

e gerenciamento de recursos, bem como na

solução de problemas em áreas tão varia-

das como desmatamento, meio ambiente,

transporte, demogra�a, educação, saúde

e segurança.

Somente de posse de conteúdo geográ-

�co atualizado, é possível realizar grandes

obras de infraestrutura, de forma planeja-

da e sustentável, permitindo assim, maior

competitividade de toda cadeia e com me-

nos desvios e atrasos nos projetos e obras

de infraestrutura.

18 Anuário MundoGEO | 2015

infraestrutura contratada que �que como le-

gado à sociedade. Para tanto, esses dados de-

vem ser colocados à público através de apli-

cações na Web ou através de bases de dados

públicas, com acesso livre.

Esta é, a meu ver, uma maneira moderna

e consciente de garantirmos o desenvolvi-

mento do país preservando a sustentabilida-

de, pois somente informação e transparên-

cia garantem que toda a sociedade participe

desse processo.

TRIBUTAÇÃO

César Antônio Francisco: Diretor Presidente da Engemap Engenharia, Mapeamento e Aerolevantamento Ltda.

A sugestão aqui é estruturar, no escopo

desses projetos, exigências de elaboração de

conteúdo geográ�co e sistemas de apresen-

tação desses dados para a sociedade. Quais

os benefícios destas exigências:

Maior transparência das obras. Na fase de

execução é que acontecem os grandes im-

pactos ambientais e socioeconômicos. So-

mente através do uso das geotecnologias a

sociedade poderá acompanhar de manei-

ra e�ciente os impactos. Essas informações

não são úteis apenas aos órgãos licenciado-

res e �scalizadores, são uteis também para

que a sociedade, principalmente aquelas

comunidades impactadas diretamente, pos-

sa avaliar e acompanhar o que está aconte-

cendo nesta fase crítica do projeto;

Apoio gerencial. Através dessas informações

geográ�cas e dos sistemas de disponibiliza-

ções, é possível acompanhar o andamen-

to das obras e, a partir dai tomar decisões

gerenciais capazes de garantir o bom an-

damento dos projetos. Muitos desses pro-

jetos são �nanciados por entes públicos e

privados, que podem ser impactados por

atrasos. Acompanhar de maneira e�ciente é

tarefa primordial. Somente a geotecnologia

pode prover ferramenta adequada a este

acompanhamento. A mera visualização de

“planilhas e relatórios”, não é tão informativa

quanto uma imagem de satélite ou mapas

mostrando o andamento das obras;

Informações legadas poderão apoiar as

operações futuras e o acompanhamento

das infraestruturas em sua fase operacional.

Dados precisos e atualizados, bem como

sistemas de apresentação e manipulação

dos dados apoiarão os futuros centros de

controle das infraestruturas instaladas. Os

registros históricos também poderão apoiar

e esclarecer situações de con#itos e even-

tuais disputas. Minimizando, em muito as

ações judiciais que normalmente ocorrem

após a implantação de grandes obras.

O que proponho é: Colocar nos projetos

técnicos, sejam eles para licitações ou para

concessões, exigências de construção de ba-

ses de dados geográ�cas antes da implan-

tação da obra e, adicionalmente, que sejam

coletadas informações durante toda a fase

de construção. Tais dados devem ser mode-

lados de maneira a se construir um verda-

deiro sistema de informações geográ�cas da

Paulo Roncada – Country Manager na Bentley Systems

Atualmente, os maiores desa�os da in-

dústria de construção brasileira são os au-

mentos da e�ciência, da transparência e da

qualidade das obras públicas. A infraestru-

tura de nosso país ainda sofre com a ine�ci-

ência que se traduz em aumento dos custos

orçados e no estouro dos prazos de entrega.

Entre as soluções destes problemas, acredito

que a introdução dos processos BIM (Buil-

ding Information Modelling) nos setores pú-

blico e privado é fundamental.

Enquanto algumas empresas brasileiras

estão começando a ver as vantagens da ado-

ção do BIM, a esfera governamental ainda não

se deu conta da importância deste processo.

Existem poucas iniciativas, como as dos Go-

vernos de Santa Catarina e Paraná que estão

desenvolvendo programas em seus Estados

para de�nir os padrões e datas para início da

implementação do BIM em obras públicas.

A utilização e implementação do BIM traz

resultados concretos pois de�ne processos

otimizados de trabalho. A prova disto é a lei

do governo britânico que de�niu o “BIM man-

date 2017”. Esta lei foi proposta pelo Parla-

mento Britânico em 2011 e deu 6 anos para

que todas as empresas se adaptassem a este

novo padrão de trabalho e passassem a fazer

suas obras em BIM. O resultado mais concreto

e evidente desta lei foi o megaprojeto cha-

mado Crossrail, hoje a maior obra de infraes-

trutura do continente europeu. A empresa

criada para projetar, construir e operar esta

ferrovia de 100 km de extensão, que cruza

por túneis subterrâneos a cidade de Londres,

conectando-se à rede existente do Metrô lon-

drino, adotou e implementou o BIM desde a

fase de planejamento, passando pela cons-

trução e chegando à operação e à manuten-

ção. Isto trouxe uma economia substancial

para o Crossrail que possibilitou que no ano

passado, quando o projeto chegou à marca

da metade da obra, que se atingisse exata-

mente 50% do orçamento e 100% dentro do

prazo estipulado.

Considerando a complexidade do merca-

do consumidor de soluções de engenharia

cartográ�ca e geoinformação, um dos aspec-

tos que se colocam como desa�os constantes

é a atual política tributária vigente no país.

A alta carga tributária incidente em nos-

so setor, especialmente em períodos de cri-

se do mercado, di�culta a saúde �nanceira

das empresas.

Nesse sentido, visando agilizar a dinâ-

mica comercial de contratação de servi-

ços, consideramos que algumas alterações

tributárias seriam muito relevantes para

o segmento:

Isenção de PIS/COFINS sobre servi-

ços de cadastramento imobiliário para ór-

gãos públicos;

Manutenção da cumulatividade do PIS/

COFINS (4,65% sobre faturamento) para

as empresas do lucro real, tal como ocor-

re na construção civil;

Isenção de PIS/COFINS na importação

de bens e serviços de tecnologia usados

na atividade;

Depreciação acelerada sobre bens adqui-

ridos pelas empresas do setor.

Em nossa visão, tais medidas, amparadas

por pesquisas de nossos tributaristas, cola-

borariam para incentivar o crescimento do

nosso segmento de negócio e impulsionar o

mercado brasileiro.

19

Exemplos como estes deveriam ser repli-

cados no Brasil, onde nos encontramos ain-

da numa fase muito imatura de implantação

do BIM. O BIM é muito mais que um concei-

to, mais que um software: é um conjunto de

processos integrados suportados por pessoas

e pela tecnologia que adicionam valor pela

geração, gerenciamento e compartilhamento

de informações sobre os ativos durante todo

o ciclo de vida dos ativos de uma obra de in-

fraestrutura. O BIM não tem um dono e todos

nós do mercado de infraestrutura devemos

contribuir na sua evolução e na sua implanta-

ção em nosso país, tendo como suporte as ex-

periências em mercados mais maduros, como

o Reino Unido e os Estados Unidos.

Com a mobilidade de informação dos

ativos que compõem um projeto, seja ele

pequeno ou grande, possibilitada pelo BIM,

todos os envolvidos se bene�ciam. Os pro-

blemas de retrabalho, de aumento de cus-

tos e de desperdício se devem à informação

pouco con�ável que trafega não somente

nas fases de projeto, de construção, de co-

missionamento e de operação, mas também

entre as empresas que compõem a cadeia de

suprimentos de serviços e equipamentos das

obras. Enquanto no Brasil estamos ainda dis-

cutindo as vantagem do modelamento 3D

na fase de projeto, conhecido como BIM de

nível 1, países como a Inglaterra já estão se

preparando para avançar do BIM de nível 2

da construção para o nível 3 da operação e

da manutenção, onde reside o maior bene-

fício da utilização do BIM.

Para atingirmos este grau de maturida-

de, o trabalho que nos impõe é a educação

contínua do mercado sobre a importância

da adoção do BIM e a promoção das ferra-

mentas tecnológicas que a suportam e, ao

mesmo tempo, a sensibilização da esfera go-

vernamental que passe a exigir que as obras

públicas tenham o BIM como um processo

mandatório. Isso bene�ciará a sociedade

brasileira a ter obras mais econômicas, que

estejam dentro dos limites dos orçamentos

propostos e que sejam �nalizados dentro

dos prazos estabelecidos.

QUAL A REAL DISTÂNCIA QUE SEPARA O BRASIL DA ÁFRICA DO SUL?

Weber Pires – Diretor Executivo da Satmap

O Brasil passa por uma crise institucio-

nal como jamais vista na história deste País,

grande parte aos diversos escândalos prota-

gonizados pelos nossos políticos.

Recentemente, tive a oportunidade de vi-

ver na África do Sul por dois anos, tal experiên-

cia me fez re#etir sobre os vários aspectos que

nos distanciam da África. Entre as diversas via-

gens que �z entre Johannesburg e São Paulo

pude observar a forma que cada sociedade se

posiciona em relação as suas riquezas natu-

rais. Se comparar com a experiência histórica

vivida recentemente pela África do Sul, com

20 Anuário MundoGEO | 2015

um dos piores regimes de discriminação ra-

cial, o “Apartheid”, a nossa história recente se

apequena diante da icônica �gura, inspirado-

ra de um verdadeiro estadista como Nelson

Mandela. Acho fundamental, para um país, a

presença de líderes e estadistas, que sirvam

de inspiração para o futuro.

Não tenho dúvidas que dispomos de todo

potencial de desenvolvimento social e eco-

nômico se comparados à África do Sul. Mas

nos falta o estadista! O ícone, o exemplo a

ser seguido. Se considerar que sem o básico:

educação, saúde, transportes e segurança não

temos como competir no mundo globaliza-

do. Acredito que o setor de Geomática pode

contribuir mais com o Brasil apoiando no for-

necimento de produtos e serviços fundamen-

tais para o planejamento básico de qualquer

país. Não se planeja bem sem mapas e sem

monitorar as mudanças. Quando decisões são

fundamentadas em aspectos político-parti-

dários se afastam do interesse público para o

interesse corporativo das minorias. Estamos

ávidos por decisões técnicas, queremos ofer-

tar o que existe de melhor da tecnologia Geo-

espacial por preço justo e sustentável, mas

infelizmente isso não tem acontecido. Preci-

samos de serviços e infraestrutura digna dos

impostos que pagamos neste país. Sofremos

pela falta de líderes dos quais possamos nos

orgulhar e inspirar as novas gerações a lutar

por um ideal. Faltam incentivos às empresas

para inovar e usar a geotecnologia. O que vi

na África não se compara ao Brasil, eles estão

anos à frente. O engajamento da sociedade

nas decisões importantes difere das nossas,

por isso os 5 mais modernos estádios de fu-

tebol do Mundo estão aqui. Mas faltam hos-

pitais, escolas, e portos. Se falar do Turismo

Ambiental a distância é bem maior. O cuidado

da Flora e Fauna e a conservação da Amazônia

deixam a desejar. Falta o uso sistemático de

ferramentas de informação geográ�ca para

planejar as ações de �scalização no país. A

distância que nos separa da África do Sul não

é só a geográ�ca é também a distância em

termos de Estadístas como Mandela e o Bispo

Tutu. A distância entre o Turismo Ambiental e

o Sexual Brasileiro. A da poluição do Pantanal

por agrotóxicos para a Savana Africana bem

preservada em Parques Nacionais e Privados

(Games Reserves). Existe ainda a distância entre

a Tecnologia Geoespacial para os Gestores

Públicos que lutam por orçamentos mirrados

para manter a estrutura funcionando, mas isso

é uma outra história.

QUAIS AS PERSPECTIVAS PARA A SOLIDIFICAÇÃO DO SETOR DE GEOMÁTICA E SOLUÇÕES GEOESPACIAIS NO BRASIL?

tórios efetivamente equipados. Nota-se que

poucas pesquisas estão sendo desenvolvidas

nas universidades brasileiras, estando o Brasil

restrito a poucos polos de conhecimento com

um corpo docente realmente quali�cado, ca-

paz de multiplicar o conhecimento nesta área.

Segundo a Revista Exame, atualmente o

Brasil aplica cerca de 1,3% do seu Produto

Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvol-

vimento, ocupando o 36° lugar no ranking

mundial, �cando atrás de países como Israel

4,2%, Finlândia 3,6%, Coreia do Sul 3,6%, Ja-

pão 3,4%, Alemanha 2,8%, Estados Unidos

2,8%, entre outros.

É comum veri�carmos que os jovens que

se destacam nesta área migram para outros

polos tecnológicos fora do país, em busca de

melhores oportunidades de quali�cação, seja

através de uma instituição com uma estrutu-

ra melhor ou ainda melhores oportunidades

de pesquisa.

O crescimento das Geotecnologias, bem

como de qualquer outra área, depende mui-

to de quali�carmos melhor os pro�ssionais

tanto para execução quanto para a contrata-

ção de serviços. É de suma importância que

também aqueles que contratem possuam

estrutura e conhecimento para poder espe-

ci�car, avaliar e defender com propriedade

os investimentos nesta área, sejam eles em

organizações estatais ou dentro das empre-

sas privadas, demonstrando assim a grande

importância da aplicação das geotecnologias.

Desta forma estaremos ampliando e solidi�-

cando o uso das geotecnologias em apoio

ao desenvolvimento.

Luís Antônio de Lima: Diretor Técnico da Fototerra

A todo o momento, quando falamos so-

bre incentivos para transformar ou solidi�car

algum setor da economia, passamos sempre

pelos pontos que causam impacto imedia-

to no nosso dia a dia, como carga tributária

elevada, burocracia nos processos adminis-

trativos, lentidão e falta de #exibilidade nos

processos de contratação, entre outros obs-

táculos que atingem praticamente todos os

setores da economia nacional.

Porém, nos últimos anos nos deparamos

com um problema tão grave quanto os men-

cionados, o qual não se tem ainda solução em

curto prazo, estou falando da carência de mão

de obra quali�cada.

Com a popularização das Geotecnologias

nos deparamos nos últimos anos com a falta

de pro�ssionais quali�cados. O investimento

em formação de novos pro�ssionais por parte

do governo é muito pequeno, falta investi-

mento nas Universidades e em pesquisas, o

que torna mais difícil o desenvolvimento do

mercado como um todo.

Esta carência �cou nítida nos anos de 2010

e 2011, quando a economia brasileira dava si-

nais de crescimento robusto, mas que infeliz-

mente não se concretizou. Nesse período era

comum veri�car a disputa no mercado pelos

pro�ssionais quali�cados, faltavam engenhei-

ros em todas as áreas e o governo já iniciava

uma discussão sobre #exibilizar a utilização

de mão de obra estrangeira.

Neste sentido é de grande valia que exis-

tam maiores investimentos nas universidades,

motivando e quali�cando melhor o corpo do-

cente, aplicando verbas na criação de labora-

Eneas Brum: Presidente da Imagem

Estamos saindo da infância. Nosso se-

tor entra na adolescência. Surgem novos

desa�os, necessidade de novas respostas

e hábitos a abandonar.

As empresas de Geotecnologia con�gu-

ram a maturidade do setor e fazem agora suas

escolhas de futuro. Não há mais os riscos de

morte na infância, agora o risco está em uma

21

escolha inadaquada de futuro, ou; o que é

pior, não escolher caminho algum. Há opções

do que vir a ser na juventude que se aproxima.

Vejo que um caminho, entre outros,

está em aprofundar-se no entendimento

dos processos e necessidades do Cliente,

tornando-nos conhecedores da Indústria

Vertical que atendemos. Neste caso colo-

camos os processos dos nossos clientes, e

também o jargão da sua indústria, acima

da abordagem especialista em geotecno-

logias. Falamos então em Tecnologia da In-

formação criando benefícios para determi-

nada Indústria Vertical.

Outro caminho, bem diferente, está

em especializarmo-nos em ofertar com-

ponentes de Geotecnologia para todo o

Mercado. Assim nos tornaremos muito for-

tes em ofertar Conteúdo, ou Software GIS,

ou Equipamentos, ou Desenvolvimento …

ou Infraestrutura.

Há algo em comum para ambos os ca-

minhos: o uso crescente por nossos clientes

de infraestrutura em Núvem.

Em alguns anos estaremos mais madu-

ros e nos reencontraremos. Será que as pro-

posições aqui colocadas terão acontecido?

É estimulante prever o futuro construi-

do-o como acreditamos.

RELAXEM, O PILOTO SUMIU!

que temos hoje. Sabemos também que o

baixo crescimento conviverá com uma in-

#ação em um patamar perigosamente alto.

E que a precária saúde �scal do governo,

que no apagar das luzes de 2014 dependeu

de uma alteração na lei de responsabilida-

de �scal para aprovar suas contas, não será

forte o su�ciente para que sejam feitos os

investimentos em infraestrutura necessá-

rios para libertar nossa economia do voo

rasante em que se encontra há quatro anos.

Este ano não será fácil também pelo que

ainda “não” sabemos. Até o momento, não

é possível prever se haverá governo, no sen-

tido técnico da palavra, sobre a economia.

A escolha de um economista com pecha de

neo-liberal, formado por Chicago, um dos

maiores santuários acadêmicos do libera-

lismo econômico nos EUA, e ex-executivo

de um grande banco privado, surpreendeu

positivamente os mercados e muitos ana-

listas. Mas como devemos interpretar esta

súbita mudança de ideologia? Viveremos

nos próximos quatro anos uma dualidade

crônica em que conviverão, de um lado,

ideias intervencionistas de esquerda, e do

outro o pragmatismo do tripé econômico?

Este seria, talvez, o melhor cenário entre os

possíveis, mas sabemos que o melhor nem

sempre vence. Não podemos descartar a

possibilidade do governo simplesmente

paralisar diante das pressões criadas por

esta contradição, e não consiga sequer fa-

zer o mínimo necessário para manter o país

andando de lado. E ainda nem falamos de

novos escândalos de corrupção nas esta-

tais, crise política, e outros males da moda.

Mas nem tudo à vista está em ruinas.

Basta olharmos um pouco mais além do

prazo mais curto, para vermos que, vejam

só, ainda somos o país do futuro. E desta

vez, creio eu, temos bons motivos para

acreditar nesta velha reza. Vejamos por-

quê. Nossa mais importante vocação é o

agrobusiness e assim seguirá sendo nas

próximas décadas. E para nossa felicidade,

estamos diante de uma mudança estrutural

na demanda global por comida em nos-

so planeta sem precedentes conhecidos,

pelo menos em termos absolutos, empur-

rada principalmente pela inclusão de mais

de um bilhão de chineses à classe média, e

secundariamente ao crescimento econô-

mico da Índia e outros emergentes. Este

contingente asiático de mais de dois bilhões

de bocas pretendem passar a comer pelo

menos três refeições ao dia nos próximos

anos. Muita gente, bem mais inteligente

que eu, acredita que este fenômeno, sozi-

nho, será su�ciente para mudar o mundo!

Tivemos uma prévia do poder da emergên-

cia chinesa durante os anos Lula, mas com

tudo é cíclico no universo, a onda em que

surfávamos estourou e temos de esperar a

próxima, que indubitavelmente acontecerá

nos próximos anos. Podemos também co-

locar outras benesses importantes na conta

do otimismo brasileiro, como estabilidade

institucional, paz religiosa e razoável coesão

social, a recém expansão, mesmo que ainda

frágil, da nova classe média, e o fato de que

até o momento ao menos ainda resistimos

sucumbir ao tsunami bolivariano que suca-

teou alguns de nossos mais importantes vi-

zinhos na última década. O cenário externo

também já ensaia uma recuperação, o que

apesar da possível pressão cambial no curto

prazo decorrente da redução de estímulos

de liquidez nos EUA, resultará certamente

em mais oportunidades que di�culdades

para o Brasil. Ligue o liquidi�cador e verá

que o caldo �nal não é tão escuro assim.

Mesmo sem piloto, di�cilmente nos estate-

laremos no chão, e temos grandes chances

de recuperar voo em breve. Até lá, temos de

ser pacientes, e não posso sugerir mais for-

temente às empresas que façam aquilo que

devem fazer sempre, tanto nos “ups” como

nos “dows”: invistam em inteligência. Este é,

talvez, o único ativo inerentemente acíclico.  

Reinaldo Gregori: Sócio-fundador e Diretor-geral da Cognatis

Ninguém acha que 2015 será fácil. An-

tes mesmo que os fogos se ascenderam

em Copacabana para celebrar o término de

um sofrido 2014, o governo já revisou sua

previsão inicial de crescimento para pouco

mais de nada no próximo ano. Alguns viram,

é verdade, neste ato um primeiro esforço,

por parte da nova equipe econômica, em

sinalizar um futuro com mais transparência

com relação aos prognósticos o�ciais. Pode

ser, mas é fato também que ninguém espe-

ra que as próximas revisões de crescimento

mudem para muito melhor a perspectiva

Márcio Lopes: Diretor de Negócios na Notoriun Tecnologia

Brasiliense, �lho de servidores públicos

e neto de um candango, que atuou ao lado

de Juscelino Kubitschek na realização do

sonho de Brasília, sempre esteve envolvido

diretamente ou indiretamente no mundo

da governança e das politicas públicas na

capital federal.

22 Anuário MundoGEO | 2015

Com a formação na área de tecnolo-

gia e especialista em geoprocessamen-

to, atuou por mais de 12 anos no servi-

ço público em cargos de liderança onde

uma ferramenta de gestão com qualida-

de e precisão das informações faria, para

a população e ao país, toda a diferença

no planejamento, na tomada de decisão

mais e�ciente e e�caz. Estes são os objeti-

vos pelo qual, hoje, o empresário trabalha

e desenvolve soluções especialistas em

geotecnologia, mas especi�camente com

o foco em Gestão.

Gerir é um conceito antigo e que todos

os gestores sabem bem a teoria, porém na

prática não é exercida de forma adequada

e muito menos de forma assertiva. Asser-

tividade, precisão e certeza do quando,

onde e porque, são conceitos que hoje o

uso da geogra�a atrelada à informação,

pode auxiliar de forma decisiva uma de-

cisão estratégica de um gestor público.

A popularização dos smartphones con-

tribui muito na disseminação do uso de

mapas, porém ainda é muito desconheci-

da toda a potencialidade de uma solução

geoespacial. Este é um trabalho diário a

ser feito, para que em cada projeto, além

do objetivo imediato pelo qual uma so-

lução está sendo utilizada, o gestor pos-

sa pensar além das expectativas e tra-

balhar de forma proativa em resultados

inovadores de grande impacto e retorno

ao cidadão.

O mercado está aquecido justamente

pela necessidade e carência de soluções

especialistas que possam fazer a diferen-

ça e atuar, não só como ferramenta meio

a um processo decisório, mas também

como uma peça chave ao sucesso de uma

gestão. Contudo, é importante ressaltar

que uma solução, mesmo que de muita

qualidade, não faz milagre. Uma equipe

quali�cada, atuação em todo o ciclo de

vida de um projeto e principalmente o

patrocínio institucional, são fundamen-

tais ao sucesso.

O governo vem aos poucos enxer-

gando esta necessidade e criando pre-

missas, ainda básicas, que fortalecem a

disseminação, o uso e a importância da

geotecnologia como forte instrumento

de politicas públicas. Neste sentido, acre-

dito que a Inteligência Geográ�ca deveria

ser institucionalizada, permeada em to-

dos os níveis da organização, trazendo

uma visão integrada, de forma a facilitar

o planejamento e apoiando diretamente

às decisões. Com certeza esta mudanças

seriam expressivas: Na Informação, com a

criação de novas percepções e a mudança

da forma de agir e pensar; No Processo de

trabalho, com a otimização e a criação de

um relacionamento organizacional; Na to-

mada de decisão, com análises avançadas

de forma mais e�ciente, e�caz e assertiva.

EMPREGO PÚBLICO DO GEOPROCESSAMENTO

Tendo em vista a crescente demanda

por soluções de monitoramento pelos

diversos setores civis e militares, o geo-

processamento e o sensoriamento remo-

to se tornaram prioridades junto às áre-

as de TI dos governos federal e estaduais;

objetivando o acompanhamento da evo-

lução física e �nanceira dos programas

governamentais e ações de �scalização

dos mesmos.

No Brasil, um país de dimensões con-

tinentais, o sensoriamento remoto se

demonstra como meio ágil e e�caz para

suportar o monitoramento das ações go-

vernamentais distribuídas por todo o ter-

ritório nacional. Entretanto, o aspecto eco-

nômico e logístico relacionados a estas

ações se demonstram ine�cazes e frágeis

para serem aplicadas ao longo de todo

o território. Neste contexto, os adminis-

tradores públicos descobriram e se cons-

cientizaram da necessidade de desenvol-

ver soluções baseadas no paradigma do

geoprocessamento para os mais variados

setores da administração pública, como

por exemplo: meio ambiente, segurança

pública, saúde, transportes, defesa mili-

tar e civil, etc.

Do outro lado desta demanda é neces-

sário notar a especialização dos pro�ssio-

nais e das empresas desse setor, não se

confundindo com as estruturas e respec-

tivas arquiteturas tecnológicas tradicio-

nais e já existentes no mercado nacional

e internacional. Os sistemas de geopro-

cessamento possuem características es-

pecí�cas, desde a etapa de levantamento

de requisitos, a entrada em produção e

administração. Assim, é comum veri�car-

mos experiências que acabam por atrasar

o avanço da disseminação da interface es-

pacial, principalmente por se desprezar

as especi�cidades deste tipo de solução;

acarretando retrabalho e, consequente-

mente, elevado custo dos sistemas base-

ados em geotecnologias.

Atualmente o mercado dispõe de ar-

quiteturas fundamentadas em softwares

proprietários, livres ou mesmo híbridos;

capazes de suportar os requisitos de uma

corporação. Cenário este bem diferente do

que há pouquíssimo tempo, quando as op-

ções disponíveis eram restritas a um gru-

po determinado de fabricantes. Mais uma

vez o apoio especializado é fundamental

para determinar a melhor opção de acor-

do com os requisitos técnicos, funcionais e

corporativos de cada organização. O Brasil,

inclusive, já conta com alternativas 100%

nacionais impulsionando o setor geotec-

nológico no país.

A janela de oportunidade que a indús-

tria especializada brasileira possui, desde

que conte com o apoio governamental, é

capaz de se posicionar no mercado inter-

nacional no que tange as soluções de geo-

-processamento. O momento de ruptura

do mercado em relação ao predomínio de

determinados produtos que detinham um

esmagador market share, estão se defron-

tando com alternativas nacionais capazes

de responder à altura.

Dessa forma, o mercado de geotecno-

logia no Brasil tem crescido e se estabili-

zado independentemente das soluções

internacionais oferecidas como única so-

lução até pouco tempo. Não só o nosso

país, como a América do Sul, possui grande

experiência, capacidade e ofertas tecnoló-

gicas capazes de atender a especi�cidade

deste seguimento.

Leonardo Barros: Diretor da HEX