o setor de serviços financeiros no contexto das negociações comerciais internacionais

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O Setor de serviços financeiros no contexto das negociações comerciais Internacionais.

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ÍndiceSumário Executivo 5

A Normativa Internacional sobre o Comércio de Serviços e de Serviços Financeiros 12

O “Sistema Multilateral de Comércio” Redefinido 12A OMC e os Acordos Regionais 13Comércio de Bens e Serviços 14O Lugar dos Serviços Financeiros 15Quais acordos 16

MERCOSUL: Protocolo de Montevidéu 16NAFTA: Capítulos XI, XII e XIV 17MERCOSUL-União Européia: Em plena negociação 17ALCA: Em plena negociação 18

Quais Setores? 20Serviços em Geral 20Serviços Financeiros 20

Que Comércio? 21Transfronteiriço 21Consumo no Exterior 22Presença Comercial 22Presença de Pessoas Físicas 23

Quais Princípios? 23Transparência 24Nação-Mais-Favorecida 24Acesso a Mercados 25Tratamento Nacional 26Regulamentação Doméstica 26Integração Econômica 27Exceções 28Balanço de Pagamentos 28Monopólios e Compras de Governo 28Defesa Comercial 29

Que Liberalização? 29A Mecânica de Liberalização 29Listando Compromissos 30

Compromissos Assumidos pelo Brasil em Serviços Financeiros 31

OMC: O Único Compromisso 31O Acordo Interino de 1995 (“The Ínterim Agreement”) 31As Negociações de 1997 32A Oferta do Brasil 33

Serviços de Seguros 33Serviços Bancários 34

ALCA: A Especificidade dos Serviços Financeiros 36Um Capítulo Financeiro em Separado? 36NAFTA vs. MERCOSUL 37Listas Positivas vs. Listas Negativas 40Serviços vs. Investimentos 42

Elaboração da Posição Oficial Brasileira 45

No Governo 45No setor privado 46

No Mercado de Capitais 46Serviços: Moeda de Troca, sem Representação 47

Pósfacio do Autor: Parâmetros Estratégicos para as Negociações Internacionaisem Serviços Financeiros 49

Anexo 1: Listas do Brasil na OMC 54

Anexo 2: Listas do México e Estados Unidos no NAFTA 61

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Sumário Executivo

1. As negociações comerciais têm ocupado um lugar de destaque nas discussões sobre apolítica externa brasileira. A importância do tema deve-se à presença do País em váriosprocessos de negociação. A Rodada de Doha, que ocorre no âmbito da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC), é a nona rodada de negociações do sistema multilateralde comércio desde os anos 40, a primeira desde a criação da OMC em 1995, envolven-do 147 países e virtualmente todos os temas que de alguma forma têm a ver com ocomércio internacional. O Brasil tem assumido um papel relevante nessas discussões,tornando-se um dos líderes de um bloco de países em desenvolvimento, o G-20, e umdos principais atores das negociações. No âmbito regional, as atenções estão voltadaspara a formação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que reunirá 34 paísesdas Américas e Caribe e onde se pretende levar a liberalização além do nível alcançadonas negociações multilaterais. Há também as negociações bi-regionais entre o Merca-do Comum do Cone Sul (MERCOSUL) e a União Européia, cujo objetivo é a conclusãode um acordo de associação entre os dois blocos.

2. Os mesmos temas encontram-se presentes na pauta de discussão desses espaços distin-tos de negociação. Os cronogramas de discussão e os prazos para a conclusão dosacordos são também amplamente coincidentes – sobretudo em relação ao prazo finalde dezembro de 2004. Assim, as negociações em todos os âmbitos relacionam-se econdicionam-se mutuamente num jogo complexo de intercâmbios, concessões e bar-ganhas. Serviços Financeiros é um dos setores de maior interesse dos países desenvol-vidos em conjunto com regras e disciplinas para investimentos, tanto diretos quantode portfólio de ativos. Regras e compromissos de liberalização nestes dois temas têminfluência direta sobre o mercado financeiro e sobre o mercado de capitais e, conse-qüentemente, afetam de forma sistêmica toda a economia nacional.

3. Todas as negociações comerciais internacionais são pautadas por “concessões cruzadas”entre setores e temas em negociação. O que ocorre com mais freqüência são concessõesentre setores - ou seja, países tendem a trocar a abertura de seu mercado em um setor(por exemplo, têxteis) pela abertura “recíproca” do mercado de um parceiro seu em umoutro setor (por exemplo, fármacos ou bens de capital). Desde que serviços foram inclu-ídos nas negociações comerciais internacionais, o âmbito das trocas intersetoriais se am-pliou consideravelmente. Países passaram a poder exigir a abertura do setor de serviçosem troca, por exemplo, de uma abertura de seus mercados agrícolas ou industriais. As-sim, o setor de serviços financeiros tem sido muito demandado por países competitivosna área financeira, tendo se tornado assim uma importante moeda de troca nas tratativas.Não há dúvida que a demanda brasileira por uma abertura dos mercados agrícolas dos

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países desenvolvidos gera uma “contra-demanda” desses países ao Brasil na área de ser-viços em geral e, em particular, em serviços financeiros.

4. A posição brasileira que definirá o que será ofertado e o que será preservado no jogo debarganhas depende da mobilização interna de cada setor e da capacidade de cada umdeles de fornecer subsídios aos negociadores brasileiros. Portanto, o setor de serviçosfinanceiros não pode se furtar à responsabilidade de prover elementos que auxiliem naconsolidação, por parte do Governo Brasileiro, de uma posição oficial que preserve osinteresses nacionais nessa matéria. Para fundamentar de forma consistente as suas de-mandas o setor privado deve conhecer as estruturas e mecanismos da normativa inter-nacional para o comércio de bens e serviços e para temas relacionados como proteçãoa investimentos. É fundamental, também, que se mantenha constantemente atualiza-do sobre o andamento das diversas negociações e que proponha formas de encami-nhamento de ofertas e demandas nos diferentes foros dos quais o Brasil participa.

5. No entanto, o setor privado de serviços ainda tem uma representação pequena e poucoatuante nas discussões sobre as negociações internacionais, em contraste com o está-gio consideravelmente avançado de atuação e representação dos setores agrícola eindustrial. Poucos são os segmentos do Setor de Serviços representados nas reuniõesda Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), entidade que coordena a participação em-presarial brasileira, ou nos grupos oficiais de discussão do Ministério das Relações Ex-teriores como o Grupo de Trabalho sobre Comércio Internacional de Mercadorias eServiços (GICI), a Seção Nacional de Coordenação de Assuntos Relativos à ALCA(SENALCA) ou a Seção Nacional de coordenação de Assuntos Relativos à AssociaçãoInter-regional Mercosul-União Européia (SENEUROPA).

6. A Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e a Companhia Brasileira de Liquidação eCustódia (CBLC), com o intuito de desenvolver um posicionamento para o setor, vêmdesde 2000 promovendo discussões sobre o tema das negociações internacionais. Em2001, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e com a Comissão de Valo-res Mobiliários, a BOVESPA organizou um seminário que teve como resultado a criaçãode dois grupos de trabalho, um em serviços financeiros e outro em investimentos, cujoobjetivo era levar à frente as discussões sobre as negociações internacionais. As reuni-ões destes grupos de trabalho contavam com a presença da CVM e de representantesdas principais entidades de classe do setor financeiro. Além da formação dos grupos, aBOVESPA e a CBLC encomendaram dois estudos com o objetivo de aprofundar a refle-xão existente a respeito do tema. Este texto é o resultado de uma dessas consultorias.

Acordos Internacionais em Serviços Financeiros

7. A idéia de incluir serviços financeiros no âmbito de um acordo multilateral de comércioencontrou fortes resistências durante a oitava e última rodada de negociações do Acor-do Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT – General Agreement on Tariffs and Trade), aRodada Uruguai (1986-1994). O receio quanto à inclusão de uma normativa internaci-onal de comércio de serviços sob a estrutura da Organização Mundial do Comércio(OMC), criada nesta rodada de negociações, baseou-se na percepção de que aliberalização e o comércio de serviços não deveriam ocorrer da mesma forma que aliberalização e o comércio de mercadorias.

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8. Serviços são de fato sui generis em sua estrutura e regulamentação – seja em nívelnacional ou internacional. A abertura de mercados de sapatos ou computadores é bemdiferente da abertura de mercados bancários ou de seguros. Contrariamente a bens, asprincipais restrições ao comércio de serviços não se dão por meio de tarifas aduaneirasaplicadas na fronteira, mas por meio de medidas diversas cuja aplicação se dá primor-dialmente dentro de mercados nacionais. No caso de serviços financeiros, ademais, asimplicações de uma abertura do setor são bem diferentes das que se referem ao setorindustrial ou até mesmo a outros setores de serviços. As atividades do setor requeremsupervisão, sobretudo no tocante a medidas “prudenciais” que possam garantir a esta-bilidade e solidez do sistema financeiro como um todo. Acordos internacionais devem,assim, assegurar um equilíbrio efetivo entre aspectos sistêmicos e comerciais da re-gulamentação financeira, de forma a não interferir na capacidade de bancos centrais eoutros órgãos competentes de monitorar, supervisionar e regulamentar tais ativida-des. Em serviços financeiros, a capacidade regulatória dos Estados não deve ser limita-da ou comprometida pelo processo de liberalização.

9. A singularidade dos serviços financeiros tem sido reconhecida por negociadores e váriosinstrumentos específicos como anexos, memorandos, capítulos e protocolos, têm sidocriados para tratar a liberalização do setor. Assim, o Acordo Geral sobre Comércio deServiços (GATS – General Agreement on Trade in Services), negociado na Rodada Uru-guai, ganhou um anexo sobre serviços financeiros, além de um “Memorando de Enten-dimento sobre Compromissos em Serviços Financeiros” e dois protocolos que esten-diam as negociações no setor para além do término da rodada. Do mesmo modo, osserviços financeiros receberam um tratamento diferenciado no MERCOSUL e no NAFTA(Acordo de Livre Comércio da América do Norte). Acordos como os da ALCA ou doMERCOSUL-UE dificilmente poderão se sustentar na ausência de um claro reconheci-mento da especificidade do setor financeiro.

10. Todos os acordos adotam uma classificação do comércio de serviços inicialmenteaplicada pela OMC. Tanto o GATS quanto os acordos regionais dividem o comércio deserviços em quatro diferentes modos de prestação. O Modo 1 engloba o comérciotrans-fronteiriço, onde nem o consumidor nem o prestador se locomovem (por ex.,uma corretora estrangeira operando desde seu país de origem, sem a intermediaçãode uma instituição local); o Modo 2 envolve o comércio que necessita do deslocamen-to do consumidor ao país estrangeiro (por ex., turismo); o Modo 3 envolve a presençacomercial de prestadores de serviços (subsidiárias, filiais, escritórios de representação,etc.) no país estrangeiro (por ex., bancos operando no país por meio da instalação deagências); e o Modo 4 que pressupõe a presença temporária do prestador de serviçosna forma de pessoa física no país estrangeiro (por ex., serviços de consultoria). Muitospaíses passaram nas últimas décadas por um processo de liberalização do Modo 3,permitindo a entrada livre de investimentos estrangeiros diretos no setor de serviços.Um dos temas mais sensíveis da negociação segue sendo a liberalização do Modo 1, ocomércio trans-fronteiriço.

11. A liberalização do Modo 1 poderia efetivamente ter importantes conseqüências para omercado de capitais brasileiro e para seus participantes. Caso o modo fosse plenamen-te liberalizado, seria possível às corretoras estabelecidas no exterior oferecer aos inves-tidores brasileiros ações ou debêntures por meio da internet. Essa prática, caso adota-

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da em larga escala, poderia afetar o sistema de intermediação do País e, conseqüente-mente, seus custos e competitividade. Tudo dependeria então da escala de operaçõesque passaria a vigorar no mercado doméstico e que, se reduzida de maneira significati-va, poderia comprometer a sobrevivência do sistema. Isso porque não apenas o acessode investidores brasileiros a títulos estrangeiros seria facilitado, mas sobretudo porqueesses investidores não precisariam mais utilizar instituições domésticas para acionarcorretoras sediadas no exterior. Além disso, uma abertura generalizada do modo 1teria efeitos importantes no tocante à proteção do investidor. Visto que as instituiçõesestrangeiras não estariam sob a jurisdição da CVM, a quem os investidores brasileirosrecorreriam em casos de má conduta ou mesmo fraudes?

12. Vale destacar que, se combinada com uma liberalização ampla dos fluxos de capitais,conforme prevêem as propostas dos EUA e U.E. nos vários acordos que estão em dis-cussão, a liberalização desse modo de prestação de serviços trará, muito provavelmen-te, a possibilidade dos investidores institucionais brasileiros adquirirem títulos emiti-dos no exterior através de instituições financeiras estrangeiras, reduzindo ainda mais aescala do mercado de capitais do País. Além disso, uma importante parcela da poupan-ça doméstica estaria financiando o crescimento e o emprego de outros países.

13. Há princípios comuns que permeiam todos os acordos. O princípio da regulamenta-ção doméstica, por exemplo, garante que os Estados Nações tenham o direito de regu-lamentar seus setores de acordo com seus objetivos de política nacional e sempre quea aplicação de uma medida vise garantir a qualidade do serviço ou do prestador deserviços. O princípio da transparência exige que toda a regulamentação pertinente aocomércio de serviços, ou qualquer alteração que seja feita nas normas que regem asatividades de determinado setor, sejam publicadas por meio de veículos de divulgaçãopreviamente definidos. Os princípios de liberalização propriamente dita, com base nosquais os países negociam concessões, são o “acesso a mercados”, a “nação-mais-favorecida” e o “tratamento nacional” – esses dois últimos correspondendo às duasfacetas do princípio da não-discriminação. O princípio do Tratamento Nacional deter-mina que deve ser dado a serviços ou prestadores de serviços estrangeiros o mesmotratamento dado aos serviços ou prestadores de serviços nacionais. Já a cláusula danação-mais-favorecida dispõe que países membros de um acordo não devem discrimi-nar no tratamento que concedem a cada outro país membro. Ou seja, todos as vanta-gens e privilégios concedidos a um membro do acordo devem ser estendidos aos de-mais membros. Assim, além de restrições ao acesso aos mercados domésticos, o que énegociado nesses acordos são restrições ao tratamento nacional e exceções à cláusulada nação-mais-favorecida.

14. Apesar de alguns princípios em comum, os acordos podem ser diferenciados pela suaestrutura normativa. No MERCOSUL, o instrumento que trata da liberalização do co-mércio de serviços é o Protocolo de Montevidéu, assinado em dezembro de 1997,cujas disposições baseiam-se nos princípios do GATS. A característica mais contunden-te do acordo é o prazo máximo de dez anos para a efetivação plena de uma área de livrecomércio de serviços. No entanto, a ambição expressa no texto do acordo não resultounum efetivo processo de liberalização. A negociação de compromissos e aimplementação dos mesmos ainda encontram-se pendentes.

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15. O NAFTA segue um paradigma diferente e trata o setor de serviços por meio de capítu-los específicos – dentre eles um que se refere especificamente ao setor de serviçosfinanceiros. Uma característica importante do acordo, que marca uma diferença emrelação aos outros acordos descritos aqui, é o tratamento único dispensado a investi-mentos – sejam estes em setores produtivos de bens ou em setores prestadores deserviços. As disposições para ambos os tipos de investimentos encontram-se num mes-mo capítulo enquanto, por exemplo, na OMC, o GATS trata investimentos em serviçoscomo um dos modos de prestação (modo 3 -presença comercial). Os investimentos naprodução de bens são tratados no acordo da OMC sobre Medidas de InvestimentosRelacionadas ao Comércio (TRIMS – Trade-Related Investment Measures). Na ALCA, odebate sobre qual tratamento dar a investimentos ocorre entre os defensores doparadigma GATS e do paradigma NAFTA. Os norte-americanos propõem tratar investi-mentos na prestação de serviços de forma similar ao NAFTA enquanto o Mercosul pro-põe dar aos investimentos em serviços um tratamento similar ao GATS.

16. Além da estrutura normativa, outra diferença entre os acordos reside no procedimen-to de consignação de compromissos de liberalização. No NAFTA, o procedimento éo de listas negativas – listas onde os países membros relacionam os setores e sub-setores sobre os quais não estão assumindo qualquer compromisso de liberalização.Setores ou sub-setores excluídos das listas, portanto, estarão automaticamente libera-lizados sem restrições. No MERCOSUL e no GATS, os setores são incluídos por meio delistas positivas. Os países membros listam os setores e sub-setores que pretendem libe-ralizar e assumem, dentro de cada um deles, compromissos específicos em cada umadas modalidades de prestação. O processo de liberalização pode avançar à medida quemais setores e sub-setores sejam incluídos na lista. Aqui setores ou sub-setores excluí-dos estarão plenamente livres de qualquer obrigação de liberalização.

17. É necessário ter clareza sobre quais são as conseqüências de cada método de negocia-ção. No caso dos países em desenvolvimento, a obrigação de listar tudo o que deve serpreservado do processo de liberalização representa uma enorme tarefa. A lista negati-va exige que os países conheçam a fundo seus regimes regulatórios e tenham comodefinir com segurança as medidas que necessitam manter por objetivos de políticanacional e as que podem ou desejam deixar de fora e assim submeter automaticamen-te ao processo de liberalização. Outra desvantagem para os países em desenvolvimen-to é que qualquer novo setor que surja após as negociações estará automaticamenteliberalizado, uma grande vantagem para os países mais desenvolvidos com grandesinvestimentos em pesquisa e desenvolvimento.

18. As listas positivas garantem que o processo de liberalização seja mais flexível e gradual.Como os regimes regulatórios de países como o Brasil estão em plena fase de mutação,inclusive por razões de re-regulamentação no contexto da abertura resultante dasprivatizações, concessões de serviços públicos e a entrada de outras formas de investi-mento direto estrangeiro, as listas positivas podem fazer mais sentido: o país mantémmargem de ação em setores não incluídos na lista, podendo aumentar a listagradativamente, na medida que a situação regulatória de cada setor evolua e torne-secada vez mais clara e definida. Em suma, por meio das listas positivas os países podemmanter o controle sobre o processo de liberalização.

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19. Há ainda um ponto fundamental que divide os negociadores na ALCA: a possibilidadede um investidor (pessoa física ou jurídica) acionar um Estado Nacional por meio domecanismo de solução de controvérsias previsto no próprio acordo. Mais uma vez adivergência separa os defensores dos paradigmas NAFTA e GATS/MERCOSUL. No NAFTA,investidores privados podem requerer a abertura de um processo arbitral contra osEstados Nacionais partes do acordo. Na OMC, as disputas no Órgão de Solução deControvérsias ocorrem somente entre Estados ou por meio destes.

20. O acordo sobre o comércio de serviços entre o MERCOSUL e a União Européia tam-bém terá como base as disposições do GATS. Do mesmo modo, um tratamento especi-al será dado ao setor de serviços financeiros. Assim como os norte-americanos na ALCA,os europeus têm demandado regras para propriedade intelectual, compras governa-mentais e investimentos, além de uma abertura significativa no setor de serviços. Oseuropeus também se interessam por uma liberalização ampla, nos quatro modos deprestação – inclusive no comércio trans-fronteiriço, um dos temas mais sensíveis emtodas as negociações.

Conclusão

21. Apesar dos impasses em alguns fóruns, as negociações continuam avançando em todasas frentes, ainda que com prazos cada vez mais “elásticos”. Assim, o jogo de barganhase trocas intersetoriais continua. À medida que os países desenvolvidos vão cedendo,apontando a possibilidade de alterar suas políticas de subsídios e de apoio interno eoferecendo uma abertura maior de seus mercados agrícolas, aumentam as pressõespara que o Brasil melhore suas ofertas de liberalização em áreas como investimento,compras governamentais e serviços, incluindo serviços financeiros.

22. É importante frisar que na OMC nada é acordado até que tudo esteja acordado, ou seja,os acordos são assinados em bloco (single undertaking, “empreendimento único”).Assim, ganhos substanciais em uma determinada área devem ser compensados porofertas generosas em outras áreas, seguindo o princípio da reciprocidade. Neste con-texto, há a perspectiva de uma troca entre algum grau de liberalização na área agrícolapor parte dos países desenvolvidos e uma abertura em serviços e investimentos porparte dos países em desenvolvimento.

23. Na conferência ministerial de Miami, em novembro de 2003, foi decidido que a ALCAseria negociada e implementada em dois níveis de compromissos: um nível básico, doqual participariam todos os países membros; e um nível avançado, do qual participari-am, por meio de acordos plurilaterais, os países interessados em assumir compromis-sos mais ambiciosos nos diversos temas da agenda. Assim, apesar de desde a reuniãode Miami não haver mais a obrigação de assumir compromissos profundos em diversasáreas, o Brasil continuará com o dilema entre participar ou não de negociações maisdelicadas (como serviços) e assim definir mais ou menos poder de barganha para ob-ter acesso a mercados de seu interesse (como os agrícolas).

24. Impasses ou atrasos nos processos de negociação não devem dar a impressão de queos setores envolvidos possam ou devam se acomodar. Pelo contrário, as indefiniçõesmilitam a favor de uma mobilização mais forte já que as negociações correm o risco de

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avançar de modo imprevisível e ofertas e definições de disciplinas podem surgir subi-tamente no processo negociador sem que os setores envolvidos estejam preparadospara a liberalização. Portanto, é necessário estar atento à evolução das discussões eidentificar, em cada espaço de negociação, as oportunidades e os desafios que se apre-sentam.

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A Normativa Internacional sobre oComércio de Serviços e de ServiçosFinanceiros

O “Sistema Multilateral de Comércio” RedefinidoAté 1995, o que se entendia por “comércio internacional” ou “sistema multilateral de co-

mércio” se referia ao “Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio”, abreviado “GATT” em inglês(“General Agreement on Tariffs and Trade”). O GATT, um acordo multilateral que desde 1947se aplicava ao comércio de bens, foi até 1995 o único instrumento que disciplinava o comérciointernacional. O sistema funcionava através de rodadas de negociação onde países participan-tes barganhavam reciprocamente a abertura de seus mercados e aprimoravam as regras e dis-ciplinas que governavam o comércio internacional.

Em 1993 terminava a última (oitava) rodada de negociações, a Rodada Uruguai, que haviacomeçado em Punta del Este em 1986. A Rodada Uruguai foi a mais ambiciosa negociaçãocomercial já concluída e logrou não apenas dispor sobre a abertura de mercados de produtoscomo também reformulou uma série de regras e disciplinas já existentes, agregou temas anti-gos como agricultura e têxteis ao sistema, fortaleceu a forma de resolver disputas comerciais eexpandiu o escopo do comércio internacional para além de bens, incluindo em seu âmbitotambém o comércio de serviços, os direitos de propriedade intelectual e algumas medidas decomércio relacionadas ao investimento. Para o setor financeiro, a inclusão do comércio deserviços no sistema multilateral de comércio foi certamente o elemento mais importante dopacote de resultados.

Ademais, a Rodada Uruguai criaria uma nova organização que substituiria o antigo GATT: aOrganização Mundial do Comércio (OMC). A nova organização seria então responsável pelaaplicação, monitoramento e solução de controvérsias de todos os acordos negociados na Ro-dada Uruguai. O GATT se tornaria apenas um dos três pilares da nova organização, ao lado doGATS (Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços) e do TRIPs (Acordo sobre Direitos dePropriedade Intelectual Relacionados ao Comércio). Como pode ser visto na figura abaixo, oorganograma da organização reflete isso.

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CONFERÊNCIAMINISTERIAL

CONSELHO GERAL

Reunião do Conselho Geral naqualidade de Orgão de Solução de

Controversias

Reunião do Conselho Geral naqualidade de Orgão de Avalização de

Políticas Comerciais

Órgão de ApelaçãoPainéis de Soluçãode Controversias

Comitês deComércio e Meio AmbienteComércio e DesenvolvimentoSub-comitê de países sub-desenvolvidosAcordos Comerciais RegionaisBalanço de PagamentosAssuntos Orçamentários, Financeiros eAdministrativos

Grupos de Trabalho sobreAdesões

Grupos de Trabalho sobreRelação entre Comércio e DesenvolvimentoInteração entre Comércio e Política deCompetitividadeTransparências em Compras GovernamentaisComércio, Dívida e FinançasComércio e Transferência de Tecnologia

Comitês deAcessos a MercadosAgriculturaMedidas Sanitárias e FitosanitáriasBarreiras Técnicas ao ComércioSubsídios e Medidas CompensatóriasPráticas de AntidumppingValorização AduaneiraRegras de OrigemLicenças de ImportaçãoRegras de Investimento Relacionadas aoComércio

Órgão de Supervisão de TexteisGrupos de Trabalho sobreEmpresas Estatais

Conselho de Direitos dePropriedade Intelectual

Relacionados ao Comércio

Conselho de Direitos dePropriedade Intelectual

Relacionados ao Comércio

Comitês deComércio de Serviços FinanceirosCompromissos EspecíficosGrupos de Trabalho sobreRegulamentação DomésticaNormas do GATS

Acordos PlurilateraisComitê de Comércio de Aeronaves civisComitê de Compras Governamentais

Acordos PlurilateraisComitê de Acordo sobreTecnologia da Informação

Agenda de Doha para o Desenvolvimento: CHC e seus órgãos

Comitê de NegociaçõesComerciais

Reuniões Especiais doConselho de Serviços / Conselho de TRIPS / Órgãode Solução de Controversias / Comitê deAgricultura / Comitê de Comércio eDesenvolvimento / Comitê de Comércio e MeioAmbienteGrupos de Negociações emAcesso a Mercados / Normas

Conselho de Comércio deBens

Reporta-se ao Conselho Geral

Reporta-se ao Órgão de Soluções de Controvérsias

Comitês plurilaterais informam o Conselho Geral ou o Conselho de Benssobre suas atividades, embora estes acordos não sejam assinados portodos os membros da OMC

Comitê de Negociações Comerciais se reporta ao Conselho Geral

Organograma da Organização Mundial do Comércio

Fonte:site da OMC: www.wto.org.

A OMC e os Acordos RegionaisA OMC não proíbe acordos regionais. Da mesma forma que o seu predecessor, o GATT, a

OMC permite acordos de livre comércio ou de integração econômica (que freqüentemente,porém não sempre, são regionais) que respeitem certas condições elementares. Os acordosnão devem representar um obstáculo ao comércio internacional, aumentando o nível de dis-criminação entre países. A OMC, através do Artigo XXIV do GATT e V do GATS, dispõe que os

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acordos devem incluir um comércio “substancial” (não devem excluir setores, por exemplo) edevem resultar em um nível agregado de proteção mais baixo do que o nível correspondenteantes do acordo. Assim, por exemplo, o nível de proteção agregada que resultou do NAFTAdeveria ser mais baixo do que o nível de proteção agregada que se obteria calculando as tarifase outras medidas de proteção dos três países membros do acordo – México, Canadá e EstadosUnidos. Caso contrário, acordos de integração estariam criando barreiras ao comércio emlugar de eliminá-las. Como o último Diretor-Geral do GATT costumava dizer, “regionalagreements must be building, and not stumbling, blocks for international trade” (“acordosregionais devem facilitar e não dificultar a abertura do comércio internacional”).

O gráfico abaixo demonstra a evolução dos acordos regionais e de integração econômicano período de existência do sistema multilateral de comércio. Cabe salientar o impulso querepresentou para a integração econômica a década de 90 quando mais de 80 acordos foramnotificados à organização.

Acordos Regionais Registrados na OMC

Fonte: OMC.

Para analisar se os acordos de livre comércio e de integração econômica cumprem as con-dições pré-estabelecidas, a OMC, tal como o GATT, mantém grupos de trabalho específicospor acordo. Assim, existe um grupo de trabalho para o Mercosul, outro para o NAFTA, outropara a União Européia, etc. A OMC não condenou ainda qualquer acordo e nenhum casocontra um acordo de livre comércio ou de integração econômica foi levado ao sistema desolução de controvérsias com base nas disciplinas do Artigo XXIV do GATT ou V do GATS. Aquestão do “regionalismo vs. multilateralismo” estará sempre presente nas relações comerci-ais internacionais e dependerá sempre da capacidade da OMC em disciplinar o recurso a dis-criminações e preferências característico dos acordos regionais.

Comércio de Bens e ServiçosO sistema da OMC tem uma particularidade importantíssima para o setor financeiro: inclui

no contexto do que se entende por “comércio internacional” não apenas o comércio de bens,mas também o comércio de serviços e, dentre eles, os serviços financeiros. Na Rodada Uru-guai uma das principais intenções dos Estados Unidos foi a de incluir o comércio de serviçosna pauta de negociações. A percepção norte-americana da importância desse tema para suaeconomia já datava da década de setenta – desde o Trade Act de 1974 que incluiu a palavra

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“and services” toda vez que referência era feita ao comércio de bens.O que os americanos queriam e lograram ao final da Rodada Uruguai, à imagem do GATT,

era a conclusão de um acordo multilateral de regras e princípios que pudessem governar aabertura dos mercados internacionais de serviços. O GATS foi assim concluído e, apesar daheterogeneidade e das diferenças entre o comércio de bens e o comércio de serviços, repre-senta hoje o único instrumento multilateral que governa as transações de serviços.

Além do GATS, vários acordos regionais hoje incluem o comércio de serviços como um deseus temas principais. O primeiro acordo a incluir serviços foi o acordo bilateral Canadá-Esta-dos Unidos, concluído em 1988 – o precursor do NAFTA, que por sua vez expandiria o âmbitode aplicação do acordo e agregaria como membro o México. Desde então, principalmentedepois da entrada em vigor da OMC em 1995, tornou-se praxe abordar o comércio de bens eserviços nos acordos de livre comércio e integração econômica. O Mercosul dotou-se de uminstrumento parecido com o GATS em 1997, enquanto as principais negociações comerciaisbrasileiras do momento, a ALCA e o Mercosul-U.E., contemplam a negociação de disciplinas eacesso a mercados tanto em bens como em serviços.

O Lugar dos Serviços FinanceirosOs serviços financeiros representam hoje um dos diversos setores de serviços sujeitos à

disciplina multilateral e regional de comércio. Assim, eles figuram como um dos setores doacordo do GATS, dos acordos pertinentes do Mercosul e fazem parte das negociações atual-mente em curso para a conclusão de uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e deum acordo Mercosul-União Européia.

A inclusão de serviços financeiros no âmbito da OMC quando da negociação da RodadaUruguai encontrou vigorosa resistência por parte das autoridades financeiras da grande partedos países participantes. Os tesouros nacionais, os bancos centrais e os ministérios da fazendaou economia dos diversos países de maneira geral não viam com bons olhos que o setorfinanceiro “se subordinasse” a um organismo internacional especializado em comércio – e nãoem finanças. Durante a maior parte das negociações da Rodada Uruguai (que duraram seteanos) houve um receio muito grande por parte do setor financeiro de que um organismocomo o GATT não fosse capaz de lidar adequadamente com o setor – que sua especializaçãofosse insuficiente para tratar de um assunto tão delicado quanto a liberalização do mercadofinanceiro.

Parte do setor privilegiava um acordo separado do resto dos setores de serviços – possivel-mente até mesmo fora do âmbito do sistema do GATT. Outra parte do setor aceitava falar emserviços financeiros em Genebra, porém com alguma adequação das disciplinas multilateraisàs “especificidades” do setor. O cerne da questão era como assegurar que qualquer liberalizaçãoque pudesse ocorrer ou qualquer disputa que viesse a surgir entre países membros fosse tra-tada com o devido cuidado e consideração. Para o setor, a liberalização de bens não tinhamuito a ver com a liberalização de serviços; no caso específico de serviços financeiros, umsetor cujas atividades se confundem com o próprio funcionamento da economia de um país, oparalelismo era menor ainda: abrir mercados de sapatos ou computadores em nada se asse-melha a abrir mercados de serviços bancários ou de seguros. Ademais, as implicações de qual-quer abertura são muito distintas entre serviços financeiros e outros serviços ou bens.

A solução seria encontrada através de anexos, memorandos, capítulos, protocolos e outrasmodalidades instrumentais especificamente talhadas para o tratamento de serviços financei-ros. É por isso que o GATS é dotado de um anexo sobre serviços financeiros e de um “Memo-rando de Entendimento sobre Compromissos em Serviços Financeiros”, além de dois proto-

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colos que estenderam as negociações sobre o setor para além do final da Rodada Uruguai.Tanto no Mercosul como no NAFTA o setor de serviços financeiros também tem tratamentodiferenciado de outros setores de bens e/ou serviços. Nas negociações da ALCA e do Mercosul-U.E., não existe ainda definição de como o setor será tratado, porém tudo indica que uma vezmais disposições específicas deverão ser aplicáveis.

O fato que o setor figure, apesar de tudo, em acordos de livre comércio, seja na OMC, sejaem nível regional, indica que os receios iniciais foram superados com base num entendimentode que o setor poderia fazer parte desses acordos sem que isso representasse um risco sistêmicoou uma negligência por parte das autoridades financeiras. As soluções encontradas incidiramprincipalmente sobre o reconhecimento de que o setor requer supervisão e que as relaçõescomerciais resultantes dos acordos não interfeririam de qualquer forma na capacidade dosbancos centrais e outras entidades competentes de monitorar, supervisar e tomar medidasadequadas sempre que necessário. Ou seja, a liberalização foi bem-vinda, porém desde quenão limitasse de qualquer forma as atribuições regulatórias das instituições nacionais respon-sáveis pela estabilidade e sustentabilidade do setor.

Quais acordosMERCOSUL: Protocolo de Montevidéu

O próprio Tratado de Assunção já previa, em seu art. 1º, a liberalização de serviços, nocontexto do objetivo máximo de se alcançar um mercado comum que implicasse a

“livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países, através,entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-tarifáriasà circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente”.

A ênfase do Tratado, portanto, é na livre circulação de serviços entre os países, o que revelamais uma intenção de estabelecer uma área de livre comércio para serviços do que propria-mente um mercado comum em serviços, onde a um espaço econômico único agrega-se umabarreira externa comum. Prova disso é que o trabalho do Grupo Ad Hoc sobre Serviços tam-bém optou por seguir essa linha ao se basear no paradigma do GATS cujo objetivo básico é ode criar uma estrutura normativa e um mecanismo para a liberalização de serviços entre osEstados Partes da OMC. O Protocolo de Montevidéu veio preencher então um espaço negoci-ador que se equipara ao chamado período de transição que teve lugar para o comércio debens dentro do MERCOSUL entre 1991 e 1994: completar a zona de livre comércio intra-zonaatravés da eliminação de gravames e restrições aplicadas ao comércio recíproco entre os qua-tro Estados Partes.

O Protocolo de Montevidéu inovou em termos de regras e disciplinas aplicáveis ao comér-cio de serviços, construindo sobre terreno familiar do GATS e, em alguns aspectos, indo alémdo GATS na aplicação de certas disposições. Ainda que pouco avançado em seu processo denegociação de compromissos e implementação dos mesmos, o Protocolo de Montevidéu járepresenta um acervo respeitável de normas, estruturas e mecanismos cuja aceitação por ou-tros países do hemisfério americano poderá determinar o futuro da normativa da ALCA relati-va ao comércio de serviços.

A característica mais contundente do Protocolo de Montevidéu refere-se ao compromissode realização de uma plena área de livre comércio de serviços entre os quatro Estados Partesnum prazo máximo de dez anos desde a entrada em vigor do instrumento. Até agora, o proces-so de liberalização tem sido mínimo entre os quatro países, o que parece se explicar mais por

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falta de empenho dos Estados Partes do que propriamente por razões de fundo que militemcontra a abertura dos mercados nacionais – em particular, o brasileiro. Essa constatação étanto mais grave quando se constata que o que se propõe na ALCA é algo que facilmentepoderia ser mais ambicioso na prática do que o MERCOSUL se propõe a fazer internamente naletra do Protocolo de Montevidéu.

NAFTA: Capítulos XI, XII e XIV

As negociações para a conclusão de um “Acordo de Livre Comércio da América do Norte”(abreviado “NAFTA” em inglês) tiveram lugar no começo da década de noventa. Já em agostode 1992 os governos do Canadá, México e Estados Unidos anunciavam a conclusão das nego-ciações que produziram um acordo que, como no caso de seu predecessor entre o Canadá eos Estados Unidos, incluía disposições sobre o comércio de serviços em vários de seus capítu-los. Assim, o Capítulo XI trata da questão de investimento, o Capítulo XII do Comércio Trans-fronteiriço de Serviços, o Capítulo XIII de Telecomunicações, o Capítulo XIV de Serviços Fi-nanceiros, o Capítulo XVI da Entrada Temporária de Pessoas de Negócios. Outros capítulos,marcadamente os relativos a normas, compras governamentais, propriedade intelectual e po-lítica de concorrência, monopólios e empresas estatais, também incorporam referências a te-mas afetos ao comércio de serviços.

Não são todos os capítulos sobre o comércio de serviços do NAFTA, contrariamente aoque se esperaria, que induzem ao livre comércio no setor. Em alguns casos, setores inteiros deserviços são virtualmente excluídos do âmbito de aplicação do acordo: serviços de transporteaéreo, de telecomunicações básicas e de transportes marítimos. Em outros casos, as disposi-ções limitam a aplicação de um determinado tema. O melhor exemplo disso é o movimentotemporário de pessoas que se limita a certas classes de pessoas físicas (“business persons”). Jáem alguns casos, o NAFTA foi além do acordo predecessor entre o Canadá e os Estados Uni-dos, dispondo sobre abertura para setores tais como o de transportes terrestres (excluído noacordo bilateral) ou sobre temas tais como o de propriedade intelectual. Finalmente, o verda-deiro ímpeto livre-cambista do acordo se revela em particular com relação ao setor de serviçosfinanceiros.

Uma característica importante do acordo do NAFTA que se introduz como opção nas atu-ais negociações da ALCA é o tratamento único que se dispensa no acordo ao tema “investi-mentos” – seja ele referente a investimentos em setores produtivos de bens (automotivo, porexemplo) ou em setores prestadores de serviços (telecomunicações, por exemplo). Discipli-nas sobre o investimento direto estrangeiro são reunidas num mesmo lugar: o Capítulo XIsobre Investimentos.

MERCOSUL-União Européia: Em plena negociação

Foi durante a quinta rodada de negociações do Comitê de Negociações Bi-Regionais (CNB),ocorrida entre os dias 02 e 06 de julho de 2001 em Montevidéu, que se iniciaram as negocia-ções tarifárias de bens e as negociações de serviços. Naquele momento, apenas a União Euro-péia apresentou sua oferta tarifária para bens e sua proposta para os textos da negociação deBens, Serviços e Compras Governamentais, enquanto que o Mercosul aproveitou para reafir-mar que apresentaria sua oferta de bens mais adiante. O objetivo inicial da UE foi o de alcançaruma liberalização progressiva e recíproca de uma parte substancial do comércio, sem excluirnenhum setor, em um período de 10 anos. Com relação ao setor de serviços, a posição da UEtem sido, desde então, a de buscar um acordo geral sobre todos os serviços, com base nasdisposições do GATS, sendo que no caso do setor de serviços financeiros um tratamento espe-

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cial talvez seja necessário, possivelmente por meio de um anexo às disposições gerais a seremacordadas.

Particularmente com relação ao setor de serviços, este representa, atualmente, apenas20% do volume de comércio entre a UE e o Mercosul, enquanto este setor representa, respec-tivamente, 50 e 80% das economias nacionais. A proposta da UE é que todos os serviços façamparte de um acordo de livre comércio, com uma liberalização substancial a partir da entradaem vigor do Acordo de Associação UE-Mercosul. As negociações de serviços começaram coma discussão dos princípios e das disciplinas.

Até julho de 2003, dez rodadas de negociações foram realizadas com vistas à conformaçãode um acordo de Associação Mercosul-União Européia. O Mercosul ainda não fez uma ofertana área de serviços, nem tampouco em compras governamentais. Em 12 de novembro de2003, Ministros dos dois blocos adotaram um programa de trabalho que estabeleceu novosprazos para as negociações. Uma possível finalização do texto de um acordo sobre o comérciode serviços ficou para julho de 2004, enquanto a negociação de ofertas de compromissos deliberalização deverá começar em abril de 2004. Vale ressaltar que um compromisso anterior(nona rodada do CNB em 17-21 de março de 2003) previa a apresentação das ofertas iniciaisem serviços (assim como em investimentos e compras governamentais) já em abril de 2003. Ocronograma atual prevê que as negociações sobre textos e sobre compromissos de liberalizaçãoem serviços e outros temas devem estar prontas para serem finalizadas até outubro de 2003.

Apesar do acordo estar sendo negociado pelo Mercosul, as listas de ofertas para liberalizaçãodo setor de serviços serão apresentadas individualmente pelos membros do Mercosul. Dada agrande diferença de legislação/regulação no setor de serviços entre os membros do Mercosul,é impossível se chegar a uma lista única de oferta. Com relação ao texto da negociação deserviços, até o presente momento não existe uma proposta do Brasil para o capítulo de servi-ços pois, pelo que consta, o Banco Central do Brasil ainda não apresentou sua avaliação deta-lhada da proposta de texto apresentada pela UE no V CNB, ocorrido em julho de 2001. Cabeapontar que a negociação no setor de serviços tem sido basicamente de reação às propostasapresentadas pela UE.

Assim como os Estados Unidos no contexto da ALCA, o maior interesse europeu tambémse concentra nas possibilidades de ganhos nas negociações de compras governamentais, pro-priedade intelectual, investimentos e serviços. Como na ALCA, a obtenção de concessões eu-ropéias em assuntos de interesse brasileiro e do Mercosul dependerá da capacidade brasileirae do Mercosul em fazer concessões nessas áreas.

ALCA: Em plena negociação

As negociações da ALCA sobre o comércio de serviços se inserem num contexto normativojá bastante variado na região e no mundo. Contrariamente às negociações sobre o tema noNAFTA ou na Rodada Uruguai, as negociações hemisféricas não deverão “re-inventar a roda”.Nesse sentido, a ALCA representa uma oportunidade para que todas as estruturas, mecanis-mos e procedimentos existentes voltem à mesa de negociação, desta vez como alternativas ouopções de paradigmas para a liberalização de serviços.

De uma forma geral, as diferenças dos instrumentos vigentes se resumem no distinto graude liberalização resultante de cada conjunto de disposições. Estruturas, mecanismos e proce-dimentos, em alguns casos, podem demandar um processo de liberalização mais rápido efluido, enquanto o oposto ocorre em outros casos. Grande parte dessa “batalha” se trava entreadeptos do paradigma NAFTA e adeptos do paradigma MERCOSUL (o que corresponde porsua vez ao paradigma GATS), em torno do efeito real de mercado das disciplinas correspon-

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dentes e da percepção que se tem desse efeito. Nas Américas, as preferências estão divididassendo que elementos híbridos dos dois principais regimes existentes despontam nos variadosacordos entre os países da região.

Os objetivos das negociações sobre o comércio de serviços no contexto da ALCA foramexplicitados na Declaração de San José, de março de 1998:

1) Estabelecer disciplinas para liberalizar progressivamente o comércio de serviços, demodo que permita alcançar uma área hemisférica de livre comércio, em condições deprevisibilidade e transparência.

2) Assegurar a integração das economias menores no processo da ALCA

O mandato para o Grupo de Negociações sobre Serviços acordado por vice-ministros fariareferência também ao desenvolvimento de uma estrutura que incorporasse direitos e obriga-ções e identificasse normas setoriais complementares, quando assim fosse adequado. Ou seja,entre a declaração ministerial e o mandato vice-ministerial, as negociações da ALCA sobreserviços se viram fundamentadas por princípios e objetivos característicos das negociaçõesque resultaram na conclusão do GATS durante a Rodada Uruguai (posteriormente adotadostambém pelo Protocolo de Montevidéu): liberalização progressiva, transparência, tratamentode países em desenvolvimento ou com níveis diferenciados de desenvolvimento, equilíbrioentre direitos e obrigações e possíveis disciplinas setoriais.

Durante um período preparatório, que se estendeu de março de 1995 a março de 1998, foiacordado que seis elementos de consenso deveriam ser abordados de alguma forma nas dis-cussões sobre serviços na ALCA: cobertura setorial, tratamento da nação-mais-favorecida, tra-tamento nacional, acesso a mercados, transparência e negação de benefícios. Tais elementosforam abordados nas discussões, que se seguiram de junho de 1998 a novembro de 1999 e,durante o ano de 2000, uma primeira minuta de capítulo sobre serviços foi elaborada, confor-me mandatado por Ministros em Toronto, Canadá em dezembro de 1999. Este texto seriaincluído na primeira minuta de acordo da ALCA, datada de 3 de julho de 2001. Uma segundaminuta de acordo aprofundaria aspectos relativos ao comércio de serviços e seria divulgadacom a data de 1º de novembro de 2002.

O texto atual da minuta de capítulo sobre serviços (capítulo XVI) consta já da terceiraminuta de acordo da ALCA, resultante da reunião de Miami e datada de 21 de novembro de2003. O texto continua totalmente em colchetes, o que indica a falta quase absoluta de acordosobre o conteúdo das possíveis disciplinas a serem incluídas. A nova minuta, além de reestruturaro texto em sua forma, agrega um esboço de capítulo sobre serviços financeiros – algo que nãohavia ainda constato das minutas de acordo anteriores. Trata-se do texto apresentado pelosEstados Unidos que reproduzia de forma integral o texto do capítulo sobre serviços financei-ros do NAFTA. Vale ressaltar que o texto ainda não foi objeto de discussão no grupo de nego-ciação sobre serviços.

A quantidade de colchetes no texto reflete grandes diferenças de posicionamento entre ospaíses participantes – marcadamente, entre o MERCOSUL e os países membros do NAFTA. Comoos dois maiores blocos do hemisfério já têm instrumentos sobre o comércio de serviços, não éfora de propósito supor que acordos serão mais fáceis em aspectos que coincidem nos doisinstrumentos e mais difíceis em aspectos que implicam diferenças substantivas de aplicação.

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Quais Setores?Todos os acordos que incluíram serviços em suas disposições o fizeram a partir da chama-

da “Lista de Referência” negociada durante a Rodada Uruguai e adotada como base do GATS.Desde então, existe um debate sobre a inclusão de “novos” serviços, assim como a possívelnecessidade de revisão de certas definições adotadas pelos países em suas negociações decompromissos de liberalização. Em todos os acordos a tendência é incluir quase todos ossetores de serviços. No GATS, existem exceções para direitos de tráfego, por exemplo, que é oaspecto mais importante no setor de serviços de transporte aéreo. No NAFTA, excluem-se ossetores de telecomunicações básicas, transporte aéreo e alguns serviços de cunho cultural,como os audiovisuais. O Protocolo de Montevidéu, por sua vez, não exclui nenhum setor.

Vale ressaltar que, em todos os acordos, exceção é feita a serviços “prestados no exercícioda autoridade governamental” – ou seja, serviços que não sejam prestados em bases comerci-ais nem em competição com um ou mais prestadores de serviços. No caso de serviços finan-ceiros, referência explícita é feita nesse contexto aos serviços prestados por bancos centrais;em termos de medidas, as chamadas medidas prudenciais (ou cautelares) são também exclu-ídas dos acordos, de forma a permitir que as autoridades monetárias as apliquem sempre queas condições assim o requererem. A definição do que constitui uma medida prudencial fica acargo de cada país – ou seja, não há uma definição única para medidas prudenciais e governostêm total discrição para defini-las de acordo com suas necessidades regulatórias.

Serviços em Geral

A lista de referência do GATS contém onze setores principais e foi estabelecida já prevendoitens residuais que pudessem captar novas atividades para cada setor. Além disso a lista serefere, para cada setor e sub-setor incluído, à “Classificação Provisória Central de Produtos”(“Provisional Central Product Classification – CPC”) – uma publicação das Nações Unidas,que contém itens e definições específicas. Os onze setores são os seguintes:

1) Serviços Prestados às Empresas, incluindo serviços profissionais;2) Serviços de Comunicações, incluindo Postais, de Telecomunicações e Audiovisuais;3) Serviços de Construção e correlatos de Engenharia;4) Serviços de Distribuição;5) Serviços de Educação;6) Serviços de Meio-Ambiente;7) Serviços Financeiros, incluindo Seguros, Resseguros e Bancários;8) Serviços de Saúde e Sociais;9) Serviços de Turismo e relacionados a Viagens;10) Serviços de Recreação, Culturais e de Esporte;11) Serviços de Transporte, incluindo Marítimos, Fluviais, Aéreos e Terrestres.

Dos onze setores, apenas os de telecomunicações e financeiros foram inteiramente revisa-dos e não seguiram a estrutura da lista contida na CPC. A Rodada de Doha certamente contri-buirá para aumentar o nível de precisão das definições e classificações constantes do docu-mento original da Rodada Uruguai.

Serviços Financeiros

Consistentes com sua hesitação inicial em incluir o setor financeiro nas disciplinas do siste-ma multilateral de comércio do GATT/OMC, as autoridades financeiras mundiais exigiram que

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as definições adotadas não fossem simplesmente uma transposição da CPC das Nações Uni-das. Assim, definições específicas que refletem a realidade do mercado financeiro foram adotadase constam de um anexo também específico que trata de serviços financeiros.

Em todos os acordos, são duas as grandes categorias de serviços compreendidos peladefinição de serviços financeiros: os serviços de seguros e relacionados com seguros; e, osserviços bancários e outros serviços financeiros. A lista constante do anexo sobre serviçosfinanceiros do GATS que continua sendo a base de todas as negociações sobre o setor especi-fica os seguintes serviços:

Serviços de seguros e relacionados com seguros:Seguros de vida, seguros outros que de vida, os resseguros, as atividades de intermediaçãode seguros (por exemplo, as de corretores e agentes de seguros e os serviços auxiliares deseguros tais como os de consultores atuariais).

Serviços bancários e outros serviços financeiros

Serviços bancários incluem todos os serviços tradicionais proporcionados por bancos taiscomo o recebimento de depósitos, os empréstimos de todos os tipos e os serviços depagamento e transferência monetária. Os demais serviços financeiros englobam o comér-cio de câmbio, produtos derivados de todo tipo de títulos e valores mobiliários, subscriçãode valores, corretagem de câmbio, administração de ativos, serviços de pagamento e com-pensação, administração e transferência de informação financeira, e serviços deassessoramento e outros serviços financeiros auxiliares.

Que Comércio?O GATS inovou muito a noção de “comércio internacional”. Enquanto o GATT só conside-

rava comércio o movimento de bens entre os territórios de dois países , o GATS refletiu aespecificidade do setor terciário e agregou outras formas de comercialização em sua definiçãode comércio de serviços. No jargão das negociações comerciais as outras formas passaram aser conhecidas como “modos de prestação” de serviços. Assim, na metodologia do GATS oque se conhece por comércio no comércio de bens - ou seja, uma exportação ou importaçãode um produto que cruza fronteiras nacionais - corresponde a apenas um modo de prestação– aquele conhecido como “comércio trans-fronteiriço”, por meio do qual serviços também “semovem” e cruzam fronteiras nacionais. Os outros três modos de prestação foram, portanto,além da noção tradicional de comércio internacional e incluíram novas formas decomercialização não contempladas nos cinqüenta anos de existência do sistema do GATT.

Todos os acordos regionais que incluem o comércio de serviços se referem aos quatromodos de prestação. No entanto, alguns, como o Protocolo de Montevidéu sobre o Comérciode Serviços do Mercosul, privilegiam uma definição de comércio que mantém os quatro mo-dos num mesmo contexto normativo. Outros, como o NAFTA e os acordos que nele se basei-am, separam os modos de prestação, em vez de mantê-los sujeitos a disposições comuns apli-cáveis a todos os serviços.

Transfronteiriço

O primeiro modo de prestação, o “comércio transfronteiriço”, refere-se ao comércio quepode ocorrer entre o território de dois países – um importador, outro exportador. Nesse caso,é apenas o serviço que cruza as fronteiras, sem o movimento de pessoas (físicas ou jurídicas).Ou seja, para a prestação de serviços segundo o modo 1, não é necessária a presença do

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prestador no mercado importador – seja este uma pessoa física prestadora de serviços ou umaempresa que se estabelece naquele mercado para prestar serviços. Os serviços que mais sereferem a este modo de prestação são aqueles que envolvem algum tipo de transporte – sejaele de informações (comunicações), de passageiros ou de carga (transportes). Esse modo épor definição análogo ao que sempre se conheceu por comércio de bens.

No caso de serviços financeiros, portanto, as atividades compreendidas no modo 1 se refe-rem a serviços que são prestados a partir de um mercado no exterior, como por exemplo umempréstimo concedido por um banco estrangeiro em sua praça de origem para uma pessoafísica ou jurídica residente no Brasil, ou a venda de uma apólice de seguros a uma pessoa físicaou jurídica residente no Brasil por uma companhia de seguros que sequer tem uma presençacomercial no Brasil.

Do ponto de vista da liberalização, o que se pretende nos diversos acordos de comércio éa eliminação de medidas restritivas, permitindo, no limite, a comercialização sem entraves deserviços financeiros e outros do território de um país estrangeiro para residentes nacionais.

Consumo no Exterior

O modo 2, o chamado “consumo no exterior”, foi a primeira inovação em relação ao co-mércio de bens tradicional tratado pelo GATT. Aqui se faz presente a noção de que para secomercializar um serviço é necessário o movimento, não do serviço como no modo 1, mas dopróprio consumidor – ou seja, que para haver uma comercialização em alguns casos o consu-midor deve se locomover do território do país de residência para o território do país prestadorou vendedor do serviço. O exemplo mais claro desse tipo de modo de prestação é o do turista(consumidor) que vai à Disneylândia (prestador) – um caso onde de fato se não ocorrer omovimento do consumidor, não haverá nenhuma exportação/importação de serviços.

No caso de serviços financeiros, o caso típico seria o de um brasileiro que se desloca atéNova York para contratar um empréstimo, comprar uma apólice de seguros, ou comprar açõesno mercado norte-americano. A distinção aqui é bastante sutil já que com freqüência o modo1 pode se confundir com o modo 2 e as mesmas atividades podem ou não envolver o movi-mento do consumidor. O consumidor poderia, em vez de ir a Nova York, telefonar, mandar umfax ou e-mail para o banco sem se locomover, efetivando assim, da mesma forma, uma transa-ção de empréstimo ou compra. Ou seja, a distinção reside na presença ou ausência de movi-mento por parte do consumidor/cliente. Essa distinção é importante quando países se com-prometem a liberalizar porque são diferentes as medidas restritivas que terão de eliminar casose trate de modo 1 ou 2. No modo 1 a pergunta é: “o país restringe a prestação de serviços porempresas não estabelecidas no território nacional?”. No modo 2, a pergunta é um pouco dife-rente: “o país restringe o movimento de seus nacionais quando se trata da contratação deserviços no exterior?”. Um exemplo de medida restritiva referente ao modo 2 em serviçosfinanceiros seria a incidência de multa sobre nacionais que contratem apólices de seguros noexterior; já no modo 1, a restrição seria a proibição de prestação de serviços por companhiasde seguros não estabelecidas no país.

Presença Comercial

O modo 3 se refere à presença comercial de prestadores de serviços estrangeiros no mer-cado nacional. Trata-se , portanto, de uma pessoa jurídica ou empresa que cruza fronteiraspara se estabelecer no mercado “importador”. Essa presença poderá ter uma de diversas for-mas, dentre elas a de subsidiárias, filiais, escritórios de representação, joint ventures, etc. Essetipo de transação sempre ficou fora do contexto do comércio de bens, sendo interpretada

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basicamente como uma transação de investimento e não de comércio propriamente dito. Asnegociações de serviços, ao prescrever que a proximidade do prestador e do consumidor/cliente era necessária ou pelo menos desejável em alguns casos (como o de serviços bancáriosde investimentos onde o contato com o gerente do banco pode de fato fazer uma grandediferença), estendeu a definição de comércio para incluir também o movimento de capitais delongo prazo que viabiliza uma presença comercial – ou seja, investimentos em serviços setornaram comércio de serviços.

Vale ressaltar que no NAFTA essa distinção foi de certa forma “resgatada”, pois no acordopreferiu-se separar o “modo 3” dos outros modos e incluí-lo num capítulo totalmente voltadopara a questão de investimentos – em bens e serviços. Ou seja, no NAFTA não existe umcapítulo único sobre serviços que abranja os quatro modos de prestação criados na negocia-ção da Rodada Uruguai do GATT – o que seria análogo ao que se fez no GATS e no Protocolode Montevidéu do Mercosul. Neste, a questão de investimentos, sejam estes em bens ou emserviços, foi unificada num só instrumento – algo que a OMC ainda não fez e que não estásequer claro que venha a fazê-lo. A possível separação do modo 3 e sua inclusão num capítulounicamente voltado para a questão de investimentos é uma das principais questões que opõeo Mercosul ao NAFTA nas atuais negociações da ALCA em serviços.

De qualquer forma, em termos de liberalização o que se pretende em quaisquer dos acor-dos existentes no tocante ao modo 3, presença comercial, nas negociações de serviços é aeliminação de entraves ao estabelecimento de empresas estrangeiras no mercado nacional.No limite, busca-se a eliminação de restrições ao investimento direto estrangeiro nos setoresde serviços, incluindo o “direito” de escolha do tipo de presença que se quer em determina-dos mercados.

Presença de Pessoas Físicas

Tal como o modo 3, o modo 4 se refere também ao movimento de prestadores de serviços,porém, neste caso, a prestadores que sejam pessoas físicas, e não jurídicas. Assim, o modo 3 seaplica ao caso, por exemplo, de consultores que cruzam fronteiras e se locomovem para omercado onde ocorrerá a prestação do serviço. Aplica-se também ao caso de transferênciasintra-firma de pessoas físicas, profissionais que são transferidos, por exemplo, da matriz parauma filial ou subsidiária da mesma empresa em outro país. Em todos os acordos existentes, oâmbito de aplicação do modo 4 foi limitado ao movimento e estadia temporários nos merca-dos “importadores”, sem que de qualquer forma envolva a estadia permanente ou o acessodireto ao mercado de trabalho. Liberalização aqui representa a eliminação de entraves, portan-to, ao movimento temporário de prestadores de serviços o que incide sobre a questão devistos também temporários. A questão de imigração está, por ora, plenamente fora do âmbitode aplicação de todos os acordos que tratam do comércio de serviços.

Quais Princípios?O princípio básico do GATS é a liberalização progressiva – algo que foi muito importante

para países em desenvolvimento que buscavam algum reconhecimento de que o comércio deserviços era um tema sensível cuja abertura não deveria avançar de forma muito acelerada. Osacordos sobre serviços no NAFTA e no Mercosul não reconhecem explicitamente que aliberalização deva ser progressiva mas os mecanismos disponíveis demonstram que em ne-nhum caso a abertura deveria ser feita sem alguma flexibilidade de negociação.

Todos os acordos existentes se referem a objetivos de política nacional e à necessidade derespeitá-los ao longo do processo de abertura. Os princípios-chave dos acordos existentes são

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os que dizem respeito ao acesso a mercados estrangeiros, ao tratamento que serviços eprestadores de serviços recebem nos mercados importadores, ao tratamento que se deve con-ceder a países parceiros e à regulamentação doméstica aplicável a atividades de serviços.

Através de seus princípios, os acordos definem quais as medidas que devem ser eliminadasao liberalizar, assim como aquelas que podem permanecer apesar de afetarem o comércio deserviços. Definem também disciplinas para que a liberalização negociada não seja anulada pornovas barreiras ao comércio, assim como para questões importantes como monopólios oupráticas restritivas de negócios. Todos os acordos definem exceções à aplicação de algumas desuas disposições, sendo que o GATS dispõe também sobre acordos regionais – disciplinando-os para que não sejam contrários aos objetivos básicos do livre-comércio.

Segue abaixo um detalhamento maior sobre os princípios mais importantes do regimeinternacional para o comércio de serviços.

Transparência

O princípio da transparência é tão antigo quanto o comércio internacional, antecedendoaté mesmo o sistema multilateral de comércio do GATT. Transparência se refere à necessidadede notificar, informar e disponibilizar informações relativas ao comércio. Em princípio, nãodeveria haver nada de especial nisso, porém se considerarmos que os acordos existentes seaplicam a todas as medidas que afetam o comércio de serviços, a todos os setores e a todos osmodos de prestação, veremos que a obrigação de ser transparente não é pequena e que podeenvolver grandes esforços administrativos e burocráticos por parte dos governos.

Negociadores foram capazes de limitar a aplicação do princípio de forma a permitir quepaíses “publiquem prontamente” em suas publicações oficiais (no caso do Brasil, no DiárioOficial), informem as devidas instâncias no caso de mudanças nas leis, regulamentações ounormas administrativas pertinentes, e estabeleçam “pontos focais” para a disponibilização deinformações mediante solicitação. Ou seja, não foi necessário estabelecer um lugar que fisica-mente congregue todas as informações dos setores de serviços – o que representaria um en-cargo maior do que o real objetivo ao qual os acordos se propõem.

Nação-Mais-Favorecida

O princípio da nação-mais-favorecida (n.m.f.) é também um dos mais tradicionais da histó-ria do comércio internacional, tendo sido até mesmo um dos pilares do sistema bilateral deacordos de amizade, comércio e navegação que antecedeu o GATT (período anterior à Segun-da Guerra Mundial). De acordo com o princípio, países membros devem conceder, imediata eincondicionalmente, tratamento não-menos-favorável do que o concedido a qualquer outroparceiro comercial. Em outras palavras, o princípio n.m.f. representa a não-discriminação en-tre países, em contraste com o tratamento nacional que se refere à não-discriminação entrenacionais e estrangeiros.

Durante as negociações da Rodada Uruguai, a primeira vez que se abordou a aplicação deum tal princípio para o heterogêneo comércio de serviços, houve um consenso de que umaaplicação realmente “imediata e incondicional” seria impraticável ab initio. Num determinadomomento, especificamente quando a Rodada deveria ter terminado pela primeira vez em Bru-xelas no ano de 1990, a questão da n.m.f. quase chegou a ameaçar o avanço das tratativas sobreo comércio de serviços, tantos eram os problemas apresentados pelas delegações ao longodas negociações. Vários países privilegiavam a elaboração de anexos setoriais que evitassem aaplicação da n.m.f. para setores sensíveis – tais como os de transporte e audiovisuais. Essaposição refletia o fato de que em muitos setores a discriminação entre países era a norma e

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não a exceção. Em transportes aéreos, por exemplo, o tráfego internacional é regido por acor-dos estritamente bilaterais – portanto, estritamente baseados em discriminação e reciprocida-de bilateral em lugar de não-discriminação e abertura multilateral.

O tema só teve solução quando as delegações acordaram permitir exceções à aplicação doprincípio por país e para atividades ou sub-setores específicos. Ou seja, ficou acordado quepaíses deveriam elaborar listas de exceções à cláusula n.m.f. onde indicariam especificamenteonde se encontravam impossibilitados de aplicá-la, fazendo referência às razões da impossibi-lidade, os países aos quais a exceção se aplicaria e, quando relevante, o prazo de duração daexceção. Os setores mais atingidos pelas exceções foram os setores de transporte e de servi-ços audiovisuais. A primeira revisão das listas nacionais de exceções teve lugar em 2000 confor-me previsto no próprio acordo do GATS. Poucas foram as exceções eliminadas como resultadodessa revisão.

O NAFTA também reconhece a dificuldade de aplicação da n.m.f. e previu um anexo ondeos países membros puderam indicar exceções. Já o Protocolo de Montevidéu do Mercosuldispôs sobre a aplicação da nação-mais-favorecida desde a entrada em vigor do acordo, semexceções. Apenas o setor de transportes preserva algumas exceções, porém não por meio delistas nacionais. Ocorre que o Mercosul já conta com alguns acordos sobre transportes terres-tres, aéreos e marítimos que prevêem a eliminação da discriminação. Bastou a referência aacordos já existentes no interior do bloco.

Vale ressaltar que o princípio da nação-mais-favorecida, no caso do GATS, é um poderosoinstrumento de liberalização não apenas porque obriga países membros a estender benefíciosnegociados bilateralmente a todos os outros parceiros comerciais como também porque seaplica até mesmo a países não membros. Por exemplo, caso os Estados Unidos concedam omelhor tratamento possível à Rússia em serviços financeiros, esse tratamento deve ser esten-dido também a todos os países membros da OMC apesar da Rússia não ser ainda país-membro dos acordos de Marraqueche.

Acesso a Mercados

O NAFTA não define o que é acesso a mercados. O GATS também não o faz propriamente,mas especifica quais as medidas que serão consideradas restrições em termos de quaisquerdos quatro modos de prestação. A lógica de todos os acordos é a de que países listem medidasrestritivas que desejem manter depois das negociações, da mesma forma que, em negociaçõesde acesso a mercados em bens, países negociam tarifas e listam as alíquotas acordadas em suaslistas nacionais ao final da negociação. O objetivo máximo é, logicamente, a eliminação derestrições listadas, assim como no comércio de bens tradicional. A diferença principal entrebens e serviços é a de que o comércio de serviços não é regido por tarifas e sim por medidas,leis e regulamentos que não se limitam ao âmbito internacional; muito pelo contrário, a regu-lamentação em serviços tende a incidir principalmente sobre atividades domésticas, que têmlugar dentro de um determinado mercado. No tocante aos principais acordos existentes - oGATS e o NAFTA - as mais importantes diferenças advêm do tipo de listas que se prevêemnesses acordos e o grau de flexibilidade no detalhamento da situação regulatória de cada país.

Todos os acordos existentes consideram as medidas listadas no Artigo XVI do GATS restri-tivas e passíveis de negociação e/ou eliminação – a saber:

a) Limitações sobre o número de prestadores de serviçosb) Limitações sobre o valor total dos ativos ou das transações de serviçosc) Limitações sobre o número total de operações de serviços ou da quantidade total de

serviços produzidos

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d) Limitações sobre o número de pessoas físicase) Medidas que exijam ou restrinjam tipos específicos de pessoa jurídica ou joint venturesf) Limitações sobre a participação de capital estrangeiro

Outra particularidade importante em serviços é o fato das medidas consideradas restriti-vas não serem necessariamente discriminatórias, aplicando-se com freqüência a serviços eprestadores de serviços tanto nacionais como estrangeiros. Além disso, dos seis tipos de medi-das consideradas restritivas, quatro são de natureza quantitativa. Assim, se existe uma medidaque limita o número de bancos num determinado mercado nacional, por exemplo, tal medidaserá considerada uma restrição ao acesso a mercados mesmo que valha tanto para nacionaiscomo para estrangeiros. Os outros dois tipos de medidas são de natureza qualitativa e refe-rem-se à presença comercial: por exemplo, o nível de capital estrangeiro de uma empresa deseguros ou o tipo de presença (subsidiária, filial, etc.) de um banco de investimentos estran-geiro.

Tratamento Nacional

Todos os acordos existentes contemplam o princípio de tratamento nacional em termosde serviços e prestadores de serviços. Ou seja, a noção de um tratamento não menos favoráveldo que o concedido a nacionais se aplica tanto a serviços como a prestadores de serviçosestrangeiros. Tratamento nacional é assim uma faceta importante do princípio mais geral da“não-discriminação” que também engloba o tratamento da “nação-mais-favorecida” . A inova-ção do GATS e de outros acordos em serviços é a de se aplicar também a prestadores – o queé consistente com a definição de quatro modos de prestação dos quais dois se referem aomovimento desses prestadores.

O GATS, o Protocolo de Montevidéu e o NAFTA reconhecem que um tratamento idênticonem sempre é possível entre nacionais e estrangeiros. Reconhecem também que um trata-mento formalmente diferente pode ser necessário para que o critério de “não menos favorá-vel” seja alcançado na prática. Assim, por exemplo, exigir o mesmo nível de depósitos de umbanco estrangeiro e de um banco nacional pode representar uma restrição maior para o pri-meiro do que para o segundo: tratamento nacional neste caso poderia exigir uma flexibilizaçãoda exigência no caso de bancos estrangeiros. Em todos os acordos existentes prevalece tam-bém um critério adicional à não-discriminação entre nacionais e estrangeiros: o tratamentoserá considerado “menos favorável” caso “modifique as condições de concorrência em favorde serviços ou prestadores de serviços” nacionais.

A importância do princípio de tratamento nacional se deve ao fato de que, contrariamenteao comércio de bens cujas principais restrições residem na fronteira, o comércio de serviços éprimordialmente sujeito a restrições dentro do mercado doméstico – restrições que se refe-rem muito mais a “tratamentos” do que a barreiras quantitativas ou numéricas. Medidas qua-litativas e discriminatórias são, portanto, medidas que restringem o tratamento nacional. Aquestão que se coloca é se todas as medidas qualitativas e discriminatórias são ou não passí-veis de eliminação (no tempo) ou se existem algumas que poderiam ser mantidas. Veremos noitem seguinte que nem todas as medidas qualitativas são passíveis de eventual eliminação.

Regulamentação Doméstica

Se assumirmos que os acordos existentes se aplicam a todos os setores de serviços (compoucas e pontuais exceções), a todos os tipos de medidas adotadas por governos em todos osseus níveis (federal e sub-federal), a todos os tipos de comercialização (ou prestação) incluin-

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do a presença de pessoas físicas ou jurídicas em mercados estrangeiros e a todo tipo de restri-ções, discriminatórias ou não-discriminatórias, em termos de acesso a mercados e de trata-mento nacional, constataremos que a abertura a que se propõem esses acordos é vastíssima.Num primeiro momento, os acordos parecem estar sugerindo a liberalização de setores eatividades de tradicional sensibilidade para governos e sociedades, tais como a abertura desetores de serviços profissionais onde a questão da garantia da qualidade na prestação é impe-riosa, ou a de serviços de telecomunicações – setor regido por um amplo domínio de normastécnicas.

Ocorre que os acordos existentes, a começar pelo GATS, reconhecem que nem todas asmedidas que afetam serviços deveriam ser consideradas restritivas do ponto de vista do co-mércio – mesmo quando o são por outras razões. A noção de que existe um nível de regula-mentação doméstica que sempre deverá ficar a critério de cada país e que não será afetadopelo processo de liberalização começou com o Artigo VI do GATS e se fez presente desdeentão nos diversos acordos subseqüentes. Assim, as exigências de uma ordem de advogadosou de um conselho federal de medicina, por exemplo, não serão consideradas restrições aserem eliminadas ao longo do processo se forem razoáveis e justificáveis pela busca de quali-dade na prestação do serviço. No caso de normas técnicas, os mesmos critérios também seaplicam, e quando licenças tiverem de ser concedidas, sua outorga não poderá se transformarnuma restrição per se – por exemplo, levar muito mais tempo do que o que seria normal de seesperar. De forma resumida, o princípio de regulamentação doméstica logra esclarecer trêsaspectos cruciais na regulamentação de serviços:

a) Países têm o direito de regular seus setores de serviços de acordo com objetivos depolítica nacional;

b) Três tipos de medidas muito importantes para os setores de serviços – títulos de apti-dão, normas técnicas e licenças para a operação - deverão ser objeto de negociaçõesmas poderão ser mantidas sob certas condições;

c) As condições são as seguintes: ser objetivo, transparente e não mais restritivo do que onecessário para assegurar a qualidade do serviço; e, no caso de licenças, não transformá-las em restrições, aplicando-as de forma inconsistente (prazos absurdos, etc.).

As medidas afetadas pelo princípio de regulamentação doméstica são não-discriminatórias:exigir que um arquiteto tenha uma formação adequada, e títulos validos e/ou validados, nor-malmente se aplica tanto a nacionais como estrangeiros. Nos dois casos, a intenção do princí-pio é permitir que países regulem suas economias e preservem a qualidade, ao mesmo tempoem que fiquem atentos a possíveis abusos e os impeçam para evitar assim também problemascom parceiros comerciais.

Integração Econômica

Assim como o GATT tradicional, o GATS também se aventurou na área de integração eco-nômica, disciplinando acordos regionais na área de serviços. Da mesma forma como o ArtigoXXIV do GATT, o Artigo V do GATS dispõe que acordos como o Protocolo de Montevidéu ou oNAFTA não devem se transformar em fortalezas comerciais e sim privilegiar um “regionalismoaberto” cujo nível agregado de barreiras é decrescente tanto para dentro como para fora dobloco. O GATS dispõe ainda que nenhum modo de prestação ou setor deveria ser excluído doâmbito de aplicação de acordos regionais, como forma de confirmar o empenho regional em

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liberalizar. Isso implica que, por exemplo, o movimento de pessoas físicas não pode ficar forado âmbito da liberalização prevista na ALCA, nem tampouco um setor como o de serviçosaudiovisuais. Acordos regionais que incluem disposições sobre serviços são hoje examinadospor grupos de trabalho da OMC que também se debruçam sobre a questão de bens.

Exceções

O tema de serviços exigiu que, além das exceções de praxe relativas à moral e à ordempública ou à preservação da vida de animais e vegetais, novos aspectos fossem tambémexcetuados da aplicação do acordo, tais como a coleta eqüitativa de impostos, a dupla tributa-ção e a prevenção de fraudes. Todos os acordos existentes também prevêem exceções relati-vas à segurança nacional, excetuando do processo de liberalização medidas que um país “con-sidere necessárias à proteção de seus interesses essenciais de segurança” – tais como as relati-vas ao abastecimento das forças armadas, a materiais físseis ou fúseis, ou a períodos de guerra.

Balanço de Pagamentos

Todos os acordos existentes versam sobre medidas para salvaguardar o balanço de paga-mentos de seus países-membros. Em casos de “existência ou ameaça de sérias dificuldadesfinanceiras externas ou de balanço de pagamentos” é permitida a adoção ou manutenção derestrições ao comércio de serviços. Além de fazerem referência à necessidade de que a aplica-ção de medidas de salvaguarda por razões de problemas de balanço de pagamentos esteja emconformidade com o Artigo 8º dos estatutos do Fundo Monetário Nacional (FMI), as disposi-ções pertinentes dispõem que países membros devem evitar danos desnecessários aos inte-resses de outras partes, e que as medidas tomadas não devem ser mais restritivas do que onecessário para enfrentar as dificuldades em questão, nem discriminatórias em sua aplicaçãoentre as partes; devem, também, ser temporárias, eliminando-se progressivamente na medidaem que a situação melhore.

Monopólios e Compras de Governo

Dois temas, cujo principal protagonista é o setor público, são muito importantes para ocomércio de serviços: monopólios e compras de governo.

No caso de monopólios, os acordos existentes não condenam porém disciplinam a atua-ção de “prestadores exclusivos de serviços”, reconhecendo que abusos de posiçõesmonopolistas não são desejáveis e dispondo que países que se sintam afetados por tais abusospossam solicitar informações às instâncias pertinentes. Os acordos também dispõem quequando uma empresa tiver o monopólio em um determinado segmento de um determinadosetor, não poderá abusar dessa posição para adquirir vantagens no mercado em outros seg-mentos do mesmo setor (por exemplo, monopólio em redes de telecomunicação, porématuando também em telefonia celular). Esse tipo de abuso poderia, portanto, levar um país asolicitar o estabelecimento de um painel de solução de controvérsias.

Quanto a compras de governo, o NAFTA é o acordo que mais avançou no tema, tendo umcapítulo específico dedicado a princípios e procedimentos que se aplicam tanto ao comérciode bens como o de serviços. No GATS, havia apenas um compromisso de que o tema serianegociado dentro de um prazo de dois anos após a entrada em vigor da OMC – o que não foicumprido por resistências diversas tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento.Vale ressaltar que a OMC dispõe de um acordo “plurilateral” que conta com 27 signatários eque, desde a Rodada Uruguai, se estendeu para o comércio de serviços. O GATS seria o primei-ro acordo a aplicar compras governamentais em serviços a todos os membros da OMC, caso a

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negociação mandatada no próprio acordo chegasse a bom termo em algum momento nofuturo.

Defesa Comercial

Medidas de defesa comercial são aquelas que compensam ou tentam anular o efeito depráticas introduzidas na economia através de importações, que causam dano à indústria naci-onal. De um lado, tais medidas podem se aplicar a práticas consideradas “desleais” que sereferem aos subsídios concedidos a produtos que são ou podem ser exportados e ao dumping,ou à prática de exportar com preços mais baixos do que um “valor normal” geralmente refe-rente ao valor de venda no mercado interno de origem do produto. De outro lado, tais medi-das podem ser aplicadas mesmo na ausência de práticas desleais de comércio, apenas na pre-sença ou na ameaça de danos causados por surtos de importações. Em todos os casos dedefesa comercial, a idéia é que um “nexo causal” deve ser estabelecido entre o dano e umaumento de importações. Nos casos de dumping e subsídios, deve-se provar também que asimportações são “desleais”. No caso de salvaguardas, as importações não carecem de sê-lo. Emtodos os casos, acordos disciplinam a forma de aplicar tais medidas.

Em serviços, nenhuma das tradicionais medidas de defesa comercial foi negociada. Medi-das antidumping sequer foram abordadas, em claro reflexo da intenção de evitar a introduçãode um tema tão nefasto para o comércio nos primeiros acordos que tratam do comércio deserviços. No caso de subsídios e salvaguardas, os países se comprometeram no GATS a conti-nuar as negociações depois da Rodada Uruguai mas isso em nada resultou até o momento.Caso países mantenham subsídios discriminatórios, no entanto, eles estão em princípio vio-lando a cláusula do tratamento nacional dos acordos existentes e devem notificar ou eliminara medida.

Que Liberalização?O que se entende por liberalização nos diversos acordos existentes é a eliminação de me-

didas que restringem o acesso a mercados e medidas que negam um tratamento nacional aserviços ou prestadores de serviços estrangeiros. Ou seja, o conceito de liberalização se referea dois princípios centrais dos acordos – princípios esses que são o verdadeiro “carro-chefe” doprocesso de abertura. Todos os outros princípios referem-se ou a exceções ou a disciplinas decomércio que tentam evitar que concessões em acesso a mercados e tratamento nacionalsejam anuladas por outras medidas ou práticas restritivas.

No caso de serviços, como já foi ressaltado, os dois princípios de liberalização devem serentendidos em conjunto com as disposições relativas à regulamentação doméstica que ser-vem para esclarecer que apesar do empenho liberalizador evidente na concessão de acesso amercados ou de tratamento nacional, países mantêm o direito de regular de acordo com prio-ridades setoriais que asseguram a qualidade do serviço e cumprem objetivos de política naci-onal – sempre que dentro de um contexto de “razoabilidade” na justificativa e na aplicação.

A Mecânica de Liberalização1

Um aspecto importante que ajuda a explicar porque o GATS conseguiu ter a adesão detantos países que inicialmente se opuseram veementemente à sua criação é o seu mecanismode liberalização. Apesar de conter princípios claramente tendentes à liberalização, o GATS

1 Partes desta e da próxima seção correspondem a partes de MARCONINI, M. “A ALCA e o Comércio de ServiçosBrasileiro: Normativa e Interesse”, capítulo do livro O Brasil e a ALCA, Câmara dos Deputados, Congresso Nacional, 2002.

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não obriga nem induz os membros a abrirem completamente todos os setores de serviços. Aliberalização, através da aplicação dos princípios de acesso a mercados e tratamento nacional,deve ser “progressiva”, rege o Acordo, e os membros mantêm o direito de comprometer-seapenas em setores que resolvam (como resultado de um processo de negociações com seusparceiros) incluir em sua chamada “Lista de Compromissos Específicos”. Outro aspecto im-portante de como o GATS liberaliza mercados refere-se ao princípio da nação-mais-favorecida:o princípio foi mantido, porém os membros tiveram, ao final da Rodada Uruguai, a oportuni-dade de especificar exceções onde gostariam de seguir discriminando a favor de determina-dos parceiros comerciais.

A forma de liberalizar do GATS foi, em grande medida, emulada em outros acordos. Noentanto, existem variações importantes como o caso do NAFTA, que tem uma forma específicade descrever compromissos de liberalização. O GATS, assim como o Protocolo de Montevidéu, émais flexível em suas exigências de “consolidação” de situações regulatórias dos países membros– permite, por exemplo, que países não consolidem certas situações, possibilitando assim tam-bém que países mantenham carte blanche para continuar regulando ou até restringindo setorese sub-setores em alguns de seus modos de prestação. O NAFTA exige que tudo seja consolidado,limitando assim a flexibilidade de poder reservar algum poder de regular em casos específicos.2

Listando Compromissos

A lista, que corresponde à parte relativa a serviços de arquitetura na lista oficial de compro-missos específicos do Brasil negociada na Rodada Uruguai (anexo 1), demonstra o tipo deconsolidação ou não consolidação de situações regulatórias que se permite no GATS. A refe-rência a “nenhuma” indica que o país tem uma situação sem restrições para o setor naquelemodo de prestação e em relação àquele princípio (no caso, tratamento nacional), e que secompromete (ou seja, consolida) a não incluir nenhuma restrição no futuro (se o fizer, terá decompensar seus parceiros comerciais, o que é um custo normalmente evitado nas negocia-ções internacionais).

2 O NAFTA, no entanto, permite, por exemplo, que países reservem seu direito de aplicar “medidas futuras” em casos quedetalhem de forma genérica num dos anexos do acordo – o que constitui também um grande loophole no empenholiberalizador do acordo.

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Compromissos Assumidos pelo Brasil emServiços Financeiros

OMC: O Único Compromisso3

No final da Rodada Uruguai, 82 países (U.E. contada como uma delegação) tinham incluí-do compromissos em serviços financeiros em suas Listas de Compromissos Específicos. Noentanto, alguns países desenvolvidos estimaram que o nível de abertura resultante das ofertasera insuficiente e não justificava o encerramento formal das negociações. Os Estados Unidos,em particular, anunciaram ao final do processo de negociação em Genebra que pediriam umaderrogação quanto à aplicação da cláusula da nação-mais-favorecida para serviços financeiroscom vistas a continuar exigindo reciprocidade de países cujas instituições financeiras almejas-sem acesso ao mercado estadunidense.

O Acordo Interino de 1995 (“The Ínterim Agreement”)

Para evitar o pior, os ministros presentes à reunião de abril de 1994 em Marraqueche acorda-ram prolongar as negociações de serviços financeiros para além da entrada em vigor da OMC em1º de janeiro de 1995. A nova data para o término das negociações tornou-se 30 de junho de1995. A partir da entrada em vigor do Acordo, o Comitê de Serviços Financeiros começou afuncionar, substituindo assim o chamado Ínterim Group on Financial Services. Ao final de ju-nho de 1995, o número de países que haviam submetido ofertas já era de 32. Foi nessa ocasiãoque o Brasil fez a sua oferta condicional que incluía revisões que tratavam da futura consolidaçãona OMC de resultados da reforma bancária no Congresso Nacional, assim como da participaçãode capital estrangeiro na privatização de instituições financeiras públicas.

Ao final da negociação, 29 países confirmaram suas ofertas como compromissos finais. Amelhora das ofertas de tantos países, inclusive o Brasil, foi incentivada com o anúncio pelosEstados Unidos e pelo Japão de que o acordo bilateral entre eles sobre seguros (outubro de1994) e sobre outros serviços financeiros (fevereiro de 1995) seria de fato aplicado conformea cláusula da nação-mais-favorecida para todos os paises membros da OMC.4 No entanto, osEstados Unidos anunciaram mais uma vez em junho de 1995, depois de toda a mobilização dosoutros 31 países para melhorar suas ofertas, que o nível de liberalização resultante das ofertasera insuficiente para justificar a sua adesão ao acordo.

3 Esta seção corresponde à seção 3.2 do Capítulo V de MARCONINI, M. OMC, Acordos Regionais e o Comércio deServiços: Normativa Internacional e Interesse Brasileiro, Editora Aduaneiras, São Paulo, SP., Junho 2003, pps. 263-277.

4 O acordo EUA-Japão sobre seguros cobriu a desregulamentação do processo de aprovação para produtos e tarifas deseguros, a introdução de brokerage de seguros, a transparência regulatória e políticas de concorrência no setor. O acordosobre serviços financeiros incluiu a participação efetiva de companhias de consultoria de investimento no mercado degestão de fundos de pensão, maior disponibilidade de licenças e a desregulamentação na área de trusts de investimento,maior abrangência de tipos de securities, e simplificação dos processos de aprovação e notificação para transaçõestransfronteiriças.

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Por iniciativa da União Européia, as negociações foram prorrogadas até 28 de julho daque-le ano - um mês a mais do que o mandato original. Pela primeira vez na história do sistemamultilateral do comércio, a U.E. agia assim “apesar” dos Estados Unidos. O resultado foi que 29países, inclusive o Japão que também de forma inusitada aceitou o pacote sem os EUA, concor-daram em manter suas melhores ofertas e aplicá-las até pelo menos o final de 1997 (2 anos emeio de duração) quando novas negociações determinariam o futuro de serviços financeiros.5

Os EUA mantiveram uma oferta mínima sobre a mesa, complementada por uma série dederrogações à cláusula da nação-mais-favorecida (preservando assim o seu direito de exigirreciprocidade).6

Alguns elementos importantes do acordo de 1995 foram os seguintes:

1) Os compromissos não foram obrigações de real abertura de mercados, mas sobretudocompromissos de consolidação de situações atuais existentes;

2) Foram raros os países que podiam se comprometer com respeito ao que iria acontecerno futuro com sua situação regulatória; apenas a lndonésia referiu-se ao fato de que atéo ano 2020 todas a limitações ao acesso a seu mercado e ao tratamento nacional seriameliminadas;

3) O ônus da prova permanecia assim do lado dos EUA que depois de exigirem melhorasnos níveis de abertura de todo o mundo, não se comprometeram com os resultadosalcançados em julho de 1995;

4) O Brasil foi o único país a se comprometer que os resultados de uma futura reformapendente no Congresso Nacional seriam aplicados aos membros da OMC dentro de 2anos;

5) Como resultado das negociações continuadas e de novas adesões à OMC, 97 paísesmembros já tinham compromissos em serviços financeiros em meados de 1997, com-parado a um total de 76 ao final da Rodada Uruguai.

As Negociações de 1997

O acordo de 1995 foi chamado de “Acordo Interino” ou “Ínterim Agreement” em virtudedos negociadores acordarem que as negociações continuariam, ou seriam “re-visitadas”, em1997. Assim, elas recomeçaram em abril daquele ano e países participantes tiveram mais umavez a oportunidade de melhorar, modificar ou retirar compromissos em serviços financeiros,assim como agregar exceções à cláusula n.m.f. entre 1º de novembro e 12 de dezembro de1997.

Como resultado, 56 listas de compromissos representando 70 países membros da OMCforam anexadas ao Quinto Protocolo do GATS – instrumento que permaneceu aberto pararatificações até 29 de janeiro de 1999. Dos 56, 52 países membros aceitaram os resultados e oProtocolo entrou em vigor para esses países em 1º de março de 1999. Também como resulta-do das negociações, os Estados Unidos, Índia e Tailândia decidiram retirar as exceções à cláu-

5 Os países que mantiveram suas ofertas “sobre a mesa” foram os seguintes: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, RepúblicaCheca, República Dominicana, Egito, a UE, Hong Kong, Hungria, Índia, Indonésia, Japão, Coréia do Sul, Kuwait, Malásia,México, Marrocos, Noruega, Paquistão, Filipinas, Polônia, Singapura, República Eslovaca, África do Sul, Suíça, Tailândia,Turquia e Venezuela

6 Vale ressaltar que o Congresso Nacional brasileiro nunca ratificou os compromissos assumidos pelo Brasil durante anegociação de 1995. Em 1997, quase ao final da seguinte fase de negociação de serviços financeiros, dos 44 países (UEcomo 12 países), apenas o Brasil, a Bélgica e a Colômbia não haviam ratificado os resultados da primeira rodada pós-Marraqueche.

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sula n.m.f. que mantinham por razões de reciprocidade. Os Estados Unidos só mantiveramuma exceção à n.m.f. em seguros, aplicável em circunstâncias de despojamento de investi-mento norte-americano em países membros da OMC.7

As melhoras das ofertas referiram-se a diversos aspectos, a saber: flexibilização de limitesde participação do capital estrangeiro; flexibilização do tipo de forma jurídica permitido comopresença comercial; respeito a direitos adquiridos, compromissos em seguros e serviços ban-cários além de outros serviços tais como gerenciamento de ativos e prestação e transferênciade informação financeira.8

A Oferta do Brasil

Como já mencionado, o Brasil consolidou uma oferta em serviços financeiros em sua listade compromissos finalizada durante a Rodada Uruguai. Desde então, o Brasil apresentou qua-tro novos documentos em serviços financeiros: (1) um suplemento à lista de compromissosespecíficos, datado de 28 de julho de 1995, que substituiu a parte de serviços financeirosconstante da lista original (GATS/SC/13) como resultado das negociações do Acordo Interinoem julho de 1995 (GATS/SC/13/Suppl.1); (2) uma revisão do suplemento apresentado em ju-lho de 1995, datada de 4 de outubro do mesmo ano (GATS/SC/13/Suppl.1/Rev.1); (3) uma novaoferta condicional apresentada ao Comitê do Comércio de Serviços Financeiros no contextodas negociações previstas para 1997 de acordo com o Acordo Interino, datada de 8 de dezem-bro de 1997 (S/FIN/W/12/Add.46); e, finalmente, (4) o novo suplemento à lista de compromis-sos que integrou as revisões já acumuladas no documento de oferta de 8 de dezembro de 1997num novo documento datado de 12 de dezembro do mesmo ano (GATS/SC/13/Suppl.3).

Serviços de SegurosDesde sua primeira oferta durante a Rodada Uruguai o Brasil incluiu em sua lista vários

sub-setores do setor de seguros e resseguros. A oferta de 11 de abril de 1994 já incluía segurosde fretes, seguros de vida, assistência médica, seguros da propriedade, seguros de caso, má-quinas e responsabilidade civil de embarcações e serviços auxiliares de seguros tais comoagências e corretores de seguros, consultoria, autuariais e auditoria e inspeção. Em sua lista dejulho de 1995, o Brasil resolveu incluir os serviços de resseguros e retrocessão. Em sua listafinal de 26 de fevereiro de 1998 (Anexo 1, Lista 17), o Brasil incluiu então seguros de acidentede trabalho.

O processo que se seguiu desde a elaboração da primeira lista brasileira até à lista final defevereiro de 1998 resultou, portanto, na melhora da oferta em sub-setores de serviços deseguros. Em comércio transfronteiriço na lista de 1994, todos os sub-setores, à exceção do deseguros de frete, permaneceram não consolidados; para seguros de frete referência era feita àrestrição na escolha de empresas de seguros para importações. Já na lista final brasileira, aúnica exigência para os seguros de frete era a de que no caso de importações de bens a presen-ça comercial era necessária (ou seja, prestação de serviços de seguros transfronteiriços nãoera possível para as importações). A lista final agregou também a possibilidade de que no casode casco, máquinas e obrigações civis, o seguro transfronteiriço era factível desde que paraembarcações registradas no Registro Especial Brasileiro (REB). O único sub-setor que teve suasituação regulatória consolidada foi o de serviços auxiliares de consultoria, atuariais e de ins-

7 Os Estados Unidos mantiveram essa exceção como resposta à Malásia que não quis se comprometer em eliminarmedidas que previam a possibilidade de despojamento de interesses estrangeiros em empresas de seguros cujaparticipação também era nacional.

8 “Trade Topics, Services Gateway Page”, www.wto.org,

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peção (sem restrições). Todos os outros serviços de seguros (e resseguros) incluídos na listapermaneceram sem consolidação na lista final do Brasil.

Em presença comercial, vários sub-setores inicialmente incluídos (vida, frete, proprieda-de, assistência médica e responsabilidade civil) estavam sujeitos à exigência de constituição desociedade anônima assim como de um limite máximo de 50% de participação estrangeira nocapital das empresas – algo que foi eliminado e substituído por uma referência à exigência deum Decreto Presidencial. Para o seguros de acidente de trabalho, incluídos apenas na oferta elista finais, a presença comercial é reservada ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS),como único provedor autorizado. Em serviços auxiliares de agência e corretores de seguros, apresença comercial requer apenas a incorporação segunda a lei brasileira. Em serviços auxilia-res de consultoria, atuariais e de inspeção, a presença comercial também foi consolidada semrestrições, tornando esse sub-setor o mais liberal da lista brasileira em serviços de seguros.

Para resseguros e retrocessão (Anexo 1, Lista 18), referência é feita para regulamentaçãofutura e à atual competência exclusiva do Instituto de Resseguro do Brasil (IRB). Tanto emseguros de acidente de trabalho quanto em resseguros e retrocessão compromissos adicio-nais são incluídos, indicando o compromisso do País em adotar compromissos em presençacomercial em até dois anos depois da adoção pelo Congresso Nacional de legislação que regu-lamente essa transação. Em serviços auxiliares de agência e corretores de seguros (Anexo 1,Lista 19), a presença comercial requer apenas a incorporação segunda a lei brasileira.

Serviços BancáriosA lista brasileira em serviços bancários se divide em duas partes principais: serviços presta-

dos por instituições financeiras (Anexo 1, Listas 20, 21 e 22) e serviços prestados por institui-ções não-financeiras (Anexo 1, Lista 23). Desde a primeira oferta feita pelo Brasil durante aRodada Uruguai, a lista brasileira evoluiu bastante. A própria inclusão de serviços financeirosprestados por instituições não-financeiras já foi um progresso.

Prestados por Instituições FinanceirasO principal avanço, no entanto, foi em relação ao acesso a mercados através da presença

comercial para serviços prestados por instituições financeiras. Na lista da Rodada Uruguai, oBrasil consolidou para todos os serviços bancários uma restrição importante que dizia respei-to à proibição de que instituições financeiras estrangeiras estabelecessem novas sucursais oufiliais ou aumentassem a porcentagem de participação de capital no capital social de institui-ções financeiras brasileiras. Na lista original, inscreveu-se também que o número de sucursaisno Brasil de cada banco estrangeiro se limitava ao número existente em 5 de outubro de 1988– data da promulgação da Constituição. Como se pode observar na lista final de compromissosespecíficos em serviços financeiros, documento GATS/SC/13/Suppl.3 de 12 de dezembro de1998, o Brasil flexibilizou vários aspectos da lista inicial de 1994:

1) Em primeiro lugar, se esclareceu que aumentar o número de sucursais e filiais, assimcomo a participação estrangeira no capital social de instituições financeiras brasileiras,era possível com uma autorização caso-por-caso, obtida através de um Decreto Presi-dencial. Apesar da discricionariedade implícita na necessidade de um Decreto Presi-dencial para lograr obter uma autorização individual de operação no mercado nacio-nal, a nova oferta brasileira representava um progresso já que na oferta inicial ambaspossibilidades eram negadas.

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2) Em segundo lugar, a lista final do Brasil flexibilizou também a participação de pessoasfísicas ou jurídicas estrangeiras no programa de privatizações de bancos estatais - medi-ante, assim mesmo, a um Decreto Presidencial. Em terceiro lugar, a lista final esclare-ceu que, apesar do número de sucursais de bancos já presentes no mercado brasileiroantes de 5 de outubro de 1988 permanecer congelado, para instituições estabelecidasdepois daquela data existia a possibilidade de se aumentar o número de sucursaismediante solicitação e obtenção de autorização.

Um avanço muito grande na lista final brasileira referiu-se ao tratamento nacional de servi-ços e prestadores de serviços por instituições financeiras. Na lista original, o Brasil havia inclu-ído a proibição de se estabelecer uma rede própria de caixas automáticos, permitindo a ban-cos estrangeiros apenas o compartilhamento com bancos nacionais. Na lista final, o Brasileliminou esta restrição e consolidou um tratamento nacional sem restrições. Outro aspecto detratamento nacional constante da lista original foi o relativo à exigência de cifra mínima decapital desembolsado e de patrimônio líquido no caso de sucursais de bancos estrangeiros edas carteiras comerciais de bancos múltiplos controlados por capital estrangeiro duas vezesmaior do que o exigido de instituições nacionais – uma forma bastante explícita de discrimina-ção. Na lista final, essa medida também desapareceu uma vez que o Brasil consolidou umasituação regulatória sem restrições. A lista original referia-se também no tocante ao tratamentonacional à possibilidade de o Banco Central discriminar contra instituições estrangeiras emrelação à autorização para ampliar operações, realizar novas atividades ou em termos de ou-tras condições de operação concedidas para instituições estrangeiras.

Na parte relativa a serviços bancários prestados por instituições financeiras, o Brasil incluiutambém um compromisso adicional (na coluna dedicada a esse tipo de compromisso). Istoindica que o Brasil se compromete a conceder tratamento nacional e presença comercial paraos serviços de cartão de crédito e factoring, caso esses serviços venham a ser definidos comoserviços financeiros na legislação que se estima sair do Congresso Nacional no futuro próximo.

Prestados por Instituições Não-FinanceirasUma das principais inovações na lista final em comparação com a sua contrapartida origi-

nal foi a introdução de uma parte sobre serviços bancários prestados por instituições não-financeiras. A lista não inclui as atividades principais do setor bancário – recebimento de fun-dos, empréstimos, nem tampouco arrendamento mercantil financeiro ou garantias e compro-missos. Como se pode verificar, a lista de serviços bancários prestados por instituições não-financeiras se limita a negociações em bolsa ou mercado de balcão regulamentado, de valoresmobiliários e derivativos, assim como serviços de compensação e liquidação de valores mobi-liários, oferta pública de valores mobiliários, consultoria e administração de carteira de fundosde investimento.

Uma vez mais os dois primeiros modos de prestação (transfronteiriço e consumo no exte-rior) não foram consolidados em nenhum nível regulatório. Já a presença comercial foi conso-lidada sem nenhuma limitação ao tratamento nacional e apenas com algumas medidas emrelação ao acesso a mercados: necessidade de incorporação segundo a lei brasileira (o que nãoconstitui em si uma restrição); a obrigação de prestar o serviço através de uma presença co-mercial; e a exigência que as empresas estrangeiras sejam sociedades anônimas para poderprestar serviços de liquidação e compensação.

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ALCA: A Especificidade dos Serviços FinanceirosNa ALCA, a atribuição de negociar o setor de serviços recai sobre o chamado Grupo Nego-

ciador de Serviços (GNSV), cujo mandato é o de negociar o marco jurídico que regulará afutura liberalização do setor no hemisfério. O Capítulo de Serviços da ALCA em princípio deve-rá seguir o GATS e abranger os 11 setores de serviços definidos na classificação setorial deserviços da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 1º de abril de 2002, o GNSV deveriater apresentado recomendações sobre modalidades e procedimentos negociadores de acessoa mercados em serviços, de acordo com o mandato estabelecido na Reunião Ministerial daALCA de Buenos Aires (7 de abril de 2001). Em meados de 2003, o Grupo ainda não o haviafeito..

Um Capítulo Financeiro em Separado?

Em todos os acordos existentes, o setor financeiro foi objeto de algum tipo de dispositivoespecífico – seja ele anexo, memorando de entendimento ou capítulo. O GATS e o Protocolode Montevidéu, por exemplo, optaram por um anexo que apenas esclarece a aplicação dedisposições gerais do acordo em alguns aspectos de cunho setorial. Já o NAFTA optou por umcapítulo que na prática funciona como um acordo separado, prevendo uma liberalização maisambiciosa para o setor por meio de definições e princípios em alguma medida diferentes doque os previstos para outros setores de serviços.

A consideração de se incluir um instrumento específico para o setor de serviços financei-ros passa por diversos aspectos, dentre eles o objetivo que se quer alcançar (esclarecer apenasou ir mais além e prever níveis mais ambiciosos de liberalização) e o respeito por princípiosgerais que advirem do single undertaking – ou seja, do compromisso de concluir a negocia-ção apenas quando tudo estiver concluído e assim respeitar um equilíbrio geral nos direitos eobrigações entre países participantes.

Desde a reunião de Buenos Aires, a questão do tratamento do setor de serviços financeirosfigura de forma proeminente nas negociações da ALCA. Por exemplo, propostas para a criaçãode subgrupos especializados já apontavam para a natural candidatura do setor como merece-dor de atenção específica. Os Estados Unidos foram os primeiros a propor a criação de um“Financial Services Negotiating Group” que fosse responsável pela elaboração de disciplinas“adicionais” ou “especializadas” para o devido tratamento do setor. Como já havia sido o casonas negociações da Rodada Uruguai da OMC, os americanos enfatizaram a necessidade de sedar atenção especial a medidas chamadas “prudenciais” e de se dotar o futuro acordo de umsistema próprio de solução de controvérsias. Ambas questões já haviam sido resolvidas noGATS que deixou livre arbítrio para as autoridades monetárias nacionais de cada país em rela-ção a medidas prudenciais e que fez referência expressa no anexo financeiro à necessidade deassegurar expertise no setor em casos de solução de controvérsias. A proposta americanasobre um subgrupo para serviços financeiros na ALCA tem de fato sido rechaçada consistente-mente.

O Canadá viria a apresentar também uma proposta sobre a especificidade do setor finan-ceiro, sem sugerir, no entanto, a criação de um subgrupo negociador. Os membros do Mercosulreconhecem a importância e particularidade do setor, porém têm se oposto à criação de umnovo foro específico – primordialmente pelas seguintes razões:

a) Uma negociação já em separado poderia levar a um instrumento divorciado de priorida-des gerais, tais como a liberalização progressiva e o respeito a objetivos de políticanacional;

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b) Qualquer abordagem setorial de serviços financeiros deveria evitar o tratamento separa-do de acesso a mercados em serviços financeiros; anexos que esclareçam podem sernecessários, porém instrumentos que impliquem um ritmo mais acelerado de abertu-ra de mercados para o setor financeiro não são desejáveis dadas as características doprocesso de reformas nos países do hemisfério;

c) Um instrumento separado para serviços financeiros desequilibraria as negociações aoretirar o setor do âmbito geral de demandas e concessões cruzadas entre setores deserviços e mesmo entre setores de serviços e outros setores de bens (por exemplo,entre serviços e agricultura);

d) Com o setor em instrumento separado seria muito mais difícil contra-arrestar uma posi-ção mais agressiva por parte dos Estados Unidos que poderia então evitar que a nego-ciação como um todo lograsse um equilíbrio entre direitos e obrigações.

NAFTA vs. MERCOSUL9

O Anexo sobre Serviços Financeiros do Protocolo de Montevidéu reproduz em grandemedida o Anexo homônimo do GATS, versando sobre definições, transparência, medidasprudenciais, acordos de reconhecimento mútuo e harmonização nas regulamentaçõesprudenciais, nos regimes de supervisão consolidada e no intercâmbio de informação em ma-téria de serviços financeiros. Não existe no anexo nenhuma disposição sobre princípios deliberalização nem prazos para as negociações ou para a liberalização propriamente dita. ONAFTA, em contraste, tem um capítulo inteiramente dedicado ao tema de serviços financeirosque reproduz para esses serviços as mesmas disposições dos capítulos relativos ao comérciotransfronteiriço de serviços e a investimentos. Em vários aspectos, o capítulo sobre serviçosfinanceiros se remete a disposições desses outros dois capítulos. Na essência o que o capítulosobre serviços financeiros produz é um stand-alone agreement (acordo independente) quepode perfeitamente ser implementado separadamente do resto do acordo do NAFTA.

O capítulo sobre serviços financeiros do NAFTA agrega novos princípios de liberalizaçãoàqueles já constantes dos capítulos sobre comércio transfronteiriço de serviços e sobre inves-timentos – a saber: direito de estabelecimento de instituições financeiras10, e novos serviçosfinanceiros e processamento de dados11. O capítulo dispõe também sobre solução de contro-vérsias específica para o setor financeiro12, prevê a consignação de reservas num anexo especí-fico13 também ao setor e cria um Comitê de Serviços Financeiros cuja atribuição é de supervi-sar a aplicação do capítulo, participar de disputas e tratar de quaisquer assuntos financeirosabordados pelas Partes14. Nos anexos ao capítulo, estão dispostas obrigações relativas a com-promissos específicos de liberalização, revisão de acesso a mercados, consultas sobre aliberalização do comércio transfronteiriço – ou seja, obrigações relativas à liberalização propri-amente dita do setor.

9 Esta seção corresponde à parte referente a serviços financeiros extraída do estudo MARCONINI, M., “Serviços na ALCA:Normativa Regional e o Espaço para Políticas Públicas”, CEBRI/BNDES, 2003.

10 Artigo 1403 do NAFTA.

11 Artigo 1407 do NAFTA.

12 Artigos 1414 e 1415 do NAFTA.

13 Artigo 1409 que faz referência ao Anexo VII.

14 Artigo 1412.

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O único prazo geral que se aplica ao setor como um todo e aos três Estados Partes quefigura no capítulo já foi mencionado acima e se refere a consultas a serem realizadas no maistardar até 1º de janeiro de 2000 sobre uma maior liberalização.15 Outra disposição presente nocorpo do capítulo refere-se a uma situação específica aos Estados Unidos, mas também repre-senta um prazo para uma maior liberalização. Trata-se de um parágrafo que dispõe sobre umarevisão e re-avaliação do acesso a mercados se e quando os Estados Unidos permitirem abancos comerciais de outras Partes expandirem-se substancialmente em todo o mercadoestadunidense através de subsidiárias e sucursais.16 Em outras palavras, é uma disposição queestipula um compromisso de revisão de níveis de abertura em serviços financeiros no momen-to em que uma das Partes liberaliza uma importante restrição existente em seu regimeregulatório. É como se os Estados Unidos tivessem logrado incluir no corpo do capítulo umaobrigação de reciprocidade por parte de seus sócios, de forma a movê-los a pagar por umamedida de liberalização que, pela própria forma como está redigido o artigo, provavelmenteteria lugar unilateralmente.

Apesar da definição de tratamento nacional ser mais ambiciosa do que a definição doscapítulos relativos ao comércio transfronteiriço e a investimentos17, os mecanismos deliberalização não são diferentes dos mecanismos gerais do acordo. Para os princípios maisimportantes, as Partes podem consignar reservas e, a menos que indicado em anexos, podemtambém gozar da ausência de um prazo para a liberalização total presente nos outros anexosdo acordo.

As disposições mais ambiciosas no contexto de serviços financeiros18 incidem sobre o Mé-xico e constam da própria lista de reservas mexicanas. Ali, o México se compromete a umasérie de desmantelamentos de suas restrições com base em tetos máximos de participaçãoestrangeira no mercado nacional e cronogramas anuais de incrementos dessa participação.Assim, os principais compromissos de real liberalização (e não apenas de consolidações dereservas sem prazos para sua eliminação) no setor financeiro estão contidas nas listas dospaíses e, em particular, na lista do México, cuja abertura de mercado é a mais significativa. Osprincipais elementos dessa abertura são os seguintes:

1) Durante um período de transição que se estenderia até 1º de janeiro de 2000, o capitalmáximo a ser autorizado pelo México para uma filial financeira estrangeira, calculadocomo uma porcentagem do capital agregado de todas as instituições financeiras do mes-mo tipo no país, não deveria exceder as porcentagens estipuladas (Anexo 2, Lista 1).19:

2) No entanto, no caso de bancos múltiplos, mesmo depois do final do período de transição,um teto de 4% para bancos individuais continuaria a ser aplicado indefinidamente.20

15 Anexo 1404.4

16 Parágrafo 3 do Artigo 1403 sobre direito de estabelecimento para instituições financeiras.

17 O Artigo se refere, por exemplo, a medidas formalmente diferentes e formalmente idênticas, no contexto de lograrigualdade de oportunidades competitivas – como faz o GATS e o PM.

18 Talvez as mais ambiciosas no contexto do acordo como um todo.

19 Anexo VII, Lista do México, Seção B, parágrafo 2.

20 Anexo VII, Lista do México, Seção B, parágrafo 13.

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3)O capital agregado de instituições financeiras estrangeiras como parte da soma de capi-tais de todas as instituições financeiras do mesmo tipo no México também teria tetosque se extinguiriam em 1º de janeiro de 2000 (Anexo 2, Lista 2).21

4) Ou seja, bancos poderiam ter uma participação aumentada de 8% para 15% do valortotal de capital de todos os bancos presentes no mercado mexicano entre 1º de janeirode 1994 e 1º de janeiro de 2000, sendo que, conforme a alínea (a) acima, bancos indi-viduais não poderiam passar de 4% do valor total do capital de todos os bancos indefi-nidamente.

5) No caso de empresas de seguros, os limites para o capital de filiais estrangeiras comoparte de todo o capital de empresas de seguros presentes no México seriam diferentese determinados por ano conforme a lista 3 do anexo 2.

6) Ou seja, o aumento do capital agregado da presença estrangeira aumentaria menos doque o aumento previsto para bancos – de 6 para 12%. No entanto, contrariamente abancos, uma vez terminado o período de transição, não haveria limites para empresasde seguros individuais.22.

7) Ainda para seguros, uma outra forma de comprometer um aumento da participaçãoestrangeira no setor no México (além da participação agregada de filiais estrangeirasno total do capital presente no mercado), foi prevista através da participação de capitalestrangeiro em empresas individuais, seguindo os limites estipulados na lista 4 do ane-xo 223.

8) 100% de participação estrangeira no capital de uma empresa seguradora no Méxicoseria, portanto, permitida para novos entrantes a partir de 1º de janeiro de 2000.

9) No caso de empresas seguradoras que já tivessem participações superiores a 10% emempresas mexicanas em julho de 1992, a lista mexicana dispôs que a partir de 1º dejaneiro de 1996, elas já poderiam adquirir até 100% do capital.24

10) Apesar da abertura do mercado mexicano prevista para 1º de janeiro de 2000, umaimportante salvaguarda foi permitida ao México25: caso a soma dos capitais de filiaisfinanceiras estrangeiras alcançasse 25% do mercado mexicano em bancos múltiplos ou30% de bolsas de valores, o México teria o direito de aplicar, por uma única vez duranteo período entre 2000 e 2004, um congelamento nas aquisições por empresas de outrasPartes; o congelamento não deveria em nenhum caso durar mais do que três anos, deforma que a partir de 2007, no máximo, não haveria mais quaisquer tetos aplicados aovalor agregado de filiais financeiras estrangeiras no México (apenas o teto para bancosindividuais de 4% de todo o capital de bancos presentes no mercado).

21 Anexo VII, Lista do México, Seção B, parágrafo 5.

22 Durante o período de transição o limite para empresas individuais seria de 1,5%, conforme visto acima.

23 Anexo VII, Lista do México, Seção B, parágrafo 7.

24 Anexo VII, Lista do México, Seção C, parágrafo 4.

25 Anexo VII, Lista do México, Seção B, parágrafo 9.

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Vale ressaltar que as listas do Canadá e dos Estados Unidos não exibem o mesmo nível decompromisso de abertura, com cronogramas e prazos claros. No caso do Canadá, no entanto,apenas uma medida está inserida em sua lista nacional, referente a 25% dos riscos tomadospor um segurador canadense como sendo o limite para esse segurador adquirir serviços deresseguro de empresas não-residentes.26 No restante, o Canadá se compromete a dar o mes-mo tratamento ao México que o já então concedido aos Estados Unidos27, e exigir o cumpri-mento de uma regra de origem para empresas financeiras das outras Partes baseada em nacio-nalidade do capital e controle.28

No caso dos Estados Unidos, a lista nacional contém uma vasta gama de medidas e restriçõesreservadas, para as quais inexiste qualquer compromisso de eliminação com prazo determinado.Nenhuma das onze medidas específicas reservadas pelos Estados Unidos para serviços financei-ros contém alguma indicação de prazo na rubrica “eliminação gradual”. As medidas reservadas,todas portanto sem prazo para liberalização são aquelas presentes na lista 5 do anexo 2.29

A comparação entre os dois acordos no tocante a serviços financeiros indica que o objetivode atingir liberalização do setor é comum aos dois acordos e que o NAFTA dispõe maisdetalhadamente sobre cronogramas de abertura – sobretudo no caso do México. O prazogeral de liberalização em dez anos constante to Protocolo de Montevidéu , no entanto, seguesendo uma obrigação bastante forte para o setor financeiro, assim como para todos os outrossetores incluídos no âmbito do Protocolo.

Listas Positivas vs. Listas Negativas

No contexto do mecanismo de liberalização, uma outra diferença importante diz respeitoà distinção entre mecanismos baseados em listas positivas ou negativas de setores, sub-setoresou medidas relativas ao comércio de serviços. Essas listas são, afinal, as listas que determinamonde as disciplinas de liberalização, “acesso a mercados” e “tratamento nacional”, serão ounão aplicadas.

Uma lista positiva é uma lista que contém setores, sub-setores ou medidas que um paíslista “positivamente”: listar positivamente significa listar setores ou sub-setores onde incideum princípio ou uma obrigação de liberalização. Inversamente, listar negativamente significalistar setores ou sub-setores onde não incide nenhum princípio ou obrigação. A distinção é,portanto, simples e diz respeito ao que se inclui ou exclui de uma determinada lista.

Numa lista positiva, o que estiver excluído está livre de qualquer compromisso ouobrigação. Por exemplo, se o País tiver negociado por meio de uma lista positiva que nãotenha serviços financeiros, ele estará livre para tomar medidas restritivas ao acesso a mercadosou ao tratamento nacional para o setor de serviços financeiros – isto porque o setor não foiincluído em sua lista positiva de setores. Numa lista negativa, o que estiver excluído estáplenamente liberalizado e comprometido com a abertura porque o que se inclui na lista sãosetores ou sub-setores onde a abertura ainda não é plena – onde existem restrições. Assim, seo setor de serviços financeiros estiver excluído da lista negativa, supõe-se que ele esteja livrede quaisquer restrições ao acesso a mercados ou ao tratamento nacional e plenamente libera-lizado – e não que esteja “livre para tomar medidas restritivas” como é o caso quando se exclui

26 Anexo VII, Lista do Canadá, Seção A.

27 Anexo VII, Lista do Canadá, Seção C.

28 Anexo VII, Lista do Canadá, Seção B.

29 Anexo VII, Lista dos Estados Unidos, Seção A.

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da lista positiva. Uma lista positiva, portanto, indica setores ou sub-setores sujeitos à liberalizaçãoenquanto uma lista negativa indica setores ou sub-setores isentos de qualquer obrigação deabertura.

O acordo do NAFTA dispõe sobre um processo de liberalização através de listas negativasde setores: a liberalização só não incidirá sobre os setores ou sub-setores incluídos na lista;qualquer setor não mencionado na lista de um país estará então plenamente sujeito àliberalização. Já o Protocolo de Montevidéu, assim como o GATS, dispõe sobre um processode liberalização através de listas positivas: a liberalização só incidirá sobre os setores ou sub-setores incluídos na lista; qualquer setor não mencionado na lista de um país estará então livrede qualquer obrigação de liberalização.

A distinção pode parecer análoga à distinção entre um copo “meio-cheio” e um copo “meio-vazio”. No entanto, existem aspectos dessa distinção que podem fazer diferença no processode regulamentação e abertura de setores de serviços – dentre os quais destacam-se:

1. Abrir um mercado de serviços é um esforço regulatório e envolve não apenas a elimina-ção de regulamentações como a re-regulamentação. Uma lista negativa força o país a secomprometer com situações regulatórias em todos os setores, inclusive aqueles ondeo processo de abertura está ainda em andamento e requer revisões e adaptações de-pendendo de como reage o mercado. Uma lista positiva admite ao país deixar um setorou sub-setor de fora por algum tempo – o que preserva temporariamente a soberaniaregulatória do país e permite abrir com critério e não de forma imposta;

2.No caso de países em desenvolvimento, a obrigação de listar tudo o que deve ser “preser-vado” do processo de liberalização representa uma enorme tarefa; se o sistemaregulatório em um determinado setor é pouco desenvolvido e não foi ainda submeti-do às exigências regulatórias inerentes ao processo de abertura, a inclusão desse setornuma lista negativa implicaria que o país não tem mais o direito de regulamentar osetor no futuro, mesmo que a própria liberalização exija um novo conjunto de medidaspara adaptar o setor às novas condições de mercado.

A lista negativa, portanto, exige que países conheçam a fundo seus regimes regulatórios etenham a capacidade de discernir entre as medidas que necessitam manter por objetivos depolítica nacional e as que podem ou desejam deixar de fora e assim submeter automaticamen-te ao processo de liberalização. Como os regimes regulatórios de países como o Brasil estãoem plena fase de mutação, inclusive por razões de re-regulamentação no contexto da aberturaresultante de privatizações, concessões de serviços públicos e a entrada de outras formas deinvestimento direto estrangeiro, as listas positivas podem fazer mais sentido: o país mantémmargem de ação em setores não incluídos na lista, sempre podendo aumentar a listagradativamente, na medida em que a situação regulatória de cada setor evolua e se torne cadavez mais clara e definida.30

30 A referência que se faz a “positiva” ou “negativa” diz respeito então à inclusão ou exclusão de setores ou sub-setores deserviços. Vale ressaltar que tanto numa lista positiva como numa lista negativa, uma vez listado um setor ou sub-setor, alista de medidas consideradas restritivas que se incluem para esse setor ou sub-setor tem uma natureza “negativa”: ouseja, as medidas incluídas para descrever a situação regulatória desse setor ou sub-setor são entendidas como sendo asúnicas que restringem o acesso a mercados ou o tratamento nacional – o que não estiver na lista em termos de medidas,portanto, está plenamente liberalizado; todo o entorno regulatório não incluído é automaticamente aberto ouliberalizado.

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Vale ressaltar, no entanto, que mecanismos “positivos” ou “negativos” não são o fatordeterminante para o processo de liberalização que resulta de um acordo sobre o comércio deserviços. Com efeito, uma percepção bastante comum, porém equivocada, é que o mecanis-mo de listas negativas seja mais conducente à liberalização ao forçar países a serem plenamen-te transparentes sobre sua situação regulatória e assim colocá-los em posição supostamentemais tendente a fazer concessões ou ceder a demandas de parceiros comerciais. A própriahistória do NAFTA confirma o equívoco já que as listas de seus Estados Partes contêm setoresinteiros que depois de sete anos ainda não foram retirados e submetidos às disposições deliberalização do acordo, apesar das listas serem negativas e incluírem apenas setores, sub-setores e/ou medidas não sujeitos a quaisquer obrigações.31

O que se tem observado cada vez mais claramente na experiência acumulada de quaseuma década sobre modalidades e mecanismos de liberalização de serviços no hemisfério éque o ritmo de liberalização não é determinado por listas negativas ou positivas e sim porcompromissos relativos a objetivos e prazos. O NAFTA não contém nenhum compromissocom relação à total abertura dos setores de serviços de seus membros, nem sequer sobre umperíodo de tempo dentro do qual a liberalização, seja ela parcial ou total, deva ocorrer. Nessesentido, apesar de ser baseado no mecanismo de listas negativas, o NAFTA é menos ambiciosodo que o Protocolo de Montevidéu cujo mecanismo é o de listas positivas de setores: enquan-to o NAFTA não diz nada sobre nível e prazos de liberalização, o Protocolo de Montevidéuestipula que a total abertura do mercado intra-zona de serviços deverá ter lugar dez anosdepois da entrada em vigor do instrumento.32

Serviços vs. Investimentos

Um dos pontos de divergência nas negociações da ALCA em serviços tem sido a questãodo tratamento do tema investimentos. A divergência advém do fato de que os instrumentosque tratam do comércio de serviços no hemisfério abordam de forma distinta a questão doinvestimento em serviços. No caso do NAFTA, existe um capítulo específico dedicado a inves-timentos, tanto em bens quanto em serviços. No caso do MERCOSUL, investimentos em servi-ços são tratados separadamente de investimentos em bens, através do Protocolo de Montevi-déu sobre o Comércio de Serviços – ou seja, o instrumento do MERCOSUL que trata de todasas transações intra-zona de serviços. No Protocolo, um dos quatro modos de prestação refere-se à presença comercial de prestadores de serviços, o que corresponde à questão do investi-mento direto estrangeiro no setor.

Que no mundo real a questão de investimentos é intimamente ligada à questão do comér-cio de serviços, não existe a menor dúvida. Que no mundo dos acordos de integração as duasquestões necessitem estar juntas ou não, já é uma questão a ser avaliada dependendo doobjetivo nacional a ser atingido por essa ou aquela preferência. Para avaliar essa questão, o quese deve ter claro é o impacto de uma ou outra modalidade sobre a relação entre dois objetivos:o de atrair capitais estrangeiros de longo prazo e o de ter ingerência sobre o perfil do investi-mento e sua função no mercado. Apesar do segundo objetivo estar em desuso nos últimostempos dada a grande concorrência mundial para a atração de investimentos estrangeiros, arelação entre a atração e a ingerência segue tendo sua relevância em setores cruciais da econo-

31 Ver, PRIETO, F.J. “The GATS, Subregional Agreements, and the FTAA: How Much is Left to Be Done?”, capítulo 12 emServices Trade in the Western Hemisphere: Liberalization, Integration and Reform, Sherry M. Stephenson, ed., BrookingsInstitution Press & General Secretariat/Organization of American States (OAS), Washington D.C., 2000, p. 219.

32 A Decisão 439 da Comunidade Andina também estabelece o objetivo de eliminar todas as barreiras e restrições aocomércio intra-zona de serviços e determina um prazo máximo de apenas cinco anos para atingi-lo.

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mia tais como o de telecomunicações. O conteúdo dos editais de privatização, nesse contexto,pode revelar importantes elementos balizadores para uma análise mais criteriosa dos rumos atrilhar na regulamentação de investimentos estrangeiros em serviços.

O MERCOSUL tem se oposto a tratar investimentos em serviços num capítulo dedicado aotema investimentos como um todo, preferindo manter o tema no âmbito de um futuro capítu-lo sobre todos os tipos de transações em serviços. A escolha até agora tem sido mais tática/negociadora do que propriamente econômica ou inspirada em realidades de mercado. Exis-tem, no entanto, questões de substância que incomodam o Brasil na negociação na medidaem que limitariam a autonomia do País em áreas de interesse estratégico para o desenvolvi-mento econômico. Entre o tático e o substantivo, as vantagens e as desvantagens de se tratar otema em um capítulo separado são as seguintes:

1. A tática de insistir em manter serviços num capítulo específico

● Taticamente, insistir em manter separados os temas de serviços e de investimentospermite ao Brasil ter mais poder de barganha nas negociações como um todo, já queos países do NAFTA e vários outros que já negociaram ou estão negociando acordoscom o NAFTA querem muito um capítulo de investimentos que inclua serviços;

● Porém, o efeito disso é limitado no tempo e deverá ser resolvido bem antes do finaldas negociações; uma avaliação importante diz respeito ao possível efeito de se evi-tar a negociação do tema “investimentos” na própria política brasileira de atração deinvestimentos externos – sobretudo em áreas cruciais de serviços como, por exem-plo, os de energia, transportes ou turismo. Afinal, um dos pontos potencialmente afavor da própria ALCA pode ser (dependendo da negociação) o de servir como “car-tão de visita” para investidores que vejam em sua adesão a confirmação de um tipode inserção no mercado internacional que privilegia a conciliação com interessesexternos.

2. A substância de insistir em manter serviços num capítulo específico

● Caso haja apenas um capítulo que trate de serviços, tanto a negociação de abertu-ra para IDE’s (permitir o investimento no país) quanto de tratamento do IDE umavez estabelecido no País (como tratar o investimento uma vez concedido o acesso),estariam num mesmo âmbito. A questão que se coloca é se isso aumenta o poderde barganha de um País e o equilíbrio geral nas negociações já que os trade-offs nanegociação teriam, supostamente, que ocorrer dentro do próprio setor de servi-ços. Por exemplo, concessões em serviços financeiros, deveriam ser compensadasem serviços financeiros ou outros serviços – e não em agricultura ou produtosindustriais;

● A verdade é que o equilíbrio em negociações comerciais internacionais dificilmentese dá no contexto de apenas um setor e/ou tema: os trade-offs “tradicionalmente” seproduzem de qualquer forma entre todos os temas da negociação. É evidente que osetor de serviços, assim como os temas de investimento, fazem parte de um pacoteglobal de concessões onde os equilíbrios não se darão dentro de cada tema e simentre os diversos temas da negociação. Assim, é importante, sobretudo nas fasesfinais das negociações, ter presente quais estratégias efetivamente aumentam ou es-vaziam o poder de barganha de um País nas negociações como um todo;

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3. Excluir a questão de requisitos de desempenho do âmbito de serviços

● O acordo do NAFTA em seu capítulo de investimentos proíbe uma série de requisi-tos de desempenho (conteúdo nacional, por exemplo) – tanto para bens como paraserviços. O Brasil defende que, ao manter serviços num capítulo único, o País evitariase comprometer com a eliminação desses requisitos;

● No GATS, no entanto, se um país aplica requisitos de desempenho, ele deve dequalquer forma indicar tais requisitos em sua lista de compromissos. Ou seja, é umerro pensar que o GATS é omisso quanto a requisitos de desempenho. Além disso oNAFTA, como o GATS, permite que países reservem suas posições em anexos sobreo tema de requisitos de desempenho.

4. Excluir a questão da solução de controvérsias entre investidor e Estado doâmbito de serviços

● O NAFTA dispõe sobre a possibilidade de um investidor privado (uma pessoa físicaou jurídica estrangeira) requerer uma arbitragem diretamente contra Estados. A OMC,por exemplo, é um acordo inter-governamental e todas as controvérsias devem serde Estado para Estado. Esta questão representaria, portanto, um precedente signifi-cativo de ingerência no sistema judicial nacional e para o qual o país não estaria, dequalquer forma, preparado – assim como muitos outros países.

● Não há desvantagens para o Brasil em excluir o tema. Ocorre apenas que a ques-tão poderia ser evitada através da negociação, sem que para isso se advogasse queo tema de investimentos em serviços ficasse num capítulo dedicado a serviços. Ouseja, a separação de serviços do capítulo de investimentos não tem necessariamen-te nada a ver com a questão investidor/Estado, que é uma questão geral que deve-ria ser retirada de qualquer dispositivo de uma futura ALCA.

5. Buscar definições aceitáveis para investimentos

● As definições de investimento do NAFTA fazem com que os países tenham de secomprometer a dar acesso e não discriminar em seus mercados nacionais os investi-mentos e investidores (pessoas físicas e jurídicas) estrangeiros. Isto vai além do GATSque não protege investidores (contra expropriação, por exemplo), mas simplesmen-te garante certos direitos de acesso e tratamento a serviços e prestadores de servi-ços.

● Não há desvantagens em buscar definições adequadas. Ocorre apenas que este as-sunto não se relaciona apenas com a questão de incluir ou não serviços num capítulode investimentos. Trata-se de uma questão sistêmica que deve ser negociada tecnica-mente evitando temas desnecessariamente controvertidos e buscando um equilíbriode direitos e obrigações nas negociações que seja aceitável para todos os países par-ticipantes.

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Elaboração da Posição OficialBrasileira

33 O Decreto nº 4.732 de 10 de junho de 2003, no entanto, dispôs que um Comitê Executivo de Gestão passasse areportar diretamente à CAMEX, sendo composto pelos secretários-executivos e outros secretários de ministérios járepresentados na CAMEX assim como os de vários outros ministérios - dentre os quais: trabalho e emprego, turismo,transportes, e ciência e tecnologia.

No GovernoNo governo, a coordenação nacional dos temas de serviços e investimentos para efeitos

das negociações internacionais está no Ministério das Relações Exteriores - MRE, o Itamaraty,especificamente na Divisão do Comércio de Serviços e Assuntos Financeiros (DSF) subordina-da ao Departamento Econômico do Ministério. A Divisão é que coordena o trabalho relativoao comércio de serviços nos três mecanismos permanentes de consulta patrocinados peloMinistério: o Grupo de Trabalho sobre Comércio Internacional de Mercadorias e de Serviços(GICI), a Seção Nacional de Coordenação dos Assuntos Relativos à ALCA (SENALCA) e a SeçãoNacional de Coordenação dos Assuntos Relativos à Associação Inter-Regional Mercosul-UniãoEuropéia (SENEUROPA). Por meio desses três grupos, o MRE coordena todas as negociações(Mercosul, Mercosul-UE, ALCA, OMC) relativas a serviços assim como a todos os outros temasde negociação.

Às reuniões do GICI, da SENALCA e da SENEUROPA, comparecem em torno de 70 pesso-as, representantes das principais instituições empresariais (CNI CNC, CEB), dos sindicatos dostrabalhadores (CUT, CGT, Força Sindical) e de outras entidades da sociedade brasileira. Nosetor de serviços financeiros e investimentos, a SUSEP, a CVM, o Banco Central do Brasil e oMinistério da Fazenda fazem interface com a entidades e associações de classe. Às propostas eposicionamentos extraídos destas reuniões é dado um encaminhamento político. Segundoinformação do governo, a avaliação é que a CVM, através de sua assessoria internacional, vemsendo bastante atuante nas questões de serviços financeiros.

O processo interno de coordenação, encabeçado portanto por uma divisão do Itamaraty,se beneficia de insumos originários de diversos ministérios setoriais e do Banco Central - emparticular dos Ministérios dos Transportes, das Comunicações e da Fazenda. A Câmara de Co-mércio Exterior, entidade criada durante o governo Fernando Henrique Cardoso como umcolegiado de ministérios envolvidos no tema do comércio exterior brasileiro e inicialmenteligado à Presidência da República, também aborda questões relativas ao comércio de serviços,porém ainda sem congregar todos os ministérios relevantes ao tema. Vale ressaltar que, dada aheterogeneidade do setor, além dos ministérios diretamente voltados para setores de servi-ços, até mesmo os Ministérios da Cultura (serviços audiovisuais), da Educação (serviços pro-fissionais) e do Trabalho (movimento de pessoas físicas) têm a ver com o tema das negocia-ções sobre o comércio de serviços. A ausência de um “Ministério de Serviços”, no entanto, nãoé particularidade brasileira, sendo também ausente na vasta maioria de países do mundo.33

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No setor privadoNo setor privado, a Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), criada em 1996, é um sistema

aberto à participação de organizações empresariais ou empresas de qualquer setor econômi-co, por adesão voluntária, cujo objetivo é coordenar o processo de influência do setor empre-sarial brasileiro nos processos de negociações comerciais internacionais em que o Brasil estáenvolvido, buscando a formação do consenso interno, o estabelecimento de canais de diálogocom o governo brasileiro e a atuação coordenada em foros empresariais internacionais. A CEBfunciona para a disseminação de informações, para a organização de Grupos de TrabalhoTemáticos, realização de reuniões para dialogo com os negociadores brasileiros e definição deestratégias para atuação em foros internacionais. Além disso, coordena a elaboração de docu-mentos e a participação empresarial em foros internacionais tais como o Foro Empresarial dasAméricas e o Foro Empresarial Mercosul-Europa. Dela participam Confederações Nacionais detodos os setores empresariais, Federações Estaduais, Sindicatos Empresariais, Associaçõesempresariais e empresas.

Atualmente, a CEB está estruturada da seguinte forma: possui um Conselho de Orienta-ção Estratégica (COE), que é composto por 24 membros representando as organizações em-presariais de cúpula e entidades setoriais com relevante participação no comércio exteriorbrasileiro; uma Secretaria Executiva a cargo da Confederação Nacional da Indústria (CNI); eGrupos de Trabalhos Temáticos, formados por empresários e representantes de organizaçõesempresariais, que têm como missão elaborar documentos de consenso sobre os diversos te-mas que fazem parte das agendas negociadoras.

O COE tem como objetivos principais os seguintes:

1) Formular estratégias para ampliar a influência do setor empresarial sobre as posiçõesbrasileiras em matéria de negociações comerciais internacionais;

2) Liderar a representação de interesses comerciais do setor empresarial brasileiro emnegociações comerciais internacionais;

3) Estimular a capacitação de representantes empresariais para negociações comerciaisinternacionais;

4) Assegurar que a Coalizão Empresarial Brasileira represente, de fato, a mais ampla gamade interesses empresariais, através da mobilização de empresários / entidades empre-sariais de todos os setores interessados nas negociações;

5) Apresentar aos Ministros das áreas envolvidas nas negociações as posições e recomen-dações empresariais para as negociações; e

6) Representar a Coalizão nos mais importantes foros internacionais.

Vale ressaltar que o setor privado de serviços tem uma representação muito pequena epouco atuante no tema das negociações internacionais – de forma alguma comparável à repre-sentação dos setores agrícolas e industriais. Poucos são ainda os setores de serviços represen-tados nas reuniões da CEB ou dos grupos oficiais do governo federal.

No Mercado de Capitais

Ainda que o setor de serviços financeiros como um todo não esteja mobilizado, no merca-do de capitais a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e a Companhia Brasileira de Liquida-ção e Custódia (CBLC) têm promovido, desde 2000, diversas discussões sobre o tema dasnegociações internacionais com o intuito de desenvolver um posicionamento para o setor. Em

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2001, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores e com a Comissão de ValoresImobiliários, a BOVESPA organizou um seminário que teve como resultado a criação de doisgrupos de trabalho, um em serviços financeiros e outro em investimentos, cujo objetivo eraaprofundar as discussões sobre as negociações internacionais. As reuniões destes grupos detrabalho contavam com a presença da CVM e de representantes das principais entidades declasse do setor financeiro. Além da formação dos grupos, a BOVESPA e a CBLC encomendaramdois estudos com o objetivo de aprofundar a reflexão existente a respeito do tema, sendo umdos estudos este realizado em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Comerciais (CEBRI).

Serviços: Moeda de Troca, sem RepresentaçãoEntre a reconhecida complexidade do tema e a sua ainda baixa representatividade nos

processos de formulação de posições oficiais e empresariais, o setor de serviços corre o riscode ser “sacrificado” nas negociações. Isso decorre do fato de que as negociações se pautampor “trocas intersetoriais”, por barganhas entre setores “oferecidos” e “demandados”, numjogo que busca um equilíbrio entre interesses ofensivos e defensivos. A determinação do quese considera sensível ou passível de mais ou menos negociação e barganha é, no entanto, umjogo de natureza interna, nacional, que depende diretamente da presença exercida no mo-mento adequado para efeitos da negociação tanto interna quanto externa, pelos setores inte-ressados e potencialmente afetados. O setor financeiro não constitui exceção nesse contexto,sendo, além disso, um dos mais visados como “moeda de troca” nas diversas negociaçõescomerciais internacionais.

Nesse sentido, estar “ausente” representa um risco porque a ausência pode ser interpreta-da como um aval do setor em relação a posições oficiais que podem nem sempre corresponderaos seus anseios. Um cenário possível, senão provável, nos vários foros de negociação é o deque o setor de serviços, em geral, e o de serviços financeiros, em particular, sejam considera-dos a contrapartida ideal para uma oferta na área agrícola por parte dos grandes parceiroscomerciais do Brasil (EUA e União Européia). Por mais confortável que o setor financeiro sesinta sobre a abertura do mercado nacional para serviços e prestadores de serviços estrangei-ros, o grau de abertura com o qual se comprometer numa negociação requer uma atençãodetalhada e um posicionamento tanto técnico quanto estratégico por parte do setor.

A formulação da posição oficial brasileira, portanto, depende em grande medida doposicionamento que um setor tem em relação a outros setores. O peso que determinado setortraz para o processo empresarial é, assim, quase tão importante quanto sua interface com ogoverno. O que ocorre na Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), por exemplo, é claramenteuma acomodação entre interesses empresariais distintos e até opostos. É conhecido o fatoque alguns setores apóiam a abertura do mercado brasileiro em troca de maior acesso a mer-cados exteriores enquanto outros não podem se dar a esse “luxo”. É conhecido também o fatode que o poder de barganha de um país depende daquilo que ele oferece ou deixa de oferecer.Nesse contexto, vale ressaltar os seguintes elementos de relevância para o setor de serviços eserviços financeiros:

1) Para os setores competitivos e exportadores tais como o setor agrícola, uma oferta naárea de serviços e serviços financeiros seria muito desejável já que assim o Brasil au-menta seu poder de barganha para exigir a eliminação de subsídios, tarifas ou medidasnão-tarifárias agrícolas;

2) Para os setores industriais “sensíveis” tais como o de bens de capital, uma oferta na áreade serviços e serviços financeiros também é muito desejável porque, assim, em princí-

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pio, o Brasil sofreria menos pressão para abrir o seu setor industrial ou pelo menospoderia defender-se melhor já que poderia argumentar que um esforço grande já foifeito no setor terciário;

3) Para o próprio setor de serviços, a barganha intersetorial certamente envolverá o setorfinanceiro. Vários setores sensíveis (serviços profissionais, serviços de transporte, etc.)poderão pressionar para que o setor financeiro seja comprometido, o que seria umaforma de reduzir o risco desses setores serem ofertados no processo de negociação.

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Posfácio do Autor: ParâmetrosEstratégicos para as NegociaçõesInternacionais em Serviços Financeiros

O fato do Brasil ter à frente três espaços distintos de negociação – OMC, ALCA e Mercosul-União Européia, no contexto de um Mercosul ainda fragilizado por anos de deriva e controvér-sia, introduz novos riscos e oportunidades ao cenário externo brasileiro. Os três cenários sãocoincidentes no tempo e seguem um cronograma também em grande medida coincidente, oque aumenta a importância da inter-relação que existe ou deve existir entre os diferentes forosde negociação. O País deve ter presente a necessidade de pensar globalmente nas três negoci-ações.

● Mais do que nunca as negociações comerciais internacionais serão o resultado de umcomplexo intercâmbio de concessões entre temas constantes da pauta de negociação.Mais do que nunca, no entanto, tais negociações serão resultantes de uma troca deconcessões entre temas cuja quantificação, lógica de mercado, justificativa regulatória,âmbito de aplicação e valor social são os mais díspares possíveis.

● Serviços financeiros ainda é um dos setores de maior interesse comercial nas negocia-ções para países desenvolvidos, ao mesmo tempo em que constituem o grupo de ativi-dades mais delicado do ponto de vista sistêmico nacional e internacional. Em todas asnegociações o setor de serviços financeiros é visto como um importante elemento nojogo de concessões. Concessões na área industrial, por exemplo, são relativizadas naprática com concessões possíveis em serviços financeiros. A consolidação da aberturado setor financeiro brasileiro por meio das negociações comerciais internacionais éamplamente almejada por países desenvolvidos.

● O país deve ter uma posição clara sobre as negociações internacionais que o envolvem.Cabe ao setor prover os fundamentos dessa posição e transmiti-los ao Governo Fede-ral. O setor deve estar inteirado das estruturas e mecanismos da normativa internacio-nal e do andamento das diversas negociações e propor formas de tratar suas atividadesnos diferentes foros. Essa atribuição não cabe apenas ao Governo.

Do Fracasso de Cancún à Expectativa de MiamiA conferência ministerial de Cancún foi uma reunião de “meio-percurso” da chamada Ro-

dada de Doha – a oitava rodada de negociações multilaterais de comércio desde a criação doGATT em 1947 e a primeira desde a criação da OMC (que incorporou e ampliou o GATT) em1995. Nesse sentido, a expectativa em torno de Cancún era excessiva e o clima, erroneamente,era o de final de rodada. Isso fez com que a reunião fosse percebida como grande fracasso pornão ter resolvido questões relativas à agricultura, por não ter incluído novos temas (comoinvestimentos, concorrência, compras governamentais e facilitação de comércio) e por nãoter avançado na implementação de acordos da rodada anterior – a Rodada Uruguai.

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● No entanto, o verdadeiro fracasso refere-se à falta da tradicional liderança dos EstadosUnidos no sistema multilateral de comércio que, contrariamente a todas as rodadasprévias, resolveu conservar seu próprio protecionismo chegando ao cúmulo de aliar-se à União Européia na preservação de subsídios agrícolas. Sem liderança norte-ameri-cana, ninguém lidera.

● A verdade é que as negociações continuam, porém de uma forma menos previsível.Sem acordos sobre prazos e procedimentos em Cancún, as negociações correm o ris-co de avançar sem que haja um equilíbrio geral entre todos os temas. Temas menos“visíveis” podem sofrer na medida em que não estiverem “prontos” para definições,que podem ser um tanto “súbitas”. Nesse contexto se insere o setor de serviços finan-ceiros que, embora não seja a causa do impasse atual, ainda é um dos setores maisimportantes da negociação, dado o seu valor sistêmico para economias e mercadosnacionais e internacionais.

● A falta de definição, ainda que possa resultar em falta de acordo até o final de 2004,pode também resultar em surpresas. Nesse sentido, a falta de clareza milita a favor deuma intensificada preparação –que nunca será excessiva, dadas as diversas demandas“além-OMC”. Tal organização não depende do sucesso ou do fracasso da Rodada deDoha. Com efeito, um outro cenário que se vislumbra é o da intensificação de negoci-ações bilaterais e regionais, cujo teor tende a ser ainda mais complexo (regras de ori-gem, disciplinas mais ambiciosas, etc.) do que os acordos da OMC.

● O hemisfério americano em geral e a América do Sul em particular demonstram essanova realidade. O governo norte-americano já deu claras indicações de que o “palco”que lhe interessa é o regional e bilateral. Nesse sentido, as negociações da ALCA po-dem experimentar um novo impulso, particularmente se a presente administração nosEstados Unidos resolver que precisa da ALCA para efeitos internos (“mostrar serviço naárea comercial”). Acordos bilaterais em certa medida servem para isso mas, possivel-mente, não são suficientes.

● A “grande batalha” se trava entre adeptos do paradigma NAFTA e adeptos do paradigmaMERCOSUL (o que corresponde por sua vez ao paradigma GATS), em torno tanto doefeito real de mercado das disciplinas correspondentes como da percepção que setenha desse efeito. O texto do projeto de capítulo sobre serviços está totalmente emcolchetes, o que indica a falta quase absoluta de acordos sobre o conteúdo das possí-veis disciplinas a serem incluídas. A proposta dos Estados Unidos é reproduzir o mes-mo capítulo do NAFTA na ALCA.

● “Liberalização” nos diversos acordos existentes é primordialmente a eliminação de me-didas que restringem o acesso a mercados e medidas que negam um tratamento naci-onal a serviços ou prestadores de serviços estrangeiros. O GATS, assim como o Proto-colo de Montevidéu, são mais flexíveis e permitem, por exemplo, que países não con-solidem plenamente sua situação regulatória e mantenham assim carte blanche paracontinuar regulando ou até restringindo setores e sub-setores em alguns de seus mo-dos de prestação. Já o NAFTA exige que tudo seja consolidado, “congelando” assimtodo o regime regulatório existente e estabelecendo um patamar regulatório mínimode abertura comercial.

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A Declaração de Miami, o Setor de ServiçosFinanceiros

A reunião ministerial de Miami conseguiu evitar que o evento ficasse marcado por imagensnegativas. Aparentemente, não houve fracasso, a discórdia foi mínima e o protesto nas ruas foibem menos intenso do que em ocasiões passadas de igual estatura. A declaração deve ser vistanesse contexto de minimização de riscos e problemas. Para os Estados Unidos, uma reuniãohemisférica em seu território um ano antes das eleições presidenciais não deveria de formaalguma atrair muita atenção interna e tornar-se potencialmente um NAFTA à trigésima-quartapotência aos olhos da opinião pública e do body politic norte-americano.

● Além de evitar imagens negativas, a reunião de Miami teve o mérito de recolocar asnegociações nos “trilhos”. Depois da animosidade mútua advinda da reunião de Cancúnda OMC quando o Brasil foi culpado do fracasso pelos Estados Unidos por ter lideradoo G-22 e reagiu à altura, insistindo em posições obstrucionistas na reunião da ALCA deTrinidad Tobago, os dois co-presidentes precisavam demonstrar que a “cúpula” da ne-gociação era capaz de liderar, e não de emperrar, as negociações.

● Em Miami, a ALCA-light que o Brasil queria transformou-se numa ALCA à la carte:todos os temas permaneceram sobre a mesa de negociação; nada foi excluído (pará-grafo 10 da declaração); a única diferença a partir de então é que países poderiam iralém de um patamar comum em termos de acordos gerais e de compromissos deabertura nos diversos temas (parágrafo 7 da declaração). Países como o Brasil que nãoquisessem “ir além” deveriam, de qualquer forma, acordar um nível mínimo de obriga-ções (acordos, capítulos, anexos, etc.) e submeter listas de compromissos deliberalização em todos os temas. O que se alegava então ser novo, na verdade era algoque sempre estivera presente: que países fariam ofertas de abertura diferenciadas (oNAFTA e o GATS, afinal, são assim).

● O setor financeiro não fora objeto de qualquer discussão específica na reunião de Miami.Na verdade, Miami representara um retrocesso no calendário que se respeitava antesdos fracassos de Cancún (OMC) e Trinidad Tobago (Comitê de Negociações Comerci-ais - CNC, instância de nível vice-ministerial que conduz as negociações da ALCA). An-tes de Cancún, os Estados Unidos já haviam proposto um esboço de capítulo sobreserviços financeiros à imagem do NAFTA e os países se preparavam para abordar otema. Apesar de não ter se materializado um consenso sobre a conveniência de umcapítulo separado sobre serviços financeiros, os E.UA. avançavam em sua posição e ohemisfério começava a reagir.

Vale ressaltar elementos-chave das negociações da ALCA que revelam certos equívocos

conceituais de especial importância para o setor financeiro:

● O setor de serviços financeiros não foi em nenhum momento excluído das negocia-ções da ALCA. Ainda que a posição individual do Brasil seja a de não incluir o setor emsua lista de compromissos e tentar impedir que outros países criem uma instânciaadicional (um capítulo, por exemplo) que lhes permita assumir compromissos maisambiciosos em serviços financeiros, as discussões sobre o setor seguem intensas, deli-cadas e definitivamente presentes na mesa de negociação da ALCA;

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● O País ainda tem de decidir o nível de compromisso que vai querer para cada tema.A declaração de Miami não fora suficiente para que o Brasil pudesse deixar de assumircompromissos, pois apenas homologara a forma de negociar - e não seu conteúdo. Ouseja, o País não tem em 2004 a opção de negligenciar aspectos da negociação; muitopelo contrário, ele tem mais do que nunca que se preparar em todos os temas parasaber quais seriam suas opções “first-, second-, third-best” em cada situação. Se o setorfinanceiro não tiver claro o que pode/quer oferecer e obter das negociações, não terácomo calibrar sua posição caso seja chamado a “ceder” em virtude do equilíbrio geraldas negociações (trade-offs com outros setores, pressões internas, pressões norte-americanas, etc.).

● O novo prazo é curto para definir o tipo de disciplina para cada tema. Apesar dasnegociações terem se atrasado um pouco em relação ao que se esperava no penúltimoano da negociação, 2003, o setor financeiro, assim como todos os setores, terá de seposicionar em 2004 sobre que tipo de acordo geral, que tipo de disciplina específica,que nível de compromissos assumir em listas de negociação. O mandato de Miamiprevia que já no primeiro trimestre de 2004 o CNC deveria ter claro quais países iriamaderir apenas a disciplinas gerais, quais iriam aderir a disciplinas específicas mais ambi-ciosas e que disciplinas específicas poderiam existir em nível setorial. O último ano danegociação, assim, tem se caracterizado por negociações em vários “níveis” – seja deconceitos, princípios ou compromissos de liberalização. Países participantes diferemem sua posição sobre o aprofundamento do processo de liberalização e seus mecanis-mos. Enquanto os Estados Unidos, o Canadá, o México e o Chile tendem a privilegiarum acordo plurilateral sobre serviços financeiros com base no NAFTA e no capítulo deserviços financeiros do NAFTA, os países do Mercosul e em grande medida os países daComunidade Andina tendem a preferir um acordo do tipo do GATS, sem obrigaçõesou disciplinas mais avançadas para o setor financeiro.

● O prazo é curto para o projeto de texto do acordo da ALCA. No último ano dasnegociações, 2004, as negociações da ALCA têm produzido projetos revisados e bas-tante avançados sobre os diversos temas de negociação – incluindo as disciplinas co-muns, assim como as disciplinas “adicionais” (acordos plurilaterais de países mais “am-biciosos”). A participação do Brasil nos vários níveis (comum e adicional) tem sidointensa e bastante dinâmica, refletindo a complexidade das negociações: a orientaçãodo governo sobre o que fazer nos diversos cenários possíveis segue dependendo daparticipação ativa do setor empresarial.

● Negociações sobre acesso a mercados continuarão para os serviços financeiros. Alémda formulação de acordos “comuns” e/ou “adicionais”, os países continuarão a negoci-ar compromissos de abertura e tratamento nacional até 30 de setembro de 2004. Mes-mo que o Brasil siga sem oferecer o setor de serviços financeiros (na oferta que o Brasilfez depois da reunião de Trinidad Tobago, serviços financeiros não estão incluídos), apressão vai ser muito grande para que ele seja incluído. Afinal de contas, o Brasil assu-miu compromissos em serviços financeiros no GATS e não pode oferecer na ALCAmenos do que ofereceu na OMC.

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O setor financeiro como moeda de troca. É verdade que o Brasil é o protagonista maisimportante para os Estados Unidos nas negociações, mas isso não é garantia que os norte-americanos não exerçam todo seu poder de influência para isolar o Brasil em suas posições eforçar acomodações brasileiras. Essas acomodações potencialmente podem envolver direta-mente o setor financeiro – setor percebido como um dos grandes prêmios de uma negociaçãohemisférica. Agreguemos a isto o fato de que vários setores exportadores brasileiros querempreservar poder de barganha nas negociações, e teremos um cenário onde externa e interna-mente o Brasil terá de saber muito bem, com muito detalhe e clareza de propósito, o que querna área financeira.

2004: O Último Ano de Negociação?O que tornar-se-ia evidente em 2004, o último ano da negociação de acordo com o calen-

dário formal, é que os supostos resultados positivos da Declaração de Miami não seriam sufici-entes para evitar impasses e permitir que as negociações voltassem a ter lugar de forma consis-tente e estruturada. Depois de uma reunião em Puebla do Comitê de Negociações Comerciais(CNC) sem resultados em fevereiro, o processo adentraria uma fase de tentativas fracassadasde recomposição entre os dois co-presidentes – Brasil e Estados Unidos. A inter-relação entretemas (agricultura, serviços, propriedade intelectual, etc.) e o grau de compromisso para cadatema seriam fontes de discórdia sem soluções imediatas.

● O tema de serviços voltaria a ser um dos centros do impasse. O Brasil continuaria aresistir pressões para negociar um acordo geral mais ambicioso ao mesmo tempo emque se dispunha a negociar o setor de forma bilateral – Mercosul/Estados Unidos; oprocesso em 2004 foi pautado por uma resistência importante de países como México,Chile e Canadá em aceitar as premissas acordadas em Miami. Os próprios Estados Uni-dos continuaram insistindo que o Brasil aceitasse acordos gerais mais ambiciosos doque aqueles que o Brasil e o Mercosul pensavam negociar quando firmaram a Declara-ção de Miami;

● O tema da agricultura continuaria a ser objeto de pressão por parte do Mercosul queacusava os Estados Unidos de não fazer o mínimo necessário para justificar qualquermovimento do Mercosul em direção a concessões em áreas consideradas delicadas –dentre elas, serviços; o setor de serviços financeiros não voltaria a ser objeto de nego-ciações específicas; o texto contendo a proposta norte-americana de um capítulo comoo do NAFTA para o setor não sofreria qualquer alteração no período já que não foraobjeto de qualquer negociação adicional;

● O término das negociações em 2004 tornar-se-ia cada vez mais impossível dadas as di-vergências e os conseqüentes atrasos; na medida em que o tempo avançava no ano, aconclusão dependia de acordos mais fortes e menos prováveis.

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ANEXO 1: Listas do Brasil na OMC

Compromissos em Serviços de Arquitetura

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

i. Serviços de Arquitetura(CPC 8671)

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Prestadores de serviçosestrangeiros só poderãoexercer atividades no territórionacional, desde queassociados com prestadores deserviços brasileiros através deconsórcios. A pessoa sóciabrasileira deverá manter acondução do trabalho. Oobjetivo do consórcio deve serdefinido claramente nocontrato que o estabelece. 1

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

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7. Serviços Financeiros

O Brasil adotará compromissosrelacionados com a presençacomercial no mercado de segurosde acidentes de trabalho em atédois anos da adoção peloCongresso Nacional de legislaçãoregulando tal participação

A. Todos os Seguros e ServiçosRelacionados com SegurosSeguros de vidaSeguros de TransporteSeguro de PropriedadeSeguro de Assistência MédicaSeguro de ResponsabilidadeSeguro de casco, máquinas eresponsabilidade civil deembarcações

Seguro de acidente de trabalho

1) Não Consolidado exceto para:- Seguro de transporte:nenhuma. No entanto,presença comercial é requeridapara contratos de importaçãode bens, assim como paraqualquer obrigação derivadada importação;- Seguro de casco, máquinas eobrigações civis podem serautorizadas para asembarcações registradas noRegistro Especial Brasileiro(REB), dependendo dascondições oferecidasinternamente.

2) Não Consolidado

3) Incorporação segundo a leibrasileira, na forma desociedade anônima, e decretopresidencial são requeridos.

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Instituto Nacional de SeguroSocial (INSS) é o únicoprovedor autorizado

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Nenhuma para:- Seguro de transporte, excetopara contratos de importaçãode bens, assim como paraqualquer obrigação derivadada importação;- Seguro de casco, máquinas eobrigações civis podem serautorizadas para asembarcações registradas noRegistro Especial Brasileiro(REB).Não Consolidado para outrosserviços.

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente listaSeguro de acidente de trabalho

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Não Consolidado

4) Não Consolidado

LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Lista 17 – Compromissos em Serviços de Seguros

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

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Lista 19 – Compromissos em Serviços Auxiliares de Seguros

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Serviços auxiliares – agências ecorretores.

Serviços auxiliares – consultoria,atuariais e de inspeção

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Nenhuma

2) Nenhuma

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Para pessoas jurídicas,incorporação segundo a leibrasileira é requerida

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Nenhuma

2) Nenhuma

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

Lista 18 – Compromissos em Serviços de Resseguros e Retrocessão

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

Resseguros e Retrocessão 1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Regulação futura permitirá oprovimento por instituiçõesprivadas. Enquanto isso, é decompetência exclusiva doInstituto de Resseguro doBrasil (IRB – Brasil RessegurosS.A.) aceitar ressegurosobrigatórios ou facultativos,no Brasil ou no exterior, assimcomo distribuir resseguros quenão retém.

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Não Consolidado

4) Não Consolidado

O Brasil adotará compromissosrelacionados com a presençacomercial no mercado deresseguros e retrocessão em atédois anos da adoção peloCongresso Nacional de legislaçãoregulando tal participação

LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Page 57: O Setor de serviços financeiros no contexto das negociações comerciais Internacionais

57BOVESPA - A Bolsa do Brasil

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LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Lista 20 – Compromissos em Serviços Bancários, Instituições Financeiras

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

Serviços providos por instituiçõesfinanceiras

Recebimento dos seguintes fundosdo público:

i) depósitos à vista

ii) depósitos a prazo;

iii) depósitos de poupançadestinados a financiamentohabitacional-Empréstimos de todos os tipos,incluindo:

i) crédito ao consumidor

ii) crédito hipotecário;

iii) financiamento de transaçõescomerciais

B. Atividades bancárias e outros serviços financeiros

Para os propósitos destes compromissos, instituições financeiras são definidas como bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos deinvestimentos, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades de arrendamento mercantil,sociedades corretoras e sociedades distribuidoras. Cada qual pode exercer somente aquelas atividades permitidas pelo Conselho MonetárioNacional, Banco Central do Brasil e/ou pela Comissão de Valores Mobiliários. Instrumentos financeiros, tais como títulos e valores mobiliários,futuros e opções, quando registrados para negociação em bolsa, não podem ser negociados em mercado de balcão. Todos os administradores deprovedores de serviços financeiros devem ser residentes permanentes no Brasil. Escritórios de representação não podem exercer atividadescomerciais.

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) O estabelecimento de novasagências e subsidiárias deinstituições financeirasestrangeiras, assim como oaumento da participação depessoas estrangeiras no capitalde instituições financeirasincorporadas segundo a leibrasileiras, são somentepermitidos quando sujeitos àautorização caso-a-caso peloPoder Executivo, por meio deDecreto Presidencial.Condições específicas podemser requeridas aos investidoresinteressados. Pessoasestrangeiras podem participardo programa de privatizaçãode instituições financeiras dosetor público e em cada caso apresença comercial seráconcedida, também por meiode Decreto Presidencial. Emoutras situações, a presençacomercial não é permitida.Para os bancos estabelecidosno Brasil antes de 5 de outubrode 1988, o número agregadode agências é limitado aoexistente naquela data. Paraaqueles bancos autorizados aoperar no Brasil depoisdaquela data, o número deagências está sujeito àscondições determinadas, emcada caso, à época em que aautorização é concedida.Instituições financeiras, amenos que de outra formaespecificada, serão constituídasna forma de sociedadeanônima quando incorporadassegundo a lei brasileira.

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

Para os serviços de cartão decrédito e “factoring”, tratamentonacional será concedido parapresença comercial, se estesserviços forem definidos comoserviços financeiros em legislaçãofutura adotada pelo CongressoNacional.

Page 58: O Setor de serviços financeiros no contexto das negociações comerciais Internacionais

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LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Lista 21 – Compromissos em Serviços Bancários, Instituições Financeiras II

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

Arrendamento Mercantil Financeiro

Serviços de pagamento e detransferência de dinheiro, exclusivecartões de crédito e de débito

Garantias e compromissos

Negociações, por conta de terceiros,em bolsa ou mercado de balcão, de:

i) instrumentos do mercadomonetário;

ii) câmbio;

iii) futuros, opções e “Swaps”referenciados em ouro e emíndices de preços;

iv) instrumentos referenciados emtaxas de câmbio e de juros,incluindo “swaps”;

v) títulos e valores mobiliáriostransferíveis;

vi) outros instrumentos negociáveise ativos financeiros, incluindoouro.

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) O estabelecimento de novasagências e subsidiárias deinstituições financeirasestrangeiras, assim como oaumento da participação depessoas estrangeiras no capitalde instituições financeirasincorporadas segundo a leibrasileiras, são somentepermitidos quando sujeitos àautorização caso-a-caso peloPoder Executivo, por meio deDecreto Presidencial.Condições específicas podemser requeridas aos investidoresinteressados. Pessoasestrangeiras podem participardo programa de privatizaçãode instituições financeiras dosetor público e em cada caso apresença comercial seráconcedida, também por meiode Decreto Presidencial. Emoutras situações, a presençacomercial não é permitida.

Para os bancos estabelecidosno Brasil antes de 5 deoutubro de 1988, o númeroagregado de agências élimitado ao existente naqueladata. Para aqueles bancosautorizados a operar no Brasildepois daquela data, onúmero de agências estásujeito às condiçõesdeterminadas, em cada caso, àépoca em que a autorização éconcedida.

Instituições financeiras, amenos que de outra formaespecificada, serãoconstituídas na forma desociedade anônima quandoincorporadas segundo a leibrasileira.

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

Para os serviços de cartão decrédito e “factoring”, tratamentonacional será concedido parapresença comercial, se estesserviços forem definidos comoserviços financeiros em legislaçãofutura adotada pelo CongressoNacional.

Page 59: O Setor de serviços financeiros no contexto das negociações comerciais Internacionais

59BOVESPA - A Bolsa do Brasil

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LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Lista 22 – Compromissos em Serviços Bancários, Instituições Financeiras III

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

Participação em ofertas públicas detítulos e valores mobiliários,incluindo “underwriting” ecolocação, como agente, e provisãode serviços relacionados a estasofertas.

Intermediação de recursosmonetários

Administração de ativos,administração de investimentoscoletivos e serviços de custódia edepósito

Serviços de liquidação ecompensação de títulos e valoresmobiliários e derivativos

Serviços de consultoria, pesquisa eassessoria relativos a investimentose carteiras e análise de crédito

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) O estabelecimento de novasagências e subsidiárias deinstituições financeirasestrangeiras, assim como oaumento da participação depessoas estrangeiras no capitalde instituições financeirasincorporadas segundo a leibrasileiras, são somentepermitidos quando sujeitos àautorização caso-a-caso peloPoder Executivo, por meio deDecreto Presidencial.Condições específicas podemser requeridas aos investidoresinteressados. Pessoasestrangeiras podem participardo programa de privatizaçãode instituições financeiras dosetor público e em cada caso apresença comercial seráconcedida, também por meiode Decreto Presidencial. Emoutras situações, a presençacomercial não é permitida.

Para os bancos estabelecidosno Brasil antes de 5 de outubrode 1988, o número agregadode agências é limitado aoexistente naquela data. Paraaqueles bancos autorizados aoperar no Brasil depoisdaquela data, o número deagências está sujeito àscondições determinadas, emcada caso, à época em que aautorização é concedida.

Instituições financeiras, amenos que de outra formaespecificada, serão constituídasna forma de sociedadeanônima quando incorporadassegundo a lei brasileira.

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

Para os serviços de cartão decrédito e “factoring”, tratamentonacional será concedido parapresença comercial, se estesserviços forem definidos comoserviços financeiros em legislaçãofutura adotada pelo CongressoNacional.

Page 60: O Setor de serviços financeiros no contexto das negociações comerciais Internacionais

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LIMITAÇÕES AOACESSO A MERCADOS

LIMITAÇÕES AOTRATAMENTONACIONAL

COMPROMISSOSADICIONAIS

SETOR OUSUB-SETOR

Lista 23 – Compromissos em Serviços Bancários, Instituições Não- Financeiras

Modos de prestação: 1) Prestação Trans-fronteiriça 2) Consumo no Exterior3) Presença Comercial 4) Presença de Pessoas Físicas

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

1) Não Consolidado

2) Não Consolidado

3) Nenhuma exceto que:pessoas jurídicas devem ser

incorporadas segundo a leibrasileira;

somente pessoas jurídicaspodem prover os serviçoslistados nos item ii e iii;

serviços de liquidação ecompensação devem serprovidos por sociedadesanônimas

4) Não consolidado, exceto peloinscrito como compromissoshorizontais na presente lista

Serviços providos por instituiçõesnão-financeiras

i) Negociações, por conta própria oupor conta de terceiros, em bolsaou mercado de balcãoregulamentado, de valoresmobiliários e derivativos

ii) Serviços de compensação eliquidação de valores mobiliáriose derivativos

iii) Oferta pública de valoresmobiliários em mercado debalcão regulamentado

(Os valores mobiliários e derivativosdefinidos nos três sub-setoreslistados acima são os seguintes:

ações, debêntures e partesbeneficiárias, os cupões destestítulos e os bônus de subscrição;certificados de depósitos de valoresmobiliários;índices representativos de carteirade ações;opções de valores mobiliárioscontratos a termo e a futuro;

nota promissória emitida porsociedade por ações destinada àoferta pública, exceto de instituiçõesfinanceiras, de sociedadescorretoras e distribuidoras e decompanhias de “leasing”;direitos de subscrição de valoresmobiliários;recibos de subscrição de valoresmobiliárioscertificados de depósitos de ações;quotas dos fundos de investimentoimobiliário;opções não padronizadas(“warrants”);certificados de investimento emobras audiovisuais);

iv) Serviços de consultoria, pesquisae assessoria relativos ainvestimentos e carteiras eanálise de crédito.

v) Administração de carteira defundos de investimento sujeitos àregulamentação da Comissão deValores Mobiliários.

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Anexo 2: Listas do México e EstadosUnidos no NAFTA

Lista 2 - México no NAFTA: Tetos Agregados em Instituições Financeiras

TIPO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PORCENTAGEM DO CAPITAL TOTAL

LIMITE INICIAL LIMITE FINAL

Bancos múltiplos 8% 15%

Bolsas de Valores 10% 20%

Empresas de factoring 10% 20%

Empresas Arrendadoras 10% 20%

Lista 3 - México no NAFTA: Tetos Agregados em Empresas Seguradoras

DATA PORCENTAGEM DO CAPITAL TOTAL

1º de janeiro de 1994 6%

1º de janeiro de 1995 8%

1º de janeiro de 1996 9%

1º de janeiro de 1997 10%

1º de janeiro de 1998 11%

1º de janeiro de 1999 12%

Lista 4 - México no NAFTA: Pisos para Capital Mexicano em Seguradoras

FECHA PARTICIPAÇÃO MEXICANA

1º de janeiro de 1994 70%

1º de janeiro de 1995 65%

1º de janeiro de 1996 60%

1º de janeiro de 1997 55%

1º de janeiro de 1998 49%

1º de janeiro de 1999 25%

Lista 1 - México no NAFTA: Tetos Individuais em Instituições Financeiras

TIPO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA CAPITAL INDIVIDUAL MÁXIMO

que poderá ser autorizado. (Porcentagem do capital agregado de todas asinstituições do mesmo tipo)

Bancos múltiplos 1,5%

Bolsas de Valores 4,0%

Instituições de seguros

Ramo de danos 1,5%

Ramo de vida ou saúde 1,5%

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Lista 5 - Estados Unidos no NAFTA – Serviços FinanceirosMEDIDA DESCRIÇÃO DA RESTRIÇÃO

The National Bank Act, 12 U.S.C. § 72

Bank Holding Company Act of 1956, 12U.S.C § 1842(d)International Banking Act of 1978, 12U.S.C § 3103(a)(5)

Federal Reserve Act, 12 U.S.C.§ 619.

International Banking Act of 1978, 12U.S.C. § 3104(c)

Federal Reserve Act, 12 U.S.C. §§ 221,302, 321

The Primary Dealers Act of 1988, 22U.S.C.§ 5341-5342.

Trust Indenture Act of 1939, 15 U.S.C. §77jjj(a)(1) .

Securities Exchange Act of 1934, 15U.S.C. § 78o(c)

Commodity Exchange Act, 7 U.S.C. §§ 2,13-1

31 U.S.C. § 9304

Investment Advisers Act of 1940, 15U.S.C. §§ 80b-2, 80b-3

Conselho de administração de bancos nacionais deve ser composto apenas de cidadãos norte-americanos, dois terços dos quais devem também ser residentes até 100 milhas do local do banco;não se aplica a bancos com participação estrangeira presentes no país.

Limites à competência federal de permitir a abertura de sucursais e/ou subsidiárias de bancos deorigem estrangeira em Estados da União. Com freqüência isso depende de se o Estado em questãodispõe em sua regulamentação própria sobre essa possibilidade em relação a outros Estados da Uniãoou a outros países.

A propriedade estrangeira de Edge Corporations (companhias especializadas em atividades bancáriasinternacionais com licença federal) está limitada a bancos estrangeiros e subsidiárias estadunidensesde bancos estrangeiros.

Exigência de presença através de subsidiária assegurada para bancos estrangeiros que pretendamaceitar ou manter contas de depósitos nacionais individuais com saldos de menos de US$100,000.

Bancos estrangeiros com sucursais ou agencias nos Estados Unidos não podem ser membros doFederal Reserve System.

Proibição de uma empresa estrangeira localizada fora dos E.U. atuar como fiduciário único paracontratos de emissão de valores de dívida vendidos nos E.U., a menos que haja reciprocidade porparte do governo de origem da empresa estrangeira.

Proibição de designação de uma empresa estrangeira como colocador primário de obrigações dedívida do governo dos Estados Unidos, a menos que haja reciprocidade por parte do governo deorigem da empresa estrangeira.

Corretores de valores canadenses podem manter reservas exigidas num banco no Canadá, comsupervisão canadense. O mesmo não se aplica a outros países, que devem portanto manter suasreservas nos Estados Unidos.

Proibição da oferta ou venda de contratos de futuros de cebolas, contratos de opções de cebolas ouopções sobre contratos de futuros de cebolas nos Estados Unidos, assim como serviços relacionadoscom os mesmos.

Sucursais de empresas de seguros estrangeiras não podem dar garantias em contratos com o governodos Estados Unidos

Exigência que bancos estrangeiros se registrem como assessores de investimento de acordo com oInvestment Advisers Act de 1940 para poder prestar serviços sobre valores nos Estados Unidos

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ATENÇÃO

Este texto não é uma recomendação de investimento.

Para mais esclarecimentos, sugerimos a leitura de outros folhetos editados pela BOVESPA/CBLC.

Procure sua Corretora. Ela pode ajudá-lo a avaliar os riscos e benefícios potenciais das negociações com

valores mobiliários.

Publicação da Bolsa de Valores de São Paulo e da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia.

É expressamente proibida a reprodução de parte ou da totalidade de seu conteúdo, mediante qualquer

forma ou meio, sem prévia e formal autorização, nos termos da Lei 9.610/98.

Impresso em novembro/2004.

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