o serviço social no combate à violência de género em contexto
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O Serviço Social no combate à violência de género em contexto de Casa de Abrigo em PortugalThe Social Service in combating the domestic violence in context Shelter Home in Portugal-2012-R esumo: Com este artigo não se pretende uma definição sobre a violência doméstica, mas sim a análise sobre a intervenção em Casa de Abrigo para vitimas de violência doméstica numa perspetiva de Serviço Social. Pretende-se um enquadramento legal sobre a violência doméstica/género em Portugal, a evolução e os retrocessos legislativos sobre a temática supracitada , assim como a delimitação das Casas de Abrigo, enquanto resposta social às vitimas de violência doméstica.Posteriormente pretende-se uma análise acerca dos constrangimentos e desafios da intervenção profissional em Casas de Abrigo. Este artigo visa também constituir-se uma reflexão crítica onde levanta algumas questões, nomeadamente sobre a importância das Casas de Abrigo e a necessidade de ampliação (ou não) das mesmas.TRANSCRIPT
(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
O Serviço Social no combate à violência de género em contexto
de Casa de Abrigo em Portugal
The Social Service in combating the domestic violence in context Shelter Home in Portugal
-2012-
SORAIA FILIPA SILVA CORRÊA
Discente da Licenciatura de Serviço Social,
Escola Superior de Educação de Castelo Branco
R esumo: Com este artigo não se
pretende uma definição sobre a
violência doméstica, mas sim a analise
sobre a intervenção em Casa de Abrigo
para vitimas de violência doméstica
numa perspetiva de serviço social.
Pretende-se um enquadramento legal
sobre a violência doméstica/género em
Portugal, a evolução e os retrocessos
legislativos sobre a temática supracitada
, assim como a delimitação das Casas
de Abrigo, enquanto resposta social às
vitimas de violência doméstica.
Posteriormente pretende-se uma análise
acerca dos constrangimentos e desafios
da intervenção profissional em Casas de
Abrigo. Este artigo visa também
constituir-se uma reflexão crítica onde
levanta algumas questões,
nomeadamente sobre a importância das
Casas de Abrigo e a necessidade de
ampliação (ou não) das mesmas.
Palavras-Chave: Violência de
Género; Intervenção Profissional;
Serviço Social; Casa de Abrigo
A bstract: With this article is not
intended a definition of domestic
violence, but the analysis of the
(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
intervention on Shelter Homes for
victims of domestic violence in a social
service perspective.
The aim is a legal framework on
domestic violence / gender in Portugal,
the progress and setbacks of legislation
on the subject mentioned above, as well
as the demarcation of Shelter Homes,
while social response to victims of
domestic violence.
After that, it is intended a review about
the constraints and challenges of
professional intervention in Shelter
Homes. This article also aims to provide
a critical reflection which raises some
questions, particularly about the
importance of Shelter Homes and the
need to expand (or not) them.
Key Words: Gender Violence; Professional intervention; Social Work;
Residential Shelter
I ntrodução:
O presente artigo é realizado no âmbito da Unidade Curricular de Seminário de
Intervenção Social II, lecionada no 2º semestre, 3º ano da Licenciatura de Serviço
Social e resulta no contexto de estágio curricular em Casa de Abrigo para vítimas de
violência doméstica, sendo apresentada uma abordagem temática sobre a perspectiva do
Serviço Social.
Em Portugal somente a partir de 1975 é que podemos considerar que a violência
doméstica foi reconhecida como um problema social. Os movimentos feministas foram
extremamente importantes e influenciadores no impacto da evolução na sensibilização
da atenção política em relação à violência doméstica. O envolvimento dos movimentos
feministas deu-se ou de forma tardia “A questão da violência doméstica não existia e só
foi colocada aquando da criação do movimento feminista no início dos anos oitenta.”
(Leskosek e Boskic, 2004: 6) ou de forma “comedida”, comparativamente ao ocorrido
em outros países europeus. “Historicamente, a questão da igualdade entre os géneros
só emergiu publicamente após o 25 de Abril de 1974, pelas vozes de alguns grupos de
mulheres - o dito movimento feminista português - que, não obstante, nunca alcançou a
mesma expressão que outros movimentos feministas internacionais, nomeadamente da
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Europa e dos Estados Unidos da América. Por conseguinte, contrariamente ao
sucedido noutros países, esta expressão mais fraca do movimento feminista não teve o
mesmo impacto no impulsionamento de propostas de mudanças na sociedade e,
nomeadamente, mudanças nas condições de vida das mulheres portuguesas.” (Baptista,
Silva e Nunes, 2004: 3)
Pode-se assim dizer que, em Portugal, as respostas às mulheres vítimas de
violência doméstica emergem num contexto político e social de um movimento
feminista frágil e fragmentado, não obstante da seu papel relevante (Tavares, 2010;
Magalhães, 2002) e, na sequência de um conjunto de diretivas internacionais,
nomeadamente, da União Europeia. Estas recomendações promovem bases para
alterações legislativas de proteção e segurança às vítimas e fazem-se acompanhar de
políticas sociais determinadas governamentalmente.
Este artigo seguirá com um enquadramento da legislação e políticas emanadas
desde que a violência doméstica passou a ser considerada crime até ao surgimento das
Casas de Abrigo, enquanto resposta social às vítimas de violência doméstica. Pretende-
se ainda a compreensão do que é uma Casa de Abrigo e quais as normas reguladoras e
leis vigentes. Numa segunda parte é focada a intervenção do serviço social e do
assistente social numa Casa de Abrigo, deseja-se a compreensão da atuação do técnico e
daquilo que lhe é exigido enquanto elemento fulcral no processo de reorganização das
utilizadoras da Casa de Abrigo. Assim como após uma pesquisa fundamentada se
identifica os constrangimentos e desafios que se impõem à intervenção social nas Casas
de Abrigo. Por ultimo em jeito de conclusão é feito um levantamento das questões mais
pertinentes assim como é dado a conhecer a reflexão pessoal da discente, numa
perspectiva crítico-reflexiva exploratória do tema, contendo também pistas de reflexão
sobre a temática equacionada e ainda uma proposta de focagem futura do tema, sob a
perspectiva de para além de apresentar soluções para o problema da violência
doméstica, apresentar também medidas de combate.
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(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
S ituando a temática- enquadramento legal
Na intervenção do serviço social no âmbito da violência doméstica (violência de
género), o Serviço Social é confrontado no terreno com a legislação e políticas presentes
e o seu desempenho é dependente das mesmas, dessa forma, surge a importância de
compreender quais as ferramentas que têm vindo a ser fornecidas juridicamente para a
perpetração de respostas socias.
No que respeita ao procedimento criminal, o Código Penal de 1982 previu e
puniu, pela primeira vez, o crime de maus-tratos entre cônjuges. Este crime detinha a
natureza pública.
Cerca de dez anos depois, em 1991, a Lei n º 61/91, de 13 de agosto, garante uma
proteção apropriada às vítimas de violência e prevê a criação de um “sistema de
garantias adequadas”, para suspender a situação da violência doméstica e emendar os
danos ocorridos, atendendo as vítimas de violência por pessoal especializado (nas forças
policiais e nos hospitais) para facilitar a colocação da denúncia. Nesta lei, estava
prevista uma medida estritamente importante, a “ordem de afastamento do agressor da
moradia conjugal”. Todavia esta iniciativa assim como outras previstas nesta lei não
chegaram nunca a ser aplicadas já que o Governo português não as regulamentou.
Outras medidas referidas foram a criação de um gabinete SOS para atendimento
telefônico das mulheres vítimas de violência e a criação junto dos órgãos de polícia
criminal secções de atendimento às mulheres vítimas de crimes de violência.
No ano de 1995, com a revisão do Código Penal, e com o Decreto-lei n º 48/95 de
15 de março, dá-se um retrocesso na luta contra os maus-tratos, já que apesar de
aumentar o tempo de prisão para o tempo de um a cinco anos e de contemplar pela
primeira vez os maus-tratos psicológicos como uma conduta punível, a natureza do
crime passa a ser particular, o que significa que deve ser feito previamente uma
denúncia do procedimento criminal, e que a continuação do processo depende da vítima.
Posteriormente, passados 3 anos a Lei n º 65/98, de dois de setembro, faz uma
nova alteração em relação a natureza do crime, pois passa a ser semipúblico. Ora isto
significa que o Ministério Público tem "relativa" legitimidade para iniciar o processo de
acusação, mas tendo em conta certas condições, tais como, que a vítima não indefira a
continuação do processo e que o acusado não manifeste o seu desacordo face à queixa.
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Finalmente em 2000 com a Lei n º 7 / 00, de 27 de maio, o crime de maus tratos
constitui-se novamente de natureza pública, como previsto há quase vinte anos atrás. “A
27 de Maio de 2000 deu-se uma importante alteração no Artigo 152 do Código Penal
pela qual a violência doméstica se tornou crime público (Lei 7/2000). Este importante
marco na legislação portuguesa em relação à violência doméstica viria a ter um forte
impacto a vários níveis (…).” (Baptista, Silva e Nunes, 2004: 10). A partir desta data, o
Ministério Público passa a ter "completa" legitimidade para iniciar o processo de
acusação, apesar de contar com a oposição do acusado. Fica salvaguardada a vontade da
vítima, através da figura de suspensão provisória do processo.
“Em Abril de 2004 foi votada uma reforma do divórcio que instaurou uma
cláusula de expulsão do domicílio conjugal dos autores de violência, há muito
reclamada pelas associações de defesa dos direitos das mulheres. O artigo 22 estipula
que antes ou após qualquer processo de divórcio, poderá ser apresentado um
requerimento a um juiz de família para atribuição do domicílio conjugal.” (FNSF,
2004: 5) No entanto esta não se aplica na prática, pois o sistema de segurança não está
preparado para tal medida, não garante a segurança da vítima, que fica numa situação de
vulnerabilidade perante o agressor, que em muitos casos “já não tem nada a perder”.
Segundo Elizabeth Brasil, presidente da UMAR (União de Mulheres Alternativa e
Resposta), “A perversidade está aí. Aquele que comete um crime fica na sua casa,
embora tenham sido duas pessoas a trabalhar para lá estar, a aguardar pacientemente
que a justiça cumpra os seus desígnios e que, no final, será sempre uma pena suspensa.
E, portanto, compensa (…) ” (em
http://www.deco.proteste.pt/familia-e-vida-privada/violencia-domestica-s552721/dos/
552941.htm, consultado a 8 de Abril de 2012)
Isto vai exigir que outras respostas sociais sejam criadas e/ou uma sobrelotação
das respostas existentes. Segundo a amnistia internacional no programa de 12 pontos
para a prevenção da violência sobre as mulheres elaborado em 2007 “ É urgente a
criação rápida de novas Casas Abrigo pelo país. As Casas Abrigo que existem são
insuficientes”. (Amnistia Internacional, 2006:2)
A reforma do Sistema Penal, em setembro de 2007 foi mais um passo na defesa
das mulheres vítimas de violência de gênero em que contemplou-se a criação de um
novo tipo legal de crime de "violência doméstica", que inclui medidas de proteção e
punição para a casais ou ex-casais com quem já não se convive, ou seja, pela primeira
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vez em Portugal, se proteja as mulheres que têm uma relação e não vivam no mesmo
domicílio. No entanto, nesta lei, existe uma importante limitação, isto é, o “flagrante
delito” (atuar só quando “apanham” o agressor no “mesmo” momento). Felizmente esta
limitação deixa de existir em 2009, com a aprovação da última e atualiza lei nº
112/2009 (de 16 de Setembro) para a prevenção da violência doméstica, a proteção e
assistência às mulheres vítimas. Esta lei celebra um conjunto de medidas:
Primeiro, consagrar os direitos das vítimas, garantindo a sua proteção rápida e
eficaz. É produzido o “Estatuto da Vítima”. Para que seja atribuído este Estatuto de
Vítima é imprescindível que a vítima denuncie o crime de violência doméstica. Estão
contemplados os seguintes direitos:
- Direito à informação (do processo que está a seguir judicialmente, dos serviços
e organizações a quem se pode dirigir para obter apoio, etc.)
- Direito de proteção, desde que as autoridades competentes considerarem que
existe risco na vida da mulher
- Direito à assistência específica (veja jurídica e apoio judiciário quando este
seja pela via penal)
- Direito a indemnização e a restituição dos bens.
Para além disso esta lei estabelece mais medidas, tais como, a implementação de uma
rede nacional de serviços de apoio as mulheres vítimas de violência doméstica (Casas
de Abrigo, Centros de Atendimento, Centros Especializados). Nesta lei são definidas as
condições e regulamentos destas respostas sociais. E por último prevê o
desenvolvimento de políticas de sensibilização nas áreas da educação, da informação,
da saúde e do apoio social.
É nesta linha orientadora de pensamento que se justifica o enquadramento das Casas de
Abrigo, enquanto resposta social às vítimas de violência doméstica.
O aparecimento das casas de abrigo em Portugal remonta à década de 1990, o que
corresponde a um atraso de cerca de duas décadas comparativamente com a realidade
europeia (Baptista, Silva & Nunes, 2004). Este surgimento tardio esteve estreitamente
relacionado com as políticas legais e institucionais de combate à problemática da
violência doméstica, que conheceram um forte impulso com a aprovação da Lei 61/91.
Posteriormente, o decreto-regulamentar nº1/2006, de 25 de janeiro, veio introduzir um
conjunto de normas técnicas, com o objetivo de conferir maior uniformidade no
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ordenamento legal relativo às Casas de Abrigo, acautelando, normalmente, as condições
mínimas de abertura e de funcionamento, bem como a qualidade dos serviços prestados
às mulheres vítimas de violência doméstica. Desde então, o quadro legal português tem
vindo a evoluir e a aproximar-se cada vez mais da legislação internacional no que diz
respeito à proteção das mulheres e crianças vítimas de violência familiar. Atualmente o
decreto-lei nº 112/2009 de 16 de setembro, e o decreto-regulamentar anteriormente
referido, constituem-se como guias orientadores das Casas de Abrigo, com o apoio do
IV PNCVD que segundo este, assume-se, como um “ Instrumento de politicas publicas
de combate à violência doméstica e de género”.
As Casas de Abrigo são “unidades residenciais destinadas a acolhimento
temporário a vítimas, acompanhadas ou não de filhos menores” conforme o disposto
no art.º60º no Decreto-lei nº112/2009 de 16 de Setembro (guia orientador das Casas de
Abrigo). Ainda nessa Lei no art.º 63º é expresso que um dos objetivos das Casas de
Abrigo consiste em “ (…) promover, durante a permanência na casa de abrigo,
aptidões pessoais, profissionais e sociais das vítimas, susceptíveis de evitarem eventuais
situações de exclusão social e tendo em vista a sua efetiva reinserção social.” De facto
isto sugere a visão das casas de abrigo serem um passo importante para a reorganização
da vida social das utentes, podendo até dizer-se que as utentes iniciam uma “nova vida”
e na ação/interação, mulher-equipa técnica, deve fomentar-se o empoderamento das
mulheres (empowerment), valorizar-se as iniciativas, as tomadas de consciência e
processos de decisão livres, assertivos, concretizáveis. Constitui-se como um projeto de
autonomização, onde à equipa cabe a tarefa de mostrar a cada utente que é possível
encontrar novos caminhos. À utente cabe a tarefa de escolher o caminho e tornar a
decisão de o percorrer, sabendo no entanto, que não o fará só.
Para que isto seja possível está previsto no artigo 64º alínea 4, da mesma lei, as
casas de abrigo disporem, para efeitos de orientação técnica, de um licenciado em áreas
comportamentais, mencionando um técnico de serviço social, que atue em articulação
com a equipa técnica.
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S erviço social no contexto de Casa de Abrigo
Segundo Baptista & Cols (2004) “De um tipo de ajuda patriarcal, tem-se evoluído
progressivamente para uma forma de intervenção mais profissional”. Consolidando
com o relatório europeu que expressa que um” crescente profissionalismo está a ser
aceite como um aperfeiçoamento e uma forma eficiente de prestar às mulheres a ajuda
profissional de que necessitam. Aqui, a questão é a oposição entre profissionalismo e a
ajuda de tipo patriarcal ainda presente em muitas casas-abrigo que oferecem
alojamento temporário para mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. (…)
Tendência para o aumento do nível de qualificação dos funcionários das casas-abrigo
poderá ser uma forma eficiente de contribuir para um tipo de ajuda mais profissional -
e, consequentemente, menos patriarcal. Ao mesmo tempo, nestes casos, a imagem da
assistente social tem conhecido um reconhecimento profissional considerável (…)
representa (…) um aperfeiçoamento na qualidade do serviço prestado”. (Shelter@net,
2004: 27) Este aperfeiçoamento constitui-se como um desafio constante ao serviço
social, que deve ir além da prestação dos serviços da Casa de Abrigo, a partir do
assistente social ou de uma equipa multidisciplinar, conforme Magalhães et.al.
(2011:599) “ As casas de abrigo devem contar com uma equipe técnica
pluridisciplinar”, é essencial uma constante renovação de informações, por isso a
pesquisa, planeamento e capacitação são fatores cruciais para uma atuação bem-
sucedida, desta forma, corroborando o citado por Lewgoy (2009:20) “ (…) fazer
profissional tem como eixo a qualidade dos serviços prestados, o respeito ao usuário e
a melhoria de programas institucionais, o que exige o desafio diário”.
A atuação do profissional exige uma renovação de conhecimentos que visa uma
credibilidade de referência perante a Instituição e os usuários e, ao mesmo tempo,
constitui-se como a entrada de acesso à garantia dos direitos sociais e humanos, ou pelo
menos, ter a possibilidade de esclarecimento sobre eles. Com a apreensão do
conhecimento teóricos do Serviço Social, há a acumulação de uma série de habilidades,
como a capacidade investigativa e de análise da universalidade, particularidade, e
respeito à singularidade. Por essa razão “[...] é necessário instrumentalidade, postura
investigativa e pedagógica para alicerçar o que se faz”. (Lewgoy, 2009:47). Neste
sentido, Iamamoto (1999, cit. Lisboa,T & Pinheiro, E., 2005:203) destaca que o “
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momento presente desafia os assistentes sociais a se qualificarem para acompanhar,
atualizar e explicar as mudanças da realidade social”.
A ação do serviço social, está intimamente ligada aos casos atendidos pela
instituição, que no presente documento, consistem no acolhimento de mulheres e
seus/suas filhos/as (ou não) vítimas de violencia doméstica, isto é, mulheres abrigadas
que passam a apresentar vulnerabilidade social devido à convivência familiar com o
agressor. Além disso, há a realidade das utilizadoras que geralmente apresentam baixa
autoestima em detrimento da rotina de subordinação e ameaça, completada pela falta de
condições emocionais e financeiras para a ruptura com os laços de violência.
A intervenção social com as utilizadoras de uma Casa de Abrigo, transcende o
atendimento, visto exigir a responsabilidade pela análise de cada caso interligando-o
com a realidade e suas particularidades. Torna-se fundamental que o profissional saiba
decifrar os designios que lhes são impostos, para que haja a articulação com as políticas
públicas setoriais, isto é, a identificação das possíveis soluções nas “entrelinhas”
observadas. Neste sentido a intervenção do serviço social deve primar pelos direitos das
mulheres e articulá-los com a rede de garantia de direitos, visto que é da inteira
competência do profissional encaminhar e prestar informações corretas aos seus
usuários. O trabalho do assistente social é determinado segundo leis e arcabouços
teóricos adquiridos na formação acadêmica que devem ser desenvolvidos no mercado
de trabalho, respeitando sempre os princípios que regem o Código de Ética da profissão.
“ o código de ética da profssão tambem tem sido um marco orientador para a
intervenção dos assistentes sociais, na medida em que explicita a dimensão ético-
política que os profissionais devem assumir…” (Lisboa,T., & Pinheiro, E. (2005:208).
Antes de debruçarmo-nos na intervenção social aquando a chegada da utente, é
necessário ter a noção de quais as entidades competentes para o encaminhamento das
mulheres vítimas de violência doméstica para Casa de Abrigo, estas estão dispostas no
capítulo III do decreto regulamentar nº 1/2006, artigo 2, alínea a). É pertinente a alusão
ao facto de a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens não estar estipulada como
entidade competente para o encaminhamento para a Casa de Abrigo, seguramente, não
foi por descuido, na medida em que prevê-se a possibilidade de um risco de pressão
exercido pela CPCJ no sentido em que, por exemplo, ou a mãe se dispõe a fugir do meio
violento e agressivo também para as crianças, ou as crianças serão retiradas para uma
instituição. Esta pressão vai emergir como uma inversão dos objetivos estipulados pelas
Casas de Abrigo.
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É na lógica da Pirâmide das Necessidades segundo o psicólogo americano Abraham
Maslow, que se pode explicar a lógica do percurso das utentes na Casa de Abrigo.
“Segundo Maslow as necessidades dos seres humanos estão colocadas
hierarquicamente em função de seu caráter de urgência e sua força. Quando as
necessidades mais imperativas (as necessidades primárias) estão satisfeitas, as
necessidades posteriores fazem pressão no sentido de conseguir a satisfação.
Acompanhando cada tipo de necessidade em função de sua força, podemos colocá-las
em forma de uma pirâmide. Na base desta pirâmide estariam as necessidades mais
básicas e vitais para os seres humanos (as necessidades primárias). A seguir, até se
chegar ao topo, estariam as necessidades secundárias. Maslow distingue dois tipos de
necessidades primárias: necessidades fisiológicas e necessidades de segurança e três
tipos de necessidades secundárias: necessidades sociais, necessidades de estima e
necessidade de autorrealização”. (António, J.,2010:3)
Num raciocínio de priorização de necessidades em que há medida que as
necessidades vão sendo satisfeitas passa-se para outro “degrau” da pirâmide. Numa
primeira fase toda a intervenção feita com as utilizadoras da Casa de Abrigo está muito
ligada a uma intervenção assistencialista onde é impreterível avaliar as necessidades
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Fatores: Auto- realização; Auto- desenvolvimento e Auto-satisfação.
Auto- respeito; Progresso; Confiança ; Status e Reconhecimento
Aceitação; Afeição; Amizade; Compreensão e Consideração
Proteção contra: Perigo, Doença; Incerteza; Desemprego e Roubo
Alimento; Repouso; Abrigo
Fonte: (António, J.,2010:2)
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emergentes, garantindo o provimento dos direitos básicos (por exemplo: alimentação,
medicação, roupas, produtos de higiene, fraldas).
Numa segunda fase, surge a necessidade do atendimento à utente, com o intuito de
avaliar a situação da mesma, compreender todo o envolvente que originou a saída do
seio familiar e a necessidade de recorrer à circunstância de Casa de Abrigo e elaborar
um projeto de vida feito pela equipa técnica com a utente “Os planos individuais de
inserção devem ter como meta a criação de condições para a empregabilidade e a
aquisição e/ou a manutenção de um emprego digno. Entende-se por condições para a
empregabilidade a promoção do acesso à habitação, a proteção social, a promoção de
hábitos e cuidados de saúde, o restabelecimento dos laços familiares, a aquisição de
competências pessoais e sociais, escolares e profissionais, a integração cultural e
recreativa local”. (IDT, 2009:14). Após definido o Plano Individual de Inserção tem de
haver um acompanhamento do percurso da utilizadora, traduzindo num conjunto de
ações/atividades que integram o PII, negociado, contratualizado e avaliado
conjuntamente com o utente. “Deste modo, sempre que existe um PII o técnico
responsável pelo processo assume funções de gestor do processo de inserção desse
utente, devendo estabelecer e manter a articulação interna (com a equipa
multidisciplinar) e com vários serviços e organismos da comunidade, acompanhando o
indivíduo (…) os sistemas sociais nas várias fases do processo de inserção social até à
alta social.” (IDT, 2009:15).
C onstrangimentos e desafios que se impõem à
intervenção social nas Casas de Abrigo
Alguns dos desafios propostos estão intimamente ligados aos constrangimentos
abaixo expostos, na medida em que se pretende a superação das falhas e tal,
inevitavelmente, representa um desafio.
Ao analisarmos as Casas de Abrigo, facilmente se precepciona que existe uma
falta de divulgação das mesmas, acerca do que consistem e quais as suas mais-valias
enquanto resposta social. O Acolhimento institucional para as mulheres vítimas de
Violência doméstica é ainda uma realidade muito desconhecida Segundo Baptista
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(2002:1) “ persiste um desconhecimento, mais ou menos generalizado, das estratégias e
das metodologias de intervenção adoptadas nestas casas”.
Neste sentido, estão inerentes vários desafios, primariamente a necessidade de uma
divulgação à comunidade, por via de ações de sensibilização a nível nacional das Casas
de Abrigo, que direitos e deveres estão previstos, sem que com isso haja uma exposição
das Casas de Abrigo, mas sim da existência e compreensão desta resposta.
Por outro lado, seria igualmente vantajoso para a intervenção profissional
conforme refere Morton (2004) o “ (…) contacto com outras casas-abrigo (…) visitas a
outras casas-abrigo para discutir questões de interesse comum e partilhar
conhecimentos, informações e experiências (…) obter ideias novas a partir de outros
centros, em particular se trata-se de um centro envolvido num projeto ou programa
inovador.” (Morton, 2004: 27 cit. por Shelter@net, 2004 : 37) Numa cooperação ativa
através da partilha de práticas e informação poder-se-ia desafiar novas práticas e ao
mesmo tempo colmatar falhas existentes. “ausência de conhecimento, por parte do
pessoal técnico das casas de acolhimento, da existência de grande parte dos outros
centros de acolhimento existentes no país e, sobretudo, a necessidade expressa por
muitos deles de “saber o que se está a fazer noutros sítios” (Baptista 2002:2). A troca
de experiências, a partilha dos sucessos, dos insucessos, das dificuldades sentidas e das
experiências válidas constitui ainda uma realidade distante (embora desejável) no
universo do trabalho desenvolvido em Portugal neste domínio das respostas de
acolhimento a mulheres vítimas de violência (Baptista, 2002:2)
Os diferenciados tipos de Intervenção levados a cabo dentro das Casas de Abrigo
incorrem o risco de serem excessivamente libertadores ou, pelo contrário, privadores de
autonomia, pelo que exige a necessidade de um documento que orientasse e delineasse a
intervenção em Casas de Abrigo, seguindo o exemplo da Dinamarca, “No início de
2004, a LOKK emitiu um documento sobre directrizes de estandardização da qualidade
dos centros de crise, dirigido ao subcomité social no Parlamento. O relatório descreve
aspectos organizacionais, bem como a experiência das utentes e as qualidades
profissionais necessárias para assegurar um mínimo de qualidade na prestação de
serviços dos centros. O documento fazia parte de um trabalho preparatório realizado
no âmbito da introdução do novo artigo na Lei do Serviço Social. De um modo geral, o
relatório defende um grau mais elevado de profissionalismo, com funcionários com
formação vocacional em funções 24 horas por dia, e o uso de voluntários apenas como
suplemento. Todos os centros devem igualmente definir um plano de gestão para a
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instituição, juntamente com um conjunto de valores aplicáveis ao trabalho a realizar.
Adicionalmente, devem reflectir acerca da sua interacção com outros agentes,
exteriores à casa-abrigo, e ter uma ideia clara das suas medidas e objectivos.” (Koch-
Nielsen e Caceres, 2004: 34 cit. por Shelter@net, 2004: 32)
Desta forma pelejar-se-ia também alguns dos défices da intervenção expostos por
Baptista, (2002:2) “intervenções em situações de violência doméstica, (…)em muitos
casos, pouco profissionalizadas (…)alguns fatores:
• Reduzida investigação sobre o tema da violência doméstica;
• Escassa formação sobre o tema ou possibilidade de participar nela;
• Presença, na intervenção, de pessoal sem habilitações para o fazer –
casos de alguns elementos auxiliares ou com formações pouco adequadas ou
mesmo sem formação específica, como é o caso das casas de orientação
religiosa;
• Isolamento profissional – facto apontado pela quase totalidade dos
técnicos que trabalham praticamente sozinhos e sem possibilidade de partilha
de experiências, esclarecimento de dúvidas e aperfeiçoamento de
intervenções;
• Pouca prática de avaliação e partilha no interior das equipas”
Subsiste como essencial à intervenção profissional a indispensabilidade de
articulação dos serviços, na medida em que se tem observado que mediante a
desarticulação dos serviços , tais como, saúde, judicial, policial. As Casas de Abrigo são
consideradas como a única saída, quando na verdade estas deviam ser consideradas
como um ultimo recurso (Magalhães, M & Castro, Y. 2011) Neste sentido emerge a
necessidade de uma boa avaliação de risco e uma constcientalização/ sensibilização na
tomada de decisão para encaminhamento a Casa de Abrigo para não incorrer a
encaminhamentos em que a violencia doméstica não se contitui como sendo o problema
maior nem exista risco de vida. (deturpação de objetivos) (Belchior, J.& Manita,
C.,2011)
Um dos grandes constragimentos que se tem presenciado é a falta de ética muitas
vezes por parte das entidades de acolhimento de intervenção que omitem informações
importantes ou dão informação errada, de forma voluntaria, com vista a facilitar a
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aceitação em Casa de Abrigo, no entanto, é de referir que tal atuação pode por em risco
não só a Instituição como as utilizadoras da Casa de Abrigo,(exemplo: omissão de
doença- HIV) (Belchior, J.& Manita, C.,2011).
Segundo Baptista (2002: 2) no estudo por esta elaborado foi verificado que, após
a saída das mulheres do centro de acolhimento não se efetua um trabalho de follow-up
do seu percurso posterior pelo que há “necessidade de uma rede comunitária
compreensiva e transversal no pós saída” (Sullivan, Basta, Tan & Davidson, 2009, cit..
Belchior, J.& Manita, C.,2011). Por sua vez, o relatório europeu (Shelter@net, 2004:38)
expressa que a “necessidade de incrementar e aprofundar o trabalho de follow-up cai
claramente na categoria dos desafios futuros que todos os países e serviços de
alojamento em casas-abrigo terão de enfrentar nos próximos anos”.
Tal é de facto um grande desafio, principalmente e tendo em conta a situação
socioeconómica vulnerável em que se encontra o País. Isto vai limitar qualquer
intervenção e requer uma capacidade extrema de gestão financeira das direções e
equipas técnicas nas suas intervenções, tendo em conta que “Os obstáculos mais
habituais apontados pelos prestadores de serviços em casas-abrigo de todos os países
são os relativos aos problemas de financiamento, não apenas em termos de
insuficiência de recursos, mas também em termos de financiamento inadequado (…)
problemas de realojamento e de emprego foram também apontados por Portugal (…)
como obstáculos que as mulheres têm muitas vezes de enfrentar de forma a conseguir
passar do alojamento temporário para uma vida autónoma” (Shelter@net, 2004:39).
Em súmula é destacado como as maiores e mais ocorrentes limitações para uma
intervenção de sucesso as “Dificuldades de habitação; Dificuldade de emprego e
Dificuldade por a morosidade dos tribunais” (Magalhães, M & Castro, Y. 2011:598)
Em plena concordância com o citado por Morton (2004: 32)“Muitas casas-
abrigo têm presente de forma clara que o seu objectivo fundamental é a eliminação de
todas as formas de violência contra as mulheres. Contudo, debatem-se com o dilema
constante entre, por um lado, a tentativa de equilibrar de forma eficiente os recursos
insuficientes e a prestação directa de serviços, e, por outro, o processo intangível e a
longo prazo de contribuir para a mudança social.” É neste dilema que se esbate um dos
maiores desafios que o Assistente Social vive no presente, de desenvolver sua
capacidade de “decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e
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(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
capazes de preservar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim,
ser um profissional propositivo e não só executivo” (Iamamoto, 1998:20).
C onclusão: Pistas de reflexão ao futuro
Mediante o presente documento, é correto afirmar-se que a intervenção dos
técnicos junto de indivíduos vítimas de violência doméstica é influenciada por questões
de ordem política, religiosa e educacional. Posto isto, cabe ao serviço social respeitar as
normas legais que vão sendo impostas, contudo isto requer uma constante adaptação e
reformulação das respostas interventivas. Por outro lado “ Estar sempre pautado na
legislação vigente e conhecer o mundo do Direito é papel importantíssimo e de caráter
iniludível, uma vez que o profissional de Serviço Social é um dos representantes
institucionais dotados de recursos variados, determinando as normas gerais desse
relacionamento entre o usuário, a instituição e dele próprio. Sabe-se, portanto, que
essa relação de forças proporciona ao assistente social um status de poder na
instituição podendo até mesmo incentivar mudanças de valores, normas, formas de
pensar e agir na sociedade e especialmente quanto a padrões de comportamento frente
às instituições para com os usuários (…) transmitindo conhecimento acerca de leis,
direitos e normas sociais”. (Vieira, T. 2011)
A lei, por sua vez, pode revelar-se um instrumento bastante eficiente na resolução
da problemática da violência doméstica com uma melhora na qualidade da intervenção,
mas tambem, pode por outro lado anunciar-se o inverso, dificultar e limitar a
intervenção. Actualmente algumas práticas judiciais demonstram-se. Por um lado,
punitivas para a vítima e, por outro, demasiado benévolas com os agressores. Desta
feita, na realidade portuguesa é comum constatar que a vítima de violência doméstica é
obrigada a abandonar a sua casa e ao agressor é permitido continuar impune e no
exercício de todos os seus direitos. Também, neste sentido, no decorrer da intervenção
deparamo-nos mais do que com uma progressão lenta da legislação, com o
tardigradismo da magistratura. Portanto, encaro como necessários câmbios e melhoras a
nível legislativo, criação de novas leis e a criação de tribunais especializados na
violência de género (tal como em Espanha) assim como a formação e articulação
«coordenada» entre todos/as profissionais que estão a trabalhar com mulheres vítimas
de violência de género. (APAV,2002-2003).
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(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
No que diz respeito a intervenção em Casa de Abrigo, concordo com as autoras
Peinado, A. et al (2010:19) que recomendam a “constituição de uma equipa de trabalho
multidisciplinar (e.g. composta por sociólogos, Antropólogos; Psicólogos; Técnicos de
Serviço Social, Psiquiatras, Economistas e Juristas) no intuito de abarcar a maior
quantidade possível de cambiantes que este tema pode assumir na nossa sociedade”. O
profissional do Serviço Social que intervém diretamente na realidade social dos sujeitos
tem como pressupostos da atuação a articulação do trabalho em redes do trabalho de
redes. “ O trabalho desenvolvido em redes sejam elas sociais, primárias ou
secundárias, vem demonstrando que a sociedade tem estabelecido, cada vez mais, redes
de saberes e práticas com o intuito de enfrentamento às diferentes situações de
exclusão que se perpetuam. Contata-se que o trabalho em rede apresenta-se como
estratégia fundamental no trabalho de fortalecimento das mulheres em situação de
violência doméstica.” (Grossi, P., Tavares, F. & Oliveira S 2008: 278) .Dessa forma,
são reforçados valores como a colaboração e confiança e o Assistente social e outros
atores que se disponham a monitorizar, avaliar e promover a materialização de ideias,
fomentando a distribuição de responsabilidade, a tomada democrática de decisões,
controlo coletivo sobre o que está a ser feito e por sua vez, a avaliação sistemática dos
resultados obtidos.
No presente documento foi feita a alusão ao facto de a Comissão de Proteção de
Crianças e Jovens não estar estipulada como entidade competente para o
encaminhamento para Casa de Abrigo, contudo mediante a prática de estágio curricular
pude observar que esta é uma das entidades que têm por costume o encaminhamento de
utentes a Casa de Abrigo. Neste sentido surgem duas reflexões importantes a ter em
conta, primeiro que existe um desrespeito/incumprimento da lei, ao existirem
encaminhamentos de mulheres por instituições que não estão estipuladas na Lei e, por
sua vez, qual o papel do técnico de serviço social que se depara num dilema entre a
legalização de procedimentos e a proteção emergente de uma situação de risco de vida.
Não obstante deste incumprimento, considero de extrema importância a não
aceitação futura da CPCJ enquanto uma entidade competente para o encaminhamento
de vítimas de violência doméstica na medida em que se incorre ao risco de haver uma
conflitualidade de interesses. Ou se tal for previsto, deve existir uma entidade, dentro
das previstas na lei, que faça a mediação do risco em articulação direta com a CPCJ.
Todavia é de todo desejável uma conscientalização e sensibilidade ética (identificada
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(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
por James Rest,1994) por parte das técnicas de encaminhamento, pois é necessária esta
noção do modo como as ações praticadas pelos técnicos afetam os utentes.
Belchior, J.& Manita, C. (2011) propõem que tendo em conta a violência
doméstica como “fenómeno multi-problemático”, a especialização das casas de abrigo,
distinguindo as Casas de abrigo “centradas no tipo de intervenção” que consistiam
numa localização publica com a centralidade na comunidade, das casas de abrigo
“centradas no objeto” dando como exemplo as mulheres “com doença mental
associada, mulheres com consumos e substancias”. Concordo na medida em que a
discrepância de gerações, diferentes etnias e culturas já por si é um impulsionador de
conflitos, quanto mais quando existem problemáticas especiais, por sua vez, tal
distinção de casas acarretaria um apoio mais especializado e por sua vez uma
capacidade mais aprofundada dos técnicos de dar resposta a problemáticas mais
especificas dentro da temática.
Ressalto a importância de um documento que orientasse e delineasse a
intervenção em Casas de Abrigo a nível nacional, desta maneira haveria uma
padronização da intervenção e colmatar-se-ia o problema das intervenções em Casa de
Abrigo serem excessivamente libertadoras ou, pelo contrário, privadoras de autonomia.
Todavia considero que deve haver uma maior conscientalização e sensibilização
por parte dos técnicos das casas de abrigo enquanto, e apenas, como resposta social
emergente e apenas como ultimo recurso. Segundo o expresso pela Amnistia
Internacional (2006) “É urgente a criação rápida de novas Casas Abrigo pelo país. As
Casas Abrigo que existem são insuficientes (…) ” Importa perceber até que ponto existe
esta necessidade de implementação de mais Casas de Abrigo, estas constituem-se como
medidas substancias na proteção das vítimas e os objetivos das mesmas são louváveis e
devem merecer a nossa atenção. Mas a verdade é que, conforme os números vêm
demonstrando, a violência doméstica está a crescer e o número de casos denunciados
continua a aumentar (ver: http://www.apav.pt/portal/pdf/Clipping_Novembro2011.pdf ,
consultado a 09 de Abril de 2012) As Casas de Abrigo, são meramente respostas
perante um problema profundo da sociedade, contudo a criação de mais Casas não vais
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(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
evitar o aumento desta problemática pelo que vamos continuar a confrontar-nos com
este dramático e grave problema se outras medidas não forem tomadas.
Ao mesmo tempo esta resposta não deixa de ser, inevitavelmente, como uma
privação da liberdade das vítimas, que são obrigadas a abandonar o seu meio social,
família, amigos e bens materiais, isto tudo somado com uma justiça lenta e ineficaz e
por isso mesmo um sentimento de injustiça e de re- vitimização. Acredito que a solução
não passa pela criação de mais Casas de Abrigo, pois estas tendem a ser como “prisões”
para as vítimas privando-as da sua liberdade e conforto e podendo até constituir-se
como mais um factor traumático, sobretudo para as crianças. Sou apologista da
necessidade de uma reavaliação da legislação até então implementada nesta área.
Considero que a eliminação de algumas burocracias jurídicas, a implementação de mais
medidas pretendendo-se mais céleres e mais severas para como os agressores, ao
mesmo tempo um foco mais dirigido para a proteção das vítimas, sem privá-las da sua
liberdade, seria de todo um passo fundamental no apoio às vítimas.
Deve ser punido quem prevarica. E quem transgride é o agressor, que, não
respeitando direitos de liberdade e de igualdade, agride a sua companheira. Seria
interessante a criação de Casas de Abrigo para os agressores, desta forma, este ( o
agressor) sairia, obrigatoriamente do espaço familiar, porque sobre ele penderia uma
acusação. Se fosse comprovadamente falsa, teria depois todos os mecanismos à sua
disposição para repor a verdade. Se calhar era preciso inverter alguns dos pressupostos
com que trabalhamos atualmente para se obterem outros resultados. As Casas Abrigo,
pretendendo defender a integridade física das vítimas, permitem uma liberdade
despendida pelo agressor que ele usa em benefício próprio e como forma de represália
para com a vítima.
Por isso sustento a ideia da existência de Casas de “Abrigo” (Confinação) ou
Casas Correcionais para agressores, desta forma estar-se-ia a punir o agressor ao mesmo
tempo a salvaguardar a segurança das vítimas num contexto libertador e dentro do seu
espaço social e ao mesmo tempo a reabilitar e tratar dos agressores. Tal medida não
seria impeditiva de uma intervenção para com as vítimas
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(Artigo Redigido com o Novo Acordo Ortográfico)
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