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O SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO Época dos hicsos, da 13ª a 17ª dinastia (1785 a 1580 a C) Além da permanência da tradição educativa vemos também a passagem da sabedoria para a cultura ou instrução, neste contexto, o livro torna-se de vital importância. Exalta-se a técnica da instrução, dando importância a habilidade manual na escrita. Vemos agora tomar importância à educação na primeira infância, mas continuando a separação da criança da mãe para frequentar a escola. A educação física se torna uma preparação para a guerra e continua sendo privilégio somente das classes dominantes, sendo que as classes populares achavam que o exercício físico não era saudável para os jovens e a força adquirida era temporária. - Segundo Período Intermediário (1800-1570 a.C.). No séc. XVIII a.C., povos asiáticos que ficaram conhecidos como hicsos invadiram aos poucos o Egito. Usavam instrumentos de guerra desconhecidos dos egípcios, como o carro puxado a cavalos, armaduras e novos tipos de armas de bronze. Dominaram o país por cerca de 200 anos. _ O Segundo Período Intermediário estendeu-se de 1780 a.C. a 1570 a.C caracterizando-se pela invasão dos Hicsos povos pastores de origem semita. O êxito dos hicsos deveu-se ao uso elementos militares que os egípcios não conheciam: cavalaria e carros de combate. No primeiro século de ocupação, os hicsos limitaram-se a ocupar a porção oriental do delta do rio Nilo, mas, após a fundação da cidade de Aváris submeteram todo o delta e parte do Alto Egito.

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O SEGUNDO PERÍODO INTERMEDIÁRIO

Época dos hicsos, da 13ª a 17ª dinastia (1785 a 1580 a C)

Além da permanência da tradição educativa vemos também a passagem da sabedoria para a cultura ou instrução, neste contexto, o livro torna-se de vital importância.

Exalta-se a técnica da instrução, dando importância a habilidade manual na escrita. Vemos agora tomar importância à educação na primeira infância, mas continuando a separação da criança da mãe para frequentar a escola.

A educação física se torna uma preparação para a guerra e continua sendo privilégio somente das classes dominantes, sendo que as classes populares achavam que o exercício físico não era saudável para os jovens e a força adquirida era temporária.

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Segundo Período Intermediário (1800-1570 a.C.). No séc. XVIII a.C., povos asiáticos que ficaram conhecidos como hicsos invadiram aos poucos o Egito. Usavam instrumentos de guerra desconhecidos dos egípcios, como o carro puxado a cavalos, armaduras e novos tipos de armas de bronze. Dominaram o país por cerca de 200 anos.

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O Segundo Período Intermediário estendeu-se de 1780 a.C. a 1570 a.C caracterizando-se pela invasão dos Hicsos povos pastores de origem semita. O êxito dos hicsos deveu-se ao uso elementos militares que os egípcios não conheciam: cavalaria e carros de combate.

No primeiro século de ocupação, os hicsos limitaram-se a ocupar a porção oriental do delta do rio Nilo, mas, após a fundação da cidade de Aváris submeteram todo o delta e parte do Alto Egito.

Os hicsos exerceram domínio na região até 1570 a.C., quando, liderados por Amósis, os egípcios iniciaram sua fase de expansão, conhecidda pelos egiptólogos como Império Novo.

Segundo período intermediário (1750 a.C. a 1560 a . C. ) - XIII-XVII dinastiasNas XIII e XIV dinastias, o Império passa por um processo de declínio. Vulnerável e enfraquecido, sucumbe à tomada do poder por invasores estrangeiros. As XV e XVI dinastias são marcadas pelo domínio dos hicsos, chamados de reis pastores ou príncipes do deserto. O domínio estrangeiro trouxe muitas inovações técnicas para o Egito. Os hicsos introduzem a utilização do bronze, da cerâmica e dos

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teares, diferentes instrumentos de guerra, que incorporam o uso do cavalo e das carruagens, e estilos musicais, assim como novas raças de animais e técnicas de colheita. De certa forma, os hicsos modernizaram o Egito. Na XVII dinastia, a partir de Tebas (sul do Egito), os monarcas empreendem a reconquista do país, definitivamente concluída por Ahmose, que inaugura o Novo Império.

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Os Hicsos

Os hicsos (do egípcio heqa khasewet, "soberanos estrangeiros"; em grego: Ὑκσώς ou Ὑξώς; em árabe: الرعاة reis pastores") foram um povo asiático" ,الملوكque invadiu a região oriental do Delta do Nilo durante a décima segunda dinastia do Egito, iniciando o Segundo Período Intermediário da história do Antigo Egito. São mostrados na arte local vestindo os mantos multicoloridos associados com os arqueiros e cavaleiros mercenários mitanni (ha ibrw) de Canaã, Aram, Kadesh, Sídon e Tiro.

Origem

O termo grego Hicsos deriva do egípcio Hik-khoswet, e significa "governantes de países estrangeiros". Flávio Josefo, historiador judeu do Século I d.C., preferiu verter por "pastores cativos", em vez de "reis pastores". O único relato pormenorizado sobre os Hicsos em qualquer antigo escritor é uma passagem não fidedigna duma obra perdida de Maneton (sacerdote egípcio e historiador do Século III a.C.), citada por Flávio Josefo em sua réplica a Apião. É interessante que Josefo, afirmando citar Máneto palavra por palavra, apresenta o relato de Máneto como associando os Hicsos directamente com os israelitas, talvez pelo fato de que ambos os grupos eram invasores estrangeiros e hostis; porém um grupo era sul-semitóide e o outro não.

Presença na História Egípcia

O "Período dos Hicsos" ainda obscuro da história do Egipto, é entendido muito imperfeitamente. É consensual que os Hicsos foram uma vaga de povos asiáticos do corredor sírio-palestino e dos desertos limítrofes que ocupou gradualmente o Delta do Nilo, em busca de alimentos. O período consistiu essencialmente na mudança de governantes e na forma de administração.

Provavelmente a interface comercial era de semitas e a interface tecno-militar, de indoeuropeus migrantes do vale do Indo; os hicsos na origem eram mais uma aliança de povos e um evento cultural e tecnológico, mais do que invasores militares propriamente ditos. Em copta, Hakasu: estrangeiros, pastores, nómades.

A morte do Faraó Sebekneferu (aprox. 1780 a.C.) e a tomada de poder por Amósis I (aprox. 1570 a.C.) podem ser determinadas com uma certa segurança.

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Tendo a data da morte de Sebekneferu ocorrido aproximadamente em 1780 a.C., e tendo Amósis se tornado Faraó por volta de 1570 a.C., o Segundo Período Intermédio teve uma duração não superior a cerca de 220 anos.

Os historiadores modernos acreditam que as citações de Antonio não são exactas ao associarem o termo Hicsos exclusivamente ao povo israelita. Mas, eles aceitam a ideia de uma conquista pelos Hicsos. Isto se deve principalmente a que podem achar pouca ou nenhuma informação nas antigas fontes egípcias para encher os registros do Segundo Período Intermédio que supostamente abrange da 14.ª Dinastia a 17.ª Dinastia. Por este motivo, os eruditos presumem que houve uma desintegração de poder egípcio. Os vestígios arquelógicos atualmente disponíveis conhecidos não confirmam e nem negam a ideia que os Hicsos tenham conquistado militarmente o Delta do Nilo; é certo que houve um sistema de fortalezas no Levante nos anos finais do período.

Muitos comentadores bíblicos situam a entrada de José no Egipto, a sua ascensão a segundo governante do Egipto ou Vizir, a entrada de Jacó e sua família, no "Período dos Hicsos", no Segundo Período Intermediário. O livro bíblico de Génesis mostra que o Egipto era bem receptivo aos estrangeiros desde o tempo do nômade Abraão. Mas é bem possível que o relato de Máneto sobre os Hicsos seja a versão egípcia oficial dos sacerdotes no esforço de justificar a permanência do povo israelita no Egipto durante 215 anos e no destaque que José e Moisés obtiveram (José, como Vizir, e Moisés, como um principe da Casa Real).

Conquistas

Maneton, segundo Flávio Josefo, apresenta os Hicsos como conquistando o Egipto sem batalha, destruindo cidades e "os templos dos deuses", e provocando matança e devastação. São apresentados como se fixando na região do Delta. Por fim, diz-se que os egípcios se sublevaram, travaram uma longa e terrível guerra, com 480 mil homens, cercaram os Hicsos na sua cidade principal, Aváris, e então, de modo estranho, chegaram a um acordo que permitiu que os Hicsos deixassem o país sem sofrer danos, junto com suas famílias e seus bens, e daí, esses foram para a Judéia e construíram Jerusalém. (Contra Apião, Vol. I, pág. 73-105 § 14-6; pág. 223-232 § 25-6). Numa referência adicional, Máneto supostamente aumenta a narrativa com uma história que Josefo chama de história fictícia. Menciona um grande grupo de 80 mil leprosos e doentes receber permissão para se estabelecer em Aváris, depois da partida dos pastores. Esses mais tarde se rebelaram, chamaram de volta os "pastores" [os Hicsos], destruíram cidades e aldeias, e cometeram sacrilégio contra os deuses egípcios. Por fim, foram derrotados e expulsos do país. (Contra Apião, Livro I, Cap. 26, 28)

Evolução histórica

Por volta de 1800 a.C., iniciou-se uma onda migratória pacífica para o Egipto, oriunda da Ásia Ocidental; as regiões do Oriente passavam por um período de seca e fome. Os povos nômades asiáticos não eram pessoas bem-vindas ao

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Egipto, pois os egípcios desprezavam os asiáticos até então, referiam-se a estes como "vagabundos das areias". Todos os povos oriundos da Ásia eram instalados na região do Delta do Nilo, para evitar o acesso dos estrangeiros à parte mais civilizada e rica do país, e também evitar a miscigenação com a população natural. Nessas vagas de povos semitas ao Egipto, estariam os filhos de Jacó - os israelitas.

No final do reinado do Faraó Amenemhet III (1843 a 1797 a.C.), iniciou-se uma lenta e constante decadência do poderio do Império Egípcio. Eles derrotaram a fraca 13.ª Dinastia, cuja capital se situava perto de Mênfis, e governaram o médio e baixo Egipto por volta de 1700 AC por um período de cerca de 100 anos.

A invasão iniciou com um banho de sangue na região do Delta, seguido pelos saques às cidades: "Havia então um rei nosso chamado Timaios. Foi no seu reinado que isso aconteceu. Não sei por que os deuses estavam descontentes conosco. Surgiram de improviso, homens de nascimento ignorado, vindos das terras do Oriente. Tiveram a audácia de empreender uma campanha contra nossa terra e a subalugaram facilmente sem uma única batalha. Depois de haver submetido nossos soberanos ao seu poder, incendiaram barbaramente nossas cidades, destruíram os templos, os deuses, e todos os habitantes foram tratados barbaramente; mataram uma parte e levaram os filhos e as mulheres de outros como escravos. Por fim, elegeram rei um dos seus; o nome dele era Salatis; vivia em Mênfis e cobrava tributo ao Alto e Baixo Egipto; instalou guarnições em lugares convenientes... Escolheram no Distrito de Saís (no Baixo Egipto) uma cidade adequada para seus fins, que ficava à leste dos braços do Rio Nilo, junto a Bubaste, e chamaram-na de Aváris" - segundo o relato de Méneto. Esse sacertode e historiador foi exilado em sua época por registrar essa história em uma estela de pedra. Após a ocupação, coexistiram com a 13.ª Dinastia Tebana. Nesse tempo, a Síria e Canaã (a terra de Retenu) estavam sob domínio do Egipto. Era o início do período histórico conhecido como Segundo Período Intermediário.

Em 1704 a.C., tem início do reino do Faraó Aya (Merneferre). Desse ano até o ano de 1640 a.C., sucederam-se outros 43 Faraós no trono, mas, não sem oposição. Os vizires do Alto Egipto e Baixo Egipto adquiriram forças política cada qual em suas regiões administrativas e iniciaram a descentralização do país aproveitando a desordem que começou gradativamente com a chegada dos imigrantes asiáticos; o aumento das riquezas nivelou as famílias mais importantes, fragmentando em diversos nomos as quatro divisões em que Sesóstris III (1879 a 1843 a.C.) havia estabelecido no ano de 1878, agindo de forma independente. Os asiáticos se agrupavam cada vez mais no delta do Rio Nilo, chegaram a superar a população egípcia, muitos deles foram absorvidos pelas camadas mais pobres da sociedade, alguns alcançaram elevados postos na administração local; um dele, cujo nome era Khendjer (do semita hanzir que significa "javali") chegou a ser Faraó por 1 ano. Os Hicsos permitiram a princípio que a 13.ª e 14.ª Dinastia (que foram faraós remanescentes da 13.ª Dinastia, sem importância) se manter no Alto Egipto, desde que pagassem o tributo anual.

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Guerras entre egípcios e hicsos

Em 1640 a.C., no Baixo Egipto, teve início a 15.ª Dinastia Hicsa com Salitis (Swoserenre), o 1.º Faraó não-egípcio. Seus domínios se estendiam do Delta do Nilo (Baixo Egipto) até a cidade de Meir (Alto Egipto). Dessa cidade até à 1.ª catarata, estavam os egípcios divididos em diversas unidades políticas tributárias dos governantes hicsos; da 1.ª até a 4.ª catarata estava o Reino da Núbia (Sudão), sediado na cidade de Kerma, aliados dos Hicsos.

Entre os anos de 1640 e 1585 a.C., sucederam-se 3 governantes hicsos no trono de Aváris: Salatis, Sheshi e Khian. Em 1585 a.C., passou a reinar Apófis (Awoserre). Apóphis provocava os egípcios com os motivos mais banais, tentando-os à guerra. Em xxxx AC, deu-se a primeira guerra entre o hicso Apófis e o Faraó Seqenenré Tao II (de cogonome "o Bravo") da 17.ª Dinastia. Exame da sua múmia mostrou que ele morrera violentamente, seu crânio apresenta uma perfuração, talvez tenha tombado em combate.

Em 1573 a.C., o sucessor do Faraó Seqenenré Tao II foi Kamósis (Wadjkheperre). Diz-nos um Papiro, que Apófis terá mandado um mensageiro à Nô-Amom (Tebas), ordenando-lhe que matassem os hipopótamos que viviam no Rio Nilo próximo à Nô-Amom, pois o barulho feito por eles impedia o seu descanso; caso não fossem tomadas as devidas providências, ele mesmo invadiria o Alto Egipto para dar cumprimento às suas ordens. Kamósis I conclamou o Alto Egipto em levante contra o governante hicso; este se aliou com os Núbios no Sul, para conter a revolta. Os egípcios lutaram em duas frentes de batalhas, ao norte contra os hicsos e no sul contra os núbios e venceram ambas, levando a luta até as proximidades de Aváris no Norte, e Buhen no Sul. Mas, nada se sabe sobre ele depois dos três anos que durou o levante contra os invasores. Não sabemos como morreu e quandos anos reinou. A sua múmia, em mau estado de conservação, ficou reduzida a pó antes de poder ser examinada. Foi sepultado num sarcófago dos mais simples, o que parece indicar morte permatura e falta de tempo de realizar um funeral solene.

Em 1570 a.C., o Faraó Amósis I (Nebpehtire), filho de Kamósis, inaugura a 18.ª Dinastia. No Sul do Egipto, Amósis I derrotou os núbios, levando a fronteira até a 3.ª catarata, voltando à mesma posição da época da 13.ª Dinastia. Khamudi assume o trono de Aváris, e dá continuade à guerra contra os egípcios. Em 1532 a.C., sucede Amósis I. Este continuou a guerra de expulsão dos Hicsos, iniciada por seu pai conseguindo seu objectivo após 10 anos de guerra contra Khamudi. Termina os combates com vitória de Amósis I. Ele expulsou os Hicsos do Egipto, perseguindo-os pela Canaã, Fenícia e Síria, até a cidade de Carquemis (Karkemish) junto do Rio Eufrates, onde se deteve militarmente perante os hurritas do Reino de Mitanni.

Razões para invasão

As principais razões que atraíram os Hicsos foram:

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1. Escassez de alimentos na Ásia Ocidental, enquanto no Egipto abundava alimentos;

2. A desordem resultante da presença de estrangeiros e a falta de coesão;3. O atraso técnico e militar do Egipto em comparação com alguns povos

asiáticos; os exércitos egípcios eram formados essencialmente pela infantaria a pé. Como não dispunham de cavalos e não usavam carros de combate puxados a cavalo (pois, a roda não era "muito útil" no deserto), seriam uma presa fácil para qualquer exército que tivesse cavalaria.

Consequências para o Egito

O período da ocupação Hicsa trouxe algumas vantagens para o Egipto:

1. Vulgarizaram o uso do bronze até então raramente empregado no país;2. Substituíram a liga de bronze importada, pela de cobre-arsênico;3. Introduziram a roda de oleiro aperfeiçoada;4. O tear vertical;5. O boi indiano (Zebu), mais resistente que o boi egípcio;6. Novas culturas de hortaliças e frutas até então desconhecidas no Egipto;7. Uso do cavalo e do carro de guerra;8. A roda mais leve de arcos compostos;9. Novas formas de cimitarras - sabre oriental de lâmina curva;10.Novas armas e táticas militares;11.Forma de dançar modificada em relação aos períodos anteriores.

Outras contribuições dos Hicsos:

1. Abalo ao complexo de superioridade dos Egipcios;2. Com a insegurança provocada, os egipcios voltam-se mais a religião,

solicitando às divinidades que não houvesse mais ameaças de fora, no caso os próprios Hicsos.

Hipótese Eurasiano-Cretense

Os hicsos assim como os filisteus seriam povos asiáticos de origem européia, que por sua vez teriam origem no eixo Ásia Central-Mar Negro, só que ao invés de aportarem na atual Palestina como fizeram os filistóides, estes teriam aportado bem nos limes entre a península do Sinai e a Cirenaica Líbia, tendo então fugido da escassez do deserto para adentrar no Baixo Egito se aproveitando da expansão civilizacional egípcia para o Centro e Sul (Alto Egito).

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Segundo Período Intermediário1650-1550 a.C

Dinastias 14-17

Como já vimos no final do Médio Império, na 13ª Dinastia o Egito foi novamente dividido.

Um dos grandes motivos para o fim do Médio Império, foi a imigração dos asiáticos que começou a tomar grande vulto, ameaçando a estabilidade do país, uma vez que esses estrangeiros viviam sob suas próprias leis.

Assim, a monarquia ameaçada, dividida em diversas dinastias e diversos locais, lançou o país no caos, situação que os estrangeiros trataram de aproveitar.

Com relação às dinastias existem tantas dúvidas que não temos como dizer qual é a lista mais ou menos correta.

A lista de Abidos, pula direto de Ammenemes IV para o primeiro rei da 18ª Dinastia.

Aceita-se que a data do reinado de Ahmose I (fundador da 18ª Dinastia) esteja acurada e portanto assim é fixada a duração do Segundo Período Intermediário.

Na verdade não há uma data ou fato determinado para marcar um período. Tanto o primeiro como o segundo períodos intermediários, foram períodos de transição que envolveram a ruptura de um governo estabelecido, a dissolução do poder centralizado com o surgimento de uma série de insignificantes governantes regionais.

Período do governo estrangeiro

O período que agora focalizamos é muitas vezes chamado de período do governo dos hicsos ou da invasão dos hicsos.

Na verdade, não houve propriamente uma invasão. O povo chamado de hicso já vivia no Baixo Egito, no Delta, há algum tempo.

O Delta era um verdadeiro paraíso para o pastoreio, para a agricultura e os povos vindos das agruras do deserto encontraram ali fartura, paz e um povo desenvolvido que lhes permitia uma grande liberdade e assim assimilaram a cultura e os costumes dos egípcios.

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O que ocorreu foi que, com a dissolução do poder central, havia reis egípcios estabelecidos em Tebas e os hicsos se aproveitaram da confusão política se fortaleceram no Delta e de lá começaram a formar um governo, como veremos adiante.

As dinastias

De acordo com a história do Egito, podemos observar que os reinados prolongados eram uma indicação de prosperidade do país, de modo que os períodos em que podemos contar muitos reis com reinados curtos, indicam fases de convulsão social, política e econômica.

Há uma grande dificuldade para se organizar os reis que governaram esse período. De acordo com Mâneton, a 14ª Dinastia consistiu de setenta e seis reis de Xois (hoje Dakha no Delta).

Africanus conta que a 15ª Dinastia consistia de seis reis estrangeiros que chamavam a si mesmos de pastores ou hicsos.

A 16ª Dinastia foi novamente de reis pastores, em número de trinta e dois.

Na 17ª Dinastia reinaram paralelamente os reis pastores e os reis tebanos, quarenta e três reis em cada linhagem durante cento e cinqüenta e um anos.

Com relação ao tempo de duração existem tantas discrepâncias que não o temos praticamente mencionado.

Das listas de reis, apenas a de Karnak enumera os governantes deste período. Ela menciona mais ou menos, trinta reis e a metade deles foram confirmados por objetos, blocos de construção inscritos, estelas e outros tipos, na sua maior parte pertencentes aos reis da área de Tebas.

Infelizmente na lista de Karnak os nomes estão de tal forma misturados, que é impossível seguir uma seqüência confiável.

Já o Cânone de Turim , embora esteja muito fragmentado, distribui os reis a partir da 13ª Dinastia até a 18ª Dinastia. Porém não mais de sessenta nomes estão preservados o suficiente para se atestar sua veracidade e, apenas um terço deles foram confirmados em fragmentos, monumentos ou inscrições.

Os estudiosos chegaram a conclusão, que o Cânone de Turim enumera muitos reis que governaram simultaneamente, possivelmente de partes distantes do país. Inclusive Mâneton, ao mencionar os reis de Xois, parece ter consciência do fato, mas, os registrou como dinastias consecutivas.

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Procuramos anotar o que foi possível sobre cada rei das dinastias desse período, na página dedicada apenas as dinastias.

Os Hicsos

O historiador judeu Josephus, usa aqui as palavras de Mâneton (se é que se pode confiar nisso), para falar sobre esses estrangeiros.

Ele os chama de invasores de uma raça obscura, que venceram usando a força, queimaram cidades, destruíram templos e massacraram o povo. Se estabeleceram em Mênfis, deixando guarnições em pontos importantes, até escolher um dos seus membros para governar o país.

O nome deste governante era Salitis e ele escolheu um dos nomos com o local ideal, uma cidade chamada Avaris, que fortificou com muralhas e dela fez sua capital.

Os egípcios envergonhados e irritados com o domínio estrangeiro, chamavam os reis estrangeiros de Heka-Khaswt ou seja governantes de terras estrangeiras. Os gregos modificaram a palavra, que virou Hicsos.

Josephus os chama de pastores cativos, porque em egípcio hyk significa cativo. Mas este é um ponto discutível porque se atém a religião e nosso objetivo é a história.

Na realidade, existem muitas versões e uma delas, bastante interessante, diz que a palavra hicso deriva da expressão Hikkhase, que significa chefe de um país estrangeiro nas colinas. Essa palavra, no Médio Império, era usada para designar os sheiks beduínos.

Foram encontrados com os reis hicsos, diversos escaravelhos com esse título, mas a palavra para país, estava no plural. Isso combina com o Cânone de Turim.

Josephus acreditava que a palavra hicso se referia a toda uma raça, mas estava errado. O termo se refere apenas ao rei.

Por outro lado, muitos estudiosos concluíram que os hicsos eram uma raça de invasores, um povo semita que pode ter vindo do sul de Canaã ou da Síria.

Hoje, se acredita que a invasão do Delta por outro povo não se mantém, não foi propriamente uma invasão. Apenas se admite a infiltração dos palestinos, que buscavam refúgio num local fértil e pacífico.

Escaravelhos do período mencionam chefes chamados Anat-her e Yakob-her, o que nos faz deduzir que eram semitas.

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Hoje é praticamente impossível mudar o hábito de se ver os hicsos como uma raça específica, quando hicso deve ter sido apenas o chefe.

Os egípcios usavam a palavra aamu para se referir aos detestados intrusos, que significa asiáticos e era a principio usada apenas para nomear os prisioneiros palestinos que viviam como servos no Egito.

Ao examinarmos o governo do faraó Amenemhet III da 12ª Dinastia, vamos ver que ele foi um grande promotor de obras. Então, temos a hipótese de que esse povo chamado de hicso, pode ter chegado ao Egito em busca de trabalho, nas inúmeras construções.

Aos poucos eles subiram na escala social e se adaptaram aos usos e costumes egípcios. Na verdade, no Médio Império houve um aumento muito grande da imigração. No final da 13ª Dinastia a região do Delta tinha uma grande população de origem asiática.

Com o caos que reinava na época, foi fácil para esse povo entrar no Egito apoiado pelos seus membros que já viviam lá, trazendo armamentos desconhecidos pelos donos da terra. Além disso, em Avaris eles mantinham comércio com outros povos e seus gostos artísticos eram diferentes dos egípcios.

Os chamados hicsos possuíam armaduras, cimitarras, bons punhais, arcos feitos de madeira e chifre e o mais importante, usavam carros de guerra puxados por cavalos (animal desconhecido no Egito). Eles utilizavam o bronze ao invés do cobre para forjar armas.

Além disso, introduziram o tear vertical, instrumentos e estilos musicais, alimentos como a azeitona e a romã, novas raças de animais e novas técnicas de fazer a colheita.

O governo dos hicsos ficou restrito ao Baixo Egito, ainda que o Alto Egito pagasse tributos aos reis estrangeiros. Embora eles tivessem adotado os costumes do país, o sonho de se tornarem verdadeiramente egípcios morreu em um século.

Tebas, a resistente

Na realidade por mais força e poder que os estrangeiros tivessem, jamais foram capazes de subjugar o governo tebano, herdeiro de direito do orgulhoso sangue real dos faraós.

Uma família de príncipes tebanos reagiu de maneira brilhante e feroz contra a dominação estrangeira.

Em Tebas ficava uma espécie de governo paralelo dos egípcios, que junto com os poderosos sacerdotes planejavam expulsar de seu país, os estrangeiros.

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Durante o tempo de dominação de parte do país pelos chamados hicsos, os egípcios aprenderam a manejar suas armas, aprenderam suas táticas e mantiveram seu orgulho e a resistência aos invasores.

Como ocorreu na 11ª Dinastia, também originaria de Tebas, a qual pertencia Mentuhotep II que reunificou o Egito após o primeiro período intermediário, vamos ver a região de Tebas novamente ser o foco da resistência.

Após uma guerra sangrenta começada por Tao II, seguido por seu filho Kamose um príncipe de grande coragem e determinação e terminada por seu irmão Ahmose que expulsou os hicsos para sempre do Egito.

A história dos hipopótamos

O décimo quarto rei da dinastia tebana que governava paralela à dos estrangeiros, era Tao II (Sekenenre), filho de Tao I e da rainha Tetisheri.

Conta a lenda que Tao II recebeu um aviso de Apophis, rei hicso, que vivia na capital Avaris, no Delta, dizendo que os hipopótamos do lago sagrado de Tebas não o deixavam dormir com seus roncos.

Ele queria que Tao II mandasse matar os hipopótamos.

Tao tomou isso como um insulto, afinal os hipopótamos ficavam a quatrocentas milhas do quarto de Apophis!

Caso essa lenda tenha um fundo de realidade, e é bem possível que tenha, o que se pode presumir é que os príncipes tebanos estavam incomodando os hicsos.

O que Apophis realmente queria era deixar bem claro quem mandava no Egito. O problema é que vivendo em sua cidade fortaleza no Delta, ele não se deu conta da capacidade de reação dos egípcios.

infantaria egípcia

Tao II, descendente dos grandes faraós, imediatamente declarou guerra aos governantes estrangeiros. Acompanhado de seu filho Kamose, sua pretensão era juntar exércitos a medida que marchava até o Delta.

Tao II deve ter sido morto no primeiro ano da luta. Sua múmia foi recuperada e mostra claramente os ferimentos dos golpes recebidos por machados, lanças e outras armas.

Seu filho e herdeiro Kamose (Wadjkheperre) tomou as rédeas da rebelião e foi a luta comandando seu povo e contando com as forças núbias como aliadas.

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Os núbios eram guerreiros temíveis e ferozes que lutavam na linha de frente, eram os assustadores medjai, arqueiros imbatíveis e donos de uma coragem sem limites.

O chefe hicso teve que recuar com seus exércitos perante Kamose, até a cidade fortaleza de Avaris onde se escondeu.

O hicso quis negociar a rendição mantendo Avaris e a maior parte do Delta, mas Kamose não negociou e prosseguiu na luta, mantendo os estrangeiros sob pressão constante e sitiando a cidade.

Kamose levou os egípcios à vitória e assumiu o trono, abrindo caminho para o Novo Império.

Quando Kamose morreu, não se sabe se de causas naturais ou por ferimentos em batalha, sem deixar herdeiros, seu irmão Ahmose I assumiu o trono e se tornou o primeiro faraó do Novo Império.

===Uma pequena nota===

A história que conta a querela entre o rei hicso Apophis e seu opositor tebano Seqenenre foi encontrada no Papiro Sallier I da coleção do British Museum, onde possui o número 10185. Foi escrito em hierático e está datado do reinado de Merenptah, o quarto rei da 19ª dinastia.

Infelizmente o papiro está bastante estragado e existem muitas lacunas, antes que ele termine abruptamente na terceira linha da terceira página. De qualquer maneira, a história é muito interessante do ponto de vista histórico.