o saber da comunidade tradicional da baÍa acurizal …no pantanal mato-grossense, região inserida...

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1 O SABER DA COMUNIDADE TRADICIONAL DA BAÍA ACURIZAL SOBRE AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE AS "FRUTEIRAS" E A ICTIOFAUNA (RIO CUIABÁ, PANTANAL DE BARÃO DE MELGAÇO, MT) EVANDSON JOSÉ DOS ANJOS-SILVA 1 e CAROLINA JOANA DA SILVA 2 RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi investigar o saber de pescadores acerca das inter-relações ecológicas entre a ictiofauna e as "fruteiras" no Pantanal de Barão de Melgaço, MT, com enfoque especial nos aspectos da alimentação e da dispersão (ictiocoria) e na floração das plantas frutíferas. A área de estudo engloba a baía Acurizal e as áreas sazonalmente alagáveis pelo rio Cuiabá, onde os trabalhos de campo, como observação dos ecossistemas, coleta, identificação taxonômica e preservação dos espécimes da fauna e flora foram realizados, totalizando 22 dias (abril de 1991 a março de 1992 3 ; outubro de 1992 a fevereiro de 1993 4 ). Durante as entrevistas (questionário aberto), obteve-se a descrição e as formas uso de 38 espécies de "fruteiras" usadas nas pescarias, sendo catalogadas 20 espécies de peixes. A observação direta e a participação nas pescarias evidenciaram o hábito dos pescadores de examinar, com minúcias, o trato digestivo dos exemplares capturados para verificar quais "fruteiras" e partes estão em uso pela comunidade de peixes. As informações fornecidas sobre a ictiofauna, em termos de hábito alimentar e a dispersão das "fruteiras", no Pantanal, corroboram e implementam dados da literatura consultada. 1 Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Área de Ecologia, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso. Av. Tancredo Neves, 1.095, Cavalhada. CEP 78200-00 Cáceres, MT. Correio eletrônico: [email protected] - [email protected] 2 Doutora em Ecologia. Projeto Ecologia do Pantanal - Programa SHIFT (CNPq/IBAMA/DLR). Correio eletrônico: [email protected] 3 Financiado pelo NUPAUB-USP/IDRC/IUCN. 4 Contribuição n.º 11 ao Projeto Ecologia do Pantanal - Programa SHIFT (CNPq/IBAMA/DLR).

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Page 1: O SABER DA COMUNIDADE TRADICIONAL DA BAÍA ACURIZAL …No Pantanal Mato-Grossense, região inserida na Bacia do Rio Paraguai e sujeita a clima megatérmico (Thornthwaite) ou tropical

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O SABER DA COMUNIDADE TRADICIONAL DA BAÍA ACURIZAL SOBRE

AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE AS "FRUTEIRAS" E A ICTIOFAUNA

(RIO CUIABÁ, PANTANAL DE BARÃO DE MELGAÇO, MT)

EVANDSON JOSÉ DOS ANJOS-SILVA 1 e CAROLINA JOANA DA SILVA 2

RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi investigar o saber de pescadores acerca

das inter-relações ecológicas entre a ictiofauna e as "fruteiras" no Pantanal de Barão de

Melgaço, MT, com enfoque especial nos aspectos da alimentação e da dispersão

(ictiocoria) e na floração das plantas frutíferas. A área de estudo engloba a baía Acurizal

e as áreas sazonalmente alagáveis pelo rio Cuiabá, onde os trabalhos de campo, como

observação dos ecossistemas, coleta, identificação taxonômica e preservação dos

espécimes da fauna e flora foram realizados, totalizando 22 dias (abril de 1991 a março

de 19923; outubro de 1992 a fevereiro de 19934). Durante as entrevistas (questionário

aberto), obteve-se a descrição e as formas uso de 38 espécies de "fruteiras" usadas nas

pescarias, sendo catalogadas 20 espécies de peixes. A observação direta e a participação

nas pescarias evidenciaram o hábito dos pescadores de examinar, com minúcias, o trato

digestivo dos exemplares capturados para verificar quais "fruteiras" e partes estão em

uso pela comunidade de peixes. As informações fornecidas sobre a ictiofauna, em

termos de hábito alimentar e a dispersão das "fruteiras", no Pantanal, corroboram e

implementam dados da literatura consultada.

1Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Área de Ecologia, Departamento de Ciências

Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso. Av. Tancredo Neves, 1.095, Cavalhada. CEP78200-00 Cáceres, MT. Correio eletrônico: [email protected] - [email protected]

2 Doutora em Ecologia. Projeto Ecologia do Pantanal - Programa SHIFT (CNPq/IBAMA/DLR). Correioeletrônico: [email protected]

3 Financiado pelo NUPAUB-USP/IDRC/IUCN.4 Contribuição n.º 11 ao Projeto Ecologia do Pantanal - Programa SHIFT (CNPq/IBAMA/DLR).

III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Os Desafios do Novo Milênio De 27 a 30 de Novembro de 2000 - Corumbá-MS
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KNOWLEDGE OF A TRADITIONAL COMMUNITY FROM ACURIZAL

LAKE ABOUT ECOLOGICAL RELATIONSHIPS BETWEEN FRUIT PLANTS

AND FISHES (CUIABÁ RIVER, PANTANAL OF BARÃO DE MELGAÇO,

MATO GROSSO)

ABSTRACT: This study undertaken to determine the relationships between plants and

fishes along the Cuiabá River, Lake Acurizal, and the floodplains between them in order

to establish an empirical body of knowledge required for fishery and fish culture.

Information focusing on feeding by the fishes and dispersion of the fruits was obtained

from the literature as well as from field studies. The various plants eaten by fishes, as

observed by the local fishermen, were characterized according to the ways in which

their vegetative and reproductive parts are utilized for nutrition, also they were

evaluated according to their food value for fish communities at various depths and

locations within the water bodies. Observations were made on differences in the spatial

and temporal distribution, including the elevations at which the plants usually grow. At

the same time, the dispersion of the seeds of the various plants species by the fishes was

investigated. Of the plant specimens collected in the inundated forests, 38 species in 21

families were identified, and one or more parts of these plant species are consumed by

fishes belonging to 20 species in 7 families. The inhabitants of the Pantanal are thus

able to provide much information on the biota.

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INTRODUÇÃO

Com inserção na Formação Pantanal, a Bacia do Alto Paraguai (BAP) ocupa

posição central no continente Sul-Americano, entre os paralelos 16° a 22° de latitude Sul

e os meridianos de 55° a 58° de longitude Oeste, com uma área aproximada de 140.000

km2 que integra parte dos territórios brasileiro, boliviano e paraguaio numa superfície

estimada em cerca de 496.000 km², dos quais 396.800 km² estão situados em Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul (Valverde, 1972; Alvarenga et alii, 1984; Adámoli;

1987a).

As elevações no relevo na BAP variam de 85 m a 150 m, numa bacia de

drenagem com mosaicos de leques aluviais de origem Pleistocênica (1 milhão de anos

→ 10.000 anos antes do presente), e são constituídas de elevados platôs e pequenas

montanhas ao norte e este (250 m a 1.200 m de elevação) e planícies planas a oeste,

num clima tropical com marcada estação seca (Hamilton et al., 1996), que pode ser

reflexo dos paleoclimas áridos na região.

No Pantanal Mato-Grossense, região inserida na Bacia do Rio Paraguai e sujeita

a clima megatérmico (Thornthwaite) ou tropical semi-úmido, por causa dos fatores

orográficos e climáticos da bacia, ocorrem cinco meses de seca bem demarcados e

geralmente associados a amplitudes térmicas anuais que atingem 40° C, a maior do

Brasil, sobretudo de junho (julho é o mês mais frio, com média de 21,4°C) a setembro -

embora a região apresente temperatura média anual de 25°C - sendo dezembro o mês

mais quente, com médias de 27,4º C (Valverde, 1972; Alvarenga et alii, 1984; Cadavid

Garcia, 1984; Tarifa, 1986; Godoy Filho, 1986; Alfonsi e Camargo, 1986).

Valverde (1972) considera que o Pantanal possui clima quente e úmido do tipo

AW de Köpen, enquanto que Veloso (1947; 1972) comprova um clima xerotérmico

pretérito para a região, onde há cerca de 18.000 anos predominava clima tropical

desértico extremo, correspondendo, provavelmente, à subdivisão de como deserto ou

semideserto.

As cheias e os alagamentos comuns na região não estão ligados a pluviosidade

local, mas, sobretudo, à baixíssima declividade do relevo: 2 cm/km a 5 cm/km no

sentido Norte-Sul e 30 cm/km a 50 cm/km no sentido Leste-Oeste, onde o denso

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sistema de drenagens é, freqüentemente, obstruído por sedimentos aluviais

transportados pelas águas em função da dificuldade de escoamento (sub)superficial

(Cadavid Garcia, 1984; Amaral Filho, 1986), cujos principais tributários são os rios

Cuiabá, São Lourenço, Taquari, Miranda e Aquidauana (Brasil, 1979). Todavia, Ab’Sáber

(1988) enfatiza que, primeiramente, a declividade do relevo e a composição de solos,

associada à concentração da pluviosidade em alguns meses do ano, determinam os

níveis de inundação na região, dando aí a denotação equivocada de "pântano", ou

Pantanal – na que é a planície mais importante da bacia detrítica quaternária brasileira,

de típica coalescência detrítico-aluvial.

O termo Pantanal Mato-Grossense engloba um conjunto de diferentes feições de

"pantanais" cuja existência há muito tempo é reconhecido pelos pantaneiros (Da Silva,

1990; Da Silva e Silva, 1993) e corroborada por outros estudiosos, dentre eles, Pereira

(1944), Correa Filho (1946), Franco e Pinheiro (1982), Alvarenga et alii (1984), Adámoli

(1981; 1987b), Ab’Saber (1988).

Pelo mapeamento geomorfológico do Projeto Radambrasil, Alvarenga et alii (op.

cit.) identificaram doze feições de pantanais. Já Adámoli (1987) identifica dez

subpantanais: Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paiaguá, Nhecolândia, Aquidauana,

Paraguai, Miranda, Nabileque e Abrobal.

Geologicamente, o Pantanal Mato-Grossense é uma planície sedimentar aluvial

quaternária (holocênica), parcial e periodicamente alagável em função da sua baixíssima

declividade (Cadavid Garcia, 1984), onde o sistema de drenagem denso, freqüentemente

obstruído por sedimentos aluviais transportados pelas águas, condiciona o aparecimento de

ambientes com características próprias, conhecidas popularmente como baías (leitos

fósseis segmentados), vazantes (leitos fósseis com escoamento d'água temporário), corixos

(leitos fósseis com água permanente) e cordilheiras (diques marginais antigos) que

favorecem ao desenvolvimento da fauna e flora, onde se encontram espécies raras ou em

extinção, vegetais ou animais, tornando a região um dos mais ricos recantos ecológicos já

visto no mundo (Amaral Filho, 1986).

De acordo com Wilhelmy (1957; 1958), as baías "pantaneiras" apresentam

diferenças caracterizadas sob muitos aspectos, a saber: quanto ao tamanho, à forma, à

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profundidade, à conexão com o rio, à proximidade do rio, ao abastecimento, à salinidade e

à evolução.

O Pantanal corresponde a uma vasta depressão da Alta Bacia do Rio Paraguai, para

onde convergem quatro das mais importantes províncias fitogeográficas do continente Sul-

Americano: Floresta Amazônica, Cerrado, Chaco e Floresta Atlântica. Essas quatro

províncias contornam o Pantanal Mato-Grossense, e a sua maior ou menor expressão

dentro dele vai depender dos condicionantes ambientais, atuantes localmente. Já a

linhagem florística aportada por essas províncias poderá expressar-se sob a forma de

comunidades vegetais com coeficientes de similitude altamente representativos das

respectivas áreas core, naqueles encraves onde as características ambientais dessas

províncias fitogeográficas brasileiras possam se manifestar em plenitude. Já para o

conjunto da planície deprimida pantaneira, interatuam poderosos fatores condicionantes,

cujas relações definem a individualidade de cada um dos diversos subpantanais (Eiten,

1972, Cabrera, 1973, apud Adámoli, 1987b).

A alta bacia de todos os rios localizados a leste da região drena planaltos

predominantemente areníticos, coberto quase que, totalmente, por flora de cerrado sensu

lato. Os processos flúviomorfológicos, predominantes no setor central a leste do Pantanal,

são de formação de grandes leques aluviais: o maior e mais perfeito deles é do rio Taquari,

de 250 km de comprimento por 250 km de largura. Sob esses solos ácidos, distróficos,

bem a excessivamente drenados, instalam-se comunidades vegetais características de

cerrados, salvo nas áreas que apresentam saturação hídrica durante vários meses do ano.

Esse "pantanal", com parte da ilha do Bananal, representa uma das únicas áreas extensas

dos sistemas ecológicos do cerrado que se desenvolvem sobre sedimento do quaternário

(Adámoli, 1986a; 1986b).

Já o rio Cuiabá, que nasce na Serra Azul, possui uma bacia de drenagem de quase

100.000 km2, com vales íngremes no alto curso e que se alargam na altura de Santo

Antônio de Leverger, MT, formando extensas áreas alagáveis até a foz (Carvalho, 1986).

Nesse trecho, ocorrem vários "corixos, vazantes, sangradouros e baías", como as de

Chacororé, Shá-Mariana, Porto de Fora e Acurizal, conectadas ao rio Cuiabá. Baía é uma

cubeta ou lagoa que pode estar permanente ou temporariamente preenchida por água;

apresenta formas variadas, sendo a subarredondada a mais freqüente.

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De acordo com Valverde (1972), o Pantanal Mato-Grossense está submetido a um

clima tropical semi-úmido, ocorrendo na região uma alternância de estação seca e chuvosa:

nesta última, as precipitações máximas ocorrem em janeiro, com 213 mm, em Cuiabá, MT,

e, na estação seca, em julho, com 5 mm (Tarifa, 1986).

Da Silva (1990) descreve a circulação das águas superficiais entre o rio Cuiabá e as

baías Acurizal e Porto de Fora, nas quatro fases do ciclo hidrológico anual: enchente,

cheia, vazante e seca (estiagem). Tais fases são marcadas por comportamentos marcantes

que influenciam as atividades das comunidades biológicas e humanas tradicionais que

utilizam os recursos naturais (renováveis) dessas áreas. As cheias no rio Cuiabá, em Santo

Antonio do Leverger e Barão de Melgaço ocorrem durante o período mais chuvoso, de

janeiro a março. Estudos ecológicos a serem realizados nesses sistemas ecológicos devem

considerar esses eventos sazonais do ciclo hidrológico.

Nas diversas sub-regiões de pantanais existentes podem ser identificadas unidades

de paisagem bem definidas, tais como cordilheiras, morrarias, capões, baías, sangradouros,

corixos e vazantes, que são bem caracterizados pelas comunidades humanas tradicionais

que habitam essa sub-região do Pantanal de Barão de Melgaço, em Mato Grosso (Da Silva,

1990; Da Silva e Silva, 1993).

Embora as maiores extensões de áreas inundáveis de águas interiores estejam

situadas na região tropical, e as naturezas das relações entre o homem e esses ecossistemas

forneçam subsídios importantes para a sua conservação e manejo, bem como para o

entendimento da organização social e econômica das populações que habitam essas áreas,

são raros os estudos que analisam essas relações (Diégues e Sales, 1988).

Já no tocante aos estudos em etnologia, entende-se como pressuposto que o escopo

da etnobiologia tem sido o de tentar conjugar os conhecimentos obtidos pelas ciências

naturais e as ciências sociais a fim de captar o conhecimento, a classificação, e uso dos

recursos naturais por parte da sociedade de folk e indígenas, isto é, em que medida detecta-

se a influência humana na manipulação e manutenção de sistemas ecológicos (Posey,

1986; 1987).

Pressupõe-se que cada povo possui um sistema único de perceber e organizar as

coisas, os eventos e os comportamentos. Além desses aspectos teóricos, os estudos de

etnobiologia têm sentido prático da maior importância: encerram um saber milenar que

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permite a conservação do equilíbrio ecológico em vastas regiões do mundo (Ribeiro,

1986). Como exemplo, temos os Kaiapó2, que distinguem as zonas ecológicas segundo as

concentrações de recursos específicos que as caracterizam, que reduzem, de maneira

perceptível, a heterogeneidade da floresta a "ilhas de recursos" perfeitamente

reconhecíveis, que podem ser periodicamente exploradas com vistas a produtos e

finalidades específicos. Índios e caboclos também classificam seu ambiente ecológico por

níveis verticais. Todavia, é necessário assinalar que nem sempre é possível descobrir

funções ecológicas nos mitos. Mas, esses exemplos são citados para encorajar o

pesquisador e filtrar, por meio dos símbolos, manifestações práticas das crenças populares.

(Posey, 1986; 1998).

Da Silva (1990) aponta para as baías alagáveis pelo rio Cuiabá quatro grandes

zonas ecológicas bem definidas, nas quais essas comunidades humanas tradicionais

utilizam os recursos naturais (renováveis) com diferentes estratégias de uso, que buscam

garantir sua conservação.

No Lago Coari, na Amazônia, Parker et alii (1983) observaram quarenta tipos

diferentes de unidades de recursos, denominados de "lugares de fartura", com grande

concentração de recursos dos sistemas ecológicos por causa das condições naturais e/ou da

manipulação antropomórfica.

O objetivo do presente trabalho foi investigar o saber de pescadores acerca das

inter-relações ecológicas entre a ictiofauna e as plantas frutíferas nativas no Pantanal de

Barão de Melgaço (MT), com enfoque especial nos aspectos da alimentação, da

dispersão (ictiocoria) e da floração das ‘fruteiras’, nome esse atribuído às plantas

frutíferas nativas.

2 A não flexão do referido substantivo no plural e o uso da letra k seguem a norma culta da Convençãopara a grafia dos nomes tribais, estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em 14 denovembro de 1953.

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MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo engloba a baía Acurizal e as áreas alagáveis pelo rio Cuiabá,

situada nas coordenadas geográficas 16º 10’ de latitude Sul, e 55º 55’ de longitude

Oeste, no Pantanal de Barão de Melgaço, no município homônimo, em Mato Grosso.

FIG. 1. Localização da área de estudo: o rio Cuiabá, a baía Acurizal e as áreas alagáveiscircunvizinhas, no trecho do Pantanal de Barão de Melgaço, em Mato Grosso.Em primeiro plano, as baías de Chacororé e de Shá-Mariana, com destaque(seta) para a área de estudo. Fonte: Projeto Gran-Pantanal – CooperaçãoTécnico-Científica Teuto-Brasileira. Imagem Landsat/INPE, retificado noProjeto Gran-Pantanal por Peter Zeihöfer (Max-Planck Institut für Limnonogie– Ploon, Alemanha). Bandas 4, 5, 3 – Canhão de cores R, G, B – Rede 8 km/8km. (agosto 2, 1990).

A baía Acurizal é uma lagoa marginal permanentemente alagada (2,2 km x 896

m), com características lênticas, e ligada ao rio Cuiabá através do sangradouro Croará

durante a estação chuvosa e início da vazante, nos meses de outubro a abril. Tal

sangradouro, um canal natural que faz ligação da baía com o rio constitui uma zona

lótica para lêntica, ao passo que as áreas inundáveis são zonas periodicamente alagáveis,

terrestres na estação seca e aquáticas durante a estação chuvosa, nos meses de janeiro a

março (Da Silva, 1990).

Usando-se da observação direta, as descrições dos peixes e da unidade de

recurso ‘fruteiras’ foram efetuadas durante a participação nas atividades realizadas pela

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comunidade humana local, durante as pescarias na baía e no rio, e nos plantios de roças

(de subsistência). As entrevistas, realizadas nos períodos diurno e noturno e anotadas

em caderno de campo, foram também gravadas em fita cassete para registrar as

informações, pelo dialeto regional, acerca do saber dos pescadores sobre o ambiente

terrestre-aquático investigado. Desse modo, os dados coletados sobre as relações

ecológicas entre peixes - plantas frutíferas foram traçados em novos apontamentos e

questionamentos, verificados durante as entrevistas coletivas noturnas, em especial

(Anjos-Silva, 1993).

Os entrevistados, onze adultos e quatro crianças, foram consultados previamente

e, de forma unânime, se predispuseram em aceitar a gravação das conversas durante as

suas atividades, no cotidiano pantaneiro.

No que tange aos trabalhos de campo realizados na área de estudo, a observação

dos ecossistemas lótico (rio) e lêntico (baía) e as atividades de coleta, identificação

taxonômica e preservação de espécimes da flora e fauna amostrados durante os

trabalhos foram realizados durante os períodos de abril de 1991 a março de 1992, e de

outubro de 1992 a fevereiro de 1993, totalizando 10 incursões à área de estudo,

correspondendo a 22 dias de observações em campo, ou aproximadamente 220 horas.

As entrevistas, individuais e coletivas, via questionário aberto, foram realizadas

com homens e crianças para tratar da descrição e das estratégias de uso das ‘fruteiras’

nas pescarias realizadas no rio, na baía e nas áreas alagáveis pelo rio Cuiabá, durante os

ciclos sazonais de inundação no Pantanal de Barão de Melgaço (Anjos-Silva, 1993).

Os peixes coletados (holótipos) foram identificados, de modo comparativo, com

a coleção de vertebrados do IB/UFMT, recorrendo-se ao uso de chaves dicotômicas

(Britski et alii, s.d.; Britski et alii, 1999), enquanto que para os vegetais, à lista das

plantas frutíferas nativas usadas pelos ribeirinhos da região pantaneira estudada, já

catalogadas por Da Silva (1990).

Após a realização das atividades de campo, buscou-se, com a coleta de dados,

aprofundar a discussão dos resultados obtidos usando-se uma abordagem etnológica

(Lévi-Strauss, 1970; 1976) e etnobiológica (Posey, 1986; 1987; 1998). Para os

vernáculos, segue-se aqui a recomendação dada por Berlin (1992), para se destacar em

negrito + itálico os vernáculos, isto é, os nomes populares, atribuídos regionalmente a

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uma planta ou animal. Finalmente, para checagem dos taxa das ‘fruteiras’, recorreu-se

ainda à lista das angiospermas registradas para Mato Grosso por Dubs (1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com as informações obtidas dos pescadores da região do rio Cuiabá e

da baía Acurizal, no Pantanal de Barão de Melgaço (FIG. 1), durante as entrevistas

foram citadas e catalogadas 20 espécies da ictiofauna regional, agrupadas em sete

famílias zoológicas que, por ordem de importância quanto à riqueza de espécies, são:

Characidae (nove), Pimelodidae (quatro), Anostomidae (três), Cynodontidae (uma),

Cichlidae (uma), Doradidae (uma), Prochilodontidae (uma), conforme apresentado na

Tabela 1.

Em termos da dieta alimentar dos peixes registrados, constatou-se que quinze

espécies (75%) apresentavam tendência aos hábitos herbívoro-onívoros, alimentado-se

de partes vegetais (folhas, flores, frutos, sementes) das "fruteiras". Nesse sentido,

estima-se que cerca de nove espécies de peixes podem ser capturadas (com considerável

sucesso), usando-se certas partes das plantas como iscas durante as pescarias, realizadas

na baía Acurizal (FIG. 2), no rio e nas áreas alagáveis da região (Tabelas 2 e 3).

A observação direta e a participação nas pescarias puderam evidenciar os

petrechos de pesca empregados pela comunidade tradicional da baía Acurizal (Tabelas 4

e 5) e ainda o hábito dos pescadores do rio Cuiabá de examinar, com minúcias, o trato

digestivo dos exemplares capturados para verificar quais "fruteiras" e itens alimentares

(folhas, flores, frutos e sementes) que estão sendo usados pela comunidade de peixes

nos ambientes lótico e lêntico estudados, isso com a intenção de potencializar o esforço

de pesca sobre determinados peixes durante os ciclos sazonais de inundação.

Já para as "fruteiras" do chamado "pântano"3, foram catalogadas, neste estudo,

38 espécies de plantas frutíferas nativas.

3 No Pantanal, a área mais interior da planície alagável é mais conhecida pelos pantaneiros como pantâno,com a sílaba tônica no segundo a.

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TABELA 1. Variação da pesca em diferentes níveis de profundidade na coluna d’água,de acordo com o saber dos pescadores da baía Acurizal (rio Cuiabá,Pantanal de Barão de Melgaço, Mato Grosso).

Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabá Baía Acurizal

(níveis na coluna d’água)Flor

d’águaRaso Médio Fundo Flor

d’águaRaso Médio Fundo

Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988

* *

Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794

* *

Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)

* * * *

Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)

* *

Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)

* * * * * * * *

Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)

* * * *

Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)

* * * * *

Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)

* *

Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)

* * *

Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)

*

Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

* * * *

Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829

* * * *

Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)

*

Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)

* *

Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)

*

Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)

*

Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)

* * * *

Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)

* * *

Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)

* * * * *

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TABELA 2. Utilização de frutos em anzol em diferentes níveis de profundidade nacoluna d’água durante o ciclo hidrológico anual no rio Cuiabá (Pantanalde Barão de Melgaço, MT), a partir da percepção dos pescadores adultos.

Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabáníveis na coluna d’água/período sazonal deinundação

Superfícieflor d’água

Raso Meio Fundo

Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello eBritski,1988

E – C6

E – C6

- -

Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794

- - - -

Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)

E – C4,6

- - -

Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)

E – C1,2,6,7,8

E – C1,2,6,7,8

- -

Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)

C – V1,7,8

C – V1,7,8

-

Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)

- - - -

Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)

- - - -

Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)

- - -

Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)

- - - -

Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)

E – C– V1,6,7,8,9,10,11

E – C1,6,8,9,10,11

- -

Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)

- - - -

Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

E – C– V1,6,8,9,10,11

E – C1,6,8,9,10,11

- -

Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829

- - - -

Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)

- - - -

Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)

- - - -

Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)

- - - -

Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)

- - - -

Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)

- - - -

Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes,1840)

- - - -

Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)

- - - -

Simbologia: E enchente, C cheia, V vazante S seca1. cipó-três-quinas; 2. enxerteira; 3.juá; 4. marmelada; 5. moranguinho; 6. parada; 7. peixinheira; 8. pimenteira; 9.roncador; 10. sarã-de-leite; 11. sarã-do-brejo; sardinheira; 12. uvinha-do-Pantanal.

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TABELA 3. Utilização de frutos em anzol em diferentes níveis de profundidade na colunad’água durante o ciclo hidrológico anual no rio Cuiabá (Pantanal de Barão deMelgaço, Mato Grosso), a partir da percepção dos pescadores infantis.

Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabáníveis na coluna d’água/período sazonal de inundação Superfície

flor d’águaRaso Meio Fundo

Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988

E – C3,4

E – C3,4

E – C3,4

-

Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794

- - - -

Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)

- - - -

Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)

E2,3,4,5,6,7,8,

10,12

- - -

Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)

C – V3,6,7,8,10,11,

12,13

C – V3,6,7,9

C – V6

C – V6

Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)

E – C3,4,6

E – C3,4,6

- E – C3,4,6

Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)

E – C1,2,3,4,6,9,

10, 11,12,13

E – C1,2,3,4,6,9,10,

11,12,13

E – C1,2,3,4,6,9,10,11,12,13

-

Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)

E – C1,2,3,4,6,9,

10, 11,12,13

E – C1,2,3,4,6,9,10,

11,12,13

- -

Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)

- - - -

Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)

E – C8,10,11,12

E – C8,10,11,12

- -

Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)

E – C3,8

E – C3,8

- -

Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

V4,5,6,8,13

V4,5,6,8,13

- -

Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829

- - - -

Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)

- - - -

Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)

E – C – V4

E – C – V4

- -

Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)

- - - -

Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)

- - - -

Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)

- - - -

Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)

- - - -

Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)

- - - -

Simbologia empregada: E enchente, C cheia, V vazante S seca1. cipó-três-quinas; 2. enxerteira; 3.juá; 4. marmelada; 5. moranguinho; 6. parada; 7. peixinheira; 8. pimenteira; 9.roncador; 10. sarã-de-leite; 11. sarã-do-brejo; sardinheira; 12. uvinha-do-Pantanal.

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TABELA 4. Variação temporal, espacial e vertical da pesca a partir da percepção deadultos: espécies e petrechos usados no rio Cuiabá e baía Acurizal (RioCuiabá, Pantanal de Barão de Melgaço, MT).

Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabá Baía Acurizal

(níveis na coluna d’água)Enchente Cheia Vazante Seca Enchente Cheia Vazante Seca

Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988

- - - anzoltarrafarede

anzol anzol - -

Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794

- - - anzoltarrafarede

anzol anzol - -

Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)

- - anzoltarrafa

- - - - -

Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)

- - - anzol anzol anzol - -

Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

- anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

-

Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)

tarrafarede

tarrafarede

tarrafarede

tarrafarede

tarrafarede

tarrafarede

tarrafarede

tarrafarede

Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)

anzoltarrafarede

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anzoltarrafarede

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anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)

- - - anzol - anzoltarrafarede

- -

Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)

- - anzol - anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

-

Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)

- - anzoltarrafa

- - - -

Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

- - anzolrede

- anzolrede

anzolrede

- -

Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829

- - - anzol - - - anzol

Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)

- - - - anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzol anzol

Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)

anzoltarrafarede

- - - - - - -

Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)

anzoltarrafarede

- - - - - - -

Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)

anzolrede

- - - - - - -

Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)

- - - anzoltarrafa

anzoltarrafa

- - anzoltarrafa

Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)

- - - anzolganchotarrafarede

- - anzolganchotarrafarede

-

Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)

- - - anzoltarrafarede

redeflecha

- - -

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TABELA 5. Variação temporal, espacial e vertical da pesca a partir da percepçãoinfantil: espécies e petrechos usados no rio Cuiabá e baía Acurizal (RioCuiabá, Pantanal de Barão de Melgaço, MT).

Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabá Baía Acurizal

(níveis na coluna d’água)Enchente Cheia Vazante Seca Enchente Cheia Vazante Seca

Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988

anzoltarrafa

anzol anzol

Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzol anzol

Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzol anzol

Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)

anzoltarrafa

anzoltarrafa

Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

anzoltarrafa

Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)

anzol anzol Anzol

Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)

anzoltarrafa

anzol anzol

Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)

anzol anzol

Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

anzolrede

anzol

Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829

anzolrede

anzolrede

anzolrede

Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)

anzoltarrafa

anzolrede

anzolrede

anzolrede

Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)

anzoltarrafa

anzol anzol anzol

Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)

anzol

Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)

anzol anzol anzol

Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)

anzol anzol anzol anzoltarrafa

Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

anzoltarrafarede

Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)

tarrafa tarrafa tarrafa

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1. Cássia alata, fedegoso-bravo A: Enchente - cheia (outubro a março)

2. Cleome sp., tranca-rua B: Vazante (abril a junho)

3. Solanum aculeatissimum, juá C: Seca - estiagem (julho a setembro)

4. Spondias lutea, acaiá

5. Pouteria glomerata, parada

6. Tocoyena foetida, marmelada-bola

7. Licania parviflora, pimenteira

8. Alchornea castanaefolia; Sapium palidum, sarã

9. Macrófitas aquáticas

10. Ictiofauna (herbívoros-onívoros-carnívoros)

FIG. 2. Desenho esquemático demonstrando as inter-relações entre as "fruteiras"e os

peixes durante o ciclo hidrológico anual na baía Acurizal (Pantanal de Barão de

Melgaço, MT.

Exclusas desta lista, todavia, estão certas espécies de macrófitas aquáticas, que

embora sejam comidas por certos peixes, não são categorizadas como ‘fruteiras’ pelos

pescadores devido à forma de vida apresentada: elas são ervas aquáticas conhecidas sob

os vernáculo aguapé e/ou orelha-de-onça: Pontederia lanceolata Nutt., Eichhornia

azurea (Swart) Kunth., E. crassipes (Mart.) Solms. (Pontederiaceae); cipó-de-capivara,

capim-fofo: Paspalum repens Berg. (Poaceae); alface-d’água, forno: Pistia stratiotes L.

(Araceae).

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1. Anacardiaceae – Spondias lutea Linnaeus (1762)

Vernáculos: acaiá, cajá

Planta ereta, arbórea, de 8 a 10 m, frondosa, com reprodução por sementes,

sendo a espécie comumente encontrada na região, em estado silvestre ou em cultivo. O

fruto, drupáceo, contém polpa resinosa, ácida, e de aroma e sabor agradáveis, com

endocarpo espesso e súbero-lenhoso. Os (quinze) pescadores entrevistados, de modo

unânime, indicam que os frutos do acaiá são comidos pelo piavuçu, piraputanga,

sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves, pacu e botoado. Floresce de

dezembro a fevereiro, durante as fases de enchente e cheia, com frutificação durante

março a maio, durante a cheia e a vazante.

Silva (1985) indica que os frutos do acaiá são comidos por peixes no Pantanal

de Mato Grosso. Em termos da dispersão de sementes por peixes na região, pode-se

ilustrar tal aspecto usando-se uma passagem efetuada por um dos pescadores:

“(...) a piraputanga e o pacu engolem essa fruta, mas não remoem... Todos os peixes

comem – até nós comemos – mas quem mais gosta é o pacu: agora um peixe que come

a fruta dele e a semente dele vai nascer em outro lugar é só o pacu: e ele faz isso com o

acaiá!”.“Seo” Sebastião (54), pescador profissional, rio Cuiabá, maio de 1991.

2. Arecaceae (= Palmae) – Bactris glaucescens Drude (1881)

Vernáculos: tucum, tucum-roxo, tucum-mirim, tucum-de-índio

Palmeira, medindo de 1 a 4 metros, densamente revestida por espinhos nas

folhas, nas brácteas e no estipe. Os frutos são drupas, de sementes únicas, esféricas,

flutuantes, de superfície lisa, com mesocarpo fibroso, de sabor ácido. É no endocarpo

que grande parte da energia está armazenada nas palmeiras (Goulding et alii, 1988),

estrutura essa que é protegida por uma dura noz, permitindo que as sementes passem

pelo trato digestivo dos peixes. Os frutos são muito apreciados pelo pacu e pela

piraputanga. Todavia, conforme as informações de doze pescadores, o pacu é o (único)

predador em potencial das sementes do tucum: o pacu remói quase que integralmente

as sementes, inviabilizando a germinação (Anjos-Silva, 1993):

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“(...) somente o pacu quebra a semente: os outros peixes não conseguem quebrar. Um

outro peixe que também come o tucum é a piraputanga... mas só que essa também não

consegue quebrar a semente!João, 11 anos, baía Acurizal, maio de 1991

Das 12 plantas frutíferas comestíveis citadas por Berg (1986), num levantamento

da flora de valor/potencial econômico do Pantanal Mato-Grossense, apenas B.

glaucescens é indicada como sendo comida por peixes. Conceição e Paula (1986)

indicam que os frutos do tucum são comidos por peixes, em especial o pacu. Floresce

durante a enchente, de outubro a dezembro, com frutos maduros de dezembro a

março/abril.

3. Bignoniaceae – Crescentia cuyete L., cabaça, cabaceira

Planta de porte arbóreo, é uma arvoreta frondosa, de 5 a 8 m, com frutos do tipo

bagas indeiscentes, com várias sementes, com pericarpo escuro, de polpa parda,

suculenta, ácida. Os frutos da cabaceira são comidos pelo pacu e piraputanga, segundo

dez pescadores entrevistados. Como os frutos possuem pericarpo resistente à pressão

mecânica dos peixes, além de serem muito grandes, quando comparados aos de outra

‘fruteiras’, os pescadores utilizam a polpa dos frutos da cabaceira como isca, em anzol,

na baía e no rio, embora essa seja uma prática pouco comum. Floresce de dezembro a

janeiro, com frutos de janeiro a abril, durante a cheia e início da vazante.

4. Caparidaceae – Cleome cf. spinosa Jacq. (1753), tranca-rua

É uma planta ereta, subarbustiva, perene, ruderal, medindo até cerca de 1,5 m,

com inflorescências terminais, em racemos alvos, com brácteas interfoliares. Pelas

informações obtidas, nove pescadores afirmam que as folhas e as flores e os frutos são

comidos pelo ximburé, piava, piraputanga, sardinha, lambari, e pacu-peva. Floresce

de dezembro a março, do início da enchente até a cheia, apresentando frutos de janeiro

até maio/junho, nas bordas das rodovias.

5. Chrisobalanaceae - Licania parviflora Huber (1909), pimenta, pimenteira

É uma espécie arbórea, de 8 a 10 m, que ocorre nas áreas alagáveis do Pantanal,

e cujos frutos, produzidos em abundância, são drupas, flutuantes, de superfície lisa, de

sabor pouco ácido a levemente adocicado, e que vem a acentuar a disponibilidade de

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recurso alimentar à fauna aquática desde a época de sua floração, de novembro a

dezembro, com frutos persistindo até março.

“(...) uns frutos caem primeiro, e outros prolongam: é conforme o tempo... a pimenteira

não demora com as frutas no pé: o fruto não é muito durável... e quando dá uma

ventania forte ele cai, não demora maduro, e logo acaba!”.“Seo” Lino, pescador-lavrador, baía Acurizal, novembro de 1991

Também para a pimenteira, os pescadores são unânimes em indicar que os

frutos são comidos pelo piavuçu, piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-

joão-chaves e pacu. Pott e Pott (1994) indicam que os frutos dessa espécie arbórea,

amazônica, de ampla distribuição geográfica, são comidos por peixes.

6. Clusiaceae (= Guttiferae) – Rheedia brasiliensis (Mart.) Pl. et Tr., acupari, bacupari

Planta arbórea de pequeno porte (arvoreta), ereta, 14 m, ramificada, com frutos

do tipo baga, flutuante, que se tornam amarelos quando maduros. Oito pescadores

indicaram que o acupari é comido pela piraputanga, pacu-peva e pacu, ao passo que

Berg (1986) confirma que os frutos dessa espécie são comidos por peixes no Pantanal.

Floresce de março a abril, com frutos até junho.

7. Euphorbiaceae – Alchornea castaneifolia (Willd.) A. Juss. (1824), sarã-do-brejo

É uma planta subarbustiva, bem ramificada desde a base, com frutos do tipo

cápsulas (tricocas), flutuantes, lactescentes, de superfície lisa e mesocarpo fibrocarnoso.

Os frutos são comidos pelo ximburé, piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva,

pacu e bagre, de acordo com os pescadores. Flores de outubro a dezembro, com frutos

de novembro a janeiro.

Conceição e Paula (1986) indicam que as folhas dessa espécie são comidas por

peixes. Nesse sentido, segue uma passagem acerca da descrição do sarã:

“(...) o sarã-do-brejo escapa mais à noite, e fica na flor d’água: ele tem fruto verde e

tem semente dura, que não entra no anzol. Têm dois tipos na baía: pé de árvore, como

esse... e o outro é ramado!”. Pescadores da baía Acurizal, maio de 1991

– Mabea cf. ferruginosa, espirradeira

É uma planta subarbustiva, com frutos tipo cápsula tricoca, flutuante,

lactescente, de superfície lisa e mesocarpo fibrocarnoso. Os frutos são comidos pela

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piraputanga, de acordo com oito pescadores. Floresce de outubro a janeiro, com frutos

de dezembro a março.

– Sapium cf. pallidum, sarã-de-leite, sarã-de-viola

É uma planta subarbustiva, de 3 a 5 m, ramificada desde a base, com frutos

tricocas, flutuantes, lactescente, de superfície lisa e mesocarpo fibrocarnoso. Os frutos

são comidos pela piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva, pacu e bagre, de acordo

com treze pescadores. Floresce de outubro a dezembro, com frutos de dezembro a

março.

8. Hipocrateaceae – Salacia elliptica (Mart.) G. Don. (1831), siputá

Planta de porte arbóreo, possui frutos drupáceos, geralmente com sementes

aladas. Os frutos do siputá fazem parte da dieta alimentar da piraputanga, sardinha,

lambari, pacu-peva e pacu, segundo onze pescadores. Floresce de outubro a janeiro,

com frutos de dezembro a março.

– Salacia laevigata D. C., moranguinho

É uma planta de porte arbóreo, possuindo frutos que são comidos por peixes

como o piavuçu, piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva, pacu e o sauá. Floresce

de novembro a dezembro, com frutos de dezembro a abril.

9. Leguminosae/Caesalpinoideae – Cassia alata L., fedegoso-bravo

É uma planta arbustiva ereta, de 1 a 2 m, chegando a alcançar 3 m, é ramificada,

perene, e de significativa importância ecológica, pois as suas folhas, flores, frutos (do

tipo legume, flutuantes) e sementes servem de alimento para diversas espécies de

peixes, dentre elas a piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva e pacu, segundo doze

pescadores. Floresce de dezembro a fevereiro, com frutos de dezembro a abril.

10. Loranthaceae – Psittacanthus cordatus (Hoffm.ex Schult.) Blume (1730)

Vernáculo: inxerteira, erva-de-passarinho

Essa é uma planta arbustiva hemiparasita, de cerca de 1 m, com frutos do tipo

baga, ovóide, que são comidos pela piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu,

segundo doze pescadores.

– Struthantus cf. marginatus (Desr.) Blume (1731), inxerteira

É uma planta trepadeira, hemiparasita, ereta ou volúvel, de cerca de 1,5 m, com

frutos do tipo baga, elipsóide. Segundo dez pescadores, as inxerteiras são comidas pela

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piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu. Floresce de novembro a janeiro,

com frutos de novembro a abril.

11. Melastomataceae – Mouriri acutiflora Naud. (1825), roncador

Planta ereta, arbórea, pouco ramificada, de 2 a 4 m; os frutos são do tipo drupa, de

sementes únicas, flutuantes, de superfície lisa e mesocarpo carnofibroso, de sabor

levemente ácido a adocicado. Também de forma unânime, os pescadores indicam que os

frutos do roncador são comidos pela piava, ximburé, piavuçu, piraputanga, sardinha,

lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves e pacu, que ‘pega a fruta e a engole inteira’.

Conceição (1988), ao evidenciar a presença de sementes (intactas) do roncador

nos intestinos de exemplares de pacu, pacu-peva, pacu-joão-chaves, piava,

piraputanga, ximburé, piavuçu e bagre, aponta que essas espécies de peixe devam ser

(potencias) dispersores de M. acutiflora no Pantanal. Floresce de outubro a dezembro,

com frutos de dezembro a março.

12. Meliaceae – Trichilia catigua Adr. Juss. (1829), caxuá

Planta de porte arbóreo (arvoreta), de 4 a 7 m, com frutos do tipo cápsula, com

sementes envoltas em arilo. Doze pescadores indicam que o caxuá é comido pela

piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves e pacu. Floresce de janeiro

a março, com frutos de março a junho.

13. Moraceae – Ficus aff. gomelleira Kunth e Bouché (1846), figueira, figo

A forma de vida apresentada é a arbórea, escandente, com látex leitoso; os frutos

são do tipo baga, de superfície lisa, são flutuantes e, quando maduros, suculentos. As

figueiras possuem sementes diminutas, de difícil mastigação por peixes, o que pode

indicar que estes últimos podem ser potenciais (ou efetivos) dispersores de sementes de

Ficus spp, com já apontado por Goulding (1980) e Goulding et alii (1988), em estudos

realizados na Amazônia. Todos os pescadores, em Barão de Melgaço, indicam que os

frutos da figueira são comidos pelo ximburé, piava, piraputanga, pacu-peva, pacu-

joão-chaves e pacu. Floresce de novembro a dezembro, com frutos de dezembro a

março.

– Chlorophora tinctoria L. Gaud., taiuiá

Planta de porte arbóreo, de 3 a 5 m, possui frutos do tipo bagas, carnosas,

comidos pela piraputanga e pacu.

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14. Myrtaceae – Eugenia punicifolia (Kunth) D. C., (1828), cambucá-amarelo

– Myrcia multiflora (Lam.) D. C., (1828), cambucá-roxo

Os cambucás são plantas eretas, arbóreas, de 3 a 6 m, com frutos do tipo baga,

flutuantes, com superfícies lisas e mesocarpos pouco carnosos, levemente ácidos a

adocicado.

Os frutos são comidos pelo piavuçu, ximburé, piava, piraputanga, sardinha,

pacu-peva, pacu-joão-chaves, pacu e bagre. Essas duas espécies têm flores de janeiro a

março, com frutos de fevereiro a março.

15. Polygonaceae – Coccoloba cf. paraguayensis, fubá-de-macaco

É uma planta trepadeira, cujos frutos são comidos pelo piavuçu, ximburé,

piraputanga, sardinha, pacu-peva e o sauá.

– Coccoloba sp1, sardinheira

Planta de porte arbóreo, de 2 a 3 m, tem os seus frutos comidos pela sardinha,

lambari e a pacu-peva. Essas duas espécies têm flores de janeiro a março, com frutos

até março/abril.

– Coccoloba sp2, uvinha, uvinha-do-pantanal, uva

Planta de porte arbóreo (arvoreta), de 3 a 5 m, com frutos drupáceos, de

produção abundante. Os pescadores indicam que a uva é comida pelo piavuçu,

ximburé, piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu.

– Ruprechtia cf. brachysepala, peixinheira

É uma planta de porte arbóreo (arvoreta), de 3 a 5 m, com frutos do tipo drupa,

que são comidos pelo ximburé, piraputanga, sardinha e pacu. Floresce de novembro a

dezembro, com frutos de janeiro a março.

16. Rubiaceae – Genipa americana L. (1759), jenipapo, jenipapeiro

É uma árvore, ereta, de 7 a 10 m, com frutos do tipo baga, de superfície lisa,

flutuantes, e de sabor agradável, cujos frutos são comidos pela piraputanga, sardinha, e

pacu. Flores de outubro a dezembro, com frutos de dezembro a abril.

– Tocoyena foetida Poepp. Endl., marmelada-bola

É uma planta arbórea ereta, de 5 a 8 m, com frutos do tipo baga, de superfície lisa,

flutuantes, e de sabor agradável, cujos frutos são comidos pelo piavuçu, ximburé e pacu,

segundo doze pescadores, os quais mencionam que:

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“(...) a marmelada: têm algumas delas que ficam na flor d’água, e aí comem a ‘pera’, o

pacu e o ximburé... e se ele afundar, o pacu, a pera e o ximburé vão comer ele lá no chão.

Isso é porque quando o fruto está bem com saúde, ele não afunda: ele fica na flor d’água...

mas quando ele está meio doente ele vai pro fundo (...)”. “Seo” Lino, 51 anos, pescador-

lavrador, baía Acurizal, outubro de 1991

Flores de outubro a dezembro, com frutos de dezembro a março/abril.

17. Sapindaceae – Serjania cf. diminuta, cipó-três-quinas

Planta trepadeira (liana), com frutos do tipo drupa, com três sementes, são

flutuantes, de superfície lisa e de mesocarpo fibrocarnoso. Os frutos são comidos pelo

ximburé, piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu, de acordo com treze

pescadores. Floresce em dezembro, com frutos até janeiro.

18. Sapotaceae – Pouteria glomerata (Miq.) Radlk. (1822), parada, laranjinha-do-

pantanal

Planta ereta, arbórea, de 4 a 5 m. Os frutos são do tipo drupa, de uma a quatro

sementes por fruto, de superfície lisa, com mesocarpo bem desenvolvido: são flutuantes e

possuem sabor ácido e relativamente azedo, sendo muito apreciada como fruta nativa pelas

pessoas, além da fauna de peixes, aves e mamíferos, em especial. Conceição e Paula

(1986) indicam que os frutos da parada são comidos pelo pacu, sendo também usadas

como isca, no anzol, por pescadores. Flores e frutos encontrados de outubro a

dezembro/janeiro.

Todos os pescadores indicam que os frutos da parada são comidos pelo piavuçu,

ximburé, piraputanga e pacu, e em termos da floração dessas espécies chegam a sugerir

que:

“(...) a parada não dá flor: ela dá umas rugas e cresce... ela dá como uma jaca, é de leite

e a flor dá na madeira: ela dá fruto temporão, aquele, que depois dos outros frutos

acabam ele vem dando. E ela só dá na beira do ‘pântano’: ela não dá na rua, assim... E

quando o pacu pega a parada na flor d’água ele engole a fruta, e o com caroço inteiro...

mas quando ele pega no fundo, quando sobra dos outros peixes ou dos passarinhos, o

caroço fica remoído!”.“Seo” Lino, 51 anos, pescador-lavrador, baía Acurizal, outubro de 1991

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19. Solanaceae – Solanum aculeatissimum Jacq., juá, joá

A forma de vida apresentada é a de planta ereta, arbustiva, ramificada, de 1 a 1,5

m, com frutos do tipo baga, contendo cerca de 250 sementes: os frutos, flutuantes, de

superfície lisa e de sabor levemente ácido, são comidos pela piava, piavuçu, ximburé,

piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves e pacu, de acordo com

catorze pescadores.

“(...) Ele (o juá) só da até a água entrar nele: depois que entra ele morre... no começo

da cheia pega mais pacu-peva e curimba, com flecha ou tarrafa... e o pacu a gente

pega com o juá, porque é só ele quem está ‘florindo’”.João, 11 anos, estudante e pescador, baía Acurizal, outubro de 1991

Essa espécie floresce de outubro a dezembro, com frutos dezembro a janeiro.

20. Verbenaceae – Vitex cymosa Bert. ex Spreng. (1825), tarumã

Planta ereta, arbórea, frondosa, de cerca de 8 a 12 m, com frutos oblongos,

enegrecidos quando maduros, que são comidos pela piraputanga. Conceição e Paula

(1986) indicam que frutos de tarumã são comidos por peixes.

21. Vitaceae – Cissus aff. spinosa Camb.., cipó-rabo-de-arraia

Planta do tipo liana (trepadeira), lenhosa, de caule sarmentoso, anguloso, produzindo

frutos do tipo bagas ovóides, enegrecidos quando maduros, que são comidos pelo

ximburé, piava, piraputanga, sardinha, pacu-peva, e pacu. As flores são

encontradas de outubro a dezembro, com frutos até dezembro/janeiro.

Dez pescadores afirmam no sentido de que:

“(...) o pé cresce como cipó e dá um cacho... só da uma frutinha seca: é na pelinha do

caroço que o pescador coloca o anzol... É um pé pequeno, encontrado na beira do

pântano... e o cachinho fica em cima da casca (...)”.Pescadores da baía Acurizal, novembro de 1991

Petrechos usados durante as pescarias no rio Cuiabá e áreas inundáveis da baía

Acurizal (Pantanal de Barão de Melgaço, Mato Grosso).

Dentre os vários petrechos de pesca usados pelos pescadores da área de estudo,

destacamos a seguir os principais:

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1. Arpäo: é composto de uma vara com cerca de 1,8 m, cuja extremidade é uma armação

de ferro em forma pontiaguda: é empregada em épocas de cheia, quando há maior

visibilidade dos cardumes, em especial nas baías.

2. Armadilha: é empregada comumente na baía, sendo usada amarrando-se a armação de

anzol e linha de nylon num galho fino e flexuoso da ‘fruteira’, de forma a dispor as iscas -

somente frutos - na superfície d’água, para a pesca (principalmente) da piraputanga e a da

piava.

3. Bóia: Utilizada na baía e no rio, constitui-se de um litro plástico ou um pedaço de

isopor, onde se faz a armação com iscas de peixes, como a sardinha, os lambaris e o cará

para a pesca do dourado, da jiripoca, entre outros.

4. Espinhelo: é uma das armadilhas usadas no período da seca, no rio, somente: um arame

é passado de um lado a outro no rio, armando-se os anzóis em intervalos de seis ou oito

metros, e onde o tamanho da linha varia em função da profundidade local do rio. É uma

estratégia de pesca direcionada a peixes de médio porte, como o pacu, piraputanga, piava,

ximburé e o pacu-peva.

Os pescadores têm consciência que esse tipo de pescaria é proibido e, em conseqüência,

esse tipo de pesca não é agora mais empregado.

5. Flecha: é uma estratégia de pesca derivada dos índios e repassada de geração a geração:

alguns dos entrevistados são exímios pescadores, comprovando que tal estratégia de pesca

ainda é importante para a comunidade humana no Pantanal, pois, sobretudo, se trata de um

meio alternativo e eficiente que é empregado geralmente no início da enchente e na

vazante, quando há maior visibilidade dos cardumes na coluna d’água.

6. Gancho: são usados três anzóis (um de cada lado), sendo os anzóis então encastoados

passando-se cera de abelhas européias (Apis melífera, Apidae) em fios de náilon (20 cm);

amarra-se os anzóis a uma linha principal, com uma chumbada na porção inferior aos

anzóis, para mantê-los elevados e, dessa forma, facilitar a pescaria. Também neste caso,

por ser proibido a utilização desse petrecho, os pescadores não mais o utilizam.

7. Linha de mäo: essa estratégia de pesca é muita arraigada na área de estudo e apresenta,

juntamente com a vara de pesca, a melhor alternativa da captura do pescado na época da

cheia: isso em função da profundidade ser maior no rio e na baía, quando a ictiofauna se

dispersa também nas áreas alagáveis.

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8. Poita: uma pedra, atada a uma corda, é disposta na proa da canoa por um pescador,

enquanto que o outro vai à popa, controlando a canoa com um remo, buscando-se a

escolha de locais para o arremesso das iscas. Essa estratégia é usada no rio em ambientes

de corredeiras, sendo uma pescaria tida como muito perigosa, e somente efetuada por

pescadores mais experientes.

9. Taboca ou taquara: direcionada para a pesca de peixes de médio a grande porte, como

o pacu, o pintado e o jaú, a armação dos anzóis é feita com os bambus, Bambusa ssp

(Poaceae) fincando-se a taquara na praia ou barranco: são usadas iscas de peixes como o

savirú, Potamorhina squamoralevis (Braga e Azpelicueta, 1983), Psectrogaster

curviventris Eigenmann e Kennedy, (1903), e Curimatella spp. (Curimatidae).

10. Tarrafa: é pouco empregada pelos pescadores da comunidade ba baía Acurizal e,

quando estes a utilizam, é direcionada (somente) para obtenção de iscas ‘brancas’ (de

peixe), e em épocas do ano em que estão escassas ou se encontra dificuldade para obter as

iscas.

11. Vara de pesca: também muito arraigado na comunidade, é uma das estratégias mais

empregadas no rio e na baía durante (todos) os ciclos sazonais de inundação na região. Tal

petrecho serve de auxílio aos pescadores, que usam a extremidade da vara na superfície

d’água, ou em folhas dos plantas aquáticas, para ‘incitar’ os peixes, como a traíra Hoplias

malabaricus (Erytrinidae) e as piranhas Pygocentrus nattereri, Serrasalmus marginatus, e

Serrasalmus spilopleura (Characidae/Serrasalminae) a abocanharem a isca.

Através das observações efetuadas na área de estudo, percebemos claramente

que há uma evidente implementação do conhecimento empírico pelos pescadores

referente às atividades no Pantanal, o qual é repassado para os filhos (Tabelas III e V).

Sobre os períodos fenológicos das plantas nativas, os pescadores efetuam uma

associação dos eventos ecológicos com os períodos de floração e frutificação e,

comumente, relacionam tais períodos com o ciclo hidrológico anual, que por sua vez,

coincidem, não por acaso, com as fases de enchente e cheia no Pantanal. Depreende-se,

pois, que a floração de plantas frutíferas nativas está (também) diretamente associada às

chuvas.

Payne (1986), discutindo a existência ou não de sazonalidade nos trópicos,

aponta que se animais e plantas possuem um ciclo sazonal de reprodução, por exemplo,

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torna-se necessário a eles um extraordinário ambiente propício, um ‘fator aproximador’,

que dá início a um padrão de comportamento, e destaca que o objetivo mais comum dos

ciclos sazonais de animais e plantas é a máxima utilização dos recursos em períodos

favoráveis e a mínima ação da influência do ambiente em períodos não favoráveis.

CONCLUSÕES

Percebemos claramente, através das observações e dos acompanhamentos durante

as atividades desenvolvidas pela comunidade humana tradicional da baía Acurizal e do rio

Cuiabá, que esta é ciente da variação espacial, temporal e vertical e da repartição de

recursos alimentares num perfil vertical da unidade de recurso ‘fruteiras’. De modo

especial, os pescadores-lavradores buscam aprofundar o saber produzido regionalmente

através do desenvolvimento de várias estratégias em termos de uso das plantas frutíferas

nativas das áreas alagáveis. Nesse tocante, como observado, contando apenas com alguns

petrechos de pesca, e com os frutos das plantas frutíferas da época, por vezes contatamos

que os ‘pantaneiros’ retornavam de suas atividades, na baía e no rio, com certas espécies

de peixes, da curimba (iliófago) ao peixe-cachorro (ictiófago/carnívoro).

Ficou evidenciado que a pesca realizada na baía Acurizal pelos pescadores, apesar

de seletiva, é multiespecífica, mas direcionada principalmente para as espécies migradoras

mais comercializáveis, o que já tende a ser causadora de menor impacto sobre os estoques

pesqueiros, em termos gerais. Além disso, esse caráter multiespecífico dá-se também em

função utilização dos petrechos de pesca de forma dinâmica, em termos das diferentes

estratégias de pesca empregadas em cada ciclo sazonal anual, à disponibilidade de recursos

alimentares na unidade de recursos fruteira”, e às outras unidades de paisagem registradas

para a baía Acurizal, como o batume, área aberta (na baía), rebojo, baixio etc, objetivando,

nesses microhábitats, a captura de pelo menos certas espécies de peixes.

Evidenciou-se entre as familiares dos entrevistados da comunidade humana do rio

Cuiabá uma certa preferência destes por algumas espécies do tipo comercializáveis - isso,

logicamente, por estas espécies possuírem carne mais abundante e/ou mais saborosa, como

que observado pela maioria dos ‘pantaneiros’ entrevistados. Entretanto, em função da

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comunidade aperceber-se da diversidade da flora e da ictiofauna - especificamente - há um

aproveitamento dos recursos de forma não direcionada e empregando várias metodologias

de pesca de acordo com as variações sazonais.

A comunidade humana estudada efetua um aproveitamento dos recursos naturais

de forma equilibrada, tendo a pesca, além de atividade de subsistência - juntamente com a

agricultura - como fonte alternativa de renda. Conhece a fundo diversos aspectos

comportamentais da flora e fauna, como no que respeita ás várias estratégias que os peixes

utilizam para obter alimentos no rio e na baía durante os ciclos sazonais de inundação, de

enchente, cheia, vazante e seca (estiagem) no Pantanal de Barão de Melgaço.

Para se efetuar a racionalização da pesca na região entendemos que há um

pressuposto: resgatar os conhecimentos empíricos das comunidades humanas tradicionais

‘ribeirinhos’ do Pantanal, integrando seus conhecimentos a uma tecnologia de pesca

eficiente e não depredatória, e, sobretudo, como forma de se implementar esforços em

direção à melhoria das condições de vida das distintas populações humanas, bem como de

sua qualidade.

Os processos de migração trófica (à busca de recursos alimentares) e de

migração reprodutiva da ictiofauna no Pantanal de Barão de Melgaço estão

correlacionados às oscilações fluviométricas anuais e à disposição dos recursos

alimentares (folhas, flores, frutos, sementes) sem nas matas perenifólias alagáveis.

Desse modo, há também uma aparente sincronia na floração e na frutificação das

plantas frutíferas, ou ‘fruteiras’, com o processo de migração dos peixes na região. Isso

pode ocorrer, a priori, como uma das formas que as plantas frutíferas se utilizam para

efetuar a dispersão das sementes, tanto por hidrocória quanto por endozoocoria (fezes).

Nesse sentido, tais estratégias reprodutivas das plantas têm os peixes como

coadjuvantes, os quais são dispersores potenciais (ou efetivos) de sementes de plantas

frutíferas.

Gottsberger (1978) verifica que as espécies cujas sementes das plantas são

geralmente procuradas e ingeridas por peixes da Bacia Amazônica, nas matas de várzea

e igapós, na região de Humaitá, e que passam pelo tubo digestivo (intestino) de forma

intacta, são pertencentes às famílias Annonaceae, Myristicaceae, Moraceae,

Elaeocarpaceae, Sapotaceae, Chrysobalanaceae, Burseraceae, Simaroubaceae e

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Arecaceae, e são mais ‘primitivas’, enquanto que as espécies de plantas frutíferas

procuradas por peixes, enquanto que as sementes das plantas mais ‘evoluídas’, como

Lauraceae, Moraceae, Cucurbitaceae, Lecythidaceae, Anacardiaceae, Meliaceae,

Malpighiaceae, Euphorbiacaeae, Polygonaceae, Rubiaceae e Bignoniaceae foram

mastigadas e trituradas. Isso vem a reforçar a teoria de Pijl (1969), como aludido por

Gottsberger (1978), que considera a ictiocoria como um modo arcaico de dispersão das

Angiospermas, mantida em grupos primitivos em regiões inundadas.

Nesse aspecto, para o Pantanal investigado, a partir das informações obtidas

pelos entrevistados, bem como pela observação de alguns intestinos das espécies mais

comuns de peixes, Anjos-Silva (1993) indica que as sementes do tucum e do acaiá são

as que mais comumente são encontradas intactas no trato digestivo dos peixes,

observados pelo autor durante as pescarias. Nesses dois casos, as sementes são

protegidas, de dureza considerável, diminuindo assim as chances de se encontrar

sementes viáveis das ‘fruteiras’. O pacu é a espécie que foi a mais citada como

predadora das sementes das plantas frutíferas na área de estudo.

Mesquita (1992) efetua a análise de conteúdo estomacal da sardinha, capturadas

no período da seca e cheia na baía Acurizal e rio Bento Gomes, constatando que os itens

mais consumidos são frutos e sementes, com destaque para o cambucá, a uvinha-do-

pantanal e a figueira. Conceição (1988) indica que o roncador é uma das espécies de

‘fruteiras’ que tem grande porcentual de serem dispersas por peixes, como a

piraputanga e o pacu, sobretudo por ter encontrado as sementes intactas no trato

digestivo de ambas espécies. Silva (1985) constata a presença dos aguapés e do ingá

em exemplares do pacu adulto, sendo corroborada por Paula et alii (1989).

Essas considerações corroboram as informações fornecidas pelos pescadores-

lavradores entrevistados, e indicam a necessidade de se efetuar estudos que abordem as

inter-relações entre as plantas frutíferas ‘mais primitivas’ e os peixes da bacia

hidrográfica da região pantaneira e dos cerrados mato-grossenses. A pesquisa realizada,

aqui apresentada, vem a indicar que o tucum (Areacaae), a figueira (Moraceae), o acaiá

(Anacardiaceae), o roncador (Melastomataceae), a pimenteira (Crysobalanacaeae), a

parada (Sapotacae), o jenipapo (Rubiaceae), e o tarumã (Verbenaceae) são as plantas

cujas sementes são potencialmente dispersas por peixes em áreas inundáveis da região.

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Os dados coletados vêm a indicar que Anostomidae, Characidae e Pimelodidae são as

famílias de peixes que podem atuar como efetivos (ou potenciais) dispersores das

sementes das Angiospermas investigadas nas áreas sazonalmente inundáveis pelo rio

Cuiabá.

AGRADECIMENTOS

Ao NUPAUB/USP, e ao CNPq, pelas bolsas de estudos

Às equipes de professores, técnicos e alunos do IB/UFMT/SHIFT Ecologia do

Pantanal, pelos auxílios aos estudos e trabalhos de campo.

Aos pescadores-lavradores das comunidades humanas tradicionais do Pantanal

de Barão de Melgaço, e aos seus filhos, filhas e esposas, por desvelar, com peculiar

simplicidade, os saberes acumulados há gerações no Pantanal a respeito dos ciclos de

inundação e dos ‘segredos’ da pesca na região.

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