o saber da comunidade tradicional da baÍa acurizal …no pantanal mato-grossense, região inserida...
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O SABER DA COMUNIDADE TRADICIONAL DA BAÍA ACURIZAL SOBRE
AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE AS "FRUTEIRAS" E A ICTIOFAUNA
(RIO CUIABÁ, PANTANAL DE BARÃO DE MELGAÇO, MT)
EVANDSON JOSÉ DOS ANJOS-SILVA 1 e CAROLINA JOANA DA SILVA 2
RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi investigar o saber de pescadores acerca
das inter-relações ecológicas entre a ictiofauna e as "fruteiras" no Pantanal de Barão de
Melgaço, MT, com enfoque especial nos aspectos da alimentação e da dispersão
(ictiocoria) e na floração das plantas frutíferas. A área de estudo engloba a baía Acurizal
e as áreas sazonalmente alagáveis pelo rio Cuiabá, onde os trabalhos de campo, como
observação dos ecossistemas, coleta, identificação taxonômica e preservação dos
espécimes da fauna e flora foram realizados, totalizando 22 dias (abril de 1991 a março
de 19923; outubro de 1992 a fevereiro de 19934). Durante as entrevistas (questionário
aberto), obteve-se a descrição e as formas uso de 38 espécies de "fruteiras" usadas nas
pescarias, sendo catalogadas 20 espécies de peixes. A observação direta e a participação
nas pescarias evidenciaram o hábito dos pescadores de examinar, com minúcias, o trato
digestivo dos exemplares capturados para verificar quais "fruteiras" e partes estão em
uso pela comunidade de peixes. As informações fornecidas sobre a ictiofauna, em
termos de hábito alimentar e a dispersão das "fruteiras", no Pantanal, corroboram e
implementam dados da literatura consultada.
1Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Área de Ecologia, Departamento de Ciências
Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso. Av. Tancredo Neves, 1.095, Cavalhada. CEP78200-00 Cáceres, MT. Correio eletrônico: [email protected] - [email protected]
2 Doutora em Ecologia. Projeto Ecologia do Pantanal - Programa SHIFT (CNPq/IBAMA/DLR). Correioeletrônico: [email protected]
3 Financiado pelo NUPAUB-USP/IDRC/IUCN.4 Contribuição n.º 11 ao Projeto Ecologia do Pantanal - Programa SHIFT (CNPq/IBAMA/DLR).
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KNOWLEDGE OF A TRADITIONAL COMMUNITY FROM ACURIZAL
LAKE ABOUT ECOLOGICAL RELATIONSHIPS BETWEEN FRUIT PLANTS
AND FISHES (CUIABÁ RIVER, PANTANAL OF BARÃO DE MELGAÇO,
MATO GROSSO)
ABSTRACT: This study undertaken to determine the relationships between plants and
fishes along the Cuiabá River, Lake Acurizal, and the floodplains between them in order
to establish an empirical body of knowledge required for fishery and fish culture.
Information focusing on feeding by the fishes and dispersion of the fruits was obtained
from the literature as well as from field studies. The various plants eaten by fishes, as
observed by the local fishermen, were characterized according to the ways in which
their vegetative and reproductive parts are utilized for nutrition, also they were
evaluated according to their food value for fish communities at various depths and
locations within the water bodies. Observations were made on differences in the spatial
and temporal distribution, including the elevations at which the plants usually grow. At
the same time, the dispersion of the seeds of the various plants species by the fishes was
investigated. Of the plant specimens collected in the inundated forests, 38 species in 21
families were identified, and one or more parts of these plant species are consumed by
fishes belonging to 20 species in 7 families. The inhabitants of the Pantanal are thus
able to provide much information on the biota.
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INTRODUÇÃO
Com inserção na Formação Pantanal, a Bacia do Alto Paraguai (BAP) ocupa
posição central no continente Sul-Americano, entre os paralelos 16° a 22° de latitude Sul
e os meridianos de 55° a 58° de longitude Oeste, com uma área aproximada de 140.000
km2 que integra parte dos territórios brasileiro, boliviano e paraguaio numa superfície
estimada em cerca de 496.000 km², dos quais 396.800 km² estão situados em Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul (Valverde, 1972; Alvarenga et alii, 1984; Adámoli;
1987a).
As elevações no relevo na BAP variam de 85 m a 150 m, numa bacia de
drenagem com mosaicos de leques aluviais de origem Pleistocênica (1 milhão de anos
→ 10.000 anos antes do presente), e são constituídas de elevados platôs e pequenas
montanhas ao norte e este (250 m a 1.200 m de elevação) e planícies planas a oeste,
num clima tropical com marcada estação seca (Hamilton et al., 1996), que pode ser
reflexo dos paleoclimas áridos na região.
No Pantanal Mato-Grossense, região inserida na Bacia do Rio Paraguai e sujeita
a clima megatérmico (Thornthwaite) ou tropical semi-úmido, por causa dos fatores
orográficos e climáticos da bacia, ocorrem cinco meses de seca bem demarcados e
geralmente associados a amplitudes térmicas anuais que atingem 40° C, a maior do
Brasil, sobretudo de junho (julho é o mês mais frio, com média de 21,4°C) a setembro -
embora a região apresente temperatura média anual de 25°C - sendo dezembro o mês
mais quente, com médias de 27,4º C (Valverde, 1972; Alvarenga et alii, 1984; Cadavid
Garcia, 1984; Tarifa, 1986; Godoy Filho, 1986; Alfonsi e Camargo, 1986).
Valverde (1972) considera que o Pantanal possui clima quente e úmido do tipo
AW de Köpen, enquanto que Veloso (1947; 1972) comprova um clima xerotérmico
pretérito para a região, onde há cerca de 18.000 anos predominava clima tropical
desértico extremo, correspondendo, provavelmente, à subdivisão de como deserto ou
semideserto.
As cheias e os alagamentos comuns na região não estão ligados a pluviosidade
local, mas, sobretudo, à baixíssima declividade do relevo: 2 cm/km a 5 cm/km no
sentido Norte-Sul e 30 cm/km a 50 cm/km no sentido Leste-Oeste, onde o denso
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sistema de drenagens é, freqüentemente, obstruído por sedimentos aluviais
transportados pelas águas em função da dificuldade de escoamento (sub)superficial
(Cadavid Garcia, 1984; Amaral Filho, 1986), cujos principais tributários são os rios
Cuiabá, São Lourenço, Taquari, Miranda e Aquidauana (Brasil, 1979). Todavia, Ab’Sáber
(1988) enfatiza que, primeiramente, a declividade do relevo e a composição de solos,
associada à concentração da pluviosidade em alguns meses do ano, determinam os
níveis de inundação na região, dando aí a denotação equivocada de "pântano", ou
Pantanal – na que é a planície mais importante da bacia detrítica quaternária brasileira,
de típica coalescência detrítico-aluvial.
O termo Pantanal Mato-Grossense engloba um conjunto de diferentes feições de
"pantanais" cuja existência há muito tempo é reconhecido pelos pantaneiros (Da Silva,
1990; Da Silva e Silva, 1993) e corroborada por outros estudiosos, dentre eles, Pereira
(1944), Correa Filho (1946), Franco e Pinheiro (1982), Alvarenga et alii (1984), Adámoli
(1981; 1987b), Ab’Saber (1988).
Pelo mapeamento geomorfológico do Projeto Radambrasil, Alvarenga et alii (op.
cit.) identificaram doze feições de pantanais. Já Adámoli (1987) identifica dez
subpantanais: Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paiaguá, Nhecolândia, Aquidauana,
Paraguai, Miranda, Nabileque e Abrobal.
Geologicamente, o Pantanal Mato-Grossense é uma planície sedimentar aluvial
quaternária (holocênica), parcial e periodicamente alagável em função da sua baixíssima
declividade (Cadavid Garcia, 1984), onde o sistema de drenagem denso, freqüentemente
obstruído por sedimentos aluviais transportados pelas águas, condiciona o aparecimento de
ambientes com características próprias, conhecidas popularmente como baías (leitos
fósseis segmentados), vazantes (leitos fósseis com escoamento d'água temporário), corixos
(leitos fósseis com água permanente) e cordilheiras (diques marginais antigos) que
favorecem ao desenvolvimento da fauna e flora, onde se encontram espécies raras ou em
extinção, vegetais ou animais, tornando a região um dos mais ricos recantos ecológicos já
visto no mundo (Amaral Filho, 1986).
De acordo com Wilhelmy (1957; 1958), as baías "pantaneiras" apresentam
diferenças caracterizadas sob muitos aspectos, a saber: quanto ao tamanho, à forma, à
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profundidade, à conexão com o rio, à proximidade do rio, ao abastecimento, à salinidade e
à evolução.
O Pantanal corresponde a uma vasta depressão da Alta Bacia do Rio Paraguai, para
onde convergem quatro das mais importantes províncias fitogeográficas do continente Sul-
Americano: Floresta Amazônica, Cerrado, Chaco e Floresta Atlântica. Essas quatro
províncias contornam o Pantanal Mato-Grossense, e a sua maior ou menor expressão
dentro dele vai depender dos condicionantes ambientais, atuantes localmente. Já a
linhagem florística aportada por essas províncias poderá expressar-se sob a forma de
comunidades vegetais com coeficientes de similitude altamente representativos das
respectivas áreas core, naqueles encraves onde as características ambientais dessas
províncias fitogeográficas brasileiras possam se manifestar em plenitude. Já para o
conjunto da planície deprimida pantaneira, interatuam poderosos fatores condicionantes,
cujas relações definem a individualidade de cada um dos diversos subpantanais (Eiten,
1972, Cabrera, 1973, apud Adámoli, 1987b).
A alta bacia de todos os rios localizados a leste da região drena planaltos
predominantemente areníticos, coberto quase que, totalmente, por flora de cerrado sensu
lato. Os processos flúviomorfológicos, predominantes no setor central a leste do Pantanal,
são de formação de grandes leques aluviais: o maior e mais perfeito deles é do rio Taquari,
de 250 km de comprimento por 250 km de largura. Sob esses solos ácidos, distróficos,
bem a excessivamente drenados, instalam-se comunidades vegetais características de
cerrados, salvo nas áreas que apresentam saturação hídrica durante vários meses do ano.
Esse "pantanal", com parte da ilha do Bananal, representa uma das únicas áreas extensas
dos sistemas ecológicos do cerrado que se desenvolvem sobre sedimento do quaternário
(Adámoli, 1986a; 1986b).
Já o rio Cuiabá, que nasce na Serra Azul, possui uma bacia de drenagem de quase
100.000 km2, com vales íngremes no alto curso e que se alargam na altura de Santo
Antônio de Leverger, MT, formando extensas áreas alagáveis até a foz (Carvalho, 1986).
Nesse trecho, ocorrem vários "corixos, vazantes, sangradouros e baías", como as de
Chacororé, Shá-Mariana, Porto de Fora e Acurizal, conectadas ao rio Cuiabá. Baía é uma
cubeta ou lagoa que pode estar permanente ou temporariamente preenchida por água;
apresenta formas variadas, sendo a subarredondada a mais freqüente.
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De acordo com Valverde (1972), o Pantanal Mato-Grossense está submetido a um
clima tropical semi-úmido, ocorrendo na região uma alternância de estação seca e chuvosa:
nesta última, as precipitações máximas ocorrem em janeiro, com 213 mm, em Cuiabá, MT,
e, na estação seca, em julho, com 5 mm (Tarifa, 1986).
Da Silva (1990) descreve a circulação das águas superficiais entre o rio Cuiabá e as
baías Acurizal e Porto de Fora, nas quatro fases do ciclo hidrológico anual: enchente,
cheia, vazante e seca (estiagem). Tais fases são marcadas por comportamentos marcantes
que influenciam as atividades das comunidades biológicas e humanas tradicionais que
utilizam os recursos naturais (renováveis) dessas áreas. As cheias no rio Cuiabá, em Santo
Antonio do Leverger e Barão de Melgaço ocorrem durante o período mais chuvoso, de
janeiro a março. Estudos ecológicos a serem realizados nesses sistemas ecológicos devem
considerar esses eventos sazonais do ciclo hidrológico.
Nas diversas sub-regiões de pantanais existentes podem ser identificadas unidades
de paisagem bem definidas, tais como cordilheiras, morrarias, capões, baías, sangradouros,
corixos e vazantes, que são bem caracterizados pelas comunidades humanas tradicionais
que habitam essa sub-região do Pantanal de Barão de Melgaço, em Mato Grosso (Da Silva,
1990; Da Silva e Silva, 1993).
Embora as maiores extensões de áreas inundáveis de águas interiores estejam
situadas na região tropical, e as naturezas das relações entre o homem e esses ecossistemas
forneçam subsídios importantes para a sua conservação e manejo, bem como para o
entendimento da organização social e econômica das populações que habitam essas áreas,
são raros os estudos que analisam essas relações (Diégues e Sales, 1988).
Já no tocante aos estudos em etnologia, entende-se como pressuposto que o escopo
da etnobiologia tem sido o de tentar conjugar os conhecimentos obtidos pelas ciências
naturais e as ciências sociais a fim de captar o conhecimento, a classificação, e uso dos
recursos naturais por parte da sociedade de folk e indígenas, isto é, em que medida detecta-
se a influência humana na manipulação e manutenção de sistemas ecológicos (Posey,
1986; 1987).
Pressupõe-se que cada povo possui um sistema único de perceber e organizar as
coisas, os eventos e os comportamentos. Além desses aspectos teóricos, os estudos de
etnobiologia têm sentido prático da maior importância: encerram um saber milenar que
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permite a conservação do equilíbrio ecológico em vastas regiões do mundo (Ribeiro,
1986). Como exemplo, temos os Kaiapó2, que distinguem as zonas ecológicas segundo as
concentrações de recursos específicos que as caracterizam, que reduzem, de maneira
perceptível, a heterogeneidade da floresta a "ilhas de recursos" perfeitamente
reconhecíveis, que podem ser periodicamente exploradas com vistas a produtos e
finalidades específicos. Índios e caboclos também classificam seu ambiente ecológico por
níveis verticais. Todavia, é necessário assinalar que nem sempre é possível descobrir
funções ecológicas nos mitos. Mas, esses exemplos são citados para encorajar o
pesquisador e filtrar, por meio dos símbolos, manifestações práticas das crenças populares.
(Posey, 1986; 1998).
Da Silva (1990) aponta para as baías alagáveis pelo rio Cuiabá quatro grandes
zonas ecológicas bem definidas, nas quais essas comunidades humanas tradicionais
utilizam os recursos naturais (renováveis) com diferentes estratégias de uso, que buscam
garantir sua conservação.
No Lago Coari, na Amazônia, Parker et alii (1983) observaram quarenta tipos
diferentes de unidades de recursos, denominados de "lugares de fartura", com grande
concentração de recursos dos sistemas ecológicos por causa das condições naturais e/ou da
manipulação antropomórfica.
O objetivo do presente trabalho foi investigar o saber de pescadores acerca das
inter-relações ecológicas entre a ictiofauna e as plantas frutíferas nativas no Pantanal de
Barão de Melgaço (MT), com enfoque especial nos aspectos da alimentação, da
dispersão (ictiocoria) e da floração das ‘fruteiras’, nome esse atribuído às plantas
frutíferas nativas.
2 A não flexão do referido substantivo no plural e o uso da letra k seguem a norma culta da Convençãopara a grafia dos nomes tribais, estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em 14 denovembro de 1953.
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MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo engloba a baía Acurizal e as áreas alagáveis pelo rio Cuiabá,
situada nas coordenadas geográficas 16º 10’ de latitude Sul, e 55º 55’ de longitude
Oeste, no Pantanal de Barão de Melgaço, no município homônimo, em Mato Grosso.
FIG. 1. Localização da área de estudo: o rio Cuiabá, a baía Acurizal e as áreas alagáveiscircunvizinhas, no trecho do Pantanal de Barão de Melgaço, em Mato Grosso.Em primeiro plano, as baías de Chacororé e de Shá-Mariana, com destaque(seta) para a área de estudo. Fonte: Projeto Gran-Pantanal – CooperaçãoTécnico-Científica Teuto-Brasileira. Imagem Landsat/INPE, retificado noProjeto Gran-Pantanal por Peter Zeihöfer (Max-Planck Institut für Limnonogie– Ploon, Alemanha). Bandas 4, 5, 3 – Canhão de cores R, G, B – Rede 8 km/8km. (agosto 2, 1990).
A baía Acurizal é uma lagoa marginal permanentemente alagada (2,2 km x 896
m), com características lênticas, e ligada ao rio Cuiabá através do sangradouro Croará
durante a estação chuvosa e início da vazante, nos meses de outubro a abril. Tal
sangradouro, um canal natural que faz ligação da baía com o rio constitui uma zona
lótica para lêntica, ao passo que as áreas inundáveis são zonas periodicamente alagáveis,
terrestres na estação seca e aquáticas durante a estação chuvosa, nos meses de janeiro a
março (Da Silva, 1990).
Usando-se da observação direta, as descrições dos peixes e da unidade de
recurso ‘fruteiras’ foram efetuadas durante a participação nas atividades realizadas pela
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comunidade humana local, durante as pescarias na baía e no rio, e nos plantios de roças
(de subsistência). As entrevistas, realizadas nos períodos diurno e noturno e anotadas
em caderno de campo, foram também gravadas em fita cassete para registrar as
informações, pelo dialeto regional, acerca do saber dos pescadores sobre o ambiente
terrestre-aquático investigado. Desse modo, os dados coletados sobre as relações
ecológicas entre peixes - plantas frutíferas foram traçados em novos apontamentos e
questionamentos, verificados durante as entrevistas coletivas noturnas, em especial
(Anjos-Silva, 1993).
Os entrevistados, onze adultos e quatro crianças, foram consultados previamente
e, de forma unânime, se predispuseram em aceitar a gravação das conversas durante as
suas atividades, no cotidiano pantaneiro.
No que tange aos trabalhos de campo realizados na área de estudo, a observação
dos ecossistemas lótico (rio) e lêntico (baía) e as atividades de coleta, identificação
taxonômica e preservação de espécimes da flora e fauna amostrados durante os
trabalhos foram realizados durante os períodos de abril de 1991 a março de 1992, e de
outubro de 1992 a fevereiro de 1993, totalizando 10 incursões à área de estudo,
correspondendo a 22 dias de observações em campo, ou aproximadamente 220 horas.
As entrevistas, individuais e coletivas, via questionário aberto, foram realizadas
com homens e crianças para tratar da descrição e das estratégias de uso das ‘fruteiras’
nas pescarias realizadas no rio, na baía e nas áreas alagáveis pelo rio Cuiabá, durante os
ciclos sazonais de inundação no Pantanal de Barão de Melgaço (Anjos-Silva, 1993).
Os peixes coletados (holótipos) foram identificados, de modo comparativo, com
a coleção de vertebrados do IB/UFMT, recorrendo-se ao uso de chaves dicotômicas
(Britski et alii, s.d.; Britski et alii, 1999), enquanto que para os vegetais, à lista das
plantas frutíferas nativas usadas pelos ribeirinhos da região pantaneira estudada, já
catalogadas por Da Silva (1990).
Após a realização das atividades de campo, buscou-se, com a coleta de dados,
aprofundar a discussão dos resultados obtidos usando-se uma abordagem etnológica
(Lévi-Strauss, 1970; 1976) e etnobiológica (Posey, 1986; 1987; 1998). Para os
vernáculos, segue-se aqui a recomendação dada por Berlin (1992), para se destacar em
negrito + itálico os vernáculos, isto é, os nomes populares, atribuídos regionalmente a
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uma planta ou animal. Finalmente, para checagem dos taxa das ‘fruteiras’, recorreu-se
ainda à lista das angiospermas registradas para Mato Grosso por Dubs (1998).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com as informações obtidas dos pescadores da região do rio Cuiabá e
da baía Acurizal, no Pantanal de Barão de Melgaço (FIG. 1), durante as entrevistas
foram citadas e catalogadas 20 espécies da ictiofauna regional, agrupadas em sete
famílias zoológicas que, por ordem de importância quanto à riqueza de espécies, são:
Characidae (nove), Pimelodidae (quatro), Anostomidae (três), Cynodontidae (uma),
Cichlidae (uma), Doradidae (uma), Prochilodontidae (uma), conforme apresentado na
Tabela 1.
Em termos da dieta alimentar dos peixes registrados, constatou-se que quinze
espécies (75%) apresentavam tendência aos hábitos herbívoro-onívoros, alimentado-se
de partes vegetais (folhas, flores, frutos, sementes) das "fruteiras". Nesse sentido,
estima-se que cerca de nove espécies de peixes podem ser capturadas (com considerável
sucesso), usando-se certas partes das plantas como iscas durante as pescarias, realizadas
na baía Acurizal (FIG. 2), no rio e nas áreas alagáveis da região (Tabelas 2 e 3).
A observação direta e a participação nas pescarias puderam evidenciar os
petrechos de pesca empregados pela comunidade tradicional da baía Acurizal (Tabelas 4
e 5) e ainda o hábito dos pescadores do rio Cuiabá de examinar, com minúcias, o trato
digestivo dos exemplares capturados para verificar quais "fruteiras" e itens alimentares
(folhas, flores, frutos e sementes) que estão sendo usados pela comunidade de peixes
nos ambientes lótico e lêntico estudados, isso com a intenção de potencializar o esforço
de pesca sobre determinados peixes durante os ciclos sazonais de inundação.
Já para as "fruteiras" do chamado "pântano"3, foram catalogadas, neste estudo,
38 espécies de plantas frutíferas nativas.
3 No Pantanal, a área mais interior da planície alagável é mais conhecida pelos pantaneiros como pantâno,com a sílaba tônica no segundo a.
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TABELA 1. Variação da pesca em diferentes níveis de profundidade na coluna d’água,de acordo com o saber dos pescadores da baía Acurizal (rio Cuiabá,Pantanal de Barão de Melgaço, Mato Grosso).
Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabá Baía Acurizal
(níveis na coluna d’água)Flor
d’águaRaso Médio Fundo Flor
d’águaRaso Médio Fundo
Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988
* *
Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794
* *
Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)
* * * *
Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)
* *
Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)
* * * * * * * *
Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)
* * * *
Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
* * * * *
Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)
* *
Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)
* * *
Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)
*
Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)
* * * *
Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829
* * * *
Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)
*
Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)
* *
Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)
*
Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)
*
Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)
* * * *
Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)
* * *
Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)
* * * * *
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TABELA 2. Utilização de frutos em anzol em diferentes níveis de profundidade nacoluna d’água durante o ciclo hidrológico anual no rio Cuiabá (Pantanalde Barão de Melgaço, MT), a partir da percepção dos pescadores adultos.
Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabáníveis na coluna d’água/período sazonal deinundação
Superfícieflor d’água
Raso Meio Fundo
Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello eBritski,1988
E – C6
E – C6
- -
Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794
- - - -
Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)
E – C4,6
- - -
Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)
E – C1,2,6,7,8
E – C1,2,6,7,8
- -
Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)
C – V1,7,8
C – V1,7,8
-
Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)
- - - -
Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
- - - -
Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)
- - -
Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)
- - - -
Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)
E – C– V1,6,7,8,9,10,11
E – C1,6,8,9,10,11
- -
Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)
- - - -
Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)
E – C– V1,6,8,9,10,11
E – C1,6,8,9,10,11
- -
Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829
- - - -
Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)
- - - -
Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)
- - - -
Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)
- - - -
Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)
- - - -
Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)
- - - -
Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes,1840)
- - - -
Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)
- - - -
Simbologia: E enchente, C cheia, V vazante S seca1. cipó-três-quinas; 2. enxerteira; 3.juá; 4. marmelada; 5. moranguinho; 6. parada; 7. peixinheira; 8. pimenteira; 9.roncador; 10. sarã-de-leite; 11. sarã-do-brejo; sardinheira; 12. uvinha-do-Pantanal.
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TABELA 3. Utilização de frutos em anzol em diferentes níveis de profundidade na colunad’água durante o ciclo hidrológico anual no rio Cuiabá (Pantanal de Barão deMelgaço, Mato Grosso), a partir da percepção dos pescadores infantis.
Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabáníveis na coluna d’água/período sazonal de inundação Superfície
flor d’águaRaso Meio Fundo
Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988
E – C3,4
E – C3,4
E – C3,4
-
Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794
- - - -
Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)
- - - -
Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)
E2,3,4,5,6,7,8,
10,12
- - -
Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)
C – V3,6,7,8,10,11,
12,13
C – V3,6,7,9
C – V6
C – V6
Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)
E – C3,4,6
E – C3,4,6
- E – C3,4,6
Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
E – C1,2,3,4,6,9,
10, 11,12,13
E – C1,2,3,4,6,9,10,
11,12,13
E – C1,2,3,4,6,9,10,11,12,13
-
Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)
E – C1,2,3,4,6,9,
10, 11,12,13
E – C1,2,3,4,6,9,10,
11,12,13
- -
Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)
- - - -
Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)
E – C8,10,11,12
E – C8,10,11,12
- -
Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)
E – C3,8
E – C3,8
- -
Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)
V4,5,6,8,13
V4,5,6,8,13
- -
Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829
- - - -
Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)
- - - -
Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)
E – C – V4
E – C – V4
- -
Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)
- - - -
Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)
- - - -
Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)
- - - -
Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)
- - - -
Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)
- - - -
Simbologia empregada: E enchente, C cheia, V vazante S seca1. cipó-três-quinas; 2. enxerteira; 3.juá; 4. marmelada; 5. moranguinho; 6. parada; 7. peixinheira; 8. pimenteira; 9.roncador; 10. sarã-de-leite; 11. sarã-do-brejo; sardinheira; 12. uvinha-do-Pantanal.
14
TABELA 4. Variação temporal, espacial e vertical da pesca a partir da percepção deadultos: espécies e petrechos usados no rio Cuiabá e baía Acurizal (RioCuiabá, Pantanal de Barão de Melgaço, MT).
Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabá Baía Acurizal
(níveis na coluna d’água)Enchente Cheia Vazante Seca Enchente Cheia Vazante Seca
Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988
- - - anzoltarrafarede
anzol anzol - -
Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794
- - - anzoltarrafarede
anzol anzol - -
Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)
- - anzoltarrafa
- - - - -
Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)
- - - anzol anzol anzol - -
Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
- anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
-
Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)
tarrafarede
tarrafarede
tarrafarede
tarrafarede
tarrafarede
tarrafarede
tarrafarede
tarrafarede
Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)
- - - anzol - anzoltarrafarede
- -
Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)
- - anzol - anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
-
Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)
- - anzoltarrafa
- - - -
Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)
- - anzolrede
- anzolrede
anzolrede
- -
Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829
- - - anzol - - - anzol
Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)
- - - - anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzol anzol
Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)
anzoltarrafarede
- - - - - - -
Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)
anzoltarrafarede
- - - - - - -
Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)
anzolrede
- - - - - - -
Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)
- - - anzoltarrafa
anzoltarrafa
- - anzoltarrafa
Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)
- - - anzolganchotarrafarede
- - anzolganchotarrafarede
-
Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)
- - - anzoltarrafarede
redeflecha
- - -
15
TABELA 5. Variação temporal, espacial e vertical da pesca a partir da percepçãoinfantil: espécies e petrechos usados no rio Cuiabá e baía Acurizal (RioCuiabá, Pantanal de Barão de Melgaço, MT).
Taxa animal/vernáculo Rio Cuiabá Baía Acurizal
(níveis na coluna d’água)Enchente Cheia Vazante Seca Enchente Cheia Vazante Seca
Anostomidae, piavuçuLeporinus macrocephalus Garavello e Britski,1988
anzoltarrafa
anzol anzol
Anostomidae, piavaLeporinus friderici Bloch, 1794
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzol anzol
Anostomidae, ximburéSchizodon borellii (Boulenger, 1900)
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
Characidae/Bryconinae, piraputanga, ‘pera’Brycon microlepis (Perugia, 1894)
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzol anzol
Characidae/Triportheinae, sardinhaTriportheus paranensis (Günther, 1874)
anzoltarrafa
anzoltarrafa
Characidae/Tetragonopterinae, sauáTetragonopterus argenteus (Cuvier, 1817)
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
anzoltarrafa
Characidae/Tetragonopterinae, lambariAstyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
Characidae/Tetragonopterinae, lambariGymnocorimbus ternetzi (Boulenger, 1895)
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
Characidae/Salminae, douradoSalminus maxillosus (Valenciennes, 1849)
anzol anzol Anzol
Characidae/Myleinae, pacu-pevaMylossoma paraguayensis (Norman, 1928)
anzoltarrafa
anzol anzol
Characidae/Myleinae, pacu-joão-chavesMyloplus levis (Eigenmann e McAtee, 1907)
anzol anzol
Characidae/Myleinae, pacuPiaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)
anzolrede
anzol
Cynodontidae, peixe-cachorroRaphiodon vulpinus Agassiz, 1829
anzolrede
anzolrede
anzolrede
Ciclhidae, caráGymnogeophagus balzanii (Perugia, 1891)
anzoltarrafa
anzolrede
anzolrede
anzolrede
Doradidae, botoadoPterodoras granulosus (Valenciennes, 1833)
anzoltarrafa
anzol anzol anzol
Pimelodidae, barbadoPinirampus pinirampu (Spix, 1829)
anzol
Pimelodidae, jaúPaulicea luetkini (Steindachner, 1875)
anzol anzol anzol
Pimelodidae, jiripoca, jurupocaHemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840)
anzol anzol anzol anzoltarrafa
Pimelodidae, pintadoPseudoplatystoma corruscans (Valenciennes, 1840)
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
anzoltarrafarede
Prochilodontidae, curimbaProchilodus lineatus (Valenciennes, 1847)
tarrafa tarrafa tarrafa
16
1. Cássia alata, fedegoso-bravo A: Enchente - cheia (outubro a março)
2. Cleome sp., tranca-rua B: Vazante (abril a junho)
3. Solanum aculeatissimum, juá C: Seca - estiagem (julho a setembro)
4. Spondias lutea, acaiá
5. Pouteria glomerata, parada
6. Tocoyena foetida, marmelada-bola
7. Licania parviflora, pimenteira
8. Alchornea castanaefolia; Sapium palidum, sarã
9. Macrófitas aquáticas
10. Ictiofauna (herbívoros-onívoros-carnívoros)
FIG. 2. Desenho esquemático demonstrando as inter-relações entre as "fruteiras"e os
peixes durante o ciclo hidrológico anual na baía Acurizal (Pantanal de Barão de
Melgaço, MT.
Exclusas desta lista, todavia, estão certas espécies de macrófitas aquáticas, que
embora sejam comidas por certos peixes, não são categorizadas como ‘fruteiras’ pelos
pescadores devido à forma de vida apresentada: elas são ervas aquáticas conhecidas sob
os vernáculo aguapé e/ou orelha-de-onça: Pontederia lanceolata Nutt., Eichhornia
azurea (Swart) Kunth., E. crassipes (Mart.) Solms. (Pontederiaceae); cipó-de-capivara,
capim-fofo: Paspalum repens Berg. (Poaceae); alface-d’água, forno: Pistia stratiotes L.
(Araceae).
17
1. Anacardiaceae – Spondias lutea Linnaeus (1762)
Vernáculos: acaiá, cajá
Planta ereta, arbórea, de 8 a 10 m, frondosa, com reprodução por sementes,
sendo a espécie comumente encontrada na região, em estado silvestre ou em cultivo. O
fruto, drupáceo, contém polpa resinosa, ácida, e de aroma e sabor agradáveis, com
endocarpo espesso e súbero-lenhoso. Os (quinze) pescadores entrevistados, de modo
unânime, indicam que os frutos do acaiá são comidos pelo piavuçu, piraputanga,
sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves, pacu e botoado. Floresce de
dezembro a fevereiro, durante as fases de enchente e cheia, com frutificação durante
março a maio, durante a cheia e a vazante.
Silva (1985) indica que os frutos do acaiá são comidos por peixes no Pantanal
de Mato Grosso. Em termos da dispersão de sementes por peixes na região, pode-se
ilustrar tal aspecto usando-se uma passagem efetuada por um dos pescadores:
“(...) a piraputanga e o pacu engolem essa fruta, mas não remoem... Todos os peixes
comem – até nós comemos – mas quem mais gosta é o pacu: agora um peixe que come
a fruta dele e a semente dele vai nascer em outro lugar é só o pacu: e ele faz isso com o
acaiá!”.“Seo” Sebastião (54), pescador profissional, rio Cuiabá, maio de 1991.
2. Arecaceae (= Palmae) – Bactris glaucescens Drude (1881)
Vernáculos: tucum, tucum-roxo, tucum-mirim, tucum-de-índio
Palmeira, medindo de 1 a 4 metros, densamente revestida por espinhos nas
folhas, nas brácteas e no estipe. Os frutos são drupas, de sementes únicas, esféricas,
flutuantes, de superfície lisa, com mesocarpo fibroso, de sabor ácido. É no endocarpo
que grande parte da energia está armazenada nas palmeiras (Goulding et alii, 1988),
estrutura essa que é protegida por uma dura noz, permitindo que as sementes passem
pelo trato digestivo dos peixes. Os frutos são muito apreciados pelo pacu e pela
piraputanga. Todavia, conforme as informações de doze pescadores, o pacu é o (único)
predador em potencial das sementes do tucum: o pacu remói quase que integralmente
as sementes, inviabilizando a germinação (Anjos-Silva, 1993):
18
“(...) somente o pacu quebra a semente: os outros peixes não conseguem quebrar. Um
outro peixe que também come o tucum é a piraputanga... mas só que essa também não
consegue quebrar a semente!João, 11 anos, baía Acurizal, maio de 1991
Das 12 plantas frutíferas comestíveis citadas por Berg (1986), num levantamento
da flora de valor/potencial econômico do Pantanal Mato-Grossense, apenas B.
glaucescens é indicada como sendo comida por peixes. Conceição e Paula (1986)
indicam que os frutos do tucum são comidos por peixes, em especial o pacu. Floresce
durante a enchente, de outubro a dezembro, com frutos maduros de dezembro a
março/abril.
3. Bignoniaceae – Crescentia cuyete L., cabaça, cabaceira
Planta de porte arbóreo, é uma arvoreta frondosa, de 5 a 8 m, com frutos do tipo
bagas indeiscentes, com várias sementes, com pericarpo escuro, de polpa parda,
suculenta, ácida. Os frutos da cabaceira são comidos pelo pacu e piraputanga, segundo
dez pescadores entrevistados. Como os frutos possuem pericarpo resistente à pressão
mecânica dos peixes, além de serem muito grandes, quando comparados aos de outra
‘fruteiras’, os pescadores utilizam a polpa dos frutos da cabaceira como isca, em anzol,
na baía e no rio, embora essa seja uma prática pouco comum. Floresce de dezembro a
janeiro, com frutos de janeiro a abril, durante a cheia e início da vazante.
4. Caparidaceae – Cleome cf. spinosa Jacq. (1753), tranca-rua
É uma planta ereta, subarbustiva, perene, ruderal, medindo até cerca de 1,5 m,
com inflorescências terminais, em racemos alvos, com brácteas interfoliares. Pelas
informações obtidas, nove pescadores afirmam que as folhas e as flores e os frutos são
comidos pelo ximburé, piava, piraputanga, sardinha, lambari, e pacu-peva. Floresce
de dezembro a março, do início da enchente até a cheia, apresentando frutos de janeiro
até maio/junho, nas bordas das rodovias.
5. Chrisobalanaceae - Licania parviflora Huber (1909), pimenta, pimenteira
É uma espécie arbórea, de 8 a 10 m, que ocorre nas áreas alagáveis do Pantanal,
e cujos frutos, produzidos em abundância, são drupas, flutuantes, de superfície lisa, de
sabor pouco ácido a levemente adocicado, e que vem a acentuar a disponibilidade de
19
recurso alimentar à fauna aquática desde a época de sua floração, de novembro a
dezembro, com frutos persistindo até março.
“(...) uns frutos caem primeiro, e outros prolongam: é conforme o tempo... a pimenteira
não demora com as frutas no pé: o fruto não é muito durável... e quando dá uma
ventania forte ele cai, não demora maduro, e logo acaba!”.“Seo” Lino, pescador-lavrador, baía Acurizal, novembro de 1991
Também para a pimenteira, os pescadores são unânimes em indicar que os
frutos são comidos pelo piavuçu, piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-
joão-chaves e pacu. Pott e Pott (1994) indicam que os frutos dessa espécie arbórea,
amazônica, de ampla distribuição geográfica, são comidos por peixes.
6. Clusiaceae (= Guttiferae) – Rheedia brasiliensis (Mart.) Pl. et Tr., acupari, bacupari
Planta arbórea de pequeno porte (arvoreta), ereta, 14 m, ramificada, com frutos
do tipo baga, flutuante, que se tornam amarelos quando maduros. Oito pescadores
indicaram que o acupari é comido pela piraputanga, pacu-peva e pacu, ao passo que
Berg (1986) confirma que os frutos dessa espécie são comidos por peixes no Pantanal.
Floresce de março a abril, com frutos até junho.
7. Euphorbiaceae – Alchornea castaneifolia (Willd.) A. Juss. (1824), sarã-do-brejo
É uma planta subarbustiva, bem ramificada desde a base, com frutos do tipo
cápsulas (tricocas), flutuantes, lactescentes, de superfície lisa e mesocarpo fibrocarnoso.
Os frutos são comidos pelo ximburé, piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva,
pacu e bagre, de acordo com os pescadores. Flores de outubro a dezembro, com frutos
de novembro a janeiro.
Conceição e Paula (1986) indicam que as folhas dessa espécie são comidas por
peixes. Nesse sentido, segue uma passagem acerca da descrição do sarã:
“(...) o sarã-do-brejo escapa mais à noite, e fica na flor d’água: ele tem fruto verde e
tem semente dura, que não entra no anzol. Têm dois tipos na baía: pé de árvore, como
esse... e o outro é ramado!”. Pescadores da baía Acurizal, maio de 1991
– Mabea cf. ferruginosa, espirradeira
É uma planta subarbustiva, com frutos tipo cápsula tricoca, flutuante,
lactescente, de superfície lisa e mesocarpo fibrocarnoso. Os frutos são comidos pela
20
piraputanga, de acordo com oito pescadores. Floresce de outubro a janeiro, com frutos
de dezembro a março.
– Sapium cf. pallidum, sarã-de-leite, sarã-de-viola
É uma planta subarbustiva, de 3 a 5 m, ramificada desde a base, com frutos
tricocas, flutuantes, lactescente, de superfície lisa e mesocarpo fibrocarnoso. Os frutos
são comidos pela piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva, pacu e bagre, de acordo
com treze pescadores. Floresce de outubro a dezembro, com frutos de dezembro a
março.
8. Hipocrateaceae – Salacia elliptica (Mart.) G. Don. (1831), siputá
Planta de porte arbóreo, possui frutos drupáceos, geralmente com sementes
aladas. Os frutos do siputá fazem parte da dieta alimentar da piraputanga, sardinha,
lambari, pacu-peva e pacu, segundo onze pescadores. Floresce de outubro a janeiro,
com frutos de dezembro a março.
– Salacia laevigata D. C., moranguinho
É uma planta de porte arbóreo, possuindo frutos que são comidos por peixes
como o piavuçu, piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva, pacu e o sauá. Floresce
de novembro a dezembro, com frutos de dezembro a abril.
9. Leguminosae/Caesalpinoideae – Cassia alata L., fedegoso-bravo
É uma planta arbustiva ereta, de 1 a 2 m, chegando a alcançar 3 m, é ramificada,
perene, e de significativa importância ecológica, pois as suas folhas, flores, frutos (do
tipo legume, flutuantes) e sementes servem de alimento para diversas espécies de
peixes, dentre elas a piraputanga, sardinha, lambaris, pacu-peva e pacu, segundo doze
pescadores. Floresce de dezembro a fevereiro, com frutos de dezembro a abril.
10. Loranthaceae – Psittacanthus cordatus (Hoffm.ex Schult.) Blume (1730)
Vernáculo: inxerteira, erva-de-passarinho
Essa é uma planta arbustiva hemiparasita, de cerca de 1 m, com frutos do tipo
baga, ovóide, que são comidos pela piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu,
segundo doze pescadores.
– Struthantus cf. marginatus (Desr.) Blume (1731), inxerteira
É uma planta trepadeira, hemiparasita, ereta ou volúvel, de cerca de 1,5 m, com
frutos do tipo baga, elipsóide. Segundo dez pescadores, as inxerteiras são comidas pela
21
piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu. Floresce de novembro a janeiro,
com frutos de novembro a abril.
11. Melastomataceae – Mouriri acutiflora Naud. (1825), roncador
Planta ereta, arbórea, pouco ramificada, de 2 a 4 m; os frutos são do tipo drupa, de
sementes únicas, flutuantes, de superfície lisa e mesocarpo carnofibroso, de sabor
levemente ácido a adocicado. Também de forma unânime, os pescadores indicam que os
frutos do roncador são comidos pela piava, ximburé, piavuçu, piraputanga, sardinha,
lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves e pacu, que ‘pega a fruta e a engole inteira’.
Conceição (1988), ao evidenciar a presença de sementes (intactas) do roncador
nos intestinos de exemplares de pacu, pacu-peva, pacu-joão-chaves, piava,
piraputanga, ximburé, piavuçu e bagre, aponta que essas espécies de peixe devam ser
(potencias) dispersores de M. acutiflora no Pantanal. Floresce de outubro a dezembro,
com frutos de dezembro a março.
12. Meliaceae – Trichilia catigua Adr. Juss. (1829), caxuá
Planta de porte arbóreo (arvoreta), de 4 a 7 m, com frutos do tipo cápsula, com
sementes envoltas em arilo. Doze pescadores indicam que o caxuá é comido pela
piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves e pacu. Floresce de janeiro
a março, com frutos de março a junho.
13. Moraceae – Ficus aff. gomelleira Kunth e Bouché (1846), figueira, figo
A forma de vida apresentada é a arbórea, escandente, com látex leitoso; os frutos
são do tipo baga, de superfície lisa, são flutuantes e, quando maduros, suculentos. As
figueiras possuem sementes diminutas, de difícil mastigação por peixes, o que pode
indicar que estes últimos podem ser potenciais (ou efetivos) dispersores de sementes de
Ficus spp, com já apontado por Goulding (1980) e Goulding et alii (1988), em estudos
realizados na Amazônia. Todos os pescadores, em Barão de Melgaço, indicam que os
frutos da figueira são comidos pelo ximburé, piava, piraputanga, pacu-peva, pacu-
joão-chaves e pacu. Floresce de novembro a dezembro, com frutos de dezembro a
março.
– Chlorophora tinctoria L. Gaud., taiuiá
Planta de porte arbóreo, de 3 a 5 m, possui frutos do tipo bagas, carnosas,
comidos pela piraputanga e pacu.
22
14. Myrtaceae – Eugenia punicifolia (Kunth) D. C., (1828), cambucá-amarelo
– Myrcia multiflora (Lam.) D. C., (1828), cambucá-roxo
Os cambucás são plantas eretas, arbóreas, de 3 a 6 m, com frutos do tipo baga,
flutuantes, com superfícies lisas e mesocarpos pouco carnosos, levemente ácidos a
adocicado.
Os frutos são comidos pelo piavuçu, ximburé, piava, piraputanga, sardinha,
pacu-peva, pacu-joão-chaves, pacu e bagre. Essas duas espécies têm flores de janeiro a
março, com frutos de fevereiro a março.
15. Polygonaceae – Coccoloba cf. paraguayensis, fubá-de-macaco
É uma planta trepadeira, cujos frutos são comidos pelo piavuçu, ximburé,
piraputanga, sardinha, pacu-peva e o sauá.
– Coccoloba sp1, sardinheira
Planta de porte arbóreo, de 2 a 3 m, tem os seus frutos comidos pela sardinha,
lambari e a pacu-peva. Essas duas espécies têm flores de janeiro a março, com frutos
até março/abril.
– Coccoloba sp2, uvinha, uvinha-do-pantanal, uva
Planta de porte arbóreo (arvoreta), de 3 a 5 m, com frutos drupáceos, de
produção abundante. Os pescadores indicam que a uva é comida pelo piavuçu,
ximburé, piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu.
– Ruprechtia cf. brachysepala, peixinheira
É uma planta de porte arbóreo (arvoreta), de 3 a 5 m, com frutos do tipo drupa,
que são comidos pelo ximburé, piraputanga, sardinha e pacu. Floresce de novembro a
dezembro, com frutos de janeiro a março.
16. Rubiaceae – Genipa americana L. (1759), jenipapo, jenipapeiro
É uma árvore, ereta, de 7 a 10 m, com frutos do tipo baga, de superfície lisa,
flutuantes, e de sabor agradável, cujos frutos são comidos pela piraputanga, sardinha, e
pacu. Flores de outubro a dezembro, com frutos de dezembro a abril.
– Tocoyena foetida Poepp. Endl., marmelada-bola
É uma planta arbórea ereta, de 5 a 8 m, com frutos do tipo baga, de superfície lisa,
flutuantes, e de sabor agradável, cujos frutos são comidos pelo piavuçu, ximburé e pacu,
segundo doze pescadores, os quais mencionam que:
23
“(...) a marmelada: têm algumas delas que ficam na flor d’água, e aí comem a ‘pera’, o
pacu e o ximburé... e se ele afundar, o pacu, a pera e o ximburé vão comer ele lá no chão.
Isso é porque quando o fruto está bem com saúde, ele não afunda: ele fica na flor d’água...
mas quando ele está meio doente ele vai pro fundo (...)”. “Seo” Lino, 51 anos, pescador-
lavrador, baía Acurizal, outubro de 1991
Flores de outubro a dezembro, com frutos de dezembro a março/abril.
17. Sapindaceae – Serjania cf. diminuta, cipó-três-quinas
Planta trepadeira (liana), com frutos do tipo drupa, com três sementes, são
flutuantes, de superfície lisa e de mesocarpo fibrocarnoso. Os frutos são comidos pelo
ximburé, piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva e pacu, de acordo com treze
pescadores. Floresce em dezembro, com frutos até janeiro.
18. Sapotaceae – Pouteria glomerata (Miq.) Radlk. (1822), parada, laranjinha-do-
pantanal
Planta ereta, arbórea, de 4 a 5 m. Os frutos são do tipo drupa, de uma a quatro
sementes por fruto, de superfície lisa, com mesocarpo bem desenvolvido: são flutuantes e
possuem sabor ácido e relativamente azedo, sendo muito apreciada como fruta nativa pelas
pessoas, além da fauna de peixes, aves e mamíferos, em especial. Conceição e Paula
(1986) indicam que os frutos da parada são comidos pelo pacu, sendo também usadas
como isca, no anzol, por pescadores. Flores e frutos encontrados de outubro a
dezembro/janeiro.
Todos os pescadores indicam que os frutos da parada são comidos pelo piavuçu,
ximburé, piraputanga e pacu, e em termos da floração dessas espécies chegam a sugerir
que:
“(...) a parada não dá flor: ela dá umas rugas e cresce... ela dá como uma jaca, é de leite
e a flor dá na madeira: ela dá fruto temporão, aquele, que depois dos outros frutos
acabam ele vem dando. E ela só dá na beira do ‘pântano’: ela não dá na rua, assim... E
quando o pacu pega a parada na flor d’água ele engole a fruta, e o com caroço inteiro...
mas quando ele pega no fundo, quando sobra dos outros peixes ou dos passarinhos, o
caroço fica remoído!”.“Seo” Lino, 51 anos, pescador-lavrador, baía Acurizal, outubro de 1991
24
19. Solanaceae – Solanum aculeatissimum Jacq., juá, joá
A forma de vida apresentada é a de planta ereta, arbustiva, ramificada, de 1 a 1,5
m, com frutos do tipo baga, contendo cerca de 250 sementes: os frutos, flutuantes, de
superfície lisa e de sabor levemente ácido, são comidos pela piava, piavuçu, ximburé,
piraputanga, sardinha, lambari, pacu-peva, pacu-joão-chaves e pacu, de acordo com
catorze pescadores.
“(...) Ele (o juá) só da até a água entrar nele: depois que entra ele morre... no começo
da cheia pega mais pacu-peva e curimba, com flecha ou tarrafa... e o pacu a gente
pega com o juá, porque é só ele quem está ‘florindo’”.João, 11 anos, estudante e pescador, baía Acurizal, outubro de 1991
Essa espécie floresce de outubro a dezembro, com frutos dezembro a janeiro.
20. Verbenaceae – Vitex cymosa Bert. ex Spreng. (1825), tarumã
Planta ereta, arbórea, frondosa, de cerca de 8 a 12 m, com frutos oblongos,
enegrecidos quando maduros, que são comidos pela piraputanga. Conceição e Paula
(1986) indicam que frutos de tarumã são comidos por peixes.
21. Vitaceae – Cissus aff. spinosa Camb.., cipó-rabo-de-arraia
Planta do tipo liana (trepadeira), lenhosa, de caule sarmentoso, anguloso, produzindo
frutos do tipo bagas ovóides, enegrecidos quando maduros, que são comidos pelo
ximburé, piava, piraputanga, sardinha, pacu-peva, e pacu. As flores são
encontradas de outubro a dezembro, com frutos até dezembro/janeiro.
Dez pescadores afirmam no sentido de que:
“(...) o pé cresce como cipó e dá um cacho... só da uma frutinha seca: é na pelinha do
caroço que o pescador coloca o anzol... É um pé pequeno, encontrado na beira do
pântano... e o cachinho fica em cima da casca (...)”.Pescadores da baía Acurizal, novembro de 1991
Petrechos usados durante as pescarias no rio Cuiabá e áreas inundáveis da baía
Acurizal (Pantanal de Barão de Melgaço, Mato Grosso).
Dentre os vários petrechos de pesca usados pelos pescadores da área de estudo,
destacamos a seguir os principais:
25
1. Arpäo: é composto de uma vara com cerca de 1,8 m, cuja extremidade é uma armação
de ferro em forma pontiaguda: é empregada em épocas de cheia, quando há maior
visibilidade dos cardumes, em especial nas baías.
2. Armadilha: é empregada comumente na baía, sendo usada amarrando-se a armação de
anzol e linha de nylon num galho fino e flexuoso da ‘fruteira’, de forma a dispor as iscas -
somente frutos - na superfície d’água, para a pesca (principalmente) da piraputanga e a da
piava.
3. Bóia: Utilizada na baía e no rio, constitui-se de um litro plástico ou um pedaço de
isopor, onde se faz a armação com iscas de peixes, como a sardinha, os lambaris e o cará
para a pesca do dourado, da jiripoca, entre outros.
4. Espinhelo: é uma das armadilhas usadas no período da seca, no rio, somente: um arame
é passado de um lado a outro no rio, armando-se os anzóis em intervalos de seis ou oito
metros, e onde o tamanho da linha varia em função da profundidade local do rio. É uma
estratégia de pesca direcionada a peixes de médio porte, como o pacu, piraputanga, piava,
ximburé e o pacu-peva.
Os pescadores têm consciência que esse tipo de pescaria é proibido e, em conseqüência,
esse tipo de pesca não é agora mais empregado.
5. Flecha: é uma estratégia de pesca derivada dos índios e repassada de geração a geração:
alguns dos entrevistados são exímios pescadores, comprovando que tal estratégia de pesca
ainda é importante para a comunidade humana no Pantanal, pois, sobretudo, se trata de um
meio alternativo e eficiente que é empregado geralmente no início da enchente e na
vazante, quando há maior visibilidade dos cardumes na coluna d’água.
6. Gancho: são usados três anzóis (um de cada lado), sendo os anzóis então encastoados
passando-se cera de abelhas européias (Apis melífera, Apidae) em fios de náilon (20 cm);
amarra-se os anzóis a uma linha principal, com uma chumbada na porção inferior aos
anzóis, para mantê-los elevados e, dessa forma, facilitar a pescaria. Também neste caso,
por ser proibido a utilização desse petrecho, os pescadores não mais o utilizam.
7. Linha de mäo: essa estratégia de pesca é muita arraigada na área de estudo e apresenta,
juntamente com a vara de pesca, a melhor alternativa da captura do pescado na época da
cheia: isso em função da profundidade ser maior no rio e na baía, quando a ictiofauna se
dispersa também nas áreas alagáveis.
26
8. Poita: uma pedra, atada a uma corda, é disposta na proa da canoa por um pescador,
enquanto que o outro vai à popa, controlando a canoa com um remo, buscando-se a
escolha de locais para o arremesso das iscas. Essa estratégia é usada no rio em ambientes
de corredeiras, sendo uma pescaria tida como muito perigosa, e somente efetuada por
pescadores mais experientes.
9. Taboca ou taquara: direcionada para a pesca de peixes de médio a grande porte, como
o pacu, o pintado e o jaú, a armação dos anzóis é feita com os bambus, Bambusa ssp
(Poaceae) fincando-se a taquara na praia ou barranco: são usadas iscas de peixes como o
savirú, Potamorhina squamoralevis (Braga e Azpelicueta, 1983), Psectrogaster
curviventris Eigenmann e Kennedy, (1903), e Curimatella spp. (Curimatidae).
10. Tarrafa: é pouco empregada pelos pescadores da comunidade ba baía Acurizal e,
quando estes a utilizam, é direcionada (somente) para obtenção de iscas ‘brancas’ (de
peixe), e em épocas do ano em que estão escassas ou se encontra dificuldade para obter as
iscas.
11. Vara de pesca: também muito arraigado na comunidade, é uma das estratégias mais
empregadas no rio e na baía durante (todos) os ciclos sazonais de inundação na região. Tal
petrecho serve de auxílio aos pescadores, que usam a extremidade da vara na superfície
d’água, ou em folhas dos plantas aquáticas, para ‘incitar’ os peixes, como a traíra Hoplias
malabaricus (Erytrinidae) e as piranhas Pygocentrus nattereri, Serrasalmus marginatus, e
Serrasalmus spilopleura (Characidae/Serrasalminae) a abocanharem a isca.
Através das observações efetuadas na área de estudo, percebemos claramente
que há uma evidente implementação do conhecimento empírico pelos pescadores
referente às atividades no Pantanal, o qual é repassado para os filhos (Tabelas III e V).
Sobre os períodos fenológicos das plantas nativas, os pescadores efetuam uma
associação dos eventos ecológicos com os períodos de floração e frutificação e,
comumente, relacionam tais períodos com o ciclo hidrológico anual, que por sua vez,
coincidem, não por acaso, com as fases de enchente e cheia no Pantanal. Depreende-se,
pois, que a floração de plantas frutíferas nativas está (também) diretamente associada às
chuvas.
Payne (1986), discutindo a existência ou não de sazonalidade nos trópicos,
aponta que se animais e plantas possuem um ciclo sazonal de reprodução, por exemplo,
27
torna-se necessário a eles um extraordinário ambiente propício, um ‘fator aproximador’,
que dá início a um padrão de comportamento, e destaca que o objetivo mais comum dos
ciclos sazonais de animais e plantas é a máxima utilização dos recursos em períodos
favoráveis e a mínima ação da influência do ambiente em períodos não favoráveis.
CONCLUSÕES
Percebemos claramente, através das observações e dos acompanhamentos durante
as atividades desenvolvidas pela comunidade humana tradicional da baía Acurizal e do rio
Cuiabá, que esta é ciente da variação espacial, temporal e vertical e da repartição de
recursos alimentares num perfil vertical da unidade de recurso ‘fruteiras’. De modo
especial, os pescadores-lavradores buscam aprofundar o saber produzido regionalmente
através do desenvolvimento de várias estratégias em termos de uso das plantas frutíferas
nativas das áreas alagáveis. Nesse tocante, como observado, contando apenas com alguns
petrechos de pesca, e com os frutos das plantas frutíferas da época, por vezes contatamos
que os ‘pantaneiros’ retornavam de suas atividades, na baía e no rio, com certas espécies
de peixes, da curimba (iliófago) ao peixe-cachorro (ictiófago/carnívoro).
Ficou evidenciado que a pesca realizada na baía Acurizal pelos pescadores, apesar
de seletiva, é multiespecífica, mas direcionada principalmente para as espécies migradoras
mais comercializáveis, o que já tende a ser causadora de menor impacto sobre os estoques
pesqueiros, em termos gerais. Além disso, esse caráter multiespecífico dá-se também em
função utilização dos petrechos de pesca de forma dinâmica, em termos das diferentes
estratégias de pesca empregadas em cada ciclo sazonal anual, à disponibilidade de recursos
alimentares na unidade de recursos fruteira”, e às outras unidades de paisagem registradas
para a baía Acurizal, como o batume, área aberta (na baía), rebojo, baixio etc, objetivando,
nesses microhábitats, a captura de pelo menos certas espécies de peixes.
Evidenciou-se entre as familiares dos entrevistados da comunidade humana do rio
Cuiabá uma certa preferência destes por algumas espécies do tipo comercializáveis - isso,
logicamente, por estas espécies possuírem carne mais abundante e/ou mais saborosa, como
que observado pela maioria dos ‘pantaneiros’ entrevistados. Entretanto, em função da
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comunidade aperceber-se da diversidade da flora e da ictiofauna - especificamente - há um
aproveitamento dos recursos de forma não direcionada e empregando várias metodologias
de pesca de acordo com as variações sazonais.
A comunidade humana estudada efetua um aproveitamento dos recursos naturais
de forma equilibrada, tendo a pesca, além de atividade de subsistência - juntamente com a
agricultura - como fonte alternativa de renda. Conhece a fundo diversos aspectos
comportamentais da flora e fauna, como no que respeita ás várias estratégias que os peixes
utilizam para obter alimentos no rio e na baía durante os ciclos sazonais de inundação, de
enchente, cheia, vazante e seca (estiagem) no Pantanal de Barão de Melgaço.
Para se efetuar a racionalização da pesca na região entendemos que há um
pressuposto: resgatar os conhecimentos empíricos das comunidades humanas tradicionais
‘ribeirinhos’ do Pantanal, integrando seus conhecimentos a uma tecnologia de pesca
eficiente e não depredatória, e, sobretudo, como forma de se implementar esforços em
direção à melhoria das condições de vida das distintas populações humanas, bem como de
sua qualidade.
Os processos de migração trófica (à busca de recursos alimentares) e de
migração reprodutiva da ictiofauna no Pantanal de Barão de Melgaço estão
correlacionados às oscilações fluviométricas anuais e à disposição dos recursos
alimentares (folhas, flores, frutos, sementes) sem nas matas perenifólias alagáveis.
Desse modo, há também uma aparente sincronia na floração e na frutificação das
plantas frutíferas, ou ‘fruteiras’, com o processo de migração dos peixes na região. Isso
pode ocorrer, a priori, como uma das formas que as plantas frutíferas se utilizam para
efetuar a dispersão das sementes, tanto por hidrocória quanto por endozoocoria (fezes).
Nesse sentido, tais estratégias reprodutivas das plantas têm os peixes como
coadjuvantes, os quais são dispersores potenciais (ou efetivos) de sementes de plantas
frutíferas.
Gottsberger (1978) verifica que as espécies cujas sementes das plantas são
geralmente procuradas e ingeridas por peixes da Bacia Amazônica, nas matas de várzea
e igapós, na região de Humaitá, e que passam pelo tubo digestivo (intestino) de forma
intacta, são pertencentes às famílias Annonaceae, Myristicaceae, Moraceae,
Elaeocarpaceae, Sapotaceae, Chrysobalanaceae, Burseraceae, Simaroubaceae e
29
Arecaceae, e são mais ‘primitivas’, enquanto que as espécies de plantas frutíferas
procuradas por peixes, enquanto que as sementes das plantas mais ‘evoluídas’, como
Lauraceae, Moraceae, Cucurbitaceae, Lecythidaceae, Anacardiaceae, Meliaceae,
Malpighiaceae, Euphorbiacaeae, Polygonaceae, Rubiaceae e Bignoniaceae foram
mastigadas e trituradas. Isso vem a reforçar a teoria de Pijl (1969), como aludido por
Gottsberger (1978), que considera a ictiocoria como um modo arcaico de dispersão das
Angiospermas, mantida em grupos primitivos em regiões inundadas.
Nesse aspecto, para o Pantanal investigado, a partir das informações obtidas
pelos entrevistados, bem como pela observação de alguns intestinos das espécies mais
comuns de peixes, Anjos-Silva (1993) indica que as sementes do tucum e do acaiá são
as que mais comumente são encontradas intactas no trato digestivo dos peixes,
observados pelo autor durante as pescarias. Nesses dois casos, as sementes são
protegidas, de dureza considerável, diminuindo assim as chances de se encontrar
sementes viáveis das ‘fruteiras’. O pacu é a espécie que foi a mais citada como
predadora das sementes das plantas frutíferas na área de estudo.
Mesquita (1992) efetua a análise de conteúdo estomacal da sardinha, capturadas
no período da seca e cheia na baía Acurizal e rio Bento Gomes, constatando que os itens
mais consumidos são frutos e sementes, com destaque para o cambucá, a uvinha-do-
pantanal e a figueira. Conceição (1988) indica que o roncador é uma das espécies de
‘fruteiras’ que tem grande porcentual de serem dispersas por peixes, como a
piraputanga e o pacu, sobretudo por ter encontrado as sementes intactas no trato
digestivo de ambas espécies. Silva (1985) constata a presença dos aguapés e do ingá
em exemplares do pacu adulto, sendo corroborada por Paula et alii (1989).
Essas considerações corroboram as informações fornecidas pelos pescadores-
lavradores entrevistados, e indicam a necessidade de se efetuar estudos que abordem as
inter-relações entre as plantas frutíferas ‘mais primitivas’ e os peixes da bacia
hidrográfica da região pantaneira e dos cerrados mato-grossenses. A pesquisa realizada,
aqui apresentada, vem a indicar que o tucum (Areacaae), a figueira (Moraceae), o acaiá
(Anacardiaceae), o roncador (Melastomataceae), a pimenteira (Crysobalanacaeae), a
parada (Sapotacae), o jenipapo (Rubiaceae), e o tarumã (Verbenaceae) são as plantas
cujas sementes são potencialmente dispersas por peixes em áreas inundáveis da região.
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Os dados coletados vêm a indicar que Anostomidae, Characidae e Pimelodidae são as
famílias de peixes que podem atuar como efetivos (ou potenciais) dispersores das
sementes das Angiospermas investigadas nas áreas sazonalmente inundáveis pelo rio
Cuiabá.
AGRADECIMENTOS
Ao NUPAUB/USP, e ao CNPq, pelas bolsas de estudos
Às equipes de professores, técnicos e alunos do IB/UFMT/SHIFT Ecologia do
Pantanal, pelos auxílios aos estudos e trabalhos de campo.
Aos pescadores-lavradores das comunidades humanas tradicionais do Pantanal
de Barão de Melgaço, e aos seus filhos, filhas e esposas, por desvelar, com peculiar
simplicidade, os saberes acumulados há gerações no Pantanal a respeito dos ciclos de
inundação e dos ‘segredos’ da pesca na região.
31
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