o rosacrucianismo e o martinismo : alguns conflitos doutrinÁrios ocultos

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 O ROSACRUCIANISMO E O MARTINISMO : ALGUNS CONFLITOS

DOUTRINÁRIOS OCULTOS.Por Mario Sales,FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

Como é de domínio público, a história do Martinismo é complexa.

Tudo indica que é vontade de Deus que esta Ordem permaneça viva e ela tem como a Fênix, acapacidade de desaparecer e ressurgir, de tempos em tempos, independente do passamento sempresúbito e inesperado da maioria de seus líderes (tome-se o exemplo de Pasqually e de Pappus, oumesmo seu sucessor, Téder).

Numa dessas intrincadas situações históricas do misticismo, uma de suas ramificações tornou-setutela da Antiga e Mística Ordem Rosacruz, AMORC, a Tradicional Ordem Martinista, que hoje éuma ordem extremamente velada e só permitida à rosacruzes acima do primeiro grau de Templo.

Tal situação gerou uma situação no mínimo curiosa, qual seja a convivência entre a visão doMisticismo como entendido pela Ordem Rosacruz (e principalmente pelos rosacruzes modernos) e avisão do Martinismo, em um só grupo, embora sejam discursos absolutamente distintos.

Se bem que exista um esforço oficioso e oficial para desfazer esta sensação de divergência, com avisão de que a via cardíaca de Saint Martin complementa o trabalho introspectivo deaperfeiçoamento interior dos rosacruzes (a chamada verdadeira alquimia), algumas questõesmístico-filosóficas não harmônicas saltam aos olhos. Senão vejamos:

1. O Martinismo de Pappus é uma construção feita a partir de três pontos: a Ordem dos CavaleirosMaçons Sacerdotes Eleitos (Ellus Cohen) do Universo, de Martinez Pasqually, por um lado; otrabalho filosófico de Louis Claude de Saint Martin, e, por último, o trabalho de Jean Baptiste deWillermoz, como terceira ponta deste triângulo inicial.

Até aí, aparentemente nada demais. Só que nestes três pontos já existem conflitos.

Vejamos: o trabalho de Martinez de Pasqually, o Martinezismo como é chamado é altamenteOcultista. E aí devemos parar para estabelecer um critério de comparação.

Existem a meu ver três tipos de características que identificam as ordens secretas. Chamaremos aprimeira de Esoterismo; a segunda, Ocultismo, e a terceira característica o Misticismo.

Expliquemos: Esoterismo é a característica mais óbvia das sociedades secretas, a norma deconservar velados, total ou parcialmente, seus ensinamentos;

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Ocultismo por sua vez refere-se a práticas de técnicas de magia (para coisas da Terra) ou teurgia(para coisas do Céu).

Tais técnicas tiveram seu período de ouro nos séculos XVII e XVIII, e se compõem deprocedimentos verificáveis e reprodutíveis de ação sobre o mundo visível e invisível, área deespecialidade de Magos por toda a história do Ocidente e Oriente;

E finalmente o Misticismo, que é a área de mergulho interior em busca do contato com o MaisSublime em nós, característica de todos aqueles que sinceramente buscam Deus em seus próprioscorações, sem intermediários, meta última de todo verdadeiro Iniciado, para a qual todas as outrascaracterísticas são apenas meros acessórios.

Digamos que quaisquer dessas características podem ser classificadas em pouco, medianamente oumuito intensas.

Feita esta pequena digressão podemos dizer que a Maçonaria é uma Ordem pouco esotérica, poucoocultista e pouco mística.

Que a Rosacruz, AMORC, é, hoje em dia, pouco esotérica, medianamente ocultista e muito mística.

Já o Martinismo é muito esotérico, muito Ocultista, e muito místico.

Ora, dito isto, já vemos algumas diferenças. A importância do Ocultismo para os Rosacruzes émenor do que para os Martinistas.

Nem sempre foi assim, no entanto. No mesmo século XVIII, muitos rosacruzes dedicaram-se aoOcultismo com afinco e mostraram seus estudos aos maçons como fazê-lo, já que muitos rosacruzeseram também membros da Maçonaria.

Para isso era necessário ter conhecimentos de alquimia, simbólica, cabala e principalmente, ler osgrimoire, que em francês quer dizer gramáticas, livros de magia famosos por trazerem as receitas debolo da magia operativa.

O que aconteceu então? Os rosacruzes literalmente desencantaram-se com o Ocultismo. E por quê?Porque aperfeiçoaram suas técnicas e entenderam que muito, mas muito deste aparato metodológicoera desnecessário à sua finalidade primordial, qual seja, a elevação de seus espíritos como sereshumanos a um nível de excelência.

Rosacruzes, ontem como hoje, querem ser cada vez melhores como seres humanos, e servir mais

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intensamente a mesma humanidade da qual fazem parte.

Esta é a verdadeira alquimia: a transformação do ser humano chumbo, homem ou mulher, em serhumano ouro.

A Magia pela Magia, o Ocultismo pelo Ocultismo, entre os Rosacruzes modernos, digamos assim,saiu de moda.

Não posso negar que foi um avanço do ponto de vista psicológico.

As mentes da Rosacruz moderna sabem que nada mais é necessário senão uma mente clara, desejosdefinidos, e uma visualização nítida e dirigida para conseguir o que desejarem, sem a necessidadede complexos e estranhos rituais e palavras secretas.

E o que há de interessante nisso em relação ao Martinismo?

Pelo que sabemos da história dos martinistas, a evolução descrita nos trabalhos rosacruzes equivaleà diferença entre o Martinezismo dos Cavaleiros Ellus Cohen, e o Martinismo, de Louis Claude deSaint Martin, pós martinezista.

Não pode haver nenhuma ilusão: esta é a primeira grande diferença entre o Martinismo Moderno eseus ancestrais dos Ellus Cohen. Daí o relato de testemunhas que sempre repetem a insatisfação deLouis Claude de Saint Martin com a complexidade dos rituais de Martinez de Pasqually nos EllusCohen dizendo: “- Será que tudo isto é realmente necessário para se ver Deus?”

Desta forma, o Martinismo não é uma continuação pura e simples do Martinezismo, embora látenha suas raízes históricas. Ele é uma guinada na direção do Misticismo mais puro, e é isto que aexpressão “Via cardíaca”, representa.

Neste ponto, o Martinezismo se parece mais com as antigas técnicas rosacruzes enquanto oMartinismo está mais de acordo com as posturas modernas da AMORC.

Hoje as escolas esotéricas, como sempre foram, são escolas de aperfeiçoamento humano, mas aocontrário dos tempos passados, não vêem o ensino do Ocultismo como se praticava no século XVIIIcomo fundamental à transformação alquímica do ser humano.

Sabemos hoje onde reside Deus e onde reside o Demônio, onde está o mal e o bem: dentro de nósmesmos.

As batalhas místicas que povoam a imaginação dos não iniciados não ocorrem mais com

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encantamentos e poções e raios que saem de bastões, porém dentro de cada místico, no silêncio deseu santuário, pertença ele à Ordem que pertencer.

Porque se for uma boa Ordem seu objetivo será levar este indivíduo a se aperfeiçoar e para isto oindivíduo em questão precisa antes de tudo dele mesmo, e de Deus dentro dele para conseguir tal

coisa.

Mais nada.

E o Martinismo de Pappus e Stanislas de Guaita? Também centram no homem ou na mulher asenergias de transformação?

Não. Os intelectuais esoteristas da Paris dos 20 últimos anos do século XIX e início do século XX

davam muito valor à erudição esotérica e o outro nome de erudição esotérica é Ocultismo. Pappusera médico e um incansável escritor e leitor. Guaita lia tudo que podia e procurava ansiosamentepor mais informações, pois as que tinha em mãos logo se exauriam.

Eram homens de livros.

O grande volume de informações sobre Cabala presente na Tradicional Ordem Martinista, tuteladapela AMORC, é uma conseqüência disso.

E aí vemos de novo a convivência de duas estratégias completamente opostas na mesma busca pelocontato com Deus.

Uma, o Ocultismo Martinezista, refletido na estrutura interna da Ordem Martinista de Pappus,Péladan, Augustin Chaboseau e Guaita; e outra, o Martinismo estrito, com forte influência deBohéme e Svendenborg, anterior a eles, mas, a meu ver, mais avançado tecnicamente no queinteressa a causa suprema.

Por causa disso alguns rosacruzes estranham os textos martinistas como presentes em seu ritual.Estas duas tendências, não opostas, mas assincrônicas, convivem como se fossem parte de um únicocorpo de doutrina.

Para os Rosacruzes modernos, o Ocultismo do séc.XVIII é um capítulo de erudição esotérica, nãouma técnica necessária à evolução espiritual. Um conhecimento curioso, mas para nós, hoje, nabusca de Deus, pouco prático.

E isto causa, de forma indefinível para muitos, desconforto psicológico, embaraço místico, e emsilêncio repetem com seus lábios a mesma pergunta de Saint Martin:

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“- Será que tudo isto é realmente necessário para ser ver Deus?”

O Viés Maçônico de Willermoz

Por outro lado, ainda existe a considerar o Martinezismo Willermoziano, que foi organizado maisao modo de Lojas maçônicas e com encontros que lembravam os Ellus Cohen, sem, no entanto a

presença magnética de um Ocultista do quilate de Pasqually.

De um grupo centrado em um homem, o Willermozismo distribuiu o conhecimento e em parte opoder de todos que freqüentaram as lojas diferenciadas que construiu, bem como os encontros quepromoveu, os conventos.

Leia-se para referência esta passagem retirada do site Hermanubis, no endereço

http://www.hermanubis.com.br/artigos/BR/ARMARTINE005OsDiretOriosEscocesesNaFranCa.htm

onde pode ser acessado na íntegra:

“O Convento De Gaules (Lyon, 1778)

Uma reunião, chamada "O Convento de Gaules", se desenvolveu de novembro a 10 de dezembro de1778, em Lion, por provocação de Willermoz. Dedicou-se a reformar a "Província Auvergne daEstrita Observância" e foi nesta ocasião que os Templários da França e Alemanha adotaram o nomede CBCS. Na realidade esta Convenção começou a ser gestada em 1776 e sua realização foimarcada para o mês de outubro de 1778.

O sucesso das lojas do Rito Escocês Retificado foi total na França, principalmente porque elas eram

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oriundas das tradições templárias e, sobretudo porque seus chefes eram nobres autênticos, príncipes,duques, barões, e as iniciações eram muito seletivas. Nessa mesma época, estava se instalando oGrande Oriente da França, que fez questão de agrupar os Diretórios Escoceses sob sua égide e umtratado foi assinado nesse sentido. Esses diretórios não tinham uma direção central na França e umaunião era preconizada por todos. Entretanto as desavenças em vez de diminuírem, aumentaram. Opróprio Willermoz escreveu ao Príncipe Charles de Hesse, queixando-se que Weiler não conhecia

nada sobre "as coisas essenciais".

O grande superior Ferdinand de Brunswick procurava desesperadamente a doutrina e a coesão quefaltava. Os Lyoneses detinham há 11 anos o sistema de Martinez de Pasqually, doutrina que poderiainteressar aos Diretórios. Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin de maneira muito oculta,prepararam as coisas com cuidado.

Eles conseguiram iniciar Jean de Turkeim e Rodolphe de Salznan na Ordem dos "Ellus Cohen",homens de grande importância no seio da Estrita Observância Templária do Diretório de

Estrasburgo. E esses dois homens desempenharam um papel muito importante quando os ocultistasde Lyon apresentaram sua proposta dos conventos que iriam realizar no futuro.

Com os espíritos preparados, segundo a doutrina de Martinez, os Lyoneses convocaram o Conventode Gaules em 1778, em Lyon. As grandes figuras da Estrita Observância Templária estiverampresentes em Lyon, mas preocuparam-se essencialmente com o futuro administrativo da Maçonaria.Willermoz demonstrou, desde logo, que a preocupação deveria nortear-se sobre o verdadeiroobjetivo da Maçonaria, suas diretivas de estudos que deveriam orientar-se na busca da Divindade.

No transcurso dos trabalhos, decidiram distinguir as lojas simbólicas das lojas da Ordem Interior esubstituir por Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (CBCS) a palavra Templário. Os rituaisapresentados pelos Lyoneses foram aprovados, assim como as instruções secretas de Willermoz,tiradas do "Tratado da Reintegração dos Seres Criados"' de Martinez de Pasqually. O objetivoprimeiro da Maçonaria seria comunicado somente aos iniciados nos dois últimos graus, aqueles de"Professo" e do "Grande Professo". A denominação de Superior Incógnito, que tinha sidocondenada anteriormente, foi ressuscitada no convento, e era designada àqueles portadores de altadoutrina da Ordem. Entretanto, o verdadeiro objetivo da Maçonaria, permanecia desconhecido portodos aqueles que não tinham entrado realmente dentro da iniciação, embora portassem títulos denobreza e

mesmo os altos graus do "Rito Escocês Retificado".

Além disso, havia várias tendências maçônicas e de outras sociedades espiritualistas que colocavamuma grande confusão nas mentes dos vários grupos maçônicos, oriundos de regiões diferentes.Havia assim, a necessidade da realização de um outro convento.E este seria o Convento deWilhemsbad.

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Convento De Willelmsbad De 1782

Foi assim que quatro anos mais tarde, em 1782, realizou-se outro convento em Willelmsbad naAlemanha, com um número maior de participantes em relação àquele efetivado na cidade de Lyonem 1778. As reuniões duraram 45 dias(?!!) e lá estavam presentes Willermoz e Saint-Martin, bemcomo representantes dos Filaletes, dos Iluminados da Baviera, etc., todos ligados à EstritaObservância Templária.

A diversidade de idéias e de opiniões, impediu que se chegasse a um denominador comum e que sedefinisse com precisão a doutrina da Ordem. Desta maneira, acabou-se mantendo as mesmas

resoluções do Convento de Lyon, inclusive a doutrina de Martinez. Abandonou-se definitivamente apretensão da descendência direta dos Templários, evocando-se, entretanto uma filiação espiritual,oriunda do Mundo Invisível.

As classes de Professo e Gran Professo desapareceram oficialmente na Convenção de Wilhemsbadem 1782 e, de lá para cá temos:

Lojas Azuis, ou de São João: 1) Aprendiz; 2) Companheiro; 3) Mestre. Lojas Verdes: 4) MestreEscocês de Santo André. Ordem Interior: 5) Escudeiro Noviço; 6) CBCS (Cavaleiro Benfeitor daCidade Santa)

Neste trecho vêem-se duas coisas. A primeira, as gestões feitas em conjunto por Willermoz e LouisClaude de Saint Martin, mostrando que trabalharam juntos na tentativa de manter vivo oMartinezismo, e o tempo que duravam essas reuniões, ou conventos, levando até 45 dias. Por isso asreuniões modernas de hora e meia são chamadas conventículos, pois não passam de pálidaslembranças daqueles períodos longo de deliberações que ocorriam àquela época.

Outra coisa que fica claro é que não existia uma Ordem denominada como Martinista, mas todas asgestões ocorriam dentro de ambiente eminentemente maçônico, com a característica maçônica dediscussão entre seus membros e votação de propostas como em qualquer assembléia de homens“livres e de bons costumes”, como os maçons costumam se chamar.

Há um forte caráter administrativo no trabalho, e embora exista grande interesse místico (comomostra o trecho onde se diz “que a preocupação deveria nortear-se sobre o verdadeiro objetivo daMaçonaria, suas diretivas de estudos que deveriam orientar-se na busca da Divindade”) tal objetivo,voltar-se para a busca de Deus em nós, os rosacruzes modernos bem sabem, não é algo a serdiscutido como um protocolo coletivo, mas um caminho extremamente solitário, que não é o

mesmo para duas pessoas, quanto mais dezenas.

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Creio que foi essa percepção, para nós rosacruzes tão sensata quanto verdadeira, que fez SaintMartin optar pela iniciação individual, pessoa a pessoa, no seu ministério que se desenvolveu nosanos seguintes.

Não somos, nós rosacruzes, uma Ordem de debatedores dialéticos como os maçons.

Somos isto sim, uma Ordem de buscadores silenciosos de Deus. Isto os Rosacruzes sempre foram,de várias maneiras, e sempre serão. Este é o foco. O resto é acessório.

Daí estranharmos os templos muito iluminados e claros, cicatrizes do Willermozismo, e dedesconfiarmos em silêncio de que isto possa de per si, levar a uma melhor percepção do TodoPoderoso.

Os Martinistas, como ex-maçons, pedem silêncio aos seus membros. Os rosacruzes estranham: elessempre foram silenciosos. É a sua natureza. É o seu modo de ser.

Tudo posto esta característica organizacional, para maçônica, nem seria problema algum e poderiaservir de alargamento de horizontes para os silentes Rosacruzes buscadores da Luz.

Só que, dentro desta estrutura templária surge a questão mais grave, a meu ver, e a mais delicada: aoposição religião versus religiosidade.

Os Rosacruzes são por definição, panteístas. Não situam a Divindade em nenhum lugar ou época,seguindo a risca as três características aceitas para o Todo Poderoso: Onisciente, Onipotente eOnipresente.

O corolário disto é que nenhum Avatar que passou pela Terra, e graças ao Pai, foram muitos,mesmo considerando-se sua raridade, pode ser considerado o único representante desta mesmadivindade. Na visão rosacruz aceita, embora raramente discutida, todos nós somos portadores destamesma divindade, desta filiação divina, sendo apenas uma questão de tê-la mais ou menos

manifestada, de sermos mais ou menos conscientes dela. O que, aliás, condiz com um aforismomartinezista que diz em seu Tratado da Reintegração dos seres que diz que “todos aqueles que estãodentro do Eixo Fogo Central Incriado, homens e anjos, até a última centelha de Deus, sairão doCírculo pela evolução juntos em direção à Luz, ou não sairão.”

A Luz Divina, para os Rosacruzes, está em todos nós, em todas as pessoas, em todas as coisas. E oque é um Avatar, um Iluminado? É aquele que atingiu um alto grau de consciência dessa Luz dentrode si e a manifesta de maneira quase plena, muito além do comum dos mortais. Eu digo quase plenaporque a manifestação plena impediria que este mesmo indivíduo se manifestasse entre nós emcarne, já que seria pura energia, puro espírito, completamente separado deste ciclo de encarnações.

Desta forma, Jesus, o Cristo, está para os Rosacruzes como um desses Avatares, ao lado de muitos

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outros, e a discussão sobre quem foi o maior entre todos, só serve a fanáticos e religiosos, não aosmísticos. Místicos não são religiosos; são seres imbuídos, isto sim, de extrema religiosidade, esabem em seus corações que o trabalho de purificação interior, como já foi dito, é solitário, umaresponsabilidade pessoal e intransferível.

Portanto, a existência destes homens sagrados só nos estimula e serve de exemplo, mas em nada nosdiminui a responsabilidade quanto ao nosso próprio destino e evolução.

Não cultuamos estes seres como a única manifestação de Deus, ou a principal manifestação deDeus, ou como o próprio Deus, isoladamente manifesto.

Entre místicos existe um consenso de que Deus é muito, mas muito maior que seus profetas. E porser Onipresente, não poderia estar, por definição, isoladamente em ninguém em particular, mas simem toda parte. Se estiver em alguém, homem simples ou santo, estará ali também e não só ali.

E o que nos diz o Martinismo moderno?

- Que se trata de uma ordem cristã. Até aí tudo bem. E que todo seu trabalho visa a Glória doGrande Arquiteto do Universo, antiga fórmula maçônica para evitar conflitos religiosos em suaslojas, personificando neste termo o Ser Supremo.

Por último afirma: “Para o Martinismo, diferentemente da Maçonaria, o Grande Arquiteto doUniverso é Jesus, o Cristo, e não um Deus impessoal, já que Jesus é Deus”.

Pausa para reflexão. Isto não condiz com o Panteísmo rosacruz nem com a impessoalidade místicada Divindade Suprema como entendida, senão por todos, pela maioria dos rosacruzes.

E ao contrário das questões anteriores, não há como compatibilizar as duas visões.

Ou Deus é onipresente, está em toda parte e em todos, ou não está e concentrou-se em um único ser:O Cristo, Jesus.

Não é apenas uma questão filosófica, bizantina.

Trata-se da mais importante condição da prática mística que diz que todos nós poderemos um diaatingir a iluminação e tornarmo-nos unos com Deus, e repetir com Jesus; “-Deus e eu somos um”.Se assim não for,não poderemos.

Dentro do Martinismo, pelo menos suponho, não estamos dentro de uma religião, mas de umaOrdem Mística, na acepção da palavra.

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Todos os martinistas da TOM, embora tenham aulas sobre Ocultismo, estão mais preocupados emseguir a Via Cardíaca para ampliar seu contato com a Vontade Divina, e tornar-se cedo ou tarde estamesma vontade, e embora reconheçam a Divindade inegável do Cristo Jesus, seriam incapazes deaprisionar nele a única manifestação da Divindade, de forma que, de um golpe, Deus estaria

historicamente datado, distante no Espaço e no Tempo, preso a uma época e a um lugar.

Isto é misticamente inconcebível, inaceitável.

Talvez aí esteja a mais notória discrepância entre o pensamento rosacruz e o pensamento Martinista.

Reverenciamos como místicos rosacruzes todos os Mestres, e não apenas ao Cristo. Reverenciamosa presença de Deus em todos os seres e não apenas a presença de Deus no Cristo. Se formos

forçados a isto não poderemos cumprir a diretriz da carta de Stanislas de Guaita aos SI que é lida noInício do Grau, para todos os alunos da classe, a qual diz:

“Não queremos aqui te impor convicções dogmáticas. Pouco importa que te consideres ummaterialista, espiritualista ou idealista; que professes fé no Cristianismo ou no Budismo; que teproclames um Livre pensador ou que defendas até mesmo o ceticismo absoluto.Nãoatormentaremos teu coração com problemas que só podes resolver perante tua consciência e nosilêncio solene de tuas paixões aquietadas.”

E continua, sempre com brilhantismo:

“Se te sentes envolvido pelo amor verdadeiro de tuas irmãs e irmãos humanos, não procures nuncadissolver os laços de solidariedade que te unem estreitamente ao reino hominal, considerado em suasíntese. Tu fazes parte de uma religião suprema e verdadeiramente universal, pois é ela que semanifesta e que se impõe (de uma forma múltipla, é verdade, mas idêntica em sua essência) sob osvéus de todos os cultos exotéricos do ocidente quanto do Oriente.”

Magistral. Um verdadeiro discurso rosacruciano.

Vale ressaltar que ambas as abordagens, em si contraditórias, estão presentes nos textos da mesmaOrdem, a TOM.

E isto talvez seja mais uma seqüela maçônica. A TOM é, dentro de si, não uma doutrina místicahomogênea, mas uma intersecção de várias linhas de pensamento e de compreensão, um amálgamafilosófico, ora moderno, ora démodé, ora religioso e direcionado para uma visão cristã oueminentemente bíblica do mundo, ora verdadeiramente místico e plural.

Os rosacruzes acostumados a conviver com várias formas de manifestação da verdade, não

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estranham em seus corações esta diversidade de posturas. O que lhes causa espécie, eu suponho, é atentativa de fazer deste conjunto heterogêneo de facetas, uma mesma esfera, lisa e regular.

Ainda precisamos pensar o Martinismo a luz do Rosacrucianismo e esta intervenção crítica seráprovavelmente o primeiro passo da Rosacrucianização do Martinismo moderno, como organizado

na TOM.

Agora, depois de achar que já havia encerrado o elenco de noções conflitantes entre as duascorrentes de pensamento estudadas, me veio à mente, lendo uma monografia avançada da AMORC,outro problema: o da Unidade versus a ausência de Dualidade.

Embora colocado assim pareça redundante, eu procurarei elaborar o tema.

Sem intenção de violar o segredo o qual jurei guardar sobre todos os textos monográficos algumasconsiderações me parecem impossíveis de não transcrever. E como estarão fora do contexto, nãohaverá ruptura do sigilo.

Portanto, ouçamos a voz oficial da AMORC:

“ Um dos conceitos místicos básicos é a convicção da Unidade da Realidade. Trata-se da doutrinade que há um substrato por trás da miríade de manifestações que percebemos na natureza.Adespeito da variação dos fenômenos da natureza, seja ela animada ou inanimada, há uma substânciaintegral subjacente que não apresenta diversidade....Isto é comumente chamado de Unidade. Doponto de vista semântico e filosófico, a palavra “unidade” , porém, quando analisada,não se aplica aessa doutrina.Isto porque Unidade implica a reunião de partes separadas de modo que constituam oupareçam constituir um só todo. Aquilo que é verdadeiramente uno em si mesmo, portanto, não éuma Unidade, (não integrou partes antes separadas). Por conseguinte, não podemos logicamenteafirmar que há uma unidade na diversidade, dado concebermos que a essência ou realidadesubjacente não é diversificada ( dual) em sua natureza.” E segue o texto por esta linha de raciocínio.

E quanto ao Martinismo? Como é o nome do Livro base dos conceitos de Martinez de Pasqually?

“Tratado da Reintegração dos Seres Criados”. Ora, para se falar em Reintegração, pressupõe-se,obviamente, que houve uma anterior Desintegração, ou melhor, uma separação que será desfeitaapós determinado processo místico ou teúrgico.

Visões novamente divergentes. Para os Rosacruzes, não há possibilidade de reatar aquilo que nuncafoi separado, didaticamente ensinado pelo genial modelo da ligação em série de 7 ou 8 lâmpadas, deforma a demonstrar a presença em todas as lâmpadas da mesma energia elétrica a fluir e integrar atodos, mesmo que acenda uma luz vermelha aqui e outra azul ali. Para o Rosacruz, Deus está dentrodele, sempre esteve e sempre estará. Parado, em seu Sanctum no lar, ele contempla seu próprioreflexo em um espelho, para compreender que é nele mesmo que está aquilo que ele busca. Não há

movimento para fora nesta busca. Há apenas expansão da Consciência de uma presença que sempreesteve e estará lá, e que por causa da qual, ele se manifesta neste mundo com a ilusão de autonomia,de independência. Já para o Discurso Martinista, ou pelo menos para parte deste discurso, o contato

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5/10/2018 O ROSACRUCIANISMO E O MARTINISMO : ALGUNS CONFLITOS DOUTRINÁRIOS OCULTOS - slidepdf.com

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com Deus é algo a ser alcançado, em direção ao qual devemos nos dirigir. Deus não está em nós,mas no Cristo, Jesus, nosso intermediário. Novamente a distância e a separação. Por isso faz todosentido falar em Reintegração a alguma coisa da qual supomos e postulamos estarmos distantes eseparados.

Pior: reencontro este que pressupõe um terceiro elemento, um intermediário, sem o qual não poderáser realizado.

O encontro do Graal dentro de nós não é mais possível. Só o Cristo pode encontrá-lo e nós oseguiremos, contemplando o cálice sagrado em suas sagradas mãos, à distância.

Qual a acepção correta: Distância ou proximidade?

Contato direto, ou indireto e intermediado?

Houve realmente uma queda ou apenas um processo normal e voluntário de expansão daconsciência cósmica em busca de conhecimento? Pode-se, em sã consciência, chamar talmovimento, legítimo, e provavelmente cíclico do Cósmico, de uma “Involução”, ou é assim que oTodo Poderoso normalmente Evolui, e nós com ele, já que somos, todos nós, Ele mesmo?

São questões a considerar, e que deixam claro que, se existe nobreza na prática Martinista isto emnada modifica o fato de que Martinismo, Martinezismo ou Pappusismo não são Rosacrucianismo.

E isto deve ser claro a todos que são membros de ambas as ordens, até para que possam transitarsem traumas entre elas.Postado por Mario Sales às Segunda-feira, Janeiro 10, 2011