o resgate dos jogos e brincadeiras no trabalho … · geração são valorizados enquanto...
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O RESGATE DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO TRABALHO DE ENSINO/APRENDIZAGEM DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Luci Mara Braga Schafranski1 Christine Vargas de Lima2
Resumo: Este artigo se propõe refletir, compreender e questionar a importância dos jogos e brincadeiras nas aulas de Educação Física, tendo como foco central o resgate dos mesmos no trabalho de ensino/aprendizagem do professor da disciplina. Sabe-se que o ato de brincar se faz presente nas aulas por meio de objetivos e metodologias específicas, afastando-se do ato de simplesmente dispensar a liberdade ao aluno de investigar, produzir e brincar com o próprio jogo/brinquedo. Dessa forma, os jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais podem se tornar ferramentas facilitadoras na construção do conhecimento, respeitando as individualidades e ritmos de aprendizagem do aluno, bem como oportunizando a consciência corporal. Palavras-chave: Jogos. Brincadeiras. Criança. Aprendizagem. Resgate.
INTRODUÇÃO
Como resultado das atividades desenvolvidas no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), este artigo expõe aspectos teóricos em torno
da temática jogos e brincadeiras: um desafio para a aprendizagem na disciplina de
Educação Física, bem como apresenta e reflete sobre a aplicação prática de jogos e
brincadeiras tradicionais com os alunos do 6º ano do Colégio Estadual Rui Barbosa,
de Nova Laranjeiras - PR, tendo como objetivo resgatar e resignificar valores sócio
culturais, contribuindo assim no processo ensino/aprendizagem.
Atualmente são raras as oportunidades de brincar e executar atividades
lúdicas que propiciem ao corpo bem estar físico, psíquico e mental. Desde os
primórdios dos tempos, brincar tem sido considerada uma atividade das crianças e
também dos adultos. Porém, o ritmo acelerado da vida moderna tem colaborado
para ocupar em grande parte o tempo reservado para brincar. Já não se vê nas ruas
crianças brincando de peteca, esconde-esconde, amarelinha, bilboquê, ioiô, pipa,
bolinha de gude, entre outras. Estas brincadeiras foram substituídas pelo excesso de
atividades monitoradas que os pais impõem aos filhos (aulas de língua estrangeira,
1 Graduada em Educação Física na Universidade de Palmas, FACEPAL. Pós-graduada em Didática-
Fundamentos da Prática Pedagógica na Universidade de São Luiz. Professora estatutária do Governo do Estado do Paraná desde 1993. 2 Graduada em Educação Física na UFSM - Universidade Federal De Santa Maria/RS. Mestre em
Educação UNICAMP/UNICENTRO. Professora estatutária do Governo do Estado do Paraná DEPED/UNICENTRO.
treinamentos desportivos, informática, música, entre outros), e também pelas artes
ou brinquedos visuais (videogames, televisão, computador, carrinhos eletrônicos,
entre outros).
Nesta época de imensos avanços tecnológicos, da busca incansável de mais
e melhores conhecimentos e da expansão de fronteiras, encontrar tempo para
brincar pode parecer algo desnecessário e até mesmo dispensável.
A preocupação que motivou a presente pesquisa diz respeito à falta de
interesse das crianças na faixa etária dos onze anos em brincar com brinquedos e
brincadeiras concretas, historicamente significativas, onde participem do momento
vivido com os aspectos atuais da sociedade.
Nesse vazio, buscou-se, através dos jogos e brincadeiras tradicionais,
resgatar os valores esquecidos dessas brincadeiras, favorecendo uma
aprendizagem significativa para a educação dos alunos.
Sendo assim, o problema que moveu a presente pesquisa apontou para o
seguinte questionamento: O resgate de jogos e brincadeiras pode beneficiar e
favorecer a aprendizagem entre os alunos?
Diante dessa realidade, abordou-se, como conteúdo nas aulas de educação
física, as brincadeiras e jogos tradicionais e, assim, buscou-se promover ações
transformadoras nos alunos e na realidade social.
Segundo Monteiro (2012), os jogos sempre desempenharam um papel de
extrema importância para a humanidade e fizeram parte da vida das pessoas. Desde
a antiguidade os homens realizavam jogos com fins competitivos ou de lazer. Essas
atividades foram sendo adaptadas à medida que a humanidade evoluiu, conforme as
necessidades que se modificavam.
"Jogos" caracterizam passatempos e divertimentos, além de constituir uma
atividade física ou mental que envolve regras para sua realização. De acordo com
Johan Huizinga (2012):
O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e delimitados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotadas de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana (apud MONTEIRO, p. 17, 2012).
Analogamente, a vida é como um jogo laboriosamente construído, pois em
tudo há a competição e a necessidade de definir estratégias para superar os
concorrentes e vencer.
Kishimoto (2005) explica que, assim como no cotidiano, também nos jogos
existem muitos elementos formadores de caráter, das emoções e do
comportamento. Os sujeitos participam de jogos e brincadeiras com a finalidade de
se divertirem, da competição e da habilidade para vencerem.
No sistema escolarizado, a disciplina de Educação Física possui como
saberes específicos de sua área os jogos e, inseridos nesse eixo, os jogos
tradicionais que ao serem apresentados como conhecimento (conteúdo), promovem
a preservação e promoção da cultura, da motricidade do sujeito e, subjacente a isso
possibilitam também o desenvolvimento da linguagem, da ciência, da biologia, da
arte, da política, do esporte e do trabalho.
Segundo Freire (2003), ao ensinar o conteúdo “jogos tradicionais”, o professor
entende que este saber é importante no desenvolvimento das crianças por meio do
exercício da imaginação, estimulando a independência, a espontaneidade, e
principalmente, promovendo o resgate da cultura infantil. O brincar é uma atividade
que faz parte da natureza do homem. Desta maneira, a ludicidade adquiriu um
espaço muito importante na formação humana.
Para Kishimoto (2005, p. 24), "quando brinca, a criança toma certa distância
da vida cotidiana, entra no mundo imaginário." Ao brincar expressa seus
sentimentos e se relaciona com outras crianças, aguça sua curiosidade com relação
ao mundo que a cerca e influencia na representação do real através das situações
imaginárias.
Assim, constata-se que os jogos e brincadeiras são de grande importância no
desenvolvimento do ser humano, por isto, se constituem num saber específico de
uma área do conhecimento, que é a Educação Física.
Ressalta-se que as brincadeiras e os jogos não são exclusivos do universo da
educação infantil. Entre adolescentes, adultos e em grupos de terceira idade as
brincadeiras são bem aceitas pela sua ludicidade e informalidade (KISHIMOTO,
1993). Esse entendimento encontra-se fundamentado e incentivado por diversos
autores:
Almejou-se organizar e estruturar a ação pedagógica da Educação Física, de maneira que o jogo seja entendido, apreendido, refletido e reconstruído como um conhecimento que constitui um acervo cultural, ao qual os alunos devem ter acesso na escola (COLETIVO DE AUTORES, 1992, apud PARANÁ, p. 66, 2008).
Kishimoto (1993) acrescenta que,
Enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar (KISHIMOTO, 1993, p. 15).
De acordo com Cosmo (2009), o prazer, a liberdade de ação e decisão são
características dos jogos e das brincadeiras. Estes também comportam regras, mas
não ficam presos a elas, deixam um espaço de autonomia para que sejam
adaptados, conforme o interesse de todos. Nas brincadeiras, o interesse da
competição é afastado. A participação se dá sem tensões e sem restrições. Sua
principal sensação é o bem-estar e a alegria, construindo e desenvolvendo uma
convivência social entre os indivíduos/crianças. Nessa linha, verifica-se que as
atividades lúdicas são importantes para o desenvolvimento da criança, pois é
durante estas trocas de convivência que ela tem a oportunidade de assumir diversos
papéis e de se colocar no lugar do outro.
As ações do brincar de cada grupo podem ser em função do tempo e do
espaço existentes para a brincadeira acontecer. É importante que as crianças
auxiliem na reconstituição das regras, segundo a necessidade e os desafios
estabelecidos (COSMO, 2009).
Neste contexto, os jogos e as brincadeiras repassados de geração em
geração são valorizados enquanto ferramentas de aprendizagens que fazem parte
do convívio social e, portanto, são do conhecimento das crianças. Essa abstração
dos jogos e das brincadeiras facilita o trabalho pedagógico, pois se trata de textos de
memória que as crianças possuem.
Quem faz é o próprio corpo, quem pensa é também o corpo. As produções físicas ou intelectuais são, portanto, produções corporais. Produções essas que se dão nas interações do indivíduo com o mundo (FREIRE, 1997, p. 134).
É nesse sentido que a escola deve possibilitar o contato com brinquedos e
brincadeiras tradicionais aos alunos, promovendo a articulação de conceitos
teóricos, muitas vezes interdisciplinares, com a própria prática cotidiana.
Este artigo expõe aspectos conceituais sobre jogos, brincadeira e brinquedo,
discorrendo sobre o lúdico. Em seguida estabelece a aproximação do conteúdo jogo
tradicional, observando a interação da família na escola. Após os aspectos
metodológicos, apresenta-se a aplicação prática da proposta de estudo, explicitando
a descrição e a reflexão das atividades desenvolvidas ao longo de 32 horas/aulas no
ano de 2013.
1 JOGOS: BRINCADEIRAS: BRINQUEDO
Toda brincadeira ocorre por meio de um jogo de faz de conta e pressupõe um
ou mais brinquedos. Segundo Brougère (2000, p. 12), brinquedo é “o conjunto dos
objetos lúdicos, os brinquedos dos jogos.” Logo, a função do brinquedo é a
brincadeira, por meio dos jogos. Assim, o brinquedo é utilizado como suporte na
brincadeira, é um objeto que pode ser representado, construído ou adaptado. “Tudo,
nesse sentido, pode se tornar um brinquedo e o sentido de objeto lúdico só lhe é
dado por aquele que brinca enquanto a brincadeira perdura” (Ibidem, p. 63).
Para Smith (2001), autoridade em desenvolvimento infantil do Departamento
de Educação da Universidade da Pensilvânia, os brinquedos são tão importantes no
brincar quanto os livros no estudar, dão oportunidade à criança de dominar e, em
seguida, controlar alguns aspectos de seu meio ambiente e mesmo criar outros
mundos imaginários. Os brinquedos e os jogos trazem experiências inovadoras à
vida da criança e ensinam que aprender e resolver problemas pode ser divertido.
O brinquedo transmite representações que são manipuláveis pelas crianças
durante as brincadeiras, evocando imagens, sons, comportamentos, entre outros.
Dessa forma, o brinquedo sempre remete ao simbólico. “Com seu valor expressivo,
o brinquedo estimula a brincadeira ao abrir possibilidades de ações coerentes com a
representação” (BROUGÈRE, 2000, p. 15).
Por muito tempo o brinquedo esteve associado a brincadeiras coletivas. Os
mesmos eram confeccionados pelas próprias crianças. Um tecido era o instrumento
fundamental (brinquedo) para tapar os olhos de uma das crianças para brincar com
as demais de cabra-cega; cinco pedrinhas eram o suficiente para um jogo
estimulante que exige habilidade das mãos, do olhar e do raciocínio; uma tábua
suspensa na parte mediana envolvia diversas crianças pulando e exercitando
simplesmente todos os sentidos, num jogo agradável e prazeroso.
Atualmente, a mídia tem colaborado com a indústria cultural na expansão dos
brinquedos com atrativos coloridos e eletrônicos, mas que muitas vezes levam ao
individualismo. “A televisão transformou a vida e a cultura da criança, as referências
de que ela dispõe. Ela influenciou, particularmente, sua cultura lúdica” (BROUGÈRE,
2000, p. 50).
O mesmo autor explica que a brincadeira é um comportamento humano,
específico das crianças, que possibilita múltiplas interações e que é brincadeira na
medida em que não se origina de nenhuma obrigação se não aquela consentida. “A
brincadeira aparece como a atividade que permite à criança a apropriação dos
códigos culturais” (BROUGÈRE, 2000, p. 61).
Dessa forma, fica evidente que jogos, brinquedo e brincadeira estão
intrinsecamente interligados, possibilitando múltiplas relações e experiências sociais,
principalmente os jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais, os quais exigem
muito mais a coletividade do que a individualidade.
2 LÚDICO
A formação da civilização brasileira, principalmente por índios, negros e
brancos trás consigo também o lúdico, a junção de tradições e culturas que
originaram diversos jogos, entre eles: peteca, amarelinha, cama de gato, cinco
marias, ciranda, cabo de guerra, escravos de Jó, cabra cega, entre outros.
No passado, não apenas as crianças, mas os adultos também
compartilhavam estes jogos. Atualmente, a prática destes jogos foi abandonada
pelos adultos, no entanto, ainda carrega consigo a ludicidade que envolve as
crianças.
Com origem na palavra latina “ludus”, que significa “jogo”, o conceito de lúdico
aponta para as possibilidades de brincadeiras, as quais, segundo Vygotsky (1998),
são meios que proporcionam com que as crianças façam aquisições de valores reais
e morais.
A brincadeira, o lúdico, neste sentido, possibilita a criança transitar entre o
real e o irreal, onde “coloca-se num papel de poder, em que ela pode dominar os
vilões ou as situações que provocariam medo ou que a fariam sentir-se vulnerável e
insegura” (KISCHIMOTO, 2005, p. 66).
Assim, é por meio do lúdico das brincadeiras que as crianças desenvolvem
artifícios para lidar com complexas dificuldades psicológicas, integrando
experiências de dor, medo e perda ao mesmo tempo em que fortalecem e re-
descobrem conceitos de bem e mal. “Viajando pela fantasia, a criança vai longe.
Conhece coisas que nós, adultos, já vivemos e esquecemos” (FREIRE, 2009, p. 33).
No âmbito educacional, esquece-se que o lúdico é um parceiro do professor, e que o
brincar é um elemento importante no processo de ensino e de aprendizagem
escolar. “As brincadeiras enriquecem o currículo” (MALUF, 2003, p. 29). Além disso,
a interação social da criança, promovida por meio de tais instrumentos, permite que
ela seja capaz de construir relações e conhecimentos sobre o mundo que a cerca.
A escola, nesse sentido, busca preencher o vazio, favorecer o
desenvolvimento de novos significados e superar experiências. Por isso, buscou-se
fazer um resgate cultural de jogos e brincadeiras tradicionais, incluindo-os na prática
docente das aulas de educação física, valorizando os saberes tradicionais bem
como favorecendo a aprendizagem entre os alunos.
3 APROXIMAÇÃO DO CONTEÚDO JOGO TRADICIONAL
Atualmente, o jogo presente nas escolas é de cartas marcadas pelas rígidas
regras predeterminadas e a única opção da criança é a obediência e a submissão.
Segundo Monteiro (2012), a atividade dos jogos é entendida como uma técnica
profissional de aquecimento, sendo, portanto, trabalhado de forma superficial. Por
isso, é fundamental articular na educação os jogos e as brincadeiras, respeitando o
direito da criança no processo de construção do conhecimento.
As relações na escola estão congeladas e os conhecimentos ritualizados. Existe um abismo entre o jogo metafórico e a aprendizagem mecanicista. A força da manipulação autoritária faz sombra à força da vida instintiva da criança e à possibilidade de construção do conhecimento significativo (KISCHIMOTO, 2005, p. 54).
Tanto em outras disciplinas, mas, principalmente na Educação Física,
encontra-se muitas possibilidades de articular o jogo ao ensino-aprendizagem
significativo, no trabalho de recuperação de brincadeiras e brinquedos tradicionais.
Kischimoto (2005, p. 37), estabelece considerações do brinquedo como
função lúdica e educativa:
1. Função lúdica: o brinquedo propicia diversão, prazer e até desprazer, quando escolhido voluntariamente; e 2. Função educativa: o brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão de mundo.
O resgate de jogos e brincadeiras é uma maneira de salvá-los do
esquecimento; além disso, o mais importante é a possibilidade de “criar e recriar
novos espaços de expressão e comunicação e estimular as interações sociais e o
desenvolvimento integral das crianças” (FRIEDMANN, 2007, p. 13).
A integração do jogo com o conteúdo na disciplina de Educação Física auxilia
na potencialização e construção do saber, por meio da motivação típica do lúdico.
No entanto, o trabalho pedagógico deve favorecer a influência e sistematização de
conceitos, além das situações do jogo propriamente dito.
4 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA
Segundo Ribeiro e Andrade (2006), atualmente, do ponto de vista das
escolas, o discurso mais comum é que a família, de forma geral, encontra-se
distante da escola, não acompanhando o desenvolvimento do aluno e, muitas vezes
isentando-se das responsabilidades diante das dificuldades encontradas pelo
estudante. Associado a isso está: pobreza, baixo grau de escolaridade dos pais e
desestrutura familiar.
Sob outro viés, estudos revelam que os pais de alunos de escolas públicas
valorizam a educação e têm esta como o principal meio de ascensão na escala
social, sendo ainda o meio de reprodução dos valores passados pela família,
preparando o aluno para o exercício da cidadania (RIBEIRO; ANDRADE, 2006).
Para Fevorini e Lomônaco (2009), a configuração do núcleo familiar passou a
ganhar novo formato a partir do século XX: mulheres passam a ser “o chefe da
família”, casais se separam e casam novamente, crianças são criadas e educadas
por tios ou avós... enfim, há uma grande diversidade na constituição da família nos
dias atuais. Mesmo assim, as crianças e jovens continuam tento a base familiar na
sua formação.
O sucesso dos alunos na aprendizagem dos saberes historicamente
construídos pela humanidade está intrinsecamente relacionado com o
acompanhamento da família. Fevorini e Lomônaco (2009, p. 74) demonstram a
necessidade em estimular e favorecer a participação da família na escola, pois a
“boa relação família-escola é um dos fatores que melhoram as condições de
aprendizado”.
A aproximação da família na escola apresenta diversos fatores positivos, tais
como: a quebra de preconceitos, maior compreensão sobre o papel da escola e sua
forma de trabalhar, os pais se sentem valorizados e tornam-se aliados dos
professores, entre outros.
Segundo Casarin e Ramos (2007, pp.183, 184):
A família é indispensável à garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos, independentemente da estrutura familiar, ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia a construção dos laços afetivos e a satisfação das necessidades no desenvolvimento da pessoa. Ela desempenha um papel decisivo na socialização e na educação. É na família que são absorvidos os primeiros saberes, e onde se aprofundam os vínculos humanos.
Além de representar o berço da cultura e a base da sociedade futura, a
família é o centro da vida social. Sua função no desempenho escolar do aluno é
determinante, uma vez que direciona o comportamento produtivo, a partir do
desenvolvimento da personalidade e do caráter que proporciona (CASARIN;
RAMOS, 2007).
Aos pais não cabe apenas a sustentação física dos filhos, mas o
amadurecimento psíquico, a sustentação emocional e suporte para que encontrem
sucesso na aprendizagem escolar.
A importância da família, neste contexto, é inegável, pois conduz e orienta em
como lidar com as frustrações e no relacionamento escolar. É no contexto familiar
que a criança ou adolescente encontra o apoio e o estímulo para a busca do
conhecimento e do crescimento pessoal.
5 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE
Segundo Antunes (2006, p. 5), afetividade é:
Um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções que provocam sentimentos. A afetividade se encontra “escrita” na história genética da pessoa humana e deve-se a evolução biológica da espécie. Como o ser humano nasce extremamente imaturo, sua sobrevivência requer a necessidade do outro, e essa necessidade se traduz em amor.
Essa “necessidade do outro” é a socialização, o relacionamento interpessoal,
o contato, a troca, ou seja, é o momento em que ocorre a aprendizagem,
possibilitando a mudança de comportamento.
Brust (2009), explica que algumas atitudes dos discentes, como gritos,
atitudes ríspidas, grosserias, palavrões ou empurrões podem ser ocasionadas por
falta de afetividade. Evidente que tais comportamentos muitas vezes são
confundidos com indisciplina. “Assim, se o professor não tiver sensibilidade para
perceber esse problema e disponibilidade para ajudar esse aluno com tais
problemas, ele pode sentir-se não merecedor de estima e consideração” (BRUST,
2009, p. 25). No mesmo sentido, Antunes (2006) lembra que a afetividade está
intimamente relacionada com o núcleo familiar.
A afetividade torna-se, assim, um elemento indispensável no ensino-
aprendizagem, tendo em vista a motivação do desejo de aprender da criança. É
justamente por meio dessa motivação que se estabelece o vínculo afetivo, ou seja,
trata-se de práticas como: ouvir o aluno, propiciar experiências diversas, conceder
ao aluno a liberdade da imaginação, valorizar os saberes dos alunos, entre outros.
Dessa forma, a motivação exige objetivos de ensino-aprendizagem dinâmicos,
sensibilidade e conhecimento sobre a criança, por meio de intenções sociais do
professor (BRUST, 2009).
Segundo Brust (2009), durante todo o período de escolarização a afetividade
está presente e se dá por diversas formas de interação, principalmente por meio de
atividades que agucem a curiosidade dos alunos, de modo que se sintam à vontade.
Neste sentido, a aprendizagem está ancorada na afetividade, já que ocorre
por meio de interações sociais, num processo vinculador. Sabe-se que a
aprendizagem escolar não se dá puramente no âmbito cognitivo, pois há essa base
afetiva que permeia as relações sociais.
O local em que se dão tais relações é a escola, a qual se apropria dos
conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade, desenvolvendo o
pensamento conceitual e a construção de novos saberes. Nessa, perspectiva, tal
construção de conhecimentos implica uma ação partilhada por meio de interações
sociais, ou seja, diálogo, cooperação e troca de informações. Para isso, a
afetividade é fundamental e pode ser promovida através de pequenas ações: tais
como: chamar o aluno pelo nome fazendo perguntas, possibilitar diálogo,
demonstrar interesse, enfim, qualquer atitude afetiva pode ser preponderante para o
aluno se sentir motivado para realizar as atividades escolares propostas (BRUST,
2009).
Assim, a escola não deve ser um lugar exclusivamente de aprendizagem
intelectual, mas também um ambiente no qual se fale de amizade, da importância do
grupo e das interações sociais e afetivas.
Ressalta-se, enfim, que a afetividade é importante porque contribui para o processo
de ensino-aprendizagem, na instauração de um clima de compreensão, confiança,
respeito mútuo e motivação.
6 A INTEGRAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA
A família e a escola devem formam uma equipe. É fundamental que ambas
sigam os mesmos princípios e critérios, bem como a mesma direção em relação aos
objetivos que desejam atingir. Ressalta-se que, mesmo tendo objetivos em comum,
cada uma deve fazer sua parte para que se atinja o almejado. O ideal é que família e
escola busquem as mesmas metas de forma simultânea, propiciando ao aluno
segurança na aprendizagem, possibilitando o desenvolvimento de cidadãos críticos
capazes de enfrentar a complexidade de situações que surgem na sociedade.
Existem diversas contribuições que tanto a família quanto a escola podem
oferecer, propiciando o desenvolvimento pleno, respectivamente dos filhos e alunos.
7 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa foi realizada por meio de um levantamento bibliográfico, sendo
feito um estudo de campo com os familiares dos educando, objetivando analisar
quais eram as principais brincadeiras e jogos existentes na época de infância dos
pais e avós. A pesquisa de campo justifica-se pela necessidade de aquisição de
informações e elementos que servirão de base para a pesquisa que é de cunho
qualitativo e investigatório.
Gil (2002, p. 17) entende que pesquisa é um “procedimento racional e
sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são
propostos”. O desenvolvimento de uma pesquisa exige o acesso aos conhecimentos
disponíveis e o emprego de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos.
“Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve
inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória
apresentação dos resultados” (GIL, 2002, p. 17).
A abordagem qualitativa não emprega instrumentos estatísticos na coleta e
análise dos dados. Lakatos e Marconi (2008, p. 269), explicam que:
A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.
A abordagem do problema nesta pesquisa de cunho qualitativo refere-se ao
estudo de caso. De acordo com Lakatos e Marconi (2008, p. 274), o estudo de caso
refere-se ao levantamento com mais profundidade de determinado caso ou grupo humano sob todos os seus aspectos, pois se restringe ao caso que estuda, ou seja, um único caso, não podendo ser generalizado.
Nesse sentido, a abordagem do problema desta pesquisa é um estudo de
caso porque se restringe à investigação de jogos e brincadeiras tradicionais, em um
único caso específico, ou seja, numa turma de 6º ano.
Segundo Fachin (2006, p. 122), o levantamento bibliográfico compreende a
abordagem das obras escritas que possam ser utilizadas pelo pesquisador, podendo
ser livros, periódicos e demais materiais de origem escrita que sirvam como fonte.
É através das crianças que se perpetuam as brincadeiras tradicionais, sendo,
estas, preservadas e recriadas a cada nova geração. Portanto, resgatar os jogos e
brincadeiras é uma forma de ampliar o universo lúdico e cultural dos alunos, além de
promover uma interação com outras gerações. Os pais e avós têm muito para contar
sobre os brinquedos prediletos e uma brincadeira a ensinar.
A aplicação dessa proposta compreendeu alunos do 6º ano do ensino
fundamental do Colégio Estadual Rui Barbosa, no município de Nova Laranjeiras –
PR.
8 APLICAÇÃO PRÁTICA DA PROPOSTA
8.1 DESCRIÇÃO E REFLEXÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Disponibilizou-se o projeto, que aqui se tem os resultados da intervenção, aos
professores da rede estadual de educação do Paraná, através do GTR (Grupos de
Trabalho em Rede), para apreciação e possíveis sugestões.
As atividades desenvolvidas compreenderam 32 horas/aulas em uma turma
de 6º ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Rui Barbosa, no município de
Nova Laranjeiras – PR, correspondendo de 02/2013 à 06/2013.
O projeto aplicado, “O resgate dos jogos e brincadeiras no trabalho de
ensino/aprendizagem do professor de educação física”, abordou temas de extrema
relevância na contemporaneidade, como as brincadeiras e jogos tradicionais
enquanto atividades pedagógicas.
8.1.1 Primeiro encontro
Nestas duas primeiras aulas, apresentou-se o projeto visando motivar a
participação dos alunos, bem como fez-se o envio de um texto explicativo sobre o
projeto aos pais. Deixou-se em amostra diversos brinquedos como: pedrinhas,
tecido (cabra-cega), peteca, tábua, corda, entre outros, observando se as crianças
conheciam tais brincadeiras.
Com o objetivo de aprender nomes e iniciando o trabalho de interação em
grupos, desenvolveu-se a dinâmica “bola quente”; o material utilizado foi apenas
uma boa e, organizou-se os alunos em círculo, sentados. O aluno que recebia a bola
tinha que se apresentar informando nome que prefere ser chamado, de onde vem e
alguns gostos e desejos. A atividade exigia rapidez para o participante não se
queimar com a “bola quente”. Quando dado aluno terminava a apresentação,
lançava a bola para algum colega e assim sucessivamente. Em seguida, solicitou-se
que os alunos relatassem quais são seus jogos e brincadeiras prediletos. Os alunos
assistiram alguns vídeos curtos abordando o que é jogo? Brincadeiras? E
brinquedo? Em seguida foram para a quadra de esporte aonde se divertiram em
duas brincadeiras: “dança das cadeiras cooperativas” e “cada apito um grupo”.
Na brincadeira da dança das cadeiras cooperativas, o objetivo foi estimular a
cooperação, reforçar o trabalho em grupo e aprimorar a relação interpessoal.
Organizou-se a turma em volta das cadeiras, solicitando que os alunos se
movimentassem ao som da música, em volta das cadeiras. Ninguém foi eliminado da
brincadeira, apenas as cadeiras, de forma gradativa. Assim, os alunos tinham que
sentar sobre os elementos existentes: cadeiras e colos. Cada vez que o professor
parava a música, uma cadeira era eliminada. Então, à medida que o número de
cadeiras diminuía, os alunos eram estimulados a cooperar entre si, para que
nenhum ficasse em pé.
Na segunda brincadeira aplicada, cada apito um grupo, o objetivo foi formar
grupos, motivar a cooperação e aprimorar a relação interpessoal. Os alunos foram
orientados a permanecerem no à vontade espaço destinado ao jogo, dispostos
aleatoriamente. O professor escolheu um aluno intitulando-o “pegador”. O jogo iniciou,
e os alunos correram livremente. O professor apitava três vezes, e todos deviam formar
grupos de três. O pegador, nesse momento, tenta pegar quem ainda não formou grupos.
Neste jogo, o professor pode apitar duas, quatro, seis, oito, etc
No final das duas aulas, solicitou-se que construíssem o brinquedo predileto
de cada um e que trouxessem para a escola todo tipo de sucata, como tampinhas,
canudinhos, caixas, latas, litros, potes, entre outros.
No início do encontro, os alunos permaneceram em total silêncio, o que aos
poucos foi se rompendo, na medida em que entendiam a proposta de trabalho. Não
demorou muito e o receio e a desconfiança foram substituídos pela curiosidade e
pela vontade em praticar o jogo e a brincadeira planejados.
Além disso, inicialmente, percebeu-se certa individualidade e também a
socialização de alunos em pequenos grupos fechados, o que se dissipou ao longo
das atividades, fazendo com que toda a turma se integrasse.
8.1.2 Segundo encontro
Neste encontro foram utilizadas três horas/aulas. Com as sucatas trazidas de
casa, os alunos construíram, em grupo, o brinquedo predileto. Nesta atividade,
surgiu uma diversidade de brinquedos, sendo: pipa, carrinhos, bonecas, telefone
sem fio, guitarra, bateria, robô, fantoches, arquétipos de construções, bolas, jogos,
entre outros. Todos os brinquedos foram socializaram com os colegas, os quais
explicaram porque é o brinquedo predileto. Posteriormente, todos os alunos se
divertiram com os brinquedos.
Articulou-se, de forma interdisciplinar, com a professora da disciplina de
Língua Portuguesa, uma produção textual, onde os alunos registraram uma cena de
suas vidas com relação ao brinquedo produzido.
Verificou-se que a criatividade dos alunos iniciou muito antes da aula, no
momento em que selecionaram os materiais solicitados no encontro anterior, os
quais foram os mais diversos possíveis. Além da interação da turma, a consciência
colaborativa foi fundamental na construção dos brinquedos, os quais foram
ferramentas importantes na consciência corporal dos alunos durante o ato de
brincar/jogar.
Outro fator importante que deve ser destacado neste encontro foi o momento
em que cada aluno teve a oportunidade de expressar-se sobre o próprio
brinquedo/jogo, pois observou-se que as crianças sentiram-se valorizadas. O ato da
elaboração textual foi igualmente produtivo e criativo.
8.1.3 Terceiro encontro
Explicitou-se aos alunos de onde vêm os jogos e brincadeiras. Tudo o que se
sabe é que são passados de pai para filho, de geração para geração através da
oralidade, são universais e fazem parte do que se chama de cultura popular. Muitos
desses jogos e brincadeiras preservaram a sua estrutura inicial, outros se
modificaram recebendo novos conteúdos.
Pediu-se aos alunos que entrevistassem os pais/responsáveis, investigando
do que brincavam quando eram crianças. Fez-se uma espécie de reportagem com
os pais/responsáveis, quando os alunos tiraram fotografias e fizeram uma espécie
de ficha de identificação para registrar nome, idade, grau de parentesco, profissão e
escolaridade. A entrevista questionou como eram os brinquedos, do que os
pais/responsáveis brincavam ou o jogo que mais gostavam de praticar. Perguntaram
ainda se gostariam de construir com os filhos o brinquedo predileto de sua época. Os
alunos solicitaram conhecer duas brincadeiras, registrando-as na ficha. Esses pais
foram convidados para irem à escola, no próximo encontro, para demonstrar como é
o jogo ou brincadeira relatado e brincar junto com os alunos. Para estas atividades,
utilizou-se duas horas/aulas.
As atividades propostas foram realizadas com êxito por todos os alunos da
turma, os quais demonstraram empenho e dedicação, tendo em vista que o ato de
investigar e colher informações do passado despertou nos mesmos curiosidade.
8.1.4 Quarto encontro
O quarto encontro ocorreu em três horas/aulas. Organizou-se um mural
expondo para toda a comunidade escolar do colégio os trabalhos sobre o que os
pais/responsáveis brincavam na infância.
Os alunos foram orientados para guardarem todo tipo de materiais
alternativos, como, por exemplo: tampinhas, latinhas, litros, caixas, entre outros.
A turma foi dividida em grupos de cada integrantes cada, para que pudessem
expor sobre as brincadeiras que seus pais/responsáveis brincavam. Cada grupo
selecionou quatro brincadeiras deste rol, de acordo com a disponibilidade dos
pais/responsáveis em ir até a escola participar e construir os brinquedos,
socializando a ficha da entrevista e as fotografias.
A ação de organizar um mural na escola, geralmente é atribuída à equipe
pedagógica ou administrativa e, raramente ao aluno. A inversão dessa ação motivou
os alunos, uma vez que os mesmos demonstraram ansiedade e orgulho em
compartilhar com a comunidade escolar as próprias investigações.
No momento da socialização das brincadeiras e jogos da época dos
pais/responsáveis todos os alunos queriam falar ao mesmo tempo, o interesse era
comum e explícito: tinham novidades a compartilhar.
8.1.5 Quinto encontro
Este foi o encontro mais longo, constituindo-se de seis horas/aula. Os
pais/responsáveis que puderam, foram à escola, conheceram o seu brinquedo
predileto construído pelos filhos/aluno.
Durante o encontro, alunos e pais/responsáveis envolveram-se
animadamente em jogos e brincadeiras sugeridas pelos presentes.
Cada estudante elaborou um relato de sua vida em relação ao brinquedo.
A participação dos pais/responsáveis foi acentuada. No início, tanto
pais/responsáveis quanto alunos, demonstraram certa reclusão, mas, na medida dos
encaminhamentos pedagógicos, foram se soltando, se sentindo mais à vontade e
contribuindo com os alunos, sobre seus conhecimentos de jogos e brincadeiras
tradicionais.
O encontro que iniciou de forma tímida, terminou alegremente, com a
integração entre pais/responsáveis e alunos. Estes, por sua vez, experimentaram
uma prática diferente e dupla: brincar/jogar com os pais e, na aula de educação
física. Ribeiro (2010) lembra que a afetividade é uma dimensão complexa, que
envolve saberes e competências que não são aprendidas intuitivamente ou por
imitação e, portanto, pressupõe aprendizagens formalizadas integrando o currículo
de formação docente, de forma a estabelecer inter-relação entre os aspectos
cognitivos, emocionais e afetivos.
8.1.6 Sexto encontro
Este encontro ocorreu em uma hora/aula. Os alunos foram orientados a
convidar os avós para irem à escola ou, se possível, os bisavós, para serem
entrevistados sobre como brincavam e confeccionavam seus brinquedos e quais
eram os jogos e brincadeiras de sua época.
Embora neste encontro não foi proposta nenhuma atividade física,
surpreendeu a atenção da turma para entender os passos seguintes do projeto, ou
seja, depois dos pais/responsáveis, agora era a vez dos avós e até mesmo bisavós.
8.1.7 Sétimo encontro
Em uma hora/aula, os alunos formularam perguntas para entrevistar os avôs,
avós ou bisavôs. Nesse encontro, a turma já estava bem integrada ao projeto
demonstrando isso na elaboração criativa e espontânea do questionário a ser
aplicado aos avós/bisavós.
8.1.8 Oitavo encontro
Este encontro foi planejado e ocorreu em cinco horas/aula. Organizou-se um
café da manhã para recepcionar os avós. Os alunos formaram grupos de quatro
integrantes e, cada grupo entrevistou um avô.
Posteriormente, todos os grupos socializaram as respostas obtidas nas
entrevistas, ou seja, quais eram as principais brincadeiras dos avós, com o que
brincavam e que tipo de material utilizavam para construir seus brinquedos e jogos.
Solicitou-se aos alunos para trazerem, no próximo encontro, materiais
recicláveis para construir um brinquedo, sugeridas pelos avós.
Os alunos demonstraram intensa surpresa pelas atividades desenvolvidas,
afinal, era a primeira vez que muitos avós/bisavós iam na sua escola, ainda mais
para tomar café e ensinar jogos e brincadeiras.
A presença dos avós e bisavós não foi expressiva, porém, ocorreu na medida
das possibilidades de cada um. Passado o momento de timidez no início da café da
manhã, os convidados foram recepcionados no refeitório junto com a turma.
Durante o café foi dividido seis grupos, onde os alunos serviram os avós. Em
seguida no saguão da escola, cada avô e avó ensinaram o seu grupo a construir um
brinquedo de sua época. Foram feitos:, trilha, peteca, carrinhos, boneca de pano,
boneca de espiga de milho e animais.
Logo em seguida cada grupo vez uma homenagem para os avós e entregou
uma lembrancinha.
No final da aula, os alunos estavam ansiosos para brincar com o brinquedo
construído por eles.
8.1.9 Nono encontro
Foram destinadas três horas/aulas para este encontro. Na ocasião, foi a vez
dos alunos montarem jogos e brincadeiras com e sem material reciclável.
Conforme o registro das fichas realizados anteriormente (terceiro encontro),
analisou-se os pais/responsáveis que gostariam de construir o brinquedo predileto
de sua época, em seguida, os mesmos foram convidados para acompanharem os
filhos no próximo encontro.
A partir de todas as informações obtidas nos encontros anteriores, sobre as
brincadeiras e jogos tradicionais, os alunos concentraram-se assiduamente na
elaboração dos mesmos, os quais surgiram de todos os jeitos, formas, tamanhos e
cores, sendo: amarelinha, boliche, telefone sem fio, bets, ovo choco, etc.
8.1.10 Décimo encontro
Em duas horas/aula, este encontro proporcionou um momento de integração
entre alunos e pais/responsáveis. Foram organizados grupos com filhos e
pais/responsáveis, estimulando-os a construírem o brinquedo predileto.
Realizou-se uma construção coletiva de brinquedos, a qual expressou intensa
solidariedade, pois todos se ajudaram, emprestando cola, lápis, papel, caixas, entre
outros tipos de materiais.
Em companhia dos pais, já familiarizados com a didática do projeto, ou seja,
integrando a família na escola, o novo encontro caracterizou uma verdadeira oficina
de jogos e brinquedos. Adultos e crianças desempenhavam atividades semelhantes,
deixando a criatividade inovar. Os pais/responsáveis rememoraram seus tempos da
infância e repassaram aos estudantes informações, técnicas e formas de brincar.
Destaca-se que as brincadeiras, brinquedos e jogos tradicionais resgatados
afastam-se do âmbito individual, requerendo sempre a integração grupal.
8.1.11 Décimo primeiro encontro
Em duas horas/aulas, o décimo encontro foi realizado como o fecho das
atividades propostas no projeto de intervenção.
Para tanto realizou-se a brincadeira do júri, ou seja, organizou-se um júri
composto por dois pais/responsáveis convidados. A discussão do júri girou em torno
da comparação dos jogos e brincadeiras de hoje em relação aos da época dos
pais/responsáveis.
Dividiu-se a turma em dois grandes grupos, da mesma forma os pais também
foram divididos, ficando um em cada grupo.
Cada grupo organizou dois círculos concêntricos, um dentro e outro fora, com
os integrantes sentados. Os do lado de fora assistiram os integrantes do lado de
dentro que estavam debatendo.
No júri do lado de dentro foi disposta uma cadeira vazia para que, a qualquer
momento um integrante do círculo de fora pudesse entrar na discussão. Também foi
permitida a saída de integrantes do círculo interno.
Evidentemente que, o júri foi um momento bem acalorado, afinal, todos já se
conheciam e nas últimas aulas tinham aprendido diversas novidades. Além dos
alunos, os pais também interagiram, um complementava a brincadeira do outro,
explicavam formas diferentes de um mesmo jogo e acrescentavam regras às
brincadeiras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicação do projeto de intervenção no ano de 2013, como parte das
atividades desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),
culminou na realização do presente artigo.
Os trabalhos centraram-se na esfera do lúdico, ou seja, no resgate das
brincadeiras utilizadas no tempo de lazer pelos pais/responsáveis dos alunos na
fase de infância e adolescência, retomadas e comparadas às formas de brincar de
seus filhos; Além disso, as atividades contemplaram a possibilidade de construção
de brinquedos numa associação harmônica de convivência entre pais/responsáveis
e filhos.
Ressalta-se a importância do professor de Educação Física prever, em seu
planejamento anual, um momento quando os alunos poderão construir brinquedos a
partir da própria criatividade e imaginação.
Em relação ao tempo dedicado a convivência entre pais/responsáveis e filhos
e, principalmente a qualidade desta convivência, é possível afirmar que ela tem sido
drasticamente reduzida, tendo em vista a atual sociedade tecnológica que gera a
globalização das culturas, da mesma forma que permite o deslocamento de um lado
a outro do mundo em um espaço de tempo relativamente curto.
Na perspectiva de que este estudo objetivou a melhora das relações entre
pais/responsáveis e familiares, o desenvolvimento da conscientização da
importância da construção de seus próprios brinquedos e a valorização do lúdico,
durante as atividades realizadas nos dez encontros, verificou-se o empenho dos
alunos, tanto na obtenção dos materiais, como investigação dom pais e avós, bem
como nas discussões, socializações e, principalmente na dinâmica prática do
brinquedo/jogo. Além da aprendizagem dos alunos, constatou-se também a
socialização entre os pais, os quais aceitaram e se envolveram na prática, junto com
os filhos. Não obteve-se rejeição, nem por parte dos pais/responsáveis, nem dos
alunos, na participação das atividades propostas. Também não detectou-se
nenhuma forma de indisciplina.
Conclui-se que, a retomada de jogos e brincadeiras antigas envolve diversas
esferas do conhecimento, de forma interdisciplinar, a saber: da história, da
linguagem, das relações humanas, das habilidades motoras e, principalmente o
exercício físico na prática das brincadeiras e jogos, confirmando assim a importância
da retomada dessa temática, de forma pedagógica e contextualizada, nas aulas de
educação física, promovendo aprendizagem de forma significativa e prazerosa ao
aluno.
Acredita-se que este estudo possa constituir um referencial teórico que possa
subsidiar novos projetos e ações nesta área de grande significância social.
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