o regime republicano no brasil

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O regime republicano no Brasil: duas versões Um dos problemas enfrentados pela República é a questão da legitimidade do novo regime. A proclamação parece ter sido uma ação militar, e os militares não tinham até então atuação reconhecida na história nacional. Durante 60 anos, o país não sofreu crise no governo imperial que fosse provocada pela força armada. A atuação na Guerra do Paraguai, por assim dizer, funda uma nova experiência, e, a partir daí, cresce a demanda por um novo papel das forças armadas na política brasileira, o que só se vai dar efetivamente na proclamação. O esprit de corps que uniu os bacharéis fardados – tenentes, alunos ou ex-alunos de Benjamin Constant – e os tarimbeiros – oficiais superiores que tinham lutado na Guerra do Paraguai – possibilitou a ação política de proclamar a República. Essa unidade temporária resultante dos efeitos da Questão Militar produziu uma ação política, mas não garantiu a institucionalização da nova ordem nem sua legitimidade. E, é preciso lembrar: O núcleo republicano civil mais poderoso e organizado, o paulista, tinha poucos contatos com os militares e muitas dúvidas sobre a conveniência de envolvê-los na campanha (CARVALHO, 1977: 217). Se é assim, cabe perguntar como se construiu a legitimidade da nova ordem e dos novos atores políticos. A antiga ordem havia se desagregado e a nova ainda não se consolidara sob a forma de instituições estáveis e aceitas. Este tempo forte, composto de momentos de efervescência da vida política, caracteriza os primeiros dez anos da República 1889-98 , também chamados de anos entrópicos , nos quais a quantidade de desafios parece ser maior que a capacidade dos atores de erradicar a ignorância sobre o que se passava (LESSA, 1988: 15). Nessa década do caos, buscou-se, sem êxito, construir as bases da obediência legítima, já que... “...a noção de legitimidade não corresponde a nada além do reconhecimento espontâneo da ordem estabelecida, da aceitação natural, não obrigatoriamente das decisões daqueles que governam, mas dos princípios em virtude dos quais eles governam” (GIRARDET, 1987: 88). Memórias específicas compõem as versões em conflito. Essas imagens construídas preenchem tanto uma função explicativa capaz de fornecer parâmetros para a compreensão do momento presente quanto uma função mobilizadora, quando o objetivo é alterar a ordem estabelecida. As versões expressam situações opostas no quadro político, expondo as posições de diferentes grupos que fazem parte da mesma sociedade. 1

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O regime republicano no Brasil: duas versões

Um dos problemas enfrentados pela República é a questão da legitimidade do novo regime. A proclamação parece ter sido uma ação militar, e os militares não tinham até então atuação reconhecida na história nacional. Durante 60 anos, o país não sofreu crise no governo imperial que fosse provocada pela força armada. A atuação na Guerra do Paraguai, por assim dizer, funda uma nova experiência, e, a partir daí, cresce a demanda por um novo papel das forças armadas na política brasileira, o que só se vai dar efetivamente na proclamação.

O esprit de corps que uniu os bacharéis fardados – tenentes, alunos ou ex-alunos de Benjamin Constant – e os tarimbeiros – oficiais superiores que tinham lutado na Guerra do Paraguai – possibilitou a ação política de proclamar a República. Essa unidade temporária resultante dos efeitos da Questão Militar produziu uma ação política, mas não garantiu a institucionalização da nova ordem nem sua legitimidade. E, é preciso lembrar: O núcleo republicano civil mais poderoso e organizado, o paulista, tinha poucos contatos com os militares e muitas dúvidas sobre a conveniência de envolvê-los na campanha (CARVALHO, 1977: 217).

Se é assim, cabe perguntar como se construiu a legitimidade da nova ordem e dos novos atores políticos. A antiga ordem havia se desagregado e a nova ainda não se consolidara sob a forma de instituições estáveis e aceitas. Este tempo forte, composto de momentos de efervescência da vida política, caracteriza os primeiros dez anos da República – 1889-98 –, também chamados de anos entrópicos, nos quais a quantidade de desafios parece ser maior que a capacidade dos atores de erradicar a ignorância sobre o que se passava (LESSA, 1988: 15).

Nessa década do caos, buscou-se, sem êxito, construir as bases da obediência legítima, já que...

“...a noção de legitimidade não corresponde a nada além do reconhecimento espontâneo da ordem estabelecida, da aceitação natural, não obrigatoriamente das decisões daqueles que governam, mas dos princípios em virtude dos quais eles governam” (GIRARDET, 1987: 88).

Memórias específicas compõem as versões em conflito. Essas imagens construídas preenchem tanto uma função explicativa capaz de fornecer parâmetros para a compreensão do momento presente quanto uma função mobilizadora, quando o objetivo é alterar a ordem estabelecida. As versões expressam situações opostas no quadro político, expondo as posições de diferentes grupos que fazem parte da mesma sociedade.

Monarquistas e republicanos constituíam os dois grupos em conflito explícito no início da República, construindo cada qual a sua versão dos fatos e dos desafios a serem vencidos. Quem eram eles? O que pensavam? Quais os seus heróis?

Os monarquistas ou, como na feliz expressão de Maria de Lourdes Janotti (1986), os subversivos da República, formavam um grupo de grande consistência ideológica, composto por políticos influentes, jornalistas, intelectuais, ativistas, que se dividiam entre restauradores e adesistas ou neo-republicanos. Apesar de muitos deles terem aceito o novo regime como fato consumado, o grupo sempre esteve envolvido nas questões políticas que marearam a década do caos, trazendo dificuldades à consolidação republicana.

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Os defensores da monarquia confiaram, em um primeiro momento, na possibilidade de rearticular sua força política por ocasião das eleições para a Constituinte. Desejavam levar o povo, através de um plebiscito, a não referendar a ação militar que proclamara a República. Entretanto, dentro de suas próprias fileiras, enfrentavam algumas questões cruciais: desde a de responsabilizar o gabinete liberal de Ouro Preto pela ruína do Império e a passividade de Pedro II em incentivar as ações restauradoras, até a difícil questão dinástica que incluía a possibilidade de uma regência.

Os monarquistas esperavam e desejavam que as crises republicanas convencessem as forças políticas das ameaças de desmembramento e da validade da única salvação possível – a restauração. Tinham esperança na ruína do regime, mesmo quando não estavam atuando neste sentido. Sofriam perseguições, eram vistos com desconfiança, principalmente os que aderiram ao novo regime e aceitaram jogar o jogo republicano.

A Revolta da Armada foi o movimento mais sério em que estiveram envolvidos. Resultante do manifesto de 13 oficiais que, em nome da defesa da Constituição republicana se rebelaram contra a posse de Floriano, esse movimento apareceu em um primeiro momento como uma reação legalista contra o militarismo que ameaçava tomar conta da República. A adesão do almirante Saldanha da Gama – conhecido monarquista – caracterizou o movimento como restaurador e forneceu munição aos jacobinos que apoiavam Floriano no combate à revolta.

O fato de os monarquistas terem participado intensamente da luta política não significa que tenham tido êxito. Entretanto, ressaltamos aqui sua superioridade do ponto de vista de sua versão e de seus quadros. Inúmeros intelectuais são seus porta-vozes, o que parece ter conferido mais estabilidade e consistência à sua interpretação.

Eduardo Prado, em seu livro Fastos da ditadura militar no Brasil (1902), reuniu artigospublicados – entre dezembro de 1889 e junho de 1890 – na Revista de Portugal, periódico dirigido por Eça de Queiroz. Sob o pseudônimo de Frederico S., Eduardo Prado denunciava as práticas da ditadura militar republicana que se opunham às teorias e práticas liberais vigentes no Império. O autor via no Império a presença liberal, enquanto a República se apresentava como a introdução do caudilhismo na política brasileira. A República trazia a ameaça de dividir o Brasil em múltiplos países, rompendo a unidade conseguida pelo Império.

Outro livro de Eduardo Prado, A ilusão americana, escrito em 1893, trata do período histórico que se estende de 1823, com a elaboração da doutrina Monroe, até 1892, com a chamada política do big-stick, sob a inspiração de Blaine, quando o expansionismo norte-americano fez sua presença armada na América Central.

A ilusão americana condena a forma republicana apresentando-a como a cópia do modelo político norte-americano. A crítica à República aparece já no prefácio, onde Eduardo Prado se refere a este regime como dolorosa provação que (...) tanto tem amargurado a pátria brasileira, ou quando diz: o governo republicano do Brasil, tristemente predestinado a reagir sempre contra a civilização.

A primeira parte de A ilusão americana centra-se na apresentação de fatos da política externa americana frente aos países da América Latina, com especial ênfase no caso mexicano e das Antilhas. A conclusão do autor é a de que o grande protetor da independência dos países latinos sempre foi a Inglaterra. A doutrina Monroe e sua execução estariam bem distantes da interpretação jacobina que os republicanos brasileiros estavam dando a ela.

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Ao adotarem o modelo norte-americano, os países da América espanhola renegaram suas tradições. O Brasil, mais feliz, instintivamente, obedeceu à grande lei de que as nações devem reformar-se dentro de si mesmas, como todos os organismos vivos, com a própria substância (PRADO, 1893: 53). Em 1889, cometeu-se o mesmo erro dos países hispano-americanos: a imposição de um modelo que produziu, imediatamente, a perda da liberdade.

Eduardo Prado reconhece que a república americana fora criada em um período onde predominou o patriotismo e a abnegação, e relembra Montesquieu em sua proposição de que as repúblicas precisam ter como fundamento a virtude. Esse fora o fundamento da república americana ao tempo dos pais fundadores. Os vícios, as faltas atuais não estavam presentes no seu início, tinham a ver com a sociedade burguesa.

Do ponto de vista cultural, Eduardo Prado aponta o encantamento americano pela realeza e pelas aristocracias européias. Esta admiração tem sentido, já que os Estados Unidos são ainda uma colônia. A civilização vem-lhe da Europa (p. 116). Refere-se ao americano como um parvenu enriquecido. O encantamento pela realeza fez com que os Estados Unidos dessem preferência pelo apoio à Alemanha, durante a guerra franco-prussiana, mesmo depois da proclamação da república francesa. Aprovaram a guerra de 1870 e a conseqüente anexação da Alsácia e da Lorena. O autor deseja demonstrar que não há qualquer compromisso essencialmente republicano na política externa dos Estados Unidos.

Outro ponto de destaque é a questão da abolição. Segundo Prado, a solução norte-americana foi genuinamente republicana e norte-americana, isto é, pela violência, pela força, pela guerra entre irmãos. No Brasil tivemos a solução monárquica. Nossa monarquia teve a glória de ser punida pela sua ação libertadora (p. 131). Isto em si não é uma novidade, já que, para Eduardo Prado, todas as grandes reformas sociais se realizam sob um governo monárquico.

De acordo com Prado...

“...na gestão dos negócios e dos dinheiros públicos, a monarquia arrisca a sua própria existência; é como uma firma solidária que responde com a sua pessoa e com a totalidade de seus bens. A República é uma companhia anônima de responsabilidade limitada” (p. 130-1).

E complementa: a forma republicana burguesa, como existe em França e nos Estados Unidos, é a que mais protege os abusos do capitalismo (p. 133).

Ao mesmo tempo em que combate a imitação – sejamos nós mesmos, sejamos o que somos, e só assim seremos alguma coisa" (p. 169) –, Eduardo Prado não considera serem os exemplos americanos dignos de qualquer apreço. Os Estados Unidos mantinham um sentimento de indiferença e mesmo de superioridade para com os sul-americanos. Os laços da amizade eram fictícios. A grande ajuda que recebíamos tinha sido e era a inglesa. A águia americana com que se sonhava não estava protegendo e sim dominando toda a América - era a política imperial dos Estados Unidos.

Procuramos destacar pontos do livro de Eduardo Prado em que seu pensamento apresenta, de forma mais explícita, a defesa da monarquia. Suas idéias o colocam como um digno representante do panteão onde estão presentes figuras como Renan e Maurras.

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Eduardo Prado, liberal, anglófilo e ardente monarquista, teria sido certamente, uma das mais destacadas presenças no mundo intelectual brasileiro, não fosse sua morte prematura, aos 41 anos. Sua posição no mundo literário era proeminente, fazia parte de um grupo luso-brasileiro, junto com Eça de Queiroz, Rio Branco, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Afonso Arinos. Foi também um dos organizadores da Academia Brasileira de Letras.

A proclamação da República trouxe Eduardo Prado para o mundo da luta político-ideológica através dos textos acima referidos. Ele foi, também, o responsável pela organização de uma série de conferências comemorativas do centenário de José de Anchieta, dentro do espírito histórico e do renascimento do catolicismo no Brasil.

Além de Eduardo Prado, as fileiras monarquistas contavam, entre outros, com Afonso Celso – filho do visconde de Ouro Preto –, autor de Por que me ufano do meu país?, e Joaquim Nabuco, político abolicionista que, com seu livro Um estadista do Império, abordando a figura de seu pai, o conselheiro Nabuco de Araújo, construiu o modelo de um gênero que seria muito utilizado no Brasil, a biografia política.

Se esses textos expressam a versão que os monarquistas têm da República, a súmula desse ponto de vista parece estar presente na publicação, em quatro volumes, de A década republicana (JANOTTI, 1986; QUEIROZ, 1986).

Os republicanos jacobinos constituíam a tropa de choque de defesa da República e de combate aos monarquistas. Originários dos batalhões patrióticos, espécie de milícia voluntária, formada nos primeiros dias da República para a sua defesa, proliferaram principalmente durante o governo de Floriano Peixoto. Compostos de alunos de escolas superiores, funcionários públicos, comerciantes e guarda-livros atuavam junto com militares nos clubes jacobinos. Desenvolveriam sua ação em meetings, passeatas, agressões e empastelamento de jornais, ajudando a manter o clima de conflito político no Rio de Janeiro. O Nacional e O Jacobino eram os principais jornais que divulgavam os pontos de vista e as propostas desse grupo.

Para os jacobinos, o novo regime deveria ser não só republicano e federativo, mas sobretudo presidencialista, e do presidencialismo, os jacobinos chegaram à defesa da ditadura militar no fim do governo de Prudente de Moraes. A defesa do papel fundamental dos militares não só controlando as revoltas – Revolução Federalista e Revolta da Armada, ambas em 1883 –, mas também outros postos do governo foi a prática do governo Floriano e ideário do jacobinismo.

Em seu combate à monarquia, os jacobinos associavam o Império à dominação lusitana e clerical. Neste sentido, denunciavam e se opunham ao decreto de naturalização do Governo Provisório, expedido nos primeiros dias da República. Apoiaram Floriano quando este rompeu relações diplomáticas com Portugal em 1894, em conseqüência do apoio deste país aos vencidos da Revolta da Armada. Além disso, empreenderam duro combate à colônia portuguesa do Rio de Janeiro, que teria sempre apoiado ações restauradoras.

O movimento jacobino emergiu como força política no governo Floriano, mas não desapareceu com a saída e a morte deste: sua força aumentou como oposição ao governo Prudente de Morais. As atitudes de Prudente – demitindo florianistas do governo, reatando com Portugal, anistiando rebeldes federalistas e da Revolta da Armada, diminuindo as restrições à atividades dos monarquistas – só fizeram aumentar os conflitos. Os desastres contra Canudos puseram mais lenha na fogueira. Esta linha

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ascendente de conflito político só foi rompida com o atentado ao presidente, quando morreu o ministro da Guerra.

É a partir daí que se reverte o quadro político. Vários políticos4 foram envolvidos no atentado e este evento fez com que a ação política oposicionista mudasse de direção. A partir de então, vários políticos se uniram contra os jacobinos e passaram a defender o governo Prudente de Moraes.

Raul Pompéia é figura importante desse período, sendo considerado um elo entre os intelectuais e os jacobinos ativistas (QUEIROZ, 1986: 115-6). Por meio de seus artigos pela imprensa, este autor constrói uma versão do nacionalismo, combate o sentido impresso à colonização brasileira e o lusitanismo do Império e defende a criação de uma indústria nacional, única atividade capaz de proporcionar a independência do país.

Sua carta-prefácio do livro de Rodrigo Otávio, Festas Nacionais, datada de 1893, expressa com clareza sua interpretação sobre o conflito político do país dilacerado entre dois grupos: o partido da emancipação e o partido da colônia. Este duelo secular já tivera como contendores José Bonifácio e José Clemente Pereira, representando o primeiro a pátria nova e o último a servidão colonial.

Raul Pompéia relê a história do Brasil segundo esta luta política: condena o Império, responsabilizando-o por cinqüenta anos de inércia e de abandono: uma inépcia benigna, que alcançava a ordem e a tranqüilidade a preço de passividades, resignações, corrupções (p. 11). Para ele, o Segundo Reinado voltou as costas à pátria. O empreendimento do princípio de uma dinastia européia foi a anulação do caráter nacional. O estrangeiro apoiava o trono, que garantia seu monopólio sobre as especulações mercantis. O fazendeiro apoiava o trono, que garantia a manutenção do trabalho servil. Neste sistema, o brasileiro que não fosse proprietário rural...

“...tinha que ser o parasita involuntário do funcionalismo, ou o soldado, sob a prevenção eficaz da chibata. As carreiras de futuro pela especulação e pela indústria, que criam o povo forte e independente, foram reservadas aos hóspedes da terra, aos estranhos do patriotismo” (p. 12).

Concluindo sua análise, Raul Pompéia afirma que o povo brasileiro não contava com classes conservadoras. Os proprietários rurais, únicos conservadores possíveis, acabaram por confundir seus interesses com os do comércio, controlados exclusivamente por estrangeiros. A pátria brasileira não contou com o patriotismo das classes ricas, com a vigilância dos que mais têm o que perder: Somos assim, em economia política, uns miserandos desvertebrados.

Para Raul Pompéia o militar, tradição de virilidade do povo, núcleo do nacionalismo brasileiro, ensaiou a redenção e era, então, condenado. Contra ele, contra a República, coligavam-se todas as forças reacionárias, que compunham o sebastianismo e comandavam tanto a aversão à República – porque a República tenta promover a emancipação nacional, quanto a aversão do soldado – porque o soldado fez a República (p. 18).

O partido da colônia representava o grande obstáculo à organização republicana, pois dominava pontos estratégicos da política e do comércio. Foi ele, também, o responsável pela manutenção do preconceito de cor, desconhecido do brasileiro, e que serviu como elemento demolidor do civismo nacional.

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Raul Pompéia combate o conservadorismo estrangeiro porque este nada conserva para o Brasil. Defende a organização, em seu lugar, do partido conservador brasileiro.

“Tivemos um dia a revolução em nome da dignidade humana – a Abolição. Temos a revolução da dignidade política – a República. É preciso que não tarde a terceira revolução: a revolução da dignidade econômica, depois da qual somente poder-se-á dizer que existe a Nação Brasileira” (p. 22).

Desse período, emerge a figura controversa de Floriano Peixoto. Chamado de Marechal de Ferro, ele recebeu as glórias por ter conseguido debelar as duas mais graves revoltas à República. Por outro lado, subiu ao poder substituindo Deodoro, que renunciara, com o apoio da única força política republicana organizada: o Partido Republicano Paulista. Em seu governo, os paulistas ocuparam os principais postos: Bernardino de Campos foi presidente da Câmara; Prudente de Moraes foi presidente do Senado e Rodrigues Alves ocupou o ministério de Finanças.

Floriano, ao mesmo tempo em que foi arbitrário e despótico, foi o contrário de tudo isso: iniciador de uma mística de pureza e republicanismo" (CARDOSO, 1982: 44). Lutou contra a volta ao passado, consolidou a República identificada com uma disciplina centralizadora e com a pureza das instituições.

Floriano foi, em inúmeros momentos posteriores, invocado como pai fundador da República brasileira. Os movimentos nacionalistas do Rio de Janeiro – Propaganda Nativista (1919), Ação Social Nacionalista (1920) – retomaram o antilusitanismo, a luta pela pureza das instituições e construíram um panteão que começou por Floriano Peixoto e incorporou Epitácio Pessoa. Estes movimentos posteriores à Primeira Guerra combinaram em suas fileiras ex-monarquistas, como Afonso Celso, e defensores do jacobinismo, como Álvaro Bomilcar (OLIVEIRA, 1986: 164-8).

FonteOLIVEIRA, Lúcia Lippi. As festas que a República manda guardar. In:______. Estudos históricos, v. 2, n. 4. Rio de Janeiro: CPDOC, 1989. p.176-151. Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/55.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2004.

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