o movimento negro brasileiro no brasil republicano

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Prof. Dr. Amilcar Araujo Pereira Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Page 1: O movimento negro brasileiro no Brasil Republicano

Prof. Dr. Amilcar Araujo PereiraUniversidade Federal do Rio de Janeiro

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Fundação de periódicos editados por negros, que tinham como principais temas a “raça negra” e o preconceito. Foi o caso de O Homem de cor, fundado no Rio de Janeiro por Francisco de Paula Brito em 1833; do Treze de Maio, fundado no Rio de Janeiro em 1888; do A Pátria, em São Paulo, em 1889, e O Exemplo, em Porto Alegre, em 1892.

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• Fundação de jornais da “imprensa negra paulista”, assim chamada por Roger Bastide e Florestan Fernandes, que a estudaram na década de 1950: O Menelick, em 1915; A Rua e O Xauter, em 1916; O Alfinete, em 1918; A Liberdade e O Bandeirante, em 1919; A Sentinela, em 1920; O Kosmos, em 1922; O Getulino, em 1923, e O Clarim, posteriormente O Clarim d’Alvorada, em 1924. Todos, à exceção de O Getulino, de Campinas, eram publicados na cidade de São Paulo.

• O Clarim d’Alvorada, fundado por José Correia Leite e Jayme de Aguiar, circulou de 1924 a 1932.

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O Centro Cívico Palmares (1926) e a questão da Guarda Civil de São Paulo em 1928.

Em 16 de setembro de 1931, criação da Frente Negra Brasileira (FNB). Em 1933 começou a circular em São Paulo seu jornal, A Voz da Raça. Com ramificações em vários estados do país, a FNB foi transformada em partido político em 1936, mas extinta no ano seguinte, juntamente com os outros partidos, após o golpe do Estado Novo.

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- “1929 tinha sido o ano de uma recessão muito grande e as consequências na situação do negro foram graves (...) Então, o movimento político fez a gente ir esmorecendo a idéia da realização do Congresso [da Mocidade Negra naquele ano]. O Getúlio perdeu as eleições e veio a Revolução de 1930. Aí foi uma fase que a gente pode distinguir o movimento negro antes de 1930 e depois de 1930. Este tomou outra feição. O negro, por intuição ou qualquer coisa, na Praça da Sé se reunia em grupos e as discussões eram calorosas. Estava sempre à frente o Isaltino Veiga dos Santos, o que mais agitava os grupos. Foi um sujeito que lutou muito. Sem ele não teria existido a Frente Negra Brasileira. Em 1930 não se tinha a idéia do nome, mas estava-se discutindo de como o negro poderia participar. Não se queria ficar marginalizado na transformação que se esperava. Havia um contentamento de ver aquelas famílias de escravagistas apeadas do poder. Era claro que na transformação tudo ia mudar. O negro sentia isso.” (LEITE, 1992:91)

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O movimento negro brasileiro seria uma cópia, em menores proporções, do movimento negro norte-americano?

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• Ainda no início do século XX é possível encontrar um intercâmbio entre dois jornais criados por negros, no Brasil e nos Estados Unidos: foi o estabelecido entre os jornais O Clarim d’Alvorada e Chicago Defender. Alguns anos depois de uma viagem de três meses realizada em 1923 por Robert Abbot, fundador e editor do Chicago Defender, pela América do Sul, e especialmente pelo Brasil, Abbot passou a receber O Clarim d’Alvorada e a enviar o Chicago Defender para José Correia Leite, fundador e editor d’O Clarim.

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• Um exemplo interessante dessa circulação de referenciais é a reportagem publicada no Chicago Defender em 26/10/1935 sobre uma manifestação realizada pela Frente Negra Brasileira (FNB) no Rio de Janeiro e que, segundo o jornal, teria mobilizado dez mil pessoas:

• “Esta organização, composta exclusivamente por brasileiros negros, tem direcionado suas energias contra a invasão dos direitos civis e constitucionais. Batendo na tecla da solidariedade nacional, ela tem conseguido eminentemente derrotar as forças do preconceito que, por pouco, ameaçaram minar o tradicional espírito de jogo limpo e igualdade pelo qual o Brasil foi conhecido antes do advento da insidiosa propaganda americana.”

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• O texto da reportagem seguia apresentando a FNB para o leitor negro norte-americano da seguinte forma: “A Frente Negra é hoje a organização mais poderosa em todo o Brasil, exercendo uma influência política que mantém afastados todos aqueles que poderiam negar as garantias específicas da Constituição nacional.”

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Somente entre os anos de 1935 e 1937 a Frente Negra Brasileira esteve presente em nada menos do que 20 reportagens do Chicago Defender, em matérias como, por exemplo, “Brazilian politics seeking support of the Black Front” (20/03/1936), que, ao referir-se às eleições que se aproximavam, afirmava que “os associados à Frente Negra, de acordo com fontes autênticas, vão muito além dos 40 mil, com novos membros se associando diariamente”, e que “com sua solidez, esta organização representa hoje uma das forças mais poderosas a serem consideradas no Brasil”.

Essa e outras reportagens foram publicadas sempre em sua edição semanal com circulação nacional.

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- “A Frente Negra Brasileira (FNB) (...) obteve algumas conquistas sociais importantes como por exemplo, a inclusão de afro-brasileiros nos quadros da Guarda Civil de São Paulo, antiga aspiração dos negros paulistas. O corpo administrativo da Guarda Civil de São Paulo era composta, na sua maioria, por imigrantes e negavam a admissão de afro-brasileiros aos quadros dessa instituição. Recebidos em delegação pelo então Presidente da República, Sr. Getúlio Vargas - os representantes da FNB apelaram ao Presidente no sentido de ser oferecido aos afro-brasileiros, igualdade de acesso àquela instituição. Vargas então ordenou à Guarda o imediato alistamento de 200 recrutas afro-brasileiros. Nos anos 30, cerca de 500 afro-brasileiros ingressaram nos quadros dessa instituição, com um deles chegando a ocupar o posto de coronel.” (SISS, Ahyas, 2003:9)

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A reportagem citada apresentava para seus leitores os planos da “North American Fronte Negra” para o ano de 1936! Ainda na mesma edição, na página 24, havia outra matéria interessante: “Puerto Ricans organize Black Militant Front”, na qual o jornal afirmava que a criação da nova organização em Porto Rico também “foi inspirada no sucesso alcançado pela Frente Negra no Brasil.”

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Négritude Panafricanismo Lutas por independência em países

africanos Textos e livros de revolucionários negros:

Franz Fanon, Amilcar Cabral, Agostinho Neto, Samora Machel, entre outros.

Lutas por direitos civis nos EUA: Luther King, Malcolm X, Panteras Negras...

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“Parece adequado iniciar esta edição de O Atlântico negro indicando o impacto causado pelos movimentos negros no Brasil e de suas histórias de luta. Eles recentemente conseguiram forçar o

reconhecimento do racismo como um aspecto estruturante da sociedade

brasileira, uma conquista que é ainda mais notável porque ocorreu em meio a

celebrações oficiais.” GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São

Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.p.9.

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Militante, ator, dramaturgo, artista plástico, professor, deputado, senador, jovem participante da FNB, fundador do Teatro Experimental do Negro em 1944, um dos fundadores do MNU em 1978, sua história de lutas contra o racismo e por melhores condições de vida para a população negra se confunde com a história do movimento negro no Brasil do século XX .

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As organizações negras criadas na década de 1970, principalmente a partir de 1974, com a abertura política, contribuíram diretamente para a luta por democracia no Brasil, contra a ditadura então vigente, e representaram uma mudança significativa na luta específica contra o racismo e por melhores condições de vida para a população negra em nosso país.

Essa é parte da história do Brasil.

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A denúncia do “mito da democracia racial”, como um importante elemento na luta contra o racismo, é uma das características marcantes presentes nas organizações do movimento negro criadas a partir da década de 1970.

“Pela reavaliação do papel do negro na história do Brasil”.

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A questão da Educação: FNB (1931), TEN (1944) e a luta “Pela reavaliação do papel do negro na história do Brasil” nas escolas (desde a década de 1980) e nos currículos (nas décadas de1980, 1990 e 2000). Zumbi e o “Dia Nacional da Consciência Negra”.

Atuação política organizada e apresentação de demandas à sociedade: desde o Centro Cívico Palmares (campanhas, eventos etc.), passando pela FNB (partido político, escola, clube etc.), pelo TEN (teatro, escola, congressos etc.), pela UHC (clube, jornal, campanhas etc.) e chegando ao movimento negro contemporâneo e suas demandas.

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A intervenção na elaboração da Constituição de 1988:

criminalização do racismo; a questão da titulação das terras de

“remanescentes de quilombos”; o parágrafo 1º do Art. 242 da Constituição

de 1988, que determina que “O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.”

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Mais recentemente, especialmente a partir de 2001, as discussões sobre as ações afirmativas para negros no Brasil e seus resultados práticos em 2012.

A Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras em todo o país, e que nos leva a problematizar a construção do currículo escolar e criação de novos saberes escolares relacionados à temática.