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Ano XXV Nº 304 dezembro de 2014 Xavier L i o Futurações do Passado Imperfeito de autoria do Fábio Lucas várias vezes e com o prazer de quem está comendo um bombom que veio do Brasil. E lembrando-me desse passado, inclusive de nossa amizade em Belo Horizonte, quan- do eu era aluna que mal frequenta- va a Faculdade de Filosofia e ele excelente e famoso professor da Faculdade de Ciências Econômi- cas, venho protestar por esse “im- perfeito”! Foi a ditadura que atrapa- lhou um pouco a nossa perfeição de brasileiros, e nos separou por vári- os anos, sem conseguir acabar com a admiração que sempre tive por ele e a vaidade de ter tido meu primeiro livro de poesias (publicado junto com três outros poetas jovens) prefaciado e elogiada por ele! Tive um começo de vida literária perfei- to! Meu prazer e vaidade aumenta- ram quando vi meu nome na lista da dedicatória, entre tanta gente importante na vida do autor! O livro não é propriamente so- bre as imperfeições do passado, mas apresenta um tom meio triste do futuro, talvez relacionado com a idade da aposentadoria. Mas até nis- so vejo um certo disfarce, uma pro- va que o autor está em forma como se tivesse ainda seus vinte anos!! O primeiro poema, “O Futuro” quan- do diz: “Quisera tê-lo como a noite estrelada ou palpitante entre fogos em explosão.” (p.15) Eu respondo: pois vai explodir na próxima vez que eu vá a São Paulo reclamando a segunda juven- tude! Estou me lembrando do Bob Marley cantando: “Sei que é impos- Passado mais que perfeito Teresinka Pereira sível viver através do passado.” Embora renegado, Bob Marley tinha uma sabedoria da realidade difícil de viver. E o famoso Picasso dizia: “Leva muito tempo para ficar jovem” e com isso ele queria dizer que quanto mais velho, mais jovem (de coração) podemos ser. Fábio Lucas poeta é como qualquer outro poeta: triste. Nosso próprio Manuel Bandeira dizia assim dessa tristeza de ser poeta: “Eu faço versos como quem chora.” O poeta é triste porque é ególatra. Octavio Paz o explicava assim: “O poeta fala das coisas que são suas e de seu mundo, mesmo quando nos fala de outros mundos.” E no capítulo “Protótipo da Egolatria” o autor se pronuncia contra as entre- vistadas personalidades na TV ou no rádio: “É que o distinto não se desco- la do ‘eu’. O universo se torna o cen- tro do ‘eu’ onipotente, egocêntrico, desagradável.” (p.57) Recebo sempre o Boletim da Associação de Poetas Profissionais do Rio de Janeiro (APPERJ) e li no último número publicado, uma en- trevista que o poeta Jorge Ventura fez ao poeta Sérgio Gerônimo a res- posta do mesmo sobre a personali- dade do poeta: “Nem sempre o poeta (ou poe- tisa) que você tanto admira, por meio da sua obra, é aquela pessoa maravilhosa de se conviver em uma academia ou associação.” Por isso devemos ter cuidado com os poetas, embora a opinião do autor seja bem expressiva no pequeno capítulo intitulado “Poeta”: “Ser poeta é sentir, apalpar a eterni- dade nas coisas que passam.” (p.29) A poesia de Fábio Lucas é mo- derna, original e expressiva. Não fica nada a dever aos melhores poetas nacionais e internacionais. Deve ser divulgada por todos os meios, inclusive em antologias. Mas o livro não se limita à poesia. A segun- da parte apresenta em prosa umas crônicas e comentários de literatura, política e dos tempos atuais, com o bom senso de sempre. A cultura de Fábio Lucas é vasta e a leitura desses textos em prosa resulta ser mui- to agradável também. Afinal esse é um livro de presente para os amigos! Mas o tom otimista é sempre mais agradável, e por isso vou terminar citando o final do capítulo “Novos Rumos do Saber”: “O fim último seria, para cada indivíduo, integrar-se har- moniosamente com a comuni- dade, sem impulsos hegemônicos, nem cobiça de dominação. Assim se alcança- ria o ser em estado de perfeição, a Enteléquia, aquele estado em plenitude do ser plenamente re- alizado, como quis Aristóteles. Da Arte que apanhasse o ser humano na intensificacidade, desde que o menor fragmento evoque a totalidade da qual é símbolo e representa intensiva- mente.” (p.73) Embora esses textos tenham sido escritos em diferentes épocas e publi- cados, sua apresentação neste livro ad- quire novo valor e interesse. Em poe- sia o destino é assim, segundo o autor: “As pessoas não me deixam Sou deixado. Remo sozinho.” (p.19) E assim somos todos os que ama- mos a independência (ou morte)! Por isso deixo aqui a minha opinião: DIREITO DE POETA para Fábio Lucas Não escondo a verdade. Não me faço de modesta Não finjo que escrevo Pra mim mesma. Sou poeta ególatra e exijo meu direito à solidão perpétua. divulgação Teresinka Pereira é presidente da IWA e Doutora em Filosofia e Línguas Neo-Latinas da University of New Mexico, USA. Fábio Lucas

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Ano XXV Nº 304 dezembro de 2014

Xavier

L i o Futurações doPassado Imperfeito deautoria do Fábio Lucas

várias vezes e com o prazer dequem está comendo um bombomque veio do Brasil. E lembrando-medesse passado, inclusive de nossaamizade em Belo Horizonte, quan-do eu era aluna que mal frequenta-va a Faculdade de Filosofia e eleexcelente e famoso professor daFaculdade de Ciências Econômi-cas, venho protestar por esse “im-perfeito”! Foi a ditadura que atrapa-lhou um pouco a nossa perfeição debrasileiros, e nos separou por vári-os anos, sem conseguir acabarcom a admiração que sempre tivepor ele e a vaidade de ter tido meuprimeiro livro de poesias (publicadojunto com três outros poetas jovens)prefaciado e elogiada por ele! Tiveum começo de vida literária perfei-to! Meu prazer e vaidade aumenta-ram quando vi meu nome na listada dedicatória, entre tanta genteimportante na vida do autor!

O livro não é propriamente so-bre as imperfeições do passado,mas apresenta um tom meio tristedo futuro, talvez relacionado com aidade da aposentadoria. Mas até nis-so vejo um certo disfarce, uma pro-va que o autor está em forma comose tivesse ainda seus vinte anos!!O primeiro poema, “O Futuro” quan-do diz:

“Quisera tê-locomo a noite estreladaou palpitanteentre fogos em explosão.”(p.15)

Eu respondo: pois vai explodirna próxima vez que eu vá a SãoPaulo reclamando a segunda juven-tude! Estou me lembrando do BobMarley cantando: “Sei que é impos-

Passado mais que perfeitoTeresinka Pereira sível viver através do passado.”

Embora renegado, Bob Marley tinhauma sabedoria da realidade difícil deviver. E o famoso Picasso dizia:“Leva muito tempo para ficar jovem”e com isso ele queria dizer quequanto mais velho, mais jovem (decoração) podemos ser.

Fábio Lucas poeta é comoqualquer outro poeta: triste. Nossopróprio Manuel Bandeira dizia assimdessa tristeza de ser poeta: “Eufaço versos como quem chora.” Opoeta é triste porque é ególatra.Octavio Paz o explicava assim: “Opoeta fala das coisas que são suase de seu mundo, mesmo quandonos fala de outros mundos.” E nocapítulo “Protótipo da Egolatria” oautor se pronuncia contra as entre-vistadas personalidades na TV ouno rádio:

“É que o distinto não se desco-la do ‘eu’. O universo se torna o cen-tro do ‘eu’ onipotente, egocêntrico,desagradável.” (p.57)

Recebo sempre o Boletim daAssociação de Poetas Profissionaisdo Rio de Janeiro (APPERJ) e li noúltimo número publicado, uma en-trevista que o poeta Jorge Venturafez ao poeta Sérgio Gerônimo a res-posta do mesmo sobre a personali-dade do poeta:

“Nem sempre o poeta (ou poe-tisa) que você tanto admira, pormeio da sua obra, é aquela pessoamaravilhosa de se conviver em umaacademia ou associação.”

Por isso devemos ter cuidadocom os poetas, embora a opiniãodo autor seja bem expressiva nopequeno capítulo intitulado “Poeta”:“Ser poeta é sentir, apalpar a eterni-dade nas coisas que passam.”(p.29)

A poesia de Fábio Lucas é mo-derna, original e expressiva. Não ficanada a dever aos melhores poetasnacionais e internacionais. Deveser divulgada por todos os meios,inclusive em antologias. Mas o livro

não se limita à poesia. A segun-da parte apresenta em prosaumas crônicas e comentários deliteratura, política e dos temposatuais, com o bom senso desempre. A cultura de FábioLucas é vasta e a leitura dessestextos em prosa resulta ser mui-to agradável também. Afinalesse é um livro de presente paraos amigos! Mas o tom otimistaé sempre mais agradável, e porisso vou terminar citando o finaldo capítulo “Novos Rumos doSaber”:

“O fim último seria, paracada indivíduo, integrar-se har-moniosamente com a comuni-dade, sem impulsoshegemônicos, nem cobiça dedominação. Assim se alcança-ria o ser em estado de perfeição,a Enteléquia, aquele estado emplenitude do ser plenamente re-alizado, como quis Aristóteles.Da Arte que apanhasse o serhumano na intensificacidade,desde que o menor fragmentoevoque a totalidade da qual ésímbolo e representa intensiva-mente.” (p.73)

Embora esses textos tenham sidoescritos em diferentes épocas e publi-cados, sua apresentação neste livro ad-quire novo valor e interesse. Em poe-sia o destino é assim, segundo o autor:

“As pessoas não me deixamSou deixado.Remo sozinho.”(p.19)

E assim somos todos os que ama-mos a independência (ou morte)! Porisso deixo aqui a minha opinião:

DIREITO DE POETA

para Fábio Lucas

Não escondo a verdade.Não me faço de modestaNão finjo que escrevoPra mim mesma.Sou poeta ególatrae exijo meu direitoà solidão perpétua.

divulgação

Teresinka Pereira é presidente daIWA e Doutora em Filosofia e

Línguas Neo-Latinas daUniversity of New Mexico, USA.

Fábio Lucas

Página 2 - dezembro de 2014

Confesso que sou fascinadapor uma boa biografia.Muitasvezes já citei algumas que

me encantaram , em nossas reuniõesde escritores de Passos e até prometoque um dia vou biografar todos eles, sea vida me der tempo, é claro, porém oencanto mesmo está em ler biografias enão em escrevê-las. Sabedor dessasminhas maluquices, um de nossos co-legas escritores, o DR. Luiz Mezêncio,presenteou-me com livro ”O RÉU E OREI” (minha história com Roberto Carlos,em Detalhes, do baiano Paulo Cesar deAraújo, formado em Historia e Jornalis-mo ,especialista em música e professor,que antes já fizera um livro sobre a proi-bição do regime militar da canção deValdik Soriano “Eu não sou CachorroNão”, talvez esta proibição tenha feitocom que a referida música ficasse co-nhecida em todo o país, deixando delado o grande mérito de Valdik que eraum grande compositor, além de uma belavoz,tem suas músicas gravadas porgrandes cantores brasileiros e só há al-gum tempo sua biografia de compositore trajetória de vida foram resgatadas porPatrícia Pilar em um documentário. Aocomeçar a ler o livro o RÉU E O REI, vilogo que não se tratava de obra de umcurioso qualquer, mas sim o fruto deanos de pesquisa de uma pessoa quesabe o que está fazendo, assim foi quetomei conhecimento da obra de PauloCesar Araújo.

Voltando ao livro O RÉU E O REI,é uma historia que começa em 1965quando um menino pobre da Bahia ouvepela primeira vez a música de RobertoCarlos, ”Quero que vá tudo pro inferno” eque se torna imediatamente fã deRoberto e começa ali a colecionar tudosobre o Roberto. Foram dezesseis anosde pesquisa e uma quase idolatria quegerou o livro “Roberto Carlos, em Deta-lhes”, que se tornou a mais polêmica dasbiografias com muitos astros da nossamúsica como Caetano , Chico Buarquee outros se posicionando contra ou a fa-vor, sendo motivo de discussão no Con-gresso Nacional e que ainda não teve oseu ponto final,isto é, uma lei sobre asbiografias, o que eu, sinceramente acheique o nosso Congresso teria coisas maisurgentes a discutir e deixasse que bió-grafo e biografados se entendessem, anão ser que a biografia fira a moral dapessoa biografada mas aí é um caso deprocesso judicial,o que não foi o caso.Fascinada que sou por biografias, etambém fã de Roberto Carlos, como amaioria dos brasileiros, embora muitoso neguem, contudo, a prova está em umcantor fazer sucesso desde a sua juven-tude e ainda arrastar multidões mesmo

O RÉU E O REI(o imbróglio das biografias)

Hilda Mendonça

Hilda Mendonça da Silva é poeta,escritora, contista e membro da

Associação Nacional de Escritores.

depois dos setenta anos.Todos nós jácantarolamos para pessoas amadas,algum verso de Roberto, muitas noivasescolhem ainda suas canções para oGrande Dia, que poderia mais dizer al-guém com esta simplicidade.”Eu tenhotanto/ pra lhe falar/ mas com palavras/não sei dizer,/ como é grande /o meuamor por você.”

O Fato é que Roberto Carlos, sesentindo invadido, como se vida de as-tros seja algum segredo, levou PauloCesar de Araújo às barras do tribunal eo livro Roberto Carlos, em Detalhes, foiproibido pois Roberto achou que suabiografia só a ele pertencia. Embora mi-nha admiração por Roberto como can-tor, compositor, pela superação desdecriança de dores que a muitos teriamfeito fraquejar e toda a sua vida sejamarcada por grandes perdas, acho quecomo dizem que todo mundo tem direi-to a um minuto de bobeira, este foi ominuto do Roberto ao proibir sua bio-grafia pois com isto Paulo Cesar de Ara-újo ficou conhecido, tanto que a Com-panhia das Letras não exitou em lançarainda no calor das discussões o seulivro de mais de quinhentas páginas:”O RÉU e o REI”, já a mostrar que, vin-do o nome Rei em segundo plano, dámostras de que aqui o RÉU ganhou for-ças para mostrar a sua admiração peloRei pois embora inicie contando a suaida ao tribunal, os detalhes desta ida, olivro todo não deixa de ser um tributo aoRoberto, é como se ele pulverizasse oseu trabalho anterior neste e vale dizer,com qualidade que nenhum biografadopossa se sentir minimizado, pelo con-trario, o livro acaba sendo também umtributo ao Roberto.os dezesseis anosde pesquisa que embasaram a redaçãoda biografia e por fim, os meandros deuma das mais comentadas e controver-sas batalhas judiciais travadas recen-temente no Brasil.

Quanto a mim que sou como dis-se, fascinada em biografias, continuo,apesar do momento de bobeira, gostan-do de ouvir Roberto Carlos e até mes-mo se oportunidade, tempo e capaci-dade tivesse para fazê-lo, queria mes-mo era biografar este baiano arretadode Vitoria da Conquista, terra que já vi-sitei, pois sei que ele tem muitas coi-sas importantes a retratar, e com a cer-teza de que Paulo Cesar de Araujo nãome levaria aos tribunais, contudo istofica delegado a escritores mais jovensque têm neste professor um bom Motepara uma boa biografia e encerro esteartigo dizendo àqueles que tiveram pa-ciência e disponibilidade para lê-lo:”Eutenho tanto, pra lhes falar”......

Mundo melhor para se viver

Somente com leitura poderemosconstruir um mundo melhor, mais dignopara se viver.

Livro é o presente ideal para o Natal.Vamos alimentar a mente e alma dos fami-liares, parentes, amigos e de todos que têmfome de leitura.

Não existe mundo melhor para se vi-ver sem Cultura e Educação.

Sem leitura não há luz no final do tú-nel.

Vamos dar de presente e doar livros,revistas e jornais novos e usados todos osdias do ano.

Desejamos Boas Festas aos leitores,clientes, colaboradores, amigos e à Tribuna Piracicabana.

Almejamos um Natal e Ano Novo pleno de paz, amor, saúde e muitaleitura. Esperamos que 2015 seja bem melhor, muito melhor que 2014.

Linguagem Viva continuará sua caminhada, contribuindo para a de-mocratização da leitura e para a construção de um mundo melhor parase viver.

Xavier

Rosani Abou Adal

Página 3 - dezembro de 2014

Quando vi o SolanoTrindade pela primeiravez, nos inícios dos

anos sessenta, eu não quisacreditar que aquela figura fosse defato o Solano, o grande e queridoSolano, o notável poeta negro,criador do Teatro PopularBrasileiro, autor da excelente obraCantares do Meu Povo. Eratambém artista plástico.Representava ele uma geração depoetas populares, de estilospersonalíssimos, que tinha comofigura de destaque AscensoFerreira, seu conterrâneopernambucano, e incorporavaoutros de tendência mais folclórica,como Cornélio Pires. Mas Solanoera diferente, sua poesia maiscontundente, assemelhava-se aogrupo apenas no apego ao contatopopular, ao interesse de levar suasmensagens diretamente ao povo.O Teatro Popular Brasileiro, por elecriado, é uma variante disto. Solanoera negro, socialista convicto, eexternava sua arte, quer poética,quer plástica ou teatral, com aexaltação e amostragem viva dacultura negra.

Pois a primeira vez que o vi,na sede da União Brasileira deEscritores, aqui em São Paulo,onde reunia o grupo do Teatro ecom ele discutia, pareceu-me umbeneditino chegado de uma longaviagem. Muito mal vestido, barbichabranca, cabelos grisalhos, mãoscruzadas ao peito, andava sozinhopelo salão da sede, como serezasse.

A ARTE POPULAR DE SOLANO TRINDADE

Caio Porfírio Carneiro é escritor,contista, historiador e membro

do Instituto Histórico eGeográfico de São Paulo.

Descobri, em poucosdias, que acabara de conheceruma grande alma. Solano, paramim, tinha a vivacidade dorevolucionário quando falava e,algo de santo, quando sorria etomava sua cachacinha. Nasrodas de conversa, manso,parecia estar sempre emgrande paz. Era um vulcãocom alma dos deusesafricanos.

Tornei-me grande amigodele. Numa das suasconcorridas exposições, nasede da entidade, presenteou-me com um dos seus quadros,de linha primitivista: uma negrabaiana em destaque e outrasem torno dela, numa roda dedança folclórica. Integra aminha pequena pinacoteca.

Quando passou a residirna cidade de Embu, municípiopróximo da capital, fui lá muitasvezes. Ele fez da cidade pontoturístico, porque levou consigomuitos artistas e o seu TeatroPopular Brasileiro.

Numa das vezes em que ovisitei encontrei-o doente, sofrendoum reumatismo infeccioso, queprogredia rapidamente. E ele nãopodia melhorar porque não largavamão da sua cachacinha. Não eraalcoó latra. Apenas tinha porcompanhia aquela pinguinha, quetomava com parcimônia.

Estava proibido de beber. Poisnessa visita segredou-me:

- Caio, leve-me até o bar daesquina.

- Você está proibido de beber,Solano.

- Só uma. Disfarça.

O grupo teatral ensaiava emgrande área vizinha à sua casa.Saímos de mansinho. Foi grande omeu espanto: ele mal podia andar,as pernas duras. Amparava-se aomeu braço.

Tomou a pinga, voltou eagradeceu com uma piscada deolho.

Poucos anos antes, quando ogolpe militar estava por acontecer,assistimos do alto do 13º andar dasede da UBE, um grupo de“senhoras marchadeiras” que sedirigia à Praça da República paramais um comício contra o governo

de João Goulart. Ele apontou-meescandalizado:

- Veja, Caio, veja aquele coitado.Na rabeira das perfumadas

senhoras, lá ia um pobre homem,esfarrapado, imundo, com umabandeirinha brasileira na mão,fazendo coro com as madamas.Solano não se conformou. Correu àbiblioteca, que utilizava comoescritório, escreveu a lápis algumacoisa num papel, voltou e meentregou:

- Tome. Este é o retrato daquelepobre tolo. Leia. Fique com ele.

Li. Um pequeno poemaantológico, saído de repente da suarevolta de socialista histórico diantedo que assistia:

João

Que merda é a vida do João!Não tem o que comer,Não tem o que calçar,Não tem o que vestir,Não tem onde dormir,Não tem com quem amar- E é anticomunista . . .

Mostrei o poemeto a todomundo e passei a cópia dele a suafilha Raquel, bela artista plástica.Guardei o original comigo em algumlugar. Nunca mais o encontrei. Estáem alguma pasta do meu arquivo.

Onde, meu Deus?

Caio Porfírio Carneiro divulgação

Solano Trindade

Página 4 - dezembro de 2014

Ronaldo Cagiano

Camiseta 25anos LV

criada por XavierR$ 50,00

Inclusas taxas PAC - correio

[email protected]

Muito se fala na ousadia, naversatilidade ou mesmo na

subversão e outras práxisvanguardistas com que muitos au-tores contemporâneos vêm se des-tacando, seja no Brasil ou no exteri-or, como se da literatura a qualida-de fosse aferida tão-somente pelosarroubos formais e outros recursosimpactantes. No entanto, uma ver-dadeira literatura impõe antes pelalinguagem e pela narrativa, do quepor quaisquer artifícios de sedução,seja na prosa ou na poesia.

Escrever é, acima de tudo, sa-ber contar uma história, ainda queabordando o corriqueiro e o banalda vida quotidiana, porém semcontorcionismos, mas com a neces-sária sutileza com que um autortematiza situações e ocorrências,muitas vezes pela possibilidade devoltar a temas recorrentes, semrequentá-los, mas com novos olha-res ou miradas críticas.

Dentro dessa perspectiva situoo livro “Violeta velha e outras flores”(Ed. Patuá, SP, 2014, 168 pgs), deMatheus Arcaro, jovem escritor deRibeirão Preto, que estreia com umvolume de 22 narrativas (algumaspremiadas em concursos), que ates-ta a maturidade, o talento e apluralidade de sua oficina ficcional.

A epígrafe nietszchiana queabre o livro (“A vida só se justificacomo fenômeno estético”) sinaliza osentimento do mundo que acompa-nha o autor, ao realizar uma leituraexistencial a partir dos pequenos dra-mas, acontecimentos e dilemas hu-manos. Entremeando suas históri-as, a sutileza da linguagem se reve-la também por um cristalino vocabu-lário e pela intensidade poética comque descreve as re(l)ações e abor-da a psicologia de seus persona-gens, que, muitas vezesprotagonizam situações-limite. É ocaso do conto que dá título à obra,em que o exercício estilístico se des-taca e suaviza a trama, além do que,noutros textos, seu percursopolifônico vai se revelando sem ca-muflagens, assim como um trânsitorítmico e melódico pelas imagens esentidos, capturados a partir de umamirada sutil sobre a realidade que ocircunda.

Esse volume de contos – e nun-ca é demais repetir o extremo rigorartístico e editorial das publicaçõesda Ed. Patuá – harmoniza forma e

A humanidade e poesiadas histórias comuns

conteúdo, sobres-saindo constru-ções de rara pro-jeção metafórica eprofundo sentidosemântico, colo-cando o autor nalinha de frente daprosa poét ica,algo raro entre os escritores contem-porâneos. A prosa de Arcaro se en-riquece também pelo bem dosadotom reflexivo, pela pulsão filosóficae pelo diálogo – é rara entre os jo-vens escritores essa ponte com ou-tras realidades estéticas – com ou-tras linguagens e autores, o que con-solida seu trabalho como fruto nãoapenas de sua habilidade criativa efabulatória, ma também pelo seu his-tórico de leituras, sua alusão a au-tores de variado matiz (como em “Afúria e o som”). Eis uma permanentee salutar interseção com outras at-mosferas culturais, pela intensa ex-pressão de uma palavra que bebeunoutras fontes e busca sempre umasimbiose entre o clássico e o con-temporâneo, entre a erudição e asformas populares de construção dodiscurso literário.

São textos de potência comuni-cativa, com um alto nível de sofisti-cação, mas sem exacerbações oufalso verniz intelectual. Uma prosapermeada pela delicadeza de umaviagem íntima aos universos do tem-po, da memória, das relações domés-ticas, e do dia-a-dia, com seus pa-radoxos e possibilidades. Enfim, son-dando em suas raízes afetivas, his-tóricas e geográficas, o autor reali-za uma cartografia do que é real-mente essencial e profundo nos es-caninhos da vida individual e coleti-va, capturando dos episódios domundo sua parcela de espanto etambém seus laços realismo e hu-manidade.

Estamos diante de uma nova epujante voz, um autor para se pres-tar atenção, pois em meio ao cipoalde contradições que marcam a lite-ratura brasileira contemporânea, tãoafetada pelo incensamento à medi-ocridade e ao lixo literário que vice-ja por aí, sua obra se peculiariza poruma rara qualidade artesanal. Comoassegura Menalton Braff na apre-sentação, “Matheus Arcaro nasceadulto.”

Ronaldo Cagiano é escritormineiro de Cataguases,reside em São Paulo.

Em repousopássaro recolhidosob as asas

Aguarda a vertigem do sonhovooentre duas tardes exaustasde um domingoEnrolado num silêncio úmido

Depoisalgumas pancadasde chuvaSúbito sol brilhapoças deáguae ele se ergue

Para olhar uma cor do arco-íris

ENTARDECER

para Massao Ohno Um pinheirinho fosseao pé da estrebaria,e minha essência exalariaa incensar a manjedoura,berço do Deus-menino.

Fosse eu a ovelhinhana simplicidade da cena,e radiante, a lã ofertariapara Maria envolvero corpinho sagrado.

Um jumento, pato,galo, galinha, um porquinho,água do poço, lago, a ponte,com certeza, eu exultariapor tão alta honraria.

Ouro, incenso e mirra...A Estrela? Essa, eu não seria;pois a única credencialveio do Trono da Graça,diretamente do “Pai”.

Natal de 2014

CENA DE NATALDébora Novaes de Castro

Débora Novaes de Castro émembro da Academia Cristã de

Letras, da Academia PaulistaEvangélica de Letras e associadada União Brasileira de Escritores,entre outras instituições culturais.

Eunice Arruda

Massao Ono

Eunice Arruda é escritora, poeta epós-graduada em Comunicação e

Semiótica pela PUC-SP.

divulgação

Revisão - Aulas Particulares - Digitação

Profa. Sonia Adal da Costa

Tel.: (11) 2796-5716 - [email protected]

Página 5 - dezembro de 2014

Poemas: II Antologia - 2008 - CANTO DO POETA

Trovas: II Antologia - 2008 - ESPIRAL DE TROVAS

Haicais: II Antologia - 2008 - HAICAIS AO SOL

Débora Novaes de Castro

Opções de compra: Livraria virtual TodaCultura: www.todacultura.com.brvia telefax: (11)5031-5463 - E-mail:[email protected] - Correio:

Rua Ática, 119 - ap. 122 - São Paulo - SP - Cep 04634-040.

Poemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL - MOMENTOS- CATAVENTO - SINFONIA DO INFINITO –

COLETÂNEA PRIMAVERA - AMARELINHA - MARES AFORA...

Antologias:

Haicais: SOPRAR DAS AREIAS - ALJÒFARES - SEMENTES -CHÃO DE PITANGAS -100 HAICAIS BRASILEIROS

Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO

Os quilômetros que separam geograficamente a Paraíba do Estado

de Minas Gerais não são suficien-tes para que poeticamente sejamuma subjetividade na inexistência dedistância.

A poesia nos proporciona omisto de loucura, filosofia e outrasconsiderações. Principalmentequando a poesia é a responsávelpela inexistência de quilômetrosentre os dois Estados, quando sa-bemos que geograficamente estatese materialmente é impossível.

Como iniciar um absurdo quan-do temos um poeta que vive nasruas do Brasil, principalmente emBelo Horizonte, que se mantém ex-clusivamente da publicação e ven-da dos seus livros publicados. Ade-mais não é qualquer venda, quandoesta ocorre de porta em porta diari-amente, propiciando que o poeta aovender seus livros venha prover oseu sustento e da sua família.

Uma peculiaridade há de serregistrada porque não se trata denenhum poeta com contrato milio-nário com alguma Editora. Trata-se,sim, de um poeta que custeia seuslivros e os vende nas longas cami-nhadas diárias pela Cidade de BeloHorizonte, principalmente, por sersua cidade natal.

Como se não bastasse essafaçanha é um produtor cultural querealiza os encontros literários doBelo Poético. Sim! Estamos falan-do do incansável ROGÉRIO SAL-GADO que tive a honra de conhe-

Poesia mineira em praça paraibanacer e assim firmar participação re-cíproca em nossas atividades cul-turais.

As participações com inter-câmbios culturais entre Belo Hori-zonte e João Pessoa, as Capitaisdos respectivos Estados, foram res-ponsáveis pelo conhecimento doProjeto de Rogério Salgadointitulado Poesia na Praça Sete quefoi por ele idealizado e realizado naPraça Sete de Belo Horizonte/MG.

Das ações culturais desenvol-vidas por Rogério Salgado, não po-dendo deixar de mencionar a cola-boração ímpar e incondicional deVirgilene Araújo, sua esposa, tam-bém poetisa, há de se considerar eproporcionar um destaque para aPoesia na Praça porque “se a pra-ça é do povo” o que se dizer da po-esia como instrumento de liberda-de, união e inclusão.

Poesia na Praça Sete é a co-roação desse poeta que só emtransformar a Praça Sete em umapoesia viva o credencia à Imortali-dade.

Não se trata apenas de levar li-vros de poesia ou ler poesia na Pra-ça, porque esta ação é desenvolvi-da há muito por muitas pessoas.Mas, extrair dos que passam pelaPraça a poesia que habita em cadaum, inclusive naqueles que não pos-suem habitação e que a Praça é suapoesia de vida, é o que faz toda adiferença.

As pedras da Praça são molesna alma e coração de quem por elatransitam e conseguem resgatar aalma humana em sua essência, tra-zendo o ébrio ao sonho da lucidez;o idoso ao sonho do primeiro amor;

o dependente ao so-nho da cidadania; acriança ao sonho dodesafio; o apaixona-do ao sonho da de-claração; o poeta aosonho da existência;entre outros.

Esta experiên-cia única noscondicionou a reali-zar a mesma faça-nha na Cidade deJoão Pessoa/PBdurante o Encontrodas Academias deLetras e Artes doNordeste Brasileiro,onde a Poesia naPraça Dom Adauto(conhecida como aPraça do Palácio doBispo) fosse avivência poética ge-ográfica desta con-cepção de dignificare valorizar a Poesia.Não de quem escre-ve, mas de quem atem escondida e quea carregar trancada na alma e a li-berta naquele minuto de loucura emque “erradamente” estava passan-do pela Praça e foi tomado pelo aga-salho do projeto.

O Poeta e ativista cultural Ro-gério Salgado anuncia sua despe-dida das Praças, não da poesia.Que seja ele tomado por um minu-to de loucura e que ao estar “erra-damente” passando por uma Pra-ça seja tomado pela poesia emmanifesto de inclusão e que assimvenha nos brindar com novos so-

Ricardo Bezerra é escritor, poeta,advogado e membro do Instituto

Histórico e Geográfico Paraibano,da Academia de Letras e Artes do

Nordeste Brasileiro - Núcleo daParaíba, da Academia Paraibana

de Poesia e da AcademiaParaibana de Letras Jurídicas.

divulgação

Rogério Salgado

Ricardo Bezzerra

nhos que só a poesia pode nos pro-porcionar.

Homenagem ao Poeta RogérioSalgado pela poesia viva e inclusi-va que deixou nas Praças de BeloHorizonte e João Pessoa.

Página 6 - dezembro de 2014

Após estudos acerca de Carapicuíba, Cotia,Vargem Grande Paulista, Ibiúna e Caucaia do Alto, oescritor João Barcellos debruçou-se sobre a GranjaVianna, uma região na área urbana de Cotia que cha-ma a atenção pela história própria desde o Portinho[fluvial] de Carapicuíba à engenhosidade urbanade Niso Vianna...

No meio de tais estudos está Afonso Sardinha- o Velho [Portugal, Séc. 16 – Pico do Jaraguá / Brasil,1614], o poderoso vereador da Câmara paulista, se-nhor de navio negreiro, de minas de ouro e prata[Jaraguá e Araçariguama] e ferro [Araçoiaba], dono deYbitátá [Butantã], Pico do Jaraguá e Carapocuyba, etc.e etc., personagem estudado por João Barcellos durante cerca de 30anos e que, para a história de Granja Vianna tem tudo a ver, porque oterritório granjeiro nasceu das terras carapicuibanas inseridas nasesmaria do ́ velho´ Sardinha. Pela importância e aferição historiográfica,o autor anexou ao livro o ensaio Gente de Serr´Acima, no qual porme-noriza a colonização gizada na linha luso-católica.

Eis a história granjeira que João Barcellos fixa, agora, no livroque revela, ainda, a importância da região no desenvolvimentosocioeconômico e industrial da municipalidade de Cotia e da Grande SãoPaulo.

Centro de Estudos do Humanismo Crítico [Portugal & América Latina] -TerraNova Comunic & Ed Edicon

Contatos c/ escritor: [email protected]

(Cenas na cidade)

É manhã de junho, com algum frio.Espero o meu voo, sentado num dos bancos.Movimentação intensa. Pessoas, pra lá e pra cá.Mulheres dominam.Haja olhos para a performance da encantadora espécie.Tanto detalhe na discrepância da escolha: são os modelos, as cores,

as etiquetas, os modismos, - para exibição e gostos variados.Observo, numa sucessão de momentos.Lá vem o exagerado capote de pele, agasalhando a empertigada velha.

Às pressas, a mãe segura a menina que puxa a boneca metida numarrastado carrinho. Enrolado no espantado colorido de um cachecol,aparece o assanhado gay. Equilibrando-se nos sapatos com saltospontiagudos, passa a adolescente, visando ser moça. Variedade na feiturae desenho das botas. Também, a mulher, já madura, com o aberto decotepara mostrar os seliconados seios. Alguns, ousada presença, noenfrentamento com a idade das donas. No meio dos transeuntes comsuas malas, avisto um casal, cuja mulher conseguiu meter o corpo nasapertadas vestes. Ao seu lado, um arcado velho, cabeleira pintada. Seesposo ou progenitor, não sei.

Em cada mulher, vejo o jeito ou a postura. Passando por mim, nãome escapam o tamanho e a forma das corpóreas partes. Confesso:tais características, anatomicamente femininas, assumem umavariedade que me estimula comparações...

Ligado na passarela, por momento, mudei meus olhos daquelascenas.

Levei um susto com a presença de um grande e exposto relógio.Saí correndo, para não perder o voo.

Manhã de sábado primaveril.Há um silêncio profundo inun-

dando este recanto tatuiense que re-cebeu na pia batismal o belo nomede “Colina das Estrelas”... Um silên-cio tão profundo que nos permiteouvir, com o bulício do vento, o mur-múrio das flores desabrochando.

Vou caminhando sem pressa,pisando o asfalto de suas ruas lar-gas; vou lendo nas placas de cadaesquina o nome de professores eprofessoras que identificam essasalamedas encantadoras.

Não conheço homenagem maisfeliz. Tenho certeza absoluta que taismestres e mestras continuam nosensinando na quietude de cada salade aula da imensa escola sideral,com a mesma paciência e perseve-rança de antigamente, quandomourejavam aqui na terra.

Vou caminhando sem parar,perambulando pelas sombras dosarvoredos, e ouço na frondosa copadas sibipirunas a maviosa sinfoniados coleirinhas e tico-ticos; lá maisdistante, destaca-se o canto monó-tono de um anu solitário e a alga-zarra dos indiscretos bem-te-vís; derepente, ao ingressar na avenida,uma surpresa chega ao meu ouvi-do: os galos intrometem-se na sin-fonia com a estridência de seus can-

NO AEROPORTOEdson Freire

Edson Freire é escritor, cronista, advogado, poeta e professor.

GRANJA VIANNA - O Livro

Raymundo Farias de Oliveira

O MURMÚRIO DAS FLOREStos milenares e vão cantando, umaqui, outro ali, outro acolá, num diá-logo sem pausa. Sempre se comu-nicaram assim, mesmo antes do ce-lular.

Minha caminhada vai chegan-do ao fim. Uma pomba, “pombinhado ar”, como diziam meus amigos deinfância, alça voo pertinho de mim.Assustadinha, talvez tenha ido cha-mar os quero-queros que hoje seatrasaram ou viajaram, pois o cam-po de futebol está vazio.

Agora, as andorinhas velozesrecortam o espaço em voos elegan-tes e vão pousar na antena espeta-da na cumeeira da casa do meu vizi-nho. Cheguei, finalmente, a minhavaranda.

Vou esperar o entardecer. De-bruçar-me na janela do mistério econtemplar o por-do-sol. Aquele solvermelho, moeda incandescente, es-condendo-se, vagarosamente, nafímbria do horizonte, lá no céu deTatuí.

Depois, serei um sonhador mi-rando a cidade a luzir na imensa cor-tina da escuridão e então dormireitranquilo, sono de menino, ouvindo,santamente, o inefável murmúriodas flores.

Raymundo Farias de Oliveira éescritor, poeta e Procurador do

Estado aposentado.

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Página 7 - dezembro de 2014

Livros“O Brasil é a terra da bola, com safras únicas de talentos”. (Mino Carta)

Ela é o centro dos esportes mais popularesTem a forma de esfera e viaja nas mais diversas direçõesÉ tocada com as mãos, os pés e a cabeçaE beijada ardentemente como símbolo de fidelidadeFaz no gol ou no lance vitorioso o delírio das multidõesComo não tem comando próprioRealiza os mais contraditórios movimentosPara o perdedor ela sinaliza tristezaMas vitória e derrota integram o seu destino

Seja um drible desconcertante ou chute indefensávelUm saque fulminante, cortada letal ou arremesso primorosoCesta empolgante ou defesa extremamente habilidosaOs entusiastas atletas só a veem, poderosamente soberanaPor isso, é única e insubstituível

É a bola, mãe das grandes competiçõesO instrumento disputado pelos contendoresE o fascínio maior dos jogadoresA razão que impulsiona as mais agitadas torcidasA emoção que sustenta o fanatismo e a descontrolada paixãoEla é redonda como o globo terrestreE é o astro inconfundível do jogo

Há os que a tratam com desvelo e carinhoPreferindo colocá-la com sutilezaExistem os que a tocam com força, gerando impactoMuitos, para alcançá-la, praticam gestos arriscadosDe que decorrem até graves lesõesPredominam, porém, a leveza de estilo e o domínio com segurança e autoridade

Todos acompanham seus menores passosE o juiz a vigia com absoluta concentraçãoPara que o resultado não seja fraudado

Ela tem mística, força e imagem de carisma insuperávelSua maior inspiração emana do imaginário popularQue com ela constrói utopiasAlimenta fantasiasTorna sonhos realidade

O amor à bola é exercido como uma devoção dissimuladaCom ela o esporte ganha vidaA vida ganha arte, beleza e recreaçãoAs crianças descobrem, bem cedo, seus encantos lúdicosOs jovens alcançam, muitas vezes, a meta do sucesso e da glóriaToda a comunidade desperta para a saudável disputaQue os faz esquecer o êxito pelo caminho da violência

A bola é ícone da construção da pazÉ a prova de que a solidariedade é sempre possívelE a certeza de que o esporte é o real mecanismoQue pode assegurar a dignidade do ser humanoÚnico capaz de libertá-lo da intolerância e da beligerância

Seja pequena como a de pingue-pongueOu grande como a de futebolAssuma curvas mais ou menos salientes no espaçoEla encarna o sonho maior do povo brasileiroDe ver no brilho do talento dos seus ídolosArtistas da bola e da criatividadeA antevisão de suas esperançasE da realização de seus projetos de sucesso e felicidade!

BOLA-MÃE

Para Eliseu da S

ilva Trindade

Fernandes Neto

Fernandes Neto é escritor e jornalista.

DOM, de Flora Figueiredo, Editora Novo Sécu-lo, São Paulo, 39 páginas, R$ 34,90. As ilustraçõessão de Priscila Camacho acrescentam cor e vida àobra.

A autora é escritora, jornalista, poeta, cronista,compositora e tradutora.

Primeiro livro infantil de Flora Figueiredo, DOMé um personagem que intriga e aguça a curiosidadeda criança. Quem é ele? Um duende? Um gênio?Um extraterrestre? Um gnomo? Um herói?

DOM está sempre alerta, inquieto, ansioso paraser revelado.

É uma leitura que convida o pequeno leitor ase divertir e a prestar atenção em si mesmo.

Editora Novo Século Criança: [email protected]

Caminhadas e Digressões, de Paulo Veiga,Editora Nelpa, São Paulo, 328 páginas. ISBN: 978-85-8020-422-3.

O autor é escritor, poeta, advogado e Mestreem Ciência Política. Foi laureado com a ComendaPero Vaz de Caminha pelo Instituto Histórico e Cul-tural Pero Vaz de Caminha, entre outros prêmios.

A obra é uma autobiografia onde o autor regis-tra fatos ligados à vida desde a sua caminhada ini-cial até os dias atuais.

Na página 303 é publicada uma carta de quan-do o autor esteve em Madri, em 16 de agosto de1999, enviada à Rosani Abou Adal sobre o proble-ma de sua cachorra Cris. É uma carta-crônica.

Editora Nelpa: www.nelpa.com.br

Acendedor de Poesias, de Valdemar AlvesJúnior, Premius Editora, Fortaleza (CE), 72 páginas.ISBN: 978-85-7564-773-8.

O autor é poeta, cronista, pesquisador,geógrafo e membro da Real Academia de Letrasde Porto Alegre - Ordem da Confraria dos Poetas(RS).

Segundo Silvério da Costa, Acendedor depoesias é um livro de crônicas, de Valdemar Alves,que privilegia temas locais que são afetos, como adescrição de lugares e pessoas que marcaram asua vida, citando e descrevendo, também, figurasexponenciais no mundo das artes com MarilynMonroe, Ernest Hemingway, Alfred Hitchcock,Marlon Brando, Fernando Pessoa, Luiz Gonzaga e tantos outros.

Valdemar Alves Júnior: [email protected]

Vozes de Aço, XVI Antologia Poética de Di-versos Autores, Homenagem in memoriam à poetaMaria Braga Horta, PoeArt Editora, Volta Redonda(RJ), 106 páginas.

ISBN: 978-85-63913-19-7.A obra reúne trabalhos de autores, de vários es-

tados brasileiros, que foram classificados no XVI Con-curso Nacional PoeArt de Literatura 2014. Tambémabriga dados biobibliográficos de Maria Braga Horta.

A organização é de Jean Carlos Gomes que tam-bém faz a apresentação do livro.

PoeArt Editora: [email protected]

Página 8 - dezembro de 2014

Prof. Sonia

Notícias

Indicador Profissional

Ziraldo é o grande homenage-ado da exposição Brasil:Incontáveis linhas, incontáveis his-tórias, um panorama da ilustraçãobrasileira, com curadoria da Funda-ção Nacional do Livro Infantil e Ju-venil e da Fundação Biblioteca Na-cional, que reúne 55 ilustraçõescontemporâneas selecionadas ori-ginalmente para a 51ª Feira do Li-vro para Crianças de Bolonha, naItália, realizada em março de 2014.Também foi agregada à exposiçãoa mostra Roger Melo e seus Jar-dins, promovida pela FNLIJ em co-memoração ao Prêmio HansChristian Andersen - 2014.

Ives Gandra da Silva Martinslançou Poesia completa, pela Livra-ria Resistência Cultural Editora,com prefácio de Paulo Bomfim eapresentação do pianista e maes-tro João Carlos Martins – irmão doPoeta. A edição e Organização sãode José Lorêdo Filho, a capa e ilus-trações de Caroline Rêgo.

Aldravilhando, projeto da Es-cola Pública de Santa Bárbara(MG), em parceria com o projetoPoesia Viva - a poesia bate à suaporta, é f inalista do PrêmioVivaLeitura 2014! MEC-MINC. A es-cola pública é referência em Leitu-ra e acesso aos livros, incentivan-do pais a lerem e produzirem suaspoesias. Os vencedores do PrêmioVivaLeitura serão divulgados no dia16 dezembro, no Salão Nobre doCongresso Nacional, em Brasília.

Professor Dr. José Benedi-to Donadon Leal foi empossado,no dia 15 de dezembro, como Dire-tor do Instituto de Ciências SociaisAplicadas - UFOP (cursos - Admi-nistração, Ciências Econômicas,Jornalismo, Serviço Social), deMariana (MG), biênio 2014-2018.

A Loucura Mansa de JoséMindlin, coletânea de textos, ela-borada por Cristina Antunes e NádiaBatella Gotlib, foi lançada pelaEdusp. O livro acompanha um DVDcom um documentário em home-nagem ao bibliófilo.

Antonio Fernando Costellaministrou a palestra Comunicaçãodo Grito ao Satélite, no dia 12 dedezembro no Centro de IntegraçãoEmpresa Escola, com apoio da Aca-demia Paulista de História.

Geraldo Holanda Cavalcanti,poeta, ensaísta, tradutor e crítico li-terário pernambucano, foi reeleitopresidente da Academia Brasileirade Letras para o exercício de 2015.A posse será realizada no dia 18 dedezembro. Também serãoempossados o secretário-geralDomício Proença Filho, o primei-ro-secretário Antonio CarlosSecchin, o segundo-secretárioMerval Pereira e a tesoureiraRosiska Darcy de Oliveira. 

Ana Cristina Wanzeler, minis-tra interina da Cultura, divulgou nodia 9 de dezembro a lista dos 48escritores que representarão o Bra-sil no 35º Salão do Livro de Paris2015. Ana Maria Machado, NélidaPinõn e Antônio Torres são os aca-dêmicos da Academia Brasileira deLetras que fazem parte desta lista.

Xavier está coma caricatura do SilvioSantos exposta naexposição 84 VezesSilvio Santos, queacontece na EstaçãoRepública do Metrôaté o dia 31 de de-zembro. Em janeiro,as caricaturas serãoexpostas na EstaçãoClínicas e, em março,seguirá para a Esta-ção Corinthians/Itaquera.

Jiro Takahashiministrará o curso Gestão de umapequena editora, de 19 a 22 de ja-neiro, das 18h às 21 horas, na Uni-versidade do Livro, em São Paulo.http://bit.ly/1wjzNgX

Fabio José Rodrigues Lopesassumirá, no dia 1 de janeiro, a ge-rência do Sesc Piracicaba. Elesubstituirá o cargo ocupado porJosé Roberto Ramos, que assumi-rá o mesmo cargo na nova unidadedo Sesc Jundiaí.

Prêmio Professores do Bra-sil, 14ª edição, concedido pelo Mi-nistério da Educação, premia pro-fessores das redes públicas de en-sino que contribuíram para amelhoria da qualidade da EducaçãoBásica. O Prêmio tem apoio daAbrelivros, da Fundação SM e deórgãos ligados à Educação.

Marcos da VeigaPereira é o novo presiden-te do Sindicato Nacionaldos Editores de Livros.

A Coluna da Morte,Editora Unesp, apresenta,na íntegra, o relato clássi-co de João Cabanas(1895-1974) da sangrentaRevolução de 1924, ocor-rida na cidade de SãoPaulo entre 5 e 28 de ju-lho, que deixou um rastrode destruição e morte.

Encontro com Poe-mas Japoneses, exposi-ção que abriga poemashaiku, tanka, senryu e shi em lín-gua japonesa acompanhados detradução em português e poemashaicai em português acompanha-dos de versão em língua japonesa,será realizada até o dia 21 de de-zembro, das 13h30 às 17h30, no

Museu Histórico da Imi-gração Japonesa no Bra-sil, Rua São Joaquim,381, em São Paulo. Namodalidade haicai em lín-gua portuguesa, estarãoexpostos os trabalhos demembros dos principaisgrêmios, atualmente ati-vos no Brasil: Águas deMarço, do Rio de Janeiro;Sabiá, de Magé; Caminhodas Águas, de Santos;Chão dos Pinheirais, deIrati; Ipê, de São Paulo,além de poetas convida-

dos pelos organizadores.Lídia Jorge foi laureada com

o Prémio Luso-Espanhol de ArteCultura 2014, atribuído pelo Minis-tério da Cultura de Espanha e pelaSecretaria de Estado da Cultura dePortugal.

Ferreira Gullar,eleito no dia 9 de ou-tubro, tomou possepara ocupar a Cadei-ra nº 37 da AcademiaBrasileira de Letras,em sessão solene re-alizada no dia 5 de de-zembro. A vaga foiocupada pelo acadê-mico, poeta e tradutorIvan Junqueira que fa-leceu em 3 de julhodeste ano.

Flávia Savarylançou A Roupa Novado Arco-da-Velha,

com Ilustrações de Jaguar, pela Edi-tora Cidade Nova.

Mario Vargas Llosa, laureadocom o Prêmio Nobel de Literaturade 2010, foi eleito para ocupar a Ca-deira nº 12 do Quadro dos SóciosCorrespondentes da Academia Bra-sileira de Letras. A vaga foi ocupa-da pelo professor de língua portu-guesa e literatura na Universidadedo Texas Fred P. Ellison, em Austin,falecido no dia 4 de outubro. 

Celso Alencar lançou O Co-ração dos Outros no Espaço PlínioMarcos.

Maria Carpi lançou O perdãoimperdoável, poemas, pela EditoraBertrand Brasil.

Viva Vaia – Poesia 1949-1979,de Augusto de Campos, foi lançadapela Ateliê Editorial.

Cássia Janeiro foi laureadacom o Prêmio Mundial de PoesiaNósside. É a primeira brasileira avencer o prêmio. Foi vencedora ab-soluta da 30ª edição do concursoconsiderado o Oscar da poesia. Asessão solene de entrega da láureafoi realizada no dia 28 de novem-bro, em Reggio Calabria, na Itália.

divulgação

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Ziraldo

Ferreira Gullar

Silvio Santos

Xavier