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O que é o Inovar?

O Projeto INOVAR é um sistema pedagógico participativo einterativo de formação continuada, em serviço, que tem por objetivos:

� Qualificar os extensionistas da EMATER–MG para atuarem noprocesso de desenvolvimento sustentável, por meio da construçãocoletiva de conceitos, da socialização dos conhecimentos e da suaincorporação planejada na ação extensionista.

� Buscar a prática da gestão participativa na Empresa e na açãoextensionista.

� Contribuir para o planejamento e para a comunicação interna.

O Inovar utiliza uma metodologia diferenciada para atingir todosos funcionários da Empresa. O uso de mídias diversas (vídeoorientador, dicionário e site), as reuniões para discussão (emnúcleos) e a divisão de cada tema em três componentes (conceitual,diagnóstico e planejamento) visam criar uma interação entre todosos participantes, com o propósito de construção e de melhoriacontínuas.

Como sistema, o Inovar é dinâmico, iniciando com uma reflexãocom base em vídeos e dicionários, promovendo o debate entre aspessoas e criando, via instrumentos de comunicação, fóruns para atroca de idéias e conceitos. O ciclo se completa ao transformar idéiase intenções em propostas de ações que, gradativamente, irãotransformar a ação extensionista e a gestão interna.

INSTITUCIONALEMATER-MG

Presidente da EMATER-MGJosé Silva Soares

Diretor Administrativo e FinanceiroVicente José Gamarano

Diretor de Promoção e Articulação InstitucionalFernando José Aguiar Mendes

Diretor TécnicoMarcos Antônio Fabri

COORDENADOR DO PROJETOFlávio Antônio

COMISSÃO ESTADUALÁlvaro de Moura GoulartCristina Maria LinharesDario Magno de Miranda MaiaEunice Ferreira SantosFeliciano Nogueira de OliveiraFlávio AntônioIsabel Maria de Morais BrandãoJoão Ricardo AlbanezMarcelo Varella de AlmeidaMaria Helena Martins C. AlvesMaria Helena Pinheiro SoaresMariza Flores Fernandes PeixotoSandra Pereira NascimentoSérgio Glicério MartinsTâmara Magali Marques TemponiWilly Gustavo De La Piedra Mesones

INSTITUTO CULTIVARudá RicciThiago Camargo

KIT 4 - AGROECOLOGIA

� Supervisão TécnicaLeonardo Fernandes Moreira� Colaboração TécnicaFrancisco Roberto Caporal

DICIONÁRIO� Textos – Produção e ApoioAna Paula de Oliveira Mares GuiaAna Luiza Soares TellesAndré César HenriquesEmerson Rodrigues FloresÉrika Regina de Carvalho

Fernando Cassimiro TinocoFrancisco Roberto CaporalJosé Luiz Freitas PaixãoLeonardo Fernandes MoreiraMaria Auxiliadora Tavares CarvalhoMaria da Graça Lima BragançaMaria Neuza de CarvalhoMaurício Roberto FernandesRicardo Luiz Nunes HenriquesRingo Souza BatistaRonaldo da Rocha BragaValdo Berbert CamiloWagner Santos FaniWildes Vilarino Ferreira

� Revisão de TextosLizete Barbosa Guerra DiasRuth Soares Azevedo de Navarro� FotosArquivo Emater-MGMaurício J. de AlmeidaLeonardo Fernandes Moreira� Projeto GráficoMárcia de Almeida Rezende� LogomarcaRoberto Caio

VÍDEO� Direção, Apresentação e EdiçãoMarcelo Varella� ImagensEustáquio TeixeiraRodolfo Machado� Edição de ImagensCylan BretasMarcelo Varella� ArteRoberto Caio

SITE� CriaçãoSamyr Bechelane� ManutençãoMarisa Liliane Vasconcelos

TIRAGEM: 2.000 unidadesANO 2005

Ficha Técnica

Apresentação ........................................................................................... 9

Palavra da Diretoria Técnica ..................................................................... 11

Agroecologia ............................................................................................ 12

Alguns estilos de Agriculturas Alternativas.................................................. 16

Diferenças entre Produção Convencional e Agroecológica ........................ 20

Transição para Agricultura de Base Ecológica ........................................... 24

Agroecologia e Agricultura Familiar ........................................................... 30

Mercado de Produtos Ecológicos .............................................................. 34

Ação Extensionista e Agroecologia ............................................................ 40

Questões para Reflexão ............................................................................ 44

Sumário

Apresentação

José Silva SoaresPresidente

A EMATER–MG tem a satisfação de apresentar aos seus extensionistasmais um kit do Projeto Inovar.

Após a edição de três kits – Desenvolvimento Local Sustentável,Planejamento Participativo e Gestão Social – constatamos a eficiência doprojeto na promoção de um amplo debate sobre a prática extensionista, bemcomo na discussão de conceitos e na consolidação da política de formaçãocontinuada da Empresa.

Neste momento, estamos apresentado o kit 4, cujo tema é Agroecologia.No século XX, a humanidade conviveu com uma agricultura baseada naprodutividade e produção em larga escala. Recentemente, entretanto, asociedade tem procurado modelos de produção que contemplem não só adimensão econômica, mas também a social, ambiental, política e ética.

Neste sentido, o kit Agroecologia complementa as reflexões iniciadas nostrês kits anteriores do Projeto Inovar e consolida a opção da Empresa pelodesenvolvimento rural sustentável.

É importante frisar que, ao levar este tema para reflexão, a Empresa nãoestá sinalizando para a obrigatoriedade de sua aplicação imediata, mesmoporque a Agroecologia não é um fim em si mesma, mas um processo parauma agricultura preocupada com as diversas vertentes da sustentabilidade. Eisso é um processo que não se dá de forma imediata.

O importante, no momento, é todos se conscientizarem da necessidade dese caminhar para a proposta de desenvolvimento sustentável, contida na missãoda Empresa, e com a Política Nacional de ATER.

Boa leitura e bons debates!

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Palavra daDiretoria Técnica

A missão da EMATER–MG é “Promover o desenvolvimento sustentável,por meio da Assistência Técnica e Extensão Rural, assegurando amelhoria da qualidade de vida da sociedade mineira” .

Suas ações devem contribuir para a segurança alimentar e nutricional dapopulação, buscando a produção sustentável de alimentos sadios e de melhorqualidade, com respeito ao meio ambiente, atendendo aos anseios dasociedade.

Como a Agroecologia é uma ciência que busca propiciar a transição paraesta sustentabilidade, entende-se ser muito oportuno tratar deste tema no projetoInovar, estimulando a busca de uma forma de agricultura sustentável, comtecnologias ecologicamente adequadas, que respeitem o meio ambiente e ascondições de vida do homem que a pratica.

Nós certamente seremos co-responsabilizados como técnicos e comocidadãos pela intensidade de nossas ações ou omissões perante o uso denossos recursos naturais.

Estamos utilizando esses recursos com prudência, de modo a não prejudicarnossos vizinhos, os animais, as plantas e deixar o patrimônio em bom estadopara as gerações futuras? Sempre é hora de parar e refletir como queremosque a nossa agricultura e nossa vida seja daqui a 2, 10 , 50, 100 anos...

Que todos façam uma boa reflexão!

Marcos Antônio FabriDiretor Técnico

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vulgarização do uso da expressão agro + ecologia temlevado muitas pessoas a confundir Agroecologia comum tipo de agricultura, o que significa um reducionismo

com respeito à potencialidade que possui o enfoqueagroecológico para o desenho de agriculturas sustentáveis enovas estratégias do desenvolvimento rural. Por esta razão, éimportante reafirmar os conceitos de Agroecologia como matrizdisciplinar ou como uma nova ciência multidisciplinar, cujacomplexidade determina a existência de diversas basesconceituais, quando se busca definir o que é a Agroecologia .

Como afirma Guzmán Casado et al., (2000), a “Agroecologiaé um enfoque científico que reúne vários campos doconhecimento, incorporando reflexões teóricas e avançoscientíficos de distintas disciplinas”. Deste modo, desde umaperspectiva mais agronômica, a Agroecologia poderia serdefinida como sendo a “aplicação dos princípios e conceitos daEcologia no manejo e desenho de agroecossistemassustentáveis (Gliessman, 2000) ou, como diz Altieri (1989), “aAgroecologia permite o estudo das atividades agrícolas sobuma perspectiva ecológica”.

Entretanto tanto Altieri como Gliessman, que são seguramenteos dois ícones da pesquisa e do ensino neste campo deconhecimento, ampliam seus conceitos de Agroecologia ,fugindo da estreiteza do pensamento cartesiano, ao proporema incorporação de aspectos socioculturais e econômicos. Porexemplo, segundo Altieri (1989), “a Agroecologia é uma ciênciaque fornece os princípios ecológicos básicos para estudar,desenhar e manejar agroecossistemas produtivos, queconservem os recursos naturais, que sejam culturalmenteapropriados, socialmente justos e economicamente viáveis”. Deigual forma, de acordo com Hecht (1989), “a Agroecologiarepresenta uma forma de abordar a agricultura que incorporacuidados especiais relativos ao ambiente aos problemas sociaise à sustentabilidade ecológica do sistema de produção”.

Para sintetizar, podemos dizer que a Agroecologia é umenfoque científico que oferece os princípios e as metodologiaspara apoiar a transição do atual modelo de desenvolvimentorural e de agricultura convencionais para estilos dedesenvolvimento rural e de agricultura sustentáveis, buscando,

Francisco Roberto Caporal (*)

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(*) Engenheiro Agrônomo, Mestre em ExtensãoRural (CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de“Agroecología, Campesinado e Historia” (Universidadde Córdoba – España) e Extensionista Rural daEMATER–RS-ASCAR. Brasília,. E-mail:[email protected]

Folder sobre Agroecologia do Ministério doDesenvolvimento Agrário -MDA

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num horizonte temporal, a construção denovos saberes socioambientais quealimentem um processo de transiçãoagroecológica.

Esta transição da agricultura conven-cional para agriculturas sustentáveis ocorremediante um processo gradual demudanças, nas formas de manejo dosagroecossistemas, num processo que serácontínuo e multilinear, no qual vão sendoapropriados e incorporados novos princí-pios, métodos, práticas e tecnologias, quelevem à construção de agriculturas de baseecológica e ao redesenho dos agroecos-sistemas, para assegurar patamares maisadequados de sustentabilidade em todasas suas dimensões (Caporal; Costabeber,2004a). Gliessman (2000) sugere trêsníveis da transição (ver o verbete sobreTransição ). Não obstante, na práticacotidiana podemos encontrar situaçõesmuito diferenciadas, inclusive em relaçãoa especificidades étnicas, sociais, degênero, de raça, econômicas, etc., presen-tes em uma certa realidade, o que podelevar à necessidade de relativizar certoscaminhos e adotar rumos mais apropriadospara esta situação real, sem perder de vistaque o caminho deve levar à construção deagriculturas sustentáveis.

Neste sentido, o professor SevillaGuzmán nos apresenta um conceitoampliado e bastante coerente com aperspectiva do desenvolvimento ruralsustentável, ao afirmar que a Agroe-cologia oferece as bases teóricas emetodológicas para que se avance nosentido do “manejo ecológico dos recursosnaturais”, promovendo “a gestão ecológicados sistemas biológicos.” Para SevillaGuzmán, o potencial da Agroecologiaestá, também, em permitir uma melhoranálise e entendimento sobre a realidade,adotando um enfoque holístico e uma abor-dagem sistêmica sobre os agroecos-sistemas e sobre o potencial endógeno dadimensão local, especialmente os saberes

e sistemas do conhecimento presentes eatuantes nas formas de organização e devida dos diferentes grupos sociais.

O acima exposto corrobora a idéia deque a Agroecologia não é um tipo deagricultura alternativa, ao mesmo tempo emque destaca a complexidade dos processossocioculturais, econômicos e ecológicosque precisam ser enfrentados na dinâmicada transição agroecológica, que, muitasvezes, fogem do âmbito estrito das práticasagrícolas. Assim, a conceituação deAgroecologia , resumida neste texto,permite afastar a confusão entre aAgroecologia como enfoque científico e asdiferentes agriculturas alternativas(Orgânica, Ecológica, Permacultura, Bioló-gica, Natural, Biodinâmica, etc.).

Traduzindo esta visão mais teórica eaproximando estes conceitos de formas deoperacionalização na prática, pode-sedizer que algumas premissas devem serobservadas quando se trabalha a partir doenfoque agroecológico, por exemplo:

� Atender a requisitos sociais: preser-vando e qualificando as relações entre ossujeitos e buscando melhores condições devida e de bem-estar requeridos numcontexto.

� Considerar aspectos culturais:resgatando e respeitando saberes, conhe-cimentos e valores dos diferentes grupossociais, que serão analisados, compre-endidos e utilizados como ponto de partidapara o desenvolvimento local.

� Cuidar do meio ambiente: preservandoos recursos naturais ao longo do tempo,com a manutenção ou ampliação dabiodiversidade, melhorando a reciclagemde materiais e energia dentro dosagroecossistemas.

� Apoiar o fortalecimento de formasassociativas e de ação coletiva: promo-

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� ALTIERI, M. A. ¿Por qué estudiarla agricultura tradicional? . In:GONZÁLEZ ALCANTUD, J. A.,GONZÁLEZ DE MOLINA, M. (ed.). Latierra: mitos, ritos y realidades.Barcelona: Anthopos, 1992. p.332-350.

� ALTIERI, M. A. Agroecologia: adinâmica produtiva da agriculturasustentável . 3.ed. Porto Alegre: Editorada Universidade – UFRGS, 2001. (SínteseUniversitária, 54).

� ALTIERI, M. A. Agroecologia: asbases científicas da agriculturaalternativa . Rio de Janeiro: PTA/FASE,1989.

� CAPORAL, F. R., COSTABEBER,J. A. Agroecologia e desenvolvimento ruralsustentável: perspectivas para uma novaextensão rural. In: Agroecologia eDesenvolvimento Rural Sustentável ,v.1, n.1, p.16-37, jan/mar 2000.

� CAPORAL, F. R. e COSTABEBER,J. A. Agroecologia e extensão rural :contribuições para a promoção dodesenvolvimento rural sustentável.Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA. 2004a.

� CAPORAL, F. R. e COSTABEBER,J. A. Agroecologia: alguns conceitose princípios . Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA. 2004b.

� GLIESSMAN, S. R. Agroecologia :processos ecológicos em agriculturasustentável . Porto Alegre: Editora daUniversidade – UFRGS, 2000.

� GUZMÁN CASADO, G., GONZÁLEZDE MOLINA, M., SEVILLA GUZMÁN, E.(coord) Introducción a la Agroecologíacomo desarrollo rural sostenible .Madrid: Ediciones Mundi-Prensa, 2000.

� HECHT, S. B. A evolução dopensamento agroecológico. in: ALTIERI,M. A. Agroecologia: as basescientíficas da agricultura alternativa .Rio de Janeiro: PTA/FASE, 1989

� SEVILLA GUZMÁN, E. , WOODGATE,G. Desarrollo Rural Sostenible: de laagricultura industrial a la Agroecología. en:REDCLIFT, M. y WOODGATE, G.Sociología del Medio Ambiente: unaperspectiva internacional . Madrid: McGraw Hill, 2002. pp.77-96.

vendo a participação efetiva, possibilitandoo maior empoderamento dos atoressociais, estimulando a autogestão.

� Contribuir para a obtenção de resul-tados econômicos: observando o ponto deequilíbrio entre a produção e preservaçãoda base de recursos naturais.

� Atender a requisitos éticos: compro-misso com uma sociedade mais justa,pautada por relações igualitárias e frater-nas. Observando que a busca de sustenta-bilidade implica uma necessária solidarie-dade entre as gerações atuais e destascom as futuras gerações.

Portanto, com a contribuição da Agroe-cologia , o que se busca é a construção deagriculturas sustentáveis, isto é, estilos deagricultura que “reconhecem a naturezasistêmica da produção de alimentos,forragens e fibras, equilibrando, comeqüidade, aspectos relacionados com asaúde ambiental, a justiça social e aviabilidade econômica, entre os diferentessetores da população, incluindo distintospovos e diferentes gerações” (Gliessman,2000), ou seja, estilos de agriculturacapazes de preservar a base de recursosnaturais necessária para que as atuais eas futuras gerações possam se reproduzirsocial e economicamente e, ao mesmotempo, produzir alimentos sadios e demelhor qualidade biológica.

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Maria Auxiliadora Tavares Carvalho(*)

xistem vários estilos de agriculturas alternativas (aquelasque não se identificam com os objetivos puramenteeconômicos da agricultura convencional) que seguem

diferentes crenças, filosofias, orientações teóricas, práticas e tecnologiase que não necessariamente seguem todos os princípios daAgroecologia. Os mais conhecidos, segundo COSTABEBER (2004),são:

Originou-se em 1924 na Alemanha, baseada na Antroposofia, ciênciaespiritual proposta pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner. Entende apropriedade como um organismo agrícola, no qual o todo reflete oequilíbrio das partes, trabalhando as relações existentes entre o solo, aplanta, o animal, o homem, o universo e as energias que envolvem einfluenciam cada um e o todo. Utilizam calendário astrológico epreparados biodinâmicos à base de esterco, silício e extratos vegetais.Está presente no Brasil por meio do Instituto de Biodinâmica e InstitutoVerde Vida.

Originou-se na década de 1930 no Japão, com o movimento de caráterfilosófico-religioso da Igreja Messiânica, centrado no empresário MokitiOkada. Preconiza a menor alteração possível nos ecossistemas,evitando-se movimentar o solo, estimulando a reciclagem dos restosculturais e palhadas, por meio da compostagem feita somente à basede vegetais, sem o uso de estercos animais e com a utilização freqüentede “microrganismos eficientes”. Observa valores religiosos e filosóficos-éticos.

Erika Regina de Carvalho (*)Fernando Cassimiro Tinoco (**)

Maria Neuza de Carvalho (***)

AgriculturaBiodinâmica

AgriculturaNatural

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(*) Engenheira Agrônoma, Extensionista Localda EMATER–MG em Sete Lagoas, E-mail:[email protected]

(**) Engenheiro Agrônomo, Coord.TécnicoRegional da EMATER–MG em Sete Lagoas, E-mail:[email protected].

(***) Engenheira Agrônoma, ExtensionistaLocal da EMATER–MG em Andradas, E-mail:[email protected]

Difundiu-se na Austrália nos anos 1970,com Bill Mollison, a partir das idéias deFukuoka (anos 1930), como uma vertenteda Agricultura Natural, porém afastada decaráter religioso. Defende a reprodução deagroecossistemas sustentáveis, por meioda simulação dos ecossistemas naturais,procurando a menor modificação possívelda paisagem.

Permacultura

Sistema Organomineral ou Sem Agrotóxico - produção de café

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AgriculturaEcológica

Originou-se em 1931 na Índia, com oinglês Albert Howard, tendo como base osistema de compostagem com o uso demateriais vegetais e animais da proprie-dade, assegurando a vida biológica dosolo, a ciclagem dos nutrientes e, assim, anutrição e sanidade das culturas. Não temnenhum caráter filosófico e religioso.

No Brasil, existem normas e procedi-mentos para produção, processamento,identificação e certificação de produtos daagricultura orgânica, definidos pelaInstrução Normativa de n.º 007 de 1999, doMinistério da Agricultura, e pela Lei 10.831,de 23/12/2003.

Originou-se na década de 1960 naFrança, com fundamentos de Claude Albert,com os princípios: a saúde das culturas edos alimentos depende da saúde do solo eênfase no manejo do solo e na rotação deculturas. Recomenda, também, o uso derochas moídas como fertilizantes econsidera que a resistência das plantas aoataque de pragas é determinada pelo seuequilíbrio nutricional, e os desequilíbrios sãoprovocados pelo uso de agroquímicos(Teoria da Trofobiose).

Surgiu nas décadas de 1970 e 1980, nosEstados Unidos, estimulada pelos movi-mentos ecológicos, após a Crise doPetróleo ter revelado a fragilidade domodelo agrícola adotado. Preconiza o con-ceito de agroecossistema, o uso de tecno-logias suaves e a utilização de fontesalternativas de energia. É incentivada no

AgriculturaOrgânica

AgriculturaBiológica ou Agrobiológica

Brasil por Ana Primavesi, Lutzemberger eoutros.

Os movimentos de produção semagroquímicos sentiram a necessidade decriar uma organização em nível interna-cional, tanto para o intercâmbio deexperiências como para estabelecer ospadrões mínimos de qualidade para osprodutos de todos os movimentos. Decidiu-se, então, pelo termo “Agricultura Orgânica”para designar o conjunto das propostasalternativas (KHATOUNIAN, 2001),aplicando para todas elas as normas e osprocedimentos de identificação ecertificação da Agricultura Orgânica (Lei10.831, de 23/12/2003, do GovernoFederal).

Outros tipos de agricultura têm surgidomais recentemente, como o SISTEMAORGANOMINERAL ou SAT (Sem

Agricultura ecológica - produção de café

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� CAIXETA, J. F. R. , PEDIM, S.Cafeicultura orgânica: conceitos eprincípios . Informe Agropecuário, BeloHorizonte, EPAMIG, v 23, n 214/215, jan/abr 2002.

� COSTABEBER, J. A . Transiçãoagroecológica: do produtivismo à ecologi-zação. In: Agroecologia e extensãorural : contribuições para a promoçãodo desenvolvimento rural sustentável .Brasília: MDA, 2004.

� KHATOUNIAN C. A. A reconstruçãoecológica da agricultura . Botucatu. S.P.Agroecológica, 2001. p. 348.

� SOUZA, J.L. , RESENDE, P.Manual de Horticultura Orgânica .Viçosa: Aprenda Fácil, 2003. p. 546.

Agrotóxicos). Trata-sede um manejo no qual oprodutor elimina dapropriedade toda equalquer forma deaplicação de agrotó-xicos, mas continuautilizando, por umperíodo determinado,fertilizantes sintetizadosquimicamente, proibidospelas normas orgânicas.Apesar de respaldar umembasamento teóricodefinido e ser adotado porempresas de assessoria,(...) não possui ummercado definido er e g u l a m e n t a d o .(CAIXETA & PEDINI,2002).

Como é possívelobservar, desde muitotempo existem esforçospara o desenvolvimento

de tipos de agriculturas alternativas aomodelo convencional, que passou a serdominante depois da Segunda GuerraMundial, o que mostra que a agricultura nomodelo proposto pela Revolução Verdenão é a única possível. Não obstante, caberessaltar que nem sempre os estilos deagriculturas alternativas podem serconsiderados como agriculturas susten-táveis baseadas nos princípios daAgroecologia.

Segundo Caporal e Costabeber (2004),é importante marcar a distinção entre aagricultura de base ecológica, orientadapelos princípios da Agroecologia, daquelesestilos de agricultura alternativa que,embora apresentando denominações quedão a conotação da aplicação de práticas,técnicas e ou procedimentos que visamatender a certos requisitos sociais ouambientais, não necessariamente terãoque lançar ou lançarão mão das orien-

tações mais amplas emanadas do enfoqueagroecológico. A título de exemplo, cabeafirmar que não se deve entender comoagricultura baseada nos princípios daAgroecologia aquela agricultura que,simplesmente, não utiliza agrotóxico oufertilizantes químicos sintéticos em seuprocesso produtivo. No limite, umaagricultura com estas características podecorresponder a uma agricultura pobre,desprotegida, cujos agricultores não têmou não tiveram acesso aos insumosmodernos por impossibilidade econômica,por falta de informação ou por ausênciade políticas adequadas para este fim.

Por outro lado, também pode não serecológica ou sustentável, em seu sentidoamplo, uma agricultura em que simples-mente foram substituídos os agroquímicospor adubos orgânicos e inseticidasbiológicos, porque a agricultura sustentávelsupõe a observância de todas asdimensões da sustentabilidade.

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Leonardo Fernandes Moreira (*)José Luiz Freitas Paixão (**)

o longo do século XX, disseminou-se pelo mundo o uso de produtosquímicos na agricultura e na pecuária. Por meio da ingestão dealimentos contaminados e do contato com os agrotóxicos, resíduos

desses produtos chegaram ao organismo humano, com repercussõesnegativas na saúde (Moreira, 1995).

Essa situação despertou em muitos profissionais e na sociedade anecessidade de criar um sistema diferente de produção de alimentos, demaneira mais sadia para o homem, para os animais e para o meioambiente. Esse sistema, diante do duplo desafio de ser sustentável eprodutivo, para alimentar a população humana que é crescente, é o sistemaagroecológico. Entretanto não podemos simplesmente abandonar aspráticas convencionais e retornar às práticas tradicionais, nem trocar osagroquímicos pelos insumos naturais. O que se pretende nesse sistemaecológico é uma abordagem nova, trabalhando na agricultura e na pecuá-ria em direção à sustentabilidade, ou seja, visualizando o espaço deprodução agrícola como um agroecossistema, com uma dinâmica estável

Pastagem manejada com visão ecológica, preservando árvores para sombreamento

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(*) Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Agroquímica,Coord. Técnico da EMATER–MG, E-mail:[email protected]

(**)Biólogo, Técnico em Agropecuária,Extensionista Local da EMATER–MG emFervedouro, E-mail: [email protected]

do ponto de vista ecoló-gico.

A Agroecologia abor-da a agricultura e odesenvolvimento rural,sobre aspectos da con-servação de recursostradicionais locais e, aomesmo tempo, socializaconhecimentos e méto-dos ecológicos moder-nos.

As principais carac-terísticas que diferen-ciam os sistemas deprodução convencional eagroecológico, segundoAltieri (2002), estão noquadro 1 .

Assim, comparado aoconvencional, o sistemaagroecológico é consi-derado ambientalmentemais sustentável, pelofato de otimizar o usodos recursos naturaislocais, de ser menos dependente de insu-mos externos e de diminuir o uso de fontesde energia não renováveis (Trivellato eFreitas, 2002), eliminando o uso deprodutos químicos sintéticos.

Manejo do solo, controle de pragas edoenças e biodiversidade são aspectosrelevantes na qualificação dos sistemasconvencional ou agroecológico, de acordocom as seguintes considerações:

Fonte: Adaptado de Altieri (2002)

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Fonte: Adaptado Freitas, 2004.* Erosão, contaminação e perdas de água e degradação de estradas.

• Manejo do Solo

No sistema convencional, há uma maiordegradação física, química e biológica dosolo, devido ao preparo freqüente e profun-do, associado ao uso intensivo de agroquí-micos (adubos químicos e agrotóxicos).Quando o solo é manejado para a produçãosustentável, de forma menos intensiva, econsiderando o papel fundamental damatéria orgânica, é possibilitada aformação de uma estrutura complexa, queproporciona o desenvolvimento de modelosde produção sustentável.

Há uma grande preocupação com amovimentação excessiva do solo, nosistema convencional. Esta prática,somada à ausência de cobertura vegetal,provoca elevadas perdas de solo, gerandoenormes prejuízos ao país.

De acordo com Freitas (2004), a erosãogera, no Brasil, perdas anuais corres-pondentes a 25,4 milhões de toneladas deinsumos que, acrescidas aos efeitos dadepreciação da terra, do custo do trata-mento de água para consumo humano, docusto de manutenção das estradas e dareposição de reservatórios decorrente daperda anual da capacidade de armaze-namento hídrico, significam uma perda totalde R$13,4 bilhões (Quadro 2) .

Essas perdas sinalizam para a neces-sidade de um manejo mais ecológico do

solo: preparo reduzido e superficial,utilização de cobertura viva ou morta eadição de adubos orgânicos. Essesimprescindíveis cuidados visam a cons-trução de um solo equilibrado e biologica-mente ativo, capaz de garantir o desenvol-vimento e a manutenção da saúde dasplantas.

• Controle de pragas e doenças

Existe uma estreita relação entre aintensidade de ataque de pragas e doençase o estado nutricional das plantas quedepende do equilíbrio ecológico do solo.Esta é a visão da agricultura de baseecológica, que considera “praga” a espécieque tem uma população maior que apopulação de seus inimigos naturais, aponto de causar danos econômicos àsatividades agrícolas.

Assim a agroecologia procura resta-belecer ou manter o equilíbrio ecológicodos agroecossistemas como forma deprevenir o ataque de pragas ou doenças.

Segundo Chaboussou (1987), a maneiracorreta de proteger as plantas dos insetose microrganismos e prevenir os prejuízoscausados por esses agentes da naturezaé dando a essas plantas, através do solo edas folhas, uma alimentação saudável eequilibrada, pois a Teoria da Trofobioseelaborada pelo mesmo autor preconiza quetodo e qualquer ser vivo só sobrevive se

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� ALTIERI, M. Agroecologia : Basescientificas para uma agricultura sustentável.Guaíba: Agropecuária, 2002. p. 592.

� CHABOUSSOU, F. Plantas doentespelo uso de agrotóxicos : A teoria datrofobiose. Tradução de Maria José Guazzelli.Porto Alegre: L & PM, 1987. p. 256.

� FREITAS, G. B.. Fruticultura orgânica.In: 7º Encontro mineiro sobre produçãoorgânica . Barbacena. MG, 2004. p. 141-166.

� GLIESSMAN, S. R.. Agroecologia :Processo ecológicos em agriculturasustentável – 2. ed. Porto Alegre: Ed.Universidade/UFRGS, 2001.

� MOREIRA, L. F. Diagnóstico dosproblemas ecotoxicológicos causadospelo uso de inseticida (metamidofos) naregião de Viçosa-MG – Viçosa: UFV, 1995.P. 95.

� MOREIRA, L. F. Agricultura Orgânica :princípios, importância e manejo do solo. BeloHorizonte: EMATER-MG, 2003. p. 40.

� TRIVELATTO, M. D. , FREITAS, G. B.Panorama da agricultura orgânica. In:STRINGHETA, P. C. , MUNIZ, J. N. (ed)Alimentos orgânicos : produção, tecnologiae certificação. Viçosa: UFV, 2003.

houver alimento adequado e disponívelpara ele. Pragas e doenças se alimentamde aminoácidos e açúcares livres na planta.Os aminoácidos livres resultam da quebrade proteínas que ocorre quando a plantasofre um estresse causado por adubaçõesnitrogenadas e ou aplicações de agrotó-xicos. Portanto um vegetal saudável, nutridoadequadamente, tem menos chance de serprejudicado por “pragas e doenças”, poispossuem menos aminoácidos e açúcareslivres.

No sistema de agricultura convencional,o uso intensivo do solo, adubação químicasolúvel e concentrada, a falta de matériaorgânica, falta ou excesso de água, o usode agrotóxicos e tratos culturais inade-quados levam a um desequilíbrio ambien-tal, respondido pela natureza com pragase ou doenças, acarretando a necessidadecada vez maior de agrotóxicos.

• Biodiversidade

Na agricultura convencional, a aplicaçãodos pressupostos da Revolução Verde(cultivo com uso intensivo de agroquímicos),aliada à expansão indiscriminada dafronteira agrícola, ancorada pelo avanço dabiotecnologia e grandes aportes finan-ceiros, potencializa monocultura e provocaredução na biodiversidade, causandoimpactos ambientais muitas vezesirreversíveis.

A agricultura de base ecológica possuioutra visão, resgatando as espécies nativase outras práticas que aumentam abiodiversidade, restabelecendo a inter-relação e a harmonia no agroecossistema,propiciando uma redução considerável noaparecimento de “pragas e doenças”.

Na Agroecologia é importante observaralgumas práticas, como: uso de espéciesadaptadas às condições locais, ciclagemde nutrientes, diversificação do ambientede cultivo, nutrição equilibrada das plantas,

otimização do uso dos recursos locais eoutros. Estas práticas, na maioria dasvezes, não são priorizadas no modeloconvencional, por isso este é altamentedependente de insumos externos, tendo,então, pouca sustentabilidade.

Concluindo, enquanto o sistema conven-cional tem o núcleo de produção comounidade de intervenção e prioriza a produti-vidade das culturas e dos animais nadimensão econômica em detrimento dasdemais, a agroecologia possui uma visãoholística, intervindo de maneira sistêmicano agroecossistema, abordando, além dadimensão econômica, as dimensões am-biental, cultural, social, política e ética.

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Adubação verde

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(*) Eng. Agrônomo, Extensionista Local daEMATER–MG em Simonésia

Ringo Souza Batista (*)

transição de um modelo de agricultura convencional paraum modelo de agricultura sustentável deve ser entendidacomo um processo gradual e multilinear de mudança, que

ocorre através do tempo, nas formas de manejo dosagroecossistemas, que, na agricultura, tem como meta apassagem de um modelo agroquímico de produção a estilos deagriculturas que incorporem princípios e tecnologias de baseecológica (Caporal e Costabeber, 2004). Nessa visão torna-seimprescindível a revisão de conceitos por parte de todos osenvolvidos neste processo.

Num projeto técnico de transição de modelos de produçãoagrícola, deve-se ter bem claro o ponto de partida e aonde se querchegar, definindo qual o sistema desejado e qual o caminho maisviável. Segundo Souza (2004), para o sucesso desta transição,devem ser consideradas as seguintes dimensões:

� Dimensão educativa

Envolve diretamente o aspecto humano da transição. Oprocesso é desencadeado a partir da reflexão crítica da realidade,do conhecimento, da compreensão e assimilação dos princípiosagroecológicos pelo homem, uma vez que ele é o sujeito de todaação de transformação. Deve ser considerada a existência de todoum conhecimento acumulado e que este deve ser reorganizadosob o ponto de vista da ecologia aplicada.

� Dimensão biológica

Compreende a interação e o equilíbrio biológico do solo,assegurando sua saúde e qualidade, bem como sua biodiversidade(tanto acima como abaixo da sua superfície). A rotação de culturas

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e a adição de matéria orgânica provenientedas plantas de cobertura, dos estercos, doscompostos, etc. são condições indispen-sáveis para viabilizar a reciclagem denutrientes e minimizar as perdas,principalmente por erosão e remoção derestos culturais.

� Dimensão normativa

O processo de mudanças exige oconhecimento da legislação vigente paraas áreas trabalhistas, tributárias, am-bientais e regulamentos para a certificaçãosanitária, bem como a sua aplicação.Dependendo do nível de exigência doconsumidor e de suas relações de confian-ça, será exigido, ou não, o selo de certifi-cação. Como todo processo dinâmico ecrescente, no qual se almeja a busca pornovos mercados, a obediência às normasde produção deve ser atendida. Se sepretender atingir o mercado externo, deve-se procurar conhecer e enquadrar-se àsnormas do país comprador.

Estas dimensões ocorrem de formasimultânea, dando um caráter de integraçãoe complementaridade entre elas. Estapercepção é útil para compreender odinamismo da Agroecologia.

Para o atendimento do objetivo damudança da agricultura convencional nadireção de um sistema mais sustentável,convém realizar um monitoramentoperiódico e sistemático de todas asdimensões da sustentabilidade, inclusive oaspecto econômico, como o registro damovimentação financeira, para eventualcorreção de rumos.

O processo de transição, segundoGliessman (2000), pode ser complexo,

exigindo mudanças nas práticas de campo,na gestão da unidade de produção agrícolaem seu dia-a-dia, no planejamento, nomarketing e na sua filosofia. Os seguintesprincípios podem servir como linhasmestras orientadoras no processo detransição:

� Mover-se de um manejo de adição denutrientes externos, para um manejobaseado na reciclagem de nutrientes.

�Usar fontes renováveis de energia, emvez das não renováveis.

�Eliminar o uso de insumos sintéticosnão renováveis oriundos de fora da unidadeprodutiva que possam causar danos aoambiente ou à saúde dos produtores,assalariados agrícolas ou consumidores.

�Adicionar ao sistema, quandonecessário, materiais presentes nanatureza em vez de insumos sintéticosindustrializados.

�Manejar pragas, doenças e ervasdaninhas, em vez de “controlá-las”.

� Restabelecer as relações biológicasque podem ocorrer naturalmente naunidade produtiva, em vez de reduzi-las ousimplificá-las.

�Estabelecer combinações maisapropriadas entre padrões de cultivo e opotencial produtivo e as limitações físicasda paisagem agrícola.

�Usar uma estratégia de adaptação dopotencial biológico e genético das espéciesde plantas e animais às condiçõesecológicas da unidade produtiva, em vezde modificá-la para satisfazer àsnecessidades das culturas e animais.

� Valorizar na mais alta conta a saúdegeral do ecossistema, em vez do resultadode um determinado sistema de cultivo ousafra.

PrincipaisOrientadores daTransição

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� Enfatizar a conservação do solo, água,energia e recursos biológicos.

� Incorporar a idéia de sustentabilidadea longo prazo no desenho e manejo geraldo agroecossistema.

A ênfase em determinados princípios irávariar, mas todos eles contribuem para oprocesso de construção da agriculturasustentável.

A avaliação da situação atual da proprie-dade rural permite a identificação doestádio em que se encontra o agroe-

cossistema e quais as alternativas viáveispara concretização do processo demudança da agricultura convencional paraa agricultura sustentável. De forma didática,a transição é compreendida, segundoGliessman (2000), em três níveis:

� Primeiro nível

É caracterizado pelo aumento daeficiência de práticas convencionais, a fimde reduzir o uso de insumos externos,minimizando os impactos negativos nohomem e no meio ambiente. Nesta fase,embora persista a dependência porrecursos externos, inicia-se a adoção depráticas de recuperação e conservação dafertilidade do solo.

Fases deTransição

Plantio direto - cobertura morta de leguminosa e milheto

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� Segundo nível

Há a substituição de insumos externos epráticas convencionais por técnicasalternativas de fertilização e manejofitossanitário, com reduzido dispêndio decapital e menores danos ao ambiente.Nesta fase o agricultor e sua família jádeverão apresentar um conhecimentomaior sobre a Agroecologia.

� Terceiro nível

Redesenhar o agroecossistema deforma que ele funcione baseado em umnovo conjunto de processos ecológicos.Neste nível, o desenho geral do sistemaelimina as causas fundamentais de muitosproblemas que ainda existiam nosmomentos anteriores. Os problemas sãoidentificados e portanto prevenidos pormeio de uma abordagem de desenho emanejo adequados ao tempo e ao lugar,em vez da aplicação de insumos externos.É a partir deste ponto que todas asdimensões da sustentabilidade poderãoser atendidas.

A transição rápida é impraticável devidoaos vários aspectos envolvidos. Paraavançar de um nível a outro no processo detransição, até se atingir o equilíbrio doagroecossistema, exigem-se muitapersistência e maturidade por parte daspessoas envolvidas, devendo-se estarconsciente de que se trata de um processolento e gradual.

Exemplo disso é a experiência que vemsendo realizada no Rio Grande do Sul,conforme mostram Caporal e Costabeber(2004), a qual demonstra que o processode transição agroecológica, nas unidadesfamiliares de produção é perfeitamentepossível. O levantamento de resultadosefetuado pela EMATER–RS, segundo ostrês níveis de transição citados, permitedestacar, como exemplo, os seguintesavanços:

� Relativo às culturas de alho, batata,cebola e tomate, 7.983 agricultoresassistidos pela EMATER–RS-ASCARestavam no estádio Convencional-Racionalização (9.261 hectares), 2.769no estádio Transição-Substituição (857hectares) e 649 no estádio Transição-Redesenho (160 hectares).

� Na fruticultura, tomando-se por baseapenas os dados de produtores deabacaxi, banana, bergamota, figo, laranja,limão, melancia, morango, pêssego e uva,13.365 agricultores estavam no estádioConvencional-Racionalização (26.385hectares), 9.050 no estádio Transição-Substituição (12.936 hectares) e 1.645 noestádio Transição-Redesenho (2.045hectares).

� Com referência à produção de grãos,aqui exemplificada pelas culturas de arroz,feijão, milho, soja e trigo, os dadosconstantes na tabela abaixo mostrampossibilidades concretas no processo detransição também em cultivos que estãoentre os que experimentaram os maioresimpactos da Revolução Verde.

Esse processo, que vem sendoexperimentado em vários lugares e que aquifoi exemplificado com resultados obtidos noRio Grande do Sul, mostra que é possívelcaminhar em busca da segurança alimentare nutricional sustentável, adotando aAgroecologia como enfoque científico eestratégico para apoiar o processo demudança.

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� CAPORAL, F. R. , COSTABEBER, J. A.Agroecologia e Extensão Rural: Contri-buições para a promoção do desenvolvi-mento rural sustentável . Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004. 166p.

� CAPORAL, F. R. , COSTABEBER, J. A.Agroecologia: alguns conceitos eprincípios . Brasília : MDA/SAF/DATER-IICA,2004. 24p.

� CATI. Anais do Seminário de Agri-cultura Orgânica & Familiar. Sistema deprodução: sustentabilidade para agricultu-ra familiar – Campinas, 2001. 169p.

� GLIESSMAN, S. Agroecologia:processos ecológicos em agriculturasustentável . Porto Alegre. Ed. Universidade/UFRGS, 2000. 653p.

� KHATOUNIAN, C. A. A reconstruçãoecológica da agricultura . Botucatu :Agroecológica, 2001. 348p.

� PEREIRA, J. C. A conversão (dohomem) da propriedade (período detransição). In: Curso sobre Agroecologia.EPAGRI, 2000 (Apostila - mimeografado).

� SOUZA, J. L. e Resende, P. Manual deHorticultura Orgânica – Viçosa: AprendaFácil , 2003.564p.:il.

� www.planetaorganico.com.br

� www.solovivo.com.br

Fonte: EMATER-RS

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aprofundamento das desigualdadessocioeconômicas em ambientes rurais,associado às demais dificuldades gera-

das pelo padrão convencional de produçãoagropecuária, tem provocado grandes questiona-mentos por parte dos agricultores, dos profissionaise da sociedade em geral sobre o passivo social,ambiental e econômico, advindo dessa opçãoprodutiva.

Esse debate tem contribuído para o enten-dimento da necessidade de revisão do modeloconvencional de produção e, paralelamente,impulsionado a implementação de uma nova lógicaprodutiva baseada em sistemas de produçãosustentável, capazes de equilibrar interessessociais, econômicos e ambientais. Em síntese, ademanda se materializa em modelos de agriculturamenos agressivos ao meio ambiente, capazes depromover a inclusão social e proporcionar melhorescondições de vida aos agricultores.

Neste contexto, a Agroecologia apresenta-secomo uma alternativa que, no âmbito dodesenvolvimento rural sustentável, prevê “... aprodução de alimentos saudáveis para a

Maria Auxiliadora Tavares Carvalho (*)Wagner Santos Fani (**)

Wildes Vilarino Ferreira (***)

(*) Pedagoga, M.Sc. em Extensão Rural,Coordenadora Técnica Regional da EMATER–MG emGovernador Valadares, E-mail:[email protected]

(**) Eng. Agrônomo, Extensionista Local da EMATER-MG em Marilac, E-mail: [email protected]

(***) Extensionista Local da EMATER–MG emResplendor, E-mail: [email protected]

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Agricultura familiar - organização de produção mais próxima aos preceitos de Agroecologia

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Reunião de agricultores familiares

população, com base em sistemasdiversificados que restaurem as condiçõesecológicas de produção [...], encarando ossistemas agrários como ecossistemascultivados, cuja produção ecológica esocial deve balizar os métodos deexploração econômica” (Altieri, 2000).

É necessário considerar que a práticada agricultura não se encerra na produção,mas envolve um processo social, integradoa sistemas econômicos. É preciso,portanto, privilegiar as necessidadessociais e culturais, de maneira queestejam sincronizadas com as oportuni-dades do desenvolvimento rural sustentável.

Destacando a complexidade queenvolve a agricultura e as relações sociaisnela estabelecidas, Caporal e Costabeber(2004) enfatizam que qualquer enfoquebaseado simplesmente na tecnologia ou namudança da base técnica da agriculturapode implicar surgimento de novas relaçõessociais, de um novo tipo de relação doshomens com o meio ambiente e, entreoutras coisas, em maior ou menor grau deautonomia e capacidade de exercer acidadania.

A Agricultura Familiar vem assumindoum papel de centralidade no enfoque dodesenvolvimento rural sustentável.Destaca-se pela sua expressividadenumérica, econômica, social e política. Asua participação na ocupação da mão-de-obra rural e na produção de alimentosbásicos é considerada de grande impor-tância na economia brasileira. Dadospublicados pelo Ministério de Desenvol-vimento Agrário – MDA (2000) confirmamque a agricultura familiar detém 84% dosestabelecimentos rurais, é responsável por77% da mão-de-obra ocupada naagropecuária e por 37,9% da produçãoagropecuária. Em alguns produtos, estaparticipação é destacada, como no casodo feijão (70%), da mandioca (84%), dossuínos (58%), do leite (54%), do milho (49%)e de aves e ovos (49%).

As particularidades e diversidadespresentes na Agricultura Familiar atornam expressiva, não apenas do ponto devista produtivo, mas também e princi-palmente na sua forma organizacional, aqual se caracteriza por relações sociaisestabelecidas na confiança , no respeitoao saber e às culturas locais , alicerçadas

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� ALTIERI, M. Agroecologia: Adinâmica produtiva da agriculturasustentável . 2000.

� BRASIL. Ministério do Desen-volvimento Agrário. Instituto Nacional deColonização e reforma Agrária. Novoretrato da Agricultura familiar: oBrasil redescoberto . Brasília, MDA:2000.

� CAPORAL, F. R. , COSTABEBER,J. A. Agroecologia: alguns conceitose princípios . 2004.

� GLIESSMAN, S. R. Agroecologia:Processo ecológicos em agriculturasustentável – 2. ed. Porto Alegre: Ed.Universidade/ UFRGS, 2001.

� LUTZENBERGER, J. Ecologia: dojardim ao poder . 1992.

numa relação de aprendizado constantecom a natureza.

Esse saber secular é construído de formaempírica e transmitido na informalidade dasrelações sociais, favorecendo e fortale-cendo manifestações apoiadas nasolidariedade humana, valores estes quevêm sendo resgatados na perspectivaagroecológica de produzir, planejar eimplementar ações que tenham o foco naconstrução de sociedades sustentáveis.

A Agricultura Familiar apresentareconhecida eficiência produtiva erelevante contribuição para conservaçãodos recursos naturais e para proteção dabiodiversidade. Tais característicasfavorecem a implementação de ummodelo agroecológico que potencialize amultifuncionalidade da propriedade(produção, lazer, turismo rural, agroin-dústria...). Para tanto, é importantedestacar que a intervenção técnica e oplanejamento do uso dos recursosdevem priorizar uma visão holística comabordagem sistêmica, dando atençãointegral a todos os elementos quecompõem o agroecossistema e aosimpactos da ação humana.

A Agricultura Familiar é a forma deorganização de produção mais próxima dospreceitos da Agroecologia e, portanto, dasustentabilidade. Podem-se destacarcomo critérios desta interação:

� Produtos diferenciados com valoresculturais agregados.

� Absorção da mão-de-obra familiar ede terceiros.

� Preservação e conservação do meioambiente/biodiversidade.

� Baixa dependência de insumoscomerciais.

� Uso de recursos renováveis localmenteacessíveis.

� Longevidade da capacidade produtiva.

� Resgate e valorização dos saberes eda cultura local.

Na verdade existe uma estreita relaçãoentre a Agricultura Familiar e aAgroecologia . Esse vínculo começa naprópria base conceitual de Agroecologia ,cujo enfoque científico é elaborado a partirda contribuição de vários campos deconhecimentos de outras ciências etambém da valiosa contribuição dossaberes dos agricultores familiares.

Essa interação propicia uma maioragregação de experiências, conheci-mentos teóricos e metodológicos neces-sários na construção de processos eestratégias de manejo de agroecos-sistemas sustentáveis, orientados para aperspectiva do desenvolvimento ruralsustentável.

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Gôndola de supermecado com produtos orgânicos

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(*) Economista Doméstica – CoordenadoraTécnica Estadual da EMATER–MG, E-mail:[email protected]

(**) Engenheira Agrônoma, Extensionista Localda EMATER–MG em Andradas, E-mail:[email protected]

(***) Eng. Agrônomo, Coord. Técnico Estadual daEMATER–MG, E-mail: [email protected]

Maria da Graça Lima Bragança (*)Maria Neuza de Carvalho (**)

Valdo Berbert Camilo (***)

preocupação com a saúde, a busca por produtosmais saudáveis e o aumento do nível da consciênciaambiental por parte dos consumidores constituem

uma realidade em todo o mundo, levando a uma mudançapaulatina nos hábitos de consumo da população.

Pode-se afirmar que, do ponto de vista do mercado, existeuma progressiva tendência de se aumentar o consumo dealimentos produzidos de forma ecologicamente equilibrada,socialmente justa, culturalmente adaptada às realidadesregionais, ou seja, produtos característicos da agriculturaecológica.

A produção em bases ecológicas pode ser desenvolvidapor agricultores familiares que, normalmente, apresentamcaracterísticas mais próximas deste sistema produtivo, mastambém por médios e grandes agricultores, desde que osprincípios da Agroecologia sejam respeitados.

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Para que a agricultura em basesecológicas atenda aos seus princípios épreciso que também o mercado sejapensado numa perspectiva Agroeco-lógica.

Segundo Caporal & Costabeber(2004), a crescente influência dasdeterminações de mercado e de preçosdiferenciados como estímulo a diferentestipos de produção ecológica pode levar anovas formas de exclusão e dominação.É preciso ter cuidado para que problemasjá identificados em outros processos deprodução não se repitam na produçãoagroecológica, tais como:

� diferenciação social entre os agricul-tores em função de variável ecológica;

� expansão da oferta de alimentoslimpos apenas para consumidores melhorinformados e com maior poder aquisitivo;

� incremento na exportação dessesalimentos, restando produtos de menorqualidade para o consumo interno;

� exploração de mão-de-obra e adegradação do trabalho para viabilizaçãoda produção em escala.

Uma atuação com base nos princípiosda Agroecologia exige o fortalecimentodas organizações dos agricultores, commaior articulação entre si e destas com osconsumidores.

Tradicionalmente, a comercialização éconsiderada uma das principais dificul-dades dos agricultores familiares. Emfunção dos baixos volumes produzidos,do isolamento, da dif iculdade detransporte, do desconhecimento domercado e do baixo grau de organização,entre outros problemas, os agricultoresfamil iares têm sido levados a sesubmeterem ao tradicional processo de“atravessamento”.

Tal mecanismo resulta, geralmente, embaixo retorno financeiro para o produtor,preços elevados para o consumidor egrande retorno para os intermediários.É necessário mudar esse contexto,lembrando que a comercial izaçãotambém faz parte do desenvolvimentosustentável, que tem como perspectivaa equidade e inclusão social dosegmento mais vulnerável da agricultura,que é o agricultor familiar. Para queaconteça a inclusão social de produtorese consumidores, há necessidade de seproduzirem alimentos acessíveis àpopulação em geral, mas que remunerede forma justa o produtor, pelo seutrabalho e pela preservação ambiental.

Para MEIRELLES (2002), as estratégiasde comercialização e certificação deprodutos agroecológicos devem buscarcoerência com os princípios que originaramo próprio “movimento agroecológico”. Omercado deve ser percebido como criaturae não como criador. O mercado e suasregras foram criados pela sociedade, nãose constituindo, portanto, em umarealidade absoluta e imutável, à qual todosdevem se submeter.

O que se busca na produção agroe-cológica são agricultoras e agricultoresatuando como sujeitos do processoprodutivo e do processo de comerciali-zação, quer seja de produtos “in natura”,quer seja de processados, o que podeacontecer por meio de pontos de vendadireta ao consumidor, entrega de cestasdomiciliares, mercado institucional,supermercados, centrais de abasteci-mento, comercialização direta na pro-priedade, constituindo-se em atrativopara o turismo rural. Outra opção sãoas redes solidárias de comercialização,que já se encontram consolidadas emalgumas regiões do país, inclusive emMinas Gerais.

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Os MercadosSolidários

Segundo TODESCHINI & PAULA(2002), os mercados solidários consti-tuíram-se a partir de uma evolução históricado próprio conceito de mercado. O princípiomais importante que orienta as regrasdesse movimento é o da colaboraçãosolidária. A palavra solidariedade assumeo sentido de responsabilidade entrepessoas unidas por interesses comuns, apartir de uma postura ética e moral.

No mercado solidário, tambémconhecido como comércio justo (fair trade) ,os consumidores se preocupam não sócom a qualidade e valor biológico dosalimentos, mas também com as questões

sociais e ambientais, buscando umadistribuição igualitária dos lucros, de-monstrando o exercício da cidadaniacontra situações injustas ou desiguais.Isso se traduz em preços, salários econdições de trabalho dignos, quepermitem garantir melhor remuneração equalidade de vida aos trabalhadores,sobretudo pela eliminação deintermediações desnecessárias queprevalecem no comércio tradicional.Quando o comércio justo faz uma melhordistribuição dos lucros, contribui para amelhoria das condições sociais e aindaestimula o investimento na produçãoecologicamente mais correta.

Apesar da complexidade à primeiravista, algumas experiências em cursomostram que é possível conciliarpresença efetiva no mercado e coerênciacom os princípios da ecologia.

Estande para divulgação em eventos de produtos da agricultura orgânica

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É o caso, por exemplo, da certificaçãoparticipativa realizada pela Rede deAgroecologia ECOVIDA, que atua deforma descentralizada, por meio denúcleos regionais, nos estados do Paraná,Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Para a REDE ECOVIDA (2005), acertificação participativa é um sistemasolidário de geração de credibilidade, noqual a elaboração e a verificação dasnormas de produção ecológica sãorealizadas com a participação efetiva deagricultores e consumidores, buscando oaperfeiçoamento constante e o respeito àscaracterísticas de cada realidade. É umaforma diferente de certificação, que, alémde garantir a qualidade do produtoecológico, respeita e valoriza a culturalocal e favorece a construção de uma redeque congrega iniciativas de diferentesregiões.

Outra experiência ocorre em PoçoFundo (MG), por meio da Cooperativa deAgricultores Familiares de Poço Fundo eRegião – COOPFAM, beneficiandotambém as associações dos municípiosde Campestre e Andradas. Estacooperativa promove a organização deagricultores familiares agroecológicos,sempre com foco na valorização da vida,no resgate dos valores culturais e éticos,na confiabilidade, na redução dos custosde produção, na qualidade e na buscade produtividade compatível com aprodução convencional. Segundo LuísAdauto de Oliveira, presidente daCOOPFAM, “o mercado justo não émercado de caridade, exige atenção coma qualidade”.

MEIRELLES (2002) afirma que, para quea certificação participativa e as redessolidárias de produção e circulação deprodutos agroecológicos se estruturem e seconsolidem, é fundamental a formulação eexecução de políticas públicas que apoieme estimulem iniciativas configuradoras

dessas redes, apresentando comosugestões:

� Criação de marcos jurídicos quepermitam a presença ativa no mercado deagricultores familiares organizados empequenos grupos.

� Adequação das regras de certi-ficação de produtos limpos às diferentescategorias de produtores e às carac-terísticas ecológicas, culturais e sociais emque se encontram inseridos, ao menos noque diz respeito ao mercado interno e,principalmente, às redes solidárias.

� Diferenciação do Imposto sobreCirculação de Mercadoria e Serviços (ICMS)para produtos agroecológicos, estimulandoa produção e o consumo.

� Apoio ao desenvolvimento de merca-dos locais, com o estímulo ao surgimento deequipamentos de abastecimento popularque aproximem o agricultor do consumidor.

� Incorporação de produtos oriundos daagricultura familiar agroecológica aomercado institucional.

� Políticas de crédito diferenciadas paraa produção, transformação e comer-cialização de produtos agroecológicos.

Concluindo, pode-se afirmar que omercado para os produtos agroecológicosestá em expansão, na medida em queaumenta, principalmente, o nível deconsciência ambiental. É preciso lembrarque o mundo busca hoje a segurançaalimentar e nutricional sustentável, e queessa busca, à luz da dimensão ética, inclui anecessidade de oferta de alimentossaudáveis para todos e não-somente parauma pequena parcela privilegiada dapopulação. O segredo da sustentabilidadee permanência no mercado é vendersempre e, de preferência, a todos ossegmentos da sociedade.

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� CAPORAL, F. R. , COSTABEBER,J. A. Agroecologia: alguns conceitose princípios . Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004. 24p.

� CAPORAL, F.R. , COSTABEBER,J. A. Agroecologia e desenvolvimentorural sustentável: perspectivas parauma nova extensão rural . Porto Alegre:EMATER/RS, 2001. 36p.

� CAPORAL, F. R. , COSTABEBER,J. A. Segurança Alimentar eAgricultura Sustentável: umaperspectiva agroecológica. Ciência &Ambiente . 2003. n.º 27, p. 153-165.

� Cooperativa de AgricultoresFamiliares de Poço Fundo e Região-COOPFAM. Poço Fundo, MG. Telefone:(35) 3283-2113. E-mail:<[email protected]>

� COSTA, R. Comercialização etransformação dos produtos da agriculturafamiliar: alguns pontos a discutir. In: Anaisdo Encontro Nacional de Agroecologia.Rio de Janeiro, 2002.

� FLO- Fairtrade LabellingOrganizations. http://www.fairtrade.net

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� MEIRELLES, L. Comercializaçãoe certificação de produtosagroecológicos. In: Anais do EncontroNacional de Agroecologia . Rio deJaneiro, 2002.

� PAULUS,G. , MULLER, A.M.BARCELOS, L. A. R. AgroecologiaAplicada: práticas e métodos parauma agricultura ecológica . PortoAlegre: EMATER-RS, 2000. p 86.

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� TODESCHINI, R. Paula, J. de. et al.A comercialização na economiasolidária . São Paulo: SEBRAE/ADS/CUT, 2002. p17-18.

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Rudá Ricci (*)

Capacitação de técnicos em agricultura de base ecológica

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(*) Biólogo, Técnico em Agropecuária,Extensionista Local da EMATER–MG emFervedouro, E-mail: [email protected]

EMATER–MG é uma Empresa que hámais de meio século desenvolve suasatividades de extensão rural e

assistência técnica em sintonia com seu tempo.(Moreira, 2003)”.

Assim, o extensionista, na época da“Revolução Verde” , atuou na implementação daspolíticas públicas que, então, eram voltadas para oaumento da produção e da produtividade daagropecuária.

A base desse modelo de produção constituía-se de práticas, como: cultivo intensivo do solo;monocultura; aplicação de fertilizantes sintéticos;irrigação; controle químico de pragas, doenças eervas “daninhas”; manipulação genética de plantase animais, nem sempre considerando asconseqüências e os impactos ambientais e sociaisa longo prazo.

A agricultura convencional obteve expressivosresultados, se considerarmos o incremento emprodução por hectare das principais culturas queformam a base alimentar da humanidade.

Apesar desses resultados excepcionais daagricultura convencional, algumas questõesmerecem reflexão:

José Luiz de Freitas Paixão (*)

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� Uma das argumentações centrais paraa expansão da produtividade e produçãoagrícola em larga escala, fundamentada nateoria de Malthus, era a necessidade dese produzirem alimentos para atender à“explosão demográfica”. Contudo cerca de800 milhões de pessoas no mundo (Foodand Agriculture Organization of UnitedNations – FAO) sofrem de fome crônica,embora a produção de alimentos sejasuficiente para suprir as necessidadesnutricionais da população, o que evidenciaa existência de outros fatores queconcorrem para a situação de fome nomundo, como, por exemplo, a questão doacesso aos alimentos, da distribuição derenda e da implementação de políticaspúblicas com equidade social.

� O uso intensivo de agroquímicos, amonocultura, o manejo inadequado do solo,desmatamento e outras práticas contri-buíram para afetar o equilíbrio dos ecos-sistemas, com a extinção de algumasespécies animais e vegetais; a águatransformando-se num bem econômico eestratégico e perda da capacidadeprodutiva dos solos.

Todos esses impactos negativos fazemcom que a agricultura convencional sejaquestionada por alguns segmentos dasociedade. Surge, então, um novoparadigma: produzir matérias-primas ealimentos de qualidade, em quantidadesuficiente, preservando o ambiente, abiodiversidade, garantindo a sustenta-bilidade do sistema, compatibilizando-ocom as atividades humanas.

A Agroecologia, que deve ser encaradanas dimensões cultural, política, ambiental,social, econômica e ética, constitui umconjunto de propostas capazes de ques-tionar muitos dos conceitos estabelecidospela agricultura convencional, tendopotencial para produção de alimentos deforma crescente e equilibrada, dentro domodelo que promove a “otimização

produtiva”, permitindo o alcance do bem-estar do homem, o ganho econômico e apreservação ambiental.

Neste contexto, a ação do extensionista,comprometida com as propostas dedesenvolvimento rural sustentável, deve serantecedida por um processo de reflexão,desprovida de preconceitos, não atuandoapenas como assistente técnico, masexercendo, também, o papel de facilitadordo processo deste desenvolvimento.

Isso exige do extensionista estudo eatualização constante, não sendo suficientea aplicação de “pacote tecnológico” a serprescrito, mediante uma situação de risco.Considerando a dinâmica do Agroe-cossistema, faz-se necessário o estudominucioso do ambiente, tendo o homemcomo foco central, procurando, de formaparticipativa, identificar os pontos dedesequilíbrio, para aí, sim, discutir medidasque visem restabelecer o equilíbrio e aharmonia ecológica.

Isto significa planejar a produção deforma integrada, considerando apropriedade como um “organismo vivo”,dinâmico e com interações entre as partes,que não devem ser analisadas isolada-mente. Ao invés de olhar peça a peça dogrande “quebra-cabeça” de se produziremalimentos mais saudáveis, o enfoqueholístico busca lidar com todo o conjunto defatores: ambientais, culturais, econômicos,políticos, sociais e éticos.

Assim, no trabalho de Extensão Rural, asáreas de Bem-estar Social e Agropecuáriadevem atuar em conjunto, buscando acomplementaridade dos saberes dasciências agrárias, humanas e sociais.Nessa ação extensionista, o agricultor e suafamília são protagonistas do processo,desde o diagnóstico da situação dapropriedade, passando pelo planejamento,implementação, monitoramento e repro-gramação.

43

� ALEXANDRE FILHO, L. NewsLether Planeta Orgânico.

www. planetaorgânico.com.br. 2004.

� MOREIRA, L. F. AgriculturaOrgânica: princípios, importância emanejo do solo . Belo Horizonte:EMATER–MG, 2003. 40 p. il.

www.planetaorganico.com.br

O processo de conversão para umsistema agroecológico, depende doconsenso dos atores envolvidos de queesse sistema de produção é a melhoropção a ser adotada, por atender àsexpectativas locais. Não haverá chances desucesso em se converter o sistemaprodutivo de uma propriedade, quando oator principal, que é o agricultor, desa-creditar do processo a ser adotado.

Assim, a ação extensionista, naperspectiva de consolidação dos princípiosda Agroecologia, depende dofortalecimento da organização rural quecontemple a integração social no âmbito dacomunidade rural, da sub-baciahidrográfica, do distrito, do município e, atémesmo, do território.

Todo esse processo de construção deuma sociedade mais justa dependeessencialmente da participação ativa detodos os atores sociais e de políticaspúblicas que possibilitem a concentraçãode esforço na busca do desenvolvimento.E o extensionista cumpre um importantepapel de facilitador nesse processo.

Capacitação de agricultores

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QUESTÕES PARA REFLEXÃO

FORMULÁRIO 1(Discutir em Grupo)

1. Discutam e respondam, com base nos textos, as correlações ediferenças entre Agroecologia, Agricultura Ecológica, AgriculturaOrgânica, Agricultura Sustentável e Desenvolvimento Sustentável.

2. Como a Agricultura Sustentável influencia o DesenvolvimentoLocal Sustentável?

3. A prática da Agricultura Sustentável está condicionada à adoçãode um dos estilos de agriculturas alternativas citados no Dicionário(Permacultura, Agricultura Orgânica, etc...) ? Explique.

4 - Considerando o vídeo, os verbetes e os debates, discutam asseguintes afirmações, registrando as conclusões:

� Por suas características, a agricultura familiar é uma agriculturaecológica.

� A Agricultura Sustentável só é viável em pequenas áreas.

FORMULÁRIO 2

1. Na sua ação extensionista, quais das práticas recomendadascontribuem para a sustentabilidade da agricultura?

2. Na agropecuária de seu município, quais as práticas adotadassão mais agressivas para o meio ambiente? O que você tem feitopara alterar esse quadro?

3. Que dificuldades e/ou facilidades pessoais, na Empresa e noambiente você teria para trabalhar em uma linha agroecológica ? Quetipo de apoio você necessitaria para contribuir nessa transição?