o que há em mim é sobretudo cansaço- Álvaro de campos

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O que há em mim é sobretudo cansaço A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em alguém. Essa coisas todas- Essas e o que falta nelas eternamente; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseja o impossível, Há sem duvida quem não queira nada- Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser. O que há em mim é sobretudo cansaço- Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto… Para mim só um grande, profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço. Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço…

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Page 1: O que há em mim é sobretudo cansaço- Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço

A subtileza das sensações inúteis,As paixões violentas por coisa nenhuma,Os amores intensos por o suposto em alguém.Essa coisas todas-Essas e o que falta nelas eternamente;Tudo isso faz um cansaço,Este cansaço,Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,Há sem dúvida quem deseja o impossível,Há sem duvida quem não queira nada-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:Porque amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível,Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,Ou até se não puder ser.

O que há em mim é sobretudo cansaço-Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada:Cansaço assim mesmo, ele mesmo,Cansaço.

E o resultado?Para eles a vida vivida ou sonhada,Para eles o sonho sonhado ou vivido,Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…Para mim só um grande, profundo,E, ah com que felicidade infecundo, cansaço.Um supremíssimo cansaço.Íssimo, íssimo, íssimo,Cansaço…

Page 2: O que há em mim é sobretudo cansaço- Álvaro de Campos

• Dividido em quatro partes lógicas• 1º parte: 1ºestrofe “O que há em mim é sobretudo cansaço/(…) /

Cansaço” vv.1 a vv.5

• 2º parte: 2ºestrofe “A subtileza das sensações inúteis/ (…) / Cansaço.” vv.6 a vv.13

• 3º parte: 3ºestrofe “Há sem dúvida quem ame o infinito/ (…) / Ou até se não puder ser…” vv.14 a vv.22

• 4º parte: 4ºestrofe “E o resultado?/ (…) /Cansaço…” vv.23 a vv.31

Page 3: O que há em mim é sobretudo cansaço- Álvaro de Campos

• 1º parte

• Refere que se sente casado com o que o rodeia. O cansaço assume.se em si, deixando se ser uma condição. “ Não disto nem daquilo,/ Nem sequer de tudo ou de nada:/ Cansaço assim mesmo”.

• 2º parte

• Indica as razões do seu cansaço, referindo-se a coisas que todos desejam para mostrar que nem tudo o que queremos faz sentido.

• 3º parte

• Compara-se aqueles que não sentem tédio face à vida. O poeta ironiza aqueles que aspiram a coisas que, para o “eu”, são impossíveis. Campos não se vê em nenhum dos ideais referidos. O “Porque eu amo infinitamente o finito, / Porque eu desejo impossivelmente o possível, /Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,/ Ou até se não puder ser… ” mostra que o poeta se desmarca dos idealistas e que ambiciona não apenas o sonho, mas também o finito e o possível.

Page 4: O que há em mim é sobretudo cansaço- Álvaro de Campos

• 4º parte

• Faz uma conclusão. Para as outras pessoas há algo que as faz viver e sonhar de forma equilibrada (“ a média entre o tudo e o nada”). Para o sujeito poético é diferente pois o fato de não ser compreendido e de não atingir os seus objetivos traduz-se num “supremíssimo cansaço./ Íssimo, íssimo, íssimo,/ Cansaço…”. O resultado para os outros é a vida.

Page 5: O que há em mim é sobretudo cansaço- Álvaro de Campos

• Aliteração em “s” “Essas coisas todas”

• Repetição

• “Cansaço.” vv.1, 5, 6, 12, 13, 28, 29, 31

• Anáfora

• “Há sem dúvida quem (…)/ Há sem dúvida quem (…)/ Há sem dúvida quem (…)” vv.14 vv.16;

• “Porque (…)/ Porque (…)/ Porque (…)” vv.18 a vv.20;

• “Para eles (…)/ Para eles (…)/ Para eles (…)”vv.23 a vv.25

• Hipérbole

• “Um supremíssimo cansaço./ Íssimo, íssimo, íssimo”

• Antítese

• “infinitamente o finito” vv.18

• “impossivelmente o possível” vv. 19

• “média entre tudo e o nada” vv.25