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O PROJETO DE CRIAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FERROVIÁRIA E LOGÍSTICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ José Roberto Serra Pacha 1 , Esp. Remo Magalhães de Souza 2 , PhD. Universidade Federal do Pará Instituto de Tecnologia Bruno Guimarães Delgado 3 , MSc. Mineradora Vale S/A Departamento de Projetos de Logística Carlos Roberto Ribeiro Araújo 4 , MSc. Tribunal de Contas do Estado do Pará Departamento de Engenharia RESUMO Este texto apresenta um resumo do projeto de criação do curso de graduação em Engenharia Ferroviária e Logística no âmbito da Universidade Federal do Pará (UFPA), contextualizando a importância estratégica, nacional e regional, na busca por essa formação profissional e apresentando o contexto político e estrutura pedagógica proposta para o curso. O texto também pontua em que estágio encontra-se o processo de criação do referido curso de graduação e aponta as perspectivas futuras para o curso e seus egressos. 1. CONTEXTUALIZAÇÃO Nenhum modal terrestre oferece ao transporte de pessoas ou de cargas tanta eficiência e precisão como o transporte sobre trilhos. Sua capacidade para atender altas demandas retira das estradas e de áreas urbanas milhares de veículos. Os benefícios daí decorrentes são diversos em relação aos outros modais: menos poluição, menos congestionamentos e a consequente melhoria não só da qualidade de vida da população, mas do escoamento de nossas riquezas e redução dos custos logísticos internos e externos. Segundo Pacha et al. (2013), o transporte ferroviário é o nível intermodal que alavanca o surgimento de indústrias e estabelecimentos comerciais, aquecendo a cadeia produtiva e elevando a competitividade de forma geral. Em outros países mais desenvolvidos, o trem é uma realidade. Desde a sua concepção, as ferrovias jamais deixaram de ser mantidas e ampliadas. Espanha, França, Alemanha e Inglaterra são bons exemplos da utilização deste modal. Nesses países, as ferrovias não foram esquecidas, ao contrário do que aconteceu no Brasil. Aqui, a malha ferroviária chegou às raias do sucateamento (PACHA et al., 2013). O estado do Pará, apesar do desconhecimento de grande parte da população, tem historicamente uma forte ligação com o transporte ferroviário por meio das extintas Estrada de Ferro de Bragança – EFB e da Estrada de Ferro do Tocantins – EFT, e ainda, através de outras ferrovias visando o transporte de minérios como a Estrada de Ferro de Trombetas, a Estrada de Ferro do Jari e a Estrada de Ferro Carajás – EFC, sendo esta última a mais eficiente e moderna do Brasil e na qual circula a maior composição do mundo em extensão, com 330 vagões. A capital Belém, impulsionada pela prosperidade proporcionada pelo ciclo econômico da borracha na Amazônia, segundo destacou Sarges (2000) chegou a contar com uma das mais modernas redes de bondes eletrificados sob trilhos do Brasil. O primeiro curso de Engenharia da Amazônia, fundado em 1931 e depois incorporado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), segundo Coimbra (2009) formava quadros para o corpo técnico da

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Page 1: O PROJETO DE CRIAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA … · grande vulto que estão em fase de implantação no estado do Pará como a expansão da Estrada de Ferro Carajás e a implantação

O PROJETO DE CRIAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FERROVIÁRIA E LOGÍSTICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

José Roberto Serra Pacha1, Esp. Remo Magalhães de Souza2, PhD.

Universidade Federal do Pará Instituto de Tecnologia

Bruno Guimarães Delgado3, MSc. Mineradora Vale S/A

Departamento de Projetos de Logística Carlos Roberto Ribeiro Araújo4, MSc.

Tribunal de Contas do Estado do Pará Departamento de Engenharia

RESUMO Este texto apresenta um resumo do projeto de criação do curso de graduação em Engenharia Ferroviária e Logística no âmbito da Universidade Federal do Pará (UFPA), contextualizando a importância estratégica, nacional e regional, na busca por essa formação profissional e apresentando o contexto político e estrutura pedagógica proposta para o curso. O texto também pontua em que estágio encontra-se o processo de criação do referido curso de graduação e aponta as perspectivas futuras para o curso e seus egressos.

1. CONTEXTUALIZAÇÃONenhum modal terrestre oferece ao transporte de pessoas ou de cargas tanta eficiência e precisão como o transporte sobre trilhos. Sua capacidade para atender altas demandas retira das estradas e de áreas urbanas milhares de veículos. Os benefícios daí decorrentes são diversos em relação aos outros modais: menos poluição, menos congestionamentos e a consequente melhoria não só da qualidade de vida da população, mas do escoamento de nossas riquezas e redução dos custos logísticos internos e externos. Segundo Pacha et al. (2013), o transporte ferroviário é o nível intermodal que alavanca o surgimento de indústrias e estabelecimentos comerciais, aquecendo a cadeia produtiva e elevando a competitividade de forma geral.

Em outros países mais desenvolvidos, o trem é uma realidade. Desde a sua concepção, as ferrovias jamais deixaram de ser mantidas e ampliadas. Espanha, França, Alemanha e Inglaterra são bons exemplos da utilização deste modal. Nesses países, as ferrovias não foram esquecidas, ao contrário do que aconteceu no Brasil. Aqui, a malha ferroviária chegou às raias do sucateamento (PACHA et al., 2013).

O estado do Pará, apesar do desconhecimento de grande parte da população, tem historicamente uma forte ligação com o transporte ferroviário por meio das extintas Estrada de Ferro de Bragança – EFB e da Estrada de Ferro do Tocantins – EFT, e ainda, através de outras ferrovias visando o transporte de minérios como a Estrada de Ferro de Trombetas, a Estrada de Ferro do Jari e a Estrada de Ferro Carajás – EFC, sendo esta última a mais eficiente e moderna do Brasil e na qual circula a maior composição do mundo em extensão, com 330 vagões. A capital Belém, impulsionada pela prosperidade proporcionada pelo ciclo econômico da borracha na Amazônia, segundo destacou Sarges (2000) chegou a contar com uma das mais modernas redes de bondes eletrificados sob trilhos do Brasil. O primeiro curso de Engenharia da Amazônia, fundado em 1931 e depois incorporado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), segundo Coimbra (2009) formava quadros para o corpo técnico da

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EFB, da EFT e da companhia de bondes da capital.

Entretanto, atualmente, em função de um grande hiato em investimentos ferroviários no país, os cursos de Engenharia atualmente existente não proporcionam a formação completa necessária para atuação nas diversas vertentes de uma moderna Estrada de Ferro, incluindo a as disciplinas relacionadas à via permanente, aos veículos ferroviários e aos atuais sistemas de sinalização e licenciamento de trens, por exemplo. A isso somam-se projetos ferroviários de grande vulto que estão em fase de implantação no estado do Pará como a expansão da Estrada de Ferro Carajás e a implantação do Ramal Ferroviário Sudeste do Pará (RFSP), além de outros em fase de desenvolvimento de projetos, visando a obtenção de custos logísticos mais competitivos para a região e para o Brasil. Dessa forma, a UFPA aprovou recentemente a criação de um curso destinado a formar quadro técnico compatível com tais necessidades, resgatando uma tradição histórica de sua antiga escola de Engenharia.

Cabe destacar ainda que conforme mencionado em Dias (1997) é razoável supor que um modelo para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, passe por investimentos em ciência e tecnologia, visto que este modelo hoje inexistente ainda no mundo industrializado deverá ser desenvolvido por nós e para nós em benefício global, sendo papel da Universidade funcionar como elemento indutor e viabilizador para geração dos conhecimentos necessários para tal.

A Universidade Federal do Pará, instituída pela Lei nº 3.191, de 2 de julho de 1957, é uma das maiores e mais importantes instituições da Amazônia. É composta por mais de 50 mil pessoas, sendo 2.522 professores, 7.101 alunos de cursos de pós-graduação, sendo 4.012 estudantes de cursos de pós-graduação stricto sensu; 32.169 alunos matriculados nos cursos de graduação. Dentro deste universo a UFPA oferece 513 cursos de graduação e 45 programas de pós-graduação, sendo 43 cursos de mestrado e 22 de doutorado. A UFPA congrega mais de mil doutores, o que representa cerca de 30% do total da Amazônia. Configura-se, dessa forma, como uma instituição em porte e tradição perfeitamente indicada para a implantação deste curso de graduação.

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CURSODiariamente, verificam-se diversas e profundas mudanças, em função do desenvolvimento de novos materiais e tecnologias, e da criação e adoção de novos métodos de análise, influenciados pela utilização dos computadores. Por isso, o campo de atuação do Engenheiro Ferroviário e Logística extrapolou os de áreas tradicionalmente consagradas como os das Engenharias Civil, Elétrica e Mecânica.

O objetivo do Curso de Engenharia Ferroviária e logística da UFPA é formar profissionais aptos para atuarem no projeto, operação, construção, manutenção e gestão de ferrovias. De uma maneira mais específica, o profissional poderá atuar em áreas como: projeto e manutenção da via permanente e de obras de arte especiais, materiais para sistemas de transporte veiculares ferroviários, manutenção de material rodante (locomotivas, vagões e máquinas de via), sistemas de comunicação, sinalização e operação ferroviária, legislação e gestão de empreendimentos ferroviários. Poderá ainda desenvolver atividades de pesquisa e de difusão de conhecimentos visando o desenvolvimento da engenharia ferroviária e logística brasileira.

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A forma de ingresso será via processo seletivo vestibular anual com 40 vagas para o turno vespertino na modalidade presencial, sendo que a duração mínima do curso será de 10 semestre e máxima de 18 semestres com carga horária total de 3.600 horas e regime seriado semestral, sendo previstas atividades em sala de aula e laboratório, acompanhadas de atividades complementares em paralelo, como: visitas, viagens e uso de mídia eletrônica.

O curso será organizado com 4 a 7 disciplinas por blocos semestrais, serão necessários 10 blocos semestrais concluídos para a integralização curricular. A figura 1 apresenta as disciplinas alocadas por semestre do curso, proporcionando uma ideia do perfil profissional que se pretende formar.

1° Semestre 2° Semestre 3° Semestre 4° Semestre 5° Semestre 6° Semestre 7° Semestre 8° Semestre 9° Semestre 10° Semestre

Cálculo I

60

Cálculo II

60

Cálculo Num.

Comput. 60

Geologia Aplicada

60

Hidrologia Aplicada

60

Int. à Operação Ferrovia

60

Via Permanente

I 60

Via Permanente

II 60

Manut. Via Permanente

60

Adm. Gerencial

60

Física I

60

Física II

60

Estatística Aplicada

60

Foto Interp. e Geoproc.

60

Análise Estrutural II

60

Drenagem de Vias

60

Tração Ferroviária

60

Pontes Ferroviárias

I 60

Alta Velocidade Ferrovias

60

Ética e Reg. Profissional

30

Química Aplicada

60

Laboratório de Física

30

Mecânica Técnica I

60

Análise Estrutural I

60

Locomotiva Vagões e Maq. Via

60

Mec. Solos Aplicada

60

Obras Arte Corr. e Esp.

60

Estabilidade de Taludes

60

Projeto Ferrovias

60

Segurança no Trabalho

60

Des. Auxiliado Comput I

60

Laboratório de Química

30

Redação Interpret.

30

Resistência dos

Materiais I 60

Resistência dos

Materiais II 60

Logística II (Passageiro)

60

Impactos Ambientais

em Ferr. 60

Automação da Via

Permanente 60

Estágio Supervision

ado 150

Pontes Ferroviárias

III 60

Introdução à Engenharia Ferroviária

60

Álgebra Linear

Numérica 60

Economia Aplicada

30

Geometria Ferroviária I

60

Geometria Ferroviária

II 60

Terraplena Mecanizada

60

Tec. Constr. Via

Permanente 60

Logística III (coleta,

distrib, arm) 60

Pontes Ferroviárias

II 60

TCC II

60

Informática Aplicada à Engenharia

60

Des. Auxiliado Comput II

60

Topografia II

60

Eng. de Transportes

60

Logística I (Carga)

60

Materiais Const.

Ferrovia 60

Laboratório de Solos

60

Mecânica da Via

Permanente 60

TCC I

60

Topografia I

60

Acessibilidade em Ferr.

30

Lab. Materiais Ferrovias

30

Figura 1: Representação Gráfica do perfil de formação (PACHA et al., 2013)

3. INFRAESTRUTURA PARA FUNCIONAMENTO DO CURSOCom relação a corpo docente, o Curso de Graduação em Engenharia Ferroviária e Logística será composto por nove docentes do setor profissional pertencentes ao ITEC, já do quadro permanente de docentes da UFPA, sendo 01 especialista, 03 mestres e 05 doutores. Poderá ser necessária a contratação de mais dois docentes, com a titulação mínima de mestrado, a partir de 2017, todos com conhecimentos prévios na área de Engenharia Ferroviária e Logística. Será necessária ainda a contratação ou disponibilização de uma secretária ou bolsista para o curso.

Em relação às instalações físicas, a coordenação do curso inicialmente funcionará em uma sala a ser disponibilizada no ITEC, sendo que a partir de 2014 será necessária a disponibilização de 01 sala de aula no ITEC para as aulas. Em 2015 mais uma sala será necessária, assim sucessivamente até 2018, onde será atingido o número de 5 salas, total a ser utilizado no curso.

Serão utilizados os seguintes laboratórios:

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a) Laboratório de Infraestrutura de Transporte Ferroviário da Amazônia – AmazonFerr,em implantação no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá – PCTGuamá. Obra jáfinanciada pela Vale e com terreno já disponibilizado no PCTGuamá. Nele serãorealizadas as seguintes atividades: ensaios estáticos e dinâmicos em elementosestruturais e modelos reduzidos de pontes e viadutos ferroviários, visando o melhorentendimento do comportamento destas estruturas; testes de fadiga em dormentes;desenvolvimento/aprimoramento de software avançado para análise estrutural linear enão linear, estática e dinâmica de pontes e viadutos ferroviários, considerandointerações veículo-estrutura e estrutura-fundação-solo; desenvolvimento de técnicas demonitoramento on-line com base em redes de sensores e transdutores integrados aenlaces de comunicação do tipo wireless de longa distância;desenvolvimento/aplicação de sensores de deformação e temperatura em fibrasópticas, com base em tecnologias multipontuais, ou quase distribuídas (redes deBragg), e sua integração aos sistemas de monitoramento on-line; determinação demétodos para avaliação dos fatores de amplificação dinâmica das pontes e viadutos;desenvolvimento/aplicação de técnicas modernas de identificação de parâmetrosmodais como a de análise modal durante a própria operação da ferrovia (operationalmodal analysis); avanço em métodos para determinação de vida útil à fadiga deelementos estruturais; verificação da influência do aumento de carga e da velocidadedos veículos na vida útil das estruturas; estudo e análise de solos.

b) Laboratórios de física e química do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN); ec) Laboratórios de informática, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica e Engenharia

Mecânica do ITEC.

4. CONSIDERAÇÕES FINAISO curso de graduação em Engenharia Ferroviária e Logística encontra-se aprovado na congregação do ITEC/UFPA e deve ter seu primeiro vestibular já em 2014. Será o terceiro curso no Brasil com este enfoque. A perspectiva é de atender a uma demanda reprimida na formação de profissionais ferroviários na região e no país com vistas a atender o recente reaquecimento do setor, o que é promissor para os jovens egressos que devem ter um mercado de trabalho com amplas possibilidades após a conclusão do curso. A comissão organizadora do curso espera receber uma grande procura dos jovens da região e de outras regiões do país pelo curso já em seu primeiro ano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COIMBRA, O. (2009) Crônicas dos “jovens de 1886” (a origem dos fundadores da primeira escola de

Engenharia do Pará). Belém: Universidade Federal do Pará. DIAS, M. A. R. (1997) “O papel da educação, da ciência e da tecnologia no desenvolvimento sustentável da

Amazônia”. Livro: Educação, Ciência e Tecnologia: bases para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Belém: Associação de Universidades Amazônicas.

PACHA, J. R. S.; SOUZA, R. M. de; DELGADO, B. G.; ARAÚJO, C. R. R. (2013). Projeto pedagógico do curso (PPC) de Engenharia Ferroviária e Logística da UFPA/ITEC. Belém: Universidade Federal do Pará.

SARGES, M. de N. (2000) Belém: riquezas produzindo a Belle-Époque (1870-1912). Belém: Paka-Tatu.

1Rua Augusto Correa, 1 Guamá, Belém/PA, Brasil, 66.075-110 ([email protected]) 2Rua Augusto Correa, 1 Guamá, Belém/PA, Brasil, 66.075-110 ([email protected]) 3Rua Dr. Moraes, 78 Nazaré, Belém/PA, Brasil, 66.035-080 ([email protected]) 4Rua Augusto Correa, 1 Guamá, Belém/PA, Brasil, 66.075-110 ([email protected])