o profeta isaías

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ÉDER LÚCIO RODRIGUES FERREIRA O PROFETA ISAÍAS Vida e Obra

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Uma síntese da vida e ministério do profeta durante os seus aproximados 50 anos de atividades.

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Page 1: O Profeta Isaías

ÉDER LÚCIO RODRIGUES FERREIRA

O PROFETA ISAÍASVida e Obra

Muriaé, MG

2009

Page 2: O Profeta Isaías

ÉDER LÚCIO RODRIGUES FERREIRA

O PROFETA ISAÍASVida e Obra

Trabalho apresentado à Escola Superior de Teologia do Espírito Santo para obtenção de nota da matéria: Livros Poéticos e Proféticos

Muriaé, MG10 de fevereiro de 2009

Page 3: O Profeta Isaías

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................2

1. A VIDA DO PROFETA.........................................................................................................2

1.1. Seu nome.........................................................................................................................2

1.2. Sua família.......................................................................................................................3

1.2.1. Sua ascendência.....................................................................................................3

1.2.2. Sua descendência...................................................................................................3

1.3. Escopo.............................................................................................................................4

2. A OBRA DO PROFETA........................................................................................................4

2.1. O contexto histórico........................................................................................................5

2.1.1. A situação política.................................................................................................5

2.1.1.1. O reino de Israel........................................................................................5

2.1.1.2. Uzias, rei de Judá......................................................................................5

2.1.1.3. Jotão, rei de Judá.......................................................................................6

2.1.1.4. Acaz, rei de Judá.......................................................................................7

2.1.1.5. Ezequias, rei de Judá.................................................................................8

2.1.2. A situação espiritual..............................................................................................9

2.2. O chamado profético.......................................................................................................9

2.3. O ministério profético...................................................................................................10

2.3.1. Os períodos de atividades proféticas...................................................................10

2.3.2. A mensagem profética.........................................................................................11

2.3.3. Propósito e teologia das mensagens....................................................................12

2.3.4. O valor ético e teológico das mensagens............................................................12

2.3.5. A forma literária das mensagens.........................................................................13

CONCLUSÃO..........................................................................................................................13

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................14

I

Page 4: O Profeta Isaías

INTRODUÇÃO.

O profeta Isaías tem seu livro classificado na sessão dos “profetas maiores” do Antigo

Testamento. Tal classificação deve-se à extensão dos escritos, contudo posso afirmar que ele

também se destaca diante do conteúdo de suas mensagens, assim como a sua pessoa. Várias

foram as designações dadas a ele, tais como “o rei dos profetas”, “o profeta messiânico” e “o

profeta evangelista”. Seu livro é considerado por alguns como “a Bíblia em miniatura”1.

Todos estes fatores destacam-se e atraem a atenção para esta personagem, que passa

agora a ser analisada de forma sintética quanto à sua vida e obra.

1. A VIDA DO PROFETA.

1.1. Seu nome.

O nome de Isaías (whyesy) é uma combinação de duas outras palavras hebraicas

cujo significado seria “Yahweh é salvação”, ou “Yahweh deu salvação”, ou “Salvação de

Yahweh”.

O nome na cultura hebraica é significativo podendo determinar uma situação presente,

ou sendo determinada por ela; podendo ainda corresponder ao caráter presente do seu

protagonista. Ridderbos (1986, p. 9) ainda faz uma conjectura interessante sobre as

circunstâncias para o nome do profeta ao escrever: “Talvez os pais de Isaías lhe deram este

nome para expressar a sua gratidão pela bênção experimentada por ocasião do nascimento do

seu filho”. Apesar deste comentário não encontrar evidências internas e tradicionais, ainda

assim, o nome de Isaías, certamente, cumpre o seu papel, uma vez que em sua mensagem ele

apresenta o Santo de Israel promovendo a salvação do seu povo mediante seu Servo.

1 Tal atribuição se deve a similaridade de sessões que são duas; no número de capítulos correspondente ao número dos livros bíblicos; nos enfoques relacionados à lei e a graça advinda com o Messias; na apresentação de uma “voz” que clama na segunda sessão, correspondente a João Batista no N. T.; e no interlúdio entre as sessões do livro correspondendo com o interlúdio histórico entre os testamentos bíblicos.

Page 5: O Profeta Isaías

3

Há no A. T. a ocorrência de outros homônimos (cf. 1º Cr 3:21; 25:3, 15, na LXX e

traduzido por “Jesaías” nas versões portuguesas: RA, RC, TB). Portanto, o profeta é

distinguido dos demais com a adição da frase “filho de Amoz”2 (cf. Is. 1:1; 2º Rs 19:2, etc),

ou por sua designação profética: “o profeta” (cf. 2º Rs 20:1).

1.2. Sua família.

1.2.1. Sua ascendência.

O próprio prólogo do livro (cf. Is 1:1) nos apresenta a filiação do profeta: “filho de

Amoz”. Este é o máximo de informação. Não há registro algum sobre o seu pai, sua tribo ou

dos seus primeiros anos de vida, exceto por algumas conjecturas e pela tradição rabínica.

Segundo Champlin (2001, p. 2779) alguns acreditam que o profeta descendia de uma

família sacerdotal com base no texto de sua comissão no capítulo seis, dos versos um a oito.

Por sua vez, a tradição rabínica identifica-o como membro da realeza de Judá. Ridderbos

(1986, p. 9) argumenta ainda “a tradição rabínica de que Amoz, pai de Isaías, era irmão do rei

Amassias, não tem confirmação adequada. Assim mesmo, alguns intérpretes crêem que

podemos inferir, da sua conduta, que ele era de nobre descendência, e como tal, tinha

influência na corte real”.

Seu nascimento pode ser calculado entre 765 e 760 a.C., visto que seu chamado

profético deu-se por ocasião da morte do rei Uzias em 740 a. C. (cf. Is 6:1).

1.2.2. Sua descendência.

A vida familiar de Isaías, entretanto nos é descrita, mas igualmente sucinta. Era

casado, e sua esposa é chamada de “a profetiza” (cf. Is 8:3). Mais uma vez há dúvidas quanto

ao termo, pois pode descrever o fato dela também profetizar ou a sua condição de esposa de

profeta. Não obstante, o Senhor usou a própria família de Isaías como instrumento de

revelação da Sua mensagem ao povo.

Dois filhos são mencionados no seu livro, e ambos receberam nomes simbólicos (cf. Is

8:18), que indicavam a iminência do juízo divino, sendo eles: “Um-Resto-Volverá” (cf. Is

7:3,14 - RA) e “Rápido-Despojo-Presa-Segura” (cf. Is 8:3,4 - RA). O primogênito aparece

no livro aparentemente já homem feito nos dias de Acaz, enquanto que o segundo nasce

durante o mesmo reinado. Para Champlin (2001, p. 2779) os significados destes nomes podem

2 É necessário ainda fazer uma distinção entre Amoz, pai do profeta Isaías, e Amós, o profeta. As grafias são diferentes, mesmo no original, apesar do som ser parecido.

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estar associados tanto ao cativeiro assírio quanto babilônico. Visto que quando o Reino do

Norte foi levado, o Reino do Sul permaneceu apenas porque pagou tributo (2º Cr. 28:21).

1.3. Escopo.

Diferente de Amós, que era boiadeiro profetizando para o Reino do Norte, Isaías viveu

na cidade e concentrou suas atividades no palácio, em Judá. Como profeta advertiu

vigorosamente os palacianos e ao povo contras as alianças com as nações vizinhas exortando-

os a confiar no Senhor, tornando-o alvo de zombarias e de rejeição.

Teve um ministério profético profícuo como se verá adiante, sendo um atento

observador político de sua época e deixando transparecer nos seus escritos que era um homem

culto.

Quanto à sua morte não encontramos registro, e mais uma vez encontramos esta

informação na tradição rabínica, de que ele teria sido colocado dentro de um tronco de árvore

para depois ser serrado ao meio. Contudo Ridderbos (1986, p. 10) argumenta que “de acordo

com a tradição rabínica, Isaías sofreu o martírio pela espada, ou foi serrado em dois durante o

reinado de Manassés. Contudo, estas tradições tendem a não ser dignas de confiança. da

mesma forma, a referência de Hebreus 11;37 ao martírio de pessoas que foram serradas ao

meio não é prova de que esta foi a sorte de Isaías”.

Pode-se dizer, seguramente sobre Isaías, que embora não se tenha certeza de sua

ascendência real, ele tem sido chamado de “rei dos profetas” (Ridderbos. 1986, p. 10), pois

através de seus escritos se percebe uma dignidade real por meio de suas ações intrépidas, pelo

estilo nobre e belo de suas mensagens.

2. A OBRA DO PROFETA.

Calcula que Isaías tenha exercido o seu ministério profético por cerca de cinqüenta

anos ou mais no reino de Judá, sendo Jerusalém o palco de suas ações. Ao abrir seu livro,

deparamos com esta realidade: “Visão de Isaías, filho de Amoz, que ele teve a respeito de

Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá” (Is 1:1). Portanto,

ele profetizou mais ou menos entre 740 a 695 a.C.

Page 7: O Profeta Isaías

5

2.1. O contexto histórico.

Isaías viveu num momento importante para Israel e Judá. Alguns dos primeiros

capítulos do livro refletem esse ambiente. Seu nascimento mesmo foi em dias de grande

prosperidade para Judá, algo que não havia sido experimentado desde a divisão dos reinos.

Entender os dias e o ambiente que cercava o profeta, certamente nos ajuda a entender a sua

obra.

2.1.1. A situação política.

O período progressista em Judá tanto quanto em Israel, nos primeiros dias de Isaías,

deve-se ao fato da mudança no cenário político internacional nos anos anteriores.

Aproveitando a declaração do período do exercício ministerial de Isaías (cf. Is 1:1),

apresento a situação política de acordo com os reinos judeus e as monarquias sulistas durante

o exercício profético.

2.1.1.1. O reino de Israel.

Em Israel a pressão Síria minguava-se diante do novo império Assírio. Jeroboão II

aproveitou o enfraquecimento do reino sírio recuperando suas fronteiras e expandindo o seu

reino conforme a profecia de Jonas (2º Rs 14:25). Nesta época o novo império Assírio

enfrentava problemas internos propiciando este período áureo para Israel. O sucesso militar e

comercial de Jeroboão II trouxe as riquezas, assim como o declínio moral e a indiferença

religiosa. Sob este tempo profetizaram Amós e Oséias. Após a morte de Jeroboão II sucedeu-

se nova disputa pelo poder no reino do norte, surgindo as dinastias de Salum, Menaém e Peca.

Durante este período de decadência, a Assíria, agora fortalecida, invadiu a Palestina

conquistando-a e posteriormente Samaria, em 722 a.C., expatriando-os.

2.1.1.2. Uzias, rei de Judá.

Em Judá, por ocasião da nova disputa pelo poder em Israel, Uzias exerceu sua

liderança trazendo para o povo uma era de prosperidade, ampliando as fronteiras para o sul e

subjugando os amonitas ao oriente.

Algumas justificativas para este período próspero no reinado de Uzias podem ser

apresentadas como sendo o ambiente de cordialidade existente entre Uzias e Jeroboão II, uma

vez que não há registro de ataques entre eles conforme apresentado por Schultz (1984, p.

Page 8: O Profeta Isaías

6

197). Segundo, o enfraquecimento interno de Israel após Jeroboão II, possibilitando as

expansões ao oriente. Terceiro, os problemas internos no império assírio impedindo sua

ambição expansionista temporariamente. Quarto, os territórios expandidos faziam parte de

rotas comerciais importantes. Por fim, a direta dependência do regente ao Senhor (cf. 2º Cr

26:5,7).

Infelizmente, Uzias, no auge do seu sucesso, forçou uma postura que era exclusiva dos

sacerdotes, tentando oferecer incenso no templo. A lepra e a perda dos privilégios sociais

foram resultados deste ato punível pelo Senhor. Jotão se torna co-regente.

Ao final do reinado, o império Assírio novamente toma força com Tiglete-Pileser III.

Numa política de oposição, Judá é vencida numa batalha contra os assírios em Arpade.

Schultz comenta:

“embora Tiglete-Pileser houvesse esmagado a oposição conduzida por Azarias (Uzias), não fez qualquer reivindicação de haver colhido tributo de Judá. Visto que Menaém pagara uma soma enorme a fim de evitar a invasão punitiva por parte dos ferozes assírios, Tiglete-Pileser não fez seus exércitos avançarem para o sul, na direção de Judá, nessa oportunidade. Por conseguinte, Uzias foi capaz de manter uma política anti-assíra, ao mesmo tempo que contava com Israel, que era favorável à Assíria, como se fora um estado tampão” (1984, p. 198).

Morre Uzias, mas deixa na história de Judá um reino que superou suas dificuldades

internas e externas, tornando-se desenvolvido e próspero, sendo ultrapassado apenas pelo

progresso experimentado nos dias de Davi e Salomão.

2.1.1.3. Jotão, rei de Judá.

Jotão foi um rei eclipsado por um antecessor forte e firme, mantendo-se em segundo

plano até a morte do pai, e seguindo a política deste; e posteriormente por seu sucessor, Acaz,

que diante da ameaça assíria tornou-se co-regente.

Schultz sintetiza o reinado de Jotão relatando que seu “reinado total é computado

como vinte anos, mas ele (Jotão) reinou sozinho apenas por três ou quatro anos. Na posição

de co-regente com seu pai, ele teve pouquíssimas oportunidades de impor-se. Mais tarde, a

ameaça assíria precipitou a crise que o forçou a retirar-se da vida ativa, enquanto Acaz

advogava amizade com a capital nas margens do rio Tigre” (1984, p. 199 – acréscimo pessoal

em negrito).

O início do seu reinado coincide com o de Peca, no reino de Israel, cuja postura

política foi de oposição aos assírios.

Sem expressão política externa diante da pressão assíria na região, apesar de sufocar

um levante entre os amonitas, não foi capaz de manter a cobrança de tributos. Por sua vez na

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política interna revelou-se sem grandes feitos, envolvendo a construção de cidades e torres

para o estímulo à agricultura no país, assim como demonstrou interesse religioso ao construir

um portão superior no templo, sem, contudo intervir no culto pagão dos lugares altos (2º Cr

27:2).

2.1.1.4. Acaz, rei de Judá.

Acaz teve um reinado de vinte anos cheio de dificuldades (2º Rs 16:1-20; 2º Cr 28:1-

17), cedendo à pressão externa imposta pelo império assírio, tornando-se seu partidário.

A Assíria impunha seu desejo de conquista do Crescente Fértil, levando Peca, rei de

Israel, a aliar-se com Rezim, rei de Damasco, numa coalizão de oposição ao expansionismo

assírio. Como parte desta estratégia, compeliram Acaz para que se junta-se a eles. Acaz

recusa-se, evidenciando sua política pró-assíria.

A postura partidária de Acaz, neste momento, lhe trouxe a ameaça da coligação Israel

e Síria3, que tinham a intenção de depô-lo e estabelecer um novo regente favorável a política

anti-Assíria. Este é um dos momentos de intervenção do profeta Isaías, pois Acaz comete a

insensatez de pedir auxílio à Assíria. Judá se torna um estado satélite do império assírio.

Em 732 a. C., Damasco é conquistada e os território ao norte de Israel. Oséias é

colocado como rei em Samaria numa posição de vassalo assírio, mas rebela-se. Em 722 a. C.

Samaria é finalmente sitiada e destruída.

Acaz encontra-se com Tiglete-Pileser em Damasco lhe assegurando vassalagem. Deste

encontro, ele lidera o regresso de Judá ao paganismo, atraindo a condenação e o juízo divino.

“Durante todo o seu reinado Acaz manteve uma política pró-assíria. Enquanto havia troca de soberanos na Assíria e o reino do Norte chegava ao fim, por causa da rebelião de Oséias, Acaz guiava com sucesso sua nação através das crises internacionais. Embora Judá houvesse perdido a sua liberdade, e tivesse tido de pagar pesado tributo à Assíria, prevaleceu a prosperidade econômica que fora estabelecida sob os ditames rígidos de Uzias. As riquezas estavam melhor distribuídas do que no reino do Norte, onde haviam beneficiado exclusivamente a aristocracia. Enquanto o “status quo” não fosse perturbado por exércitos invasores, Judá suportaria o pagamento de pesado tributo à Assíria.

Embora contasse com o grande profeta Isaías como seu contemporâneo, Acaz promoveu as mais esdrúxulas práticas idólatras. de acordo com costumes pagãos, ele fez seu filho passar pelo fogo. Não somente retirou muitos tesouros do templo, para satisfazer às exigências do rei assírio, MS também introduziu cultos estrangeiros no lugar onde só Deus era adorado. Não admira que Judá houvesse incorrido na ira de Deus” (Schultz, 1984, p. 200).

3 Esta coalizão é conhecida como sírio-efrainita. Apesar de Jerusalém ter sido sitiada nesta guerra, a cidade não foi tomada. Mas experimentou uma grande perda, entre mortos e cativos, os quais foram levados para Samaria e Damasco. Só não houve maior dano, pois alguns dentre o povo de Israel ainda seguiam ao Senhor, que sendo exortados por um profeta, deixaram livres seus cativos judeus.

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8

2.1.1.5. Ezequias, rei de Judá.

Ezequias reinou de 716 a 695 a. C. Sua liderança se destacou por sua extraordinária

reforma religiosa operada em toda a história de Judá. Compromisso espiritual que lhe

trouxeram benefícios materiais, gozando de um reinado pacífico. Apesar do cerco assírio (701

a. C.), ele sobreviveu pela intervenção divina. Durante sua última década de governo teve

Manassés como co-regente. Seu sepultamento foi honroso, diferente de alguns de seus

antepassados.

Schultz sintetiza este reinado demonstrando Ezequias como um rei “dotado de sincera

devoção à tarefa, [...] conduziu seu povo à maior reforma que houve na história de Judá. Visto

que o reino do Norte já não possuía governo independente, essa reforma religiosa atingiu

aquele território. Excetuando a ameaça Assíria, Ezequias gozou de um reinado pacífico”

(1984, p. 205).

O reinado tem início nos vinte e cinco anos de Ezequias. Ele foi testemunha da

desintegração do Reino do Norte pela Assíria, percebendo que tal fato era resultado de juízo

divino uma vez que eleshaviam abandonado ao Senhor. Judá encontrava-se numa posição de

vassalagem ao império assírio, com Sargão II, assim não foi incomodado nestes anos iniciais.

Sendo um governante de percepção, diante do quadro que se desenrolava de rebelião

no reino assírio depois da morte de Sargão II (705 a.C), antecipou o ataque assírio

concentrando suas atenções num programa de defesa em Jerusalém. Fortificações foram

reforçadas; escudos e armas foram fabricados; o exército capacitado; e por fim foram

planejados e executados os meios de aumentar a capacidade de obtenção e armazenamento de

água para Jerusalém durante um cerco. Contudo, tais atos não substituíram sua confiança e

dependência do Senhor (2º Cr 32:8).

Em 701 a. C. Senaqueribe concretizou as ameaças de subjugar totalmente o reino de

Judá. Numa primeira tentativa assíria, Ezequias se vê obrigado a pagar um pesado tributo (cf.

2º Rs 18:14). Schultz (1984, p. 204) argumenta que a doença de Ezequias desenvolve-se neste

período de intensa pressão assíria. Isaías adverte que o rei se prepare para a morte, mas o

Senhor concede-lhe a graça de ter sua saúde restabelecida e que ficaria livre dos assírios. O

Senhor interveio com uma revolta na Babilônia fazendo com que parte do exército retornasse

e aqueles que caminhavam para o cerco de Jerusalém fossem destruídos pelo anjo do Senhor

(2º Cr 32:21).

A aclamação e o reconhecimento das nações vizinhas foram expressos na forma de

presentes enviados à Ezequias. Dentre estes, veio uma comitiva babilônica, que estava

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fomentando a rebelião na Babilônia, para prestar suas homenagens. Foi nestas circunstâncias

que Ezequias mostra a riqueza de Jerusalém e recebe a advertência profética do cativeiro

babilônico.

2.1.2. A situação espiritual.

Há uma oscilação na espiritualidade em relação ao reino de Judá, enquanto que em

Israel o povo estava corrompido e impenitente, apesar de algumas poucas exceções. Amós e

Oséias foram os instrumentos de Deus para Israel, enquanto Isaías e Miquéias atuaram em

Judá.

A prosperidade no reinado de Uzias induziu o povo de Judá a luxúria e autoconfiança,

motivo pelo qual rejeitaram a mensagem profética de Isaías ao arrependimento (cf. Is 6:10-

11), passando então a descrever o juízo divino. Assim começava o declínio espiritual do povo,

na mesma proporção que o político. É neste ambiente de decadência que Isaías recebe o seu

chamado.

Entretanto é no reino de Acaz que o culto ao Senhor no templo é substituído pela

idolatria pagã. O envolvimento de Acaz com as alianças estrangeiras deve-se a sua

incapacidade de confiar no Senhor (cf. Is 7:2).

Finalmente a esperança e a renovação espiritual renovam-se no reinado de Ezequias.

Vê-se que a reforma religiosa começou ainda no primeiro mês de seu reinado. Certamente a

destruição do reino de Israel, como evidência das palavras de juízo divino, tornava mais forte

ainda o movimento de reforma. A páscoa foi celebrada contando com alguns remanescentes

do reino de Israel.

Isaías estimulou Ezequias a confiar no Senhor apesar da pressão internacional para o

estabelecimento de alianças. A tendência de aceitar tais alianças traziam mais pressão,

contudo a fé e a confiança renovada nas ações divinas, garantiram o favor do Senhor. Assim,

conforme Stanley (1993, p. 218-219) indica, houve uma mudança direção do braço justiceiro

do Senhor que salvou Judá de um destino igual ao de Israel.

2.2. O chamado profético

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor” (Isaías 6:1). É desta forma que o

profeta inicia o testemunho de sua comissão.

A situação política estava insustentável tanto interna quanto externa. A situação

internacional tendia para uma oposição à Assíria, que encontrava em Jotão uma inclinação

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favorável seguindo a política de Uzias. Entretanto internamente havia uma pressão para uma

mudança política de apoio à Assíria, cujo enfoque encontrava respaldo em Acaz. Era um

tempo de grande incerteza.

Para Schultz a comissão profética de Isaías estabeleceu-se nas seguintes

circunstâncias:

“Foi durante aquele ano de tensão doméstica e no exterior que o jovem Isaías recebeu seu chamamento profético. é possível que ele tivesse observado os acontecimentos internacionais com agudo interesse, ao dissiparem-se as esperanças de sobrevivência nacional por parte de Judá, diante dos exércitos assírios que avançavam. Qual teria sido a atitude religiosa de Isaías, nesse tempo, não é indicado. Talvez ele conhecesse a Amós e Oséias, que se mostravam ativos no reino do Norte. Em sua juventude pode ter entrado em contato com Zacarias, o profeta que exercia tão favorável influência sobre Uzias. Nesse ano crucial, pois, Isaías foi chamado para ser porta-voz de Deus – anunciar a mensagem de Deus a uma geração que enfrentava acontecimentos históricos sem precedentes”. (Schultz, 1984, p. 286).

Fato notório é a disposição de Isaías em ser este mensageiro divino, pois ao ouvir a

convocação responde prontamente. A disposição não muda diante a afirmação do Senhor que

o povo não responderia favoravelmente à mensagem. Sua responsabilidade ela proclamar, até

quando os juízos se confirmassem. Entretanto, do toco cortado um renovo ressurgiria como

fruto deste ministério árduo (cf. Is 6).

Têm-se início a “visão de Isaías, filho de Amoz, que ele teve a respeito de Judá e

Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá” (cf. Is 1:1).

2.3. O ministério profético.

O período vivido por Isaías, assim como o exercício do seu ministério profético

envolveu o levante e queda de reinos e impérios. Destacou-se que as tribulações do povo de

Deus, tanto Israel quanto Judá, nada mais era do que a resposta divina à infidelidade. Assim o

Senhor que controla todas as coisas usou a Assíria para dar início ao seu processo de

vindicação enquanto que a Babilônia o encerra.

Apresento a seguir alguns aspectos especiais dentro do ministério profético de Isaías.

2.3.1. Os períodos de atividades proféticas.

O trabalho profético de Isaías pode ser dividido em quatro períodos conforme

Ridderbos (1986, p. 12-16).

O primeiro período vai do ano em que morreu Uzias até a ascensão de Acaz ao trono

de Judá, abrangendo o reinado de Jotão. As profecias deste período se encontram reunidas em

sua maior parte nos capítulos dois a seis. Foi um período cujo conteúdo da mensagem

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11

profética consistia de condenações das condições corruptas existentes em Jerusalém, em Judá

e em Israel, anunciando o julgamento divino sobre eles. Nesse primeiro período o

arrependimento foi pregado, mas não houve resposta, havendo uma associação aos temíveis

assírios como instrumentos deste juízo divino.

O segundo período abrange o reinado de Acaz, focalizando essencialmente a guerra

siro-efraimita. As profecias importantes deste período se concentram nos capítulos sete a

nove, como provavelmente o capítulo um.

Schultz (1984, p. 286-287) comenta que as atividades de Isaías durante o resto do

reinado de Acaz são obscuras, assim como não há indícios de que este rei tenha reconhecido

Isaías como profeta autêntico. Conjectura ainda sobre seus interesses e ansiedades em relação

á Judá uma vez que Samaria caiu nas mãos dos assírios em 722 a.C.

O terceiro período focaliza o princípio do reinado de Ezequias advertindo contra a

cooperação com alianças anti-Assíria.

O quarto período concentra-se por ocasião da invasão de Senaqueribe, estimulando o

rei a não cooperar com alianças anti-Assíria, principalmente com o Egito, mas confiar

inteiramente ao Senhor.

Unger (cit. in Champlin 2001) sumariou as atividades proféticas de Isaías relatando

que “[...] seu ministério, enfatizava os fatores espirituais e sociais. ele feriu as dificuldades da nação

em suas raízes – sua apostasia e idolatria – e procurou salvar Judá da corrupção moral, política e

social. Porém não conseguiu fazer com que seus compatriotas se voltassem para Deus. Sua comissão

divina envolvia a advertência de que sobreviveria o castigo final (Is 6:9-12). Dali por diante, ele

declarou, ousadamente, a inevitável queda de Judá e a preservação de um pequeno remanescente fiel a

Deus (Is 6;13)”.

2.3.2. A mensagem profética.

Unger (cit. in Champlin 2001) ainda descreve o conteúdo da mensagem de Isaías:

“Todavia, alguns raios de esperança alegram as suas predições. Através desse pequeno remanescente, ocorrerá uma redenção de âmbito mundial, quando viesse o Messias, em seu primeiro advento (IS 9:2,6; 53:1-12). E, por ocasião do segundo advento do Messias, haveria a salvação e a restauração da nação (Is 2;1-5; 9:7; 11:1-16; 35:1-10; 54:11-17). O tema de que Israel, um dia, será a grande nação messiânica no mundo, um meio de bênção para todos os povos (o que terá cumprimento somente no futuro), que fez parte tão constante das predições de Isaías, tem atraído para o título de profeta messiânico”.

Diante desta percepção pode-se apresentar a mensagem profética através da seguinte

proposição: “A salvação prometida de Javé consiste na remoção punitiva da atual ordem

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antropocêntrica rebelde e no estabelecimento de uma nova ordem teocêntrica por meio do Seu

Servo, em Quem se realiza a promessa de bênção sobre a terra” (Carlos Osvaldo, 1985).

2.3.3. Propósito e teologia das mensagens.

Como um mensageiro do Senhor que faz aliança com Israel e Judá, Isaías alertou que

o povo de Deus estava para ser julgado por infringir a aliança com Ele. Mas também

profetizou e testemunhou que a cidade de Jerusalém seria miraculosamente libertada da

Assíria.

Suas mensagens destacam a soberania de Deus sobre as nações. O Senhor levantou a

Assíria e a Babilônia como instrumentos para punir seu povo rebelde, mas depois as destruiria

por causa de sua arrogância e crueldade. Contudo neste contexto, será levantado o “Servo do

Senhor” que desempenhará um papel importante na restauração de Israel. A revelação bíblica

subseqüente identifica esse servo com Jesus Cristo.

Matthew Henry destaca acertadamente que Isaías é chamado de “o profeta

evangelista”, passando a descrever o propósito e a teologia destas mensagens:

“Ele é corretamente chamado de “o profeta evangelista” devido às suas numerosas profecias acerca da vinda, do caráter, do ministério, da pregação, dos sofrimentos e da morte do Messias, e da extensão e continuação de seu reino. Sob o véu da libertação do cativeiro, Isaías aponta para uma libertação muito maior, que iria ser efetuada pelo Messias; raras vezes menciona uma sem ao mesmo tempo fazer alusão à outra; sim, ele está muitas vezes tão extasiado com a perspectiva da libertação mais distante que perde de vista a outra que está próxima, para dedicar-se à pessoa, ofício, caráter e reinado do Messias” (2003, p. 560).

Outros temas teológicos importantes são encontrados nestas mensagens, tais como o

nascimento virginal do Messias (Is 7:14); a santidade de Deus; a queda de Lúcifer (Is 14:4-20)

e o conceito de “retidão e justiça”.

2.3.4. O valor ético e teológico das mensagens.

Para Isaías, Deus era “O Santo de Israel” e “O Criador dos fins da terra”. Esse Deus

exigia pureza moral e justiça de seu povo e de todas as nações.

Isaías desafia os cristãos a esperarem em Deus, que não cortou relações com a criação.

O Israel do Antigo Testamento concretizou apenas parcialmente a salvação e a paz divina.

Deus, que agiu para salvar os cristãos no passado por intermédio do Servo Sofredor Jesus,

agirá novamente para conduzir a história ao fim por ele desejado: um novo céu e uma nova

terra.

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2.3.5. A forma literária das mensagens.

As mensagens apresentam-se numa grande variedade de formas literárias, muitas

vezes interligadas de maneira altamente artística e com retórica eficiente. Entre as formas

mais comuns estão o discurso de julgamento, a exortação ao arrependimento, o anúncio da

salvação, o oráculo de salvação, o discurso de disputa e o discurso de tribunal.

Há ainda mensagens de caráter preditivo, principalmente nos capítulos de quarenta a

sessenta e seis que identificam pessoas e situações que surgiram posteriormente na história.

Tal característica tem levantado dúvidas pelos críticos a partir do século XVIII, que

apresentam até mesmo mais de dois autores para estas mensagens. Contudo, creio no ponto de

vista tradicional, que apresenta um único autor4.

CONCLUSÃO.

Dentro todos os profetas do Antigo Testamento, Isaías sempre me fascinou, talvez por

seu conteúdo profético retratando de forma especial o Senhor Jesus como o “servo sofredor”.

Portanto pesquisar sobre sua vida e obra tornou-se um prazer e momentos de edificação.

Certamente a designação dada a ele de “o rei dos profetas” lhe faz justiça.

Fica uma lição pessoal diante deste trabalho e aproveito para registrá-la. Não

importam quaisquer que sejam as circunstâncias da vida, Deus, o Santo, tem um plano que se

descortina em bênçãos através do Senhor Jesus, mediante minha inteira confiança e

dependência da Sua Pessoa. Esta é sem dúvida a mensagem apresentada pela vida e obra deste

profeta.

4 Visto que o presente trabalho enfoca apenas a vida e obra do profeta Isaías, não vejo necessidade de discorrer sobre a questão crítica dos capítulos quarenta a sessenta e seis, sendo objeto de estudo para outro trabalho.

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BIBLIOGRAFIA.

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DOUGLAS, J. D. (ed.). O Novo Dicionário da Bíblia. 2 vols. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1984.

ELLISEN, Stnaley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Traduzido por Emma Anders de Souza Lima. São Paulo, SP: Editora Vida, 1993.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico de Matthew Henry. 3. ed. Traduzido por Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003.

PINTO, Carlos Osvaldo de “Síntese do Velho Testamento”. Síntese do Velho Testamento. Atibaia, SP: Seminário Bíblico Palavra da Vida, 1985.

RIDDERBOS, J. Isaías: Introdução e Comentário. Traduzido por Adiel Almeida de Oliviera. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1986.

SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento. Traduzido por João Marques Bentes. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1984.