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O professor em um mundo saturado de informação
O professor em um mundo saturado de informaçãoPrólogo por Mauro Rebelo
Olhe à sua volta. Preste atenção. O mundo do professor, como você o conhece,
está prestes a mudar. Essa mudança vem acontecendo já há algum tempo, é verdade,
mas agora estamos na eminência dos acontecimentos que vão mudar a sala de
aula para sempre. Mas e o professor? O professor sempre foi o principal agente de
mudanças na sala de aula. Ao contrário do que muitos podem pensar, o professor não
vai desaparecer nesse novo cenário, mas vai ter de se adaptar.
Você pode não acreditar em mim, mas não sou só eu que estou dizendo.
“O professor do meu tempo vai desaparecer. Ele não fi cará mais sozinho. Três pessoas
vão elaborar a aula: Aquele que chamamos de professor, alguém que entende de
programação para colocar no computador o que o educador quer ensinar, e um
terceiro, da área de telecomunicações, para espalhar isso no mundo”.
Esse depoimento é de Cristovam Buarque, Reitor da UNB e Ministro da Educação,
em entrevista à revista Isto É (no: 1964; 20 de junho de 2007). O ministro segue:
“O professor deve estar ciente de que não sabe muita coisa. O que ele aprendeu na
universidade não vale, necessariamente, mais. Por isso, tem que aprender a aprender
de novo! Precisa compreender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não
domina e reconhecer seus limites se não for capaz de usar novas tecnologias. O
professor que não quer usar o computador é como um médico que não quer usar
tomografi a computadorizada. O professor TEM que aprender a mexer no computador.”
Como Cristóvam Buarque, também acredito que nessa necessidade, até porque
os computadores estão nas nossas vidas há algum tempo. Essa frase, no entanto, não
seria tão cruel se a realidade do Brasil fosse diferente da que realmente é.
Nosso país, como sabemos, possui um grande défi cit educacional. O estudo
Estatísticas dos Professores no Brasil”, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), mostrou que 50% dos
estabelecimentos educacionais brasileiros (107 mil ) são escolas rurais, sendo que 28%
não têm nem mesmo eletricidade. Mas eles ainda sofrem de outros problemas como
falta de biblioteca (45%), falta de laboratório de informática (74%) e de laboratórios de
ciências (80%). Alguns números são ainda mais alarmantes: apenas 9% dos professores
têm graduação, sendo que na região norte esse número cai para 1%.
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Novamente, para Cristovam a solução não é apenas colocar os
computadores na sala de aula.
“Hoje, se você forrar uma escola de computadores, eles serão roubados em poucos
dias. Não há estrutura para recebê-los.”
Mas por que o computador é tão importante atualmente?
É fácil entender como uma tomografi a pode auxiliar um médico
em um diagnóstico, uma vez que ela amplia os sentidos para ver
além do alcance da visão, com o uso de raios X. Mas o computador
faz isso?
Eu sugiro que antes de avaliar se o computador é a solução,
procuremos determinar qual é o problema.
Professor – versão 2.00.8 BetaPor volta de 1800, uma das melhores bibliotecas do mundo era a biblioteca de
Oxford. A biblioteca tinha milhares de volumes, mas a maior parte deles eram livros
religiosos, que tratavam de assuntos genéricos. A seção de fi losofi a experimental,
como eram chamadas as ciências, possuía algo em torno de 800 volumes. Um
professor que quisesse se atualizar, lendo 8 h por dia, parando para o almoço e o
jantar, descansando aos sábados e domingos, poderia, em menos de 1 ano, se atualizar
com todo conhecimento disponível à época. Da fi losofi a à matemática, passando pela
biologia.
Nessas condições, esse professor teria então ao menos tido contato direto com boa
parte de toda a produção científi ca que tinha sido publicado no mundo até então,
e sem precisar se preocupar com atualizações, pois o ritmo de produção de novos
conhecimentos era muito lento. Essa história (e seu prosseguimento) é contada no
livro “o perfi l da ciência brasileira” de Leopoldo de Meis e Jaqueline Leta.
Vejam a fi gura 1. Era fácil para o Cérebro absorver e processar toda a informação
existente. Mesmo de áreas tão amplas e diversas como a matemática e a fi losofi a. As
pessoas eram generalistas.
O estudo do INEP é de 2003 , mas ainda foi utilizado para balizar algumas das medidas do programa de aceleração do crescimento (PAC) da Educação. Veja o estudo na íntegra em http://www.inep.gov.br/estatisticas/professor2003/
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Para De Meis, atualmente a coisa é bem diferente. São
publicados mais de 1 milhão de trabalhos científi cos por ano.
Apenas na área de bioquímica, são 151 revistas que publicam
60.000 artigos por ano, sendo que só o Journal of Biological
Chemistry publica em torno de 500 artigos por ano. Nesse
universo, o livro didático se torna obrigatoriamente superfi cial
e limitado. Se um professor quisesse ensinar no ‘estado da arte’ e
tivesse a capacidade de ler um artigo por hora, lendo 10h por dia,
7 dias por semana, os 365 dias do ano, e lendo apenas bioquímica,
ainda assim, ao fi nal de um ano, ele não teria lido mais que 5%
dos trabalhos produzidos naquele ano. Só que para isso, ele teria
Figura 1 – Durante milhares de anos, nosso cérebro pôde comportar uma infi nidade de informações, de todas as áreas do conhecimento. Até bem pouco tempo atrás éramos generalistas, com conhecimento sobre ciências, fi losofi a e religião.
Renè Descartes
Era um exemplo de generalista. Foi um grande fi lósofo (escreveu o método científi co), um grande matemático (descreveu as coordenadas cartesianas) e um grande biólogo (que foi o primeiro a demonstrar a relação íntima entre a hipófi se e o cérebro). Pintura de Franz Hals.
Foto - http://www.sxc.hu
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de ter abdicado de todas as suas outras atividades: família, lazer e, inclusive, o
próprio ensino. Se ele tentasse repetir isso um ano depois... teria que ler uma mesma
quantidade de artigos e ainda, ler os 95% dos artigos do ano anterior.
O que esses números nos dizem? Que estamos produzindo mais informação do
que podemos processar ou consumir. Independentemente do que possamos fazer, esse
acúmulo de informação trás conseqüências e está infl uenciando diretamente nossas
vidas. É impossível ser ou se manter atualizado e temos que, inevitavelmente, lidar
com essa frustração.
Nesse sentido, podemos constatar que uma primeira conseqüência desse acúmulo
de conhecimento é a superespecialização. Veja a fi gura 2: O conhecimento aumentou
tanto, em tantas áreas, que nosso cérebro não consegue mais lidar direito com toda
essa informação.
Figura 2 – Atualmente, nosso cérebro se tornou pequeno para o grande volume de informação que vem sendo produzida continuamente. Estamos sobrecarregados, nos superespecializando em uma área e nos tornando superfi ciais em todas as outras.
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Assim, se considerarmos nossas áreas específi cas de trabalho, podemos estar
bastante próximos da atualização, mas se formos considerando outras áreas, nossos
conhecimentos são comparáveis ao que se sabia 20, 50, 100, 500 anos atrás!
Acabamos possuindo, portanto, diversas “idades culturais” em nossa cabeça.
Por outro lado, De Meis diz que uma das graves conseqüências da superes-
pecialização é que os cientistas estão se isolando. Enquanto os cientistas
experimentais torcem o nariz para os cientistas sociais, porque sua ciência não pode
ser comprovada pela experimentação; os cientistas sociais torcem o nariz para os
cientistas experimentais, por acharem que são limitados demais em seus métodos. Na
educação, uma ciência que cresceu em importância com o acúmulo de informação,
e que vem tratando da transmissão do conhecimento, relativamente pouco se tem
pesquisado (e se pesquisa). Menos de 1% dos trabalhos científi cos publicados em
todas as áreas do saber, trata da transmissão do conhecimento ou da educação. Na
verdade, hoje, no início do séc. XXI, ainda ensinamos da mesma forma que Platão e
Aristóteles ensinavam no Liceu e na Academia, 400 anos antes de Cristo.
Figura 3 - “A Escola de Atenas” do artista renascentista italiano Rafael, no Palácio Apostólico do Vaticano. Nela vemos Platão e Aristóteles aocentro. Hoje em dia ainda ensinamos com aulas teóricas, práticas e descritivas, tal qual os antigos gregos, onde o principal objetivo é a transmissãoda informação.
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Onde deixei as minhas chaves?Outra conseqüência do excesso de informação é a sua dispersão. A informação
que nos interessa existe, mas está dispersa entre coisas que não nos interessam. Como
produzimos informação demais, precisamos agora distinguir o que é importante para
nós e o que não é. Precisamos aprender a separar a informação por relevância.
De acordo com Luman & Varian (2003), nos primeiros 40.000 anos da
humanidade foram produzidos cerca de 12 bilhões de Gb de informação. Apenas no
ano de 2002 foi produzida igual quantidade (12 bilhões de Gb) e em 2003 o volume
de informação produzida foi dobrando, superando 25 bilhões de Gb.
Figura 4 - Nos últimos 40.000 anos, desde a época das cavernas, a humanidade produziu cerca de 12 bilhões de Gigabytes de informação. Nesse período está a invenção do papel (105 dC), da imprensa (1450), do telefone em 1870, do computador em 1950, da internet em 1960 e da Web em 1993. O volume de informação continua crescendo de forma exponencial.
Qualquer que seja nosso campo de interesse, o volume de informação dentro dele
é enorme e cabe a pergunta: é útil que mais informações continuem sendo sejam
produzidas?
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Viveremos, de fato, “A Angústia da Infl uência” descrita
por Harold Bloom no seu importante ensaio de 1973,
segundo o qual o poeta moderno deve travar uma luta
edípica para se defi nir em relação a Shakespeare, Dante e
outros mestres. Em última análise, uma tentativa vã, segundo
Bloom, porque nenhum poeta pode ter a esperança de se
aproximar da perfeição de tais antepassados, quanto mais
de superá-los. Por outro lado, essa angústia também tem que
ser superada em alguma medida, ou fi caremos paralisados
de vez. Seja como for, a produção de novos conhecimentos
chega a ser um dilema em muitas situações, e a decisão de
partir para a criação de novas informações deve ser cada
vez mais cuidadosa. Começando com a pergunta: será que a
informação de que precisamos já não existe?
Além da saturação do nosso cérebro, como vimos na fi gura 2, e dos efeitos da
angústia da infl uência sobre a nossa criatividade, como vimos agora, é claro que esse
assombroso volume de informação difi culta enormemente o acesso à informação
que estamos procurando. Achar, em meio a toda essa massa de informação, aquela
específi ca que nos interessa (e que, em última instância, é a que deveria interessar
também ao aluno), é como achar uma agulha em um palheiro. Na verdade, é como
achar uma agulha em um campo inteiro de palha (Figura 5).
Bloom considera os poetas modernos, e da mesma forma os cientistas modernos, fi guras essencialmente trágicas e retardatárias, perseguidos (e perseguindo) fantasmas.
Figura 5 – Se já era difícil encontrar uma agulha em um palheiro, imaginem em um campo de feno?
Foto - http://www.sxc.hu
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Portanto, o que estamos vivendo hoje é uma era na qual encontrar, fi ltrar e
organizar a informação tem prioridade em relação a criar a própria informação. E
que o principal critério para essa busca é a relevância da informação para o aluno. É
fundamental que o professor moderno tenha isso em mente. Até porque, como disse
Cristovam Buarque,
“O aluno que navegou à noite pela internet chega na aula, de manhã, sabendo coisas
que o professor desconhece. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o
aluno e a mídia. Ele não é mais o dono do saber, nem da informação.”
Essa frase tem várias implicações, mas vamos nos ater à questão do conteúdo. Se
existe informação à vontade, e a internet está facilitando o acesso a ela, o grande
diferencial do professor deveria ser sua capacidade de selecionar e organizar a
informação de acordo com a sua relevância e prioridade.
Hoje não podemos pensar em encher nosso aluno de informação. Assim
como todos nós, ele está saturado. Pela internet, pelos games, pela televisão, pela
propaganda, pelas ruas (insisto na imagem do cérebro na fi gura 2). Na nossa primeira
aula, conversaremos sobre o quanto (na verdade o quão pouco) podemos saber sobre
nossos alunos, mas eu já posso adiantar que essa é uma das poucas coisas que podemos
dizer com certeza: jovem ou idoso, pobre ou rico, inteligente ou limitado, nosso aluno
estará saturado de informação!
Está no nosso papel de educadores, portanto, fazer essa interface entre a
informação disponível e o aluno saturado de informação. Em vários momentos
precisaremos achar a agulha para os alunos, mas é nosso papel ensinar nossos alunos a
“encontrarem a agulha”. Essa “agulha” é a informação de que nosso aluno precisa (em
meio ao “palheiro” formado por internet, televisão, revistas e games) para construir
o seu próprio saber.
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Separando o joio do trigoSe há um excesso de informação, então será que devemos nos preocupar menos
com o conteúdo? Pelo contrário, devemos nos dedicar a ter um conteúdo com ainda
mais qualidade! Sob pena de perdermos o interesse de nossa platéia, nossos alunos,
frente a fontes de conteúdo mais abundantes. Nosso diferencial deve ser, repito,
nossa habilidade de selecionar o conteúdo. De encontrar a agulha no palheiro.
Mas como fazer isso? A sociedade plugada aumentou a nossa capacidade de reunir
informações, mas não aumentou a nossa capacidade de processar essas informações.
Temos mais informações para levar em consideração, mais decisões a serem tomadas
e um mesmo intervalo de tempo para fazer isso. Como não podemos acelerar o nosso
raciocínio, precisamos lidar melhor com a informação que nos é apresentada e, se
quisermos ser bons professores, temos que tratar melhor a forma como apresentamos
as informações para os nosso alunos.
Se um dos principais desafi os para o aumento da qualidade dos conteúdos é a
seleção da informação, um dos principais problemas é a nossa competência leitora.
Estamos lendo mal. Não como os notórios ‘analfabetos funcionais’, nosso problema,
problema dos professores, não é que não sabemos interpretar: é que estamos
interpretando demais!
Um bom texto, coeso, preciso, permite várias leituras, não várias interpretações.
Um bom texto permite várias continuações, não várias interpretações. Interpretrações
são possíveis desde que sejam obedecidas informações nucleares de um texto como o
‘que’, o ‘quando’, o ‘onde’ e o ‘como’.
Como jurados tendenciosos, lemos um conto e aumentamos um ponto,
aumentando muitos pontos. Interpretando mais do que o texto permite e o autor
gostaria. Acabamos por criar nossa própria história ao invés de nos atermos a história
do autor.
Na sua ofi cina de escrita criativa, a escritora Sonia Rodrigues dá um exemplo
brilhante dessa ‘esquizofrenia’, usando o conto “Um caso Perdido” do escritor Nelson
Rodrigues como exemplo. Na história, Edgardina namora contra a vontade de todos,
com Humberto, um sujeito de índole questionável.
“Foi quando lhe disseram que o namorado vivia às custas da tal fulana. Edgardina
saltou: “Mentira! Calúnia!” Mas, apesar da reação inicial, muito veemente, a dúvida
fi cou. Acabou fazendo, ao bem-amado, uma pergunta frontal:
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– Que negócio é esse que me contaram?
– Que foi?
– Ela, sem tirar os olhos dele, disse:
– Que você toma dinheiro de mulher.
Imprensado pela pequena que, na verdade, era seu primeiro e grande amor, Humberto teve,
diante de si, dois caminhos: ou negar ferozmente ou ... Ia negar, em pânico. Mas quando
abriu a boca, deu uma coisa nele, uma espécie de heroísmo súbito, quase histérico. De
olhos esbugalhados, os beiços trêmulos, transpassou a pequena com a revelação:
- É verdade, sim! Tomo dinheiro de mulher! Sempre tomei!”
Sem saber o quão questionável é índole de Humberto, o leitor deve se ater mais ao
texto do que as suas experiências pessoais. Ainda que a experiência do leitor possa levá-
lo a questionar a capacidade de amar do personagem devido ao seu caráter questionável,
o texto não permite essa interpretação ao dizer categoricamente: “...que, na verdade, era
seu primeiro e grande amor,...”
Para Rodrigues (2004), o modelo narrativo tem sido preterido por um modelo
dissertativo, onde o foco do texto não é a descrição de eventos e dados, mas as opiniões
e interpretações do autor. Para reverter esse cenário, é importante focar na leitura dos
textos, identifi cando a ‘intenção do texto’ e separando da ‘intenção do leitor’ (Eco,
2005). Com isso, o autor pode retomar contato com o modelo narrativo e aprimorar
sua capacidade de escrita coesa, precisa e criativa, que por sua vez facilitará a leitura do
texto. No nosso caso, pelo aluno.
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Com a cabeça nas nuvensOutro problema é discutido nas aulas 2 e 3. Se nossos alunos têm acesso amplo
às fontes de informação e estão saturados pelos meios de comunicação, então temos
de enfrentar um defi cit de atenção. Temos de fazer de tudo para conseguir, e não
perder, a atenção dos nossos alunos. Além, é claro, de termos de lidar com questões
de motivação e limitações cognitivas.
Figura 6 - Tel, celular, computador, televisão, rádio, rua movimentada, crianças chorando… encontrar um lugar adequado para estudar é oprimeiro passo para o aluno conseguir se concentrar na aula. Fotos – http://www.sxc.hu
Foto - http://www.sxc.hu
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Mas não é apenas com conforto que vamos conseguir isso. É importante que
nosso conteúdo seja escolhido pelo professor com base na relevância – se levada a
sério, essa escolha deve poder nos livrar de boa parte dos problemas causados pela
inundação de informação.
Nessa mesma linha, também precisamos saber diferenciar
dado, informação e conhecimento e trabalhar as competências
adequadas (análise e interpretação) que garantam a tangibilidade g
do conteúdo. Um conteúdo (ou núcleo conceitual complexo)
deve ser dividido em blocos e apresentado dentro de um
sequenciamento lógico, obedecendo a critérios que facilitem a
sua absorção: simplicidade, concisão e elementos de relevância.
Isso tudo para favorecer o entendimento e a compreensão da informação por parte
do aluno, mas sem deixar de lado a atenção. Nesse sentido, é importante chamar a
atenção para o fato de que é nos primeiros momentos de uma aula que devemos
dar para o aluno aquela informação que o deixará curioso e atento pelo resto do
tempo. Nesses novos tempos de saturação de informação, devemos começar sempre
pelo clímax, ou pelo menos por um anúncio claro do que ainda virá de melhor. Se
deixarmos para desenvolver um longo raciocínio para chegar ao clímax,... corremos
um grande risco de perder a atenção do aluno durante esse processo. Para obter o
efeito desejado, portanto, as palavras de ordem são: criatividade, ousadia, inovação,
objetividade e simplicidade.
Finalmente, devemos estar sempre atentos à relação entre o conteúdo e o
tempo dedicado a ele. Um mesmo núcleo conceitual pode ser tratado em diferentes
intervalos de tempo. Se é determinante que o foco seja o conteúdo, então o tempo
deve fi car subordinado a ele, e o aluno terá de se adaptar. Nesse momento, é
importantíssimo que as informações sobre a duração prevista de cada aula e cada
conteúdo sejam claras e estejam disponíveis para o aluno antes do início de cada
atividade. Quanto ao núcleo conceitual, este pode ser apresentado gradualmente
(em etapas) ou de diferentes formas, com cargas conceituais distintas. Porém, o ideal
é que o tempo seja ditado pelo aluno, de modo que pessoas com diferentes interesses,
motivações e disponibilidade de tempo possam acessar o conteúdo da forma que mais
lhes convier no momento, podendo sempre buscar um maior nível de detalhamento
quando for mais conveniente.
Tangibilidade
sf [do latim tangibilis]1 Qualidade de tangível. 2. aquilo que pode ser tocado3. que pode ser tratado como fato; real, concreto
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Finalmente, como o computador pode auxiliar o professor nesse processo?
O cérebro humano, aquele mesmo da fi gura 1, foi moldado por milhões de anos de
evolução para fazer tarefas bastante complexas, como identifi car e buscar alimento,
reconhecer presas e predadores, modifi car o ambiente de diferentes maneiras. Mas
isso não permite a ele realizar outras tarefas de certo modo menos complexas, como
armazenar grandes volumes de informação sem que exista uma necessidade imediata
para elas ou processar muito rápido um volume grande de operações aritméticas de
adição, subtração, multiplicação e divisão. Tarefas que um processador extremamente
simples, por exemplo, pode realizar com grande velocidade.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, não é com a montagem de
apresentações com recursos multimídia ou animações gráfi cas que o computador
mais pode ajudar o professor. Ainda que esses sejam recursos didáticos poderosos
colocados a serviço do professor pelo computador, eles ampliam algo que não nos
é estranho: a construção de processos de raciocínio através da utilização de sons,
imagens, símbolos, textos e movimento que favorecem o entendimento (o que, de
alguma forma, nossos cinco sentidos já realizam). Nesse processo, o computador
apenas auxilia o professor a apresentar e distribuir o seu processo de raciocínio para
um número maior de alunos, especialmente nas modalidades de ensino a distância.
Muito diferentemente, no entanto, o impacto do poder computacional é maior
por ter tornando o acúmulo e o acesso a informação muito fácil, veloz e até barato.
Apresenta o resultado disso, ainda por cima, com simplicidade e clareza.
Repare bem num excelente exemplo disso, que encontramos na página da internet
mais acessada no mundo hoje: o mecanismo de busca Google (www.google.com). Com
um desenho simples, claro e objetivo, ele coloca em apenas uma linha, disponível
a qualquer pessoa no mundo (mesmo aquela com os mais parcos conhecimentos de
informática), virtualmente todo o conhecimento produzido pela humanidade.
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Figura 7 – Em apenas uma linha, o mecanismo de busca Google (assim como outros que o precederam ou aqueles que eventualmente o substituirão) coloca à disposição do usuário, mesmo aquele com poucas habilidades com o computador, virtualmente todo o conhecimento da humanidade.
O meio virtual também está infl uenciando, e infl uenciará ainda de diversas
maneiras, a forma como estamos nos comunicado. A linguagem no meio virtual possui
peculiaridades que ainda não foram totalmente elucidadas, mas é notório que boa
parte da informação que está sendo disponibilizada no meio virtual não leva em conta
essas peculiaridades. Na maioria das vezes, e-books e sites apenas transcrevem para a
tela o material impresso, sem aproveitar todo o potencial do hipertexto e a dinâmica
de “saltos de associativos” (como imaginada por Vannevar Bush ainda em 1945, no
texto “As we may think”, que trata da forma como nosso cérebro usa a associação de
idéias para armazenar informação e criar conhecimento). A Internet, de fato, é tão
recente e dinâmica que sua linguagem só começou a ser pesquisada há poucas décadas.
Certamente, no entanto, a forma como as pessoas disponibilizam, acessam e captam
as informações na grande rede ainda deve continuar sendo estudada por muito tempo.
Seguindo adiante no nosso volume, nos capítulos 4 e 5, discutiremos outra grande
utilidade do computador e das redes de computadores: a redução das distâncias e a
possibilidade de unir informação e pessoas em qualquer lugar em um espaço virtual para
favorecer o ensino e a aprendizagem.
No capítulo 6, falaremos daquele professor que cumpre uma das tarefas mais
importantes da EAD, que é a de mediar o contato do aluno com o conteúdo, com o
professor conteudista e com os seus outros colegas de turma: o professor tutor.
Terminamos este volume, enfi m, falando sobre o processo de avaliação e
sobre como o professor de EAD pode se aproveitar de diversas ferramentas para
acompanhar, orientar e valorizar o aprendizado do aluno - em lugar de apenas
classifi car e apontar o erro.
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FinalmenteEm uma aula presencial, o astro é o professor (é verdade que o professor também
pode ser xerife, advogado, conselheiro, carrasco, tudo junto). Ele tem a faca e o queijo
na mão. E também um palco (o tablado), uma platéia cativa e (quase sempre) atenta,
e um arsenal de armas de sedução. Muitos professores têm consciência disso e fazem
uso dessas ferramentas para darem excelentes aulas. Outros, por desconhecimento ou
falta de habilidade, não têm o mesmo sucesso.
A primeira mudança, e possivelmente a maior, pela qual nós professores passamos
quando saímos do universo do ensino presencial para o ensino a distância, é em nós
mesmos: não tem mais tablado, não tem mais quadro negro (ou branco); não podemos
mais transformar aulas em talk-show, não temos mais platéia e nem mais aplauso. O
professor não é mais astro, rei, xerife etc. Mas o professor agora ainda é (e talvez mais
intensamente ainda) professor! Apesar dessa mudança radical (e da perda relativa
que ela traz, junto a ganhos também notáveis), o professor nem sempre se apercebe
facilmente dela. Se passar muito tempo até que ele se dê conta de que o paradigma
mudou, então o seu papel não será mais de agente dessa mudança. Mesmo assim, ele
terá que se adaptar. O que podemos perceber claramente é que a EAD, junto as novas
tecnologias, propicia uma revolução no ensino, e quem não estiver atento a isso vai
perder o bonde da história. Mas estar atento e se adaptar não é fácil. Nunca foi.
O fato é que o professor não tem mais a faca e o queijo na mão. Ele divide, mais
ainda, a responsabilidade do aprendizado com aluno, e a responsabilidade do ensino
com a tecnologia. Tanto pelo armazenamento do conteúdo como pelas formas de
transmissão. Mas a tecnologia, por si só, pouco ou nada pode fazer pelo aluno. Nem a
quantidade de tecnologia é o grande diferencial para obtenção de resultados. O fator
humano ainda é o recursos mais escasso e mais precioso em qualquer empreitada, e
principalmente na educação.
Dentro dessa concepção, a EAD pode ser considerada como um novo universo
onde você precisará quebrar antigos paradigmas para viver com segurança e efi ciência.
Esperamos ajudá-lo nessa transição. Entre, e seja bem vindo!
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Referências Bibliográfi casDE MEIS L; Leta J. 1996. O perfi l da ciência brasileira. Editora UFRJ. Rio de Janeiro.
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LYMAN, P; VARIAN, HR. 2003. “How Much Information”. Acessado de http:
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