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ANDERSON DE FREITAS VIETRO O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA: A CAPITAL NACIONAL DO BONÉ Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientadora: Profa. Dra. Tânia Maria Fresca Londrina 2006

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Page 1: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

ANDERSON DE FREITAS VIETRO

O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA:

A CAPITAL NACIONAL DO BONÉ

Monografia apresentada ao Curso de

Geografia da Universidade Estadual de

Londrina, como requisito para a obtenção do

título de Bacharel em Geografia.

Orientadora: Profa. Dra. Tânia Maria Fresca

Londrina

2006

Page 2: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

ANDERSON DE FREITAS VIETRO

O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA:

A CAPITAL NACIONAL DO BONÉ

Monografia apresentada ao Curso de

Geografia da Universidade Estadual de

Londrina, como requisito para a obtenção do

título de Bacharel em Geografia.

COMISSÃO EXAMINADORA

Dra. Tânia Maria Fresca (Orientadora – UEL)

Dra. Ideni Terezinha Antonello (UEL)

Dra. Márcia Siqueira de Carvalho (UEL)

Londrina, 08 de dezembro de 2006.

Page 3: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

Àqueles que ousam perguntar:

Onde? Como? E por que aí?

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VIETRO, Anderson de Freitas. O processo de industrialização de Apucarana: a capital nacional do boné. 2006. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina.

RESUMO Objetiva analisar o processo de industrialização do município de Apucarana entre 1970 e 2004, levantando os setores industriais existentes; explicar a concentração de determinados tipos de indústrias no referido município, analisando processos de gênese e evolução. Realizaram-se levantamentos bibliográficos, consultas a endereços eletrônicos de entidades empresariais, empresas e instituições públicas, além de entrevistas com proprietários e funcionários de empresas e representantes de entidades do setor industrial. Foram utilizados dados do Ministério do Trabalho e Emprego, dos censos industriais e demográficos do IBGE e do cadastro de empresas da Prefeitura Municipal de Apucarana. Descreve a evolução industrial do município, mediante a análise dos dados relativos à evolução da população (IBGE) e do número de estabelecimentos industriais e de empregos formais (BRASIL), destacando os setores industriais mais representativos. Explica a industrialização do município de Apucarana, inserindo-o nos contextos estadual e nacional. Discute a gênese e evolução dos quatro principais setores industriais: a confecção de artigos de vestuário, a moagem de milho e nutrição animal, o curtimento de couro e a produção de acessórios em couro e a indústria de produtos têxteis. São setores cujas origens se deram através de iniciativas locais, de pequena produção mercantil rural e urbana (artesanal) e de atividades ligadas ao comércio. São caracterizados pelo uso intensivo de mão-de-obra. Porém, são setores dinâmicos, responsáveis pela inserção de Apucarana em redes regionais, nacionais e internacionais de produção e comercialização de diversos produtos. Adjetivada de Capital Nacional do Boné, Apucarana é uma cidade especializada na produção de bonés, cuja produção corresponde a 70% da produção nacional. Palavras-chave: industrialização, Apucarana, Capital Nacional do Boné, especialização produtiva.

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VIETRO, Anderson de Freitas. The industrialization process in Apucarana: the national capital of the cap. 2006. Monograph (Bachelorship in Geography) – State University of Londrina.

ABSTRACT Objectifies to analyze the industrialization process of the municipality of Apucarana between 1970 and 2004, raising the existent industrials sectors; to explain the concentration of determinates kinds of industries at the reported municipality, analyzing process of genesis and evolution. Had being done bibliographical surveys, consultations to eletronic addresses of enterprise entities, enterprises and public institutions, yonder interviews with owners and enterprise employees and representatives of entities of the industrial sector. Were utilized data from the Ministry of Labor and Employment, of the industrial census and demographical of IBGE and of the Municipal Prefecture of Apucarana’s enterprises cadastre. Describes the industrial evolution of the municipality, by means of the analysis of the data relative to the evolution of the population (IBGE) and the number of industrials establishments and the formal employments (BRASIL), detaching the more representatives industrials sectors. Explains the industrialization of the municipality of Apucarana, inserting it at the contexts of the state and national. Discuss the genesis and the evolution of the four principal industrial sectors: the confection of clothing articles, the maize milling and animal nutrition, the leather tanning and the production of accessories in leather and the industry of textiles products. These are sectors whose origins became through local initiative, of small mercantile production rural and urban (artisans) and of activities joint to the commerce. They are characterized by the use intensive of manual work. But, they are dynamical sectors, responsible by the insertion of Apucarana in regional nets, nationals and internationals of production and commercialization of several products. Qualified as National Capital of the Cap, Apucarana is a city specialized on the cap production, whose production corresponds to 70% of the national production. Key-words: industrialization, Apucarana, National Capital of the Cap, productive specialization.

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 - Localização do Município de Apucarana - PR 13

Mapa 02 - Arranjos Produtivos Locais do Paraná 48

Mapa 03 - Arranjo Produtivo Local de Bonés de Apucarana 62

Mapa 04 - Fluxos do setor confeccionista de Apucarana 64

Mapa 05 - Fluxos da cadeia produtiva do milho de Apucarana 74

Mapa 06 - Fluxos da cadeia produtiva do couro de Apucarana 83

Mapa 07 - Fluxos do setor têxtil de Apucarana 88

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17

Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana: 1985-2004 24

Gráfico 03 - Evolução do Pessoal Ocupado na Indústria em Apucarana: 1985-2004 24

Gráfico 04 - Distribuição dos estabelecimentos segundo os setores econômicos e os

segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e 2002 26

Gráfico 05 - Distribuição do pessoal ocupado segundo os setores econômicos e os

segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e 2002 27

Gráfico 06 - Evolução dos estabelecimentos nos setores industriais mais

representativos de Apucarana: 1985-2004 28

Gráfico 07 - Evolução do pessoal ocupado nos setores industriais mais expressivos de

Apucarana: 1985-2004 29

Gráfico 08 - Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de confecção de

vestuário e acessórios em Apucarana: 1985-2004 50

Gráfico 09 - Evolução do pessoal ocupado no setor de confecção de vestuário e

acessórios em Apucarana: 1985-2004 51

Gráfico 10 - Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos

alimentícios e bebidas em Apucarana: 1985-2004 65

Gráfico 11 - Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos alimentícios e

bebidas em Apucarana: 1985-2004 66

Gráfico 12 - Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de preparação de

couros e fabricação de artefatos de couro em Apucarana: 1985-2004 75

Gráfico 13 - Evolução do pessoal ocupado no setor de preparação de couros e

fabricação de artefatos de couro em Apucarana: 1985-2004 76

Gráfico 14 - Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos têxteis

em Apucarana: 1985-2004 86

Gráfico 15 - Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos têxteis em

Apucarana: 1985-2004 86

Page 8: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

LISTA DE TABELAS, QUADROS E FIGURAS

Tabela 01 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado

em Apucarana: 1985-1990 19

Tabela 02 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e de pessoal ocupado

em Apucarana: 1996-2004 21

Quadro 01 - Empresas Selecionadas do Setor de Vestuário de Apucarana 52

Quadro 02 - Origem de matérias-primas, máquinas e equipamentos do setor

confeccionista de Apucarana-PR 57

Figura 01 - Processo de moagem de milho a seco 72

Page 9: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................

10

1 - APUCARANA E O QUADRO ATUAL DA INDÚSTRIA............................................. 12

1.1 - EVOLUÇÃO DO PROCESSO INDUSTRIAL............................................................. 16

1.2 - OS SETORES INDUSTRIAIS MAIS REPRESENTATIVOS.....................................

25

2 - EM PERÍODO DE CRISE E PESSIMISMO, A AÇÃO LOCAL PROMOVE A

INDUSTRIALIZAÇÃO: INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA.........................................

30

3 - A INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA: EM DIREÇÃO À

ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA................................................................................ 49

3.1 - CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS............................ 49

3.2 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E NUTRIÇÃO ANIMAL.......... 65

3.3 - PREPARAÇÃO DE COURO E FABRICAÇÃO DE ARTEFATOS DE COURO...... 75

3.4 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS.................................................................

84

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................

89

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................

91

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INTRODUÇÃO

O Norte do Paraná tornou-se famoso pela fertilidade do tipo de solo predominante -

terra roxa - e pela excelente produção de gêneros agrícolas: o café, o milho, o trigo e a soja.

Apucarana, cidade localizada no centronorte paranaense, colonizada pela CTNP e elevada à

condição de município em 1944, é conhecida desde a década de 1990, como “capital nacional

do boné” , mas foi também importante centro de produção de feijão, milho, arroz e café.

A idéia geral que se faz do norte do Paraná é que tal região, grande produtora

agrícola, possui apenas, ou grande parte de indústrias tradicionais, notadamente nos ramos

alimentícios, confeccionistas, agroindustriais. No entanto, uma rápida observação nos dados

do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 1985-2004) mostra que há grande

diversidade produtiva na região e, especialmente em Apucarana. Embora as indústrias

tradicionais sejam as mais significativas em termos de número de estabelecimentos e geração

de empregos, há números significativos de indústrias nos mais diversos gêneros/ramos, como

de produtos químicos, indústria moveleira, de equipamentos, de metalurgia, de couro, de

calçados, de material elétrico e de transportes, de borracha e produtos plásticos etc. Assim,

com este trabalho pretende-se analisar a dinâmica industrial numa escala local: o município de

Apucarana, buscando explicar a diversidade e as razões que permitiram o rápido e importante

desenvolvimento industrial em Apucarana.

Assim, o objetivo do trabalho é analisar o processo de industrialização do município

de Apucarana entre 1970 e 2004, procurando levantar os setores industriais existentes, em

termos de número de estabelecimentos e de empregos, bem como explicar a concentração de

determinados tipos de indústrias no município de Apucarana, analisando processos de gênese

e evolução, de produção e políticas setoriais.

A realização desta pesquisa justifica-se pela escassa produção bibliográfica sobre a

dinâmica industrial do Norte do Paraná, sobretudo em municípios como Apucarana, além da

curiosidade do autor em saber porque Apucarana tornou-se especializada na produção de um

produto tão específico como o boné. Afinal, não é em qualquer lugar que se produz boné.

Além disso, intrigava o autor, nascido e criado em Apucarana, a presença de estabelecimentos

industriais pouco comuns, como frigorífico de eqüinos e curtumes, e grandes empresas como

Caramuru Alimentos de Milho e Kowalski Alimentos, moageiras de milho.

Para a realização deste trabalho foram realizados levantamentos bibliográficos,

consultas a endereços eletrônicos de entidades empresariais, de empresas e de instituições

públicas de pesquisa. Utilizou-se dados do Ministério do Trabalho e Emprego, dos censos

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11

industriais e demográficos do IBGE e do cadastro municipal de empresas da Prefeitura

Municipal de Apucarana. Houve coleta de dados e informações primárias, com a realização de

entrevistas com proprietários e funcionários de empresas e com representantes de entidades

representativas do setor industrial em Apucarana. Além disso, a participação em congressos e

eventos organizados por entidades empresariais permitiu conhecer a dinâmica industrial

paranaense e apucaranense.

Assim, no primeiro capítulo é apresentado o quadro atual da economia do município

de Apucarana. Descreve-se a evolução industrial do município, mediante a análise dos dados

relativos à evolução da população (IBGE) e do número de estabelecimentos industriais e de

empregos formais (IBGE, BRASIL), destacando os setores industriais mais representativos ao

longo do período 1970-2004.

O capítulo seguinte dedica-se a explicar a industrialização do município de Apucarana,

inserindo-a nos contextos estadual e nacional. Para tanto analisa-se o processo de

industrialização brasileiro com base nas formulações teóricas de Ignácio Rangel, referentes ao

desenvolvimento cíclico do capitalismo mundial, ao dinamismo do processo de

desenvolvimento econômico brasileiro como resposta às transformações ocorridas no centro

dinâmico do capitalismo mundial. O processo de industrialização paranaense é discutido

mediante a sua inserção na divisão territorial do trabalho em escala nacional e à dinâmica

industrial paranaense a partir de iniciativas locais, da pequena produção mercantil, sobretudo

no norte do Estado.

No terceiro capítulo são discutidas a gênese e a evolução dos quatro principais setores

industriais de Apucarana: a confecção de artigos de vestuário, a moagem de milho e nutrição

animal, o curtimento de couro e a produção de acessórios em couro e a indústria de produtos

têxteis.

Page 12: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

1 – APUCARANA E O QUADRO ATUAL DA INDÚSTRIA

Para se discutir o processo de industrialização de um município, parte-se da

consideração de que o mesmo possui um número significativo de indústrias de transformação.

Em outros termos, o setor secundário deve possuir papel importante e considerável na

economia municipal. Assim, cabe mencionar informações relativas à economia de Apucarana

na atualidade. Quais as características dessa economia? Qual a participação do setor

secundário na economia de Apucarana? Como é constituído esse parque industrial?

Apucarana é adjetivada de capital nacional do boné, título este que adveio da

participação da produção local de bonés no total da produção nacional (60 a 70% atualmente)

no início da década de 1990, após sucessivas aberturas de empresas a partir dos anos 1980 e

1990, “conformando um setor especializado na produção de bonés promocionais que

futuramente promoveram diversificação da produção, incluindo outros brindes com camisetas,

porta CD’s, etc.” (FRESCA, 2005, p. 5558).

O município (mapa 01), cuja população estimada em 2005 era de 115.823 habitantes,

possuía no ano 2000 índice de urbanização de 92%, com 55.153 habitantes economicamente

ativos e população ocupada de 48.500 habitantes, o que indica uma taxa de desemprego de

12,06% (IPARDES, 2006). Dessa população ocupada, 28,6% encontrava-se na indústria de

transformação, 17,7% no comércio, reparação de veículos e objetos pessoais, 9,4% nas

atividades agropecuárias e extrativas vegetais e animais, 7,1% nos serviços domésticos e 7%

na construção civil.

No entanto, o setor formal da economia empregava em 2004, 24.664 trabalhadores em

2.696 estabelecimentos. A indústria de transformação representava 23,1% dos

estabelecimentos e correspondia a 44,2% dos empregos gerados; as atividades agropecuárias e

extrativas correspondiam a 9,1% dos estabelecimentos e apenas 2,1% dos empregos e, as

atividades administrativas, de serviços e construção civil respondiam por 67,8% dos

estabelecimentos e 53,7% dos empregos (BRASIL, 2004). Constata-se que um quarto dos

empregos formais era gerado pela indústria têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos,

responsável por 58% dos empregos na indústria e 53% desses estabelecimentos. Destacam-se

ainda os setores da borracha, couro, peles e indústrias diversas com 9,5% dos empregos e 6%

dos estabelecimentos na indústria e; a indústria de produtos alimentícios com 10,2% dos

estabelecimentos industriais e 12,1% dos empregos.

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Mapa 01 – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE APUCARANA

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14

O PIB de Apucarana em 2003 foi de R$ 763.173.325, assim constituído: agropecuária

8,1%, indústria 46% e serviços 45,9% (IPARDES, 2006). Observa-se a importância do setor

secundário para a economia do município, tanto pelo valor gerado quanto pelos empregos

gerados.

Em 1996, 40,7% dos estabelecimentos agropecuários destinavam-se a lavouras

temporárias, 20% a lavouras permanentes e 20% à pecuária. O município contava em 2004,

com uma produção primária diversificada com predominância tanto em área colhida, quanto

em quantidade produzida de lavouras de milho, soja e trigo, destacando-se também café,

aveia, cana-de-açúcar, feijão e arroz, além de diversos produtos hortifrutis. Possuía em 2004,

efetivo de 704.990 galináceos, 150.000 codornas, 29.877 bovinos, 9.100 suínos, 3.056 vacas

ordenhadas e 1.200 eqüinos, com produção significativa de casulos de bicho-da-seda, leite,

mel de abelha, ovos de codorna e de galinha. No município ocorre a extração mineral de água

mineral e de basalto.(IPARDES, 2006).

O parque industrial de Apucarana é bastante diversificado, contando com indústrias de

capital local, de capital nacional e minimamente de capital estrangeiro. Possui indústrias que

empregam mais de 300 funcionários e indústrias informais de confecções – as chamadas

facções. A indústria de transformação de Apucarana é composta por laticínios, abatedouros,

frigoríficos, indústrias moageiras, fabricantes de bebidas, óleos, alimentos e rações animais,

fabricantes de fios, tecidos, acessórios do vestuário, uniformes, malharia, calçados, bolsas e

cintos, madeira, mobília, papel, papelão, produtos químicos, fertilizantes, produtos de

limpeza, higiene e cosméticos, tintas e vernizes, produtos farmacêuticos, artigos de borracha,

plástico, artefatos de concreto, fundição, estruturas metálicas, ferramentas, máquinas e

equipamentos, caldeiras, pilhas, baterias e acumuladores elétricos, cabines e carrocerias,

equipamentos de transportes, reciclagem de sucatas e produtos diversos (BRASIL, 2002).

A produção industrial apucaranense destina-se ao mercado local, regional, nacional e

internacional. Através de suas indústrias, Apucarana insere-se em diversas redes, e não só em

função de ser uma cidade especializada na produção têxtil e de vestuário, mas por ter

alcançado uma complexificação produtiva. Os dados da Secretaria de Comercio Exterior

(BRASIL, 2006) indicam que dos quarenta principais produtos de Apucarana que são

exportados, predominam aqueles de origem agroindustrial, principalmente carnes, couro e

preparados, derivados de milho e soja e calçados. Entre 2004 e 2005, apresentaram as maiores

taxas de crescimento, em termos percentuais, os acumuladores elétricos de chumbo

(804,97%), couros e peles de bovinos, inclusive búfalos, úmidos (720,73%) e tecidos de

algodão 85% tinto (480,15%).

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15

Quanto às importações, predominam máquinas e equipamentos e produtos químicos,

notadamente para os setores têxteis, de couro e materiais plásticos. As variações mais

significativas entre 2004 e 2005 se deram com papéis para fabricação de papel higiênico

(975,61%) e sulfato de cromo (573,8%). Embora os produtos importados possuam alto valor

agregado, Apucarana possui balança comercial historicamente favorável e crescente. As

exportações apresentam valores sempre superiores a 38 milhões de dólares anuais, ao passo

que as importações foram menos constantes, variando entre pouco mais de 2 milhões de

dólares anuais (2003 e 2004) a pouco mais de 14 milhões de dólares anuais em 1998. Em

2005, o saldo comercial foi de US$50.882.739 (BRASIL, 2006).

A pauta de exportações de Apucarana em 2005 era composta predominantemente por

bens intermediários (69,41%) - com destaque para insumos industriais (produtos

industrializados que servem de matéria-prima para outras indústrias) (60,2%), e alimentos e

bebidas destinados à indústria (8,73%) - completada por bens de consumo não duráveis

(30,23%) e bens de capital (0,36%). E quais são os destinos desses produtos?

Observa-se que 43,19% vai para a Ásia, 30,04% para a União Européia, 7,59% para a

África, 6,83% para a Europa Ocidental e 5,78% para o Mercosul. Os principais países

importadores são Coréia do Sul (23%), Itália (13,01%), Hong Kong (8,55%), Espanha,

Turquia e Angola (7% cada). As variações mais significativas entre 2004 e 2005 apresentam-

se para a Venezuela (621%), Tunísia (461%), Chile (389%) e Turquia (343%). Para este

último, o valor de exportações aumentou de US$877.451 para US$3.888.500 (BRASIL,

2006).

Apucarana possui ainda uma diversificação de atividades comerciais, administrativas e

de serviços, que reforçam sua centralidade ao atrair uma população consumidora regional.

Oferece serviços educacionais de ensino superior em 3 instituições e mais de 20 cursos,

atendimento clínico-hospitalar de pronto socorro e especialidades, serviços jurídicos. Possui

10 agências bancárias, mais de 1000 estabelecimentos comerciais e de serviços. É bem

servida em transporte rodoviário de cargas e pessoas. Constitui-se importante entroncamento

rodoferroviário do Norte do Paraná.

Como se vê, Apucarana apresenta uma forte economia urbana, com atividades

comerciais e industriais, estas últimas bastante expressivas. Mas como se chegou a esta

situação?

Page 16: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

1.1 – EVOLUÇÃO DO PROCESSO INDUSTRIAL

Apucarana teve sua gênese em 1938, como centro urbano criado pela Companhia de

Terras Norte do Paraná (CTNP), destinado a atender as necessidades da população rural em

seu entorno e para comercialização da produção agrícola (baseada na pequena produção

familiar de café e de culturas intercalares, notadamente, arroz, feijão e milho). Com o êxito

alcançado e, devido a movimentações da sociedade local, Apucarana é elevada à condição de

Município e sede de comarca em 1944, fato que reforçará sua centralidade, por passar a

disponibilizar de serviços administrativos complexos, acrescentando-se a importância de seu

comércio varejista e atacadista incipiente, para o escoamento da produção agrícola e

fornecimento de artigos manufaturados provindos de São Paulo e outros centros, como

Londrina e atividades de reparo e manutenção de equipamentos.

A partir de 1960, Apucarana assume nova configuração econômica com a implantação

pelo Estado de infra-estrutura básica que, juntamente com a diversificação das atividades

agrícolas propicia um incipiente processo de industrialização (APUCARANA, 1967, p. 69).

A infra-estrutura montada pelo Estado a partir de 1961, com a ligação de Apucarana ao sistema energético da Usina de Salto Grande e a construção da Rodovia do Café, foi a circunstância determinante, contudo, do reforço da posição da cidade, permitindo-lhe experimentar considerável desenvolvimento, com um maior fluxo de inversões no setor secundário (APUCARANA, 1967, p. 81).

Alia-se a isso a intensa dinâmica populacional, tendente à urbanização que se acentua

a partir de 1960-1970, período em que a população urbana supera a população rural, em

função tanto da migração campo-cidade intramunicipal, como da migração de pessoas de

outros municípios menores para a cidade de Apucarana (Gráfico 01). Em 2000, Apucarana

apresentou índice de urbanização de 93%, ao passo que em 1950 esse índice era de 36%,

caindo para 34% em 1960, passando para 62,8% em 1970, 83,6% em 1980 e 90,5% em 1991.

A diminuição no índice de urbanização entre 1950 e 1960, é reflexo da consolidação

da colonização do Norte do Paraná, uma vez que esta região recebia milhares de migrantes

que adquiriam seus lotes na zona rural, devido à expansão cafeeira pós –1940. Após 1960,

com as alterações na agricultura da região, em função da modernização agrícola, com

alterações nas relações de trabalho no campo e alterações da estrutura fundiária, ocorre a

inversão de tendência, passando a zona rural a se configurar como expulsora de mão-de-obra

e, conseqüentemente de habitantes.

Page 17: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

17

Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1950 1960 1970 1975 1980 1985 1991 1996 2000

População Total População Urbana População Rural

Fonte: IBGE, 1950-2000. Org. Anderson Vietro

Dados do levantamento industrial realizado pela Codepar para a confecção do Plano

Diretor de Desenvolvimento de Apucarana de 1967, revelam que anteriormente a 1960, nove

indústrias haviam sido fundadas e que, trinta e quatro haviam sido fundadas entre 1960 e

1966, representando um crescimento de 278% no período. O referido trabalho apresenta um

prognóstico favorável ao crescimento e à complexificação das estruturas de beneficiamento e

comercialização de cereais, destacando a existência em Apucarana de 105 empresas do setor

em 1967, com destaque para o aumento da participação de culturas que não a do café na pauta

de produção, principalmente milho, arroz e feijão.

Além das empresas de beneficiamento e comercialização, existiam ainda 75 indústrias

de transformação (equivalente a 42% dos estabelecimentos do setor secundário do município).

O parque de indústrias de transformação, formado predominantemente por indústrias de tipo

doméstico, era assim constituído: 11 indústrias alimentícias, 16 de material de construção, 13

de móveis, 9 mecânicas, 6 de equipamentos domésticos, 6 de madeira, 4 de bebidas, 4

gráficas e de papel, 3 de óleos vegetais, 2 de couros e calçados e 1 de fios de algodão. Há que

se destacar o raio de ação das indústrias de couro, óleos e têxtil, que enviavam 70% de sua

produção para fora do Estado, destinando 25% para a região e apenas 5% para o mercado

local (APUCARANA, 1967, p. 87). Foram criadas entre 1950-1969 indústrias como:

Metalúrgica Lampe (1951), Metalúrgica Condor (1966), Indústria Têxtil Apucarana (1967),

Curtume Apucarana (1967) (APUCARANA, 2005).

Page 18: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

18

De acordo com os censos industriais do IBGE (1970, 1980), em 1970 Apucarana

possuía 150 estabelecimentos industriais empregando 1569 pessoas, destacando-se as

indústrias alimentícias com 67 estabelecimentos (44,6% do total), indústrias de mobiliário e

da madeira, com 13 (8,6%) e 12 (8%) estabelecimentos respectivamente. Em termos de

pessoal ocupado, os setores mais significativos eram a indústria têxtil (25,5% e apenas 2%

dos estabelecimentos), alimentícia (25%) e de mobiliário (8%). O aumento do número de

estabelecimentos industriais mais expressivo em 1980 ocorreu no setor de vestuário, calçados

e artefatos de tecidos, passando de 5 em 1970 para 21 (320% de aumento) representando um

salto no número de empregados de 23 para 325 (aumento de 1300%). Porém, o setor

alimentício apresentou o maior incremento absoluto em número de trabalhadores: 1187 (30%

dos empregos na indústria em 1980 e 202% de aumento em relação a 1970). A indústria de

couros, peles e produtos similares era a quinta maior empregadora, responsável pela geração

de 6% dos empregos industriais em 1980.

O número de estabelecimentos industriais cresceu 34% entre 1970 e 1980 e o número

de empregos no setor industrial cresceu 151%. A população urbana nesse período passou de

43.573 para 67.161 habitantes (aumento de 54%), ao passo que a população total passou de

69.302 para 80.245 habitantes (aumento de 15,8%), reflexo da intensificação da migração da

população rural do município que apresentou variação negativa de 49%.

No período de 1970-1980 surgiram importantes indústrias no município, tais como

Agasalhos Vaniltex (1971), Caramuru Alimentos (1972), Moinho Primor (1974), Baterias

Eletran (1976), Titu’s Jeans (1978), Kowalski Alimentos (1978) (APUCARANA, 2005).

A análise dos dados pós-1985 é realizada com base em dados do Ministério do

Trabalho e Emprego. Os dados disponíveis para análise foram separados em duas tabelas, a

tabela 01 para os dados de 1985 a 1990 e a tabela 02 para os dados de 1996 a 2004 em função

da diferenciação de agrupamento dos setores industriais.

Em 1985, a indústria de transformação gerava 28% dos empregos formais em 17% do

total de estabelecimentos. Os setores industriais que mais empregavam eram o de alimentos e

a indústria têxtil e do vestuário, com 35% e 27% dos empregos, respectivamente. Quanto à

participação no número de estabelecimentos, destacava-se o setor de alimentos com 28%, o de

madeira e mobiliário com 21% e o têxtil e do vestuário com 16%. O agrupamento das

indústrias da borracha, couro e indústrias diversas respondia por 10% do total de

estabelecimentos e pessoal ocupado na indústria de Apucarana.

Page 19: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

19

Tabela 01 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado em Apucarana: 1985-1990

1985 1987 1990 Setores Industriais Nº. Estab.

Nº. Empregos

Nº. Estab. Nº.

Empregos Nº. Estab.

Nº. Empregos

Indústria de produtos minerais não metálicos 7 185 7 182 6 169 Indústria metalúrgica 14 162 24 217 25 181 Indústria mecânica 4 27 6 48 10 39

Indústria do material elétrico e de comunicações 2 46 3 58 4 106

Indústria do material de transporte 4 25 7 51 5 43 Indústria da madeira e do mobiliário 36 389 40 412 43 400 Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 8 182 8 297 12 322 Ind. da borracha, fumo, couros, peles, similares, ind. diversas

17 373 26 725 29 1.148

Ind. química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria

3 11 8 57 11 101

Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 28 1.025 39 1.455 61 1.269 Indústria de calçados 3 4 7 43 5 117 Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico

48 1.332 56 1.534 50 1.314

TOTAL 174 3.761 231 5.079 261 5.209 Fonte: BRASIL, 1985-1990. Org.: Anderson Vietro

Em 1987, as indústrias de transformação embora tenham aumentado o número

absoluto de estabelecimentos, tinham participação estável em termos percentuais (17%),

tendo ampliado a participação no total de empregos formais (32%) em relação a 1985. O setor

industrial que mais empregava e contava com o maior número de estabelecimentos era o

alimentício (35% e 28% respectivamente). O setor têxtil e do vestuário respondia por 29% do

pessoal ocupado e 17% dos estabelecimentos. As indústrias da madeira e do mobiliário

diminuíram sua participação tanto em relação aos estabelecimentos e pessoal ocupado.

Entre 1985 e 1987 ocorreu uma variação no total de empregos formais no município

de 20% e de 31% nos estabelecimentos. No entanto, a variação da indústrias de transformação

nesse período foi de 35% (pessoal ocupado) e 32% (estabelecimentos), portanto, mais

expressiva do que as demais atividades econômicas. As variações industriais mais

significativas ocorreram com o agrupamento da borracha, couro e indústrias diversas, no qual

os estabelecimentos cresceram 53% e o pessoal ocupado cresceu 94%. O setor têxtil e do

vestuário teve um incremento de 39% no número de estabelecimentos e de 42% de pessoal

ocupado. Importa destacar que no período nenhum dos setores industriais do município teve

redução no número de estabelecimentos e o número de empregos cresceu em praticamente

todos os setores, exceto o de produtos minerais não metálicos que perdeu três empregos, nada

significativo.

Page 20: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

20

Já em 1990, o quadro não é tão favorável assim: o número total de empregos formais

no município teve queda de 7% embora os estabelecimentos tenham aumentado 9%; quatro

setores industriais apresentaram redução no número de estabelecimentos – minerais não

metálicos, material de transporte, calçados e alimentos e bebidas – e sete setores reduziram o

número de empregos – minerais não metálicos, metalúrgica, mecânica, material de transporte,

madeira e mobiliário, têxtil e do vestuário e de alimentos e bebidas. Os dois últimos, maiores

empregadores, demitiram 186 e 220 funcionários, respectivamente. O crescimento no período

foi de 13% para os estabelecimentos e 2,5% para os empregos industriais. Os setores

eliminaram em média 13% dos empregos no período.

No entanto, a indústria de calçados aumentou o número de empregos em 172% , o de

material elétrico e de comunicações em 82%, o de produtos químicos, farmacêuticos e

cosméticos em 77%, o de borracha, couro e diversas em 58%, gerando 423 novos empregos,

sendo o terceiro maior setor empregador. Juntos, os setores de alimentos, têxtil e do vestuário

e da borracha, couro e diversas, geravam 72% dos empregos na indústria. Quanto aos

estabelecimentos, o setor têxtil e do vestuário cresceu 56% em relação a 1987 e o de

alimentos diminuiu 10%.

Ao compararmos os dados de 1985 e 1990 observamos uma evolução significativa no

total de estabelecimentos industriais que cresceram 50%, com destaque para o crescimento de

117% no setor têxtil e do vestuário e 70% no agrupamento da borracha, couro e diversas.

Quanto aos empregos, nesse período cresceram 38% na indústria e apenas 11% na economia

municipal como um todo. O setor industrial que mais ampliou o número de vagas foi o da

borracha, couro e indústrias diversas que cresceu 207%, empregando 775 novos trabalhadores

e o setor alimentício teve queda de 1% no número de empregados nesse período.

A tabela 02 apresenta um agrupamento dos setores industrial bem mais detalhado do

que os dados até 1990, com modificações feitas pelo MTE/RAIS (BRASIL, 1996-2004), as

quais impedem a comparação direta entre determinados setores como a indústria de móveis

que até 1990 encontrava-se agrupada com a indústria da madeira e de 1996 em diante

encontra-se agrupada com as indústrias diversas, as quais estavam agrupadas anteriormente

com a da borracha e do couro. Esta última passou a compreender a indústria de calçados antes

separada. Houve ainda um desmembramento do setor têxtil e do vestuário, passando a

constituir dois setores distintos. No entanto com estes dois últimos setores é possível fazer

comparação direta com os dados até 1990, apenas somando valores dos dois setores.

Page 21: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

21

Tabela 02 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e de pessoal ocupado em Apucarana: 1996-2004

1996 1998 2000 2002 2004

Setores Industriais Nº. Estab.

Nº. Empre

gos

Nº. Estab.

Nº. Empre

gos

Nº. Estab.

Nº. Empre

gos

Nº. Estab.

Nº. Empre

gos

Nº. Estab.

Nº. Empre

gos Fabricação de produtos alimentícios e bebidas

54 1.042 52 1.153 65 874 58 1.117 63 1.293

Fabricação de produtos têxteis 22 819 27 496 29 691 44 906 47 898 Confecção de artigos do vestuário e acessórios

113 2.578 162 2.321 222 3.518 272 4.452 281 5.413

Preparação de couros e fabrç. de artefatos de couro, artigos de...

22 1.079 22 1.007 25 903 26 786 29 793

Fabricação de produtos de madeira 13 104 10 87 12 132 11 118 13 126 Fabricação de celulose, papel e produtos de papel

2 132 8 109 11 119 10 148 12 185

Edição, impressão e reprodução de gravações

6 110 9 129 12 139 12 140 18 140

Fabricação de produtos químicos 7 108 7 140 10 213 13 161 16 201 Fabricação de artigos de borracha e plástico 17 247 23 217 28 285 31 302 35 368 Fabricação de produtos de minerais não metálicos

3 9 8 39 10 75 12 86 15 142

Metalurgia básica 2 16 2 2 2 1 1 1 Fabricação de produtos de metal - exclusive maquinas e equipamentos

18 82 21 113 20 92 17 127 18 160

Fabricação de maquinas e equipamentos 9 75 10 71 14 72 17 100 14 85 Fabricação de maquinas, aparelhos e materiais elétricos

2 109 3 118 3 117 2 122 2 130

Fabrç. de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de com....

1 50 4 57 6 65 7 118 8 195

Fabrç. de equipamentos de instrumentação para usos medico-hospital....

3 22 2 17 1 3 1 6 1 4

Fabrç. e montagem de veículos automotores, reboques e carroceri...

3 44 10 71 11 126 11 149 12 254

Fabricação de outros equipamentos de transporte

1 0 1 31 1 41

Fabricação de moveis e indústrias diversas 26 255 31 265 23 158 25 320 34 441 Reciclagem 1 0 2 7 2 20 3 9

TOTAL 324 6.881 411 6.412 507 7.590 573 9.210 622 10.878 Fonte: BRASIL, 1996-2004. Org. Anderson Vietro.

Em 1996, a indústria de transformação compreendia 18% do total de estabelecimentos

e 42% do pessoal ocupado. Quanto aos estabelecimentos, a distribuição no setor industrial

ocorria assim: alimentos e bebidas 16%, produtos têxteis 7%, artigos do vestuário 35%, couro

7%, borracha e plástico 5% e móveis e indústrias diversas 8%. Em relação ao pessoal

ocupado, o setor de alimentos e bebidas tinha 15% de participação, produtos têxteis 12%,

artigos do vestuário 37%, couro 15%, borracha e plástico 3%, móveis e indústrias diversas

4%. Em relação a 1990, a indústria de transformação apresentou 24% de aumento no número

de estabelecimentos e 32% no número de empregos, ao passo que o número total de empregos

Page 22: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

22

formais no período cresceu 8% e o número de estabelecimentos total cresceu 21%, o que

significa que a indústria foi mais dinâmica que o restante da economia.

Em 1998 a participação no setor industrial em relação a estabelecimentos e pessoal

ocupado, respectivamente, era a seguinte: alimentos e bebidas 12% e 18%, produtos têxteis

6% e 7%, artigos do vestuário 39% e 36%, couro 5% e 15%, borracha e plástico 5% e 3%,

móveis e indústrias diversas 7% e 4%. A variação entre 1996 e 1998 foi de 27% nos

estabelecimentos industriais e –7% no pessoal ocupado. O setor de alimentos e bebidas

diminuiu em 3% o número de estabelecimentos, mas aumentou 10,6% o pessoal ocupado. O

setor de produtos têxteis aumentou os estabelecimentos em 22% e reduziu em 39% o pessoal

ocupado. O setor de artigos de vestuário foi o que mais cresceu no período, com incremento

de 43% no número de estabelecimentos, embora o pessoal ocupado tenha diminuído 10%.

Enquanto isso, a economia do município como um todo apresentava crescimento de 11% no

número de estabelecimentos e de 5% no pessoal ocupado. Observa-se que nesse período os

desempenhos da indústria e da economia são relativamente fracos e semelhantes.

Em 2000, o setor industrial respondia por 22% dos estabelecimentos e 38% dos

empregos totais. O setor industrial que mais cresceu entre 1998 e 2000 foi o de artigos de

vestuário - 37% no número de estabelecimentos e 51% no pessoal ocupado - representando

44% e 47% dos estabelecimentos e empregos industriais respectivamente. A indústria têxtil

teve aumento de 39% no número de empregos e 7% no número de estabelecimentos e, o setor

de alimentos e bebidas embora tenha crescido 25% em relação a estabelecimentos, teve queda

de pessoal ocupado em 24%. A indústria da borracha e do plástico cresceu 21%

(estabelecimentos) e 31% (pessoal ocupado) enquanto a indústria do couro teve aumento de

13% no número de estabelecimentos e queda de 10% no pessoal ocupado. Entre 1998 e 2000,

a indústria apresentou crescimento de 23% (estabelecimentos) e 18% (pessoal ocupado).

Enquanto isso, o setor formal como um todo cresceu 14% nas duas variáveis consideradas.

Já em 2002, os estabelecimentos industriais respondiam por 22% do total e o pessoal

ocupado na indústria equivalia a 41% do total de empregos formais de Apucarana. Os setores

industriais que mais cresceram em relação a 2000 foram o têxtil (51% - estabelecimentos;

31% - pessoal ocupado), do vestuário (22% e 26% respectivamente), e, embora tenha

diminuído em 10% o número de estabelecimentos, o setor de alimentos apresentou alta de

28% no número de pessoas ocupadas. A indústria do couro apresentou nova redução no

número de empregos (13%) e os estabelecimentos cresceram apenas 4%. A variação do setor

industrial no período foi de 14% nos estabelecimentos e 21% no pessoal ocupado. O setor de

artigos do vestuário consolida-se como o maior empregador do setor industrial (48%) e com

Page 23: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

23

maior participação no número de estabelecimentos (47%). O setor alimentício é o único a ter

mais de 10% dos estabelecimentos e pessoal ocupado (12%).

Em 2004, os empregos na indústria de transformação representavam 44,1% do total,

enquanto os estabelecimentos industriais respondiam por 23% do total de estabelecimentos

formais de Apucarana. O setor de vestuário respondia por 45% dos estabelecimentos

industriais e 49,8% dos empregos formais na indústria de Apucarana. A este setor seguiam-se:

alimentos e bebidas (10% dos estabelecimentos e 12% dos empregos), indústria têxtil (7,55%

dos estabelecimentos e 8,3% dos empregos) e indústria do couro (4,6% dos estabelecimentos

e 7,3% dos empregos). Estes quatro setores eram responsáveis por 67,35% dos

estabelecimentos industriais e por 77,3% dos empregos formais industriais. Destacavam-se

ainda os setores da borracha e plástico (5,6% dos estabelecimentos e 3,4% dos empregos) e

móveis e indústrias diversas (5,4% dos estabelecimentos e 4% dos empregos).

Em comparação a 2002, destaca-se o aumento em 12% no número de

estabelecimentos na indústria do couro e redução de 1% no pessoal ocupado, aumento de 23%

na indústria de produtos químicos e 36% na indústria de móveis e indústrias diversas. Quanto

ao número de pessoal ocupado, destaca-se o aumento em 15,75% no setor de alimentos e

bebidas, 22% na indústria do vestuário (embora o número de estabelecimentos tenha

aumentado apenas 3,3%), 22% na indústria da borracha e plástico, 25% na indústria de

produtos químicos e 37% na indústria de móveis e indústrias diversas.

No período de 1996 a 2004 a indústria teve aumento de 76% nos estabelecimentos e

34% no pessoal ocupado. Caiu o número de pessoas ocupadas na indústria do couro (-27%),

embora os estabelecimentos tenham aumentado 32%. Os estabelecimentos do setor têxtil

dobraram entre 1996-2004, enquanto os empregos aumentaram apenas 10%. O setor de

artigos de vestuário teve o crescimento mais significativo: 148% em relação a

estabelecimentos e 109% em relação a pessoal ocupado. A indústria da borracha e do plástico

aumentou 105% o número de estabelecimentos e 49% o de pessoal ocupado.

O gráfico 02 retrata a evolução absoluta do número de estabelecimentos industriais

entre 1985 e 2004. Houve crescimento de 257%. No mesmo período, o mercado formal de

Apucarana apresentou 164% de aumento no número de estabelecimentos.

Já o gráfico 03 mostra a evolução no número de empregados no setor industrial: 189%

de crescimento. Enquanto isso o número de empregos no mercado formal de trabalho

aumentou 85%. No entanto, enquanto os estabelecimentos apresentaram evolução crescente

no período, os empregos apresentaram involução entre 1996-1998 (-7%).

Page 24: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

24

Gráfico 02 – Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana: 1985-2004

174

231261

324

411

507

573622

0

100

200

300

400

500

600

700

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Estabelecimentos Industriais

Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.

Gráfico 03 – Evolução do Pessoal Ocupado na Indústria em Apucarana: 1985-2004

3761

5079 5209

68816412

7590

9210

10878

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Pessoal ocupado

Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.

Page 25: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

1.2 – OS SETORES INDUSTRIAIS MAIS REPRESENTATIVOS

Confrontando-se os dados do MTE/RAIS (BRASIL) para Apucarana em 1985 e 2002

(para os quais dispõe-se de informações detalhadas de todos os segmentos do mercado formal

de trabalho de Apucarana), identificou-se que a indústria de transformação aumentou sua

participação tanto em relação a pessoal ocupado como em relação ao número de

estabelecimentos. Em 1985, a agropecuária e o extrativismo respondiam por 3% dos

estabelecimentos e 4% do pessoal ocupado. A indústria de transformação era responsável por

17% dos estabelecimentos e 28% do pessoal ocupado. Destacavam-se como setores

industriais mais significativos, o de alimentos e bebidas com 5% dos estabelecimentos e 10%

do pessoal ocupado e, o de produtos têxteis e artigos do vestuário com 3% dos

estabelecimentos e 7% do pessoal ocupado. A administração, os serviços e a construção civil

respondiam por 80% dos estabelecimentos e 68% do pessoal ocupado. Destaque para o

comércio varejista, com maior número de estabelecimentos e de empregos (35% e 19%,

respectivamente), comércio atacadista (8% dos estabelecimentos e 4% do pessoal ocupado) e

administração pública com 1% dos estabelecimentos e 12% do pessoal ocupado.

Em 2002 a agropecuária e o extrativismo eram responsáveis por 9% dos

estabelecimentos formais e 2% do pessoal ocupado. A indústria de transformação respondia

por 23% dos estabelecimentos e 42% do pessoal ocupado, sendo que só o setor de produtos

têxteis e artigos do vestuário detinha 13% dos estabelecimentos totais e 24% do pessoal total

ocupado. A fabricação de alimentos e bebidas respondia por 2% dos estabelecimentos e 5%

do pessoal ocupado. O setor administrativo, de serviços e construção civil era responsável por

60 % dos estabelecimentos e 56% dos empregos formais. O comércio varejista respondia por

25% dos estabelecimentos e 13% do pessoal ocupado, o comércio atacadista 3% e 5%

respectivamente e a administração pública 3% dos estabelecimentos e 9% do pessoal

ocupado.

O gráfico 04 expressa os números absolutos de estabelecimentos dos setores

econômicos e dos segmentos mais representativos de cada setor. Pode-se observar que o

número de estabelecimentos industriais é menor que o de estabelecimentos do setor terciário,

com destaque para o comércio varejista que sozinho, supera os estabelecimentos industriais.

Isso significa que Apucarana é uma cidade de serviços e não industrial? O setor secundário foi

o que mais ampliou sua participação no período, passando a contar com quase um quarto dos

estabelecimentos. E o segmento industrial de produtos têxteis e artigos de vestuário é o

Page 26: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

26

segundo maior com 316 estabelecimentos, ficando atrás apenas do segmento do comércio

varejista que possui 638 estabelecimentos.

Gráfico 04 – Distribuição dos estabelecimentos segundo os setores econômicos e os segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e

2002 30

174

818

11

363

83

23

6

57

3

58

31

6

16

96

5

63

8

86

2848

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

Ag

rop

ecu

ári

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ativis

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Ind

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Ad

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istr

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o

blic

a

Co

rcio

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rejis

ta

Co

me

rcio

ata

ca

dis

ta

1985 2002

Fonte: BRASIL, 1985 e 2002. Org. Anderson Vietro.

O gráfico 05 fornece dados absolutos do mercado formal de trabalho de Apucarana em

1985 e 2002. Sua análise permite afirmar que Apucarana definitivamente é uma cidade

industrial, mais especificamente, Apucarana é uma cidade industrial especializada na

produção de produtos têxteis e artigos do vestuário (boné, principalmente). Quase a metade

dos empregos formais de Apucarana é gerada na indústria. Um em cada cinco trabalhadores

formais trabalhava em indústrias têxteis e do vestuário em 2002. O número de empregos nessa

indústria cresceu mais de 5 vezes, enquanto os empregos no comércio varejista praticamente

ficaram estáveis. Pode-se afirmar que em 1985 o setor terciário era o mais importante da

economia, mas ao longo dos anos e em 2002 esse papel passou ao setor secundário.

Os setores industriais mais significativos de Apucarana variaram pouco de 1985 até

2002. Quanto ao número de estabelecimentos, até 1987 o setor alimentício e de bebidas era o

principal, seguido pela indústria da madeira e mobiliário, pela indústria têxtil do vestuário e

artefatos de tecidos, pelo agrupamento das indústrias da borracha, couro e indústrias diversas

e pela indústria metalúrgica. Em 1990 a mudança desse quadro se dá apenas pela troca de

Page 27: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

27

posição entre os três primeiros setores: 1º têxtil e do vestuário, 2º alimentos e bebidas e 3º

madeira e mobiliário.

Gráfico 05 – Distribuição do pessoal ocupado segundo os setores econômicos e os segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e

2002 5

14

37

61

13

32

10

25

90

83

16

50

25

05

53

5

47

7

92

10

11

17

53

58

12

34

1

19

94

28

32

11

12

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2000

4000

6000

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12000

14000

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1985 2002

Fonte: BRASIL, 1985 e 2002. Org. Anderson Vietro.

Entre 1996 e 2002, embora tenha ocorrido o desmembramento do setor têxtil e de

artigos do vestuário, o setor de vestuário se manteve e se consolidou em primeiro, seguido

pelo setor de alimentos e bebidas. Entre 1996 e 1998 o terceiro setor era o de móveis e

indústrias diversas e o quarto o de produtos têxteis, seguido pelo de couro. Entre 2000 e 2002

o setor têxtil era o terceiro maior, seguido pelo de borracha e plástico e pelo de couro.

Como já foi exposto, em virtude de diferentes agrupamentos de dados posteriores a

1990, o gráfico 06 representa a evolução dos três setores industriais mais significativos entre

1985-2004, reagrupando os dados pós-1990 dos setores têxtil e do vestuário e agrupando os

segmentos do couro, borracha e plástico

O setor alimentício apresentou-se o mais estável dos três, mantendo praticamente o

mesmo número de estabelecimentos, porém foi o único a apresentar redução (entre 1987 e

1990). O setor têxtil e do vestuário apresentou a evolução mais significativa passando de 28

estabelecimentos em 1985 para 328 em 2004. O agrupamento do couro, borracha e plástico

teve um crescimento mais moderado passando de 17 para 64 estabelecimentos.

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Gráfico 06 – Evolução dos estabelecimentos nos setores industriais mais representativos de Apucarana: 1985-2004

0

50

100

150

200

250

300

350

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Fabricação de produtos alimentícios e bebidas

Fabricação de produtos têxteis, artigos do vestuário e acessórios

Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, calçados,

borracha e plástico

Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.

Em relação ao número de empregos, até 1990, os principais empregadores eram: 1º a

indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico; 2º a indústria têxtil do vestuário e artefatos de

tecidos; 3º a indústria da borracha, fumo, couro, peles, similares e indústrias diversas (quarto

em 1985) e; 4º indústria da madeira e mobiliário (terceiro em 1985). De 1996 para cá a

indústria de artigos do vestuário é a maior empregadora, seguida pelas indústrias do couro e

artefatos de couro, produtos têxteis e alimentícia que trocavam de posições entre si. Os

maiores empregadores em 2004 eram: 1º a indústria do vestuário; 2º alimentícia; 3º têxtil; 4º

preparação de couro e artefatos; 5º móveis e indústrias diversas e; 6º borracha e plástico.

O gráfico 07 apresenta a evolução de empregos formais nos três setores industriais

mais expressivos. O setor alimentício sofre baixa de 1987 a 1996, cresce em 1998, caindo em

2000 se recuperando em 2002. O setor têxtil e do vestuário crescente até 1987, cai em 1990,

teve extraordinário crescimento em 1996, tendo redução em 1998 e voltando a crescer a partir

de 2000. O setor do couro e da borracha cresce até 1996, apresentando sucessivas quedas até

2002, voltando a apresentar crescimento em 2004.

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Gráfico 07 – Evolução do pessoal ocupado nos setores industriais mais expressivos de Apucarana: 1985-2004

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Fabricação de produtos alimentícios e bebidas

Fabricação de produtos têxteis, artigos do vestuário e acessórios

Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, calçados,

borracha e plástico

Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.

O que ocorria com o Brasil e o Paraná neste período de intenso desenvolvimento

industrial de Apucarana? Como foi possível tal desenvolvimento? De onde vieram os recursos

necessários? Isso será abordado no próximo capítulo.

Page 30: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

2 – EM PERÍODO DE CRISE E PESSIMISMO, A AÇÃO LOCAL PROMOVE A

INDUSTRIALIZAÇÃO: INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA

Inúmeras são as teorias que tentam explicar determinados aspectos da realidade, de

uma forma racional e supostamente objetiva. Com os fatos econômicos e geográficos não

poderia ser diferente. Neste trabalho importa estudar a industrialização de Apucarana. Para

tanto é necessário entender o processo de industrialização brasileiro e paranaense, recortes,

nos quais o processo apucaranense insere-se.

Mamigonian (2000) afirma que a industrialização brasileira é tema recorrente de

debate entre os intelectuais brasileiros desde a década de 1920, e que tanto as esquerdas

brasileiras quanto a burguesia industrial defendiam o processo de industrialização. Entre os

intelectuais de esquerda, destaca a hegemonia de três teorias acerca da industrialização

brasileira: a teoria da Cepal que popularizou a expressão “industrialização por substituição de

importação” dominante de 1955 a 1964; a teoria da dependência e do desenvolvimento do

subdesenvolvimento que enfatizava a subordinação da industrialização aos interesses do

centro do sistema capitalista, dominante no período seguinte ao golpe militar de 1964; e a

teoria dos ciclos econômicos, com aceitação recente e que reconhece o dinamismo do

processo de acumulação capitalista brasileiro, e sua reação ativa às transformações ocorridas

no centro dinâmico do capitalismo mundial, ao contrário das teses anteriores tidas como

estagnacionistas, e que teve como principal expoente Ignácio Rangel (1998; 2005).

O desenvolvimento econômico do capitalismo se dá de forma cíclica e não-linear,

através de flutuações das atividades econômicas, com a sucessão de períodos de forte

crescimento ou de boom e períodos de crescimento reduzido, depressivo ou de crise profunda.

Rangel interpretou o desenvolvimento econômico brasileiro a partir das teorias de Marx,

Lênin, Schumpeter, Kondratieff, elaborando um arcabouço teórico próprio e original para o

Brasil.

Silveira (2003) afirma que a idéia dos ciclos de acumulação tem origem em Marx,

tendo se desenvolvido com contribuições de diversos estudiosos com destaque para Juglar,

Schumpeter e Kondratieff. Dos diversos ciclos conhecidos do desenvolvimento econômico

capitalista, destacam-se dois: os ciclos longos ou de Kondratieff e os ciclos médios ou de

Juglar.

Os ciclos longos ou de Kondratieff são ciclos de aproximadamente 50 anos divididos

em duas fases de aproximadamente 25 anos cada: a fase A ou ascendente, marcada por

investimentos crescentes, expansão e euforia; e a fase B ou depressiva marcada por queda no

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nível de investimentos, depressão e pessimismo. Nas fases ascendentes, são colocadas em

práticas invenções tecnológicas, as quais elevam a produtividade do trabalho e que ao serem

difundidas por toda a economia acabam rebaixando a taxa de lucro, desestimulando

investimentos e provocando uma fase de depressão na qual novas mudanças tecnológicas são

gestadas e, ao serem postas em prática elevam a taxa de lucro, gerando novo ciclo expansivo

pela retomada de investimentos, que ao se generalizarem reduzirão novamente a taxa de lucro,

desestimularão os investimentos culminando em nova fase depressiva (MAMIGONIAN,

1987, p. 66).

Durante a fase descendente dos ciclos longos, ocorrem muitas e importantes descobertas e invenções, na técnica da produção e do comércio, as quais, não obstante, somente costumam ter aplicação em larga escala na vida econômica prática, quando começa nova e persistente fase ascendente (KONDRATIEFF apud RANGEL 2005b, p. 259).

Rangel (2005a, p. 510) afirma existirem múltiplas formas de inovação tecnológica,

seja pelo emprego de recursos naturais (novos, de novas formas), qualificação da mão-de-

obra, novo instrumental, novas e melhores combinações desses fatores. A inovação

tecnológica causa a expansão da capacidade produtiva. Sempre haverá unidades produtivas

mais modernas ao lado de outras mais primitivas.

O progresso econômico – como expressão final do processo de efetivação da inovação tecnológica – tende, historicamente, a assumir caráter cíclico, sucedendo-se épocas de expansão e de estagnação. Um crescimento econômico sem ciclos, ou, reduzidos estes a uma expressão secundária, supõe considerável medida de planejamento, que regule o processo de renovação tecnológica, tendo em vista a durabilidade dos recursos produtivos comprometidos na função de produção inovadora (RANGEL, 2005b, p. 292).

Os ciclos longos possuem seu centro dinâmico nas economias capitalistas do centro do

sistema mundial. Nas fases expansivas, o centro do sistema capitalista amplia sua necessidade

de matérias-primas, alimentos e mercados consumidores da periferia, aprofundando a divisão

internacional do trabalho, e os recursos são alocados tanto no centro quanto na periferia. Nas

fases depressivas diminui o ritmo de crescimento do centro do sistema, ocorrendo uma

retração no comércio mundial, queda nos preços dos produtos exportáveis e superproduções

relativas, ampliando/aprofundando a crise nos países periféricos. Tais ciclos influenciam de

forma diferenciada as economias nacionais. O desenvolvimento periférico brasileiro ocorre

em resposta ao centro dinâmico do capitalismo mundial – cada país responde de uma maneira

e o Brasil responde ativamente. Nas fases expansivas, o Brasil aprofunda sua participação na

divisão internacional do trabalho ampliando as importações e exportações.

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Entretanto, quando a economia mundial entra em fase recessiva, a economia brasileira volta-se sobre si mesma – o crecimiento hacia adentro dos cepalinos – adotando uma forma de substituição de importações, que também pode ser e o tem sido, uma forma de crescimento, adequada ao seu nível de desenvolvimento econômico e social: diversificação da produção das unidades econômicas básicas, na fase B do primeiro Kondratieff; diversificação da produção nacional, pela proliferação de unidades artesanais e excepcionalmente manufatureiras, voltadas para o mercado nacional, no segundo Kondratieff; aprofundamento desse movimento pela substituição de unidades pré-industriais por outras, de caráter propriamente industriais, no movimento estudado como industrialização, desencadeado na fase B do terceiro Kondratieff. Esse movimento de substituição industrial de importações, contrariamente aos seus predecessores, não se interrompeu com o advento da fase expansiva do quarto ciclo longo (1948-73) (RANGEL, 2005a, p. 698, grifo do autor).

Os ciclos longos exercem influências também na manutenção e alteração dos pactos de

poder entre as classes dirigentes brasileiras, as quais formam aquilo que Rangel identifica

como a dualidade básica da economia brasileira. Segundo o autor (1998, p.149), o poder no

Brasil é exercido por uma coalizão entre interesses de duas elites nacionais, as quais

representam interesses diversos e até complementares, em que a classe hegemônica possui

poder político e a classe subalterna, mais dinâmica, possui poder econômico. Quando os

interesses tornam-se divergentes entre as classes e no interior da classe hegemônica, há o

rompimento da dualidade, e um novo pacto de poder passa a existir com a ascensão da classe

subalterna ao poder, amadurecendo sua capacidade política e um setor dissidente e

progressista da antiga classe hegemônica passa à condição de sócio menor ou subalterno.

As respostas dadas pelo Brasil aos efeitos dos ciclos longos levaram ao

desenvolvimento no interior da economia brasileira de seu centro dinâmico próprio,

contribuíram para o surgimento dos ciclos médios ou de Juglar na economia brasileira.

A terceira dualidade engendrava um fato novo, numa economia periférica, isto é, produzia seu próprio ciclo, coisa antes prerrogativa dos países industrializados integrados no centro dinâmico. Não se tratava, por certo do ciclo longo, que é inerente ao centro dinâmico mundial, como reflexo que é dos processos de gestação e propagação de tecnologia nova, mas de ciclos médios, aparentemente da família dos ciclos de Juglar, aparentemente inerentes à fase de construção do capitalismo industrial (RANGEL, 1998, p. 165).

Os ciclos médios ou de Juglar, duram entre 8 e 11 anos, e são marcados por fases de

expansão dos negócios, seguidas de crise e anos de depressão. Rangel identificou a ocorrência

desses ciclos na economia brasileira a partir da década de 1920. São ciclos decenais

endógenos, ou seja, têm origem e abrangência nacional, apenas nos países que se

industrializaram – que internalizaram o seu centro dinâmico, que desenvolveram o seu

capitalismo industrial. Assim, os primeiros qüinqüênios de cada década, desde 1920 foram

recessivos, enquanto os qüinqüênios subseqüentes foram expansivos. Os juglarianos

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brasileiros foram marcadamente setoriais, haja vista que estão relacionados ao processo de

substituição industrial de importações (MAMIGONIAN, 1987, p. 68).

Desde que teve início a industrialização do Brasil, esses ciclos breves se têm sucedido de regularmente. Primeiramente, foram criadas condições para a implantação da indústria leve, mas, a cada volta do parafuso cíclico, prosseguia a marcha no sentido de indústrias menos leves e, partindo da indústria de bens de consumo, no sentido geral da indústria de bens de produção. A meio caminho, tivemos as indústrias de bens duráveis de consumo, as quais são uma categoria híbrida, visto como, geralmente, são máquinas para as atividades produtivas da casa de família (RANGEL, 2005a, p. 702).

Os juglarianos brasileiros apresentam uma dinâmica expressa por Rangel, como a

dialética da capacidade ociosa. Na fase expansiva do ciclo médio, que precede a recessão, um

setor ou grupo de atividades econômicas expande-se, recebendo investimentos, criando uma

capacidade produtiva além do necessário. Durante a mesma fase expansiva, outro setor

produtivo ou conjunto de atividades revela-se estrangulada, com carência de investimentos,

por alteração na estrutura de demanda do sistema. A superação dos setores estrangulados

(antiociosos) exigirá investimentos, utilizando a capacidade ociosa do setor superinvestido,

que ao realizar a inversão levará a economia para outro período expansivo, que ao seu término

apresentará outro pólo com capacidade ociosa e um outro pólo estrangulado.

Durante a fase recessiva tenta-se superar tal problema, superação esta que só ocorre

com a mudança do aparelho de intermediação financeira, porém, encontrando resistências.

Enquanto o problema não se resolve, o Estado é chamado a intervir, orientando os fluxos

financeiros do pólo de poupança para o pólo de investimento, culminado em grave crise das

finanças públicas, cuja superação implica uma nova redistribuição das atividades econômicas

entre setores públicos e privados. Trasnferindo-se os recursos de uma área superinvestida para

uma subinvestida uma nova fase expansiva se apresenta.(RANGEL, 2005a, p. 704-5)

A industrialização brasileira se deu de forma escalonada, setor após setor. Com a

depressão do terceiro Kondratieff (1920-1948) e conseqüente diminuição do comércio

mundial e da capacidade de importar, o Brasil foi obrigado a se voltar para o mercado interno

– crescer hacia adentro – e produzir os bens que anteriormente eram importados, a saber, os

bens de consumo simples.

Para Rangel (2005a, p. 700), os ciclos endógenos conferem novo sentido aos ciclos

longos mundiais, agravando-os ou amenizando-os, colocando em evidência o papel relevante

do Estado. A revolução de 1930 é caracterizada por Mamigonian (2000, p. 47), como uma

aliança autoritário-reformista que empreenderia a modernização industrial pelo alto, a “via

prussiana” através do uso seletivo das divisas geradas pela cafeicultura paulista (e

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posteriormente paranaense), através de políticas de transferência setorial, rompendo com a

política de sustentação do café e subsidiando a importação de máquinas e equipamentos para

as indústrias. A revolução também eliminou as resistências à acumulação capitalista tanto da

direita quanto da esquerda.

O Estado passou a incentivar as atividades industriais com medidas fiscais, tributárias

e creditícias, favorecendo a tomada de empréstimos bancários, diminuindo impostos sobre

bens de capital, favorecendo a importação de equipamentos, máquinas, matérias-primas e

insumos industriais. A partir de 1937, o Estado passa a atuar de forma direta com a criação de

empresas estatais de bens de capital e de base para o desenvolvimento industrial nacional. É

nesse contexto, que o Governo Vargas inicia em 1941 a construção da Companhia Siderúrgica

Nacional – CSN – em Volta Redonda, com capital público nacional e recursos financiados

pelo governo dos Estados Unidos, e que começou a produzir em 1946 diminuindo a

importação de ferro e aço. Seguiu-se a inauguração da Companhia Vale do Rio Doce (1942),

da Fábrica Nacional de Motores e da Companhia Nacional de Álcalis em 1943 e da

Companhia Hidrelétrica do São Francisco em 1945, concomitante ao aperfeiçoamento do

transporte marítimo de carvão e do transporte ferroviário para garantir a infra-estrutura básica

para o funcionamento dessas indústrias e garantir o desenvolvimento industrial.

Cada ciclo médio brasileiro corresponde a construção de um degrau do edifício

industrial brasileiro, através da substituição de importações: indústrias de bens de consumo

simples, materiais de construção, indústrias de base, bens de consumo duráveis, indústrias

mecânicas e química pesada. Tal processo se deu através da iniciativa privada nacional, da

participação ativa do Estado, com a criação de indústrias de base e a concessão de serviços

públicos a empresas públicas e de economia mista, e do capital estrangeiro, principalmente a

partir da década de 1950, com a substituição de importações de bens de consumos duráveis

(principalmente automóveis) (MAMIGONIAN, 1990, p. 82).

A partir de 1948, a economia mundial entra em nova fase expansiva, inaugurando o 4º

ciclo de Kondratieff cuja fase “a” se estende até 1973 (primeiro choque do petróleo). No

Brasil, o Estado se destaca como o principal investidor na indústria com recursos oriundos da

agricultura e empréstimos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos, criando empresas

estatais em setores estratégicos como as indústrias de base e serviços públicos de infra-

estrutura (Petrobrás, CSN, Vale do Rio Doce, Eletrobrás etc.).

O período 1948-1952 é caracterizado por Bielschowsky (2000), como um período de

estabilidade econômica e política, no qual a economia brasileira apresentou taxa média de

crescimento de 7% ao ano e de crescimento industrial de 11% entre 1948 e 1950, e de 6% no

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biênio 1951-52. Os setores industriais com maiores taxas de crescimento foram a metalurgia,

mecânica, materiais elétricos, materiais de transporte e minerais não metálicos. Em 1952 foi

criado o BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – (posteriormente

BNDES), para promover a melhoria da infra-estrutura industrial e dar suporte financeiro às

iniciativas industriais privadas nacionais, além de uma intensificação de importações de

equipamentos e matéria-prima mediante adoção de taxas variáveis de câmbio para setores

diversos. Entre 1953-55 a produção siderúrgica cresceu com vigor na CSN, o produto

industrial cresceu 9,5% ao ano, ocorreu a criação da Petrobrás e de vários fundos públicos

(impostos especiais) vinculados a investimentos em infra-estrutura, como o Fundo de

Reaparelhamento Econômico.

O período entre 1957-1962 foi de grande desenvolvimento econômico,

conjunturalmente favorável. Foi um período de grandes realizações como a construção de

Brasília, a implantação das indústrias automobilísticas no Brasil. O Plano de Metas proposto

por JK para o período de 1956-1960 continha um conjunto de 31 metas, culminando com a

meta-síntese: a construção de Brasília. Os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de

petróleo receberam a maior parte dos investimentos do governo. Foram concedidos subsídios

e estímulos para expansão e diversificação industrial, com a produção de bens de consumo

duráveis, produção de equipamentos e insumos intensivos em capital. A produção industrial

cresceu numa média 11,2% entre 1958-1962 (RANGEL, 2005b, p. 703). Foi nesse período

que ocorreu a substituição industrial de importações de bens de consumo duráveis, vistos por

Rangel, como uma categoria híbrida entre o departamento II (bens de consumo) e o

departamento I (bens de capital). No triênio subseqüente, um período recessivo, as taxas de

crescimento industrial reduziram drasticamente, com taxas negativas de crescimento de 5%

em 1965, fruto da instabilidade política nacional e da necessidade de novas substituições de

importações, de eliminação de antiociosidades, de aumento da inflação redução de salários e

desemprego, causado principalmente pela adoção de técnicas produtivas supridoras de mão-

de-obra, ampliando o exército industrial de reserva e agravando a crise no campo.

O período compreendido entre 1968 e 1973, durante o regime militar, além de ficar

marcado pela violenta repressão e supressão dos direitos civis, também ficou marcado pelo

excelente desempenho econômico alcançado: a produção industrial cresceu cerca de 13% ao

ano e o PIB brasileiro apresentou crescimento de mais de 9% entre 1968-70 e mais de 10,5%

entre 1971-73. (RANGEL, 2005b, p. 714). A reforma bancária de 1965 criou a estrutura

básica do sistema financeiro nacional, instituindo o Banco Central e o Conselho Monetário

Nacional, e permitiu a especialização desse sistema com a divisão em financeiras, bancos

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comerciais e bancos de investimento. Com a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro

Nacional (ORTN), foi instituída a correção monetária, o que possibilitou a convivência com

taxas elevadas de inflação durante muitos anos. O governo militar estimulou investimentos de

empresas estrangeiras em associações com empresas nacionais e com o Estado em obras de

infra-estrutura, com a construção de rodovias para integrar o território brasileiro, a construção

de usinas hidrelétricas, investiu em telecomunicações, na indústria petroquímica, estimulou a

construção civil com a criação do Sistema Financeiro da Habitação, utilizando recursos do

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Entre 1970 e 1973 as exportações cresceram ao

ritmo de 40% ao ano, possibilitando o equilíbrio da balança comercial.

Paralelo ao desenvolvimento industrial brasileiro no pós-guerra – e até por exigência

do mesmo - ocorreu a integração nacional do território e dos mercados, graças à construção de

estradas de rodagem, ampliação da capacidade de armazenagem, crescimento no número de

portos, investimentos nas ferrovias (pelo menos até a década de 1970), da implantação de

redes de comunicação e da ampliação no fornecimento de energia elétrica (Complexo Paulo

Afonso em 1955, Furnas em 1963, Tucuruí e Itaipu pós-1975) e saneamento. (SANTOS;

SILVEIRA, 2003).

A pavimentação dos principais eixos rodoviários se deu entre 1950-1970. Data desse

período também a construção de Brasília (1957-1960) que, segundo os autores em tela:

Foi um passo importante, pois a rede de estradas, indispensáveis à afirmação do Estado sobre o conjunto do território, também era imprescindível para a expansão do consumo do que era produzido internamente. Aliás, a própria construção de Brasília teria sido impossível se a indústria já não se houvesse desenvolvido em São Paulo. Como resultado, cada um desses movimentos reforça os demais, e enquanto a economia e a sociedade se renovam, levando o país a crises políticas sucessivas, as bases materiais também se transformam, mediante a possibilidade de circular mais depressa e através de uma superfície muito maior que no período anterior. (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p.45-6).

A partir dos anos 1970 “impõe-se um movimento de desconcentração da produção

industrial”, concentrada, sobretudo em São Paulo, como manifestação do “desdobramento da

divisão territorial do trabalho no Brasil”. Entre 1970 e 1980 o número de estabelecimentos

industriais no Brasil cresceu 184,52%, enquanto o valor da transformação industrial aumentou

537,7% e o pessoal ocupado 98,39%.(SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 106)

A produção industrial torna-se mais complexa, estendendo-se, sobretudo para novas áreas do Sul e para alguns pontos do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte (Manaus). Paralelamente, as áreas industriais já consolidadas ganham dinamismos diferentes dos que definiram a industrialização em períodos anteriores. (SANTOS; SILVEIRA, 2003. p.106)

Page 37: O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17 Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana:

37

Os “milagres” econômicos brasileiros correspondem a coincidências entre as fases

ascendentes do ciclo longo mundial e dos juglarianos brasileiros.

A fase A do ciclo breve da década de 1960 (geralmente essas fases ocorrem no segundo lustro do decênio) coincidiu com a etapa final da fase ascendente do ciclo longo e não é improvável que esse fato tenha gravitado sobre o nosso ciclo breve, retardando por alguns anos a passagem da fase A para a fase B (o notório milagre do Delfim). Assim, a fase B ou recessiva do nosso ciclo endógeno na década de 1970 foi não apenas mais curta, como mais amena. (RANGEL, 2005b, p. 431)

A partir de 1973 a economia mundial adentra a fase “b” do 4º Kondratieff, ou seja, um

período recessivo mundial. Entre 1974 e 1979, durante o Governo Geisel, o Brasil apresenta

em plena crise mundial (entremeada pelos choques do petróleo de 1973 e 1979), um

crescimento industrial significativo, com o coroamento do edifício industrial, pela indústria

pesada, através de endividamento externo (as taxas de juros eram baixas, pela grande oferta

de petrodólares pelos bancos norte-americanos e europeus), ampliando sua participação na

DIT. Tal período ficou conhecido como “marcha forçada”.

Entre 1938 e 1980 a produção industrial brasileira cresceu cerca de 26 vezes enquanto

a produção industrial japonesa cresceu 14 vezes e a mexicana 12 vezes. “Nenhuma outra

economia capitalista apresenta desempenho comparável” (RANGEL, 2005b, p. 431).

Faz-se aqui um novo recorte têmporo-espacial necessário para entender a

industrialização da região Sul do Brasil, do Paraná especificamente e, entender o que

acontecia no Paraná enquanto o país se industrializava.

Silva (2006) analisa o processo de industrialização da região Sul em função

principalmente da pequena produção mercantil e subdivide tal processo em três fases

distintas:

A primeira delas, correspondente ao período que vai do último quartel do século XIX a I Guerra Mundial, se caracterizou pela gênese industrial propriamente, a formação de economias externas de aglomeração ligadas às infra-estruturas, e as precoces economias internas de escalas, formadas (ao final do período) por firmas que se habilitavam a concorrer no mercado nacional. A segunda fase dizendo respeito ao período do entre Guerras, marca a expansão da indústria leve e os primeiros passos da indústria metal-mecânica. A terceira, concernente ao pós II Grande Guerra, é consoante com a abertura das economias regionais, o crescimento industrial do tipo bola de neve, e a efetiva emergência de políticas públicas voltadas para o apoio ao capital industrial. (SILVA, 2006, p.57).

O Paraná era em 1960 o menos industrializado dos Estados sulinos e o 2º maior

importador nacional de produtos manufaturados paulistas. Até a década de 1930 as indústrias

paranaenses estavam ligadas a atividades extrativas de recursos naturais como a erva-mate e a

madeira. As indústrias localizavam-se nos arredores de Curitiba e Paranaguá. Entre 1939 e

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1949, o Paraná apresentou um crescimento industrial em função da ocupação do Norte do

Estado e das atividades de beneficiamento do café. As demais regiões não apresentavam

indústrias dinâmicas e o Estado apresentava condições de transporte e energia precárias. A

indústria paranaense até então era rudimentar e pautada apenas no beneficiamento agrícola e

na extração vegetal, importando artigos manufaturados de São Paulo. (BRAGUETO, 1999).

Até a década de 1950 o território paranaense não havia sido totalmente ocupado,

povoado e incorporado à produção. Desde o início do século XX, inúmeras concessões de

terras no Norte do Paraná haviam sido feitas para fins de colonização dirigida. A maior dessas

concessões foi feita para a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), de capital inglês. A

oferta de pequenas propriedades rurais, com facilidades de financiamento e a criação de

inúmeros centros urbanos para dar suporte à produção rural, possibilitou a concretização da

pequena produção mercantil no norte do Paraná. As famílias produziam café (produto

destinado à exportação), gêneros alimentícios (as culturas intercalares), destinados ao

abastecimento local e regional, e matéria-prima para as indústrias localizadas em São Paulo.

(FRESCA, 2004a).

Para a autora em tela, a estruturação da rede urbana norte-paranaense, vinculava-se ao

sistema de transporte, cuja existência era vital para uma “economia orientada para o mercado

e desenvolvida sob a forma de pequena produção mercantil” (2004a, p. 64). Assim, em 1960

predominavam nos centros urbanos da rede o comércio varejista (de capital local) para

abastecer a população rural, o qual era abastecido por atacadistas de Londrina e Maringá ou

por indústrias paulistas (FRESCA, 2004a, p.70).

Fresca (2004b, p.2) afirma que a industrialização norte-paranaense até os anos 1960

era praticamente inexistente em virtude do processo de ocupação do território paranaense e a

efetiva incorporação de terras à produção se concluir no final dos anos 1950. Destaca, no

entanto, a existência de iniciativas industriais locais, com a presença de inúmeras unidades

produtivas artesanais e industriais para atendimento de necessidades imediatas da população

ou que não eram importadas de São Paulo, em razão dos custos.

Havia uma industrialização assentada em pequenas unidades, de capital local atrelada à agricultura, ao aproveitamento de recursos naturais e a outros produtos, visando ao abastecimento do mercado local e regional. Mas foi a presença de grandes grupos paulistas, que se expandiram para o norte do Paraná, desde a década de 1930, montando filiais para atendimento dos consumidores, que relativizou a emergência de empresas industriais de maior importância. (FRESCA, 2004a, p. 77-8)

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Os estabelecimentos industriais presentes nas cidades da rede urbana norte-paranaense

eram, predominantemente, indústrias alimentícias (43%), indústrias de minerais não-metálicos

(15,87%), indústrias de madeira (14,47%), indústrias de mobiliário (8,27%) e indústrias de

bebidas (3,2%). Os municípios que possuíam os maiores números de estabelecimentos

industriais eram Londrina, Maringá, Campo Mourão, Apucarana, Arapongas, Cornélio

Procópio, Cianorte, Jacarezinho entre outras (FRESCA, 2004a, p.75).

O sistema bancário não só se fazia presente como era “elo crucial do caráter dinâmico

da rede urbana” (FRESCA, 2004a, p. 81). O excedente econômico era drenado pela diferença

de preço entre produtos primários paranaenses e manufaturados de São Paulo e aplicados em

investimentos em áreas mais industrializadas (parte da renda cafeeira era retida pelo Governo

Federal para tais investimentos) (FRESCA, 2004a, p 77).

É importante destacar que a rede norte-paranaense possuía vínculos mais fortes com

São Paulo do que com o “Paraná Tradicional”, ou seja, com Curitiba e o Sul do Estado, pela

ausência de redes de transportes tão eficientes entre o norte e o sul do Estado, quanto às que

existiam entre o Norte do Estado e São Paulo. Isso porque o Paraná era um Estado

territorialmente não integrado, existindo três formações sócio-espaciais distintas: o Paraná

Tradicional onde predominavam o latifúndio, a pecuária e o extrativismo; o Sudoeste onde

predominava a pequena produção mercantil de cereais e de suínos; e o Norte do Paraná onde

predominava a pequena produção mercantil de cereais e a cafeicultura. O poder político era

exercido hegemonicamente por grupos latifundiários do Paraná Tradicional, “enquanto a

pequena produção mercantil do Norte do Estado ocupava posição muito marginal” (FRESCA,

2004b, p. 3).

A partir da década de 1960, o Norte do Paraná passou por significativas alterações

produtivas “inseridas nas freqüentes mudanças na divisão territorial e internacional do

trabalho, tanto em âmbito nacional como paranaense” (FRESCA, 2004a, p. 167). Foi nesse

período:

Que emergiu com mais vigor a consciência política de eminentes crises locais face as sucessivas alterações na cafeicultura, tanto pelo esgotamento das frentes pioneiras como pela perda dentre outros, de obtenção de impostos; [...] a consciência de que as rendas geradas no Estado eram duplamente escoadas para São Paulo, por inversão em outros locais e extração das rendas via bancos extra-regionais e por consumo; [...] e emergia internamente ao poder estatal paranaense, a busca de alternativas de romper com o empobrecimento relativo que o Estado sofria – na percepção do executivo e dos políticos – por ter na divisão territorial do trabalho papel de ser unicamente agrícola, quando em nível nacional destacava-se a industrialização como sinônimo de desenvolvimento. (FRESCA, 2004b, p. 3).

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Assim, o poder Executivo paranaense elaborou um projeto de desenvolvimento

pautado na “industrialização via substituição de importações”. Chamado de “modelo

paranaense” tal projeto representava a assunção efetiva pelo Estado, de suas funções como

promotor do desenvolvimento, numa conjuntura nacional de perda de ritmo de crescimento

(1962-1967), o qual procurava repetir processos que ocorreram no Brasil, adotando medidas

em direção à industrialização do Paraná. (FRESCA, 2004a, p. 169-70).

Para executar e alcançar o objetivo de industrialização do Estado, foi criada a

CODEPAR – Companhia de Desenvolvimento do Paraná – que funcionaria com recursos do

Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE). A Codepar deveria desempenhar três papéis:

“dotar o Estado de infra-estrutura, viabilizar a implantação de indústrias e gerar projetos de

desenvolvimento específico, a partir do conhecimento da realidade local” (AUGUSTO apud

FRESCA, 2004a, p. 171). Para gerar condições à produção e reprodução do capital, o Estado

criou sociedades de economias mistas como a Copel, a Fundepar, Sanepar, Telepar, Celepar e

Cohapar entre 1962 e 1965.

Os recursos da Codepar privilegiaram as pequenas empresas apenas no primeiro ano,

havendo um predomínio ao financiamento de grandes empresas de forma crescente

principalmente após 1967 (BRAGUETO, 1999). Para se adequar ao processo de expansão

industrial em curso na economia brasileira, o projeto da Codepar foi “direcionado para o

grande capital de qualquer origem, em detrimento do pequeno e médio capital local e se

deslocou da substituição de importações para a tese da complementaridade na ótica da divisão

territorial do trabalho em nível nacional”, principalmente a partir de 1968 quando a Codepar

foi transformada em Banco de Desenvolvimento do Paraná (BADEP) e a forma de atuação

estatal passou a ser feita predominantemente pelo sistema financeiro.(FRESCA, 2004a, p.

172).

Foi possível ao Estado, através da Codepar, cumprir alguns objetivos: integrar o

território com a pavimentação das principais rodovias estaduais e oferecer energia elétrica

através da Copel. As medidas institucionais adotadas pelo Governo do Paraná para superar

uma crise “foram pensadas por um caminho e implantadas por outro”. A “integração maior do

Estado à economia nacional não se deu pela industrialização, mas por uma

agoindustrialização extremamente articulada a demandas do país e do mercado internacional a

partir da década de 1960” (FRESCA, 2004a, p. 173), efetivada na década seguinte com a

modernização agropecuária concretizada no Paraná. Essa modernização corresponde à

racionalização da agricultura, com a erradicação programada da cafeicultura após sucessivas

crises de superprodução e a introdução de culturas a base de máquinas e insumos; a alterações

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nas relações de trabalho no campo, com a eliminação de postos de trabalhos, intensificação da

urbanização e crescimento da demanda por produtos agrícolas e; a subordinação da

agricultura à lógica do capital industrial com a conseqüente industrialização da agricultura.

(FRESCA, 2004a, p. 173-83).

O processo de industrialização paranaense avançou após 1960 a partir de uma nova

inserção na divisão territorial do trabalho em nível nacional. No período 1968-1977, o Paraná

apresentou forte dinamismo econômico com elevadas taxas de crescimento. A partir de 1976,

o setor industrial passou a ter predomínio sobre a agropecuária na composição da renda

interna estadual. Essa expansão se deve principalmente ao crescimento das agroindústrias,

com destaque para o processamento da soja e do trigo, da pecuária (carne e leite), do café

solúvel, sucro-alcooleiro etc., através das cooperativas de produtores rurais e de empresas

locais de iniciativa privada.(FRESCA, 2004a, p. 200-1).

Após o “milagre brasileiro” (1968-73), quando iniciou-se uma fase recessiva mundial

(fase b do 4º Kondratieff), o Paraná continuou a crescer vinculado às iniciativas industriais

espalhadas por todo o Estado, como o início de operação da Cidade Industrial de Curitiba

(com recursos do BADEP, financiando principalmente unidades de capital estrangeiro e

nacional de outros Estados), a construção da Refinaria da Petrobrás em Araucária, o

crescimento da construção civil, da indústria química, de material de transporte, de

comunicação, de material elétrico, indústria mecânica e metalúrgica, as iniciativas de capital

local em ramos da indústria tradicional no interior do Estado, com destaque para o setor

confeccionista em Cianorte, Apucarana, Maringá e Londrina, o setor moveleiro em

Arapongas e agroindustrial sucro-alcooleiro, avícola, de mandioca e derivados, de moagem de

grãos produzindo óleos e cremes vegetais, de moagem de milho, de laticínios, de torrefação

de café, fiação de algodão e seda etc. dispersas por todo interior do Estado (FRESCA, 2004a,

p.204-7).

A autora identifica semelhanças entre a gênese e a expansão de atividades industriais

(especializadas) em Arapongas, Cianorte e Apucarana. Observou o desenvolvimento de um

setor moveleiro, de um setor de confecções de blusas, vestidos, jeans, e de uma produção

confeccionista de bonés e camisetas, respectivamente. As iniciativas eram locais, com

transferência de recursos de atividades de pequena produção mercantil, rurais e urbanas, para

as atividades industriais nascentes, de forma artesanal, como a reforma de móveis, ou

produção de bonés com motivos esportivos para a venda na porta dos estádios em dias de

jogos. A expansão da produção e do número de estabelecimentos e empregados conformando

setores significativos se deu mediante um processo denominado pela autora de “contato

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próximo”. Ou seja, “a partir da criação e expansão de algumas empresas, visíveis

empiricamente pela contratação de novos empregados, aumento da produção, enriquecimento

do proprietário, outras pessoas ligadas ou não a esta atividade, passaram a fundar indústrias”

(FRESCA, 2004b, p. 5), seja pelo caminho da separação de sociedades, pela iniciativa de

funcionários com experiência no ramo, ou por outros profissionais que estivessem procurando

um novo investimento. E essa gênese ocorreu em períodos recessivos em nível nacional

(meados dos anos 1960) e mundial (pós –1973).

O ingresso numa fase recessiva mundial inaugurada em 1973 e agravada a partir de 1980, não implicou apenas em desmonte ou não emersão de outras atividades produtivas, muito pelo contrário, no norte do Estado a força e a dinâmica da pequena produção mercantil arrefeceu os impactos da crise longa recessiva e curtas, vinculadas respectivamente ao 4º Kondratieff e Juglarismos brasileiros. (FRESCA, 2004b, p. 5).

No contexto brasileiro, a partir de 1980, segundo Rangel (2005b, p.431):

Teve início a fase recessiva do ciclo breve endógeno, e isso nas condições da persistência da fase recessiva do ciclo longo, que é exógeno, do ponto de vista brasileiro, visto como é um fenômeno de alcance mundial. Dificilmente poderemos encontrar em toda a nossa história econômica um período tão depressivo como o triênio 1980-83. Este foi um período recessivo em todo o mundo.

A década de 1980, que ficou conhecida como “a década perdida”, pelos baixos índices

de crescimento da economia nacional (crescimento do PIB no período de 16,8% e

crescimento industrial de 2,6%, segundo Araújo Jr, (2003, p. 49)), foi marcada pela

ineficiência estatal para gerar novas áreas de investimentos para setores carregados de

capacidade ociosa, como a indústria pesada, de bens de capital. Entre 1981-83, o país

apresentou uma forte recessão industrial, apresentando uma leve melhoria entre 1984-86,

aprofundando numa recessão de 1987-89, fruto de medidas político-econômicas equivocadas,

para conter a inflação. A partir de 1988 houve queda do número de empregos em

praticamente todos os gêneros da indústria de transformação.

A coincidência de períodos de crise dos ciclos longos e curtos gerou a recessão de

1980-84. Houve o agravamento da questão agrária em função da indústria e a agricultura

tornarem-se atividades poupadoras de mão-de-obra, resultando numa produção

“superdimensionada de um exército industrial de reserva” (RANGEL, 1998, p. 168). A crise

do comércio exterior com endividamento externo, para a substituição de importação do

Departamento I, e a ineficiência estatal em criar um aparelho de intermediação financeira que

viabilizasse a utilização da poupança gerada nos setores ociosos em investimentos nos setores

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antiociosos ou estrangulados (notadamente os serviços de utilidade pública e infra-estruturais)

(RANGEL, 1998, p. 167), contribuíram para o prolongamento da crise por toda a década.

Embora o Paraná acompanhasse as grandes tendências verificadas para o Brasil, teve

reduzido os impactos da fase recessiva por continuar tendo na agropecuária e na agroindústria

a predominância produtiva e de geração de rendas (FRESCA, 2004a, p. 207). Segundo a

autora em tela:

Os municípios do norte do Paraná, que têm sua dinâmica geral atrelada à agropecuária, agroindústria e ramos industriais classificados como tradicionais – confecções, mobiliário, bebidas, outros alimentos, etc. – viram reduzidas suas participações no valor adicionado da indústria paranaense. Em 1975, concentravam 33% do valor adicionado do Estado; em 1980, 20,7%, em 1985, com 27,6% - liderado pelas inversões em suas agroindústrias – e 22,6% em 1990 (p.212).

Assim, o desempenho satisfatório do PIB paranaense na década de 1980 deve-se

apenas a alguns setores e não à economia como um todo. Segundo dados do IPARDES (2002)

o Paraná em 1985 era responsável por 4,3% da transformação industrial nacional, 5,3% em

1996 e 5,7% em 2000. Houve um forte crescimento da base industrial entre 1985 e 1990, com

a expansão de unidades de pequeno porte, com baixa escala de produção e menores índices de

eficiência. Em 1985 as empresas de pequeno porte representavam 25% da estrutura industrial

estadual. Em 1990 representavam 80%. Em meados da década de 1980 consolida-se no

Estado um núcleo de indústrias de bens de capital e insumos para energia elétrica e

intensifica-se o desempenho das cadeias agroalimentares e madeireira. A estrutura industrial

estadual encontrava-se em 1985, concentrada em poucos ramos: 42% na indústria tradicional

(beneficiamento de grãos, óleos e gorduras vegetais), 42% no grupo Fornecedor (com

destaque para a petroquímica), e 15% no Grupo tecnológico (eletroeletrônico,

telecomunicações e transporte). Em 1990 havia diminuído a participação do setor tradicional

na estrutura industrial paranaense (29,7%) e aumentado a participação do grupo tecnológico

(24%) e do grupo fornecedor (45,5%). (IPARDES, 2002, P.15-8). Entre 1990 e 1995 ocorreu

um período de estagnação, reflexo da recessão da economia nacional em função das

transformações ocorridas com a abertura comercial iniciada pelo governo Collor e

prosseguida nos dois mandatos de FHC.

A partir dos anos 1990 foram tomadas, em nível nacional, medidas de abertura e

liberalização econômica, visando “tornar as empresas nacionais mais competitivas no

mercado internacional” e “montar uma estrutura industrial e econômica que incentivasse a

indústria nacional para competir em igualdade com as indústrias estrangeiras” (ARAÚJO JR,

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2003, p. 26), numa clara inspiração neoliberal, pautada no discurso da globalização como algo

moderno, irreversível e irresistível, e que prega o enfraquecimento do Estado. Tais medidas

levam o país a uma reinserção passiva na DIT no bojo da terceira revolução industrial. Na

década de 1990 o PIB cresceu 23,2% e a indústria de transformação cresceu 22,3% (ARAÚJO

JR, 2003, p.49).

Os anos 1990 são marcados por políticas macroeconômicas de curto prazo, como a

política de importação em 1990 que servia como instrumento para combate a inflação, em que

os preços estrangeiros mais atraentes que a indústria nacional estimulavam a redução de

preços. Araújo Jr (2003, p. 54-6) analisa as conseqüências da abertura comercial empreendida

pelo governo Collor em 1990. Como efeitos positivos, o autor ressalta a elevação da

produtividade, da qualidade dos produtos dos setores e empresas sobreviventes, uma maior

desverticalização e especialização de produção e de produtos. Como fatores negativos destaca

a velocidade excessiva de implantação (quando na realidade deveria ser feita de forma

planejada, lenta e gradual e não de forma indiscriminada como ocorreu), “levou a uma

política de comércio exterior que só prejudicou as empresas e os interesses nacionais” ao não

priorizar a produção e o mercado interno, a elevação do custo de capital de investimento para

indústrias nacionais e o aumento da participação do capital estrangeiro no mercado interno.

Assim, segundo o referido autor, o Brasil passa a ser industrialmente e comercialmente

menos atuante na DIT do que foi na década de 1980, e sua inserção se dá de forma

desequilibrada, aumentando as importações e diminuindo as exportações. Os juros altos e o

câmbio sobrevalorizado, adotados a partir de 1994 como medidas de estabilização, deprimiu a

competitividade da indústria brasileira. A participação dos produtos primários na composição

das exportações passou de 33,5% em 1992 para 38,2% em 1997.

A abertura comercial comprometeu o desempenho das empresas nacionais e tornou o país grande importador de produtos e serviços em praticamente todas as esferas da produção. Nesse sentido, houve uma grande desnacionalização de componentes que antes eram fabricados no país (ARAÚJO JR, 2003, p. 63).

Houve ainda uma grande desnacionalização patrimonial sem a criação de capacidade

produtiva adicional, com um intenso processo de aquisições e fusões intensificadas a partir de

meado da década de 1990. “A política econômica adotada pelo Brasil nesta última década,

contraria uma tendência mundial de proteção e incentivo às empresas nacionais dos principais

países industrializados” (ARAÚJO JR, 2003, p. 69).

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Com relação à geração de empregos, a indústria nacional não conseguiu gerar novos

empregos, mantendo os mesmos níveis de empregabilidade e as taxas de emprego tenderam a

diminuir em graus muito superiores que os níveis de produção. No entanto, a produtividade

por empregado na indústria aumentou a partir de 1991, mas os ganhos de produtividade não

foram repassados aos trabalhadores e a participação dos salários no PIB caiu de 45% para

35% entre 1990 e 1999. As iniciativas para melhorar a competitividade por parte das

empresas restringiram-se a reduzir custos (com corte de mão-de-obra, de horas extras) e a

desativar plantas industriais, uma vez que “a questão primordial era a sobrevivência, e não

uma estratégia de competição e melhoria geral dos métodos de produção” (ARAÚJO JR,

2003, p. 76). Pela concorrência externa (de produtos e/ou de processos de produção), as

empresas nacionais passaram por enxugamento em seus quadros, racionalização de métodos

produtivos, aumento do número de equipamentos computadorizados e otimização de técnicas

organizacionais (just in time, kanban) e outras formas de organização industrial e

administrativa. (ARAÚJO JR, 2003, p.76)

A abertura do início dos anos 90 aumentou o desemprego estrutural e o desemprego

tecnológico (falta de capacitação). Intensificou-se a terceirização, ou seja, a contratação de

outras empresas para fornecimentos de insumos e peças, para a realização de etapas do

processo produtivo e realização de serviços como limpeza, alimentação etc. A sua utilização

possibilitou ganhos de produção com a redução de encargos trabalhistas, controle de estoques,

agilidade no transporte, possibilitou a transformação de custos fixos (investimentos) em

variáveis (compras). As empresas contratantes diminuíram o número de processos produtivos,

reduziram os custos e melhoraram a qualidade de seus produtos mediante fiscalização de

fornecedores. Concomitantemente aumentou o controle sobre a força de trabalho, pioraram as

condições de trabalho em setores com pouca organização trabalhista (ARAÚJO JR, 2003, p.

83).

O autor em tela apresenta dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento

Industrial (IEDI) relativos à participação do setor industrial na composição do PIB brasileiro

entre 1947 e 1997. No período 1947-1954 tal participação oscilou entre 18 e 21%,

apresentando em 1952 o menor índice histórico. Entre 1955 e 1961 houve um crescimento

contínuo, passando de 21% em 1955 para 28% em 1961. O período entre 1962 e 1967

apresenta uma certa estabilidade em torno dos 26%. Já no período subseqüente (1968-1974),

correspondente ao “milagre brasileiro” ou “milagre do Delfim” nos termos de Rangel (2005a),

a participação industrial no PIB apresentou um crescimento expressivo e contínuo, passando

de 28% para 34% (maior participação histórica) ao fim desse período. Entre 1975 e 1984 a

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participação permanece nos patamares acima de 31%, atingindo novamente em 1985 o índice

mais alto (34%). Desde então a participação industrial no PIB brasileiro vem caindo, de forma

suave até 1990 (-3%), e de forma acentuada (-8%) até 1996 atingindo o índice mais baixo

desde 1957, no início do governo JK (22%). Em 2005 a composição do PIB em função do

valor adicionado é a seguinte: agropecuária 8,4%, indústria 40% e serviços 57%.

Segundo Fresca (2004a, p. 214-5), em 1993 e 1994 o PIB paranaense teve um

desempenho positivo com o início da integração nacional e do Paraná com os países do

Mercosul, quando aumentaram as exportações estaduais, principalmente agroindustriais e

metal-mecânicas. Entre 1991 e 1994 ocorreu aumento da produção industrial nos setores de

materiais de transporte, mecânico, do vestuário, calçadista, de artefatos de tecido e

alimentício. A partir de 1994, o Paraná iniciou nova fase de crescimento, beneficiado pelo

aumento do consumo de bens não duráveis e alimentícios com a implantação do plano real,

com destaque para a agropecuária e as agroindústrias – de grupos privados, como a avícola

Big Frango de Rolândia, e cooperativas agroindustriais verticalizadas (concentradas,

sobretudo no Norte e Oeste do Paraná) – e a conformação do parque automobilístico e de

autopeças (fornecedoras não nacionais das montadoras) na Região Metropolitana de Curitiba,

o qual, fruto de forte financiamento estatal e isenções fiscais, contribuiu para a concentração

dos investimentos em nível estadual e para o aumento da participação do capital estrangeiro

na indústria paranaense.

O governo estadual sob a administração de Jaime Lerner (1995-2002) implantou uma

política de redução da participação do Estado na economia, em compasso com a política

nacional do governo FHC para o mesmo período, mediante realização de privatizações

equivocadas, como a do Banco do Estado do Paraná (Banestado), e dos principais eixos

rodoviários do Paraná (“Anel de Integração”), cujos contratos de concessão para um prazo de

25 anos, não prevêem um cronograma de investimentos nem o controle da tarifas pelo poder

concedente, no caso o Estado do Paraná. É nesse contexto neoliberal, que ocorre a ampliação

do Parque Automotivo do Paraná, com investimentos concentrados na Região Metropolitana

de Curitiba (a Volvo encontrava-se instalada desde 1977, na Cidade Industrial de Curitiba).

Após disputas entre vários Estados brasileiros, numa verdadeira guerra fiscal, o Governo do

Paraná cedeu terrenos, isenção de impostos, e infra-estrutura para a instalação das montadoras

Chrysler (Campo Largo), Renault e Audi/Volkswagen (ambas em São José dos Pinhais), entre

1997 e 1999.

Houve ainda um grande número de falências, fusões e aquisições de empresas, por

empresas estrangeiras e nacionais de outros Estados, bem como uma reestruturação e

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concentração de capital das cooperativas agroindustriais do Estado do Paraná, como a

Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar), Cooperativa

Agropecuária Mourãoense (Coamo) e Cooperativa Agroindustrial de Rolândia (Corol), e

transferência de unidades produtivas para o Paraná, provindas predominantemente de São

Paulo, num processo de desconcentração industrial, como as empresas Dixie Toga e

Elevadores Atlas Schindler, instaladas na cidade de Londrina em 1998.

Os anos de 1990 marcam importante momento para a industrialização norte-paranaense ligada tanto ao processo de transferência industrial como de busca de estratégias por parte dos setores consolidados para fazerem frente aos problemas oriundos das macro políticas em nível federal que afetaram diretamente esta produção (FRESCA, 2004b, p. 6).

A rede urbana norte-paranaense, composta em 1997 por 203 cidades, passou por uma

complexificação, vinculada à intensificação e ao adensamento de processos produtivos, de

circulação, distribuição e consumo (FRESCA, 2004a, p. 240). Assim, duas vertentes

explicativas permitem dar conta da dinâmica industrial do Estado do Paraná, mais

especificamente para o interior e o norte do Estado: o processo já mencionado de

transferência industrial de unidades produtivas, principalmente de São Paulo e implantação de

unidades produtivas de empresas estrangeiras, como a farmacêutica Hexal do Brasil em

Cambé, caracterizadas por concentrarem em setores intensivos em capital; e o processo de

consolidação e expansão das iniciativas locais e regionais, mais importantes do ponto de vista

local-regional pelo número de estabelecimentos e de empregos gerados, por concentrarem-se

principalmente em setores intensivos em mão-de-obra.

Diversas cidades especializaram em determinadas produções industriais como

Arapongas - mobiliário, Cianorte - confecções, Maringá - confecções, Apucarana - bonés,

Jaguapitã - mesas de bilhar. A ação dos agentes locais, com acúmulo de certa quantia de

dinheiro e, que mesmo em conjunturas de crise mundial e nacional, resolveram investir em

determinadas produções de forma artesanal, domésticas, acabaram tendo sucesso. Cresceram,

contribuíram para a difusão de certos processos produtivos, para a especialização produtiva,

fundamental para a ampliação da produção industrial no Paraná, no bojo do processo de

industrialização brasileiro.

As transformações produtivas que atingiram o país após 1990, forçaram as empresas

locais a se adequarem a um mercado mais competitivo, implementando inovações, alterando

seus sistemas produtivos para encarar a concorrência estrangeira. Como uma dessas

estratégias surge a cooperação entre empresas do mesmo ramo, beneficiadas pelas economias

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geradas pela aglomeração de estabelecimentos em determinadas porções do território

paranaense. A concentração espacial de produções específicas, a cooperação entre os agentes

locais e institutos de pesquisa, Governos Municipais, Estadual e Federal e entidades públicas

e privadas permite a conformação de Arranjos Produtivos Locais, os APLs.

APL é o termo que se usa para definir uma aglomeração de empresas com a mesma especialização produtiva e que se localiza em um mesmo espaço geográfico. Os APLs mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si, contando também com apoio de instituições locais como Governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa. (IEL, 2006).

O mapa 02 a seguir permite identificar alguns desses arranjos produtivos locais

institucionalizados a partir de 2003 no Estado do Paraná. O desempenho dos principais ramos

industriais de Apucarana, em termos de empregabilidade e de estabelecimentos, ao longo dos

processos até aqui discutidos será analisado no capítulo seguinte.

Mapa 02 – ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DO PARANÁ.

Fonte: IEL, 2006.

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3 - A INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA: EM DIREÇÃO À

ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA

A análise dos dados do Ministério do Trabalho e Emprego sobre as indústrias de

Apucarana permitiu identificar quatro setores principais, representativos em termos de pessoal

ocupado e também em número de estabelecimentos. São setores caracterizados pelo uso

intensivo de mão-de-obra e, cujas origens se deram através de iniciativas locais.

Embora outros setores demonstrem ampliação no número de empregos e de

estabelecimentos, como a indústria do mobiliário e de artefatos plásticos, não são os mais

significativos. Por isso optou-se em analisar os setores de confecções e artigos de vestuário,

com destaque para os uniformes profissionais e para a cadeia produtiva do boné, incluídas aí a

produção de camisetas promocionais, porta-cds, chapéus, além de indústrias fornecedoras de

tintas, aviamentos e de equipamentos especializados; o setor alimentício com destaque para as

indústrias processadoras de milho e indústrias de rações animais; o setor de curtimento e

preparação do couro e de calçados e artefatos de couro; e o setor têxtil com a produção de fios

de algodão, tecidos e malhas.

Além dos dados do MTE/RAIS (BRASIL, 1985-2004) para cada setor industrial

analisado, o levantamento de dados relativos ao desenvolvimento de cada setor em

Apucarana, à história de cada empresa e às interações realizadas pelas empresas deu-se

através da realização de entrevistas com empresários, funcionários de empresas e

representantes de entidades empresariais.

3.1 – CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS

A indústria do vestuário é seguramente a atividade industrial mais importante do

município de Apucarana. O setor confeccionista é o maior empregador do município com

5.413 empregos em 2004 (ou 49% dos empregos formais na indústria), além de ser o maior

setor industrial em termos de estabelecimentos, com 45% dos estabelecimentos, com o

predomínio de pequenas e médias empresas.

A evolução comparativa dos estabelecimentos industriais do setor do vestuário com o

total de estabelecimentos da indústria de transformação de Apucarana, permite verificar que

ambos têm a mesma simetria, conforme gráfico 08.

Isto significa que do total de indústrias de transformação, o gênero com maior

representatividade é o de confecção e artigos do vestuário e sendo assim, as oscilações que

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ocorrem neste gênero afetam diretamente o total de estabelecimentos. Outro ponto importante

é a evolução sempre positiva do número de estabelecimentos de confecção e artigos do

vestuário no período considerado, passando de 28 em 1985 para 281 em 2004, um

crescimento de 903%.

Gráfico 08 – Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de confecção de vestuário e acessórios em

Apucarana: 1985-2004 28 39 61

113 162 2

22 272

281

0

100

200

300

400

500

600

700

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Indústria do vestuário e acessórios*

Industria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004.

* Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.

O mesmo padrão evolutivo pode ser observado para o número de trabalhadores total

na indústria de transformação e no gênero de confecção e artigos do vestuário entre 1985-

2004, conforme gráfico 09. Observa-se que todas as oscilações que ocorreram neste gênero

afetaram diretamente a evolução do total de trabalhadores, já que o primeiro representa cerca

de 50% do total de trabalhadores da indústria em Apucarana.

Embora o setor confeccionista seja diversificado, com a produção de uniformes

profissionais, camisas, camisetas, jeans, toucas, agasalhos, luvas, chapéus, bonés, além de

bolsas e porta cds entre outros produtos, Apucarana tornou-se uma cidade especializada na

produção de bonés e conhecida nacionalmente por essa produção.

A gênese dessa produção ocorreu “[...] no bojo dos processos de transformações que

afetaram a agropecuária norte-paranaense nos anos 1960-1970” (FRESCA, 2005, p. 5557), a

saber a modernização e diversificação da agricultura paranaense, concentração fundiária,

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esvaziamento demográfico do campo e aumento da urbanização e concentração populacional

nas cidades principais da rede urbana norte-paranaense.

Gráfico 09 – Evolução do pessoal ocupado no setor de confecção de vestuário e acessórios em Apucarana:

1985-2004

1025

1455

1269 2578

2321 3518

4452

5413

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Indústria do vestuário e acessórios*

Industria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004. * Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.

A produção de bonés em Apucarana iniciou-se mediante a ação de Jaime Ramos, de

origem urbana, que fabricava artesanalmente chaveiros em acrílico, flâmulas, tiaras, viseiras,

chapéus e bonés com emblemas de times de futebol e que, juntamente com familiares e

amigos comercializava na porta dos estádios em dias de jogos. Devido ao sucesso, em 1974

fundou a empresa Jaime Ramos Ltda, juntamente com um sócio local, que funcionava em sua

residência, empregando 08 funcionários, produzindo bonés “stander” ou “bonés-de-pintor”,

com máquinas de costura usadas e de uso doméstico. O conhecimento sobre o processo de

produção, corte e montagem do boné, foi adquirido através do desmonte do boné e da cópia

de suas partes em tecido.

Os negócios expandiram-se e em 1978 desfez-se a sociedade com o antigo sócio (o

qual montou uma facção de calças jeans), e foi fundada a Cotton’s Bonés, que segundo Fresca

(2005) expandiu a produção mediante ingresso de um sócio de origem nipo-brasileira e

comerciante de produtos agropecuários, passando a produzir bonés promocionais.

O rompimento da sociedade permitiu a formação de novas empresas com outros sócios e repetidamente a criação de outras unidades confeccionistas de bonés. (...) o contato próximo

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gerou a perspectiva de criações de outras unidades produtivas: pelo caminho da separação de sociedades; funcionários com experiências no ramo vinculados aos mesmos – viajantes, representantes comerciais, profissionais outros que a partir do acúmulo de certo capital ingressam na produção de bonés. A fundação de indústrias prosseguiu em Apucarana ao longo dos anos 1980 e 1990, conformando um setor especializado na produção de bonés promocionais que futuramente promoveram diversificação da produção incluindo outros brindes como camisetas, porta-cds, etc (FRESCA, 2005, p. 5558, grifo nosso).

O quadro 01 expõe dados relativos ao ano de fundação, números de funcionários e a

produção atual das empresas pesquisadas, ligadas ao setor de vestuário em Apucarana.

QUADRO 01 – Empresas Selecionadas do Setor de Vestuário de Apucarana

Empresa Ano de

Fundação Nº de

funcionários Produtos

Produção mensal

Cotton’s 1974 18 Bonés, chapéus, toucas de lã, camisetas 30.000 Elisil 1982 120 Uniformes profissionais 30.000

Kriswill 1989 286 Bonés, camisetas, bolsas, chapéus, porta-

cds 360.000

Boneleska 1993 137 Bonés, chapéus, toucas 100.000 Jaboti Bonés 1995 28 Bonés, chapéus, camisetas, uniformes 30.000

M. Brasil 1996 12 Bonés, camisetas, bolsas, porta-cds,

uniformes 70.000

Gemellu’s 2005 50 Bonés, chapéus, camisetas e bolsas 80.000 Fonte: Levantamento de campo, 2006. Org. Anderson Vietro.

A empresa Cotton’s Artigos Esportivos e Promocionais Ltda produz atualmente

30.000 peças por mês, entre bonés, chapéus, camisetas e toucas de lã. O boné representa 80%

dessa produção e a empresa atua no segmento de bonés promocionais e no segmento moda

praia com bonés de marca própria – Cotton’s – que destinam-se majoritariamente para São

Paulo e Rio de Janeiro. Emprega atualmente 18 funcionários diretos que atuam no

acabamento e na comercialização, enquanto outros 40 funcionários de facções terceirizadas

realizam serviços de costura, bordado e serigrafia. Segundo Jaime Ramos, em entrevista

realizada, a empresa passou a terceirizar a produção em 1998, após a demissão de todos os

120 funcionários que empregava, em função da falência de seus principais clientes, as redes

Mappin e Mesbla, para as quais produzia bonés de magazines. Nas décadas de 1980 e 1990, a

empresa chegou a produzir 200 mil bonés por mês, período em que o boné promocional era o

carro chefe – quando a empresa teve grandes clientes como Arisco, Cofap, Banco Nacional

(com Ayrton Senna como garoto propaganda). Em 1990 a empresa chegou a exportar para

Argentina, Bolívia e Paraguai. Atualmente toda a produção destina-se ao mercado interno.

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Antônio Macarrão Machado, oriundo de Ponta Grossa, onde trabalhava com o pai na

comercialização de massas alimentícias, estudou Comércio Exterior na Faculdade Estadual de

Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA) e trabalhou por 13 anos na Cotton´s Bonés,

encarregado de marketing e comércio exterior. Representava a empresa em eventos e feiras de

brindes no Brasil e no exterior. Numa dessas feiras, em 1991, “Macarrão” - como é chamado

– e Paulo Gabardo apresentaram o slogan “Apucarana Capital Nacional do Boné”, visando,

segundo Macarrão, dar uma idéia de que pela quantidade de empresas existentes, a cidade era

a maior produtora de bonés do Brasil, além de contribuir para o crescimento do setor, gerando

uma “chuva de oportunidades” ao associar a imagem do produto à cidade de Apucarana

(MACHADO, 2006). A partir de então, a adjetivação criada para a cidade passou a ser

utilizada das mais diversas formas, inclusive pelo poder público, transformando-a em um

caminho para conquistas políticas.

Em meados da década de 1990, Macarrão desligou-se da Cotton´s Bonés, passando a

atuar como prestador de serviços para as empresas do setor, através de uma pequena facção.

Surge assim, em 1996, a M. Brasil, que manteve a atividade faccionista e passou a aceitar

diretamente, pedidos de bonés promocionais, especializando-se nesse segmento. No entanto, a

empresa mantém apenas 12 funcionários, responsáveis pelo controle de qualidade dos

serviços das facções e pelo acabamento e embalagem dos produtos. O empresário estima que

180 funcionários terceirizados estejam envolvidos na produção. Ele decidiu investir no setor

como fabricante, por se tratar de “um setor adolescente, longe da maturidade, e com

perspectivas de crescimento e fortalecimento” (MACHADO, 2006). A empresa produz 70 mil

peças por mês, entre bonés promocionais (45%), camisetas, uniformes e agasalhos (35%),

bolsas (20%) e porta-cds (10%). Atua apenas no segmento promocional, produzindo 70% dos

bonés serigrafados e 30% bordados. Tem em sua carteira de clientes pequenas, médias e

grandes empresas das regiões Sul e Sudeste, além de ser responsável pela produção de bonés

e chapéus para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e para a Fórmula

Truck. Exporta apenas 1% da produção para Argentina, Chile e Uruguai, embora já tenha

atendido clientes da Suíça, Bolívia e Antilhas Holandesas.

Os bonés produzidos em Apucarana dividem-se em segmentos, de acordo com o tipo

de boné produzido, o tipo de cliente e mercado a que se destinam. Assim, existem os bonés

promocionais (nacional e de exportação) - os quais recebem logomarcas e inscrições de

empresas, entidades, instituições, marcas de produtos, eventos etc. e, geralmente são

distribuídos como brindes a seus clientes, ou são utilizados por funcionários dessas empresas

como acessório de uniforme -, bonés de grifes – produzidos por empresas locais para

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importantes grifes nacionais e internacionais, com marcas famosas - , bonés de magazines –

produzidos por encomendas de lojas de departamento, sob marcas pertencentes a essas lojas -,

e bonés de marcas próprias, as quais são grifes próprias lançadas pelas empresas fabricantes

de bonés, geralmente destinadas a nichos de mercado específicos, como moda praia, skate

ware, etc.

As facções são empresas que prestam serviços para fabricantes de bonés. Elas atuam

em etapas como costura, serigrafação e bordagem. Geralmente, são empresas informais, que

funcionam nas residências das próprias costureiras, empregando em média cinco pessoas.

Uma facção pode realizar uma ou várias etapas da produção, para um ou mais fabricantes. Em

períodos de grande demanda, como de julho a fevereiro, ou em anos de eleições, as empresas

formais contratam o serviço de outras facções. É nesse período que novas facções são criadas

por iniciativas de ex-funcionários de facções e de fabricas de bonés, ou por iniciativas de

outros agentes, como comerciantes, profissionais liberais e desempregados.

Um dos maiores grupos empresariais ligados à cadeia produtiva do boné, o grupo

Costa e Miquelin, iniciou suas atividades no início dos anos 1990, com um atacado de

produtos, acessórios e aviamentos para bonés, adquiridos em São Paulo e revendidos em

Apucarana – a empresa Boneon. Em 1993, como início da diversificação de ações no setor de

confecções, Vado Costa fundou uma facção com 02 funcionários, a qual prestava serviços de

costura para outras empresas. No ano seguinte foi criada a Boneleska e a empresa passou a

faccionar para empresas de grande porte no segmento de confecções, especificamente bonés.

Em seguida a empresa passou a ter seus próprios clientes, produzindo bonés de grife e

promocionais.

Atualmente, a Boneleska emprega 137 pessoas e produz 100 mil peças por mês entre

bonés e toucas promocionais, de grife e de marca-própria. A empresa possui certificado ISO

9001/2000. Exporta 5% da produção para os Estados Unidos, países do Mercosul e União

Européia. Atua em todo o país com destaque para São Paulo, Paraná e Rio Grande do Norte

(onde possui representantes de vendas na cidade de Caicó, segundo maior pólo de produção

boneleira do país). Especializada também na confecção de produtos infantis, a empresa tem a

licença de comercialização das marcas “Walt Disney” e “Warner Bros”, além de possuir

marcas próprias como “Baby.com” e “Kids.com”. Conta com um departamento de criação

para o desenvolvimento dos mais variados tipos de coleções exclusivas.

A diversificação das ações do grupo se deu a partir da associação feita entre Costa e

Miquelin e a empresa Farbe Handell do Brasil, instalada em São Paulo, para a troca de

tecnologias para a produção de tintas serigráficas, com a criação da Empresa Tropicolor

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Produtos Serigráficos em Apucarana, cuja produção iniciou-se em 1995, contando

inicialmente com um químico e um funcionário. Em 1997 iniciou-se a produção de tintas

imobiliárias, látex, acrílicas, óleo esmalte e toda linha. Contando com mais de 50 funcionários

a Tropicolor Tintas está presente em 20 Estados brasileiros, ampliando as instalações visando

atuar no mercado externo e é a principal fornecedora de tintas serigráficas para as indústrias

confeccionistas de Apucarana.

A Kriswill, uma das maiores empresas “boneleiras” de Apucarana, com 286

funcionários, foi fundada em 1989 por Wilson Makoto Yoshida, que trabalhava com revenda

de confecções e atividades agropecuárias em Apucarana. Iniciou as atividades com a

produção de bolsas promocionais, empregando 20 funcionários. Três anos depois, incentivado

pelo cunhado Auro (que foi proprietário da USA Bonés, uma das principais empresas de

bonés da cidade na década de 1980 e inicio dos anos 1990), passou a atuar nesse ramo. Em

1994, como desdobramento das atividades confeccionistas passou a produzir camisetas, que

juntamente com o boné tornou-se o carro-chefe das atividades da empresa.

No ano 2000, a Kriswill criou uma tecelagem própria para a produção de malhas de

algodão com capacidade de 50 ton/mês, para atender sua própria demanda e para revender a

outras empresas. Emprega atualmente 12 funcionários na tecelagem. A empresa possui ainda

uma unidade em Naviraí-MS, na qual produz bolsas (500/dia) e camisetas (2000/dia),

empregando 97 funcionários, mediante obtenção de incentivos públicos e de menor custo de

mão-de-obra.

Na unidade de Apucarana, a empresa tem produção mensal de 150 mil bonés e

chapéus (promocionais, grife e marca própria), 150 mil camisetas (promocionais e marcas

licenciadas) e cerca de 60 mil bolsas, porta-cds, estojos, etc. Vende para todo o Brasil, com

60% da produção destinada ao Estado de São Paulo, além de exportar para Angola, Espanha,

Estados Unidos, México e países do Mercosul. Possui certificação ISO 9001/2000 e é uma

das empresas associadas à ABRAFAB’Q (Associação Brasileira dos Fabricantes de Bonés de

Qualidade), conseguindo preço mais acessível para matéria-prima e disponibilidade de

materiais.

A empresa Jaboti Bonés foi fundada em 1995 por Tomás Manchini, então revendedor

de bonés, ex-comerciário e ex-bancário, em sociedade com seu irmão, desfeita três anos

depois. Através de um empréstimo bancário montaram um escritório de vendas e uma facção

de bonés promocionais. Produz 30 mil peças por mês, entre bonés, chapéus, camisetas

promocionais e uniformes, vendendo para empresas de todo o Brasil. É filiada à ASSIBBRA

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(Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de Apucarana), o que lhe garante melhor preço

de matéria-prima, armazenagem de tecidos, com estoque variado de cores e materiais.

A mais nova das empresas selecionadas, a Gemellu’s Bonés, foi fundada em 2005 por

André Luiz do Espírito Santo (recém-formado em Direito) juntamente com o pai. Produz 80

mil peças por mês entre bonés, camisetas e bolsas promocionais.

A Elisil Uniformes Profissionais, além de outras quatro empresas que atuam no

mesmo ramo em Apucarana, é especializada na confecção de uniformes profissionais (calças,

macacões, camisetas, camisas, jalecos, jaquetas). A Elisil foi fundada por Elio Pinto,

empresário de Apucarana que possuía serraria no Mato Grosso, o qual decidiu investir em

outra atividade econômica. Após pesquisa de mercado, observou que não havia na cidade

nenhuma empresa que produzisse camisas, montou então uma confecção de camisas com 05

funcionários. Pouco tempo depois passou a produzir uniformes. Produz 30 mil peças por mês,

para clientes de Apucarana e de todo o Brasil. Como a empresa não é especializada na

produção de bonés, quando recebe pedidos que incluem bonés, tal produção é terceirizada.

Elio Pinto afirmou que a concorrência com produtos estrangeiros em seu ramo de atividade se

dá apenas nos pedidos de grandes empresas e instituições estatais e privadas como o Exército

Brasileiro e os Correios.

Além de empresas fabricantes de bonés e facções terceirizadas para a produção dos

mesmos, um número considerável de empresas fabricantes de acessórios para bonés, malhas,

aviamentos em geral para bonés e confecções em geral, e de fabricantes de máquinas e

equipamentos específicos para bonés instalaram-se em Apucarana. Há que se considerar que

nem todas essas empresas se instalaram visando a produção de bonés. Empresas como a

Saneabas, surgiram de iniciativas locais e anteriormente produzia tubos de saneamento em

pvc (Sanetubos) e posteriormente passaram a atuar no fornecimento de matéria-prima para a

indústria do boné. Empresas como a Taicry Indústria e Comércio de Equipamentos Mecânicos

Ltda surgiram para atender uma demanda do setor: a produção de máquinas específicas para a

confecção de bonés. Originariamente importadas da China e da Coréia do Sul, máquinas para

passar bonés, para encapar e pregar botões foram desmontadas e as peças reproduzidas.

Atualmente, as empresas possuem tecnologias próprias para a produção de máquinas para o

setor de bonés, com máquinas seriadas e por encomendas.

Com base no levantamento de campo e nas afirmações de Fresca (2005, p. 5562), é

possível observar no quadro 02, que as matérias-primas e os equipamentos utilizados na

fabricação de bonés são oriundos de indústrias locais e de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa

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Catarina, Minas Gerais, Bahia, além de serem importados da China, Coréia do Sul e Japão,

principalmente, através de revendedores de São Paulo, Rio de Janeiro e de Apucarana.

Quadro 02 - Origem de matérias-primas, máquinas e equipamentos do setor confeccionista de Apucarana-PR

Matérias-primas, máquinas e equipamentos

Origem

Abas Saneabas – Apucarana Acessórios em geral Boneon - Apucarana; Dicatex - Apucarana; SP; RJ; PR Botões e acessórios de metais Pandaplast - Apucarana; Eberle/SP; Cambira Carneiras Poliviés - Apucarana Entretela Cia Brasfe/SP; Cottons – Apucarana Lã São Paulo Linhas Corrente/SP; Selta/SP; Sancris - Brusque/SC Malhas Kriswill; Estação da Malha; Tecitex - Apucarana Manta de Polietileno Nova Manta - Apucarana Nylon Importado via atacadistas de RJ/SP Tecidos Santanense/MG; Rochester/SP; Horizonte Têxtil/MG; Valença Têxtil/BA;

Paranatex - Apucarana; Jacira/SP; Santista/SP; Santa Inês/CE Tecidos em Microfibra China - Importados via atacadistas de RJ/SP Tintas Serigráficas Tropicolor Tintas; Serilon - Apucarana TNT* Apucarana e Arapongas (distribuidores atacadistas) Viés Cia Brasfe/SP; Peripan – Itaúna/MG; Poliviés; Conviés - Apucarana Máquinas Bordadeiras China, Japão, Coréia do Sul via importadores SP e MAB Fortuna - Apucarana Máquinas de Costura Taicry; MAB Fortuna - Apucarana Maquinas de dublagem Taicry - Apucarana Mesas de Impressão Pr Sulmáquinas - Apucarana Passadeiras Taicry; PR Sulmáquinas - Apucarana Pregadeiras de botão Taicry; PR Sulmáquinas - Apucarana Secadores PR Sulmáquinas – Apucarana

Fonte: Levantamento de Campo, FRESCA 2005. * Tecido não tecido - nonwoven, utilizado para forração de bonés, estofados, dentre outros. Org. Anderson Vietro.

Além da diversificação de atividades de indústrias que utilizam matérias-primas em

comum, como indústrias de materiais plásticos, que passaram a produzir abas, botões,

reguladores, etc., indústrias de metais (fivelas) entre outras, a implantação de indústrias

fornecedoras também resultou de estratégias de verticalização de produção de empresas

confeccionistas de bonés como a Kriswill, com a implantação de uma tecelagem de malhas de

algodão para camisetas, e de estratégias de diversificação de atividades como o grupo Costa e

Miquelin com a produção de tintas serigráficas. Atacadistas locais e empresas especializadas

em uma etapa da produção, passaram a aceitar encomendas de bordados, de serigrafia,

passaram a oferecer serviços de cortes a laser, de modelagem, entre outros. Além disso, de

acordo com Fresca (2005, p. 5562):

Destaca-se em Apucarana a criação de duas associações de industriais que tem na obtenção de matérias-primas uma de suas funções. A primeira foi a Associação Brasileira dos Fabricantes de Bonés de Qualidade – Abrafab’q - que reúne 8 empresas do setor (Kioodai e Rytos com cerca de

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60 empregados cada; Showa, Estação e Kicker com 100 empregados cada; SLC Bonés com 50; Christian Bonés com 170; Kriswill com cerca de 280 empregados). A segunda é a Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de Apucarana - Assibbra - fundada em junho de 2000, reunindo em fevereiro de 2004, 17 micro e pequenas empresas do setor (2 com 6 empregados cada; 10 com 15 empregados e 5 com 30 funcionários). Ambas associações tornaram-se uma central de compras de matérias-primas como forma de rebaixar os custos pela quantidade adquirida e ao mesmo tempo criaram um estoque regulador para seus afiliados.

Ao longo da história do setor confeccionista de Apucarana, mais especificamente da

produção de bonés, inúmeras inovações foram implantadas permitindo o aumento da

produtividade, a melhoria da qualidade dos produtos, a agilidade na fabricação etc. Tais

inovações ocorreram com o desenvolvimento de novos produtos, processos produtivos, gestão

e desenvolvimento e utilização de novos materiais e equipamentos. A confecção do boné

passou por transformações significativas. Os primeiros bonés eram confeccionados mediante

a cópia das partes de um boné desmontado. Atualmente várias empresas contam com

modelistas próprios que desenvolvem novas peças, novos cortes e costuras. O boné “stander”

ou “de pintor” foi ao longo do tempo substituído pelos modelos “americano” e “seis gomos”.

As abas de papel foram substituídas por abas de pvc. O desenvolvimento de tecidos

apropriados para o boné (Santanense, Paranatex), de abas “sem memória1” e mais resistentes,

permitiu melhorias no produto final. Novos tecidos e materiais passaram a ser utilizados para

a fabricação de bonés como jeans, nylon, tactel, microfibra, couro, lona. As indústrias

serigráficas desenvolveram novos produtos, específicos para camisetas e bonés. Embora a

serigrafia não tenha evoluído enquanto processo, surgiram máquinas modernas que

permitiram reduzir o tempo de impressão, além de novos efeitos e texturas, visuais diferentes

e novos materiais. Inúmeros equipamentos e máquinas para a fabricação de boné foram

desenvolvidos e aprimorados, como passadeiras, cortadeiras de tecido, encapadeiras e

pregadeiras de botão, além do desenvolvimento de máquinas para modelar e cortar abas, etc.

Houve ampliação da participação dos bonés bordados no total produzido mediante importação

de bordadeiras computadorizadas chinesas e japonesas. Agilizou-se o processo produtivo com

a introdução de máquinas de bordar, de corte a laser, tear automático, evolução do silk manual

para o eletrônico.

Além disso, pesquisas de mercado, programas de controle de qualidade, treinamento

de mão-de-obra, automação, permitiram a melhoria da qualidade dos bonés, antecipação às

1 Aba que fica na posição em que é moldada e que não deixa resíduos no tecido. O APL Bonés de Apucarana em parceria com a Sociesc (Sociedade Educacional de Santa Catarina) conseguiu recurso de 250 mil reais junto à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) – órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia – e ao Sebrae. O APL Bonés de Apucarana foi o único do Paraná com projeto aprovado junto aos órgãos federais em 2005. (APL BONÉS, 2005).

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tendências da moda, adequação às novas exigências dos clientes, como no segmento de bonés

promocionais, cujos clientes passaram a exigir bonés de qualidade igual a bonés de magazines

- discretos, bordados, com efeitos serigráficos especiais, para que pudessem ser utilizados no

dia-a-dia e não só no trabalho. Por fim, a diversificação da produção, como a fabricação de

chapéus, camisetas, bolsas, porta-cds, brindes em geral, etc e a cooperação entre os agentes

locais permitiram a consolidação e fortalecimento do setor.

Questionados quanto às dificuldades enfrentadas por suas empresas para produzir e

comercializar, os entrevistados elencaram: curto tempo para entrega dos pedidos;

indisponibilidade de matéria-prima no prazo; cartel de fornecedores de tecidos e preços

elevados; falta de mão-de-obra qualificada; burocracia para financiamentos e juros elevados;

gastos elevados com instalações, máquinas e equipamentos; falta de incentivos

governamentais para indústrias locais; destinação de resíduos de serigrafia; concorrência com

produtos chineses; concorrência com produtores nacionais não-legalizados; baixo preço dos

produtos promocionais e a concorrência com produtos mais baratos e de baixa qualidade;

baixo preço do produto e; concorrência desleal entre empresas locais.

Com relação às dificuldades enfrentadas pelo setor confeccionista, foram unânimes em

apontar: a proibição de distribuição de bonés e brindes em campanhas eleitorais; fraco

desempenho da Seleção Brasileira de Futebol na Copa da Alemanha (para a qual gerou-se

grande expectativa de vendas que não foram concretizadas); crise no agronegócio (atividade

econômica na qual concentram-se importantes clientes, como cooperativas, agroindústrias,

bancos, fabricantes de máquinas agrícolas, etc.); a concorrência com produtos chineses (de

qualidade igual ou superior, embora utilize máquinas mais defasadas, e preço menor);

escassez de mão-de-obra qualificada; o grande número de empresas informais; elevada carga

tributária e juros elevados. Citaram ainda a falta de apoio político e de representatividade dos

interesses de todos os fabricantes; a estagnação atual da economia e das vendas de bonés; falta

de leis de incentivos fiscais e de tarifas de importação para produtos chineses; falta de

incentivos às atividades locais, em escala municipal; falta de profissionalização do setor;

rigidez das leis trabalhistas; inadimplência; atrasos na entrega de matéria-prima e; capacidade

ociosa (empresas produzem apenas 75% da sua capacidade).

Os empresários entrevistados afirmaram que já passaram por crises conjunturais,

principalmente a partir dos anos 1990. Para a empresa Cotton´s especializada na moda praia,

o período de inverno representa queda nas vendas. A falência de seus principais clientes em

1998, as redes Mappin e Mesbla, obrigou a empresa a se reestruturar, demitindo 120

funcionários, iniciando a terceirização da produção. Para a M. Brasil, especializada na

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produção de bonés promocionais o período de fevereiro a junho, representa baixa temporada.

O ano de 2006 foi um ano ruim para as vendas da empresa e para o setor com a proibição de

distribuição de bonés e brindes nas campanhas eleitorais. Para se adequar a empresa passa a

dedicar atenção a pedidos menores, os quais geralmente não atende na alta temporada, além

de aumentar a cartela de clientes. A Empresa Boneleska enfrentou em 1994 concorrência

predatória de empresas informais, via preços baixos. Em 1997 foi necessário renovar a equipe

e adotar novas estratégias de produção. Em 2004 teve problemas com inadimplência de

alguns clientes. A. Kriswill que até 1991 só produzia bolsas, viu-se obrigada a diversificar a

produção e contratar novos vendedores. Para a Jaboti Bonés 2005-2006 foi um período

desfavorável, com redução da produção em 50% e demissão de funcionários.

A abertura econômica pós-1990 foi compreendida de maneira diferente entre os

empresários entrevistados. Houve quem afirmasse que a abertura foi benéfica, por permitir

acesso a máquinas e equipamentos importados, que foram adquiridos e copiados, passando a

ser fabricados no país, além de acesso a processos produtivos e tecnologias superiores às até

então utilizadas em Apucarana. Mas a maioria dos entrevistados destacou aspectos

desfavoráveis desse processo. A retenção de dinheiro não permitiu realizar investimentos e

muitas fábricas acabaram fechando. Resultou em diminuição de vendas, gerando a

necessidade de reestruturação das empresas concentrando a produção e demitindo

funcionários. Para Macarrão “quem teve criatividade saiu-se bem. Como não havia dinheiro

no mercado, realizávamos escambo – com pacotes sortidos de 12 bonés para vendas no varejo

nas praias (moda praia). Houve fechamento de empresas, restaram aquelas que tinham

gordura sem querer na hora certa” (MACHADO, 2006).

As estratégias adotadas pelos empresários do setor para manutenção e ampliação de

suas atividades foram elencadas por Fresca (2005, p.5569-70). São elas:

a) introdução da facção ou terceirização da mão-de-obra vinculada a sazonalidade do mercado, juntamente com a redução de custos pelo não pagamento de encargos trabalhistas. Tal estratégia permite que empresas com reduzida capacidade produtiva aceite pedidos/encomendas muito acima de sua capacidade; b) melhorias técnicas para a produção via introdução de máquinas desenvolvidas especialmente para os bonés; introdução do computer aided design - CAD; introdução de máquinas para a realização de bordados na linha de bonés promocionais (até então realizados via silk screen); c) redução de custos das matérias-primas pela aquisição das mesmas em Apucarana mediante a consolidação de fornecedores, sejam eles atacadistas e/ou produtores. A partir do final dos anos de 1990, e início dos anos 2000, a retração do mercado consumidor e aumento dos preços das matérias-primas articuladas ao contexto nacional, implicaram na adoção de outras estratégias: d) diversificação da linha de produção, até então concentrada nos bonés promocionais, foram ampliados com camisetas, bolsas/sacolas (nylon, lona, etc.), revenda de porta CD's, bolas em couro, camisas em tecidos diversos, etc.;

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e) criação de associações de empresas para dentre outras, aquisição de matérias-primas com redução dos custos pela quantidade adquirida; f) início da verticalização da produção com implantação de tecelagem para produção de malhas de algodão; g) abertura de filiais em cidades/Estados onde os incentivos fiscais recebidos e menor custo de mão-de-obra (comparativo a Apucarana) garantem expansão nos negócios; h) busca de novos mercados, principiando a exportação mas ainda pouco significativo mediante desconhecimento da burocracia e da preferência do mercado externo; i) introdução de linha de bonés para lojas, isto é, bonés com grifes para lojistas e ampliação do segmento de brindes como canetas e chaveiros, etc.

No entanto, a estratégia mais importante adotada pelo setor foi a cooperação entre os

agentes locais, mediante a criação de três associações: ABRAFAB’Q, fundada em 1997;

ASSIBBRA, fundada em 2000; e a ANIBB – Associação Nacional das Indústrias de Bonés e

Brindes, criada em 2005, durante a realização da I Exposição Nacional do Boné, I Expoboné,

em Apucarana. É importante ressaltar que a cooperação entre os empresários do setor não

ocorre de forma harmônica, ao contrário, encontrou-se muitas resistências às associações e

entre associações.

Além disso a cooperação entre representantes do setor confeccionista e entidades

públicas e privadas gerou expectativa de solução para um dos maiores problemas enfrentados

pelo setor: a falta de mão de obra qualificada. Isso porque:

A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana (ACIA), em um esforço conjunto que envolveu os empresários do setor e a Prefeitura de Apucarana, iniciou um processo de negociação junto ao ministério da Educação/PROEP para implantar na região um centro de formação e treinamento de mão-de-obra nas áreas têxtil e de confecções. Como resultado dessas iniciativas, foi implantado no município de Apucarana o Centro Moda: uma escola técnica para formação e capacitação de profissionais para a indústria do vestuário e moda, que tem como missão ‘Formar, capacitar e requalificar profissionais necessários ao atendimento do setor da indústria do vestuário da região’. (APL BONÉS, 2005)

Em 2003, com o apoio do Sebrae/PR e entidades locais, o município de Apucarana

iniciou o processo de institucionalização do Arranjo Produtivo Local de Bonés de Apucarana.

O APL de Bonés de Apucarana foi criado em 2004, congregando empresas da cadeia

produtiva do boné de Apucarana, Cambira e Jandaia do Sul, desde fornecedores locais de

matéria-prima, fabricantes de equipamentos, fabricantes de bonés e produtos complementares,

distribuidores de bonés e acessórios, além de sindicatos, Prefeitura Municipal, faculdades

locais e a ACIA. (Mapa 03)

Os APLs têm um papel fundamental no desenvolvimento econômico, social e tecnológico de uma região, beneficiando todas as empresas e engajando comunidades locais, centros de tecnologia e pesquisa, instituições de ensino e entidades públicas ou privadas. Tudo isso possibilita a geração de maior competência às empresas, maior competitividade e inserção em novos mercados,

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inclusive externos. As empresas instaladas em APLs exercem o aprendizado coletivo, a troca de informações, a eficiência coletiva e o aumento da competitividade (IEL, 2006).

Mapa 03 – ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE BONÉS DE APUCARANA

Fonte:REDE APL PR, 2006

O Arranjo Produtivo Local de Bonés de Apucarana objetiva, segundo André Luiz do

Espírito Santo (membro da governança do APL Bonés): o fortalecimento do setor de

confecções de artigos de vestuário, tornando Apucarana “um centro de excelência em

produção de bonés no Brasil” (ESPIRITO SANTO, 2006). Para tanto a Governança do APL

vêm realizando programas de treinamento empresarial e de qualificação de mão-de-obra,

incentivando a participação em feiras do setor. Planeja ainda fortes investimentos em

marketing, buscando gerar uma identidade territorial, associando Apucarana ao boné. Prova

disso, foi o “maior boné do mundo” construído em julho de 2006, em parceria com a

Prefeitura Municipal, e que será instalado na futura Praça do Boné.

A Governança do APL posicionou-se contra o formato da II Exposição Nacional do

Boné realizada em julho de 2006 em Apucarana, por atrair pessoas de fora para conhecer

equipamentos e processos modernos que os empresários locais demoraram em desenvolver e

alcançar este patamar. No entanto é favorável à transformação da Expoboné em exposição de

produtos de fabricantes locais, com rodadas de negociações.

O APL Bonés realizou entre 2005-2006, um censo econômico para saber a quantidade

de empresas formais e informais existentes na cidade de Apucarana, além de conhecer o

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volume produzido, os rendimentos gerados e os destinos da produção de bonés de Apucarana.

Embora os resultados não tenham sido divulgados até a presente data, estima-se que algo em

torno de 132 empresas formais e 420 informais, estejam envolvidas na produção de bonés e

demais produtos afins. Em 2006, a Prefeitura Municipal editou medidas de isenção tributária

para a formalização das empresas informais, predominantemente micro-empresas.

A participação de Apucarana é estimada em torno de 70% da produção nacional de

bonés. Apucarana produz algo em torno de 4,5 milhões de bonés ao mês. As empresas do

APL de Bonés de Apucarana atuam nos segmentos de bonés promocionais nacionais, grifes,

lojas de departamento, institucionais, político nacional, marcas próprias, promocional

exportação e político exportação, além da produção de produtos complementares: bandanas,

bolsas, chapéus, viseiras, porta-cds, bolsas, etc.

A comercialização é realizada através de representantes comerciais, telemarketing,

lojas de varejo em São Paulo, Rio de Janeiro, atacadistas em Apucarana, São Paulo, entre

outros. O mapa a seguir, elaborado com base nas informações relativas a origem de matérias-

primas e equipamentos e os mercados consumidores destes produtos, permite observar fluxos

produtivos, as interações espaciais, que envolvem a cadeia produtiva do boné de Apucarana

Especializada na produção de bonés, Apucarana atua em todos os Estados brasileiros,

além de exportar cerca de 10% da produção para as Américas, Europa e África. Há uma

tendência de aumento nas exportações com o fortalecimento e profissionalização do setor. A

produção inicial de bonés no país concentrava-se em São Paulo. As iniciativas locais em

tempos de crise, a convivência com adversidades permitiu o desenvolvimento de um setor

dinâmico que passou a concorrer com a metrópole. O setor cresceu, se fortaleceu, passou a

dominar o mercado nacional, fazendo jus à adjetivação recebida, Apucarana consolidou-se

como a Capital Nacional do Boné.

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Mapa 04 – FLUXOS DO SETOR CONFECIONISTA DE APUCARANA

N

China, Coréia do Sul e Japão

África

União Européia

América do Norte e América Central

Mercosul

166 0 322 Km

LEGENDA

Aquisição de matérias-primas e equipamentos

Vendas de produtos industrializados

Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002

Org.: Anderson de Freitas Vietro

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3.2 – FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E NUTRIÇÃO ANIMAL

O segundo maior setor industrial de Apucarana é a indústria de alimentos e bebidas. O

gráfico 10 demonstra a evolução dos estabelecimentos do setor em relação à indústria de

transformação. Desde 1985 até 2004, o número de estabelecimentos pouco se alterou, tendo

reduzido o número de estabelecimentos em 1990, 1998 e 2002, anos de fraco desempenho da

economia brasileira. Entre 1985-1987, 1990-1996, 1998-2000 e 2002-2004, o setor

apresentou crescimento no número de estabelecimentos.

Gráfico 10: Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos alimentícios e bebidas em

Apucarana: 1985-2004

48 56

50 54

52 65

58 63

0

100

200

300

400

500

600

700

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Indústria de produtos alimentícios e bebidas

Indústria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.

Já a evolução dos empregos formais no setor não apresentou quadro tão favorável

assim, de acordo com o gráfico 11. Apresentou crescimento entre 1985-1987, entre 1996-

1998 e entre 2000-2004. Observa-se que a geração de empregos no setor recuou de 1985 até

2004, atingindo no ano 2000, o menor índice, que pode ser encarado como uma reestruturação

do setor após a crise econômica nacional de 1998. Comparando com a evolução dos

estabelecimentos, pode-se concluir que o número de empregos por estabelecimento diminuiu.

Analisando os dados detalhados relativos a 2002 (BRASIL), observa-se que há uma

concentração de estabelecimentos (18) e principalmente de empregos (784) no segmento de

moagem, fabricação de produtos amiláceos e de rações balanceadas para animais. Segundo a

Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana – ACIA (2006), “o município

abriga duas das oito maiores indústrias do setor no País - Kowalski Alimentos e a Caramuru

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Alimentos de Milho. As duas juntas possuem capacidade de moagem de 372 mil toneladas de

grãos ao ano. Com essa produção, elas abastecem a maioria dos Estados brasileiros”.

Gráfico 11: Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos alimentícios e bebidas em Apucarana: 1985-

2004

1332

1534

1314

1042

1153

874

1117

1293

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Indústria de produtos alimentícios e bebidas

Indústria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.

São indústrias de iniciativas locais/regionais que realizam a moagem de milho a seco.

“A industrialização de milho é feita através de dois processos: a seco e a úmido. No processo

a seco, o milho, após limpeza e secagem, é degerminado e separado em endosperma e germe.

O fluxo do endosperma é moído e classificado para a obtenção de produtos finais, e o germe

passa por processo de extração para produção de óleo e farelo”. (ABIMILHO, 2006)

O milho possui ampla aplicação, tanto na alimentação humana, quanto na alimentação

animal, além de sua crescente utilização como insumo industrial de segmentos como

cervejaria, mineração, indústria alimentícia, entre outros.

Além das indústrias moageiras de milho, Apucarana vem apresentando a partir da

década de 1990, um aumento de estabelecimentos fabricantes de rações para pequenos

animais (pet food – alimentos balanceados para cães, gatos e peixes), além de indústrias

produtoras de farelos de milho e rações para grandes animais, existentes desde a década de

1970 (APUCARANA, 2005). Como o milho responde por cerca de 50% da matéria-prima das

rações, pode-se afirmar que Apucarana é também uma cidade especializada na

industrialização de milho, constituindo uma cadeia produtiva do milho.

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A empresa Kowalski Alimentos iniciou suas atividades com um armazém de

comercialização de cereais em 1935, na cidade de Curitiba, fundado por Nicolau Kowalski,

filho de imigrantes ucranianos. Em 1952, abriu uma filial em Apucarana, a qual passou a ser

administrada pelo seu filho Pedro Kowalski, atuando na comercialização de cereais,

principalmente milho e feijão. Instalou-se em Apucarana pela grande quantidade de cereais

produzidos na região nas décadas de 1950 e 1960, o que permite comprovar que no norte do

Paraná não havia só café, como muitos textos afirmam. Esse grande volume de cereais numa

região de pequenas propriedades, mostra a importância das culturas intercalares e da produção

destinada ao mercado.

Em 1964, a empresa foi transferida da Barra Funda, nas proximidades da estação

ferroviária de Apucarana (bairro caracterizado até os anos 1980 pelo grande número de

barracões destinados ao beneficiamento de cereais), para o parque industrial atual, com área

construída superior a 25 mil m², com um imenso silo vertical com 20m de altura e 14 células

de armazenamento, com capacidade para 3 mil toneladas de milho e um armazém com

terminal ferroviário atualmente desativado, financiados pela Companhia de Desenvolvimento

do Paraná – CODEPAR. (MANFREDINI, 2005, p. 52).

Em 1974, a empresa iniciou o redirecionamento de seus investimentos para

equipamentos e tecnologias, para realizar a industrialização de produtos de milho.

Selecionando os melhores grãos, atendendo às exigências dos padrões industriais do mercado

consumidor, a empresa passou a difundir e implantar, junto aos produtores uma variedade de

milho híbrido mais produtiva e resistente a pragas, desenvolvida por uma empresa de

Jacarezinho-PR.

Em 1975 a empresa passou a industrializar o milho. Para a implantação de seu parque

industrial, a empresa obteve financiamento junto ao BNDES e FINAME, no bojo das políticas

nacional e estadual de industrialização, a saber, o Segundo Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND) e a agroindustrialização paranaense, com recursos do Banco de

Desenvolvimento do Paraná (BADEP). A empresa introduziu em 1977 a primeira extrusora

de milho no Paraná (a qual cozinha o grão com vapor e água, que permite a produção de

diversos produtos alimentícios de uso instantâneo). Um dos subprodutos é o milho pré-

gelatinizado, aplicado no revestimento de poços de petróleo, atuando como agente

impermeabilizante (MANFREDINI, 2005, p.52).

As crises derivadas da elevação de preço e falta de matéria-prima são recorrentes ao

longo da história da empresa. Assim em 1977, a Kowalski, juntamente com indústrias

moageiras de milho da região, como Caramuru, Moinho Arapongas, entre outras, criam a

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ABIMILHO (Associação Brasileira das Indústrias Moageiras de Milho), entidade responsável

pelo fortalecimento, união da classe e para dar representatividade ao setor, que passa a atuar

de maneira institucional, propondo políticas de elevação do consumo humano de milho e para

enfrentar as dificuldades em relação à disponibilidade de milho no mercado.

Devido ao encarecimento do milho na região, mediante a diminuição de área plantada,

substituída pelos cultivos de soja e trigo, e ao avanço da fronteira agrícola para o Centro-

Oeste a partir da década de 1970, a empresa implantou em 1986 uma unidade armazenadora

de cereais em Rio Verde-GO, para a comercialização de milho. A partir de 1987, mediante

incentivos fiscais, ocorreu em Rio Verde-GO a instalação de uma unidade de industrialização

de milho, executando apenas a moagem. Surgiu assim a Kowalski Armazéns Gerais –

KAGEL, com capacidade de armazenamento de 140.000 toneladas de milho, a qual

atualmente emprega 250 funcionários. Seu armazém faz parte do programa Armazém

Conveniado – Banco do Brasil, uma garantia a mais aos produtores (KOWALSKI, 2006).

Em 1993, a Kowalski instalou, uma unidade de extração de óleo de milho em

Apucarana, aproveitando o gérmen industrializado na mesma unidade industrial. Em 1996,

visualizando um mercado em expansão, iniciaram-se as atividades no setor de rações e

alimentos balanceados para pequenos animais, com a instalação de uma indústria em

Apucarana. Em 2002, a empresa inaugurou uma nova unidade para a fabricação de pet foods

totalmente automatizada e uma das mais modernas do Brasil.

Em 2003, ocorreu a modernização dos equipamentos de degerminação e moagem e

aumentou a capacidade de produção na unidade de Rio Verde. Em Apucarana é iniciada a

instalação de uma planta para degerminação semi-úmida, processo utilizado na fabricação de

canjicas destinadas a produtos industriais de primeira linha. Sua atuação no mercado é ampla,

atende as necessidades de indústrias alimentícias, refinadoras de óleo, indústrias cervejeiras,

indústrias de mineração, fundições, indústrias de rações, produz alimentos destinados a

população em geral e rações para animais.

A unidade de Apucarana processa 15 mil toneladas de milho ao mês. Produz fubás,

canjicas, óleo de milho e produtos pré-cozidos para alimentação humana com a marca

“Xodómilho”, além de fubás e canjicas especiais para indústrias alimentícias, grits para

cervejarias, óleo de milho bruto para refinadoras, milho pré-gelatinizado utilizado na extração

de petróleo e na mineração, além de farelos e rações para grandes animais e rações para a

linha pet (cães, gatos, peixes e rãs). O milho é adquirido no Paraná, além de farelo de trigo, de

soja, de arroz e farinha de peixes e carnes para fabricação de rações adquiridas no Centro-Sul

do país.

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A unidade de Apucarana realiza a moagem a seco e semi-úmido, produção de rações

animais e extração de óleo. Os produtos de consumo humano (canjicas, fubás, etc) têm no

Nordeste do País o principal mercado, as rações destinam-se principalmente ao Centro-Sul do

país e para países do Mercosul. O óleo de milho bruto e refinado destina-se ao mercado

interno e é o produto de exportação da empresa para a União Européia, Ásia e América

Latina. As inovações tecnológicas no setor estão ligadas aos processos de moagem (a seco,

semi-úmido e úmido) e ao aperfeiçoamento de equipamentos fabricados por encomendas,

específicos para as necessidades da atividade. Com produção de 60.000 t de produto/mês, a

Kowalski Alimentos, com 350 funcionários, é uma das principais empresas fornecedoras do

mercado interno para o varejo e a indústria, de produtos alimentícios e derivados de milho.

As dificuldades enfrentadas para produzir, segundo Pedro Kowalski, são a qualidade

da matéria-prima, as intempéries climáticas, e a morosidade para liberação de financiamentos.

Já as dificuldades enfrentadas para comercializar dizem respeito à concorrência no mercado

interno, com produtos a base de trigo e mandioca, para o segmento consumo humano. A

empresa tem problemas com concorrência externa apenas na exportação de óleo. As

dificuldades elencadas pelo empresário para o setor referem-se ao dólar baixo e prejuízos para

a exportação, o baixo consumo humano de derivados de milho no mercado interno – cada

brasileiro consome em média 15 Kg de milho ao ano, enquanto em países como o México

consome-se três vezes mais – elevação do preço do milho no mercado regional. As

perspectivas para o setor são favoráveis: espera-se o aumento do consumo humano de milho

no Brasil, o aumento da área plantada, além da possibilidade do Governo Federal criar uma

linha de crédito semelhante ao FINAME (linha de crédito para financiamento de aquisição de

máquinas e equipamentos) para produtores.

A outra grande indústria moageira de milho a seco de Apucarana é a Caramuru

Alimentos de Milho, a qual possui 218 funcionários em Apucarana e 50 empregados

terceirizados. A empresa foi fundada em 1964, possui unidades em Apucarana e em Goiás.

Em Apucarana a empresa processa o milho produzindo derivados como: fubás, canjicas, grits,

sêmolas, óleo, farinhas, creme de milho, empacota pipoca nacional e importada. Exporta para

a União Européia, África, Ásia e Mercosul.

Presente nos Estados de Goiás, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará, o Grupo Caramuru dedica-se à industrialização de grãos, desde a produção de semente, armazenagem, degerminação, pré-cozimento de milho, extração e refino de óleos especiais de soja, milho, girassol e canola como também na produção de farelos. Sua marca premium SINHÁ é reconhecida nacionalmente como líder no segmento de empacotados de milho e uma das cinco maiores marcas de óleo para consumo doméstico do país: soja, girassol, milho e canola. Uma

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marca que também está em um segmento muito sofisticado com sua linha de azeites importados, óleos saborizados e maioneses. Nasceu também a marca Equivita, uma linha natural de produtos à base de soja. (CARAMURU, 2006)

É uma empresa familiar, fundada por Múcio de Souza Rezende, a qual já foi sediada

em Apucarana e que, com a expansão da fronteira agrícola, transferiu a matriz, mediante

exigências para a obtenção de incentivos fiscais, para Itumbiara-Go. Iniciou as atividades em

1964 com a industrialização de milho em Maringá. Em 1971 iniciou as operações em

Apucarana com a abertura de uma filial. Dois anos depois ocorreu a transferência da matriz de

Maringá para Apucarana.

Ao longo da década de 1970 a empresa iniciou um processo de expansão e

diversificação de atividades (processamento de milho e soja), com a implantação de unidades

de armazenagem em Goiás. Em 1975 deu-se a abertura de uma filial em Itumbiara-GO.

Iniciou em 1977 a fabricação de óleo bruto de gérmen de milho e farelo peletizado em

Apucarana. Dois anos depois a empresa abriu na mesma cidade uma unidade de armazéns

gerais. A década de 1980 marca definitivamente a consolidação da empresa na produção de

óleos refinados, implantação de unidades de armazenagem e ampliação de investimentos no

Centro-Oeste, principalmente no Estado de Goiás. Em 1981 foi criada em Apucarana a

empresa Caramuru Agricultura e Pecuária. Em 1982 o grupo passou a se chamar Caramuru

Alimentos de Milho. Em 1986 foi inaugurada a fábrica de óleo degomado e farelo de soja,

fábrica de pré-cozidos de milho e unidade administrativa em Itumbiara-GO. Em 1988 foi

instalada a fábrica de floculados, e no ano seguinte a empresa Caramuru Armazéns Gerais de

Cereais, ambas em Apucarana.

Em dezembro de 1991 ocorreu a transferência da matriz, Caramuru Alimentos de

Milho, de Apucarana para Itumbiara-GO, onde também passaram a ser tomadas as decisões.

Em 1999 foi implantada a fábrica de coloríficos em Apucarana. Em 2002, a unidade industrial

de Apucarana foi certificada com o ISO 9001, pela SGS do Brasil. No mesmo ano, o Grupo

Caramuru atingiu faturamento de R$ 1 bilhão, configurando no ano seguinte entre as 100

maiores empresas exportadoras brasileiras.

A unidade industrial de processamento de milho de Apucarana possui capacidade de

produção de 18.000 toneladas/mês, processa 12.000 t/mês de gérmen de trigo, industrializa

1.500 t/mês de produtos pré-cozidos, além de capacidade de armazenagem de 60.000

toneladas. (CARAMURU, 2006).

A ABIMILHO - Associação Brasileira das Indústrias Moageiras de Milho - foi

fundada em 10 de outubro de 1977 em Arapongas, por iniciativas de empresas do Norte do

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Paraná, (dentre as quais a Caramuru Alimentos, Kowalski Alimentos e Moinho de Trigo

Arapongas), como resposta às dificuldades em relação à produção e oferta constantes de

milho, visando o fortalecimento e a união de classe. Sua abrangência é nacional, congregando

as maiores empresas processadoras de milho, majoritariamente nacionais à exceção da

multinacional National Starch. Atualmente possui 18 filiados dos Estados do Paraná, Goiás,

São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas e Santa Catarina. A sua atribuição é

institucional, representando um elo entre a indústria e o governo, não atuando em setor

comercial. As dificuldade enfrentadas pelo setor, segundo representante da ABIMILHO,

referem-se à falta de incentivo fiscal e de política agrícola para o milho, insuficiência de

estoques públicos e de redes de armazenagem, além do baixo consumo humano de milho e à

sazonalidade dos preços do produto. Há ainda insatisfação com a imposição de políticas por

parte do Governo Federal, como o decreto federal obrigando a adição de ferro e ácido fólico

(vitamina B9) nos derivados de milho para combater a desnutrição, anemia e

mielomelingocele (má formação de fetos), sem contrapartida do governo e a proibição de

repasse dos custos. Importante ressaltar que o descontentamento existe em relação à forma

como ocorreu e não à ação propriamente, que a entidade acredita ser benéfica, por ir de

encontro às necessidades básicas de alimentação humanas, além de ser produto barato. A

entidade atua propondo políticas de incentivo para o consumo humano de derivados de milho,

realizando campanhas de divulgação das qualidades nutricionais.

A entidade afirma que:

O milho é estratégico na agropecuária brasileira. Cerca de 82% de todo o milho produzido internamente é consumido sob a forma de ração, enquanto seu processamento em alimentos voltados ao consumo humano está estável desde o início da década de 80, em 13% da produção total. A maior parte do milho destinado ao aproveitamento animal vai para a criação de suínos, aves de corte, que representam 30% da disponibilidade total de carne no país (incluindo bovina e pescado) (ABIMILHO, 2006)

O Estado do Paraná é responsável por 25% da produção nacional de milho e consome

23% do milho utilizado pelas indústrias moageiras no país. A moagem a seco é responsável

pelo processamento de 35% do milho destinado á industrialização. A figura 01 a seguir

demonstra as etapas do processo a seco e os produtos obtidos.

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Figura 01 – Processo de moagem de milho a seco

Fonte: ABIMILHO, 2006.

Além da estrutura verticalizada de produção de rações animais da Kowalski

Alimentos, outras indústrias do segmento instalaram-se em Apucarana a partir da década de

1990.

Uma delas é a Reines Alimentação Animal S/A, um empreendimento do Grupo

Sacchelli – SRM (de origem local), foi fundada em 2003 e é uma indústria voltada

exclusivamente para produção de alimentos para cães e gatos. Foram investidos R$ 2,5

milhões para a instalação da indústria, que contou com apoio da Prefeitura Municipal

mediante doação de terreno. A empresa produz em torno de 4 mil toneladas/mês, empregando

60 funcionários.O empreendimento é administrado pela área do grupo denominada "Empresas

King Meat", atuando na produção de dois tipos de rações: Premium, para cães adultos e

filhotes, com a marca "King Pet", e Clássica, denominada "Kanivita". As rações são

produzidas com matéria-prima proveniente das demais empresas do grupo, que atuam no setor

agropecuário. A distribuição dos produtos utiliza a logística existente no Grupo Sacchelli -

SRM, através das empresas Maceratti, Alpes e King Log, permitindo diminuição de custos e a

exposição em estabelecimentos já abastecidos pelo grupo nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul

do País. Parcela da produção é exportada para diversos países da Europa. A empresa foi

criada com o propósito de atender um mercado interno em expansão, com tendência de

crescimento da ordem de 50% em cinco anos (REINES, 2006).

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A empresa Zoo Brasil Nutrição Animal foi fundada em 2003, por iniciativa de Paulo

Sérgio Gonçalves e outros três sócios, oriundos de Arapongas e que exerciam atividades

comerciais diversas. Um dos sócios era veterinário e possuía conhecimento do processo de

fabricação de rações para pequenos animais (cães, gatos e peixes). Vislumbraram um mercado

em expansão, mas que exigia investimento inicial elevado. Iniciaram com baixa produção e

enfrentando dificuldades para comercializar. Atualmente a empresa produz 8 toneladas/dia,

180 toneladas/mês (o dobro da produção inicial) e tem toda a produção vendida antes mesmo

de produzir. Instalou-se em Apucarana pelo preço reduzido de aluguel do imóvel em

comparação a Arapongas, além da infra-estrutura favorável para o escoamento da produção e

fácil acesso á matéria-prima. Utiliza milho, farelos de trigo, soja, feijão e arroz de empresas

de Apucarana, farinha de carne e de víceras de empresas do eixo Londrina-Maringá, e

corantes de empresas de São Paulo e Curitiba. Com as marcas “Hunter Dog”, “Guardian” e

“Neovita”, atua no Rio Grande do Sul, Santa Catarina (responsável por 30% do mercado),

Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Bahia, através de 12 distribuidores e

representantes. Utiliza equipamentos usados empregando 8 funcionários, mas a empresa está

em processo de implantação de nova linha de produção, com equipamentos fabricados por

encomenda junto a uma empresa de Arapongas, a qual permitirá a atuação no segmento de

ração para gatos e outros animais, além de ampliar a capacidade de produção.

Apucarana conta hoje com seis empresas produtoras de ração no segmento pet-foods

(pequenos animais), além de empresas produtoras de ração para suínos e avícolas. A

concentração de indústrias de ração para pequenos animais iniciou na década de 1990 como

diversificação de atividades de indústrias moageiras de milho como a Kowalski Alimentos, e

de ração para animais de grande porte como a Provimi Nutrição Animal e Moinho Primor.

Por exigir investimentos iniciais muito elevados, diferentemente das indústrias de confecções

ou moageiras de milho até aqui analisadas, a maioria das empresas deste segmento resulta de

estratégias de diversificação de atividades de grupos empresariais locais já consolidados e não

de iniciativas individuais.

O mapa 05 permite visualizar as interações espaciais realizadas pelas empresas

moageiras de milho e de nutrição animal instaladas em Apucarana. A existência de duas

grandes empresas de processamento de milho em Apucarana, além de outras de pequeno

porte, constitui o maior parque industrial de moagem de milho da América Latina,

responsável por 25% da moagem de milho do Brasil. A diversidade de destinações dos

derivados de milho, faz com que as empresas instaladas em Apucarana tenham como clientes

desde redes de varejo (alimentação humana) até mineradoras. Isso sem falar no fornecimento

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de rações concentradas para os rebanhos bovinos, suínos e avícolas e de rações do segmento

pet food. Percebe-se que as empresas de Apucarana importam apenas milho de países do

Mercosul e que as máquinas e equipamentos são fabricadas por encomendas a empresas

nacionais.

Mapa 05 – FLUXOS DA CADEIA PRODUTIVA DO MILHO DE APUCARANA

América LatinaEuropa

Ásia e ÁfricaParaguai

Argentina

N

LEGENDA

Aquisição de matérias-primas e equipamentos

Vendas de produtos industrializados

Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002

Org.: Anderson de Freitas Vietro

166 0 322 Km

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3.3 – PREPARAÇÃO DE COURO E FABRICAÇÃO DE ARTEFATOS DE COURO

Outro importante setor industrial em Apucarana é o setor coureiro-calçadista, com

destaque para as atividades de curtimento e outras preparações de couro, fabricação de artigos

para viagem e de artefatos diversos de couro e de fabricação de calçados. “Através das

empresas Apucacouros e Fujiwara EPI e CS Pesquisas, a cidade assumiu o posto de maior

pólo do setor no Estado. Juntas, elas geram mais de 1,7 mil empregos diretos e mais de 5 mil

indiretos” (ACIA, 2006). O gráfico 12 apresenta o número de estabelecimentos industriais do

setor entre 1985 e 2004. Considerando que os dados até 1990 agrupavam outras indústrias,

pode-se dizer que o setor apresentou uma evolução crescente no número de estabelecimentos.

Em 2002 havia 05 estabelecimentos que realizavam curtimento e outras preparações

de couro empregando 575 pessoas, 11 estabelecimentos de fabricação de artigos para viagem

e de artefatos diversos de couro empregando 123 pessoas, e 10 estabelecimentos de fabricação

de calçados empregando 88 pessoas.

Gráfico 12 – Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de preparação de couros e fabricação de

artefatos de couro em Apucarana: 1985-2004

20 33

34

22

22 25

26 29

0

100

200

300

400

500

600

700

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro*

Indústria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004. * Os dados de 1985-1990 são relativos aos setores de calçados e de indústrias da borracha, fumo, couros, peles, similares, indústrias diversas. Org. Anderson Vietro.

Em termos de empregos, o setor apresentou queda a partir de 1990, conforme o gráfico

13 a seguir. Esta redução no número de empregos a partir de 1990, é explicada pelos

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processos de reestruturação das empresas do setor. Em outras palavras, a partir da abertura do

mercado interno com imposição de forte concorrência, as empresas coureiras tiveram que se

readaptar às condições, sendo obrigadas a melhorar o processo e reduzir custos, que se refletiu

na redução de mão-de-obra.

Gráfico 13 – Evolução do pessoal ocupado no setor de preparação de couros e fabricação de artefatos de couro

em Apucarana: 1985-2004 377

768 1265

1079

1007

903

786

793

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro*

Indústria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004. * Os dados de 1985-1990 são relativos aos setores de calçados e de indústrias da borracha, fumo, couros, peles, similares, indústrias diversas. Org. Anderson Vietro.

Antes de discorrer sobre a gênese do setor coureiro em Apucarana vamos entender o

funcionamento do processo de curtimento de couro. Para Costa (2002, p. 34):

O ciclo de produção do couro envolve etapas distintas. Na fase de processamento conhecida como ‘ribeira’ – cujo período de produção leva em média três dias – são feitas as operações de descarne da pele e a extração de resíduos de tecidos, a depilação, a separação da flor, a secagem e o salgamento. Durante o estágio de curtimento, por sua vez, as peles são tratadas com substâncias curtentes, que podem ser de origem vegetal como o tanino, ou de procedência mineral como o cromo, de modo a preservá-las da deterioração natural. A fase de acabamento constitui-se na etapa de produção do couro em que a pele, depois de tingida, é engraxada, seca e amaciada recebendo, então, o acabamento final. Entre a entrada da pele em sua forma verde ou salgada e a saída em forma de couro acabado, o trabalho de processamento dessa matéria-prima percorre um ciclo de 10 a 12 dias. Releva mencionar que no caso do processo de curtimento, este comporta etapas seqüenciais que, inclusive, podem aparecer independizadas em estabelecimentos isolados. Em decorrência, os curtumes costumam ser classificados em dois tipos: os curtumes integrados e os não integrados. Entre os primeiros estão aquelas unidades produtivas que estão capacitadas a realizar todas as atividades de beneficiamento, desde o couro cru ao couro acabado. Já os curtumes não-integrados são aqueles que efetuam apenas algumas fases da transformação do couro: os curtumes de wet blue – primeira fase do tratamento do couro –; os curtumes que a partir do wet

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blue processam o couro semi-acabado ou crust; e, finalmente, aqueles curtumes que se dedicam ao acabamento do couro em sua fase final. A cadeia produtiva do couro, além dos setores situados a montante – criadores e frigoríficos – relaciona-se também com setores auxiliares como fornecedores de produtos químicos que produzem corantes, resinas tanantes, óleos e graxas; bens de capital, composto pelos fabricantes de máquinas e equipamentos para couros.

As empresas atuantes no setor coureiro em Apucarana resultam de iniciativas locais,

como diversificação de atividades anteriores. As principais empresas do setor surgiram nas

décadas de 1960, 1980 e 1990 e a pioneira foi o Curtume Apucarana.

O Curtume Apucarana, hoje Apucacouros Indústria e Exportação de Couros S/A foi

fundado em 1967, resultante da mudança de atividades de uma pequena indústria de calçados

instalada em Apucarana em 1963 por Irineu Sacchelli e seus filhos, para uma indústria de

processamento de couro, aproveitando a matéria-prima decorrente de matadouros da região.

“O espírito empreendedor de um dos filhos, o então jovem Umberto Bastos Sacchelli”

permitiu a expansão dos negócios dando origem a um dos maiores grupos empresariais de

Apucarana, o Grupo Sacchelli (GRUPO SRM), o qual além do curtimento e exportação de

couros (com as empresas Apucacouros e Tannery do Brasil S/A em Cáceres-MT),

industrializa e exporta carne eqüina, “através da maior e mais moderna planta de abate,

desossa e processamento deste tipo de carne em todo o Brasil”, o Frigorífico King Meat em

Apucarana, fundado em 1991. Ainda no segmento de carnes eqüinas, o grupo possui uma

empresa em Resana na Itália, a Europe Meat S.R.L.. Possui divisão de logística, através da

K.Log, especializada no setor de alimentos, através da exclusividade na comercialização e na

logística dos produtos Perdigão para todo o Norte-Noroeste do Paraná e extremo Sul do

Estado de São Paulo. Atua no segmento de higiene e limpeza com as marca Alpes e Lazio, na

produção de água mineral, chás e sucos prontos Maceratti, além da criação e engorda de

bovinos através da Agropecuária Sacchelli e da industrialização de alimentos para cães e

gatos (pet foods) através da Reines Alimentação Animal S/A (GRUPO SRM, 2006).

Segundo Antônio Dequech (2006), engenheiro químico e funcionário há mais de 24

anos, a Apucacouros produz anualmente cerca de 420 mil peças de couro, divididas entre

couro wet blue (20%), couro semi-acabado (50%) e couro acabado (30%), sendo 85% de

couro bovino e 15% de couro de eqüídeos. Cerca de 70% da produção é exportada para a

Europa (principalmente Portugal e Itália), para a Ásia (principalmente China, Coréia do Sul e

Hong Kong), Estados Unidos, África e Oceania. O restante da produção destina-se ao

mercado interno,para São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, principalmente para

pólos calçadistas como Franca-SP, Novo Hamburgo-RS. Os couros produzidos pelo curtume

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são comercializados no estágio wet blue, couros semi-acabados e acabados para indústrias de

estofados em couro, indústrias de sapatos de couro (masculino, feminino, infantil e esportivo),

indústrias de bolsas e artefatos de couro e para a indústria automotiva (bancos automotivos).

“A Apucacouros é uma das maiores empresas exportadoras de couro no Sul do País. (...) A

participação da Apucacouros no mercado internacional já foi destaque no cenário nacional.

Em 2000, a indústria apucaranense ficou em 43º lugar no ranking das 200 maiores empresas

exportadoras do Sul do País, com vendas ao exterior superiores a US$ 15 milhões” (ACIA,

2006). Atualmente emprega 450 funcionários.

Utiliza como matéria-prima peles bovinas - adquiridas dos frigoríficos Alecrim em

Umuarama-PR, Frigopan em Linhares-ES, Friboi no Mato Grosso do Sul e de outro

frigorífico em Rancharia-SP - e peles de eqüídeos fornecidas pelo Frigorífico King Meat de

Apucarana, empresa pertencente ao Grupo SRM. A empresa Tannery do Brasil S/A de

Cáceres-MT, segunda unidade de curtimento de couro do Grupo, com administração unificada

à Apucacouros, criada em meados da década de 1990, emprega 180 funcionários e realiza

somente o curtimento de couros até o estágio wet blue, cuja matéria-prima é adquirida de

frigoríficos da região Centro-Oeste.

As máquinas e equipamentos provêm de Novo Hamburgo-RS, principal pólo coureiro-

calçadista do Brasil, e da Itália, país com a melhor tecnologia em curtimento de couro do

mundo. Além de contar com equipamentos de última geração, a empresa mantém laboratórios

de pesquisa e análises físico-químicas, onde são desenvolvidas e testadas formulações

químicas para cada tipo de couro. Para tanto a empresa investe na qualificação de seus

técnicos, os quais já estudaram na Escola de Curtimento de Couro de Estância Velha-RS, a

única do país.

As dificuldades momentâneas, em períodos de conjuntura desfavorável, segundo

Antônio Dequech, foram superadas com adequação da produção, redução de custos, elevação

da produtividade e aumento da eficiência do processo produtivo, com utilização de novos

equipamentos. Embora a situação econômica seja turbulenta, o setor tende a crescer com a

ampliação da demanda das indústrias automobilísticas e aeronáuticas. Quanto à abertura

econômica implantada a partir dos anos 1990, para a empresa em questão foi “um advento

muito profícuo, pois aumentou o volume de exportação. As empresas do setor viviam

enclausuradas, estavam condicionadas ao mercado interno. Foram forçadas a repensar suas

ações. Puderam importar máquinas e equipamentos modernos”. (DEQUECH, 2006).

A empresa CS Industrial Ltda foi fundada em 1986, “como unidade de

desenvolvimento e pesquisa de processos para recuperação de resíduos de couro originário do

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processo de rebaixamento do couro curtido ao cromo” cuja disposição deve ser feita em

aterros revestidos para evitar contaminação. A partir dessas pesquisas obteve-se couro

reconstituído, denominado Fibracouro, utilizado na fabricação de componentes para indústrias

de calçados e artefatos. É a única empresa que desenvolveu “tecnologia ligada diretamente à

indústria de curtumes, ou seja, utilizando matéria-prima exclusivamente de resíduos de

origem couro na sua forma curtida” (CS INDUSTRIAL, 2006). Segundo a empresa, testes

comparativos entre solados de couro natural e de Fibracouro, demonstraram que o material

possuía resistência três vezes superior e qualidade similar ou superior em todos os aspectos

analisados (CS INDUSTRIAL, 2006).

A partir de 1988 a empresa iniciou a atividade de curtimento de couro wet blue, devido

à demanda crescente do mercado exportador de couros nesse estágio. Chegou a produzir

90.000 peles por mês. Contudo, a migração da pecuária para o Centro-Oeste do país reduziu a

oferta de couros no Paraná, obrigando a empresa a ajustar sua capacidade à disponibilidade de

matéria-prima. A posição estratégica em relação a portos e principais centros de consumo do

país, além da responsabilidade ambiental contribuíram para a inserção da empresa no mercado

internacional de couro wet blue. Concomitantemente a este processo, a empresa investiu em

novos equipamentos e aprimoramento tecnológico, a partir de 2003, para ampliar a

capacidade de produção de Fibracouro. Produz couro wet blue e couros pré-curtidos com

taninos sintéticos wet white, raspas de couro, sebo animal, produtos em Fibracouro para linha

calçados: solas, palmilhas, forros, etc.; linha artefatos: cintos, forros, revestimentos; e linha

móveis e decorações: revestimentos dissipativos e revestimentos decorativos. Oferece ainda

serviços de curtimento de couros para outras empresas e processamento de efluentes de outras

indústrias em sua Estação de Tratamento de Efluentes, cuja capacidade diária é de 1.200.000

litros (CS INDUSTRIAL, 2006).

A empresa Fujiwara Equipamentos de Proteção Individual Ltda, foi fundada em 1990

por Sérgio Fujiwara, o qual vislumbrou na fabricação de calçados uma oportunidade para

agregar valor à produção de couros realizada desde a década de 1980 no curtume da família,

localizado em Apucarana. A produção de couros destina-se totalmente à produção de

equipamentos de proteção individual, como calçados, luvas, aventais, etc. Emprega 1300

funcionários, além de 500 empregos em empresas parceiras na produção de couro em diversos

Estados brasileiros. Utiliza máquinas nacionais e importadas de países da Europa. “O Sistema

Fujiwara de fabricação de calçados, cabedais, luvas e vestimentas está estruturado na forma

de cadeia produtiva verticalizada que inclui as competências e tecnologias para o

desenvolvimento do couro, solado e produtos acabados” (FUJIWARA, 2006).

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A empresa produz 320.000 pares de calçados de segurança e 150.000 pares de luvas de

segurança por mês para diversos segmentos: administrativos, adventure, alimentícias, altas

temperaturas, automobilística, baixas temperaturas, construção civil, hospitalar, indústria de

bebidas, industrial, limpeza urbana, militar, petrolífero, químico, riscos elétricos,

sucroalcoleiros e outros.

A produção destina-se ao mercado interno e externo e a empresa possui contratos com

entidades e empresas de diversos países, a saber: Estados Unidos, Cuba, Panamá, Jamaica,

Trinidad Tobago, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai, Peru, Equador, República

Dominicana, Emirados Árabes, Kuwait, Espanha, Finlândia e Inglaterra (FUJIWARA, 2006).

A empresa produziu sapatos para o Correio Inglês e botas especiais para deserto, a pedido do

Exército Inglês em 2003. A certificação de todos os produtos Fujiwara atende os critérios das

normas brasileira, européia, norte americana e de cada país para onde a empresa exporta, além

das normas específicas para cada segmento de atuação (FUJIWARA, 2006). A

comercialização é realizada por representantes e distribuidores

De maneira geral, as dificuldades enfrentadas pelas empresas de Apucarana referem-se

à carência de mão-de-obra qualificada, elevados custos de matéria-prima (peles ou couro cru),

juros elevados e alto custo do capital de giro, encargos sociais trabalhistas elevados e a

questão ambiental, muito séria para o setor que gera efluentes altamente poluentes a base de

cromo e outras substâncias tóxicas. Na comercialização, as dificuldades são os longos prazos

para recebimento, a inadimplência no mercado interno, e o dólar baixo que afeta as

exportações.

O setor vem enfrentando nos últimos anos a concorrência com produtos chineses, com

outros materiais sintéticos, cuja utilização em substituição ao couro vem aumentando na

indústria calçadista, como o aumento da produção de tênis, na indústria do vestuário entre

outras. As sucessivas elevações no preço do petróleo têm encarecido os produtos químicos

utilizados no processo de curtimento do couro.

A disponibilidade e qualidade da matéria prima também é um problema. Embora o

Brasil possua o maior rebanho de bovinos do mundo, a taxa de produtividade na produção de

couros, a taxa de desfrute (número de cabeças abatidas em relação ao total do rebanho) é

relativamente baixa, em torno de 20%. A produção de couros brasileiros de alta qualidade é

baixa em comparação com outros países, apenas 8,56% do couro manufaturado pelos

curtumes nacionais eram de qualidade superior, enquanto nos Estados Unidos o índice chega

a 85%. Isso se deve à forma como o gado é criado nas fazendas, fase responsável por 60% dos

defeitos na pele do gado (carrapatos e berne, marcação do gado em locais inadequados, e

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ferimentos produzidos no animal devido a cercas com arame farpado), ao transporte dos

animais das propriedades até os abatedouros, e à má conservação do couro fresco e à esfola

malfeita (COSTA, 2002, p. 46-50).

As transformações ocorridas na economia brasileira na década de 1990, como a

abertura comercial com queda das barreiras tarifárias e não-tarifárias, e políticas

macroeconômicas neoliberais de estabilização econômica e de redução da presença do Estado

como regulador da atividade econômica, aliada à presença de produtos importados com

qualidades superiores e preços competitivos, obrigaram as empresas a se adaptarem, a

modernizarem produtos e processos, além do câmbio valorizado ter dificultado as vendas

externas. As conseqüências foram a redução de custos, fechamento de empresas, eliminação

de postos de trabalho, reestruturação produtiva e demanda por proteção (COSTA, 2002, P.48-

50).

Segundo Costa (2002, p. 46-47) houve uma tendência de aumento na participação das

exportações diretas de couro em detrimento do consumo doméstico e exportação indireta na

década de 1990, devido ao crescimento das exportações de couro wet blue e à desaceleração

das exportações de calçados a partir de meados da década. Em fins de 2000, a Câmara de

Comércio Exterior/CAMEX brasileira estabeleceu a alíquota de 9% sobre o valor do couro

exportado na forma de wet blue com o objetivo de induzir as exportações de couros de maior

valor agregado.

Além de indústrias de curtimento de couro, fabricação de artefatos de couro e

fabricação de calçados, Apucarana possui algumas indústrias químicas que atuam na

fabricação, exportação e importação de produtos químicos para curtimento de couro, como a

empresa Quimicamil, fundada em 1996. O sulfato de cromo, principal agente utilizado no

curtimento de couro wet blue, representou 7,34% das importações de Apucarana em 2005. Os

produtos químicos, dentre os quais substâncias tanantes e preparadas para o curtimento de

couro representaram aproximadamente 29% das importações apucaranenses em 2005

(BRASIL, 2006).

Dentre os 10 principais itens de exportação de Apucarana em 2005, 07 itens inclusive

o primeiro, pertencem ao segmento curtimento de couro e fabricação de artefatos e de couro e

calçados de couro. O setor coureiro-calçadista foi responsável por 59,46% das exportações de

Apucarana em 2005. Os três principais países de destino das exportações do município nesse

ano são importantes importadores, produtores e exportadores de couro e calçados (Coréia do

Sul, Itália e Hong Kong). Os produtos do setor (couros, calçados e artefatos) são insumos

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industriais e bens de consumo não duráveis, justamente os principais grupos de produtos

exportados (BRASIL, 2006).

Apucarana possui curtumes integrados como o Curtume Apucarana, empresas

verticalizadas como a Fujiwara EPI e curtumes não-integrados como a CS Industrial. Exporta

produtos acabados, com maior valor agregado e couro wet blue. No entanto, todas as

empresas analisadas investem em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos como

estratégia de manter e ampliar mercados seja com acabamentos diferenciados para novas

aplicações, seja com a industrialização do couro e a atuação em nichos específicos, ou com o

desenvolvimento de produtos e tecnologias próprias. Além de ser o terceiro maior setor

industrial de Apucarana em termos de emprego, é o que possui produtos com maior valor

agregado e permite a inserção de Apucarana em redes de escala internacional, conforme o

mapa a seguir.

As empresas do setor coureiro-calçadista de Apucarana atuam como fornecedoras de

matéria-prima para indústrias de calçados, artefatos de couro em geral e indústrias

automobilísticas do Centro-Sul do país e, principalmente do exterior. Através do fornecimento

de equipamentos de proteção individual para empresas e instituições nacionais e

principalmente estrangeiras, a Fujiwara EPI tornou-se a maior fabricante desse segmento no

país. O setor coureiro-calçadista de Apucarana é responsável pela produção de 25% do couro

paranaense e 5% do couro nacional.

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Mapa 06 – FLUXOS DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO DE APUCARANA

Países Andinos

Mercosul

Estados Unidos e América Central

União Européia, Ásia e Oriente Médio

África e Oceania

N

166 0 322 Km

Países Andinos

Mercosul

Estados Unidos e América Central

União Européia, Ásia e Oriente Médio

África e Oceania

N

LEGENDA

Aquisição de matérias-primas e equipamentos

Vendas de produtos industrializados

Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002

Org.: Anderson de Freitas Vietro

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3.4 – FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS

O desenvolvimento da indústria têxtil em Apucarana deve-se à iniciativa de Eros

Felipe, empresário do ramo de comercialização de café, residente em Apucarana, o qual em

1967 iniciou novo negócio, passando a produzir fios retorcidos de algodão para a indústria de

pneus e lonas. O Paraná era importante produtor de algodão, porém, segundo Eros Felipe, não

havia no Estado empresas ligadas a sua industrialização. Foi dessa iniciativa que surgiu a

Indústria Têxtil Apucarana Ltda, a qual contava inicialmente com 3 empregados e que, em

1968 passou a produzir tecidos e sacos para embalagem e, em 1970 iniciou a produção de fios

de algodão para a própria tecelagem. Em 1991 foi inaugurada a segunda unidade da empresa,

a Paranatex Indústria Têxtil Ltda, responsável pela prestação de serviços de beneficiamento

de tecidos planos, o que segundo a própria empresa é uma atividade pioneira na região e

“propicia a criação e ampliação de um pólo fabril, pois facilita a instalação de tecelagens

independentes. Essas empresas não necessitarão buscar recursos em outros Estados para o

beneficiamento de tecidos produzidos no Paraná”.(PARANATEX, 2006).

A empresa possui uma estrutura verticalizada, com produção de fios de algodão,

tecidos crus e acabados de algodão (sarjas, telas), além da já citada oferta de serviços de

beneficiamento de tecidos, bastante utilizados por empresas confeccionistas da cidade para

tingimento em cores especiais, de pequenas quantidades de tecido. Produz mensalmente um

milhão de metros de tecidos, empregando 320 funcionários. Sua produção destina-se ao

mercado interno – com destaque para o Estado de São Paulo, responsável por 25% das vendas

e para Apucarana, responsável por 20 a 25% das vendas (embora já tenha representado 50%

do mercado consumidor) – para empresas de confecções e, também é exportada para

Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e a partir de 2002 para a África do Sul (atuando num

nicho daquele mercado, por intermédio de um representante conhecedor daquele mercado).

A comercialização é realizada através de representantes e vendedores próprios e em

lojas de varejo em Apucarana, Maringá e São Paulo (que além da venda direta, permitem dar

vazão a tecidos com eventuais problemas de qualidade).

O algodão utilizado pela empresa provém principalmente de Mato Grosso, Goiás e

Bahia, com pequena quantia provinda do Paraná (que em períodos anteriores já foi o principal

produtor nacional e principal fornecedor). As máquinas e equipamentos utilizados no

processo produtivo são majoritariamente importadas, oriundas da Alemanha, Suíça, República

Tcheca e do Japão. A exceção ocorre com as máquinas de limpar e pentear algodão, as quais

são produzidas em Curitiba. A principal inovação tecnológica adotada foi a substituição dos

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teares de lançadeiras por teares a jatos de ar, além dos investimentos em pesquisas para

acabamento de tecidos, o principal diferencial competitivo da empresa.

As dificuldades elencadas pelo empresário para a produção e comercialização no setor

têxtil, atualmente são a falta de mão-de-obra especializada, burocracia e juros elevados para a

realização de financiamentos, além, é claro, da concorrência com os produtos chineses (têxteis

e de vestuário) tanto internamente, quanto no mercado externo, além do câmbio

sobrevalorizado que obriga a empresa a trabalhar com margens negativas nos contratos

internacionais. Além da concorrência com produtos importados, o setor enfrenta forte

concorrência com produtos feitos com materiais sintéticos, os quais possuem custos mais

baixos de produção e preços mais baratos que os produtos de algodão. Outro fator de

descontentamento é a falta de uma estrutura governamental onde o setor industrial possa se

dirigir e ser ouvido.

Ao longo da história da empresa, seu fundador, afirma que houve vários períodos de

crises conjunturais que afetaram a atividade do setor, como em 1983 (num período recessivo

do 4º Kondratieff), com o Plano Cruzado em 1986-1987 numa crise inflacionária, em 1999

com o câmbio fixo e, durante todo o Governo Lula (2003-2006), com uma política

desestimulante às atividades produtivas e favoráveis às importações. Com relação à abertura

da economia a partir de 1990, com o Plano Collor, os efeitos foram favoráveis, pois

propiciaram liberdade de importação de equipamentos, o que permitiu a empresa equiparar-se

com as indústrias estrangeiras, permitiu aumento dos investimentos, aumentar a eficiência e

reduzir custos.

No entanto, os dados do MTE/RAIS (BRASIL, 1985-2004) indicam variação

significativa no número de estabelecimentos do setor têxtil em Apucarana, conforme gráfico

14. De 1985 a 1990, o número de estabelecimentos foi crescente passando de 28 para 61. a

partir de então passou por forte redução, alcançando em 1996, o menor número de

estabelecimentos, refletindo os efeitos da abertura do mercado interno, a forte concorrência

com produtos estrangeiros, dentre outros. O mesmo ocorreu com o número de trabalhadores

(gráfico 15), que evoluiu positivamente entre 1985-1987, reduziu em 1990, passou por quedas

bruscas entre 1990-1998, alcançando na última data menos de 50% daqueles empregos

gerados em 1985. A partir de 1998, volta a crescer, mas com baixas taxas, apresentando leve

redução em 2004.

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Gráfico 14 – Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos têxteis em Apucarana: 1985-

2004

28 39 61

22 27 29 44 47

0

100

200

300

400

500

600

700

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Indústria de produtos têxteis*

Indústria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004.

* Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.

Gráfico 15 – Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos têxteis em Apucarana: 1985-2004

1025

1455

1269

819

496

691

906

898

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004

Indústria de produtos têxteis*

Indústria de transformação

Fonte: BRASIL, 1985-2004.

* Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.

Os dados de 2002 do MTE/RAIS são os mais detalhados e que permitem identificar a

complexidade do setor têxtil em Apucarana. Nesse ano, existiam 04 estabelecimentos que

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trabalhavam com fiação, responsáveis por 162 empregos; 04 estabelecimentos que

trabalhavam com tecelagem, incluindo fiação, gerando 330 postos de trabalho; 06

estabelecimentos ligados à fabricação de artefatos têxteis incluindo tecelagem com 133

empregos; 21 estabelecimentos de fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos –

exclusive vestuário – gerando 151 empregos; 05 fabricantes de tecidos e artigos de malha

gerando 38 empregos e 04 estabelecimentos de acabamentos em fios, tecidos e artefatos

têxteis, gerando 92 empregos, totalizando 906 empregos formais.

A empresa Estação da Malha, criada em 1990 por Azem Said, que trabalhava com

comércio de cereais, emprega 45 funcionários, produzindo 40 toneladas de malha por mês,

sendo que 95% dessa produção destina-se a empresas de confecções de Apucarana e o

restante é vendido para empresas de Mauá da Serra, Arapongas e Astorga. Os fios utilizados

na fabricação das malhas são produzidos em Mandaguari e os corantes em Blumenau. A

empresa possui 17 máquinas, adquiridas em São Paulo, Santa Catarina, além de máquinas

usadas de origem alemã, compradas no mercado nacional. Até 2002 a empresa trabalhava

apenas com tecelagem. Desde então, a empresa realiza o tingimento próprio dos tecidos,

ofertando este serviço para seus clientes.

A empresa Tecitex, também de capital local, existe desde 1996, como distribuidora de

artigos para a confecção de bonés, malhas para modinha, malhas para camisetas, lingerie e

confecções em geral. “Em julho de 2003, a Tecitex começou a industrializar malhas de

algodão, poliéster e poliamida, (com a marca registrada Malhas Marrafe), incrementando

ainda mais nosso (seu) atendimento na linha de camisetas promocionais, para grifes e lojas”

(TECITEX, 2006). Contando com 16 funcionários, além de distribuir tecidos para fabricantes

de bonés de Apucarana e de confecções de diversas cidades do Paraná, com a industrialização

e comercialização de malhas para a moda, atende os pólos confeccionistas do Paraná e desde

2003 possuiu o Certificado de Sistema de Qualidade – NBR ISO 9001/2000.

A exceção quanto à origem de capital no setor é a Empresa Paraguaçu Têxtil, com

sede em Paraguaçu – MG. “A Paraguaçu Têxtil foi fundada em 1941, e é um dos mais

tradicionais fabricantes de tecidos do país. Especializada na fabricação do Índigo Blue, desde

1982, tem sua produção voltada para os mercados do Brasil e do exterior. O Índigo Paraguaçu

Têxtil é tradicionalmente valorizado pelo padrão de tingimento e a empresa é reconhecida por

produtores, corretores e indústrias têxteis pela pontualidade e transparência em todos os seus

serviços” (PARAGUAÇU, 2006). O grupo realiza todo o ciclo do algodão em unidades nos

Estados de Minas Gerais, Paraná e Mato-Grosso, atuando do plantio até o tecido acabado,

realizando o processamento do caroço, de onde se extrai o línter, óleo vegetal e farelo para

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ração animal. Em Apucarana é realizada a fiação. Os fios de algodão, produzidos na unidade

existente desde 2003 e que emprega 104 funcionários, destinam-se exclusivamente à

produção do índigo Paraguaçu Têxtil.

Em 2005 as exportações de artefatos têxteis de Apucarana atingiram US$ 910.625, o

equivalente a 1,6% do valor exportado. As importações de máquinas e equipamentos para o

setor foram de US$ 1.261.422 o equivalente a 20,98% do valor importado (BRASIL, 2006). O

mapa 07 apresenta as interações espaciais das indústrias têxteis de Apucarana. O setor têxtil

de Apucarana apresenta um mercado concentrado na Região Centro-Sul do país e países do

Mercosul. A procedência de matérias-primas é nacional e de máquinas e equipamentos é

nacional e de países da Europa e da Ásia.

Mapa 07 – FLUXOS DO SETOR TÊXTIL DE APUCARANA

Bolívia

Paraguai

Uruguai

Argentina

África do Sul

Japão

Alemanha, República Tcheca e Suiça

N

166 0 322 Km

LEGENDA

Aquisição de matérias-primas e equipamentos

Vendas de produtos industrializados

Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002

Org.: Anderson de Freitas Vietro

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apucarana é uma cidade industrializada. Possui indústrias de diversos setores. Os

principais setores em termos de pessoal ocupado e número de estabelecimentos são a indústria

de confecções e de artigos de vestuário; a indústria de produtos alimentícios e bebidas, com

destaque para a moagem de milho e empresas atuantes no segmento de nutrição animal; as

indústrias curtidoras de couro e fabricantes de acessórios em couro, como os equipamentos de

proteção individual e as indústrias de produtos têxteis.

Os setores industriais analisados apresentam características comuns. São setores cujas

origens se deram através de iniciativas locais, de pequena produção mercantil rural e urbana

(artesanal) e de atividades ligadas ao comércio. São caracterizados pelo uso intensivo de mão-

de-obra. Porém, são setores dinâmicos, responsáveis pela inserção de Apucarana em redes

regionais, nacionais e internacionais de produção e comercialização de diversos produtos. São

setores que surgiram e/ou se desenvolveram em tempos de crise (a partir da década de 1960)

em contextos nacional (juglarianos brasileiros) e mundial (fase b do 4º Kondratieff).

Em tempos de crise, o que Apucarana, mediatizada por agentes locais, foi capaz de

fazer? Eis seu caminho: não só foi capaz de se industrializar, como de concorrer com outros

locais, inclusive com a metrópole nacional - São Paulo.

Iniciada na década de 1970, a produção de bonés de Apucarana, desenvolveu-se na

década de 1980 – a chamada década perdida, pelos baixos índices de crescimento da

economia nacional. Foi nessa década que disseminou-se a produção de bonés. A década

seguinte, foi marcada pela diversificação da produção no interior das fábricas de bonés, pela

terceirização da produção e pela informalidade das facções. Constiuiu-se uma cadeia

produtiva do boné, com a instalação de empresas fornecedoras de matéria-prima, máquinas e

equipamentos, instalação de distribuidores atacadistas de acessórios para bonés, de

representantes comerciais de importação de máquinas, etc. Houve um aumento no número de

estabelecimentos industriais e o número de empregos formais gerados duplicou. Os anos 2000

foram marcados por crises momentâneas. Mas o setor cresceu, mediante realização de

investimentos, adoção de estratégias de cooperação entre empresários. Constituiu-se o

Arranjo Produtivo Local dos Bonés. É um setor exportador, responsável por 70% da produção

nacional, dinâmico, que passou a concorrer com a metrópole e teve êxito.

O setor coureiro-calçadista de Apucarana é responsável por 25% da produção de

couros do Paraná e por 5% da produção do Brasil (detentor do maior rebanho bovino do

mundo). É constituído por empresas exportadoras de couro nos estágios wet blue, semi-

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acabados e acabados, destinados às indústrias calçadistas e automotivas entre outras, além de

exportadora de artefatos de couro, especificamente equipamentos de proteção individual.

Neste segmento Apucarana possui uma empresa, de iniciativa local, que é a maior produtora e

exportadora desses equipamentos no Brasil.

Conformou-se em Apucarana uma cadeia produtiva do milho, especializada na

moagem de milho a seco, produzindo derivados destinados ao consumo humano e a vasta

utilização por indústrias diversas, como cervejarias e mineradoras. As duas grandes empresas

instaladas em Apucarana são responsáveis por 25% do processamento de milho do país,

constituindo o maior parque moageiro de milho da América Latina. O desenvolvimento

dessas indústrias em Apucarana, deve-se em parte, à localização central numa região grande

produtora de gêneros agrícolas, o Norte do Paraná, e ao programa de industrialização

empreendido pelo Governo do Paraná através da agroindustrialização do Estado, nas décadas

de 1960 e 1970. A cadeia produtiva do milho compreende ainda um número significativo de

indústrias de nutrição animal, fabricantes de rações para animais de grande porte (bovinos,

suínos, etc.) e pequenos animais (cães, gatos e peixes).

A indústria têxtil de Apucarana é pioneira no Paraná e desenvolveu-se a partir da

década de 1960. O desenvolvimento de um setor confeccionista em Apucarana, favoreceu o

desenvolvimento do setor, cujas exportações embora tímidas, são crescentes.

Ressalte-se que a diversificação de atividades nesses setores analisados permitiu a

conformação de fortes grupos empresariais locais.

Há que se ressaltar que outros segmentos industriais apresentaram crescimento ao

longo do período analisado, como as indústrias de produtos químicos, indústrias de borracha e

materiais plásticos, indústrias de mobiliário e indústrias diversas.

O Paraná não é um Estado eminentemente agrícola. Possui sim, uma produção

agropecuária significativa, configurando entre os maiores produtores agrícolas do Brasil. No

entanto, o Paraná apresenta uma vigorosa dinâmica industrial. Tal dinâmica apresenta-se

dispersa de modo desigual por todo o território paranaense. Apucarana especializou-se na

produção de bonés. Outras cidades especializaram-se na produção de diversos produtos,

contribuindo para o aumento da riqueza gerada no Estado e de postos de trabalho. Essa

dinâmica precisa ser estudada, compreendida. Novos trabalhos precisam ser realizados.

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