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CURITIBA 2014 Ministério da Educação Universidade Federal do Paraná Setor de Tecnologia Curso de Arquitetura e Urbanismo GUSTAVO DOMINGUES GASPARI O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO - CURITIBA - PR

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Page 1: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO SUBCENTRO DO …...cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as suas ruas em forma de escada, de circunferência

CURITIBA

2014

Ministério da Educação Universidade Federal do Paraná

Setor de Tecnologia Curso de Arquitetura e Urbanismo

GUSTAVO DOMINGUES GASPARI

OO PPRROOCCEESSSSOO DDEE FFOORRMMAAÇÇÃÃOO DDOO SSUUBBCCEENNTTRROO DDOO

PPIINNHHEEIIRRIINNHHOO -- CCUURRIITTIIBBAA -- PPRR

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CURITIBA

2014

GUSTAVO DOMINGUES GASPARI

OO PPRROOCCEESSSSOO DDEE FFOORRMMAAÇÇÃÃOO DDOO SSUUBBCCEENNTTRROO DDOO

PPIINNHHEEIIRRIINNHHOO -- CCUURRIITTIIBBAA -- PPRR

Monografia apresentada à disciplina Orientação de Pesquisa (TA059) como requisito parcial para a conclusão do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Setor de Tecnologia, da Universidade Federal do Paraná – UFPR.

OORRIIEENNTTAADDOORRAA:: Profª. Drª. Madianita Nunes da Silva

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FFOOLLHHAA DDEE AAPPRROOVVAAÇÇÃÃOO

Orientador(a):

Examinador(a):

Examinador(a):

Monografia defendida e aprovada em:

Curitiba, de de 2014.

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Agradecimentos

À minha orientadora, Madianita, pelos ensinamentos compartilhados ao longo de vários anos de trabalho juntos,

pelas orientações que me trouxeram alívio e pela compreensão nos momentos difíceis.

À minha mãe, Regina, e meu pai, Gilberto, pela

vida que me proporcionaram, com amor, carinho, paciência

e suporte para que eu pudesse alcançar meus sonhos e conquistas.

À minha família, pelos momentos inesquecíveis

que ajudaram a construir minha identidade, meus valores e meu caráter

À minha namorada Lillian, que se habituou

a maquetes papelões, estiletes, e noites insônes simplesmente

por amor e consideração a mim,.

E aos queridos amigos, de infância, com quem sei que sempre poderei contar, e de faculdade, que compartilharam comigo tantas realizações e alegrias.

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Inutilmente, magnânimo Kublai, tentarei descrever a cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as suas ruas em forma

de escada, de circunferência dos arcos dos pórticos, de quais laminas de zinco são recobertos os tetos;

mas sei que seria o mesmo que dizer nada. A cidade não é feita disso, mas das relações entre as

medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado... Mas a cidade não conta o seu passado,

ela o contém como as linhas da mão, escrito no ângulo das ruas, nas grades das janelas, nos

corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado

por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.

Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis.

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RESUMO

Com o crescimento das metrópoles e aumento da complexidade de sua

estruturação, surgem processos que produzem novos conteúdos espaciais,

dentre os quais de destaca a formação de subcentros. Em Curitiba, este

fenômeno ocorreu à parte do conjunto de práticas de planejamento urbano

aplicadas ao longo das últimas décadas, o que, no entanto, não impediu a

consolidação de novas centralidades em alguns pontos da cidade. Tal

processo pode ser observado no Pinheirinho, região sul de Curitiba, formado a

partir da lógica da necessidade das populações de baixa renda que se

instalaram na região desde os anos 1950. O contexto atual demonstra que a

característica popular do uso e ocupação do solo na área se mantém, porém, a

emergência de grandes infraestruturas públicas de transporte somada aos

grandes empreendimentos privados de moradia e de atividades terciárias pode

vir a alterar o padrão socioeconomico da região e eliminar parte de suas

atividades de apelo popular. A apreensão destas dinâmicas a partir de uma

revisão bibliográfica, pesquisas dos Planos Diretores de Curitiba, visitas a

campo e comparação de casos correlatos levou à elaboração de princípios e

diretrizes para o desenvolvimento de propostas que visem à redução dos

impactos negativos que podem decorrer da nova dinâmica observada.

Palavras-chave: Estruturação urbana, centralidade, subcentros, Curitiba,

Pinheirinho.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – MODELOS DE SEGREGAÇÃO ESPACIAL ......................................... 26 FIGURA 2 - MAPA DE CURITIBA DE 1915 ONDE APARECE A REGIÃO DO "CAMPO DO PINHEIRINHO" .................................................................................... 37 FIGURA 3 – MAPA CONCEITUAL DO PLANO AGACHE DE 1943 ......................... 43 FIGURA 4 – MAPA CONTENDO AS PROPOSTAS DO PLANO DE AVENIDAS DE AGACHE SOBRE O ARRUAMENTO PRINCIPAL ATUAL ................................. 45 FIGURA 5 – MAPA DE CURITIBA DIVIDIDO EM UNIDADES DE VIZINHANÇA, ESTABELECIDAS EM 1960 ...................................................................................... 47 FIGURA 6 – MAPAS DE ZONEAMENTO ESTIPULADOS PELO PLANO PRELIMINAR DE 1965 E PLANO DIRETOR DE 1966 ............................................. 51 FIGURA 7 – MAPAS DE HIERARQUIA VIÁRIA DE 1966 ONDE APARECE A REGIÃO DO PRADO DE SÃO SEBASTIÃO ............................................................. 52 FIGURA 8 – ZONEAMENTO APROVADO NOS ANOS DE 1969 E 1972: ALTERAÇÃO NO EIXO ESTRUTURAL SUL ............................................................ 54 FIGURA 9 – MAPA DE CURITIBA, AS SUBCENTRALIDADES DE 1º NÍVEL ESTABELECIDAS PELO PMDU E SUAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA, COM DESTAQUE PARA A DO PINHEIRINHO .................................................................. 58 FIGURA 10 – ALTERAÇÕES NAS VIAS ESTRUTURAIS PROPOSTAS EM FUNÇÃO DOS SUBCENTROS PELO PMDU ........................................................... 60 FIGURA 11 - DIRETRIZ PARA O SUBCENTRO DO PINHEIRINHO CONTIDA NO PMDU ................................................................................................................. 61 FIGURA 12 - MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E A LOCALIZAÇÃO DAS INTERVENÇÕES DO PROGRAMA RIO CIDADE - ETAPA I ................................... 66 FIGURA 13 – MAPA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E A LOCALIZAÇÃO DO BAIRRO CAMPO GRANDE ...................................................... 67 FIGURA 14 – EXEMPLO DE EMPREENDIMENTO VOLTADO PARA A CLASSE MÉDIA EM CAMPO GRANDE – JARDIM EUROPA .................................. 69 FIGURA 15 – ZONEAMENTO DE CAMPO GRANDE ESTABELECIDO PELO PEU DE 2004 E AS PRINCIPAIS LOCALIZAÇÕES ................................................. 71 FIGURA 16 - EXEMPLOS DAS INTERVENÇÕES PELO PROGRAMA RIO CIDADE ..................................................................................................................... 73

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FIGURA 17 – LOCALIZAÇÃO DO CALÇADÃO NA ÁREA CENTRAL DE CAMPO GRANDE ..................................................................................................... 73 FIGURA 18 – ESCULTURAS INSTALADAS PELO PROGRAMA RIO CIDADE EM CAMPO GRANDE RELACIONADAS A CITRICULTURA ................................... 74 FIGURA 19 - ELEMENTOS DO CALÇADÃO DE CAMPO GRANDE INSTALADAS PELO PROGRAMA RIO CIDADE ...................................................... 74 FIGURA 20 – VISTA DO SUBCENTRO LAS CONDES E DO SEU ENTORNO IMEDIATO ................................................................................................................. 78 FIGURA 21 – MAPA DAS COMUNAS DA PROVÍNCIA DE SANTIAGO E A LOCALIZAÇÃO DA COMUNA DE LAS CONDES .................................................... 79 FIGURA 22 - VISTA DA ESCUELA MILITAR DEL LIBERTADOR BERNARDO O'HIGGINS, EM LAS CONDES ................................................................................ 80 FIGURA 23 – VISTA DA AVENIDA APOQUINDO A PARTIR DO VIADUTO SOBRE A ESTAÇÃO ESCUELA MILITAR................................................................ 82 FIGURA 24 – PLANTA DO PROJETO DO SUBCENTRO LAS CONDES – NÍVEL DAS PRAÇAS (SUPERIOR) .......................................................................... 83 FIGURA 25 - PLANTA DO PROJETO DO SUBCENTRO LAS CONDES - SUBTERRÂNEO ....................................................................................................... 84 FIGURA 26 – ESQUEMA DE LOCALIZAÇÃO DAS LOJAS E DAS ALTERNATIVAS DE TRANSPORTE DO SUBCENTRO LAS CONDES .................. 85 FIGURA 27 – IMAGEM PARCIAL DA ÁREA DO SUBCENTRO LESTE E SEU ENTORNO JÁ OCUPADO ........................................................................................ 88 FIGURA 28 - LOCALIZAÇÃO DE SAMAMBAIA E DO SUBCENTRO LESTE EM RELAÇÃO AS CIDADES VIZINHAS ................................................................... 90 FIGURA 29 – ÁREAS NORTE E SUL DE SAMAMBAIA E A LOCALIZAÇÃO DO SUBCENTRO LESTE ......................................................................................... 91 FIGURA 30 – SIMULAÇÃO DA PROPOSTA DESENVOLVIDA POR JAIME LERNER PARA A OCUPAÇÃO DO EIXO DO INTERBAIRROS, AO FUNDO, E DO SUBCENTRO LESTE, EM PRIMEIRO PLANO .................................................. 93 FIGURA 31 - ZONEAMENTO PROPOSTO PARA O SUBCENTRO LESTE DE SAMAMBAIA E INFRAESTRUTURAS EXISTENTES .............................................. 95 FIGURA 32 - VISTA AÉREA DO NÚCLEO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO ......................................................................................................... 104

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FIGURA 33 – OCUPAÇÃO DA AV. WINSTON CHURCHILL AO NORTE DO TERMINAL DO PINHEIRINHO: DIMINUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS E DA OCUPAÇÃO DO SOLO ................... 105 FIGURA 34 - TRANSPOSIÇÃO DA AV. WISTON CHURCHILL SOB A LINHA VERDE (BR-476): LIMITE SUL DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO .................. 106 FIGURA 35 – VISTA DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO: PREDOMINÂNCIA HORIZONTAL DE OCUPAÇÃO .............................................................................. 107 FIGURA 36 – PRESENÇA DE COMÉRCIO AMBULANTE NA AV. WISTON CHURCHILL ............................................................................................................ 107 FIGURA 37 - EXEMPLO DE OCUPAÇÃO DE UMA VIA TRANSVERSAL À WINSTON CHURCHILL: DIFERENTES USOS ...................................................... 108 FIGURA 38 – VISTA A PARTIR DA CIC DAS EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS PRÓXIMAS AO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO COM ALTURA SUPERIOR A DEZ PAVIMENTOS ............................................................................................. 109 FIGURA 39 – APRESENTAÇÃO DO EMPREENDIMENTO SMART CITY PINHEIRINHO, LOCALIZADO PRÓXIMO AO SUBCENTRO ................................. 110 FIGURA 40 - IMAGEM AÉREA DO TERMINAL DO PINHEIRINHO EM PRIMEIRO PLANO E DOS DEMAIS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS ADJACENTES EM SEGUNDO PLANO .................................................................. 111 FIGURA 41 – ENTRADA DE PEDESTRES DO HOSPITAL ZILDA ARNS, SITUADA NA RUA ANDRÉ FERREIRA BARBOSA ............................................... 113 FIGURA 42 – PERSPECTIVA DA AV. WISTON CHURCHILL: ARIDEZ CAUSADA PELA IMPERMEABILIDADE DO SOLO E AUSÊNCIA DE ARBORIZAÇÃO ...................................................................................................... 114 FIGURA 43 - ESTAÇÃO TUBO WISTON CHURCHILL .......................................... 115 FIGURA 44 – EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS ABANDONADAS AO FUNDO, VISTA PARCIAL DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO ......................................... 116 FIGURA 45 – GRANDES EXTENSÕES MURADAS NA VIA RÁPIDA ANDRÉ FERREIRA BARBOSA ............................................................................................ 116 FIGURA 46 - VISTA DO CONDOMÍNIO UP LIFE PINHEIRINHO: TORRES ALTAS E DE OCUPAÇÃO MASSIVA ANTECIPAM A TENDÊNCIA PARA A ÁREA ...................................................................................................................... 117 FIGURA 47 – OBRAS DE EXTENSÃO DA LINHA VERDE: NOVAS ESTAÇÕES DE ÔNIBUS ........................................................................................ 118

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FIGURA 48 – PUBLICIDADE DO EMPREENDIMENTO SMART CITY PINHEIRINHO: DESCONSIDERAÇÃO DO NÚCLEO POPULAR DO SUBCENTRO .......................................................................................................... 119 FIGURA 49 - ÁREA INDUSTRIAL REMANESCENTE INCLUÍDA NO ZONEAMENTO DA LINHA VERDE ........................................................................ 120 FIGURA 50 – BAIRROS DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO ......................................................................................................... 124 FIGURA 51 – OCUPAÇÃO RESIDENCIAL PADRÃO A OESTE DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO ........................................................................... 126 FIGURA 52 – PARTE SUL DA RIT E A POPULARIZAÇÃO DAS LINHAS ALIMENTADORES DO PINHEIRINHO PARA A REGIÃO DO TATUQUARA ......... 130

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE OS CASOS CORRELATOS DE

CAMPO GRANDE, LAS CONDES E SAMAMBAIA. ................................................. 99

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DE GRANDE PROJETO URBANO

EXISTENTES NA OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA DA LINHA VERDE. .... 135

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - PARÂMETROS DE OCUPAÇÃO DO SOLO DAS UNIDADES

IMOBILIÁRIAS - SUBCENTRO LESTE. ................................................................... 96

TABELA 2 - RANKING DE RENDA MÉDIA DOS BAIRROS DA ÁREA DE

INFLUÊNCIA DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO, 2010. .................................... 126

LISTA DE MAPAS

MAPA 1 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA REALIDADE. .............................................. 124

MAPA 2 - FLUXOS DA ÁREA DE INFLUÊNCIA. .................................................... 133

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13

2. ESTRUTURAÇÃO DA CIDADE E A FORMAÇÃO DE CENTROS .......... 16

2.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE CAPITALISTA ... 16

2.2 ESTRUTURAÇÃO DA CIDADE .......................................................... 21

2.3 CENTRALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE CENTROS ......................... 26

2.4 DESCENTRALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE SUBCENTROS ........... 31

3. HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO ...... 35

3.1 OCUPAÇÃO DA REGIÃO DO PINHEIRINHO .................................... 35

3.2 O PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA E A CONSOLIDAÇÃO DO PINHEIRINHO COMO SUBCENTRO ..................................................... 42

4. ANÁLISE DE CORRELATOS ................................................................... 64

4.1 O BAIRRO DE CAMPO GRANDE (RJ) E A INTERVENÇÃO DO PROGRAMA RIO CIDADE ........................................................................... 65

4.1.1 Formações do contexto urbano de Campo Grande (RJ) .................. 68

4.1.2 Análise do Projeto Rio Cidade .......................................................... 72

4.2 SUBCENTRO DE LAS CONDES EM SANTIAGO, CHILE ..................... 78

4.2.1 Formação do contexto urbano de Las Condes ................................. 80

4.2.1 Análise do projeto ............................................................................. 83

4.3 PROJETO DO SUBCENTRO LESTE EM SAMAMBAIA (DF) ................ 88

4.3.1 Formação do contexto urbano de Samambaia ................................. 90

4.3.2 Análise do projeto ............................................................................. 93

4.4 SÍNTESE COMPARATIVA ENTRE OS CASOS CORRELATOS ........... 99

5. CARACTERIZAÇÃO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO .................. 104

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO NÚCLEO DO SUBCENTRO ..................... 104

5.2 ÁREA DE INFLUÊNCIA DO SUBCENTRO ...................................... 125

5.3 SÍNTESE DA REALIDADE E CENÁRIO TENDENCIAL ................... 134

6. DIRETRIZES PARA O PROJETO DE INTERVENÇÃO .......................... 138

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 144

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1. INTRODUÇÃO O presente trabalho estuda o processo de formação e transformação

do subcentro do Pinheirinho, no Município de Curitiba.

Com o crescimento das metrópoles e aumento da complexidade de sua

estruturação, surgem processos que produzem novos conteúdos espaciais. A

formação de subcentros é discutida por Villaça (2001), Sposito (2004), Corrêa

(2005) como decorrência direta de movimentos de repulsão do centro

tradicional e surgimento de novos pontos de atração no território urbano,

dotados de centralidades, a partir da emergência de novas tecnologias e

transportes mais flexíveis baseados na estruturação viária. Essas dinâmicas

são produzidas por diversos agentes sociais e desenvolvidas no bojo das

disputas de classe que permeiam a história das cidades.

O subcentro do Pinheirinho se coloca como um exemplo de área de

atração de atividades terciárias fora do centro tradicional de Curitiba. É

resultado do processo de extensão da ocupação urbana do território curitibano

iniciado nos anos 1950, ocasionado pelo grande aumento populacional da

cidade no período e sua consolidação o colocou, durante as décadas

seguintes, entre os principais da aglomeração. Isso se deve à sua forte

especialização de oferta de serviços que lhe conferiu uma área de influência

que incorpora diferentes bairros, além do Pinheirinho e Capão Raso, onde se

situa, polarizando também a região sul de Curitiba. Muito embora cumpra um

papel bastante importante na estruturação da cidade, o subcentro do

Pinheirinho se consolidou ao largo das diretrizes e planos propostos pelo

planejamento que, não obstante, tentaram incorporá-lo de forma geralmente

relutante e imprecisa ao longo dos anos e das gestões municipais.

O contexto atual da área de estudo apresenta uma área consolidada de

comércio e serviços voltada ao atendimento de população de baixa renda, que

historicamente formou a ocupação da região. No entanto, observa-se

tendências de reestruturação socioespacial desencadeadas por grandes

projetos públicos e privados, em andamento ou previstos, que anunciam uma

alteração no padrão social da área, introduzindo conteúdos voltados para

classes mais altas que as observadas no entorno. Na execução desses

grandes projetos se destaca o poder público, com a implantação em

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andamento da Linha Verde e propostas de implantação do Metrô Curitiba, e o

capital imobiliário privado, com a apropriação de grandes áreas para sua

conversão em empreendimentos habitacionais e comerciais voltados para a

classe média.

Em face da importância e magnitude das mudanças em curso, o

presente trabalho tem como objetivos compreender a origem histórica e as

atuais dinâmicas presentes no subcentro e sua região de influência e indicando

tendências para a formulação de bases para o estabelecimento de propostas

de intervenção futuras.

Para cumprir tais objetivos, a pesquisa inicia por uma revisão de

literatura a respeito do processo de formação de subcentros, e sua relação com

a produção e estruturação das cidades. Em seguida, é resgatado o histórico de

formação da região do Pinheirinho e de consolidação de seu subcentro.

Posteriormente, são analisados casos de intervenções em subcentros na

busca por projetos que se propuseram a intervir em pontos dotados de

centralidade urbana. Por fim, é feita uma leitura da realidade atual do subcentro

do Pinheirinho e sua área de influência, indicando tendências. Estes conteúdos

possibilitaram a apreensão do tema e a elaboração de princípios que

fornecerão ferramentas para o desenvolvimento de um Plano de Reabilitação

para a área de estudo.

Tal metodologia resultou num trabalho estruturado em cinco capítulos,

além deste, que contém as discussões apropriadas para o entendimento

temático da questão dos subcentros e da área de estudo. A elaboração das

discussões realizadas ao longo do trabalho foi resultado de uma revisão

bibliográfica dos temas, de visitas a campo e de pesquisas em meios digitais.

No primeiro capítulo, são resgatados os processos espaciais discutidos

por Corrêa (2005) e realizada uma discussão onde se aprofunda o conceito de

centralidade, o processo de formação de centros e os processos de

descentralização e formação de subcentros. Tais conceitos são importantes

pois sintetizam as transformações que as aglomerações urbanas apresentam

conforme se tornam maiores e mais complexas.

Em seguida, faz-se uma recuperação histórica do processo de

produção do subcentro do Pinheirinho, e da forma como o planejamento

urbano de Curitiba interagiu com este processo ao longo dos anos. O objetivo

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foi compreender as especificidades históricas de sua formação e como elas se

refletem na sua caracterização atual, e os momentos em que esse processo foi

considerado nos Planos Urbanísticos propostos.

Posteriormente foram pesquisados os casos correlatos de Campo

Grande, no Rio de Janeiro, de Las Condes, no Chile e de Samambaia, no

Distrito Federal. A escolha desses projetos procurou percorrer diferentes

entendimentos do conceito de subcentro em cada um dos casos estudados.

Em Campo Grande, se observa um projeto de intervenção num subcentro

consolidado onde se destacam as diferenças entre o discurso oficial e o projeto

propriamente dito. Em Las Condes, se investiga a intervenção num espaço

público da estação do metrô de Santiago, onde o subcentro surge como

produto do mercado imobiliário. Em Samambaia, chama atenção a ação do

poder público no sentido de criar uma centralidade num espaço livre da cidade.

Em seguida, foi elaborada uma leitura da realidade do subcentro

estudado, com o objetivo de compreender as dinâmicas hoje presentes. Foram

identificadas duas dinâmicas distintas, uma consolidada, de comércio e

serviços de caráter popular e outra em surgimento, alavancada pelo projeto

público da Linha Verde e apropriada pelo capital imobiliário, que por sua vez

tende a implantar empreendimentos voltados para a classe média. A relação

entre tais dinâmicas e o impacto da nova forma de ocupação observada e dos

projetos urbanos anunciam grandes transformações para a área. A síntese

desse levantamento permitiu que se elaborassem também os cenários

tendenciais que se anunciam para o futuro.

Por último, foram definidos os princípios de projeto e diretrizes de

intervenção que nortearão o Trabalho Final de Graduação, com o objetivo de

fornecer ferramentas e embasamento para a elaboração de um Plano de

Reabilitação do subcentro do Pinheirinho. Tal proposta agirá no sentido de

garantir que os novos conteúdos observados propiciem a ampliação da

abrangência do subcentro sem, no entanto, acarretar na eliminação dos

conteúdos consolidados voltados às classes de renda mais baixa, propiciando

assim a constituição de um espaço urbano socialmente mais justo.

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2. ESTRUTURAÇÃO DA CIDADE E A FORMAÇÃO DE CENTROS O objetivo deste capítulo é compreender como ocorre a estruturação

da cidade, investigando quais agentes sociais atuam sobre ela e quais

processos espaciais derivam dessa ação, em especial os movimentos de

centralização e descentralização intraurbana, foco principal do presente estudo.

Para tanto, é realizada uma abordagem teórico-conceitual a respeito do espaço

urbano e da estruturação das cidades, investigando como estas dinâmicas se

realizam, mas também procurando compreendê-las nas suas origens.

O espaço urbano é definido por Corrêa (2005, p. 9), como

"fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de

símbolos e um campo de lutas" que constitui a dimensão mais aparente da

própria sociedade, cuja materialização se dá pelas formas espaciais.

O autor também afirma que a cidade capitalista é um espaço propício à

ocorrência de uma série de processos sociais, com destaque para a

acumulação de capital e a reprodução social. Tais processos sociais são os

responsáveis diretos pelo surgimento de funções e formas espaciais que são a

materialização de suas atividades e cuja distribuição espacial constitui a própria

organização espacial urbana (CORREA, 2005, p.36).

A reflexão do autor, assim como a cidade dentro da presente análise,

tem como foco a cidade que se desenvolveu a partir do capitalismo, tornando-

se importante compreender sua organização e evolução à luz desse modo de

produção.

2.1 ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE CAPITALISTA

A primeira questão a se considerar é que durante toda a história da

humanidade, "a cidade nunca fora um espaço tão importante, e nem a

urbanização um processo tão expressivo e extenso a nível mundial, como a

partir do capitalismo" (SPOSITO, 2005, p.30).

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Uma característica primordial da produção da cidade é a alteração da

natureza realizada a partir da ação humana. O início da história da humanidade

é marcado pelo nomadismo, ou seja, a não fixação a um lugar do território,

entretanto, Mumford (2001) ressalta que, mesmo no período paleolítico, o

homem estabeleceu dois tipos de relação com lugares de importância; a

primeira definida pela preocupação em dar aos mortos um lugar para serem

sepultados e a segunda pela relação com a caverna que, embora não tivesse

função de moradia fixa, se constituía no local de segurança para o homem,

onde se desenvolveram os primeiros rituais e expressões artísticas, que, como

destacado pelo autor, também seriam motivos para a futura fixação nas

cidades.

De acordo com Benevolo, as aldeias do período Neolítico foram as

primeiras alterações na natureza feitas pelo ser humano, que tinham por

objetivo a obtenção de alimentos através do cultivo organizado, seu depósito,

proteção dos seres humanos e animais domesticados, entre outros,

(BENEVOLO, 2007, p.16). Ou seja, as aldeias possibilitavam que o homem

obtivesse vantagens para sua sobrevivência em meio à natureza, essenciais

para que ele prosperasse. Todavia, o surgimento da cidade e conseguinte

desenvolvimento da sociedade, não foi simplesmente derivado do crescimento

das aldeias, essencialmente ligadas à agricultura. Diferente dela, estes

assentamentos tem como condição para sua existência a diversificação das

funções dos indivíduos dentro da sociedade (SPOSITO, 2005; BENEVOLO,

2007), possível a partir da existência de um excedente de alimentos produzidos

no campo, que permitiu que parte de sua população se ocupasse de atividades

não agrícolas, dando origem à "divisão social do trabalho" (SPOSITO, 2005,

p.11). Benevolo exemplifica seu surgimento:

As indústrias e os serviços já não são executados pelas pessoas que cultivam a terra, mas por outras que não têm esta obrigação, e que são mantidas pelas primeiras com o excedente do produto total. Nasce assim o contraste entre dois grupos sociais, dominantes e subalternos: mas, entrementes, as indústrias e serviços já podem se desenvolver através da especialização e a produção agrícola pode crescer utilizando estes serviços e estes instrumentos. A sociedade se torna capaz de evoluir e de projetar sua evolução. (BENEVOLO, 2007, p. 23)

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Essa dominação interclasses à qual o autor se refere é inerente ao

surgimento da cidade tanto quanto o surgimento da dualidade urbano versus

rural, que de acordo com Sposito (2005, p.15) é a manifestação clara da

divisão social do trabalho.

Segundo Sposito (2005, p. 18, 20), há uma certa unanimidade em

apontar a data do surgimento das primeiras cidades,por volta do ano 3500 a.C.

na região da Mesopotâmia. Nas cidades desse período já havia a divisão do

seu território em propriedades individuais, diferentemente do campo, e as

classes dominantes já se tornavam mais complexas, compostas pela realeza e

sacerdotes (poder político e religioso) que ocupavam a parte mais interna da

aglomeração, ou seja, seu centro. À medida que as cidades cresciam e se

tornavam capitais de impérios, ainda que pequenos, havia a ampliação de seu

papel, se tornando centro de troca e comercialização de mercadorias e,

consequentemente, em pontos de concentração de fluxos não apenas internos

como também externos.

O desenvolvimento da sociedade e a complexificação das relações

sociais, bem como da divisão social do trabalho, evoluíram nas civilizações

ocidentais ao longo da história. Na Antiguidade, as civilizações egípcia, grega e

romana evoluiriam muito as relações sociais, assim como nas orientais, cujo

início também data de antes de Cristo e cujo contato com o ocidente tardou a

ocorrer, surgiram as relações de poder, as capitais de impérios e sistemas de

regras de construção urbanística (BENEVOLO, 2007, p.58-60). Contudo,

Sposito (2005, p. 30) destaca que a cidade na Antiguidade abrigava

basicamente funções políticas e de domínio, sem destaque para a produção

em âmbito urbano, que, como veremos adiante, será primordial para o

surgimento da cidade capitalista.

O período seguinte, a Idade Média, representou um forte declínio na

vida urbana ocidental e uma ruptura profunda em sua evolução pois, conforme

afirma Benevolo (2007, p. 251), "a vida nas cidades diminui e, em muitos

casos, se interrompe". O fim do Império Romano marca o começo desta época,

considerando que, como evidenciado por Sposito, tal civilização foi a que

estendeu o fato urbano ao seu ápice na Idade Antiga, e a consequência mais

marcante de sua queda foi a desarticulação da rede urbana. Tal processo foi

reflexo da expansão da dominação bárbara que interrompeu a atividade

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comercial e resultou no declínio do papel econômico das cidades europeias,

agravada pela invasão árabe a partir do século VII d.C. (SPOSITO, 2005, p 26-

27).

Entretanto, Sposito (2005) e Benevolo (2007) concordam que após o

ano 1000, num período ainda compreendido na chamada Idade Média,

algumas cidades europeias voltam a se desenvolver e retomar seu papel de

importância a partir da reativação das atividades mercantis. Para Sposito

(2005, p. 32-33), o processo que propiciou o chamado "renascimento urbano"

foi pautado pela reativação do comércio, que minou a economia feudal e criou

as bases para a estruturação do modo de produção capitalista, possibilitando o

surgimento de uma nova classe social, cuja função era exclusivamente a do

comércio: a burguesia.

A ascensão da burguesia é entendida por Sposito como crucial para o

processo que desencadearia a conformação moderna das cidades, pois foi

esta classe que deu início ao processo da "acumulação primitiva do capital",

transformando, a partir da prática do comércio e de atividades bancárias, o

valor de uso da produção em valor de troca, numa fase chamada de

"capitalismo comercial" (SPOSITO, 2005) ou "capitalismo concorrencial"

(CORRÊA, 2005). O capitalismo então surge na cidade, que passa a ser o

meio pelo qual ele pode se reproduzir. Ao mesmo tempo em que possibilita sua

evolução, o capitalismo também transforma a cidade, que de espaço

administrativo e de domínio torna-se também depositário da riqueza monetária

auferida pelo comércio (SPOSITO, 2005, p. 34, 39).

É a partir desse período que as transformações são mais importantes

para a cidade que vivemos hoje. Segundo a autora, a cidade assumiu, no

período denominado como Idade Moderna, "uma capacidade de produção que

a diferenciava totalmente do processo de urbanização ocorrido na

Antiguidade", e as transformações em curso no processo de produção a

tornaram, ao mesmo tempo, sua manifestação e o meio pelo qual elas

poderiam se sustentar (SPOSITO, 2005, p.40). Nesse período, o capitalismo

passou a moldar a cidade de forma que seu modo de produção, baseado

inicialmente na manufatura, deu início ao trabalho assalariado e aprofundou,

como meio para seu desenvolvimento, a divisão social do trabalho. Tal

processo ganhou escala e impacto muito maiores com o surgimento da

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indústria no século XVIII e o grande aumento de contingente populacional nas

cidades por ele produzido, decorrente da necessidade de reunir força

produtiva.

Foi no contexto da grande expansão populacional e do surgimento dos

"problemas urbanos" nas cidades europeias em franca industrialização no

século XIX, que Sposito (2005, p. 60) afirma terem surgido as bases da

estrutura da cidade atual, pautada pela disputa por localizações na qual a terra

urbana já havia se tornado uma mercadoria, atendendo também à lógica do

capital, assim como a especialização funcional do uso do solo, a partir da

separação social no interior do espaço urbano. Começam a aparecer, por

exemplo, as dinâmicas de abandono do centro pelas classes altas em busca de

bairros "privilegiados" e "salubres", a remodelação destes centros para

melhorar o fluxo de trânsito e respeitar as leis sanitárias então formuladas.

Surgem os subúrbios industriais, também sob influência dessas leis e os

bairros operários, caracterizados pelos altos níveis de densidade e

uniformidade socioespacial.

Conforme o capitalismo foi se aprimorando, com a indústria cada vez

mais especializada e com o advento de tecnologias mais avançadas, que

também propiciaram uma fragmentação maior do trabalho como base desse

processo, houve uma concentração cada vez maior do capital, que, conforme

explicado por Corrêa (2005), deu origem à fase do "capitalismo monopolista".

Essa nova etapa trouxe alterações importantes para o espaço urbano e a

materialização de seus conteúdos, tornou-a mais complexa. Segundo o autor,

enquanto a fase concorrencial do capitalismo estimulou e requeria uma

proximidade de atividades, proporcionando o domínio de um centro principal

único, a fase monopolista gerou uma distribuição destas, responsável pela

descentralização espacial. Conforme Corrêa:

A descentralização torna-se um meio de se manter uma taxa de lucro que a exclusiva localização central não é mais capaz de fornecer. Neste sentido constata-se que no capitalismo monopolista há centralização do capital e descentralização espacial, diferente, portanto, do que ocorria no capitalismo concorrencial, onde a centralização espacial derivava de uma dispersão de capitais. (CORRÊA, 2005, p. 47)

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A partir deste histórico, fica compreendido que o espaço urbano

contemporâneo, dotado de alta complexidade de relações sociais e formas

espaciais, assim como suas configurações anteriores embora menos

complexas, não se constitui de forma aleatória mas é produzido pelas relações

sociais de agentes ativos, atualmente sob o domínio do modo de produção

capitalista e que este, por sua vez, pressupõe não só uma profunda divisão

social do trabalho, como também uma "divisão territorial do trabalho"

(SPOSITO, 2005, p.53). A partir desta constatação pode-se então entender as

dinâmicas a partir das quais o espaço urbano se estrutura.

2.2 ESTRUTURAÇÃO DA CIDADE

Corrêa define o espaço urbano capitalista como:

[...] fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas [...] é um produto social, resultado de ações sociais acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço.(CORRÊA, 2005, p. 11)

Tendo em vista esses aspectos, o autor destaca os principais agentes

responsáveis pela produção da cidade capitalista e os processos sociais dos

quais são promotores. Corrêa (2005, p. 11) destaca que tais "agentes

modeladores" atuam de forma complexa no espaço, em ações que derivam da

"dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de

reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que delas

emergem". Afirma ainda, que suas ações acontecem dentro um marco jurídico

não-neutro, que pode beneficiar uns em detrimento de outros; que suas

estratégias variam no tempo e espaço, influenciadas por fatores externos e

internos à eles; e que sua própria classificação, conforme descrita abaixo, tem

natureza analítica, os interesses destes agentes podem mesclar-se, uma vez

que o grande capital industrial, financeiro e imobiliário podem se integrar direta

e indiretamente. Isto posto, o autor destaca cinco principais agentes sociais:

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a) Os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; b) Os proprietários fundiários; c) Os promotores imobiliários; d) O Estado; e) Os grupos sociais excluídos.(CORRÊA, 2005, p. 12)

A atuação desses agentes no espaço urbano produz uma série de

dinâmicas que geram diferentes rebatimentos espaciais que interessam, em

maior ou menor grau, na presente análise, considerando no entanto que todos

eles atuam na cidade, em sua totalidade ou por quaisquer recortes que se

façam, atuando também, por consequência, na nossa área de estudo.

Corrêa (2005, p. 13-31) destaca a ação dos proprietários dos meios de

produção em instalar amplas áreas fabris na periferia da cidade, isoladas da

área residencial de alta renda, mas próximas às residências dos operários, que

ocorre muitas vezes com o auxílio do Estado na desapropriação de terras e/ou

aprovação de legislações que beneficiem tal ocupação. O interesse dos

proprietários fundiários visa à extração de renda da terra, a partir de distintas

estratégias. Quando esta localiza-se na periferia, através da produção de

loteamentos populares distantes do centro e sem amenidades, dotado, em

geral, de infraestrutura precária. Já a atuação dos promotores imobiliários na

produção de habitações, entre outros conteúdos, atinge primeiramente as

classes altas (solváveis) e, num segundo plano, as classes baixas (não

solváveis), sendo a segunda alternativa, frequentemente ligada à obtenção de

ajuda do Estado para que possam garantir a recuperação mais rápida e o lucro

de seus empreendimentos. O Estado atua na provisão de infraestrutura, na

flexibilização de leis ou regulamentos que viabilizem suas ações, ou também

como promotor imobiliário para a população de baixa renda, dando conteúdos

às periferias. E por fim, os grupos sociais excluídos, que segundo o autor,

necessitam se vincular a um dos agentes, fundiários, imobiliários e/ou Estado,

para garantir sua localização no espaço urbano. Quando esta vinculação se

inviabiliza, se tornam modeladores da cidade, realizando a produção do espaço

à revelia dos outros agentes e em paralelo às demais dinâmicas, na forma de

favelas.

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Como veremos mais detalhadamente no histórico de ocupação do

Pinheirinho, todas essas dinâmicas incidiram sobre a área de estudo e nas

suas proximidades, moldando seu espaço e definindo seus conteúdos.

No que diz respeito aos processos sociais desempenhados pelos

diversos agentes produtores do espaço urbano, Corrêa afirma que para que

estes gerem formas espaciais, realizam-se o que ele denomina como

"processos espaciais", conforme classifica:

Os processos espaciais e as respectivas formas são os seguintes: a) Centralização e a área central; b) Descentralização e os núcleos secundários; c) Coesão e as áreas sociais; d) Segregação e as áreas sociais; e) Dinâmica espacial da segregação f) Inércia e áreas cristalizadas.(CORRÊA, 2005, p. 37)

Embora o caráter do presente trabalho permita uma reflexão mais

aprofundada acerca dos dois primeiros processos acima relacionados, em

especial o de descentralização e formação dos núcleos secundários (os

subcentros), é importante resgatar a conceituação de todos, considerando que

estes não são excludentes entre si e em geral ocorrem simultaneamente no

espaço (CORRÊA, 2005, p. 37).

A área central, fruto do processo de centralização, aprofundados no

subcapítulo seguinte, conforma o centro principal de uma aglomeração urbana.

O adjetivo "principal" é destacado por Villaça (2001, p. 237), que alerta para o

fato de que somente pode haver um centro principal numa determinada

aglomeração humana, sendo qualquer outro, por mais desenvolvido que seja e

se aproxime da importância do principal, subordinado a ele (VILLAÇA, 2001, p.

245). Corrêa (2005, p. 39) esclarece, que a principal caraterística do centro é

sua acessibilidade, que num contexto capitalista leva ao estabelecimento de

grande variedade de atividades comerciais destinadas a atrair um mercado

consumidor crescente de seus produtos industriais, dinâmica que se intensifica

sobretudo a partir da segunda metade do século XIX. Dessa forma, o autor

estabelece uma relação de sincronia entre o emergir do capitalismo em sua

fase plenamente industrial e o reforço da importância das áreas centrais.

O processo de descentralização e formação de núcleos secundários,

está relacionado à uma dinâmica dupla, de repulsão do centro, a partir de

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fatores que passam a dificultar a permanência de certas atividades, ao mesmo

tempo em que áreas não centrais passam a exercer uma atração para a

instalação de atividades antes restritas ao centro (CORRÊA, 2005, p. 45,46).

Os subcentros são resumidos por Villaça (2001, p. 293) como "uma réplica em

tamanho menor do centro principal, com o qual concorre em parte sem,

entretanto, a ele se igualar" e cujas características compreendem possuir "os

mesmos requisitos de otimização de acesso apresentados anteriormente para

o centro principal", com a ressalva de que "o subcentro apresenta tais

requisitos apenas para uma parte da cidade, e o centro principal cumpre-os

para toda a cidade."

Prosseguindo, tem-se o processo de coesão, que corresponde ao

movimento de atividades que as leva a localizar-se juntas, sendo sinônimo de

economias de aglomeração. Como consequência deste processo emergem as

áreas especializadas. (CORRÊA, 2005, p.56). De acordo com o autor tais

áreas podem aparecer inseridas na área central e até mesmo nos subcentros

(CORRÊA, 2005, p. 57), entretanto nunca podem expressar a totalidade de

nenhum deles, justamente por seu caráter especializado em vez de

diversificado. Nesse sentido, ela se torna importante para nossa análise, pois

pode-se dizer que uma área central ou de subcentro podem, mas não

necessariamente são, um amálgama de áreas especializadas que em conjunto,

aí sim, se tornam diversificadas. Corrêa (2005, p. 58) ainda afirma que este

processo, quando ocorre fora da área central e dos subcentros é responsável

pela formação de ruas ou distritos especializados, também dotados de boa

acessibilidade.

Em seguida, Corrêa destaca o processo de segregação e suas áreas

sociais, que se refere à localização residencial das diferentes camadas da

sociedade no espaço urbano, muito embora também se vinculem às áreas

industriais ou de comércio e serviços (CORRÊA, 2005, p. 59). Com base no

conceito de "áreas sociais" de Shevky e Bell 1 descritas pela tendência a

possuir uniformidade de sua população em termos de "status socioeconômico

(renda, status ocupacional, instrução, etc.), urbanização (mulheres na força de

1 SHEVKY, E., BELL, L. In: Mayer, H. & Kohn, C. F. (orgs.). Readings in urban geography. Chicago: University of Chicago, 1959.

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trabalho, fase do ciclo de vida [...]) e etnia" (CORRÊA, 2005, p. 60). Esse

processo origina diferentes bairros, homogêneos internamente e com alta

disparidade entre si (CASTELLS, 1983) e segregados, que de acordo com

Corrêa se constituem numa expressão espacial das classes sociais. A esse

respeito, Villaça (2001) destaca que as classes mais altas tem a primazia pela

escolha da sua localização residencial, podendo optar por sítios mais

aprazíveis, áreas altas e proximidade com o centro, física ou de acesso à ele.

Ainda sobre a localização dos bairros residenciais das diferentes

classes sociais, é importante destacar a configuração dessas áreas para as

classes mais baixas, uma vez que no Pinheirinho esta tipologia representou por

um longo período de tempo o principal tipo de ocupação. Villaça (2001, p. 225)

considera que, ainda que as moradias de classe baixa possam acontecer

próximas das áreas mais ricas (em Curitiba esse processo não é tão

significativo como em outras grandes cidades brasileiras), a população das

classes mais baixas ocupa sobretudo as periferias afastadas da cidade,

produzidas e marcadas por vários processos como a dificuldade de acesso,

físico e econômico ao sistema de transportes, que é oferecido na sua forma

mais precária, as crescentes distâncias, em tempo e quilômetros, das suas

residências à área central, a precariedade das condições de urbanização

destes espaços, entre outros.

Na tentativa de explicar essa dinâmica de segregação residencial,

diferentes pesquisadores em épocas distintas da urbanização desenvolveram

três modelos (Figura 1) que simplificam seu rebatimento no espaço urbano: o

de Kohl (1841), de Burgess (década de 1920) e de Hoyt (1939). Estes modelos

representam a cidade pré-industrial; a cidade sob o contexto de fuga das

classes altas para a periferia e ida das baixas para o centro numa visão da

cidade norte-americana; e a cidade baseada no deslocamento em setores, no

qual as classes altas tem o poder de opção e formam um setor próprio radial ao

centro (CORRÊA, 2005, p.66-69). Villaça (2001) e Corrêa (2005) concordam

que dentre estes, o modelo de Hoyt é o que mais se assemelha com a

estruturação da cidade brasileira. Villaça destaca sua utilidade, mas adverte

que desse modelo não devem ser "superestimados sua finalidade e seu

alcance" (VILLAÇA, 2001, p. 13)

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FIGURA 1 - MODELOS DE SEGREGAÇÃO ESPACIAL FONTE: CORRÊA (2005) Adaptado pelo autor (2014)

Por último Corrêa (2005, p.76) classifica o processo de inércia e suas

áreas cristalizadas, representadas pela permanência de determinados usos em

certas áreas mesmo após o fim dos fatores que os levaram a se estabelecer ali

inicialmente. Permanência que refere-se à manutenção não apenas das

formas, mas também de seus conteúdos e que é um reflexo da impossibilidade

de realocação causada por custos altos; da criação de novos fatores de

permanência; da inexistência de conflitos com os usos adjacentes; ou da

obtenção, por parte da forma e seu conteúdo, de forte simbolismo e carga

sentimental para a população (CORRÊA, 2005, p. 76).

Tendo sido elucidados os papéis dos agentes sociais da conformação

do espaço urbano e a ocorrência conjunta dos fenômenos na estruturação da

cidade, no próximo tópico será apresentada uma análise mais aprofundada dos

processos de centralização e descentralização que, embora já conceituadas

anteriormente, merecem maior destaque pela sua importância para o

entendimento da área que é objeto deste trabalho.

2.3 CENTRALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE CENTROS

O centro ou a área central de uma aglomeração urbana pode ser

definido como o local decorrente do processo de concentração das principais

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atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada, dos terminais

inter-regionais e intra-urbanos, do lazer e dos valores materiais e simbólicos da

cidade", (SPOSITO, 2004; CORRÊA, 2005). Tais características, como

veremos a seguir, também podem estar, guardadas as devidas proporções,

presentes nos subcentros, sendo portanto ligadas à centralidade exercida por

estes espaços. Assim, uma discussão sobre o fenômeno de surgimento de

centros na estrutura urbana, pressupõe não apenas sua caracterização

funcional e formal, mas também passa pelo entendimento do conceito de

centralidade urbana.

Segundo Tourinho (2004), a questão dos centros e das centralidades

surgem como forma de estudo e reflexão a partir da segunda metade do século

XX. Antes disso era entendido apenas como um objeto de planos e projetos na

busca por soluções práticas dos problemas nele identificados (como por

exemplo as intervenções urbanas de fundo sanitarista ocorridas entre os

séculos XIX e XX). Pilotto (2010, p. 78) afirma que o conjunto de disciplinas nas

quais se concentrou o estudo acerca dos centros e centralidades se

preocupavam, no início, em defini-los em sua essência, função ou delimitação

espacial, que partiam, conforme afirmado por Tourinho, de uma ideia pré-

estabelecida, "(...) em detrimento da análise do que realmente era apresentado

pelo centro em questão, isto é, como realidade física construída no tempo por

uma sociedade determinada" (TOURINHO, 2004, p.136). Ainda de acordo com

Tourinho (2004), essas concepções passaram a mudar a partir do pensamento

crítico de autores como Mark Gottdiener, Manuel Castells e Henri Lefebvre,

cujas abordagens compreendem o centro no âmbito do "processo de produção

do espaço".

O pensamento desenvolvido por tais autores é fundamental na

discussão desenvolvida por Villaça, que defende, de forma similar à citada

anteriormente, que são cometidos inúmeros equívocos a respeito da

compreensão da natureza de um centro urbano, a partir do que o autor chama

de uma “distorcida ideia de um espaço preexistente”, (VILLAÇA, 2001 p.237).

Esses equívocos ocorrem porque deixam de considerar que o centro é fruto de

um processo espacial maior, que conforma ao mesmo tempo o não-centro,

como se houvesse uma precedência do centro em relação aos demais espaços

de uma aglomeração urbana. Além disso, de acordo com o autor, por se

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tratarem de processos sociais, dinâmicos por natureza, “nenhuma área é (ou

não é) centro; torna-se ou deixa de ser centro”, conforme o autor:

O centro de um círculo não preexiste em relação a ele; enquanto ponto sim, mas enquanto centro não. Um ponto somente torna-se centro se e quando houver o círculo. Uma capela pode preexistir em relação ao centro de uma cidade, mas ela somente se tornará centro ou parte do centro se e quando surgir uma cidade ou povoado em torno dela que faça dela seu centro, isto é, se vier existir algo do que ela se torne centro Muitas capelas foram construídas no Brasil colonial e não se tornaram centro de nada. (VILLAÇA, 2001, p. 238)

Mesmo a respeito de cidades novas, ou projetadas, Villaça defende

sua posição, utilizando o exemplo de Brasília:

Não se pode dizer que o centro de Brasília, por exemplo, existia antes de Brasília, só por ter sido ele definido abstratamente numa mapa ou ponto do território antes da constituição da cidade. Pode-se dizer que ali, naquele ponto do território, esperava-se que um dia, caso realmente a cidade se desenvolva conforme previsto, desenvolva-se seu centro. Isso, entanto, ocorrerá somente se e quando a cidade efetivamente vier a existir e, caso isso ocorra, o centro não será mais um ponto do mapa ou do território; será um conjunto vivo de instituições sociais e de cruzamento de fluxos de uma cidade real. (VILLAÇA, 2001, p. 238)

Villaça (2001) afirma que a aglomeração se justifica pelo impulso do

ser humano em poupar esforços físicos e mentais envolvidos no trabalho, que

somente se desenvolve a partir da concentração dos homens e dos meios de

trabalho. Entretanto, o autor considera que: “toda aglomeração, desenvolvida

precisamente para gerar a aproximação, gera afastamento. A aglomeração em

um único ponto é impossível, logo, alguém será obrigado a se afastar”

(VILLAÇA, 2001, p. 238) e que a partir do momento que uma sociedade se

organiza para desenvolver atividades comunitárias e criar instituições comuns,

surgem os deslocamentos regulares necessários para contemplar tais

atividades. Dessa forma, “o processo contraditório entre a necessidade de se

aglomerar e ao mesmo tempo se afastar de um ponto no qual todos gostariam

de se localizar faz surgir o centro da aglomeração, neste ponto”. (VILLAÇA,

2001, p.238-239).

É dessa maneira que surge a área central, constituindo o ponto de

concentração, convergência e divergência de fluxos diversos da cidade, sendo

o nó do sistema de circulação, não coincidindo, necessariamente, com o centro

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geográfico e/ou com o sítio histórico da cidade (SPOSITO, 1991apud ALVES e

FILHO, 2009; VILLAÇA, 2001). Nesse sentido, Sposito (2001) também ressalta

que a discussão acerca do centro e da centralidade não pode ficar restrita à

localização das atividades comerciais e de serviços, para ser considerada a

partir das relações entre essa localização e os fluxos que ela produz e que a

sustentam. Desse modo, os fluxos permitem a apreensão da centralidade,

posto que é por meio dos nódulos de articulação intra e interurbana que ela se

revela.

Sobre a natureza das articulações interurbanas com a centralidade,

Corrêa (2005, p. 38) demonstra que o centro principal da cidade também se

define, além da sua posição interior ao espaço de sua própria aglomeração,

pelas "externalidades" que ele possui, ou seja, de sua importância não apenas

pela sua facilidade de acesso intraurbano, mas também entre diferentes

aglomerações urbanas e de fora para dentro dela, em geral.

Essas externalidades aparecem na gênese da área central, onde a

importância dos fluxos tem papel fundamental no seu surgimento sob o

esquema centralizador dos meios de transporte sob trilhos - trens e bondes -

que dominaram a locomoção urbana, ao menos a coletiva, entre meados do

século XIX e do XX (CORRÊA, 2005, p.39). O acesso às fontes de matérias

primas e ao mercado consumidor se torna privilegiado onde ocorre uma

concentração dos terminais de transporte situados, justamente, na área central,

gerando uma proximidade e criando as chamadas economias de aglomeração.

Quer considerado dentro do espaço de sua própria aglomeração

urbana ou na sua relação com outras aglomerações, o centro se constitui então

no ponto que minimiza o somatório dos deslocamentos de toda a comunidade

(VILLAÇA, 2001), no local que permite maior acessibilidade ao maior número

de indivíduos. Contudo, conforme Pilotto (2010), numa sociedade de classes,

onde há diferenças de renda, poder político e de meios de transporte, haverá

distintas condições de acessibilidade aos diferentes pontos da cidade,

especialmente ao centro, que refletem em diferentes condições de emprego de

tempo.

Surge a partir desta característica a disputa pelas diferentes

localizações dentro da cidade. Sob a ótica da produção capitalista, Corrêa

(2005) destaca que as vantagens locacionais do centro, fazem com que o

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preço da terra nele seja mais elevado e que haja uma seleção de atividades

que podem nele se instalar. Portanto, conforme atesta Villaça (2001), ocorre

uma disputa pelo controle que dá origem ao valor material dos centros das

aglomerações, assim como de todas as “localizações” dentro da cidade, que

determina o preço da terra, que no caso do centro principal expressa os valores

mais elevados, pois representa a cristalização máxima do trabalho desprendido

pela sociedade para construir aquela aglomeração.

Entretanto, não é somente a partir do seu valor material que se

expressa a centralidade. O domínio de sua área, das suas relações com as

demais, da acessibilidade a ele, exercido via de regra pelas classes

dominantes, se reflete também no domínio simbólico que se realiza na relação

interclasses conforme afirma Villaça:

Dominar o centro e o acesso a ele representa não só uma vantagem material concreta, mas também o domínio de toda uma simbologia. Os centros urbanos principais são, portanto (em que pesem suas recentes decadências), pontos altamente estratégicos para o exercício de dominação.(VILLAÇA, 2001, p. 244)

No mesmo sentido, Tourinho (2004) afirma que o centro emerge como

um espaço qualificado, além do âmbito funcional, fortemente marcado pelos

aspectos simbólicos e formais que possui, na força de sua continuidade

temporal e na permanência de seus aspectos coletivos, determinando sua

capacidade de evocar uma imagem que o identifica enquanto tal. Villaça

reforça esse pensamento afirmando que “A importância que as classes

dominantes de todas as sociedades têm conferido ao centro de suas cidades é

sabidamente muito grande” e “Há fortes razões para acreditarmos que a

proximidade do centro foi valorizada pelas elites urbanas em vários períodos da

história” (VILLAÇA, 2001, p. 247).

A partir destas considerações podem ser elencados quatro elementos

que resumem as características fundamentais do centro e da própria

centralidade, que se complementam e impulsionam a formação e continuidade

destes espaços:

a) A convergência de fluxos,materiais e imateriais;

b) A especialização de atividades;

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c) A otimização do tempo de deslocamento;

d) Valores materiais (preço da terra) e imateriais (simbolismo) elevados

em relação ao restante da cidade.

Levando em conta que estes fatores também estão presentes nos

subcentros, em maior ou menor grau e em espaços temporais distintos, torna-

se importante investigar as características que marcam especificamente a

descentralização, e que papel este processo desempenha na reestruturação da

cidade.

2.4 DESCENTRALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DE SUBCENTROS

O processo de formação de subcentros decorre do movimento de

descentralização, presente com a expansão e o crescimento das aglomerações

urbanas. Neste aspecto, Sposito (2004) chama a atenção para o fato de que o

tamanho da cidade determina a distância do centro às suas áreas periféricas,

definindo também seu grau mais ou menos elevado de homogeneidade. É

justamente no processo de formação de distintos conteúdos no espaço urbano,

lembrando aqueles classificados por Corrêa e definidos anteriormente, que

ocorre a complexificação da estrutura urbana, na qual a formação de

subcentros tem importante papel.

Conforme afirmado anteriormente, há uma desigualdade na condição

de se acessar o centro da cidade, derivada das diferentes condições das

classes sociais. Villaça (2001) destaca que melhores condições de

acessibilidade ao centro refletem num melhor controle do tempo nos

deslocamentos até ele. O autor chama a atenção para o uso da palavra

controle, afirmando:

O centro (...) surge em função de uma disputa: a disputa pelo controle (não necessariamente minimização) do tempo e energia gastos nos deslocamentos humanos. Só nos casos mais simples e elementares de aglomeração essa disputa se dá pela minimização dos tempos de deslocamento. Á medida que a aglomeração e a sociedade se tornam complexas, é possível que famílias, grupos ou classes optem por

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aumentar os tempos de deslocamento (...) mas isso ocorre trocando-se aumento de tempo por alguma vantagem (um lote grande, por exemplo). O que as classes sociais procuram – e do que a classe dominante não abre mão – é a possibilidade de controle do tempo de deslocamento, possibilidade de opção.(VILLAÇA, 2001, p. 239)

Ou seja, Villaça destaca que a proximidade física do centro só é

imprescindível para as classes mais altas numa sociedade ou aglomeração

menos complexa. A dispersão em grandes aglomerações se dá, entre outros

motivos, em virtude de fatores que se tornam importantes para as classes

altas, que não a proximidade do centro, através de instrumentos que ainda as

mantenham no controle de seus deslocamentos na cidade. Tais motivos,

contudo, não interessam para as classes altas apenas no que tange às suas

novas localizações residenciais. Por serem compostas pelos proprietários dos

meios de produção, do grande comércio e dos serviços, as classes dominantes

também redefinem sua localização, conforme novas lógicas de acumulação do

capital.

Baseado no trabalho de Colby2 (1959), Corrêa (2005) explica as razões

para a descentralização em duas partes. Primeiramente, são elencados fatores

que passaram a representar uma força de repulsão da área central, surgidas a

partir da necessidade das empresas em eliminar os efeitos negativos causados

pela excessiva centralização, chamada deseconomias de aglomeração. Corrêa

afirma que a área central tem sofrido este efeito, desde a década de 1920, e

sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, quando instaura-se um

crescimento espacialmente descentralizado, que inclui a mudança de

atividades antes estabelecidas no centro para fora dele, e o surgimento de

atividades criadas fora das áreas centrais. Corrêa afirma que este processo se

materializa em decorrência de vários fatores:

a) Aumento constante do seu preço da terra, impostos e aluguéis, afetando certas atividades que perdem a capacidade de se manterem localizadas na Área Central; b) Congestionamento e alto custo do sistema de transporte e comunicações, que dificulta e onera as relações entre firmas;

2 COLBY, C. C. Centrifugal and centripetal forces in urban geography. In: Mayer, H. & Kohn, C. F. (orgs.). Readings in urban geography. Chicago: University of Chicago, 1959.

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c) Dificuldade de obtenção de espaço para expansão 3, que afeta particularmente as indústrias em crescimento; d) Restrições legais implicando a ausência do controle do espaço, limitando, portanto, a ação das firmas; e) Ausência ou perda de amenidades. (CORRÊA, 2005, p.45-46)

Por outro lado, ocorre uma menor rigidez locacional de atividades

comerciais e de serviços na cidade, que aliada ao crescimento da aglomeração

com aumento da área disponível para ocupação, produziram fatores que

geraram atratividade de áreas não centrais:

a) Terras não ocupadas, a baixo preço e impostos; b) Infra-estrutura implantada c) Facilidades de transporte d) Qualidades atrativas do sítio, como topografia e drenagem; e) Possibilidade de controle do uso de terras; f) Amenidades. (CORRÊA, 2005, p. 46)

No entanto, Corrêa (2005, p. 49-50) também chama a atenção para a

seletividade das atividades que podem se descentralizar, dividindo-as

conforme: o caráter de sua atividade (indústrias tendendo a se descentralizar

mais que o comando dos negócios); os termos temporais de sua ocorrência

(primeiro o deslocamento das atividades que atendem a demandas mais

frequentes para depois haver a de atividades menos solicitadas, ao exemplo

dos clínicos gerais versus médicos especialistas); o caráter exercido pela

divisão do trabalho (atividades complementares de uma mesma empresa se

deslocam antes quando maiores consumidoras de espaço, em vez das

menores, que se mantém por mais tempo no centro); o aspecto do tamanho da

cidade e de suas peculiaridades do sítio urbano, do sistema de transportes,

renda média da população; e de territórios segregados, pressupondo a ida do

setor terciário primeiro aos bairros de alta renda, em razão de seu alto

consumo, ao contrário das atividades industriais, estabelecidas próximas às

classes baixas, aproveitando a proximidade de força de trabalho e sobretudo

ao longo de grande eixos e vias de tráfego.

O deslocamento das atividades do centro para subcentros é, portanto,

dependente de novas condições que facilitem sua dinâmica mas também

3Considerando que uma característica das Áreas Centrais é sua limitada escala horizontal, proporcionando uma área de curta extensão, frequentemente passível de ser percorrida à pé (CORRÊA, 2005, p. 42)

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seletivo. Com efeito, a busca constante dos proprietários dos meios de

produção e sua necessária constituição de novas formas comerciais supõe a

busca por atingir novos mercados, não antes de atender às classes mais altas,

englobando posteriormente então setores mais populares. Partindo do princípio

que o crescimento da cidade é dado, em grande escala, a partir das novas

localizações da moradia, afastadas do centro principal, surge, portanto um

mercado consumidor nessas áreas, que viabiliza a relocalização de algumas

atividades comerciais nascidas já descentralizadas (CORRÊA, 2005). Ao

exemplificar o deslocamento residencial de setores das diferentes classes,

Villaça (2001) afirma que no Brasil, as classes altas e médias representam uma

parcela muito limitada da população, em oposição à cidade norte-americana,

por exemplo. Ou seja, é grande a participação do contingente populacional de

baixa renda na periferia, sendo responsável por ampliar o território ocupado

pela cidade, em especial no contexto brasileiro aliada à acessibilidade precária

ao centro principal que ainda se verifica, mesmo com a evolução das formas de

transporte.

Esta dinâmica ajuda a explicar a formação de subcentros populares, no

atendimento às demandas desta classe pelo acesso ao comércio e serviços

nas proximidades de suas moradias. Como afirmado por Corrêa, as atividades

podem já nascer descentralizadas. Considerando também que o atendimento

às classes mais altas e o controle do centro principal por estas classes é

prioritária ao capital, ocorre um processo de surgimento de atividades

comerciais para as classes populares, baseados na lógica da necessidade.

Tomando a conceituação tratada até aqui como base, e as conclusões

tiradas como hipóteses, o capítulo seguinte estuda a formação do subcentro do

Pinheirinho.

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3. HISTÓRICO DE FORMAÇÃO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO Os processos socioespaciais que ocorrem atualmente no Pinheirinho e

que nos permitem tratá-lo como um subcentro, especificamente de caráter

popular, encontram explicação no histórico de ocupação da área onde ele se

localiza. O presente capítulo pretende, portanto, compreender a formação do

subcentro do Pinheirinho, destacando os processos socioespaciais e as

tomadas de decisão que promoveram por muito tempo a hegemonia do centro

tradicional.

Para tanto, será apresentado o histórico de ocupação do Pinheirinho,

investigando as raízes de sua localização, seu processo de urbanização e os

fatores cruciais para o estabelecimento dos aspectos socioespaciais

característicos.

Por fim, a partir de um histórico dos planos diretores de Curitiba,

explicita-se os momentos nos quais a formação de uma estrutura urbana mais

complexa foi enfrentada, com o reconhecimento da existência de novas

centralidades, com o foco para o tratamento dispensado ao Pinheirinho,

esclarecendo não só a formação, mas também a consolidação de seu

subcentro.

3.1 OCUPAÇÃO DA REGIÃO DO PINHEIRINHO

A instalação de ampla área industrial no Pinheirinho e, de forma

notável a partir dos anos 1970, na CIC; a constituição de loteamentos de baixo

custo nas terras dos proprietários rurais a partir da década de 1960, a ação dos

promotores imobiliários na construção de empreendimentos que, tirando

proveito de uma legislação favorável presente ao redor da via estrutural

propiciaram a verticalização, ainda que fracamente e de forma pontual, do

subcentro do Pinheirinho; a construção de conjuntos habitacionais promovidos

pelo Estado, sobretudo a partir do fim década de 1970 e início de 80, a

implantação de infraestrutura estatal concretizada pelo terminal urbano do

Pinheirinho em 1979 e a Rua da Cidadania nos anos 1990; e a invasão de

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áreas e o processo de ocupações irregulares em parcelas de terra do entorno

já a partir da década de 1970, são exemplos diretos das dinâmicas explicitadas

por Corrêa (2005) que se podem identificar no Pinheirinho.

Para a análise do histórico de ocupação da região que viria a se

configurar no subcentro do Pinheirinho, se faz necessário, no entanto, tecer

algumas considerações sobre o recorte espacial pesquisado. Como afirmado

anteriormente, o subcentro do Pinheirinho tem uma área de influência que não

corresponde apenas ao bairro Pinheirinho, mas sim, a uma região mais

abrangente, que inclui bairros vizinhos, com destaque para o Capão Raso4.

Assim sendo, a pesquisa sobre as origens da ocupação da região priorizou os

dois bairros citados, considerados os que concentram a maior parte dos

processos fundamentais para explicar a dinâmica hoje presente.

A região que hoje abriga o subcentro do Pinheirinho começou a ser

ocupada aproximadamente dois séculos após a ocupação da área central de

Curitiba. Segundo Fenianos (2000), os primeiros registros oficiais datam do

início do século XIX, e se referiam à área como Capão do Alto, que depois

também ficou conhecida como Capão dos Porcos, graças às criações de

suínos que lá existiam. Na mesma época, o Capão Raso era conhecido como

Fazenda dos Macacos, em referência aos animais que se podia encontrar nas

áreas de vegetação existentes à época. Em comum, estas áreas eram

compostas por vegetação rasteira com a presença de áreas de mato isoladas,

os chamados capões, e pinheiros espalhados, sobretudo nas proximidades de

onde viria a ser o bairro do Pinheirinho. (FENIANOS, 2000, p. 9,17)

Durante muito tempo, a ocupação foi marcada basicamente pela

presença de fazendas e suas famílias proprietárias, que foram decisivas para o

desenvolvimento inicial local. Fenianos (2000) aponta que, no início da

ocupação, a região era dividida entre poucas famílias, com destaque para a

Claudino, estabelecida na Fazenda dos Macacos e a Lourenço, localizada no

Capão do Alto. Num relatório da Câmara Municipal sobre as propriedades

rurais de Curitiba, datado de 1862, aparece o nome da Fazenda Pinheirinho, de

propriedade da família Lourenço, inserida no Capão do Alto, que ajudaria a

consolidar o futuro nome da região. As famílias Lourenço e Claudino se uniram

4 A delimitação atual dos bairros de Curitiba ocorreu apenas em 1975 através do decreto nº 774, que dividiu a cidade em 75 bairros. (IPPUC, 1997, p. 63)

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através do casamento e suas propriedades passaram a ser divididas nos anos

seguintes. Conforme Fenianos relata:

Em 1876, um dos membros desta família, Josefa Claudino Machado, se casou com um dos herdeiros de Antônio Lourenço dos Santos, Teodoro Lourenço dos Santos. Com a morte do esposo, pouco tempo depois, Josefa casou-se de novo, desta vez com um português chamado Pedro Ferreira da Rocha, que comprou grande parte das terras dos Lourenço. Em seguida, chegaram Pierre e Emanuel Voluz, pai e filho respectivamente, que adquiriram uma área da fazenda. A Fazenda Pinheirinho, a partir de então, passou a ser dividida entre os Ferreira da Rocha, os Lourenço e os Voluz. (FENIANOS, 2000, p. 18)

O ano de 1885 registraria, ainda de acordo com o autor, a chegada da

família de imigrantes italianos Gasparin, que fundaram no Capão Raso uma

fábrica de barricas e um comércio. Os Voluz, de origem suíça,que tinham vindo

com o intuito de instalar nas suas terras uma fábrica de vinho, passaram a

produzir o vinho tinto Pinheirinho na primeira década do século XX, mesma

época em que Antônio Claudino fundou um pequeno núcleo comercial

chamado Cruzeiro da Bela Vista, para atender viajantes e tropeiros que

costumavam passar pelo local, que já era conhecido como Campo do

Pinheirinho, conforme demonstra o mapa de Curitiba de 1915. (Figura 2).

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FIGURA 2 - MAPA DE CURITIBA DE 1915 ONDE APARECE A REGIÃO DO "CAMPO DO PINHEIRINHO" FONTE: IPPUC (2014)

Esta época marcou, portanto, o início das atividades comerciais no

local, normalmente instaladas à margem dos caminhos que cortavam a região

e que visavam atender, além da pequena demanda dos moradores, o fluxo de

viajantes que por ali circulavam. Conforme relatado por PMC:

Embora distante do centro urbano, tendo como ligação com Curitiba estradas nem sempre facilmente transitáveis, o Pinheirinho contou com atividades comerciais desde fins do século XIX. [...] Ferreiros, tanoeiros, armazéns de secos e molhados, barricaria e até uma fábrica de vinhos, movimentaram economicamente a região antes mesmo da década de 1950, quando se deu início aos primeiros loteamentos.(PMC, 1996, p. 59)

Conforme evidenciado em PMC (1996, p. 52), a região do Pinheirinho,

por sua localização geográfica, constituiu-se desde cedo em ponto de

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passagem para tropas e viajantes que se deslocavam em direção ao Sul, bem

como aos que rumavam para São Paulo. Os tropeiros costumavam estabelecer

pouso nas imediações da sede da Fazenda Pinheirinho e, posteriormente, na

propriedade de Antônio Claudino. O fluxo era feito principalmente pela estrada

conhecida como Estrada do Umbará, ou de Tatuquara, ou ainda Caminho do

Tietê (hoje conhecida como Rua Nicola Pellanda) todas com o nome em alusão

às povoações antigas do extremo sul de Curitiba, algumas das quais hoje

correspondem a bairros da cidade, cuja ligação com o centro também passava

pelo Capão Alto.

Já o escoamento da produção agrícola da região para o centro de

Curitiba era realizado por caminhos abertos pelos próprios fazendeiros, de

forma precária e independente até o centro, ou primeiramente até o Portão e

dali para o centro (PMC, 1996, p.52). Assim como o Caminho do Tietê, várias

dessas rotas correspondem a atuais ruas, como a Olho d'água, por onde eram

conduzidas as criações de suínos, conhecida hoje como a via rápida André

Ferreira Barbosa e o Carrerão dos Pretos, principal via de acesso ao núcleo na

época que se transformou na atual avenida Winston Churchill. (NO

PASSADO..., 1991).

Nos anos 1940, o transporte público também era muito precário,como

ressalta PMC (1996) através de depoimentos de antigos moradores, afirmando

que só havia uma linha de ônibus que servia a região, vinda do Umbará. Para ir

ao centro da cidade, os moradores frequentemente se sujeitavam a percursos

a pé ou de charrete até o Portão ou Novo Mundo, de onde era possível utilizar

os bondes para o centro.

Até a década de 1950 ocorreram poucas mudanças no perfil de

ocupação e na infraestrutura da região (PMC, 1996; FENIANOS, 2000), que

permaneceu composta basicamente por fazendas e poucos moradores, com

destaque para os descendentes das famílias pioneiras. Na década de 1920,

parte das terras da família Claudino foi vendida ao Exército, que tinha interesse

em utilizá-las em razão de suas áreas de campo aberto, favoráveis ao

treinamento militar (FENIANOS, 2000, p. 21-22). De acordo com PMC (1996,

p.58), o terreno passou então a seu utilizado regularmente como campo de

provas e acampamento, fazendo com que os soldados passassem a integrar a

vida local. Todavia, o quartel neste terreno foi oficializado somente em 1975,

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após o Exército deixar suas instalações na praça Rui Barbosa, no centro de

Curitiba. No início dos anos de 1940 houve a implantação da capela de Santo

Antônio, que possibilitou que os moradores não precisassem mais se deslocar

a outros bairros para seus eventos religiosos. Em 1946 ocorreu a instalação do

primeiro posto de combustível, também de nome Santo Antônio, e em seguida

foi construído um hotel no mesmo terreno, incrementando as opções de

comércio e serviço na região. (FENIANOS, 2000, p.23)

A partir da década de 1950 dois fatores concorreram para transformar

de forma drástica e permanente seu perfil:a construção da rodovia BR-25 e o

início da implantação de loteamentos residenciais nas terras pertencentes às

fazendas (PMC, 1996; FENIANOS, 2000). O primeiro, um projeto do governo

de Juscelino Kubitschek que visava a interligação nacional, foi fundamental

para atrair infraestrutura para a região, sobretudo a de transporte coletivo,

como destacado por PMC:

[...] sua abertura criou imediatamente um foco para o desenvolvimento do Pinheirinho, aumentando o número de linhas que passaram a servir a região e ainda garantindo o crescimento da mesma durante o processo de loteamento das propriedades rurais. (PMC, 1996, p. 54)

A rodovia também contribuiu para uma integração mais definitiva do

Pinheirinho com a área central de Curitiba no que se refere à percepção

popular sobre a mesma,como observado no relato de um morador da época:

Em 1954 (grifo no original), antes da construção da BR, quem vinha de Porto Alegre, de Joinville, saía em São José dos Pinhais. [...] Então, a região sul só se conhecia até onde hoje é o viaduto da Marechal, onde tinha uma placa dizendo "Curitiba, cinco quilômetros".(PMC, 1996, p. 54)

Os loteamentos residenciais surgiram nesse contexto, por iniciativa dos

descendentes e pessoas ligadas diretamente às famílias pioneiras, como a

Lourenço, a Voluz e a Claudino. O processo de implantação dos loteamentos,

iniciado nos anos de 1950, se acelerou a partir dos anos de 1960, conforme

5 A rodovia BR-2 corresponde à rodovia denominada atualmente como BR-116. Com a construção do Contorno Leste na Região Metropolitana de Curitiba na segunda metade da década de 1990, o trecho da BR-116 entre os bairros do Pinheirinho e Atuba passou a fazer parte da BR-476. Recentemente, este trecho foi repassado da União para o município, para fins da implantação da Linha Verde, tornando-se uma via urbana.

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relatam moradores da época. Ainda segundo tais relatos, foi também nesse

período que cresceu o número de estabelecimentos comerciais. (PMC, 1996,

p.55)

Entretanto, a instalação de infraestrutura, como a de energia elétrica,

por exemplo, que só começou a existir a partir do fim da década de 1950, não

conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento dos loteamentos que iam se

constituindo. A despeito do que prezavam os planos, novos loteamentos iam

surgindo, com a aprovação da própria prefeitura, que no entanto, não

correspondia com melhorias na infraestrutura local. (PMC, 1996, p. 55).

O crescimento populacional acelerado juntamente com a falta de

investimentos adequados para suprir esse contingente, foram destaque

constante nos jornais desde a década de 1970, como na manchete do Diário

do Paraná "Bairros da periferia continuam abandonados" (BAIRROS..., 1979)

Fenianos reforça esse fato afirmando que "a explosão demográfica, as vilas

irregulares e as invasões de terrenos agravavam os problemas com

saneamento básico, educação, saúde e urbanização" (FENIANOS, 2000, p.

28).

A instalação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) em 1974 e a

consequente vinda de empresas com grande potencial de geração de

empregos, também foi determinante para o crescimento da ocupação, que em

conjunto com os lotes de menor custo que vinham sendo produzidos,

transformaram a região num local habitado predominantemente pela população

de menor renda do município (IPPUC, 1987, p. 35)

O desenvolvimento mediante a instalação de indústrias, no entanto,

também trazia problemas para o cotidiano local, que se somavam à

permanência de carência de infraestrutura. Os conflitos decorrentes da

proximidade residencial com a atividade industrial se tornaram manchetes

recorrentes no início dos anos 1980, destacando a ocorrência de explosões

nas plantas fabris, poluição atmosférica pela fumaça das chaminés e da água

proveniente de despejos indevidos de empresas químicas, entre outras.

(EXPLOSÃO..., 1980; PRODUTOS..., 1980; POLUIÇÃO, 1983).

Como pode-se verificar, nesse período, o Pinheirinho já possuía

diversas dinâmicas sociais que concorriam para constituir seu espaço, das

quais se pode destacar: surgimento de moradias populares, pela subdivisão da

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área das antigas fazendas em loteamentos urbanos e, num segundo momento,

através das ocupações irregulares e projetos de moradia governamentais,

instalação de indústrias, sobretudo após a implantação da CIC e o incremento

dos estabelecimentos de comercio e serviço para atendimento à população

local, que crescia pela lógica da necessidade junto com o número de moradias.

3.2 O PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA E A CONSOLIDAÇÃO DO

PINHEIRINHO COMO SUBCENTRO

O início da ocupação do Pinheirinho, visto anteriormente, indica alguns

elementos que levaram à formação do subcentro do Pinheirinho e auxiliam no

entendimento de suas atuais características. Entretanto, a compreensão de

como ocorreu a consolidação desse subcentro passa pelo reconhecimento de

como o planejamento urbano de Curitiba atuou no surgimento dessa dinâmica

ao longo das décadas.

O planejamento de Curitiba possibilita uma análise rica do ponto de

vista das estratégias tomadas e dos objetivos pretendidos ao longo dos seus

diversos planos, propostas, projetos e leis, cuja diversidade foge do recorte

deste presente trabalho. Tal diversidade é reflexo também da evolução dos

princípios do urbanismo como ciência, os quais foram gradativamente alterados

e incorporados pelos planejadores da cidade. No entanto, pode-se afirmar que

houve uma certa dualidade ao longo do tempo entre propostas que visavam ou

promoviam o reforço da polarização do centro da cidade, em oposição a outras

que preconizavam descentralização ou incentivavam a formação e evolução de

subcentros. A análise que se segue pretende explorar, portanto, estes

aspectos, a partir dos planos elaborados para Curitiba entre as décadas de

1940 e 1980, período que compreende o início da ocupação do Pinheirinho e o

reconhecimento de sua relevância e seu papel como subcentro, evidenciando

suas propostas e tendências.

De acordo com Castro (2012), o processo de planejamento de Curitiba

teve seu início formal no Plano Agache, finalizado em 1943. Apesar de conter

uma certa preocupação com a organização urbana de Curitiba, as medidas

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relacionadas à regulamentação do espaço urbano, tomadas anteriormente por

diversas administrações e em contextos variados, tratavam de ordenar uma

ocupação já consolidada, seja para regularização do traçado de vias e a

projeção de sua expansão, ou pela definição de leis pontuais e códigos de

obras e posturas. Essa ideia é expressa claramente no trabalho do IPPUC:

Pressupondo análise, caracterização e diretrizes políticas para o espaço urbano, a longo prazo, no que diz respeito aos instrumentos macros da gestão urbana, pode-se dizer que eles inexistiram em Curitiba até meados deste século. [...] As intervenções feitas no espaço urbano até então eram fundamentalmente práticas, baseadas em critérios técnicos funcionais e estéticos. Não havia nelas reflexão crítica sobre a ocupação social do espaço urbano.(IPPUC, 1997, p. 58)

Oficialmente chamado de Plano da Cidade, o Plano Agache ficou mais

conhecido pelo sobrenome de seu autor, o francês Alfred Agache, incumbido

de realizá-lo pela empresa paulista Coimbra Bueno & Cia., que por sua vez

havia sido contratada pela Prefeitura de Curitiba (IPPUC, 1997, p.58). Segundo

Gnoato (2005), o Plano Agache preconizava uma ideia de urbanismo datada

de antes da adoção das premissas do Movimento Moderno, que só seriam

adotadas amplamente após o término da Segunda Guerra Mundial. Até então

prevalecia o conceito de City Beautiful do século XIX, cuja referência conceitual

era o Plano de Paris desenvolvido por Eugéne Haussmann e que já havia sido

aplicado em diversas outras cidades. De fato, os conceitos que marcaram o

tratamento de áreas urbanas entre fins do século XIX e início do XX ainda se

mostravam presentes no Plano Agache, que também possuía um viés do

urbanismo organicista-funcionalista.O plano estabelecia "normas essenciais"

de "remodelação, extensão e embelezamento" de Curitiba, apontando que ele

"rasga avenidas e saneia sua área, disciplina seu tráfego, organiza suas

funções urbanas, coordena suas atividades e proporciona à cidade uma

fisionomia de capital". (CURITIBA, 1943, p.17)

O planejamento feito por Agache é fortemente marcado pelo seu

"Plano das Avenidas", aprovado em 1942, que previa vias radiais e perimetrais,

estas últimas descritas concentricamente. Outra característica marcante é a

criação dos centros funcionais ou especializados (que não se podem confundir

com a ideia de subcentros abordada no presente trabalho) que seriam ligados

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através das radiais ao centro e entre si pelas perimetrais internas,

especialmente pela Avenida Perimetral 2. Tal concepção aparece

esquematizada na Figura abaixo.

FIGURA 3 - MAPA CONCEITUAL DO PLANO AGACHE DE 1943 FONTE: IPPUC

Não é o objetivo do presente trabalho entrar profundamente no mérito e

na discussão das críticas feitas ao Plano Agache. É necessário apenas apontar

que vários fatores fizeram com que sua execução fosse parcial, como a falta de

recursos para desenvolver boa parte de suas propostas ambiciosas, a

desconexão ideológica que se seguiu com as mudanças políticas em âmbito

nacional, sua excessiva rigidez que não abriu espaço para mecanismos que

pudessem adaptá-lo ou ajustá-lo, entre outros, conforme visto nos trabalhos de

Garcez (2006) e Dudeque (2010). Contudo, ainda que o plano não tenha sido

implantado integralmente, fato que Dudeque contempla a partir de um ponto de

vista mais negativo e contundente, Garcez lembra que, em que pese as

dificuldades financeiras e de outras ordens, muitos dos seus objetivos foram

alcançados:

Muitas ruas foram alargadas, menos pelos investimentos feitos e mais pelo heroico esforço de um grupo de técnicos, engenheiros e administradores que compunham a Comissão do Plano da Cidade [...] Muito do que se vê hoje, a localização do Centro Cívico, o Jardim

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Botânico, o Centro Politécnico, a rede de Parques, a minimização das enchentes no centro da cidade, a Rodoferroviária, o Mercado Municipal, foi resultado de propostas que visualizaram, pela primeira vez, a cidade de uma forma integrada.(GARCEZ, 2006, p. 78)

Para o presente estudo interessa destacar que o plano de 1943 não

previa qualquer tipo de ocupação no Pinheirinho, ao contrário, desaconselhava

qualquer ocupação fora dos limites da Avenida Perimetral 3, cujo ponto mais

deslocado do centro para sudoeste, estava localizado no Portão. Também

chamada de AP3, essa avenida representava os limites da região onde se

pretendia urbanizar pois, segundo o Plano Agache, "a extensão disseminada

para fora dos limites da AP3 acarretaria dificuldades para todos os serviços

públicos" (CURITIBA, 1943, p.78).

Embora incorporasse uma seção que discorria sobre a previsão de

"extensão em futuro remoto", o plano defendia que os limites previstos por ele,

ou seja, aqueles dentro da AP3, afastariam o problema por "muitos anos" e que

na zona agrícola presente além desses limites deveria se "proibir o

retalhamento em lotes urbanos por tempo razoável". Também reconhecia a

existência já consolidada de algumas ocupações fora da AP3, entretanto, para

elas deixava a vaga recomendação para "drená-las para as radiais mais

próximas" e que se procurasse "circunscrevê-las, evitando sua expansão

desordenada" (CURITIBA, 1943, p.79). A Figura 4 traz os limites da ocupação

proposta por Agache sobre o arruamento atual de Curitiba, demonstrando sua

área de implantação em relação ao arranjo que se constituiu posteriormente.

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FIGURA 4 - MAPA CONTENDO AS PROPOSTAS DO PLANO DE AVENIDAS DE AGACHE SOBRE O ARRUAMENTO PRINCIPAL ATUAL. FONTE: IPPUC (2014)

Garcez (2006) considera que o crescimento populacional nos anos

1940 havia sido tolerável, na casa dos 20 mil habitantes, e que se os mesmos

fatores socioeconômicos prosseguissem, resultando num crescimento no ritmo

observado na década de 40, a área delimitada pelo Plano Agache seria mais

que suficiente para contê-lo. Contudo, em 1953, dez anos após sua conclusão,

o plano Agache começou a ser ultrapassado pela expansão da ocupação

urbana para além dos limites por ele estabelecidos (GARCEZ, 2006, p. 83).

Essa expansão é explicada por Garcez como um processo de explosão

demográfica, que levou Curitiba da casa dos 180 mil habitantes no anos 1950

para 600 mil em 1970, argumentando que tal crescimento era algo além do que

o Plano Agache podia suportar6.

6 Segundo o autor, o Plano Agache previa um crescimento demográfico a uma taxa de 2,5% ao ano, ao passo que a taxa do decênio 1950/1960 ficou em 7,4% a.a. (GARCEZ, 2006, p. 97)

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Como afirmado anteriormente, o Pinheirinho registrou o começo de sua

ocupação urbana em meados dos anos 1950, paralelamente ao aparecimento

de vários núcleos de favelamento e de loteamentos clandestinos em locais

como Vila Hauer, Vila Guaíra, Vista Alegre, Uberaba, Parolin e Santa Quitéria,

entre outros, que se situavam além do perímetro urbano de Agache (IPPUC,

1997, p. 60). Nesse período, a vigência do Plano Agache que prezava por

permanecer inalterado pelos 20 anos seguintes de sua conclusão (DUDEQUE,

2010), era apenas ilusória.

O crescimento acelerado que tomou lugar em áreas muito além do

previsto fez com que o governo municipal agisse no sentido de ordená-lo,

através de uma solução produzida por uma equipe de funcionários municipais.

Entre 1955 e o início da década seguinte, após a aprovação da Lei Municipal nº

1165/55 que autorizou uma revisão do Plano Agache, foram tomadas várias

medidas objetivando controlar o processo pelo qual Curitiba estava passando,

que continha um Plano Global para o Município até o ano 2000, elaborado em

1958, e cujo princípio fundamental era a descentralização urbana (GARCEZ,

2006).

Dentre elas, cabe destacar a Lei Municipal nº 1809/1960, que dividiu a

cidade em Unidades Vizinhança, que somavam 47 urbanas e 5 rurais. A

delimitação desses recortes era definido e justificado na Lei, sendo que "as

divisas de todas as Unidades relacionadas acima são os eixos das ruas,

avenidas, ferrovias, riachos, rios e canais", e cuja denominação futura seria

definida por leis específicas, devendo respeitar "a) Tradição; b) Fatores

geográficos; c) Fatores históricos." (CURITIBA, 1960). Contudo, essa regulação

teria curta vigência, permanecendo oficialmente até 1965 e de fato apenas até

1963 (DUDEQUE, 2010), influenciada, entre outros fatores, pela

descontinuidade administrativa que houve na Prefeitura de Curitiba no período

(GARCEZ, 2006; DUDEQUE, 2010). Mesmo admitindo alguns acertos nessa

lei, Dudeque argumenta que ela acabou por diluir o poder de decisão da

Prefeitura em relação ao controle do processo de ordenamento do espaço

urbano com a Câmara de Vereadores, possibilitando a aprovação de

legislações pontuais em favor de cada bairro (ou unidade de vizinhança), ao

contrário de um planejamento integrado, facilitando também a ação de

loteadores nas diferentes áreas da cidade, justamente algo que se visava

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combater (p. 89). A respeito do Pinheirinho, no mapa que representa as

Unidades de Vizinhança (Figura 5) nota-se sua incorporação à dinâmica de

expansão dos loteamentos periféricos, uma vez que seus arredores estavam

divididos por algumas Unidades de Vizinhança classificadas como urbanas

(unidades 40, 41 e 42). Os dados não permitem afirmar se este plano teve

influência efetiva no espaço conformado no subcentro do Pinheirinho,

considerando sua curta vigência.

FIGURA 5 - MAPA DE CURITIBA DIVIDIDO EM UNIDADES DE VIZINHANÇA, ESTABELECIDAS EM 1960. FONTE: IPPUC (2014)

Não obstante a tentativa dos funcionários da Prefeitura em modernizar

o processo de planejamento em Curitiba, destacada por Garcez (2006), sentia-

se a necessidade de um plano diretor integrado, sobretudo com a repercussão

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dos recentes planos de Lúcio Costa para a nova capital federal Brasília e do

plano Doxiadis para o Rio de Janeiro (GARCEZ, 2006, p. 94). Havendo então

um consenso de que as propostas adotadas até então não conseguiam

responder ao novo paradigma que a cidade enfrentava, cuja população

aumentava consideravelmente passando a habitar os loteamentos da periferia

e a infraestrutura permanecia concentrada em seu centro tradicional,

aumentando os problemas de deslocamentos e fluxos, surgiu a necessidade de

se desenvolver um novo plano para Curitiba.

Motivada também pela conclusão, em 1963, do Plano de

Desenvolvimento do Paraná11(DUDEQUE, 2010) e por um aporte financeiro

estadual próprio para que Curitiba pudesse elaborar um novo plano (GARCEZ,

2006), a Prefeitura Municipal realizou em 1965 uma concorrência para a

elaboração do Plano Preliminar de Urbanismo (PPU), vencida pela Sociedade

Serete e Jorge Wilheim (PILOTTO, 2010, p. 103), que também ficou conhecido

pela alcunha de Plano Serete. Com a concorrência vencida houve, no mesmo

ano, a realização do "Seminário Curitiba de Amanhã" no qual se debateu o

plano, uma evidência de seu caráter "aberto" em oposição ao "clássico" e

inflexível Plano Agache, que desconsiderava alterações (DUDEQUE, 2010).

Para acompanhar os trabalhos, foi criada com corpo técnico local, a APPUC

(Assessoria de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), que em seguida

se transformou em Instituto, o IPPUC, cuja atribuição principal naquele

momento era elaborar o projeto urbanístico de Curitiba e encaminhar seu

anteprojeto à câmara. (PILOTTO, 2010). Seguindo essa atribuição, o IPPUC

concluiria o Plano Diretor em 1966.

O Plano Diretor de 1966, resultado direto da iniciativa tomada em favor

da elaboração e do próprio objeto do PPU, marcaria definitivamente a

estruturação urbana de Curitiba. Embora tivesse seu zoneamento e outros

dispositivos alterados ao longo dos anos que se passaram, sua essência

permaneceu inalterada, o que de acordo com Dudeque (2010) reflete seu

caráter intencionalmente flexível.

11 Dudeque afirma que o Plano de desenvolvimento do Paraná foi responsável por uma importante mudança conceitual no planejamento em Curitiba, além de conter em suas diretrizes os embriões do que viriam a se constituir na Companhia de Urbanização e Saneamento (URBS), de um distrito industrial que resultaria na criação da CIC e também de um "orgão permanente de planejamento", em referência ao IPPUC (DUDEQUE, 2010, p. 111)

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Antes de adentrar nas premissas adotadas nessa fase do planejamento

de Curitiba, se faz necessária uma consideração acerca destes dois trabalhos,

de um lado o Plano Preliminar de 1965 e de outro o Plano Diretor de 1966.

Pilotto (2010, p 103), afirma que é comum na bibliografia sobre Curitiba haver

confusão sobre os dois planos, atribuindo ao PPU afirmações que na verdade

são exclusivas do PD e vice-versa, ressaltando que, embora marcados por

uma mesma estrutura básica, eles contêm fortes diferenças, frutos das

alterações desenvolvidas pela equipe do recém-criado IPPUC. Para embasar

sua explanação a autora resgata um trecho da mensagem encaminhada pela

prefeitura aos vereadores junto da proposta de 1966, que menciona essas

diferenças:

Dos estudos procedidos e dos debates então havidos, resultaram profundas alterações no trabalho inicial já referido de modo que, o anexo anteprojeto de lei, praticamente, somente conserva as linhas mestras doutrinárias do Plano Preliminar. (CURITIBA, 196612, apud PILOTTO, 2010)

Uma mudança em especial nos interessa. Conforme identificado pela

autora, dentre as diretrizes do PD de 1966 desapareceu a que estimulava o

"policentrismo" no PPU (PILOTTO, 2010, p. 104). Aqui se põe clara pela

primeira vez a dualidade entre o planejamento em favor de uma estrutura

centralizada (presente no PD) versus propostas por descentralização

(presentes no PPU), portanto, vale analisar o que o texto dos planos diz a este

respeito.O PPU estipula:

[...] Este centro seria tangenciado por vias estruturais. Estas vias ligarão o Centro principal aos Centros secundários desenvolvidos, a partir de pontos particulares já existentes, tais como: Portão, Bacacheri, Mercês e Cajuru, para criar um estrutura polarizadora nos bairros periféricos e aliviar, deste modo, o Centro principal. (SERETE, 1965, p. XIV)

Enquanto isso, o Plano Diretor expressa a diretriz de "Linearidade de

expansão do centro principal, ao longo de linhas estruturais fortemente

marcadas" (IPPUC, 1966, p. 8), que, segundo Castro (2012, p. 21) tinha como

objetivo estimular uma estruturação da cidade de forma linear, no lugar do

12CURITIBA, Mensagem nº 22, de 20 de maio de 1966.

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modelo radial e perimetral de Agache 13 . Logo, embora se utilize das vias

estruturais do Plano Preliminar, o Plano Diretor subverte sua função,

pretendendo induzir o crescimento linear do centro principal em vez de

disciplinar o fluxo até ele reforçando um colar de subcentros já "reconhecidos"

pelo Plano Preliminar14.

As características de adensamento definidas pelo PD para as vias

estruturais, que as transformaram em setores estruturais, ao mesmo tempo que

tiveram como objetivo desestimular as subcentralidades da cidade, teriam um

papel importante na, por enquanto rarefeita, conformação do adensamento e

verticalização na região do subcentro do Pinheirinho, conforme investigaremos

mais adiante.

No que tange especificamente à região do Pinheirinho, os planos de

1965 e 1966 também trazem importantes propostas. A partir do PPU, se

passou a considerar como urbana uma superfície bem maior que o delimitado

no Plano Agache, cujos limites a sudoeste, por exemplo, correspondem mais

ou menos ao traçado do Contorno Sul. Isso significa dizer que este plano

passou a abranger a área onde situa-se o subcentro do Pinheirinho como área

urbana pela primeira vez (considerando que as Unidades de Vizinhança não se

tratavam necessariamente de zonas urbanas ou funcionais) como podemos ver

nos mapas a seguir.

13 Em oposição ao afirmado por Castro (2012), Garcez destaca haver um entendimento entre alguns cujo ponto de vista dá conta de que o plano viário atual de Curitiba seria fruto de uma releitura do Plano Agache feita pelo e a partir do Plano Diretor de 1966 (p. 78). 14 O estudo da verticalização dos setores estruturais como indicador de sua consolidação, realizado por Pilotto (2010) demonstra um desenvolvimento incompleto dessa intenção. Há desigualdade entre os setores norte e sul, sendo o último mais adensado. Além disso a autora destaca que a alta densidade vista nas áreas próximas ao centro continua seu aumento enquanto as extremidades norte e sul (Pinheirinho) permanecem não-verticalizadas.

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FIGURA 6 - MAPAS DE ZONEAMENTO ESTUPULADOS PELO PLANO PRELIMINAR DE 1965 E PLANO DIRETOR DE 1966. FONTE: IPPUC (2014)

Como destacado antes, as vias estruturais no PPU visavam uma

interligação entre centros secundários e possuíam um caráter ligado ao

disciplinamento dos fluxos em direção ao centro, conforme consta: "Adotamos

duas vias, uma ao norte e outra ao sul do centro principal, - de molde

tangenciando possibilitando ainda a travessia diametral da cidade, sem cruzar

as ruas mais centrais." (SERETE, 1965, p. 153). A descrição da via estrutural

sul, presente no PPU revela um importante aspecto a respeito do Pinheirinho:

"[...] a partir do Portão, esta via estrutural seguirá até o Capão Raso e, mais a

sudoeste, até atingir o Distrito Industrial que poderá vir a existir no Prado de

São Sebastião." (SERETE, 1965, p. 153). Tal diretriz, como veremos a seguir,

nunca se realizaria como enunciada em 1965. Em seguida, quando estabelece

algumas funções das vias estruturais, traz a seguinte passagem: "As vias

estruturais, além de tangenciarem o centro principal, servem os centros

secundários que lhe estarão igualmente tangentes (Bacacheri, Mercês, Cajuru,

Portão e no futuro, Pinheirinho-Barigui)" (SERETE, 1965, p. 155).

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Pelo que podemos perceber por esses trechos, as duas localizações

destacadas acima se referem quase que a um mesmo lugar, conforme visto no

mapa a seguir, no qual as legendas Prado de São Sebastião e Barigui ficam

próximas e localizadas a oeste do Pinheirinho.

FIGURA 7 - MAPAS DE HIERARQUIA VIÁRIA DE 1966 ONDE APARECE A REGIÃO DO PRADO DE SÃO SEBASTIÃO. FONTE: IPPUC (1966), elaborado pelo autor (2014)

No mapa de hierarquia viária é possível identificar também uma via

que, como dito pelo plano, seria a extensão da estrutural sul. Ela ligaria a Av.

República Argentina, passando pela atual Rua Pedro Gusso, no Capão Raso, e

então seguindo em linha reta ao Contorno Sul numa região denominada Prado

de São Sebastião, criando uma bifurcação com a Av. Winston Churchill. No

entanto, esta via nunca passou de uma diretriz, seja por seu papel como

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estrutural ou obra construída, e nos mapas atuais de arruamento sequer

existe 15 . Da mesma forma, a nomenclatura "Prado de São Sebastião" é

estranha à realidade atual, pois não constitui nenhum espaço conhecido hoje

na região.

Tal indefinição quanto ao traçado final da estrutural sul ficou

evidenciada no zoneamento trazido pela Lei nº 2.828/1966, que define o setor

estrutural até o Capão Raso, deixando sua continuação em aberto. A definição

viria com os reajustes produzidos nas revisões do zoneamento que ocorreram

periodicamente a cada três anos, em 1969, 1972 e 1975, conforme evidenciado

por Fernandes (1979, p. 149). Este mesmo autor resume as alterações que

cada lei trouxe em relação à anterior. Sobre a Lei Municipal nº 3.503/1969

afirma:

Em 1969 foram introduzidas modificações no zoneamento adotado em 1966 com as seguintes estipulações: a) revisão dos Setores Estruturais tendo em vista a adoção de um 'trinário' de vias em lugar do binário originalmente proposto; b) deslocamento do Setor Estrutural da Av. República Argentina para área menos povoada a oeste daquele logradouro [...](FERNANDES, 1979, p. 144)

Em 1969 ainda não havia sido definida a extensão sul da via estrutural

para além do Capão Raso. O deslocamento ao qual a Lei se refere representa

a delimitação da estrutural numa via paralela à Av. República Argentina,

correspondente a um trecho compreendido entre as proximidades da Av.

Getúlio Vargas no Água Verde e a Rua Pedro Gusso, no Novo Mundo. Nesta

proposta, a Av. República Argentina passou a se enquadrar como Zona

Especial Coletora.

Em 1972, entretanto, registra-se a mudança no zoneamento mais

significativa para a área deste estudo, que representa também o primeiro

momento em que a municipalidade a trata de forma diferenciada. A Lei

Municipal nº 4.199/1972, conforme análise de Fernandes (1979, p. 147), traz

oito ajustes, dentre os quais está o retorno da Av. República Argentina como

15Uma comparação mais atenta dos mapas de zoneamento e de hierarquia viária do PD de 1966 ressalta o quão preliminar era o caráter da diretriz da via estrutural na região do Pinheirinho. É possível ver que sua projeção, conforme consta no mapa de hierarquia viária conserva um paralelismo mais preciso em relação à BR-116, enquanto no mapa de zoneamento ela aparece mais inclinada, cujo eixo descreve um encontro com o da rodovia num ponto futuro ao sul.

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eixo do Setor Estrutural sul. O mapa anexo desta Lei, por sua vez, além de

marcar esta mudança, descreve a continuação do Setor Estrutural sul para

além do Capão Raso, pela Av. Winston Churchill, com seu término ocorrendo

na sua confluência com a BR-116, ponto de concentração do subcentro do

Pinheirinho.

A partir de então, o eixo dos Setores Estruturais não mais se alteraria

na região, e a diretriz de via a oeste do Pinheirinho e da Winston Churchill não

voltaria a aparecer. Se considerarmos o que afirma Oba (2004), estas últimas

mudanças foram cruciais, uma vez que a implantação das estruturais foi

possível, principalmente, devido ao fato de que sua implantação na maioria dos

casos, se acomodou na malha urbana pré-existente.

A comparação dos mapas constantes nessas duas leis ilustra as

mudanças observadas (Figura 8).

FIGURA 8 - ZONEAMENTO APROVADO NOS ANOS DE 1969 E 1972: ALTERAÇÃO NO EIXO ESTRUTURAL SUL. FONTE: IPPUC (2014), elaborado pelo autor (2014)

As alterações nas leis e a implantação do sistema expresso em 1974

leva à ideia geral de que o Plano Diretor só foi implantado realmente na década

de 1970 (IPPUC, 1997). Entre 1972 e 1982, a geração de planejadores e sua

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efetiva implantação do Plano Diretor transformaria a configuração urbana de

Curitiba de forma irrevogável (DUDEQUE, 2010, p. 278). Dessa forma se

idealizou promover uma cidade voltada ao transporte de massa em lugar do

automóvel (IPPUC, 1997). Em 1975 tal aplicação se deu pela implantação do

sistema expresso, tratada como a única viável para o momento, em face da

impossibilidade de se implantar um "sistema rígido e altamente sofisticado" de

transporte, e que seria adaptado conforme as necessidades da cidade

evoluíssem (IPPUC, 1975).

Outro fato importante para o Pinheirinho neste período foi a

implantação da Cidade Industrial de Curitiba. Segundo Garcez (2006, p.109)

alguns estudos foram feitos para a definir a área da implantação deste distrito

industrial, das quais as que consideravam a porção leste do município foram

descartadas devido sua proximidade com o rio Iguaçu que abastece Curitiba e

demais municípios. A instalação da CIC foi feita então na porção oeste do

município e finalmente representou a mudança do setor industrial do

Rebouças, que havia sido estudada por vários planos anteriores, para sua

área, através da desapropriação de uma superfície de 4.370 hectares

(PILOTTO, 2010).

Para sua instalação foi alterado o zoneamento através da Lei Municipal

nº 5.234/1975, que estabelecia a conexão entre a nova zona industrial com o

transporte de massa pela criação de cinco vias de ligação entre o Setor

Estrutural e a CIC, as chamadas Vias Conectoras, que possuíam um

zoneamento diferenciado. Dentre elas, destaca-se a Conectora 5, que ficou

conhecida pela expansão da estrutural oeste que abrigaria, e que hoje

corresponde ao "Ecoville", descaracterizando sua intenção inicial de ocupação,

sendo até alvo de suspeitas e investigações nos anos 1980 (DUDEQUE, 2010).

Nesta proposta, o subcentro do Pinheirinho é diretamente ligado à Cidade

Industrial pela Conectora 1, chamada Rua João Pinheiro Rodrigues, por onde

circula a linha Interbairros IV, importante linha de ligação perimetral do

transporte coletivo, cujo percurso realiza a ligação entre o sul e o norte

passando pelo oeste do município, cruzando a CIC, o Campo Comprido e

terminando em Santa Felicidade.

Além destas mudanças, a CIC teve grande impacto no crescimento

populacional, pois sua viabilização através de financiamento estava vinculada à

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implantação de moradias e reserva de áreas para este fim, representando uma

boa porcentagem da sua área total. Além disso, conforme cita Pilotto (2010, p.

57), a região sul do município passou a abrigar a instalação de grande parte

das ocupações irregulares de Curitiba, com destaque para a região próxima à

CIC. Tais áreas, formando um "U" entre o sudeste, sul e sudoeste do município

tiveram taxas elevadas de crescimento populacional entre os anos 1970 e

1990, situadas entre as mais altas de Curitiba, produzindo um impacto

importante no Pinheirinho e no seu papel de subcentralidade, cuja região de

influência abrange vários desses locais.

Nos anos 1970 houve ainda o projeto para a instalação dos terminais

de transporte ao longo das estruturais, como consequência do reforço e

evolução do sistema expresso. Dudeque (2010, p 275-277) afirma que esse

processo representou um forte dilema para o planejamento urbano no fim dos

anos 1970. Várias soluções na forma de cobrança da tarifa teriam sido

tentadas a fim de permitir terminais abertos ao entorno e para tornar os

subcentros sobre os quais haviam sido instalados integrados a eles. Com a

impossibilidade do feito, os terminais foram fechados, a linearidade do setor

estrutural reforçada, e seus arredores se desenvolveram - quando se

desenvolveram - em paralelo ao terminal de transporte. O terminal do

Pinheirinho foi construído neste período, em 1979, e a dinâmica evidenciada

por Dudeque pode ajudar a explicar porque o desenvolvimento desse

subcentro ocorreu ao longo apenas do trecho da Av. Winston Churchill, ao sul

do terminal. Em oposição, o trecho norte, no sentido Capão Raso, é menos

ocupado.

Os anos 1980 compreenderiam uma importante mudança na rota do

planejamento de Curitiba, sob forte influência de ideologias políticas opostas.

Dudeque (2010) evidencia que, pela primeira vez sob a aplicação do Plano de

1966, ascendia ao poder municipal um grupo cujas tendência políticas diferiam

das do grupo capitaneado por Jaime Lerner, dividindo a gestão da cidade nas

seguintes etapas:

Na década de 1960 governar Curitiba significava construir obras. De 1971 a 1983 (com Jaime Lerner e Saul Raiz), o desenho recriou o espaço urbano. Com Maurício Fruet e Roberto Requião, os indicadores sociais passaram a embasar o planejamento urbanístico.(DUDEQUE, 2010, p. 297)

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Nas gestões de Maurício Fruet (1983-1986) e Roberto Requião (1986-

1989) houve um novo posicionamento em relação à forma de se estruturar a

cidade, contando com a participação de arquitetos como Luiz Forte Netto e

Orlando Busarello, que questionavam a interpretação e aplicação dos preceitos

do Plano Serete pelo Plano Diretor de 1966. (DUDEQUE, 2010, p. 297). O

autor reúne os estudos feitos nesse período sob o título de "Proposta Fruet-

Requião", que resultaram em diversos levantamentos da realidade curitibana,

realçando seu caráter social.

Esta etapa do planejamento representa um fato muito importante para

nossa abordagem acerca do subcentro do Pinheirinho. Enquanto nos planos e

estudos anteriores não havia um destaque espacial para a área ora estudada,

o subcentro previsto no PPU era, conforme explicado anteriormente, em outro

local e existia apenas num contexto futuro a se confirmar, o Plano Municipal de

Desenvolvimento Urbano (PMDU) foi o primeiro a reconhecer e pontuar o

subcentro do Pinheirinho no local que se estabelece nos dias atuais.

De acordo com Dudeque (2010, p. 299-300), a sobreposição dos dados

levantados pelo plano, cujo foco recaía antes nos problemas sociais que na

infraestrutura urbana, levou ao reconhecimento da concentração de atividades

em trechos específicos da urbe, destacando um policentrismo "independente

das leis". Essa tendência de descentralização que o novo plano pretendia

incentivar é reflexo da descoberta de uma "contradição de que a tendência

linearizante [...] convertida em lei chocava-se com a radialidade cotidiana dos

bairros" (DUDEQUE, 2010, p. 300), e da tendência política diversa do grupo

que estava no poder anteriormente, pela adoção de um discurso social, que

pretendia olhar para os bairros e não apenas para o centro.

Dessa forma, o PMDU, mais especificamente no seu estudo intitulado

"Estrutura Policêntrica de Curitiba", foi o primeiro a reconhecer o subcentro do

Pinheirinho de forma consolidada, colocando-o, além disso,na condição de

subcentro de 1º nível, ao lado do Portão, Bacacheri, Hauer e Santa Felicidade.

Note-se que 4 dos 5 se localizam assentados em vias estruturais e são

servidos pelo expresso. Tal estudo, datado de 198716, traz uma extensa análise

16O volume ao qual se teve acesso é de 1987 e se refere a uma edição preliminar. O PMDU, como um todo, foi finalizado em 1988.

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acerca dos subcentros levantados, que julga serem resultado do processo de

aumento da população urbana e da expansão das atividades econômicas

(IPPUC, 1987, p. 3).

A metodologia adotada nesse estudo identificou 59 subcentros na

cidade de Curitiba, dividindo-os em 1º nível (5 subcentros, já relacionados

acima) 2º nível (26 subcentros) e 3º nível (28 subcentros), sendo os últimos

diretamente subordinados aos de 1º nível e também ao centro principal,

inseridos nas suas áreas de influência. A área de influência do subcentro do

Pinheirinho abrange grande parte do território da região sul de Curitiba,

conforme visto na Figura 9, que localiza todos os subcentros do estudo e suas

respectivas áreas de influência.

FIGURA 9 - MAPA DE CURITIBA, AS SUBCENTRALIDADES DE 1º NÍVEL ESTABELECIDAS PELO PMDU E SUAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA, COM DESTAQUE PARA A DO PINHEIRINHO. FONTE: IPPUC(1987), elaborado pelo autor (2014)

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A hierarquização dos subcentros foi baseada no levantamento das

atividades desempenhadas em cada um deles, definindo-se também sua área

de abrangência e grau de complexidade. Considerando 19 atividades

funcionais, entre comércio e serviço 17, de demanda não frequente e antes

reservadas somente ao centro, o plano descreve os requisitos para a

classificação de um subcentro de 1º nível:

"Apresentam a ocorrência de, no mínimo, 15 funções [...] Este critério, no entanto, não pareceu suficiente, tendo-se estabelecido, ainda a condição da existência de dois tipos de funções: os magazines (lojas de departamento) e, no mínimo três agências bancárias. A determinação deste número garante a existência de agências da rede pública e privada pois, em princípio, a rede privada se direciona exclusivamente pelo mercado, sendo portanto, forte indicador de polarização. Quanto aos magazines foram escolhidos porque representam, efetivamente, o grande desenvolvimento atingido pelo comércio local." (IPPUC, 1987, p. 7)

Acerca do Pinheirinho, assim como dos demais 4 subcentros de

primeiro nível, o plano traz uma ampla gama de informações e dados. Em

resumo, o PMDU define o subcentro do Pinheirinho como local onde o

zoneamento previa um alto adensamento (estrutural) porém, que continha uma

população de baixa renda. Em virtude de suas condições econômicas,

prevaleciam no Pinheirinho os deslocamentos a pé ou pelo transporte coletivo,

que somavam 72% do total. Além disso, destaca que este subcentro era

responsável, na época, por 53,9% de todos os comércios existentes na sua

área de influência, representando o maior índice entre todos os de 1º nível.

Por outro lado,o estudo traz o dado de que os subcentros inseridos na

região de influência do Pinheirinho absorviam apenas 39% dos seus moradores

- o menor índice entre os subcentros de 1º nível - que, no entanto, somados à

absorção promovida pelas áreas de influência limítrofes do Portão (15%) e

Hauer (12%) representava o menor deslocamento ao centro principal entre

todas as áreas (IPPUC, 1987). Ainda segundo o plano, a baixa procura pelo

17 Atividades de comércio: Veículos e acessórios; Artigos do vestuário; Móveis e artigos de habitação; Jóias; relógios, artigos de ótica, fotografia e som; Papel, impressos e artigos de escritório; brinquedos, artigos desportivos e de recreação; Flores; Magazines, lojas de departamentos; Ferragens, tintas e materiais de construção; Animais, sementes e implementos agrícolas; Vidraçarias. Atividades de serviço: Agências bancárias; Outros serviços financeiros; restaurantes e similares; Laboratório de análises clínicas; Clínicas médicas e oftalmológicas; Serviços auxiliares de atividades econômicas; Posto de captação de anúncios de jornal; Serviços técnicos profissionais.

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centro principal pela população sob a área de influência do Pinheirinho, é

reflexo do padrão econômico de sua população e da grande distância até ele,

mesmo servida de transporte (IPPUC, 1987, p. 24).

As diretrizes do PMDU para os subcentros de 1º nível incluíam um

tratamento viário e do transporte público que reproduzissem a mesma

complexidade do centro principal, inclusive com a definição de anéis viários,

(Figura10) um desenho que proporcionasse a reprodução da paisagem e do

uso do solo do centro tradicional "em menor escala e tanto quanto possível",

além de uma indicação para se respeitar tendências radiocêntricas nesses

subcentros quando fosse o caso (IPPUC, 1987, p. 49-50). Nesse bojo houve

também uma proposta para a redistribuição de atividades na tentativa de

reduzir a linearidade do subcentro do Pinheirinho (Figura 11). Essas diretrizes

reforçam o caráter de consolidação da polarização desses subcentros, rumo a

uma maior independência do centro principal.

FIGURA 10 - ALTERAÇÕES NAS VIAS ESTRUTURAIS PROPOSTAS EM FUNÇÃO DOS SUBCENTROS PELO PMDU. FONTE: IPPUC (1987)

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FIGURA 11 - DIRETRIZ PARA O SUBCENTRO DO PINHEIRINHO CONTIDA NO PMDU. FONTE: IPPUC (1987)

O estudo contido no PMDU pode ser resumido como "a pesquisa

urbanística mais detalhada a respeito de Curitiba desde 1966 e, em termos

sociais, uma das mais densas da história da cidade" (DUDEQUE, 2010, p.

306). Entretanto, sua maior contribuição para a estruturação espacial de

Curitiba pode ser resumida pela descentralização da administração municipal,

através da criação, em 1986, das chamadas Freguesias, em número de nove:

Matriz, Boqueirão, Cajuru, Bacacheri, Santa Felicidade, Campo Comprido,

Portão, Pinheirinho e Umbará. Conhecidas hoje como Regionais, elas

passaram por alterações nos anos de 1989, 1991, 1993, 1997 e 2005, sendo

que as duas últimas modificaram os limites originais da regional Pinheirinho

(IPPUC, 2010a, p. 85-88). Essa reestruturação recente da regional Pinheirinho

é importante para os objetivos do presente trabalho e será tratada de forma

mais detalhada no capítulo 5.

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Tanto sua aprovação tardia em 1988, como a retomada do poder

municipal pelo grupo político adversário ao que o criou a partir de 1989, seriam

cruciais para a revogação do PMDU, ainda em 1989, deixando os estudos para

uma conformação policêntrica de Curitiba permanecerem apenas na história

(DUDEQUE, 2010, p. 307). Sendo assim, a tendência linearizante do

planejamento de Curitiba prosseguiria seu predomínio até os dias atuais18.

Vencida a discussão sobre a consolidação do Pinheirinho como

subcentro, do ponto de vista de seus processos de ocupação e da perspectiva

do seu reconhecimento institucional, podemos concluir que o tratamento dado

a ele ao longo dos anos foi impreciso e relutante.Tanto em reconhecer o

processo que o mesmo desempenhou, como nas idas e vindas das intenções

de centralização e descentralização urbana presentes no processo de

planejamento,que penderam mais em direção à primeira. Tal reconhecimento

somente ocorreu na segunda metade dos anos 1980, não se refletindo,

todavia, em políticas específicas para a região. A manutenção da ideia de

linearidade e do reforço do centro principal produziu seus efeitos e interagiu

com a dinâmica de produção do espaço, conforme será investigado pela leitura

da realidade atual, constante no capítulo 5.

18 A partir da eleição de Jaime Lerner para seu terceiro mandato em 1989 houve uma sequência de prefeitos ligados a ele e contrários ao PMDB de Fruet e Requião, iniciada por seu próprio mandato (1989-1992) e sucedida por Rafael Greca (1992- 1996), Cassio Taniguchi (1996-2004), Beto Richa (2004-2010) e Luciano Ducci (2010-2012). A recente vitória de Gustavo Fruet - filho de Maurício Fruet - representou uma nova quebra nesta sequência, contudo, ainda não é possível dizer que sua gestão mudará ideologicamente o planejamento a exemplo do período 1983-1989, uma vez que a revisão do Plano Diretor encontra-se atualmente em andamento.

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4. ANÁLISE DE CORRELATOS Após a conceituação e análise do processo de descentralização, da

formação de subcentros e de sua ocorrência na área de estudo, tendo em vista

a necessidade de estabelecer diretrizes para o futuro projeto de intervenção,

apresenta-se uma análise de casos correlatos que permitam comparar

processos e estratégias por eles adotados.

Embora Villaça (2001) afirme que os primeiros subcentros surgidos no

Brasil datem das décadas de 1910 com o Brás, em São Paulo e 1930 na praça

Saens Peña no Rio de Janeiro, segundo Kneib (2008, p. 44), as pesquisas e

estudos sobre o policentrismo são relativamente recentes, cujos primeiros

métodos e procedimentos acerca de suas questões datam do fim da década de

1970.

Já as intervenções em centros principais não são uma prática nova.Ao

analisar as razões que levam à intervenções em áreas centrais, Vargas e

Castilhos (2006) estabelece uma separação entre aquelas praticadas no

contexto das renovações do início do século no Brasil, voltadas à mudança da

malha viária que se tornara incapaz de absorver o aumento do tráfego, das

realizadas posteriormente, sob o pretexto de recuperação de áreas

deterioradas.

Sobre esse processo, Kneib (2004) apud Kneib (2008) afirma que a

grande maioria dos centros tradicionais de grandes cidades passa pelos

períodos de ascensão, saturação e degradação, fortemente relacionados às

condições de acessibilidade a essa área. De acordo com a autora, essa

multiplicidade de atividades e de infraestrutura atrai grande número de pessoas

e viagens, e consequentemente, novas construções precisam surgir para

atender a esse novo contingente populacional. Devido à saturação do centro,

juntamente com a perda da acessibilidade ao mesmo, tal demanda provoca o

surgimento de novas centralidades ou subcentros, também suscetíveis ao

mesmo processo sofrido pelo centro tradicional.

Nesse sentido, cabe destacar a atuação recente do Governo Federal

em suas políticas urbanas. Na década de 2000, com o advento do Estatuto da

Cidade (Lei Federal nº 10.257/2001) e a criação do Ministério das Cidades em

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2003, foi possível "buscar soluções para o crescimento desordenado das

cidades" (BRASIL, 2005). Para atingir esse objetivo, a Secretaria Nacional de

Programas Urbanos implementou ações em três diferentes frentes: "incentivo à

elaboração dos Planos Diretores, na Regulação Fundiária e na Reabilitação de

Centros Urbanos." (BRASIL, 2005, p. 7).

A principal medida adotada por esse programa para reabilitar os

centros se define por "reverter o processo de expansão urbana através do

constante alargamento das suas fronteiras periféricas a ao mesmo tempo

repovoar e dinamizar áreas centrais já consolidadas" (BRASIL, 2005, p. 9). O

repovoamento desejado, por sua vez, se daria pela prioridade à habitação

voltada para as classes de baixa renda, inferior a cinco salários mínimos, que

correspondem à maior parte do déficit habitacional brasileiro.

Conforme a leitura da realidade, a qual poderá ser analisada no

Capítulo 5 do presente estudo, a intervenção baseada na recuperação de

áreas sob o ponto de vista de orientar a ocupação de imóveis abandonados e

subutilizados não pode ser aplicada ao caso do Pinheirinho. Da mesma forma,

as intervenções que se utilizaram dessa premissa para se desenvolver não

constituem casos correlatos.

Em face da impossibilidade de dispor de exemplos que se comparem

diretamente ao caso observado no Pinheirinho, os projetos de intervenções

realizados em subcentros ora analisados primam pela diferença conceitual do

processo e do projeto.

4.1 O BAIRRO DE CAMPO GRANDE (RJ) E A INTERVENÇÃO DO

PROGRAMA RIO CIDADE

O Programa Rio Cidade, implantado em duas etapas pela Prefeitura do

Rio de Janeiro entre os anos de 1995 e 2000 (OLIVEIRA, 2008), consistiu na

reurbanização de espaços públicos visando sua requalificação e

disciplinamento, através do desenho urbano, e representou o principal

instrumento de política urbana na gestão do prefeito César Maia entre os anos

de 1993 e 1996 (DOMINGUES, 1999). Seu prosseguimento foi dado na gestão

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1996-2000, pelo seu sucessor Luis Paulo Conde, Secretário de Urbanismo na

gestão Maia, e materializou-se como "uma experiência urbanística

desenvolvida para alguns dos principais 'corredores' comerciais e de tráfego da

cidade do Rio de Janeiro"(SARTOR, 1999, p 65). Os investimentos realizados

na sua implantação contaram unicamente com recursos públicos.

(DOMINGUES, 1999)

Com base na pesquisa de Duarte19 (1974), Barrón Torrez (2009) afirma

que nos anos 1970 já estavam se consolidando subcentros em diversas áreas

do Rio de Janeiro, tais como Madureira, Copacabana, Méier, Tijuca, Penha,

Campo Grande, Ramos, Bonsucesso,Ipanema, Catete, Botafogo, Bangu,

Pilares/Abolição, Cascadura e Santa Cruz. Com base no relato de Oliveira

(2008), observa-se que as etapas do projeto contemplam justamente áreas

nesses bairros.O Rio Cidade I –foi aplicado em 15 bairros: Ilha do Governador,

Copacabana, Catete, Vila Isabel, Penha, Campo Grande, Ipanema, Botafogo

(Voluntários), Tijuca, Centro, Méier, Leblon, Bonsucesso, Madureira e Pavuna

(e áreas remanescentes) (Figura 12). A segunda etapa teve como alvo outras

15 áreas: Santa Cruz, Bangu, Realengo, Marechal Hermes, Rocha Miranda,

Grajaú, Largo do Bicão, Madureira, Irajá, Praça Seca, Ramos, Campo Grande,

Haddock Lobo e Santa Teresa.

A análise ora apresentada se concentra na intervenção realizada no

subcentro do bairro de Campo Grande, o único da periferia que recebeu

investimentos do programa na primeira etapa, a mais importante.

19 DUARTE, Haidine da Silva Barros. A cidade do Rio de Janeiro: descentralização dasatividades terciárias. Os centros funcionais. Revista Brasileira de Geografia Rio de Janeiro: IBGE, v. 36, nº 1, janeiro – março, 1974, pp.53-98.

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FIGURA 12 - MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E A LOCALIZAÇÃO DAS INTERVENÇÕES DO PROGRAMA RIO CIDADE – ETAPA I FONTE: OLIVEIRA (2008)

O bairro de Campo Grande localiza-se na Zona Oeste do Rio de

Janeiro (Figura 13) e segundo o IBGE (2010) conta com 328.370 habitantes,

sendo o mais populoso do município. Faz parte da Região Administrativa

Campo Grande, que compreende também os bairros de Santíssimo, Senador

Vasconcelos, Inhoaíba e Cosmos, marcada em azul escuro na figura 13.

Segundo o IPP (2001) o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no início da

década de 2000 de Campo Grande era de 0,810, considerado alto. Tais dados

ainda apontam que 61,9% da sua população tem rendimento de até R$

1.400,00 (Classes econômicas C, D e E), caracterizando uma maioria popular,

seguidos da classe B, cujo rendimento médio varia de R$ 1.400,00 a 4.600,00,

que representava expressivos 34,9% da população.

Trata-se de um bairro de grandes extensões, com área de11.912,53

hectares e uma baixa densidade – 27,5 hab/ha, apesar do seu grande

contingente populacional. Seu território conta com paisagem natural ainda

preservada, acolhendo parte do Parque Estadual da Pedra Branca e do Parque

Municipal da Serra do Gericinó-Mendanha (FONSECA, 2012a, 2013).

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FIGURA 13 - MAPA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO E A LOCALIZAÇÃO DO BAIRRO CAMPO GRANDE FONTE: INSTITUTO PEREIRA PASSOS, 2008

4.1.1 Formações do contexto urbano de Campo Grande (RJ)

Baseados nos trabalhos de Oliveira 20 (1960) e Soares 21 (1965)

diferentes autores destacam que o bairro de Campo Grande manteve

características predominantemente rurais até 1960 (CARDOSO, 2009;

FONSECA, 2012a, 2012b). As primeiras atividades que nele se

desenvolverem, ainda no século XVIII, foram o cultivo de cana-de-açúcar, café

e a pecuária. No início do século XX emergiu uma nova atividade rural que

passou a desempenhar o papel de principal atividade de Campo Grande, o

cultivo da laranja, que quando atingiu seu auge, nos anos 1930 fez a região

ficar conhecida também pelo nome de Citrolândia (FONSECA, 2012a).

Apesar do caráter rural de Campo Grande, Fonseca (2012a) afirma

que a presença da Estrada de Ferro D. Pedro II, com a abertura do trecho

Santa Cruz, em 1878, proporcionou um melhor acesso do bairro ao centro do

Rio de Janeiro e a formação de um pequeno núcleo comercial para atender ao

20OLIVEIRA, Lúcia de. Aspectos Geográficos da Zona do Rio da Prata. Revista Brasileira de Geografia, n.1, 1960. 21SOARES, Maria Therezinha de Segadas. Fisionomia e Estrutura do Rio de Janeiro. RevistaBrasileira de Geografia, n.3, 1965.

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fluxo de passageiros das suas estações. Paralelamente, a maior acessibilidade

permitiu também o aumento da ocupação residencial.

Essa dinâmica se acentuou com a decadência da citrocultura,

decorrente do fechamento dos mercados provocado pela Segunda Guerra

Mundial, cujos efeitos resultaram na venda e parcelamento do solo rural na

forma de loteamentos (CARDOSO, 2009; FONSECA, 2012a). Cardoso

destaca:

A especulação imobiliária pós-agrícola deu-se na condição de ter se adequado aos requisitos da expansão metropolitana, onde esta procurava por novos espaços para a industrialização e o escoamento do contingente demográfico (proletário) que nesse período histórico, estava ‘saturando’ diversas partes da cidade. (CARDOSO, 2009)

De acordo com Fonseca (2012a), outro fator importante para o

crescimento urbano de Campo Grande foi a grande ampliação ocorrida no

sistema viário nos anos 1950 e 1960, em conjunto com os meios mais flexíveis

de transporte, que complementaram o acesso ferroviário. Tal ampliação foi

facilitada em Campo Grande devido ao seu relevo composto por um corredor

de terras baixas em relação aos maciços que predominam nos bairros do

entorno, o que contribuiu, além de sua ocupação, para o seu papel de

centralidade na Zona Oeste carioca, uma vez que a acessibilidade a outras

áreas a partir dele era maior que de seus bairros vizinhos (FONSECA, 2012a,

p. 7).

Duas dinâmicas marcaram a ocupação do bairro até os anos de 1970.

O surgimento dos loteamentos e a implantação de diversos empreendimentos

estatais de moradia atraíram milhares de novos moradores, principalmente de

baixa renda, promovendo uma explosão demográfica. Foram registrados altos

índices de crescimento populacional, que atingiram 70% logo após o declínio

do cultivo da laranja nos anos 1940, 119,5%, entre as décadas de 1950-60,

para depois recuar para 31,6% na década de 1970. Uma parcela dos

compradores de lotes, entretanto, era composta por diversas sociedades

anônimas, cujo objetivo era o investimento em grandes áreas que se

intensificou a partir da política de industrialização da Zona Oeste via instalação

de Distritos Industriais. Nos anos 1970 a criação do Distrito Industrial de

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Campo Grande reforçou sua ocupação industrial, permitindo a chegada de

grandes indústrias. (CARDOSO, 2009).

A forte crise mundial que ocorreu na década de 1980 alterou a

dinâmica de ocupação do bairro. De acordo com Fonseca (2012b), essa crise

acarretou uma reconfiguração da produção do espaço urbano em todo o

município, caracterizando na Zona Oeste uma intensa atividade do mercado

formal de moradia pela necessidade em manter seus lucros através da venda

de terras baratas em direção às fronteiras da metrópole. Além disso, este

mercado podia aproveitar as amenidades presentes no bairro, caracterizada

pela presença marcante da paisagem natural.

FIGURA 14–EXEMPLO DE EMPREENDIMENTO VOLTADO PARA A CLASSE MÉDIA EM CAMPO GRANDE – JARDIM EUROPA. FONTE: http://jardim-europa.imoveisrj.cim.br/campo-grande/# Acesso em: 20/5/2014

A partir desse processo realizou-se a reestruturação e ocupação do

Campo Grande por parte da classe média:

Inicia-se, assim, uma tendência à diversificação socioeconômica das áreas da periferia.A diversidade de classes agora produz novas formas de segregação das camadas médias em contraposição ao movimento de estruturação núcleo-periferia prevalecente nas décadas anteriores. A estrutura espacial torna-se mais complexa.(FONSECA, 2012b, p. 6)

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Tal dinâmica foi impulsionada também pelo poder público. O Plano

Diretor do Rio de Janeiro de 1991 previa áreas destinadas à manutenção,

preservação e elevação do Índice de Aproveitamento do Terreno (IAT) em todo

o município. No mapa que define tais áreas é possível destacar duas de

grandes dimensões nas quais o índice deveria ser elevado, uma na Zona Norte

e outra na Zona Oeste, esta última correspondendo aproximadamente ao

território de Campo Grande.

O estabelecimento da população de classe média propiciou o

surgimento de uma série de empreendimentos para ela voltados, com destaque

para o West Shopping, em1997 (CARDOSO, 2009; FONSECA, 2013). A partir

da instalação desse shopping, houve um impulso na oferta de infraestrutura e

serviços urbanos e a instalação de outros empreendimentos de média renda,

incentivados, inclusive, pela valorização da terra que o mesmo proporcionou.

Essa dinâmica de produção habitacional para a classe média, em

conjunto com o aparecimento de estruturas de comércio que atendem à sua

demanda, domina a produção do espaço de Campo Grande até os dias atuais.

De acordo com Fonseca, Campo Grande prosseguiu registrando altos índices

de crescimento populacional nos anos 1990 e 2000, com a significativa

presença de empreendimentos de padrão médio e médio-alto. Por outro lado, a

autora afirma que houve um retorno da implantação de conjuntos habitacionais

de baixa renda no bairro, sobretudo a partir de 2009 com o Programa Minha

casa Minha Vida. Todavia, devido à centralidade, desenvolvimento e preço da

terra de Campo Grande, estes agora se localizam em bairros do entorno,onde

a parceria do governo com o setor privado garante ao segundo a exploração de

terrenos mais baratos ampliando seu lucro (FONSECA, 2012b).

A autora resume o estágio atual da estruturação do bairro:

Uma estrutura urbana desenvolvida precocemente em relação à região a qual está inserida reforçou sua centralidade na porção oeste da capital fluminense. Usos antigos, como o agrícola permanecem, apesar do avanço da urbanização. Não obstante o crescimento da Zona Industrial, o adensamento populacional esbarra em suas fronteiras, revelando a necessidade de rever leis de zoneamento. (FONSECA, 2012a, p. 17)

De acordo com Silva (2009), as áreas de Zona de Comércio e Serviços

(ZCS1 e ZCS2) definem a localização da área central de Campo Grande. Nela

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situa-se a Rodoviária de Campo Grande; o calçadão, com alta concentração de

comércio e serviços, sobretudo no comércio varejista; a estação rodoviária;

terminais de transporte alternativo22, entre outros. (SILVA, 2009, p. 103).

FIGURA 15–ZONEAMENTO DE CAMPO GRANDE ESTABELECIDO PELO PEU DE 2004 E AS PRINCIPAIS LOCALIZAÇÕES. FONTE: FONSECA (2012a)

4.1.2 Análise do Projeto Rio Cidade

Percorrido o histórico de formação do bairro, pode-se entender melhor

o contexto da intervenção que se pretende analisar. As intervenções do 22 Corresponde ao transporte realizado por meio de vans, também chamadas lotações.

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Programa Rio Cidade ocorreram na década de 1990, portanto, numa época de

afirmação de uma nova ocupação baseada na chegada da classe média e

média/alta em Campo Grande.

Para a elaboração dos projetos de intervenção do Rio Cidade foram

lançados concursos, que selecionariam escritórios de arquitetura para cada

local de intervenção. Sartor (1999) resgata os aspectos enunciados pelo IAB-

RJ23 (1993) que as equipes deveriam enfrentar na elaboração:

As condições de uso pela população, notadamente os pedestres, tendo em vista a vocação da área e a eliminação das barreiras que inviabilizam ou tornam inadequados seus trechos para crianças, idosos e deficientes em geral (...);as condições de tráfego, o transporte em geral, a pavimentação de pistas e calçadas e a sinalização; a iluminação de áreas públicas, tendo em vista a segurança pública e a valorização do comércio local; recomendações quanto a possível inadeqüabilidade no tipo de uso das edificações, tendo em vista a revitalização das áreas; as condições para o funcionamento de estabelecimentos comerciais em horários noturnos e a adequação para o comércio ambulante.(IAB-RJ, 1993 apud SARTOR, 1999)

Em Campo Grande, assim como nas demais áreas contempladas, os

projetos se concretizaram através de “obras de recuperação das ruas,

substituição de mobiliário urbano, paisagismo, reordenação de espaços e usos,

melhoria do sistema viário,redimensionamento da iluminação e a possibilidade

de dilatação do horário comercial” (SARTOR, 1999, p. 76) e estão

exemplificadas na Figura 16.

23INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL/Departamento do Rio de Janeiro - IAB/RJ. Editaldo Concurso "Projeto Rio Cidade". Rio de Janeiro: IAB/RJ, 1993.

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FIGURA 16–EXEMPLOS DAS INTERVENÇÕES PROMOVIDAS PELO PROGRAMA RIO CIDADE. FONTE: DOMINGUES(1999), elaborado pelo autor (2014)

Dentre os escritórios vencedores, o Nilton Cavalcante Montarroyos &

Equipe foi responsável pela elaboração do projeto em Campo Grande.

(SARTOR, 1999, IPP, 2001). De acordo com Dias (2011), a proposta da equipe

foi responsável pela implantação do calçadão nas ruas Coronel Agostinho e

Major do Almeida Costa entre a avenida Cesário de Melo e a estação

ferroviária (Figura 17)

FIGURA 17–LOCALIZAÇÃO DO CALÇADÃO NA ÁREA CENTRAL DE CAMPO GRANDE FONTE: GOOGLE; BING (2014), elaborado pelo autor (2014)

Dias (2011) afirma que a proposta se baseava na valorização da

história local e criação de marcos urbanos, que se deu pela instalação, entre

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outros, de obras escultóricas que remetessem ao passado do bairro

relacionado ao cultivo da laranja no início do século XX (Figura 18). Essas

obras foram colocadas nos pontos de entrada para o calçadão, no intuito de

criar marcos urbanos nesses locais. Em meio ao próprio calçadão, outros

elementos também foram colocados a fim de lhe conferir uma imagem e uma

identidade diferenciada. (Figura 19)

FIGURA 18–ESCULTURAS INSTALADAS PELO PROGRAMA RIO CIDADE EM CAMPO GRANDE RELACIONADAS A CITRICULTURA FONTE: DIAS (2011) elaborado pelo autor (2014)

FIGURA 19–ELEMENTOS DO CALÇADÃO DE CAMPO GRANDE INSTALADOS PELO PROGRAMA RIO CIDADE. FONTE: DIAS (2011) elaborado pelo autor (2014)

Essas intenções dos arquitetos envolvidos no projeto faziam parte do

propósito do programa como um todo, conforme Domingues:

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A proposta de mobiliário urbano pretendia observar fundamentalmente aspectos funcionais, estéticos, custo de implantação e manutenção. Além disso, dos elementos de composição urbana considerados em projeto, o mobiliário e o projeto de sinalização são, junto aos elementos escultóricos, os que possuem o mais forte potencial de apropriação visual e simbólica e, ainda, desempenham funções fundamentais de serviço ao cidadão. Assim, a linguagem, o entendimento, a lógica de localização e de utilização, enfim, a apropriação pela população deveria ser a mais fácil e clara possível.(DOMINGUES, 1999, p. 84)

Além dos aspectos de identidade, segundo o Instituto Pereira Passos, a

equipe trabalhou questões relativas à acessibilidade deste local, com o projeto

de pavimentação de calçadas, rampas, piso especial para deficientes visuais,

mobiliário adequado e vagas de estacionamento para portadores de

necessidades especiais. (IPP, 2001, p. 15-16). Segundo Domingues (1999), a

incorporação do conceito de acessibilidade universal pode ser considerada

uma das principais conquistas do conjunto dos projetos.

Conforme foi possível perceber pela descrição das intervenções do

programa Rio Cidade em Campo Grande, sua ação se resumiu ao plano do

projeto e execução de obra, não havendo, portanto, a aplicação de

instrumentos de ordenamento territorial e de mudanças em leis e coeficientes

de zoneamento decorrentes diretamente do programa. A materialização do

projeto, por sua vez, apesar do discurso de funcionalidade atribuído às

estruturas implantadas, teve no seu apelo estético sua maior expressão.

No que tange às atividades comerciais que se desenvolviam no local

da intervenção, Domingues (1999, p.112-113) destaca, que seus impactos se

deram de forma diferente entre grupos sociais. Houve a proibição da atividade

informal de comércio ambulante (camelôs), enquanto os proprietários de

imóveis obtiveram valorização e os comerciantes nelas estabelecidas tiveram,

além da valorização do seu ponto, o benefício da diminuição da concorrência

com a saída dos camelôs. A partir da hipótese de valorização imobiliária

levantada por Domingues (p.129-130), o autor conclui que existiu apropriação

privada de mais valias geradas a partir de investimentos públicos, em face da

inexistência de aplicação de mecanismos de recuperação destas e da

manutenção dos índices de cálculo do IPTU e ITBI para as propriedades

valorizadas.

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Essa apropriação pelo capital privado dos comerciantes mais

favorecidos é relatada por Pulici:

Em Bonsucesso e em Campo Grande os restaurantes também ampliaram seus espaços para as calçadas (em substituição ao comércio de rua) e foram implementados 2 mini shoppings perto das novas estações de ônibus. (PULICI, 2009, p. 14)

Esse processo alterou o padrão de relações sociedade-espaço,

fazendo com que a população, frente às novas circunstâncias, estabelecesse

novas apropriações, usos e significados para o espaço público. O Rio Cidade

propiciou a reabilitação da área central de Campo Grande e em suas

imediações, contudo, suas intervenções urbanísticas não focalizaram os

problemas estruturais, agindo apenas de acordo com a conjuntura e interesses

das classes influentes (CARDOSO, 2009). A reprodução de uma cidade

desigual a partir da intervenção é discutida por Sartor:

“Convém lembrar que os trechos escolhidos para intervenção já representavam papel de centralidade de bairro, como atesta o próprio diagnóstico do programa ao se referir à sua vitalidade no contexto urbano, fazendo pouco sentido a ideia de constituição de novas centralidades. Certamente está se tratando de reafirmar o papel de centralidades existentes, provavelmente acentuando a fragmentação e a desigualdade no provimento e infraestrutura, haja vista a dimensão e complexidade da metrópole. ” (SARTOR, 1999, p. 76-77)

Pelo exposto, a dinâmica urbana e o projeto de intervenção de Campo

Grande constituem exemplos interessantes para comparação à área de estudo,

primeiramente considerando suas origens. Assim como no caso do Pinheirinho,

Campo Grande viveu uma realidade rural até meados do século XX e teve sua

ocupação urbana fomentada pela implantação de lotes urbanos em

substituição ao uso do solo rural, a emergência de meios de transporte que não

exigiam infraestruturas tão rígidas, e o surgimento de uma atividade industrial

relevante.

Considera-se, porém, que a dinâmica de forte ocupação por parte da

classe média e média/alta observada em Campo Grande a partir dos anos

1980, reforçada nos anos 1990 difere do que se pode observar no Pinheirinho,

cujo caráter popular ainda é predominante. No entanto, conforme será discutido

no capítulo 5, o Pinheirinho pode estar no início de um processo de aumento

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da renda da população residente.Apesar dos diferentes contextos em que

essas dinâmicas podem se estabelecer nos dois casos, fica realçada a

importância do caso estudado pelo avanço expressivo do mercado imobiliário

na busca por novas áreas registradas no bairro, que certamente servirá de

parâmetro comparativo ao estudo do Pinheirinho.

Segundo os autores pesquisados, a intervenção do Programa Rio

Cidade contribuiu para o aprofundamento da desigualdade no município do Rio

de Janeiro, ao contrário do que seu discurso defendia. A intervenção específica

em Campo grande favoreceu o mercado imobiliário na produção do espaço

urbano, propiciou a apropriação privada de mais valias e a elevação das

características socioeconômicas do bairro, priorizando os interesses das

classes de renda mais alta e apartando da vida do bairro as dinâmicas e a

presença das classes populares.

4.2 SUBCENTRO DE LAS CONDES EM SANTIAGO, CHILE

O projeto chamado Subcentro Las Condes foi resultado de uma

intervenção no cruzamento de duas grandes avenidas, a Américo Vespúcio,um

dos principais anéis de ligação da Grande Santiago, e a Apoquindo, que liga o

centro da aglomeração de Santiago aos setores localizados a leste. Tais

avenidas conformam o principal centro residencial e comercial da comuna26 de

Las Condes (Figura 20). Devido à sua importância, estas vias se constituem

em um importante nó de circulação, por onde passa um intenso fluxo de

veículos e pedestres da cidade, que concentra boa oferta de transporte público,

como a estação de metrô Escuela Militar, pontos de ônibus e terminais de táxi

e ônibus (SABBAGH ARQUITECTOS, 2014)

26 As esferas administrativas do território Chile se dividem, da maior para a menor, em Região, Província e Comuna.

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FIGURA 20 –VISTA DO SUBCENTRO LAS CONDES E DO SEU ENTORNO IMEDIATO. FONTE:http://www.plataformaurbana.cl/archive/2008/05/26/orgullo-ciudadano-subcentro-las-condes/. Acesso em: 20/5/2014.

A intervenção foi idealizada pelos engenheiros Marcelo Corbo e

Rodrigo Jullian, fundadores da consultoria Urban Development, especializada

em elaborar projetos urbanos e imobiliários em parceria com instituições

públicas e privadas (URBAN DEVELOPMENT, 2014). A proposta foi

desenvolvida e colocada em prática através de alianças feitas com a

Municipalidad de Las Condes, a empresa de capital misto Metro S.A.,

responsável pela operação do metrô em Santiago, e o Ministério dos

Transportes. Contou com uma supervisão inicial realizada pela consultoria

estadunidense Project for Public Spaces (PPS) e com o projeto arquitetônico

contratado a cargo do escritório Sabbagh Arquitectos (RAPHAEL, 2009).

O resultado foi a recriação de um espaço de comércio e serviços sob a

identidade – inclusive comercial – de subcentro, com a apropriação e

redesenho de espaços públicos considerados deteriorados, como o conjunto de

áreas verdes ao redor e o espaço sob o viaduto da Av. Apoquindo sobre a

Américo Vespucio, desempenhando um importante papel na renovação do

trecho urbano em que se inseriu.

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4.2.1 Formação do contexto urbano de Las Condes

Las Condes é uma das 32 comunas que compõem a província de

Santiago, capital do Chile, (Figura 21), que por sua vez faz parte da região

metropolitana de Santiago, uma das 13 regiões administrativas do país.

Localiza-se a nordeste de Santiago e no ano de 2002, segundo o censo,

possuía uma população de 249.893 habitantes, enquanto a província de

Santiago abrigava 4.668.473 habitantes e a região metropolitana 6.061.185

(INE, 2003).

Um dos destaques desta comuna é o seu alto Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH), que em 2003 atingiu o valor de0,933. Este

índice é considerado muito alto, e se classificou como o segundo maior entre

as 341 comunas do Chile, perdendo apenas para a comuna vizinha de Vitacura

que registrou 0,949. (PNUD, 2003)

FIGURA 21– MAPA DAS COMUNAS DA PROVÍNCIA DE SANTIAGO E A LOCALIZAÇÃO DA COMUNA DE LAS CONDES.

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FONTE: O Autor (2014), com base em Wikimedia (2014)

Suas origens remontam ao início do século XX, quando a área

chamada Las Condes de Sierra Bella foi destacada como comuna. A partir dos

anos 1920, várias áreas análogas a Las Condes começaram seu processo de

urbanização resultante da expansão da ocupação de Santiago, porém, até

meados dos anos 1930 Las Condes preservava características

predominantemente rurais. (LAS CONDES, 2014)

Em 1949 houve o loteamento da Fazenda de Las Condes em 2.094

lotes, que constituiu a localidade de Vila Dominicos. A partir disso houve um

grande impulso na ocupação urbana da comuna, marcando o início de sua

integração no contexto urbano de Santiago. Na década seguinte

estabeleceram-se serviços e clubes que ajudaram a dinamizar suas atividades.

(LAS CONDES, 2014)

No ano de 1958, em parte de um terreno de uma chácara que havia

sido cedida ao poder público ainda no começo do século XX, foi construída

uma nova sede para a Escuela Militar del Libertador Bernardo O’Higgins,

responsável pela formação de oficiais do exército chileno,conhecida apenas

como Escuela Militar (Figura 22). Esta instituição está localizada no

cruzamento das avenidas Apoquindo e Américo Vespucio e deu o nome à

estação de metrô Escuela Militar, objeto da intervenção do projeto em análise.

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FIGURA 22– VISTA DA ESCUELA MILITAR DEL LIBERTADOR BERNARDO O´HIGGINS, EM LAS CONDES. FONTE: LAS CONDES (2014)

O sistema de metrô de Santiago começou a ser operado em 1975 a

partir da sua linha 1, que percorre as comunas da província no sentido leste-

oeste. Em 1980 a ampliação desta linha chegou até a estação Escuela Militar,

que permaneceu como ponto terminal até 2010, ano em que houve a

conclusão de três outras estações adiante (METRO DE SANTIAGO, 2014).De

acordo com Sabbagh Arquitectos (2014), a implantação da estação foi

favorecida pela diferença de cota entre a avenida Apoquindo (mais alta) e a

Américo Vespucio (mais baixa). Dessa forma, junto com a construção da

estação foram criadas passagens para pedestres e pontos comerciais sob os

espaços cobertos e entre as áreas verdes que ali se conformaram decorrentes

da implantação do projeto. No entanto, embora fosse um espaço movimentado,

fatores como o desenho inadequado, problemas de iluminação, acessibilidade

deficiente, entre outros, concorreram para o aparecimento de problemas de

segurança, acarretando na gradual deterioração do espaço e abandono por

parte dos usuários (RAPHAEL, 2009; SABBAGH ARQUITECTOS, 2014).

Sabbagh Arquitectos (2014) afirma que a estação abriga um fluxo

mensal de 2,2 milhões de pessoas. Segundo o diretor da empresa Metro S.A. a

capacidade da estação a colocava na condição de segunda mais importante da

rede metroviária, parte de “um novo centro, comparável ao centro de Santiago”

(VARAS, 2008). Se for considerado que o local agrega um grande número de

paradas de ônibus ao seu redor, pode-se considerar que o número de usuários

do transporte público é ainda mais significativo.

O grande movimento da estação é explicado também pela ocupação

no entorno, constituída de uma série de comércios e serviços, sobretudo no

eixo da avenida Apoquindo, importante vetor de expansão dessas atividades

em Las Condes. (Figura 23)

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FIGURA 23– VISTA DA AVENIDA APOQUINDO A PARTIR DO VIADUTO SOBRE A ESTAÇÃO ESCUELA MILITAR. FONTE: GOOGLE, 2014

O adensamento visto na Figura é incentivado pela legislação comunal

e incide principalmente no eixo da avenida Apoquindo, conforme estabelecido

pelo zoneamento em vigor desde 2005 (LAS CONDES, 2014).

4.2.1 Análise do projeto

A deterioração deste espaço, tão importante do ponto de vista de sua

acessibilidade, foi encarada por Marcelo Corbo e Rodrigo Jullian como uma

oportunidade de investimento através de sua conversão de um espaço de

passagem num espaço de uso e convivência (ASSAEL, 2008; RAPHAEL,

2009). De acordo com Assael (2005) o projeto começou a ser concebido pela

dupla em 2002, por meio da busca de apoio das instituições públicas que

pudessem assegurar sua viabilidade. Após mais de três anos de

desenvolvimento, o projeto começou a ser construído no início de 2006 e suas

obras foram finalizadas em março de 2008. (VARAS, 2008)

Para caracterizar o problema de projeto identificado na Estação

Escuela Militar, o escritório Sabbagh Arquitectura identificou inicialmente suas

principais deficiências e potencialidades. Dentre as deficiências destacam-se: a

interrupção da malha urbana e da passagem peatonal provocada pela Av.

Américo Vespucio na Av. Apoquindo, gerando duas zonas distintas; passagem

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e espaços subterrâneos inutilizados pelos usuários devido à falta de

segurança; desarranjo entre o fluxo de pedestres e a oferta do transporte

público, localização confusa de táxis e ônibus no entorno, excesso de acessos

à estação, provocando desordem e insegurança; áreas verdes subutilizadas no

seu entorno.

As potencialidades indicadas pelo escritório foram: a estação Escuela

Militar possui o segundo maior fluxo mensal de passageiros de toda a rede do

Metrô; multiplicidade de usos no entorno, como comércio, serviços e moradia;

ser um espaço residual com possibilidade de resgate para o uso público numa

área carente de áreas livres; alta demanda imobiliária influenciada pelas

condições do entorno; grande potencial comercial, sobretudo se houver a

integração com o eixo de passagem da Av. Apoquindo (SABBAGH

ARQUITECTOS, 2014).

Dessa forma, procederam-se intervenções de cunho arquitetônico, de

desenho urbano e paisagístico nas galerias comerciais de acesso à estação de

metrô, nas áreas verdes e no sistema viário adjacentes. A Figura 24 mostra o

plano para as quatro praças ao redor da estação e a nova configuração de

acessos proposta, e a Figura 25 mostra a definição dos acessos à estação, as

lojas da galeria e a travessia subterrânea da Av. Américo Vespucio, religando o

eixo peatonal da Av. Apoquindo.

FIGURA 24– PLANTA DO PROJETO DO SUBCENTRO LAS CONDES - NÍVEL DAS PRAÇAS (SUPERIOR) FONTE: http://www.plataformaarquitectura.cl/2007/12/06/en-construccion-subcentro-las-condes-sabbagh-arquitectos/

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FIGURA 25– PLANTA DO PROJETO DO SUBCENTRO LAS CONDES - SUBTERRÂNEO FONTE: http://www.plataformaarquitectura.cl/2007/12/06/en-construccion-subcentro-las-condes-sabbagh-arquitectos/

Com a efetiva implantação do projeto, Fernandes (2012) elenca, a

partir do ponto de vista de uma usuária, suas características positivas:

“1. Acesso e Ligações: está localizado em vias de grande importância [...] dispõe de pontos de ônibus e táxi, ale da entrada direta para a estação Escola Militar do metrô, que é muito movimentada. 2. Imagem e Conforto: É de grande visibilidade. O projeto procurou dar maior visibilidade e luminosidade ao local, o que diminui a sensação de insegurança. As galerias comerciais possuem fechamento de vidro e aumentam a sensação de amplidão do espaço, visto de fora não parece uma estação do metrô, mas sugere um lugar de reunião. 3. Usos e Atividades: Lojas e praças permitem compras rápidas não só para os passageiros, mas também para a comunidade que vive próximo ao local. 4. Sociabilidade: Tornou-se um ponto de referência e centro de convívio, não só para as pessoas que passam por lá regularmente, mas é uma opção de ‘lazer’.”(FERNANDES, 2012)

Em depoimento ao jornal La Tercera, Rodrigo Jullian explicou que o

Subcentro Las Condes contava em 2010 com 29% de ocupação por lojas do

ramo de alimentação, incluindo franquias das multinacionais Mc’Donalds e

Subway, 21% por lojas de conveniência, supermercados e farmácias. Da

totalidade dos espaços comerciais disponíveis à época, 90% estava ocupada

(EL PROYECTO..., 2010). Além disso, o sucesso comercial do projeto se

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expressa pela nova parceria que a Urban Development estava desenvolvendo

com o setor público, desta vez para a estação do metrô Santa Lucía localizada

no centro de Santiago. A Figura 26 demonstra os estabelecimentos existentes

em 2014.

FIGURA 26 – ESQUEMA DE LOCALIZAÇÃO DAS LOJAS E DAS ALTERNATIVAS DE TRASNPORTE DO SUBCENTRO LAS CONDES FONTE: SUBCENTRO (2014)http://subcentro.cl/ok-market-2/

Embora seja destacada a ação dos entes privados na elaboração do

projeto, houve a necessidade por parte de seus idealizadores de que o poder

público oferecesse respaldo à proposta. Segundo Raphael (2009), a

implantação das novas praças do projeto ficou a cargo do governo de Las

Condes, enquanto o Ministério dos Transportes se responsabilizou pelas

mudanças viárias necessárias e instalação de novos pontos de ônibus e

paradas de taxi, e a Metro S.A. arrendou os espaços das galerias comerciais à

empresa Urban Development, que realizou a obra de adequação e melhoria

das galerias e acessos. Em síntese, a exploração das áreas ficou a cargo do

setor privado, enquanto o poder público arcou com a uma boa parte das obras

do projeto.

Antes da elaboração e no início da implantação do projeto, algumas

críticas marcaram as notícias a ele relacionadas. Assael (2005) destaca que

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somente após três anos decorridos do início de seu desenvolvimento, foi

divulgada sua natureza, impossibilitando consultas ou qualquer envolvimento

da comunidade no processo de transformação que se pretendia para a área27.

Além disso, questionou se o projeto decorrente da proposta não deveria ter

sido escolhido através de concurso público no lugar da contratação direta

realizada entre a Urban Development e o escritório Sabbagh Arquitectos, uma

vez que a área da intervenção é pública.

Numa análise retrospectiva da implantação do projeto, na época de

inauguração, Varas (2008) destaca que o lançamento do projeto, dois anos

antes, gerou reações diversas. Se por um lado houve a expectativa positiva de

recuperação de uma área degrada importante para a cidade, de outro sua

elaboração oculta foi uma grande surpresa. A autora ainda afirma que o projeto

ganhou mais importância entre o período de lançamento e conclusão das

obras, pela implantação do sistema de ônibus Transantiago e o aumento das

tendências de uma ocupação por empreendimentos de maior escala da região,

tornando a estação a principal porta de entrada para o desenvolvimento

imobiliário de moradia, comércio e serviços de Las Condes.

Apesar das críticas, a inauguração do espaço do Subcentro Las

Condes recebeu elogios por parte da comunidade. Incerto e crítico quanto à

natureza das obras em 2005, Assael afirmou posteriormente que a estação e

seus arredores se tornaram um local de uso público bem desenhado e ativo,

em contraste com a configuração existente antes das obras, destacando o fato

da gestão do lugar ser privada (ASSAEL, 2008).

Pelo exposto anteriormente, é possível perceber que a intervenção

realizada no espaço urbano teve um caráter pontual, se restringindo à escala

do projeto, e não se refletindo em alterações de zoneamento ou em mudanças

estruturais na conformação urbana.

Apesar de intervir num espaço preexistente, dotado de alta

acessibilidade e grande variedade de fluxos, é possível dizer que o projeto

27De acordo com Raphael, a principal medida para promover a participação pública no projeto foi solicitar opiniões do bairro em uma pesquisa on-line para ajudar a determinar o melhor mix de lojistas para o local, o que seria uma forma de dar ao público uma participação no projeto, fazendo com que ele se sentisse representado (RAPHAEL, 2009). Pode-se entender, no entanto, que essa atividade constituiu uma mera pesquisa de mercado a fim de atrair investimentos e potencializar os lucros da operação, não uma efetiva participação popular no planejamento do projeto.

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Subcentro Las Condes representa a recriação, não intervenção, de um

subcentro, propiciada pela centralidade da área em que se insere, que

continuou. Nesse caso, verifica-se que o uso do termo "subcentro" sai do

âmbito de reconhecimento de uma dinâmica urbana, para ser convertido em

produto imobiliário, por meio do favorecimento da venda de sua imagem a

possíveis investidores e usuários.

Desta forma, se reconhece no correlato estudado um novo enfoque de

intervenção em subcentros, aparecendo como uma criação do mercado

imobiliário interessado na acumulação de capital, através da apropriação de

espaços públicos. O projeto parece gozar da aprovação por parte dos usuários

e do setor público, tendo recebido críticas positivas desde sua inauguração e

cujo sucesso é realçado pela nova parceria fechada com o poder público para

remodelação de outra estação de metrô.

A contrapartida oferecida, baseada na justificativa de que o uso

constante dos espaços comerciais evitará que os espaços públicos

revitalizados passem por um novo processo de degradação é interessante,

porém discutível, uma vez que o próprio poder público foi responsável por

executar as obras de maior custo. Também vale destacar que o poder público

não realizou qualquer tipo de instrumento de recuperação de mais valia

decorrente de seu investimento no projeto. Portanto, é possível reconhecer que

o principal agente beneficiado com a intervenção foi o setor privado,

representado pela incorporação imobiliária.

4.3 PROJETO DO SUBCENTRO LESTE EM SAMAMBAIA (DF)

O Subcentro leste de Samambaia, cidade satélite do Distrito Federal, é

uma proposta do Governo do Distrito Federal que visa à criação de um

subcentro numa área vazia e de propriedade pública da cidade (Figura 27),

através do instrumento do zoneamento de uso do solo. Não se trata, portanto,

de um projeto que visa intervir num espaço urbano já detentor de uma

centralidade consolidada, mas da indução ao surgimento desse processo.

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FIGURA 27 – IMAGEM PARCIAL DA ÁREA DO SUBCENTRO LESTE E SEU ENTORNO JÁ OCUPADO FONTE: TERRACAP (2009)

O projeto faz parte da diretriz dinamização, presente nas diretrizes

territoriais previstas no Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), que

abrange todo o território do Distrito Federal.O PDOT estipula as áreas onde é

pretendida a dinamização de atividades e foi aprovado pela Lei Complementar

Distrital nº 803/2009,cujo texto dos artigos 106 e 107 trazem a definição dos

objetivos e o escopo das ações a favor da Estratégia de Dinamização:

“Art. 106.A Estratégia de Dinamização está voltada à configuração de novas centralidades, visa promover o desenvolvimento urbano, econômico e social e a indução do crescimento local e regional, mediante a diversificação do uso do solo, a implantação de centros de trabalho e renda e a melhoria dos padrões de mobilidade e acessibilidade, observada a capacidade de suporte socioeconômico e ambiental do território” [...] Art. 107. As Áreas de Dinamização comportam ações de: I - organização e estruturação da malha urbana e dos espaços públicos associada à rede viária estrutural e à rede estrutural de transporte coletivo, resguardado o equilíbrio ambiental; II – integração e reorganização da infraestrutura de transporte urbano, público e individual; III – estímulo à multifuncionalidade dos espaços, possibilitando-se o incremento das atividades de comércio e de habitação; IV – recuperação de áreas degradadas, por meio de intervenções integradas no espaço público e privado; V – incentivo à parceria entre o Governo, a comunidade e a iniciativa privada para o desenvolvimento urbano. ”(DISTRITO FEDERAL, 2009)

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Um dos estudos decorrentes das diretrizes apontadas do PDOT

constitui o documento intitulado Diretrizes Urbanísticas do Subcentro Leste

(SEDHAB, 2012), que define a forma pretendida para a ocupação da área

delimitada. Uma das justificativas do poder público para sua realização reside

na atribuição da Secretaria de Estado de Habitação, Regularização e

Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal (SEDHAB) em promover uma

"ocupação ordenada do território". (SEDHAB, 2012).Uma das principais linhas

de ação da secretaria para a área é o provimento de moradias, contudo, com o

importante papel de áreas de comércio e serviços para a dinamização local que

justificam a característica de subcentro almejada.

Nesse sentido, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), contratado em

2009 pela Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (TERRACAP)

explicita os fatores que justificam a implantação do subcentro, elencando

outros:

“O objetivo para a implantação deste empreendimento surgiu da necessidade da demanda por terrenos para parcelamento e também do interesse do Serviço Nacional do Transporte-SEST - e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte - SENAT [...]em determinar a criação de áreas no Subcentro Leste para a categoria de uso institucional, atividade de culto, templo religioso, bem como instituição de nível superior.” (TERRACAP, 2009b, p. 10).

Por se tratar de um projeto recente e ainda não implantado do poder

público, os dados coletados são em sua ampla maioria derivados de planos,

diagnósticos e leis, portanto, estão pautados pelo discurso oficial do governo.

Da mesma forma, não é possível avaliar e definir seus impactos no espaço

urbano.

4.3.1 Formação do contexto urbano de Samambaia

A cidade de Samambaia localiza-se a sudoeste do Plano Piloto de

Brasília, a uma distância de 35 km. De acordo com a Pesquisa Distrital por

Amostra de Domicílios (PDAD 2010/2011), a Região Administrativa de

Samambaia, possui uma população de 193.485 habitantes. Em 2003 seu IDH

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atingiu o patamar de 0,781, valor considerado médio, puxado para baixo pelo

IDH-Renda que registrou apenas 0,629. Ao seu redor estão localizadas as

cidades-satélites de Ceilândia, Taguatinga e Recanto das Emas (Figura 28).

FIGURA 28 – LOCALIZAÇÃO DE SAMAMBAIA E DO SUBCENTRO LESTE EM RELAÇÃO ÀS CIDADES VIZINHAS. FONTE: SEDHAB (2012)

A implantação das cidades-satélite de Brasília surgiu da necessidade

de contemplar os fluxos de migração e expansão da ocupação do Distrito

Federal desde sua criação em 1960. As diretrizes que definiram a criação da

cidade de Samambaia surgiram com este mesmo intuito e foram estabelecidas

pelo Plano Estrutural de Organização Territorial (PEOT) de 1978. No ano de

1981 foi aprovado o documento do estudo preliminar de Samambaia, a se

instalar na área rural de Taguatinga, provocando a desapropriação de parte de

seu território. (IPDF, 1999)

No ano seguinte foi dado início ao chamado "Projeto Samambaia", em

face da necessidade de suprir a carência habitacional do Distrito Federal.

Conforme registrado pelo IPDF (1999), a efetiva ocupação da nova cidade, no

entanto, só começou a ocorrer em 1985, o que não impediu que os moradores

ocupassem áreas desprovidas de infraestrutura. A segunda fase da ocupação

de Samambaia teve início em 1988, com a distribuição de lotes destinados à

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habitação de interesse social, através do Sistema Habitacional de Interesse

Social (SHIS), e em 1989, quando registrava 7 mil habitantes, Samambaia tem

seu processo de ocupação retomado.

Apenas alguns meses após a divulgação da contagem populacional da

cidade, o governo do DF anuncia a relocação de 55 mil pessoas provenientes

de favelas e inquilinos de baixa renda de todo o Distrito Federal em

Samambaia, que fez explodir sua ocupação. Com esse grande incremento

populacional, Samambaia foi desmembrada de Taguatinga e passou a

constituir a Região Administrativa XII– RAXII (IPDF, 1999).

Sua ocupação tem como forte condicionante a passagem da linha de

transmissão de energia elétrica de Furnas, existente desde os anos de 1970,

que separa a cidade em áreas Norte e Sul, e em cuja faixa de domínio é

proibida a edificação ou qualquer atividade humana (IPDF, 1999). A Figura 29

mostra a separação causada pela linha de transmissão e destaca a localização

do Subcentro Leste.

FIGURA 29– ÁREAS NORTE E SUL DE SAMAMBAIA E A LOCALIZAÇÃO DO SUBCENTRO LESTE. FONTE: SEDHAB (2012); BING (2014), elaborado pelo autor (2014)

Nota-se que a cidade tem um histórico de ocupação majoritária de

baixa renda induzida pelo estado. De acordo com TERRACAP (2009), 50% da

população possui renda familiar de até 2 salários mínimos, enquanto outros

33% situam-se na faixa de 2 a 5 salários mínimos. A implantação do Subcentro

representará um incremento na sua ocupação, uma vez que sua área foi

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incluída no Programa Morar Bem, criado em 2011, de oferta de habitação de

interesse social.

4.3.2 Análise do projeto

A proposta do Subcentro Leste contempla uma área de 174,07

hectares e está reunida basicamente em três estudos que remetem ao disposto

pelo PDOT: A Proposta de Ocupação; o Estudo de Impacto Ambiental (EIA),

ambos desenvolvidos pela TERRACAP em 2009, e as Diretrizes Urbanísticas,

de autoria da SEDHAB, desenvolvidas de 2012. As diretrizes urbanísticas que

definiram o parcelamento da área, no entanto, são mais antigas, e segundo a

TERRACAP (2009b) foram estipuladas pelas Leis Complementares n.º

223/1999, que cria a área para Igreja entre o conjunto 12 do Setor de Mansões

de Taguatinga e a Avenida Leste, e n.º 386/2001, que cria a unidade imobiliária

destinada á instituição de nível superior.

O estudo das Diretrizes Urbanísticas de 2012 foi criado a partir da

Proposta de Ocupação e do EIA, assimilando, portanto, suas principais

recomendações e análises. Dos conteúdos constantes no EIA,destacam-se no

seu Apêndice A as preocupações com as linhas de transmissão, que para

garantir a execução integral do projeto devem ser remanejadas por

enterramento ou mudanças do seu percurso, e as alternativas de ocupação da

área em dois cenários, com ou sem o remanejamento das linhas. Também traz

informações sobre o projeto da linha Interbairros, cuja implantação e ocupação

das quadras adjacentes foi proposta em 2008 pelo escritório do Arquiteto Jaime

Lerner. A Figura 30 retrata o caráter dessa proposta que também constava de

um zoneamento para o Subcentro Leste:

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FIGURA 30– SIMULAÇÃO DA PROPOSTA DESENVOLVIDA POR JAIME LERNER PARA A OCUPAÇÃO DO EIXO DO INTERBAIRROS, AO FUNDO, E DO SUBCENTRO LESTE, EM PRIMEIRO PLANO, FONTE: SEDHAB (2012)

O eixo da linha Interbairros coincide com o das linhas de transmissão e

sua viabilidade também depende do remanejamento das linhas elétricas.

Sendo a linha do Interbairros um dos projetos principais para conformação do

Subcentro Leste, é chamada a atenção para a questão das linhas de

transmissão, cujo remanejamento é primordial para ambas as propostas,

conforme consta no EIA:

“A retirada das linhas de transmissão que existem hoje na área desejada para o parcelamento e que deverão ser remanejadas e/ou enterradas para que haja condição de implantação do referido empreendimento se torna condição sine qua non para a implantação de outro importante empreendimento que também fará parte do desenho urbano do Subcentro Leste: a Via Interbairros. Caso contrário, ambos os empreendimentos (Subcentro Leste e a Via Interbairros) poderão tornar-se inviáveis em virtude dos espaços ocupados pelas linhas de transmissão, impossibilitando qualquer tipo de edificação nas suas faixas de domínio.” (TERRACAP, 2009b, p. 29).

Apesar disso, o zoneamento do Subcentro Leste foi desenhado de

forma a contemplar uma ocupação independente da retirada dessas estruturas.

Nele são previstas atividades mistas e complementares em três zonas

distintas, denominadas Zona A – Centralidade, Zona B – Uso institucional e

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Zona C – Uso Residencial, sendo que a zona de centralidade é definida de

seguinte forma:

A área apresenta vocação para centralidade urbana, devido sua localização ao longo da via Interbairros, prevista nas Estratégias de Dinamização e de Estruturação Viária do PDOT/2009. A via Interbairros deverá se constituir em importante eixo de ligação entre os núcleos urbanos de Samambaia, Taguatinga, Águas Claras, Guará e Plano Piloto de Brasília. (SEDHAB, 2012, p. 5)

A zona de centralidade, no entanto, não apenas é composta por

atividades de comércio e serviços, mas incluem também a previsão de uma

ocupação mista numa tentativa de impedir o esvaziamento da área fora do

horário das atividades comerciais:

O uso misto (comercial/serviços e/ou institucional associado ao uso residencial) é desejável, uma vez que promove a vitalidade da área em diversas horas do dia. Nesses casos, o uso residencial deve ser permitido apenas nos pavimentos superiores da edificação, garantindo comércio e atividades institucionais no pavimento térreo, em contato com o espaço público aberto. (SEDHAB, 2012, p. 5)

Conforme a densidade máxima de 150 hab./ha estabelecida pelo

PDOT, a área poderá abrigar um máximo de 26.110 habitantes.Considerando a

média de 3,37 habitantes por domicílio, a proposta chegou ao número máximo

de 7.748 unidades habitacionais para a área, sob o cenário de remanejamento

das linhas de transmissão. Desse total, é previsto que a Zona A poderá abrigar

até 3.800 unidades, correspondendo a 49%, enquanto a Zona C abrigaria os

51% restantes.

A Figura 31 mostra a delimitação dessas zonas, a área de domínio das

linhas de transmissão, a linha do metrô existente e a proposta do Interbairros.

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FIGURA 31- ZONEAMENTO PROPOSTO PARA O SUBCENTRO LESTE DE SAMAMBAIA E INFRAESTRUTURAS EXISTENTES. FONTE: SEDHAB (2012)

Para estas zonas a proposta estabelece parâmetros de uso e

ocupação do solo presentes na tabela abaixo.

USO/ ATIVIDADE

COEFICIEN-TE BÁSICO

COEFICIEN-TE MÁXIMO

Nº DE PAVI-MENTOS

ALTURA MÁXIMA

(M)

TAXA DE PERMEABI

LIDADE

Residencial Zona C

Residencial Multifamiliar (lote)

1 3 4 14 -

Residencial Multifamiliar (projeção)

1 4 4 14 -

Comércio Bens/Prestação de Serviços (lote)

1 2 4 14 -

Comércio Bens/Prestação de Serviços (projeção)

1 4 4 14 -

Institucional ou Comunitário (lote)

1 2 4 14 20%

Institucional ou 1 4 4 14 -

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USO/ ATIVIDADE

COEFICIEN-TE BÁSICO

COEFICIEN-TE MÁXIMO

Nº DE PAVI-MENTOS

ALTURA MÁXIMA

(M)

TAXA DE PERMEABI

LIDADE Comunitário (projeção) Centralidade Zona A

Residencial Misto (lote) 2 8 12 38 -

Residencial Misto (projeção)

2 9 12 38 -

Comércio Bens/Prestação de Serviços (lote)

1 8 12 38 -

Comércio Bens/Prestação de Serviços (projeção)

1 9 12 38 -

Institucional ou Comunitário (lote)

1 8 12 38 -

Institucional ou Comunitário (projeção)

1 4 6 20 20%

Institucional Zona B Institucional ou Comunitário (lote)

0,5 1 4 14 40%

Institucional ou Comunitário (projeção)

1 4 4 14 -

TABELA 1 - PARÂMETROS DE OCUPAÇÃO DO SOLO DAS UNIDADES IMOBILIÁRIAS – SUBCENTRO LESTE FONTE: SEDHAB (2012)

Nota-se que as áreas residenciais da Zona C são marcadas pela

ocupação com altura máxima de quatro pavimentos, correspondendo a um

padrão característico dos empreendimentos multifamiliares voltados para a

habitação de interesse social. Já na Zona A, de centralidade, a ocupação

residencial mista pode ser consolidada com edifícios de até 12 pavimentos e

coeficiente de aproveitamento de 9, muito superior ao máximo visto nas demais

zonas, que é de 4.

Os instrumentos aplicados até o momento para a formação do

Subcentro Leste se restringem às Diretrizes Urbanísticas discutidas acima e ao

zoneamento de uso do solo. Este estudo reconhece que a implantação

depende da elaboração de um projeto urbanístico específico, que a contemple

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no período até 2016, e ressalta a possibilidade de ser revisto antes mesmo do

fim de sua validade, conforme afirma:

Estas diretrizes têm prazo de validade de 4 (quatro) anos, conforme estabelece o parágrafo único do art. 7º da Lei Federal 6.766/79. Cabe ressaltar que as diretrizes urbanísticas se caracterizam como uma das ferramentas de planejamento urbano e territorial, sendo elaboradas à luz das estratégias de ocupação do território do Distrito Federal, podendo ser reavaliadas em prazo inferior aos quatro anos previstos, de acordo com o interesse público ou salvo mudanças de legislação que impliquem alteração de uso e ocupação do solo. (SEDHAB, 2012, p. 3)

Em resumo, o Subcentro Leste de Samambaia é um projeto que prevê

uma ocupação mista de sua área, com ênfase na oferta de moradias e com a

intenção de estimular o surgimento de uma centralidade visando atender à

população local atual e futura, através da definição de uma área dinamizada de

comércio e serviços. É válida no projeto a preocupação em criar uma área de

centralidade, livre de fatores que possam causar sua deterioração futura, que

certamente foi guiada pelas experiências observadas em centros tradicionais,

notadamente pela intenção de incentivar a implantação de unidades

habitacionais

Considerando o contexto de baixa renda de ocupação da cidade e

mesmo das unidades habitacionais de interesse social previstas na Zona C do

próprio subcentro, a ocupação permitida pelos parâmetros da Zona A, com alto

índice aproveitamento do solo sugere uma grande valorização dessa zona e

uma possível ocupação restrita pelo mercado às classes mais altas. Nesse

sentido e em relação ao entorno consolidado, verifica-se que não há na

proposta a utilização de instrumentos de recuperação de mais valias urbanas.

Dessa forma, infere-se que a centralidade que poderá exercer, caso

ocorra sua implantação, depende diretamente da oferta de transporte público,

sobretudo no caso da linha Interbairros, mas também da apropriação de sua

proposta pela esfera privada. A ausência de instrumentos que atuem no

sentido de indução da ocupação deixa em aberto, no entanto, como poderia ser

materializada essa ocupação e afirmada a centralidade que se pretende

desenvolver.

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4.4 SÍNTESE COMPARATIVA ENTRE OS CASOS CORRELATOS

A análise dos correlatos permite visualizar três tipos diferentes de

abordagem da questão de áreas de subcentro nos casos de Campo Grande,

Las Condes e Samambaia. Além disso, proporciona uma perspectiva de como

o fenômeno foi entendido em cada um dos casos e como sua centralidade foi

explorada nas propostas.

Para uma comparação das características que definem tais casos,

foram elencados alguns elementos e identificados sua ocorrência em cada

intervenção analisada, evidenciando semelhanças e diferenças:

CASO CORRELATO CAMPO GRANDE LAS CONDES SAMAMBAIA

Localização Rio de Janeiro, Brasil Santiago, Chile Distrito Federal, Brasil

Período de projeto 1993-1994 2002-2005 2009 -

Período de implantação 1995-2000 2006-2008 - Escala de Abrangência Municipal/Local Local Regional Característica da área antes do projeto

Subcentro consolidado Área degradada Vazio urbano

Principal objetivo Reforçar a centralidade já existente

Reabilitar uma área de uso público para exploração comercial

Gerar estoque habitacional e estimular o surgimento de uma centralidade

Parcerias efetuadas entre esferas pública e privada

Não Sim Não

Operação Pública Privada Pública Fonte dos recursos Pública Mista Pública* Escala Desenho Urbano Projeto e Desenho

Urbano Planejamento

Ferramentas e ações Projeto de espaços públicos

Projeto de espaços públicos

Legislações, planos e zoneamento

Impactos positivos Melhora na acessibilidade da área de intervenção. Melhoria no mobiliário urbano

Reutilização de espaços degradados. Aumento da segurança

-

Impactos negativos Expulsão do comércio voltado às classes mais populares. Ausência de instrumentos visando à recuperação de mais valias

Exploração privada do espaço público sem a aplicação de instrumentos de recuperação de mais valias geradas.

-

Nota: *Até a fase atual QUADRO 1–COMPARATIVO ENTRE OS CASOS CORRELATOS DE CAMPO GRANDE, LAS CONDES E SAMAMBAIA. FONTE: O Autor (2014)

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Conforme afirmado no início do capítulo, o tema do subcentro e a

preocupação dos diferentes setores da sociedade em discutir e intervir sobre

este tipo de processo espacial adquiriu bastante importância nos planos e

projetos urbanísticos na atualidade. O caso de Campo Grande, dado seu

distanciamento temporal maior e a bibliografia mais extensa sobre o projeto Rio

Cidade, em relação aos demais casos, permitiu uma reflexão mais profunda

sobre suas propostas, sua implantação e das disparidades entre discurso do

plano e prática dos projetos e ações implantados. Já os casos de Las Condes e

de Samambaia, por sua natureza e seu surgimento recente, tem como principal

colaboração oferecer novas visões sobre o tema “subcentro”.

No caso de Campo Grande a idealização do projeto partiu do poder

público, e sua implantação ocorreu exclusivamente por meio de recursos

públicos com o objetivo de recuperar um subcentro que se punha como um dos

mais recentes do município do Rio de Janeiro. Seus efeitos positivos foram

majoritariamente apropriados pelo capital privado que, além disso, esteve

desobrigado de prestar contrapartidas ao poder público, uma vez que este não

agiu na aplicação de qualquer instrumento visando a recuperação de mais

valia.

Sartor (1999) lembra que o programa fez parte de um conjunto de

propostas previstas no Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro 28 ,

finalizado em 1994 que pretendia induzir a consolidação de uma tendência à

descentralização. Esse plano se caracteriza pela sua forte relação com o

planejamento adotado por Barcelona anos antes para sediar as Olimpíadas de

1992 (DOMINGUES, 1999, SARTOR, 1999)

Nesse sentido, ambos os autores corroboram a ideia de que a busca

por produzir uma imagem de cidade diferenciada não foi mera escolha de

projeto, tendo sido pautada sob o ideal de city marketing, inclusive pela própria

seleção das áreas de intervenção, conforme justifica Domingues:

28Domingues afirma que o Plano Estratégico representou uma contradição no planejamento carioca, se opondo ao Plano Diretor aprovado em 1992: “[...] dois modelos deplanejamento que são conflitantes [...] Por um lado, o modelo representado pelo Plano Diretor que teria a agenda da Reforma Urbana como discurso justificador e, por outro, o modelo de planejamento adotado pelo governo que tem no Programa Rio Cidade, seu principal instrumento de política urbana, que teria no modelo catalão deplanejamento estratégico, seu discurso justificador. (DOMINGUES, 1999, p.5)

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101

Os critérios de escolha das áreas nunca foram justificados pela prefeitura, que apenas apresentava argumentos referentes à necessária legitimação dos instrumentos e à busca de maior repercussão no aspecto de marketing urbano. Estas áreas escolhidas se localizam em alguns dos mais simbólicos centros de bairro cariocas, bairros que tem uma participação histórica no imaginário urbano carioca [...] São áreas consolidadas e densas dacidade. (DOMINGUES, 1999, p. 78-79)

O programa foi lançado sob o subtítulo “o urbanismo de volta às ruas”,

ainda sob o discurso da reforma urbana preconizado pelo Plano Diretor

(SARTOR, 1999). Villaça (2004) destaca que o planejamento no Brasil nos

anos 1990 é marcado pelo abandono aos “superplanos” e a politização dos

planos, com a tentativa de neles inserir temas da reforma urbana atendendo

aos princípios de justiça social. Nesse sentido, o autor afirma que o Plano

Diretor Decenal do Rio de Janeiro, aprovado em 1992 se constituiu quase que

exclusivamente de diretrizes gerais que necessitavam de posterior aplicação

por leis que as especificasse (VILLAÇA, 2004). Esta indefinição abriria brechas

para que seu conteúdo não fosse posto em prática.

Sartor (1999) mostra que o discurso do poder público era de que o

programa, por sua aplicação em subcentros, tratava de uma série de

intervenções que buscavam a dispersão de investimento em áreas não

privilegiadas como o centro, numa tentativa de promover a imagem de uma

política igualitária e distributiva de recursos públicos, com alguma ênfase na

participação comunitária. Entretanto, verificou-se uma ampla disparidade entre

o discurso e a prática. Conforme Domingues (1999) afirma, as contradições

presentes entre o discurso oficial, seus meios de atuação e seus resultados se

refletem no aumento do desequilíbrio entre as diversas áreas do município que

o programa representou 29, na fraca participação popular que seu processo

propiciou e na ausência de medidas que visassem à recuperação de mais valia

decorrentes da execução das obras.

No caso do Subcentro Las Condes, diferentemente, se verifica a

participação da iniciativa privada na idealização e elaboração do projeto. No

entanto, sua concretização foi possível apenas com o auxílio prestado pelas

29O autor destaca que nos anos de 1995 e 1996 o investimento aplicado no Rio Cidadefoi equivalente a 7,7 vezes o valor somado dos investimentos no Projeto Favela Bairro e no Programa Morar sem Risco, programas habitacionais que representavam os principais projetos de caráter social do município.

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esferas públicas parceiras, inclusive na efetiva materialização das obras e

instalações. O maior impacto positivo para a população foi a possibilidade de

dispor de boas condições de uso de um espaço público até então degradado,

cuja vitalidade é garantida pela intensificação dos usos de comércio e serviços

ali instalados. O caso chileno também é interessante do ponto de vista da

iniciativa do projeto. Constituiu um caso de parceria entre entes privados e

públicos, como ocorre com frequência também no Brasil. No entanto, chama a

atenção o fato de o setor privado ter procurado o poder público para

desenvolver o projeto, não o contrário.

O caso do plano do Subcentro Leste de Samambaia, no Distrito

Federal, difere dos dois anteriores por ser o único no qual a única ferramenta

adotada é na escala do planejamento urbano, ao menos enquanto permanecer

como plano. No momento é difícil analisar quais seriam os reflexos de sua

proposta no espaço, bem como as possíveis contrapartidas que os setores

privados beneficiados forneceriam ao espaço público, uma vez que não houve

a efetivação da implantação do plano.

O projetos urbanos voltados à intervenção em centralidades podem ter

impactos na forma como estas se relacionam no espaço urbano, além de

desdobramentos do ponto de vista socioespacial. Nesse sentido, Cuenya

(2011) discute as alterações decorridas na centralidade urbana a partir dos

Grandes Projetos Urbanos (GPU). Os GPU, conforme definidos pela autora,

reúnem três características: Modificação na rentabilidade dos usos do solo,

Modificação funcional e físico espacial, e modificação dos mecanismos de

gestão pública.

Isto posto, pode-se considerar que os casos correlatos discutidos neste

capítulo não correspondem a todos os itens descritos, com a exceção do caso

de Samambaia, caso seu projeto seja posto em prática. Se destacam em todos

os casos discutidos acima a valorização dos usos do solo e também que essa

valorização não teve previsão de ser recuperada pelo poder público. Nos casos

de Campo Grande e Las Condes, por exemplo, não se verificou mudanças nos

mecanismos de gestão pública.

Os conceitos de Cuenya serão aplicados na análise dos projetos

urbanos que se desenvolvem no Pinheirinho atualmente. No capítulo seguinte,

seu caso será estudado de forma a identificar as características atuais da área

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e os projetos públicos e privados em andamento e futuros, que poderão intervir

no seu padrão socioeconomico e na centralidade que exerce.

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5. CARACTERIZAÇÃO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO

Neste capítulo apresenta-se uma leitura dos cenários atuais e

tendenciais do subcentro do Pinheirinho, em especial nos aspectos de uso e

ocupação do solo, dos fluxos materiais e imateriais nele presentes, dos

conteúdos socioespaciais que ele apresenta, da área de influência por ele

exercida. Nesta análise foram estabelecidos também dois recortes espaciais: o

do subcentro propriamente dito, e o da sua área de influência.

Na análise do núcleo do subcentro, serão destacadas as

características da área e do seu entorno imediato, evidenciando os padrões de

ocupação e seus conteúdos socioespaciais. Serão analisados as diferentes

estruturas, em tipo e escala de abrangência, do setor privado, dos

equipamentos públicos, os espaços livres públicos e os aspectos de mobilidade

que caracterizam o subcentro. Em função dos dados socioespaciais

disponíveis, quando necessário, as análises abrangerão os bairros do

Pinheirinho e Capão Raso.

Em seguida, caracteriza-se a área de influência do subcentro do

Pinheirinho. Para tanto, retomou-se o estudo presente no PMDU de 1987,

acerca da estrutura policêntrica de Curitiba. A partir dele, investigou-se as

alterações da sua região de influência ao longo do tempo, considerando as

mudanças dos territórios abrangidos pelas Administrações Regionais, desde

sua criação em 1986, respeitando, no entanto, as limitações que esse recorte

apresenta.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO NÚCLEO DO SUBCENTRO

O subcentro do Pinheirinho consiste na área onde está presente uma

dinâmica plena de atividades comerciais e de serviços, que pela concentração

e intensidade a diferencia de outras regiões do entorno. Corresponde a uma

área localizada ao longo de um trecho de aproximadamente um quilômetro de

extensão, na avenida Winston Churchill, ao sul do Terminal e da Rua da

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Cidadania do Pinheirinho, entre os bairros do Capão Raso e Pinheirinho, na

região sul de Curitiba. Além desta, compreende equipamentos públicos

dispostos próximos ao Terminal que oferecem serviços públicos

especializados.

No sentido norte-sul, ocupa a área que vai da rua João Rodrigues

Pinheiro à rua Joaquim Simões, enquanto no sentido leste-oeste está

compreendido entre as vias rápidas Rua Marechal Octávio Mazza Saldanha a

oeste e Rua André Ferreira Barbosa a leste, que junto com Av. Winston

Churchill, por onde circula o expresso, integram o sistema trinário30, conforme a

figura a seguir.

FIGURA 33 - VISTA AÉREA DO NÚCLEO DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO FONTE: GOOGLE (2014)

Conforme visto no histórico de ocupação do Pinheirinho, no capítulo 3,

A avenida Winston Churchill e a rua André Ferreira Barbosa correspondem a

caminhos formados antes dos anos 1950, época em que o Pinheirinho ainda 30 O sistema trinário é caracterizado por uma via central destinada ao fluxo de ônibus, com canaleta exclusiva, e pistas lentas para automóveis, juntamente com mais duas vias paralelas localizadas a uma quadra de distância, com sentidos opostos onde o fluxo de veículos é rápido.

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mantinha suas características rurais. Estes caminhos representavam a principal

entrada para o pequeno núcleo de ocupação em formação, portanto, é possível

afirmar que o subcentro que se observa hoje, decorre do processo de formação

e consolidação desse núcleo de ocupação inicial.

As visitas à campo demonstraram que os limites norte e sul, descritos

acima, são claramente identificáveis. No sentido norte a ocorrência de

atividades comerciais diminui de intensidade nas quadras em frente à Rua da

Cidadania e do Terminal, onde se verifica uma crescente tendência de

ocupação residencial vertical. Ao norte do Terminal, área dotada dos mesmos

parâmetros de uso do solo previstos por lei ao sul do terminal, observa-se uma

forte diminuição no número de comércio e serviços e da ocupação de uma

maneira geral, identificando-se a ocorrência de lotes vazios. (Figura 33)

FIGURA 33 - OCUPAÇÃO DA AV. WINSTON CHURCHILL AO NORTE DO TERMINAL DO PINHEIRINHO: DIMINUIÇÀO DA FREQUÊNCIA DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS E DA OCUPAÇÃO DO SOLO. FONTE: O autor (2014)

Já ao sul a interrupção é ainda mais marcada, terminando de forma

abrupta pela barreira formada pela transposição em desnível entre a Av.

Winston Churchill e a Linha Verde. (Figura 34) Desde o surgimento do

Pinheirinho a rodovia se constituiu numa barreira, tendo o cruzamento citado

acima sido alvo de preocupação da comunidade local desde seu surgimento.

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FIGURA 34 - TRANSPOSIÇÃO DA AV. WINSTON CHURCHILL SOB A LINHA VERDE (BR-476): LIMITE SUL DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO. FONTE: O autor (2014)

Em relação à sua ocupação no sentido leste-oeste, a maioria das

atividades que caracterizam o subcentro estão voltadas para a Av. Winston

Churchill, ocorrendo a diminuição da sua frequência conforme se aproxima das

vias rápidas paralelas. Essa diferença na ocupação do espaço é perceptível

também pela imagem aérea (Figura 32), onde aparecem voltadas para a via do

expresso edificações de maior porte em relação ao daquelas localizadas no

restante da área das quadras.

A população residente e usuária do subcentro do Pinheirinho possui

renda abaixo da média curitibana. Segundo Curitiba (2012), no ranking de

renda média dos 75 bairros de Curitiba, os bairros do Pinheirinho e Capão

Raso aparecem na 63ª e 52ª respectivamente. No Pinheirinho a renda média

em 2010 ficou em R$ 1.428 e no Capão Raso atingiu R$ 1.973, enquanto

Curitiba registrou R$ 2.890. Esse fator ajuda a explicar o caráter popular das

atividades que formam o subcentro.

Quanto ao uso do solo privado, verifica-se uma intensa ocupação de

comércio e serviços e também a presença de ocupação residencial formal. A

ocupação lindeira à Av. Winston Churchill é predominantemente formada por

edificações de dois a três pavimentos, apesar de o zoneamento permitir uma

maior verticalização. Por outro lado, boa parte da ocupação não possui recuos

laterais ou frontais, conforme os parâmetros máximos da zona SE até dois

pavimentos. Também é possível observar edificações menores, com apenas

um pavimento, e três edifícios com mais de quatro pavimentos. (Figura 35)

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FIGURA 35 - VISTA DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO: PREDOMINÂNCIA HORIZONTAL DE OCUPAÇÃO. FONTE: O autor (2014)

Os estabelecimentos instalados no núcleo do subcentro abrangem uma

ampla variedade de tipos de comércio e serviços especializados,

estabelecimentos varejistas dos ramos do vestuário, eletrodomésticos, móveis

e materiais para a casa, lojas de variedades, entre outros, de apelo popular. O

caráter popular das atividades nele presentes é reforçado pela grande

quantidades de vendedores ambulantes nas calçadas ao longo da Winston

Churchill, que comercializam pequenos eletrônicos, acessórios pessoais,

frutas, entre outros (Figura 36).

FIGURA 36 - PRESENÇA DE COMÉRCIO AMBULANTE NA AV. WINSTON CHURCHILL. FONTE: O autor (2014)

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Destacam-se também a presença de cinco agências bancárias, duas

públicas e três privadas, cuja proximidade é importante reflexo da centralidade

local. Vale ressaltar que entre a Rua da Cidadania e o fim do núcleo do

subcentro na R. Joaquim Simões não se registra o uso residencial em nenhum

lote ou edificação voltado para a Av. Winston Churchill, e todos os espaços são

dedicados exclusivamente às atividades de comércio e serviços.

Nas vias transversais ao Expresso também é possível notar a oferta de

atividades comerciais, porém, em menor intensidade, intercalada à ocupação

residencial composta por residências unifamiliares e poucos edifícios

residenciais de até sete pavimentos. Os edifícios concentram-se,

principalmente, a oeste desta via do expresso, conforme observa-se na Figura

37.

FIGURA 37 - EXEMPLO DE OCUPAÇÃO DE UMA VIA TRANSVERSAL À WINSTON CHURCHILL: DIFERENTES USOS. FONTE: O autor (2014)

Nos lotes voltados às vias rápidas predomina a ocupação residencial,

com ainda menos atividade comercial que nas vias transversais. A maioria do

comércio desses locais se localiza nas esquinas e abriga estabelecimentos

ligados ao ramo automotivo. Tal predominância pode ser explicada como

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resquício da sua relação com a antiga BR-116, pela existência do subcentro e

em razão do grande fluxo de automóveis das vias rápidas.

Nas quadras adjacentes ao Terminal e à Rua da Cidadania a oeste,

entre a Av. Winston Churchill e Rua Mal. Otávio Saldanha Mazza, verifica-se

uma ocupação residencial mais adensada e menor ocorrência de comércio.

Nessa área situam-se dois condomínios residenciais de baixo gabarito e sete

torres acima de 10 pavimentos, todas residenciais. Esse conjunto de edifícios

marca a paisagem da região, que ainda é ainda predomintantemente

horizontal. (Figura 38)

FIGURA 38 - VISTA A PARTIR DA CIC DAS EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS PRÓXIMAS AO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO COM ALTURA SUPERIOR A DEZ PAVIMENTOS. FONTE: O autor (2014)

Das sete torres citadas, três estão em fase de obras, indicando que um

novo tipo de ocupação é reforçada atualmente, que aproveita da legislação do

Setor Estrutural. Vale destacar que a lei que define os parâmetros da zona SE

é antiga, no entanto, a dinâmica observada é recente e significa uma retomada

das construções nessa tipologia, um vez que as quatro outras torres foram

construídas há mais tempo.

Um dos empreendimentos em fase de obras é o Smart City

Pinheirinho, com duas torres. Destaca-se seu padrão construtivo mais voltado

à classes de renda mais elevada, comparado ao entorno, como é possível

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observar pela publicidade de divulgação de venda do empreendimento. (Figura

39)

FIGURA 39 - APRESENTAÇÃO DO EMPREENDIMENTO SMART CITY PINHEIRINHO, LOCALIZADO PRÓXIMO AO SUBCENTRO. FONTE: BASCOL (2014)

Outras atividades privadas de destaque no subcentro e seu entorno

imediato são as grandes plantas de comércio do ramo varejista. A menos de

um quilômetro do núcleo situam-se três hipermercados, (Condor, Big e Muffato

Max), um home center da empresa Balaroti, e uma concessionária de veículos

Servopa. Esses empreendimentos incrementam a oferta dos produtos do

subcentro, e ampliam sua área de abrangência.

Dos estabelecimento citados acima, o Condor é o mais antigo, e

recebeu uma ampliação em 2012. Próximo ao terminal, entre a Av. Winston

Churchill e a rápida sentido bairro (Mal. Otávio Saldanha Mazza), encontra-se

um hipermercado da bandeira Big, controlado pelo conglomerado

estadunidense Walmart. De inauguração recente, em 2013, tem-se ainda o

Muffato Max, na marginal da Linha Verde, à nordeste do subcentro. Este

empreendimento surgiu numa gleba antigamente utilizada para fins industriais

e materializa o processo hoje observado de substituição funcional na área. Este

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112

estabelecimento tem uma proposta que mescla o comércio de varejo com

preços mais baixos típicos do atacado, configurando um comércio

especializado com potencial de atração de população do município e RMC.

Tanto o Condor quanto o Muffato possuem áreas construídas superiores a 15

mil m², o que evidencia sua grande escala e capacidade de atração. Por fim,

destaca-se a instalação do Balaroti em 2011, que comercializa produtos para a

construção civil e decoração.

Em relação aos equipamentos e espaços públicos, logo acima da área

do núcleo ocupada pelo comércio e serviços privados, destaca-se a

concentração de vários equipamentos que reforçam a centralidade exercida.

No espaço de apenas três quadras contíguas encontram-se o Terminal do

Pinheirinho, a Rua da Cidadania, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o

Centro Municipal de Atendimento Especializado (CMAE) Maria Cândida Fankin

Abrão e a Escola Municipal de Educação Especial Tomaz Edison de Andrade

Vieira, formando uma concentração de serviços públicos diretamente integrada

ao subcentro (Figura 40).

FIGURA 40 - IMAGEM AÉREA DO TERMINAL DO PINHEIRINHO EM PRIMEIRO PLANO E DOS DEMAIS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS ADJACENTES EM SEGUNDO PLANO. FONTE: MR. MISTER (2008)

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113

A importância desses equipamentos se dá pela especialização dos

serviços que oferece, lhe conferindo uma abrangência regional. O Terminal do

Pinheirinho tem uma grande importância para distribuir os fluxos de

passageiros da região sul para o restante da cidade. Além disso, o usuário do

Terminal ainda encontra em seu interior uma unidade do Sacolão da Família e

Armazém da Família, voltados para a provisão de alimentos a preços baixos

para a população em geral.

Do Terminal é possível realizar a integração direta com a Rua da

Cidadania. Segundo a Prefeitura essa estrutura, inaugurada em 1996, conta

com acesso à vários serviços públicos, através dos núcleos de atendimento

das Secretarias Municipais, e de postos da Sanepar, Copel, Agência do

Trabalhador - SINE, Conselho Tutelar, Agência Curitiba, COHAB, Fundação de

Ação Social - FAS, Fundação Cultural de Curitiba - FCC, Cartão Transporte

(URBS), Carteira de Trabalho, Empório Metropolitano, Telecentro Comunitário

Pinheirinho, Casa da Leitura (CURITIBA, 2014)

A UPA do Pinheirinho, por sua vez, faz parte de uma série de unidades

de saúde distribuídas por oito bairros de Curitiba. Segundo a Fundação Estatal

de Atenção em Saúde Especializada em Curitiba (FEAES, 2014), as

UPAs oferecem serviços de atendimento de urgência, emergência e pronto-

atendimento, retaguarda hospitalar para os casos de maior gravidade e leitos

de isolamento para internamento de doenças contagiosas em adultos e

crianças, além do Pronto Atendimento Infantil.

Ao lado da UPA encontram-se dois equipamentos de educação

voltados para estudantes com necessidades especiais de aprendizado. A

Escola Municipal de Educação Especial Tomaz Edison de Andrade Vieira

presta ensino para alunos especiais de 0 a 25 anos, e a CMAE tem como

objetivo complementar a educação de alunos especiais matriculados na área

de abrangência do Centro, "com vistas ao desenvolvimento de suas

potencialidades e o resgate de melhores condições de desempenho pessoal,

escolar e social" (CURITIBA, 2014b). A abrangência desses equipamentos é

regional e reforça a centralidade exercida pelo Pinheirinho.

Ao norte do Terminal, a uma distância de aproximadamente 500 metros

do norte do núcleo do subcentro encontra-se o Hospital do Idoso Zilda Arns

(Figura 41), um equipamento de grande porte que concentra uma série de

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114

atendimentos médicos especializados no cuidado secundário para a terceira

idade, incluindo também a sede da FEAES. Este equipamento, pela

disponibilização de tratamento altamente especializado, tem abrangência

municipal. Próximo a ele encontra-se um Restaurante Popular, fruto de uma

parceria entre governo municipal e federal, que serve refeições ao preço de

R$1,00 com o objetivo de implementar boas práticas alimentares à grupos

considerados de risco.

FIGURA 41 - ENTRADA DE PEDESTRES DO HOSPITAL ZILDA ARNS, SITUADA NA RUA ANDRÉ FERREIRA BARBOSA. FONTE: O autor (2014)

Em relação à áreas livres públicas além dos passeios, o subcentro é

contemplado por apenas duas praças. Uma delas é adjacente à Rua da

Cidadania e possui alguns equipamentos esportivos e de lazer. No entorno

próximo ao subcentro existe a praça Zumbi dos Palmares, que dispõe de maior

área verde e mais equipamentos desportivos e de recreação. Esta praça,

apesar de seu porte, localiza-se fora das grandes vias de acesso locais,

dificultando sua apreensão pelos usuários do subcentro.

Sem considerar essas praças, a paisagem do núcleo do subcentro não

é dotada de vegetação, o solo é totalmente impermeabilizado. Em toda a área

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do núcleo inexiste arborização pública, sendo a presença de espécies vegetais

restrita a poucos exemplares no recuo frontal dos lotes. Nas vias rápidas, por

sua vez, percebe-se ocorrência de arborização, no entanto, em áreas situadas

fora do fluxo principal de pedestres do subcentro. Também não se percebe a

existência de mobiliário urbano específico para o local, com exceção das

luminárias instaladas na Winston Churchill, que seguem o padrão adotado para

as vias do Expresso de Curitiba (Figura 42).

FIGURA 42 - PERSPECTIVA DA AV. WINSTON CHURCHILL: ARIDEZ CAUSADA PELA IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO E AUSÊNCIA DE ARBORIZAÇÃO FONTE: O autor (2014)

A principal circulação de pedestres ocorre ao longo dos espaços

públicos da Av. Winston Churchill e acontece com mais intensidade na frente

dos estabelecimentos de comércio e serviço. Verifica-se também um

movimento importante entre os diferentes lados da rua, que em algumas

situações revela um conflito entre o movimento dos ônibus nas canaletas e nas

vias laterais. A disposição de faixas de travessia de pedestre ocorre nas

esquinas dos cruzamentos das vias transversais às vias rápidas e Av. Winston

Churchill a cada duas quadras, numa distância aproximada de 200 metros

umas das outras. O calçamento na Av. Winston Churchill é composto quase em

sua totalidade por petit pavet, dispostos num padrão típico do paranismo e que

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116

pode ser observado em outros locais ao longo das vias do expresso e também

no centro de Curitiba. Nos arredores são utilizados diversos outros materiais,

que não formam um padrão definido, incluindo concreto, lousinha, bloco

intertravado de concreto, entre outros.

A circulação de veículos individuais é condicionada pelas condições de

tráfego das vias laterais à canaleta do Expresso, que possuem baixa

velocidade e disponibilidade de vagas de estacionamento. Nessas vias

destaca-se, por outro lado, a grande circulação de ônibus alimentadores, que

inclusive possuem pontos de parada ao longo do seu percurso, dentro do

subcentro. O Expresso, por sua vez, desloca-se pelas canaletas centrais

exclusivas que levam ao Sítio Cercado e ao Novo Mundo. A única linha que faz

esse percurso é a Circular Sul, que possui uma parada na estação tubo

Winston Churchill, localizada no sul do subcentro (Figura 43).

FIGURA 43 - ESTAÇÃO TUBO WINSTON CHURCHILL. FONTE: O autor (2014)

Em contraste com o uso do solo e as atividades desempenhadas na

área até aqui analisada, as atividades industriais do entorno conformam uma

ocupação de lotes maiores, característica desse tipo de uso. Localizam-se a

leste do subcentro do Pinheirinho e se estendem no sentido nordeste ao longo

da Linha Verde, instaladas ali pela facilidade de deslocamento possibilitada, se

inserem inteiramente nos limites do bairro Pinheirinho. Tais atividades são

remanescentes de uso que foi importante no passado, sendo que no lado leste

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117

da rodovia há um maior número dessas grandes instalações ainda em

funcionamento, enquanto a oeste, mais próximo ao subcentro, a mudança é

mais evidente (Figura 44). É possível notar pelas imagens aéreas que esse tipo

de ocupação se encontra cercado por outra predominantemente residencial e

configura uma barreira de ocupação entre a via rápida André Ferreira Barbosa

e a Linha Verde e suas marginais, devido às poucas ruas que fazem a ligação

entre essas duas vias, configurando amplas extensões muradas. (Figura 45)

FIGURA 44 - EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS ABANDONADAS. AO FUNDO, VISTA PARCIAL DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO. FONTE: O autor (2014)

FIGURA 45 - GRANDES EXTENSÕES MURADAS NA VIA RÁPIDA ANDRÉ FERREIRA BARBOSA. FONTE: O autor (2014)

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118

Essas grande estruturas encontram-se em processo de substituição

por novos usos comerciais e habitacionais de grande porte, como o caso do

Muffato citado anteriormente, facilitados pelas grandes extensões de áreas

disponíveis, a partir da desativação dos estabelecimentos industriais e de

serviços que anteriormente vinculavam-se mais à rodovia. Essa nova dinâmica

é materializada pelo lançamento de novos empreendimentos imobiliários em

meio ao parque industrial desativado, com o advento da Operação Urbana

Consorciada (OUC) da Linha Verde31.

É o caso dos condomínios Up Life Pinheirinho, (Figura 46) e PDG

Pinheirinho, situados numa quadra lindeira à Linha Verde. Esta mudança

propiciou o surgimento de empreendimentos residenciais dotados de torres de

até 12 pavimentos de altura, incomum para a região até então, observando-se

uma tendência de alteração da paisagem do local. As obras de ampliação da

Linha Verde sentido sul (entre a Av. Winston Churchill e o Contorno Sul)

também deverão amplificar os efeitos de mudança de funções das áreas da

região.

FIGURA 46 - VISTA DO CONDOMÍNIO UP LIFE PINHEIRINHO: TORRES ALTAS E DE OCUPAÇÃO MASSIVA ANTECIPAM A TENDÊNCIA PARA A ÁREA. FONTE: O autor (2014)

A mudança de usos e fluxos neste local também deverá ocorrer pela

ação do poder público. Com continuidade do sistema viário da Linha Verde e a

31 A OUC da Linha Verde é uma forma de captação de recursos privados, através de leilão de papéis de potencial construtivo. Os recursos captados são utilizados então para a execução de obras na própria Linha Verde, caracterizando tal instrumento dentre os que atuam na recuperação de mais valias urbanas.

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119

instalação de novas estações de ônibus (Figura 47), que deverão

pedestrianizar parcialmente os fluxos na antiga rodovia. A nova estação

Winston Churchill da Linha Verde32 deverá ficar entre as ruas Olindo Sequinel e

Mário Cesar Gomes, duas das três ruas transversais que atravessam a

canaleta do expresso no núcleo do subcentro. Essas ruas estão recebendo

extensão para cruzar a Linha Verde, possibilitando integração do bairro

Pinheirinho com a antiga rodovia.

FIGURA 47 - OBRAS DE EXTENSÃO DA LINHA VERDE: NOVAS ESTAÇÕES DE ÔNIBUS. FONTE: O autor (2014)

Do lado oeste da Linha Verde, já se verifica a existência de amplos

condomínios residenciais de gabarito mais baixo, sobretudo nas proximidades

da marginal da Linha Verde e da via rápida André Ferreira Barbosa. A

disponibilidade de grandes área vazias e uma aparente ausência de diretrizes

viárias que visassem à divisão dessas glebas em quadras menores, permitiram

a instalação de tais empreendimentos. Um exemplo recente dessa ocupação

se dá pelo início das obras dos conjuntos Spazio Cosenza I, II e III, num

terreno ao lado do Hospital do Idoso e em frente à praça Zumbi dos Palmares.

Este empreendimento compreende uma área contínua de 49.853,96 m² e

ofertará um total de 840 apartamentos, disposto em 30 torres de 7 pavimentos

cada, com disponibilidade de áreas de lazer internas. A implantação de

empreendimentos dessa escala anuncia uma tendência de manutenção das

32 Caso implantada com este nome, passarão a existir duas estações tubo chamadas Winston Churchill, a da própria Av. Winston Churchill e a da Linha Verde.

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grandes quadras antes ligadas ao uso industrial e terá impactos na fluidez

viária, como veremos adiante.

A localização desses empreendimentos é alavancada pela presença

das novas grandes estruturas comerciais na região, das quais utilizam sua

localização próxima como item de propaganda. É notável que o núcleo do

subcentro, onde o comércio é mais popular, frequentemente não aparece entre

as opções de comércio apresentadas para o público alvo desses

empreendimentos, evidenciando que as novas estão voltadas para um público

de classe média e maior poder aquisitivo. (Figura 48)

FIGURA 48 - PUBLICIDADE DO EMPREENDIMENTO SMART CITY PINHEIRINHO: DESCONSIDERAÇÃO DO NÚCLEO POPULAR DO SUBCENTRO. FONTE: BASCOL (2014)

É importante destacar também a diferente influência do zoneamento do

núcleo na conformação do ambiente construído ao longo dos anos. As quadras

lindeiras à Av. Winston Churchill estão delimitadas no zoneamento do Setor

Estrutural (SE), conforme a Lei Municipal nº 9800/2000, onde verticalização

permitida por seus parâmetros se desenvolveu de forma tímida até a

atualidade, ainda que tal zoneamento tenha se mantido o mesmo por muito

tempo para esta área. Como afirmado acima, novos empreendimentos

residenciais voltados para a classe média tem retomado essa ocupação

recentemente.

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121

Na área industrial remanescente, por sua vez, alterou-se o zoneamento

estabelecido em 2000, que definia a área como Setor Especial da BR-116 (SE-

BR116). O zoneamento específico da área de influência da OUC Linha Verde

adotou as zonas denominadas Pólo de Dinamização da Linha Verde (Pólo-LV)

e Setor Especial da Linha Verde (SE-LV) (Figura 49). Tal mudança produziu

efeitos rapidamente, graças aos parâmetros mais elevados de uso e ocupação

do solo dados a partir da venda dos Certificados de Potencial Adicional de

Construção 33 (CEPACs), previstos na OUC da Linha Verde, conforme

estabelecido pela Lei Municipal nº 13.909/2011 (CURITIBA, 2011).

FIGURA 49 - ÁREA INDUSTRIAL REMANESCENTE INCLUÍDA NO ZONEAMENTO DA LINHA VERDE FONTE: GOOGLE (2014); CURITIBA (2011), elaborado pelo autor (2014)

33 Os CEPACs são certificados emitidos dentro de um perímetro definido em lei própria, que conferem índices e parâmetros urbanísticos adicionais àqueles previstos na legislação ordinária de uso e ocupação do solo, em troca de Contrapartida a ser paga pelo interessado. Na OUC da Linha Verde, o valor obtido pela Prefeitura com os certificados deverá ser investido exclusivamente nas obras viárias da Linha Verde.

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122

Quanto aos aspectos de mobilidade destaca-se no sistema viário, a

confluência do sistema trinário com a Linha Verde, determinante para o

subcentro, dotando-o de grande acessibilidade. As vias do sistema trinário

permitem o deslocamento para o norte de Curitiba, em direção ao Portão e ao

Centro e para sudeste, em direção ao Sítio Cercado e Boqueirão. A Linha

Verde, por sua vez, realiza uma ligação regional e intermunicipal do

Pinheirinho, com Curitiba a nordeste e ao sul, e com municípios da Região

Metropolitana, destacando-se que uma nova etapa de sua extensão para o sul

em direção à Fazenda Rio Grande está em fase de obras.

O acesso ao subcentro, vindo de oeste, é feito pelo binário formado

pelas ruas João Rodrigues Pinheiro (Via Conectora 1), no sentido Pinheirinho -

CIC e José Rodrigues Pinheiro, no sentido CIC - Pinheirinho. Da CIC, essas

vias acessam a Av. das Araucárias, importante ligação com o município de

Araucária, que passa pelo seu Centro Industrial (CIAR). Em relação ao sistema

viário também é importante destacar que a manutenção de quadras de grande

dimensão, mesmo com a substituição de usos citada anteriormente, tem

impacto direto na fluidez viária, promovendo uma descontinuidade da malha

viária entre os diferentes lados do sistema trinário.

Sobre o transporte coletivo, verifica-se que a área dispõe de grandes

estruturas já implantadas e outras previstas. De acordo com Curitiba (2013) o

terminal do Pinheirinho "é o maior Terminal de transporte da cidade, com uma

área operacional de 27,3 mil metros quadrados, 33 linhas de ônibus e 140 mil

usuários por dia". Recebe duas linhas do Expresso, que utilizam a Av. Winston

Churchill para se deslocar em direção ao Terminal do Capão Raso e Centro de

Curitiba, ou para o Sítio Cercado. Além disso, sua recente ampliação permitiu a

parada da linha Pinheirinho/Carlos Gomes, que dá acesso ao centro da cidade

pela Linha Verde.

O Terminal abriga a maioria das linhas alimentadoras que servem os

bairros do Tatuquara, Campo de Santana, Caximba, Ganchinho e Umbará, e

além disso, recebe linhas provenientes dos municípios de Araucária, Fazenda

Rio Grande, Mandirituba e Quitandinha. Essas características do Terminal

reforçam a influência do Pinheirinho sobre a região sul de Curitiba, e

demonstram sua ampla abrangência dentro da Rede Integrada de Transporte

de Curitiba. A instalação do Terminal Tatuquara, na área de influência do

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123

Pinheirinho, deverá reordenar parte das linhas que servem àquela região. No

entanto, a população residente naquele bairro ainda deverá utilizar o

Pinheirinho para deslocamentos para o Centro de Curitiba e bairros ao norte.

Somado a este projeto, há a previsão da implantação da Linha 1 do

futuro metrô de Curitiba, que contemplaria diretamente o subcentro do

Pinheirinho, uma vez que uma de suas estações seria localizada no Terminal.

De acordo com Curitiba (2014) "a região do Pinheirinho ganhará impulso com a

construção da primeira linha do metrô de Curitiba e será preciso organizar seu

crescimento de forma sustentável". Conforme afirmado, o projeto prevê a

construção de 17 km na primeira fase, ligando o novo terminal CIC Sul

(próximo ao Pinheirinho) ao Cabral, no norte de Curitiba. Ao longo da maior

parte do trecho, contemplará a criação de um parque linear na via do Expresso,

o que transformaria a Av. Winston Churchill. Esse investimento foi

recentemente viabilizado pelo Governo Federal, em conjunto com a Prefeitura

e Governo Estadual, que junto da expectativa de investimentos privados

aplicarão 5,46 bilhões de reais no projeto.

A leitura da realidade feita acima encontra-se espacializada no Mapa 1,

que faz a síntese da ocupação, dos equipamentos, do zoneamento, e do

sistema viário do núcleo do subcentro do Pinheirinho .

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ÁREA:

PINHEIRINHO - 10,51 km²CURITIBA - 434,81 km²

POPULAÇÃO (IBGE, 2010):

PINHEIRINHO - 50.401 hab.CURITIBA - 1.751.907 hab.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA

SUPERVISÃO DE INFORMAÇÕES

SETOR DE GEOPROCESSAMENTO

INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTOURBANO DE CURITIBA

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!.Paraná

Mato Grosso

Goiás

MinasGerais

MatoGrossodo Sul

SãoPaulo

SantaCatarina

RioGrande do

Sul

Rio deJaneiro

BOLÍVIA

URUGUAI

ARGENTINA

PARAGUAI

CURITIBA

Goiânia

Belo Horizonte

Rio de JaneiroSão Paulo

Florianópolis

Campo Grande

Porto Alegre

PINHEIRINHO

QuatroBarras

São Josédos

Pinhais

FazendaRio Grande

PinhaisCampoLargo

Araucária

CampoMagro

Piraquara

Colombo

AlmiranteTamandaré

CampinaGrandedo Sul

BAIRROPINHEIRINHO

SÍMBOLOS E CONVENÇÕES

DIVISA DE BAIRRO(Decreto Municipal nº 774/1975 e nº 516/1992)

DIVISA DE MUNICÍPIO(Lei Estadual nº 790/1951 e nº 16371/2008)

CAVA OU VÁRZEA

ARRUAMENTO

ARRUAMENTO NÃO IMPLANTADO

PRAÇAS, JARDINETES E LARGOS

PARQUES E BOSQUES

EDIFICAÇÃO REPRESENTATIVA

† † † † †† † † † †† † † † †

CEMITÉRIO

CANTEIROS E MEIO-FIO

CALÇADÃO

FERROVIA

CURSO D'ÁGUA

LAGOS E LAGOAS

VIADUTOS E PONTES

TRINCHEIRA

LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA L. T.

SUBSTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICAS.E.

IGREJA

ESCOLA: MUNICIPAL, ESTADUAL, PART EM EE EP

HOSPITAL. UNIDADE DE SAÚDE H US

LOCALIZAÇÃO

RUA BOM JESUS, 669 - CABRAL

CEP 80035-010 - CURITIBA - PARANÁ

FONE (55-41) 3250-1414 - FAX: (55-41) 3254-8661

E-MAIL: [email protected]

PRODUTO COMPILADO COM BASEEM RESTITUIÇÕES

AEROFOTOGRAMÉTRICAS

O IPPUC AGRADECE A GENTILEZADA COMUNICAÇÃO DE EVENTUAIS

FALHAS OU OMISSÕES VERIFICADASNESTE MAPA

±

EDIÇÃO OFICIALagosto - 2013

0 200 400 600

Metros

ESCALA GRÁFICA

LEGENDA:

0 100 200 500m

ESCALA GRÁFICA

MAPA 01

Área industrial em processo de mudança de usos

Grandes áreas ocupadas por empreendimentosresidenciais recentes

Concentração de verticalização

SÍNTESE DA ANÁLISE DA REALIDADE

Vias de conexão intra e inter-bairros

Hidrografia

Divisa de bairros

Base cartográfica: IPPUC (2010)

FONTES:

Levantamento de campo realizado pelo autor

Rio Água Verde

Córrego do Prado

Rio Belém

Núcleo do subcentro do Pinheirinho

Conexãocentro-bairro

Conexãobairro-bairro

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UTFPR

SHOPPING CURITIBA

ESTÁDIOJOAQUIMAMÉRICO

UNICURITIBA

PUC-PR

IURD

MERCADOMUNICIPAL

Influênciaperfilpopular

Influênciaperfil dealta renda

Influênciaáreacentral

PINHEIRINHO

CAPÃORASO

Foto aérea: GOOGLE (2014)

PINHEIRINHO

CIDADEINDUSTRIAL

DECURITIBA

CAPÃO RASO

5ª RM do Exército

Terminal doPinheirinho

Rua daCidadania

Hospitaldo Idoso Muffato

EscolaEspecial

UPA

CMAECondor

BIG

Balaroti

Equipamento público de grande abrangênciaEquipamento público de grande abrangência

Grande estrutura de comércio e serviços

Praça

Concentração de comércio e serviços

Vias rápidas de conexão regional

Vias do ônibus Expresso

Vias de ligação metropolitana (Linha Verde)

Page 125: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO SUBCENTRO DO …...cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as suas ruas em forma de escada, de circunferência

125

5.2 ÁREA DE INFLUÊNCIA DO SUBCENTRO

A análise da área de influência do subcentro do Pinheirinho será feita a

partir de dois diferentes recortes, que são polarizados pelo núcleo do subcentro

de formas diferentes. A área mais próxima do núcleo do subcentro,

compreendendo os bairros do Capão Raso e Pinheirinho, e será tratada como

área de influência direta. Os bairros mais distantes da região sul serão

incluídos na área de influência indireta, que correspondem ao Sítio Cercado,

Umbará, Ganchinho, Tatuquara, Campo de Santana, Caximba, partes do

Xaxim e da CIC. De maneira geral, essas duas delimitações abrangem a área

de influência definida para o Pinheirinho no estudo da Estrutura Policêntrica de

Curitiba, produzido pelo IPPUC, já apresentado no Capítulo 3 do presente

estudo. Essas áreas apresentam diferentes tipos de relação com o subcentro

estudado. Para facilitar a comparação de dados, serão elencados apenas os

bairros cujos territórios foram considerados no todo, excluindo a CIC e o Xaxim

(Figura 50).

. FIGURA 50 - BAIRROS DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO. FONTE: O autor (2014)

Page 126: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO SUBCENTRO DO …...cidade de Zaíra dos altos bastiões. Poderia falar de quantos degraus são feitas as suas ruas em forma de escada, de circunferência

126

Conforme visto anteriormente, os bairros do Capão Raso e Pinheirinho

se colocam abaixo da média de renda dos bairros de Curitiba, alcançando a

52ª e 63ª posições no ranking de 75 bairros. Contudo, possuem rendimento

médio superior a todos os bairros acima relacionados como da área de

influência, conforme se pode observar na Tabela 2.

TABELA 2 - RANKING DE RENDA MÉDIA DOS BAIRROS DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO, 2010. BAIRRO

RENDA MÉDIA (2010)

VALOR (R$) RANKING

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Caximba

Tatuquara

1.098

1.061

933

71º

72º

73º

FONTE: CURITIBA (2012)

Esses dados evidenciam que a população que constitui a área de

influência do Pinheirinho mantém as características de renda baixa discorridas

pelo PMDU nos anos 1980.

Há de se considerar, no entanto, que o contexto no qual o trabalho foi

baseado se alterou, tendo em vista que já decorreram quase 30 anos de sua

elaboração. Sendo assim, a presente análise tem como objetivo identificar

mudanças observadas nas centralidades da região sul de Curitiba, destacando-

se que não se produziu outro estudo similar desde então. Como visto

anteriormente, a implantação do plano que tinha como princípio potencializar o

policentrismo em Curitiba, o PMDU, foi interrompida naquela década devido a

divergências políticas entre as gestões posteriores da prefeitura e concepção

de planejamento diferenciado dos grupos de técnicos responsáveis pelo

ordenamento do território. Porém, uma de suas ações foi mantida: as nove

Freguesias, criadas em 1986, que em 1988 passaram a se chamar

Administrações Regionais. (IMAP, 2013). As mudanças no limites

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administrativos dessas Regionais servirão de base para a investigação das

mudanças nas centralidades do sul de Curitiba.

Na área de influência direta, bairros Pinheirinho e Capão Raso, é

possível identificar de forma geral um padrão de ocupação que reflete a

formação da região, conforme descrita no histórico no capítulo 3, no qual

sobressai o uso residencial. A maneira como se distribuem pela área dos

bairros do Pinheirinho e Capão Raso, a oeste do subcentro, é relativamente

homogênea.

Nesta área verifica-se o predomínio de uso residencial caracterizado,

principalmente, por edificações unifamiliares térreas ou com dois pavimentos,

contando ainda com a presença esparsa de habitações multifamiliares de até

quatro pavimentos (Figura 51). Esta padrão se estende por toda a área dos

bairros Pinheirinho e Capão Raso, a oeste do Setor Estrutural, abrangida pelo

zoneamento que varia entre ZR-3 e ZR-4, formando uma malha reticulada.

FIGURA 51 - OCUPAÇÃO RESIDENCIAL PADRÃO A OESTE DO SUBCENTRO DO PINHEIRINHO. FONTE: O autor (2014)

Esse tipo de ocupação é interrompido a sudoeste pelo terreno da 5ª

Região Militar do Exército Brasileiro, que limita a área do bairro Pinheirinho. A

oeste se estende até a divisa do Capão Raso com a CIC, onde se verifica uma

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descontinuidade parcial da malha viária na área recentemente ocupada pelo

empreendimento chamado Neoville34.

A oeste do subcentro verifica-se a ocorrência de comércio vicinal ao

longo de algumas ruas coletoras, como é o caso da rua Mário Gomes César,

que conecta a área ao subcentro. É servida por linhas alimentadoras que as

conectam com o Terminal do Pinheirinho e também pelo Interbairros, que além

do Pinheirinho liga à CIC.

A leste do subcentro e da Linha Verde também há o predomínio de

ocupação residencial, contando com uso industrial próximo da antiga rodovia

onde o processo de conversão em espaços de moradia de classe média hoje

se observa, conforme descrito anteriormente, em direção ao Sítio Cercado.

Nesta área, porém, a malha urbana se apresenta mais irregular e o padrão

socioeconômico é um pouco inferior. Esta área é conectada ao Pinheirinho por

linhas alimentadoras e o Expresso Circular Sul, que liga o Pinheirinho ao Sítio

Cercado, passando por um trecho da Av. Isac Ferreira da Cruz.

De acordo com o IPPUC (2010b), tanto a oeste quanto a leste do

subcentro se verifica a presença majoritária de vias com revestimento em anti-

pó e na área a leste há vias compostas por base granular. O calçamento do

passeio nas vias em toda a região é irregular e sem um padrão definido,

realizado sob responsabilidade dos proprietários do lotes, conforme

especificado por lei.

Conforme levantado por Silva (2012), estas áreas contém algumas

ocupações irregulares, sendo que a maioria data de antes da década de 1980

e foram, portanto, produzidas no contexto da ocupação inicial do bairro

identificada pelo histórico. Localizam-se mais próximas entre si, junto à gleba

do Exército, a oeste do subcentro, e de forma mais distribuída na área a leste.

As áreas compreendidas pelo área de influência direta estão mais

próximas territorialmente, e compreendem usos menos especializados, de

recorrência mais cotidiana, com oferta de ônibus e sistema viário que as ligam

rapidamente ao núcleo do subcentro, diferentemente da área de influência

34 De acordo com Rios (2010), o Neoville é um empreendimento voltado para a classe média que ocupa uma área de aproximadamente 100 hectares na CIC, divisa com o Capão Raso. Sua incorporação prevê um uso majoritário de residências, entre loteamentos e condomínios fechados, e alguns pequenos núcleos comerciais, com capacidade para abrigar uma população entre 15 mil e 20 mil habitantes.

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indireta, onde apenas os equipamentos com maior abrangência representam

atrativos.

A área de influência indireta, conforme descrita anteriormente, abrange

bairros ao sul do Pinheirinho. Considerando a identificação realizada pelo

PMDU, vale analisar as novas divisões realizadas, a partir de 1989, no limite do

território das Administrações Regionais de Curitiba.

Conforme IPPUC (2010a), as alterações praticadas até 1993 não

mudaram a Regional do Pinheirinho, no entanto, em 1997 e 2005 novas

mudanças fariam surgir duas Regionais, que transformaram seus limites.

Segundo o IPPUC (2010, p. 88), a alteração de 2005, que deu surgimento à

Regional CIC, se deveu à unificação da atuação municipal no território do

bairro e pela pressão de agentes privados representantes das indústrias.

Diferentemente dela, a alteração realizada em 1997, que deu surgimento à

Regional Bairro Novo, representa o processo de ocupação desta região e é

mais relevante para o entendimento das novas centralidades.

Conforme demonstrado pela origem histórica no capítulo 3, os bairros

do Pinheirinho e Capão Raso foram marcados pela ocupação popular a partir

dos anos 1960, enquanto a região representava a fronteira sul de expansão da

mancha urbana de Curitiba. Nos anos 1970 o Pinheirinho figurou como o

sétimo bairro com o maior crescimento demográfico de Curitiba, obtendo uma

taxa média de 13,22% ao ano, e o Capão Raso obteve 6,13%, ambas

superiores às de Curitiba, que registrou 5,34%. (IPPUC, 2014). Nos anos 1980

o crescimento do Capão Raso se estagnou, enquanto o ritmo do Pinheirinho

desacelerou, mas ainda se manteve acima da média curitibana. A partir dos

anos 1990 verifica-se a entrada de ambos os bairros num ritmo lento de

aumento populacional.

A partir dos anos 1980 e 1990, se observa uma mudança no vetor de

expansão principal da ocupação de Curitiba. Nesse período, foi maior a

ocupação no sul, no chamado Bairro Novo, na região próxima ao Sítio

Cercado. De acordo com Tonella (2010), a pressão por moradia por parte das

classes de renda baixa impulsionou a ocupação na região, que se materializou

pelas ocupações irregulares e os empreendimentos de moradia desenvolvidos

pelo poder público.

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De acordo com o IPPUC (2014), em apenas vinte anos, o Sítio

Cercado passou de aproximadamente 20 mil para mais de 100 mil habitantes,

mais do que a soma dos bairros do Pinheirinho e Capão Raso atualmente.

Essa dinâmica, somada aos investimentos públicos em infraestrutura e

habitação social, fez surgir uma nova centralidade no bairro, conformada pela

Av. Isac Ferreira da Cruz, nos arredores do Terminal Sítio Cercado.

O surgimento dessa nova centralidade tornou estrutura urbana do sul

de Curitiba mais complexa. Exemplo disso é a ampliação da linha do Expresso,

ligando o setor estrutural sul, a partir do Pinheirinho, passando pelo Sítio

Cercado e ligando ao setor estrutural da Av. Marechal Floriano Peixoto, no

Boqueirão. Seu surgimento não diminuiu, no entanto, a importância do

Pinheirinho para os bairros da região sul. O subcentro do Pinheirinho passou

então a manter relação com essa nova subcentralidade e continuou

polarizando de forma direta os bairros ao sul, principalmente o Umbará e

Ganchinho, a leste da BR-116 e sul do Contorno Metropolitano, pertencentes à

Regional Bairro Novo, bem como o do Tatuquara, Caximba e Campo de

Santana, remanescentes da Regional Pinheirinho.

Nesses três últimos bairros, em especial no Tatuquara e Campo de

Santana, intensificou-se o processo de ocupação a partir de década de 2000

por parte das camadas de baixa renda da população. De acordo com o IPPUC

(2013), entre 2000 e 2010 o Campo de Santana apresentou um crescimento de

263,42% na sua população, passando de 7.335 para 26.657 habitantes. No

mesmo período, o Tatuquara cresceu 45,24% e passou de 36.339 para 52.780

habitantes, superando o Pinheirinho (50.401 habitantes) como bairro mais

populoso da Regional.

Dessa significativa população que passou a habitar a região surgiu a

demanda por atendimento do poder público. No Tatuquara acontece

atualmente a descentralização da administração regional, com a criação e

implantação da Regional Tatuquara, ainda em andamento. As obras do novo

Terminal de ônibus e da Rua da Cidadania se iniciaram em 2013 (PPS, 2013).

A primeira transformação derivada deste investimento será o atendimento pelo

sistema de ônibus da Rede Integrada de Transportes (RIT) nos bairros ao sul

do Pinheirinho. O mapa da rede atual demonstra que toda esta área hoje tem o

serviço polarizado pelo Terminal do Pinheirinho (figura 52).

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FIGURA 52 - PARTE SUL DA RIT E A POLARIZAÇÃO DAS LINHAS ALIMENTADORES DO PINHEIRINHO PARA A REGIÃO DO TATUQUARA. FONTE: URBS (2014)

Mesmo com a instalação da Rua da Cidadania e do Terminal do

Tatuquara, sua área não é dotada de centralidade, uma vez que se encontra

afastada das principais vias regionais, como a BR-116. Isso leva a crer que

caso se reforce uma concentração de comércio e serviços no Tatuquara, ela

constituirá um centro de bairro, mantendo-se polarizada pelo Pinheirinho.

Os bairros do Umbará e Ganchinho, por sua vez, mesmo pertencentes

à Administração Regional do Bairro Novo, mantém relações diretas com o

Pinheirinho, em detrimento do Sítio Cercado. Esse fato se deve pela barreira

formada pelo Contorno Metropolitano que separa estes bairros do Sítio

Cercado. A ligação ao Pinheirinho é realizada pela rua Nicola Pellanda,

importante via de ligação do sul de Curitiba, que também serve tais bairros de

linhas alimentadoras provenientes do Pinheirinho.

Dentre os bairros citados na área de influência do subcentro, os do

Pinheirinho e Capão Raso, por sua proximidade, são aqueles cuja população

se apropria da maior gama de seus serviços, considerando inclusive as de

escala menor, vicinal. Os demais bairros são abrangidos por equipamentos de

maior escala e das atividades especializadas.

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Dentre os bairros mais afastados, destaca-se o Sítio Cercado, que é o

que possui uma dinâmica comercial mais consolidada, diminuindo a

necessidade de deslocamentos até o Pinheirinho, sendo polarizado também

pelo Boqueirão, a leste.

O mapa síntese (Mapa 2) a seguir, resume os fluxos e as

características dos deslocamentos dos bairros da área de influência do

subcentro do Pinheirinho.

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Subcentro do Pinheirinho

Capão Raso

Sítio Cercado

Umbará

Caximba

Campo de Santana

2000 3000

Metros

ESCALA GRÁFICA

Terminais de ônibus existentes

Fluxos para atividades de pequena abrangência

Fluxos para atividades de grande abrangência

FLUXOS DAÁREA DE INFLUÊNCIA

Base cartográfica: IPPUC (2010)

FONTES:

Levantamento de campo realizado pelo autor

Foto aérea: GOOGLE (2014)

Terminal de ônibus em implantação

Fluxos do sistema de transporte público

1000

Metros

ESCALA GRÁFICA

LEGENDA:

MAPA 02

Base cartográfica: IPPUC (2010)

Levantamento de campo realizado pelo autor

Vias de ligação metropolitana

Foto aérea: GOOGLE (2014)

0

Contorno Metropolitano

BR

-116

Linh

a Ve

rde

Ganchinho

Tatuquara

Pinheirinho

(cotidianas)

CICBoqueirão

SÃO JOSÉDOS PINHAIS

FAZENDA RIO GRANDE

ARAUCÁRIA

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5.3 SÍNTESE DA REALIDADE E CENÁRIO TENDENCIAL

A leitura da realidade do núcleo do subcentro do Pinheirinho e da sua

área de influência, assim como as tendências observadas pelos investimentos

públicos e privados em curso ou previstos, anunciam transformações na área

de estudo. Os grandes investimentos realizados pelo poder público e capital

privado tendem a reforçar e ampliar a centralidade exercida no Pinheirinho,

incrementando a diversidade de seus conteúdos. Além disso, é percebida a

tendência de fixação de habitantes de classes de renda mais elevadas que as

que constituem atualmente o entorno do subcentro.

Por outro lado, o núcleo que hoje concentra as atividades de comércio

e serviços populares no subcentro é pouco inserido neste novo processo, se

anuncia, sendo contemplado apenas pela transformação da via do Expresso

em parque linear, caso seja implantado o projeto do Metrô Curitibano. Não

obstante, nesta área se observa uma tendência à consolidação e reforço das

atividades de comércio, serviço e habitação, que hoje caracterizam o núcleo do

subcentro do Pinheirinho. A limitação físico-territorial imposta pela Linha Verde

poderá também limitar seu crescimento longitudinal ao sul.

Outra tendência é a intensificação da mudança do uso e ocupação da

área industrial remanescente a leste do subcentro. A tendência observada é a

substituição das atividades industriais pelas de comércio e serviços de grande

porte, facilitadas pelos extensos lotes disponíveis com a sua desativação.

Considerando o contexto do possível estabelecimento de atividades voltadas

para a classe média como a de shoppings, diferentemente do padrão

dominante do núcleo do subcentro, haverá uma alteração no padrão

socioeconomico das atividades terciárias na região. Juntamente com a

dinâmica do setor terciário, é possível que o Pinheirinho passe por uma

elevação do padrão socioeconomico, desde que nenhuma ferramenta de uso e

ocupação do solo evite esse processo.

Nessas mesmas áreas também é verificado o surgimento de grandes

condomínios habitacionais unifamiliares e multifamiliares, derivados da

dinâmica do mercado imobiliário de atendimento à classe média, ascendente

em Curitiba. Dessa forma, é possível dizer que mesmo com a mudança de

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usos, o estabelecimento de grandes estruturas comerciais e enclaves

fortificados35 nessas áreas pouco alterará a malha viária local, permanecendo o

contraste entre a ocupação a leste, com quadras grandes, e a oeste, de

quadras menores.

Estes processos observados nas áreas industriais são decorrência

direta do projeto da Operação Urbana Consorciada (OUC) da Linha Verde, com

impacto direto no subcentro do Pinheirinho. Este projeto se enquadra em

algumas especificações conferidas aos Grandes Projetos Urbanos, discutidas

por Cuenya (2011), conforme quadro a seguir:

TIPO DE IMPACTO GERADO

MATERIALIZAÇÃO DO IMPACTO

OCORRÊNCIA NO PÓLO DE DINAMIZAÇÃO DA LINHA VERDE

Modificação na rentabilidade dos usos do solo

Investimentos Públicos Construção da Linha Verde Modificação do uso e ocupação do solo

Novos usos residenciais e de serviços

Investimentos privados Grandes empreendimentos privados

Modificação funcional e físico espacial

Reprodução das centralidades em áreas industriais

Área do Pólo de Dinamização definida sobre antiga área industrial

Criação de cenários apropriados para o investimento privado

Urbanização da rodovia e transformação de suas características.

Modificação dos mecanismos de gestão pública.

Novo zoneamento Definição de novas zonas na área de impacto do projeto da Linha Verde

Novo sustento legal: leis e estrutura pública

Criação de leis alterando o zoneamento e estipulando a operação. Criação de Comitê Gestor específico para o projeto.

QUADRO 2–CARACTERÍSTICAS DE GRANDE PROJETO URBANO EXISTENTES NA OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA DA LINHA VERDE. FONTE: O Autor (2014), com base em CUENYA (2011).

35 O termo designa os grandes empreendimentos residenciais fechados, com segurança particular e disponibilidade de lazer interno a seus muros. Geralmente representam rupturas na malha urbana (CALDEIRA, 2000)

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Com a definição do Pólo de dinamização do Pinheirinho, em região

adjacente ao subcentro, se pretende reforçar a centralidade da região, o que

pode ser afirmado pelo trecho da Lei Municipal nº13.909/2011 que define:

compreende áreas de ocupação diferenciada de média e alta densidade onde se pretende adensamento, verticalização e predominância de usos comerciais e de serviços, com edificações de altura livre. (CURITIBA, 2011, p.5)

Contudo, é perceptível que além do uso prioritário de comércio e

serviços, vem se desenvolvendo na área do Pólo do Pinheirinho um expressivo

investimento privado em habitação voltada para a classe média, conforme visto

nos condomínios ainda em fase de obras levantados no capítulo 5. De uma

forma ou de outra, observa-se a apropriação deste espaço por grupos

relacionados com a dinâmica imobiliária, num fenômeno de valorização

fundiária que ameaça a diversidade social do Pinheirinho, e pode acarretar a

expulsão de grupos sociais menos favorecidos que historicamente

compuseram a região.

Somado à isso, com a previsão de se construir o projeto do Metrô de

Curitiba, a área do subcentro deverá passar por um efeito de valorização

imobiliária decorrente da instalação desta grande estrutura pública de

transporte.

Quanto à área de influência, a análise da ocupação do Tatuquara, leva

a crer que pode se consolidar um centro de bairro, que poderá servir seus

habitantes de alguns serviços, como os da Rua da Cidadania, assumindo uma

parte das funções antes concernentes ao Pinheirinho, dada a sua possível

desvinculação da Administração Regional. No entanto, não é esperado que o

Tatuquara atinja o grau de diversidade e complexidade observado no

Pinheirinho, mantendo-se polarizado à este sem diminuir sua importância,

concorrendo sim para uma maior fragmentação do espaço urbano, a exemplo

do Sitio Cercado, e abrindo espaço para uma maior abrangência dos

fenômenos ocorridos no Pinheirinho dentro da estruturação de Curitiba.

Em resumo, anuncia-se a consolidação e ampliação da escala de

abrangência da centralidade do Pinheirinho pelos novos conteúdos trazidos

com o advento da Linha Verde. No entanto, essa dinâmica dá mostras que se

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constituirá sem a incorporação do núcleo do subcentro de caráter popular à sua

área, se traduzindo na conformação de duas áreas distintas do ponto de vista

das atividades de comércio e serviços. O estabelecimento de habitantes de

classe média e o contexto de valorização fundiária desencadeados pelos

grandes projetos urbanos ameaçam, a longo prazo, as características

populares de uso e ocupação do Pinheirinho caso não sejam tomadas medidas

que evitem esse processo.

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6. DIRETRIZES PARA O PROJETO DE INTERVENÇÃO Levantados os aspectos que caracterizam a área de estudo, é possível

considerar que o subcentro do Pinheirinho apresenta atualmente a ocorrência

de duas dinâmicas principais: uma centralidade consolidada, representada

pelas atividades de comércio e serviços, públicos e privados, voltados,

sobretudo, à classes mais populares; e o estabelecimento de uma "nova"

centralidade, derivada da conversão do uso industrial, antes existente no

entorno do núcleo consolidado, em usos de comércio especializado e novos

empreendimentos imobiliários residenciais voltados às classes de renda média.

A principal questão para o projeto de intervenção será interferir nas

relações que se estabelecerão entre a ocupação consolidada e nas novas

tendências observadas. A intervenção deverá equacionar também a

apropriação privada dos benefícios dos grandes projetos urbanos e propiciar

sua distribuição mais igualitária entre as diferentes camadas da população,

evitando a possível expulsão da população e dos conteúdos voltados às

classes de renda mais baixa, que historicamente habitam o lugar.

O enfrentamento dessas questões deverá subsidiar a produção de um

Plano de Reabilitação do Subcentro do Pinheirinho, cujo recorte territorial será

o núcleo popular consolidado quanto e a área em conversão de usos.

É importante destacar o uso do termo "reabilitação", em lugar de

"renovação" adotado para a intervenção pretendida. De acordo com Maricato

(2001) o significado de renovação relaciona-se ao surgimento de usos

promovidos pelo grande capital imobiliário e os proprietários imobiliários

privados, decorrendo na expulsão da população residente e dos pequenos

negócios estabelecidos na área de intervenção, geralmente devido à forte

valorização imobiliária.

Por outro lado, o significado de reabilitação consiste em:

uma ação que preserva, o mais possível, o ambiente construído existente (pequenas propriedades fragmentação no parcelamento do solo, edificações antigas) e dessa forma também os usos e a população moradora. A reforma necessária na infraestrutura existente para adaptá-la a novas necessidades procura não descaracterizar o ambiente construído herdado. (MARICATO, 2001, p. 125-127)

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Dessa forma é possível perceber que o conceito de renovação urbana

representa a dinâmica que se pretende evitar no Pinheirinho, enquanto a ação

descrita pela autora promovida pela reabilitação urbana sintetiza os princípios e

diretrizes que se pretende estabelecer na área, em ordem de se buscar um

cenário desejado.

A partir das questões expostas os princípios norteadores do projeto de

intervenção são:

a) Promover a ocupação e uso do subcentro, visando à

heterogeneidade socioespacial e a diversidade de usos do solo, evitando a

expulsão da população residente.

b) Promover a articulação e integração do subcentro consolidado com

a área do entorno em processo de transformação, marcada pela implantação

de grandes plantas de comércio especializado e condomínios residenciais

fechados.

c) Reduzir a segmentação espacial derivada do eixo viário de ligação

metropolitana que passa ao largo do subcentro, antes caracterizada pela BR

116 e hoje pela Linha Verde.

d) Qualificar o espaço do núcleo popular do subcentro, valorizando o

pedestre, transporte público, e seu papel de centro de apoio, com atividades

especializadas públicas e privadas para sua região de influência.

e) Promover a ocupação de áreas subutilizadas da região, visando

reduzir o impacto dos vetores de expansão periférica observados na área de

influência que consolidam uma cidade cada vez mais dispersa.

Tais princípios estruturam e agrupam as diretrizes que propiciarão os

resultados desejados para a intervenção como visto a seguir.

a) Promover a ocupação e uso do subcentro visando à heterogeneidade socioespacial:

Mesmo considerando o entendimento de Vargas (2006) de que não há

intervenção sem gentrificação, o princípio de diversidade socioespacial

pretende reduzir o impacto de seus efeitos, integrando o contingente

populacional de classe média esperado em um meio às classes mais populares

a partir das seguintes diretrizes:

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- Utilizar instrumentos urbanísticos para atenuar os efeitos que a

valorização imobiliária decorrente dos investimentos públicos e privados tende

a exercer, tais como o fenômeno da gentrificação e da apropriação da mais

valia urbana pelo setor privado.

- Evitar que a conversão das áreas industriais residuais em novos usos

gere um espaço excludente e espacialmente desarticulado, assegurando a

permanência da área urbana consolidada e das estruturas que visam ao

atendimento das classes populares, promovendo um espaço socialmente

heterogêneo.

b) Promover a articulação e integração do subcentro consolidado com a área do entorno em processo de transformação:

É do interesse da intervenção pretendida apropriar-se dos benefícios

advindos da implantação da importante estrutura viária projetada na Linha

Verde para a escala do pedestre, humanizando seu uso. Da mesma forma,

considerando a vocação para o deslocamento a pé do espaço consolidado do

subcentro e a possibilidade de reforço de sua dinâmica a partir das novas

estruturas de transporte público previstas, deve-se evitar a separação entre

estes dois espaços, tornando necessário definir a forma de ocupação na área

onde situam-se as plantas industrias desativadas.

Considerando os poucos espaços públicos, espaços verdes e de lazer

existentes na área de intervenção, se faz necessário também ampliar e

requalificar a oferta destes equipamentos que eles, promovendo a articulação

dos seus novos e antigos conteúdos socioespaciais previstos. Assim se

definem as diretrizes de:

- Compatibilizar as escalas da OUC da Linha Verde e da área em

transformação diretamente afetadas por este GPU, com a observada na parte

consolidada do subcentro.

- Valorizar o uso da área consolidada do subcentro pelo pedestre,

reconhecendo a importância deste modo de deslocamento na dinâmica e

definindo-a como vocação, através de intervenções de desenho urbano.

- Reabilitar os usos existentes e criar novos espaços livres públicos,

dotando-os de novos equipamentos, e integrando-os entre si e aos conteúdos

socioespaciais presentes, promovendo a humanização do espaço, gerando

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espaços de encontro e convivência que articulem os usos residenciais, de

comércio e de serviço presentes.

- Propiciar a articulação entre os espaços públicos e privados,

implementando parâmetros de uso e ocupação do solo que permitam sua

integração.

c) Reduzir a segmentação espacial derivada do eixo viário de ligação metropolitana que passa ao largo do subcentro:

Em ordem de garantir tanto a compatibilização das áreas ocupadas e

em transformação em favor de sua humanização, quanto reafirmar a dinâmica

consolidada do subcentro, pretende-se estimular o crescimento ordenado da

área ao sul do Terminal na Av. Winston Churchill.

Dessa forma se colocam as diretrizes:

- Incentivar a ocupação das vias do binário Mario Gomes Cesar/Olindo

Sequinel, através da definição de parâmetros de uso e ocupação do solo que

estimulem o estabelecimento de atividades comerciais e de serviços vicinais e

de bairro, mais próximas da escala do pedestre.

- Estabelecer diretrizes viárias que garantam a constituição de uma

malha urbana mais articulada, com a definição de quadras menores, sobretudo

próximas à área desejada.

- Dinamizar a área próxima ao binário localizada à leste da Linha

Verde, considerando a transposição completa das ruas Mário Gomes Cezar e

Olindo Sequinel.

- Propor novo desenho urbano e implantação de elementos que

viabilizem o crescimento ordenado do subcentro neste vetor.

d) Qualificar o espaço do núcleo popular do subcentro: - Estimular a implantação de novos espaços públicos que ofereçam

atividades culturais e de serviços acessíveis a toda a população, reforçando

também a dinamização do local.

- Propor um novo desenho para o núcleo do subcentro, promovendo o

uso praticado pelo pedestre e pelo transporte público, procurando-se evitar

conflitos entre os diferentes modais de transporte.

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e) Promover a ocupação de áreas subutilizadas, visando reduzir o impacto dos vetores de expansão periférica observados na área de influência do subcentro que consolidam uma cidade cada vez mais dispersa:

- Implantar políticas de inserção de habitação de interesse social e

regularização de assentamentos irregulares na área de influência do subcentro

correspondente aos bairros do Capão Raso e Pinheirinho, estimulando o uso

de sua infraestrutura consolidada por esta parcela da população, de forma a

evitar a urbanização em áreas cada vez mais distantes, aliviando a pressão

pelo constante alargamento da fronteira de ocupação urbana, e a necessidade

do poder público de prover infraestrutura para novas áreas de ocupação.

Em relação ao processo de produção do Plano que será realizado em

consequência deste trabalho entende-se que para o enfrentamento das novas

dinâmicas urbanas que se apresentam "é necessário compreender os fluxos de

toda a ordem (mercadorias, pessoas,veículos, informações), conhecer suas

origens, destinos, percursos, intensidade,características." (VARGAS, 2006,

p.12). Nesse sentido, o Plano de Reabilitação decorrerá também de um maior

detalhamento da leitura local das morfologias espaciais, dos seus conteúdos

socioespaciais presentes, da estrutura viária constituída e em fase de projeto

ou implantação, dos futuros projetos privados e dos grandes projetos de

intervenção pública.

Em seguida, para garantir a efetivação das diretrizes especificadas,

serão definidos ações e instrumentos e um Plano de ação, a serem produzidos

considerando os instrumentos presentes no Estatuto das Cidades que

viabilizem suas propostas. Dentre eles destacam-se o direito de preempção,

passível de ser aplicado em caso de os projetos de integração do subcentro

forem definidos sobre áreas privadas, a definição de Zonas Especiais de

Interesse Social (ZEIS), para estimular a fixação de população de baixa renda

na região, e o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, em caso de

se verificar a subutilização em áreas estratégicas dos projetos de intervenção.

O Plano de Reabilitação a ser desenvolvido estabelecerá um novo

zoneamento para a área de intervenção, novas diretrizes e hierarquização

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viária, proposição de áreas de interesse social, projetos de desenho urbano

para a requalificação de espaços desejada, entre outros.

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