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Direção-Geral da Administração da Justiça O Procedimento Especial de Despejo A sua tramitação na secretaria judicial Texto revisto e atualizado DGAJ-DF - 2013

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Direção-Geral da Administração da Justiça

O Procedimento Especial de Despejo

A sua tramitação na secretaria judicial

Texto revisto e atualizado

DGAJ-DF - 2013

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Índice CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3

CAPÍTULO 2. OS PRAZOS NO PROCEDIMENTO ESPECIAL DE DESPEJO ................................................ 5

CAPÍTULO 3. O PROCEDIMENTO ESPECIAL DE DESPEJO E O ACESSO AO DIREITO E AOS

TRIBUNAIS .................................................................................................................................................... 7

CAPÍTULO 4. A DISTRIBUIÇÃO DO PED AO TRIBUNAL ............................................................................ 9

Apresentação de Oposição (pode incluir pedido de diferimento da desocupação) .................... 9

Apresentação de pedido de diferimento da desocupação de imóvel arrendado para

habitação. .............................................................................................................................................. 13

CAPÍTULO 5. A DESOCUPAÇÃO DO LOCADO ......................................................................................... 17

A desocupação do locado realizada pelo oficial de justiça .......................................................... 17

As vicissitudes no decurso da diligência de desocupação ............................................................. 21

Requerimento para autorização judicial para entrada imediata no domicílio.......................... 21

A suspensão da desocupação do locado ........................................................................................... 23

CAPÍTULO 6. IMPUGNAÇÃO DO TÍTULO PARA DESOCUPAÇÃO DO LOCADO ..................................... 24

CAPÍTULO 7. EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA ..................................................... 26

Títulos executivos ................................................................................................................................ 26

Procedimento especial de despejo com cumulação de pedidos .................................................. 27

Aplicação subsidiária do Código de Processo Civil ......................................................................... 27

NO BNA ................................................................................................................................................... 27

Do agente de execução ou oficial de justiça ................................................................................... 29

Do agente de execução, notário ou oficial de justiça (cumulação de pedidos) ....................... 30

NO TRIBUNAL ......................................................................................................................................... 31

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Direção-Geral da Administração da Justiça

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Com a entrada em vigor da Reforma à Lei do Arrendamento Urbano - Lei n.º 31/2012,

de 14 de agosto, retificada pela Declaração de Retificação n.º 59-A/2012, de 12 de

outubro - foi criado o Balcão Nacional do Arrendamento (BNA) e o Procedimento

Especial de Despejo (PED). Este consiste, basicamente, num novo instrumento ao

dispor dos senhorios para efetivar a cessação do arrendamento, independentemente

do fim a que se destina, quando o arrendatário não desocupe o locado na data

prevista na lei ou na data prevista por convenção entre as partes.

Além de visar a efetiva desocupação e entrega do imóvel, vai permitir ao senhorio, no

mesmo procedimento solicitar o pagamento das rendas, encargos e despesas

eventualmente em falta.

Podemos desde já elencar as suas características essenciais:

– Toda a sua tramitação será realizada de modo eletrónico, permitindo uma

economia de meios e de tempo;

– Dá-se início ao procedimento com a apresentação de um formulário, com

campos de preenchimento obrigatório, sob pena de recusa;

– Encontra-se prevista a situação, de tanto o senhorio como o arrendatário,

poderem recorrer ao pedido de apoio judiciário para suportar os custos com

este procedimento.

Recebido o Requerimento de Despejo (RD), o BNA, se não houver motivos de recusa,

notifica o arrendatário sobre o pedido apresentado, podendo este, no prazo de 15

dias, fazer o seguinte (n.º 3 do art.º 15.º-D, do art.º 15.º-F e n.º 1 do art.º 15.º-N,

todos do NRAU):

a) Desocupar o local e, sendo caso disso, efetuar o pagamento dos montantes em dívida, acrescidos da taxa de justiça suportada pelo senhorio;

b) Opor-se ao pedido apresentado pelo senhorio, juntando documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça devida (ou, em alternativa, apresentar o comprovativo de pedido de apoio judiciário).

c) Nos casos de pedido com fundamento na falta de pagamento de rendas, despesas ou encargos, com a oposição deve comprovar a prestação de uma caução no valor da dívida em causa, até ao máximo de seis rendas;

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Direção-Geral da Administração da Justiça

d) Requerer, o diferimento da desocupação do imóvel, com fundamento em razões sociais imperiosas, devendo apresentar todas as provas para demonstração dos factos que alega e indicar até três testemunhas.

Na hipótese do arrendatário não reagir, nem entregar voluntariamente o imóvel, o

BNA converte automaticamente o requerimento de despejo em título para

desocupação do locado, autenticado com recurso a assinatura eletrónica (art.º 15.º-E

do NRAU).

No caso de apresentação de oposição, o BNA remeterá, também de forma eletrónica,

o procedimento especial de despejo para o tribunal competente, correndo o

procedimento os seus termos com prazos encurtados1 e procedimentos simplificados

até à prolação da sentença.

Na posse do título para desocupação do locado emitido pelo BNA (quando não haja

oposição) ou de sentença judicial (em caso contrário), o agente de execução, o

notário ou o oficial de justiça desloca-se ao locado a fim de investir o senhorio na

posse do mesmo entregando-lhe os documentos e as chaves se os houver e notifica os

arrendatários e quaisquer detentores para que respeitem e reconheçam o direito

daquele.

Em determinadas situações, e perante a recusa do arrendatário em abandonar o local,

poderá ser necessário solicitar ao Tribunal que emita uma autorização judicial para

entrada imediata no domicílio, bem como o auxílio das forças policiais.

Por último, no caso de ter sido requerido, como dissemos, no prazo da oposição, o

diferimento da desocupação do locado, deve o juiz decidir com base nas exigências

de boa-fé, na situação económica e social do arrendatário e do seu agregado familiar,

número de pessoas que habitam o imóvel, idades e estados de saúde. O período de

diferimento não pode, contudo, exceder o prazo de cinco meses a contar da data do

trânsito em julgado da decisão.

Do que acabamos de referir, resulta que a primeira parte do Procedimento Especial

de Despejo decorre no BNA e só no caso de o requerido apresentar oposição (ou

sempre que seja necessário a intervenção do juiz), é que este é remetido

automaticamente à distribuição no tribunal da situação do locado.

1 Vd. Capítulo seguinte.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

CAPÍTULO 2. OS PRAZOS NO PROCEDIMENTO ESPECIAL DE DESPEJO

A Lei n.º 31/2012, de 14 de agosto, tem como objeto a aprovação de medidas

destinadas a dinamizar o mercado de arrendamento urbano, alterando o regime

substantivo da locação, o regime transitório dos contratos de arrendamento

celebrados antes da entrada em vigor da Lei n.º 6/2006, de 27/2, e criando um

procedimento especial de despejo do local arrendado que permita a célere

recolocação daquele no mercado de arrendamento.

Na exposição de motivos desta lei refere o legislador que a intervenção do tribunal

assume caráter de urgência no pedido de autorização de entrada no domicílio do

arrendatário e que, no caso de oposição ao Procedimento Especial de Despejo (PED),

há lugar à intervenção do juiz num processo especial e urgente.

A intenção do legislador de tornar este procedimento mais célere e eficaz encontra-se

plasmada na lei, simplificando procedimentos, encurtando e imprimindo caráter

urgente a determinados prazos, bem como aos atos a praticar pelo juiz.

No entanto, o NRAU não prevê no seu normativo que o PED é urgente.

Prevê sim, em três momentos, que o procedimento tem caráter de urgência, a saber:

- Autorização judicial para entrada imediata no domicílio – n.º 2 do art.º 15.º-

L;

- Diferimento da desocupação de imóvel arrendado para habitação – n.º 1 do

art.º 15.º-O; e

- Os atos a praticar pelo juiz no âmbito do procedimento especial de

despejo assumem caráter urgente – n.º 8 do art.º 15.º-S.

É sabido que o caráter urgente de um processo implica, desde logo, um tratamento

prioritário, com precedência sobre o demais serviço do tribunal, quer para o juiz quer

para a secretaria.

Além disso, também a contagem dos prazos não se suspende durante o período das

férias judiciais, o que obriga à prática dos atos pelas partes de forma mais célere.

Por outro lado, o caráter urgente pode ainda significar uma redução significativa dos

prazos para a prática de determinados atos previsto na lei.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Como sabemos, são exemplos de processos urgentes os procedimentos cautelares e os

processos de insolvência, conforme se prevê no n.º 1 do art.º 363.º do CPC e no n.º 1

do art.º 9.º do CIRE, respetivamente.

Ora, não sendo o PED considerado um processo urgente, convém analisar as

referências que o legislador lhe incutiu no sentido de, em momentos diferenciados, o

procedimento assumir esse caráter urgente.

Quanto à autorização judicial para entrada imediata no domicílio e ao diferimento de

desocupação de imóvel arrendado para habitação acima referidos, dúvidas não restam

de que se tratam de requerimentos que assumem caráter urgente com todas as

características acima apontadas aos processos com aquela natureza.

As dúvidas colocam-se apenas quanto ao alcance da norma do n.º 8 do art.º 15.º-S,

quando se diz que “Os atos a praticar pelo juiz assumem caráter urgente”.

Primeiramente há que analisar a repercussão que têm as decisões proferidas pelos

magistrados judiciais, na prática dos atos subsequentes, pelas secretarias judiciais e

até pelos agentes de execução ou notários.

Dúvidas não restam que as secretarias, logo os oficiais de justiça, asseguram o

expediente, autuação e regular tramitação dos processos pendentes, bem como lhes

incumbe ainda a execução dos despachos judiciais e a realização, mesmo que

oficiosamente, das diligências necessárias para que o fim daqueles possa ser

prontamente alcançado, sempre na dependência funcional do magistrado

competente, conforme dispõe o art.º 157.º do CPC.

À luz deste princípio ordenador da atividade das secretarias judiciais, podemos

concluir que os atos dos magistrados apenas se completam e atingem a plenitude dos

fins a que se destinam as suas decisões, quando antecedidos ou completados com os

atos praticados ou a praticar pela secretaria que, com a sua efetiva atuação, as

tornam eficazes e definitivas.

Ora, sendo intenção do legislador imprimir urgência aos atos praticados pelo juiz, não

faria sentido, em nossa opinião, que a secretaria não desse o mesmo tratamento ao

expediente dirigido ao processo e às decisões proferidas, conferindo-lhes também a

requerida urgência, com precedência sobre o demais serviço do tribunal.

No entanto, convém relembrar que o PED não é urgente, pelo que, salvo a previsão de

que os prazos não se suspendem durante o período das férias judiciais (cfr. n.º 5 do

art.º 15.º-S), após a notificação urgente por parte da secretaria das decisões do juiz,

os prazos que se despoletarem no seu seguimento não são os de um processo urgente.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Poderemos dar como exemplo do que acabámos de referir a sentença proferida

no PED nos termos do art.º 15.º-I. A sentença há-de ser notificada com caráter de

urgência mas o prazo para interposição de recurso é de 30 dias e não de 15 dias como

se acha previsto para os processos urgentes (cfr. n.º 1 do art.º 638.º do CPC).

Posto isto, poderemos concluir, salvo, como sempre, orientações em contrário

do magistrado competente, que:

- O PED não é urgente;

- Os requerimentos previstos no n.º 2 do art.º 15.º-L e n.º 1 do art.º15.º-O

do NRAU, têm carácter de urgência;

- Os atos do juiz têm caráter de urgência;

- Os atos da secretaria a praticar anteriormente ou na sequência das

decisões proferidas pelos magistrados, assumem também caráter de

urgência.

- Os prazos judiciais do PED não se suspendem durante as férias judiciais.

CAPÍTULO 3. O PROCEDIMENTO ESPECIAL DE DESPEJO E O ACESSO AO DIREITO E

AOS TRIBUNAIS

Quem goze de insuficiência económica que não permita suportar as despesas

inerentes à disputa judicial pode, junto dos serviços da Segurança Social, requerer a

concessão do benefício do apoio judiciário.

O apoio judiciário tem âmbito pessoal. Por isso, sendo vários requerentes ou vários

requeridos, a concessão de apoio a um não aproveita aos restantes. Designadamente,

sendo um procedimento interposto por ou contra cônjuges, cada um deles, se

pretender beneficiar de apoio judiciário, carece de apresentar de forma individual o

respetivo requerimento.

Ao procedimento especial de despejo aplicam-se, com as devidas adaptações, o

regime de acesso ao direito e aos tribunais (n.º 1 do art.º 15.º-S do NRAU).

De seguida, apresentamos as especialidades.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Por regra, o requerimento de pedido de concessão de apoio judiciário deve ser

apresentado, no mínimo, 30 dias antes da propositura do procedimento, pois só a

partir de 30 dias após o decurso desse prazo poderá ser apresentado o requerimento

de despejo. O requerente deve apresentar, juntamente com o requerimento de

despejo, o documento da concessão do benefício do apoio judiciário na modalidade

de dispensa total ou parcial de taxa de justiça e demais encargos com o processo, sob

pena de recusa (al h) do n.º 1 do art.º 15.º-C do NRAU).

Porém, nos casos em que à data da apresentação do requerimento de despejo faltem

menos de 30 dias para o termo do prazo de prescrição ou de caducidade, ou qualquer

outra causa de urgência (que, evidentemente, deve ser invocada), ao requerente é

suficiente a junção, com o requerimento de despejo, do documento comprovativo da

apresentação do pedido de apoio judiciário na modalidade de dispensa de pagamento

ou pagamento faseado das taxas de justiça e demais encargos com o processo, que

ainda não tenha sido concedido, equivalendo a sua apresentação ao pagamento da

taxa de justiça (n.º 7 do art.º 15.º-B do NRAU).

Se o requerente do procedimento especial de despejo pretende a nomeação de

patrono, deve juntar ao procedimento o documento comprovativo da apresentação do

requerimento da concessão do benefício do apoio judiciário nessa modalidade para

que seja interrompido o prazo processual em curso.

Nestes casos, os serviços da Segurança Social notificam a Ordem dos Advogados,

entidade a quem compete a designação e nomeação do advogado.

O prazo reinicia-se a partir da notificação ao patrono nomeado da sua designação ou

da notificação do requerente da decisão de indeferimento.

Quando a nomeação do patrono vise a apresentação do requerimento de despejo, este

deve ser apresentado no prazo de 10 dias não estando prevista a possibilidade de o

advogado nomeado solicitar a prorrogação desse prazo (al.s a) e b) do n.º 1 do art.º

15.º-S do NRAU).

Se a nomeação se destinar a procedimento pendente, o prazo para a prática do ato

reinicia-se, devendo, por conseguinte, o ato ser praticado nesse prazo.

O procedimento especial de despejo considera-se iniciado na data da junção do

documento comprovativo do pedido ou da concessão de apoio judiciário na

modalidade de dispensa ou pagamento faseado da taxa de justiça e dos demais

encargos com o procedimento.

Em caso de indeferimento do pedido de apoio judiciário na modalidade de dispensa ou

de pagamento faseado da taxa de justiça e demais encargos com o procedimento, o

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Direção-Geral da Administração da Justiça

requerente do pedido deve efetuar o pagamento da taxa de justiça em falta no prazo

de 5 dias a contar da notificação da decisão definitiva de indeferimento, sob pena de

extinção do procedimento ou, caso já tenha sido constituído título para desocupação

do locado, de pagamento do valor igual a 10 vezes o valor da taxa devida (n.º 2 do

art.º 15.º-S do NRAU).

O benefício de apoio judiciário não abrange as multas aplicadas no procedimento

devido a, por exemplo, apresentação de peças ou documentos fora de prazo,

incumprimento de prazos, etc.

CAPÍTULO 4. A DISTRIBUIÇÃO DO PED AO TRIBUNAL

Nota prévia: sempre que seja suscitada qualquer questão sujeita a decisão

judicial, o BNA envia de forma eletrónica o PED para distribuição.

Estão sujeitos a distribuição no tribunal da situação do locado, a autorização judicial

para entrada imediata no domicílio, a suspensão da desocupação do locado e o pedido

de diferimento da desocupação do imóvel arrendado para habitação, bem como os

demais atos que careçam de despacho judicial (n.º 6 do art.º 15.º-S do NRAU e n.º 4

do art.º 11.º da Portaria n.º 9/2013)2.

O juiz, em qualquer caso, deve pronunciar-se sobre todas as questões suscitadas pelas

partes e, independentemente de ter sido requerida, sobre a autorização de entrada

no domicilio (n.º 7 do art.º 15.º do NRAU).

Apresentação de Oposição (pode incluir pedido de diferimento da desocupação)

Então, apresentada que seja oposição junto do BNA, este envia, por via eletrónica, o

PED para distribuição ao tribunal da situação do locado.

O PED é distribuído na 2.ª espécie – art.º 212.º do CPC - mantendo o mesmo NUIP em

(cv) BNA – Ação Especial de Despejo.

A secção de processos a quem foi distribuído, depois de proceder à autuação do

procedimento, terá de verificar oficiosamente:

2 O PED distribuído a tribunal mantém o seu NUIP que originalmente foi criado no BNA.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

a) - Se o articulado de oposição foi apresentado em papel, caso em que terá

sido anexado o DUC correspondente ao pagamento da multa de 2 UC (n.º 2 do

art.º 15.º-F do NRAU e n.º 2 do art.º 9 da Portaria n.º 9/2013);

b) - Se a oposição foi apresentada dentro do prazo (15 dias) – o prazo para

apresentação da oposição é perentório e o seu decurso, salvo invocação de

justo impedimento, extingue o direito de praticar esse ato. Se a mesma foi

apresentada em qualquer um dos 3 dias úteis subsequentes ao termo do prazo,

a secção deve proceder à liquidação da multa a que se refere o art.º 139.º do

CPC;

Nos termos do n.º 2 do art.º 569.º do CPC, deve a secção considerar que,

quando termine em dias diferentes, o prazo para a apresentação da

oposição por parte dos vários requeridos, a oposição de todos ou de cada

um deles, pode ser oferecida até ao termo do prazo que começou a

correr em último lugar.

De notar que, para efeitos de contagem do prazo, se a oposição foi

apresentada3:

- via Citius – vale como data da prática do ato a da respetiva expedição;

- em papel – vale como data da prática do ato a da respetiva entrega;

- via correio, sob registo – vale como data da prática do ato a da

efetivação do respetivo registo postal;

c) - Se o requerimento de apoio judiciário envolver o pedido de nomeação e

pagamento da compensação a patrono, este, depois de nomeado, apresentou a

oposição no prazo de 10 dias a contar da notificação da nomeação4;

d) - Se juntamente com a oposição foi apresentado documento comprovativo do

pagamento da taxa de justiça devida (3 UC se o valor do procedimento for igual

ou inferior a 30.000,00 ou 6 UC se superior – n.º 1 do art.º 22.º do Dec. Lei n.º

1/2013) ou, em alternativa, se foi apresentado documento comprovativo da

concessão de apoio judiciário ou ainda de que foi apresentado, junto dos

serviços da Segurança Social, o pedido de apoio judiciário na modalidade de

dispensa de pagamento ou pagamento faseado da taxa de justiça e demais

encargos.

3 Art.º 9.º, n.º 1 da Portaria n.º 9/2013. 4 Al. a) do n.º 1 do art.º 15.º-S do NRAU

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Direção-Geral da Administração da Justiça

No primeiro caso, a secção deve providenciar pela imediata associação do DUC

ao procedimento.

Após a verificação, pela secção, dos pressupostos de validação da apresentação da

oposição por parte do ou dos requeridos, o procedimento é apresentado ao juiz a

quem compete a análise dos requisitos da oposição e que procederá a um saneamento

sumário dos autos e, além do mais, verificará:

- Se, pelo requerido, foi constituído advogado cuja procuração deve ser junta

(se o não for fica sem efeito a defesa e, em consequência, será decidido em

conformidade);

- Se, em caso de se encontrar cumulado pedido o pagamento de rendas,

encargos ou despesas, o requerido juntou comprovativo da prestação de caução

– (n.º 3 do art.º 15.º-F do NRAU, n.º 1 do art.º 9.º do Dec.Lei n.º 1/2013 e art.

10.º da Portaria n.º 9/2013), se o não for fica sem efeito a defesa e, em

consequência, será decidido em conformidade;

- Se o requerido apresentou pedido de diferimento da desocupação de imóvel

arrendado para habitação;

- Se o requerido deduziu oposição ao pedido de pagamento de rendas, encargos

e despesas apresentado pelo senhorio;

- Se as rendas continuam a ser pagas ou depositadas nos termos legais – n.º 8 do

art.º 15 do NRAU.

O juiz pode entretanto convidar ambas as partes para:

- no prazo de 5 dias aperfeiçoarem as peças processuais;

- no prazo de 10 dias apresentarem novo articulado sempre que seja necessário

garantir o contraditório;

O juiz, se não julgar procedente alguma exceção dilatória ou nulidade que lhe cumpra

conhecer e se não decidir do mérito da causa, pode ordenar a notificação das partes

para a audiência final.

Uma nota a ter em atenção é que, a partir desta fase, o requerente caso pretenda

intervir no procedimento, se ainda não tem mandatário, também é obrigado a

constituir advogado.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

A falta de constituição de advogado configura uma exceção dilatória. Se a parte,

dentro do prazo que lhe foi fixado pelo juiz, constituir mandatário, a falta fica

regularizada, seguindo o procedimento os seus termos normais.

Se o requerente não constituir mandatário, o requerido será absolvido da instância.

A secção procede às notificações ordenadas com observância, se o juiz o ordenar, do

disposto no art.º 151.º do CPC. A audiência final deve ser realizada no prazo de 20

dias a contar da distribuição, não sendo motivo de adiamento a falta de qualquer das

partes ou dos seus mandatários a não ser em casos de justo impedimento.

A invocação do justo impedimento5 efetua-se por requerimento dirigido ao juiz do

procedimento, oferecendo a prova respetiva (documental, testemunhal ou outra).

Se as partes ou os seus representantes estiverem presentes na audiência, o juiz deve

procurar a sua conciliação no sentido da obtenção de um acordo (n.º 3 do art.º 15.º-I

do NRAU).

Frustrando-se a conciliação, produzem-se as provas que ao caso couber. As provas são

oferecidas na audiência, podendo cada parte apresentar até três testemunhas.

A audiência final é sempre gravada (art.º 155.º do CPC).

Se ao juiz parecer indispensável, visando uma boa decisão da causa, que se proceda a

alguma diligência de prova, suspenderá a audiência na altura que reputar mais

conveniente e designará imediatamente dia para a sua continuação, devendo,

contudo, o julgamento concluir-se no prazo de 10 dias.

A prova pericial, caso seja solicitada, contará apenas com intervenção de um único

perito.

Sendo ordenada a perícia, o juiz deve fixar o seu objeto nomeando o perito e

designando a data e local do início da diligência, devendo no ato ser prestado

compromisso de cumprimento da função (ou o mesmo pode ser prestado no início do

relatório pericial).

O resultado da perícia é expresso num relatório junto aos autos do qual a secção deve

dar conhecimento às partes.

Finda a produção de prova pode cada um dos mandatários fazer uma breve alegação

oral.

5 Art. 140.º do CPC.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

A sentença, sucintamente fundamentada (pode limitar-se à parte decisória, precedida

da identificação das partes e o objeto do litigio), é logo ditada para a ata.

Da audiência final é elaborada ata, cuja redação incumbe ao oficial de justiça, nos

termos gerais previstos no CPC, decorrendo a mesma sob a égide do que se acha

estabelecido para o processo comum, por força do disposto no n.º 1 do art.º 549.º do

CPC.

A sentença será notificada ao Ministério Público e às partes e, da mesma,

independentemente do valor da causa ou da sucumbência, poderá ser interposto

recurso de apelação nos termos previstos no CPC, o qual tem sempre efeito

meramente devolutivo com subida imediata e nos próprios autos.

A interposição de recurso e a decisão que ponha termo ao recurso deve ser

comunicada eletronicamente ao BNA (n.º 3 do art.º 17.º da Portaria n.º 9/2013 de 10

janeiro).

A secção deverá proceder ao registo da sentença no livro próprio6 e efetuar os

registos estatísticos necessários.

A sentença também é de imediato comunicada, de modo eletrónico, ao BNA que, em

conformidade com o decidido, remete ao agente de execução, notário ou oficial de

justiça para efetivação da desocupação, aguarda o prazo do diferimento ou arquiva o

procedimento.

A decisão judicial que condene o(s) requerido(s) no pagamento das rendas, encargos

ou despesas em atraso constitui título executivo para pagamento de quantia certa,

aplicando-se, com as necessárias adaptações o disposto nos art.ºs 724.º e ss do CPC

(n.º 5 do art.º 15.º-J do NRAU). Este assunto será tratado mais adiante.

Apresentação de pedido de diferimento da desocupação de imóvel arrendado para

habitação.

Pode acontecer que o(s) requerido(s), dentro do prazo que lhe foi concedido aquando

da notificação do requerimento de despejo – 15 dias - não apresente, no BNA,

oposição ao requerimento de despejo mas apresente, no BNA (al c) do n.º 1 do art.º

10.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 janeiro) dirigido ao juiz do tribunal da situação do

locado, requerimento de diferimento da desocupação de imóvel locado para

habitação.

6 N.º 3 do art. 153.º do CPC.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

São fundamentos para este requerimento:

- O imóvel ser arrendado para habitação e estar em causa razões sociais

imperiosas;

- O arrendatário ser portador de deficiência com grau comprovado de

incapacidade superior a 60 %;

- Tratando-se de resolução por não pagamento de rendas, a invocação de que a

falta do mesmo se deve a carência de meios por parte do arrendatário.

Com o requerimento devem ser oferecidas as provas disponíveis e indicadas as

testemunhas, a apresentar, até ao limite de 3.

Este requerimento assume caráter de urgência.

Assim, apresentado que seja o requerimento junto do BNA este envia, por via

eletrónica, o PED para distribuição ao tribunal da situação do locado (n.º 6 do art.º

15.º-S do NRAU e n.º 2 do art.º 10.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 janeiro).

Mantendo o mesmo NUIP, é distribuído na 2.ª espécie se o PED não tiver sido ainda

submetido à distribuição – art.º 212.º do CPC – em (cv) BNA – Outros Procedimentos

(Diferimento da desocupação do imóvel).

A secção de processos a quem foi distribuído, depois de proceder à autuação do

procedimento, terá de verificar oficiosamente:

- Se o requerimento foi apresentado dentro do prazo (15 dias) – o prazo para

apresentação do requerimento é, como já vimos, o mesmo da oposição, pelo

que é perentório e o seu decurso, salvo o justo impedimento, extingue o direito

de praticar esse ato.

Se o mesmo foi apresentado em qualquer um dos 3 dias úteis para além do

prazo, a secção deve proceder à liquidação da multa a que se refere o art.º

139.º do CPC.

De notar que, se o requerimento foi apresentado:

- via Citius – vale como data da prática do ato a da respetiva expedição;

- em papel – vale como data da prática do ato a da respetiva entrega;

- via correio, sob registo – vale como data da prática do ato a da

efetivação do respetivo registo postal;

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Direção-Geral da Administração da Justiça

- Se o requerimento de apoio judiciário envolver o pedido de nomeação e

pagamento da compensação de patrono, este, depois de nomeado, apresentou

o requerimento no prazo de 10 dias;

- Se juntamente com o requerimento foi apresentado documento comprovativo

do pagamento da taxa de justiça devida (0,5 UC – al b) do n.º 3 do art.º 22.º do

Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 janeiro) ou, em alternativa, se foi apresentado

documento comprovativo da concessão de apoio judiciário ou de que foi

apresentado, junto dos serviços da Segurança Social o pedido de apoio

judiciário na modalidade de dispensa de pagamento ou pagamento faseado da

taxa de justiça e demais encargos.

No primeiro caso, a secção deve providenciar pela imediata associação do DUC.

Após a verificação, pela secção, dos pressupostos de validação da apresentação do

requerimento por parte do ou dos requeridos, o procedimento é apresentado ao juiz a

quem compete a análise dos seus requisitos e que procederá a um saneamento

sumário dos autos e, além do mais, verificará:

- Se o requerimento foi apresentado fora de prazo;

- Se o fundamento não se ajusta a algum dos pressupostos;

- Se o pedido é manifestamente improcedente.

Caso em que será indeferido liminarmente.

Ou,

- Se, pelo requerido, foi constituído advogado cuja procuração deve ser junta,

se o não for fica sem efeito o pedido e, em consequência, será decidido em

conformidade;

- Se as rendas continuam a ser pagas ou depositadas nos termos legais – n.º 8 do

art.º 15 do NRAU (salvaguardadas as situações de carência económica

anteriormente referidas).

O juiz deve, sempre que os autos lhe sejam apresentados, pronunciar-se sobre todas

as questões suscitadas e, como já foi anteriormente referido, independentemente de

ter sido requerida, deverá pronunciar-se sobre a autorização de entrada no domicílio

(n.º 7 do art.º 15.º do NRAU).

Se, com base nos requisitos acima referidos, o juiz indeferir liminarmente o pedido de

diferimento de desocupação do locado, a secção notifica ambas as partes e comunica

16

Direção-Geral da Administração da Justiça

de imediato ao BNA que converterá o requerimento de despejo em título para

desocupação do locado (n.º 1 do art.º 11.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 janeiro).

Se o requerimento de diferimento da desocupação do locado for recebido, o senhorio

será notificado para o contestar, querendo, no prazo de 10 dias, devendo desde logo

oferecer as provas disponíveis e indicar as testemunhas, a apresentar, até ao limite

de 3. A apresentação desta peça processual segue as regras do CPC (n.º 3 do art.º 11.º

da Portaria n.º 9/2013 de 10 janeiro).

A contestação, devendo ser subscrita por mandatário judicial, está sujeita, se o

senhorio não tiver apoio judiciário na modalidade de dispensa do pagamento de taxa

de justiça, ao pagamento de taxa de justiça correspondente a 0,5 UC (al. b) do n.º 3

do art.º 22.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 janeiro).

O juiz marcará uma audiência final, onde serão inquiridas as testemunhas indicadas,

até ao limite de três por cada parte, devendo decidir o pedido no prazo máximo de 20

dias a contar da sua apresentação.

A decisão será notificada ao Ministério Público e às partes e, da mesma, poderá ser

interposto recurso de apelação, no prazo de 15 dias nos termos previstos no CPC (n.º

1 do art.º 638 do CPC), o qual tem sempre efeito meramente devolutivo com subida

imediata e nos próprios autos.

A interposição de recurso e a decisão que ponha termo ao recurso deve ser de

imediato comunicada eletronicamente ao BNA (n.º 3 do art.º 17.º da Portaria n.º

9/2013 de 10 janeiro).

O prazo de diferimento da desocupação não pode exceder os 5 meses a contar do

trânsito em julgado da decisão que o conceder.

No caso de decisão favorável ao diferimento da desocupação cujo fundamento tenha

sido constituído na falta de pagamento de rendas por carência de meios do

arrendatário, a decisão será oficiosamente comunicada, com a sua fundamentação,

ao Fundo de Socorro Social do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, a

quem caberá pagar ao senhorio as rendas correspondentes ao período de diferimento

(n.º 3 do art.º 15.º-O do NRAU).

A decisão é também de imediato comunicada, de modo eletrónico, ao BNA que, em

conformidade com o decidido, ou converte o requerimento de despejo em título para

desocupação do locado e remete-o ao agente de execução, notário ou oficial de

justiça para efetivação da desocupação, ou aguarda o prazo do diferimento (art.º 11.º

do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 de janeiro).

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Direção-Geral da Administração da Justiça

CAPÍTULO 5. A DESOCUPAÇÃO DO LOCADO

Como tivemos oportunidade de apurar pelo já exposto, se notificado para o efeito, o

requerido não apresentou oposição ou a mesma for considerada como não deduzida

ou ainda, no decurso do PED, não pagou ou depositou as rendas que se foram

vencendo, o BNA de imediato converte aquele requerimento de despejo em Título

para Desocupação do Locado que, à semelhança do que acontece com a decisão

judicial para desocupação, de forma eletrónica, é enviada para o agente de

execução, notário ou oficial de justiça para ser levada a efeito a diligência de

desocupação.

Será então, munido de um destes documentos - a sentença judicial ou o título para

desocupação do locado -, que o oficial de justiça (nos casos em que para tal for

designado) se desloca ao locado para investir o requerente na sua posse.

Qualquer um destes documentos dará entrada de modo eletrónico e automático no

tribunal, sendo em consequência objeto de distribuição na respetiva Secção do

Serviço Externo.

A desocupação do locado realizada pelo oficial de justiça

Em primeiro lugar importa esclarecer quais os fundamentos para a intervenção do

oficial de justiça nesta diligência.

Não sendo possível proceder à designação de agente de execução ou notário, de entre

os que tenham previamente manifestado vontade em participar no PED,

nomeadamente por não existir agente de execução ou notário com domicílio

profissional no concelho, ou, no caso do agente de execução, no concelho do imóvel

ou nos concelhos confinantes ao da localização do imóvel, e, no caso dos notários,

que não possam exercer a sua competência nesse concelho, o BNA designará oficial de

justiça do tribunal da situação do locado para proceder à diligência de desocupação

(n.º 5 do art.º 24.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 de janeiro).

Esta diligência será realizada pela Secção de Serviço Externo ou pelo Escrivão Auxiliar

designado no tribunal da localização do imóvel a desocupar (cfr. Mapa I anexo ao

EFJ).

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Sem prejuízo das disposições gerais constantes do art.º 722.º do CPC, parece-nos

também que, caso o requerente litigue com o benefício do apoio judiciário na

modalidade de atribuição de agente de execução, prevista no art.º 35.º-A da Lei do

Acesso ao Direito e aos Tribunais, a desocupação do locado deverá ser igualmente

realizada pelo oficial de justiça.

O BNA, ao mesmo tempo que informa o requerente sobre o modo de pagamento e

comprovação da taxa de justiça devida pela diligência de desocupação, disponibiliza

(ou seja, remete para distribuição) eletronicamente o requerimento de despejo

entretanto convertido em título para desocupação do locado, ou a decisão judicial

que a ordena, ao oficial de justiça (tribunal) designado nos termos acima referidos

(n.º 6 do art.º 24.º da Portaria n.º 9/2013).

Mantendo o mesmo NUIP, é distribuído em (cv) BNA – Desocupação do Locado.

Com a notificação feita ao requerente pelo BNA, aquele, sem prejuízo do benefício do

apoio judiciário, deve pagar a taxa de justiça no valor de 1,75 UC, quando o

procedimento tenha valor inferior a 30.000,00 €, ou 3,50 UC se igual ou superior.

O pagamento da taxa de justiça será comprovado pela junção do respetivo DUC e,

enquanto tal não suceder, o oficial de justiça não prossegue com as diligências

necessárias à efetivação da desocupação (art.º 25.º da Portaria n.º 9/2013).

Com este procedimento pretende o requerente obter a entrega do imóvel locado uma

vez que o requerido não procedeu voluntariamente à sua entrega.

Constituem pressupostos de desocupação do locado, a existência de pelo menos um

destes documentos: o título, ou decisão judicial, para desocupação do locado.

Para o efeito, o oficial de justiça desloca-se de imediato ao locado para investir o

requerente na posse da sua quota-parte do imóvel, entregando-lhe os documentos e

as chaves, se os houver, e notifica o(s) requerido(s) e quaisquer detentores para que

respeitem e reconheçam o direito do requerente, lavrando-se auto da diligência (cfr.

n.º 1 do art.º 15.º-J do NRAU e do art.º 15.º do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro).

Caso isso não seja possível, deve proceder às diligências necessárias para obter o

efeito útil dessa diligência a qual se traduz num ato material em cuja execução

deverão ser observadas as garantias e os direitos do requerente e do requerido.

No elenco destas diligências prévias importa referir que, se o imóvel a entregar se

tratar de casa de habitação principal do requerido, a partir do momento em que se

suscitem sérias dificuldades no seu realojamento deve ser comunicado

19

Direção-Geral da Administração da Justiça

antecipadamente esse facto à Camara Municipal respetiva e às entidades

assistenciais7 (art.º 15.º, n.º 3 do Dec. Lei n.º 1/2013).

O senhorio e o arrendatário poderão, no decurso da diligência, acordar num prazo

para a desocupação com remoção de todos os bens móveis, sendo desse facto lavrado

auto pelo oficial de justiça (n.º 2 do art.º 15.º-J do NRAU).

O requerente deverá cooperar8 com o oficial de justiça na realização da diligência,

nomeadamente, disponibilizando os meios que permitam, se necessário, o

arrombamento de portas ou a mudança de fechaduras. Caso haja necessidade de

proceder a alguma destas operações, deve ser observado, com as necessárias

adaptações, o disposto no art.º 757.º do CPC.

Sempre que:

a) seja oposta alguma resistência;

b) haja justificado receio de oposição de resistência;

c) seja necessário o arrombamento da porta;

d) seja necessária a substituição da fechadura,

deve o oficial de justiça solicitar diretamente o auxílio das autoridades policiais.

Quando em causa esteja a desocupação de domicílio a solicitação deste auxílio carece

de prévio despacho judicial nos termos do n.º 4 do art.º 757.º do CPC.

As despesas com a disponibilização dos meios considerados absolutamente necessários

à efetivação da diligência devem ser adiantadas pelo requerente nos termos gerais do

regime previsto no RCP (n.º 3 do art.º 15.º-J e o n.º 5 do art.º 14.º do Dec. Lei n.º

1/2013, de 7 de janeiro).

A desocupação de locado que constitua domicilio9 só pode ser realizada entre as 7 e

as 21 horas, devendo ser entregue cópia do título para desocupação, ou da decisão

judicial, ao requerido ou a quem tiver a disponibilidade do lugar em que a diligência

se deva realizar, o qual poderá assistir à diligência e fazer-se acompanhar ou

substituir por pessoa da sua confiança que se apresente no local sem delongas (n.º 4

do art.º 15.º-J do NRAU).

O oficial de justiça, se necessário, procede ao arrolamento dos bens encontrados no

local e investe o requerente na posse do imóvel, entregando-lhe os documentos e as

chaves, se os houver, e notifica o requerido e quaisquer outros detentores para que

7 Por exemplo: os serviços da Segurança Social, IPSS, Santa Casa da Misericórdia, etc. 8 Para além da garantia dos encargos a que se refere os artºs. 16.º a 19.º do RCP. 9 O art.º 82.º, n.º 1 do Código Civil, refere que “a pessoa tem domicílio no lugar da sua residência habitual”.

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Direção-Geral da Administração da Justiça

respeitem e reconheçam o seu direito (cfr. n.º 1 do art.º 15.º-J e n.º 1 do art.º 15.º-K

do NRAU e 15.º do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro).

O arrendatário deve, no prazo de 30 dias após a tomada de posse do imóvel, remover

todos os seus bens móveis, sob pena de estes serem considerarem abandonados.

Se não for possível proceder à notificação do arrendatário para esse efeito, o oficial

de justiça, na mesma data em que realiza o seu arrolamento, procede à notificação

do arrendatário através da afixação da correspondente nota na porta do imóvel.

Findo esse prazo, os bens móveis serão considerados abandonados (n.º 2 do art.º 15.º-

K do NRAU e o art.º 16.º do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro).

Importa acrescentar que carece de prévia autorização judicial a entrada imediata no

imóvel arrendado sempre que o mesmo constitua domicílio10 (art.º 15.º-L do NRAU e o

n.º 1 do art.º 14.ºdo Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro) ou outros casos similares

dessa forma tratados pela lei.

No entanto, o oficial de justiça verificando que no imóvel arrendado para fins

habitacionais não se encontram pessoas e, confirmados que estejam indícios de que o

mesmo se encontra abandonado, não carece de ser autorizada judicialmente a

entrada no imóvel.

Para o efeito, o oficial de justiça afixa no local, com a antecedência de pelo menos

20 dias, um aviso indicando o dia e hora que designou para a entrada e consequente

desocupação do imóvel.

Devem ser elaborados autos que relatem a verificação dos indícios de abandono e da

afixação da nota (n.ºs 2 a 4 do art.º 14.º, do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro).

Para ser considerado existirem indícios de abandono, devem encontrar-se reunidas,

pelo menos, duas das seguintes circunstâncias:

a) O fornecimento de água ou de eletricidade encontrar-se interrompido há mais

de dois meses;

b) O recetáculo postal encontrar-se cheio;

c) O imóvel encontrar-se devoluto, sendo tal situação confirmada por pessoa

residente na área do locado e com conhecimento direto.

Finalmente, importa acrescentar que o oficial de justiça designado para proceder à

desocupação do locado deve efetuar o registo da prática de todos os atos no processo

10 N.º 2 do artigo 34.º da CRP:

“A entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade só pode ser ordenada pela autoridade judicial competente, nos casos e segundo as formas previstos na lei.”

21

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no sistema informático “Citius” de modo a permitir identificar o ato, cópia dos

documentos respeitantes à efetivação do mesmo, e, sendo caso disso, cópia dos

documentos que o acompanham (n.º 3 do art.º 16.º do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de

janeiro).

As vicissitudes no decurso da diligência de desocupação

Requerimento para autorização judicial para entrada imediata no domicílio

Se o arrendatário não desocupar o domicílio de livre vontade ou incumpra o acordo

de desocupação que celebrou com o senhorio e se o procedimento não foi ainda

distribuído a juiz (sendo certo que, se tal aconteceu, o juiz, como já vimos, deve

pronunciar-se sobre esta matéria – n.º 7 do art.º 15.º do NRAU), o oficial de justiça

designado apresenta, no BNA, dirigido ao juiz do tribunal da situação do locado, um

requerimento para, no prazo de 5 dias, o juiz autorizar a entrada imediata no

domicílio (n.º 1 do art.º 15.º-L, do NRAU e al. a) do n.º 1 do art.º 11.º da Portaria n.º

9/2013 de 10 janeiro).

O BNA procede de forma automática e eletrónica ao envio deste requerimento para

distribuição ao tribunal competente.

Se o PED ainda não foi objeto de qualquer distribuição a juízo, o requerimento será

distribuído na 2.ª espécie (mantendo o mesmo NUIP) como (cv) BNA – Outros

Procedimentos (Autorização judicial – entrada na residência), sendo imediatamente

apresentado ao juiz.

Este requerimento, que obedece a um formulário aprovado e consta da página

eletrónica do BNA, assume caráter de urgência pelo que a sua tramitação se sobrepõe

ao serviço normal da secretaria, devendo ser instruído com o título para desocupação

do locado e acompanhado do DUC comprovativo do pagamento da taxa de justiça, no

montante de 0,20 UC a suportar pelo requerente (n.º 2 do art.º 15.º-L do NRAU e 12.º

e 13.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 janeiro).

22

Direção-Geral da Administração da Justiça

Devem ainda ser juntos ao requerimento, com recurso à versão eletrónica dos

documentos constantes do processo, os documentos previstos nos art.º 9.º, 10.º e

15.º-D do NRAU11 (art.º 14.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 janeiro).

O oficial de justiça apenas apresenta este requerimento ao BNA após ter recebido do

requerente o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça (art.º 13.º da

Portaria n.º 9/2013, de 10 janeiro).

Se não for utilizado o modelo de requerimento ou se este não se mostrar devidamente

preenchido, se não contiver os documentos acima referidos ou se verificar a violação

das normas relativas à forma ou às vicissitudes das comunicações entre as partes ou

quanto à finalidade, conteúdo e efeito da notificação realizada pelo BNA ao

requerido, o juiz decide pela recusa do requerimento de autorização para entrada no

domicilio.

Esta decisão será de imediato comunicada eletronicamente ao BNA (n.º 4 do art.º

15.º-L, do NRAU), para além das notificações que são devidas nos termos comuns.

Por outro lado, se o admitir e se considerar necessário ordena que o arrendatário seja

notificado para, em prazo que fixar, se pronunciar (n.º 3 do art.º 15.º-L do NRAU).

Não havendo motivo de recusa, se o juiz conferir a autorização judicial para entrada

no domicilio, esta deve ser notificada nos termos gerais e comunicada prontamente

ao BNA nos termos do art.º 17.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 de janeiro que, por sua

vez, a disponibiliza de forma eletrónica ao oficial de justiça para que, também de

imediato se desloque ao locado a fim de investir na posse do imóvel o requerente,

lavrando auto de diligência ou, caso isso não seja possível, proceder às diligências

necessárias para obter o efeito útil dessa diligência, tudo nos termos descritos para a

desocupação do locado prevista no n.ºs 2 a 4 do art.º 15.º-J, do NRAU.

Teremos de destacar o facto de que em causa poderá estar a desocupação de um

conjunto de bens imóveis mas tal apenas pode ocorrer desde que os imóveis constem

do título para desocupação do locado (naturalmente o bem principal estará

identificado no requerimento de despejo, os restantes resultarão necessariamente do

contrato de arrendamento), e desde que entre os mesmos se verifique uma

dependência funcional (por exemplo: seja uma garagem ou arrecadação em relação à

fração autónoma a desocupar) e, evidentemente, desde que se situem dentro do

mesmo concelho (art.º 8.º do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro).

11 Estas disposições são relativas à forma de comunicação para a cessação do contrato de arrendamento, às vicissitudes

ocorridas nessa comunicação e à finalidade, conteúdo e efeito da notificação efetuada pelo BNA ao requerido.

23

Direção-Geral da Administração da Justiça

A suspensão da desocupação do locado

Na deslocação ao locado para efetivar a sua desocupação pode verificar-se que, ao

oficial de justiça encarregue da diligência, se apresente um detentor do mesmo, a

quem não tenha sido dada a oportunidade de intervir no procedimento especial de

despejo, que exiba, emanado do senhorio, qualquer um dos seguintes documentos,

com data anterior ao início do procedimento:

a) Título de arrendamento ou de outro gozo legítimo do prédio;

b) Título de subarrendamento12 ou de cessão de posição contratual13 e documento

comprovativo de haver sido requerida no prazo de 15 dias a respetiva

notificação ao senhorio, ou de este ter especialmente autorizado ou

reconhecido o subarrendatário como tal ou a cessão ou o cessionário como tal.

Em caso de se tratar de um arrendamento para habitação, o oficial de justiça deverá

também suspender a diligência desde que se mostre, por atestado médico que indique

fundamentadamente o prazo durante o qual se deve suspender a diligência ou que a

mesma põe em risco de vida, devido a doença aguda, uma pessoa que se encontre no

local.

Verificada que esteja qualquer uma destas situações, o oficial de justiça, suspende a

diligência, lavra certidão das ocorrências, junta-lhes os documentos exibidos e

adverte o detentor, ou a pessoa que se encontra no local, de que as diligências para a

desocupação do locado prosseguirão a não ser que, no prazo de 10 dias, venha a ser

requerida ao juiz do tribunal judicial da situação do locado a confirmação da

suspensão, e que deve ser junta ao respetivo requerimento a documentação

disponível.

Destes factos deve ser dado imediato conhecimento ao senhorio ou seu

representante.

Findo este prazo de 10 dias sem que nada tenha sido requerido, o oficial de justiça,

de imediato, desloca-se ao locado para investir o requerente na posse do imóvel,

entregando-lhe os documentos e as chaves, se os houver, e notifica os requeridos

e/ou quaisquer detentores para que respeitem e reconheçam o direito do requerente

(cfr. n.º 1 do art.º 15.º-J do NRAU e art.º 15.º do Dec. Lei n.º 1/2013, de 7 de janeiro)

12 Quando o contrato de arrendamento se destinar a fins habitacionais. 13 Quando o contrato de arrendamento se destinar a outros fins que não os habitacionais (p.ex. comerciais ou industriais).

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Direção-Geral da Administração da Justiça

Se, pelo contrário, for requerida a suspensão da desocupação do locado, o

requerimento, se bem que dirigido ao juiz do tribunal, deve ser apresentado no BNA,

acompanhado dos documentos já referidos, acrescido do comprovativo do pagamento

da taxa de justiça no valor de 0,50 UC. O BNA, por sua vez, procede de forma

automática e eletrónica ao seu envio para distribuição. Mantendo o mesmo NUIP, é

distribuído na 2.ª espécie como (cv) BNA – Outros Procedimentos (Suspensão da

desocupação do locado), sendo o requerimento imediatamente apresentado ao juiz.

Este requerimento deve ser apresentado pelas mesmas formas previstas para a

apresentação da oposição (al. b) do n.º 1 do art.º 11.º da Portaria n.º 9/2013, de 10

janeiro).

O juiz verificará os requisitos formais do requerimento e manda notificar para, em

prazo que fixará, o senhorio, querendo, se pronunciar. Se o senhorio se pronunciar,

deverá fazer acompanhar o seu requerimento do comprovativo do pagamento da taxa

de justiça no montante de 0,50 UC (parte final da al. a) do n.º 4 do art.º 22.º do

Dec.Lei n.º 1/2013).

Findo o prazo, o procedimento é apresentado ao juiz para, em 5 dias, proferir decisão

sobre se se devem manter suspensas as diligências para desocupação ou, ao invés,

ordenar o levantamento da suspensão e a imediata prossecução das diligências

tendentes à efetiva desocupação do locado.

Em qualquer dos casos, a decisão proferida pelo juiz, deverá ser notificada às partes

e será comunicada de imediato ao BNA que, por sua vez, a vai disponibilizar ao oficial

de justiça para que, sendo caso disso, de seguida se desloque ao locado para tomar

posse do imóvel, lavrando auto de diligência ou, caso isso não seja possível, proceder

às diligências necessárias para obter o efeito útil dessa diligência, disso elaborando o

respetivo auto.

CAPÍTULO 6. IMPUGNAÇÃO DO TÍTULO PARA DESOCUPAÇÃO DO LOCADO

O arrendatário só pode impugnar o título para desocupação do locado com base em

algum dos seguintes fundamentos:

1. Violação do disposto no art.º 9.º do NRAU, relativo à forma a ser observada nas

comunicações legalmente exigíveis ao senhorio para a cessação do contrato de

arrendamento;

25

Direção-Geral da Administração da Justiça

2. Violação do disposto no art.º 10.º do NRAU, referente aos procedimentos a

serem observados pelo senhorio em eventuais vicissitudes que vierem a

verificar-se nas comunicações ao arrendatário, destinadas à cessação do

contrato de arrendamento;

3. Violação do disposto no art.º 15.º-D do NRAU, relativo à finalidade, conteúdo e

efeito da notificação que o BNA efetuou ao(s) requerido(s) para deduzir

oposição, requerer o diferimento da desocupação ou , em alternativa,

desocupar o locado.

Este procedimento tem na sua génese a eventual existência de irregularidades

decorrentes das comunicações que deram origem ao fundamento para a desocupação

ou das notificações efetuadas pelo BNA.

A violação das normas referidas significa que, na verdade, não existe título para

desocupação do locado porque não foram levadas em conta as regras que

salvaguardam os direitos do arrendatário.

Assim sendo, o arrendatário apenas conhecerá da pretensão do senhorio quando o

oficial de justiça (o agente de execução ou o notário) incumbido de realizar o despejo

se deslocar ao local arrendado para efetuar a diligência, ou mesmo depois disso, caso

se encontre ausente nesse momento.

O requerimento de impugnação do título para desocupação do locado deve ser

apresentado no BNA (através das formas previstas para a apresentação da oposição

(al. d) do n.º 1 do art.º 11.º, ex vi do n.º 1 do art.º 9.º da Portaria n.º 9/2013, de 10

de janeiro), dirigido ao juiz de direito do tribunal judicial da situação do locado, no

prazo de 10 dias a contar:

a) - Da deslocação do agente de execução, notário ou oficial de justiça, ao

imóvel para a sua desocupação; ou

b) - Do momento em que o arrendatário teve conhecimento de ter sido

efetuada a desocupação do locado.

O requerimento de impugnação do título para desocupação do locado pode ser

acompanhado do título para desocupação do locado e deve ser apresentada a prova,

bem como o documento comprovativo do pagamento da respetiva taxa de justiça no

montante de 0,50 UC (al. c) do n.º 4 do art.º 22.º do Dec.Lei n.º 1/2013), caso o

requerente não tenha apoio judiciário na modalidade de dispensa ou pagamento

faseado da taxa de justiça e demais encargos com o processo.

Este requerimento após dar entrada no BNA é remetido por meios eletrónicos e de

forma automática ao tribunal da situação do locado onde é distribuído na 2.ª espécie,

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Direção-Geral da Administração da Justiça

mantendo o mesmo NUIP, como (cv) BNA – Outros Procedimentos (Impugnação do

título para desocupação do locado).

De imediato apresentado ao juiz, que verificará os seus requisitos formais e ordenará

a notificação para, no prazo de 10 dias, a parte requerida (o senhorio) se opor,

devendo também oferecer a prova que entender.

À oposição à impugnação do título para desocupação do locado aplica-se o disposto no

art.º 144.º do CPC e legislação complementar (Portaria n.º 280/2013, de 26 de agosto)

quanto à apresentação a juízo de peças processuais (n.º 3 do art.º 11.º da Portaria n.º

9/2013, de 10 janeiro).

Se o senhorio apresentar oposição à impugnação, deverá fazer acompanhar o seu

articulado do comprovativo do pagamento da taxa de justiça no montante de 0,50 UC

(parte final da al. c) do n.º 4 do art.º 22.º do Dec.Lei n.º 1/2013).

Findo o prazo, o processo é apresentado ao juiz para eventual produção de prova e

proferir decisão.

A impugnação tem sempre efeito meramente devolutivo, seguindo, com as

necessárias adaptações, a tramitação do recurso de apelação nos termos do CPC.

A decisão proferida pelo juiz será imediatamente comunicada ao BNA para os fins

convenientes, conforme dispõe o art.º 17.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 de janeiro.

CAPÍTULO 7. EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

Títulos executivos

Constituem título executivo com vista à instauração de execução para pagamento de

quantia certa correspondente a rendas, encargos ou despesas, os seguintes

documentos:

a) - Não procedentes do PED:

-O contrato de arrendamento, acompanhado do comprovativo da comunicação

ao arrendatário do montante em dívida – art.º 14.º-A do NRAU;

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Direção-Geral da Administração da Justiça

- A decisão judicial proferida na ação de despejo prevista no art.º 14.º do

NRAU.

b) - Procedentes do PED:

- O título para desocupação do locado quando no PED tenha sido efetuado o

pedido de pagamento de rendas, encargos ou despesas em atraso – n.º 5 do

art.º 15.º-J do NRAU;

- A decisão judicial que, no âmbito do PED, condene o requerido no pagamento

das rendas, encargos ou despesas em atraso – n.º 5 do art.º 15.º-J do NRAU.

Procedimento especial de despejo com cumulação de pedidos

Quando haja lugar a procedimento especial de despejo, o pedido de pagamento de

rendas, encargos ou despesas que corram por conta do arrendatário, pode ser

deduzido cumulativamente com o pedido de despejo, no âmbito do referido

procedimento, desde que tenha sido comunicado ao arrendatário o montante em

dívida, salvo se previamente tiver sido intentada ação executiva com base no título

executivo previsto no art.º 14.º-A (n.º 5 do art.º 15.º, e do n.º 5 e 6 do art.º 15.º-J do

NRAU).

Aplicação subsidiária do Código de Processo Civil

À decisão judicial que condene o requerido no pagamento das rendes, encargos ou

despesas em atraso, bem como ao título para desocupação do locado quando tenha

sido efetuado aquele pedido, aplicam-se, com as necessárias adaptações, os termos

previstos no CPC para a execução para pagamento de quantia certa baseada em

injunção (n.º 5 do art.º 15.º-J do NRAU).

NO BNA

Quando o requerente, no requerimento de despejo, formulou um pedido de

pagamento de rendas, encargos ou despesas, e se o BNA procedeu à conversão do

requerimento de despejo em título para desocupação do locado ou foi proferida

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decisão judicial (após comunicação do tribunal) para desocupação do locado, o BNA

deve (n.º 1 do art.º 12.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 de janeiro):

- Disponibilizar o título ou a decisão judicial nos termos do n.º 3 do artigo 15.º-

E do NRAU; e

- Notificar o requerente para em 10 dias:

1-Juntar ao processo o comprovativo de pagamento da taxa de justiça

respeitante à execução para pagamento de quantia certa ou

comprovativo da concessão do apoio judiciário (caso não tenha sido

concedido aquando do requerimento de despejo)14;

Se o requerente não proceder à sua junção no prazo de 10 dias,

entende-se tal omissão como desistência do pedido de pagamento

de rendas, encargos ou despesas15, não prosseguindo o BNA com os

trâmites necessários à execução para pagamento de quantia certa

(n.º 2 do art.º 12.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 de janeiro).

2 - Indicar, caso ainda não o tenha feito e o pretenda fazer, ou caso o

mandatário ainda não se tenha associado ao processo através do sistema

informático “CITIUS”, mandatário que o represente na execução para

pagamento de quantia certa, juntando a respetiva procuração, se for

obrigatória a constituição de mandatário nos termos do art.º 58.º do

CPC.

Após junção do comprovativo de pagamento da taxa de justiça ou comprovativo da

concessão do apoio judiciário, ou do referido no ponto 2 anterior, o BNA remete, por

via eletrónica, o requerimento de despejo para o tribunal nele indicado, juntamente

com o título ou a decisão judicial para desocupação do locado, o documento

comprovativo do pagamento da taxa de justiça ou da concessão de apoio judiciário e,

se for caso disso, a procuração junta pelo mandatário, valendo o conjunto destes

documentos como requerimento executivo idóneo a iniciar a execução para

pagamento de quantia certa (n.º 3 do art.º 12.º do Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 de

janeiro)16.

14 Por analogia com o que dispõe o n.º 2 do art.º 12.º do Dec.Lei n.º 1/2013, no caso do requerente litigar já com apoio judiciário, no silêncio da lei, propendemos para que o BNA inclua nesta notificação a indicação de que deve, no prazo de 10 dias, indicar se pretende prosseguir com a execução para pagamento de quantia certa. 15 Esta desistência do pedido deverá, em nossa opinião, ser entendida como desistência da execução no âmbito do PED, e não com o alcance previsto no art.º 285.º, n.º 1 do CPC. 16 Este requerimento substitui, para todos os efeitos, aquele que se encontra previsto no art.º 724.º do CPC.

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Depois de ter sido efetuado o envio do requerimento executivo para o tribunal, o BNA

remete ao requerente o comprovativo desse envio, juntamente com as referências

necessárias para que o mesmo possa proceder ao pagamento dos honorários devidos

ao agente de execução designado, nos termos da regulamentação relativa à

remuneração do agente de execução nas execuções cíveis17 (n.º 4 do art.º 12.º do

Dec. Lei n.º 1/2013 de 7 de janeiro e art.º 28.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 de

janeiro).

Do agente de execução ou oficial de justiça

O agente de execução responsável pela execução para pagamento de quantia certa

respeitante a rendas, encargos ou despesas em atraso, deve ser designado pelo

requerente, no requerimento de despejo.

É da competência do BNA verificar a designação do agente de execução18.

Na falta de designação pelo requerente, ou não sendo a mesma válida, o BNA procede

à designação eletrónica e automática do agente de execução, devendo remeter ao

requerente, juntamente com elementos anteriormente referidos, a identificação e o

contacto do agente de execução (art.ºs 12.º, n.º 6 e 13.º, n.º 1 do Dec.Lei n.º 1/2013

de 7 de janeiro).

Convém aqui ressalvar que nos termos do disposto no n.º 5 do art.º 15.º-J do NRAU, ao

título executivo para pagamento de quantia certa se aplicam, com as necessárias

adaptações, os termos previstos no CPC para a execução para pagamento de quantia

certa baseada em injunção.

Assim sendo, aplicam-se aqui as regras da designação do oficial de justiça, nas vestes

de agente de execução, designadamente (cfr. art.º 722.º do CPC):

- Nas execuções em que o Estado seja exequente;

- Nas execuções em que o Ministério Público represente o exequente;

- Quando o juiz o determine a requerimento do exequente, fundado na

inexistência de agente de execução inscrito na comarca onde pende a execução

17 Cfr. Portaria n.º 282/2013, de 29 de agosto. 18 Os notários apenas podem ser designados para proceder à desocupação do locado, nunca para execução para pagamento de quantia certa.

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e na desproporção manifesta dos custos que decorreriam da atuação de agente

de execução de outra comarca;

- Quando o juiz o determine a requerimento do agente de execução, se as

diligências executivas implicarem deslocações cujos custos se mostrem

desproporcionados e não houver agente de execução no local onde deva ter

lugar a sua realização;

- Nas execuções de valor não superior ao dobro da alçada do tribunal de 1.ª

instância em que sejam exequentes pessoas singulares e que tenham como

objeto créditos não resultantes de uma atividade comercial ou industrial, desde

que o solicitem no requerimento executivo e paguem a taxa de justiça devida;

- Ainda nos casos em que o exequente litigue com o benefício do apoio

judiciário na modalidade de atribuição de agente de execução (art.º 35-A da

Lei do Acesso ao Direito e aos Tribunais).

Do agente de execução, notário ou oficial de justiça (cumulação de pedidos)

Se o requerente, no requerimento de despejo, deduzir pedido de pagamento de

rendas, encargos ou despesas cumulativamente com o pedido de despejo, a

designação do agente de execução ou notário competente está sujeita às seguintes

regras (art.º 23.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 de janeiro):

- Tendo sido designado notário para proceder à desocupação do locado, deve

ser designado agente de execução para proceder à execução para pagamento

das rendas, encargos ou despesas;

- Tendo sido designado agente de execução para proceder à desocupação do

locado, esse agente de execução é também designado para proceder à

execução para pagamento das rendas, encargos ou despesas.

- Não tendo o requerente designado nem agente de execução nem notário para

proceder à desocupação do locado, não pode designar agente de execução para

proceder à execução para pagamento das rendas, encargos ou despesas, sendo

esta designação feita automaticamente pelo BNA (al. c) do n.º 1 e n.º 2 do art.º

23.º da Portaria n.º 9/2013, de 10 de janeiro).

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Cumulação de Pedidos (Desocupação do locado + rendas, encargos ou despesas)

No RD pode ser indicado quem realiza a desocupação e quem exerce as funções de

agente de execução na ação executiva, caso se verifique:

DESOCUPAÇÃO PAG. DE RENDAS, ENCARGOS,

DESPESAS

OBS.

Notário Agente de Execução (a) Art.º 23.º, n.º 1 a) Portaria n.º

9/2013

Agente de

execução

O mesmo Agente de Execução Art.º 23.º, n.º 1 b) da Portaria

n.º 9/2013

Sem designação,

o BNA designa

Notário, AE ou

Oficial de Justiça

O BNA designa Agente de

Execução

Art.º 23.º, n.º 1 c) e 2 e 24.º

n.º 5 da Portaria n.º 9/2013

(a) Pode ser o oficial de justiça nos termos previstos na lei (als. a) a e) do n.º 1 do

art.º 722.º do CPC e 35.º-A da Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais).

NO TRIBUNAL

A execução comum (pagamento de quantia certa)

Antes de mais importa referir que, de acordo com a [al. b), do n.º 1 do art.º 709.º do CPC, não se podem cumular execuções com fins diferentes.

Assim, se o senhorio, no procedimento especial de despejo, formulou cumulativamente um pedido de pagamento de rendas, encargos ou despesas com o pedido de despejo, de acordo com o estipulado no CPC, na norma anteriormente referida, terá de fazer valer o seu direito através de duas formas distintas:

- Para o pagamento de rendas, encargos ou despesas: Execução para pagamento de quantia certa;

- Para o pedido de despejo: através do mecanismo da desocupação do locado previsto no art.º 15.º-J do NRAU.

Assentes que estão estas duas notas, e distribuído que esteja o processo, como Execução Comum (Pagamento de Quantia Certa), a sua tramitação segue os termos previstos no CPC para a execução para pagamento de quantia certa baseada em

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injunção.

Dispõe a alínea b) do n.º 2 do art.º 550.º do CPC que se emprega o processo sumário nas execuções baseadas em requerimento de injunção. Temos assim que esta execução para pagamento de rendas, encargos ou despesas vai seguir a forma sumária prevista nos art.º 855.º e seguintes do CPC.

Assim, estamos perante uma execução em que não há lugar a despacho liminar nem a citação prévia, de acordo com a al. d) do n.º 1 do art.º 703.º do CPC.

Quer isto dizer que estas execuções se iniciam sempre pelas consultas e pelas diligências prévias à penhora de acordo com o previsto nos art.ºs 748.º e 749.º, por força do disposto no n.º 3 do art.º 855.º, todos do CPC, a realizar pelo agente de execução, com vista à realização da penhora com observância do disposto no art.º 751.º do mesmo código.

No mais, seguir-se-ão sempre as diligências previstas no CPC para a ação executiva sob a forma sumária, sendo certo que nas execuções provenientes do PED não há lugar à oposição à execução (n.º 6 do art.º 15.º-J do NRAU)19.

19 Mantém-se, naturalmente, a possibilidade de deduzir oposição à penhora nos termos gerais.

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Coleção “Textos de Apoio”

Autor:

Direção-Geral da Administração da Justiça - Divisão de

Formação

Titulo:

“O Procedimento especial de despejo – A sua tramitação na

secretaria Judicial ”

Coordenação técnico-pedagógica:

José Cabido

Colaboração:

José Póvoas, Jorge Ribeiro e Elisabete Fonseca

Coleção pedagógica:

Divisão de Formação

2.ª edição

Setembro de 2013